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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE AGRONOMIA DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS Trabalho de Graduação Metodologia aplicada à confecção de Plano de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) para empreendimentos de extração de areia em cava úmida. Amanda Cristine Santos da Costa Orientador Prof. Dr. Lucio Carramilo Caetano (DG/IA/UFRuralRJ) Fevereiro de 2014

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO

INSTITUTO DE AGRONOMIA

DEPARTAMENTO DE GEOCIÊNCIAS

Trabalho de Graduação

Metodologia aplicada à confecção de Plano de Recuperação de Áreas Degradadas

(PRAD) para empreendimentos de extração de areia em cava úmida.

Amanda Cristine Santos da Costa

Orientador

Prof. Dr. Lucio Carramilo Caetano

(DG/IA/UFRuralRJ)

Fevereiro de 2014

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1 – COSTA, AMANDA CRISTINE SANTOS

Metodologia aplicada à confecção de Plano de Recuperação de Áreas

Degradadas (PRAD) para empreendimentos de extração de areia em cava úmida

.

Curso de Geologia / Departamento de Geociências

Instituto de Agronomia / Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – UFRRJ

[Seropédica] Ano 2014

Trabalho de Graduação

Monografia

Área de Concentração: Geologia – Legislação Mineral

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Agradecimentos

Em primeiro lugar a minha família, que sempre destacou a importância do estudo para a

minha evolução como pessoa. Obrigada pelo apoio, paciência, carinho, e todas essas coisas que

me fazem sentir saudades de casa durante a semana. Agradeço especialmente a minha mãe

Edilene por ter enfrentado esses cinco anos de desafios junto comigo.

Aos meus amigos que estão comigo desde tanto tempo que eu nem sei dizer: David,

Dellano, Márcio, Mário e Tatiana, obrigada pelo companheirismo e pelas risadas.

Ao Restine (Bao), por tantos motivos que se fosse lista-los, caberia mais de uma página

dedicada a ele.

Agradeço as amizades que tive a oportunidade de fazer graças à geologia. Estudar com

vocês foi um enorme prazer. Grupo “Experi não falha nunca”, só digo que nunca falhou e nunca

falhará! Aimée, Jota, Vini, obrigada pelas risadas, pela paciência e pelas músicas,

respectivamente, vocês são muito especiais para mim. Agradeço também integrantes da

inicialmente República da Terezola, agora República Sossegada, Nathália, Helder e Guilherme.

Finalmente agradeço ao meu orientador, Lúcio e ao Giancarlo pela imensa colaboração

com esse trabalho.

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Resumo

Constitucionalmente, os recursos minerais são bens da União e podem ser lavrados

apenas com autorização ou concessão do órgão competente. De acordo com a legislação

expressa no Código de Mineração (DNPM, 1967) e Legislação Correlata, o aproveitamento de

recursos minerais depende também de licenciamento ambiental pelo órgão específico competente

e que o titular de direitos minerários responda pelos danos causados ao meio ambiente.

O presente trabalho apresenta instruções para o desenvolvimento de um Programa de

Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) em áreas de mineração de areia em cava úmida, que

se traduz em um documento onde, tendo como suporte estudos bibliográficos e trabalhos de

campo, são descritas as medidas fundamentais para a mitigação de impactos em áreas atingidas

pela extração da substância mineral. Tais medidas devem ser adotadas em etapa de fechamento

de mina, visando alcance de estabilidade do meio ambiente.

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ÍNDICE

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................................... 1

2 OBJETIVO ............................................................................................................................... 2

3 METODOLOGIA ...................................................................................................................... 3

4 CONCEITUAÇÃO DA EXTRAÇÃO DE AREIA EM CAVA ÚMIDA ........................................... 4

4.1 Decapeamento .................................................................................................................................. 4

4.2 Extração ............................................................................................................................................. 5

4.3 Beneficiamento ................................................................................................................................. 6

4.4 Deposição de rejeito e estéril ............................................................................................................ 7

4.5 Estocagem ......................................................................................................................................... 8

A estocagem da areia pode ser feita no próprio silo ou em pátios a céu aberto (Figura 6) ......................... 8

5 ORIGEM DO PLANO DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS E SUAS

JUSTIFICATIVAS ........................................................................................................................... 9

5.1 Base legal ........................................................................................................................................... 9

5.1.1 O Licenciamento Ambiental ................................................................................................ 11

5.2 Impactos associados à mineração de areia em cava úmida ............................................................ 13

6 ROTEIRO PARA PLANO DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS ........................ 17

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 26

7.1 Sobre a itemização do PRAD ........................................................................................................... 26

7.2 Sobre a efetividade de um PRAD ..................................................................................................... 27

8 CONCLUSÃO ........................................................................................................................ 29

10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 30

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Índice de Figuras

Figura 1: Processo de decapeamento através de corte mecânico. ........................................................ 5

Figura 2: Dragas em operação enviam material composto por sedimentos e água para os silos. ... 5

Figura 3: Conjunto de duas caixas-silo com caixa de relavagem acoplada na parte superior. ......... 6

Figura 4: Descarte de rejeito fino. ................................................................................................................ 7

Figura 5: Pilha de rejeito grosso. .................................................................................................................. 8

Figura 6: Estocagem de areia a céu aberto. .............................................................................................. 8

Figura 7: Talude íngreme e exposto. Pequenos sulcos (indicados pelas setas) resultantes do

processo erosivo pela água em um areal abandonado não recuperado. ............................................ 13

Figura 8: Partículas sólidas em suspensão ocasionadas pela circulação de caminhão em estrada

de acesso ao areal, não pavimentada. ..................................................................................................... 15

Figura 9: Ausência expressiva de vegetação na entrada do pátio de extração de um areal em fase

inicial (3 anos de atividade) situado no Distrito Mineiro Seropédica- Itaguaí...................................... 16

Figura 10: Área vizinha ao areal da figura 9 com presença de vegetação arbustiva com

componentes arbóreos. ............................................................................................................................... 16

Figura 11: Esquema de margem de lagoa em situação de instabilidade. ........................................... 20

Figura 12: Esquema de margem de lagoa estável após a execução de retaludamento e

revegetação. .................................................................................................................................................. 21

Figura 13: Margens retaludadas e revegetadas em cava de areal recuperado cujas atividades

encerraram a cinco anos. ............................................................................................................................ 21

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Índice de Tabelas

Tabela 1: Correspondência entre etapas da mineração com a fase de licenciamento ambiental.

