instituto brasileiro de terapia intensivaibrati.org/sei/docs/tese_383.doc · web viewperfil...

32
1 INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVA MESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA SANDRA CRISTINA DE ALMEIDA DANTAS PERFIL EPIDEMIOLÓGICO E HUMANIZAÇÃO DO CUIDADO DA UTI NEO NATAL

Upload: vuquynh

Post on 11-Jan-2019

213 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

INSTITUTO BRASILEIRO DE TERAPIA INTENSIVAMESTRADO PROFISSIONALIZANTE EM TERAPIA INTENSIVA

SANDRA CRISTINA DE ALMEIDA DANTAS

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO E HUMANIZAÇÃO DO CUIDADO DA UTI NEO NATAL

JOÃO PESSOA 2010

2

SANDRA CRISTINA DE ALMEIDA DANTAS

PERFIL EPIDEMIOLÓGICO E HUMANIZAÇÃO DO CUIDADO DA UTI NEO NATAL

Projeto apresentado ao Instituto de Terapia Intensiva, como um dos requisitos para obtenção do título de Mestrado Profissionalizante em Terapia Intensiva, sob a orientação da Professora Ms. Daniela Karina Antão Marques.

JOÃO PESSOA 2010

3

RESUMO

Pesquisa de natureza qualitativa do tipo bibliográfica cujo objetivo foi identificar

ações de enfermagem descritas na literatura que contribuem para a humanização da

assistência na Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN). A busca do material

foi realizada em bancos de dados informatizados e em livros e periódicos da área.

Os textos foram selecionados a partir do conteúdo dos resumos e lidos várias vezes

a fim de construir os núcleos de sentido. Os resultados demonstram que as ações de

enfermagem com vistas à humanização em UTIN devem pautar-se na construção do

cuidado singular, na integralidade e no respeito à vida.

Palavras chave: Humanização da assistência; Recém-nascido; Enfermagem.

4

ABSTRACT

This study is a qualitative and bibliographical research which objective is identifying

the nursing actions as described in nursing literature and that contributes to the

humanization in Newborn Intensive Care Unities (NICU). The data was collected in

informatized data banks, books and magazines. The texts were all selected up in

order to make sense in the subject. The results show that the nursing actions in NICU

must have as their target the singular care, integrality and the respect for life.

Key-Words: Humanization of assistance; Newborn; Nursing.

5

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO....................................................................................................... 06

2 OBJETIVOS .......................................................................................................... 10

2.1 Objetivo Geral..................................................................................................... 10

2.2Objetivo Específicos............................................................................................. 10

3 REVISÃO DE LITERATURA ................................................................................. 11

3.1 Prematuridade..................................................................................................... 11

3.1.1 Fatores que contribuem para a prematuridade e suas conseqüências........... 12

3.2 UTIN e a assistência de enfermagem ao neonato.............................................. 13

3.2.3 Epidemiologia em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal.............................. 15

4 METODOLOGIA..................................................................................................... 18

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 20

6

1 INTRODUÇÃO

A neonatologia é um campo vasto, em desenvolvimento, sendo na atualidade,

sinônimo de pesquisa e assistência, cuja principal meta é a redução da morbidade e

mortalidade perinatais, como também a busca de sobrevivência do recém-nascido

(RN) nas melhores condições possíveis através de um atendimento de alta

complexidade eficaz (FROTA et al, 2007).

As primeiras instalações de berçários para atender a prematuros surgiram em

fins do século XIX. No início do século XX, passaram a atender os demais recém-

nascidos. A finalidade desses berçários era manter a termorregulação dos bebês,

alimentá-los através de técnicas cuidadosas e protegê-los de infecções através do

isolamento. Ao longo do século XX, os berçários transformaram-se em Unidades de

Internação Neonatal e Unidades de Terapia Intensiva Neonatal (KAMADA et al,

2003).

O advento dessas novas tecnologias trouxe um universo mais amplo de

cuidado aos recém-nascidos, valorizando o binômio mãe-filho, que não se dá só na

perspectiva da sua racionalidade e na recuperação do corpo anátomo-fisiológico do

RN, mas passa a preocupar-se com a família e qualidade de vida (GAÍVA; SCOCHI,

2004).

Na década de 70, nos países desenvolvidos, os neonatologistas começam a

questionar a evolução dos RN e a se interessarem em saber o resultado em médio

prazo da assistência recebida no período neonatal. Com intuito de pesquisa,

organizam ambulatórios de seguimento para esse grupo, com estrutura

multidisciplinar (MÉIO et al, 2005).

