iniciação à vida cristã -...

Iniciação à vida Cristã

Chaves de leitura do documento 107 da CNBB

No mais íntimo de mim

Ele está no mais íntimo de mim,

e é aquele que desperta meu ser

com seus toques profundos e ocultos...

Ele é quem põe seu encanto em meus olhos

e, alegremente, pulsa as cordas de meu coração

em cadências variadas de prazer e pesar...

Ele é quem tece a tela desta ilusão em vaporosos matizes de ouro e prata, azul e verde, deixando aparecer entre as dobras seus pés e, em contato com eles, Esqueço a mim mesmo...

Passam-se os dias, os anos se esvaem, e é sempre Ele quem move meu coração com mil nomes e disfarces, em muitos êxtases de alegria e tristeza.

Memória:

Documentos do Concílio (SC, Decreto Christus Dominus, Decreto Ad Gentes) tratam do catecumenato preocupação com a “instrução catequética”.

A Catequese Renovada e a prioridade dos

adultos

O Diretório Geral para a Catequese (1997) e a insistência na Iniciação cristã dos adultos como prioridade

Diretório Nacional de Catequese - 2007 e a prioridade da retomada da inspiração catecumenal sobretudo com adultos

2007 – Documento de Aparecida

Insistência na Iniciação à vida cristã de toda a catequese e de toda a Igreja

3ª Semana Brasileira de Catequese - 2009

Iniciação à vida cristã e inspiração catecumenal

DGAE 2011-2015 e 2015 a 2019

Iniciação à vida cristã é elevada a URGÊNCIA DA AÇÃO EVANGELIZADORA DA IGREJA

Documento 107 – aprovado 2017

O Esquema do documento

• Capítulo 1 – Um ícone bíblico: Jesus e a Samaritana Este belo capítulo apresenta o encontro de Jesus com a Samaritana. Convida o leitor a contemplar esse encontro transformador, que ilumina as reflexões sobre a Iniciação à Vida Cristã (IVC): - Primeiro passo: o encontro - “Dá-me de beber” (Jo 4,7). - Segundo passo: o diálogo - “Se conhecesses o dom de Deus” (Jo 4,10). - Terceiro passo: conhecer Jesus - “Quem beber da água que eu lhe darei, nunca mais terá sede” (Jo 4,14). - Quarto passo: a revelação - “Sou eu, que falo contigo” (Jo 4,26). - Quinto passo: o anúncio - “Vinde ver... Não será ele o Cristo?” (Jo 4,29). - Sexto passo: o testemunho - “Nós mesmos ouvimos e sabemos... é o Salvador do mundo” (Jo 4,42).

Capítulo 2 – Aprender da história e da realidade: Ver

• O capítulo descreve o processo de IVC ao longo da história, apresenta o caminho que já conseguimos fazer através da publicação de vários documentos importantes sobre a temática.

• Insiste na urgência de um novo processo de IVC, diante do momento de crise que vivemos neste mundo em mudança.

• Destaca, com um olhar pastoral, aspectos da realidade que desafiam o anúncio do evangelho.

• No final, propõe um caminho a ser percorrido neste tempo de conversão pastoral que nos pede gestação permanente, sem nos apegarmos a um único modelo. Apresenta a inspiração catecumenal como uma dinâmica, uma pedagogia, um itinerário mistagógico para a transmissão da fé.

Capítulo 3 – Discernir como Igreja: Iluminar

• Este capítulo é o coração do documento. Começa lembrando que a IVC é a articuladora das urgências da ação evangelizadora. Depois, prossegue com uma ampla reflexão sobre a IVC com inspiração catecumenal:

- Iniciação: mergulho pessoal no mistério de Deus (n. 77 a 82).

- Iniciação à vida cristã: mergulho no mistério de Cristo (n. 83 a 87).

- Dimensões teológicas da Iniciação à Vida Cristã (n. 88 a 104).

