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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa Universidade Federal da Paraíba 15 a 18 de agosto de 2017 ISSN 2236-1855 4075 INSTITUIÇÕES ESCOLARES NO PIAUÍ NAS NOTÍCIAS DOS JORNAIS (1961-1971) Jane Bezerra de Sousa 1 O tema da proposta deste artigo foi Educação e imprensa: instituições escolares no Piauí (1961 a 1971). O recorte temporal teve como base inicial o ano de 1961, a partir da implantação da lei 4024/61, e o final, a implementação da lei 5692/71. A promulgação de ambas proporcionou mudanças na sistematização e organização da educação, afetando substancialmente a criação e o funcionamento das instituições escolares piauienses. Mapeamos os jornais O Dia, O Estado do Piauí, Jornal do Piauí, A hora, Opinião e Jornal do Comércio, sobre notícias, mensagens, anúncios, editoriais, charges, fotografias e discursos voltados à presença de instituições escolares no Piauí, no período proposto. O resultado da pesquisa foi relevante por ampliar os conhecimentos sobre educação e imprensa, bem como por permitir análises sobre o uso de jornal enquanto fonte para a história da educação, especificamente das instituições escolares, e assim influenciar outras pesquisas voltadas a debater essa temática. Imprensa e História da Educação Para Capelato (1988), é fascinante aprender a história do Brasil por meio de jornais, uma vez que nos deparamos com aspectos significativos da vida de nossos antecessores, revisitando suas lutas e seus interesses. A imprensa permite acompanhar a experiência humana com o passar do tempo, e apesar de outrora ter sido considerada uma fonte suspeita, na atualidade, é considerada uma fonte valiosa para o conhecimento de uma época. A imprensa registra, comenta e participa da história. Através dela se trava uma constante batalha pela conquista dos corações e mentes - essa expressão de Clovis Rossi define bem a atividade jornalística. Compete ao historiador reconstituir os lances e peripécias dessa batalha cotidiana na qual se envolvem múltiplas personagens (CAPELATO, 1988, p. 13). 1 Professora da Universidade Federal do Piauí. CCE/DEFE - E-mail: [email protected] . Doutora e mestre em Educação. O presente artigo foi realizado a partir de experiência no Estágio de Pós-Doutorado, na Universidade Federal de Uberlândia/Uberlândia (MG), no período de 1 de fevereiro de 2016 a 21 de janeiro de 2017, como parte das atividades previstas no Programa Nacional de Pós-Doutorado (PNPD/CAPES).

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Anais Eletrônicos do IX Congresso Brasileiro de História da Educação João Pessoa – Universidade Federal da Paraíba – 15 a 18 de agosto de 2017

ISSN 2236-1855 4075

INSTITUIÇÕES ESCOLARES NO PIAUÍ NAS NOTÍCIAS DOS JORNAIS (1961-1971)

Jane Bezerra de Sousa1

O tema da proposta deste artigo foi Educação e imprensa: instituições escolares no

Piauí (1961 a 1971). O recorte temporal teve como base inicial o ano de 1961, a partir da

implantação da lei 4024/61, e o final, a implementação da lei 5692/71. A promulgação de

ambas proporcionou mudanças na sistematização e organização da educação, afetando

substancialmente a criação e o funcionamento das instituições escolares piauienses.

Mapeamos os jornais O Dia, O Estado do Piauí, Jornal do Piauí, A hora, Opinião e

Jornal do Comércio, sobre notícias, mensagens, anúncios, editoriais, charges, fotografias e

discursos voltados à presença de instituições escolares no Piauí, no período proposto.

O resultado da pesquisa foi relevante por ampliar os conhecimentos sobre educação e

imprensa, bem como por permitir análises sobre o uso de jornal enquanto fonte para a

história da educação, especificamente das instituições escolares, e assim influenciar outras

pesquisas voltadas a debater essa temática.

Imprensa e História da Educação

Para Capelato (1988), é fascinante aprender a história do Brasil por meio de jornais,

uma vez que nos deparamos com aspectos significativos da vida de nossos antecessores,

revisitando suas lutas e seus interesses. A imprensa permite acompanhar a experiência

humana com o passar do tempo, e apesar de outrora ter sido considerada uma fonte suspeita,

na atualidade, é considerada uma fonte valiosa para o conhecimento de uma época.

A imprensa registra, comenta e participa da história. Através dela se trava uma constante batalha pela conquista dos corações e mentes - essa expressão de Clovis Rossi define bem a atividade jornalística. Compete ao historiador reconstituir os lances e peripécias dessa batalha cotidiana na qual se envolvem múltiplas personagens (CAPELATO, 1988, p. 13).

1 Professora da Universidade Federal do Piauí. CCE/DEFE - E-mail: [email protected]. Doutora e mestre em Educação. O presente artigo foi realizado a partir de experiência no Estágio de Pós-Doutorado, na Universidade Federal de Uberlândia/Uberlândia (MG), no período de 1 de fevereiro de 2016 a 21 de janeiro de 2017, como parte das atividades previstas no Programa Nacional de Pós-Doutorado (PNPD/CAPES).

