iniciaÇÃo À docÊncia na ufmt: contribuiÇÕes do … · dedicatÓria “amor da minha vida...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE EDUCAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO LARISSA KELY DANTAS INICIAÇÃO À DOCÊNCIA NA UFMT: CONTRIBUIÇÕES DO PIBID NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE QUÍMICA CUIABÁ MT 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

LARISSA KELY DANTAS

INICIAÇÃO À DOCÊNCIA NA UFMT: CONTRIBUIÇÕES

DO PIBID NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE

QUÍMICA

CUIABÁ – MT

2013

LARISSA KELY DANTAS

INICIAÇÃO À DOCÊNCIA NA UFMT: CONTRIBUIÇÕES DO PIBID

NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE QUÍMICA

Dissertação apresentada ao Programa de

Pós-Graduação em Educação – PPGE do

Instituto de Educação da Universidade

Federal de Mato Grosso como requisito

para a obtenção do título de Mestre em

Educação na Linha de Pesquisa Educação

em Ciências e Matemática.

Orientadora: Profa. Dra. Irene Cristina de Mello

Cuiabá – MT

2013

Dados Internacionais de Catalogação na Fonte.

Ficha catalográfica elaborada automaticamente de acordo com os dados fornecidos pela

autora.

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO Avenida Fernando Corrêa da Costa, 2367 - Boa Esperança - Cep: 78060900 -CUIABA/MT Tel : 3615-8431/3615-8429 - Email : [email protected]

FOLHA DE APROVAÇÃO

TÍTULO: "Iniciação à Docência na UFMT: contribuições do PIBID na formação de professores de

química"

AUTOR: Mestranda Larissa Kely Dantas

Dissertação defendida e aprovada em 11/07/2013.

Composição da Banca Examinadora:

_____________________________________________________________________________

____________

Presidente Banca / Orientador Doutor (a) Irene Cristina de Mello Instituição: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO Examinador Interno Doutor (a) Tânia Maria Lima Instituição: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO Examinador Externo Doutor (a) Nyuara Araújo da Silva Mesquita Instituição: Universidade Federal de Goiás Examinador Suplente Doutor (a) MARIA CRISTINA THEOBALDO Instituição: UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

CUIABÁ, 11/07/2013.

Larissa Kely Dantas

Formada em licenciatura em Química pela Universidade Federal de Mato Grosso.

Professora de Química, pesquisadora do grupo de estudo do Laboratório de Pesquisas

em Ensino de Química (LabPEQ). Ex-bolsista do Programa Institucional de Iniciação à

Docência (Pibid). Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da

Universidade Federal de Mato Grosso. E-mail: [email protected]

DEDICATÓRIA

“Amor da minha vida Daqui até a eternidade

Nossos destinos Foram traçados na maternidade...”

(Cazuza – Exagerado)

Dedico este trabalho as pessoas mais importantes da

minha vida, meu tesouro mais precioso, minha filha Melissa,

você pequenina tem sido meu bálsamo, é a razão da minha vida

e a minha amada mãe Francinete. Mesmo que eu tivesse toda

beleza do mundo, toda grandeza do oceano, toda força das

ondas, mesmo que tivesse conhecido os lugares mais lindos do

mundo, nada teria sentido se eu não tivesse o presente mais

valioso e mais sagrado que Deus poderia me dar... O amor da

minha mãe e da minha filha. Obrigada por existirem em minha

vida. Amo imensamente vocês!

AGRADECIMENTOS

Poderia sem dúvida escrever muitas páginas com os mais

sinceros agradecimentos. Ainda assim não conseguiria

agradecer a todas as pessoas que contribuíram diretamente ou

indiretamente para realização deste sonho. Neste momento

desejo expressar em simples palavras meus sinceros

agradecimentos aos que me acompanharam neste percurso, mas

em especial:

A Deus, O que para você pode parecer o fim, para Deus é o início de um novo projeto.

Nessa caminhada passei por momentos difíceis, turbulentos que por vezes quase me

fizeram desistir, mas também passei por momentos de felicidade imensurável, em

especial a chegada da minha doce Melissa, a nossa amada “Mel”! Deus esteve em todos

os momentos, me guiando, e me fortalecendo. Obrigada Pai.

Ao Itamar Pereira de Souza Zompero, pelo companheirismo e dedicação. Esses sete

anos juntos me mostraram o quanto você contribuiu para meu crescimento pessoal e

profissional, aprendi muito ao seu lado, sofremos e fomos felizes. E por mais que o dia

apresentasse muitos desafios e barreiras sempre me confortei em saber que tinha você

ao lado. Muito obrigada!

A Profa. Dra. Irene Cristina de Mello, minha querida “mãe científica”, tenho em você

um dos mais belos exemplos de mulher. Sua inteligência e comprometimento me fazem

querer um dia ser assim, como você! Obrigada pela confiança, orientação, amizade e

principalmente pela paciência e compreensão em momentos que não foram fáceis. Sem

você tenho certeza que não conseguiria ter concluído este trabalho. Muito Obrigada!

A Profa. Dra. Tânia Maria Lima Beraldo. Caminhamos juntas em muitos momentos

dessa jornada, aprendi muito com você minha querida, suas sugestões e orientações

contribuíram muito para este trabalho. Muito obrigada!

A Profa. Dra. Nyuara Araújo da Silva Mesquita por ter aceitado o convite para

participar como banca e pelas sugestões que contribuíram para a melhoria desta

dissertação. Muito Obrigada!

As vovós Francinete Francisca Dantas e Elitamar Pereira de Souza! Vocês

contribuíram muito para realização deste sonho. Sou imensamente grata pelas inúmeras

vezes que vocês deixaram suas atividades de lado para se dedicar a “Mel”. Vocês são as

melhores vovós do mundo. Maravilhosas. Muito Obrigada!

Ao pessoal do LabPEQ, pelo incentivo agradeço a todos em especial: ao querido Prof.

Ms. Marcel Thiago Damasceno que foi decisivo na minha carreira profissional, a

Profa. Mariuce Campos de Moraes e aos Pibidianos.

Aos meus familiares, em especial aos meus amados irmãos: Emanoel, Lucas, Mateus e

Odair. Ao meu querido pai de criação Ronaldo, aos meus tios Reginaldo e Carina;

Careca e Gê, ao meu afilhadinho João Gabriel, minha princesinha Gabriele Sofia, aos

meus padrinhos carinhosamente chamados por Dedé e Norinha, as minhas lindas

primas Gabriela, Alissya e Andressa, minhas tias Fátima e Amélia e minha avó

Salete.

As minhas amigas do mestrado, Andrea, Carmen, Dani, Fran, e Neuza. Passamos

momentos inesquecíveis juntas. Vou me recordar sempre com muito carinho de todas.

As minhas amigas Eucaris (jojô), Talita (Talinda) e Rutinha boazinha. Obrigada pelos

inúmeros momentos agradáveis que passamos juntas e que com certeza ainda serão

muitos!

Aos que não estão mais aqui (in memorian). Meu amado avô e pai Geraldo Azevedo

Dantas, a falta que sinto de ti é imensa, ainda dói! Conforto-me em imaginar que hoje

esta cuidando da plantação de Deus, e a minha avó Elenice, ainda tão presente em

minha vida.

Aos professores do PPGE, a todos os professores do programa de Pós-graduação em

Educação.

A secretaria do PPGE, querida Delminha, Mariza e Luiza que sempre me ajudaram.

RESUMO

DANTAS, Larissa Kely. Iniciação à Docência na UFMT: Contribuições do Pibid na

Formação de Professores de Química. Cuiabá, 2013. Dissertação (Mestrado em

Educação), Instituto de Educação – IE, Universidade Federal do Mato Grosso, julho de

2013.

O presente estudo apresenta uma pesquisa sobre as potencialidades do Programa

Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid) para formação de professores. No

atual contexto educional e dos desafios acentuados diante de uma profissão com pouco

reconhecimento social e, consequentemente, com baixa atratividade aos jovens

ingressantes nas universidades, a formação de professores tem se tornado no transcurso

das últimas décadas um tema de relevância social. Diante deste cenário o Pibid vem

tornando-se uma política pública muito importante de valorização do magistério,

possibilitando aos licenciandos atuação no seu campo de trabalho, desde o início de sua

formação, por meio de atividades que possibilitam a interação com professores e

estudantes da educação básica e a articulação entre a universidade e as escolas. O

objetivo central desta investigação é analisar em que aspectos o projeto Pibid/UFMT

contribuiu para formação inicial e iniciação à docência dos participantes do subprojeto

de Química - Edital 2007. Com tal intenção este estudo configura-se como uma

pesquisa qualitativa, com elementos de estudo de caso e análise documental. Utilizam-

se como instrumentos de coleta de dados: questionários, entrevistas semiestruturada e

análise documental, com ênfase no subprojeto de Química, relatórios institucionais e

documentos oficiais. Os sujeitos selecionados para esta pesquisa foram onze ex-

bolsistas, duas supervisoras e o coordenador de área ambos do Subprojeto de Química,

edital 2007. Após análise dos primeiros dados coletados, verificamos a necessidade de

retornar ao campo de estudo para investigar um possível entrelaçamento entre os

objetivos e finalidades do Pibid e Estágio supervisionado. Os resultados mostraram que,

a partir da realização das atividades propostas no Subprojeto, houve crescimento na

formação acadêmica dos bolsistas, que tende a romper com a lógica disciplinar, e que a

articulação entre teoria e prática no ambiente real de ensino favorece a construção da

identidade docente. Os resultados ainda apontam para o Pibid como um programa que

cria oportunidades para mudanças nos modelos de formação vigentes. Constatamos

também com análise da fala dos sujeitos que o Pibid é compreendido como um

programa fomentador de melhoria da formação inicial de professores por meio da

integração entre universidade-escola, oportunizando aos futuros professores o

entendimento e a reflexão sobre a profissão docente e também sobre a realidade escolar,

com o desenvolvimento de unidades didáticas que priorizam a inserção de diferentes

materiais e abordagens didáticas inovadoras no ensino de ciências. Sobre o possível

entrelaçamento entre os objetivos e finalidades do Pibid e Estágio supervisionado

averiguamos que existe uma linha muito tênue entre as dimensões: prática, documental

e teórica, pois Pibid e Estágio supervisionado possuem uma sistemática acadêmica

indutora para formação docente, contudo a principal diferença é que licenciando no

estágio se coloca na função docente, vivencia sua natureza profissional, discute com

seus colegas dentro do contexto de sua formação inicial. O Pibid colabora com isso,

porém, não substitui a dinâmica do estágio e seus objetivos, são apenas

complementares.

Palavras-Chave: PIBID, Iniciação à Docência, Formação de Professores de Química.

ABSTRACT

DANTAS, Larissa Kely. Introduction to Teaching in UFMT: contributions Pibid in

Teacher of Chemistry. Cuiabá, 2013. Dissertation (Master of Education), Institute of

Education - IE, Federal University of Mato Grosso, July 2013.

This study presents a research on the potential of the Institutional Program Initiation

Scholarship to Teaching (Pibid) for teacher training. In the current context and

challenges educional accented front of a profession with little social recognition and,

consequently, low attractiveness to young people entering the university, teacher

training has become in the course of the last decades a topic of social relevance. In this

scenario the Pibid has become very important public policy of valuing teaching,

enabling undergraduate participation in their field of work, from the beginning of its

formation, through activities that enable interaction with teachers and students of

education Basic and articulation between universities and schools. The central objective

of this research is to examine in what ways the project Pibid / UFMT contributed to

training and initiation to teaching participants subproject of Chemistry - Notice 2007.

With this intention of this study is characterized as a qualitative research, with elements

of case study and document analysis. Are used as instruments to collect data:

questionnaires, semi-structured interviews and documentary analysis, with emphasis on

subproject of Chemistry, institutional reports and official documents. The subjects

selected for this research were: eleven alumni, two supervisors and area coordinator

both Subproject Chemistry, 2007 announcement. After analysis of primary data

collected, we see the need to return to the field of study to investigate a possible

entanglement between the goals and purposes of Pibid and Supervised training. The

results showed that, from carrying out the activities proposed in the subproject, there

was growth in academic scholarship, which tends to break with the logic discipline, and

that the link between theory and practice in teaching real environment favors the

construction of identity teaching. The results also point to the Pibid as a program that

creates opportunities for changes in existing training models. We also note with speech

analysis of the subjects that Pibid is understood as a program developer for improving

teacher education through integration between university and school, providing

opportunities for future teacher understanding and reflection on the teaching profession

and also about school reality with the development of teaching units that prioritize the

inclusion of different materials and innovative teaching approaches in science

education. About the possible entanglement between the goals and purposes of Pibid

Supervised training and we ascertain that there is a fine line between dimensions:

practical, theoretical and documentary, as both have a systematic academic inducer for

teacher training, but the main difference is that the licensing stage arises in the teaching

function, experiencing their professional nature, discusses with colleagues within the

context of their initial training. The Pibid collaborates with this, however, does not

replace the dynamic stage and goals, are just complementary.

Keywords: PIBID, Introduction to Teaching, Teacher Training in Chemistry.

LISTA DE FIGURAS

Figura 01 – Técnica da Triangulação............................................................................33

Figura 02 – Organização do Pibid.................................................................................93

Figura 03 – Número de Bolsas do Pibid por Edital.......................................................96

Figura 04 – Idade dos Ex-bolsistas..............................................................................110

Figura 05 – Atividade Profissional ou Acadêmica......................................................111

Figura 06 – Escola que Cursou o Ensino Médio.........................................................111

Figura 07 – Motivo pela Escolha do Curso.................................................................112

Figura 08 – Dificuldades Encontradas no Curso.........................................................113

LISTA DE QUADROS

Quadro 01 – Histórico dos Editais do Pibid...................................................................95

Quadro 02 – Todos os Editais com Total de Bolsas Aprovadas....................................96

Quadro 03 – Participantes Pibid/UFMT por Campus e Editais.....................................99

Quadro 04 – Carga Horária de Participação dos Bolsistas no Subprojeto de Química do

Pibid/2007....................................................................................................................109

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 – Quantidades de Bolsas Pibid fornecida pela Capes..................................98

Tabela 02 – Instituições e Quantidade de Licenciandos em Química participantes do

Subprojeto de Química – Edital 2007..........................................................................103

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABRAPEC

AERA

Associação Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências

American Educational Reasearch Assosiation

ANFOPE Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação

ANPEd

BDTD

Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Educação

Biblioteca Digital de Teses e Dissertações

Capes

CEFET – PA

CEFET – PB

Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

Centro Federal de Educação Tecnológica do Pará

Centro Federal de Educação Tecnológica da Paraíba

CNE/CP

CNE / CES

Conselho Nacional de Educação / Conselho Pleno

Conselho Nacional de Educação / Câmara de Educação Superior

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

DCN

DCNEM

DEB

ENDIPE

Diretrizes Curriculares Nacionais

Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio

Diretoria de educação Básica Presencial

Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino

EDEQ Encontro de Debates de Ensino de Química

ENEQ

ERIC

FNDE

FUFSE

FURG

Encontro Nacional de Ensino de Química

Banco de Dados Americano

Fundação de Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior

Fundação Universidade Federal de Sergipe

Universidade Federal do Rio Grande

IES

IDEB

IFES

INEP

Instituições de Ensino Superior

Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

Institutos Federais de Ensino Superior

Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais

LabPEQ

LPQPN

Laboratório de Pesquisa em Ensino de Química

Laboratório de Pesquisa Química dos Produtos Naturais

LDB Lei de Diretrizes e Bases

MEC Ministério da Educação

PCN Parâmetros Curriculares Nacionais

PCNEM

PDI

Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio

Plano de Desenvolvimento Institucional

Pibid

Pibiq

Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência

Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica

PNE

Prolind

Procampo

PUC

QNEsc

Plano Nacional de Educação

Programa de Apoio à Formação Superior e Licenciaturas

Interculturais Indígenas

Programa de Licenciatura em Educação para o Campo

Pontifícia Universidade Católica

Química Nova na Escola

UEL

UFAL

Universidade Estadual de Londrina

Universidade Federal de Alagoas

UFBA

UFC

UFF

UFLA

UFAM

UFMG

Universidade Federal da Bahia

Universidade Federal do Ceara

Universidade Federal Fluminense

Universidade Federal de Lavras

Universidade Federal do Amazonas

Universidade Federal de Minas Gerais

UFMS

UFMT

UFPB

UFPE

UFPel

UFPI

UFRJ

UFRN

UFRGS

UFRPE

UFRR

UFRRJ

Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Universidade Federal de Mato Grosso

Universidade Federal da Paraíba

Universidade Federal de Pernambuco

Universidade Federal de Pelotas

Universidade Federal do Piauí

Universidade Federal do Rio de Janeiro

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

Universidade Federal Rural de Pernambuco

Universidade Federal de Roraima

Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

UFSC

UFSCar

UFSJ

UFSM

Universidade Federal de Santa Catarina

Universidade Federal de São Carlos

Universidade Federal de São João Del Rei

Universidade Federal de Santa Maria

UFU

UFVJM

Universidade Federal de Uberlândia

Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri

UnB Universidade de Brasília

UNICAMP

UNESCO

UNESP

UNIR

USP

SciELO

SEDUC MT

SESu

Universidade de Campinas

Organizações das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a

Cultura

Universidade Estadual Paulista

Universidade Federal de Rondônia

Universidade de São Paulo

Biblioteca Cientifica Eletrônica em Linha

Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso

Secretária de Educação Superior

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................... 20

CAPITULO I ............................................................................................................................... 24

APRESENTANDO A PESQUISA ................................................................................................ 24

1.1 – A TRAJETÓRIA ACADÊMICA ............................................................................. 24

1.2 – A PESQUISA: INVESTIGANDO AS CONTRIBUIÇÕES DO PIBID NA

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE QUÍMICA ............................................................... 27

1.3 – TEMA ............................................................................................................................ 30

1.3.1 – Delimitação do Tema .............................................................................................. 30

1.4 – PROBLEMA DE PESQUISA ........................................................................................ 31

1.5 – OBJETIVOS .................................................................................................................. 31

1.5.1 - Objetivo Geral .......................................................................................................... 31

1.5.2 - Objetivos Específicos ............................................................................................... 31

1.6 – A OPÇÃO METODOLÓGICA ..................................................................................... 32

1.6.1 – Estudo de Caso ........................................................................................................ 33

1.6.2 – Análise de Dados ..................................................................................................... 35

1.6.3 – Instrumentos de Coletas de Dados .......................................................................... 37

1.6.4 - Os Sujeitos da Pesquisa: Ex-bolsistas, supervisores e coordenador ........................ 39

1.6.6 - O Objeto da Pesquisa ............................................................................................... 39

1.7 – EXPLICITANDO OS PERCURSOS NO DESENVOLVIMENTO DESTA PESQUISA

................................................................................................................................................. 39

CAPITULO II .............................................................................................................................. 42

FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: Percursos e Desafios do início da profissão ....... 42

2 – FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES ...................................................................... 42

2.1 – O conceito “formação” ................................................................................................... 42

2.2 - AS PESQUISAS SOBRE FORMAÇÃO DE PROFESSORES ..................................... 47

2.3 - AS PESQUISAS SOBRE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA ................................................ 59

2.4 - FORMAÇÃO DE PROFESSORES ............................................................................... 66

CAPÍTULO III ............................................................................................................................. 71

OS PROFESSORES E O INÍCIO DA DOCÊNCIA ..................................................................... 71

3.1 – INICIAÇÃO À DOCÊNCIA: Dificuldades, Necessidades, Formativas, Conflitos,

Vivências e Saberes. .................................................................................................................... 72

3.2 - FORMAÇÃO INICIAL E INICIAÇÃO À DOCÊNCIA NA PERSPECTIVA DE

ALGUNS TEÓRICOS DA ÁREA DE EDUCAÇÃO ................................................................ 78

3.3 - A INICIAÇÃO À DOCÊNCIA NA PERSPECTIVA DOS DOCUMENTOS OFICIAIS . 85

CAPITULO IV ............................................................................................................................. 93

INICIAÇÃO À DOCÊNCIA NA UFMT ....................................................................................... 93

4.1 - PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA ........ 95

4.2 - CONTEXTUALIZANDO O PROGRAMA PIBID NA UFMT ................................... 101

4.3 - CONTEXTUALIZANDO O SUBPROJETO DE QUÍMICA – PIBID/UFMT ........... 105

CAPITULO V ............................................................................................................................ 111

DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS .................................................................................. 111

5 - DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE DADOS ............................................................................ 111

5.1 – CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL DOS SUJEITOS DA PESQUISA: Os Ex-bolsistas,

as Supervisoras e o Coordenador .......................................................................................... 111

5.1.1 – Os ex-bolsistas....................................................................................................... 111

5.1.2 - A Supervisoras ....................................................................................................... 125

5.1.3–Coordenador de Área de Subprojeto ....................................................................... 126

5.2 - ENTREVISTAS SEMIESTRUTURADAS .................................................................. 127

5.2.1 – Contribuições do Pibid na perspectiva dos ex-bolsistas, supervisoras e coordenador

de área ............................................................................................................................... 127

5.2.2 - Identidade Docente ................................................................................................ 128

5.2.3 - Definição da Carreira e Escolha Profissional......................................................... 132

5.2.4 - Condução do Ensino-aprendizagem ....................................................................... 133

5.2.5 - Contribuições do Pibid para as Supervisoras e para Escola ................................... 135

5.2.6 - Elaboração de planejamento de ensino, projetos pedagógicos, planos de aula e aulas

experimentais .................................................................................................................... 137

5.2.7 - Prática pedagógica, Interpretação didática dos conteúdos e Dificuldades ............. 144

5.3 - AS INTERFACES POSSÍVEIS ENTRE PIBID E ESTÁGIO SUPERVISIONADO, NAS

DIMENSÕES: Teórica, Prática e Documental ......................................................................... 147

CAPITULO VI ........................................................................................................................... 156

CONSIDERAÇÕES ................................................................................................................... 156

REFERÊNCIAS ......................................................................................................................... 160

APÊNDICES ............................................................................................................................. 168

APÊNDICE A ........................................................................................................................ 169

Questionário 01 – Caracterização dos Ex-bolsistas participantes do Subprojeto de Química do

Pibid/UFMT Edital 2007, quanto ao perfil socioeconômico e formação acadêmica. ........... 169

APÊNDICE B ........................................................................................................................ 173

Questionário 02 – Caracterização das Professoras Supervisoras participantes do Subprojeto

de Química do Pibid/UFMT Edital 2007, quanto ao perfil socioeconômico, formação

acadêmica e profissão docente. ............................................................................................. 173

APÊNDICE C ....................................................................................................................... 177

Questionário 03 – Caracterização do Coordenador participante do Subprojeto de Química do

Pibid/UFMT Edital 2007, quanto ao perfil socioeconômico, formação acadêmica e profissão

docente. ................................................................................................................................. 177

APÊNDICE D ........................................................................................................................ 181

Questionário 04 – Caracterização e contextualização do Pibid e Subprojeto Pibid/Química

Edital 2007, nas Universidades Federais do Brasil. .............................................................. 181

APÊNDICE E ........................................................................................................................ 183

Entrevista semiestruturada 01 - realizada com os ex-bolsistas. ............................................ 183

APÊNDICE F ........................................................................................................................ 186

Entrevista Semi-Estruturada 02 - realizada com as professoras supervisoras. ...................... 186

APÊNDICE G ........................................................................................................................ 188

Entrevista Semi-Estruturada 03 - realizada com o coordenador de área. .............................. 188

20

INTRODUÇÃO

A formação inicial de professores caracteriza-se por ser um tema de alta

complexidade, seja no âmbito dos cursos de graduação ou nas pesquisas científicas.

Esse tema envolve, dentre outros aspectos, a dimensão profissional e a iniciação à

docência. Trata-se de duas fases de muitos desafios para o professor principiante, assim

como para seus formadores. Tais desafios tornam-se mais acentuados diante de uma

profissão com pouco reconhecimento social e, consequentemente, com baixa

atratividade aos jovens ingressantes nas universidades.

Estima-se que somente 2% dos jovens brasileiros almejam cursar uma

licenciatura no Brasil, sendo esse número ainda menor quando se trata do curso de

licenciatura em Química Mello (et al, 2012). Associa-se a essa situação um contexto de

muitas transformações tecnológicas e sociais, sendo neste cenário o local onde ocorre a

formação dos futuros professores para educação básica no Brasil.

Diante da fragilidade da situação, os cursos de licenciatura enfrentam uma

baixa procura e uma alta evasão acadêmica e, sobretudo, há consenso entre os

formadores como Nóvoa (1992); Show (1992); Tardif (1992); Pimenta e Lima (2004)

sobre a importância do professor para a elevação da qualidade da educação básica. Essa

realidade encontra-se agravada quando tratamos das disciplinas da área de Ciências

Naturais e Matemática, sobretudo Química e Física. As demandas de professores no

Brasil para atender essas disciplinas são preocupantes e os menos otimistas diriam,

inclusive, que estamos diante um possível colapso nas escolas em um futuro bem

próximo, por falta de profissionais habilitados nestas áreas.

Do nosso ponto de vista, acreditamos que o reconhecimento da gravidade dessa

situação possa ter acelerado a criação de programas governamentais capazes de

fomentar a formação inicial em nível de graduação no que concerne às licenciaturas. É

neste contexto que surge o Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência

(Pibid), quase concomitantemente com a reestruturação da nova Capes (coordenação de

aperfeiçoamento de pessoal de nível superior), agora com três diretorias adicionais, duas

das quais dedicadas à educação básica. Essa nova reestruturação da Capes desencadeou

uma série de propostas e ações de melhoria da educação básica, orientadas, sobretudo,

para a formação inicial, diretrizes da carreira, formação continuada, currículo e gestão

da formação. Dentre as muitas ações implementadas até o momento, Mello (2012)

21

destacam o estímulo aos alunos da licenciatura, que pode ser considerada uma das mais

abrangentes e importantes.

Medina e Dominguez (1989) discutem a incorporação progressiva dos

professores, agora como protagonistas de programas de investigação acerca da

formação, e os mesmos salientam a inexistência da atenção de políticos,

administradores e investigadores em face da formação de professores como peça-chave

da qualidade do sistema educativo.

Com o objetivo de fomentar ações para melhoria da formação dos alunos de

licenciatura das instituições de educação superior, o Pibid concede bolsas a estudantes e

professores envolvidos em projeto institucional. O primeiro edital foi lançado em 2007,

possibilitando às universidades federais apresentarem projetos, preferencialmente na

área de Ciências Naturais e Matemática, por certo em reconhecimento à situação do

baixo índice de professores formados na área. Nos editais subsequentes, o número de

bolsas ampliou-se consideravelmente, bem como o número de instituições participantes

e de áreas envolvidas.

Ao analisar esse crescimento acelerado, diante de outros programas da Capes é

possível afirmar que o Pibid caminha a passos largos para a consolidação como política

pública de formação de professores no Brasil (MELLO, 2012). Considerando, ainda, a

sua institucionalização pelo Decreto nº 7.219 de 24 de junho de 2010, aventam--se para

uma continuidade do Programa uma blindagem necessária em se tratando de uma

política pública importante para educação brasileira.

O movimento do programa nas Instituições de Ensino Superior (IES) no Brasil

trouxe para as comunidades acadêmicas a necessidade de abertura de espaços1 para

troca de experiências, discussões sobre os impactos, desafios e perspectivas do Pibid,

tais como eventos, seminários integradores, discussões institucionais e nesses encontros

os bolsistas começaram a ser denominados de Pibidianos. Nesses espaços, reservados

aos debates sobre o Pibid, ocorrem muitos depoimentos sobre a aceitação do Programa

pelas universidades e institutos federais, pelos participantes dos projetos e, sobretudo,

pela escola de educação básica. Dentre os assuntos abordados, frequentemente se

discute as contribuições do Pibid para formação inicial e introdução à docência dos

1No caso da comunidade acadêmica de Ensino de Química, muitos espaços já foram oportunizados,

sobretudo nos eventos mais importantes da área, tais como: Encontro Nacional de Ensino de Química

(ENEQ), Encontro Centro-Oeste de Debates sobre o Ensino de Química (ECODEQ), Encontro de

Debates sobre o Ensino de Química (EDEQ), Encontro Nacional de Pesquisadores de Educação em

Ciências (ENPEC), etc.

22

licenciandos bolsistas, também constatamos discussões relacionadas a um possível

entrelaçamento em relação aos objetivos do Pibid e do estágio supervisionado, visto que

ambos almejam à iniciação à docência dos licenciandos em formação, melhoria da

qualidade de ensino, articulação entre universidade e escola, por meio da prática

pedagógica dos licenciandos no ambiente real de ensino.

Em relação à formação de professores e às finalidades do Pibid, podemos

afirmar que as práticas pedagógicas por parte dos licenciandos são fundamentais para

construção da identidade docente e dos saberes específicos da docência. Nesse sentido,

a formação inicial de professores para estudiosas como Pimenta e Lima (2004) deve

estar fundamentada na práxis pedagógica, na reflexão sobre a ação desses professores

iniciantes no ambiente real de ensino, a qual é possibilitada pelo estágio supervisionado.

Schön (1992) argumenta que só é possível a efetiva formação de professores reflexivos

com a inserção destes no ambiente educacional e com o desenvolvimento do próprio

saber escolar. Porém, como reafirmam Pimenta e Lima (2004), os programas de

formação, ou seja, os currículos de graduação, pouco ajudam os licenciandos a lidar

com suas necessidades formativas.

O Pibid apresenta como uma de suas finalidades, a instrumentalização e a

inserção do licenciando no seu campo de trabalho de forma supervisionada pelo

professor da academia e da escola, integrada pelo diálogo entre universidade e escola de

educação básica, promovendo a articulação entre diferentes práticas multidisciplinares e

desenvolvendo o perfil de professor-pesquisador de sua prática docente.

A problemática dessa pesquisa pauta-se na seguinte questão: “Em que

aspectos o projeto Pibid/UFMT contribuiu para formação inicial e iniciação à

docência dos participantes do Subprojeto de Química Edital 2007?”.

Para o desenvolvimento da pesquisa2 o estudo amparou-se na abordagem

qualitativa da pesquisa em educação. Assim, os aspectos da metodologia da pesquisa

são apoiados nas obras de Bogdan e Biklen (1994); Fiorentini e Lorenzato (2006);

Lüdke e André (1986); Marconi e Lakatos (2006). Para subsidiar a compreensão da

questão investigada buscamos amparo teórico em pesquisadores que estudam a

formação docente e o processo de profissionalização como Garcia (1992, 1999); Gil-

Pérez e Carvalho (1993); Nóvoa (1991,1992); Pimenta e Lima (2004); Popkewitz

(1992); Schön (1992); Tardif (1992). Na área da iniciação à docência buscamos aporte

2 A elaboração deste trabalho está de acordo com as Normas Técnicas para o Trabalho Científico,

FURASTÉ (2010).

23

teórico em Abarca (1999); Fontana (2000); Goodson (1995); Gonçalves (1995);

Guarnieri (1996); Huberman (1995); Inforsato (1996); Marcelo Garcia (1999);

Mizukami (1996; 2005-2006); Nono (2005; 2011), Tardif; Raymond (2000); Quadros

(2006); Veenman (1988).

A estrutura deste trabalho investigativo está organizada e distribuída da

seguinte maneira:

No Capítulo 1, Apresentando a Pesquisa, a trajetória acadêmica e

profissional da professora pesquisadora é apresentada mencionando os motivos pelos

quais decidiu optar pela realização desta pesquisa. Destaca, ainda, a opção

metodológica, os objetivos da investigação, os sujeitos, o objeto e os instrumentos de

coletas de dados.

O Capítulo 2, Formação Inicial de Professores: Percursos e Desafios do

Início da Profissão traz uma análise do conceito “formação” e suas múltiplas

interpretações. Destacamos um conjunto de pesquisas sobre formação de professores e

iniciação à docência. São abordados alguns aspectos importantes da literatura sobre a

formação de professores.

O Capítulo 3, Os Professores e o Início da Docência traz uma reflexão sobre

as características da fase de iniciação à docência, dificuldades, desafios e conflitos

vivenciados pelo professor principiante, seus saberes e suas necessidades formativas.

Apresenta-se ainda a iniciação à docência na perspectiva dos documentos oficiais.

O Capítulo 4: Iniciação à Docência na UFMT traz uma breve

contextualização do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid),

apresentando características importantes da execução do referido programa, em especial

do Subprojeto Química – Pibid na UFMT. Posteriormente, são discutidas as possíveis

interfaces entre Pibid e estágio supervisionado nas dimensões: teórica, prática e

documental.

No Capítulo 5: Descrição e Análise dos Dados desenham-se o perfil social e

econômico dos sujeitos da pesquisa e análise interpretativa das contribuições do Pibid

na formação inicial e iniciação à docência dos ex-bolsistas na perspectiva dos sujeitos

da investigação. De forma geral, encontram-se reunidas as descrições, discussões com

autores e análises dos resultados obtidos.

24

CAPITULO I

APRESENTANDO A PESQUISA

“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas,

que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos

caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o

tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado,

para sempre, à margem de nós mesmos” (Fernando Pessoa).

Neste capítulo objetivamos apresentar a pesquisa realizada no que

condiz, sobretudo, à questão metodológica. Inicialmente, descreveremos a trajetória

acadêmica da pesquisadora, e o que a levou a investigar o processo de iniciação à

docência em plena formação. Posteriormente, discutiremos o delineamento da pesquisa,

explicando sobre a opção de estudar as contribuições do Programa Institucional de

Iniciação à Docência (Pibid) na formação inicial de licenciados e licenciandos em

Química. Trataremos sobre a temática em que se insere o objeto de pesquisa, o

problema investigado, os objetivos gerais e específicos e a opção metodológica adotada

para a pesquisa. Por último, explicitamos os percursos para o desenvolvimento deste

estudo.

1.1 – A TRAJETÓRIA ACADÊMICA

A opção em realizar uma pesquisa na área educacional, em específico na área

de ensino de Química, não estava nos meus planos, mas imaginava que isso seria

possível em virtude das minhas escolhas no início da trajetória acadêmica. Pensava em

seguir a carreira de bacharelado, trabalhar na indústria e em grandes laboratórios.

Pois bem, então é de se perguntar o porquê da escolha do curso nos moldes da

licenciatura e não do bacharelado. Como grande parte dos jovens, e até por indicação de

vários professores, tinha medo de seguir simplesmente a carreira docente, uma profissão

com pouco reconhecimento social e financeiro. Acabei optando pelo curso de

Licenciatura, pois cursando mais dois semestres poderia fazer o curso de Química

25

bacharelado, isso na estrutura curricular de 1997, tendo, então, as duas opções

profissionais. Porém, se optasse pelo bacharel como primeira opção seria mais difícil e

demorado para concluir a licenciatura.

Logo, quando ingressei no curso de Licenciatura em Química não conseguia

separar, ou melhor, diferenciar as duas modalidades. Essa foi uma das minhas primeiras

inquietações, visto que o curso de Química nos moldes da licenciatura e bacharel em

grande parte ofertava as mesmas disciplinas. No percurso acadêmico busquei me

aproximar das atividades de monitoria e de iniciação científica, por não ter clara a opção

de ser professora ou pesquisadora na área da Química aplicada. Devo ressaltar que hoje

me considero uma professora pesquisadora. Durante a graduação tive a oportunidade de

trabalhar no Laboratório de Ensino de Química Orgânica, como bolsista permanência,

em alguns meses no Laboratório de Pesquisa Química dos Produtos Naturais (LPQPN),

do qual fui integrante por um ano e meio. Nesse laboratório realizei pesquisas na área da

Química Orgânica, com plantas do cerrado. No início fui aluna voluntária, mas em

poucos meses consegui uma bolsa no Programa Institucional de Bolsa de Iniciação

Científica (Pibic).

No quinto semestre do curso comecei a cursar as disciplinas específicas do

ensino de Química e somente neste momento comecei a diferenciar o curso de

Licenciatura do Bacharelado em Química. No decorrer das minhas atividades como

aluna de iniciação científica, tudo indicava que seguiria a linha da Química Pura, mas

faltava algo. No início da disciplina de Prática de Ensino I, percebi que o que faltava no

meu percurso acadêmico era a identidade docente.