Capítulo 3 – Discernir como Igreja: Iluminar

O capítulo apresenta, ainda, o sujeito indispensável à IVC que é a comunidade cristã, abordando a imersão no mistério de Cristo, mediante a Igreja:

• - A Igreja: uma comunidade querigmática e missionária (105 a 111).

• - A Igreja: uma comunidade mistagógica e materna (112 a 115).

• Na sequência, o capítulo descreve o processo de inspiração exposto no RICA. E, faz uma reflexão sobre os sacramentos da Iniciação à Vida Cristã. E, conclui afirmando que a vivência cristã é fruto da iniciação.

Capítulo 4 – Propondo caminhos: Agir

• É o capítulo que apresenta propostas para um Projeto Diocesano de Iniciação à Vida Cristã. Faz indicações para cada tempo de um processo de inspiração catecumental: Querigma, Catecumenato, Purificação e Iluminação, Mistagogia.

• Insiste que o processo precisa de acompanhamento e formação dos agentes da IVC, acentuando a centralidade da Palavra de Deus nesse processo formativo.

• O capítulo também trata das instâncias formativas e dos sujeitos da IVC, destacando que a mesma não é tarefa específica da catequese, mas envolve, comunidade, família, liturgia, entre outros.

Possíveis chaves de Leitura

Chave Antropológica

• “Os conteúdos da Iniciação à vida cristã implicam em uma atenção inseparável às realidades humanas. Afinal, a fidelidade a Deus e a fidelidade ao homem constituem ‘uma única atitude de amor’”(IVC 165)

• Todo o Capítulo 1 – trata do encontro de Jesus com a Samaritana.

• A relação Fé e vida está presente em todo o texto.

• A IVC e a celebração eclesial dos sacramentos são apresentadas como uma experiência de fé humana, que busca em Deus a razão da própria caminhada.

Chave Antropológica

“É o encontro pessoal com Jesus Cristo, e não o simples conhecimento de doutrina, que vai sustentar e fazer crescer a fé que vai ser a grande fonte animadora de nossa vida” (n.164).

• O número 90 retomará essa descrição psicológica do ser humano à procura de Deus, ao dizer que “a Iniciação à Vida Cristã, portanto, deve acolher e iluminar as questões existenciais da vida de cada pessoa. O que significa enraizar-se no complexo tecido da existência concreta dos interlocutores e de suas realidades sociais”.

Assim, a pessoa humana como ser social, encarnada no concreto de uma realidade desafiadora e carente do fermento do Evangelho, é sempre lembrada.

O documento abre-nos os olhos para as transformações no país que abalam valores pessoais, familiares e toda a sociedade (cf. n. 39), chegando mesmo a descrever os mais relevantes desafios da realidade mundial e brasileira (cf. n. 53):

- crise ética

- a violência

- a intolerância ao diferente

- pluralismo religioso

- internet e redes sociais

- pastoral de manutenção

A crise gera novos tipos de interlocutores com que a Igreja tem que dialogar, isto é, os que estão nas “Samarias dos nossos dias” (idem), a quem os evangelizadores são enviados para, “a partir de suas necessidades, apresentar-lhes o primeiro anúncio sobre Jesus Cristo” (n. 154).

Diversidade dos samaritanos a quem se destina a proposta de Iniciação:

- família (nn. 199-204), adultos (n. 205),

- adolescentes e jovens (nn. 206-210), crianças (nn. 211-213),

- pessoas com deficiência (nn. 214-216), grupos culturais (nn. 217-219),

- pessoas em situações específicas (nn. 220-221), adultos não suficientemente evangelizados (nn. 222-224) e comunidades em geral (nn. 225-226).

Chave Bíblica

A Palavra de Deus ocupa um lugar relevante no documento (ilumina a reflexão).

Uma espiritualidade bíblica ilumina o caminho iniciático, o que favorecerá a superação de uma deficitária sacramentalidade da Palavra que, na prática, perpassa o imaginário do povo católico.

