instituições de direito público e privado · não é suficiente que homens e mulheres conheçam...

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Instituições de Direito Público e Privado Parte I – O Direito

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Instituições de Direito Público e

PrivadoParte I – O Direito

1.O Direito

Excurso: O homem, o Direito e os mitos

O Homem, o Direito e os Mitos

▣ Embora os Homo sapiens já habitassem a África Oriental há 150 mil anos,apenas por volta de 70 mil anos atrás eles começaram a dominar o resto doplaneta Terra.

▣ Nos milhares de anos desse período, embora esses sapiens arcaicos separecessem exatamente conosco e seu cérebro fosse tão grande quanto onosso, eles não gozavam de qualquer vantagem notável sobre outras espécieshumanas, não produziam ferramentas particularmente sofisticadas e nãorealizavam nenhum outro feito especial.

O Homem, o Direito e os Mitos

▣ O período de 70 mil anos atrás a 30 mil anos atrás testemunhou a invençãode barcos, lâmpadas a óleo, arcos, flechas e agulhas (essenciais para costurarroupas quentes).

▣ Os primeiros objetos que podem ser chamados de arte e joalheria datamdessa era, assim como os primeiros indícios incontestáveis de religião, comércioe estratificação social.

Homem-Leão (Caverna de Stadel, Alemanha, 32 mil anos

atrás)

O Homem, o Direito e os Mitos

▣ A maioria dos pesquisadores acredita que essas conquistas semprecedentes foram produto de uma revolução nas habilidades cognitivas dossapiens.

▣ O surgimento de novas formas de pensar e se comunicar, entre 70 mil anos atrása 30 mil anos atrás, constitui a Revolução Cognitiva.□ O que a causou? Não sabemos ao certo. A teoria mais aceita afirma que mutações

genéticas acidentais mudaram as conexões internas do cérebro dos sapiens, possibilitandoque pensassem de uma maneira sem precedentes e se comunicassem usando um tipo delinguagem totalmente novo.

□ É mais importante entender as consequências dessas mutações do que suas causas. Oque havia de tão especial na nova linguagem dos sapiens que nos permitiu conquistar omundo?

O Homem, o Direito e os Mitos

▣ A linguagem dos sapiens não foi a primeira linguagem.□ Todos os animais têm alguma forma de linguagem.▪ Até os insetos, como abelhas e formigas, sabem se comunicar de maneiras

sofisticadas, informando uns aos outros sobre o paradeiro de alimentos.□ Tampouco foi a primeira linguagem vocal.▪ Muitos animais, incluindo todas as espécies de macaco, têm uma linguagem

vocal.

Macaco-Verde(Cuidado, um leão!)

(Cuidado, uma águia)

O Homem, o Direito e os Mitos

▣ O que, então, há de tão especial em nossa linguagem?

▣ A resposta mais comum é que nossa linguagem é incrivelmente versátil.□ Podemos conectar uma série limitada de sons e sinais para produzir um número infinito

de frases, cada uma delas com um significado diferente e, com isso, consumir,armazenar e comunicar uma quantidade extraordinária de informação .

□ Mais que gritar “Cuidado! Um leão!”, um humano moderno pode dizer que estamanhã, perto da curva do rio, ele viu um leão atrás de um rebanho de bisões.▪ Pode, então, descrever a localização exata, incluindo os diferentes caminhos que

levam à área em questão. Com essas informações, os membros do seu bandopodem pensar juntos e discutir se devem se aproximar do rio, expulsar o leão e caçar osbisões.

O Homem, o Direito e os Mitos

▣ Além disso, nossa linguagem singular evoluiu como um meio de partilharinformações sobre o mundo.□ Mas as informações mais importantes que precisavam ser comunicadas eram sobre

humanos, e não sobre leões e bisões.□ Nossa linguagem evoluiu como uma forma de fofoca.▪ O Homo sapiens é antes de mais nada um animal social. A cooperação social é

essencial para a sobrevivência e a reprodução.▪ Não é suficiente que homens e mulheres conheçam o paradeiro de leões e

bisões. É muito mais importante para eles saber quem em seu bando odeia quem,quem está dormindo com quem, quem é honesto e quem é trapaceiro.

A fofoca pode ter sido importantíssima para o

domínio do Homo sapiens

O Homem, o Direito e os Mitos

▣ Todos os macacos mostram ávido interesse por tais informações sociais, maseles têm dificuldade para fofocar de fato.