As atividades da disciplina de Prática de Ensino I esclareceram as questões

relacionadas à prática docente, pois apesar estar cursando o 5º semestre, questões da

atuação docente ainda desconhecia. Decidi aprofundar os estudos de teóricos do campo

educacional, buscando algumas respostas a questões que foram surgindo no decorrer do

curso, principalmente no início das disciplinas específicas da licenciatura, tal como o

porquê deste distanciamento entre teoria e prática; sobre a prática docente e seus

desafios; acerca da visão simplista que muitos têm da docência, principalmente do

ensino-aprendizagem dos conteúdos de Química.

No decorrer da disciplina de Prática de Ensino I, ainda não tinha estado na

escola de educação básica, como docente principiante, e isso me angustiava. Imaginava

como seria esse primeiro contato, o que eu iria fazer e se isso era o que eu realmente

queria profissionalmente. O estudo de teóricos da área de ensino de Química me

26

instigava ainda mais. Antes do término dessa disciplina, o Laboratório de Pesquisa em

Ensino de Química (LabPEQ) abriu vagas para participação no Programa Institucional

de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid). Fui motivada a participar da seleção pelo

professor da Prática de Ensino, naquele momento também coordenador do Subprojeto

de Química. O mesmo sabia de alguns questionamentos que levantava nas aulas, sobre o

curso, e em específico sobre a práxis pedagógica. Fui uma das alunas selecionadas e

nesse momento optei em deixar as atividades do LPQPN para me dedicar ao Ensino de

Química. Talvez essa fosse uma forma de decidir que caminho profissional seguir e,

principalmente, responder as minhas perguntas.

Posso dividir o meu curso em duas etapas, em antes e depois do Pibid. É um

tanto estranho pensar que estava no curso de licenciatura e que ainda não me

identificava como docente. Vale ressaltar que quando ingressei no Pibid já estava

cursando o 5º semestre do curso, de um total de oito. Lembro-me, como se fosse hoje,

quando fui pela primeira vez para escola, parceira do programa na UFMT. Foi

extasiante. Lembro-me do cheiro da sala de aula, do giz, daquele clima entre os alunos,

dos meus anseios e medos. Foi realmente incrível. Naquele momento me senti útil e

importante. No decorrer das atividades propostas no subprojeto de Química tinha

muitos questionamentos e os discutia com o coordenador do subprojeto, principalmente

nos ciclos de estudos. Esses questionamentos resultaram na minha monografia

intitulada: Formação Inicial de Professores de Química na UFMT: Analisando

Necessidades Formativas.

Entendo que o caminho acadêmico percorrido, a pesquisa realizada neste

trabalho monográfico e a participação no programa marcaram definitivamente minha

escolha profissional. O desejo de ser professora, estudar o ensino de Química e fazer

parte da área educacional foi se tornando cada vez mais latente. Resolvi entender

melhor os questionamentos que me intrigavam e ainda intrigam. E foi a partir desses

acontecimentos, sobretudo pela participação no programa, que ingressei no programa de

pós-graduação em Educação na UFMT, na linha de educação em Ciências e

Matemática, em nível de mestrado, propondo uma investigação sobre as contribuições

do Pibid para formação inicial de Química, já que havia analisado em meu trabalho

monográfico as necessidades formativas dos licenciados em Química da UFMT.

A pesquisa foi iniciada no ano de 2011, mediante leitura sobre a temática de

formação inicial e iniciação à docência. Optamos por estudar o subprojeto de Química,

mais especificamente o Edital 2007, do qual fiz parte. Ainda no início dos estudos

27

selecionamos os sujeitos da pesquisa e aplicamos quatro questionários, apresentados na

respectiva ordem Apêndice A, Apêndice B, Apêndice C e Apêndice D, destinados ao

setor responsável pelo Pibid na Capes, ex-bolsistas3

, professores supervisores e

coordenador de área, referentes ao edital 2007. O questionário aplicado ao setor

responsável pelo Pibid na Capes objetivou contextualizar o programa, mais

especificamente o subprojeto de Química em Cuiabá; em nível nacional. Os demais

questionários foram aplicados com o objetivo de identificar e caracterizar o perfil dos

sujeitos. Para os ex-bolsistas enfatizamos a trajetória acadêmica, o motivo pela escolha

do curso de Licenciatura e as dificuldades encontradas; para supervisores e

coordenadores foi a importância do Pibid e atuação profissional.

1.2 – A PESQUISA: INVESTIGANDO AS CONTRIBUIÇÕES DO PIBID NA

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DE QUÍMICA

Em parte, o interesse em estudar a formação inicial de professores de Química

e iniciação à docência em plena formação dos alunos do curso de Química da UFMT

adveio da minha própria experiência como aluna de licenciatura em Química e

ex-bolsista do subprojeto de Química edital 2007. As situações vivenciadas na minha

iniciação à docência como participante do Pibid trouxeram-me reflexões acerca da

minha formação inicial, sobre minhas necessidades formativas e como todo esse

processo de iniciação à docência em plena formação me influenciou como profissional

da educação. As contribuições do programa para a construção da minha identidade

docente e definição profissional foram à principal motivação para realização deste

estudo.

O Início da carreira docente representa a etapa principal na constituição do ser

professor. São nesses momentos de questionamentos, tensões e aprendizagens que os

professores principiantes refletem pausadamente sobre sua profissão e, dessa forma,

começam a construir a sua identidade docente (NÓVOA, 1992).

Pesquisas que analisam o processo de iniciação à docência de um modo geral,

de acordo com a revisão da literatura, focalizam dentre os principais temas as

necessidades formativas do professores em início de carreira; análises e identificação

3 Optamos utilizar o termo ex-bolsistas, pois nosso foco de estudo é o subprojeto de Química do

Pibid/UFMT Edital 2007, o qual teve suas atividades concluídas em 2010. Não seria possível utilizar

apenas o termo licenciados ou egressos, pois ainda há duas licenciandas que provavelmente concluíram o

curso no fim do ano de 2013.

28

das dificuldades enfrentadas pelo professores iniciante, análises da configuração da

aprendizagem profissional dos professores iniciantes; análises dos processos formativos

e dos conhecimentos que estão na base da atuação docente; análises dos processos de

desenvolvimento profissional docente e conhecimentos profissionais de docentes

principiantes; análises da vivência de professores em início de carreira, bem como os

saberes e os conflitos que emergem dessas vivências. Alguns estudos mais abrangentes

tratam da iniciação à docência quando se analisa o ciclo de vida dos professores, assim

como seus saberes (TARDIF, 2002).

Garcia (2010, p. 24) com aporte em Day, Elliot e Kington (2005) argumenta

que as competências e capacidades do profissional da educação, principalmente sobre a

capacidade de refletir sobre os fins, os processos, os conteúdos e os resultados de seu

trabalho, variam de acordo com as diversas fases do ciclo que o professor se encontra ou

que está passando, nessa fase de profissionalização. Cada fase desse ciclo comum entre

os professores é caracterizada como menciona Garcia em:

Etapa da iniciação na carreira, a estabilização (novos desafios e

preocupações), a estabilidade profissional (reorientação e desenvolvimento

continuado) e a fase final (avanço no ensino, sobrevivência e

conservadorismo). Segundo esses autores, o principal elemento motivador

dos docentes é “deixar uma marca” nos seus alunos, e isso depende

principalmente de seu tato pedagógico, de seu conhecimento profundo da

situação e de sua inteligência emocional (2010, p. 24).

Contudo, segundo Marcelo Garcia, a iniciação profissional dos professores

constitui uma das fases do “aprender a ensinar”, que tem sido sistematicamente

esquecida, tanto pelas instituições universitárias como pelas instituições dedicadas à

formação em serviço dos professores (1999, p. 112). Esse esquecimento, mencionado

por Garcia, ainda é agravado quando existe o distanciamento entre a formação do

professor e a realidade escolar.

A falta de vivência em ambiência real de ensino para os professores iniciantes

não traz prejuízos somente à sua profissionalização, mas a todo processo envolvido,

principalmente na qualidade do ensino que será ofertado. Diante desse cenário, também

nos motivamos a realizar essa pesquisa e entender quais as principais contribuições do

Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid). Tal entendimento pode

ajudar a desvelar ações necessárias aos cursos de formação inicial de professores de

Química, exemplificando a realidade do dia a dia do professor em formação e em início

de carreira.

29

Os anos iniciais como docente podem evidenciar algumas necessidades

formativas desconhecidas pelos próprios professores principiantes, que começam a

questionar principalmente a fragilidade das estruturas curriculares dos cursos de

licenciatura. Nesse sentido, as experiências e os relatos dos licenciados em

profissionalização tornam-se relevantes e podem contribuir para melhorar a

compreensão da complexidade do trabalho docente e também para as melhorias na

própria execução do Pibid.

Pena (2010, p. 2) traz em sua dissertação um trecho da obra do holandês Simon

Veenman, estudioso da temática iniciação à docência, que retrata uma das motivações

para o desenvolvimento desse estudo,

[...] o conhecimento dos problemas mais frequentes que os professores

encontram pode proporcionar informações importantes para a melhoria e

renovação de modelos dos programas iniciais como permanentes

(continuada), e para melhorar a supervisão das práticas iniciais. Nenhuma

instituição para a formação de professores pode ficar indiferente ou ignorar

os problemas que seus graduados encontram em seus primeiros anos de

trabalho [...] (VEENMAN apud, PENA, 2010, p. 2).

É certo que os Pibidianos não estão iniciando a carreira docente, mas estão em

uma fase de iniciação à docência, com atividades desenvolvidas na escola sob

orientação do professor supervisor do programa. Nesse sentido, levar as dificuldades

relatadas pelos bolsistas ao conhecimento dos coordenadores de curso pode contribuir

para futuras melhorias do currículo e das práticas pedagógicas dos professores

formadores da IES.

Pena (2010), em seu estudo sobre a vivência de três professoras em início de

carreira, argumenta que o entendimento dos desafios dessa fase ajuda a desvelar uma

realidade pouco conhecida por aqueles que muitas vezes pensam e trabalham pela

melhoria da educação (governantes, pesquisadores, professores formadores, professores

principiantes, dentre outros).

“Trabalhos dessa natureza colaboram para a aproximação entre o

mundo acadêmico e o mundo da escola, fornecendo elementos importantes

para que as ações que visam à melhoria do ensino sejam concretizadas de

fato e tornando o ensino de química mais útil para a vida dos nossos alunos”

(PENA, 2010, p.2).

Pesquisas que focalizam a criação e estruturação de programas de inserção à

docência, como é o caso deste estudo, são relativamente recentes. A escassez de

30

produções científicas sobre os docentes, sobretudo de química, em fase de iniciação à

docência e sobre programas de inserção a docência em plena formação, comprova a

importância educacional dessa temática.

Como já mencionado, a formação inicial de professores na última década tem

sido motivo de preocupação para formadores e órgãos da área educacional. O número

de jovens brasileiros que almejam cursar uma licenciatura no Brasil é relativamente

menor se comparado com outras profissões. Diante da fragilidade política e social da

profissão docente, os cursos de licenciatura enfrentam uma baixa procura e uma alta

evasão acadêmica (MELLO, 2012). Há o reconhecimento dessa gravidade em aspectos

políticos, assim como se observa a estagnação das escolas da rede pública de ensino e a

alta evasão dos estudantes, como já demonstrado no Plano Nacional de Educação

(PNE). Nesse contexto surge o Pibid.

O Pibid é um programa relativamente novo e estudar suas contribuições é

importante para entendermos como o programa tem impactado positivamente ou

negativamente na formação inicial de professores.

1.3 – TEMA

O presente estudo pauta-se na seguinte temática: Iniciação à Docência em

Plena Formação de professores de Química participantes do Programa Institucional de

Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid).

1.3.1 – Delimitação do Tema

Atualmente, na UFMT, o Pibid atende 30 licenciaturas, dentre essas optamos

por estudar as suas contribuições do subprojeto de Química edital 2007.

31

1.4 – PROBLEMA DE PESQUISA

A problemática dessa pesquisa pauta-se na seguinte questão: “Em que

aspectos o projeto Pibid/UFMT contribuiu para formação inicial e iniciação à

docência dos participantes do subprojeto de Química Edital 2007?”

1. Qual a contribuição do Pibid na perspectiva dos ex-bolsistas, dos professores

supervisores e dos coordenadores de área e institucional?

2. Qual a influência do Pibid na iniciação à docência dos ex-bolsistas?

3. Qual a influência do Pibid na atuação profissional dos professores supervisores e

dos coordenadores de área e institucional?

1.5 – OBJETIVOS

1.5.1 - Objetivo Geral

Investigar a contribuição do projeto Pibid/UFMT na formação inicial e iniciação

à docência dos participantes do subprojeto de Química.

1.5.2 - Objetivos Específicos

Os objetivos específicos desse trabalho podem ser assim explicitados:

Analisar os objetivos e finalidades do Programa Institucional de Bolsa de

Iniciação à Docência, descrita nos documentos oficiais, com ênfase no Projeto

Institucional e Subprojeto de Química do Pibid/UFMT Edital – 2007; Decreto nº

7.219, de 24 de junho de 2010 e Edital Capes 2007, estabelecendo relações com

textos que tecem a atual política para a formação de professores. Destaca-se o

Parecer CNE/CP 09/2001, que propõe as Diretrizes Curriculares Nacionais para

a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior; curso de

licenciatura, de graduação plena e ao Parecer CNE/CES 1.303/2001, que institui

as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Bacharelado e de

Licenciatura em Química;

Apresentar um breve histórico do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à

Docência na UFMT e, também, do Subprojeto de Química Edital 2007,

32

buscando situar as contribuições e o papel estabelecido pelo programa na

formação inicial de professores de Química;

Identificar as contribuições do Pibid Edital 2007, na perspectiva dos

coordenadores, supervisores e bolsistas, observando possíveis sinais de

recontextualização das atuais políticas educacionais.

Entende-se que os dados desta investigação podem ajudar na compreensão do

propósito do Pibid para formação inicial de professores de Química, iniciação à

docência e, consequentemente, no entendimento das contribuições do programa para os

participantes do subprojeto de Química. Este estudo também poderá possibilitar a

reflexão sobre o papel que o programa tem desempenhado nas políticas de formação de

professores.

1.6 – A OPÇÃO METODOLÓGICA

Para a realização deste trabalho optamos por utilizar a investigação alicerçada

pelas técnicas da pesquisa qualitativa. Sobre a perspectiva qualitativa Godoy descreve:

A abordagem qualitativa, enquanto exercício de pesquisa, não se

apresenta como proposta rigidamente estruturada, ela permite que a

imaginação e a criatividade levem os investigadores a propor trabalhos que

explorem novos enfoques (1995, p. 21).

De acordo com Bogdan e Biklen (1994), a expressão “investigação qualitativa” é

utilizada como um termo genérico, pois agrupa diferentes estratégias de investigação,

porém partilham em determinadas situações as mesmas características. Para os autores,

Os dados recolhidos são designados por qualitativos, o que significa ricos em

pormenores descritivos relativamente a pessoas, locais e conversas, e de

complexo tratamento estatístico. As questões a investigar não se estabelecem

mediante a operacionalização de variáveis, sendo, outros sim formulados

com o objetivo de investigar os fenômenos em toda a sua complexidade e em

contexto natural. Ainda que os indivíduos venham selecionar questões

específicas à medida que recolhem os dados, a abordagem à investigação não

é feita com o objetivo de responder as questões prévias ou de testar hipóteses.

Privilegiam, essencialmente, a compreensão dos comportamentos a partir da

perspectiva dos sujeitos da investigação. [...] Recolhem naturalmente os

dados em função de um contato aprofundado com os indivíduos, nos seus

contextos ecológicos naturais (BOGDAN E BIKLEN, 1994, p. 16).

33

Pensando nas características da investigação qualitativa, podemos afirmar que a

presente pesquisa se enquadra como tal, na medida em que a pesquisadora realizou a

investigação em seu contexto natural, uma vez que foi integrante do Projeto

Pibid/Química UFMT, ou seja, o objeto da pesquisa surgiu de um contexto vivenciado,

com suas aspirações, crenças, valores e atitudes, em especial da interpretação da

realidade vivida e partilhada com seus semelhantes (sujeitos da pesquisa). Nesse

sentido, frente à observação e participação da investigadora sobre seu objeto de estudo,

podemos ressaltar que de acordo com Bogdan e Biklen (1994) as estratégias mais

representativas da investigação qualitativa são a observação participante e a entrevista

em profundidade.

1.6.1 – Estudo de Caso

A investigação qualitativa realizada neste trabalho consiste em um estudo de

caso por realizar observação detalhada de um contexto, um grupo de indivíduos e de

documentos. Esta investigação se enquadra como um estudo de caso, pois analisamos a

contribuição do Pibid na perspectiva de um grupo de indivíduos (ex-bolsistas,

supervisores e coordenadores), participantes do Pibid na UFMT, edital 2007.

Realizamos também análise do Projeto Institucional e Subprojeto de Química/UFMT

Edital – 2007), do Decreto nº 7.219 de 24 de junho de 2010 e Edital CAPES 2007,

Parecer CNE/CP 09/2001 que propõem as Diretrizes Curriculares Nacionais para a

Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura,

de graduação plena e Parecer CNE/CES 1.303/2001, que institui as Diretrizes

Curriculares Nacionais para os cursos de Bacharel e Licenciatura em Química.

De acordo com conceituação apresentada por Bogdan e Biklen (1994, p.90), “a

melhor técnica de coleta de dados consiste na observação participante e o foco de estudo

centra-se numa organização particular (escola, centro de reabilitação)”. De acordo com

Marconi e Lakatos (2006, p. 274), “o estudo de caso é um método de pesquisa que se

refere ao levantamento aprofundado de determinado caso ou grupo humano sob todos

os seus aspectos”. Nesse sentido buscamos na coleta de dados interpretar a perspectiva

dos sujeitos, quanto aos aspectos que o Pibid de contribuições para formação inicial e

iniciação à docência.

34

Segundo Lüdke e André (1986), o estudo de caso estuda situações únicas que

se apresentam com delimitações bem definidas e apresenta algumas características

fundamentais:

I – Os estudos de caso visam à descoberta;

II – Os estudos de caso enfatizam a interpretação em contexto;

III – Os estudos de caso buscam retratar a realidade de forma completa e

profunda;

IV – Os estudos de caso usam uma variedade de fonte de informação;

V – Os estudos de caso revelam experiência vicária e permitem generalizações

naturalísticas;

VI – Os estudos de caso procuram representar os diferentes e às vezes

conflitantes pontos de vista presentes em uma situação social;

VII – Os relatos de estudo de caso utilizam uma linguagem e uma forma mais

acessível do que os outros relatórios de pesquisa.

Esse tipo de pesquisa permite retratar a complexidade de situações particulares,

focalizando o problema em seu aspecto total. O pesquisador pode utilizar uma variedade

fonte de coleta de dados, o que enriquece a pesquisa podendo estes ser coletados em

diferentes momentos, tal como realizamos. O que melhor caracteriza a escolha deste

método é poder realizar a pesquisa com diferentes sujeitos e com os dados coletados

torna-se possível fazer um cruzamento das informações obtidas das diferentes fontes.

Por essa razão fomos motivados a buscar compreender as contribuições do Pibid na

perspectiva dos diferentes sujeitos em suas funções específicas. Tal fato nos permitiu

analisar diferentes olhares sobre o mesmo objeto de estudo.

Ainda no que concerne ao estudo de caso, Godoy considera que:

O estudo de caso tem se tornado a estratégia preferida quando os

pesquisadores procuram responder às questões “como” e “por que” certos

fenômenos ocorrem, quando há pouca possibilidade de controle sobre os

eventos estudados e quando o foco de interesse é sobre fenômenos atuais, que

só poderão ser analisados dentro de algum contexto da vida real (1995, p.

26).

35

Um estudo de caso apresenta três fases em seu desenvolvimento. Ele

caracteriza-se da seguinte forma: inicialmente há a fase exploratória, num segundo

momento há a delimitação do estudo e a coleta de dados, e num terceiro estágio há a

análise sistemática desses dados, culminando na realização do relatório ou como neste

caso em uma pesquisa em nível de mestrado (LÜDKE E ANDRE, 1986).

1.6.2 – Análise de Dados

Os objetos de estudo em educação geralmente se apresentam de forma

complexa, essencialmente porque as pesquisas qualitativas visam à compreensão dos

problemas a partir da perspectiva dos sujeitos da pesquisa. Bogdan e Biklen (1994)

entendem que a abordagem qualitativa permite descrever os fenômenos em

profundidade por meio da compreensão do ponto de vista dos sujeitos sobre o objeto de

estudo. Tais estudos procuram entender as perspectivas dos sujeitos em sua

singularidade, evitando dessa forma possíveis generalizações. Assim, nos apoiamos na

interpretação das contribuições do Pibid na perspectiva dos sujeitos que possuem

funções e deveres definidos na execução do programa.

A pesquisa qualitativa desenvolve seus estudos na interpretação do mundo real,

bem como na experiência vivida pelas pessoas que nele habitam, dando importância ao

processo de tais relações sociais interpretativas e não ao resultado das mesmas. Dessa

forma, para melhor compreensão subjetiva das opiniões dos sujeitos e das realidades

complexas do meio educacional a análise de dados se torna fundamental para qualidade

da investigação.

Os dados recolhidos devem ser analisados com o objetivo de investigar os

fenômenos em toda a sua complexidade e em contexto natural. Portanto, a fase de

análises de dados consiste na transcrição das entrevistas, análise dos questionários e

entrevistas e finaliza-se com a interpretação dos dados. A análise consiste em um

processo de organização dos dados, focalizando aspectos subjetivos e essenciais aos

sujeitos. A interpretação se refere ao processo de compreensão dos significados e

crenças atribuídos pelo sujeito a partir dos dados obtidos. A fase de análise de dados de

acordo com Bogdan e Biklen (1994) pode ser entendida como um processo que objetiva

organizar de forma sistemática e mais realista possível as transcrições de entrevistas,

36

notas de campo, entre outras formas de obtenção de dados importantes à investigação,

enfatizando os pormenores subjetivos na tentativa de compreender o contexto real do

indivíduo e dessa forma descobrir aspectos importantes.

Como neste estudo optamos por realizar um estudo de caso, recorremos

também ao processo de triangulação metodológica dos dados, utilizando-se de mais de

um instrumento de coleta de dados, com diferentes sujeitos sobre o mesmo objeto de

estudo. Sendo assim, temos a perspectiva dos ex-bolsistas, professores supervisores e

coordenador de área referente às contribuições do Pibid para formação e iniciação à

docência.

Figura 01 – Técnica da Triangulação

O vértice A da triangulação de dados representa os ex-bolsistas do subprojeto de

Química, sujeitos da pesquisa. No Questionário 01 (Apêndice A) buscamos traçar o

perfil dos sujeitos. Com intenção de entender as contribuições do Pibid na perspectiva

dos ex-bolsistas, aplicamos uma entrevista semiestruturada 01 (Apêndice E), a fim de

compreender melhor em que aspectos o Pibid trouxe contribuição aos bolsistas.

No vértice B representamos os supervisores do Subprojeto de Química.

Utilizamos para esses um Questionário (02), constante no Apêndice B, para traçar o

37

perfil socioeconômico, formação acadêmica e opção pela docência. Também realizamos

uma entrevista semiestruturada, constante no Apêndice F, com o objetivo de identificar

as contribuições do Pibid na perspectiva dos supervisores, que trazem junto com seus

discursos e crenças parte do clima e aceitação da escola quanto ao programa. Os

critérios utilizados na entrevista foram à identificação dos aspectos de contribuição para

o próprio desempenho profissional, para a escola e para os ex-bolsistas.

No vértice C representamos o coordenador do Subprojeto. Utilizamos um

Questionário (03), constante no Apêndice C, para traçar o perfil socioeconômico,

formação acadêmica e opção pela docência. Realizamos uma entrevista semiestruturada,

constante no Apêndice G, com o objetivo de identificar as contribuições do Pibid na

perspectiva do coordenador.

Em paralelo, analisamos a atual política para a formação de professores dando

destaque para o Parecer CNE/CP 09/2001, que propõe as Diretrizes Curriculares

Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica e ao Parecer CNE/CES

1.303/2001, que institui as Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de

Bacharelado e de Licenciatura em Química.

1.6.3 – Instrumentos de Coletas de Dados

Optamos por algumas técnicas de coleta de dados, dentre as quais destaca-se

entrevista semiestruturada e questionário aplicado junto aos sujeitos da pesquisa

(bolsistas, coordenadores e supervisores); questionário aplicado junto ao setor

responsável pelo Pibid na Capes e análise documental com ênfase no Projeto

Institucional e Subprojeto de Química/UFMT Edital 2007; Decreto nº 7.219 de 24 de

junho de 2010, Edital Capes 2007 e relatórios institucionais, pois como versa Bogdan et

al (1994, p. 180) “os documentos oficiais são vistos de formas favoráveis pelos

pesquisadores qualitativos pela subjetividade e perspectivas oficiais envolvidas”.

Os questionários foram projetados e aplicados, na presente pesquisa, da

seguinte forma:

Questionário 01(Apêndice A), destinado aos ex-bolsistas do subprojeto de

Química, Edital Capes 2007/UFMT. Este questionário foi aplicado em outubro de 2011

e teve por finalidade identificar e caracterizar o perfil dos sujeitos. Este questionário foi

38

dividido em dois blocos, averiguando no bloco I o perfil socioeconômico e no bloco II

sua formação acadêmica. Este instrumento consta de questões objetivas (fechadas) e

subjetivas (abertas). As questões abertas tiveram por finalidade averiguar o motivo pela

escolha do curso, quais foram às principais dificuldades encontradas no decorrer da

graduação e o que os mesmos pretendem profissionalmente. Os dados coletados

funcionaram, portanto, como elemento norteador para traçarmos a linha de investigação

a se realizar.

Questionário 02 (Apêndice B), destinado às professoras supervisoras. O

questionário foi entregue em outubro de 2011, sendo seu objetivo verificar a

característica socioeconômica e o perfil profissional. O questionário foi dividido em três

blocos, como bloco I - dados pessoais e socioeconômicos, bloco II – formação

acadêmica e bloco III – profissão docente. Dentre as perguntas subjetivas procuramos

compreender o que levou as mesmas a participar do programa e qual a importância do

Pibid para seu desempenho profissional.

Questionário 03 (Apêndice C), destinado ao coordenador de área. O

questionário foi entregue em outubro de 2011, sendo seu objetivo verificar a

característica socioeconômica e o perfil profissional. A divisão e ênfase das perguntas

subjetivas foram às mesmas que o questionário 02.

Questionário 04 (Apêndice D), destinado ao setor responsável pelo Pibid na

CAPES, com a finalidade de contextualizar a abrangência do Pibid em Cuiabá e em

nível nacional, em especial sobre os Subprojetos de Química.

Entrevista 01 (Apêndice E), destinada aos ex-bolsistas, foi iniciada em março

de 2012, sendo gravada com a utilização do programa Microsoft OneNote, versão 2010.

Entrevista 02 (Apêndice F), destinada aos supervisores, foi gravada com o

mesmo programa citado acima. Todas as entrevistas se iniciaram em março de 2012, de

acordo com a disponibilidade dos sujeitos.

Entrevista 02 (Apêndice G), destinada ao coordenador, foi gravada com o

mesmo programa citado acima. Essa foi à primeira entrevista realizada. Objetivamos

compreender as contribuições do Pibid em nível institucional, para traçarmos possíveis

sinais de recontextualização da prática mediante leitura dos documentos oficiais.

39

Cabe ressaltar que, em ambas as entrevistas procuramos perguntar a cada

sujeito sobre o que ele via como contribuição para ele e também para os outros

(ex-bolsistas, coordenador, professor-supervisor, escola, alunos da educação básica),

para dessa forma entender melhor a dimensão que o sujeito tem do Pibid como um todo,

não pensando apenas em sua função.

1.6.4 - Os Sujeitos da Pesquisa: Ex-bolsistas, supervisores e coordenador

Os sujeitos da pesquisa escolhidos foram os 11 bolsistas do subprojeto de

Química/UFMT, 01 coordenador de área e 02 supervisores do Pibid, todos referente ao

edital Capes 2007.

1.6.6 - O Objeto da Pesquisa

O objeto de estudo desta pesquisa é o Subprojeto de Química do Pibid/UFMT,

edital Capes 2007.

1.7 – EXPLICITANDO OS PERCURSOS NO DESENVOLVIMENTO DESTA

PESQUISA

O presente estudo iniciou-se com a realização da revisão da literatura. Para

tanto, buscamos identificar teses e dissertações que tratam da formação inicial de

professores de Química, Iniciação à docência em Química e Estágio Supervisionado em

Química, Programas de Inserção à Docência e Pibid. Como no início da revisão da

literatura tivemos dificuldades para encontrar teses e dissertações que tratassem dos

descritores acima específicos de Química, optamos então pela utilização dos descritores

de forma geral, sendo Formação Inicial, Iniciação à Docência (professor iniciante ou

principiante) e Estágio Supervisionado, para posteriormente realizarmos um

refinamento do referencial selecionado.

O levantamento de teses e dissertações teve como fonte o Banco de Teses da

Capes, Domínio Público, Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD)

e Instituto de Educação da UFMT. O levantamento também foi realizado de forma mais

40

refinada utilizando os descritores acima específicos da Química em Bibliotecas Digitais

de Teses e Dissertações de algumas universidades4, que possuem programas de Pós-

Graduação em Educação.

Além de teses e dissertações ampliamos a busca para artigos de periódicos e

textos completos publicados em eventos da área de educação. O levantamento foi feito

no site da Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação – ANPED,

(GT8 – Formação de Professores, GT11 – Política de Educação Superior e GT12-

Currículo), a pesquisa foi realizada da 23º Reunião Anual, ocorrida no ano 2000, à 33º

Reunião Anual, realizada em 2010. O levantamento de artigos foi realizado no

Periódico CAPES e na Biblioteca Científica Eletrônica em Linha -SciELO5.

A escassez de produções científicas sobre os docentes de química em iniciação

à docência comprova a importância educacional dessa temática. Para termos ideia dessa

escassez, o levantamento referente à iniciação à docência em Química6

permitiu

identificar 04 trabalhos no banco de teses da Capes, sendo 01 tese de doutorado e 03

dissertações de mestrado acadêmico. Para análise foram considerados os seguintes

aspectos: finalidades das pesquisas; referencial teórico adotado e problemas relativos à

Iniciação à docência relatada nos estudos.

Os resultados das análises das dissertações e teses permitem concluir que:

Finalidades dos estudos analisados: Os estudos sobre iniciação à docência

em Química7 têm a finalidade de analisar o processo de socialização e

construção da identidade profissional desses docentes principiantes em face

de um ambiente escolar novo, as formas de ingresso na carreira docente, bem

como dos conflitos emergentes entre os pares, buscando analisar também

4 UFSC, PUC Minas, USP – Faculdade de Educação, UEL, UFF, UFLA, UFRN, UNB – Faculdade de

Educação, UNESP, UNICAMP – Faculdade de Educação, UFU, UFRGS. 5 Os periódicos científicos brasileiros selecionados na SciELO foram: Revista Brasileira de Educação,

Cadernos de Pesquisa, Ciência e Educação Bauru, Educação e Pesquisa, Educação e Sociedade, Educação

em Revista, Educar em Revista. A busca se iniciou em outubro de 2011 e terminou em fevereiro de 2012. 6Iniciamos a busca em outubro de 2011 e terminou em fevereiro de 2012.

7As pesquisas que analisam o processo de iniciação à docência de um modo geral (não específicos de

Química), de acordo com a revisão da literatura, focalizam dentre os principais temas as necessidades

formativas de professores em início de carreira, análises e identificação das dificuldades que os

professores iniciantes enfrentam nesse período; análises da configuração da aprendizagem profissional

dos professores iniciantes; análises dos processos formativos e dos conhecimentos que estão na base da

atuação docente; análises dos processos de desenvolvimento profissional docente e conhecimentos

profissionais de docentes principiantes; análises da vivência de professores em início de carreira, bem

como os saberes e os conflitos que emergem dessas vivências. Alguns estudos mais abrangentes tratam da

iniciação a docência quando se analisa o ciclo de vida dos professores, bem como seus saberes.

41

como ocorre à construção do conhecimento pedagógico e a integração desses

com os conhecimentos específicos.

Referencial Teórico utilizado: Os autores mais utilizados nesses estudos

foram Flores, Garcia, Gonçalves, Goodson, Guarnieri, Huberman, Lima,

Mizukami, Nóvoa Tardif, Tardif e Raymond, Veenman. A análise textual

apresentada por esses autores demonstra a importância da formação inicial

para as vivências iniciais na profissão. Eles fazem uma critica à falta de

conhecimento sobre a prática docente em contexto real de ensino.

Argumentam sobre o choque com a realidade do dia a dia na escola, sobre as

dificuldades e necessidades formativas que se aguçam no desenvolvimento

profissional. As dissertações ainda trazem referencial sobre cultura escolar

Pérez Gómez e Julia, para discutir a construção da identidade profissional

Berger e Luckmann e Dubar e para análise dos estágios de desenvolvimento

do professor em formação Dreyfus e Berliner.

Problemas relativos à iniciação à docência: Um dos problemas expressos nas

pesquisas analisadas se refere às falhas que os professores principiantes

apresentam sobre o conhecimento do conteúdo, que faz refletir nos demais

conhecimentos necessários à prática profissional. As pesquisas também

trazem uma importante discussão referente à falta de conhecimento sobre a

prática docente em ambiente real de ensino. Percebemos que esse é um dos

principais motivos apresentados para explicar as dificuldades iniciais que os

docentes enfrentam e que resultam na dificuldade de integrar os

conhecimentos específicos com os pedagógicos.

Paralelamente à revisão da literatura buscamos desenvolver análises sobre

textos oficiais referentes ao Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência a

fim de relacionar o sentido atribuído à iniciação à docência, estágio supervisionado e a

prática pedagógica dos licenciandos nesses documentos. Para tanto, no próximo

capítulo discorremos sobre a formação de professores e dos percursos e desafios do

início da profissão.

42

CAPITULO II

FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: Percursos e Desafios do início da

profissão

“Educar significa instituir a integração dos educandos como

agentes em seu lugar, designados num conjunto social, do qual

nem eles, nem seus educadores têm o controle. Significa

assegurar ao mesmo tempo a promoção desses mesmos

educandos e, portanto, de seus educadores, em atores de sua

própria história individual e da História coletiva em curso”.

(Daniel Hameline).

Neste capítulo iniciamos a apresentação das bases teóricas que orientam e

fundamentam esta investigação, que tem por objetivo estudar as contribuições do Pibid

na perspectiva dos participantes do Subprojeto de Química – Pibid/UFMT, edital 2007.

Inicialmente, analisamos o conceito de formação e suas múltiplas interpretações.

Trazemos um conjunto de pesquisas sobre a formação de professores e iniciação à

docência por proporcionar a visão de diferentes percepções sobre a fase de inserção

profissional docente. As pesquisas concluídas acerca dessa temática trazem dados que

contribuem para melhorar a compreensão da complexidade do trabalho docente.

Finalizamos o capítulo abordando alguns aspectos importantes da literatura para a

interpretação de nossos dados quanto à formação de professores.

2 – FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES

2.1 – O conceito “formação”

A demanda por docentes qualificados tem aumentado muito nas últimas

décadas, também tem aumentado de forma significativa a preocupação com os

processos formativos dos futuros docentes por parte dos órgãos responsáveis, prova

disso é o Pibid. Assim, a formação inicial de professores é um tema bastante debatido

na literatura educacional, pois há entendimento de que se trata de um requisito básico

para a educação de qualidade. Pesquisadores desta área (GARCIA, 1992, 1999; GIL-

PERÉZ e CARVALHO, 1993; NÓVOA, 1991, 1992; PIMENTA e LIMA, 2004;

43

POPKEWITZ, 1992; SCHÖN, 1992 e TARDIF, 2002) reafirmam a importância desta

fase de profissionalização, pois qualquer formação profissional inicial merece ser

periodicamente repensada em função de seus objetivos e principalmente em função da

evolução das condições de trabalho. Entendemos que a profissionalização inclui

formação inicial e continuada, condições adequadas de trabalho e valorização

profissional.