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Para esta mesma autora, a imprensa impôs-se como uma força política que os

poderosos utilizam ou temem e, por isso, adulam jornais ou os punem. Ao utilizar o jornal

como fonte, reconhece-se a importância da imprensa nos estudos históricos, uma das

principais fontes de informação, daí porque a historiografia atual tem refletido muito sobre o

significado de documento.

Pesquisar a história por meio do jornal é fascinante e pressupõe um trabalho rigoroso,

tratando adequadamente a fonte. A historiografia tradicional positivista exige do historiador

uma crítica rigorosa ao documento; a nova também requer essa postura, mas não é escrava

dele, já que não há um documento-verdade - os Annales recomendavam que não se

permanecesse passivo diante das fontes.

Nessa perspectiva, todos os documentos são, ao mesmo tempo, falsos e verdadeiros. A

tarefa do historiador consiste em desmistificar o seu significado aparente, explicitando que

sua roupagem resulta de uma construção. Demoli-la implica analisar condições em que o

documento foi produzido (CAPELATO, p. 24).

Por isso, o historiador deve fazer perguntas à fonte: quem produziu o jornal? Para

que? Como? E quando? Dessa maneira, cumprirá o papel de analisar seu instrumento de

trabalho. Não deve ser estudado isoladamente, mas com outras fontes que aumentem a

compreensão sobre o que está sendo pesquisado. O historiador de antes trabalhava dentro

das certezas, agora reconhece a relatividade da ciência.

Para Luca (2015), na década de 1970, o número de pesquisas que se utilizavam de

jornais como fontes era relativamente pequeno, pois havia uma relutância em escrever a

história a partir da imprensa, por diversas razões: a influência da história positivista que

considerava como fonte histórica apenas o documento oficial não era vista como uma fonte

objetiva, neutra, fidedigna e abalizada em fornecer imagens parciais e subjetivas.

Sobre a utilização do jornal como fonte e os questionamentos em torno disso, quanto

à objetividade e neutralidade, Luca (2015) aponta os seguintes caminhos:

encontrar as fontes e constituir uma longa e representativa série; localizar a(s) publicação (oes) na história da imprensa; atentar para as características de ordem material (periodicidade, impressão, papel, uso/ausência de iconografia e de publicidade); assenhorar-se da forma de organização interna do conteúdo. caracterizar o material iconográfico presente, atentando para as opções estéticas e funções cumpridas por ele na publicação. identificar os principais colaboradores; identificar o público a que se destinava; identificar as fontes de receita;

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analisar todo o material, de acordo com a problemática escolhida (LUCA, 2015, p. 142).

Os estudos sobre história da educação na imprensa nos levaram a analisar os

testemunhos de uma época, verificando como a sociedade percebia a educação em

determinada época. Compreender a educação de uma época, por intermédio da imprensa,

proporciona ricas reflexões sobre o presente, acerca de práticas, implantação de leis, cultura

escolar, métodos, além do pensamento educacional presente nos discursos dos editoriais ou

de professores e diretores de escolas.

Nóvoa (2002) apresenta várias razões para a utilização da imprensa no campo da

história da educação. Uma delas, que consideramos primordial, é a voz de professores,

alunos, pais, escolas e associações, ou seja, de diversos atores.

De facto, a imprensa revela múltiplas facetas dos processos educativos, numa perspectiva interna ao sistema de ensino (cursos, programas, currículos etc.), mas também no que diz respeito ao papel desempenhado pelas famílias e pelas diversas instâncias de socialização das crianças e dos jovens. A imprensa constitui uma das melhores ilustrações de extraordinária diversidade que atravessa o campo educativo. [...] A imprensa é, talvez, o melhor meio para compreender as dificuldades de articulação entre a teoria e a prática: o senso comum que perpassa as páginas dos jornais e das revistas ilustram uma das qualidades principais de um discurso educativo que se constrói a partir de diversos actores em presença professores, alunos, pais, associações, instituições etc. [...] (NÓVOA, 2002, p. 13).

Daí a importância de compreendermos o uso da imprensa como fonte para esse

trabalho, mapeando discursos e atores educacionais, identificando ações e pensamentos que

nortearam as instituições escolares que protagonizaram as páginas de jornais entre 1961 e

1971.

Material e Métodos

Esse trabalho foi norteado por alguns procedimentos da pesquisa histórica. Em um

primeiro momento, foi utilizada pesquisa bibliográfica, com a realização de leituras de livros,

teses, dissertações, fichamentos de periódicos relacionados ao tema, a fim de garantir uma

aproximação com objeto de estudo.

Como existem várias concepções de pesquisa histórica, optamos por aquela que

enfatiza a história como uma ciência em construção. Então, o método utilizado foi o histórico,

o qual, segundo Diehl (2001, p. 21), “é a constelação de regras do pensar o passado. As regras

indicam os processos pelos quais o passado humano é contemporizado como história.”O

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segundo momento alicerçou-se em pesquisa documental. Para Gil (2014), esta assemelha-se

muito com a bibliográfica, diferindo-se apenas por explorar fontes documentais.