▣ Os neandertais e os Homo sapiens arcaicos provavelmente também tiveramdificuldade para falar pelas costas uns dos outros (habilidade que é essencialpara a cooperação em grande número).

▣ As novas habilidades linguísticas que os sapiens modernos adquiriram hácerca de 70 milênios permitiram que fofocassem por horas a fio.□ Graças a informações precisas sobre quem era digno de confiança, pequenos grupos

puderam se expandir para bandos maiores, e os sapiens puderam desenvolver tipos decooperação mais sólidos e mais sofisticado.

O Homem, o Direito e os Mitos

▣ Fato é que a característica verdadeiramente única da nossa linguagem não ésua capacidade de transmitir informações sobre homens e leões. É acapacidade de transmitir informações sobre coisas que não existem.□ Até onde sabemos, só os sapiens podem falar sobre tipos e mais tipos de entidades que

nunca viram, tocaram ou cheiraram.

Você não convencerá um macaco a lhe dar uma

banana prometendo a ele bananas infinitas após a

morte no “Céu dos macacos”.

O Homem, o Direito e os Mitos

▣ Lendas, mitos, deuses e religiões apareceram pela primeira vez com aRevolução Cognitiva.

▣ Essa capacidade de falar sobre ficções é a característica mais singular dalinguagem dos sapiens.

▣ A ficção nos permitiu não só imaginar coisas como também fazer issocoletivamente: podemos tecer mitos partilhados (também chamados de“ficções”, “construtos sociais” ou “realidades imaginadas”).

Mitos Partilhados

Algo em que muitas pessoas acreditam e, enquanto essa crença persiste, ela exerce influência no mundo

O Homem, o Direito e os Mitos

▣ Mitos partilhados não são mentiras!□ Mentimos minto se dizemos que há um leão perto do rio quando sabemos que não há.▪ Não há nada de especial nas mentiras. Macacos-verdes e chimpanzés podem

mentir.□ Alguns feiticeiros são charlatães, mas a maioria acredita sinceramente na existência

de deuses e demônios.□ O escultor da caverna de Stadel pode ter acreditado sinceramente na existência do

espírito guardião do homem-leão.

▣ Os mitos partilhados dão aos sapiens a capacidade sem precedentes de cooperarde modo versátil em grande número.

Abelhas podem trabalhar em grande número, mas sempre de maneira rígida e com parentes

próximos

Lobos trabalham de maneira versátil, mas em pequeno

número de indivíduos que conhecem intimamente

Sapiens podem cooperar de maneira versátil com um

número incontável de estranhos

O Homem, o Direito e os Mitos

▣ Nossos primos chimpanzés normalmente vivem em pequenos bandos devárias dezenas de indivíduos. Eles formam fortes laços de amizade, caçam juntose lutam lado a lado contra babuínos, guepardos e chimpanzés inimigos.□ Sua estrutura social tende a ser hierárquica. O membro dominante, que quase

sempre é um macho, é denominado “macho alfa”.▪ Outros machos e fêmeas demonstram sua submissão ao macho alfa curvando-se

diante dele enquanto emitem grunhidos (não muito diferente de súditoshumanos se ajoelhando diante de um rei).

□ Quando dois machos disputam a posição de alfa, eles normalmente o fazemformando grandes coalizões de apoiadores (machos e fêmeas) dentro do grupo.▪ Os laços entre os membros da coalizão se baseiam em contato íntimo diário –

abraçar, tocar, beijar, alisar e fazer favores mútuos.▪ Membros de uma mesma coalizão passam mais tempo juntos, partilham alimentos e

ajudam uns aos outros em momentos de dificuldade.

O Homem, o Direito e os Mitos

▣ Há limites claros ao tamanho dos grupos que podem ser formados e mantidosde tal forma.□ Para funcionar, todos os membros de um grupo devem conhecer uns aos outros

intimamente.▪ Dois chimpanzés que nunca se encontraram, nunca lutaram e nunca se

alisaram mutuamente não saberão se podem confiar um no outro, se valerá a penaajudar um ao outro nem qual deles é superior na hierarquia.