Insistência do documento na centralidade da Palavra de Deus nos processos de Iniciação à Vida Cristã. Ele pede que as dioceses revisem seus textos, não descuidando de alguns critérios essenciais, entre os quais figura a centralidade da Palavra, tanto enquanto narrativa da História da Salvação, quanto método de oração (cf. n. 167)

Recomenda uma catequese “impregnada e embebida do pensamento, espírito e atitudes bíblicas e evangélicas, mediante um contato assíduo com os próprios textos sagrados” (n. 179).

Investir na Leitura orante da Bíblia e nos grupos de encontros bíblicos como lugar de catequese, sobretudo com adultos.

Chave eclesiológica

É nas chaves Eclesiológica e Catequético-Metodológica que o documento mais se detém, e isso se justifica, obviamente, pela sua finalidade, isto é, “construir um novo paradigma pastoral” (n. 3), entendendo a Igreja como

“casa de Iniciação à Vida Cristã”, a grande responsável por um processo iniciático que conduza para dentro do mistério amoroso do Pai e para a inserção na comunidade eclesial, para que o iniciado possa “professar, celebrar, viver e testemunhar a fé em Jesus Cristo, no Espírito Santo” (n. 61).

É convicção dos bispos que só se pode falar de Iniciação à Vida Cristã na Igreja e com a Igreja, mediadora da relação com Cristo (cf. n.93).

A comunidade cristã “é a responsável pelo rosto que a Igreja vai apresentar a quem dela se aproxima. (...). Quem busca Jesus precisa viver uma forte e atraente experiência eclesial. A Iniciação dos chamados ao discipulado se dá pela comunidade e na comunidade” (n. 106), com dedicação, paixão formativa e evangelizadora, com misericórdia, e de maneira criativa e corajosa (cf. nn. 76. 109). Aqui se visibiliza, de maneira experiencial, a face materna da Igreja (cf. n. 112).

Mas qual seria a grande mensagem da qual a Igreja é portadora e responsável em comunicar ao ser humano?

Qual é a “fé da Igreja”, capaz de mudar a vida dos samaritanos e samaritanas de todos os tempos?

Trata-se do conteúdo essencial do chamado querigma, isto é, primeiro anúncio do mistério pascal. Trata-se da “vida de Jesus de Nazaré, de sua pessoa, de sua mensagem de sua missão e de seu momento culminante de morte e ressurreição (Páscoa)” (n. 41).

A Iniciação à Vida Cristã é pensada pelo documento como a grande articuladora das urgências pastorais delineadas pelas Diretrizes da CNBB. Seus processos supõem “uma Igreja em estado permanente de missão” (n. 65), é “lugar de animação bíblica da vida e da pastoral” (n. 66), e é realizada pela Igreja entendida como “comunidade de comunidades” (n. 67), entendendo-se que a pessoa iniciada assume concretamente, como o Cristo, a “missão e testemunho de fraternidade, solidariedade, justiça social, paz, salvaguarda da criação, construção de um mundo melhor para todos” (n. 68), isto é, põe-se a serviço da vida plena para todos. DGAE 2015-2019, n. 32.

Outro aspecto eclesiológico tratado com relevância pelo documento, especialmente entre os números 123 a 133, refere-se à unidade teológica dos sacramentos da Iniciação à Vida Cristã e sua fragmentação ao longo da história.

Os bispos acenam, embora não apontem caminhos de solução, para a necessidade de se recuperar a unidade pastoral desses sacramentos (cf. nn. 126.143), e para a necessidade de revisão da ordem dos sacramentos, visto que não é a crisma, e sim a eucaristia, a plenitude da Iniciação (cf. n. 132), por realizar o que foi anunciado desde o batismo: a total comunhão no Corpo de Cristo.

