instalação de software livre educacional - uma experiência na periferia de nova iguaçu

60
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE RAPHAEL RODRIGUES DOS REIS INSTALAÇÃO DE SOFTWARE LIVRE EDUCACIONAL: UMA EXPERIÊNCIA NA PERIFERIA DE NOVA IGUAÇU Niterói 2007

Upload: lixobinario

Post on 10-Jun-2015

1.027 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Este trabalho relata a experiência da instalação de software livre para fins educacionais, aplicada em uma entidade comunitária localizada na cidade de Nova Iguaçu. Desta forma proporcionamos um ambiente produtivo, criativo e exploratório para atividades de ensino-aprendizado.Não nos prendemos aos conteúdos e métodos do ensino formal. Seguindo a idéia de educação integral, sabemos que o aprendizado ocorre todo o tempo, e não está limitado por horários, lugares, leis ou decretos.Para a instalação, também selecionamos os programas educacionais, de uso geral e o sistema operacional, tendo como limitante o hardware de baixos recursos computacionais, o contexto sócio-cultural das crianças e o custo de implementação da solução.

TRANSCRIPT

Page 1: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSERAPHAEL RODRIGUES DOS REIS

INSTALAÇÃO DE SOFTWARE LIVRE EDUCACIONAL:UMA EXPERIÊNCIA NA PERIFERIA DE NOVA IGUAÇU

Niterói2007

Page 2: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

RAPHAEL RODRIGUES DOS REIS

INSTALAÇÃO DE SOFTWARE LIVRE EDUCACIONAL:UMA EXPERIÊNCIA NA PERIFERIA DE NOVA IGUAÇU

Trabalho de Conclusão de Curso

submetido ao Curso de Tecnologia em

Sistemas de Computação da

Universidade Federal Fluminense como

requisito parcial para obtenção do

Tecnólogo em Sistemas de

Computação.

Orientador:Leandro Soares de Sousa

NITERÓI2007

Page 3: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

RAPHAEL RODRIGUES DOS REIS

INSTALAÇÃO DE SOFTWARE LIVRE EDUCACIONAL:UMA EXPERIÊNCIA NA PERIFERIA DE NOVA IGUAÇU

Trabalho de Conclusão de Curso

submetido ao Curso de Tecnologia em

Sistemas de Computação da

Universidade Federal Fluminense como

requisito parcial para obtenção do título

de Tecnólogo em Sistemas de

Computação.

Niterói,18 de Dezembro de 2007.

Banca Examinadora:

● Prof. Leandro Soares de Sousa, Msc. - Universidade Federal Fluminense● Profa. Anna Dolejsi Santos, Dr.Sc. - Universidade Federal Fluminense● Profa. Aline Marins Paes, Msc. - Universidade Federal do Rio de Janeiro

.

Page 4: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

AGRADECIMENTOS

À minha família, pelo estímulo e empenho na

minha formação.

À minha companheira Fabrícia, por todo o

carinho e apoio político e intelectual.

Aos amigos do curso pelo aprendizado

durante o enfrentamento coletivo das

dificuldades.

Àqueles e aquelas que lutam para manter o

CFNSG funcionando.

Ao orientador Leandro pela atenção e

dedicação.

Page 5: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

"A um tempo atrás se falava em bandidos,

a um tempo atrás se falavam em solução,

a um tempo atrás se falavam em progresso,

a um tempo atrás que eu via televisão."

Chico Science

Page 6: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

RESUMO

Este trabalho relata a experiência da instalação de software livre para fins educacionais, aplicada em uma entidade comunitária localizada na cidade de Nova Iguaçu. Desta forma proporcionamos um ambiente produtivo, criativo e exploratório para atividades de ensino-aprendizado.

Não nos prendemos aos conteúdos e métodos do ensino formal. Seguindo a idéia de educação integral, sabemos que o aprendizado ocorre todo o tempo, e não está limitado por horários, lugares, leis ou decretos.

Para a instalação, também selecionamos os programas educacionais, de uso geral e o sistema operacional, tendo como limitante o hardware de baixos recursos computacionais, o contexto sócio-cultural das crianças e o custo de implementação da solução.

Palavras-chaves: Informática educativa; Software livre.

Page 7: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

LISTA DE FIGURAS

Figura 4.1: O programa de desenho Tux Paint, desenvolvido para crianças............36

Figura 4.2: O processador de textos simples e leve AbiWord...................................37

Figura 4.3: O navegador Dillo, tão leve que roda em handhelds com Linux..............38

Figura 4.4: Jogo relacionando sons e imagens..........................................................39

Figura 4.5: Jogo da memória com sons.....................................................................39

Figura 4.6: Quebra-cabeça.........................................................................................40

Figura 4.7: Jogo no estilo Pong..................................................................................40

Figura 4.8: Jogo no estilo “Come-come”....................................................................41

Figura 4.9: Descobrindo qual a operação matemática foi usada...............................41

Figura 4.10: Simples transposição da tabuada para o computador...........................42

Figura 4.11: Tradicional jogo da memória..................................................................42

Figura 4.12: Jogo cujo objetivo é reescrever a palavra..............................................43

Figura 4.13: Atividade para reconhecimento das letras.............................................44

Figura 4.14: Jogo cujo objetivo é reescrever a palavra..............................................44

Figura 4.15: Jogo cujo objetivo clicar na figura associada àquele som.....................45

Figura 4.16: Na cascata de letras o objetivo é teclar a letra antes que caia..............45

Figura 4.17: Jogo de bilhar, com regras simples.......................................................46

Figura 4.18: Menu inicial da suíte Childsplay.............................................................46

Figura 4.19: Xabacus.................................................................................................47

Figura 4.20: Kturtle, baseado na linguagem de programação Logo..........................48

Page 8: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1: Dados sobre Violência nos Municípios da Baixada Fluminense.............16

Tabela 2.2: Dados da Cidade de Nova Iguaçu..........................................................17

Tabela 2.3: Hardware das Máquinas.........................................................................22

Page 9: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

GNU – Gnu is Not UNIX

FSFLA – Free Software Foundation Latin America

CFNSG – Centro de Formação Nossa Senhora das Graças

RAM – Read Access Memory

CPU – Central Processing Unit

FTP – File Transfer Protocol

HTTP – HyperText Transfer Protocol

APT – Advanced Packaging Tool

Page 10: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

SUMÁRIO

RESUMO......................................................................................................................6

LISTA DE FIGURAS.....................................................................................................7

LISTA DE TABELAS....................................................................................................8

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS.......................................................................9

1 INTRODUÇÃO.........................................................................................................12

2 CONTEXTUALIZAÇÃO...........................................................................................15

2.1 PERFIL DA COMUNIDADE...............................................................................15

2.2 A ENTIDADE.....................................................................................................18

2.2.1 HISTÓRICO................................................................................................18

2.2.2 O LABORATÓRIO .....................................................................................19

2.2.3 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DO AMBIENTE .......................................20

2.3 HARDWARE......................................................................................................20

3 REQUISITOS TECNOLÓGICOS, PEDAGÓGICOS E SOCIAIS.............................23

3.1 REQUISITOS TECNOLÓGICOS......................................................................23

3.1.1 HARDWARE...............................................................................................23

3.1.2 SOFTWARE................................................................................................24

3.2 REQUISITOS PEDAGÓGICOS E SOCIAIS.....................................................26

4 SELEÇÃO DO SOFTWARE....................................................................................28

4.1 SISTEMA OPERACIONAL E GERENCIADOR DE JANELAS.........................28

4.2 SOFTWARES EDUCATIVOS............................................................................35

4.3 DEMAIS SOFTWARES.....................................................................................48

5 INSTALAÇÃO DO AMBIENTE.................................................................................50

5.1 SISTEMA OPERACIONAL................................................................................50

5.2 SOFTWARE EDUCATIVO................................................................................53

5.3 DEMAIS SOFTWARES.....................................................................................54

5.4 INSTALAÇÃO FINAL.........................................................................................54

6 CONCLUSÕES........................................................................................................57

Page 11: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................58

Page 12: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

1 INTRODUÇÃO

É extremamente visível a exclusão social no país, no estado e na cidade

onde se localiza o objeto deste trabalho. Talvez seja desnecessário dizer que a

renda média dos 40% mais pobres no Brasil foi de apenas R$ 226,32 e a dos 10%

mais ricos de R$ 3.579,82 em 2006 [1]. Basta olharmos fora dos bolsões de riqueza1

para percebermos a desigualdade e injustiça aplicadas recursivamente em todas as

camadas, baseadas nos aspectos econômicos, raciais e de gênero. Diante desta

realidade, pode-se até questionar se há alguma contribuição significativa para

modificá-la através do que chamamos de inclusão digital.

Em seu artigo, intitulado “Inclusão digital, software livre e globalização

contra-hegemônica” [2], Sérgio Amadeu Silveira nos indica que “todo período

histórico possui um conjunto de tecnologias que as sociedades dominantes e dentro

delas, suas elites, utilizam como fonte especial de poder e de reprodução da

riqueza”. Concluímos, portanto, que socializar estas tecnologias é combater a

desigualdade econômica e social.

Precisamos também delinear o conceito de exclusão digital. Neste mesmo

artigo [2] surgem algumas definições:uma definição mínima passa pelo acesso ao computador e aos conhecimentos básicos para utilizá-lo. Atualmente, começa a existir um consenso que amplia a noção de exclusão digital e a vincula ao acesso à rede mundial de computadores.

Em nosso trabalho a inclusão digital será entendida como o acesso físico

ao computador e o domínio sobre esta ferramenta, de maneira a apropriar-se da

mesma como meio, não como fim, e possibilitar a produção de conhecimento. Neste

sentido, é que construiremos o diferencial entre ser sujeito ou simples consumidor.

Considerando este contexto, nos propomos instalar softwares livres para

atividades educativas infantis em uma entidade sem fins lucrativos chamada Centro

1 A idéia de bolsões de pobreza nos remete entender a pobreza como um fato localizado, por isso

falamos em bolsões de riqueza, pois, a pobreza no Brasil é o meio, a norma. Os ricos é que estão

sempre cercados pelos pobres.