No Brasil, especificamente na cidade do Rio de Janeiro, na década de 80,

surgem algumas unidades de terapia intensiva neonatal (UTINs), como no Hospital

do IASERJ, Hospital dos Servidores do Estado e Instituto Fernandes Figueira, com o

objetivo de oferecer assistência contínua, obtendo informações sobre a evolução do

RN, mas principalmente voltadas para o prognóstico e a sobrevida dessa clientela

(FROTA et al, 2007).

Atualmente essas unidades contam com grande aparato tecnológico e

conhecimento científico acumulado que permite que Recém-nascidos prematuros e

criticamente enfermos tenham a cada dia maior possibilidade de sobrevida. Hoje,

7

cerca de 7% dos recém-nascidos utilizam as Unidades de Cuidados Intensivos,

inegavelmente houve uma redução significativa da mortalidade destas crianças,

após sua criação (FERREIRA, 2007).

A UTIN surge como um espaço destinado para o tratamento de RN’s

prematuros ou que apresentem algum tipo de problema ao nascer. Em razão da

gravidade e vulnerabilidade da clientela, as UTINs são dotadas de aparelhos e

equipamentos indispensáveis para o cuidado do pequeno paciente (FROTA, et al,

2007).

Apesar da importância da UTIN para os neonatos, contraditoriamente, essa

unidade que deveria zelar pelo bem-estar do RN em todos os seus aspectos, é por

excelência um ambiente nervoso, impessoal e até temeroso para aqueles que não

estão adaptados às suas rotinas. Tal ambiente é repleto de luzes fortes e

constantes, barulhos, mudanças de temperatura, interrupção do ciclo do sono, visto

que são necessárias repetidas avaliações e procedimentos, acarretando muitas

vezes, desconforto e dor (REICHERT et al, 2007).

Contudo, a equipe de enfermagem que atua nas UTIN encontra-se em uma

busca constante pela qualidade dos cuidados prestados ao recém-nascido. Portanto,

a busca pelo conhecimento contribui para uma visão mais crítica e consciente do

recém-nascido e de sua família, enfatizando a visão holística do RN (MEDEIROS;

MADEIRA, 2006)

Assim, a avaliação crítica dos resultados obtidos em cada serviço, visando

conhecer seus limites e otimizar a utilização dos recursos tecnológicos disponíveis, é

de fundamental importância nos dias atuais, para garantir qualidade e

disponibilidade da assistência neonatal (PRIGENZI et al, 2008)

Estudos epidemiológicos nos países desenvolvidos realizados nas últimas

décadas observaram que a sobrevivência de recém-nascidos, em condições de

risco, aumentou significativamente quando eles foram atendidos nas unidades de

cuidados intensivos neonatais. Em decorrência, houve um aumento no custo dos

cuidados e no risco pela excessiva manipulação e tratamento sendo necessário,

portanto, maior concentração no avanço da tecnologia da saúde na área de cuidado

perinatal (WEIRICH, DOMINGUES, 2001).

Este estudo epidemiológico mostra-se relevante, pois visa contribuir para a

aquisição de conhecimento sobre as variáveis predominantes na unidade de terapia

8

intensiva neonatal e assim, a importância de um estudo estatístico descritivo sobre o

perfil da UTIN (ROUQUAYROL; ALMEIDA FILHO, 2003).

A epidemiologia caracteriza-se como o ramo da ciência da saúde que estuda

na população a ocorrência, a distribuição e os fatores determinantes dos eventos

relacionados com a saúde. Ela tem o objetivo de descrever as condições de saúde,

investigar os fatores determinantes e avaliar o impacto das ações para alterar a

situação de saúde. (ALVES, 2008)

Em 2005, o Relatório Mundial de Saúde da OMS mostra que, todos os anos,

ocorrem aproximadamente 3,3 milhões de óbitos fetais e mais de 4 milhões de óbitos

nos 28 dias subseqüentes ao nascimento. A mortalidade neonatal precoce

representa cerca de 75% das mortes neonatais. Apesar da acentuada redução do

coeficiente da mortalidade infantil (CMI) nas últimas décadas em quase todo o

mundo, sua variação entre as mais diversas regiões demonstra as desigualdades

socioeconômicas. Assim, é possível observar que, mesmo tendo ocorrido esta

redução, ela não é acompanhada por sensível melhora na qualidade de vida,

sobretudo nos países em desenvolvimento. (PINTO, 2008)

O acompanhamento estatístico dos nascimentos foi um avanço significativo

na área da epidemiologia, possibilitando um amplo conhecimento sobre o recém-

nascido (RN), ou seja, seu nome, como nasceu, onde nasceu e em que condições

nasceu. Isso foi possível a partir de 1990, quando o Sistema de Informações de

Nascidos Vivos (SINASC) foi implantado pelo Ministério da Saúde, por meio da

Declaração de Nascido Vivo (DN), padronizada nacionalmente e preenchida nos

hospitais e em outras instituições de saúde nos quais ocorrem partos, e nos

Cartórios de Registro Civil para os partos domiciliares (RAMOS, CUMAN, 2009).