CHAVE CATEQUÉTICA E METODOLÓGICA

“Não se trata de fazer apenas ‘reformas’ na catequese, mas de rever toda a pastoral” (n. 138), como já lembramos acima. E nem se trata de uma “pastoral a mais, mas de um eixo central e unificador de toda ação evangelizadora e pastoral” (n. 76). Daí o insistente apelo de “conversão pastoral” feito a todos ao longo do texto (cf. nn. 2. 55. 59. 107. 157).

Sendo essa chave central no documento, o termo “catequese” aqui se refere a toda ação evangelizadora da Igreja e a seus agentes, incluindo os padres e bispos, catequistas por excelência.

A grande preocupação de toda a Igreja, claramente expressa no documento, já no seu início, é a revisão dos processos de transmissão da fé (cf. n. 1), e a construção de um novo “paradigma pastoral” (n. 3).

Essa transmissão, que no início do cristianismo se dava ordinariamente em um itinerário específico de Iniciação - que era o Catecumenato, que teve seu ocaso por volta do século VI -, passou-se a um processo de cristianização por imersão cultural, entendendo-se a fé como herança recebida da família e da sociedade.

Nesse período longo da história da Igreja (praticamente até o Concílio Vaticano II - 1962-1965), a religião cristã vai perdendo o foco do mistério pascal (cf. n. 148) e da vida cristã como participação do cristão nesse mistério, e os sacramentos da Iniciação à Vida Cristã vão perdendo as relações entre eles.

Hoje, em pleno século XXI, estamos nos dando conta de quanta defasagem existe entre o que é essencial para ser cristão, a saber, uma fé sustentada pelo encontro com Jesus e testemunhada no seguimento de seu projeto de vida, e o que, de fato, se entende por ser cristão.

Daí a afirmação do documento, forte e corajosa:

“Essa complexa realidade na qual estamos mergulhados nos revela

que a experiência de fé cristã

se encontra hoje em uma espécie de estado generalizado de busca e recomeço. Fica para trás um determinado modelo eclesial...” (n. 52).

A grande proposta de renovação pastoral do documento passa por aquilo que os bispos chamam de uma transmissão da fé com “inspiração catecumenal” (cf. nn. 6. 49. 56. 58. 74. 76. 121. 137. 141. 235, sem contar termos correlatos).

Mas em que consiste a tal “inspiração catecumenal”?

Certamente não se trata de uma mera transposição do Catecumenato primitivo para a realidade de hoje, mas um “resgate adaptado”, com ênfase mais no espírito do que em um esquema formal.

O Ritual de Iniciação Cristã de Adultos (RICA) propõe um caminho de tempos e etapas nesse itinerário, que pode servir de inspiração, assim como o conhecimento da maneira como se dava o Catecumenato dos primeiros séculos poderá nos despertar para elementos fundamentais que foram perdidos ao longo do tempo e precisam, com urgência, ser reabilitados

1º TEMPO Pré-catecumenato

ou Primeiro Anúncio (querigma)

2º TEMPO Catecumenato

(Tempo mais longo de todos)

3º TEMPO Purificação e Iluminação (Quaresma)

4º TEMPO Mistagogia

(Tempo Pascal)

Tempo de acolhimento na comunidade cristã:

-PRIMEIRA EVANGELIZAÇÃO -INSCRIÇÃO E COLÓQUIO COM O CATEQUISTA

--RITOS CATEQUISTAS + EQUIPES LITÚRGICAS

Tempo suficientemente longo

para: -CATEQUESE, REFLEXÃO, APROFUNDAMENTO - VIVÊNCIA CRISTÃ, CONVERSÃO - ENTROSAMENTO COM A IGREJA

-RITOS CATEQUISTAS + EQUIPES LITÚRGICAS

Preparação próxima para os

Sacramentos: -ESCRUTÍNIOS, -ENTREGA DO SÍMBOLO E DA ORAÇÃO DO SENHOR -CATEQUESE -PRÁTICAS QUARESMAIS ( CF, etc)

-RITOS CATEQUISTAS + EQUIPES LITÚRGICAS

-Aprofunda-mentos e maior mergulho no mistério cristão, no mistério pascal, na vida nova - Vivência na comunidade cristã

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Metodologicamente, seja qual for o caminho escolhido, este precisa ser trilhado tendo como base alguns critérios indispensáveis apresentados pelo documento, para que seja realmente de inspiração catecumenal.