Antes de nos aventurarmos pela discussão da formação inicial de professores,

assunto tão debatido, cabe um primeiro olhar sobre a formação, pois quando falamos em

formação inicial de professores pouco se discute sobre o conceito “formação” e o

porquê da adesão desta terminologia e não de “ensino” ou até mesmo “treino”. A

palavra formação é susceptível a múltiplas interpretações. No senso comum geralmente

é utilizada para designar um período de instrução escolar, que geralmente uma pessoa se

forma ao final do mesmo, ou seja, ganha uma nova capacitação. De origem latina, vem

de formatione, que significa ato, efeito, modo de formar.

Temos a compreensão da formação no paradigma do não acabado, ou seja, esse

processo não se finaliza ao fim de um curso. Fundamentamo-nos, sobretudo, nas ideias

de Garcia (1999), que discute em sua obra Formação de professores: para uma

mudança educativa a problemática, como um processo que abarca referências

conceituais e teóricas a respeito de “formação”, formação de professores e de profissão

docente. O autor revisou em vários autores o conceito formação, trazendo inicialmente

que a escolha deste termo em vez de educação, ensino ou treino não é por acaso. Garcia

(1999) descreve baseado nas reflexões de estudiosos da temática três tendências sobre o

conceito de formação, a saber:

Menze afirma que existem três tendências contrapostas em relação ao

conceito de formação. De acordo com a primeira, é impossível utilizar o

conceito formação como conceito de linguagem técnica em educação, devido

fundamentalmente, à tradição filosófica que lhe é subjacente. [...] Uma

segunda tendência identificada por Menze é a de utilizar o conceito formação

para identificar conceitos múltiplos e por vezes contraditórios. Considera-se

que a formação não se limita, enquanto conceito, a um campo especifico

profissional, mas que se refere a múltiplas dimensões: formação do utente,

formação de pais, formação sexual (GARCIA, 1999, p. 18).

Garcia (1999) partilha da terceira tendência, que identifica “formação” não

como um conceito geral que englobe a educação e o ensino. Partilhamos da ideia que

44

educação se refere à ação que contribui para o desenvolvimento pessoal e social de

qualquer indivíduo.

Como consta em Houaiss, o termo reporta-se “ao conjunto de conhecimentos e

habilidades específicos a um determinado campo de atividade prática ou intelectual”.

Para Brezezinski (2008, p. 1144) “teoria e prática, saber e ação necessitam articular-se

no processo de formação, assim como no trabalho docente as concepções de sociedade,

homem, educação, o conhecimento específico e as habilidades operativas, técnicas e

tecnológicas não se separam”. Nesse sentido, a formação de professores requer a

articulação entre teoria e prática, especialmente no que se refere à experiência em

ambiência real de ensino. Tais experiências contribuem para construção da identidade

docente e saberes específicos provenientes da atuação do professor em sala de aula.

Logo, os estudos recentes do campo educacional têm realçado o valor da prática

pedagógica.

O conceito de formação é complexo e existem muitas tendências contrapostas,

sem consenso. No entanto, a formação está associada com a vontade e capacidade de

cada indivíduo, sendo o próprio formando responsável pelo seu desenvolvimento

pessoal e social. Assim, a eficiência do processo de formação vai depender do empenho

do formando. O processo de formação de professores necessita contemplar essa

multiplicidade de conhecimentos e saberes para que o estudante atinja a maturação

interna (HONORÉ, 1980).

Diante dos múltiplos e contraditórios conceitos atribuídos à “formação”, Ferry

(1991) argumenta que a de professores possui uma natureza específica e apresenta

particularmente três traços distintos de qualquer outra formação:

Em primeiro lugar, trata-se de uma formação dupla, onde se tem de

combinar a formação acadêmica (científica, literária, artística, etc.) com a

formação pedagógica. Em segundo lugar, a formação de professores é um

tipo de formação profissional, quer dizer, forma profissionais, o que

acabamos de ver, nem sempre se assume como característica da docência.

Em terceiro lugar, a formação de professores é uma formação de formadores,

o que influencia o necessário isomorfismo que deve existir entre a formação

de professores e a sua prática profissional (GARCIA, 1999, p. 23).

Portanto, a formação de formadores ocorre em um espaço em que se realiza a

formação do formando, ao mesmo tempo em que ocorre a prática profissional do

formador. Pensando antes mesmo da formação profissional docente, o aluno licenciando

já vivenciou a prática docente desde criança no convívio diário com seus professores na

45

escola básica. Talvez por esse motivo a repetição de modelos no caso dos professores

principiantes é tão discutida por estudiosos da temática. Assim sendo, a influência do

processo formativo na formação docente perpassa toda a formação acadêmica.

Conforme conceituação apresentada por Pimenta e Lima (2004, p. 35),

O exercício de qualquer profissão é prático no sentido de que se trata

de aprendera fazer “algo” ou “ação”. A profissão do professor também é

prática. E o modo de aprender a profissão, conforme a perspectiva da

imitação será a partir da observação, imitação, reprodução e, às vezes,

reelaboração dos modelos existentes na prática consagrados como bons.

Muitas vezes nossos alunos aprendem conosco nos observando, imitando,

mas também elaborando seu próprio modo de ser. Nesse processo escolhem,

separam aquilo que consideram adequados, acrescentam novos modos,

adaptando-se aos contextos nos quais se encontram. Para isso, lançam mão de

suas experiências e dos saberes que adquiriram.

Porém, como as autoras argumentam essa forma de aprender a profissão

docente não é suficiente e apresenta alguns limites, visto que nem todos os futuros

docentes apresentam elementos para ponderarem com criticidade o que o professor

modelo está executando. Em muitos casos ocorre apenas a repetição de modelos.

Aprofundando um pouco mais a discussão sobre o conceito de formação,

Araujo e Moura (2002) assumem um posicionamento contra a utilização da expressão

Formação Inicial, visto que o aluno, ao ingressar no curso, seja Ensino Médio, seja no

Ensino Superior, já traz consigo experiências escolares decorrentes de sua formação

educacional, por isso não há razão em falarmos em formação inicial. Para os autores o

processo de formação é intrínseco ao ser humano, em se tratando de formação no

sentido de capacitação ou mesmo qualificação o mais correto seria dizer Formação

profissional inicial ou formação profissional contínua.

Ressaltamos, também, que para esses autores não deve haver uma ruptura entre

formação profissional inicial e continuada, visto que a formação é contínua por que,

como o próprio nome sugere, se trata de considerar algo que já foi iniciado e cujo

movimento implica um continum de ação, ou seja, ambos integram o desenvolvimento

profissional, que nada mais é que um processo de aprendizagem profissional, pois a

profissionalização passa certamente por uma elevação do nível de qualificação atual do

indivíduo. Garcia (1999) defende a utilização do termo formação para designar ações

com adultos, sendo essa ação responsável pela aquisição de saberes, especialmente de

“saber-fazer”. Por conseguinte, se assume a profissionalização da fase e quando

46

tratarmos no decorrer deste estudo em formação inicial de professores estamos nos

referindo à profissionalização inicial na docência.

O conceito de formação de professores também possui diferentes referências

conceituais e teóricas. Não é por acaso que nas últimas décadas a formação de

professores desenvolveu uma área de investigação própria, que estuda problemas

específicos de sua área, como formação inicial, iniciação à docência e questões relativas

ao desempenho profissional docente mais maduro. Como afirma Gomes (1999, p. 24),

“É fácil verificar como em revistas especializadas, congressos e encontros científicos a

investigação sobre formação de professores adquiriu substantividade própria”.

A Formação de professores é a área de conhecimento, investigação e

de propostas teóricas e práticas que, no âmbito da Didática e da Organização

Escolar, estuda os processos através dos quais os professores – em formação

ou em exercício – se implicam individualmente ou em equipe, em

experiências de aprendizagem através das quais adquirem ou melhoram os

seus conhecimentos, competências e disposições, e que lhes permite intervir

profissionalmente no desenvolvimento do seu ensino, do currículo e da

escola, com o objetivo de melhorar a qualidade da educação que os alunos

recebem. (GOMES, 1999, p. 26).

Compartilhamos da ideia que Gomes (1999) bem expressa, com aporte em

Zabalza (1990), que a formação de professores é uma área de conhecimento e

investigação que tem centralizado seu enfoque no estudo sobre o desenvolvimento e

aprender profissional do professor, desde a formação profissional inicial ao exercício

profissional diário.

Gomes (1999) argumenta em sua obra que a formação de professores tem se

apresentado como uma “potente matriz curricular”, ou seja, entendida como uma

disciplina, e nesse sentido a mesma se apresenta como um conceito unívoco. Sharoon

Feiman (1983), em uma análise mais minuciosa, explicita que a formação de

professores não se apresenta de forma unívoca, argumentando que existem claramente

diferentes etapas ou níveis da formação de professores, chegando a distinguir quatro

fases, que são as fases de pré-treino, formação inicial, iniciação e formação

permanente, ambas apresentam a maturidade específica que caracteriza a fase.

A fase de pré-treino compreende a vivência trazida pelo futuro professor desde

sua fase escolar inicial, a qual possivelmente influiu de maneira inconsciente. A fase de

formação inicial ocorre em uma instituição própria de formação, onde os alunos terão

contato com as disciplinas do núcleo acadêmico e pedagógico. A fase de iniciação

ocorre nos primeiros anos de exercício profissional, como Gomes (1999, p. 26)

47

descreve, sendo nesse período em que os docentes principiantes aprendem na prática, e

em geral isso ocorre através de estratégias de sobrevivência. A fase de formação

permanente inclui todas as atividades já realizadas pelos professores desde a fase inicial,

bem como os saberes adquiridos pelo professor na prática diária profissional; esse

entrelace permite não só o desenvolvimento profissional como aprimoramento na arte

de ensinar.

2.2 - AS PESQUISAS SOBRE FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Nos dias atuais, muito se diz sobre a necessidade de investimentos na

educação, o que supostamente está relacionado à formação de professores, com a

valorização da profissão ou pelo menos deveria estar. A formação inicial e continuada

de professores tem importância definida no âmbito educacional. Acerca da revisão

histórica da tradição acadêmica de formação de professores, Tanuri relata que:

Tal debate acentua-se com a aprovação da nova LDB (Lei

9.394/96), que superando a polêmica relativa ao nível de formação – médio

ou superior, elevou a formação do professor das séries iniciais ao nível

superior, estabelecendo que ela se desse em universidades e em institutos

superiores como preocupação e de educação, nas licenciaturas e em cursos

normais superiores. Os tradicionais cursos normais de nível médio foram

apenas admitidos como forma mínima (art.62) e por um período transitório

até o final da década de educação [...]. Assim num momento em que a escola

normal é elevada ao nível superior, em que se discute o lócus de formação de

professores (Universidade versus Institutos Superiores de educação) e em que

se questionam o projeto pedagógico e os saberes que estão implícitos nessa

formação (2000, p.61).

Como Nóvoa (1992, p. 16) descreve, “os professores são a voz dos novos

dispositivos de escolarização e por isso o Estado não hesitou em criar condições para

sua profissionalização”. E é a partir dessa orientação profissionalizante que os saberes

dos professores se tornam temática central de muitas pesquisas no campo educacional.

Na década de 90, esse movimento de profissionalização, tanto na América do Norte

como na Europa e América Latina, conduziu a significativas reformas na formação

docente (LÜDKE e MOREIRA, 1999; LÜDKE, MOREIRA e CUNHA, 1999;

TARDIF, LESSARD e GAUTHIER, 2001, apud BORGES; TARDIF, 2001).

48

As reformas atualmente em curso no Brasil se situam no prolongamento

desse movimento. Por exemplo, no contexto geral das reformulações, a Lei

de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394 de dezembro de

1996) permitiu o desenvolvimento de políticas públicas como o Fundo

Nacional de Desenvolvimento do Ensino Fundamental (Fundef), os

Programas de Avaliação dos Sistemas de Ensino (Educação Básica e Ensino

Superior), os Parâmetros Curriculares Nacionais e a Proposta de Formação

(em nível superior) dos Profissionais da Educação Básica (Decreto, nº 3276,

de 6 de dezembro de 1999). Esta última definiu uma política de formação dos

profissionais da Educação Infantil, dos professores das primeiras séries do

Ensino Fundamental (realizada em cursos de pedagogia e em escola de

formação de professores no Ensino Médio até então), dos professores das

séries finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio (realizada nos

programas de licenciatura). (BORGES; TARDIF, 2001, p. 14).

Para Borges e Tardif (2001), as políticas públicas descritas acima incorporam

no cenário brasileiro um novo modo de compreensão da formação de professores e do

próprio professor, mudando a forma de articulação entre as agências formadoras e os

sistemas de ensino, delimitando os conhecimentos avaliados como básicos para os

professores da educação básica.

As pesquisas sobre formação de professores progrediram e avolumaram muito

nos últimos anos, tendo como temas centrais estudos acerca dos processos formativos

vivenciados por docentes e a definição dos tipos e da natureza dos seus saberes.

Também assistimos nas últimas décadas a um esforço crescente dos pesquisadores em

mapear a problemática da formação docente. A evolução da pesquisa no campo das

ciências da educação, voltada a essa problemática, tanto no plano internacional como no

Brasil, reflete as atuais reformas no âmbito da formação de professores.

Toda pessoa que se interessa hoje pelo estudo do ensino não pode deixar de

ficar espantada diante da profusão e da multiplicação dos escritos que tratam

da questão do conhecimento (ou do saber: knowledge em inglês; savoirs,

connaissances em francês) dos professores. Todos os anos, milhares e

milhares de livros e de artigos são publicados sobre esse tema em quase todos

os lugares do mundo. Somente nos Estados Unidos, obras volumosas sobre

essa questão aparecem de forma cada vez mais regular, apresentando

megassínteses sobre centenas e até milhares de pesquisas em curso.

(B0RGES; TARDIF, 2001, p.11).

Os autores estabelecem uma relação entre as pesquisas publicadas no banco de

dados americano ERIC8, sobre escritos que tratam do conhecimento do professor no ano

8ERIC é o principal banco de dados de língua inglesa sobre a educação. Ele contém quase um milhão de

documentos e arrola mensalmente, desde 1966, em torno de 1000 revistas de língua inglesa, a maior parte

delas americanas, mas também australianas, britânicas, canadenses etc., bem como livros, relatórios de

49

de 1966, ano em que o banco de dados foi inaugurado, aumentando as décadas até o ano

2000. Os autores descrevem que houve um aumento na publicação de estudos de mais

de 700% em relação ao ano de 1966.

Ainda que os estudos educacionais apresentem uma grande variedade de

opções teórico-metodológicas, esses têm indicado que a formação docente ocorre de

forma contínua, começando até mesmo antes da formação inicial docente e continuando

durante toda a vida profissional.

O desenvolvimento profissional dos professores é objetivo de propostas

educacionais que valorizam sua formação não mais baseada na racionalidade

técnica, que os considera meros executores de decisões alheias, mas em uma

perspectiva que reconhece sua capacidade de decidir (PIMENTA e LIMA,

2004, p. 13).

Para as autoras a transformação da prática do professor decorre da ampliação de

sua consciência crítica acerca de sua prática profissional. Por essa conscientização têm-

se valorizado a experiência dos professores e principalmente seus saberes. Nesse

sentido, os professores são vistos como profissionais que produzem conhecimentos

complexos e multifacetados, diante da reflexão diária de sua prática e de sua capacidade

em resolver situações escolares inesperadas.

Estudos e debates que vislumbram a melhoria da qualidade de ensino desde o

final do século XX têm centralizado suas atenções na figura do professor, logo os

processos de formação e desenvolvimento profissional têm sido amplamente

investigados, tanto por parte dos governantes como pelos estudiosos que vêm se

debruçando sobre esta questão. As pesquisas sobre formação de professores cresceram

muito nos últimos anos. Nono (2005) destaca em sua tese estudos que vêm sendo

desenvolvidos acerca da formação de professores, em âmbito internacional, baseando-se

em estudiosos como Fenstermacher, 1994; Marcelo, 1998, 2002; Shulman, L., 1989;

Tardif, 2000. Tais estudiosos elaboraram sínteses das diversas abordagens educacionais,

criadas e investigadas ao longo dos anos, possibilitando-nos ter uma visão geral dos

estudos desenvolvidos, seus enfoques teóricos e metodológicos. Trata-se de uma

maneira diferente de pensar o professor, sua formação e seu desenvolvimento

profissional.

pesquisa, atas de colóquios etc. Está sob a responsabilidade do Departamento de Educação nos Estados

Unidos e pode ser consultado gratuitamente pela Internet: http://www.ericir.syr.edu/Eric/

50

Shulman, L. (1989) sintetiza os principais programas de investigação que,

desde a década de 1960 vêm estruturando a pesquisa sobre ensino. Buscam

sistematizar suas principais questões organizativas, temas abordados,

métodos empregados, tipos de resultados gerados. [...] Shulman destaca

ainda, estudos que investigam o conhecimento prático do professor. [...]

Fenstermacher (1994) realiza uma revisão de programas de pesquisa

referindo-se ao trabalho de determinados pesquisadores que estudam os

professores e seu ensino, baseando-se nos aspectos epistemológicos de tais

programas, ou seja, nos traços de pesquisas que sugerem as noções de

natureza do conhecimento que as fundamentam. [...] Marcelo (1998) elabora

uma síntese na qual analisa investigações sobre a formação de professores

desenvolvidas nos últimos anos, enraizadas no que se tem denominado

paradigma do “pensamento do professor”. [...] Analisando processos pelos

quais os professores geram conhecimento e quais tipos de conhecimento

adquirem. [...] Marcelo trata em sua obra publicada em 2002, a centralidade

que a aprendizagem profissional de professores assumiu nas investigações

das últimas décadas. [...] Tardif (2000) analisa investigações desenvolvidas

atualmente, na Europa e na América do Norte, que focalizam conhecimentos

que os professores mobilizam na ação cotidiana, organizando-as a partir de

três grandes orientações teóricas. [...] A primeira orientação caracteriza

pesquisas sobre cognição ou sobre pensamento do professor. [...] A segunda

orientação se refere a pesquisas que se baseiam em diversas correntes

teóricas como a fenomenologia existencial, as historias de vida pessoal e

profissional, estudos sobre as crenças dos professores, enfoques narrativos

que estudam a voz do professor, ou seja, seus próprios relatos. [...] A terceira

se refere às pesquisas para as quais pensamento, competências e saberes dos

professores não são vistos como realidade estritamente subjetiva. [...] Inclui

pesquisas no campo do simbolismo interacionista, etnometodologia, estudo

da linguagem comum ou cotidiana, estudo da comunicação e das interações

comunicacionais, pesquisa sobre competências sociais ou saberes sociais dos

professores (NONO, 2005, p. 24-27).

No Brasil, vários estudiosos se dedicam à elaboração de sínteses a respeito das

investigações educacionais e mapeamento das produções acadêmicas em nível de

pós-graduação acerca da formação de professores.

A obra Políticas Docentes no Brasil: Um Estado da Arte, escrito por Bernadete

Angelina Gatti, Elba Siqueira de Sá Barreto e Marli Eliza Dalmazo de Afonso Andre,

publicado pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura

(UNESCO) em 2011 traz um resumo do crescimento das pesquisas sobre a temática de

professores no Brasil,

O mapeamento da produção acadêmica dos pós-graduandos na área de

educação, realizado por André (2009) mostra que, na década de 1990, o

volume proporcional de dissertações e teses da área de educação que tinham

como foco a formação de professores girava em torno de 7%; já no início dos

anos de 2000 esse percentual cresce rapidamente, atingindo 22%, em 2007. A

mudança não ocorreu apenas no volume de pesquisas, mas também nos

objetos de estudo: nos anos de 1990, a grande maioria das investigações

científicas nessa subárea centrava-se nos cursos de formação inicial (75%);

nos anos de 2000, o foco dirige-se ao (à) professor (a), aos seus saberes, às

suas práticas, às suas opiniões e às suas representações, chegando a 53% do

total de estudos (GATTI, et al, 2001, p. 15).

51

Esta importante publicação para educação brasileira é fruto de uma parceria

entre a representação da UNESCO no Brasil e o Ministério da Educação (MEC). As

autoras buscam discutir inicialmente em âmbito internacional as políticas docentes,

fazendo uma análise bem como explicitando extratos de artigos que compõem o texto

“Comentários sobre os informes Eurodyce e da Organização para Cooperação e

Desenvolvimento Econômico (OCDE) sobre a questão docente”, escrito por Zarazaga,

Enguita, Montero, Zabalza Beraza e Imbernón. Esses artigos foram publicados na

Revista de Educación, n. 340 (2006). Este texto é resultado de análises dos informes de

diferentes países da Europa publicados no Relatório Eurodyce: “A profissão docente na

Europa: perfil, tendências e problemáticas”, de 2004, assim como o Relatório da OCDE

sobre “A questão do professorado: atrair, capacitar e conservar professores eficientes”,

de 2005.

Dos cinco artigos que comentam o relatório, as autoras selecionaram o de

Imbernón (2006), que volta sua análise mais diretamente para as políticas docentes do

contexto europeu e assinala que,

Embora os países sejam muito próximos geograficamente, não se

podem esquecer suas diferenças históricas em termos de estruturas políticas,

econômicas, sociais e educacionais. No entanto, tais diferenças não

obscurecem o esforço positivo que todos fazem para mudar as políticas

docentes. Entre os aspectos comuns dos informes dos diferentes países,

Imbernón destaca os seguintes: 1) a escassez de professores, indicada por

vários países como resultado de uma profissão pouco atrativa; essa questão

surge com maior gravidade nos Países Baixos, na Bélgica e na Suécia, ainda

que esteja presente em outros países europeus, em menor grau; 2) esforços

para implementar políticas que contemplem a participação dos professores na

sua formulação, que promovam redes de aprendizagem entre eles, que

aumentem o gasto público em educação (embora haja uma tendência para

diminuí-lo em todos os países), e que seja profundamente revisto o

conhecimento acadêmico e prático que os docentes devem possuir para

responder aos desafios atuais; 3) formação permanente do professorado,

considerando suas necessidades práticas e contextuais, assim como as

temáticas atuais; 4) instauração de carreira docente ao longo da vida e

verdadeiro processo de avaliação da formação; 5) melhoria dos critérios para

seleção do professorado (sobretudo da entrada na universidade); 6)

programas sistêmicos de integração de professores principiantes (GATTI, et

al, 2001, p. 16).

Nono (2005) destaca alguns estudos que vêm sendo desenvolvidos no Brasil

sobre formação de professores, dentre eles o de Nunes (2001), que procura apresentar

uma análise de como e quando a questão dos saberes docentes aparece nas pesquisas,

identificando diferentes referências e abordagem teórico-metodológica que os

52

fundamentam, bem como os enfoques e tipologias utilizadas e criadas por pesquisadores

brasileiros. Outro estudo destacado por Nono (2005) é o estudo de Lelis (2001), que

procura analisar algumas tendências da produção intelectual acerca da formação de

professores nos últimos 20 anos no Brasil, visando entender as lógicas do pensamento

que fundamentaram e ainda fundamentam algumas propostas presentes da literatura

educacional acerca dos saberes escolares e do saber docente.

Borges e Tardif (2001, p.17) destacam estudos que vêm sendo realizados no

Brasil com ênfase nos saberes docentes,

No tocante à produção acadêmica, tomando como base a Associação

Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação, a ANPED, entidade de

maior representação da pesquisa desenvolvida na pós-graduação em

educação no Brasil, bem como algumas publicações e teses recentes,

percebe-se que essa temática vem se tornando cada vez mais expressiva. E o

estudo dos saberes docente vem aparecendo continuamente como um dos

vieses de análise que tem iluminado o debate em pesquisas que investigam as

representações e/ou concepções e/ou crenças que os docentes possuem de sua

prática pedagógica e do ensino (Dias da Silva, 1994, e Penin, 1995); em

pesquisas que estudam as representações e/ou metáforas que os estudantes,

professorados, possuem e constroem do trabalho docente (Lima, 1997); em

estudos que buscam analisar a prática pedagógica e a formação dos e nos

saberes de professores experientes e/ou iniciantes (Caldeira, 1995, 1993;

Borges, 1998, 1997; Canto, 1998, e Therrien, 1998); em estudos que

analisam as trajetórias (Mizukami, 1996) e o desenvolvimento sócio

profissional dos professores (Lüdke, 1998, 1996a, 1996b, 1995); em estudos

que buscam compreender a formação do “capital pedagógico” (Lelis, 1995) e

da identidade profissional docente (Moreno, 1996); Schaffer, 1999); em

estudos que procuram captar os processos de formação de professores

“artistas reflexivos” (Queiroz, 2000) e as implicações socioculturais e

político-pedagógicas que determinam a identidade e a construção dos saberes

de estudantes universitários trabalhadores, que se preparam para o magistério

(Melo, 2000).

Estes estudos têm buscado compreender a profissão docente, bem como os

processos de profissionalização, tendo como sujeito central o professor. Tais

investigações demonstram que o docente é também produtor de conhecimento. Esse

conhecimento não se trata dos saberes disciplinares, nem dos saberes curriculares, e sim

dos saberes adquiridos na atividade prática diária, ou seja, pela experiência, se tornando

os saberes experiências do docente (TARDIF, 2002).

Em estudo publicado na revista E-Curriculum, escrito por Mizukami (2005-

2006), traz o relato de que as investigações acerca da docência a partir dos anos 90

focalizam a docência em geral, exaltando que são tímidos os estudos sobre a

aprendizagem da docência e desenvolvimento profissional de formadores universitários.

53

Boa parte das iniciativas, no entanto, tem permanecido no âmbito das

políticas institucionais de cada universidade. Essas iniciativas, por sua vez,

não têm explicitado formalmente _ mesmo no contexto de uma instituição

específica _ um currículo direcionado à formação do formador, envolvendo o

que o formador deve saber e fazer de forma a ir ao encontro do professor que

se pretende formar, presente nas políticas públicas educacionais atuais. Se os

professores estão ocupando posição central nas reformas educacionais (ao

menos em termos de discursos oficiais), os formadores de professores seriam,

por decorrência, os pilares de novas reformas educacionais. Novas tarefas são

propostas e novos desempenhos são exigidos de formadores. A título de

exemplo, quando se considera a Avaliação das Condições de Ensino

(INEP/MEC) há uma série de indicadores que se referem ao corpo docente

(no caso de curso de licenciaturas, os formadores). (MIZUKAMI, 2005-2006,

p.7).

Avançando sobre essa perspectiva apresentada por Mizukami (2005-2006),

mesmo que recentemente a literatura apresente debates da área sobre os processos de

aprendizagem da docência de forma mais sistemática, visualizamos conforme

conceituação apresentada pela autora um quadro peculiar nas agências formadoras. “Os

formadores de professores, com formação e atuação próprias da concepção de processos

formativos orientados pelo paradigma da racionalidade técnica, são os mesmos que irão

oportunizar processos formativos sob uma nova visão” (MIZUKAMI, 2005-2006, p. 7).

Marli André (2009) estuda a formação de professores como objeto de pesquisa

no Brasil por meio da comparação dos conteúdos de dissertações e teses de mestres e

doutores brasileiros nas últimas décadas. Em um artigo escrito para Revista Brasileira

de Pesquisa sobre Formação Docente, em 2009, a autora descreve a importância do

mapeamento da produção acadêmica dos pós-graduandos na área de educação,

Esses mapeamentos são fundamentais para acompanhar o processo de

constituição de uma área do conhecimento, porque revelam temas que

permanecem ao longo do tempo, assim como os que esmaecem, os que

despontam promissores e os que ficam totalmente esquecidos. O material que

serve de base para esses mapeamentos, isto é, aquilo que constitui o corpus

sobre o qual é elaborada a síntese integrativa – relatórios de pesquisa, artigos

de periódicos, textos apresentados em eventos científicos – é submetido a um

olhar crítico que permite identificar redundâncias, omissões, modismos,

fragilidades teóricas e metodológicas, que se adequadamente consideradas e

corrigidas, contribuem para o reconhecimento do status científico da área e

aumentam sua credibilidade junto à comunidade acadêmico-científica

(ANDRÉ, 2009, p.43).

Outra importante referência que utilizamos nesse estudo é a obra

Convergências e tensões no campo da formação e do trabalho docente da coleção

Didática e Prática de Ensino, a qual traz textos selecionados do XV ENDIPE – Encontro

54

Nacional de Didática e Prática de Ensino realizado na UFMG, no período de 20 a 23 de

abril de 2010. Essa obra foi organizada por Ângela Dalben, Júlio Diniz, Leiva Leal e

Lucíola Santos. Para análise das pesquisas sobre formação de professores, selecionamos

nesta obra, o texto “A Pesquisa sobre formação de professores: Contribuições à

Delimitação do Campo”, escrito por Marli André (2010)

André (2010) apresenta em seu texto primeiramente uma discussão sobre a

constituição do campo de formação de professores, com apoio de estudiosos da

temática, em seguida, são apresentados resultados da análise de pesquisas sobre

formação de professores, objetivando identificar temas, metodologias, referências e

resultados, com propósito de verificar as contribuições na delimitação do tema, e por

último a autora expressa uma análise dos avanços da pesquisa na área, apresentando

aspectos que precisam ser fortalecidos.

André (2010) descreve que até o fim da década de 1990 a formação docente

esteve vinculada ao campo de estudos da didática, afirmação essa assinalada por

Oliveira (2000) por meio da análise da produção científica de 20 Encontros de Didática

e Prática de Ensino. Nas palavras de Marcelo (1999, apud ANDRÉ, 2010, p. 273), a

formação de professores foi se apresentando progressivamente como uma potente

matriz disciplinar. Entendemos o importante papel da formação de professores para

promover mudanças necessárias na educação, conforme acepção apresentada por André

(2010). A autora faz alguns questionamentos acerca dos objetivos dos estudos que

versam sobre a formação docente.

Parece haver por parte dos pós-graduandos uma intenção de dar voz ao

professor e de conhecer melhor o seu fazer docente. Pode-se, no entanto,

indagar: investigar as opiniões, representações, saberes e práticas do

professor, para que? Para constatar o que eles pensam, dizem, sentem,

fazem? Não seria isso muito pouco? Parece importante ir muito além,

procurar entender o contexto de produção desses discursos e práticas.

Queremos conhecer mais e melhor os professores e seu trabalho docente

porque temos a intenção de descobrir os caminhos mais efetivos para

alcançar um ensino de qualidade, que se reverta numa aprendizagem

significativa para os alunos. Isso supõe, por um lado, um trabalho

colaborativo entre pesquisadores da universidade e os professores das

escolas, e por outro lado um esforço analítico muito grande, seja no interior

dos grupos de pesquisa, seja entre grupos para reunir elementos que ajudem a

reestruturar as práticas de formação.

Ter um objeto próprio de estudo garante em parte a constituição do campo de

formação de professores e a delimitação dessa área de estudo, como argumenta André

(2010), com base nos escritos de vários estudiosos da temática, e em encontros

55

científicos em especial nas reuniões anuais do grupo de trabalho Formação de

Professores da ANPEd.

Marcelo (1999, p.24-26) aponta cinco indicadores que poderiam atestar a

constituição do campo de formação de professores: objeto próprio,

metodologia específica, uma comunidade de cientistas que define um código

de comunicação próprio, integração dos protagonistas na pesquisa e a

consideração da formação de professores como um elemento fundamental na

qualidade da ação educativa, por parte dos administradores, políticos e

pesquisadores. (ANDRÉ, 2010, p. 274).

A preferência pelo objeto de estudo – o professor – como argumenta André

(2010), pode ser associada à primeira vista ao conceito de desenvolvimento profissional,

que de acordo com Marcelo (1998) é entendido “como um processo individual e

coletivo que se deve concretizar no local de trabalho do docente: a escola, contribuindo

para o desenvolvimento de suas competências profissionais, através das experiências de

índole diferente, tanto formais como informais”. Para André, uma definição tão ampla

pode levar a uma interpretação equivocada de que falar do professor é sempre falar de

seu desenvolvimento profissional, e como conceituação apresentada por Marcelo

(2009), o desenvolvimento profissional deve ser considerado em longo prazo, logo

André (2010) defende que devemos ter certo cuidado ao afirmar quando analisamos

pesquisas que versam sobre os professores, que estas se referem ao desenvolvimento

profissional docente.

O próprio autor, Carlos Marcelo (2009, p.7) nos alerta que o conceito sofreu

modificações na última década, em decorrência da evolução em nosso

entendimento de como ocorrem os processos de aprender a ensinar. Dessa

forma, o desenvolvimento profissional passa a ser considerado como “um

processo em longo prazo, no qual se integram diferentes tipos de

oportunidades e experiências planificadas sistematicamente para promover o

crescimento e o desenvolvimento profissional’. Nesta atualização do conceito

fica mais claro o caráter intencional envolvido nos processos de

desenvolvimento profissional e a importância do planejamento. Marcelo

(2009, p.15) enfatiza ainda que esses processos visam promover a mudança,

ou seja, auxiliar os professores a aprender a ensinar. Para que? Para que

possam ter uma ação mais eficaz em sala de aula. Nesse sentido dá-se grande

importância à análise das representações, crenças, preconceitos dos docentes

que vão afetar suas aprendizagens e possibilitar ou dificultar as mudanças.

Marcelo (2009, p. 7) destaca ainda a identidade profissional como um

elemento inseparável do desenvolvimento profissional e menciona tanto os

vários fatores que a influenciam (como a escola, as reformas e contextos

políticos), como suas implicações, ou seja: “o compromisso pessoal, a

disponibilidade para aprender a ensinar, as crenças, os valores, o

conhecimento sobre as matérias que ensinam e como as ensinam, as

experiências passadas, assim como a própria vulnerabilidade profissional”.

(ANDRÉ, 2010, p. 279).

56

São esses argumentos que, de acordo com André (2010), nos levam a rever a

associação entre o professor e o conceito de desenvolvimento profissional. A autora

reforça que é importante que ocorra nas atuais pesquisas uma articulação entre as

representações, concepções, saberes e práticas dos professores com o contexto e

circunstâncias em que foram produzidos, conseguindo, assim, pelo menos em parte

propor medidas para promover a aprendizagem da docência. Como argumenta

Mizukami (2005-2006), pesquisa que tem o enfoque na aprendizagem da docência ainda

é tímida. André ainda faz uma importante crítica à mudança de foco nas atuais

pesquisas brasileiras – dos cursos de formação. Para o professor, a autora defende que

essa opção vem reforçar a visão da mídia de que o professor é o principal e talvez único

responsável pelo sucesso ou fracasso escolar.

Para André (2010), tais pesquisas devem desconstruir essa visão simplista que

muitos têm a respeito do fracasso escolar. Outro apontamento importante feito pela

autora é de que ainda há muito que conhecer sobre como preparar os docentes para os

constantes desafios da educação em geral. Desde o início dos anos 2000 vem caindo

radicalmente o número de estudos sobre formação inicial, chegando a 18% do total das

pesquisas, em 2007 (ANDRÉ, 2010, p. 280).

O deslocamento do foco das pesquisas dos cursos para o professor tem seu

lado positivo por tentar romper a separação entre formação inicial e

continuada, entre formação e prática docente, mas o alerta deve ser mantido

não só em termos de que é preciso adensar as análises, o que implica

aprofundamento teórico e metodológico, mas também no que tange à

ampliação dos aspectos a serem investigados. Uma área tão complexa requer

estudos que contemplem múltiplas dimensões, que recorram a múltiplos

enfoques e abranjam uma variedade temática. (ANDRÉ, 2010, p. 285).