□ Em condições normais, um típico bando de chimpanzés consiste de 20 a 50indivíduos.▪ À medida que o número em um bando de chimpanzés aumenta, a ordem social se

desestabiliza, levando enfim à ruptura e à formação de um novo bando por alguns dosanimais.

O Homem, o Direito e os Mitos

▣ Os humanos, como os chimpanzés, têm instintos sociais que possibilitaram aosnossos ancestrais construir amizades e hierarquias e caçar ou lutar juntos.

▣ No entanto, como os instintos sociais dos chimpanzés, os dos humanos sóeram adaptados para pequenos grupos íntimos. Quando o grupo ficava grandedemais, sua ordem social se desestabilizava, e o bando se dividia.

▣ Após a Revolução Cognitiva, a fofoca ajudou o Homo sapiens a formar bandosmaiores e mais estáveis.□ Mas a fofoca tem seus limites. Pesquisas demonstraram que o tamanho máximo“natural” de um grupo unido por fofoca é de cerca de 150 indivíduos.

□ A maioria das pessoas não consegue nem conhecer intimamente nem fofocar efetivamentesobre mais de 150 seres humanos.

O Homem, o Direito e os Mitos

▣ Como o Homo sapiens conseguiu ultrapassar esse limite crítico, fundandocidades com dezenas de milhares de habitantes e impérios que governamcentenas de milhões?□ O segredo foi provavelmente o surgimento da ficção: um grande número de estranhos

pode cooperar de maneira eficaz se acreditar nos mesmos mitos.

“Toda cooperação humana em grande escala [...] se baseia em mitospartilhados que só existem na imaginação coletiva das pessoas. Asigrejas se baseiam em mitos religiosos partilhados. Dois católicos quenunca se conheceram podem, no entanto, lutar juntos em uma cruzadaou levantar fundos para construir um hospital porque ambosacreditam que Deus encarnou em um corpo humano e foi crucificadopara redimir nossos pecados...

Yuval Noah Harari

O Homem, o Direito e os Mitos

▣ As pessoas entendem facilmente que os “primitivos” consolidam suaordem social acreditando em deuses e espíritos e se reunindo a cada luacheia para dançar juntos em volta da fogueira.

▣ Mas não conseguimos avaliar que nossas instituições modernas funcionamexatamente sobre a mesma base.□ Três dos principais sustentos da sociedade moderna não passam de mitos partilhados que

não existem no mundo natural, apenas na imaginação humana:

Estados

“Os Estados se baseiam em mitos nacionaispartilhados. Dois sérvios que nunca se conhecerampodem arriscar a vida para salvar um ao outroporque ambos acreditam na existência da naçãosérvia, da terra natal sérvia e da bandeira sérvia.

Yuval Noah Harari

Dinheiro

“A maioria dos milionários acreditasinceramente na existência do dinheiro edas empresas de responsabilidadelimitada.

Yuval Noah Harari

“... moedas que perderam sua estampagem eagora são consideradas como metal e nãomais como moedas.

Friedrich Nietzsche

Direito

“Sistemas judiciais se baseiam em mitos jurídicospartilhados. Dois advogados que nunca seconheceram podem unir esforços para defender umcompleto estranho porque acreditam na existênciade leis, justiça e direitos humanos – e no dinheirodos honorários.

Yuval Noah Harari

“Os executivos e advogados modernos são, de fato,feiticeiros poderosos. A principal diferença entreeles e os xamãs tribais é que os advogados modernoscontam histórias muito mais estranhas.

Yuval Noah Harari

Juristas são os magos modernos

O Homem, o Direito e os Mitos

▣ Pensemos no caso das pessoas jurídicas:□ Os produtos fabricados pela PJ não são a PJ – caso eles sumissem ao mesmo tempo,

a PJ continuaria existindo;□ As instalações e empregados da PJ não são a PJ – caso as instalações fossem

destruídas e todos os empregados morressem, a PJ continuaria existindo;□ Os sócios também não são a PJ – caso todos desparecessem, a PJ continuaria

existindo;□ Entretanto, se um juiz ordena a dissolução da PJ, suas fábricas permaneceriam de

pé e seus trabalhadores, contadores, gestores e acionistas continuariam a viver –mas a PJ desapareceria imediatamente.

□ Em suma, a PJ parece não ter conexão alguma com o mundo físico. Ela existe de fato?