Critérios: São eles:

- fidelidade à doutrina dos Apóstolos (Creio),

- centralidade da Palavra de Deus,

- inserção na comunidade,

- integração catequese e liturgia,

- interação catequista-iniciando,

- vida de oração pessoal e comunitária,

- estímulo ao compromisso com a justiça e o serviço à caridade,

- visão global da pastoral (cf. n. 167),

- cuidado com a linguagem (cf. n. 187), e unidade teológico-pastoral entre os sacramentos do batismo-crisma-eucaristia (cf. n. 143).

CHAVE QUERIGMÁTICO-MISTAGÓGICA

A inspiração catecumenal se sustenta sobre duas colunas fundamentais: as dimensões querigmática e mistagógica.

O querigma, palavra de origem grega, é o primeiro anúncio da Boa-Nova do acontecimento salvífico Jesus Cristo, que tem sua origem no testemunho dos apóstolos que, ungidos pelo Espírito, incansavelmente proclamaram a sua fé.

De acordo com o documento DNC, “ em uma Igreja querigmática e missionária, a Iniciação à Vida Cristã assume um rosto evangelizador que favorece a verdadeira experiência de fé. Promove o encontro pessoal e comunitário com Jesus Cristo, o discipulado missionário, a inserção na comunidade eclesial, a participação na vida litúrgico-sacramental e o engajamento na transformação da sociedade.

(DNC, n. 29-53).

Na tradição cristã, o termo grego mystérion assume um significado muito importante e específico: “a presença do Reino de Deus presente em Jesus”. Como o próprio Cristo afirmou: “a vós é confiado o mistério do Reino de Deus” (Mc 4,11).

Se a todos o anúncio da salvação de Jesus é proclamado, aqueles que assumem um itinerário de iniciação à vida cristã são inseridos nos mistérios do Reino.

CNBB. Est. 97, 37

Entende-se que quem está com a tarefa de iniciar alguém à vida cristã é um “mistagogo”, isto é, aquele que conduz outras pessoas para dentro do mistério de Deus e através dele, mergulhando-o na graça.

Mistagogia, portanto, “possui o sentido de ser conduzido para o interior do mistério e, na catequese, para o Mistério que é ‘Cristo em nós, esperança da glória’ (Cl 2,19)...

A perspectiva mistagógica considera que o anúncio feito pelo pregador, na verdade, levanta questões que o iniciante traz em seu íntimo”.

Trata-se de uma “postura” do catequista, capaz de unir espiritualidade e pedagogia, educação da fé e abertura ao Mistério vivo de Deus, contemplação da simbologia e meditação, escuta da Palavra e conversão.

Ressaltam os nossos bispos que “a iniciação à oração pessoal, comunitária e litúrgica se constitui em componente essencial do ser cristão, para mantê-lo progressivamente na comunhão com o Senhor e na disponibilidade e generosidade para a missão.

A este conjunto de experiências de fé e espiritualidade chamamos mistagogia”(n. 103). Trata-se de compreender a Iniciação à Vida Cristã como uma “grande celebração”, na qual os ritos expressam sentimentos e compromissos, pois esse conjunto de ações simbólicas envolve a pessoa inteira (cf. n. 104), trazendo “uma preciosa experiência do belo, do sublime, do mistério do amor divino que tudo envolve. Por isso é capaz de tocar o espírito da pessoa que está sendo iniciada” (n. 82).

CHAVE LITÚRGICA

O caminho mistagógico passa necessariamente pela liturgia, à qual coube, no início do cristianismo, em plena interação com a catequese, a missão de iniciar na fé (cf. n. 70).