Por meio das análises feitas a partir da epidemiologia e dos dados

estatísticos, podemos, em muitos casos, prever determinadas tendências, as quais

nos auxiliarão na tomada de decisões, permitindo elaborar um planejamento mais

adequado, ou seja, estaremos traçando ações com base em cenários verdadeiros o

que certamente contribuirá para a melhoria na assistência á saúde (MARÇOLA,

2006).

No decorrer da unidade programática destinada à atenção à saúde da criança

e adolescente, observei que os enfermeiros não conheciam de maneira precisa as

características da clientela de suas unidades de trabalho. Sempre que eram

questionados, sobre dados estatísticos as respostas estavam baseadas em

9

observações pessoais, sem nenhum respaldo numérico, desprovido de qualquer

dado estatístico. Assim, percebo importância de se traçar o perfil epidemiológico da

unidade de terapia intensiva neonatal, a fim de possibilitar um maior conhecimento

sobre suas características, proporcionando o desenvolvimento de resultados

concretos.

Para responder ao questionamento acima, essa pesquisa se propõe a realizar

um estudo retrospectivo descritivo, de modo a traçar o Perfil Epidemiológico de uma

Unidade de Terapia Intensiva Neonatal.

10

2 OBJETIVOS

OBJETIVO GERAL

Traçar o perfil epidemiológico de uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal de

referência.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Caracterizar os recém-nascidos a partir da idade gestacional, sexo, peso ao

nascer e apgar;

Identificar os principais diagnósticos de admissão;

Calcular o tempo de permanência na UTI;

Identificar procedência dos RNs;

Calcular o índice de alta e óbito na UTIN.

3 REVISÃO DE LITERATURA

11

3.1 Prematuridade

O RN pré-termo pode ser definido como um neonato que nasce antes do final

da 37ª semana de gestação e, independentemente da idade gestacional ou do peso

ao nascer, este apresenta uma chance maior que a normal de morbidade ou

mortalidade devido às condições ou circunstâncias superpostas ao curso normal de

eventos associados ao nascimento e à adaptação à vida extra-uterina (WONG,

2006).

Confirmando a idéia acima, Kimberly et al (2007) destaca que esta condição

está associada a inúmeros problemas, devido ao fato de que todos os sistemas

corporais dos prematuros apresentam-se imaturos, sendo os recém-nascidos com

24 à 37 semanas de idade gestacional os que possuem melhor chance de

sobrevida.

Assim, tanto em países desenvolvidos como naqueles em desenvolvimento,

houve, na década de 90, significativo aumento nas taxas de sobrevida de

prematuros de muito baixo peso, especialmente os menores que 1.000 g, ou seja, de

extremo baixo peso (EBP). No Brasil, a Rede Brasileira de Pesquisas Neonatais

mostrava, nesta época, sobrevida de 66-73% na faixa de 750-1.000 g, e de 9-44%

na faixa de 500-749 g (RUGOLO, 2005).

A prematuridade constitui-se em um grande problema de Saúde Pública, por

tratar-se de um determinante de morbi-mortalidade neonatal, principalmente em

países em desenvolvimento. Crianças prematuras e com baixo peso ao nascer

apresentam risco de mortalidade significativamente superior a crianças nascidas

com peso maior ou igual a 2.500g e duração da gestação maior ou igual á 37

semanas (CASCAES et al, 2008).

Antigamente, considerava-se que o peso ao nascer refletia uma estimativa

razoavelmente precisa da idade gestacional. Ou seja, se o peso ao nascer de um

neonato fosse maior que 2.500 g, o recém-nascido era considerado a termo.

Entretanto, dados acumulados demonstraram que as taxas de crescimento intra-

uterino não são iguais para todos os neonatos e que outros fatores (por ex.:

hereditariedade, insuficiência placentária, doença materna) influenciam o

12

crescimento intra-uterino e o peso ao nascer (BEHRMAN; SHIONO, 2002 apud

WONG, 2006).