O Homem, o Direito e os Mitos

▣ Pensemos no caso das pessoas jurídicas:□ Os produtos fabricados pela PJ não são a PJ – caso eles sumissem ao mesmo tempo,

a PJ continuaria existindo;□ As instalações e empregados da PJ não são a PJ – caso as instalações fossem

destruídas e todos os empregados morressem, a PJ continuaria existindo;□ Os sócios também não são a PJ – caso todos desparecessem, a PJ continuaria

existindo;□ Entretanto, se um juiz ordena a dissolução da PJ, suas fábricas permaneceriam de

pé e seus trabalhadores, contadores, gestores e acionistas continuariam a viver –mas a PJ desapareceria imediatamente.

□ Em suma, a PJ parece não ter conexão alguma com o mundo físico. Ela existe de fato?

O Homem, o Direito e os Mitos

▣ A PJ nada mais é que um mito compartilhado, a que os juristas chamamde ficção jurídica.□ Durante a maior parte do tempo da humanidade, existiram apenas pessoas físicas.▪ Apenas no fim do século XVIII a noção de personalidade jurídica ganhou os

contornos hoje conhecidos.▪ Antes desse tempo, apenas a pessoa física contraía obrigações:• Se um marceneiro fizesse uma mesa que quebrasse, o comprador o

processaria;• Se ele contraísse um empréstimo para abrir sua oficina e falisse, era obrigado

a pagar seu empréstimo com sua propriedade privada (sua casa, p. ex.), oumesmo ser escravizado por seus credores.

O Homem, o Direito e os Mitos

▣ A PJ nada mais é que um mito compartilhado, a que os juristas chamamde ficção jurídica.□ Obviamente, essa situação jurídica desencorajava o empreendedorismo. As pessoas

tinham medo de começar novos negócios e assumir riscos econômicos.□ Foi por isso que as pessoas começaram a imaginar coletivamente a existência de PJs.

Tais PJs eram legalmente independentes das pessoas que as fundavam, ou investiamdinheiro nelas, ou as gerenciavam.

“Como exatamente Armand Peugeot, o homem, criou a Peugeot, aempresa? Praticamente da mesma forma como os padres e os feiticeiroscriaram deuses e demônios ao longo da história e como milhares depadres católicos franceses continuaram recriando o corpo de Cristotodo domingo nas igrejas da paróquia. Tudo se resumia a contarhistórias e convencer as pessoas a acreditarem nelas. No caso dospadres franceses, a história crucial foi a da vida e morte de Cristo talcomo contada pela Igreja Católica. De acordo com essa história, se umpadre católico usando suas vestes sagradas pronunciasse solenementeas palavras certas no momento certo, o pão e o vinho mundano setransformariam na carne e no sangue de Deus...

“O padre exclamava: “Hoc est corpus meum!” (“Este é meucorpo” em latim) e abracadabra! – o pão se transformava nocorpo de Cristo. Vendo que o padre havia observadoassiduamente todos os procedimentos, milhões de católicosfranceses devotos se comportavam como se Deus de fato existisseno pão e no vinho consagrados.

Yuval Noah Harari

“Obrigado, Deus, por consertar a catarata da mãe do Sam! Não percebi queera uma coisa tão simples [...] Agora eu entendo como uma oração funciona:uma oração específica, em uma igreja específica, com um estilo específico, comconteúdo específico e para problemas específicos, que nem são tão difíceisassim, e para pessoas específicas, de preferência brancas, e para sentidosespecíficos, de preferência a visão... Uma oração específica, em um lugarespecífico para uma versão específica de um deus específico. E se você fizertudo certo, ele até pode [...] descer de boa ai no seu bairro para curar acatarata da sua mãe!

Tim Minchin

“No caso da Peugeot SA, a história crucial foi o códigojurídico francês, tal como redigido pelo parlamento francês.De acordo com os legisladores franceses, se um advogadocertificado seguisse todos os rituais e liturgias adequados,escrevesse todos os discursos e juramentos requeridos em umpedaço de papel maravilhosamente decorado e afixasse suaassinatura ornamentada ao pé do documento,abracadabra! – uma nova empresa era incorporada...

“Quando, em 1896, Armand Peugeot quis criar sua empresa, elepagou para que um advogado fizesse todos esses procedimentossagrados. Uma vez que o advogado tivesse desempenhado todosos rituais corretos e pronunciado todos os discursos e juramentosnecessários, milhões de cidadãos franceses honrados secomportaram como se a empresa Peugeot realmente existisse.