André (2010), ao apresentar uma análise de textos que tratam da temática

formação de professores, exemplifica diferentes formas de olhar para o objeto da

formação docente. Como assinala a autora, existe um grande esforço em tais estudos a

fim de clarificar o que realmente constitui o objeto da formação docente. Entendemos

que os diferentes olhares tornam os debates mais produtivos e a interlocução entre os

autores ampliam as discussões.

Para Mizukami et al. (2002), o foco da formação docente deve estar nos

processos de aprendizagem da docência. Já Imbernón (2002) concebe a

57

formação docente como um processo contínuo de desenvolvimento

profissional, que tem início na experiência escolar e prossegue ao longo da

vida, incluindo questões relativas a salário, carreira, clima de trabalho,

estruturas, níveis de participação e de decisão. Para Marcelo Garcia (1999) o

que constitui o objeto da formação são os processos de formação inicial ou

continuada, que possibilitam aos professores adquirir ou aperfeiçoar seus

conhecimentos, habilidades, disposições para exercer sua atividade docente,

de modo a melhorar a qualidade da educação que seus alunos recebem.

(ANDRÉ, 2010, p.275).

A definição apresentada por Garcia (1999) tem sido aceita por estudiosos da

temática por ser abrangente, reconhecendo e focalizando os processos iniciais de

preparação à docência, à profissionalização e à socialização dos docentes (ANDRÉ,

2010). A interlocução entre os autores como Nóvoa (2008) e Imbernón (2009) amplia a

discussão ao introduzir o conceito de desenvolvimento profissional docente ao invés de

formação inicial e continuada. Avançando sobre essa perspectiva, André (2010)

argumenta que a preferência pelo seu uso foi justificada por Marcelo (2009, p. 9), o qual

explica que essa tendência mais abrangente demonstra claramente a concepção de

profissional do ensino, e o termo “desenvolvimento” sugere evolução e continuidade,

rompendo com a tradicional justaposição entre formação inicial e continuada. Para

André (20010, p. 275), “essas justificativas parecem muito razoáveis e convincentes.

Porém, ao se decidir adotar o desenvolvimento profissional docente como objeto da área

de formação de professores, deve-se ter em mente sua amplitude e, portanto, assumir

todas as consequências que essa opção acarreta”.

Finalmente André (2010), com base na análise das dissertações e teses dos pós-

graduandos, conclui que as atuais pesquisas apresentaram alguns avanços no que se

refere à delimitação do campo de formação de professores.

Se ao analisar a produção científica dos anos 1990 havíamos identificado o

tratamento isolado “dos cursos de formação e da práxis, da formação inicial e

continuada” (ANDRE et. al., 1999, p.309), pudemos constatar, nos anos

2000, uma tentativa de superação dessa dicotomia, quando o foco

privilegiado das pesquisas passa a serem as concepções, representações,

saberes e práticas do professor. Ao desenvolver esses estudos, os

pesquisadores tentavam obter dados que vinculassem as experiências e

práticas do professor com sua formação, o que constitui um avanço em

relação ao que era feito na década anterior, pois mostra uma concepção da

formação docente como um continuum, o que condiz com a literatura recente

da área. Outro elemento que mostra o avanço das pesquisas é a combinação

de diferentes formas de coleta de dados. Muitos pesquisadores associaram a

entrevista com o exame de documentos, outras vezes com questionário ou

observação. Tal variedade de fontes de coleta possibilita uma apreensão mais

rica das questões sobre formação de professores (ANDRÉ, 2010, p. 286).

58

No entanto, Andre (2010) afirma que ainda há muito que as pesquisas precisam

ser lapidadas para que ocorra uma contribuição efetiva na configuração do campo,

principalmente no que se refere à coleta e tratamento dos dados. Zeichner, em um artigo

escrito para Revista Brasileira de Pesquisa sobre formação docente, em 2009, faz uma

observação semelhante à apresentada por André, mesmo focando outro contexto de

estudo. O autor faz uma análise de textos que fizeram final do painel da American

Educational Research Assosiation (AERA) sobre formação docente e analisaram a

investigação acadêmica de temas específicos referentes à formação inicial de

professores nos Estados Unidos.

Um segundo aspecto dos modelos de pesquisa sobre formação docente que

precisa ser enfatizado é a completa descrição dos métodos de coleta de dados

e análise, e dos contextos nos quais a pesquisa foi realizada. Muitos estudos

examinados neste relatório fornecem informações inadequadas sobre como os

dados foram coletados e analisados. Isso torna difícil, senão impossível,

avaliar a credibilidade das conclusões obtidas pelos pesquisadores.

(ZEICHNER, 2009, p. 17).

Zeichner (2009) levanta outros pontos importantes acerca das pesquisas sobre

formação de professores. Dentre esses destacamos a ênfase dada pelo autor aos modelos

e metodologias que visam enriquecer as investigações sobre formação docente, sendo

alguns padrões para qualquer pesquisa e outros mais específicos para a pesquisa sobre

formação de professores. Algumas das recomendações citadas pelo autor são exemplos

concretos dos princípios para investigação científica proposto no Relatório do Conselho

Nacional de Pesquisa sobre Investigação Educacional (Shavelson e Towne, 2002). As

recomendações do autor, a saber, são:

1. Definição clara e consistente de termos;

2. Descrição completa da coleta de dados e métodos de análise e dos

contextos onde a pesquisa é realizada;

3. Pesquisas situadas em relação a relevantes referenciais teóricos;

4. Desenvolvimento de mais programas de pesquisa;

5. Maior atenção ao impacto da formação docente sobre a aprendizagem e

práticas dos professores;

6. Pesquisas que liguem a formação docente ao aprendizado do aluno;

7. Portfólio completo dos estudos, que inclui abordagens multidisciplinares e

multimetodológicas para investigar as complexidades da formação docente;

8. Desenvolvimento de melhores medidas do conhecimento e desempenho do

professor;

9. Pesquisas que examinem a preparação do professor em diferentes

conteúdos além de Matemática e Ciências e, ao levarem em conta os assuntos

59

ensinados, investiguem os efeitos dos cursos de formação docente e de seus

componentes;

10. Análise mais sistemática das alternativas claramente identificáveis na

formação docente, usando controles compatíveis ou testes aleatórios como

estudos distintos ou em associação com estudos de caso em profundidade;

11. Mais estudos de caso minuciosos sobre cursos de formação docente e

seus componentes. (ZEICHENER, 2009, p. 17).

As várias recomendações citadas acima visam aperfeiçoar a investigação sobre

formação docente a partir de uma perspectiva de projeto que também tenha implicações

para o conteúdo da pesquisa. Quando tais recomendações são contempladas, Zeichner

(2009, p. 23) sugere “que a principal prioridade para a pesquisa sobre formação docente

deveria ser a de promover nosso conhecimento sobre as ligações entre determinados

aspectos da formação docente (por exemplo, currículo, programas de ensino e políticas)

e da aprendizagem dos professores [...]”. O autor também menciona baseado no

relatório citado acima que as pesquisas sobre formação docente também precisam

enfatizar a preparação de professores para lecionar a diferentes alunos das escolas

públicas americanas. Entendemos que no Brasil esse objeto de estudo também é

importante. Zeichner (2009) também destaca que as atuais pesquisas sobre essa temática

precisam tratar sobre licenciandos e egressos dos cursos de Licenciatura e sobre o

contexto da formação, como é caso deste estudo.

2.3 - AS PESQUISAS SOBRE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA

As pesquisas que analisam o processo de iniciação à docência, na maioria dos

estudos focalizam a análise e identificação das dificuldades que os professores

iniciantes enfrentam nesse período. Pesquisas que focalizam a criação e estruturação de

programas de inserção à docência, como é o caso deste estudo, são relativamente

recentes. Analisar os estudos que têm como foco a etapa de iniciação à docência ou

comumente mencionada de inserção na profissão pode trazer contribuições ao atual

estudo, pois é por meio da leitura dos trabalhos já produzidos que reconheço, aproximo,

diferencio ou identifico as necessidades e peculiaridades dessa etapa profissional do

ciclo de vida dos professores. Os anos iniciais da carreira docente podem fazer aflorar

algumas necessidades formativas que os professores principiantes não imaginavam ter,

e dessa forma aponta fragilidades das grades curriculares de muitos programas de

graduação em licenciatura.

60

Dessa forma, procuramos nos reportar a alguns estudos já realizados. As

pesquisas concluídas acerca dessa temática trazem dados que contribuem para melhorar

a compreensão da complexidade do trabalho docente, ainda mais se tratando de uma

etapa que alguns autores como Veenman (1988) apontam como uma das fases mais

importantes para que o professor decida se permanecerá ou não nessa profissão.

Veenman (1988) discorre sobre o duro choque da realidade que os professores

principiantes enfrentam nesse período. Esse choque refere-se à separação existente entre

aquilo que é aprendido nos cursos de formação inicial e aquilo que o professor

principiante encontra na realidade do cotidiano das escolas. Tal sentimento também é

discutido por Tardif (2002) como choque de transição, que não estuda somente os

diferentes saberes docentes, mas analisa também a passagem do ser estudante para o ser

professor.

É no início da profissão que os professores questionam a formação que

tiveram. Como Veenman (1988) descreve, é nesse momento que ocorre um colapso dos

ideais missionários que foram sendo traçados no decorrer de sua formação, com a dura

realidade do dia a dia em sala de aula, bem como das necessidades que as escolas

públicas apresentam. Para Tardif (2002), o choque de transição ocorre quando o docente

principiante conclui que os ideais almejados durante sua formação como docente

correspondem pouco, ou até mesmo em nada, com a realidade do dia a dia de um

professor na escola. Isso vai desde as dificuldades encontradas em sala de aula, como no

relacionamento com os pares no ambiente profissional.

Para alguns estudiosos do processo de inserção na docência, como Mizukami et

al. (2002), o processo de aprendizagem da docência não tem começo nem fim

estabelecido, porém, como Marcelo Garcia (1999) menciona cada fase possui

características, dificuldades, problemas, expectativas, desafios, peculiaridades e

necessidades próprias que as diferem das demais fases do ciclo profissional do

professor. É por meio da vivência das diferentes etapas do ciclo profissional que o

professor vai construindo seu conhecimento profissional. Para Marcelo Garcia (1999), a

etapa de iniciação à docência se estende, geralmente, até o quinto ano de exercício

profissional.

[...] falar da carreira docente não é mais do que reconhecer que os

professores, do ponto de vista do “aprender a ensinar”, passam por diferentes

etapas, as quais representam exigências pessoais, profissionais,

organizacionais, contextuais, psicológicas, etc., específicas e diferenciadas

(MARCELO GARCIA, 1999, p. 112).

61

No Brasil, os estudos sobre a carreira docente iniciaram em meados da década

de 1980. Um estudo de relevância nacional e internacional para os pesquisadores que

estudam a iniciação docente foi realizado por Maria da Graça Nicoletti Mizukami em

1996, intitulado: “Docência, trajetórias pessoais e desenvolvimento profissional”.

Mizukami além de organizar importantes obras, também orientou doutorandos que

tinham como foco de estudo a iniciação à docência. Destaca-se o trabalho escrito por

Maria Regina Guarnieri em 1996, intitulado Tornando-se professor: o início da

carreira docente e a consolidação da profissão e o trabalho escrito por Emilia Freitas

de Lima, também publicado em 1996, intitulado Começando a ensinar: começando a

aprender?.

Mizukami também orientou um grupo de alunas de mestrado que produziu um

expressivo número de trabalhos sobre o início da carreira docente, que foram

organizados na obra “Sobrevivência”, publicada em 2006 pela editora Líber. A tese

escrita por Nono (2005), que será comentada mais adiante, também foi realizada com

orientação da Mizukami.

Outra autora importante para as pesquisas sobre iniciação a docência é Roseli

Aparecida Cação Fontana, que iniciou seus estudos acerca dessa temática em 1997, com

sua tese de doutorado, intitulada: Como nos tornamos professores? Aspectos da

constituição do sujeito como profissional da educação. Em 2000, concluiu este estudo

publicando a obra “Como nos tornamos professoras?”, pela editora Autêntica. Vale

ressaltar que essa obra já passou por reedições. Outro importante estudo realizado por

Fontana é o artigo intitulado “Trabalho e subjetividade. Nos rituais da iniciação, a

constituição do ser professora”, publicado em 2000. Fontana (2000) acompanhou e

analisou o tempo de iniciação de uma professora durante seu primeiro ano de vivência

no ensino fundamental. A autora analisou os dramas vivenciados pela professora e as

formas como ela resolveu esses dramas ao longo de seu primeiro ano de

profissionalização. Mediante análise da fala e dos dramas vivenciados pela professora

principiante, Fontana (2000) identificou a necessidade de apoio de quem entra num

mundo falado, porém ainda não experimentado. Ao considerar a subjetividade do

trabalho da professora, a autora cita:

Para nos acercarmos das relações interpessoais de indivíduos que vão se

constituindo em condições sociais específicas, mostram-se insuficientes as

observações e análises objetivas que excluem as situações pontuais, efêmeras

62

e contraditórias de dor e alegria, de serenidade e enfrentamento, de

assentimento e de desobediência, ou os sentimentos de emoção, de angústia,

de raiva, que são experimentados pelos sujeitos envolvidos em nossas

indagações (FONTANA, 2000, p. 3).

Outra importante referência que colabora para esta pesquisa é a investigação de

Pena (2010), que versa sobre o início da docência, as vivências, saberes e conflitos de

professores de química. A autora analisou as vivências de três professoras de química,

em início de carreira, realizando uma pesquisa qualitativa de estudo de caso do tipo

etnográfico. A mesma identificou os trabalhos publicados que foram um importante

marco para o desenvolvimento das pesquisas sobre o início da carreira docente.

Trabalhos como os de Johnston e Ryan (1980); Vonk (1983, 1995); Vonk e Schras

(1987); Veenman (1984,1988); Marcelo (1988, 1998) e Garcia (1999a, 1999b, 2008),

seguidos pelos estudos de Valli (1992); Huberman (1995); Gonçalves (1995); Cavaco

(1995); Flores (1999, 2004, 2008) e Feiman-Nemser (2001), dentre outros, que

colaboraram para disseminar um grande conjunto de informações e apontamentos que

não só evidenciaram a importância desse período para o processo de desenvolvimento

dos professores principiantes, mas que também aumentaram a compreensão do processo

de iniciação à docência.

Pena (2010) identificou por meio da análise da vivência das três professoras de

Química em início de carreira uma estreita relação entre saberes e conflitos. Dessa

forma, a pesquisadora dividiu seu estudo em duas partes: a primeira relaciona-se com o

processo de socialização das professoras com a comunidade escolar (constituída pelos

pares, administração e alunos) e na segunda parte a pesquisa se voltou para

compreensão da relação das professoras com os saberes do conhecimento (conteúdo,

curricular e pedagógico). Para Pena (2010), o entendimento de como o docente se inicia

na profissão, suas vivências, sua relação com os saberes necessários à prática

profissional e os conflitos que emergem desta experiência ajuda a desvelar uma

realidade que pode ser conhecida melhor, colaborando para uma aproximação entre o

mundo acadêmico e o mundo da escola, igualmente fornecendo reflexões que visem à

melhoria na formação de professores dos diversos conteúdos, em particular, a química.

Após análise dos dados, Pena (2010) não teve a intenção de pontuar somente os

aspectos negativos do processo de iniciação à docência das professoras participantes,

mas é importante salientar que eles se sobressaíram nas vivências e relatos delas. Como

já mencionamos anteriormente os estudiosos dessa temática descrevem que essa etapa

63

no ciclo de vida profissional dos professores é marcada por intensas dificuldades, o que

culmina em alguns casos com o abandono da profissão. Vale ressaltar como Pena

(2010) bem traz em sua obra com aporte de Huberman (1995), que os professores

principiantes podem iniciar profissionalmente de forma menos tensa, certas condições

podem diminuir as dificuldades e tensões vividas pelo professor nesse período. Para

tanto, também buscamos neste estudo exemplificar algumas condições que de acordo

com os sujeitos dessa pesquisa favorecem o início da docência, diminuindo algumas

dificuldades e tensões dessa etapa.

De acordo com Veenman (1988), nenhuma instituição para a formação de

professores pode ficar indiferente ou ignorar os problemas que seus

graduados encontram em seus primeiros anos de trabalho. A formação

acadêmica é o principal suporte para a atuação docente, pois ela fornece as

bases para a construção do conhecimento pedagógico especializado de

acordo com Soares (2004). Nóvoa (1995a) analisa que, além de um lugar

para a aquisição de técnicas e conhecimentos, a formação de professores é o

momento-chave da socialização e da configuração profissional. (PENA,

2010, p. 101).

Antes do estudo acerca da iniciação docente de professores de Química

realizado por Pena (2010), encontramos o estudo realizado por Quadros et al. (2006),

publicado na forma de artigo na Revista Varia Scientia, intitulado: “Professor em início

de carreira: relatos de conflitos vivenciados”. Este trabalho evidencia alguns aspectos

importantes acerca dos primeiros anos dos professores em sala de aula, trazendo

análises dos conflitos vividos por estes professores principiantes. Os autores

identificaram várias situações de conflito, concluindo que o mundo de trabalho é um

espaço importante de formação e de subjetivação e um tempo/espaço em que os

professores principiantes possuem sentimentos de solidão e de isolamento, pois os

mesmos decididamente não estavam preparados para enfrentar o ambiente de trabalho.

Para os autores, os conflitos se devem em parte pela dicotomia existente em núcleo das

disciplinas ditas da área dura com as da prática de ensino,

Enquanto as disciplinas mais ligadas ao ensinar e aprender tem, algumas

vezes, dificuldade em conciliar o seu próprio discurso com a prática, os

docentes das áreas ditas “mais duras” não vêm valor nesse trabalho e

conduzem suas aulas segundo modelos “positivistas”, atuando como meros

transmissores de informações. Persistindo essa situação, os cursos de

formação de professores tendem a continuar formando um professor inseguro

e pouco convicto em relação às teorias contemporâneas de ensino e

aprendizagem (QUADROS, et al. 2006, p. 83).

64

O estudo realizado por Nono (2005) se trata de uma pesquisa-intervenção, de

natureza qualitativa, que teve como objetivo investigar possibilidades dos casos de

ensino enquanto instrumentos capazes de evidenciar e interferir nos conhecimentos

profissionais de professoras iniciantes da Educação Infantil e das séries iniciais do

Ensino Fundamental. Nono traz como referência acerca da importância que os anos de

início na carreira docente possuem nos processos de formação, Abarca (1999); Tardif;

Raymond (2000); Tardif (2002). Nono (2005) identificou que a fase de iniciação à

docência se trata de um período de sobrevivência e descobertas em que os docentes

procuram ajustar suas expectativas e ideais sobre a profissão às condições reais de

trabalho que encontram, procurando lidar com as limitações que aparecem no fazer

diário de sua profissão e que influenciam sua atuação. Nono (2005) argumenta que

nessa fase inicial as professoras principiantes tentam manter-se na profissão, procurando

estabelecer um equilíbrio diante dos sentimentos contraditórios que marcam a entrada

na carreira.

Nono (2005) destaca em sua tese, diante da dinamicidade e do caráter de

continuidade dos processos de desenvolvimento profissional, estudos que focalizam a

etapa de iniciação ou inserção na profissão. Dentre outros autores, Nono (2005) faz suas

reflexões com aporte em Abarca (1999); Marcelo Garcia (1999), (2002); Tardif;

Raymond (2000); Tardif (2002), analisando como os casos de ensino podem contribuir

no desenvolvimento profissional de professoras iniciantes nos primeiros anos de

docência, apontando a importância que os anos de início na carreira docente possuem

nos processos de formação. Nono (2005) menciona que o estudo realizado por ele, bem

como estudos com essa ênfase sobre os professores principiantes, podem de alguma

forma trazer contribuições a outros estudos que abordam essa temática e também aos

cursos de formação inicial e continuada de professores, pois apontam não só as

necessidades dessa fase, mas também as principais características e peculiaridades dessa

etapa.

Nono (2005), inicialmente em seu capítulo sobre as pesquisas acerca da

iniciação à docência, se reporta às pesquisas realizadas por Huberman (1992); Imbernón

(2001); Marcelo Garcia (1999); Marcelo (1998). Huberman (1992) estuda o ciclo de

vida dos professores, comparando-os com o ciclo de vida humano. Huberman

desenvolveu suas pesquisas focalizando a trajetória profissional de professores do

Ensino Secundário, tendo entre cinco e quarenta anos de experiência na profissão.

65

Dentre alguns estudos analisados por Nono (2005) acerca da inserção

profissional na docência, destacamos:

Marcelo (1988) elabora uma síntese dos principais temas que têm sido

abordados nas pesquisas sobre Formação de Professores, identificando

aqueles temas relativos à pesquisa sobre formação inicial de professores,

sobre professores principiantes e iniciação profissional e sobre

desenvolvimento profissional. [...] A pesquisa sobre professor principiante

tem procurado caracterizar esse período do contínuo processo de

desenvolvimento profissional docente, centrando-se no estudo do processo de

aprender a ensinar durante os primeiros anos de ensino, buscando identificar

e analisar problemas e preocupações específicos dos professores que se

iniciam na docência, mudanças sofridas pelo professor ao passar de estudante

a docente, possíveis transformações no âmbito pessoal, papel da escola no

desenvolvimento profissional do iniciante. [...] Em estudo desenvolvido,

Tardif e Raymond (2000) destacam que, [...] O início na carreira representa,

segundo eles, uma fase crítica em relação às experiências anteriores e aos

reajustes a serem feitos em função da realidade do trabalho e do confronto

inicial com a dura e complexa realidade do exercício da profissão. [...] Os

primeiros anos de profissão são decisivos na estruturação da prática

profissional e podem ocasionar o estabelecimento de rotinas e certezas

cristalizadas sobre a atividade de ensino que acompanharão o professor ao

longo de sua carreira. De acordo com Feiman-Nemser (2001), os primeiros

anos da profissão representam um período intenso de aprendizagens e

influenciam não apenas a permanência do professor na carreira, mas também

o tipo de professor que o iniciante virá a ser. [...] Abarca (1999) trata da

importância do entendimento dos elementos que permitem caracterizar a

temática específica do professor iniciante e destacam que uma visão

compreensiva do processo de iniciação na docência implica considerar, de

maneira dinâmica e interativa, elementos pelo menos três âmbitos: pessoais

(relativos ao próprio professor iniciante); formativos (referente a seu

processo e instituição de formação inicial); de prática profissional (referentes

ao exercício da profissão, considerando-se a instituição escolar em que atua).

Esteve Zaragoza (1999), analisando o mal-estar docente que acomete grande

parte dos professores nos dias atuais e os mecanismos pelos quais ele é

produzido, discute alguns trabalhos que coincidem em suas conclusões a

respeito das dificuldades vividas pelo professor iniciante para adotar a

imagem ideal que possui sobre sua profissão às carências e contradições que

encontra na instituição educativa concreta em que começa trabalhar. O

professor iniciante se vê desarmado e desconcertado ao perceber que a prática

real do ensino não corresponde aos esquemas ideias com os quais ele foi

formado. (NONO, 2005, p. 42-44)

Nessa linha de pesquisa, também temos a tese de doutorado escrita por Edson

do Carmo Inforsato, intitulada Dificuldades de professores iniciantes: Elementos para

um curso de didática, defendida em 1995, sendo que um ano depois o autor escreveu

um artigo extraído da mesma, intitulado: Aspectos Gerais da Formação Docente. A

pesquisa de Inforsato nos trouxe contribuições em relação à importância das

investigações acerca do processo de iniciação, para melhoria da formação docente. O

autor mostra em seu trabalho o afastamento que existe entre os cursos de formação de

professores em relação aos elementos que compõem a prática profissional docente.

66

Inforsato (1996) defende uma aproximação efetiva com o contexto das práticas de sala

de aula, de modo que a formação de professores esteja atrelada aos problemas e

necessidades inerentes da prática docente em ambiente real do ensino sejam em 1º ou 2º

grau.

Mediante leitura de Pena (2010), também tivemos o conhecimento de duas

teses de doutorado, cujo foco de análise é a Inserção profissional do professor

principiante, são elas, “Ensinando a ensinar ou vivendo para aprender? A interação

entre os conhecimentos de um professor atuante e de um aspirante, como subsídio para

aprendizagem da docência”, escrita por Marcos Daniel Longhini, defendida em 2006; e

“Tornando-se professor de Física: conflitos e preocupações na formação inicial, escrita

por Nelson Rui Ribas Bajarano”, defendida em 2001.

2.4 - FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Iniciamos esta discussão partindo da concepção que a formação do professor

ocorre por meio da articulação entre teoria e prática. Em muitos trabalhos identifica-se a

análise da separação existente entre o mundo acadêmico e o mundo profissional do

docente. O crescente avanço das pesquisas que trazem como foco essa temática tem

demonstrado a importância dessa fase para atuação profissional do professor, bem como

revelado fragilidades das grades curriculares dos cursos de licenciatura no Brasil.

Podemos considerar que as preocupações com as questões relacionadas à

formação de professores são cada vez mais frequentes nos sistemas educativos e nas

instituições ou departamentos universitários que realizam a formação de professores.

Para Roldão (2009), esse interesse se justifica pelo presente período de redefinição da

formação de professores que, como argumenta a autora, interage com a problemática da

escola enquanto instituição pública confrontada com as consequências da massificação e

extensão da educação escolar.

Conforme expressão apresentada por João Barroso (2005) apud Roldão (2009)

sobre a “crise” do pensamento sobre a escola,

Refiro-me a este propósito à denominada “crise” da escola ou, na expressão

de João Barroso (2005) à “crise” do pensamento sobre a escola. Em síntese, a

discussão científica em torno da escola, do seu papel social, e das interfaces

em que é hoje colocada a sua ação, radica na constatação de que, cerca de

67

século e meio depois da sua estabilização como instituição, no período pós-

industrialização e pós-revoluções liberais, a forma escolar (CANÁRIO, 2005)

ou a “gramática da escola” como outros autores a designam, não se alterou na

sua constituição estrutural. E, todavia, a realidade social e cultural dos

públicos que a universalização e o reconhecimento da educação como um

direito e um bem universal trouxeram, felizmente, para dentro da escola, é

profundamente diversa (ROLDÃO, 2009, p. 59).

Roldão (2009) traz uma discussão do que poderemos designar de “crise” e de

como isso influencia as reformulações ou rupturas que a escola busca realizar a fim de

obter melhorias e sucesso em suas atividades, enfatizando que os professores são atores

centrais dessas mudanças. Para Roldão (2009, p. 59)

De fato, a visão acerca da função do professor e a representação do lugar

social da escola estão intimamente associadas na sua evolução histórica. Por

outro lado, em qualquer reconceitualização da função destes agentes

educativos centrais – os professores – joga-se todo um vasto conjunto de

pressupostos sociais, políticos e profissionais que inexoravelmente a

enquadram.

Nóvoa (1992), em seus estudos da gênese e desenvolvimento da profissão

docente, analisa a influência do Estado no processo de profissionalização da atividade

docente e como essa acompanhou a evolução histórica,

A imagem do docente “fonte e fornecedor de conhecimentos” torna-

se caduca; ela é substituída por uma concepção multifuncional do docente,

em que diferentes papéis se misturam: formador, animador, organizador,

mediador do encontro, etc. A partir do momento em que a função docente

tradicional se desagrega, os docentes são obrigados a ir à busca de uma nova

relação com a profissão, de uma nova maneira de olhar seu trabalho

profissional e uma ação educadora (NÓVOA, 1992, p. 133).

O movimento de profissionalização docente conduziu nos anos 90 a

importantes reformas na formação dos docentes, como descreve Borges e Tardif (2001,

p.14),

Tais reformas conduzem diretamente à ênfase da questão dos saberes e das

competências na formação dos futuros professores brasileiros. Como

podemos constatar com Laranjeira et alii (1999), o novo referencial para a

formação de professores reconhece que o docente é um profissional; que a

natureza do seu trabalho é definida em função do entendimento de que o

professor atua com e nas relações humanas; que a gestão da sala de aula,

tarefa que é de sua responsabilidade por excelência, exige o confronto com

situações complexas e singulares, cuja solução nem sempre é dada a priori,

mas que requerem soluções imediatas; que o futuro professor precisa dominar

68

certas competências e saberes para agir individual e/ou coletivamente, a fim

de fazer face às especificidades de seu trabalho.

A profissão docente desde sua gênese se apresenta de forma complexa e

multifacetada, o que deveria fazer da mesma, uma profissão privilegiada e reconhecida,

por sua importância. Pensemos um pouco, teríamos médicos, advogados, engenheiros,

arquitetos entre outras profissões se estes quando alunos não tivessem bons professores?

Pois bem, no estudo histórico da gênese e desenvolvimento da profissão esse

reconhecimento pouco é mencionado.

Procurando no passado, um tempo no qual as representações insistem

em afirmar a presença de professores felizes, bem recompensados e

prestigiados, encontramos um grupo que conheceu uma trajetória de vida

marcada por lutas, desilusões, resistências, sofrimentos, mas que ainda assim

se acreditava prestigiado pela alta missão que desempenhava (CATANI,

2007, p.590).

Partilhamos da ideia que a qualidade do ensino ofertado, seja ele em qualquer

nível, depende em parte da qualificação docente, embora se reconheça a relevância de

muitos fatores, como um ambiente equipado e favorável ao trabalho em equipe,

valorização profissional, oferta de salários mais dignos, tudo isso poderá favorecer a

melhoria da qualidade de ensino. Por certo o pouco reconhecimento financeiro da

profissão docente faz com que os mesmos exerçam jornadas intensas de trabalho, com

sobrecarga permanente de atividades a fim de obter melhoria no salário mensal. Nóvoa

(1992) discute essa problemática, sendo incisivo quanto aos prejuízos causados pela

intensificação da jornada de trabalho docente. Para Nóvoa (1992), a intensificação do

trabalho docente ocorre costumeiramente por motivos financeiros e obriga o docente a

seguir por atalhos, a economizar esforços, a realizar apenas o essencial ou o mínimo

possível para que sua tarefa seja cumprida. Com muita frequência, nessas situações a

qualidade das aulas ministradas cede lugar para quantidade de aulas ministradas.

Quando tratamos da formação de professores, devemos ter em mente a

complexidade dessa profissão e logo da profissionalização dos professores, pois a

mesma necessita de dupla qualificação, acadêmica e pedagógica. A formação de

professores é o ensino profissionalizante para o ensino. Os estudos que abordam a

temática formação de professores têm demonstrado e discutido as complexidades da

69

formação inicial e da profissionalização docente. Tais estudos, no atual quadro da

pesquisa educacional brasileira, demonstram em grande parte que somente a forma atual

como ocorre à formação profissional inicial, nos cursos de licenciatura não será

suficiente para garantir à qualidade que se faz necessário.

A formação inicial não pode, por si só, modificar radicalmente o grau de

profissionalização dos professores. Se preparar novos sob requalificados em

relação aos salários, às condições trabalho e às normas do corpo docente em

função, das duas uma: ou os jovens se afastarão desta qualificação ilusória,

que promete mais do que cumpre; ou se resignarão com uma regressão para a

média e se adaptarão “no terreno” às práticas dominantes, esquecendo a sua

formação. Em contrapartida a renovação da formação inicial pode contribuir

para antecipar e acelerar uma evolução global (PERRENOUD, 1993, p.139).

Como argumenta Nóvoa

É preciso reconhecer as deficiências científicas e a pobreza conceptual dos

programas atuais de formação de professores. E situar nossa reflexão para

além das clivagens tradicionais (componente científica pedagógica,

disciplinas teórica versus disciplinas metodológicas, etc.), sugerindo novas

maneiras de pensar a problemática da formação de professores (1992, p.23).

A formação de professores é uma atividade intencional, onde o formando é

ensinado a ensinar e este sujeito após o término de sua formação profissional será

encarregado em educar as novas gerações. Como em qualquer outra profissão, é

necessário que este indivíduo tenha domínio sobre as atividades que realizará. Aprender

a ensinar requer o desenvolvimento de atitudes, valores e conhecimentos próprios da

docência por parte dos futuros professores, o que alguns denominam como a construção

da identidade docente. Esse processo complexo inicialmente ocorre no curso de

formação inicial de professores. Os conhecimentos próprios da docência são adquiridos

em grande parte na práxis pedagógica. Porém, a articulação teoria e prática entre a

academia e instituição de educação básica não ocorre plenamente para todos os cursos

de licenciatura, como argumenta Perrenoud (1993, p.147), ao afirmar que “alguns

formadores universitários contribuem ainda hoje para formar professores sem terem

qualquer outra experiência da sala de aula a não ser o seu passado como alunos”.

Compartilhamos do entendimento que a formação do professor se faz

principalmente pela prática pedagógica que articula teoria e prática, e por isso,

70

denominamos de práxis pedagógica. No entanto, isso não quer dizer que se deve

enfatizar somente a prática, muito menos preparar um futuro professor puramente com o

aporte teórico, há de ter equilíbrio entre o campo conceitual e metodológico, como

argumenta Perrenoud,

Isto não quer dizer que a formação deva ser, acima de tudo, conceptual ou

metodológica. É evidente que o professor principiante deveria dominar

suficientemente os gestos profissionais para se sentir a vontade numa sala de

aula e, consequentemente, ser capaz de progredir e de aprender. Ninguém

aprende a nadar pelos livros. Mas podemos considerar uma formação que

ensine uma forma ortodoxa de nadar é uma só, e outra que prepare a pessoa a

sentir-se bem dentro da água, a respirar, a deslocar-se livremente, a abrir os

olhos, a divertir-se. É a partir de uma formação deste tipo que cada um saberá

construir o seu próprio método de nadar. (Idem, 1993, p.148).

A gestão da sala de aula, as formas de aprendizagem, as metodologias de

ensino afloram no professor mediante seu convívio com tais situações. A formação de

professores passará assim pelo contato com diversas práticas. Como menciona

Perrenoud,

[...] oferecerá a possibilidade de novas apropriações graças a uma interação

com um professor mais experiente. Os estágios já não têm como função

mostrar uma prática exemplar. [...] Assim, colocarmos o formando desde o

início, numa relação curiosa com outros práticos, estimulando o hábito de

observar, de questionar, de imitar inteligentemente. (PERRENOUD, 1993, p.

149).

É nesse sentido que objetivamos entender as contribuições do Pibid na

formação dos professores de Química, visto que um dos objetivos do programa é a

inserção do licenciando no cotidiano de escolas publicas, de forma supervisionada por

coordenadores e supervisores, fazendo desses professores-supervisores co-formadores,

oportunizando nos bolsistas aflorar futuros docentes, assim como o hábito da

observação, do questionamento e proporcionando a troca de experiências entre o futuro

docente e o professor mais experiente. Tudo isso em ambiente real de ensino.

As trocas de vivências com o contato direto com um professor experiente e as

atividades realizadas em ambiente real de ensino possibilitada pela participação no

Pibid instrumentalizam a iniciação à docência desses licenciandos. No próximo

capítulo faremos uma revisão da literatura que aborda a fase de iniciação à docência, em

especial os desafios desse período, marcados pela imprevisibilidade que compõe o

ambiente educacional.

71

CAPÍTULO III

OS PROFESSORES E O INÍCIO DA DOCÊNCIA

O início da carreira docente é um período de sobrevivência e

descoberta. A questão da sobrevivência tem a ver com o choque

da realidade, com o embate inicial com a complexidade e a

imprevisibilidade que caracterizam a sala de aula, com a

discrepância entre os ideais educacionais e a vida cotidiana nas

classes de alunos e nas escolas, com a fragmentação do

trabalho, com a dificuldade em combinar ensino e gestão de

sala de aula, com a falta de materiais didáticos, etc. O elemento

de descoberta tem a ver com o entusiasmo do iniciante, com o

orgulho de finalmente, ter sua própria classe, seus alunos, e

fazer parte de um corpo profissional. Sobrevivência e

descoberta caminham lado a lado no período de entrada na

carreira. Para alguns professores, o entusiasmo inicial torna

fácil o início na docência; para outros, tornam o período muito

difícil... (Maévi Anabel Nono)

O prefácio citado acima fala do período de ‘sobrevivência e descoberta’ que os

docentes, em início de carreira, vivenciam. Já discutimos, anteriormente, que os

pibidianos não estão em início de carreira, contudo o programa possibilita a iniciação à

docência, por meio das atividades realizadas em ambiente real de ensino, que podem ser

de monitoria, auxílio da resolução de exercícios, aplicação de atividades, condução de

aulas práticas nos laboratórios de ensino de química e, por vezes, assumem a figura do

professor em sala de aula, com a devida supervisão de docentes experientes.