12

Page 13: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

de Formação Nossa Senhora das Graças - CFNSG, situada no bairro Parque Flora,

na cidade de Nova Iguaçu, Rio de Janeiro. Um bairro periférico numa cidade

periférica, numa região conhecida como Baixada Fluminense. Assim esperamos

proporcionar um ambiente produtivo e criativo para atividades de ensino-

aprendizado e, mais ainda, exploratório, onde as crianças desta entidade possam se

auto-desenvolver. Também esperamos contribuir com a apropriação destas

tecnologias de maneira a aproveitá-las no contexto social local e, quiçá, produzir

tecnologia de acordo com suas próprias necessidades.

Em coerência com esta autodeterminação, não há outra opção a não ser a

utilização de software livre. Um software é livre se ele permite aos usuários as

liberdades de “executarem, copiarem, distribuírem, estudarem, modificarem e

aperfeiçoarem o software” [3]. O movimento software livre nasceu da oposição às

restrições de propriedade intelectual em relação aos softwares. Um dos marcos foi,

em 1983, o anúncio do projeto GNU2. Ainda em relação ao software livre vale

ressaltar que “Software Livre é uma questão de liberdade, não de preço. Para

entender o conceito, você deve pensar em liberdade de expressão, não em cerveja

grátis”3.

É fundamental, portanto, para um profissional de ciência da computação,

conhecer e dominar tais tecnologias, pois somente a partir delas poderá exercer

atividades independentes e socialmente úteis.

Como optamos por softwares educacionais, explicitamos que nos norteará

a idéia de “educação integral”, advinda da pedagogia libertária, exemplificada por

Robin [4]:

A idéia moderna – de educação integral – nasceu do sentimento profundo de igualdade e do direito que cada homem tem, quaisquer que sejam as circunstâncias de seu nascimento, de desenvolver, da forma mais completa

2GNU é a sigla recursiva para GNU is Not Unix ou, em português, GNU Não é Unix. O Projeto GNU

se iniciou como resposta as crescentes patentes e fechamentos de códigos fonte, pois até então era

normal a cooperação entre programadores. O Projeto GNU se propôs a torná-la possível outra vez,

através da produção de softwares livres, inclusive um sistema operacional livre. 3Esta definição esclarece uma dúvida iniciada com a palavra inglesa “free”, que pode significar livre

ou grátis. Mesmo que em nosso idioma não haja tamanha ambigüidade na expressão software livre,

há quem confunda as duas coisas, ainda mais num momento onde as empresas, visando o lucro e

não a liberdade, adotam o SL como “modelo de negócio”.

13

Page 14: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

possível, todas as faculdades físicas e intelectuais. Estas últimas definem a educação integral. (Robin, apud Silvio Gallo)

Colaboraremos, portanto, com pelo menos uma das infinitas

potencialidades do desenvolvimento humano.

Deve ficar claro que em todos os caminhos tomados há um preceito

político-filosófico, o da liberdade, calcado em três paradigmas, a saber: a autonomia

individual, que compreende ser o indivíduo tão importante quanto a sociedade a que

pertence; a autogestão, que define que as decisões coletivas devem ser geridas

diretamente pelo próprio grupo social; e, por último, a ação direta, onde os

indivíduos e grupos sociais devem, diretamente, construir e gerir os processos

sociais. Explicitamos isso para que o trabalho não se vista de falsa neutralidade.

Silvio Gallo [4] nos aclara dizendo que “anterior a todo e qualquer intento de

educação, subjaz uma concepção de homem”. Ousamos dizer que anterior a

qualquer intento, seja educacional ou não, subjaz uma concepção de homem e de

mundo.

Observamos, portanto, que no contexto de exclusão social que vivemos,

tanto dentro quanto fora de quaisquer fronteiras que queiramos, cada dia se torna

mais orgânica a exclusão digital. A propriedade da informação parece se tornar tão

ou mais importante que a dos meios de produção. Daí ser fundamental quaisquer

ações que permitam uma transformação social que, invariavelmente, passará pela

socialização da informação.

Para cumprir o objetivo deste trabalho, apresentamos no capítulo dois

dados referentes a situação política e social da região, onde está localizada o

CFNSG, além de especificar o histórico e características ficas e estruturais do

mesmo. No capítulo três, enfocaremos os requisitos teóricos e metodológicos que

nos orientaram na elaboração deste trabalho. Já no capítulo quatro descrevemos o

processo de seleção dos softwares que utilizamos. No quinto capítulo apresentamos

a parte prática do trabalho, que consiste na instalação do sistema operacional e

demais softwares. Por fim, no sexto capítulo expomos algumas considerações

acerca do trabalho realizado e suas conclusões finais.

14

Page 15: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

2 CONTEXTUALIZAÇÃO

Nos dedicaremos neste capítulo a descrever alguns dados referentes à

situação política e social da comunidade onde está localizado o CFNSG. É de

extrema importância reconhecer e compreender o contexto de exclusão que estão

inseridas as crianças desta comunidade, pois o mesmo justifica a existência do

CFNSG. Neste momento, quando falamos de exclusão, não estamos nos referindo

somente à exclusão digital, tema de relevância neste trabalho, mas principalmente a

exclusão sócio-cultural. Também apresentaremos informações sobre a organização

espacial do Centro de Formação e, especialmente, do laboratório de informática,

com sua disponibilidade de hardware.

2.1 PERFIL DA COMUNIDADE

O CFNSG está localizado no município de Nova Iguaçu, em uma região

conhecida geograficamente como Baixada Fluminense.

No histórico recente de ocupação populacional da Baixada Fluminense

está a transformação de antigas e decadentes fazendas em loteamentos a preços

populares. Devido a esse fator e outros ligados a capital do país, então o Rio de

Janeiro, há uma explosão demográfica à partir da década de 50 [5], com a ocupação

de áreas sem nenhum serviço público básico, como saneamento, água tratada,

serviço de saúde, escolas, etc.

A partir da ditadura, em 1964 e da criação da polícia militar, em 1967,

entram em cena os grupos de extermínio ligados direta ou indiretamente a policiais.

Tais grupos, existentes até hoje, se infiltraram pela política de tal forma que, hoje,

em 2007, há diversos membros eleitos vereadores, deputados estaduais e prefeitos

[5]. Produto recente deste processo histórico foi a chacina ocorrida na noite de 31 de

15

Page 16: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

março de 2005, onde foram assassinadas 29 pessoas em diversos municípios da

região, terminando na acusação de 11 policiais militares.

Na definição da região, conforme José Cláudio Souza Alves [5]:o termo Baixada Fluminense realiza uma fusão entre o geográfico e o social. Inicialmente definia a região que fica entre o litoral e a Serra do Mar, no Estado do Rio de Janeiro, formada por um relevo de baixas planícies, muitas delas inundáveis, que se estendia do município de Itaguaí ao de Campos, no Norte do estado. Posteriormente, na década de 1970, a partir dos inúmeros casos de assassinatos ocorridos na região a oeste da cidade do Rio de Janeiro, oito municípios passaram a ser definidos por este termo, identificando mais o aspecto da violência.

Os municípios que compõem esta região são Nova Iguaçu, Duque de

Caxias, Nilópolis, São João de Meriti, Belford Roxo, Queimados, Mesquita e Japeri.

Em termos de violência, recentes dados do “Mapa da Violência dos

Municípios Brasileiros” [6] são apresentados na Tabela 2.1:

Tabela 2.1: Dados sobre Violência nos Municípios da Baixada Fluminense

MunicípioTaxa de

Homicídios*Posição em Homicídios

Taxa de Homicídios

Juvenis*

Posição em Homicídios

Juvenis

Duque de Caxias 80,9 19º 153,6 17º

Nova Iguaçu 78,5 23º 150,6 20º

Nilópolis 65,9 57º 148,4 22º

Queimados 64,8 62º 113,2 78º

Belford Roxo 63,1 71º 151,1 18º

Japeri 48,9 173º 78,5 229º

São João de Meriti 47,9 185º 108,9 91º

Mesquita 32,8 449º 67,4 320º*Taxa média dos anos de 2002, 2003 e 2004 do número de homicídios a cada 100.000 habitantes ou jovens.

Nesta tabela deve ficar clara a situação dos municípios da Baixada

Fluminense em relação aos outros 5.560 municípios pesquisados. Também

devemos levar em consideração o corte racial escondido nos dados, pois a taxa

16

Page 17: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

nacional de homicídios de negros em relação a população branca foi cerca de 73,1%

maior [6].

Alguns dados sobre a cidade de Nova Iguaçu, onde se insere o bairro

Parque Flora, são apresentados na Tabela 2.2:

Tabela 2.2: Dados da Cidade de Nova Iguaçu

Variável Valor

Pessoas residentes* 754.756 hab.

Área do Município 524 Km2

Matrículas no Ensino fundamental** 135.763 hab.

Matrículas no Ensino Médio** 37.992 hab.

Escolas de Ensino superior (pública e privada) 2 escolas

Estabelecimentos de Saúde (pública) 26 estabelecimentos

Posição no IDH-M - Índice de Desenvolvimento

Humano Municipal***

1.474º

*IBGE, Resultados da Amostra do Censo Demográfico 2000. Em abril de 2007 a população estimada era de

830.672 hab. <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/> Acesso em 16 de outubro de 2007.

**Ministério da Educação, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais - INEP -, Censo Educacional

2006.

***PNUD - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. IDH-M – Índice de Desenvolvimento Humano

Municipal, 2000. <http://www.pnud.org.br/atlas/tabelas/> Acesso em 16 de outubro de 2007.

É neste contexto que estão inscritas as pessoas com as quais

pretendemos construir este projeto de um ambiente informático livre e criativo para

as crianças.

17

Page 18: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

2.2 A ENTIDADE

2.2.1 HISTÓRICO

O CFNSG foi idealizado pelo Pe.Guilherme Steenhower (1933 - †2001),

Teresinha Dorneles, Verônica Eyng, membros da comunidade de Parque Flora. A

necessidade do projeto surgiu a partir da observação da situação de miséria e mal

rendimento educacional das crianças desta comunidade.

Com o financiamento de entidades beneficentes da Alemanha e Holanda e

a doação do terreno pela senhora Alice Vidal ao Pe. Guilherme, foi iniciada a

construção do projeto. Este tinha como principal objetivo fornecer alimentação: café

da manhã e almoço, além de desenvolver atividades educacionais para apoiar o

rendimento destas crianças na escola regular. A obra terminou em dezembro de

2000, e em abril de 2001 realizou-se a primeira assembléia geral.

