instituição do direito - ação popular

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AÇÃO POPULAR Gustavo Dias Oliveira [email protected] Estudante do Curso de Direito da UnP e estagiário da Procuradoria do INSS/RN I – INTRODUÇÃO A Constituição Nacional de 1988 faz referência no seu art. 5º, inciso LXXIII, à ação popular. A ação popular é um remédio constitucional posto à disposição de qualquer cidadão com o objetivo de obter controle de atos ou contratos administrativos ilegais e lesivos ao patrimônio federal, estadual ou municipal, ou ao patrimônio de autarquias, entidades paraestatais e pessoas jurídicas que recebem auxilio pecuniário do poder público. A ação popular, que é regulada pela Lei 4.717 de 29 de junho de 1965, possibilita que qualquer cidadão tenha o direito de fiscalização dos atos administrativos, bem como de sua possível correção, quando houver desvio de sua real finalidade. A nossa Constituição dispõe no referido artigo, que “qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise anular o ato lesivo ao patrimônio público ou entidade que o Estado participe, a moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico cultural, ficando o autor, 1

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Leis que regem uma ação popular

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AO POPULAR

AO POPULAR

Gustavo Dias Oliveira

[email protected]

Estudante do Curso de Direito da UnP e estagirio da Procuradoria do INSS/RNI INTRODUO

A Constituio Nacional de 1988 faz referncia no seu art. 5, inciso LXXIII, ao popular. A ao popular um remdio constitucional posto disposio de qualquer cidado com o objetivo de obter controle de atos ou contratos administrativos ilegais e lesivos ao patrimnio federal, estadual ou municipal, ou ao patrimnio de autarquias, entidades paraestatais e pessoas jurdicas que recebem auxilio pecunirio do poder pblico.

A ao popular, que regulada pela Lei 4.717 de 29 de junho de 1965, possibilita que qualquer cidado tenha o direito de fiscalizao dos atos administrativos, bem como de sua possvel correo, quando houver desvio de sua real finalidade.

A nossa Constituio dispe no referido artigo, que qualquer cidado parte legtima para propor ao popular que vise anular o ato lesivo ao patrimnio pblico ou entidade que o Estado participe, a moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimnio histrico cultural, ficando o autor, salvo comprovada m f, isento de custas judiciais e do nus da sucumbncia.

Esse direito de todo cidado ser um fiscal dos atos e contratos administrativos, garantido constitucionalmente pela ao popular, vem a ser uma forma de garantia da participao democrtica do prprio cidado na vida pblica, baseando-se no princpio da legalidade dos atos administrativos e tambm no conceito de que a coisa pblica patrimnio do povo, garantindo assim a sua titularidade da cidadania, exercendo seus direitos polticos.

ainda oportuno o esclarecimento do professor Michel Temer Se coisa do povo, a este cabe o direito de fiscalizar aquilo que seu. Pertence-lhe o patrimnio do Estado. Por isso pblico. Verifica-se que h um sistema de fiscalizao efetivado por meio de uma representao popular.

II REQUISITOS

As condies gerais da ao popular so as mesmas para qualquer ao, isto , a possibilidade jurdica do pedido, o interesse de agir e a legitimidade para a causa

A legitimidade da ao parte do princpio de que a Carta Magna assegura, em seu texto, a qualquer cidado a possibilidade de propor ao popular contra atos lesivos ao patrimnio pblico ou de entidade de que o Estado participe, moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimnio histrico cultural. Para propor ao popular se requer, antes de mais nada, que o autor seja cidado brasileiro no exerccio de seus direitos cvicos e polticos. A prova de cidadania, segundo o 3 do art. 1 da Lei n. 4.717, de 29 de junho de 1965, ser feita com o ttulo eleitoral, ou com documento que a ele corresponda.

A ao popular, em seu requisito objetivo, se refere natureza do ato ou da omisso da administrao pblica a ser impugnado que deve ser, obrigatoriamente, lesivo ao patrimnio pblico. A lesividade do ato ou da omisso deve ser concretamente provada na ao, se tornando assim requisito desta.

O desvio de poder da Administrao, quando obedece a lei formalmente, afastando-se de seus objetivos, j h muito tempo considerado como uma modalidade de ilegalidade dentro do nosso Direito Administrativo, ensejador do cabimento de ao popular.

III DAS PARTES

A legitimidade ativa surge do princpio constitucional (art. 5., LXXIII) que assegura a qualquer cidado, seja ele cidado brasileiro nato ou naturalizado, inclusive aquele entre 16 e 21 anos, e ainda, o portugus equiparado, no gozo dos seus direito polticos, isto , o eleitor, tem a possibilidade de propor ao popular. Exclui-se, portanto, aqueles que tiverem suspensos ou declarados perdidos seus direitos polticos. O cidado menor de 21 tendo adquirido o direito de eleitor, no h necessidade de assistncia.

A Smula 365 do Supremo Tribunal Federal entende que a pessoa jurdica no tem legitimidade para propor ao popular.