A iniciação à docência também acontece quando o bolsista realiza planejamento

na universidade, com a troca de experiências, com docentes da educação básica que

participam da sala do educador, com a confecção de materiais didáticos, apostilas,

roteiros de aula experimentais, avaliações, planejamentos de ensino, jogos didáticos,

entre outros que variam com a necessidade diagnosticada pelos bolsistas e supervisor no

contexto da sala de aula.

Com essa vivência, o licenciando bolsista também tem uma espécie de ‘choque

com a realidade’, pois, na Universidade, no contato com a dimensão teórica quando se

72

discute o trabalho docente9, a realidade não se faz presente e, por vezes, se criam

algumas ideias de como seria o ambiente perfeito para a docência. Logo, como

argumenta Nono (2010): o embate inicial com a complexidade e a imprevisibilidade que

compõe a sala de aula retrata que, boa parte dos ideais educacionais construídos ao

longo da graduação, não é a realidade do ambiente educacional público.

Neste capítulo, continuamos com a apresentação das bases teóricas que

orientam e fundamentam esta investigação, em especial, destacando a iniciação à

docência e as dificuldades iniciais. Fazemos uma reflexão sobre as características da

fase de iniciação à docência, das dificuldades, desafios e conflitos vivenciados pelo

professor principiante. Finalizamos o capítulo apresentando uma análise da iniciação à

docência na perspectiva dos documentos oficiais.

3.1 – INICIAÇÃO À DOCÊNCIA: Dificuldades, Necessidades, Formativas,

Conflitos, Vivências e Saberes.

As experiências iniciais, como docente, são de grande importância para atuação

e desenvolvimento profissional do futuro professor, e de certa forma, é esse o período

que representará, ou não, a continuidade de sua carreira. Destacamos que, geralmente,

esse período ocorre com os estágios supervisionados, ou como no caso desse estudo, por

meio de programas de iniciação e valorização da docência.

A etapa de iniciação à docência é fundamental na constituição do ser professor,

sendo marcada por momentos de tensões e aprendizagens que contribuem para a

construção da identidade docente. Nos momentos de tensões e dificuldades, inerentes

desta fase, o professor iniciante evidencia suas necessidades formativas, levantando

questionamentos e fragilidades da matriz curricular do curso de licenciatura. A este

respeito, Pimenta e Lima (2004) enfatizam algumas queixas por parte dos futuros

professores, tais como: programas e currículos de formação docente, com sobrecarga de

disciplinas teóricas que pouco se ajustam à prática em sala de aula.

9De acordo com Brzezinski e Garrido (2007), a expressão trabalho docente, mais abrangente, surge para

substituir prática pedagógica, utilizada no período de 1990 a 1996. Para realizar essa atividade, ainda de

acordo com os autores, é necessário levar em conta a totalidade dos componentes da docência, entendida

como trabalho, que são: o ambiente escolar, os objetivos, os conhecimento e tecnologias, os objetos, os

processos e resultados, considerando que estes nunca podem ser inteiramente controlados, por se tratar de

trabalho que ocorre com seres humanos comportando, por isso, incertezas e imprevistos.

73

A formação profissional inadequada pode ser apontada como um dos fatores que

contribuem para a carência de habilidades nos professores iniciantes para ensinar.

(VEENMAN, 1988).

Há consenso, entre pesquisadores, como, Maldaner (2006), Pimenta e Lima

(2004), de que existe uma clara diferença entre a teoria estudada ao longo da graduação

e a prática pedagógica no ambiente educacional público. Em muitos cursos de formação

docente, as atividades são abstraídas de contextos irreais e, em alguns casos, a prática

pedagógica só é trabalhada ao final do curso com disciplinas da área do núcleo de

ensino.

Em pesquisa anterior, Dantas (2010) realizou análises de algumas necessidades

formativas elencadas pelos egressos do curso de Licenciatura em Química10

da UFMT.

Dentre as necessidades apontadas, os sujeitos sinalizam que, nas disciplinas específicas

denominadas de disciplinas de referência, não há articulação com as práticas

pedagógicas, ou com metodologias de ensino possíveis para situações diferentes.

Entendemos que articulação entre teoria e prática deve acontecer em todo o curso de

licenciatura.

As dificuldades iniciais do professor não podem ser explicadas meramente pela

dicotomia existente entre universidade e escola, teoria e prática, disciplinas específicas e

pedagógicas. Seria ilusão acreditar que, superar unicamente essa dicotomia, faria da

formação inicial de professores perfeita. Isso esbarra no entendimento equivocado da

formação como um processo que termina ao final da graduação. E isso, para nós, esta

mais que claro, pois não acontece. Entendemos a formação do professor como um

processo contínuo.

Acreditamos que o ponto de partida pela busca por melhorias no processo de

formação e, consequentemente, em se ter uma iniciação à docência mais fácil, ou seja,

menos conflituosa e traumática, está no poder questionador dos licenciandos.

Albuquerque (2012) realiza uma excelente discussão a esse respeito:

Durante a graduação é fundamental que os licenciandos sejam incentivados a

questionar. É preciso que eles tenham oportunidade de perceber suas

limitações e de buscar na leitura e no coletivo de colegas e professores

questionamentos sobre o significado e importância do seu papel na educação.

Ao perceberem que tudo pode ser questionado, podem compreender que tudo

pode ser modificado. Segundo Moraes, Galiazzi e Ramos (2004), o

10

Da estrutura curricular de 1997. Em 2010 e estrutura foi alterada de acordo em consonância as

orientações do MEC.

74

questionamento é o momento em que o indivíduo se assume como sujeito da

realidade em que vive. (ALBUQUERQUE, 2012, p. 20-21).

Podemos voltar a argumentar sobre a importância do contato do licenciando

com o ambiente real de ensino, pois é quando o mesmo tem a oportunidade de

questionar suas limitações e dificuldades diante de situações vivenciadas no contexto

real de sua futura ocupação profissional. Sendo muito mais produtivo, se esse

questionamento ocorresse por parte do licenciando, ainda em formação, começando

assim, a investigação do seu próprio trabalho.

Para os autores Zeichner e Diniz-Pereira (2005), existe um compromisso de

formadores de educadores de auxiliar os iniciantes a internalizarem durante a

sua formação inicial a disposição e a habilidade para investigar seu trabalho.

Existe, portanto, a tarefa de ajudar os profissionais a serem responsáveis por

sua própria formação profissional, tornando-se melhores naquilo que fazem e

melhorando a qualidade de aprendizagem de seus alunos.

(ALBUQUERQUE, 2012, p.20).

Um exemplo citado por um dos sujeitos da pesquisa de Dantas (2010) se refere

ao fato de que nas aulas de Físico-Química, enfatizando a complexidade do conteúdo,

nunca se abordava como esse conceito poderia ser ministrado aos estudantes da

educação básica, nem mesmo se discutia como contextualizar aquele conteúdo,

explicitando seu significado, o porquê de estudar determinado conceito, ficando essa

função apenas a cargo dos professores da disciplina de Prática de Ensino de Química.

Será que neste momento o licenciando, incentivado a questionar sobre sua futura prática

pedagógica, não possibilitaria mudanças significativas na abordagem desse professor

em sala de aula? Isso pode ser explicado, em parte, pelo entendimento equivocado dos

professores formadores dos cursos de licenciatura que atuam nas disciplinas específicas

da Prática como Componente Curricular. Os sujeitos da pesquisa de Dantas trazem o

relato que a discussão sobre transposição didática, práxis pedagógica e didática

acontecia apenas nas disciplinas do núcleo de ensino e que seria muito produtivo se essa

discussão fosse feita em torno dos conteúdos de Físico-Química, Química Orgânica,

Bioquímica, Química Analítica. E, se durante essas aulas, o estudante estivesse também

praticando a docência, se possível em ambiente real de ensino, quais seriam os

resultados?

Costa (2012), ao pesquisar sobre a Prática como Componente Curricular,

identificou, após análise do projeto do curso de Química da UFMT, que a prática como

75

componente curricular está presente desde o início do curso e é considerada como uma

responsabilidade de todos os professores. Ela está presente em disciplinas da área de

referência e em disciplinas específicas de formação de professores. Porém, Costa (2012)

conclui que há entendimentos diferenciados para a Prática como Componente

Curricular.

As análises apresentadas neste estudo indicam que há entendimentos

diferenciados para a Prática como Componente Curricular. Este fato reforça a

ideia de que as políticas não são entendidas de forma homogênea, pois, no

contexto da prática pedagógica, constituído pela diversidade de instituições

educativas, há formulação de sentidos diferentes para os termos e

proposições apresentados nos textos oficiais. As condições, recursos,

histórias e compromissos locais são sempre diferentes, fato que abre

possibilidade de recontextualização, relocalização e, por conseguinte, de

criação (COSTA, 2012, p. 124).

Como Costa (2012) identificou a Prática como Componente Curricular, é

entendido de forma diferente pelos professores formadores, o que, pode ser resultado

dos processos recontextualização das políticas, ou até por falta de interesse. Para

Maldaner (2006), essa é uma antiga problemática dos cursos de licenciatura em

Química, a falta de interesse dos professores das disciplinas de referência em se

trabalhar com a prática pedagógica. Pois, dessa forma, os mesmos poderiam se

familiarizar com algumas metodologias e, principalmente, com o pensar docente, desde

a seleção dos conteúdos e definição. Indagando-se: sobre o que se deve ensinar de

Química? Por quê? Como? E para quê? Afinal, não cabe só aos professores da “área de

ensino de Química” ensinar aos futuros educadores químicos as metodologias de

ensino.

A essência de ensinar deve perpassar por todos os professores que atuam em

cursos de licenciatura, como Maldaner (2006) argumenta, essa é uma tarefa de todos os

professores formadores, o autor faz a seguinte indagação: “Com quem aprenderão sobre

o que, como e por que ensinar determinado conteúdo de Química nas escolas médias e

fundamentais?”. Maldaner (2006) ressalta que, portanto, certamente não caberão aos

pedagogos, pois esses sabem de outras coisas, mas não de Química.

O que se percebe nos cursos de formação de professores de Química para a

educação básica, é que em muitos casos, as práticas formativas ainda são repassadas

apenas no bom senso, e isso não deveria acontecer. Pois, estudiosos na área de ensino

de ciências dedicam suas vidas para entender as complexas relações que ocorrem no

76

ensino-aprendizagem no intuito de facilitar a prática pedagógica dos professores em

exercício, ou seja, os docentes devem procurar suportes teóricos para subsidiar sua

prática no ensino superior. É durante a iniciação docente que o professor iniciante atinge

o ápice da preocupação com a prática docente, em especial com o conteúdo a ser

ensinado. Em muitos casos, os iniciantes trazem a caracterização simplista do que é ser

professor e só no contexto real, em situações de conflito, que o mesmo percebe que a

docência, além de complexa, exige do docente que este seja um profissional

multifacetado, ou seja, precisa fazer a gestão da classe de estudantes, resolver situações

inesperadas, refletir sobre sua prática e, de forma eficaz, auxiliar seus diferentes

estudantes na construção do conhecimento, entre tantas outras tarefas diárias.

Gil-Pérez e Carvalho (2001) discutem sobre a visão simplista que muitos

professores, já em exercício, têm sobre a docência. Não seria por esse motivo que

muitos docentes chegam à fase denominada por Huberman (2007) de conservadorismo

e lamentações, após sucessivos fracassos no decorrer dos anos de profissão. Fracassos

esses que podem, em parte, ser explicados por esse entendimento simplista da função

que o professor deve desempenhar no exercício profissional. Gil-Pérez e Carvalho

(2001) argumentam ainda, que os professores de Ciências, em geral, vêem como

fundamental, para ser um bom professor, ter apenas um bom conhecimento da matéria

de referência a ser ensinada e entender um pouco sobre as disciplinas psicopedagógicas.

Percebe-se, ainda, a falta de familiaridade desses profissionais com as pesquisas e

inovações didáticas da área de ensino.

Essa concepção de senso comum é uma antiga e problemática marca na nossa

formação docente em Química, que, atualmente, segundo consenso, não está formando

professores capazes de atuar adequadamente nas escolas e nem atendendo às

necessidades de nenhum nível de ensino do nosso país como afirma Silva e Schnetzler

(2008).

Pode se chegar à conclusão de que, nós professores de ciências, não só

carecemos de uma formação adequada, mas não somos sequer conscientes das nossas

insuficiências. Como consequência, concebe-se a formação do professor como

transmissão de conhecimentos e destrezas que, contudo, tem demonstrado,

reiteradamente, suas insuficiências na preparação dos estudantes e dos próprios

professores (GIL-PÉREZ, 2001, p.15).

77

Em parte, o choque com a realidade que os docentes principiantes sentem

quando vão para sala de aula do ensino básico, pela primeira vez, seja no estágio

supervisionado ou no início da carreira, se deve ao pouco contato com a realidade do

ambiente de ensino, ou por ter se preparado com situações abstraídas de contextos

irreais. Para Nono (2011), há uma sensível diferença entre o que é aprendido no

decorrer de sua formação, com as condições reais que passam a enfrentar.

Na medida em que as disciplinas pedagógicas nos cursos de licenciatura

tratam de um aluno ideal, de uma escola ideal, abordando teorias pedagógicas

dissociadas de conteúdos químicos, torna-se compreensível que os

professores critiquem a formação recebida (SCHNETZLER e ARAGÃO

2000, p. 22).

Na realidade escolar, nem tudo que se descreve e se objetiva é possível, isso

vai desde a utilização de recursos educacionais e tecnológicos, espaço favorável, apoio

dos pares e da administração escolar, entre outros. É na iniciação à docência que o

professor principiante enfrenta o choque da realidade, expressão popularizada pelo

holandês Simon Veenman (1988), se referindo às situações que os docentes enfrentam

nos anos iniciais de sua carreira, que também entendemos como as experiências iniciais

no ambiente educacional, sejam por meio dos estágios ou de programas de iniciação à

docência em formação.

O modelo perfeito de ambiente escolar construído ao longo do curso de

formação inicial, em muitas situações, não se ajusta às condições reais que passam a

enfrentar no contexto da escola pública, principalmente em sala de aula. Nesse sentido,

é que se iniciam os conflitos. Como Quadros et al (2006), consideramos como conflito,

aquelas situações que os professores, estagiários e bolsistas de iniciação à docência não

esperavam encontrar ou aquelas que estavam em contradição com suas próprias crenças

e expectativas do que é ser professor, de sua função e do seu valor para a sociedade.

Muitas vezes a frustração inicial os leva a abandonar a profissão. Esse é um

dos motivos que justificam esse trabalho, pois nenhum curso de formação de

professores pode ficar indiferente aos problemas e dificuldades vivenciados por seus

estagiários e egressos. Pelo contrario, é por esse motivo que pesquisas com essa

temática são importantes aos gestores e formadores de professores. Os formadores de

professores precisam ser flexíveis e utilizar a realidade profissional do professor

principiante, como tema gerador de análises, pois só assim será possível contextualizar

as discussões sobre a prática pedagógica dos novatos. Pesquisas com esse enfoque não

78

servem apenas como norteio aos gestores dos cursos de formação profissional inicial de

professores, mas também aos gestores escolares, que desempenham papel importante

nessa fase do iniciante, que corresponde desde o acolhimento, à orientação no decorrer

da iniciação a docência.

Pesquisas como de Quadros et al (2006), reforçam a importância desse

acolhimento no início profissional do docente, visto que o mundo de trabalho é um

espaço importante de formação e de subjetivação - tempo/espaço - em que os iniciantes

apresentam sentimentos de solidão e isolamento frente às novidades desse mundo novo.

3.2 - FORMAÇÃO INICIAL E INICIAÇÃO À DOCÊNCIA NA PERSPECTIVA

DE ALGUNS TEÓRICOS DA ÁREA DE EDUCAÇÃO

Tradicionalmente, os cursos de formação inicial de professores na área das

ciências naturais, desde seu currículo, mostram maior valorização das matérias

acadêmicas em detrimento da prática. Geralmente, as práticas de ensino com os estágios

supervisionados são vistos como apêndice do curso (GIL-PÉREZ e CARVALHO,

1993; MALDANER, 2006). As disciplinas que enfocam as metodologias de ensino, as

práticas como componente curricular, o estágio supervisionado são cursadas pelos

futuros discentes, tardiamente, provocando uma dicotomia entre teoria e prática,

aumentando a insegurança nos futuros docentes em iniciar sua prática pedagógica.

Gonçalves (1995) revela que o início da vida profissional e o término são considerados,

pelos professores, como sendo os piores anos de suas carreiras. Para Maldaner (2006) o

atual currículo no âmbito nacional não contribui para construção da identidade docente

e nem fornece subsídios teóricos e práticos para o futuro docente atuar na realidade do

sistema educacional brasileiro.

É consenso, entre os formadores de professores, que as práticas pedagógicas

marcam a identidade docente. Nesse sentido, a prática e experiência profissional

docente, possibilitam ao professor a construção de saberes específicos de sua área de

atuação, por meio da reflexão sobre a prática (SCHÖN, 1992; TARDIF, 2002). Nesse

sentido ainda, a atuação docente em ambiência real de ensino é apontada por

pesquisadores como fundamental para construção dos saberes docente.

Não é raro ouvir dos licenciandos, durante a realização dos estágios, que na

prática a teoria é outra, como reafirma Pimenta e Lima: “No cerne deste comentário

79

popular, está à constatação, no caso da formação de professores, de que o curso nem

fundamenta teoricamente a atuação profissional, nem toma a prática como referência

para fundamentação teórica” (2004, p.31). Nesse momento, muitos professores

iniciantes questionam seus cursos de formação inicial, relatando na maioria dos casos,

que não está habilitado ou que não foi capacitado para atuar nesse contexto.

Questionam, principalmente, a dicotomia existente entre a prática e a teoria.

Na verdade os currículos de formação tem-se constituído em um aglomerado

de disciplinas isoladas entre si, sem qualquer explicitação de seus nexos com

a realidade que lhe deu origem. Assim nem sequer se pode denominá-los

teorias, pois são apenas saberes disciplinares em cursos de formação, que em

geral estão completamente desvinculados do campo de atuação profissional

dos futuros formandos (PIMENTA e LIMA, 2004, p.33).

Na formação de professores, as duas grandes dificuldades para introdução de um

practicum reflexivo são, por um lado, a epistemologia dominante na Universidade e, por

outro, o seu currículo profissional normativo: “primeiro ensinam-se os princípios

científicos relevantes, depois a aplicação desses princípios, e por último, tem-se um

practicum, cujo objetivo é aplicar a prática quotidiana os princípios da ciência aplicada”

(SCHÖN, 1992, p. 91).

Schön (1992) afirma que, se realmente quer se formar um docente prático-

reflexivo, e que este tenha utilidade no ambiente educacional, isso envolverá sempre

conhecimentos do próprio saber escolar. Para Pimenta e Lima (2004) os licenciandos

em formação têm a plena consciência dessa defasagem, mas pouco os programas de

formação ajudam a lidar com essa necessidade formativa. Como já se discutiu

anteriormente, não podemos nos iludir acreditando que todas as dificuldades iniciais do

professor acabariam se não existisse a dicotomia entre universidade e escola, teoria e

prática, disciplinas específicas e pedagógicas. Isso é apenas um dos desafios da

formação inicial.

Precisamos compreender a formação do professor como um processo contínuo,

com aporte em estudiosos como Schön (1992), Tardif (2002), Pimenta e Lima (2004),

Schnetzler (2000): entendemos que a prática pedagógica do licenciando no ambiente

real de ensino, não trará contribuições apenas para construção da identidade docente,

mas também para o aprimoramento dos saberes específicos do docente, para formação

de um professor reflexivo sobre suas práticas diárias. Quando mencionamos que essa

80

prática deveria ocorrer ainda em formação, é por que visualizamos que somente os

Estágios não são suficientes, por se apresentarem ainda de forma fragmentada e sua

execução ocorre apenas na segunda metade do curso.

Nesse sentido, o Pibid pode contribuir para a melhoria da relação professor-

estudante, de forma a instrumentalizar o futuro docente capacitando-o para atuar como

professor da educação básica, com uma carga de experiência que não seria possível

somente no curso de formação inicial, ou seja, o programa instrumentaliza a inserção do

estudante de licenciatura no seu campo de trabalho, promove a articulação entre

diferentes práticas multidisciplinares, os estudantes desenvolvem o perfil de

pesquisador com resignificação da prática docente.

Para Pimenta e Lima (2004) a inserção do licenciando no ambiente de ensino

da educação básica se dá por meio do estágio. Sabemos que o Pibid, também,

proporciona a inserção do futuro docente no campo de trabalho. Porém, isso ainda não é

possível para todos os estudantes que cursam licenciatura em virtude do grande número

de estudantes. Vale ressaltar, que o Pibid tem um número de vagas determinado para

cada subprojeto, definido de acordo com a demanda da instituição e, caso não tenha

mais bolsas disponíveis para quem quer participar do programa, o licenciando pode

inscrever-se, no caso da UFMT, como pibidiano voluntário. Contudo, em estudo

anterior, Dantas (2010) identificou a importância financeira que os programas Pibid e

Pibic têm na permanência desses estudantes na universidade, em virtude das condições

econômicas da família. Em alguns casos, os sujeitos mencionaram que a desistência dos

colegas no decorrer do curso, ocorreu pelo fato de ser um curso integral, impedindo

dessa forma, que o estudante pudesse trabalhar para ajudar financeiramente os

familiares.

Em decisão coletiva, institui-se no Pibid/UFMT, um Conselho Deliberativo,

composto por representantes dos membros participantes. Esse conselho

delibera sobre as mais variadas questões, sobretudo aquelas relacionadas à

aplicabilidade dos recursos disponíveis, tendo o mesmo instituído a figura do

‘Pibidiano voluntário’ que, embora não receba bolsa, possui atribuições

claramente definidas nos subprojetos. Participam também como

colaboradores eventuais ou voluntários os professores das escolas da

Educação Básica e docentes da UFMT (MELLO, et al. 2012, p. 17).

De acordo com Pimenta e Lima (2004, p.35), “o estágio como pesquisa já se

encontra presentes em grupos isolados. No entanto, entendemos que precisa ser

assumido como horizonte ou utopia a ser conquistada no projeto dos cursos de

81

formação”. Se analisarmos do ponto de vista das autoras, o Pibid é uma utopia que está

sendo realizada, visto que, dentre as contribuições relativas à formação inicial do

professor de Química, o Subprojeto Pibid de Química UFMT aflorou naturalmente nos

licenciandos bolsistas o perfil de professor-pesquisador. Essa constatação é oriunda das

produções científicas construídas pelos bolsistas em uma perspectiva crítica do processo

formativo e da atuação em sala de aula, alicerçada na ação-reflexão-ação da prática

pedagógica. E esse é um dos objetivos descritos no Edital-Capes/2007: “proporcionar

aos futuros professores participação em ações, experiências metodológicas e práticas

docentes inovadoras, articuladas com a realidade local da escola”.

Dentre as contribuições relativas à formação inicial do professor de Química, o

Subprojeto Pibid/Química UFMT, aflorou naturalmente, nos licenciandos bolsistas, o

perfil de professor-pesquisador, que busca utilizar a pesquisa para refletir sobre sua

prática docente. As produções científicas construídas pelos bolsistas foram realizadas

com uma perspectiva crítica do processo formativo e da atuação em sala de aula,

alicerçada na ação reflexão ação da prática pedagógica. E isso foi possível pelo contato

dos bolsistas com cotidiano da escola e pelas discussões que essa atuação levantava nos

ciclos de estudos. Nesses debates, as discussões eram subsidiadas por textos de

estudiosos da temática de interesse.

Dentre os temas mais discutidos nos ciclos de estudos, dentre outros, estavam:

ensino-aprendizagem, construção do conhecimento químico em sala de aula e

laboratório, avaliação, motivação para o aprendizado da Química, atividades lúdicas no

ensino de Ciências. A utilização da pesquisa, como processo formativo por parte dos

bolsistas, não foi prevista, muito menos era a intenção primeira descrita no projeto

institucional e no Subprojeto de Química (DANTAS e MELLO, 2011c). Para se

visualizar a dimensão das produções dos ex-bolsistas, extraímos de uma pesquisa já

realizada e apresentada no SEMIEDU 2011, intitulada “Formação pela pesquisa: o

Pibid como experiência desafiadora”, os seguintes dados:

O Subprojeto de Química Pibid/UFMT só no ano de 2010 produziu

aproximadamente (20) trabalhos no formato pôster em eventos de Ensino de

Química, (2) comunicações orais em seminários de Educação, (4)

monografias que trabalharam a área de ensino e formação de professores e

(3) ingressos a Mestrados. Resultado da participação ativa dos bolsistas no

ambiente escolar e do desenvolvimento das competências que García (1999)

destaca sobre o professor-pesquisador, “empírica, analíticas, avaliativas,

estratégicas, práticas e comunicação”, por meio da elaboração de pesquisas

que enfocam o cotidiano escolar e o ensino de Química, e com a posterior

apresentação dessas pesquisas em eventos da área de ensino com temas

82

relacionados a estratégias de ensino de conteúdos técnicos científicos,

motivação para o estudo da Química, produção de materiais didáticos entre

outros. (DANTAS e MELLO, 2011c, p. 9).

Entendemos que o Pibid se enquadra como um programa que visa melhorar a

formação inicial de professores, incentivando a iniciação à docência desses licenciandos

e, consequentemente, proporciona a educação básica um ensino de Química com mais

qualidade. Para Schön, estamos em um processo cíclico de reformas educativas, que se

trata da tomada de consciência das inadequações da educação na América, e que essas

oferecem a oportunidade de reexaminar algumas questões, dentre as quais se destaca:

“Que tipo de formação será mais viável para equipar os professores com as capacidades

necessárias ao desempenho de seu trabalho?” (SCHÖN, 1992, p. 80).

O ensino debilitado na fase da educação básica e, às vezes ausente, faz com

que a preparação para o curso superior se faça no próprio ensino superior, cujos

currículos padecem, por isso, de uma sobrecarga crônica, a qual afeta a qualidade do

ensino ali realizado. Essa consequência é facilmente percebida nos cursos de

licenciatura em Química. Primeiro, porque grande parte dos discentes vem de escola

pública e o índice de reprovação no início do curso é muito elevado, o que em muitos

casos culmina em desistência dos estudantes (DANTAS, 2010). Sobre isso, Dantas

(2010, o. 76) traz dados importantes ao presente estudo. Os egressos, sujeitos da

pesquisa realizada por Dantas relatam que poucos estudantes se formam no curso de

Química da UFMT, por desistirem ao longo do curso, em especial, pela dificuldade no

desenvolvimento das disciplinas específicas, atribuindo a falta de base.

As atividades do Pibid, em especial o ciclo de estudos, objetivam auxiliar o

licenciando na superação de dificuldades em relação ao domínio do conteúdo, por meio

de realização de exercícios em grupo de estudos, com acompanhamento do coordenador

de área e supervisor. Sobre isso, se realizou uma pesquisa apresentada na forma de

comunicação oral no Encontro Nacional de Ensino de Química, realizada na UFBA, em

2012, intitulado: “o Subprojeto de química/Pibid-UFMT: uma reflexão sobre as

necessidades formativas e a crise na educação”.

O coordenador relata que durante as atividades propostas para o subprojeto

procurou dar ênfase às necessidades formativas dos bolsistas, principalmente

no que concerne a participação em ambiência real de ensino (observação,

monitoria e regência), visto que na antiga estrutura curricular1 de 1997 do

curso de Licenciatura em Química, as atividades escolares em ambiência real

de ensino só iniciavam no 6º semestre, o que é apontado por teóricos como

Maldaner (2006) e Pena (2010) como um dos motivos que dificultam a

83

iniciação à docência. Esse também é um dos motivos levantados para

questionar a afetividade dos cursos, a dicotomia existente entre

conhecimentos acadêmico e realidade escolar; disciplinas específicas e

disciplinas pedagógicas (GIL-PÉREZ e CARVALHO, 2001; MALDANER,

2006; SCHÖN, 1995). (DANTAS e MELLO, 2012a, p.6).

O objetivo deste estudo foi apresentar uma reflexão sobre como o subprojeto

Pibid/Química UFMT descreve questões relacionadas às necessidades formativas dos

licenciandos, principalmente no que se refere ao domínio curricular e pedagógico dos

conteúdos, e a relação destes com a Crise na Educação. Constatamos, no decorrer deste

estudo, que o ensino deficiente de conteúdo também contribui para crise na educação, e

que nas atividades propostas para o subprojeto procurou-se dar ênfase às necessidades

formativas (DANTAS e MELLO, 2012a).

Com a crise periódica na educação, que como Arendt (2009) argumenta já

tomou conta de praticamente toda a esfera da vida (pública, política e

privada), as atuais reformas educativas surgem com o objetivo de melhorar a

situação do cenário educacional público que apresenta muitos problemas e

carências. Nesse sentido, o Pibid tem sido apontado por muitos licenciandos

com uma possibilidade de contribuir na relação professor-aluno, de forma a

instrumentalizar o futuro docente, capacitando-o para atuar como professor

da educação básica com uma carga de experiência que não seria possível

somente no curso de formação inicial. E, por outro lado, apontam-se ainda,

possibilidades de contribuição ao aluno do ensino médio, que provavelmente

será mais bem preparado para o ingresso no ensino superior, devido a uma

série de atividades realizadas com supervisão dos professores da educação

básica participantes do Pibid, dos coordenadores dos subprojetos, que são

professores da universidade, neste caso a UFMT, e do coordenador

institucional (DANTAS e MELLO, 2012a, p.2).

Nesse sentido, os textos oficiais do subprojeto Pibid/Química UFMT

apresentam a qualidade das ações pertinentes à formação inicial de Química,

problematizando o espaço escolar para a formação profissional, por meio de práticas

pedagógicas que contribuem para construção da identidade profissional. A experiência

no contexto escolar possibilita ao professor a construção como já dito, dos saberes

específicos da docência. Como é conhecido por Tardif (2002, p. 33), o saber docente se

compõe, na verdade, de vários saberes, proveniente de diferentes fontes. São os saberes

disciplinares, curriculares, profissionais (inclui-se os da ciência da educação e

pedagogia) e, por último, não menos importante, os saberes experienciais.

Diante do saber experiencial, Tardif (2002, p. 38) descreve que o próprio

professor, quando está no exercício de suas funções e na prática de sua profissão,

desenvolve saberes baseados no conhecimento de seu meio, em especial, no seu

84

trabalho cotidiano. Esses saberes são incorporados à prática docente e, por meio da

atividade diária, acabam por serem validados e incorporados na forma de habilidades de

saber-fazer e saber-ser.

Para Pimenta e Lima (2004, p.35), “o exercício de qualquer profissão é prático,

no sentido de que se trata de aprender a fazer algo ou ação, destacando que logo a

formação docente também é prática”. Sendo o conhecimento experiencial desenvolvido

por meio da inserção do estudante no seu ambiente de trabalho e dos ensinamentos do

professor de estágio. Em muitas situações, o estudante pode a vir usar este professor

como modelo em situações improváveis, isso só não acontece se o licenciando tiver

uma bagagem conceitual e experiencial, que o ajude a analisar criticamente o contexto

real de ensino. Porém, como argumenta Pimenta e Lima (2004, p.35), “nem sempre o

aluno dispõe de elementos para essa ponderação crítica e apenas tenta transpor os

modelos em situações para as quais não são adequadas”.

Nesse sentido, para que o futuro docente consiga reanalisar sua ação e pensar

criticamente necessitará de experiência reais, dos seus saberes, que no decorrer desta

discussão, podemos analisar que esses saberes são adquiridos, em especial, com a

prática docente em ambiente real de ensino, reforçando a importância do estágio

supervisionado e reafirmando parte das contribuições do Pibid.

Para Tardif (2002), o saber docente é plural e esses profissionais ocupam um

lugar estratégico no interior das diversas relações complexas e multifacetadas da

sociedade contemporânea. O saber dos professores é o saber deles e está intimamente

relacionada com a pessoa do professor, com a sua identidade, experiência de vida, com

sua história profissional, com suas relações com os estudantes em sala de aula e com

todos os integrantes do ambiente escolar. Compartilhamos da ideia de que a formação

prática docente é baseada na relação do professor com o outro, de sua ação sobre o

estudante. Nesse sentido, para construção dos saberes docente, a relação entre professor

e estudante é fundamental. Durante a formação inicial, essa relação com o outro, se dá

principalmente durante a realização do estágio supervisionado, ou para alguns

estudantes licenciandos participantes do Pibid, no decorrer de todas as atividades

propostas pelo programa.

Diante da análise da dimensão teórica, reafirmamos que a inserção dos

licenciandos no ambiente real de ensino possibilita ao mesmo, elaborar sua própria

metodologia de ensino, a partir da análise crítica do outro professor, da sala de aula, da

relação professor e estudante. E, analisando os objetivos do Pibid e do Estágio

85

percebemos uma linha tênue entre ambos, visto que, tanto o Pibid, quanto o Estágio,

visa como produto final à iniciação à docência dos licenciandos.

3.3 - A INICIAÇÃO À DOCÊNCIA NA PERSPECTIVA DOS DOCUMENTOS

OFICIAIS

As atuais reformas educacionais têm ampliado a área de estudos sobre as

políticas educacionais, isso se deve pela compreensão da importância que tais políticas

têm para escola, em especial, aos docentes. Estudos acerca das novas políticas

educacionais e da reestruturação do trabalho docente em função dessas, constatam que

as políticas têm engendrado uma nova organização do trabalho escolar. Oliveira (2007)

discutiu a implicação que essas políticas têm, na produção de um modelo de regulação

educativa, produto de novas articulações entre as demandas globais e as respostas

locais.

As políticas educacionais estão imbuídas de medidas normatizadoras que se

configuram como fontes norteadoras do sistema educacional. Dentre essas, se destaca a

Lei de Diretrizes e Bases que se apresenta nessa configuração. Nesse sentido, buscamos

analisar o Parecer CNE/CP 09/2001, que propõe as Diretrizes Curriculares Nacionais

para a Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, curso de

licenciatura, de graduação plena e o Parecer CNE/CES 1.303/2001, que institui as

Diretrizes Curriculares Nacionais para os cursos de Bacharelado e de Licenciatura em

Química, para identificar o que esses documentos trazem de medidas normatizadoras

em relação à iniciação à docência, pois como versa Bogdan, et al (1994, p. 180) “os

documentos oficiais são vistos de formas favoráveis pelos pesquisadores qualitativos

pela subjetividade e perspectivas oficiais envolvidas”.

De acordo com Macedo (2000), a proposta de reformulação contida nas

diretrizes parece se fundamentar na ideia de que existe um problema pedagógico na

atuação docente oriundo dos currículos de formação; e um problema organizacional,

que se define pela incapacidade das atuais instituições formadoras, tal como se

organizam, por não darem conta das demandas de formação de professores. Para

reafirmação de parte do que a autora evidenciou em seu estudo, trazemos um extrato do

que está exposto nas diretrizes:

Os currículos vigentes estão transbordando de conteúdos informativos em

flagrante prejuízo dos formativos, fazendo com que o estudante saia dos

86

cursos de graduação com "conhecimentos" já desatualizados e não suficientes

para uma ação interativa e responsável na sociedade, seja como profissional,

seja como cidadão (Parecer, CNE/CES 1.303/2001, p. 2).