A experiência do encontro com Jesus e o mergulho no seu mistério de vida e de amor precisam do rito, do simbólico, do orante para se darem.

Por isso, o documento 107 afirma que “é preciso redescobrir a liturgia como lugar privilegiado do encontro com Jesus Cristo” (n. 74).

Parece não restar dúvidas a todos nós de que a liturgia é a principal transmissora da fé e ocasião especialíssima de formação continuada (cf. n. 182).

É incompreensível que algum itinerário de Iniciação à Vida Cristã se reduza ao “ensino” das verdades sobre Deus ou a um “curso que termina em festa de formatura” (n. 94), mas possa buscar a “adequada correspondência entre Bíblia, catequese, liturgia e comunidade” (n. 145), dando lugar enfático às celebrações de entrega da Palavra, do Creio e do Pai-nosso às orações de afastamento de todo o mal (cf. n. 146).

Destaque também seja dado, recomenda o documento, à celebração dos três sacramentos da iniciação cristã para os catecúmenos adultos na noite da Vigília Pascal (cf. n. 147).

Chave Pastoral

Dimensão pastoral engloba todas as outras, ao mesmo tempo em que decorre delas.

O documento aponta com certa constância a preocupação pastoral, sobretudo quanto à necessidade de passar de uma “pastoral de manutenção” para uma “pastoral decididamente missionária” (cf. n. 53j).

Isto significa ter a coragem de abrir mão dos velhos métodos e esquemas pastorais para propor o encontro com Cristo, de uma “maneira a cativar mais as pessoas, para que se possa fazer a experiência impactante da verdadeira adesão a Jesus” (n. 54).

É preocupante uma pastoral dos sacramentos da iniciação que não esteja ligada à vida comunitária, às outras dimensões da vida pastoral (pastoral orgânica) e que não encontre ressonância em um compromisso sociotransformador (cf. n. 53i).

Na trilha dos apelos e modelos oferecidos pelo papa Francisco, “a Iniciação à Vida Cristã supõe na Igreja a coragem de sair de si para ir às ‘periferias existenciais’, ao encontro dos pobres e dos que sofrem com as diversas formas de conflitos, carências e injustiças” (n. 219. Cf. EG, n. 20-23.). Isso só será possível em uma Igreja em saída (cf. n. 140), que volte à sua Fonte originária, o próprio Cristo bom pastor, donde brota o genuíno sentido de “pastoral”, e sua consequente prática.

CONCLUSÃO

Mais do que lacunas, percebe-se uma “timidez pastoral” em relação a aspectos mais delicados como a tão necessária revisão da ordem dos sacramentos da iniciação, clareza sobre caminhos concretos para o chamado “percurso da via da caridade” (cf. n. 220) - sobretudo em relação às pessoas em situações específicas de conflitos existenciais ainda não iniciadas, tais como os recasados e homoafetivos, - bem como a ausência de outros modelos de inspiração catecumenal que não seja o próprio Catecumenato à moda antiga.

Iniciação à Vida Cristã, para quê?

1. Para gerar cristãos!

• Para construir um itinerário que

que transforme as pessoas em pessoas cristãs!

• E por consequência,

“forme” discípulos missionários.


2. Para andar na presença do Senhor.

O Senhor apareceu a Abrão e lhe disse: “Eu sou o Deus Poderoso. Anda na minha presença e sê perfeito. Quero estabelecer contigo minha aliança e multiplicar sobremaneira a tua descendência” (Gn 17,1-2). Andar e permanecer na presença de Deus, é a forma primordial de relação com Deus. Daí, a orientação do Salmista: “Não cesseis de buscar a sua presença [a sua face]” (Sl 105,4).


3. Para imitar Cristo.

Por muito tempo, a relação com Jesus Cristo foi apresentada como “imitação de Cristo”, como “imitação dos exemplos de Cristo”.