(Fonte: Brandt, W/IBRAM, 2001.Modificado pela autora) .................................................................... 12

Tabela 2: Relação entre impactos característicos de extração de areia em cava úmida, medidas

mitigadoras e medidas de monitoramento. ............................................................................................... 24

Tabela 3: Associação entre substância mineral, seu método de lavra e alguns dos principais

impactos associados à atividade................................................................................................................ 27

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1 INTRODUÇÃO

O estado do Rio de Janeiro posiciona-se como um dos mais densos do país com seus 16

milhões de habitantes (8,4% da população brasileira), segundo o IBGE, 2012, concentrando

intensa atividade comercial e industrial, fator que amplia a necessidade de construção civil e de

materiais que atendam a essa demanda. Tal circunstância somada a outras, consolida o estado

no segundo lugar entre os que mais produzem agregados (16% da produção nacional), perdendo

apenas para São Paulo (39%) (Valverde, 2006).

Existe uma relação direta entre a viabilidade da exploração e a proximidade do mercado

consumidor. O transporte do material corresponde a 2/3 do valor final do produto para areias e 1/3

para britas, fato que ocasiona na concentração de áreas exploradoras num raio máximo de 150

km de distância de seus compradores (Valverde, 2006). Essa condição somada ao impulso que a

exploração de agregados vem sofrendo visando atender às construções civis planejadas para dar

suporte à Copa do Mundo em 2014 e as Olimpíadas em 2016, além de oferecer estrutura para

atender à expectativa do aumento significativo da população flutuante, vem aproximando cada vez

mais a população dos empreendimentos mineradores e consequentemente dos impactos

associados, como a emissão de poeira, impacto visual, ruídos e vibrações.

A Região Metropolitana do Rio de Janeiro é vista dessa forma, como um nítido exemplo de

desenvolvimento acelerado e conflitos de interesse associado à mineração, o que torna

necessário que o desenvolvimento ocorra de forma harmônica, baseado em decisões e técnicas

bem definidas desde a fase de pesquisa até o fechamento da mina.

O Distrito Mineiro Seropédica-Itaguaí, por exemplo, abastece cerca de 70% da areia para

construção civil na Região Metropolitana do Rio de Janeiro (RMRJ), sendo seu principal

fornecedor. A área é intensamente explorada a partir de cavas úmidas, ocasionando

contaminação do lençol freático e comprometendo o uso futuro da terra devido à ocorrência

desordenada de lagoas abandonadas (Tubbs, 2011). Por se tratar de uma atividade de lavra a

céu aberto, a lavra ocasiona em uma série de efeitos negativos sobre a vegetação, fauna, águas

superficiais e subterrâneas, além de alteração do perfil topográfico local, agressão visual,

intensificação de processos erosivos, ruídos, formação de depósitos de rejeitos, poluição do ar

pelo lançamento de particulados e o comprometimento da qualidade da água pela contaminação a

partir de produtos químicos (Braga, 2003).

Diante dos efeitos negativos da atividade, é exigida pelo Instituto Estadual do Ambiente

(INEA), a apresentação de um Plano de Recuperação de Áreas Degradadas, cujo principal

objetivo é a garantia da segurança e da saúde pública, através da reabilitação das áreas

perturbadas pelas ações humanas, de modo a retorná-las às condições desejáveis e necessárias

à implantação de um uso pós-degradação previamente eleito e socialmente aceitável (Lima et al.,

2006).

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2 OBJETIVO

O presente trabalho objetiva a elaboração de um roteiro para a execução de um projeto de

recuperação de área degrada para atividades de extração de areia em cava úmida, tendo em vista

a insuficiência de informações indicadas no Termo de Referência para a Elaboração de Projetos

de Recuperação de Áreas Degradadas aprovado pela Resolução INEA PRES Nº 36 de 08 De

Julho de 20111 para esta atividade específica.

1O Termo de Referência em questão consiste num documento emitido pelo INEA que define uma série de

critérios para a elaboração do PRAD, com aplicação a projetos de recuperação, recomposição, reabilitação ou restauração ecológica de áreas degradadas, alteradas, perturbadas ou desflorestadas.

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3 METODOLOGIA

A metodologia empregada para elaboração deste trabalho envolveu etapas de escritório e

trabalhos de campo.

Os trabalhos de escritório compreenderam o levantamento bibliográfico e consulta à

profissionais com experiência no ramo da mineração de areia, elaboração de projetos de

recuperação de áreas degradadas e legislação ambiental e mineral.

Os trabalhos de escritório foram balizados pelo Projeto de Recuperação de Áreas

Degradadas realizado no Areal Bandeirante pela empresa Gênese Consultoria e Projetos

Ambientais. O relatório técnico baseou o roteiro proposto para a elaboração do PRAD.

A multidisciplinaridade do projeto tornou necessário o estudo de uma diversidade de temas

durante a fase de pesquisa bibliográfica. Para abordar os temas de mineração, meio ambiente e

metodologias aplicadas na mitigação de impactos, recorreu-se a literatura geral (livros, artigos,

dissertações, teses e relatórios técnicos).

Para sanar as demais dúvidas restantes e enriquecer o trabalho com informações

baseadas em experiências na área, foram consultados os proprietários e funcionários dos areais,

além dos geólogos Lúcio Carramillo Caetano e Giancarlo Silva Batista.

O trabalho de campo foi realizado durante a segunda etapa de trabalho e teve como

objetivo a visita a areais localizados no distrito mineiro de Seropédica/Itaguaí. Para a realização

do campo foram feitas visitas a quatro areais situados no Distrito Mineiro Seropédica-Itaguaí, que

se encontravam em: fase inicial, fase avançada, fase final recuperada e fase final não recuperada.

A partir dessa visita técnica foi possível a obtenção das imagens e o relato descritivo das

condições de cada estabelecimento que foram transcritos neste trabalho.

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4 CONCEITUAÇÃO DA EXTRAÇÃO DE AREIA EM CAVA ÚMIDA

O bem mineral areia constitui um grupo de materiais para construção civil que, excluindo-

se os combustíveis fósseis, compõem as substâncias minerais mais utilizadas em todo o mundo.

A utilidade da areia na construção civil está relacionada à sua utilização como agregado para

concreto, argamassas, blocos de cimento e também na pavimentação de estradas (Tanno et al.,

2003)..

A areia para construção civil consiste numa substância mineral inconsolidada, constituída

por grãos predominantemente quartzosos, angulosos ou arredondados, cuja granulometria varia

num intervalo de 0,062 a 2,0 mm. A composição da areia resulta da erosão de vários tipos de

rochas matrizes, por esse motivo o número de espécies mineralógicas formadoras desse material

deveria ser tão grande quanto o número de minerais conhecidos, o que não ocorre, pois muitos

minerais são eliminados ou transformados por intemperismo em sua área-fonte ou durante seu

transporte (Suguio, 2003). Embora as seleções granulométricas do processo de beneficiamento

da areia não sejam muito precisas devido à falta de qualidade do item selecionador, no mercado

encontram-se três tipos distintos de areia que são as: grossas (1,0 – 1,2 mm), médias (1,2 – 0,42

mm) e finas (0,42 – 0,062 mm).