A primeira assembléia contou com a presença de vários membros da

comunidade, e seu objetivo era discutir o estatuto e formar uma direção. Assim,

após a aprovação do estatuto foi feita uma eleição. Os diretores eleitos com ajuda

de voluntários, desenvolveram o projeto inicial durante um ano. No entanto, a

comunidade e os voluntários sentiram a necessidade da utilização do espaço para

outros projetos.

Através de parcerias com outras organizações, o comércio local e a

contribuição de voluntários, puderam ser realizados vários outros projetos, como o

"Projeto Civil Voluntário", que atendia jovens entre 13 e 14 anos. Esses jovens, junto

com coordenadores, discutiam temas relacionados a cidadania, e a partir da

observação dos problemas da comunidade, tentavam solucioná-los. Esse projeto foi

desenvolvido em parceria com a ONG Viva Rio e durou de janeiro de 2002 a abril de

2003.

Somente dois anos após a construção do laboratório de informática, surgiu

o primeiro projeto "Clube de Informática", também no qual, 60 crianças e

18

Page 19: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

adolescentes aprendiam conhecimentos básicos com um instrutor de informática.

Um outro projeto foi o "Educação para jovens e adultos - Telecurso 2000", também

em parceria com Viva Rio, que atendia principalmente jovens fora da faixa de idade

escolar formal e adultos que ainda não havia terminado o Ensino Fundamental. Esse

projeto iniciou no ano de 2003 e seu término foi em 2005, formando 570 alunos. Já o

projeto "Pré-escolar" atendia crianças entre 2 à 4 anos, iniciou em março de 2004 e

terminou em dezembro de 2004, iniciando na educação regular de 40 crianças.

Outros projetos como "Capoeira de Angola" (2006) e "Balé infantil" (2005) também

foram desenvolvidos no CFNSG. Além dos projetos regulares, também, ocorrem no

espaço palestras, exibição de filmes e rodas de leituras na biblioteca.

Atualmente está funcionando, além do fornecimento de alimentação (café

da manhã e almoço), o Reforço Escolar que atende 40 crianças na faixa etária dos

12 aos 14 anos. Estas crianças possuem baixo rendimento escolar, e em sua

maioria estão defasadas, segundo os moldes do ensino formal seriado,

freqüentando o quarto e quinto ano (antigas terceira e quarta séries) do Ensino

Fundamental. Muitas destas crianças são órfãs ou filhos de pais separados, que

vivem com renda mensal de no máximo 1 (um) salário mínimo, os pais das crianças

atendidas são jovens entre 20 e 30 anos de idade. É a partir da realidade destas

crianças que, ousaremos contribuir para melhora de condições, através do nosso

trabalho.

2.2.2 O LABORATÓRIO

O primeiro projeto desenvolvido iniciou-se após um ano da fundação da

entidade. O projeto “Clube de Informática”, feito em parceria com o Viva Rio, atendia

crianças e adolescentes na faixa etária dos 9 aos 15 anos. As aulas eram

ministradas por tutores voluntários duas vezes por semana. O curso tinha duração

de seis meses, com cada turma composta por 10 alunos e dois alunos por

computador. O curso ministrado era básico e consistia em ensinar conhecimentos

gerais, relacionados ao computador, desde seu funcionamento até seu uso. Assim

os alunos aprendiam a ligar e desligar o computador, a utilizar teclado e mouse,

19

Page 20: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

iniciar aplicativos, visualizar imagens, gerenciar arquivos e, por fim editar textos. O

sistema operacional utilizado era Microsoft Windows. Este projeto teve duração de

três anos (2003 – 2005), formando 60 crianças. Cabe ressaltar que, desde 2005 até

o presente ano os computadores ficaram sem utilização.

2.2.3 CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DO AMBIENTE

O CFNSG foi construído em um terreno de 960 m2, e 600 m2 de área

construída. A construção é inovadora, pois ao invés de utilizarem tijolos, foram

utilizados grades de arames e placas de isopor.

O ambiente é composto por uma sala de leitura, duas salas de aulas, três

banheiros, uma cozinha, um refeitório, uma secretaria e um laboratório de

informática.

O laboratório de informática tem cerca de 3,5 m por 5 m, possuindo um

quadro branco, 5 computadores, 10 cadeiras e um aparelho de ar-condicionado.

2.3 HARDWARE

Um dos fatores limitantes quanto a instalação do software é, obviamente,

o hardware. O laboratório em que realizamos o trabalho possuía cinco

computadores, com seus respectivos monitores. Quatro deles eram iguais em

hardware e o quinto havia sido doado recentemente e era mais antigo que os

demais, sendo um Pentium de 100MHz de velocidade com 1 GB de disco rígido.

Resolvemos nos concentrar na instalação no modelo de configuração das quatro

máquinas iguais.

Descobrir o modelo de placa-mãe não foi fácil, pois no sítio do fabricante4

não encontramos nenhuma placa cuja a descrição ou foto se encaixasse com a que

4 http://www.pcchipsusa.com

20

Page 21: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

tínhamos em mãos. Na verdade, mesmo depois de saber o modelo não achamos

nenhuma referência neste sítio.

Pelo chip gráfico, de áudio e de rede, foi possível descobrir qual era o

modelo com uma busca no Google5. As placas são da fabricante PCChips, modelo

M598LMR. Segue abaixo a descrição encontrada em [7]:- Supports 90~500MHz Pentium CPUs at 66/75/83/95/100MHz external clock speed in Socket 7 for Baby AT Form Factor- Supports Intel P54C/P55C ,Cyrix/IBM 6x86/6x86L/6x86MX/MII , IDT C6/WinChip 2 and AMD K5/K6/K6-2/K6-3 CPUs ,provides CPU Plug & Play feature for earlier CPU installation and auto CPU core voltage switching from 2.0V to 3.5V- 1MB Pipelined Burst Synchronous L2 cache Onboard (51KB optional), provides 3 DIMMs for SDRAM memory modules and is expandable up to 768MB- Embedded high performance 64-bit 3D AGP Graphics Accelerator with 8MB frame buffer support Windows 98 Multiple Display feature, AGP Rev. 2.0 Spec. Compliant- 3D PCI Sound Pro on board, meet PC98' SPEC., HRTF Positional Audio, supports Microsoft Direct Sound 3D and Aureal A3D interface with 4 channel speaker out, Software Wave-table Synthesizer- 10/100MHz Fast Ethernet LAN on board, supports IEEE 802.3 and 802.3u standards, and fully compliant ANSI X3.263 TP-PMD physical sub-layer.56K Fax/Modem on board, supports V.90 Fax/Modem standard for your Internet communication FCC Part 68, CTR 21 and ACA TS 001/TS 002 approved- 2MB Flash ROM on board provides complete Advance Configuration Power Interface (ACPI) and Legacy PMU; Ultra DMA 33/66; fully compliant with PC'97 and PC'98 Spec.- Provides ATX power connector to support various functions of ATX Power such as Suspend , Shutdown, Alarm Wake-Up, Modem Ring On, Wake on LAN ,Interrupt Wake-Up from Keyboard/Mouse and Keyboard Power On/OffBuilt-in Hardware Monitor circuit, supports Thermal, Power and Fan speed monitor; supports Intel LANDesk Client Manager(LDCM)(optional)- Bundled AMI Desktop Client Manager detects abnormal conditions and thermal management automatically or through the network link- Supports PC99 Color Connector for easy identification of peripheral devices- Provides ATX Form card for USB, PS2 Mouse and fast IR interface(optional)- Bundled Corel WordPerfect Suite8; take advantage of leading-edge collaboration and business tools- Bundled Gamut includes MP3 Encoder/Decoder, for professional audio application- Bundled Super Voice for Fax/Modem an Voice application; MediaRing Talk for Internet Phone communications- Provides Trend Micro's ChipAwayVirus and PC-Cillin 98' (oem) Windows 95/98 and Internet virus protection

Este fabricante, PCChips, tem algumas das placas-mãe mais baratas

vendidas no mercado nacional. Também é uma marca reconhecida, quando em

5 http://www.google.com.br

21

Page 22: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

comparação com outras similares, por “problemas de desempenho“ e “alto índice de

defeitos” [8].

Portanto o hardware do modelo que utilizaremos para definir a instalação e

seus softwares será o seguinte:

Tabela 2.3: Hardware das Máquinas

Hardware Modelo Especificação Marca

Processador AMD K6-2 500 MHz AMD

Placa-mãe M598LMR Socket 7* PC-Chips

CD-ROM Desconhecido** 52X Desconhecida**

Disco Rígido Diversos 10 GB, DMA Diversas

Monitor XT-4871 SVGA Metron*conforme [7], suporta os seguintes processadores: Intel P54C/P55C, Cyrix/IBM 6x86/6x86L/6x86MX/MII, IDT C6/

WinChip 2 e AMD K5/K6/K6-2/K6-3

**foi recentemente doado, todas as etiquetas estão desgastadas, só restando as informações frontais, o que não

inclui fabricante nem o modelo

Para a rede temos cabos de par trançado 10BASE-T, com conectores

RJ-45 e um hub de 8 portas, de marca desconhecida e sem funcionamento por

aproximadamente quatro anos.

22

Page 23: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

3 REQUISITOS TECNOLÓGICOS, PEDAGÓGICOS E SOCIAIS

Uma definição para requisito seria, “segundo a norma IEEE Std

1220-1994, (...) uma sentença identificando uma capacidade, uma característica física ou um fator de qualidade que limita um produto ou um processo” [8].

Neste capítulo, definiremos os requisitos funcionais e não-funcionais mais

relevantes [10] que nortearam as seleções do software, levando em conta

principalmente o contexto exposto no capítulo anterior.

3.1 REQUISITOS TECNOLÓGICOS

3.1.1 HARDWARE

A partir do contexto apresentado no capítulo 2 definiremos os requisitos

não-funcionais, ou seja, restrições do hardware.