Pensando por essa perspectiva, apresentada por Macedo (2000), buscamos

compreender em que aspecto o Pibid tem contribuído para o atual currículo de formação

de professores, diante dos desafios do atual cenário educacional brasileiro. O Parecer

CNE/CP 009/2001 destaca que os desafios enfrentados pela educação têm motivado a

mobilização da sociedade civil, a realização de estudos e pesquisas e a implementação,

por estados e municípios, de políticas educacionais orientadas por esse debate social e

acadêmico que visa à melhoria da educação básica. Seria o Pibid resultado dessa

mobilização?

Entre as inúmeras dificuldades encontradas para essa implementação destaca-

se o preparo inadequado dos professores cuja formação de modo geral,

manteve predominantemente um formato tradicional, que não contemplam

muitas das características consideradas, na atualidade, como inerentes à

atividade docente, entre as quais se destacam:

- orientar e mediar o ensino para a aprendizagem dos alunos;

- comprometer-se com o sucesso da aprendizagem dos alunos;

- assumir e saber lidar com a diversidade existente entre os alunos;

- incentivar atividades de enriquecimento cultural;

- desenvolver práticas investigativas;

- elaborar e executar projetos para desenvolver conteúdos curriculares;

- utilizar novas metodologias, estratégias e materiais de apoio;

- desenvolver hábitos de colaboração e trabalho em equipe. (Parecer CNE/CP

009/2001, p. 4).

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da

Educação Básica, em nível superior, curso de licenciatura, de graduação plena destaca

também que, além das mudanças necessárias nos cursos de formação docente, a

melhoria da qualificação profissional dos professores vai depender, em especial, da

execução de políticas que objetivem, entre outras ações, fortalecer os vínculos entre as

instituições formadoras e o sistema educacional, suas escolas e seus professores. Nesse

sentido, há um entrelaçamento com os objetivos descritos no Pibid, mais um indicativo

da importância da sua institucionalização pelo Decreto nº 7.219 de 24 de junho de 2010,

aventam-se para uma continuidade do Programa, uma blindagem necessária em se

tratando de uma política pública relevante para educação brasileira. Como relata Mello,

et al (2012, p.14): “Esse programa caminha a passos largos para consolidação como

política pública importante para formação de professores no Brasil [...]”.

87

Para entendermos o atual currículo dos cursos de licenciatura, no que se refere

à distribuição de carga horária entre as disciplinas da área específica e de ensino,

buscamos dados na Resolução CNE/CP 2/2002. Identificamos que a carga horária dos

cursos de Formação de Professores da Educação Básica, em nível superior, em curso de

licenciatura, de graduação plena, será efetivada mediante a integralização de, no

mínimo, 2800 (duas mil e oitocentas) horas, nas quais a articulação teoria-prática

garanta, nos termos dos seus projetos pedagógicos, as seguintes dimensões dos

componentes comuns:

I - 400 (quatrocentas) horas de prática como componente curricular, vivenciadas

ao longo do curso;

II - 400 (quatrocentas) horas de estágio curricular supervisionado, a partir do

início da segunda metade do curso;

III - 1800 (mil e oitocentas) horas de aulas para os conteúdos curriculares de

natureza científicos culturais;

IV - 200 (duzentas) horas para outras formas de atividades acadêmico, científico,

culturais.

Ambas as atividades que visam à articulação teórica e prática têm por objetivo

formar o docente capacitando-o para atuar em seu ambiente real de trabalho e,

conjuntamente, contribuem para formação da identidade profissional do educador.

“Esta correlação teoria e prática é um movimento contínuo entre saber e fazer na busca

de significados na gestão, administração e resolução de situações próprias do ambiente

da educação escolar” (Parecer CNE/CP 28/2001, p.11). Possivelmente, o

entrelaçamento entre o saber e fazer, específicos da docência, tenha mobilizado à

mudança nos currículos dos cursos de licenciatura, para atender as novas demandas que

envolvem a dimensão prática. Valemo-nos do trabalho de Costa (2012) para afirmar que

há entendimentos e execução diferentes no que concerne a prática como componente

curricular.

Ao analisar a Prática como Componente Curricular no contexto dos cursos de

Licenciatura em Química ofertados pela UFMT e pelo IFMT/UAB eu

observei que há diferenças de sentidos atribuídos a este componente do

currículo. No projeto do curso de Química da UFMT há interesse em assumir

o sentido que foi expresso no parecer CNE/CP nº 009/2001. A prática está

presente desde o início do curso e é considerada como uma responsabilidade

de todos os professores. Ela é desenvolvida no interior de disciplinas da área

de referência e também em disciplinas voltadas à formação de professores.

Os dados analisados indicam que houve confluência de interesses entre a

política governamental que orienta a dimensão prática e a política da

88

universidade. Mesmo antes da promulgação da LDB/96, já havia debates na

comunidade acadêmica sobre a reestruturação do curso, sobre a identificação

do curso como licenciatura. Esse fato mostra que as políticas não são

lineares. Os anseios e expectativas dos sujeitos em suas instituições também

podem influenciar no processo de discussão e definição das políticas

(COSTA, 2012, p. 122-123).

O Parecer CNE/CP 09/2001 descreve a concepção de prática como

componente curricular, ressaltando que essa concepção implica vê-la como uma

dimensão do conhecimento, que tanto está presente nos cursos de formação nos

momentos em que se trabalha na reflexão sobre a atividade profissional, como durante o

estágio no qual o licenciando se exercita a atividade profissional.

O estágio curricular supervisionado de ensino nos cursos de licenciatura é um

componente curricular obrigatório, responsável pela iniciação à docência dos

professores principiantes. O Estágio nas diretrizes é descrito como o tempo de

aprendizagem que, por meio de um período de permanência, alguém ocupa seu tempo

em algum lugar ou ofício para aprender a prática e depois exercer sua profissão. Assim,

o estágio curricular supervisionado supõe uma relação pedagógica entre alguém que já é

um profissional reconhecido em um ambiente institucional de trabalho e um estudante

estagiário. Da mesma forma o Pibid garante aos licenciandos bolsistas a realização de

atividades na escola, supervisionado por um profissional reconhecido em seu ambiente

de trabalho. Sobre o estágio, o Parecer CNE/CP 28/2001 traz a seguinte descrição:

Este é um momento de formação profissional do formando seja pelo

exercício direto in loco, seja pela presença participativa em ambientes

próprios de atividades daquela área profissional, sob a responsabilidade de

um profissional já habilitado. Ele não é uma atividade facultativa sendo uma

das condições para a obtenção da respectiva licença. Não se trata de uma

atividade avulsa que angarie recursos para a sobrevivência do estudante ou

que se aproveite dele como mão de obra barata e disfarçada. É necessário o

momento de preparação próxima em uma unidade de ensino. (Parecer

CNE/CP 28/2001, p.12).

O Parecer CNE/CP 9/2001 conceitua o estágio curricular supervisionado como

o momento de efetivar, sob a supervisão de um profissional experiente, um processo de

ensino-aprendizagem. Conjuntamente, Estágio e prática, como componente curricular,

visam articular teoria e prática social profissional, tal como expressa o Art. 1º, § 2º da

LDB.

89

Entre os objetivos propostos para realização do estágio curricular

supervisionado enfatiza-se à iniciação a docência, pois é nessa etapa da graduação em

licenciatura que se busca oferecer ao futuro docente o conhecimento da real situação de

trabalho, desde a inserção desse estudante em unidades escolares dos sistemas de

ensino, à atuação profissional do mesmo, em especial quanto à regência em sala de aula.

Durante a regência, os estagiários podem verificar as competências exigidas na atuação

profissional diária, isso é possível pela vivência em atividades do ambiente escolar.

Dentre as atividades realizadas pelo estagiário na escola, verifica-se a

participação no planejamento de ensino global e dos planos de aula, entre outras

atividades de capacitação em serviço que só poderão ocorrer em unidades escolares,

onde o licenciando estagiário assume, efetivamente, o papel de professor.

Neste sentido, é indispensável que o estágio curricular supervisionado, tal

como definido na Lei 6.494/77 e suas medidas regulamentadoras posteriores,

se consolidem a partir do início da segunda metade do curso, como

coroamento formativo da relação teoria-prática e sob a forma de dedicação

concentrada. Assim, o estágio curricular supervisionado deverá ser um

componente obrigatório da organização curricular das licenciaturas, sendo

uma atividade intrinsecamente articulada com a prática e com as atividades

de trabalho acadêmico. Ao mesmo tempo, os sistemas de ensino devem

propiciar às instituições formadoras a abertura de suas escolas de educação

básica para o estágio curricular supervisionado. Esta abertura, considerado o

regime de colaboração prescrito no Art. 211 da Constituição Federal, pode se

dar por meio de um acordo entre instituição formadora, órgão executivo do

sistema e unidade escolar acolhedora da presença de estagiários. Em

contrapartida, os docentes em atuação nesta escola poderão receber alguma

modalidade de formação continuada a partir da instituição formadora. Assim,

nada impede que, no seu projeto pedagógico, em elaboração ou em revisão, a

própria unidade escolar possa combinar com uma instituição formadora uma

participação de caráter recíproco no campo do estágio curricular

supervisionado. Esta conceituação de estágio curricular supervisionado é

vinculante comum tempo definido em lei como já se viu e cujo teor de

excelência não admite nem um aligeiramento e nem uma precarização. Ela

pressupõe um tempo mínimo inclusive para fazer valer o que está disposto

nos artigos 11, 12 e 13 da Resolução que acompanha o Parecer CNE/CP

9/2001. Assim, as instituições devem garantir um teor de excelência inclusive

como referência para a avaliação institucional exigida por Lei. Sendo uma

atividade obrigatória, por sua característica já explicitada, ela deve ocorrer

dentro de um tempo mais concentrado, mas não necessariamente em dias

subsequentes. Com esta pletora de exigências, o estágio curricular

supervisionado da licenciatura não poderá ter uma duração inferior a 400

horas. (Parecer CNE/CP 9/2001, p. 13-14).

De acordo com Parecer CNE/CP 009/2001, o planejamento e a execução das

práticas no estágio devem estar apoiados nas reflexões desenvolvidas nos cursos de

formação, nas disciplinas de prática de ensino. Algumas instituições já desenvolvem

pesquisas que buscam analisar e refletir a vivência do estagiário em seu ambiente de

90

trabalho. O estágio vem a ser realizado como uma atitude investigativa, que envolve a

reflexão sobre a ação desses professores iniciantes no ambiente real de ensino

(PIMENTA e LIMA, 2004). “O estágio como pesquisa já se encontra presentes em

grupos isolados. No entanto, entendemos que precisa ser assumido como horizonte ou

utopia a ser conquistada no projeto dos cursos de formação” (PIMENTA e Lima, 2004,

p. 35).

Uma das etapas mais importantes do estágio é a reflexão sobre a prática e,

consequentemente, da autoavaliação por parte do estagiário, que consiste em uma etapa

importante para análise crítica da teoria e da estrutura curricular do curso. Esse

momento de reflexão, crítica, avaliação deve ser subsidiado por toda a equipe de

formadores e, não apenas, para o supervisor de estágio. Nesse sentido, as Diretrizes

Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da Educação Básica descreve

um problema enfrentado pelos licenciandos no momento da realização dos estágios,

Outro problema refere-se à organização do tempo dos estágios, geralmente

curtos e pontuais: é muito diferente observar um dia de aula numa classe uma

vez por semana, por exemplo, e poder acompanhar a rotina do trabalho

pedagógico durante um período contínuo em que se pode ver o

desenvolvimento das propostas, a dinâmica do grupo e da própria escola e

outros aspectos não observáveis em estágios pontuais. Além disso, é

completamente inadequado que a ida dos professores as escolas aconteça

somente na etapa final de sua formação, pois isso não possibilita que haja

tempo suficiente para abordar as diferentes dimensões do trabalho de

professor, nem permite um processo progressivo de aprendizado. (Parecer

CNE/CP 009/2001, p. 23).

A formação de professores de Química enfrenta alguns desafios anunciados nas

diretrizes com o foco, quase exclusivo, aos conteúdos específicos em detrimento de um

trabalho mais aprofundado com os conteúdos que serão desenvolvidos no ensino

fundamental e médio.

É preciso indicar com clareza para o aluno qual a relação entre o que está

aprendendo na licenciatura e o currículo que ensinará no segundo segmento

do ensino fundamental e no ensino médio. Neste segundo caso, é preciso

identificar, entre outros aspectos, obstáculos epistemológicos, obstáculos

didáticos, relação desses conteúdos com o mundo real, sua aplicação em

outras disciplinas, sua inserção histórica. Esses dois níveis de apropriação do

conteúdo devem estar presentes na formação do professor. (Parecer CNE/CP

009/2001, p. 21).

O estágio vem sendo realizado de uma forma em que o professor principiante

não consegue vivenciar sua atuação profissional plena. O momento de execução do

estágio geralmente fica restrito à regência do licenciando em sala de aula. E, em raras

91

situações, o estagiário atua nas demais dimensões do trabalho diário do sistema de

ensino, como a participação do planejamento global de ensino, participação no projeto

educativo da escola, sala do educador, reuniões com os pais, relacionamento com os

estudantes e com a comunidade escolar. Há uma restrição quanto à vivência da natureza

profissional.

Nos cursos de formação de professores, a concepção dominante, conforme já

mencionada, segmenta o curso em dois pólos isolados entre si: um caracteriza

o trabalho nasala de aula e o outro, caracteriza as atividades de estágio. O

primeiro pólo supervaloriza os conhecimentos teóricos, acadêmicos,

desprezando as práticas como importante fonte de conteúdos da formação.

Existe uma visão aplicacionista das teorias. O segundo pólo supervaloriza o

fazer pedagógico, desprezando a dimensão teórica dos conhecimentos como

instrumento de seleção e análise contextual das práticas. Neste caso, há uma

visão ativista da prática. Assim, são ministrados cursos de teorias prescritivas

e analíticas, deixando para os estágios o momento de colocar esses

conhecimentos em prática. (Parecer CNE/CP 009/2001, p. 22).

Sem dúvida, o estágio é o momento em que o licenciando adquire os

conhecimentos experienciais, construídos “na” e “pela” experiência prática no cotidiano

escolar. Esse é tipo de saber docente que só pode ser construído por meio da prática

profissional. “Saber e aprender um conceito, ou uma teoria é muito diferente de saber e

aprender a exercer um trabalho. Trata-se, portanto, de aprender a ser professor”.

(Parecer CNE/CP 009/2001, p. 49). O saber experiencial é um aprendizado permanente,

que se constrói por meio da análise das diferentes dimensões do contexto escolar, das

situações singulares que exigem respostas.

O princípio metodológico geral é de que todo fazer implica uma reflexão e

toda reflexão implica um fazer, ainda que nem sempre este se materialize.

Esse princípio é operacional e sua aplicação não exige uma resposta

definitiva sobre qual dimensão – a teoria ou a prática - deve ter prioridade,

muito menos qual delas deva ser o ponto de partida na formação do

professor. Assim, no processo de construção de sua autonomia intelectual, o

professor, além de saber e de saber fazer deve compreender o que faz.

(Parecer CNE/CP 009/2001, p. 56).

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Formação de Professores da

Educação Básica orientam que a iniciação à docência e a prática pedagógica não podem

ficar reduzida a um espaço isolado, que a reduza ao estágio como algo fechado em si

mesmo e desarticulado do restante do curso.

Os cursos de licenciatura poderiam proporcionar ao licenciando uma reflexão

coletiva e sistemática sobre esse processo. Nessa perspectiva, o planejamento dos cursos

92

de formação deve prever situações didáticas em que os futuros professores coloquem

em uso os conhecimentos que aprenderam. Isso deve ocorrer no interior das disciplinas

específica e não só nas disciplinas pedagógicas. Este documento também orienta que o

estágio obrigatório deva ser vivenciado ao longo de todo o curso de formação e com

tempo suficiente para abordar as diferentes dimensões da atuação profissional. Devendo

acontecer desde o primeiro ano, reservando um período final para a docência

compartilhada, sob a supervisão da escola de formação e, preferencialmente, na

condição de assistente de professores experientes.

93

CAPITULO IV

INICIAÇÃO À DOCÊNCIA NA UFMT

“(...) a partir das práticas de ensino de Química e do

subprojeto Química - Pibid, tenho boas perspectivas para seguir

a carreira docente” (Larissa Dantas).

A formação inicial de professores para educação básica, no âmbito dos cursos

de graduação ou nas pesquisas científicas, se apresenta de forma complexa em face aos

muitos desafios inerente à profissão docente. Desafios esses que se acentuam diante de

uma profissão reconhecidamente complexa e, ainda assim, com pouco reconhecimento

social e financeiro e, como consequência, os cursos de licenciaturas são os menos

atrativos aos jovens estudantes que almejam cursar uma graduação.

A educação básica brasileira tem passado por muitos problemas relacionados à

qualidade da educação pública, em especial, pela falta de professores de Química, Física

e Matemática. Poucos são os professores de Química com formação específica. Isso,

provavelmente, decorre da baixa procura e alta evasão acadêmica. A demanda de

professores habilitados nestas áreas específicas, em especial, Química e Física, para

atender a educação básica, além de preocupantes, demonstram um sinal de alerta aos

gestores da educação brasileira. É, neste contexto, que surge o Programa de Bolsas de

Iniciação à Docência - Pibid, que se inicia, quase concomitantemente, com a

reestruturação de uma nova Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível

Superior - Capes, tendo como um dos principais princípios norteadores, a valorização

do magistério.

A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Capes,

criada por Anísio Teixeira, em 11 de julho de 1951, pelo Decreto nº 29.741, com

propósito de garantir a existência de pessoal qualificado em quantidade suficiente para

suprir a demanda e necessidades dos empreendimentos públicos e privados, visando ao

desenvolvimento do Brasil, concentraram-se, durante décadas, na Educação Superior,

em especial a pós-graduação strictu-sensu, desempenhando papel fundamental na

expansão e consolidação dos programas de pós-graduação em todos os estados da

federação. Em 2007, pela lei nº 11.502, passou também a induzir e fomentar a formação

94

inicial e continuada de professores para educação básica. Dessa forma, ampliando o

alcance de suas ações na formação de pessoal qualificado no Brasil e no exterior e,

estimulando a valorização da docência em todas as modalidades de ensino.

As atividades da Capes podem ser agrupadas nas seguintes linhas de ação,

cada qual desenvolvida por um conjunto estruturado de programas:

Avaliação da pós-graduação stricto sensu;

Acesso e divulgação da produção científica;

Investimentos na formação de recursos de alto nível no país e

exterior;

Promoção da cooperação científica internacional.

Indução e fomento da formação inicial e continuada de professores

para a educação básica nos formatos presencial e a distância

(CAPES, 2013).

Essa reestruturação da Capes desencadeou uma série de propostas e ações para

melhoria da Educação Básica, orientadas, sobretudo, para formação inicial, diretrizes da

carreira, formação continuada, currículo e gestão da formação. Dentre as muitas ações

executadas, até o momento, encontra-se o estímulo aos alunos de licenciatura, que pode

ser considerada uma das mais importantes.

De acordo com Mello, et al (2012, p.13) “A valorização da licenciatura e do

discente que opta por ser professor vem sendo incentivada mediante o Programa

Institucional de Bolsas de Iniciação a Docência, que ficou conhecido popularmente pela

sigla Pibid e, muitas vezes, por ser considerado nas universidades como o Pibic das

licenciaturas”. A Diretoria de Formação de Professores da Educação Básica – DEB, da

referida Capes atua em duas linhas de ação, a saber:

Na indução a formação de professores para Educação Básica, organizando e

apoiando oferta de cursos de licenciatura presenciais especiais, por meio do

Plano Nacional de Formação de Professores para Educação Básica (Parfor);

No fomento de projetos de estudos, pesquisa e inovação, pesquisa, inovação,

desenvolvendo um conjunto articulado de programas voltados para

valorização do magistério (CAPES, 2013).

Os programas fomentados pela Capes se inserem em uma matriz educacional

que articula três vertentes: formação de qualidade; integração entre pós-graduação,

formação de professores e escola básica; e produção de conhecimento. Na base de cada

ação da DEB está o compromisso da Capes de valorizar o magistério da educação

95

básica. Nesse sentido, o Pibid tem o objetivo de fomentar a formação dos alunos de

licenciatura das instituições de educação superior.

4.1 - PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À

DOCÊNCIA

O Pibid é resultado de uma ação conjunta entre Ministério da Educação, por

intermédio da Secretaria de Educação Superior – SESu, Fundação Coordenação de

Aperfeiçoamento de Nível Superior – Capes, e do Fundo Nacional de Desenvolvimento

da Educação – FNDE, com o propósito de fomentar a iniciação à docência de estudantes

de licenciaturas presenciais, para atuar na Educação Básica pública. O Programa é uma

iniciativa que visa ao aperfeiçoamento e à valorização da formação de professores para

educação básica do nosso país.

O Programa concede bolsas a alunos de licenciatura participantes de projetos

de iniciação à docência desenvolvida por Instituições de Educação Superior (IES), em

parceria com escolas de educação básica da rede pública de ensino, tudo em torno de

um projeto institucional. De acordo com as orientações acerca do funcionamento do

Pibid, os projetos devem promover a inserção dos estudantes no contexto das escolas

públicas, desde o início da sua formação acadêmica, para que desenvolvam atividades

didático-pedagógicas, com orientação de um docente da licenciatura e de um professor

da escola. Para explicitar a relação existente entre esses sujeitos, utilizo um diagrama

exposto no Relatório Final de Gestão 2009-2011, publicado no site da Capes para

explicar a organização do Pibid. O mesmo foi produzido pela Diretoria de Educação

Básica Presencial – DEB.

96

De acordo com o Relatório de Final de Gestão, o diagrama acima exemplifica o

diálogo e a interação entre licenciandos, coordenadores e supervisores, que geram um

movimento dinâmico e virtuoso de formação recíproca e crescimento contínuo.

Os principais objetivos do programa, a saber, são:

Incentivar a formação de docentes em nível superior para a educação

básica;

Valorizar o magistério;

Elevar a qualidade da formação inicial de professores nos cursos de

licenciatura, promovendo a integração entre educação superior e

educação básica;

Inserir os licenciandos no cotidiano de escolas da rede pública de

educação, proporcionando-lhes oportunidades de criação e participação

em experiências metodológicas, tecnológicas e práticas docentes de

Escolas Públicas Instituições de

Ensino Superior

Figura 2 – Organização do PIBID

Fonte: Relatório Final de Gestão 2009-2011/DEB/Capes

97

caráter inovador e interdisciplinar que busquem a superação de

problemas identificados no processo de ensino-aprendizagem;

Incentivar escolas públicas de educação básica, mobilizando seus

professores como coformadores dos futuros docentes e tornando-as

protagonistas nos processos de formação inicial para o magistério; e

Contribuir para a articulação entre teoria e prática necessárias à formação

dos docentes, elevando a qualidade das ações acadêmicas nos cursos de

licenciatura.

O Pibid oferece bolsas para que alunos de licenciatura exerçam atividades

pedagógicas em escolas públicas de educação básica, contribuindo para a integração

entre teoria e prática, para a aproximação entre universidades e escolas e para a

melhoria de qualidade da educação brasileira. Para assegurar os resultados educacionais,

os bolsistas são orientados por coordenadores de área – docentes das licenciaturas - e

por supervisores - docentes das escolas públicas onde exercem suas atividades.

Os bolsistas são estudantes de licenciatura. Para participar como bolsista, o

aluno deve estar regularmente matriculado em curso de licenciatura que integra o

projeto da instituição de educação superior. O licenciando bolsista deve ter dedicação de

carga horária de vinte horas mensais. Vale ressaltar, que o 1º edital publicado em 2007,

só atendeu aos cursos da área de Ciências da Natureza e Matemática. Ao total, o Pibid

atende, atualmente, 24 licenciaturas na UFMT com os editais 2009 e 2011. Além dos

licenciandos participantes com bolsa, o Pibid UFMT admite em todas as categorias

Pibidianos voluntários.

Ao ser lançado, em 2007, a prioridade de atendimento do Pibid eram as áreas

de Física, Química, Biologia e Matemática para o ensino médio, dada a

carência de professores nessas disciplinas. No entanto, com os primeiros

resultados positivos, as políticas de valorização do magistério e o

crescimento da demanda, a partir de 2009, o programa passou atender a toda

a Educação Básica, incluindo educação de jovens e adultos, indígenas, campo

e quilombolas. Atualmente, a definição dos níveis a serem atendidos e a

prioridade das áreas cabem às instituições participantes, verificada a

necessidade educacional e social do local ou da região. Relatório Final de

Gestão 2009-2011/DEB/Capes, p. 29.

O Pibid/Edital 2007 conta com dois tipos de coordenadores:

98

Coordenador de área: é o professor da instituição de educação superior do

núcleo de ensino. Cada subprojeto tem apenas um coordenador de área que é

responsável pelas seguintes atividades:

a. planejamento, organização e execução das atividades de iniciação à docência

em sua área de atuação acadêmica;

b. acompanhamento, orientação e avaliação dos bolsistas estudantes de

licenciatura; e

c. articulação e diálogo com as escolas públicas nas quais os bolsistas exerçam

suas atividades.

Coordenador institucional: é o professor de instituição de educação superior

responsável, perante a Capes, por garantir e acompanhar o planejamento, a organização

e a execução das atividades de iniciação à docência, prevista no projeto de sua

instituição, zelando pela unidade e qualidade.

Professor supervisor: é o docente da escola de educação básica das redes

públicas de ensino que integram o projeto institucional, responsável por acompanhar e

supervisionar as atividades dos bolsistas de iniciação à docência, atuando como

coformador dos licenciandos-bolsistas.

A forma de atendimento e abrangência do Pibid, quanto às instituições de Ensino

Superior que ainda não trabalham com esse Programa, estão demonstradas nos editais já

lançados, conforme históricos apresentados no quadro1, a seguir:

Quadro 1 – Histórico dos editais Pibid

Editais Instituições de Educação Superior

Edital MEC/Capes/FNDE nº 01/2007 Para instituições federais de ensino

superior - IFES;

Edital Capes nº 02/2009 Para instituições federais e estaduais de

ensino superior;

Edital Capes nº 18/2010 Para instituições públicas municipais e

comunitárias, confessionais e filantrópicas

sem fins lucrativos;

Edital Conjunto nº 2/2010 Capes/Secad Para instituições que trabalham nos

programas de formação de professores

Prolind e Procampo.

Edital nº1/2011 Para instituições públicas em geral - IPES.

Fonte: Relatório Final de Gestão 2009-2011/DEB/Capes.

Disponível em: http://www.capes.gov.br

99

O crescimento alcançado, em nível nacional pelo Pibid, pode ser mensurado

numericamente, conforme quadro 02:

Quadro 02 - Todos os editais com total de bolsas aprovadas.

2007

IFES

2009

IPES

2010

Comunitárias

2010

Diversidade

2011

IPES

Total com

Edital 2007

Total sem

Edital 2007

Bolsista de Iniciação

à Docência 2.326 8.882 2.441 1.422 9.104 24.175 21.849

Coordenador Institucional 43 51 30 20 102 246 203

Coordenador de Área 216 506 135 63 752 1.672 1.456

Coordenador de Gestão 0 0 0 0 102 102 102

Supervisor 503 1167 414 277 1450 3.811 3.308

Total 3.088 10.606 3.020 1.782 11.510 30.006 26.918

Figura 3 – Número de Bolsas do Pibid por Edital

Fonte: Relatório Final de Gestão 2009-2011/DEB/Capes.

Disponível em: http://www.Capes.gov.br

3.088

10.606

3.020 1.782

11.510

26.918

30.006

2007 - IFES 2009 - IPES 2010 -Comunitárias

2010 -Diversidade

2011 - IPES Total sem2007

Total todos oseditais

Pibid - Bolsas por Edital

100

O relatório supracitado traz a construção sobre os princípios pedagógicos do

Pibid em consonância aos estudos realizados por Nóvoa (2009) 11

sobre formação e

desenvolvimento profissional de professores, a saber:

1. Formação de professores referenciada no trabalho na escola e na vivência de

casos concretos;

2. Formação de professores realizada com a combinação do conhecimento

teórico e metodológico dos professores das instituições de ensino superior e

o conhecimento prático e vivencial dos professores das escolas públicas;

3. Formação de professores atenta às múltiplas facetas do cotidiano da escola e

à investigação e à pesquisa que levam à resolução de situações e à inovação

na educação;

4. Formação de professores realizada com diálogo e trabalho coletivo,

realçando a responsabilidade social da profissão (Neves, 2012) 12

. Relatório

Final de Gestão 2009-2011/DEB/Capes, p. 30.

Com subsídio teórico apresentado neste estudo, visualiza-se que o Pibid não

trabalha apenas para o fortalecimento da articulação entre instituição de ensino superior

e escola de educação básica, mas propicia aos professores principiantes a vivência de

casos concretos de ensino-aprendizagem, e assim, os bolsistas se inserem no mundo

profissional, amparados pelos orientadores (coordenadores e supervisores). É, nesse

contexto, que se formam professores reflexivos, que entendem a importância da

inovação didática, técnicas metodológicas diferenciadas. É pelo contato com o

ambiente real de ensino que o bolsista pode definir ações que objetivem a qualidade de

ensino ofertado aos alunos da educação básica. O Pibid está indo muito além das

expectativas iniciais (MELLO, 2012). Hoje a UFMT tem alunos licenciandos que

foram acompanhados quando estudantes do Ensino Médio por bolsistas do edital 2007.

Por esse motivo, a seguir trazemos a contextualização desse importante programa na

UFMT.

11

NOVOA, A. Para uma formação de professores construída dentro da profissão. Revista Educacion.

Madrid: 2009. 12

NEVES. C.M.C. A Capes e a formação de professores para a educação básica. In Revista Brasileira

de Pós-Graduação. Suplemento 2, volume 8, março de 2012. Educação Básica: Ensino de Ciências e

Matemática e a Iniciação à Docência, p. 353-373.

101

4.2 - CONTEXTUALIZANDO O PROGRAMA PIBID NA UFMT

O Pibid publicou seu primeiro edital em 2007 e 43 instituições públicas

federais participaram desta seleção. O programa foi criado para incentivar e valorizar o

magistério, mobilizando licenciandos-bolsistas, coordenadores e supervisores. Com o

passar dos anos o programa, além de se fortificar, passou a atender um número

relativamente maior de participantes, ou seja, passou a fornecer mais bolsas, como

segue a tabela abaixo:

Tabela 1 – Quantidade de bolsas Pibid fornecidas pela Capes.

2007 2009 2010*

Bolsas para alunos

de licenciatura

2.326 11.208 13.649

Bolsas para

coordenadores

259 816 981

Bolsas para

supervisores

503 1.670 2.084

Total 3.088 13.694 16.714

Fonte: Capes/MEC

*Até outubro de 2010

A UFMT participa do Pibid desde o edital 2007, iniciando suas atividades em

dezembro de 2008, exclusivamente, com as licenciaturas da área de Ciências Naturais

(Química, Física, Biologia) e Matemática. Tendo concentrado suas atividades

inicialmente em escolas da rede pública de ensino básico, como nas cidades de Cuiabá e

Rondonópolis. Com o lançamento do Edital Pibid 2009, ampliou-se a realização do

programa estendendo sua atuação para as cidades de Barra do Garças. Já no ano de

2011, com o novo Edital Pibid, as atividades do programa se estenderam também a

Sinop. Ressaltamos que todas as cidades citadas acima fazem parte do estado de Mato

Grosso.

Até o ano de 2009, o Pibid na UFMT atendeu 138 alunos bolsistas, como se

visualiza no quadro 03.

102

Quadros 03 – Participantes do Pibid/UFMT distribuídos por campus e Editais

Licenciaturas Campus Edital Nº de

alunos

Bolsistas

Nº de

Professores

Supervisore

s

Nº de

Coordenadores

de Área

Química Cuiabá 2007 11 02 01

Física Cuiabá 2007 11 02 01

Matemática Cuiabá 2007 11 02 01

Biologia Cuiabá 2007 11 02 01

Matemática Rondonópolis 2009 06 01 01

Biologia Rondonópolis 2009 06 01 01

Sociologia Cuiabá 2009 10 02 01

Filosofia Cuiabá 2009 12 02 01

Pedagogia Cuiabá 2009 10 01 01

Letras

Português

Cuiabá 2009 10 02 01

Letras Inglês Cuiabá 2009 10 02 01

Letras

Português

Rondonópolis 2009 10 01 01

Pedagogia Rondonópolis 2009 10 01 01

Letras

Português

Barra do Garças 2009 10 01 01

14

Licenciaturas

03 campi 2007/2009 138 22 14

Nos dois últimos editais do programa e como prova de sua importância e

preocupação com a formação inicial de professores, bem como a iniciação à docência, o

Pibid também estendeu sua atuação aos cursos de licenciatura das áreas de Letras,

Filosofia, Pedagogia, Sociologia, História, Geografia. Ao todo, três escolas aderiram à

parceria com a UFMT em 2007, passando para cinco escolas em 2009 e sete escolas em

2011. Entendendo suas contribuições e os resultados satisfatórios, o número de

licenciatura beneficiada pelo programa aumentou. E, atualmente, o Pibid acontece em

24 licenciaturas da UFMT (campi de Cuiabá, Rondonópolis, Sinop e Araguaia)

envolvidas no Programa de Iniciação à Docência Pibid/UFMT/2009/2011,

representando, aproximadamente, 73% das licenciaturas da UFMT.

O Pibid tem proporcionado aos discentes (bolsistas) dos cursos de licenciatura

na área de Ciências Naturais e Matemática, a prática docente em duas escolas estaduais

no município de Cuiabá. O projeto institucional do Pibid/UFMT tem como eixos

orientadores, os Parâmetros Curriculares Nacionais, as Orientações Curriculares

Nacionais e as Diretrizes Curriculares do Estado de Mato Grosso.

A realização do Pibid no Mato Grosso tem muita relevância para o cenário

educacional, principalmente por se tratar de um Estado com grandes proporções

territoriais e um grande déficit de professores com formação acadêmica adequada para

103

trabalhar na sua área específica, sendo a UFMT a principal responsável pela formação

de professores no estado. Sobre dados relativos à demanda de formação de professores

nas redes estadual e municipal de Mato Grosso, para os anos finais do Ensino

Fundamental e Ensino Médios, pode-se afirmar segundo relatório do Programa de

Ações Articuladas – PAR, que é grande o número de professores com licenciatura, mas

atuando fora da área de habilitação.

O Projeto Institucional da UFMT - Pibid Edital 2007/Capes apresenta-se

mediante relações com a identidade da política institucional, ou seja, o Programa de

Desenvolvimento Institucional (PDI). Dessa forma, vem orientado em alguns objetivos,

tais como: ampliar a oferta e melhorar a qualidade do ensino de graduação e de pós-

graduação; fortalecer o processo de inclusão social; ampliar a articulação com a

sociedade e contribuir para o desenvolvimento regional, além de contribuir para

promover a melhoria da ambiência universitária, uma vez que disponibiliza recursos

para bolsas dos estudantes de licenciatura, ação que contribui com a permanência do

estudante na universidade.

De acordo como esta exposta no Projeto Institucional da UFMT - Pibid Edital

2007/Capes, a proposta de organização curricular do ensino médio por áreas de estudo –

indicadas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (DCNEM),

Parecer CEB/CNE nº 15/98, contempla grupos de disciplinas cujo objeto de estudo

permite promover ações interdisciplinares, abordagens complementares e

transdisciplinares e grandes avanços do pensamento educacional. Sendo assim, o

projeto institucional da UFMT precisa estar em consonância com a organização

curricular do ensino Médio, para que os resultados da atuação dos Pibidianos na escola

pública sejam o melhor possível.

Apesar de já passada uma década desde a divulgação do PCNEM, como

apresentado o projeto institucional da UFMT, ainda se têm uma visão

predominantemente disciplinar, linear e fragmentada dos conhecimentos na estrutura

das próprias disciplinas. A fragmentação dos conhecimentos e seu perfil,

predominantemente positivista, enciclopedista e desvinculado da realidade, provoca o

desinteresse do aprendiz, dificultando a compreensão dos conceitos e princípios

científicos das várias áreas do conhecimento, que se constituem na unidade do saber.