Eis alguns textos bíblicos: “Dei-vos o exemplo, para que façais assim como eu fiz para vós” (Jo 13,15). “Cristo sofreu por vós, deixando-vos o exemplo, para que sigais os seus passos” (1Pd 2,21). “Nisto sabemos o que é o amor: Jesus deu a sua vida por nós. Portanto também nós devemos dar vida pelos irmãos” (1Jo 3,16).

O livro “Imitação de Cristo” (Tomás de Kempis, 1380-1471), monge alemão, da Ordem dos Regulares de Santo Agostinho, é certamente o livro mais conhecido entre os cristãos depois da Bíblia.


4. Para seguir a Jesus Cristo.

• Recentemente, a expressão “imitação de Cristo” foi substituída por “seguimento de Cristo”, dando à relação com Cristo uma dimensão mais dinâmica.

• “O seguimento de Cristo não se equipara ao seguimento de outros líderes religiosos ou mestres. Estes podem indicar o caminho e apontar a porta, mas não são o caminho nem a porta. Quando encontramos o caminho, podemos legitimamente esquecer o líder ou o mestre. Jesus Cristo, porém, sendo Filho de Deus, é, ele mesmo, ‘caminho, verdade e vida’. Assim, seguir o caminho é entrar no Caminho, é entrar em Cristo, e Cristo em nós, numa profunda ‘interioridade mútua’, formando uma como ‘única pessoa mística’ (Paulo VI)”. CNBB. Evangelização da Juventude. Brasília: Edições da CNBB, 2007, p. 30.


5. Para fazer experiência de Deus.

Simultaneamente ao “seguimento de Cristo”, divulgou-se nova forma de relação com Deus, definida como “Experiência de Deus”.

Multiplicaram-se cursos, retiros e publicações em torno da “experiência” de Deus”, considerada como o caminho da vida espiritual, particularmente em referência à Vida Consagrada.

Algumas publicações: “Atualidade da Experiência de Deus”, por Leonardo Boff; “A Experiência de Deus”, por João Batista Megale; “A Experiência Humana de Deus”, por Denis Edwards; “Sperimentare Dio nella Vita”, por Ladislau Boros.


6. Para o encontro com Cristo.

Ultimamente, falamos em “Encontro com Cristo”, ponto de partida e fundamento da vida cristã.

Tal prática fortaleceu-se com o ensinamento: “No início do ser cristão não há uma decisão ética ou uma grande idéia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, assim, o rumo decisivo” (DCE, 1).

O Documento de Aparecida, ao estabelecer o itinerário de formação do discípulo missionário, indicou, como primeiro passo, o encontro com Jesus Cristo (DAp, 278).

A 46ª Assembléia da CNBB, 02-11/04/08, colocou no Objetivo Geral das “Diretrizes da Ação Evangelizadora”, 2008-2010: “Evangelizar, a partir do Encontro com Jesus Cristo”.


7. Para viver em Cristo!

Vida em Cristo - Analogias Bíblicas.

Nas formas anteriores, os protagonistas da relação, Deus e os seres humanos, Jesus Cristo e a pessoa humana, aparecem – um na presença do outro, – um imitando os exemplos do outro, – um seguindo os passos do outro, enfim, um diante do outro: em todos esses modos, um é concebido como estando fora do outro, exterior ao outro.

Dois infinitos

Fizeste-me sem fim, pois esse é teu prazer. Esvazias continuamente este frágil vaso, e de novo sempre o enches de vida fresca. Levaste por montes e vales esta pequena flauta de bambu, e nela sopraste melodias eternamente novas... Ao toque imortal de tuas mãos, meu pequeno coração perde seus limites na alegria, e faz nascer inefáveis expressões...

Teus dons infinitos vêm a mim

apenas sobre estas minhas tão pequenas mãos.

Passa o tempo, continuas derramando,

E sempre há lugar a preencher...

iniciação à vida cristã -...

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