Uma das principais limitações encontradas pela simples inspeção do

hardware é a quantidade de memória RAM6 disponível. Podemos contornar o

problema através de uma técnica suportada pelos principais sistemas operacionais

modernos, a memória virtual7, mas com grande perda de desempenho. Em nosso

6 RAM, do inglês Random Access Memory, ou memória de acesso aleatório. Designa a memória

principal do computador, de tecnologia volátil. Na hierarquia de memória fica entre as memórias

massivas e as memórias cache.7 A memória virtual é um método desenvolvido para possibilitar a um programa ser executado em

um computador com uma quantidade de memória principal menor que o tamanho de todo o

23

Page 24: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

caso o modelo de máquina utilizado tem 32 MB de memória principal disponíveis.

Para a instalação poderemos ter até 96 MB utilizando os três conectores de

memória da placa-mãe e remanejando os pentes de memória das outras máquinas.

O processador, ou CPU8 das máquinas consideradas é do modelo K6-2,

da fabricante AMD, que funciona a uma freqüência9 de 500 MHz. Lançado entre

1997 e 2001 [11], tem como importante característica possuir suporte a instruções

MMX [12], principalmente utilizadas para multimídia.

O disco padrão terá espaço de 10 GB para a instalação do sistema

operacional e dos softwares, além da memória swap10.

A tecnologia da rede será Ethernet, com topologia em barramento único

pois todos os equipamentos estão interligados por um HUB.

3.1.2 SOFTWARE

Um requisito fundamental, mas abstrato, é possuir independência

tecnológica. Podemos decompô-lo em três outros requisitos mais concretos:

• utilizar padrões abertos – um padrão é aberto se suas

especificações são de livre acesso a qualquer um e não existe nenhuma

restrição para sua utilização (como taxas, licenças, royalties). Através do uso

espaço utilizado pelo próprio programa, incluindo as instruções, os dados e a pilha de execução. A

parte do programa que não couber naquele momento na memória principal fica armazenada na

memória secundária, normalmente o disco rígido, até ser necessária ao processador.8 CPU, do inglês Central Processing Unit, ou Unidade Central de Processamento. Nos

computadores pessoais os elementos da CPU estão contidos na pastilha do microprocessador.9 Normalmente o termo utilizado é velocidade, porém, não é tão preciso, primeiro porque a unidade

apresentada é de freqüência, segundo porque nem sempre um processador de maior freqüência

processará mais rapidamente um determinado conjunto de instruções, dependendo de outros

fatores relativos a sua arquitetura, como pipeline ou paralelismo.10 Espaço em disco para implementação da memória virtual. No Linux pode-se criar uma partição

otimizada para uso exclusivo da memória virtual.

24

Page 25: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

de padrões abertos é viável uma transição suave para qualquer outra solução

que adote os mesmos padrões.

• possuir código fonte aberto – desta forma é possível, com o

conhecimento necessário, auditar o programa utilizado, garantindo, por

exemplo que ele não esteja realizando “computação traiçoeira”11.

• poder utilizá-lo para qualquer fim – é fundamental que não hajam

restrições ao uso. Por exemplo, devemos poder utilizar um software para fins

educativos, mesmo que não tenha sido criado para isso, sem ter de pedir

nenhuma licença, nem pagar nada a mais por isso.

Outra necessidade é o custo de aquisição ser o mais baixo possível,

preferivelmente nulo, pois não há fundos destinados a realização deste trabalho.

Este requisito vai ao encontro de uma solução que possa ser utilizada no

computador de qualquer um da comunidade.

Não podemos esquecer da escalabilidade, visto que faremos a instalação

de uma rede de computadores que poderá crescer com novos computadores,

geralmente oriundos de doações, com hardware diferentes.

A segurança também figura entre os requisitos, mas aqui nossa prioridade

será evitar danos ao sistema causados por acidentes com os usuários. Não nos

preocuparemos com usuários mal-intencionados, nem com a rede, pois neste

momento não haverá conexão com a Internet.

A acessibilidade será um critério levado em conta sempre que possível,

principalmente a que atenderá a portadores de necessidades especiais.

Consideradas as características gerais, podemos apresentar algumas

específicas, que serão requisitos funcionais ao conjunto de softwares que serão

instalados. Estes softwares não terão estrito objetivo pedagógico, podendo ser

utilizados para tal, mas visarão, principalmente, atender as demais demandas do

11 O termo é uma ironia com a trusted computing (computação confiável), que foi transformada em

treacherous computing. A computação traiçoeira define as políticas de grandes multinacionais

monopolistas que implementam através de hardware e software restrições ao controle das

máquinas pelos usuários. Normalmente é alegada a segurança e a defesa dos DRM - Digital

Rights Management (gerenciamento de direitos digitais). Leia mais no artigo “O que é seu é meu”,

de Rafael Evangelista, em <http://www.dicas-

l.com.br/zonadecombate/print/zonadecombate_20061106.html>

25

Page 26: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

laboratório. Neste caso os primeiros usuários a serem considerados são os

voluntários, diretores ou não, que lá produzem documentos e os armazenam. O

laboratório também já foi utilizado para dar “cursos básicos de informática”,

conforme dito anteriormente, que consistiam basicamente em prover algum contato

com a máquina em si e com softwares como editor de texto, de imagem, etc.

A partir daí definimos que deveríamos ter aplicativos para as seguintes

tarefas:

• editor de texto

• planilha eletrônica

• editor de imagens

• navegador web

• gerenciador de arquivos

• leitor de documentos no formato PDF

3.2 REQUISITOS PEDAGÓGICOS E SOCIAIS

Iniciaremos com a definição de bases para a seleção de softwares

educativos, aqui entendidos como aqueles produzidos na intenção de que sejam

utilizados em processos de ensino-aprendizado. Com os paradigmas explicitados no

capítulo 1, autonomia individual, autogestão e ação direta, enumeraremos alguns

requisitos[13]:

1. Favorecimento da capacidade de elaboração e criação do conhecimento a

partir da ação-reflexão-ação.2. Possibilidade de registro e consulta às ações desenvolvidas,

permitindo o processo de depuração.3. Desafio ao usuário em atividades que oportunizem o levantamento

de hipótese, a interação, a reflexão, a troca e a construção do seu conhecimento. (...)

4. Desafio à reflexão, possibilitando ao usuário buscar, construir, avaliar e valorizar sua produção.

5. Possibilidades de múltiplos caminhos para solução dos problemas.6. Favorecimento à utilização interdisciplinar.7. Instigação à procura de outras informações em diferentes fontes de

pesquisa.

26

Page 27: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

8. Integração e compromisso ético entre conhecimento e realidade social para soluções dos problemas.

Estes aspectos não são simples de avaliarmos e por si já suscitam intenso

debate. De qualquer forma, não devem servir de engessamento, mas como

orientadores do processo de seleção. Nem sempre os softwares escolhidos

atenderão a todos os requisitos. Portanto, tão importante quanto atendê-los, é

termos completa clareza de seus limites.

Outro aspecto sócio-cultural relevante é que as interfaces, manuais e

demais documentos relativos ao software estejam em português. O contato com

outras línguas não deve ser descartado, pois é importante no aprendizado das

mesmas, mas também não deve ser limitante ao uso da maioria dos softwares.

Por último, devemos buscar softwares cujas interfaces apresentem

elementos mnemônicos, como ícones, que façam parte de um contexto sócio-

cultural apreendido pelas crianças em sua vivência. Assim como exposto no

parágrafo anterior, conhecer elementos de outras culturas é interessante, mas, para

um primeiro contato, devemos propiciar que elas construam novo conhecimento a

partir de conteúdos já familiares.

27

Page 28: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

4 SELEÇÃO DO SOFTWARE

A partir dos requisitos já levantados, selecionamos os softwares que

compõem nosso trabalho. Em primeiro lugar elegemos o sistema operacional, pois é

a partir dele que a seleção de softwares, educativos ou não, será possível. Em

seguida listamos a os aplicativos mais adequados aos nossos critérios.

4.1 SISTEMA OPERACIONAL E GERENCIADOR DE JANELAS

O primeiro software para o qual devemos indicar requisitos é o sistema

operacional. O sistema operacional é o programa mais importante de um

computador, pois, além de gerenciar os recursos de hardware do computador, como

unidades de disco, memórias e dispositivos de entrada e saída, irá prover uma

máquina virtual12 para servir como base aos programas aplicativos [15]. Outra função

dos sistemas operacionais modernos é prover estas mesmas abstrações

diretamente aos usuários, através de programas que fazem parte do próprio sistema

operacional.

Tendo em vista os primeiros três requisitos que levantamos, relacionados

a independência tecnológica - a saber, utilizar padrões abertos, possuir código fonte

aberto e poder ser utilizado para qualquer fim - encontramos os programas

licenciados através da Licença Publica Geral [14], ou GPL, do inglês General Public

License. A GPL, assim como outras licenças de software livre, nos garantem a

satisfação de, pelo menos, estes três requisitos.

12 Máquina virtual ou máquina estendida, no contexto de sistemas operacionais, é uma abstração

provida ao programador e ao usuário final que encapsula diversas complexidades de se lidar

diretamente com o hardware real.

28

Page 29: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

Somente dois sistemas operacioanis estão disponíveis sobre a GPL, o

GNU/Linux e o GNU/HURD13, sendo que o segundo ainda não está em fase de

produção. Portanto, nossa opção óbvia é pelo GNU/Linux, que daqui em diante

chamaremos apenas de Linux.

Devemos, então, nos certificar que os outros requisitos sejam atendidos.

Quanto ao custo de aquisição, apesar do Linux poder ser vendido, a maior parte das

distribuições são disponibilizadas de alguma forma gratuita, algumas para download

FTP ou HTTP, ou até mesmo enviam mídias para sua casa14.

Em relação a escalabilidade, o Linux atende completamente as nossas

perspectivas. Com os protocolos de rede implementados em seu kernel15, ele é

muito eficiente em redes.

Ainda que a prioridade da segurança não seja contra pessoas mal-

intencionadas, mas contra danos causados pelo próprio usuário, o Linux nos oferece

uma boa garantia, devido ao sistema de restrição de acesso e privilégios. Na

verdade, existem algumas vulnerabilidades que possibilitam burlar os esquemas de

segurança, mas como necessitam de conhecimento técnico e da intenção, o Linux

estará bem protegido contra acidentes de usuários.

Finalmente temos a acessibilidade, que iremos buscar nos gerenciadores

de janelas e aplicativos.