A coleta de dados foi realizada nos seguintes jornais: O Dia, Folha da Manhã, Estado

do Piauí, Jornal do Comércio, Jornal do Piauí, A Hora e Opinião, de edições disponíveis entre

1961 e 1971, focalizando a presença das instituições escolares. Procurou-se, durante esse

processo, atentar para os cuidados mencionados por Luca (2015), que sugere algumas

questões práticas a serem consideradas, uma vez que sugerir um procedimento metodológico

é difícil para dar conta de tantas possibilidades.

O terceiro momento foi destinado ao exame do material coletado, com base na

análise de conteúdo de Bardin (1977, p. 95 apud GIL, 2014, p. 152), que se desenvolve em

“três fases: a) pré-análise; b) exploração do material; e c) tratamento dos dados, inferência e

interpretação.” A exploração do material consistiu em organizá-lo em categorias de análise.

A última etapa da análise de conteúdo contemplou o tratamento dos dados, a

inferência e a interpretação, realizadas da seguinte forma: entrecruzamo-lo com o referencial

teórico de análise, que contempla a corrente historiográfica da história nova ou cultural,

como pontua Chartier (1990, p. 16): “a história cultural, tal como entendemos, tem por

principal objeto identificar o modo como em diferentes lugares e momentos uma

determinada realidade social é construída, pensada, dada a ler.”

Análise e Discussão dos Resultados: Como Noticiam os Jornais – Instituições Escolares no Piauí, de 1961 a 1971

Os jornais pesquisados foram aqueles que estavam disponíveis para consultas no

Arquivo Público Casa Anísio Brito, em Teresina (PI), a saber: Jornal A hora, Opinião, Folha

da Manhã, Jornal do Comércio, Estado do Piauí, Jornal do Piauí e O Dia. Após a coleta de

dados, foram fotografados e organizados, inicialmente, por jornal; em seguida, por

instituição escolar; e logo após, por categoria de análise.

Para esse trabalho, optamos por estudar de que maneira as instituições escolares são

noticiadas nos jornais entre 1961 e 1971. Logo, julgamos necessário descrever o interesse por

tais pesquisas. Em conformidade com Buffa; Nosella (2005), as pesquisas sobre instituições

escolares desenvolveram-se, sobretudo, a partir dos anos 1990, embora haja estudos

anteriores a essa data, cujos autores apontam três momentos: o primeiro, que vai de 1950 a

1960, desenvolveu-se na antiga seção de Pedagogia da Faculdade de Filosofia, Ciências e

Letras da Universidade de São Paulo (USP), caracterizado por pesquisas com a temática

educação e sociedade; o segundo momento abrange as décadas de 1970 e 1980, durante a

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ditadura militar, após a criação dos programas de pós-graduação, e foi marcado pela

escolarização da produção da pesquisa e reação à política ditatorial; a terceira fase inicia-se

nos anos 1990, com a consolidação da pós-graduação, destacado pela crise de paradigmas.

Para esses estudiosos, o a observação da temática instituições escolares tem sido

significativa, mas alertam que há muitos perigos e dificuldades nessa linha de pesquisa, e

insistem na necessidade de investir nessa área, pois conhecer a história de uma instituição

escolar é despertar nos educadores a vontade e o engajamento pela transformação da escola,

além de promover estudos da história local e nacional.

Gatti Jr; Pessanha (2005) assinalam diversas fontes para a pesquisa da história de

instituições educativas, quais sejam: história oral, acervo iconográfico, impressos e

manuscritos dos arquivos públicos e privados, e imprensa periódica.

A citação acima nos conduz nessa pesquisa, no sentido de compreender as instituições

escolares a partir de jornais locais, ouvindo vozes de diversos atores sociais, analisando o que

concebiam como mais importante noticiar e porque consideravam relevante disseminar os

bastidores da escola e a cultura escolar.

Quadro 1 - Categorias de Análise

CATEGORIA DE ANÁLISE QUANTIDADE

Contexto histórico (criação e instalação) 16

Evolução (origens, apogeu, situação atual e vida escolar)

25

Edifício escolar 04

Alunos 03

Saberes 01

Professores e administradores 10

Normas disciplinares -

Eventos, festas, desfiles etc 06

Fonte: elaborado pela autora (2016)

Notou-se uma predominância de notícias sobre a evolução da escola, seguida pelo

processo de instalação e, posteriormente, por matérias que enfatizavam professores e

administradores. Sobre normas disciplinares, não encontramos notícias nos jornais

pesquisados.