Yuval Noah Harari

“Desde a Revolução Cognitiva, os sapiens vivem, portanto, em umarealidade dual. Por um lado, a realidade objetiva dos rios, das árvorese dos leões; por outro, a realidade imaginada de deuses, nações ecorporações. Com o passar do tempo, a realidade imaginada se tornouainda mais poderosa, de modo que hoje a própria sobrevivência derios, árvores e leões depende da graça de entidades imaginadas, taiscomo deuses, nações e corporações.

Yuval Noah Harari

1.O Direito

Intróito

Introdução ao Direito

▣ Os gregos “inventaram” a democracia e também a autonomia do Direito.

▣ O “primeiro julgamento por um Tribunal” pode ser visto em uma famosatragédia grega:

Oresteia – Ésquilo (458 a. C)

Introdução ao Direito

▣ Nesta tragédia, Agamenon, 10 anos após sua volta deTroia, é assassinado na banheira por Egisto, amante desua mulher, Clitenestra.

Introdução ao Direito

▣ Orestes, o filho desterrado de Agamenon, atiçado pelo deus Apolo, éinduzido à vingança. Ele deveria matar sua mãe e o amante dela.

▣ Orestes efetivamente mata os dois.

Orestes Assassina Egisto e Clitenestra

Introdução ao Direito

▣ Após o fato, contudo, Orestes é assaltado pela anoia (loucura queacomete quem mata sua própria gente).

▣ Ao assassinar sua mãe, Orestes desencadeia a fúria das Erínias, que eramdivindades das profundezas ctônicas (do Tártaro) e personificações davingança.□ Enquanto Nêmesis (deusa da vingança) punia os deuses, as Erínias puniam os

mortais.□ As Eríneas eram três: Tisífone (Castigo, vingadora dos assassinatos, açoita os

culpados e os enlouquece), Megera (Rancor, castiga principalmente os delitoscontra o matrimônio, em especial a infidelidade, gritando ininterruptamente nosouvidos do criminoso, lembrando-lhe das faltas que cometera) e Alecto(Inominável ou Implacável, encarregada de castigar os delitos morais como a ira,a cólera, a soberba, etc.).

Orestes Atormentado pelas Erínias

Introdução ao Direito

▣ Apavorado, Orestes implora o apoio de Apolo. Pede um julgamento.

▣ Constitui-se, assim, o “primeiro Tribunal”, cuja função era acabar com asmortes de vingança.□ Corifeu, líder do Coro, foi o acusador. Apolo, o defensor.□ Orestes reconheceu a autoria, mas invoca a determinação de Apolo.

O Julgamento de Orestes

Introdução ao Direito

▣ Os votos dos jurados, depositados em uma urna, dão empate: 5 a 5.

▣ Palas Atena desempata, com “voto de Minerva” (in dubio pro reo). Rompe-seum ciclo. Acabam as vinganças. É uma antevisão da modernidade.□ Esse voto é apenas declaratório, para dizer que o Estado-acusador não conseguiu

maioria para provar o alegado. Logo, o “voto de Minerva” é a garantia de umresultado equânime e justo.

Introdução ao Direito

▣ Na Oresteia está a primeira manifestação da autonomia do direito.Institucionaliza-se a punição e acabamos com a vingança.

▣ Esse é o papel da Instituição. Quando institucionalizamos algo, é porque aInstituição fará por nós o que não podemos ou não devemos fazer.

1.O Direito

Conceito

Conceito de Direito

▣ Na linguagem comum e na linguagem técnica, o vocábulo Direito éempregado com significados distintos:

□ O estudo do direito requer um método próprio.

□ O salário é um direito do trabalhador;

□ O direito brasileiro pune o homicídio;

□ O Estado tem o direito de cobrar tributos;

□ O direito é um setor da realidade social.

Epistemologia JurídicaDireito como ciência

Teoria da Norma JurídicaDireito como norma (ou lei)

Axiologia JurídicaDireito como valor

Teoria dos Direitos Subjetivos

Direito como faculdade (ou poder)

Sociologia JurídicaDireito como fato social

“Direito é a ordenação heterônoma, coercível ebilateral atributiva das relações de convivência,segundo uma integração normativa de fatossegundo valores.