Aqui é importante esclarecermos que o Linux é, como dito, o kernel, sobre

o qual irá rodar o gerenciador de janelas. É comum confundir-se as duas coisas,

pois o sistema que hoje quase monopoliza os computadores pessoais, o Microsoft

Windows, tem tudo isso fundido. No Linux a situação é diferente, pois rodando sobre

o mesmo núcleo, temos diversos gerenciadores de janelas [16]. Como exemplo

temos o KDE, Gnome, XFCE, IceWM e muitos outros.

O KDE e o Gnome, são os projetos mais conhecidos, porém, inviáveis

para o nosso trabalho devido ao espaço necessário em memória RAM e em disco. O

KDE, por exemplo, necessita de pelo menos 64MB de RAM e 500MB de disco para

uma instalação básica [17]. Portanto, pesquisamos gerenciadores de janela que

13 O HURD é o sistema operacional do projeto GNU. O Linux é um projeto independente.14 A distribuição Ubuntu envia Cds e DVDs para sua casa, bastando pedir no sítio.15 Kernel, palavra inglesa que significa núcleo. Neste caso define o núcleo funcional do sistema

operacional.

29

Page 30: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

fossem “leves”, ou seja, capazes de rodar em máquinas com pouca RAM.

Encontramos três: IceWM, WindowMaker e BlackBox.

Antes de prosseguir devemos definir o conceito de distribuição Linux.

Segundo [11], “distribuição Linux (ou simplesmente distro) é composta do kernel do

Linux e mais uma série de aplicativos com vários propósitos”. Portanto, com tantas

distribuições disponíveis, procuramos pela que poderia se encaixar nos nossos

requisitos. A vantagem que buscamos ao optarmos por uma distribuição, ao invés de

compilar o kernel, instalá-lo e posteriormente instalar o gerenciador de janelas, é

aumentarmos a possibilidade de sucesso na detecção do hardware e não termos os

diversos problemas de dependências de bibliotecas ao compilarmos ou instalarmos

programas. Além disso, ao utilizar uma distribuição, temos, normalmente, um

sistema com coerência estética, além de programas básicos para administração e

configuração do sistema e a facilidade da instalação de programas através de

pacotes16. A desvantagem é que, mesmo com toda autodetecção possível, algumas

otimizações para hardwares específicos só podem ser feitas através de

recompilação, sendo, portanto, um sistema pré-compilado geralmente menos

eficiente.

As distribuições que buscamos inicialmente são as que se propõem

fornecer ferramentas educacionais. Encontramos as seguintes:

• Freeduc e Freeduc Games [18] – duas distribuições voltadas para

crianças. O primeiro, em sua versão 1.4, para crianças nas séries iniciais e o

segundo com jogos infantis. Ambas tem como gerenciador de janelas padrão

o XFCE, que utiliza a biblioteca GTK+, a mesma do Gnome, porém

consumindo bem menos recursos. O XFCE pode ser leve o suficiente para

ser instalado em um computador com apenas 32 MB de memória RAM,

dependendo de sua configuração e do sistema base [25]. Nesse caso a base

do sistema é a distribuição KNOPPIX. A organização mantenedora é a

Organization for Free Software Education and Teaching – OFSET. Entre os

problemas encontrados temos o fato de não haver versões em português.

16 No Linux, a maioria das distribuições disponibiliza alguma ferramenta que permite a instalação de

programas através de pacotes, onde um pacote é um arquivo que encapsula um ou mais arquivos

(como biblioteca, manual, código fonte) e informações sobre sua instalação.

30

Page 31: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

• SkoleLinux [19] – esta é uma Distribuição Customizada Debian (ou

CDD, do inglês Custom Debian Distribution) e se propõe a prover uma

solução completa utilizando software livre para atender todos os casos de uso

em cenários educacionais. Por ser uma CDD herda o suporte a diversas

linguagens da distribuição Debian. O projeto também tenta classificar os

softwares livres empacotados e distribuídos relacionados a educação, além

de escrever documentação sobre os vários usos dos softwares no contexto

educacional. O maior problema encontrado são os requisitos mínimos de

hardware, que, baseado no Debian 4.0 (conhecido como etch), são

processador de 450 Mhz, e 256 MB de RAM, além de 8 GB de espaço em

disco.

• Edubuntu [20] – distribuição baseada no Ubuntu versão 7.10 que

concentra diversos programas educacionais. Objetiva também fornecer

grande acessibilidade em termos de idioma, padrões e deficiências motoras.

Aqui, novamente, temos a limitação do hardware para estações de trabalho,

que no caso do Edubuntu não foi encontrada no sítio, porém, a limitação para

clientes leves17 (ou thin clients) é de 48 MB de memória RAM, já além dos

requisitos. Por analogia ao SkoleLinux, que para o modelo de

servidor/clientes leves exigia pelo menos 32 MB de RAM, é razoável imaginar

que o Edubuntu também exija uma configuração mínima similar à do

SkoleLinux.

Todas estas distribuições também funcionam como Live-CD18.

Tendo em vista tal situação de impasse quanto ao requisito de memória

RAM necessária nas distribuições educacionais Edubuntu e SkoleLinux e a falta de

suporte ao nosso idioma pela Freeduc, passamos a buscar alguma distribuição que

satisfizesse estes requisitos, mesmo que não se auto-nomeasse educacional. Neste

17 Um cliente leve é um computador conectado à uma rede que não executa a maior parte dos

programas utilizados. Estes programas rodam diretamente em um servidor. No caso do Edubuntu

não é necessário que o cliente tenha sequer disco rígido, bastando que seja possível o boot pela

rede.18 Live-CDs são sistemas operacionais que rodam diretamente a partir do CD-ROM, sem a

necessidade da instalação no disco rígido. No caso de não ser necessário swap, nem precisamos

de disco rígido.

31

Page 32: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

caso teríamos que efetuar a seleção e instalação de todo o software que

desejássemos e não estivesse pré-instalado.

Nesta busca, encontramos algumas distribuições que se propunham a

rodar em máquinas antigas. O hardware que utilizamos não é muito antigo, porém

devido a limitação de memória estas distribuições provavelmente se adequariam.

Encontramos as seguintes distribuições:

• Dizinha [21] – distribuição baseada no Kurumin que objetiva “ser

pequena, leve e rodar em computadores mais antigos” [21]. A configuração

mínima exigida na versão 1.0 rodando a partir do CD é um Pentium de 166 MHz

(ou equivalente) e 40MB de Ram, sem disco rígido. Para a instalação no disco

rígido, a configuração cai para um Pentium 133 Mhz, com 32MB de Ram e 420

MB de espaço em disco. O gerenciador de janelas usado é o IceWM, que se

propõe a rodar satisfatoriamente em qualquer máquina que rode o servidor

gráfico X, inclusive em um computadores equivalentes aos 38619 [16].

• NeoDizinha [22] – esta distribuição, também baseada no Kurumin,

coloca-se como “preparada para PCs medianos ao invés dos antigos” [22]. Como

gerenciador de janelas é utilizado o XFCE. Em sua versão 2.0 a distribuição

requere um mínimo de 64 MB mais swap, processador de 500 Mhz e 1 GB de

espaço livre no disco rígido.

• VectorLinux [23] – baseada na distribuição Slackware, a VectorLinux,

na sua versão 4.3, tem como requisitos de hardware equivalentes a um Pentium

de 200 Mhz, memória RAM de 64 MB e 850 MB livres no disco rígido mais o

espaço para swap. O VectorLinux, nesta versão tem disponíveis os

gerenciadores de janela XFCE, Fluxbox and IceWM. O sistema está todo em

inglês.

Escolhemos então quais distribuições deverão ser testadas no

equipamento alvo. As que selecionamos como mais promissoras foram a Dizinha e a

NeoDizinha, pois estão em português, e poupam o trabalho de buscar traduções

para os programas já instalados. Ambas também se propõem a rodar em máquinas

19 Família de computadores compatíveis com o modelo IBM-PC que utilizavam processadores

80386, fabricados pela Intel.

32

Page 33: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

com hardware mais limitado, além de serem derivadas do Kurumin/Knoppix/Debian,

o que nos garante a facilidade na instalação de programas através da ferramenta

APT20 e o uso dos pacotes no formato Debian (o projeto Debian possui o maior

repositório de pacotes disponível). Quanto a acessibilidade, as duas se mostraram

com suporte precário, tendo apenas opções como uso de fontes maiores e

emulação do mouse via teclado. Mesmo o uso de cores mais contrastantes é

facilmente configurável, neste caso especificamente no IceWM.

O primeiro teste que realizamos foi tentar dar o boot21 diretamente dos

CDs. É fundamental compreender que quando o sistema inicia a partir de um CD o

requisito de memória mínima aumenta. Isto ocorre porque na carga do sistema

operacional é criado um disco virtual (ou ramdisc) na memória principal que

armazena diversos arquivos do sistema operacional. Este disco virtual simula um

disco com permissão de leitura e escrita, já que o CD-ROM é somente para leitura.

Este espaço fica ocupado durante toda a execução do sistema operacional.

Durante o boot a imagem no monitor desaparecia depois de alguma carga

e não retornava mais. Isso ocorreu com as duas distribuições. O primeiro

diagnóstico possível era um travamento durante o boot, daí alteramos diversos

parâmetros de carregamento dos módulos e de reconhecimento do hardware, porém

sem resultado. A mesma tentativa foi feita em outra das máquinas de mesmo

modelo de hardware, resultando no mesmo problema. Tentamos cada uma das

outras distribuições e a que durou um pouco mais no boot foi a SkoleLinux, onde

conseguimos configurar o boot para o modo texto: porém, o demasiado tempo de

carga, cerca de 3 horas para a barra de progresso indicar apenas 30%, inviabilizou a

instalação. Neste momento instalamos mais 32 MB de memória na máquina para

verificar se os problemas permaneciam, o que ocorreu.

Já desistindo do teste, planejávamos investigar as causas do problema,

quando conectamos um monitor de modelo diferente dos outros quatro, da marca

NEC, modelo MultiSync XV15+. Fizemos esta mudança apenas para testar o 20 APT, sigla do inglês Advanced Packaging Tool ou Ferramenta Avançada de Empacotamento. É

uma ferramenta para instalação de programas através dos pacotes citados anteriormente. Além

disso o APT tenta resolver todos os problemas de dependências entre pacotes e instalá-los na

ordem correta.21 Processo de início do sistema operacional, enquanto sua carga para a memória principal está

sendo realizada.