Contexto Histórico (Criação e Instalação)

A primeira categoria de análise das notícias parte do contexto histórico, que envolve,

principalmente, a implantação e consolidação das instituições escolares. Foram coletadas

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dezesseis notícias que versavam sobre essa temática, figurando a Faculdade de Odontologia,

que teve o seu primeiro vestibular noticiado nas páginas do Jornal O Estado do Piauí,

trazendo em sua epígrafe: órgão independente, político e noticioso, em 8 de janeiro de 1961.

A notícia em referência convidava todos para uma solenidade no Clube dos Diários,

no dia 20 de janeiro de 1961, às 17h, para a comemoração do encerramento de inscrições do

primeiro vestibular da Faculdade de Odontologia, e também de sua estadualização. Para

Brito (1996), a Faculdade de Odontologia foi o terceiro estabelecimento de ensino superior do

Estado do Piauí, e desde 1947 havia uma luta por sua implementação.

Oscar Olímpio Cavalcante, primeiro diretor da Faculdade de Odontologia, também

era advogado e possuía uma loja de venda de materiais odontológicos. Desse modo, contava

com dois interesses para a criação da faculdade: o idealismo de professor e o

desenvolvimento dos negócios. Assim, com o decreto nº 48525/15/07/1960, foi criada a

Faculdade de Odontologia.

Quanto às notícias sobre grupos escolares, referentes à origem, foi encontrada uma

em 1961, no Jornal O Dia de 23/02/1961, intitulada Precisamos de Escolas!, a qual tratava da

falta de vagas nos grupos escolares.

A partir dessa notícia, podemos apontar que, em 1961, a aura de glória que cobriu os

grupos escolares, mormente no início do século XX, no Piauí, por meio de sua expansão,

construção de prédios próprios e envio de normalistas da capital para o interior, havia

desaparecido, o que nos induz a pensar sobre a falta de investimentos ou pelos menos de

recursos mínimos relativos à expansão de vagas nos grupos escolares da capital.

Outra consideração a ser sublinhada diz respeito à presença mínima de notícias sobre

a origem de grupos escolares no interstício da pesquisa (1961 a 1971). Nessa esfera, apenas

em 1969 encontramos no Jornal O Dia matéria sobre a inauguração de um grupo escolar na

zona sul da cidade de Teresina, no Bairro Nossa Senhora do Perpetuo Socorro, durante o

governo de Helvídio Nunes de Barros.

Acreditamos que o cenário educacional naquele momento daria mais ênfase ao

cotidiano do ensino superior do que aos grupos escolares, como outrora. A despeito disso,

assinalamos dois motivos: o Brasil vivia a expansão do ensino superior e os leitores e

compradores de jornais pertenciam a uma camada social mais abastada, com acesso ao

ensino superior, demonstrando maior interesse por esse tipo de notícia.

O que protagonizava, de fato, as páginas dos jornais pesquisados, eram as lutas que

antecederam a fundação da Universidade Federal do Piauí (UFPI). O governador Helvídio

Nunes de Barros publicou matéria intitulada Mensagem para a Universidade, no Jornal do

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Piauí, em 1968, relatando sua luta pela implantação da UFPI, citando os objetivos e ganhos

que a juventude piauiense amealhariam. Tal carta foi publicada, também, em 1970, no Jornal

Opinião, na edição de agosto, e na de 8 de novembro do mesmo ano.

As notícias sobre a UFPI povoavam as páginas dos jornais piauienses da época. No

Jornal O Dia, de 6 de fevereiro de 1969, a matéria Universidade do Piauí será instalada em

março próximo abordava a aprovação, por decreto, do estatuto da Universidade Federal do

Piauí pelo Presidente da República, o qual já teria sido apreciado pelo Conselho Federal de

Educação.

Em janeiro de 1971, foi instalada a Universidade Federal do Piauí, com a nomeação do

Desembargador Robert Wall de Carvalho como reitor pro tempore. Inaugurada, realmente,

em 1º de março de 1971, na sede do Clube dos Diários, funcionava, de início, em um prédio na

Avenida Frei Serafim, onde funcionou o antigo Seminário de Teresina. Em seguida, o

Governador Alberto Tavares Silva convidou para a reitoria o Professor da UNB, Hélcio Ulhoa

Saraiva, com o objetivo de inaugurar um novo paradigma de universidade.

Nas páginas do Jornal O Estado do Piauí, o reitor Hélcio caracterizou a Universidade

Federal do Piauí como universidade moderna:

A universidade moderna tem que se organizar com vistas ao seu produto. De clube acadêmico ela passa a ser empresa, empresa cuja matéria prima é formada de seres humanos dispostos ao trabalho, com amplas aspirações e cujo produto se materializa com técnicos habilitados e em conhecimentos difundidos. Educação é, mais do que nunca, um investimento (UNIVERSIDADE, 1971b, p. 1).

O termo universidade moderna pode ser atribuído aos debates que, segundo Fávero

(2001), ocorriam desde os anos 1950, como também durante os anos 1960, no governo

Juscelino Kubitschek, sobre a relação entre educação e desenvolvimento, “no sentido amplo

do termo, não restrito às redes escolares – voltar-se para a formação do homem brasileiro,

tendo em vista as tarefas do crescimento econômico” (FÁVERO, 2001, p. 242).