Para medir o crescimento intra-uterino adequado, utiliza-se o peso esperado

para idade gestacional que é obtido mediante o uso de curvas de crescimento intra-

uterino, baseadas em percentil de uma distribuição do peso para a idade gestacional

ao nascer, com a curva de crescimento intra-uterino podemos classificar as crianças

em pequenas, grandes ou proporcionais a idade gestacional e conseqüentemente,

determinar o risco neonatal (Maia, 2009).

3.1.1 Fatores que contribuem para a prematuridade e suas consequências

A prematuridade está associada a diversos fatores de ricos tanto maternos

como neonatais dentre as causas maternas destacamos: gravidez na adolescência,

incompetência do colo uterino, hipertensão gestacional, níveis altos e inexplicáveis

de alfa-feto-proteína no segundo trimestre, falta de cuidados pré-natais, gravidez

múltipla, placenta prévia, ruptura prematura da membrana (amniorrexe prematura),

parto prematuro anterior, abuso de drogas/fármacos e anormalidades uterinas

(KIMBERLY et al, 2007).

Define-se fator de risco como sendo um elemento que determina um

aumento da probabilidade de surgimento de problemas e, também, como um fator

que aumenta a vulnerabilidade de uma pessoa ou grupo em desenvolver alguma

patologia ou agravo à saúde, a prematuridade e o baixo peso ao nascimento são os

fatores de risco para o desenvolvimento infantil mais comum no Brasil (WEISS,

FUJINAGA, 2007).

Em relação aos fatores de risco para o óbito infantil, estão dispostas as

seguintes condições: baixo peso ao nascer asfixia neonatal, infecções congênitas ou

hospitalares, além de malformações não compatíveis com a vida e também aquelas

ocorridas no período neonatal. Esses dados geralmente são obtidos por meio de

fontes oficiais, como o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC) que

foi implantado em 1990, com o objetivo de reunir informações epidemiológicas

referentes aos nascimentos informados em todo território nacional do Ministério da

Saúde como também Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM)

(NASCIMENTO, 2009).

13

O peso do bebê ao nascer é fortemente associado ao risco de morrer no

primeiro ano de vida e em grau menor, com problemas de desenvolvimento na

infância, além da maior probabilidade de várias doenças na vida adulta como:

doença cardiovascular, hipertensão e diabetes quando comparada aquela nascida

com peso normal (ANDRADE et al, 2008).

Clinicamente o recém-nascido de baixo peso tem características diferentes do

RN com peso normal, observa-se que estes apresentam depósitos mínimos de

gorduras subcutâneas, cabeça proporcionalmente grande em relação ao corpo,

coxins gordurosos proeminentes nas bochechas (bola de Bichat), rosto enrugado,

pele fina, lisa brilhante quase translúcida, veias claramente visíveis sob a epiderme

transparente, lanugem em todo o corpo, fios de cabelo escassos finos emaranhados,

cartilagem da orelha amolecida e elástica, hipoventilação e períodos de apnéia, o

que pode agravar e dificultar sua evolução (KIMBERLY et al 2007).

Os sistemas corporais de um RN prematuro encontram-se ainda em

desenvolvimento, o que pode acarretar inúmeras complicações. Diante destas, a

equipe multidisciplinar atuante na UTIN e, em especial, a enfermagem poderá

desenvolver uma assistência baseada na contínua avaliação destes sistemas,

através da administração de medicamentos para o suporte cardíaco e respiratório,

evitando a manipulação rigorosa do RN, monitoração do equilíbrio hidroeletrolítico

pela avaliação do balanço hídrico e assim, assistindo o RN de forma integral

(KIMBERLY et al 2007).

Se os cuidadores em enfermagem conhecerem as necessidades do neonato

e o risco a que está exposto durante a internação na UTI neonatal, proporcionaram

condições para que sua permanência seja menos traumática possível para que não

venha afetar seu desenvolvimento físico, mental e social (SIMSEN, CROSSETTI,

2004).