O projeto Institucional da UFMT traz que os bolsistas de Iniciação à Docência

das licenciaturas (química, física, biologia, matemática) trabalharão, em conjunto, nas

Escolas Estaduais tidas como prioritárias de acordo com a seleção da Secretaria

104

Estadual de Educação. Dessa forma, serão duas escolas do Município de Cuiabá e uma

escola do Município de Rondonópolis, possibilitando que os bolsistas trabalhem em

conjunto visando à interdisciplinaridade dos conteúdos entre os bolsistas e assim,

PCNEM seja efetivamente realizado.

Uma das metas do Pibid da UFMT, proposta no projeto institucional, é a de

promover, por meio de um trabalho interdisciplinar e transdisciplinar, ações curriculares

que proporcionem o diálogo entre professores das disciplinas da área de Ciências da

Natureza e Matemática, na construção de propostas pedagógicas que busquem a

contextualização interdisciplinar, social e cultural. Assim sendo, os subprojetos das

licenciaturas específicas terão como ponto de partida, essa dimensão interdisciplinar e

transdisciplinar, instituindo os necessários coletivos organizados, como propostos nos

PCNEM e PCN +.

As ações desenvolvidas no Pibid da UFMT são variadas, como exemplos:

definição da política de execução do Pibid/UFMT com os coordenadores dos

subprojetos, seleção dos bolsistas e professores supervisores; constituição de

grupos de apoio, nas escolas e na universidade; socialização do projeto

institucional nas escolas envolvidas; organização e execução dos Seminários

Integradores, de forma a realizar integração entre os participantes, com a pós-

graduação e com os supervisores de estágio supervisionado das licenciaturas

envolvidas, na UFMT, levantamento de pesquisas educacionais relativas às

áreas especificas em Mato Grosso; realização do diagnóstico educacional nas

escolas; organização e execução dos ciclos de debates (envolvendo inclusive

a pós-graduação), definição das ações coletivas; planificação, execução e

avaliação das ações didáticas pedagógicas; produção de material impresso

com as atividades relevantes produzidas pelos licenciandos bolsistas,

supervisores e coordenadores de subprojetos, ampliação e dinamização do

uso da internet, na integração de atividades realizadas na UFMT-ESCOLA;

publicação das atividades Do Pibid/UFMT no Portal do Professor do MEC;

dinamização do uso de vídeos educativos nas escolas, utilizando como

subsidio o que esta disponibilizada na TV ESCOLA; viabilização de viagens

de intercâmbio e/ou estudo e de pesquisas em museus e instituições, para

bolsistas, supervisores e coordenadores; criação de um mecanismo

acompanhamento e divulgação dos resultados obtidos no Pibid (indicadores).

(MELLO, et al. 2012, p. 17-18).

O Pibid da UFMT optou pelo processo de avaliação emancipatória, por meio

da realização das seguintes etapas descritas no projeto institucional: descrição da

realidade escolar; análise da realidade escolar e ações que objetivaram superar as

dificuldades e problemas detectados no ensino e aprendizagem da área de Ciências da

Natureza e Matemática dos alunos atendidos pelo programa.

A descrição da realidade escolar ocorreu por meio de um diagnóstico detalhado

do contexto educacional, parte essa que todos os integrantes (coordenador de área,

105

bolsista e supervisor), consideraram-se os resultados de trabalhos científicos já

realizados pela UFMT e SEDUC, relativos à realidade escolar mato-grossense, na área

de Ciências da Natureza e Matemática. Esses trabalhos evidenciam, além de outros

problemas, a não habilitação de um número significativo dos professores dessa área.

4.3 - CONTEXTUALIZANDO O SUBPROJETO DE QUÍMICA – PIBID/UFMT

A realização do Pibid no Mato Grosso como, já citado anteriormente, tem

muita relevância para o cenário educacional mato-grossense, principalmente pelo

grande déficit de professores com formação acadêmica adequada para trabalhar na sua

área específica, em especial com formação acadêmica na área das Ciências da Natureza

e Matemática. São muitos os aspectos que contribuem para o déficit de professores:

como baixa remuneração, condições escolares desfavoráveis, desvalorização do corpo

docente e da escola pública e pela grande responsabilidade da prática docente para com

a sociedade que, em muitas situações, pouco reconhece o papel do professor para

formação dos indivíduos.

Essas múltiplas articulações entre a prática docente e os saberes fazem dos

professores um grupo social e profissional cuja existência depende, em

grande parte, de sua capacidade de dominar, integrar e mobilizar tais saberes

enquanto condições para sua prática. [...] Nessa mesma perspectiva, também

seria de se esperar que ocorresse certo reconhecimento social positivo do

papel desempenhado pelos professores no processo de formação-produção

dos saberes sociais. (TARDIF, p. 39, 2002).

O incentivo à docência para essa área da educação e, em especial, a educação

Química, torna-se altamente relevante. Nesse contexto, o projeto Pibid/UFMT

apresenta, com alguns objetivos, incentivar e ofertar melhorias para o ensino de

graduação e educação básica, incentivar as escolas de educação pública da educação

básica, tornando-as protagonistas nos processos formativos dos estudantes de

licenciatura, mobilizando todos os atores escolares, em especial, os professores

supervisores como coformadores dos futuros professores, promover uma relação efetiva

entre universidade e escola, em proveito de uma sólida iniciação à docência e

proporcionar, ao futuro docente, participação em ações em ambiência real de ensino.

O Pibid Edital 2007 atendeu, em todo o Brasil, 216 licenciaturas, sendo

aprovado pela Capes, ao todo, 35 subprojetos de Química, atendendo 486 licenciandos

106

de Química. As instituições, bem como o número de bolsistas participantes dos

subprojetos de Química/Edital 2007, estão descritos na tabela abaixo:

Tabela 2 – Instituições e quantidade de licenciandos em Química participantes do

Subprojeto de Química - Edital 2007

Instituição Licenciandos em

Química

Instituição Licenciandos em

Química

CEFET-PA 15 UFMG 10

CEFET-PB 30 UFMS 07

CEFETQ 28 UFMT 11

FUFSE 10 UFPB 14

FURG 19 UFPE 11

UFAL 15 UFPel 18

UFAM 14 UFPI 08

UFBA 24 UFRGS 10

UFC 10 UFRJ 12

UFCG 11 UFRN 08

UFES 18 UFRPE 08

UFG 12 UFRR 07

UFLA 15 UFRRJ 15

UFSC 15 UFV 16

UFSCAR 13 UFVJM 20

UFSJ 13 UnB 13

UFSM 08 UNIR 15

UFU 13 Total-Licenciandos 486

Fonte: Capes/MEC

*Até outubro de 2010

O Subprojeto de Química foi iniciado na UFMT (campi Cuiabá) no ano de

2008, envolvendo discentes e docentes dos cursos de licenciatura plena em Química e

professores do Ensino Médio da rede pública. Composto ainda, por uma equipe de onze

bolsistas, um voluntário, dois supervisores cada, um por escola, um coordenador do

107

subprojeto, uma coordenadora institucional e pelo grupo de apoio do Laboratório de

Pesquisa e Ensino de Química - LabPEQ/UFMT.

O Subprojeto de Química do Pibid tem por finalidade o incentivo à docência

em Química. Nóvoa (1992) afirma que não há ensino de qualidade, nem reforma

educativa, nem inovação pedagógica, sem uma adequada formação de professores.

Como argumenta Zabala (1998) à melhora na atuação profissional passa pelo

conhecimento e pelo controle de variáveis que intervém no exercício da profissão.

É preciso reconhecer as deficiências científicas e a pobreza conceptual dos

programas actuais de formação de professores. E situar a nossa reflexão para

além das clivagens tradicionais (componente científica versus componente

pedagógica, disciplinas teóricas versus disciplinas metodológicas, etc.),

sugerindo novas maneiras de pensar a problemática da formação de

professores. (NÓVOA, 1992, p.23).

O processo de ensino-aprendizagem é complexo e necessita de grande aporte

teórico- metodológico para sua efetiva realização. Isso, talvez, faça da profissão

docente, uma profissão complexa em todas as dimensões. Desse contexto, muitos

estudantes de licenciaturas padecem de necessidades formativas que há muitos anos

pesquisadores vêm discutindo suas implicações no exercício da profissão, em especial,

para os professores iniciantes da área de Educação em Ciências.

A literatura específica da área de Educação nas Ciências cita as seguintes

necessidades formativas a serem contempladas nas práticas de formação de professores

de Ciências: Realizar a ruptura com o pensamento simplista sobre o ensino de Ciências;

Conhecer a matéria a ser ensinada; Saber questionar as ideias docentes de senso comum

sobre o ensino-aprendizagem das ciências; Adquirir conhecimentos teóricos sobre a

aprendizagem das Ciências; Saber analisar criticamente o ensino tradicional; Saber

preparar atividades capazes de gerar uma aprendizagem efetiva; Saber dirigir o trabalho

dos alunos; Saber avaliar; Adquirir formação necessária para associar ensino e pesquisa

didática (GIL-PÉREZ e CARVALHO, 1993).

De acordo com o projeto institucional da Universidade Federal de Mato grosso

– UFMT (UFMT, 2010, p. 5) são essas, substancialmente, as principais necessidades

que orientam os cursos de formação de professores de Ciências e o Subprojeto Química-

Pibid. Vale ressaltar que todas elas são importantes. Todavia, não se pode esquecer de

que não são suficientes aos futuros professores, à apropriação dos conhecimentos

específicos de suas áreas de atuação, às teorias educacionais e às perspectivas da

108

didática. É preciso que todas essas formas estejam inseridas num contexto de formar

para o desenvolvimento profissional, na perspectiva de um processo dinâmico e crítico

de desenvolvimento do professor.

Em face dos desafios, quanto à formação de professores capacitados a atuarem

em situações reais do ambiente de ensino público em virtude de deficiências da

estrutura curricular dos cursos de licenciatura, o Parecer CNE/CP 009/2001, apresenta:

E ainda, a ausência de um projeto institucional que focalizasse os problemas

e as especificidades das diferentes etapas e modalidades da educação básica,

estabelecendo o equilíbrio entre o domínio dos conteúdos curriculares e a sua

adequação à situação pedagógica, continua sendo questões a serem

enfrentadas (2001, p.17).

Nesse sentido, para incentivar e auxiliar a formação dos futuros professores de

Química da educação básica, o subprojeto Química-Pibid realizou atividades tais como:

Ciclo de Estudos – Apresentação de seminários com temas relacionados

à Educação, Formação de Professores e Ensino de Ciências/Química;

Realização de Pesquisas na área de ensino de Ciências/Química;

Participação em eventos (encontros, seminários, congressos entre outros)

relacionada ao ensino de Ciências/Química;

Acompanhamento dos bolsistas nas unidades escolares conveniada com

a UFMT para o processo de Estágios tais como: Observação, Monitoria e

Regência;

Participação dos bolsistas na Semana de Minicursos das Práticas de

Ensino de Química da UFMT;

Participação dos bolsistas na semana pedagógica das unidades escolares

bem como no planejamento anual da disciplina de Química;

Participação dos bolsistas no projeto “Sala do Educador” momento em

que os docentes das unidades escolares passam por “Formação

Continuada”;

Participação dos bolsistas da Química em atividades interdisciplinar com

outros bolsistas Pibid dos subprojetos de Biologia, Física e Matemática.

(UFMT, 2010, p. 6).

O subprojeto Química-Pibid foi desenvolvido nas Escolas Estaduais por meio

de parceria estabelecida entre Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso

(SEDUC/MT) e UFMT, ambas localizadas no município de Cuiabá. Sendo a Escola

Estadual Dona Maria de Arruda Muller – Liceu Cuiabano, e a Escola Estadual André

Avelino Ribeiro. O Subprojeto foi implantado na UFMT (campus Cuiabá) envolvendo

discentes e docentes dos cursos de licenciatura plena em Química e professores do

Ensino Médio da rede pública, sendo composto por uma equipe de onze bolsistas, um

voluntário, dois supervisores, um por escola, um coordenador de área, uma

109

coordenadora institucional e pelo grupo de apoio do Laboratório de Pesquisa e Ensino

de Química - LabPEQ/UFMT.

O subprojeto Química-Pibid realizado pelo Laboratório de Pesquisa e Ensino

de Química – LabPEQ está calcado nas diretrizes do Projeto Pibid/UFMT e o mesmo

está alicerçado num processo de avaliação emancipatória, interdisciplinar e

transdisciplinar, por meios de trabalhos e ações que estimulem a construção de

propostas pedagógicas através de ações curriculares que incentivem a contextualização

interdisciplinar, social e cultural, como proposto no PCNEM13

·, PCN+14

e OCNs15

(UFMT, 2010, p.7).

A Orientação Curricular Nacional (2008) enfatiza a importância de

proporcionar o ensino de Química aos estudantes da educação básica, de forma

contextualizada e interdisciplinar, com abordagem de situações reais do cotidiano do

aluno, por meio da teoria articulada à experimentação. Para que ocorra a construção do

conhecimento de forma efetiva.

A proposta apresentada para o ensino de Química nos PCNEM se contrapõe à

velha ênfase na memorização de informações, nomes, formulas e

conhecimentos como fragmentos desligados da realidade dos alunos. Ao

contrario disso, pretende que o aluno reconheça a e compreenda, de forma

integrada e significativa, as transformações químicas que ocorrem nos

processos naturais e tecnológicos em diferentes contextos, encontrados na

atmosfera, hidrosfera litosfera e biosfera, e suas relações com os sistemas

produtivos industriais e agrícolas. [...] Para isso é necessária à articulação na

condição de propostas pedagógicas nas quais situações reais tenham papel

essencial na interação com os alunos (sua vivencias, saberes, concepções),

sendo o conhecimento, entre os sujeitos envolvidos, meio ou ferramenta

metodológica capaz de dinamizar os processos de construção e negociação de

significados (UFMT, 2010, p. 9).

No relatório final do subprojeto Pibid/Química – Edital 01-2007/Capes, está

descrita uma importante discussão sobre a articulação do Subprojeto Química-Pibid,

com a Orientação Curricular Nacional e a Avaliação Emancipatória. Com a intenção de

acompanhar as OCNs e realizar a Avaliação Emancipatória das escolas parceira, o

subprojeto orientou os licenciandos bolsistas que,

[...] a dinâmica da vida do professor na escola pode e precisa

voltar-se mais para o favorecimento da (re) organização da prática curricular,

13

Parâmetro Curricular Nacional do Ensino Médio 14

Parâmetro Curricular Nacional + 15

Orientação Curricular Nacional

110

da (re) construção do processo ensino-aprendizagem, das decisões do que

ensinar, de como ensinar, de como avaliar o significativamente o aprendido,

da consolidação de espaços efetivamente transformados da dinâmica social,

por meio da instrumentalização intelecto-cultural dos cidadãos

potencialmente ocupantes de posições decisivas no cenário coletivo da

sociedade. (UFMT, 2010, p.10).

No subprojeto de Química a atuação no ambiente real de ensino foi e está

sendo realizada mediante diagnóstico do contexto escolar, por meio da inserção dos

bolsistas e observação do dia a dia escolar público. Os bolsistas durante toda a

execução, planejamento de atividades de ensino, elaboração de materiais didáticos,

tiveram o apoio dos integrantes do grupo LabPEQ, dos professores supervisores e

coordenadores. Outro fator de grande relevância para o subprojeto foi às atividades

experimentais desenvolvidas pelos bolsistas na perspectiva de levar aos alunos da

educação básica os conhecimentos químicos contextualizados, com base nos fenômenos

diários.

De acordo com o coordenador de área, e exposto no subprojeto, a definição dos

conteúdos de Química a serem trabalhados é um dos temas principais na capacitação

dos bolsistas e dos professores supervisores (o que devemos ensinar de Química? Por

quê? Como? E para quê?). E como já destacado, os conteúdos só foram definidos após o

diagnóstico do contexto escolar, da leitura do Projeto Pedagógico da escola e do estudo

das Orientações Curriculares Nacionais.

111

CAPITULO V

DESCRIÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS

O Pibid definiu minha escolha profissional. Eu descobri

o que é licenciar, o que é ser professor. (Ex-bolsista do Pibid)

Neste capitulo, desenhamos o perfil social e econômico dos sujeitos da pesquisa.

Com os dados descritos, buscamos identificar e interpretar, na perspectiva dos sujeitos

investigados, as contribuições do Pibid para formação inicial e iniciação à docência,

baseado em um estudo de caso considerando cada instrumento de coleta de dados e

análise que configuram cada vértice da triangulação de dados.

5 - DESCRIÇÃO E ANÁLISE DE DADOS

5.1 – CARACTERIZAÇÃO DO PERFIL DOS SUJEITOS DA PESQUISA: Os Ex-

bolsistas, as Supervisoras e o Coordenador

5.1.1 – Os ex-bolsistas

De acordo com a análise do relatório final do Subprojeto de Química,

constatamos que o subprojeto ofertou onze bolsas. Porém, identificamos que houve troca

de bolsistas, consequentemente, a carga horária de participação no Projeto não foi à

mesma para todos. A substituição de bolsistas ocorreu por motivos como conclusão do

curso antes do término do Pibid/UFMT edital 2007. Ao todo, vinte licenciandos do curso

de Química participaram do subprojeto na modalidade bolsista e um na modalidade

voluntário. Dentre os bolsistas, quatro são do sexo masculino e dezesseis do sexo

feminino, logo há expressiva presença de mulheres. O único pibidiano16

voluntário do

16

Na análise de dados vamos tratar os licenciandos bolsistas do PIBID, inicialmente como pibidianos,

somente os que responderam ao questionário serão denominados de Bolsista - 1, Bolsista - 2 e assim

sucessivamente.

112

Subprojeto é do sexo masculino. No quadro 4, está exposta carga horária em ordem

decrescente de participação dos Pibidianos bolsistas no subprojeto.

Quadro 4 – Carga horária de participação dos bolsistas no subprojeto de

Química do Pibid/UFMT – Edital 2007.

Bolsistas que participaram do subprojeto

de Química Pibid/UFMT – Edital 2007

Carga Horária de participação

Pibidiana 1 1840 Horas

Pibidiana 2 1840 Horas

Pibidiana 3 1840 Horas

Pibidiana 4 960 Horas

Pibidiano 5 960 Horas

Pibidiana 6 720 Horas

Pibidiana 7 400 Horas

Pibidiano 8 320 Horas

Pibidiano 9 320 Horas

Pibidiana 10 320 Horas

Pibidiana 11 320 Horas

Pibidiana 12 320 Horas

Pibidiana 13 300 Horas

Pibidiana 14 280 Horas

Pibidiana 15 260 Horas

Pibidiana 16 260 Horas

Pibidiana 17 260 Horas

Pibidiana 18 260 Horas

Pibidiano 19 120 Horas

Pibidiana 20 80 Horas

O primeiro critério utilizado para escolha dos sujeitos foi à carga horária de

participação, o segundo, estar residindo em Cuiabá ou cidades vizinhas e finalmente, o

bolsista aceitar participar da presente pesquisa. Dos 20 bolsistas conseguimos aplicar o

questionário com onze pibidianos. No momento da entrevista dos onze bolsistas apenas

oito ainda estavam residindo em Cuiabá. Portanto, analisamos onze questionários e oito

entrevistas.

Os onze ex-bolsistas responderam um questionário 01 (Apêndice A). Esse

questionário possuía 20 questões constituídas de questões fechadas e abertas, divididas

em dois blocos, tais quais: Bloco A – Caracterização socioeconômica; Bloco B –

Formação Acadêmica. Dentre as questões abertas, constituintes do bloco B, destacamos

113

as questões que dão ênfase as principais dificuldades encontradas no curso de

Licenciatura em Química e, o que o ex-bolsista considera como essencial para executar

a função docente. Dos 11 ex-bolsistas que responderam ao questionário, 03 são do sexo

masculino e 08 do sexo feminino, percebemos a predominância do sexo feminino

presente no primeiro subprojeto de Química. A idade dos ex-bolsistas esta exposta na

figura 4, grande parte com demonstrado na figura 04 são jovens de 25 anos.

Figura 04

Apresentamos a atividade profissional e ou acadêmica que o ex-bolsista está

realizando na figura 05. A maioria (28 %) está atuando como professor da educação

básica, o que é um dos objetivos propostos pelo programa, que os bolsistas depois de

formados permaneçam na docência, em especial no Ensino Médio.

9% 9%

28%

18%

18%

9% 9%

Idade dos Ex-bolsistas

21 anos 24 anos 25 anos 27 anos 28 anos 32 anos 34 anos

114

Figura 05.

No Bloco B, inicialmente, os ex-bolsistas foram questionados em relação à

escola que cursou o ensino médio, esses dados estão expostos na figura 06. Como já

constatado em pesquisa anterior a grande maioria, neste caso (55%) dos estudantes que

cursam licenciaturas, são estudantes egressos do sistema de ensino público, esse fator se

atrelado as dificuldades que os licenciandos têm com as disciplinas da área de exatas no

início do curso, o que para alguns é o motivo da evasão, pode ser melhor explorado em

pesquisas posteriores.

Figura 06.

28%

9% 18% 9%

9%

9%

9% 9%

Atividade Profissional ou acadêmica

Professor da Educação Básica

Mestrando em Química Analítica pela Universidade Estadual Paulista (UNESP)

Terminando o curso de Licenciatura em Química

Coordenadora de Área ( Ciências da Natureza e Matemática) do CEJA-LícinioMonteiroda Silva

Mestrado em Recursos Hídricos - PPGRH

55%

18%

18% 9%

Escola que cursou o Ensino Médio

Todo em escola pública Todo em escola particular

Maior parte em escola pública Maior parte em escola particular

115

Para compreendermos a motivação que levou o licenciando a optar por cursar a

graduação de Licenciatura em Química e assim traçarmos o perfil do estudante que

ingressa ao curso, fizemos a seguinte pergunta no Bloco II: Qual (ais) o(s) motivo(s) o

levou (aram) a escolher o curso de Licenciatura em Química? As respostas estão

expostas na figura 07.

Figura 07.

Com essas informações, expostas na figura 07, percebemos que a porcentagem

de alunos que fazem o curso de licencitura em Química pela aptidão à docência é a

mesma que a dos alunos que optam pelo curso nos moldes da licenciatura por saber que

após o término do mesmo poderão cursar na modalidade bacharel, em menos tempo. A

análise dos dados evidenciam baixa atratividade pelo magistério. Acreditamos que

atividades articuladas a prática pedagógica desde o início do curso poderia ser mais

estimulantes e dessa forma contribuir para que estes estudantes permaneçam na carreira

docente.

Também, procuramos entender quais foram às principais dificuldades que o

licenciando enfrentou no decorrer do curso, para compreender se o Pibid auxiliou os

estudantes na superação de algumas dificuldades apresentadas.

26%

22% 26%

13%

0% 5% 4% 4%

Motivo pela escolha do curso

Aptidão pela docência

Baixa concorrência

Possibilidade de Cursar o Bacharelado em menos tempo

Boas oportunidades no mercado de trabalho

falta de conhecimento do curso na hora da escolha para o vestibular

Incentivo dos professores do Ensino Médio

Incentivo de familiares que atuam na área

Por ter feito o curso Técnico em Química no antigo CEFET, hoje, IFMT.

116

Figura 08

Os resultados nos mostram que os licenciandos não apresentaram problemas

relacionados às disciplinas pedagógicas, em compensação, 21% apresentaram

dificuldades no entendimento dos conteúdos específicos do curso por falta de

contextualização. A falta de base em relação aos conhecimentos matemáticos e químicos

foi evidenciada em 20% dos licenciandos. Entre os estudantes, 15% apresentaram

dificuldades pela dicotomia existente entre teoria e pratica. 18% apresentaram

dificuldades por falta de incentivo dos professores formadores. Os ex-bolsistas também

levantaram problemas financeiros, horário do curso e falta de estágios supervisionados

como pontos dificultosos para permanência no curso.

Os obstáculos relacionados ao entendimento dos conteúdos específicos do curso,

por falta de contextualização, foi um dos pontos norteadores para construção das metas

do PIBID na UFMT. Uma das propostas descritas no projeto institucional é a de

promover, por meio de um trabalho interdisciplinar e transdisciplinar, ações curriculares

20%

0%

21%

15%

8%

18%

8% 10%

Dificuldades encontradas no curso

Falta de base em conhecimentos matemáticos e químicos do ensino médio

Dificuldades nas matérias pedagógicas para formação de professor

Falta de entendimento nas disciplinas de química devido à falta de contextualização

Falta de relação da práxis pedagógica, ou seja, relação da teoria com a prática

Falta de estágios na área

Falta de incentivo dos professores formadores do curso

Problemas Financeiros

Horário do curso – Vespertino e Noturno

117

que proporcionem o diálogo entre professores das disciplinas da área de Ciências da

Natureza e Matemática, na construção de propostas pedagógicas que busquem a

contextualização interdisciplinar, social e cultural. Assim sendo, os subprojetos das

licenciaturas específicas terão como ponto de partida essa dimensão interdisciplinar e

transdisciplinar, instituindo os necessários coletivos organizados, como propostos nos

PCNEM e PCN +. Sobre os conteúdos específicos da licenciatura em Química o

subprojeto de Química, por meio de atividades realizadas em grupos e ciclos de estudos,

abordam a construção desses conceitos, utilizando autores (por exemplo, Attico

Chassot), nos estudos que abordam a contextualização conceitual da Química.

Em relação à dicotomia existente entre teoria e prática apresentada como

dificuldade pelos bolsistas. Podemos analisar com aporte em Brezezinski (2008) que

existe sim um distanciamento nos cursos de licenciatura que se caracterizam como

necessidades formativas, e que impactam na carreira profissional docente. Recordando

uma citação já feita anteriormente nesse estudo por (BREZEZINSKI, 2008, p. 1144),

“teoria e prática, saber e ação necessitam articular-se no processo de formação, assim

como no trabalho docente as concepções de sociedade, homem, educação, o

conhecimento específico e as habilidades operativas, técnicas e tecnológicas não se

separam”.

A formação de professores deveria ser baseada na articulação teoria e prática,

com especial dedicação às experiências em ambiente real de ensino. Nesse momento

podemos sugerir que esta é uma contribuição do Subprojeto de Química, pois desde o

início o bolsista esta inserido no contexto da escola pública, desenvolvendo atividades de

ensino, pesquisa, aulas práticas, monitorias, minicursos. Os bolsistas participam da sala

do educador, onde discutem com os pares as dificuldades do contexto escolar, situações

reais de ensino, e essa discussão ocorre com todos os setores, já que, a sala do educador

é composta por todos os funcionários da escola. Isso dá uma visão ampla do contexto

educacional ao bolsista.

As experiências reais de ensino contribuem para construção da identidade

docente e saberes específicos, como Tardif (2002) afirma, são os saberes experienciais

provenientes da atuação do professor em sala de aula. Logo, os estudos recentes do

campo educacional têm realçado o valor da prática pedagógica. Sendo assim, com

análise da dimensão prática, ou seja, das falas dos sujeitos, percebemos que a prática

pedagógica do bolsista é uma das contribuições proporcionadas pelo subprojeto de

Química, podemos articular esse resultado com a dimensão documental, já que um dos

118

objetivos do programa é justamente proporcionar ao licenciando ações educacionais no

ambiente escolar.

Para desenharmos o perfil do egresso, principalmente em relação a sua atuação

prática após ter participado de um programa de iniciação à docência, questionamos os

ex-bolsistas que ainda não tinham concluído o curso, quanto às pretensões após a

conclusão. A pergunta realizada foi à seguinte, “Se você ainda esta cursando

Licenciatura em Química, o que pretende fazer após a conclusão do curso?”

Pretendo licenciar em escolas públicas de ensino médio e, também,

fundamental. Pretendo seguir o mestrado em alguma área da ciência

Química, ou na área da Educação que, também, muito me chama a atenção.

Muito de fato! Pretendo, também, para que possa aumentar o meu “leque” de

estudos, ter o bacharelado em Química, dando continuidade em algumas

disciplinas do bacharelado, que não possuem na Licenciatura e não cessar de

estudar. Sempre, até onde puder ir. Ex-bolsista nº1.

Primeiro ser dedicado ao que faço. Portanto, estar atualizado e me atualizar

constantemente. Segundo, saber que ele não é o detentor de todo

conhecimento. O professor atua na construção de conhecimento, por isso

precisa ver nos seus alunos potenciais e capacidades infinitas. Ex-bolsista 11.

A ex-bolsista 11 também demonstra preocupação em continuar estudando, em

buscar qualificação. Podemos sugerir que essa preocupação em se atualizar decorre da

participação ativa dos bolsistas no ambiente escolar, pois durante as atividades

propostas em sala de aula fica claro que o docente não é o detentor de todo

conhecimento, como bem exposto em sua fala, quando a mesma enfatiza que o

professor atua na construção de conhecimento, por isso precisa ver nos seus estudantes

potenciais e capacidades infinitas. Diante de algumas situações escolares os bolsistas

percebem a necessidade constante de buscar atualização conceitual e metodológica.

Continuando com as resposta à pergunta sobre o que se pretende fazer após conclusão

do curso,

Dar aula para o Ensino Médio. Ex-bolsista nº2.

Mestrado, no início pretendia fazer na área da Educação, mas neste

momento, estou em dúvida. Ex-bolsista nº3.

Ainda estou um pouco desorientado, pois o último concurso efetivou muita

gente e os mesmo assumindo salas de aulas sobram muitas poucas aulas. Não

119

temos segurança em desenvolver um bom trabalho, pois podemos estar em

meio a um trabalho e de repente termos que deixar a sala por motivo de

professores atribuírem as aulas com as que sobraram para completar às 20

h/semana. Porém, pretendo continuar dando aula na escolinha atualmente

trabalho. Mesmo que seja somente 01 aula por semana. Se surgir alguma

possibilidade profissional na indústria, dependendo da relação (hora de

trabalho versus lucro), pode ser que agarre essa oportunidade, já que sou

técnico em Química. Ex-bolsista 09.

Uma das premissas do Pibid é proporcionar a valorização dos cursos de

licenciatura, dentro da estrutura universitária que até o ano de 2007 possuía o Pibic

como principal projeto de iniciação. Dentre as várias ações que a Capes vem

desenvolvendo nas universidades com atenção voltada aos cursos de licenciatura temos

o Pibid e, na UFMT, também, o Programa Tutoria. Dessa forma, tem aumentando a

convivência dos graduandos com o cotidiano do exercício da função docente, em

condições estimulantes, criativas e diversificadas. Contudo na fala do ex-bolsista nº 09

percebemos um desconforto em relação aos aspectos das políticas estaduais de

contratação docente.

Para subsidiar a discussão das respostas mencionadas acima, sobre o que os ex-

bolsistas que ainda não concluíram o curso pretendem fazer ao término do mesmo,

precisamos recordar que um dos objetivos do Pibid seria o de estimular a permanência

na docência como carreira profissional desses jovens licenciandos, contribuindo, assim,

para ajustar essas ofertas às demandas das nossas redes públicas, minimizando a

carência de professores da educação básica. Após análise dos dados percebemos que há

uma nova perspectiva em relação a seguir a careira docente. Isso está latente na fala da

ex-bolsista 02.

O Pibid definiu minha escolha profissional. Por que quando eu vim pra cá, é

aquela velha história... eu vim pra fazer bacharel e trabalhar na indústria. E,

eu descobri através do Pibid, que eu gosto de dar aulas. Eu não tenho o sonho

de fazer mestrado, de ficar aqui na universidade, eu quero mesmo é ir para as

periferias, para as escolas públicas, que tem necessidade de pessoas que

olham para os alunos e enxergam seu potencial. Porque a realidade que eu

vejo dos alunos no Nadir de Oliveira é totalmente diferente dessa realidade

da universidade. E eu tenho prazer de estar com eles lá. São histórias

incríveis, que me ajudam a crescer como ser humano. Me ajudam a querer

ensinar eles. Faz com que eu cresça e eles cresçam também. Ex-bolsista nº2.

Na fala da ex-bolsista nº2 podemos perceber que o objetivo do Programa em

incentivar os licenciandos a optarem pela carreira docente, em escolas públicas da

educação básica, bem como proporcionar a inserção desses licenciandos, de forma

longitudinal no cotidiano de escolas da rede pública de educação, tem apresentado bons

120

resultados. As atividades proposta no subprojeto de Química, tais como o uso de

metodologias de ensino diferenciadas e práticas docentes pedagogicamente criativas e

inovadoras são possíveis, independente da realidade financeira ou geográfica da escola.

Percebemos aspectos sociais e interpessoais importantes na fala de ex-bolsista,

possivelmente resultado de um período prolongado na escola parceira do Pibid na

UFMT.

A ex-bolsista nº 02 demonstra verdadeira preocupação em relação à forma como

os estudantes das escolas públicas necessitam de atenção, ela aborda as potencialidades

de seus educandos. Sem dúvida podemos fazer algumas considerações quanto à

intencionalidade da ex-bolsista e proporcionar aos seus estudantes ações que o mesmo

evidencie seu potencial, a ex-bolsista demonstra respeito em relação à escola que

desempenha atividades como funcionária técnica de laboratório, pois a mesma tem a

formação nível técnico. Em conseqüência dessas atividades demonstra sua função social

em relação a esta comunidade. A escola mencionada pela licencianda está localizada em

um bairro periférico do município de Várzea Grande.

Se compararmos com as pesquisas realizadas por Dantas (2010) o número de

egressos que querem seguir a docência é maior, contudo, ainda assim esbarra em

algumas questões financeiras inerentes ao poder público, como o caso que o Ex-bolsista

nº9 apresenta.

Com intenção de desenharmos o perfil do docente principiante quanto a sua

percepção do que o mesmo considera essencial para ser professor de Química, fizemos a

seguinte pergunta: em sua formação o que você considera essencial para ser professor

de Química? Na análise dos dados buscamos identificar algumas possíveis

contribuições do Pibid em especial em relação à identidade profissional, já que o ex-

bolsista participou de muitas atividades em ambiência real de ensino. Segue abaixo

algumas respostas,

Creio que seja fundamental ter educação, buscar a essência de inspirar os

alunos, tendo e possuindo em si, de maneira construtiva, o ser, o cidadão que

ama e que procura sem dúvidas alguma a transformação dos alunos e tentar,

ao máximo, lutar para que os mesmos descubram a própria vontade de se

fantasiar em ‘viagens’ para conhecê-lo. Ex-bolsista nº1. (grifo nosso)

Ter prazer em ensinar e saber que sempre estará aprendendo, porque

professores formam cidadãos que irão exercer direitos, executar deveres e

principalmente gerar alunos com senso crítico das questões políticas, sociais,

religiosas, entre outros contextos. Ex-bolsista nº2.

121

É ter consciência que o conhecimento químico se enquadra nas preocupações

com os problemas sociais que afetam o cidadão, os quais impõem

posicionamentos quanto às possíveis soluções, e ainda precisa estar atento às

necessidades reais de seus alunos e de seu papel na formação de indivíduos

capazes de contribuir com suas comunidades. Ex-bolsista nº6.

“Ter um salário digno”. Ex-bolsista nº8.

Percebemos que os ex-bolsistas mencionam a relação de amor e prazer à

profissão, em seguida abordam a questão do domínio de conteúdo, dedicação ao

trabalho, reflexão crítica e também se menciona a questão financeira.

O ex-bolsista nº6 demonstra preocupação com os problemas sociais que afetam

o cidadão, o mesmo faz o relato que as questões sociais precisam de um posicionamento

do individuo que vive em sociedade e que este seja capaz de pensar criticamente em

soluções, e dessa forma, pensando nesse indivíduo crítico, dinâmico e responsável, que

o docente tem papel fundamental. Este mesmo sujeito menciona que o docente deve

estar atento às necessidades reais de seus alunos e do seu papel na formação de

indivíduos capazes de contribuir com sua comunidade. Essa percepção pode ser reflexo

das atividades desenvolvidas no Subprojeto de Química, pois dentre os objetivos

descritos no mesmo, bem como as atividades realizadas e descritas no relatório final de

atividades do subprojeto de Química, tem as atividades relacionadas com essa temática

‘preocupação social e como o conhecimento Químico esta envolvido’.