Importa ressaltar que o reitor Hélcio Ulhoa teve dificuldades no processo de

implementação da UFPI, o que também foi noticiado pela imprensa, a exemplo da matéria

Reitor Manda emissário no Jornal do Piauí, de 15 de abril de 1971, mencionando a viagem

de Fausto Portela Madeira para tratar de assuntos da universidade, com o intuito de realizar

reclamações no setor de orçamento e averiguar notícias que corriam pelos corredores, acerca

da vinda de técnicos de lugares diferentes, o que deixava o reitor sem condições psicológicas

para a administração.

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Evolução (Origens, Apogeu, Situação Atual e Vida Escolar)

Na categoria evolução, investigamos as vinte e cinco notícias que remetiam à história

da escola e do cotidiano escolar (exames de admissão, matrículas, editais e propagandas).

Considerando notícias que abordavam história da escola, foram mencionadas nos jornais

pesquisados: Faculdade de Odontologia, Faculdade de Direito, Colégio Diocesano, Ginásio

Picoense e Liceu.

Em 26 de janeiro de 1961, no Jornal Estado do Piauí, foi publicada notícia que contava

todo o processo de luta e resistência para a fundação da Faculdade de Farmácia e

Odontologia, referindo-se ao movimento iniciado pelo padre Alberto Freitas Santos, à época

diretor do Colégio Diocesano, tendo este se afastado, mas inspirado grupos idealistas em

torno da criação da instituição.

Conforme Mendes (2012), de 1949 a 1956, Francisco das Chagas Macedo Lopes

liderou o movimento, sendo sucedido por Agnelo Sampaio Filho. Em outubro de 1959, foi

formada a Sociedade Civil Faculdade de Odontologia do Piauí, registrada em cartório, a qual

iniciou todo o processo para validação junto ao Ministério da Educação e Cultura. Em 1960,

pelo decreto 48525, foi fundada a Faculdade de Odontologia.

Em 9 de março de 1961, o Jornal O Estado do Piauí noticiou a abertura da sessão

solene do Curso de Odontologia, sendo proferida aula pelo professor Antônio José Marques.

A solenidade foi presidida pelo diretor da instituição, Oscar Cavalcante, com a presença de

inúmeras autoridades.

Outra notícia sobre a história da escola foi publicada em 10 de novembro de 1963,

Jesuítas no Piauí, sobre a história do Colégio Diocesano, no Piauí. A matéria inicia-se

mencionando a expulsão dos jesuítas do Brasil pelo Marques de Pombal, em 1759, e enaltece

o trabalho dos jesuítas no Piauí por meio do Colégio Diocesano, que atuava na formação da

juventude piauiense, com o estabelecimento da disciplina, do zelo e da obediência. Consoante

Mendes (2012), o colégio Diocesano foi fundado no ano de 1906.

Ainda sobre a temática história da escola, temos outra notícia sobre o Ginásio

Picoense, de 24 de novembro de 1963, no Jornal O Dia, em que revive a história do ginásio, já

estadualizado, e para o qual, mesmo nessa condição, ainda estavam cobrando mensalidades

dos alunos daquela região. O Ginásio Picoense foi fundado em 1949 e inaugurado em 1950,

conhecido pelo espírito aguerrido e de luta de seus estudantes, cujo início foi mantido

financeiramente pela prefeitura.

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Interessante salientar, sobre o Ginásio Picoense, a criação do jornal A Flâmula, pelos

estudantes, com gráfica própria (SOUSA, 2005), cuja primeira edição saiu no dia 15 de março

de 1952, mesmo dia em que foi inaugurada a gráfica ginasial, com catorze edições, onde a

última circulou no dia 18 de janeiro de 1953. Os artigos do jornal eram de alunos, professores

e membros da sociedade. Os editores acompanhavam as discussões e mudanças em relação

ao ensino nacional.

Outra menção encontrada nos jornais cobrava a tessitura da história da Faculdade de

Direito (FADI), História da Fadi deve ser contada no jornal, de O Dia, em 14 de fevereiro de

1969. Tal matéria solicitava uma revisita à história da Faculdade de Direito, uma vez que sua

implantação caracterizou um grande avanço na história da educação do Piauí. Para Brito

(1996), foi o primeiro estabelecimento de ensino superior do Piauí, e surgiu a partir da

iniciativa privada, em um esforço de intelectuais locais com o apoio do interventor local,

Capitão Joaquim de Lemos Cunha, sendo instalada em 14 de abril de 1931. Por muitos anos, a

FADI foi a única opção de ensino superior no Estado. Aqueles que desejassem outras

carreiras, deveriam deslocar-se para outros Estados. Como era cara essa mudança, somente

os filhos da elite piauiense davam continuidade aos estudos em outras áreas de

conhecimento. Na década de 1950, a FADI tornou-se federal, e a partir daí, foram realizados

concursos para o magistério. Parte dos egressos dessa faculdade ensinavam no Liceu e na

Escola Normal, e anos depois, na Faculdade Católica de Filosofia (1957).