33

Page 34: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

monitor que acabara de ser doado. Neste momento observamos que a máquina que

havia sido deixada fazendo boot com o Dizinha estava pronta para uso, ou seja não

houve travamento, apenas a imagem desapareceu do monitor. Realizando então

alguns testes percebemos o monitor entrava em modo de espera quando o sistema

carregava o servidor gráfico. Descobrimos também que os comandos indicados para

carga do boot em modo texto não estavam funcionando, e, por isto, o monitor

apagava mesmo quando achávamos estar iniciando em modo texto.

Reiniciamos a máquina novamente com a Dizinha e, como esperado, o

sistema carregou completamente, visto seus requisitos mínimos e lembrando que

neste momento estávamos com 64 MB disponíveis. Neste momento testamos o

teclado e o som através de alguns jogos, todos funcionais. O mouse serial não foi

reconhecido, mas conseguimos configurá-lo manualmente no arquivo

/etc/X11/xorg.conf , onde percebemos que ele reconheceu como existente um

mouse USB:

InputDevice "USB Mouse" "CorePointer"

Neste caso devemos trocar o conteúdo por:

InputDevice "Serial Mouse" "CorePointer"

Bastando então reiniciar o X com as teclas Ctrl+Alt+Del.

Utilizando um conjunto de scripts disponibilizados em um programa

chamado “PainelX” reconfiguramos também o X para que utilizasse o padrão SVGA.

A partir daí o sistema funcionou normalmente com todos os monitores.

Testamos então a distribuição NeoDizinha, onde houve a carga completa

do sistema. A partir do CD tudo estava funcional, porém, muito lento, pois

estávamos sem swap. Após criarmos uma nova partição de 256 MB para swap o

sistema passou a responder com velocidade satisfatória, mesmo com o XFCE.

Deste modo, após este processo de seleção, definimos como distribuição

base a Dizinha, e como segunda opção a NeoDizinha.

34

Page 35: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

4.2 SOFTWARES EDUCATIVOS

Levando em consideração os requisitos explicitados na seção 2 do

capítulo 3, decidimos encontrar pelo menos um software de desenho livre, um editor

de texto, um editor visual de documentos de híper-texto (Hipertext Markup

Language, ou HTML), um visualizador de documentos HTML (um navegador, apesar

de não termos acesso à Internet) e um software que grave e reproduza áudio. Desta

forma realizamos uma pesquisa na Internet, procurando não somente os programas,

mas informações sobre os mesmos. Encontramos algumas informações em [29] e

[30] e com mais algumas buscas selecionamos os candidatos a fazerem parte da

instalação:

• Tux Paint [26] - o Tux Paint, apresentado na figura 4.1, provê uma

ferramenta de desenho simples, do ponto de vista de configurações de

resolução, tamanho do desenho e formatos do papel, porém com diversos

recursos criativos, como carimbos com figuras e ferramentas "mágicas", que

implementam efeitos visuais. Diversas opções tem um retorno sonoro quando

selecionadas.

35

Page 36: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

Figura 4.1: O programa de desenho Tux Paint, desenvolvido para crianças

O Tux Paint ainda vem com boa parte da interface traduzida,

bastando configurar o arquivo /etc/tuxpaint/tuxpaint.conf em qualquer editor de

textos. Esta configuração é perfeita para nosso ambiente de diversos

usuários, pois se sobrepõe a todos eles. É possível configurarmos para que o

programa se abra em tela cheia, permitir a impressão dos desenhos ou até

limitar a quantidade de impressões por determinado tempo (por exemplo, uma

impressão por dia ou por hora). Aqui também podemos desabilitar o som ou

definir a resolução, caso instalemos este programa em alguma máquina mais

antiga.

• AbiWord [27] – este é um editor de textos considerado um dos de

maior performance e menor consumo de memória para Linux com suporte a

documentos em formato .doc. No início era um software proprietário, porém o

código foi aberto e, desde então, tem evoluído continuamente.

36

Page 37: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

Figura 4.2: O processador de textos simples e leve AbiWord

Apesar de não possuir as características mais avançadas de

determinados editores, como os do pacote OpenOffice, ele tem todas as

características básicas, como suporte a imagens, tabelas, marcadores, notas

de rodapé, etc., mais acesso a banco de dados e exporta documentos no

formato PDF. Função importante é que ele lê e gera documentos HTML, o

que atende a nossa outra necessidade. Ainda é um programa

multiplataforma, rodando nos principais sistemas operacionais, o que permite

que seja usado em outros ambientes.

• Dillo [28] - para visualizar documentos em HTML puro, instalamos o

Dillo, que consome pouquíssima memória e é muito veloz na renderização.

Ele consome tão pouca memória que roda em alguns dispositivos móveis,

como handhelds. Seu pacote via APT tem apenas 366 KB.

37

Page 38: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

Figura 4.3: O navegador Dillo, tão leve que roda em handhelds com Linux

• Rec – infelizmente nossa busca por um programa de gravação e

com reprodução não teve resultados, por isso escolhemos o rec, que é um

programa em modo texto que serve para gravar o áudio de qualquer

dispositivo de entrada e pode capturar até o fluxo de áudio que esteja sendo

enviado para algum dispositivo de saída. Ele pode gerar arquivos em formato

WAV ou OGG Vorbis.

• XMMS – este programa é um tocador de música nos formatos MP3,

OGG Vorbis e WAV, além de aceitar plugins22 para adicionar funcionalidades.

Sem muitos adicionais e visual ele pode até rodar sob um modelo 486DX100

[16].

Concluímos então as necessidades mais básicas para propiciar um

ambiente minimamente criativo. Ainda assim é importante ter programas que

possibilitem o uso livre do computador pelas crianças. Com este objetivo

selecionamos alguns jogos educativos para serem instalados. Iniciamos com uma

22 Plugins são scripts, código fonte ou binários, que adicionam funcionalidade a um determinado

programa. Talvez a principal característica seja a leveza do tamanho (em bytes) e funcionalidade

em relação ao programa principal.

38

Page 39: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

suíte de atividades infantis chamada Childsplay [31], formada pelas seguintes

atividades:

• Jogo relacionando sons e figuras de animais, exemplificado na

figura 4.4, onde a criança deve clicar sobre a figura do animal e o som dele é

emitido. Desenvolve a percepção auditiva, além do uso do mouse.

Figura 4.4: Jogo relacionando sons e imagens

• Jogo da memória com sons, apresentado na figura 4.5, onde ao

clicar nos botões (que substituem as cartas) ouve-se um som, devendo o

usuário encontrar outro igual. Trabalha a capacidade de discriminação e

memória auditiva e o uso do mouse.

Figura 4.5: Jogo da memória com sons

39

Page 40: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

• Jogo de quebra-cabeça, como observamos na figura 4.6, onde se

deve montar uma imagem. Auxilia na identificação visual de imagens e na

coordenação com o mouse.

Figura 4.6: Quebra-cabeça

• Jogo no estilo pong, mostrado na figura 4.7, para até dois jogadores

via teclado. Trabalha a coordenação motora e a noção implícita de ângulos de

reflexão.

Figura 4.7: Jogo no estilo Pong

40

Page 41: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

• Jogo no estilo "come-come" ou pac-man, exemplificado na figura

4.8, com letras de palavras, onde se deve "comer" as letras na ordem correta

para formar as palavras. Pode ser bem aproveitado por crianças na

alfabetização.

Figura 4.8: Jogo no estilo “Come-come”

• Jogo para determinar qual das quatro operações básicas da

matemática completa a igualdade, observado na figura 4.9.

Figura 4.9: Descobrindo qual a operação matemática foi usada

41

Page 42: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

• Jogo da tabuada, exibido na figura 4.10, podendo se escolher o

múltiplo fixo, de 1 até 10, objetivando que o usuário entre com os valores dos

produtos via teclado. Este jogo aparenta ser o menos atraente da suíte.

Figura 4.10: Simples transposição da tabuada para o computador.

• Jogo da memória tradicional, como podemos visualizar na figura

4.11, com cartas na tela. Possui quatro níveis de dificuldade que vão

aumentando o número de cartas durante o jogo. Ajuda no desenvolvimento

da memória de curto prazo e da memória visual.

Figura 4.11: Tradicional jogo da memória.

42

Page 43: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

• Jogo de letras, exemplificado na figura 4.12. Neste jogo deve-se

copiar a palavra que aparece à esquerda, também representada em uma

figura. Possui quatro níveis, e, a partir do primeiro, as palavras aparecem sem

alguma letra, para que seja completada ao se reescrever a palavra. Colabora

no reconhecimento das letras do alfabeto individualmente e suas posições no

teclado e no reconhecimento de palavras ao associá-las a imagens.

Figura 4.12: Jogo cujo objetivo é reescrever a palavra.

• Esta atividade, demonstrada na figura 4.13, apresenta letras do

alfabeto e nomes de animais que iniciam com estas letras, além da figura do

animal. Também pronuncia a palavra e a letra.

43

Page 44: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

Figura 4.13: Atividade para reconhecimento das letras.•

• Jogo onde uma letra ou número são falados e deve-se clicar na

mesma letra ou número na tela, apresentada na figura 4.14. Possui três

níveis, com números, letras maiúsculas e minúsculas, respectivamente.

Auxilia na discriminação auditiva e no reconhecimento das letras e números.

Figura 4.14: Jogo cujo objetivo é reescrever a palavra.

• Jogo em que é tocado um som e depois deve-se clicar na figura

que associada aquele som. São três níveis, com animais, com instrumentos

musicais e com meios de transporte. Trabalha a capacidade de discriminação

auditiva e memória associativa entre sons e imagens.

44

Page 45: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

Figura 4.15: Jogo cujo objetivo clicar na figura associada àquele som.

• Na atividade da cascata de letras, como observamos na figura 4.16,

apresenta um cenário em que as letras caem e o jogador tem de apertar a

tecla equivalente àquela letra antes que a mesma chegue a parte inferior.

Trabalha no reconhecimento do alfabeto e auxilia no desenvolvimento do uso

do teclado.

Figura 4.16: Na cascata de letras o objetivo é teclar a letra antes que caia.