O método de extração de areia por cava úmida é composto por três fases principais:

decapeamento, extração e beneficiamento. A seguir serão descritas de forma detalhada cada uma

das fases de extração.

4.1 Decapeamento

Fase inicial do desenvolvimento da lavra, onde há a retirada do material estéril que recobre

o depósito de areia a partir de corte mecânico com a utilização de escavadeiras (Figura 1). O

material estéril pode possuir sua origem a partir de produtos de alteração intempérica ou pode se

tratar de material coluvionar, transportado através de agentes naturais e depositados na área de

ocorrência do jazimento.

Por se tratar de um material fértil, o ideal é que seja adequadamente estocado para que

após o encerramento da atividade, seja utilizado na recomposição topográfica e revegetação do

local.

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Figura 1: Processo de decapeamento através de corte mecânico.

4.2 Extração

No método de extração por cava úmida, a lavra dos sedimentos pouco consolidados é feita

por meio de dragas sobre balsas, acionadas normalmente por motor a diesel, que enviam

imediatamente o material removido saturado em água, para caixas-silo, onde ocorre o processo

de beneficiamento (Figura 2).

Figura 2: Dragas em operação enviam material composto por sedimentos e água para os silos.

DRAGAS

SILOS

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O método de dragagem caracteriza-se por um sistema de bombeamento que promove a

sucção do material sedimentar acrescido de água assentado na superfície do leito submerso.

Algumas dragas possuem um dispositivo mecânico situado na extremidade da tubulação de fundo

e que atua como elemento desagregador do material, facilitando o procedimento já que o estado

de consolidação do material é um fator condicionante para que a dragagem consiga ser aplicada.

As dragas são posicionadas nos locais de maior taxa de sedimentação e vale ressaltar que

durante a operação das mesmas, as escavadeiras atuam como auxiliadoras, fazendo cortes de

material arenoso na superfície próxima a cava (margem) e arremessando o mesmo para dentro da

cava úmida, de forma a facilitar a sucção de areia pela draga.

4.3 Beneficiamento

O processo de beneficiamento de areias explotadas a partir de cavas úmidas é realizado

concomitante à extração. A Planta de Beneficiamento desta atividade é vulgarmente conhecida

como Caixa-Silo (Figura 3).

Figura 3: Conjunto de duas caixas-silo com caixa de relavagem acoplada na parte superior.

As caixas-silo são equipadas com peneiras que retém o material de fração mais grossa e

liberam o excesso de água juntamente com a fração sedimentar mais fina. Em alguns casos,

acopla-se uma caixa de relavagem para que o material sedimentar passe por duas etapas de

seleção, tendo como produto final uma areia melhor selecionada.

SILOS

CAIXA DE RELAVAGEM

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4.4 Deposição de rejeito e estéril

O solo superficial sem valor econômico é denominado estéril. Sua destinação varia

conforme as necessidades do empreendimento, podendo ser utilizado no retaludamento de

lagoas, como aterro na abertura de vias internas ao empreendimento ou podendo até ser

encaminhada para algum local preparado para receber esse tipo de descarte.

Quanto ao rejeito, existem dois tipos: o fino, observado na Figura 4 (constituído pela

fração silto-argilosa) e o grosso (composto por seixos quartzozos, galhos e pelotas de argila)

como pode ser observado na Figura 5. O rejeito fino comumente é conduzido diretamente para as

chamadas lagoas de rejeito, enquanto o grosso fica reservado no pátio até passar por uma

secagem natural e poder ser utilizado na abertura de acessos internos ou no nivelamento da

praça de trabalho.

Figura 4: Descarte de rejeito fino.

REJEITO FINO

E ÁGUA

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Figura 5: Pilha de rejeito grosso.

4.5 Estocagem

A estocagem da areia pode ser feita no próprio silo ou em pátios a céu aberto (Figura 6)

Figura 6: Estocagem de areia a céu aberto.

REJEITO GROSSO

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5 ORIGEM DO PLANO DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS E SUAS

JUSTIFICATIVAS

Garantir o suprimento de matérias primas minerais juntamente com qualidade ambiental,

se mostra uma tarefa de grande complexidade tendo em vista a agressividade dos métodos de

lavra aplicados, que embora ocorram de forma pontual, são bastante significativos quando

observados em conjunto.

O Plano de Recuperação de Áreas degradadas advém da combinação de:

1) Imposição legal: já que os interesseres dos mineradores comumente se limitam ao

benefício da extração mineral, deixando de lado todo o passivo ambiental2 por ele

gerado.

2) Responsabilidade social: pois os danos causados ao meio ambiente a partir da

atividade minerária, trazem consequências à população quando não recuperados.

5.1 Base legal

A preocupação ambiental relacionada com os danos ao meio ambiente oriundos de

atividades potencialmente degradadadoras, encontra-se demonstrada principalmente pela

Constituição Federal promulgada em 5 de Outubro de 1988, que em seu art. 225, garante à

população um meio ambiente harmonioso, e impõe àquele que exercer atividade exploratória de

recursos minerais, a obrigação de recuperar.

“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do

povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever

de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora

de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará

publicidade;

[...]

2 Conjunto de dívidas e obrigações referentes aos danos ambientais atribuídos a uma empresa ou pessoa.

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§ 2.º Aquele que explorar recursos minerais fica obrigado a recuperar o meio ambiente

degradado, de acordo com solução técnica exigida pelo órgão público competente, na forma da

lei. [...]”

Em 31 de Agosto de 1981, por meio da lei nº. 6.938, foi deliberada a Política Nacional do

Meio Ambiente com finalidade de preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental,

visando em seu art. 2º assegurar condições para o desenvolvimento socioeconômico, aos

interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os

seguintes princípios:

“ I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio

ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em

vista o uso coletivo;

[...]

VII - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;

VIII - recuperação de áreas degradadas; [...]”

Em tempos passados, o foco principal da desativação de um empreendimento mineiro

compreendia apenas processos de reabilitação e revegetação, mas atualmente a legislação

refere-se ao PRAD como instrumento básico para o fechamento de minas, um mecanismo mais

complexo que visa atender a toda necessidade de recuperação observada em um

empreendimento degradador após o encerramento de suas atividades. A obrigatoriedade de

realização do Plano de Recuperação de Áreas Degradadas encontra-se expressa pelo artigo 1º

do Decreto No 97.632, de 10 de Abril de 1989.