Na Coluna de Arimathea Tito Filho, no Jornal O Dia, o jornalista, professor, diretor de

escola, rememorou a turma do Liceu de 1902, contando fatos do cotidiano escolar, por meio

de um relato do desembargador Francisco Pires de Castro. Isso levou-nos à reflexão sobre o

jornalismo enquanto espaço para a memória coletiva, como fonte de pesquisa e também

como formador de opiniões e condutas.

Sobre o tema vestibulares, era uma constante nos jornais, certame acompanhado por

alunos, professores e pais . Até porque era motivo de festa, comemoração para os que eram

aprovados, e de tristeza para os que não conseguiam êxito. Ademais, com os resultados, os

noticiosos garantiam para si maiores lucros e leitores. Figuravam nessas notícias as seguintes

instituições: Faculdade de Direito e Filosofia, Colégio Estadual do Piauí, Escola Normal.

Outras publicações analisadas nessa categoria configuravam-se em convites para a

comemoração de aniversário da escola, no caso do Colégio Estadual do Piauí (antigo Liceu),

em 1 de janeiro de 1961, 116 anos do Liceu, onde ocorreu um grande baile no Clube dos

Diários, com a coroação da rainha Herlene Araújo. Atividades como esta eram comuns nas

escolas, momento em que escolhiam as rainhas, ou seja, as moças mais belas para serem

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homenageadas. Dessa forma, os bailes eram organizados em grande estilo, com a presença da

escola e da sociedade nessas festividades. O grau de importância era tal que várias das

escolhidas tinham suas fotografias estampadas nas páginas principais dos jornais.

As propagandas de escolas nos jornais pesquisados era uma constante, especialmente

dos seguintes colégios: Ginásio Leão XIII (propaganda em 1971), de propriedade do prof.

Moacir Ribeiro Madeira Campo; e do Ginásio Desembargador Antônio Costa, do professor

Domício Magalhães (propaganda em 1962).

Chamaram atenção duas colunas intituladas Retalhos Universitários e Notícias da

Secretaria de Educação e Cultura, onde figuravam notícias sobre o cotidiano escolar. A

primeira estampava os bastidores do ensino superior no Piauí no Jornal O Dia, a partir de

1963, e tinha como editor Zé Acadêmico, do D. A. da Faculdade de Direito (um pseudônimo).

Nele, realizavam críticas ao ensino e lutavam pela criação de uma universidade. Em 1964,

essa coluna foi designada Coluna Universitária, e escrita por José Luís Martins, com notícias

da Faculdade de Direito, Medicina, Administração em Parnaíba, Filosofia e Odontologia,

onde homenageavam professores, cobravam salários atrasados e faziam menção às

embaixatrizes da beleza - prática comum de eleger a aluna mais bonita, culminando nos

famosos bailes de coroação, anteriormente apontados.

Notícias da SEDUC ocupavam-se da rede escolar estadual, mormente sobre os grupos

escolares e ginásios. Foi possível perceber a presença dessa coluna nas páginas a partir de

1971, no jornal O Dia, que abordava os seguintes assuntos: lançamento de livros, construção

de salas de aula, visita de técnicos de outros lugares como, por exemplo, do Programa de

Melhoria do Ensino (PREMEN), que, para Fávero (2001), era responsável por fundar os

ginásios orientados para o trabalho, campanhas educacionais, realizações de cursos de

formação continuada, convites para o congresso de estudantes, entre outros assuntos.

Prédio

As notícias sobre prédio escolar (quatro) restringem-se à inauguração de prédios

escolares, a exemplo de Inauguração de Grupo Escolar em Caracol e Anísio de Abreu, no

Jornal O Dia de 3 de setembro de 1969, matéria que trazia fotografias das instalações

escolares. Parece que houve uma expansão da construção de prédios públicos, notadamente

para os grupos escolares. Essa evolução, evidenciada principalmente após a Constituição de

1967, no país em que foram mencionadas mais vagas para as escolas públicas.

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Em outra notícia do jornal O Dia, de 1 de fevereiro de 1969, destacava-se a

inauguração do prédio reformado do Ginásio Municipal Eurípedes Aguiar, com 20 salas de

aula e capacidade para três mil alunos. Os grupos também foram contemplados com novas

reformas: uma no conjunto Redenção, com seis salas de aula e capacidade para 200 alunos;

outra no Parque Piauí, com oito salas de aula e um anexo do Colégio Estadual Zacarias de

Góis e Vasconcelos, e outro anexo do Colégio Zacarias de Gois e Vasconcelos no Bairro

Tabuleta.

Em 1962, foi inaugurado, em Picos, o prédio da Escola Normal e Fórum, localizado

na Avenida Presidente Vargas. Na época, foi realizado desfile cívico das escolas. O arquiteto

responsável pela obra foi Adalberto Correia Lima. O Governador, à época, era Helvídio Nunes

de Barros, ex-prefeito da cidade de Picos.