Os sujeitos passivos da ao, segundo o art. 6, 2 da Lei 4.717/65, so: as pessoas pblicas ou privadas, os autores e participantes do ato e os beneficirios do ato ou contrato lesivo ao patrimnio pblico.

IV COMPETNCIA

A competncia para processar e julgar a ao popular determinada conforme a origem do ato impugnado, de acordo com o art. 5 da Lei 4. 717/65. Toda e qualquer autoridade ser julgada em primeira instncia, podendo ser interposto todos os recursos cabveis no ordenamento jurdico brasileiro. Se o ato impugnado foi praticado por autoridade, funcionrio ou administrador de rgo da Unio, autarquia ou entidade paraestatal da Unio, por exemplo, a competncia do juiz federal da Seo Judiciria em que se consumou o ato.V LIMINAR NA AO POPULAR

O pedido de liminar na ao popular, desde que atenda os requisitos especficos do periculum in mora e do fumus boni juris, admitido expressamente pelo 4. do art. 5 da Lei 4.717/65. A liminar em ao popular foi introduzida pelo art. 34 da Lei 6.513, de 20 de dezembro de 1977, que dispe: Na defesa do patrimnio pblico caber a suspenso liminar do ato lesivo impugnado.

VI SENTENA E COISA JULGADA

Na ao popular, se o juiz decidir pela procedncia da ao, o ato impugnado ser invlido e haver a condenao dos responsveis ao pagamento de perdas e danos aos beneficirios, condenao dos rus s custas e despesas com a ao e honorrios advocatcios e a produo de efeitos de coisa julgada erga omnes.

Quando a ao julgada improcedente, deve-se investigar as causas de sua improcedncia, para analisarem seus efeitos como observa Alexandre de Morais3:

Se a ao popular for julgada improcedente por ser infundada, a sentena produzir efeitos de coisa julgada erga omnes , permanecendo vlido o ato. Porm, se a improcedncia decorrer de deficincia probatria, apensar da manuteno da validade do ato impugnado, a deciso de mrito no ter eficcia de coisa julgada erga omnes, havendo possibilidade de ajuizamento de uma nova ao popular com o mesmo objeto e fundamento, por prevalecer o interesse pblico de defesa da legalidade e da moralidade administrativas, em busca da verdade real.

VII DO MINISTRIO PBLICO NA AO POPULARA atuao do Ministrio Pblico na ao popular regulada pelo 4 do art. 6 da Lei n. 4.717/65 e atribuiu funes ao Ministrio na ao popular, algumas obrigatrias e, outras facultativas. As funes obrigatrias so as de: acompanhar a ao e apressar a produo da prova (art. 6, 4); promover a responsabilidade civil ou criminal, dos que nela incidirem (art. 6, 4), hiptese em que atuar como autor. A referida lei tornou obrigatria a participao do Ministrio Pblico, embora ele no possua legitimidade para a propositura da ao, deve providenciar para que as requisies de documentos e informaes previstas no art. 7, I, b sejam atendidas dentro dos prazos fixados pelo juiz (art. 7, 1); promover a execuo de sentena condenatria quando o autor no o fizer, nos termos do artigo 16. J as funes facultativas so: a de dar continuidade ao processo em caso de desistncia ou absolvio de instncia (extino do processo, sem julgamento do mrito, por falta de providncias a cargo do autor), o que reza o art. 9, ao assegurar a qualquer cidado, bem como ao representante do Ministrio Pblico, dentro do prazo de 90 dias da ltima publicao feita, promover o prosseguimento da ao; tambm facultativo o Ministrio Pblico recorrer de decises contrrias ao autor, o que tambm pode ser feito por qualquer cidado.

A lei da ao popular impede expressamente que o Ministrio Pblico assuma a defesa do ato impugnado ou de seus autores, mas no de se manifestar contra ou a favor da ao. Pode-se assim dizer, que a funo do Ministrio Pblico, na ao popular, a de fiscal da lei, apontando qualquer irregularidade ou ilegalidade no processo, podendo opinar pela procedncia ou improcedncia da ao.

VIII CONCLUSO

Ns como cidados, somos donos do patrimnio pblico, e por isso devemos priv-lo dos maus administradores pblicos que agem em nosso nome. Significa que tm eles o dever de agir dentro dos parmetros da moralidade e no causar qualquer prejuzo ao nosso patrimnio, igualmente, devem zelar pelo meio ambiente e preservar o patrimnio histrico-cultural. Quando isso no ocorre, e se pratica um ato que prejudique o patrimnio pblico, nosso dever como cidado lutar para que esse ato lesivo seja anulado. Para isso, precisaremos promover uma ao popular, que ter um fim preventivo ou repressivo objetivando a anulao do ato prejudicial ao patrimnio pblico que ser cabvel tambm quando o ato administrativo ferir o meio ambiente ou o patrimnio histrico-cultural.

NOGUEIRA, Paulo Lcio. Instrumentos de Tutela de Direitos Constitucionais: Teoria, Prtica e Jurisprudncia So Paulo: Saraiva, 1994.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 26 ed., So Paulo, Malheiros Editores, 2001, p. 104.

3 In Direito Constitucional, 9 ed., So Paulo, Atlas, 2001, p. 187

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