• Jogo de bilhar, onde deve-se colocar a bola no buraco,

exclusivamente usando o mouse. A dificuldade vai aumentando com mais

bolas. Trabalha a destreza no uso do mouse e com ângulos e força.

45

Page 46: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

Figura 4.17: Jogo de bilhar, com regras simples.

Para alguns dos jogos da suíte existem pacotes com palavras em

português, para outros somente em inglês, mas no sítio existem manuais ensinando

como traduzir o que não estiver na língua desejada. Em muitos casos, basta

substituir as listas de palavras existentes em arquivos texto. Na figura 4.18 vemos o

menu inicial:

Figura 4.18: Menu inicial da suíte Childsplay.

Também encontramos mais alguns softwares que achamos interessante

instalar:

46

Page 47: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

• XAbacus [32] - Um programa que simula um ábaco (Fig. 4,19).

Pode estar nos formatos dos ábacos chinês, japonês, russo, coreano e

romano. O ábaco permite que algumas crianças assimilem os conceitos de

números e as operações de soma e subtração, podendo, a partir destas,

compreenderem a multiplicação e a divisão.

Figura 4.19: Xabacus

• KHangMan [33]- Jogo da forca em diversos idiomas. Porém, na

versão mais nova os arquivos de tradução não funcionaram, pois o modelo

antigo utilizava apenas uma lista de palavras e o mais novo utiliza uma lista

de palavras e dicas em um documento no formato eXtensible Markup

Language ou XML. Para traduzir basta editar os arquivos em /usr/share/apps/

khangman/data/en. Apesar de utilizar algumas bibliotecas do KDE, ele se

propõe leve o suficiente para nossos propósitos.

• Kturtle – Baseado na linguagem de programação Logo. O Logo é

uma linguagem de programação desenvolvida pelo professor Seymour

Papert, no Massachusetts Institute of Technology (MIT), tendo sua primeira

versão lançada em 1967 [34]. Papert havia trabalhado com Piaget, criando o

Logo a partir de princípios pedagógicos, não somente computacionais. Existe,

inclusive, uma metodologia Logo, que implementa uma metodologia de

ensino baseada no computador [35]. Por ser uma linguagem de programação

fácil de aprender, permite rapidamente seu uso por crianças, facilitando a

47

Page 48: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

construção de conceitos espaciais, linguagem matemática e programação. O

Logo inverte completamente a visão do computador como máquina de

ensinar, transformando-o em uma máquina de aprender, colocando-o como

uma poderosa ferramenta de apoio a solução de problemas nas mão das

crianças. Nesta versão, 0.6, o KTurtle ainda não foi completamente traduzido,

o que podemos fazer através do arquivo

kdeedu/kturtle/src/data/logokeywords.en_US.xml editando-o e renomeando-o

para logokeywords.pt_BR.xml.

Figura 4.20: Kturtle, baseado na linguagem de programação Logo

4.3 DEMAIS SOFTWARES

A partir da definição da necessidade de aplicativos mais gerais, citados no

capítulo 2, como editor de texto, planilha eletrônica, editor de imagens, navegador

web, gerenciador de arquivos e leitor de documentos no formato PDF, vamos efetuar

uma seleção para estas funções. Podemos iniciar eliminando o editor de textos, que

já foi escolhido anteriormente (AbiWord) e o navegador (Dillo). Para planilha

eletrônica escolhemos Gnumeric, pois, além de estar em português, é capaz de

importar planilhas do Excell, produto proprietário da Microsoft. Desta forma

48

Page 49: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

resolvemos o problema dos documentos legados do Windows, que existem no

CFNSG. Como leitor de PDFs usaremos o xPDF [36]. Quanto ao gerenciador de

arquivos vamos utilizar o que esta disponível na distribuição, no mínimo o mc, um

gerenciador em modo texto, mas que aceita o uso do mouse. Para editor de

imagens selecionamos o Gimp, pois segundo [16] é possível rodá-lo até num

Pentium 133 Mhz, com 32 MB de RAM, porém não deve-se utilizar efeitos e filtros

mais pesados.

49

Page 50: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

5 INSTALAÇÃO DO AMBIENTE

Neste capítulo descrevemos a instalação do sistema operacional e dos

softwares que selecionamos no capítulo anterior.

5.1 SISTEMA OPERACIONAL

Antes de iniciar a instalação nas máquinas alvo, decidimos testar a

instalação em algum outro computador com acesso a Internet, principalmente para

poder efetuar consultas em manuais e fóruns. O hardware da máquina utilizada era

um processador de 1.4 Ghz, 512 MB de memória principal e 7 GB de espaço livre

em disco, com conexão à Internet de 1 Mbits.

Iniciamos configurando a BIOS23 para começar a carga do sistema a partir

do drive de CD-ROM. Feito isso damos o boot pelo CD da distribuição Dizinha.

Após a carga completa do sistema testamos os principais dispositivos

como mouse, placas gráficas, de som, de rede, leitores de CD e o HD. Este teste é

fundamental com sistemas baseados no Knoppix, pois ele garante que após a

instalação não haverá problemas, pois são utilizadas as mesmas configurações.

Iniciamos então a instalação do sistema. Para tal escolhemos a opção

“instalar no HD”, encontrada no programa “PainelX”, acessado pelo menu “Iniciar”. O

programa de instalação é uma versão alterada do script knx-hdinstall do Knoppix.

A primeira ação que o instalador nos solicita é configurar o vídeo. Neste

caso não temos nada a alterar. É importante frisar, como vimos na seção 1 do

capítulo 4 que o mouse é configurado aqui.

23 Do inglês Basic Input and Output System, ou Sistema Básico de Entrada e Saída. É o primeiro

programa executado na máquina, e se encarrega de testar dispositivos e controladoras, configurar

o hardware e prepará-lo para o que o sistema operacional assuma o comando.

50

Page 51: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

O próximo diálogo do instalador nos pergunta em qual HD desejamos

realizar a instalação. Selecionado, devemos optar por um dos dois programas

disponíveis para gerar ou alterar partições, o Gparted, que roda em modo gráfico e o

cfdisk, que roda em modo texto. Selecionamos o cfdisk, porém não o utilizamos, pois

já temos uma partição de 7 GB livres no HD no sistema de arquivos ReiserFS e uma

partição swap de 512 MB. Ao fechar o cfdisk aparece mais opções: escolher a

partição que será utilizada para swap e a partição em que será instalado o sistema.

Em seguida nos é solicitado o sistema de arquivos, onde escolhemos o ReiserFS,

optando em seguida por não formatar a partição, porque já a formatamos

anteriormente à instalação.

Feito isto, inicia-se a cópia do sistema. A cópia durou uns seis minutos. Na

verdade o Knoppix apenas descompacta a estrutura de arquivos do CD e os

arquivos de configuração do ramdisk para o HD, o que torna o processo muito

rápido.

Agora nos é solicitado um nome e o endereço IP24 para a máquina, além

de senha para root e para o usuário pré-definido Knoppix e configurações de acesso

a Internet. A mais importante desta etapa é sobre o gerenciador de boot a ser

utilizado. O gerenciador de boot permite termos diversos sistemas operacionais em

diversas partições do HD ou Hds. No nosso caso não precisaremos configurar nada,

pois já o fizemos no gerenciador já instalado na máquina.

Por fim reiniciamos a máquina verificamos que a instalação ocorreu

conforme o esperado.

Apesar da instalação perfeita, quando tentamos instalar via a ferramenta

APT (abrindo um terminal dentro do ambiente gráfico) os programas AbiWord,

Childsplay e Gnumeric, foram retornados diversos erros relativos a problemas de

dependências entre pacotes que o APT declarou impossível de solucionar.

Lembramos que antes de utilizar a ferramenta APT para instalar pacotes, devemos

executar o comando

$ apt-get update

24 IP, de Internet Protocol, ou em português, Protocolo da Intenet. O IP é um protocolo da camada de

rede.

51

Page 52: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

que atualiza a lista de pacotes disponíveis nos repositórios aos quais o

APT irá acessar. Os comandos só funcionarão se o usuário estiver logado como

root.

Adiantamos aqui esta informação sobre o problema na instalação dos

programas, porque a partir dela descobrimos em [21] que a distribuição Dizinha,

versão 1.0, havia sido lançada em setembro de 2005. Neste tempo de dois anos

muitas bibliotecas mudam de versão, deixam de existir, ou de dar suporte a certas

funções. Poderíamos realizar uma atualização geral no sistema através da

ferramenta APT, com o comando

$ apt-get upgrade

porém, perderíamos o controle do que estaria instalado e provavelmente a

instalação deixaria de ser enxuta; ou então perderíamos muito tempo analisando

pacote a pacote, instalando somente o necessário. Ainda poderíamos, com uma

atualização completa do sistema, comprometer o funcionamento de diversos

programas já pré-instalados.

Então a decisão tomada foi utilizar a distribuição NeoDizinha.

Refizemos todo o procedimento de instalação, somente diferindo no fato

de que formatamos a partição. Após o sistema iniciar do HD instalamos o

gerenciador de janelas IceWM, o mesmo da Dizinha. Apesar de o XFCE, que já vem

na NeoDizinha ser leve, não será o suficiente para os 32 MB das máquinas em que

faremos a instalação final.

Iniciamos com o comandos já explicados acima:

$ apt-get update

Depois entramos com o comando que instala um pacote e suas

dependências se ele estiver disponível:

$ apt-get install icewm

52

Page 53: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

Terminada a instalação do IceWM, saímos do XFCE, pelo menu “Iniciar”.

Já em modo texto, iniciamos o IceWM com o comando:

# starticewm

O gerenciador carregou corretamente, com os menus em português.

5.2 SOFTWARE EDUCATIVO

Com o sistema operacional e o gerenciador de janelas instalado, podemos

iniciar a instalação dos softwares educativos.

Podemos utilizar a sintaxe do APT para instalar todos os programas de

uma vez.

$ apt-get install abiword tuxpaint rec dillo xmms childsplay xabacus khangman kturtle

No caso do childsplay, o programa veio completamente em inglês, mas

pesquisando um pouco descobrimos que existia o pacote childsplay-alphabet-

sounds-pt, com sons do alfabeto em português, além do pacote childsplay-plugins

que instala o restante dos jogos da suíte. Para descobrirmos todos os pacotes

disponíveis via APT para um determinado programa, como por exemplo tuxpaint,

basta entrar com o comando

$ apt-get install tuxpaint

e pressionar duas vezes a tecla Tab que o sistema retornará os pacotes

disponíveis com aquele prefixo, se houverem:

53

Page 54: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

tuxpaint tuxpaint-datatuxpaint-stamps-default tuxpaint-configtuxpaint-stamps

Após instalarmos os programas, todos foram testados e nenhum problema

ocorreu.