Alunos

Foram encontrados nos jornais disponíveis na Casa Anísio Brito, durante o período

analisado, apenas três notícias que contemplam a categoria alunos. A primeira, intitulada

Liceistas deflagram greve de protesto, publicada no Jornal Folha da Manhã, de 6 de julho de

1961, demonstrava que o Liceu se encontravam sem direção, daí porque os alunos entraram

em greve e procuraram o Governador da época, Chagas Rodrigues, que os recebeu para uma

reunião. Na oportunidade, o professor que seria indicado para a direção do Liceu, Arimateia

Tito filho, estava viajando e logo que regressasse de Fortaleza, assumiria a missão. Mesmo

assim, os alunos protestaram, porque até a chegada do novo diretor, deveria haver um

interino. Nesse âmbito, foram cogitados os nomes do Coronel Diogo e do Professor Nelson

Sobreira, o que não foi acordado entre as partes. Logo, assumiu a direção um aluno da escola,

cujo nome não foi mencionado na notícia analisada. Essa notícia chamou atenção pela

possibilidade de um aluno assumir interinamente a escola e pela participação desses junto à

gestão governamental, no sentido de lutar por melhores condições educacionais.

Em outra notícia divulgada no Jornal Folha da Manhã, de 28 de agosto de 1962,

Senador Joaquim Parentes prestigia estudantes piauienses, o Senador também recebia os

alunos do Colégio Estadual do Piauí, o antigo Liceu, os quais desejavam realizar uma

excursão para Paulo Afonso, Furnas e Três Marias. O Senador comprometeu-se a buscar

recursos na capital federal junto ao Ministério da Aeronáutica, para que os alunos pudessem

realizar a excursão.

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A terceira notícia foi publicada no jornal O Dia de 23 de dezembro de 1969, intitulada

FADI: congregação fica com os concludentes, falando sobre reunião que ocorreria na

Faculdade de Direito para dirimir impasse com o professor Benjamim do Rêgo Monteiro

Neto, da disciplina Direito Internacional Público, que não aceitou a promoção de dois alunos

a partir de uma banca indicada por ele mesmo, a qual atribuiu nota àqueles, e indicou que os

discentes deveriam repetir a disciplina no ano seguinte. O docente ameaçou, inclusive,

recorrer ao Ministério da Educação para resolver o imbróglio.

É oportuno destacar que, ao que parece, o cotidiano da faculdade era divulgados nos

jornais, a exemplo desse acontecimento que envolvia questões relativas a notas, envolvendo

interesses de alunos e professores, ou seja, a cultura escolar estava presente nos noticiosos

para a análise da comunidade local.

Disciplina

Sobre disciplina, encontramos apenas uma notícia que enfocava uma seção de

matemática sobre um concurso. Na matéria, divulgada no Jornal O dia de 19 de maio de

1963, colocava-se um problema que deveria ser resolvido e devolvido à redação do jornal, e

enfocava-se o objetivo do concurso como uma oportunidade de aprendizagem.

Mestres e Diretores

Foram encontradas dez notícias sobre essa temática. Em Retrato de um certo

bacurau, matéria de 3 de outubro de 1962, a notícia trazia em seu bojo a notícia de um

professor da cidade de Amarante que veio morar em Teresina, em 1947, e denunciava que o

fizeram professor de primeiras letras, sendo públicas e notórias as bebedeiras do professor.

Acrescentava, ainda, que este, quando foi diretor da biblioteca pública, cedeu os livros para

todos os seus amigos, que não os devolviam. Apontavam, também, que Simplício Mendes

teria verdadeiras estantes, fruto desses empréstimos sem devolução. Esse professor,

chamado de Bacurau, teria sido diretor do Colégio Estadual do Piauí, oportunidade em que

caiu o rendimento da escola. Destarte, fazia parte da memória social o bilhetinho que ele

enviou para o então diretor do Colégio Estadual, suplicando que indicasse para a banca

examinadora de história um amigo seu e, dessa forma, evitasse a sua reprovação. Entretanto,

a notícia não deixava claro quem era o professor Bacurau (RETRATO, 1962). Percebe-se a

moral do professor sendo questionada nas páginas dos jornais, embora se utilize de

pseudônimos.

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Professores reclamavam de salários na matéria Professores contratados da FADI

pedirão rescisão: falta de pagamento. A notícia afirmava que 12 professores contratados da

Faculdade de Direito poderiam pedir rescisão de contrato em função de dois meses de atraso

nos salários, de responsabilidade da Delegacia Fiscal do Tesouro Nacional.

Outra matéria, chamada de capa, meses depois revelou que os contratados foram

pagos, em matéria de 26 de outubro de 1969. Os professores eram os seguintes: Azar Chaib,

Heli Sobral, José Eduardo Ferreira, José Camilo Filho, Gerardo Vasconcelos, Celso Barros,

Antônio dos Santos Rocha. Era comum notícia sobre pagamentos, principalmente do ensino

superior. No dia 16 de maio de 1971, foi publicada a notícia de que o reitor Robert Wall

Barbosa de Carvalho havia concluído o pagamento dos professores.