3.2 UTIN e a assistência de enfermagem ao neonato

O enfermeiro que atua em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal é

responsável por promover a adaptação do RN ao meio externo (manutenção do

equilíbrio térmico adequado, quantidade de umidade, luz, som e estímulo cutâneo),

observar o quadro clínico (monitorização de sinais vitais e emprego de

procedimentos de assistência especial), fornecer alimentação adequada para suprir

14

as necessidades metabólicas dos sistemas orgânicos em desenvolvimento (se

possível, aleitamento materno), realizar controle de infecção, estimular o RN, educar

os pais, estimular visitas familiares, elaborar e manter um plano educacional,

organizar, administrar e coordenar a assistência de enfermagem ao RN e a mãe,

desenvolver atividades multidisciplinares, orientar o ensino e supervisionar os

cuidados de enfermagem prestados, entre outras atividades (SILVA; VIEIRA, 2008).

A Enfermagem é uma profissão que lida com o ser humano, interage com ele

e requer o conhecimento de sua natureza física, social e psicológica. Desta forma, o

cuidar pode ser caracterizado pela atenção, zelo e preocupação com o outro, como

também está inserido desde o nascer até o morrer (AGUIAR et al, 2006).

A enfermagem também exerceu um papel fundamental no início do

desenvolvimento da neonatologia, os melhores resultados obtidos no cuidado aos

recém-nascidos prematuros eram alcançados quando enfermeiras bem treinadas

estavam à frente do serviço, neste caso a enfermeira era a supervisora. Nesse

período, cresceu o incentivo pela especialização da enfermagem para o cuidado a

recém-nascidos prematuros, e observa-se um grande investimento nessa área

(OLIVEIRA, RODRIGUES, 2005).

O cuidar, no mundo de terapia intensiva, tem sofrido várias modificações ao

longo dos anos, devido ao crescente avanço tecnológico e a decorrente

modernização dos equipamentos e instrumentos de trabalho. A prática de

enfermagem dessa unidade também sofreu transformações, ocasionadas por este

impacto, em que o cuidado de enfermagem, para ser realizado utiliza cotidianamente

a técnica (SIMSEN, CROSSETTI, 2004).

A fim de dar conta da complexidade que é assistir o RN em uma UTIN,

destacamos a importância do envolvimento da equipe de enfermagem na assistência

ao binômio mãe-filho ressaltando, a necessidade de humanizar essa assistência,

proporcionando a interação entre equipe profissional-RN-mãe e com isso estaremos

minimizando os efeitos nocivos causados pela hospitalização (REICHERT et al,

2007).

O trabalho do enfermeiro é indispensável, pois ele une o conhecimento

científico à realidade e à prática da UTI neonatal. Com efeito, pode reconhecer as

necessidades do bebê e planejar uma assistência de qualidade baseada no

planejamento e organização do serviço, seguindo normas estabelecidas em

protocolos que regulamentam esse serviço hospitalar, como é o caso da

12

15

Sistematização da Assistência de Enfermagem (SAE). Esses destacam o

planejamento como possibilidade para transformar a realidade, envolvendo questões

como: gerenciamento, participação, recursos humanos e a transformação (SILVA;

VIEIRA, 2008).

O conhecimento científico e a habilidade técnica são características

imprescindíveis para o rigoroso controle das funções vitais na tentativa de reduzir a

mortalidade e de garantir a sobrevivência dos recém-nascidos de risco. Assim,

destacamos a importância do acompanhamento e da atualização dos avanços

terapêuticos e tecnológicos nessa área (REICHERT et al, 2007).

No trabalho em UTI neonatal, o enfermeiro necessita utilizar os equipamentos

de alta complexidade aliados a outros instrumentos de trabalho como a experiência,

a compreensão do cuidado que presta a sensibilidade e o relacionamento

interpessoal terapêutico, a fim de prover um cuidado seguro, responsável e ético em

uma realidade vivencial na qual se depara, freqüentemente, com a instabilidade do

estado clínico do bebê e com a ansiedade da família (GAIVA, 2006).

Mas nem sempre os avanços tecnológicos e terapêuticos da UTI neonatal

são capazes de impedir o óbito do neonato, diante disso, o enfermeiro inserido em

Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTIN) convive diariamente com a situação

de morte iminente do recém-nascido (RN) e com a presença constante dos pais que

reconhecem a fragilidade da situação de seu filho correlacionando à questão da

UTIN e a morte, implicando diretamente na conduta deste profissional, dificultando o

modo de atuar diante do óbito que se torna tão evidente para todos (AGUIAR et al,

2006).