De acordo com o INEA, o PRAD consiste em um documento que contém a descrição de

medidas a serem adotadas com objetivo de mitigar impactos ambientais decorrentes da

implantação e/ou atividade de empreendimentos. O relatório inclui detalhamento dos projetos para

reabilitação das áreas degradadas que podem ser os seguintes:

Revegetação (Estabilização biológica);

geotécnicos (Estabilização física);

remediação ou tratamento (Estabilização química).

O PRAD encontra-se inserido no contexto do processo de Licenciamento Ambiental, mais

especificamente no Plano de Fechamento de Mina, que é antecedido pelas etapas de obtenção

de Licença Prévia (LP), Licença de Instalação (LI) e Licença de Operação (LO).

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5.1.1 O Licenciamento Ambiental

O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) compreende a primeira etapa do licenciamento

ambiental, condicionante da emissão da Licença Prévia e consiste numa avaliação de possíveis

consequências ambientais decorrentes da instalação de um determinado projeto. O estudo deve

ser realizado por uma equipe multidisciplinar de técnicos habilitados e consubstanciada no

Relatório de Impacto Ambiental (RIMA), o qual é submetido à análise do órgão estadual

competente para avaliação e aprovação. Este relatório é exigido para o licenciamento ambiental

de qualquer empreendimento de extração mineral, mas tratando-se de substâncias de emprego

imediato na construção civil, de acordo com as características do empreendimento, pode haver

dispensa de apresentação do EIA e obrigatoriedade de apresentação do Relatório de Controle

Ambiental (RCA) que consiste num estudo mais simplificado, mas com os mesmos objetivos.

A aprovação do EIA/RIMA é fundamental para que se possa dar continuidade ao processo

de licenciamento ambiental do projeto de mineração. O Sistema de Licenciamento Ambiental

(SLAM) consiste em um instrumento de gestão ambiental disposto no Decreto nº 42.159 de 02 de

Dezembro de 2009, e é obrigatório para a localização, instalação ou ampliação e operação de

qualquer atividade de mineração objeto dos regimes de concessão de lavra e licenciamento O

Licenciamento Ambiental está regulado pelo Decreto no 99.274/90, que dá competência aos

órgãos estaduais de meio ambiente para expedição e controle da Licença Prévia (LP), Licença de

Instalação (LI) e Licença de Operação (LO).

Licença Prévia: Licença que deve ser solicitada na fase de planejamento da

implantação do empreendimento. Aprova a viabilidade ambiental do projeto, não

autorizando ao início das atividades.

Licença de Instalação: Corresponde à aprovação dos projetos. Autoriza o início de

implantação do empreendimento mineiro de acordo com as especificações contidas

no Plano de Controle Ambiental (PCA) aprovado.

Licença de Operação: Após as verificações necessárias, autoriza o início da

atividade licenciada e o funcionamento de seus equipamentos e instalações de

controle de poluição, de acordo com o previsto nas Licenças Prévia e de Instalação.

A Tabela 1 apresenta as etapas de um empreendimento de mineração correlacionadas

com a fase de licenciamento ambiental, nela é possível observar que a primeira vez em que o

PRAD é citado, corresponde à etapa de elaboração do Plano de Controle de Ambiental, relatório

por meio do qual o empreendedor apresenta os projetos capazes de prevenir e/ou controlar os

impactos ambientais decorrentes da instalação e da operação do empreendimento. Neste caso, o

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PRAD consiste apenas em um dos capítulos do Plano de Controle Ambiental3 (PCA) e trata-se de

uma tentativa de antecipação de impactos possíveis e proposição de medidas mitigadoras que

devem ser revistos e atualizados ao longo da vida útil do empreendimento, para que o relatório

sirva de base na elaboração PRAD apresentado na etapa de desativação da mina.

Tabela 1: Correspondência entre etapas da mineração com a fase de licenciamento ambiental.

(Fonte: Brandt, W/IBRAM, 2001.Modificado pela autora)

No contexto de encerramento da atividade de mineração, como observado em destaque na

tabela 1, contempla-se a execução do PRAD propriamente dito, que é realizado levando em

consideração a realidade da área em situação pós lavra, dando origem a um planejamento mais

objetivo e eficiente já que os impactos poderão ser identificados, caracterizados e mensurados

(Farias, 2002).

3 Consiste em um trabalho executado com os objetivos de descrever as condições ambientais recentes do local do

empreendimento mineral e os procedimentos que serão tomados para diminuir os impactos causados pela mineração.

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5.2 Impactos associados à mineração de areia em cava úmida

A interação dos meios físicos, bióticos e antrópicos constituem um meio ambiente em

estado de frequente mudança. Quando a interferência humana excede o equilíbrio do meio, as

taxas dos processos naturais variam, podendo ser acelerados, retardados ou suprimidos, o que

caracteriza o impacto ambiental quando significativo. Serão apresentados a seguir os principais

processos e fatores do meio ambiente, passíveis de alteração pelas fases de instalação e

funcionamento da mineração e os principais impactos negativos a eles associados.

Erosão pela água

Consiste na formação de sulcos (Figura7), ravinas e pipings a partir da desagregação e

remoção de solo, fragmentos e partículas de rocha devido à atuação combinada de gravidade,

água proveniente de precipitações (pluvial) e água proveniente de escoamento (fluvial). As

atividades mineradoras que contribuem para intensificação desse processo erosivo são a

supressão vegetal (exposição de horizontes suscetíveis à erosão e facilitador para o escoamento

superficial da água) e modificação topográfica da área (geração de corpos inclinados, aumentando

a velocidade de escoamento da água).

Os possíveis impactos decorrentes das alterações provocadas por esse processo são a

aceleração do processo de deposição dos sedimentos, perda de solo e risco da alteração exceder

os limites da área de mineração e atingir outras formas de uso e ocupação do solo, como matas

nativas e áreas edificadas (Braga, 2003).

Figura 7: Talude íngreme e exposto. Pequenos sulcos (indicados pelas setas) resultantes do processo erosivo pela água em um areal abandonado não recuperado.

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Deposição de sedimentos ou partículas

O processo está associado à acumulação ou concentração de partículas sólidas em meio

aquoso, iniciando-se quando a força do agente transportador (curso d’água) é suplantada pela

força de gravidade, ou quando a supersaturação de águas induz a deposição das partículas

sólidas (Infanti Junior e Fornasari Filho, 1998). Comumente este processo está associado à

intensificação de processos erosivos, mas pode também estar associado ao extravasamento de

bacias de rejeito líquido ou por vazamentos em dutos transportadores de água com material

sedimentar.

A deposição de partículas sólidas em cursos d’água tem como possíveis consequências o

assoreamento de cursos d’água e turvamentos de águas que pode interferir gravemente no

habitat de espécies aquáticas e comprometer o uso d’água a jusante do empreendimento.