Miguel Reale

Conceito de Direito

▣ Ordenação□ Conjunto de normas que organizam alguma coisa. O Direito é uma ordenação

ética, ou seja, essas normas organizam a esfera ética da cultura humana.▣ Heterônoma□ Elaboradas pelo Estado e devem ser cumpridas inpedente de sua aceitação

íntima pelo indivíduo.▣ Coercível□ Passíveis de coerção, ou seja, busca minimizar o índice de violabilidade mediante

ameaças de recurso à força.▣ Bilateral□ Valores não estão reduzidos a uma das partes, e sim a busca do bem comum.

▣ Atributiva□ Atribui poderes aos destinatários.

Direito Não é o Mesmo que

MoralDireito e Moral, embora ligados, são distintos

Direito e Moral

▣ Círculos Cocêntricos (JeremyBentham)□ O Direito está contido na moral

Moral

Direito

Direito e Moral

▣ Círculos Independentes (HansKelsen)□ O Direito e moral não guardam relação

Direito Moral

Direito e Moral

▣ Círculos Secantes (Claude DuPasquier)□ Existe uma intercessão entre direito e

moral, porém, existem normas jurídicasque não são parte da moral e aspectosmorais que não estão normatizados.

□ “Non omne quod licet honestum est”(Paulus)

Direito Moral

Direito e Moral

▣ Integridade (Ronald Dworkin)□ A ideia inerente ao conceito de Direito, em si, traz consigo um princípio

deôntico geral: quaisquer que sejam os pontos de vistas pessoais sobre a moral,justiça e equidade, os juristas também devem aceitar uma restriçãoindependente e superior, que decorre da integridade do Direito.

□ O Direito não é filosofia, não é sociologia, não é política, não é economia, não émoral, etc.

□ O Direito é um conceito interpretativo e é aquilo que é emanado pelas instituiçõesjurídicas, sendo que as questões e ele relativas encontram, necessariamente, respostasno próprio Direito (regras, princípios, precedentes, etc.), e não na vontade pessoal doaplicador.

“Ou seja, ele, o Direito, possui, sim, elementos (fortes)decorrentes de análises sociológicas, morais etc. Óbvioisso. Só que estas, depois que o direito está posto [...] —não podem vir a corrigi-lo.

Lênio Streck

Direito e Moral

Direito Moral

Quanto à valoração do ato

a) Bilateralb) Visa à

exteriorização do ato

a) Unilateralb) Visa à intenção

Quanto à forma a) Heterônomob) Coercitível

a) Autônomab) Não há coação

Quanto ao objeto a) Visa ao bem social a) Visa ao bem individual

1.O Direito

Fontes

Fontes do Direito

▣ “Fontes do Direito” é expressão utilizada no mundo jurídico como umaanalogia.

▣ Assim como uma fonte é o ponto em que surge um veio de água, o lugarem que a água passa do subsolo à superfície, do invisível ao visível, as“fontes do Direito” são os meios através do qual o Direito se materializa ese expressa.

“Procurar a fonte de uma regra jurídica [...] significa investigaro ponto em que ela saiu das profundezas da vida social paraaparecer na superfície do direito. Assim, dir-se-á que aobrigação do serviço militar tem sua fonte na ConstituiçãoFederal

André Franco Montoro

Fontes do Direito

▣ As fontes de direito são as formas de expressão do direito legislado, sendocaracterizadas como meios de exteriorização e reconhecimento das normasjurídicas.

▣ Em outras palavras: as fontes do direito retratam o ponto originário deonde provém a norma jurídica, isto é, as formas reveladoras do Direito.Desse modo, é o lugar onde nasce uma regra jurídica ainda não existente.

Fontes do Direito

▣ A doutrina jurídica costuma dividir as fontes do direito em fontes formais emateriais.

▣ Fontes materiais são o conjunto de fatores sociais determinantes do conteúdodo direito e dos valores que o direito procura realizar.

▣ Busca-se, com o estudo das fontes materiais, descobrir-se quais os fatoreshistóricos, sociológicos, econômicos, políticos, etc., que explicam a escolhafeita pela lei, a origem cultural de uma norma jurídica, revelando sua causa deexistência.

Fontes do Direito

▣ Fontes formais são os fundamentos de validade da ordem jurídica, os atosnormativos pelos quais o Direito cria corpo e nasce para o mundojurídico.