3.2.3 Epidemiologia em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal

A epidemiologia é um eixo da saúde pública, que proporciona as bases para

avaliação das medidas de profilaxia, fornece pistas para diagnose de doenças

transmissíveis e não-transmissíveis e enseja a verificação da consistência de

hipóteses de causalidade. Além disto, estuda a distribuição da morbidade e da

mortalidade a fim de traçar o perfil de saúde-doença nas coletividades humanas;

realiza testes de eficácia e de inocuidade de vacinas; desenvolve a vigilância

epidemiológica; analisa os fatores ambientais e socioeconômicos que possam ter

alguma influencia na eclosão de doenças e nas condições de saúde; constitui um

13

16

dos elos, comunidade/governo, estimulando a prática da cidadania através do

controle, pela sociedade, dos serviços de saúde (ROUQUAYROL; ALMEIDA FILHO,

2003).

A epidemiologia no Brasil tem uma história rica e recente, ainda em

consolidação, porém nestas últimas duas ou três décadas a velocidade dos

acontecimentos com relação á concretização da disciplina em nosso país é

monumental, pois a epidemiologia no país em período recente pode ser observada

tanto no vertiginoso crescimento da sua produção acadêmica, como na sua

crescente utilização nos serviços de saúde (BARRETO, 2002).

O conhecimento dos aspectos epidemiológicos mostra-nos as relações entre

riscos e danos perinatais, neonatais e nas fases seguintes, imprimindo a

necessidade de acompanhamento dessas crianças. Este acompanhamento deve ser

incrementado, visando o seguimento e o suporte adequado ao egresso das UTINs e

suas famílias, uma vez que o cuidado no período neonatal não pode se restringir ao

momento de hospitalização ou ao preparo para alta, mas sim ampliar esse cuidado

para o extra-hospitalar que objetivará a sobrevida desses bebês com qualidade

(VIERA; MELLO, 2009).

Para se ter conhecimento dos aspectos epidemiológicos, torna-se necessário

a busca de dados em sistemas de informação, onde temos o Sistema de Informação

sobre Nascidos Vivos (SINASC) que foi implantado de forma lenta e gradual em

todas as Unidades da Federação e em muitos municípios já apresenta um número

de registros maior do que o publicado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), com base nos dados de Cartório de Registro Civil (CASCAES, et

al, 2008).

O SINASC, cujo instrumento de obtenção dos dados é um modelo

padronizado pelo formulário de Declaração de Nascido Vivo (DN) abriu a

possibilidade da obtenção de informações mais fidedignas e completas, além de

permitir um retrato da situação de nascimentos em curtos intervalos de tempo

(FRIAS et al, 2007).

Para se obter dados sobre a mortalidade deve-se consultar o Sistema de

Informação de Mortalidade (SIM) que é utilizado para o registro da morbi-

mortalidade acontecida em uma determinada região. A cobertura do SIM é avaliada

tomando-se como parâmetro as estimativas do IBGE para óbitos (BRASIL, 2005).

17

O SIM foi desenvolvido e implantado no Brasil em 1975. Consiste em um

sistema de vigilância epidemiológica de abrangência nacional, que tem como

principal objetivo captar dados sobre os óbitos ocorridos no país nos diversos níveis

espaciais e fornecer informações sobre mortalidade para o sistema de saúde o

documento de coleta de dados desse sistema, a Declaração de Óbito (DO),

padronizada em todo o território nacional, é impressa em três vias pré-numeradas

seqüencialmente e distribuídas às secretarias estaduais de saúde (BOFIM et al,

2008).

Em função da deficiência na cobertura do SIM e/ou Sinasc, o Ministério da

Saúde considera os dados diretos no cálculo da mortalidade infantil apenas para

sete estados (ES, RJ, SP, PR, SC, RS e MS) e DF e nos demais estados, inclusive

na Paraíba, utilizam-se as estimativas do IBGE (BRASIL, 2005).

Este estudo epidemiológico mostra-se relevante, pois visa contribuir para a

aquisição de conhecimento sobre as variáveis predominantes na unidade de terapia

intensiva neonatal e assim, a importância de um estudo estatístico descritivo sobre o

perfil da UTIN (ROUQUAYROL; ALMEIDA FILHO, 2003).

Rouquayrol (2003) afirma que a epidemiologia moderna com sua ênfase em

identificar associações estatísticas entre os eventos de saúde-doença e suas

possíveis causas [...] permite uma maior assimilação dos fenômenos. Neste sentido,

novas técnicas de análise geográficas ou dos padrões temporais, técnicas

classificatórias diversas tem permitido melhor categorizar as variáveis sociais ou

econômicas, sendo estas ferramentas hoje disponíveis para o epidemiologista e que

tem proporcionado uma melhor exploração dos seus dados.