Escoamento de águas em superfície (runoff)

O escoamento superficial ou deflúvio corresponde à parcela de água de origem pluvial que

percorre a superfície quando a capacidade de infiltração do solo é excedida e não consegue mais

absorver água (Guerra, 2006). O escoamento superficial está ligado principalmente às

propriedades hidráulicas dos solos, a cobertura vegetal e à declividade da superfície e podem

provocar a erosão de solos, inundação de várzeas, entre outros impactos (Jorge e Uehara,1998).

Interações físico-químicas na água e no solo

Para o funcionamento de um empreendimento areeiro é indispensável o seguinte

maquinário: draga de sucção, caminhões e pás mecânicas ou retroescavadeiras. Tais dispositivos

possuem funcionamento a óleo diesel que acidentalmente pode vazar para o solo ou para a água,

desencadeando em reações entre substância e meio ambiente, alterando as propriedades

naturais. A contaminação pode ter sua origem também a partir de fossas sépticas mal

construídas, uso de fossa negra, liberação direta a partir da lavagem de veículos contendo óleos e

graxas, ou qualquer tipo de descarte inadequado de substâncias contaminantes.

Os principais prováveis impactos associados são a contaminação do solo e de corpos

hídricos, podendo comprometer respectivamente o uso futuro do solo e possíveis pontos de

captação a jusante do empreendimento (Braga, 2003).

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Circulação de partículas sólidas e gases na atmosfera

São vários os causadores desse tipo de impacto em areais: exposição de corpos de bota-

fora e de pilhas de estocagem, funcionamento de motores, tráfego de caminhões em estradas não

pavimentadas (Figura 8) e circulação de veículos com a carga descoberta.

Figura 8: Partículas sólidas em suspensão ocasionadas pela circulação de caminhão em estrada de acesso ao areal, não pavimentada.

O principal dano associado envolve o comprometimento da qualidade do ar, podendo

acarretar em problemas respiratórios aos funcionários e populações vizinhas ao empreendimento.

A flora circunvizinha pode sofrer interferências, caso as partículas se depositem em seus

componentes (Braga, 2003).

Desenvolvimento de fauna e flora

Os procedimentos da mineração que podem alterar o desenvolvimento dos componentes

bióticos são o decapeamento (que é antecedida por supressão da vegetação local. (Figura 9 e

10) e atividades geradoras de ruído como o descolamento de caminhões.

Os impactos decorrentes dos danos à vegetação tratam-se da intensificação dos

processos erosivos e perda de habitat para as espécies animais. O componente faunístico fica

exposto também a atropelamentos, destruição de ninhos e tocas e incômodos pela propagação de

ruídos (Braga, 2003).

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Figura 9: Ausência expressiva de vegetação na entrada do pátio de extração de um areal em fase

inicial (3 anos de atividade) situado no Distrito Mineiro Seropédica- Itaguaí.

Figura 10: Área vizinha ao areal da figura 9 com presença de vegetação arbustiva com componentes arbóreos.

Área vizinha

Área do areal

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6 ROTEIRO PARA PLANO DE RECUPERAÇÃO DE ÁREAS DEGRADADAS

Nesse capítulo serão apresentados os elementos que deverão constar no Projeto de

Recuperação de Áreas Degradadas. Para a confecção desse documento tem-se por base o

Termo de Referência para a Elaboração de Projetos de Recuperação de Áreas Degradadas

aprovado pela resolução INEA PRES Nº 36 de 08 de Julho de 2011 e o PRAD redigido pela

empresa Gênese Consultoria e Projetos Ambientais para o areal Bandeirante.

O processo de recuperação de áreas degradas compreende uma sequencia de atividades

iniciada pela identificação e caracterização dos processos atuantes e análise das consequências

ambientais, seguida pelo planejamento da recuperação (fase de elaboração do PRAD), quando

são traçados os objetivos que deverão estar intimamente relacionados a intenção de uso futuro da

área. Após o planejamento, há a adoção das medidas determinadas na etapa anterior e por fim a

fase de monitoramento, que visa garantir o funcionamento das medidas adotadas.

Abaixo segue a descrição dos itens que deverão constar em um PRAD:

1ª Etapa - Introdução

Na primeira etapa deve-se apresentar de maneira sucinta o objetivo do relatório. É

opcional fazer uma breve descrição do material extraído e do método de lavra aplicado,

lembrando que tais assuntos serão mais amplamente desenvolvidos ao longo do plano.

Deve constar a descrição do empreendimento, com informações do titular e dos

responsáveis técnicos pelo projeto e da localização do empreendimento.

Para a identificação do titular, é fundamental a apresentação dos seguintes dados:

Nome ou razão social do(s) responsável (is);

RG e CPF ou CNPJ;

endereço da pessoa física ou jurídica (logradouro, número, bairro/distrito, município,

CEP);

endereço para correspondência, caso seja diferente do descrito acima.

Para a identificação do elaborador e executor do projeto, são necessários os mesmos

dados pedidos ao titular, somado ao número da Anotação de Responsabilidade Técnica (ART).

As informações referentes ao empreendimento que devem ser apresentadas são:

Nome e endereço completo;

área total da propriedade em hectares;

área total a ser recuperada em hectares ou metros quadrados, quando inferior a 1

(um) hectare.

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2ª Etapa - Caracterização do empreendimento

Este capítulo deve apresentar:

Plano de desenvolvimento da atividade de lavra - destinado ao relato do ciclo

básico de produção e de materiais que foram empregados com o objetivo da exploração

do bem mineral. Tratando-se da extração de areia por cava úmida, o método adotado é

quase invariável e inclui o Decapeamento, Extração do minério e o Beneficiamento.

Infraestrutura - descrição das estruturas de apoio existentes na fase de operação

(exemplo: silo, draga, escritório, tanque de combustível, almoxarifado, oficina, etc) e da

infraestrutura futura do areal (exemplo: retirada das dragas, dos silos, etc).

Diagnóstico ambiental - neste tópico a área deve ser caracterizada em termos

regionais quanto ao clima, hidrografia e geologia.

Clima - definição da condição climática para a região, como temperatura, precipitação,

evapotranspiração e ventos.

Hidrografia - basicamente deve-se situar a área em seu contexto hidrológico indicando

a bacia hidrográfica dominante na região, expondo características elementares

(localização das nascentes, principais afluentes, área de drenagem, comprimento do

rio principal e seus contribuintes, largura média dos corpos hídricos, entre outras

informações).

Geologia - neste trecho são apresentadas informações de geologia regional, obtidas a

partir de consulta bibliográfica. O conteúdo relevante para este capítulo corresponde à

informações litológicas, tectônicas e estruturais.

Meio biótico - trata da interação entre fauna, flora e meio antrópico e nele devem

estar incluídas as características dessa relação no período anterior à implantação do

empreendimento, comparada à situação mais atual.