▣ São os meios ou instrumentos pelos quais as normas jurídicas são comunicadas àsociedade, permitindo aos cidadãos conhecerem-nas.

1.O Direito

Direito Objetivo e Subjetivo

Direito Objetivo

▣ O conjunto de regras jurídicas obrigatórias, em vigor no país, numa dadaépoca.

▣ São as normas jurídicas, as leis que devem ser obedecidas rigorosamentepor todos os homens que vivem na sociedade que adota essas leis. Odescumprimento dá origem a sanções.

▣ Tudo que está previsto na lei.

Direito Subjetivo

▣ A faculdade ou possibilidade que tem uma pessoa de fazer prevalecer emjuízo a sua vontade, consubstanciada num interesse (facultas agendi).

▣ O interesse protegido pela lei, mediante o recolhimento da vontadeindividual.

▣ O poder/faculdade que as pessoas têm de fazer valer seus direitosindividuais.

Direito Objetivo x Subjetivo

▣ O nome da pessoa é inscrito, indevidamente, nos órgãos de proteção aocrédito em razão de dívida já paga.

▣ O direito objetivo garante a esta pessoa o recebimento de indenização pordano moral (art. 5º, X, da CRFB; art. 186 do CC; art. 42 do CDC, etc.).

▣ A pessoa tem a faculdade (direito subjetivo) de ingressar ou não com umaação para requerer a referida indenização em juízo.

1.O Direito

Direito Natural e Direito Positivo

Direito Natural (Jusnaturalismo)

▣ “...colecção […] [das] leis, que Deus infundiu no homem para o conduzir ao fimque se propôs na sua criação” (Tomás Antônio Gonzaga)

▣ A ideia abstrata do Direito: o ordenamento ideal, correspondente a umajustiça superior. Independe do direito legislado.

▣ É o pressuposto do que é correto, do que é justo, e parte do princípio deque existe um direito comum a todos os homens e que o mesmo éuniversal.

▣ Suas principais características, além da universalidade, são imutabilidadee o seu conhecimento através da própria razão do homem.

▣ Serviram como postulados supra positivos que orientavam e limitavam osocupantes do Poder.

“êle pode fazer todas as leis que julgar convenientes, contanto que nãose oponham nem às leis naturais nem às divinas. Pois assim como nãoposso mandar ao servo que faça alguma cousa contra a lei dosoberano, porque êle e eu lhe somos inferiores, assim o monarca nãopode mandar aos vassalos cousa alguma contra a lei do Senhor, sendoêle e êles igualmente sujeitos às suas leis.

Tomás Antônio Gonzaga

Direito Positivo (Juspositivismo)

▣ O conjunto de normas jurídicas escritas e não escritas, vigentes em umdeterminado território e, também internacionalmente, na relação entreos Estados.

▣ O direito legislado, o direito posto e assegurado pelo Estado.

▣ “O direito tal qual ele é, não tal qual deve ser.” (Noberto Bobbio).

▣ Para alguns, tem como fundamento o Direito Natural, o qual lhe dálegitimidade.

1.O Direito

Direito Público e Direito Privado

Direito Público e Privado

▣ Entre as possibilidades que existem de apresentar globalmente a ordemjurídica, destaca-se a tradicional divisão do Direito em Público e Privado.

▣ Tal divisão se fundamenta no objeto material da ciência jurídica: oDireito tem por matéria as relações sociais. Seu objetivo é a ordenação davida social. E a vida social conta com duas espécies de relações:□ As relações em que a sociedade, representa pelo Estado, é parte;□ As relações em que apenas os próprios participantes são parte.

Direito Público

▣ As relações nas quais o Estado é parte são reguladas pelo Direito Público.

▣ O Direito Público rege a organização e atividade do Estado, consideradoem si mesmo, em suas relações com os particulares e com outros Estados.

Direito Público

Direito Público

Direito Constitucional

Direito Administrativo

Direito Tributário

Direito Financeiro

Direito Penal

Direito Processual

Direito Internacional

Direito Privado

▣ O Direito Privado regula as relações dos particulares entre si.

▣ Diz respeito às normas contratuais que são estabelecidas pelosparticulares, decorrentes de suas manifestações de vontades.

Direito Privado

Direito Privado

Direito Civil

Direito Empresarial

Direito do Trabalho

Obrigado!