Nesse sentido, faz-se necessário utilizar com racionalidade os conceitos e

possibilidades provenientes da epidemiologia para, através de um planejamento,

poder traçar ações orientadas com base em cenários verdadeiros o que certamente

contribuirá para uma melhor resolutividade no âmbito da saúde. Os serviços de

saúde, por sua vez, muito mais orientados sob a lógica do mercado do que os das

necessidades de saúde pareciam não ver a epidemiologia como uma ferramenta

necessária para o seu desenvolvimento (ALVES, 2008).

18

4 METODOLOGIA

Para a realização desta pesquisa optamos pela abordagem de natureza

qualitativa, uma vez que esta permite entrar em profundidade na essência do tema

proposto. A pesquisa qualitativa permite compreender as representações de um

determinado grupo e entender o valor cultural que estes atribuem a determinados

temas.

O desenho escolhido para a mesma foi de um estudo bibliográfico, pois foi

desenvolvido com base em material já elaborado, constituída de livros e artigos

científicos. Ao delimitarmos o tema da pesquisa, realizamos um estudo exploratório a

fim de nos aproximarmos dos conceitos que envolvem a humanização na UTIN,

buscando trabalhos de natureza teórica capazes de proporcionar explicações a

respeito do tema proposto, bem como de pesquisas que abordavam o assunto.

Reichert APS, Lins RNP, Collet N. Humanização do Cuidado da UTI Neonatal.

Revista Eletrônica de Enfermagem [serial on line] 2007 Jan-Abr; 9(1): 200-213.

Available from: URL: http://www.fen.ufg.br/revista/v9/n1/v9n1a16.htm. Para tanto,

realizamos um levantamento bibliográfico sobre o tema nos bancos de dados

informatizados MEDLINE, LILACS, CINAHL, SciELO e consulta manual em

periódicos da área.

A busca dos artigos deu-se por meio do uso das palavras-chave, a saber,

prematuridade, UTIN, neonatologia, enfermagem neonatológica, humanização da

assistência, dentre outras. Realizamos pesquisa na literatura nacional publicada no

período entre 1996 a 2009, procurando diversificar os periódicos para alcançar um

número maior de publicações que abordassem o tema em questão. De posse do

material realizamos uma leitura do tipo exploratória que tem por objetivo verificar, em

que medida o obra consultada interessa à pesquisa. Nesse momento, obtivemos

maior familiaridade com o tema da investigação. A leitura exploratória é feita

mediante o exame da folha de rosto ou resumo, dos índices da bibliografia e das

notas de rodapé. Também faz parte deste tipo de leitura o estudo da introdução, do

prefácio, livros e resumos de artigos.

Com esses elementos, é possível ter uma visão global do texto, bem como

sua utilidade para a pesquisa. A próxima etapa constituiu-se da determinação do

19

material de interesse à pesquisa. Nesse momento, realizamos a leitura seletiva a

qual é mais profunda que a exploratória, que ainda não é definitiva, pois possibilita a

retomada do mesmo material com propósitos diferentes. Posteriormente,

procedemos à leitura do tipo analítica que é feita com base nos textos selecionados.

Essa etapa tem por finalidade ordenar e sumarizar as informações contidas nas

fontes, de forma que estas possibilitem a obtenção de respostas ao problema da

pesquisa.

Assim, os textos foram lidos várias vezes a fim de identificarmos sua relação

com o objeto desta pesquisa, constituindo-se como critério de inclusão dos textos

aqueles que abordaram a temática em estudo. Por fim, realizamos a leitura

interpretativa que tem por objetivo relacionar o que o autor afirma como problema

para o qual se propõe uma solução.

Dessa forma, foi possível elencar o material, extrair dos textos temas de

interesse nesta pesquisa e interpretá-los a partir do objetivo proposto.

20

REFERÊNCIAS

CASCAES, Andreia Morales. Prematuridade e fatores associados no Estado de Santa Catarina, Brasil, no ano de 2005: análise dos dados do Sistema de

Informações sobre Nascidos Vivos. Revista de Saúde Pública, Rio de Janeiro/RJ,

maio, 2008. Disponível em: http://scielo.sld.cu/ . Acesso em: 02 de ago. 2010.

FROTA, Mirna Albuquerque. Crenças e sentimentos maternos. Revista Cogitare

Enfermagem, Curitiba, v. 12, n.3, jul./set., 2007. Disponível em: http://seer.ibict.br/ .

Acesso em: 02 de ago. 2010.