Havia, similarmente, matérias sobre denúncias relativas ao Prof. Helcio Ulhoa, Reitor

pro tempore da UFPI, que dizia defender a universidade moderna e para o desenvolvimento.

No entanto, a UFPI era dividida em departamentos estanques, onde o Reitor não promovia

diálogos com o corpo docente, sendo inábil e descortês (UNIVERSIDADE, 1971c). No dia

seguinte à edição do jornal A Hora, o Professor Helcio Ulhoa Saraiva desmentiu a situação,

negando a crise, inclusive convocando a imprensa para isso, e em matéria de primeira capa,

negou os conflitos e afirmou serem normais algumas divergências (REITOR, 1971c).

Como aduziu Mendes (2012, p. 248), o professor Hélcio Saraiva era professor da UNB

e foi trazido pelo então governador do Piauí, Alberto Silva, com a tese de que seria um

colaborador para os projetos de desenvolvimento do Estado: “Phd em sociologia e fazendo

uso de sua juventude e determinação, pretendia implantar um modelo novo em uma nova

Universidade.” O aludido autor informa que o reitor Hélcio teve de enfrentar forte oposição

dentro da universidade porque era de outro Estado, combatendo, pois, antigos intelectuais

piauienses.

A chegada de técnicos e a implementação de projetos figuravam nos jornais com o

nome dos professores e técnicos envolvidos, como o antropólogo João Ribeiro de Sousa e

Renê Gouveia Miranda, envolvidos com a execução do Projeto Piauí, que visava a um

desenvolvimento integral da região. Esses projetos foram iniciados pelo Reitor Hélcio Ulhoa

(REITOR, 1971b).

Eventos

Das seis matérias encontradas na categoria evento, foi possível catalogar três

vertentes (eventos científicos, formaturas e desfile cívico): uma de estudos científicos, que foi

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a II Semana Universitária, ocorrida de 29 de maio a 03 de junho, com o envolvimento da

Faculdade de Direito, Odontologia e Filosofia, Ciências e Letras.

Quatro notícias referiam-se a formaturas da Escola Normal Francisco Correia

(Parnaíba), Escola Técnica Federal (eletricistas) e Escola Técnica de Comércio (contabilistas).

Outra notícia falava sobre o 7 de setembro de 1969 – onde participaram as seguintes

instituições: Colégio Zacarias de Góes e Vasconcelos, Ginásio Popular (CNEC), Escola

Normal, Colégio Sagrado Coração de Jesus, Helvídio Nunes, Colégio Estadual Álvaro

Ferreira, Colégio Municipal Eurípedes de Aguiar e Escola Técnica Federal do Piauí.

Percebemos a saída de foco de notícias sobre desfiles cívicos que protagonizaram as páginas

de jornais durante a era Vargas e no interstício de 1961 a 1971, as quais retratavam as

formaturas e os desfiles de rainhas da escola.

Considerações Finais

Esse trabalho partiu de uma revisita à história da imprensa no Brasil e no Piauí,

enfocando seus principais aspectos. Com esse intuito, realizamos uma análise do uso do

jornal como fonte para pesquisa em história da educação, o que nos permitiu inferir que por

muito tempo, predominou o preconceito em relação a essa fonte porque, para alguns

estudiosos, os jornais estavam cheios de interesses ideológicos, partidários, de grupos

comerciais e industriais.

Com o advento da história nova, história das mentalidades ou história cultural,

sobretudo a partir dos anos 1960, houve uma ampliação das fontes e de novos objetos de

estudo que delinearam a ideia de que era possível escrever a história a partir de novas e

diversas fontes, sendo agora de maior importância a crítica e as perguntas que o historiador

deveria fazer a elas.

Vimos que por meio dos jornais, é possível captar um universo educacional a partir

das vozes dos atores educacionais, quais sejam pais, alunos, professores, diretores e

intelectuais, a partir de editoriais, propagandas, notícias de vestibulares, inaugurações de

prédios, eventos, discursos, colunas sociais. Dessa forma, entendemos o modo como a

sociedade representava nas páginas dos jornais da época o seu cotidiano escolar, o que nos

conduz a enfatizar a importância dos jornais enquanto espaço e lugar de memória coletiva.

Esse trabalho revela-se importante para revisitar a história das instituições escolares a

partir dos jornais; incentivar a utilização do jornal como fonte de pesquisa para a história da

educação; impulsionar a investigação do jornal como espaço de memória coletiva; estimular

que as escolas, na atualidade, ocupem novamente os espaços das páginas dos jornais e dessa

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forma, sejam uma forma de participação da sociedade na educação; e, ainda, que reacenda a

luta e resistência por melhores condições de trabalho docente nas instituições escolares.

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