Situação ambiental da região - descrição geral do estado presente da vegetação

comparativamente á sua condição anterior à ocupação antrópica.

Flora - a partir de consulta bibliográfica, deverão ser expostas informações do bioma

no qual o empreendimento está inserido em termos regionais. Para uma análise local

se faz necessário que um profissional qualificado realize o trabalho de campo.

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Fauna - a análise de espécies faunísticas exige observação em campo e entrevista

com população vizinha, juntamente com pesquisa bibliográfica.

Meio antrópico - os Impactos positivos e negativos gerados a partir da instalação do

empreendimento devem ser relatados. Como impacto negativo temos a geração de

áreas degradadas; depreciação de imóveis circunvizinhos; criação de instabilidade em

áreas próximas a habitações; possível comprometimento da água utilizada para

consumo de moradores locais; entre outros. E como impacto positivo inclui-se a

geração de empregos; criação de novas vias de acesso e construções civis;

crescimento local de atividades industriais e comerciais; entre outros.

3ª Etapa - Caracterização local

Nesta etapa será definida a área de influência direta da atividade e suas características.

Para compor esse segmento do trabalho, é essencial a realização de uma atividade de campo

completa durante a fase final da atividade exploratória. Cabe ao diagnóstico da situação atual

caracterizar o passivo ambiental de maneira minuciosa, corroborando a informação a partir de

fotos sempre que necessário e indicando as áreas que possivelmente necessitarão de

interferência. Outros objetivos associados consistem em descrever a condição local e mais

recente da vegetação existente, hidrografia e fisiografia.

Dentro desse capítulo deverá haver também a apresentação das espécies (nome

científico, nome popular e família) levantadas em campo realizado na área do empreendimento.

4ª Etapa - Aptidão e intenção de uso futuro

Após a atividade exploratória, é impossível retornar a área à suas exatas potencialidades e

funcionalidades anteriores. Para o desenvolvimento de um projeto de uso futuro, levam-se em

consideração as novas aptidões e possibilidades de uso do espaço. Tratando-se do enfoque do

trabalho, que aborda a questão do PRAD em areais que utilizam a técnica de cava submersa para

exercer a exploração, algumas das propostas de uso adotadas pelo empreendimento variam entre

as citadas a seguir.

Utilização como áreas de lazer e/ou parques aquáticos;

reflorestamento em torno das cavas;

utilização do estéril na tentativa de cobrir cavas;

utilização para piscicultura.

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É importante ressaltar que são raros os casos em que o empreendedor opta por ir além da

recuperação ambiental e transformar a área degradada em um local com alguma funcionalidade.

5ª Etapa - Conformação topográfica e drenagem

Conformação topográfica - consiste no processo de preenchimento e correção de

desníveis, onde é comum a utilização do material retirado nos cortes realizados nas

margens das cavas úmidas e do solo orgânico removido no processo inicial de lavra,

quando este é adequadamente reservado. É necessário realizar o cálculo da demanda e

do material em disponibilidade. A utilização do material orgânico que originalmente

compunha a capa apresenta a vantagem de favorecer o plantio das espécies vegetais, pois

se trata de um material fértil.

As margens das lagoas encontram-se em estado de instabilidade, sendo necessária a

adoção de medidas de estabilização de taludes para que se possa realizar a revegetação

nessas margens e para que o local se torne seguro no caso de pessoas ou animais de

grande porte transitarem pela área, dentro deste contexto contempla-se o projeto de

retaludamento.

Considerando a faixa entre o topo dos taludes até a linha do espelho d’água, o

nivelamento topográfico compreende-se pela padronização da declividade em 45º por meio

do corte e remoção de solo, como demonstra as Figuras 11 e 12, reduzindo a

erodibilidade e proporcionando meios ao desenvolvimento da vegetação (Figura 13).

Figura 11: Esquema de margem de lagoa em situação de instabilidade.

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Figura 12: Esquema de margem de lagoa estável após a execução de retaludamento e revegetação.

Figura 13: Margens retaludadas e revegetadas em cava de areal recuperado cujas atividades encerraram a cinco anos.

Drenagem - o desmatamento e a modificação topográfica consistem no principal

condicionante para a formação de erosões lineares no ambiente extrativo estudado. A

erosão linear é causada pela concentração das linhas de fluxo de águas de escoamento

superficial, resultando na formação de sulcos e podendo evoluir para ravinamento (Infanti

Junior e Fornasari Filho, 1998).

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Para estabilização dos processos erosivos, devem ser indicadas medidas de

condicionamento e controle de drenagem, de forma que minimize o potencial destrutivo

das chuvas, que comumente são apontadas como principal agente erosivo de

empreendimentos areeiros.

O processo erosivo do solo é desencadeado por meio de chuvas e compreende os

mecanismos citados a seguir: desagregação de partículas por meio de impacto das

chuvas, remoção e transporte de partículas por meio do escoamento superficial e

deposição dos sedimentos produzidos gerando assoreamento (Junior e Filho, 1998).

Por tal impacto advir da supressão da vegetação que expõe o solo aos efeitos diretos

de precipitações e da modificação topográfica na área, criando desníveis num local

originalmente plano, medidas de revegetação e planificação do terreno são suficientes

para conter boa parte dos processos erosivos causados pela água já que a característica

permeável dos solos arenosos de areais, somada a uma condição plana do terreno, dão

origem a uma área de reduzida taxa de erodibilidade4.

O princípio adotado para controle da erosividade5 proveniente de deflúvios embasa-se

na possibilidade de distribuição dos excessos hídricos pelo solo. Somente possível por

meio da proteção advinda da vegetação implantada dentro de suas diferentes classes e

padrões de desenvolvimento.

De modo pontual e complementar, é recomendada a instalação de estruturas físicas

de condução de drenagens e contenção de solo nos taludes das lagoas de mineração de

modo a distribuir o escoamento superficial, reduzindo significamente os processos erosivos

nas margens das cavas e favorecendo o desenvolvimento da vegetação implantada

nesses locais.

6ª Etapa - Conformação paisagística

Objetiva atender aos requisitos de regeneração ambiental e às demandas estéticas para

uso futuro da área, este capítulo se reserva ao detalhamento de atividades de implantação e

manuseamento de flora dentro de diferentes classes de vegetação.

Com relação à reestruturação local, é eficaz o revestimento imediato do solo visando

atenuação de efeitos erosivos com regeneração da fertilidade, propiciando condições favoráveis

para o contínuo desenvolvimento dos demais elementos florísticos.

Deve-se ressaltar que não são todos os empreendimentos que optam por realizar

trabalhos paisagísticos na propriedade, se restringindo apenas à realização das atividades

necessárias para o reestabelecimento do equilíbrio local.