GAIVA, Maria Aparecida Munhoz. O cuidar em unidades de cuidados intensivos neonatais: em busca de um cuidado ético e humanizado. Revista Cogitare

Enfermagem, Curitiba, jan./abr., 2006. Disponível em: http://seer.ibict.br/ Acesso em:

05 de ago. 2010.

GAÍVA, Maria Aparecida Munhoz; SCOCHI, Carmen Gracinda Silvan. Processo de trabalho em saúde e enfermagem em UTI neonatal. Revista Latino-americana de

Enfermagem, mai./jul., 2004. Disponível em: http://www.scielo.br/rlae. Acesso em: 05

de ago. 2010.

KAMADA, Ivone. Internações em unidade de terapia intensiva neonatal no Brasil 1998-2001. Revista Latino-americana de Enfermagem, jul./ago., 2003. Disponível

em: http://www.scielo.br/rlae. Acesso em: 05 de ago. 2010.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4.ed. São Paulo: Atlas,

2002.

JORGE, Maria Helena P. de Mello. Avaliação do sistema de informação sobre nascidos vivos e o uso de seus dados em epidemiologia e estatísticas de

21

saúde. Revista de Saúde Pública, v.27, São Paulo/SP, 1993. Disponível em:

http://www.scielo.br/rsp. Acesso em 05 de ago. 2010.

KIMBERLY, Atwood. Enfermagem materno-neonatal: Distúrbios, intervenções,

procedimentos, exames complementares, recursos clínicos. V. 3. Rio de Janeiro:

Guanabara Koogan, 2007. Disponível em: www.univale.br/. Acesso em: 05 de ago.

2010.

MEDEIROS, Marlene das Dores; MADEIRA, Lélia Maria. Prevenção e Tratamento da dor do recém-nascido em Terapia Intensiva Neonatal. Reme Revista Mineira

de Enfermagem da Escola de Enfermagem, Belo Horizonte, v.1, n.1, abr./jun., 2006.

Disponível em: www.fen.ufg.br/revista. Acesso em: 06 de ago. 2010.

MÉIO, Maria Dalva Barbosa Baker. Análise situacional do atendimento ambulatorial prestado a recém-nascidos egressos das unidades de terapia intensiva neonatais no Estado do Rio de Janeiro. Ciência & Saúde Coletiva, Rio

de Janeiro/RJ, 2005. Disponível em: http://www.scielo.br. Acesso em: 06 de ago.

2010.

SAÚDE, Ministério da. Sistema Nacional de Vigilância em Saúde. Relatório de

situação: Paraíba. Distrito Federal, 2005. Disponível em: www.saude.gov.br/. Acesso

em: 06 de ago. 2010.

NASCIMENTO, Luiz Fernando C. Fatores de risco para óbito em Unidade de Terapia Intensiva Neonatal. Revista Paulista de Pediatria, São Paulo/SP, 2009.

Disponível em: www.scielo.br/. Acesso em: 06 de ago. 2010.

PRIGENZI, Maria Laura H. Fatores de risco associados à mortalidade de recém-nascidos de muito baixo peso na cidade de Botucatu, no período 1995-2000.

Revista Brasileira de Saúde Materno Infantil, Recife/PE, jan./mar., 2008. Disponível

em: www.scielo.br/. Acesso em 07 de ago. 2010.

REICHERT, Altamira Pereira da Silva; LINS, Rilávia Nayara Paiva; COLLET, Neusa.

Humanização do cuidado na UTI Neonatal. Revista Eletrônica de Enfermagem,

19

22

v.9, n.1, 2007. Disponível em: http://www.fen.ufg.br/revista. Acesso em: 07 de ago.

2010.

ROUQUAYROL, Maria Zélia; ALMEIDA FILHO, Naomar de. Epidemiologia e Saúde. 6 ed. Rio de janeiro: Guanabara Koogan, 2003. Disponível em:

pt.wikipedia.org/wiki/Epidemiologia. Acesso em: 07 de ago. 2010.

VIERA, Cláudia Silveira; MELLO Débora Falleiros de. O seguimento da saúde da criança pré-termo e de baixo peso egressa da terapia intensiva neonatal. Revista Texto & Contexto Enfermagem, Florianópolis/SC, Jan.,/Mar, 2009.

Disponível em: bases.bireme.br/cgi-bin/.../online/?...p. Acesso em: 08 de ago. 2010.

WONG, Donna L. Fundamentos de Enfermagem Pediátrica. 7 ed. V. 4. Rio de

Janeiro: Editora Elsevier.

.

23