5.3 DEMAIS SOFTWARES

Para a instalação do Gnumeric e do xpdf o procedimento é o mesmo:

$ apt-get install gnumeric xpdf

Os dois softwares foram testados e tudo funcionou perfeitamente.

5.4 INSTALAÇÃO FINAL

Para nossa instalação na máquina do padrão que estabelecemos,

utilizamos os mesmos procedimentos apresentados na seção 5.1. As únicas

diferenças foram:

• configuramos o mouse serial, que não foi reconhecido durante o

boot, conforme indicado na seção 4.1.

• Particionamos o HD em 256 MB para swap e o restante para uma

partição única, formatada em ReiserFS, que possui sistema de redundância,

suportando diversos problemas, como inconsistências devido a

desligamentos inadequados.

54

Page 55: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

É importante registrar que para dar o boot do CD instalamos mais um

pente de 32 MB na máquina, ficando com um total de 64 MB. Ao final da instalação,

antes de reiniciar a máquina retiramos o pente adicional.

Após instalar o Neo Dizinha, fomos para a instalação do IceWM e dos

demais softwares. Como não havia conexão com a Internet, não podíamos

simplesmente instalar a partir de repositórios na Web. Porém, o APT baixa os

pacotes que instala para a pasta /var/cache/apt/archives. Podemos então utilizar

estes pacotes através do programa dpkg, com a sintaxe

dpkg -i pacote.deb

onde o pacote.deb é o pacote que queremos instalar. O problema desta

abordagem é que teremos de saber a ordem correta de instalação de alguns

pacotes. Por isso optamos por gerar um repositório local num CD-ROm com os

pacotes baixados pelo APT. A partir daí podemos utilizá-lo para instalar os mesmos

pacotes que na máquina com a conexão à Internet.

Adaptando as instruções em [37], devemos entrar num terminal, entrar na

pasta onde estão os pacotes:

# cd /var/cache/apt/archives

Acessamos como root e digitamos o seguinte comando, que faz parte da

ferramenta APT:

$ apt-ftparchive packages ./ > ./Packages

Este comando gerou um índice dos pacotes no arquivo Packages.

Compactamos o arquivo com

$ gzip -9 Packages

Que, por sua vez, gerou o arquivo Packages.gz

55

Page 56: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

Pegamos todo o conteúdo da pasta e gravamos num CD, transformando-o

num repositório. Na máquina em que queremos instalar os programas, configuramos

o arquivo que contém os endereços dos repositórios editando o arquivo source.list

em /etc/apt/.

Lá acrescentamos uma linha indicando o caminho onde estará nosso CD-

ROM. No nosso caso o CD-ROM é montado em /mnt/cdrom/, portanto inserimos no

arquivo a linha deb file:/mnt/cdrom ./

Após salvar o arquivo, executamos o comando

$ apt-get update

para atualizarmos a lista de pacotes a partir do novo arquivo. A partir daqui

bastou utilizarmos o comando

$ apt-get install programa

que a instalação ocorreu normalmente.

Finalmente terminamos a instalação e testamos os programas um a um e

todos funcionaram. Somente o Childsplay e o Kturtle demoraram um pouco mais

para carregarem, quase um minuto.

56

Page 57: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

6 CONCLUSÕES

Com a realização deste trabalho pudemos constatar que na parte técnica,

os objetivos foram alcançados. Percebemos também que existem diversos outros

caminhos para utilização de software livre em máquinas com poucos recursos. Um

dos mais promissores é utilizar a arquitetura clientes leves/servidores de aplicações.

Com software livre instalado, esperamos desmistificar seu uso, além de

criar uma cultura onde não se dependa de licenças e taxas para uso do computador,

já não bastando seu preço proibitivo.

Embora não sejam muitos os programas educativos instalados, diversos

deles permitem uma abordagem livre para atividades educativas diversas.

Programas simples como Tux Paint podem desenvolver diversas habilidades,

capacidades de raciocínio, expressão artística e estética. Outro programa muito

poderoso é o Kturtle. Desta forma alcançamos também os objetivos pedagógicos de

não nos prendermos na camisa de força dos conteúdos curriculares formais.

Concluímos, portanto, que a intenção inicial do trabalho foi alcançada.

Porém, não devemos permitir que as atividades aí terminem, pois um laboratório

sem uso será um completo desperdício de recursos que na comunidade são

escassos ou inexistentes. Para isso deve-se planejar atividades que ponham as

crianças frente à frente com o computador e alavanquem uma transformação a partir

do resultado deste trabalho.

57

Page 58: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. <http://www.ibge.gov.br>

Acesso em 17 de setembro de 2007.

2. SILVEIRA, Sérgio Amadeu; Inclusão Digital, Software Livre E Globalização Contra-hegemônica. In: Centro de Gestão e Estudos Estratégicos: Ministério

da Ciência e Tecnologia. (org.). Seminários Temáticos para a 3ª Conferência

Nacional de Ciência e Tecnologia e Inovação. Brasília: , 2005, v. , p. 421-446.

3. FSFLA – Fundação Software Livre América Latina <http://www.fsfla.org>

Acesso em 15 de setembro de 2007.

4. GALLO, Silvio. Pedagogia Libertária: anarquistas, anarquismos e educação. São Paulo: Editora da Universidade Federal do Amazonas, 2007.

5. ALVES, José Cláudio Souza, Violência e religião na Baixada Fluminense: uma proposta teórico-metodológica. Revista Rio de Janeiro, n. 8, p. 59-82,

set./dez. 2002.

6. WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros.

OEI, 2007. <http://www.oei.org.br/mapa_da_violencia_baixa.pdf> Acesso em

22 de outubro de 2007.

7. http://www.motherboard.cz/mb/pcchips/M598LMR.htm

8. Morimoto, Carlos E. Sobre as placas PC-Chips. Texto de 04/05/2001.

<http://www.guiadohardware.net/artigos/placas-pcchips/> Acesso em 24 de

outubro de 2007.

9. XEXÉO, Geraldo. Modelagem de Sistemas de Informação: Da Análise de Requisitos ao Modelo de Interface. <http://wiki.xexeo.org> Acesso em 24

de outubro de 2007.

10.PFLEEGER, Shari Lawrence. Engenharia de Software: teoria e prática.2

ed. São Paulo: Prentice Hall, 2004.

11.Wikipédia. Wikipédia, a enciclopédia Livre. <http://pt.wikipedia.org> Acesso

em 26 de outubro de 2007.

58

Page 59: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

12.AMD. <http://www.amd.com/br-pt/> Acesso em 26 de outubro de 2007.

13.Grupo de Estudos e Pesquisas Sobre o Emprego das Novas Tecnologias

Educacionais. Aspectos relevantes para análise de software educativo.

<http://www.ufmt.br/ufmtvirtual/textos/se_analise.htm> Acesso em 15 de

setembro de 2007.

14.Projeto GNU. <http://www.gnu.org/licenses/gpl-howto.pt.html> Acesso em 14

de setembro de 2007.

15.TANENBAUM, Andrew S., WOODHULL Albert S. Sistemas Operacionais: projeto e implementhttp://childsplay.sourceforge.netação. 2 ed. Porto

Alegre: Bookman, 1999.

16.MORIMOTO, Carlos. Entendendo e Dominando o Linux. São Paulo:

Digerati Books, 2006.

17.KDE - K Desktop Environment. <http://docs.kde.org/development/en/kdebase/

faq/install.html#id2547229> Acesso em 17 de setembro de 2007.

18.OFSET - Organization for Free Software Education and Teaching <http://www.ofset.org> Acesso em 20 de outubro de 2007.

19.SkoleLinux. <1.http://www.skolelinux.org> Acesso em 21 de outubro de 2007.

20.Edubuntu. <http://www.edubuntu.org> Acesso em 17 de outubro de 2007.

21.Dizinha. <http://dizinha.codigolivre.org> Acesso em 15 de setembro de 2007.

22.NeoDizinha. <http://neodizinha.codigolivre.org> Acesso em 15 de setembro

de 2007.

23.VectorLinux. <http://www.vectorlinux.com> Acesso em 27 de setembro de

2007.

24. IceWM. <http://www.icewm.org> Acesso em 18 de outubro de 2007.

25.XFCE. <http://wiki.xfce.org> Acesso em 05 de novembro de 2007.

26.Tux Paint. <http://www.tuxpaint.org> Acesso em 05 de novembro de 2007.

27.AbiWord. <http://www.abisource.com> Acesso em 05 de novembro de 2007.

28.Dillo. <http://www.dillo.org> Acesso em 05 de novembro de 2007.

29.Consejería de Educación de la Junta de Extremadura. LinexEdu.

<http://linexedu.educarex.es> Acesso em 05 de novembro de 2007.

30.EscolaBR. <http://www.escolabr.com/virtual/wiki> Acesso em 05 de novembro

de 2007.

59

Page 60: Instalação de Software Livre Educacional - Uma Experiência Na Periferia de Nova Iguaçu

31.Childsplay <http://childsplay.sourceforge.net> Acesso em 05 de novembro de

2007.

32.Xabacus. <http://www.tux.org/~bagleyd/abacus.html> Acesso em 05 de

novembro de 2007.

33.KhangMan. <http://edu.kde.org/khangman> Acesso em 05 de novembro de

2007.

34.Epistemology and Learning group. <http://el.media.mit.edu> Acesso em 18 de

outubro de 2007.

35.VALENTE, José Armando. Diferentes usos do Computador na Educação.

<http://www.educacaopublica.rj.gov.br/biblioteca/educacao/educ27g.htm>

Acesso em 15 de setembro de 2007.

36.xpdf. <http://www.foolabs.com/xpdf> Acesso em 08 de novembro de 2007.

37.Guia do Hardware. Instalando programas via apt-get num repositório local. <http://www.guiadohardware.net/kurumin/dicas/010/> Acesso em 08 de

novembro de 2007.

60