4 Susceptibilidade que os solos possuem de ser erodidos. (Guerra, 2006)

5 Propriedade que as águas das chuvas possuem em provocar a erosão dos solos (Guerra, 2006)

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Existem três passos a ser seguidos: definição das espécies, implantação da vegetação e

elementos acessórios.

Definição das espécies - listagem das espécies selecionadas, de acordo com as

diferentes classes de vegetação e classificadas de acordo com os diferentes atributos

paisagísticos associados.São desejáveis espécies que atraiam a fauna nativa, pois

estas colaboram no desenvolvimento do fluxo gênico vegetal entre fragmentos

florestais isolados, que acabam funcionando como fragmentos ligados por corredores.

Implantação da vegetação - inclui preparação do solo e a conformação das condições

adequadas ao desenvolvimento das diferentes espécies implantadas. Medidas

específicas de preparo do solo se fazem necessárias já que o programa de

revegetação lida com diversidades de espécies com particularidades que devem ser

atendidas para sua sobrevivência e desenvolvimento. De maneira genérica, pode-se

estipular um conjunto de atividades comum a todas as classes de vegetação: Controle

de pragas; limpeza e padronização do terreno; demarcação de áreas de plantio;

abertura de covas de plantio; adubação do plantio; endurecimento das mudas;

plantio;tutoramento e coroamento; irrigação.

Elementos acessórios - indicação de elementos acessórios no projeto de recuperação

da área está intimamente relacionada à destinação final do local e por isso varia de

acordo com o trabalho que será implantado. Os itens mais comumente recomendados

incluem cercas e sinalização; implantação de faixa de aceiro; instalação de cata-vento.

7ª Etapa - Acompanhamento e monitoramento

A imprevisibilidade dos recursos naturais requer atividades de monitoramento realizadas

por um profissional tecnicamente capacitado após a adoção das medidas sugeridas, para

assegurar o equilíbrio do projeto implantado e para fins de mensuração do avanço das

metodologias empregadas. Com a finalidade de avaliação do progresso na área reabilitada,

devem-se realizar nos anos recentes à implantação, a análise de uma série de indicadores

vegetativos (diversidade, riqueza, frequência em similaridade) e comparação com algum

fragmento florestal do entorno, para que seja possível a comparação entre as áreas.

A observação de alguns indicativos são fundamentais para atestar o bom funcionamento

das medidas implantadas. Segue na Tabela 2 a relação dos principais impactos característicos de

areais, algumas medidas que podem ser adotadas para a prevenção desses impactos e

orientações para o monitoramento e garantia de bom desempenho das instalações.

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Tabela 2: Relação entre impactos característicos de extração de areia em cava úmida, medidas mitigadoras e medidas de monitoramento.

IMPACTO MEDIDAS ADOTADAS MEDIDAS DE MONITORAMENTO

Aceleração do

processo erosivo

Instalação de sistemas de

drenagem e implantação de

cobertura vegetal

Acompanhamento do desempenho do

sistema de drenagem (por exemplo,

linhas de fluxo d’água ao lado de

canaletas indicam falha no sistema) e

periódia observação das condições do

sistema de drenagem

Aumento no

aporte de

sedimentos para

cursos d’água

Instalação de tanque de

decantação para onde deverão ser

direcionados rejeitos líquidos e

águas pluviais antes da liberação

para o meio externo

Verificar periodicamente dutos e

canaletas para a identificação de

vazamentos e direcionamento de

atenção para sistema de captação

pluvial em épocas de chuva intensa

Interações físico-

químicas entre

elementos

contaminantes

com água e solo

Retirada de todo material

potencialmente contaminante da

área; cercamento e sinalização

indicando que o local é

inapropriado para o descarte de

lixo

Análise periódica de águas de poços e

cursos d’água próximos ao

empreendimento, afim de verificar

níveis de contaminação; visita periódica

a área para assegurar que a população

circunjacente está respeitando o

cercamento e a sinalização

Circulação de

partículas e

gases na

atmosfera

Instalação de barreira vegetal em

torno do empreendimento;

realização de aspersão de água

em acessos não-pavimentados

verificar a suficiência da barreira

vegetal e da aspersão de água sobre

vias de acesso não-pavimentadas

Alteração dos

componentes

florísticos

Recomposição com espécies

nativas, áreas desprovidas de

cobertura vegetal em toda área de

influência do empreendimento

Acompanhamento do desenvolvimento

da vegetação para garantir adaptação

da mesma.

Alteração dos

componentes

faunísticos

Sinalização em trechos onde

circulam animais, alertando a

motoristas para trafegarem em

baixa velocidade

Registro de ocorrências de eventuais

atropelamentos de animais silvestres.

8ª Etapa – Cronograma

Apresentação de cronograma físico por etapa (Implantação, manutenção, manejo e

monitoramento) indicando o tempo que a realização de cada fase irá levar.

9ª Etapa – Anexos

Acompanhando o relatório, deve seguir em anexo planta da situação mais recente da área

e planta indicando as modificações que deverão ser feitas com o objetivo de recuperação da área.

Por fim, para a aprovação do relatório, devem ser encaminhadas ao órgão juntamente com

o relatório, a seguinte documentação:

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Documentos Gerais

Requerimento padrão (http://www.inea.rj.gov.br).

No caso de Pessoa Física: cópia do RG, CPF e comprovante de residência.

No caso de Pessoa Jurídica: cópia do CNPJ e contrato social.

Cópia da procuração no caso de representante legal, com firma reconhecida.

Cópia do RG e CPF do representante legal.

Documentos do Imóvel

Prova de justa posse, podendo ser apresentados um dos seguintes documentos:

Cópia do título de propriedade do imóvel e certidão de inteiro teor do Registro

Geral de Imóveis - RGI.

Cópia da certidão de aforamento, se for o caso.

Cópia da Cessão de Uso, quando se tratar de imóvel de propriedade da

União/Estado, se for o caso.

Cópia da Certidão de Distribuidor Cível junto com outros documentos que

comprovem a posse, se for o caso.

Cópia do ITR (Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural) e do CCIR (Certificado

de Cadastro do Imóvel Rural) atualizados, ou do IPTU, quando for o caso.

Croqui de acesso à propriedade, a partir da sede do município ou do distrito mais

próximo com maior evidência, ou outros de maior precisão.

Documentos Técnicos

Cópia da Anotação de Responsabilidade Técnica - ART de elaboração e

acompanhamento do Projeto Técnico, com comprovante de pagamento da ART e

cópia da carteira de identidade profissional do responsável técnico.

Cópia da Licença Ambiental do empreendimento, no caso da execução do projeto

ser condicionante de licença, exceto quando a apresentação do projeto for

condicionante para emissão da licença.

Cópia de documento de autuação lavrada por fiscal e cópia da Notificação ou

Intimação requisitando a apresentação do PRAD, quando for o caso.

Cópia de Termo de Ajustamento de Conduta - TAC Termo de Compromisso

Ambiental - TCA, ou Autorização de Supressão de Vegetação - ASV, quando a

execução do projeto for compromisso estabelecido em um destes instrumentos.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

7.1 Sobre a itemização do PRAD

Toda atividade de extração mineral possui a obrigação de submeter um Plano de

Recuperação de Áreas Degradadas à aprovação do órgão ambiental competente (Decreto

No 97.632, DE 10 DE ABRIL DE 1989) e no Rio de Janeiro, cabe ao INEA essa responsabilidade.

O Termo de Referência emitido pelo pela Resolução INEA PRES Nº 36 de 08 De Julho de

2011 possui a finalidade de orientar atividades mineradoras situadas no Rio de Janeiro, na

confecção de seu PRAD ao fim da vida útil da exploração, entretanto constitui um documento

impreciso levando em consideração que é destinado a empreendimentos diversificados no método

de lavra aplicado e no bem mineral produzido, como extração de areia em cava úmida ou em leito

de rio, pedreira de brita ou de rocha ornamental, entre outros.

Para a proposição de medidas de recuperação, é fundamental que se avalie o impacto

particular de cada empreendimento já que as variações nos métodos de lavra aplicados resultam

em impactos distintos (tabela 3). A mineração em cava de areia, a quem o presente estudo é

direcionado, resulta em expressiva supressão vegetal (já que o bem mineral encontra-se abaixo

do solo), desnivelamento de terreno e geração de margens instáveis em cavas extensas e

profundas com o lençol freático aflorante. Projetos direcionados à recuperação desse tipo de

empreendimento se diferenciam daqueles aplicados em extração do mesmo bem mineral em

leitos de rio, por exemplo.

Por não ser direcionado especificamente para as particularidades de cada

empreendimento, o citado Termo de Referência norteia os projetos de recuperação nas

características básicas, deixando os projetos específicos por conta dos responsáveis técnicos

executores dos programas, que sem uma orientação modelo geram relatórios despadronizados.

Além das discordâncias no produto final do projeto, a falta de informações mais precisas a serem

exigidas ocasiona em divergências no momento da cobrança, variando de acordo com os critérios

do técnico do INEA responsável pela análise, ou seja, um relatório pode ser considerado

satisfatório em uma análise, mas não em outra.

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Tabela 3: Associação entre substância mineral, seu método de lavra e alguns dos principais impactos associados à atividade.

Substância

mineral

Método de

Lavra

Impactos associados

Água mineral

potável ou de

mesa (extração e

envasamento)

Em poço Superexplotação compromete a qualidade do

aquífero, desencadeamento de processo erosivo,

alteração na qualidade das águas superficiais,

geração de resíduos sólidos.

Areia em leito de

rio

Dragagem Fixação de pátio de operação, desmonte de

margens fluviais, contaminação do corpo hídrico

óleos e graxas, remoção da vegetação, diminuição

da infiltração no solo, redução espacial do habitat

silvestre, emissão de gases, aceleração de

processos erosivos, comprometimento da fauna

aquática, aumento da turbidez.

Argilas para

cerâmica

vermelha

Corte

mecânico

Superexploração pode atingir o lençol freático,

Supressão vegetal, emissão de material particulado

e gases, contaminação do solo por óleo e graxas,

poluição sonora, aumento das taxas de erosão,

carreamento de sedimentos para cursos d’água.

Brita Desmonte

(uso de

explosivos)

Emissão de partículas, gases, vibrações e ruídos,

supressão vegetal, instabilidade nas encostas,

destruição de habitats, blocos soltos, produção de

resíduos sólidos.

7.2 Sobre a efetividade de um PRAD

A mineração caracteriza-se como uma atividade modificadora do meio ambiente e

causadora de impactos ambientais indesejáveis. Como já citado anteriormente, leis e

regulamentos referem-se ao PRAD como o instrumento básico de fechamento de minas, dando a

entender que as medidas de recuperação devam ser adotadas apenas após o exaurimento da

jazida, porém idealmente, as empresas areeiras devem seguir durante toda vida útil da lavra, as

instruções contidas nos Relatórios Técnicos de Monitoramento Ambiental6, objetivando uma

redução na acumulação do passivo ambiental ao final da atividade.

No contexto urbano, a recuperação desempenha um importante papel social podendo

conferir à atividade minerária as seguintes funções:

6 Relatório exigido pelo órgão ambiental competente em detrimento da operação de empreendimentos

potencialmente poluidores ou degradadores do meio ambiente onde são apresentadas orientações sobre a situação atual da atividade, medidas de recuperação implantadas, próximas etapas de recuperação e seu respectivo cronograma.

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Conter a degradação ambiental durante o funcionamento da atividade;

Beneficiamento social ao fim da atividade a partir da transformação da área

remanescente em locais que atendam a necessidades públicas ou privadas de uso

do solo.

Entretanto algumas das intenções de uso comumente propostas são tidas como inviáveis

tendo em vista que as possíveis soluções indicadas não são atendidas pelas características das

cavas que normalmente são extensas, profundas, são preenchidas por água cujas propriedades

químicas e físicas foram alteradas e o leito possui composição essencialmente argilosa devido ao

descarte de rejeito fino nas lagoas.. Ainda que a área não possa ser contemplada com um projeto

de uso futuro, as medidas mitigadoras de impactos devem ser adotadas afim de reduzir riscos a

segurança e saúde daqueles que serão obrigados a conviver com essa alteração ambiental.

.

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8 CONCLUSÃO

Com relação a itemização proposta pelo INEA para execução de Planos de Recuperação

de Área degradadas, a elaboração de textos orientativos específicos para cada condição

constituiria uma base mais completa para o técnico executor do trabalho e serviria como um

parâmetro melhor definido no momento de avaliação do trabalho pelo responsável do INEA. Como

conseqüência, menos relatórios cairiam em exigência por terem sido orientados a apresentar todo

conteúdo julgado necessário pelo órgão responsável.

Tratando-se da eficácia, ainda que proprietários de areais tenham consciência da

obrigação legal e social que possuem, é comum localizar areais sem um mínimo vestígio de

tomada de medidas de recuperação, com margens desmoronadas, infraestrutura abandonada,

sem cercamento ou placa sinalizando os riscos que a área oferece, solo infértil, presença de

poucas espécies vegetais e ausência quase total de fauna.

Essa atitude tomada pelos areais confirma que, apesar da existência de leis que obrigam a

recuperação de áreas degradas, a ineficácia dos órgãos competentes em exercer a fiscalização e

garantir o cumprimento da lei, oportuniza a leviandade dos mineradores com suas obrigações

ambientais.

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