Dentre as atividades realizadas no subprojeto, os bolsistas utilizavam temas

geradores ambientais com as turmas de ensino médio. Essas atividades culminaram em

uma semana integradora com todas as áreas. Nessa semana, os estudantes do ensino

médio assistidos pelo Programa, tiveram palestras, minicursos e ciclo de debates como

consta em relatório final. Apresentavam enfoque nas concepções de Ciência,

Tecnologia, Sociedade e Ambiente – CTSA, com abordagem dialógica e

problematizadora. Acreditamos que eventos e atividades com utilização de temas

geradores, por meio da contextualização dos conteúdos da Química, constituem um

importante processo que permite a conscientização, bem como apropriação dos

conhecimentos científicos. Dessa forma, os estudantes do ensino médio podem

interpretar de forma crítica a realidade em que estão inseridos, articulando o

122

conhecimento químico às questões sociais, ambientais, econômicas e políticas da sua

sociedade.

Sobre o domínio curricular Garcia (2010) faz a reflexão que as competências e

capacidades do profissional dedicado a educação, em especial sobre a capacidade desse

profissional em refletir as situações profissionais diárias, bem como o desenvolvimento

e capacidades para atuar sobre os verdadeiros objetivos da profissão, sobre os processos

escolares, os conteúdos específicos, variam de acordo com a fase da profissionalização

docente que a mesmo esta. Nesse sentido, na etapa inicial os principiantes são

motivados por um principio idealista de deixar uma marca em seus educandos que em

especial será recordada no decorrer de sua vida, e que isso dependerá da sua didática,

metodologia, em fim, do tato pedagógico, do seu conhecimento sobre as complexas e

multifacetadas situações do ambiente escolar, tal concepção está expresso na fala da Ex-

bolsista 10,

Além das competências e habilidades inerentes a Ciência Química, tais como

domínio da disciplina, boa didática, formação continuada, dentre outros, ter

em mente que a docência é uma ação educativa que se constitui no processo

de mediação do ensino-aprendizagem, onde a pesquisa, planejamento,

reflexão critica são necessidades constantes da prática de ensinar. Ex-bolsista

10.

Além do domínio de conteúdo, Garcia (2010), argumenta que os licenciandos na fase de

estágio se preocupam com a forma que deverão abordar questões emocionais,

definindo-a como inteligência emocional docente.

Domínio do conteúdo e principalmente muita paciência para lidar com os

alunos do Ensino Médio. Ex-bolsista nº3.

Ter uma boa base em relação à disciplina na qual vou atuar quando formada,

e tiver amor pela profissão que escolheu. Ex-bolsista nº4.

Primeiramente, o educador tem que gostar do que faz, em seguida a

necessidade de ter a preocupação que formará indivíduos para a nossa

sociedade. Estes indivíduos que decidiram o futuro da humanidade nos

aspectos ambientais, políticos, educacionais e sociais, entre outros. Ex-

bolsista nº5.

A ex-bolsista nº5 nos mostra uma postura docente que vai além da sala de aula,

pois a mesma demonstra em sua fala se preocupar com a educação que está ofertando

aos seus estudantes, visualizando o aluno do ensino médio inserido na sociedade, da

qual tomam decisões que podem influenciar positivamente ou negativamente no futuro

123

profissional e pessoal. Este depoimento demonstra atenção aos aspectos sociais da

função do educador na vida dos jovens e defende que esses alunos precisam de aporte

teórico para tomar decisões nos aspectos ambientais e políticos. Pensando nessa

perspectiva, buscamos compreender em que aspectos o PIBID tem contribuído na

formação inicial dos licenciandos e, diante dos desafios postos para educação na

sociedade atual, a preocupação apresentada pela bolsista evidencia uma mobilização

pessoal da mesma para com a sociedade civil.

A fala da ex-bolsista nº5 nos remete a pensar nos nossos educandos, como seres

sociais e políticos, que convive com outros indivíduos, tem uma vida pública e que a

escola não tem simplesmente a função de oferta formação intelectual. Os educandos na

atual sociedade, diante dos constantes desafios sociais e tecnológicos precisam de

conhecimentos que os ajudam na construção de novas relações sociais, e de um

convívio que contribua para uma sociedade mais justa e solidária. E, nesse aspecto,

devemos repensar as práticas educacionais em termos de ética e cidadania. Um exemplo

prático disso é o fato de que o professor de química, indiretamente ou até diretamente,

pode, sim, abordar em suas aulas o Estatuto da Criança e do Adolescente. Dentre alguns

objetivos propostos no Subprojeto de Química supracitado neste estudo evidenciamos a

preocupação em se trabalhar com ética e cidadania na prática educacional,

principalmente quando utiliza como referencial adotado os Parâmetros Curriculares

Nacionais. Acreditamos que os PCN é um instrumento que pode auxiliar os futuros

docentes em muitos aspectos educacionais inerentes ao fazer diário de uma educação

ética e cidadã.

O Parecer CNE/CP 009/2001 destaca que os desafios enfrentados pela educação,

têm motivado a mobilização da sociedade civil, para realização de estudos e pesquisas

que visam à implementação de ações docentes para melhoria da educação básica.

Consta no referido parecer que o preparo inadequado dos professores cuja formação de

modo geral manteve predominantemente um formato tradicional, não contempla muito

das características consideradas, na atualidade, como inerentes à atividade docente,

entre as quais destacamos: a capacidade docente de orientar e mediar o ensino para

aprendizagem dos alunos; comprometimento com o aprendizado dos educandos; saber

lidar com a diversidade dos estudantes; incentivar atividades que agregam valor cultural

a vida desses jovens. Desenvolver práticas investigativas, desde sua prática pedagógica

ao aprendizado de seus educandos.

124

Na revisão bibliográfica sobre pesquisas acerca da iniciação à docência, um dos

problemas expressos se refere às falhas que os professores principiantes apresentam

sobre o conhecimento do conteúdo que faz refletir nos demais conhecimentos

necessários à prática profissional. As pesquisas também trazem uma importante

discussão referente à falta de conhecimento sobre a prática docente em ambiente real de

ensino. Percebemos que esse é um dos principais motivos apresentados para explicar as

dificuldades iniciais que os principiantes enfrentam e que resultam na dificuldade de

integrar os conhecimentos específicos com os pedagógicos. E, com análise dos dados

averiguamos em alguns ex-bolsistas a preocupação desses, com o domínio pedagógico e

curricular. Neste sentido, este aspecto se apresenta como contribuição efetiva do PIBID,

pois é nesse momento de preocupação que o licenciando reforça a necessidade de fazer

planejamento de aulas diferenciadas, dinâmicas e contextualizadas, como bem descreve

Dedicação, para desenvolver um trabalho diferenciado. Ex-bolsista nº7.

Boa relação com os alunos e funcionários, paixão pela licenciatura, prazer no

que faz. Da parte pedagógica penso que o professor atual deve, também, ter a

sensibilidade de poder fazer a relação teoria versus prática, bem como a

contextualização de todo o conteúdo a ser abordado. Ex-bolsista nº9.

Como bem menciona Villani e Pacca (1997), o conhecimento do conteúdo

específico da disciplina sempre foi considerado um requisito fundamental do professor

de Ciências. Mesmo que o texto desses autores tenha sido escrito em 1997, após 16 anos

essa forma de pensar a educação científica tem sido constantemente discutida por

estudiosos da temática. Para Villani e Pacca (1997) a imagem de um ensino

tradicionalista que tem como base a ‘transmissão de conhecimentos’ estava relacionada

à qualidade da aprendizagem dos estudantes e pela fala da ex-bolsista nº9 percebemos

que o pensamento com o ensinar não está ligado apenas ao domínio conceitual.

A ex-bolsista nº9 destaca vários princípios importantes na relação pedagógica

tais como, bom relacionamento entre os pares e com os educandos e paixão pela

docência. Destaca que a parte pedagógica se dá principalmente pela sensibilização

docente em relação à teoria e a prática, que perpassa pela contextualização dos

conteúdos, bem como interpretação didática dos conceitos científicos. Este depoimento

demonstra que a ex-pibidiana entende que quando ensinamos não precisamos apenas do

domínio do conteúdo, aspectos fundamentais perpassam a arte de como ensinar.

125

5.1.2 - A Supervisoras

As duas supervisoras do subprojeto Química/Pibid UFMT responderam a um

questionário 02 (Apêndice B). Esse questionário possuía 18 questões, divididas em três

blocos, a saber: Bloco I – Característica socioeconômica; Bloco II – Formação

acadêmica; e Bloco III – Profissão Docente. Para garantirmos o anonimato, as

professoras supervisores, serão mencionadas nesta pesquisa como: Supervisora nº1 e

Supervisora nº2.

A Supervisão do subprojeto Química/Pibid UFMT edital 2007 na EE Liceu

Cuiabano estava17

com a supervisora nº1. Com análise do Bloco I e Bloco II,

identificamos que a supervisora nº1, tem 32 anos, realizou sua graduação em

licenciatura em Química na UFMT, concluindo no ano de 2002 e possui especialização

em Educação em Ciências Naturais para o Ensino Fundamental. É professora do quadro

efetiva do sistema público de ensino do Estado de Mato Grosso, seu regime de trabalho

é de 30 horas, trabalha 6 horas por dia, ministrando a disciplina de Química para o

ensino médio. E, semanalmente, dedica 10 horas ao Pibid. Tem experiência na área de

Química, com ênfase em Química para o Ensino Médio.

Em relação ao Bloco III, identificamos que a professora atua como docente há

12 anos, ingressando na carreira como docente da rede pública de ensino no ano de

2003. Sobre a motivação que levou a supervisora nº1 atuar no subprojeto de Química

Pibid/UFMT, a mesma afirma que foi pela “oportunidade de aprender mais, rever

conhecimentos em educação e ajudar novos professores a se formar”. Percebemos em

sua fala a preocupação em atuar como coformadora dos bolsistas, como está descrito no

edital Capes 2007, Projeto Institucional do Pibid na UFMT e no Subprojeto de Química

do referido edital.

Identificamos que a supervisora nº1 realiza pesquisas apenas para suprir sua

necessidade diária como docente, sem publicá-las. Sobre a importância do Pibid, a

supervisora afirma que o Programa esta contribuindo “[...] Para perceber o lado bom da

educação e, dessa forma, ajudar a novos profissionais a entrarem neste ramo”.

A Supervisão do subprojeto Química/Pibid UFMT edital 2007, na escola EE

André Avelino Ribeiro estava com a supervisora nº 2. A partir do Bloco I e Bloco II,

identificamos que a supervisora nº 2, tem 48 anos, é licenciada e bacharel em Química,

se formou no ano de 1995, na UFMT. Ingressou como professora do sistema público de

17

Atualmente a professora ainda é supervisora do Programa Pibid/Química – Edital 2011.

126

ensino estadual no ano 2000. É professora efetiva e, atualmente18

, é mestranda em um

programa de pós-graduação profissional em ensino de Ciências pela Universidade

Federal de Mato Grosso.

Em relação ao Bloco III, identificou-se que a professora atua como docente há 17

anos, atuando no ensino médio em Química e no Ensino Fundamental com Ciências,

especificamente em aulas de laboratório. Sobre a motivação que levou a professora

atuar no subprojeto, a mesma afirma que foi “A busca por melhores condições de ensino

aprendizagem, principalmente na rede pública de ensino”. Sobre a importância do Pibid,

a supervisora afirma que, “É de extrema relevância para todos os participantes, primeiro

por trabalhar em um grupo de pesquisa, onde todos crescem conjuntamente. E

principalmente para os bolsistas que tem a possibilidade de vislumbrar a prática

docente, oportunidade essa que na época que fiz a graduação não tive”.

5.1.3–Coordenador de Área de Subprojeto

O coordenador do subprojeto Química/Pibid UFMT respondeu a um

questionário 03 (Apêndice C). Esse questionário possuía 19 questões, divididas em três

blocos, a saber: Bloco I – Característica socioeconômica; Bloco II – Formação

acadêmica e Bloco III – Profissão Docente. Para garantirmos o anonimato o

coordenador será mencionado na pesquisa como Coordenador de subprojeto.

A partir do Bloco I e Bloco II, identificamos que o coordenador de área do

subprojeto Química, tem 33 anos, realizou sua graduação em Licenciatura em Química

no UFMT, concluindo no ano de 2004. Possui especialização e mestrado em Educação,

também pela UFMT. É professor assistente da UFMT, seu regime de trabalho é de 40

horas semanais com dedicação exclusiva. Trabalha diariamente mais de 6 horas por dia,

não ultrapassando 10 horas. Dedica ao Pibid 20 horas semanais.

Em relação ao Bloco III, identificou-se que o professor atua como docente há 09

anos, ingressando na carreira como docente do ensino superior em 2009. Sobre a

motivação que o levou a trabalhar com o Pibid, o mesmo afirma que isso se deve ao fato

de “[...] acreditar na proposta do Programa e contribuir ainda mais com a formação dos

futuros professores de Química/Ciências”. O professor coordenador relata que realiza

pesquisas no Ensino de Química, “Desenvolvo pesquisas no que tange os processos de

ensino e aprendizagem em Química e Formação de Professores”. Sobre a importância

18

Em função do mestrado a professora esta afastada de suas atividades.

127

do Pibid, o coordenador afirma, “[...] Pibid serve para auxiliar a formação do

licenciando, de modo a incentivar e fixar esses futuros profissionais à carreira do

magistério da Educação Básica”. Há uma concordância entre sua fala e um dos

principais objetivos do programa, o que aborda sobre a relação com o incentivo ao

magistério e a permanência dos licenciados na profissão.

5.2 - ENTREVISTAS SEMIESTRUTURADAS

5.2.1 – Contribuições do Pibid na perspectiva dos ex-bolsistas, supervisoras e

coordenador de área

Após análise parcial dos questionários e revisão bibliográfica, foi realizada com

os ex-bolsistas do subprojeto de Química uma entrevista semiestruturada, constante no

Apêndice E, que visava analisar em sua perspectiva qual a contribuição do Pibid para

sua formação inicial como docente, para sua iniciação à docência, para a escola e para o

professor da educação básica. Realizamos entrevista semiestruturada com as

supervisoras, constante no (Apêndice F) com o objetivo de identificar as contribuições

do PIBID na sua perspectiva, bem como analisar em seus discursos crenças, parte do

clima e aceitação do programa na escola. Também, realizamos entrevista

semiestruturada, constante no (Apêndice G) com o objetivo de identificar as

contribuições do PIBID na perspectiva do coordenador. Utilizamos as três categorias de

sujeitos como técnica de triangulação de dados, neste estudo de caso, para analisarmos

quais foram às contribuições do Pibid.

Os critérios para que se procedessem às análises e as escolhas das falas dos

sujeitos da pesquisa foram às contribuições que apareceram em comum, dessa forma,

agrupamos as contribuições de acordo com as semelhanças apresentadas. Também

analisamos a fala dos sujeitos em relação às semelhanças entre Pibid e Estágio

Supervisionado. Contudo, optamos por fazer esta análise separada, trazendo a fala de

todos os sujeitos (ex-bolsistas, supervisoras e coordenador de área), por acreditarmos

que dessa forma podemos visualizar as interfaces possíveis em três dimensões, sendo

elas, a dimensão prática, ou seja, a fala dos sujeitos, dimensão documental, com ênfase

nos documentos oficiais acerca do Pibid, como editais, relatórios, projeto institucional e

subprojeto de Química e na dimensão teórica, trazendo autores que estudam a iniciação

128

à docência e estágio supervisionado. Destacamos que, inicialmente, não pensávamos em

estudar sobre possíveis interfaces entre Pibid e Estágio supervisionado, todavia pela

flexibilidade da pesquisa qualitativa, nos permitimos a fazer esta análise, em virtude dos

dados que nos levaram a esse contexto. Percebemos nas falas analisadas que os bolsistas

revelam muitas semelhanças, por vezes, até se confundem tratando Pibid como estágio

ou identificando no estágio questões inerentes ao Pibid.

Sobre as categorias que apareceram na fala dos sujeitos, elencamos as seguintes:

Identidade Docente, Definição da Carreira e Escolha Profissional, Condução no Ensino

Aprendizagem, Contribuições do Pibid para as Supervisoras e para Escola, Elaboração

de Projetos, Produção de Materiais Didáticos, Elaboração de planejamento de ensino e

projetos pedagógicos, planos de aula e aulas experimentais, Prática pedagógica, melhor

interpretação didática dos conteúdos e dificuldades metodológicas.

5.2.2 - Identidade Docente

Para discutir alguns aspectos importantes quanto à identidade docente fazemos

uso dos referenciais teóricos adotados nesse estudo. Durante a formação inicial de

professores a prática pedagógica em ambiente real de ensino para estudiosas como

Pimenta e Lima (2004), contribuem significativamente para formação da identidade

especifica do docente, a qual apoiada em Tardif (2002) se imbuem de saberes

específicos da docência, em especial constitui-se dos saberes experienciais, adquiridos

no contexto da sala de aula. Isso é evidenciado na fala do Ex-bolsista nº 3,

Eu só fui ter vivência da escola quando comecei a participar do Pibid. Eu já

tinha feito prática de ensino I, mas o contato com a escola foi muito

superficial. Eu penso que construção da tão falada identidade profissional

aconteceu lá no dia a dia da escola. Ex-bolsista nº 3.

A iniciação à docência representa a fase principal da constituição do “ser

professor”.

Com o Pibid eu descobri o que é licenciar, o que é ser professor, por que

tinha coisas que eu não sabia. Tinha autores que eu nem sabia que existia.

Ex-bolsista 10

129

A iniciação à docência, etapa principal da construção da identidade profissional

é marcada por muitos questionamentos, tensões e aprendizagens, que devem ser

refletidas pelos licenciandos principiantes nessa fase de profissionalização que ocorre

com o convívio desses formandos na escola de educação básica. É consenso entre os

formadores de professores que as práticas pedagógicas marcam a identidade docente,

nesse sentido a prática e experiência profissional docente, possibilita ao professor a

construção de saberes específicos de sua área de atuação, por meio da reflexão sobre a

prática (SCHÖN, 1992; TARDIF, 2002). Nesse sentido, o discurso do coordenador do

subprojeto esta consonante com o que os teóricos abordados afirmam sobre a

importância da práxis pedagógica, proporcionada pelo convívio diário no ambiente

educacional. O coordenador aborda outros aspectos importantes em sua fala, tais como

identidade docente.

Incentivar a formação de professores para educação básica, elevar a

qualidade da formação inicial de professores no curso de licenciatura. Qual é

o quadro dos bolsistas? Nós temos bolsistas de todos os semestres do curso

do 2º ao 8º semestre, então pra formação da identidade docente é necessário

ter contato com a realidade escolar. É necessário ter contato com o ambiente

de trabalho no qual vão exercer a sua profissão. O estágio supervisionado só

inicia na segunda metade do curso, ou seja, lá no inicio do 5º semestre e os

bolsistas já no segundo semestre vão pra escola tendo contato com essa

realidade escolar.

Poderíamos mencionar que ocorre durante os estágios, mas isso também se dá no

Pibid, por isso, utilizamos o convívio em ambiente real de ensino. São esses

questionamentos e reflexões que contribuem para construção da identidade profissional.

Percebemos nos depoimentos de alguns ex-bolsistas que a participação no Pibid

possibilitou que a identidade profissional fosse construída antes do término do curso, e

que durante a graduação em especial se referindo aos estágios, isso não aconteceu pelo

pouco tempo dedicado às atividades na escola de educação básica.

Com o Pibid eu descobri o que é licenciar, o que é ser professor, por que

tinha coisas que eu não sabia. Tinha autores que eu nem sabia que existia.

Ex-bolsista 10

Eu só fui ter vivência da escola quando comecei a participar do Pibid. Eu já

tinha feito prática de ensino I, mas o contato com a escola foi muito

superficial. Eu penso que construção da tão falada identidade profissional

aconteceu lá no dia a dia da escola. Ex-bolsista nº 3.

130

As experiências adquiridas na fase de iniciação à docência são de importância

para atuação e desenvolvimento profissional do professor principiante. Para alguns

teóricos como Garcia (1999) esse período pode representar a continuidade ou não na

carreira docente. Este mesmo autor discute que as dificuldades postas na etapa de

iniciação à docência fazem com que o principiante evidencie suas necessidades

formativas, fazendo questionamentos e apontado fragilidades da graduação. Schön

(1992) faz análises importantes sobre essa fase de reflexão da própria prática docente,

argumentando que por meio das reflexões das práticas pedagógicas os principiantes se

constituíram professores reflexivos, capazes de refletir e propor ações as mais diversas

situações do ambiente educacional.

Então o conhecimento do Pibid me fez saber o que é ser licenciado o que é

ser um professor, principalmente pela prática na escola. O Pibid é muito bom

pra quem quer ser professor, você define. Antes de terminar o curso você já

consegue saber se tem o dom. Mas principalmente pra saber o que é ser um

professor. Pra mim que sou desligada me mostrou a identidade docente. Eu

decidi ser professora através dos trabalhos, através das apresentações. O ciclo

de estudos abriu a minha mente pra ver outras coisas que não tinha

conhecimento. O Pibid foi muito importante pra me edificar como

profissional e como pessoa. Ex-bolsista nº2 (grifo nosso).

O compromisso com ação e reflexão da realidade é constitutivo da identidade

profissional. Os atuais estudos do campo educacional têm realçado o valor da prática

pedagógica. A prática no contexto diário da escola é uma das contribuições do PIBID.

Com isso podemos sugerir que a identidade docente, precisa necessariamente, da

realidade educacional, da ambientação do ser e atuar docente. Contudo percebemos

ainda na fala da ex-bolsista nº2 uma representação equivocada da função docente como

uma vocação, a mesma expressa esse pensamento no momento em que faz uso do termo

“dom”. Soares (2010, p. 13) enfatiza que “o modelo de docente universitário porta-voz

de um saber dogmatizado, capaz de transferir, pelo dom da oratória, em aulas

magistrais, seus saberes profissionais, não mais atende as necessidades da sociedade

contemporânea”. Para a autora essa perspectiva, ainda baseada na erudição, parece

predominar, e exigir, fundamentalmente, o domínio de conteúdos específicos da área de

conhecimento, sem a preocupação de conhecer os estudantes e sua cultura, a fim de

possibilitar-lhes uma aprendizagem significativa e uma formação profissional voltada

para o enfrentamento crítico dos problemas da sociedade.

131

Na fala da Ex-bolsista 10, visualizamos afirmações quanto ao tempo dos licenciandos

futuros professores em atividades escolares. A mesma relata que percebe diferenças

entre o professor em início de carreira participante do Pibid dos outros docentes também

em início de carreira que não participaram do programa, conforme depoimento abaixo:

Eu percebo muita diferença entre um professor em início de carreira que

participou do Pibid e um que não participou. Se não fosse o Pibid eu não teria

essa visão ampla da docência, pois só na graduação isso não é possível. O

Pibid contribuiu e muito no meu crescimento e em todo o processo de

iniciação profissional, desde como montar uma aula, qual a melhor maneira

de expor essa aula, a maneira de se apresentar, de conversar com o aluno, de

conversar com o seu professor, com o coordenador. As ações que eu tenho

hoje em sala de aula não seria possível só com a graduação. O tempo da

graduação não é suficiente para ampliar e inovar os conhecimentos da

docência como, por exemplo, contextualizar as aulas, tanto é que em nossas

aulas da graduação nem tinha muita contextualização. No Pibid a gente

sempre tinha esse cuidado de pensar na aula, de pensar em como motivar

nossos alunos. O Pibid contribui em todo esse processo de motivação e

inovação. Ex-bolsista 10.

Enfatizando a situação posta pela ex-bolsista “Se não fosse o Pibid eu não teria

essa visão ampla da docência, pois só na graduação isso não é possível (Ex-bolsista

10)”. Podemos analisar com aporte em Perrenoud (1993) que aprender a ensinar requer

o desenvolvimento de atitudes, valores e conhecimentos próprios da docência por parte

dos futuros Professores, denominado de identidade docente, e esse processo complexo

inicialmente é possibilitado pelo curso inicial de licenciatura.

Os conhecimentos próprios da docência são adquiridos em grande parte na

práxis pedagógica, porém a articulação teoria e prática entre a academia e instituição de

educação básica não ocorre plenamente para todos os cursos de licenciatura, como

argumenta Perrenoud, “alguns formadores universitários contribuem ainda hoje para

formar professores sem terem qualquer outra experiência da sala de aula a não ser o seu

passado como alunos” (1993, p.147). O licenciando iniciante na docência por meio da

participação em atividades escolares, experimenta e descobre o sentimento de se sentir

profissional, parte de uma classe trabalhista, o qual tem sua sala de aula, seus alunos e

dessa forma constrói sua identidade docente. Como já fizemos essa reflexão, em muitos

casos é a descoberta da identidade profissional que permite ao professor iniciante saber

se permanecerá ou não na profissão.

Compartilhamos da ideia de Schön (1992), Tardif (2002), Pimenta e Lima

(2004), Schnetzler (2000) no que diz respeito ao processo continuo da formação do

132

professor. Partilhamos da ideia que a prática pedagógica do principiante no contexto

real de ensino auxilia na construção da identidade docente e contribui para formação de

um professor reflexivo sobre suas práticas diárias. Quando mencionamos que essa

prática deveria ocorrer ainda em formação é porque visualizamos que somente os

estágios não são suficientes, sobretudo quando fragmentado e realizado apenas na

segunda metade do curso. E esse é um dos aspectos que podemos considerar como

evidencia de contribuição efetiva do Pibid.

5.2.3 - Definição da Carreira e Escolha Profissional

As escolhas fazem parte das nossas vidas, podem ser escolhas simples ou

complexas e difíceis, envolve vários fatores do contexto de cada individuo. A escolha

profissional é parte inerente da vida dos indivíduos que pretendem chegar ao mercado

de trabalho, e é sem dúvida uma das escolhas mais complexas que o indivíduo

obrigatoriamente tem que tomar. Isso porque envolve o contexto social, econômico e

político. A escolha pela carreira docente pode ser traçada desde a infância. A função do

professor é uma das profissões que as crianças mais têm contato e geralmente as

experiências vividas em contexto escolar propiciam essa escolha profissional. Como já

dito anteriormente, a escolha profissional pela docência envolve muitos fatores, um dos

mais indicativos é a questão financeira.

O Pibid definiu minha escolha profissional. Por que quando eu vim pra cá,

é aquela velha história eu vim pra fazer bacharel e trabalhar na indústria. E eu

descobri através do Pibid que eu gosto de dar aulas [...] Ex-bolsista nº2

(grifo nosso).

O Pibid contribuiu muito para minha escolha profissional, não contribuiu só

para minha decisão, mas contribuiu em todo o desempenho, desenvolvimento

de projetos, desenvolvimento de planos de aula, planos de ensino,

planejamento de aulas e elaboração de roteiros experimentais. Ex-bolsista

nº10 (grifo nosso).

O Pibid entrou na minha vida em uma fase da graduação para me colocar

como docente, eu me lembro que na época estava pensando em seguir

outra área. Na verdade eu não tinha muita relação com o pessoal da

licenciatura, eu me identificava mais como bacharel. Ex-bolsista nº 7 (grifo

nosso).

133

Percebemos que, no caso especifico do curso de Química, e por este ofertar a

graduação nos moldes da licenciatura e bacharelado, existe nos licenciandos a dúvida se

seguirão a carreira docente ou de bacharel e que, a participação no Pibid, auxiliou

alguns ex-bolsistas na escolha por seguir a carreira docente, sendo essa em nossa

perspectiva mais uma evidência de contribuição a ser alcançada pelo Pibid.

Tudo que os bolsistas vêem de teoria, de discussão de processos de ensino-

aprendizagem, de ensino de química no início do curso, proporciona a eles a

articulação entre teoria e prática, então é muito significativo à participação

[...] porque fundamenta e caracteriza a identidade do profissional

docente, desde o início da carreira, podendo auxiliar na definição da

mesma, porque faz com que o bolsista veja se é essa profissão, que realmente

quer seguir e se tem amor à docência. O Pibid possibilita ao bolsista uma

reflexão mais profunda sobre a realidade escolar, principalmente, sobre a

formação docente, durante a sua formação, não deixando isso apenas na

responsabilidade das disciplinas pedagógicas do currículo formal. Durante

sua formação os bolsistas podem refletir pesquisar, participar de eventos, de

debates, isso sem estar atrelado a um currículo fixo, sem estar atrelada a

obrigatoriedade da disciplina, então isso eu acho muito significativo para

formação desses alunos (Coordenador do Subprojeto).

Compartilhamos da ideia a carreira profissional docente é um percurso

contextualmente vivenciado. A formação docente é um processo contínuo, nesse sentido

entendemos e partilhamos as ideias apresentadas por Schön (1992), Tardif (2002),

Pimenta e Lima (2004), Schnetzler (2000). Para esses autores, a prática pedagógica do

licenciando no ambiente real de ensino, auxilia para construção da identidade docente,

proporciona o aprimoramento dos saberes específicos do docente, e que impulsionam a

formação do professor reflexivo, o qual vê em suas práticas diárias soluções e

intervenções pedagógicas.

5.2.4 - Condução do Ensino-aprendizagem

Na perspectiva de alguns ex-bolsistas, o Pibid contribui para o professor da

educação básica participante do programa, principalmente no que se refere à condução

do ensino, em especial pelo acompanhamento dos bolsistas lado a lado com os alunos

do ensino médio que apresentavam dificuldades no aprendizado de determinado

conteúdo.

134

O Pibid contribui para o professor, principalmente quanto à

segurança na condução das aulas. O Pibid veio como um auxílio muito

grande. Por que os alunos do Ensino Médio têm muita dificuldade no

entendimento da Química. Com o Pibidiano em sala de aula o professor tem a

segurança, que o aluno realmente esta sendo acompanhado, o que facilita sua

aprendizagem. O professor se preocupa com o aluno, mas não consegue

atender a todos. Com o bolsista em sala de aula o professor tem tranquilidade

por que sabe que o conteúdo realmente foi aprendido “absorvido” pelo aluno.

O Pibid não é só um apoio, não é só um projeto, é andar junto. Ex-bolsista

11.

Durante as aulas o professor podia até aprofundar mais no conteúdo

porque ele sabia que estávamos ali para apoiá-lo no momento de auxiliar os

alunos que tinham dúvidas. Ex-bolsista nº 3.

O ex-bolsista 11 argumenta que o professor se sente mais seguro no sentido de estar

proporcionando ao aluno que apresenta dificuldades no aprendizado do conteúdo um

acompanhamento mais individualizado, por meio das ações de monitoramento

realizadas pelos Pibidianos.

O Decreto 7.21919

exemplifica em um dos objetivos descritos, parte da

preocupação dos professores formadores quanto à articulação entre universidade e

escola, e entre os professores, a recordar nos referimos ao artigo IV “inserir os

licenciandos no cotidiano de escolas da rede pública de educação, proporcionando-lhes

oportunidades de criação e participação em experiências metodológicas, tecnológicas e

práticas docentes de caráter inovador e interdisciplinar que busquem a superação de

problemas identificados no processo de ensino-aprendizagem”.

[...] acho que a maior contribuição se refere ao aprendizado dos alunos da

escola. A absorção do conteúdo. O acompanhamento dos bolsistas, a

criatividade, a feira de Ciências. Os alunos da escola tinham vários

projetinhos. Em parte isso se deve a criatividade dos Pibidianos no auxilio

aos alunos. A criatividade dos bolsistas atiça a curiosidade dos alunos pela

Química, por que a Química não é só a Ciência, envolve também muita

criatividade. Com auxílio dos Pibidianos os alunos começaram associar a

Química ao dia a dia, não só a fatos científicos. A feira de ciências da escola

tinha muitas atividades interessantes, fiquei impressionada, ainda mais

porque os alunos foram em busca do conhecimento. É assim que eu vejo a

Química, por meio da associação com o dia a dia. Tirar esse estereótipo que a

Química é difícil. Ex-bolsista nº 2.

A feira de ciências que os alunos realizam hoje é muito boa. A criatividade

deles associada ao conhecimento dos professores e bolsistas resultam em

atividades incríveis. Ex-bolsista nº 5.

19

O Decreto nº 7.219, de 24 de Junho de 2010, dispões sobre o Programa Institucional de Bolsa de

Iniciação à Docência – PIBID e dá outras providências.

135

Os ex-bolsistas também têm a percepção que a presença deles na escola, propicia

aos alunos da educação básica mais conhecimentos contextualizados, aguçando dessa

forma a curiosidade dos alunos quanto ao aprendizado de Química, em especial pela

parte prática. Resultado disso são feiras de Ciências, cada vez mais interessantes,

dinâmicas e interativas.

5.2.5 - Contribuições do Pibid para as Supervisoras e para Escola

Trazer o professor da educação básica de volta à universidade tem significativa

contribuição para atuação e prática pedagógica. O fato de o professor supervisor

participar de ciclo de estudos, debates, seminários, grupos de estudos, pode ser

caracteriza como formação continuada. A combinação dessas atividades propostas no

Subprojeto Pibid/Química corrobora para que esta formação seja significativa ao

docente e evidências de eficácia para o processo de aprendizagem e de desenvolvimento

profissional daqueles que a ela se submetem.

O Pibid levou a nossa supervisora de volta para faculdade e isso com certeza

trouxe grandes contribuições. Ela voltou pra faculdade, para ter interação

com a gente, ter contato com as novidades. Para ela, também, foi muito

interessante porque você sabe, hoje com 30 alunos em sala de aula, você não

consegue dar atenção a todos. E, a gente fazia o monitoramento dos alunos,

nós também atendíamos os alunos com mais dificuldade em uma salinha

reservada para isso na escola Ex-bolsista nº 6.

O Parecer CNE/CP 9/2001 descreve que o “docente da educação básica que

supervisiona os licenciandos estagiários poderá receber alguma modalidade de

formação continuada a partir da instituição formadora” (BRASIL, p. 13-14). Podemos

compartilhar que o Pibid executa ações de formação continuada aos supervisores do

programa, por meio das atividades já relatadas. Sobre em que aspectos o Pibid

contribuiu para formação do professor da Educação básica participante (supervisor), o

coordenador afirma que,

O supervisor para participar do programa também é um responsável pela

formação desses alunos que estão na formação inicial, então, querendo ou

não ele precisa estar em constante formação continuada, ele participa dos

ciclos de estudos, participa de seminários, ele tem a possibilidade de

participar de pesquisas aqui no laboratório de ensino, que talvez se ele não

136

participasse desse programa ele não teria. Ele esta tendo a possibilidade de

ver resultados de pesquisa da área de educação. Ele tem a possibilidade de

estar trabalhando em oficinas, ter contato com materiais alternativos, de estar

melhorando sua prática pedagógica, de estar ressignificando sua prática

pedagógica. Coordenador do subprojeto.

O coordenador relata que o programa não contribui apenas para os bolsistas que

estão em plena formação inicial, traz contribuições também para escola.

O Pibid veio contribuir não só para formação inicial, mas também para a

educação básica, para o desempenho do currículo de ensino de Química no

ensino Médio. Com a participação do Pibid há várias intervenções

pedagógicas que ocorrem na escola, nós ofertamos minicursos, ofertamos

oficinas, aulas experimentais, trabalhamos com atividades lúdicas,

procuramos trabalhar com o conhecimento químico de forma diferenciada,

então isso faz com que os alunos da educação básica tenham um incentivo

para estudar Química. Nós também fazemos um trabalho para incentivar os

alunos da educação básica à docência, por que quando as professores fazem

perguntas sobre quais profissões querem exercer aos alunos da educação

básica, muitas profissões aparecem, menos a profissão docente. Então nós

fazemos este trabalho e tentamos melhorar o índice do ENEM pelo menos na

área das Ciências da Natureza, por meio de atividades interdisciplinar

realizadas com a Biologia com a Física na escola de educação básica. Para os

alunos do 3º ano do ensino médio nos trabalhamos com aulas

interdisciplinares, realizadas junto com os Pibidianos da Biologia e da Física,

então isso vem contribuir de uma forma diferenciada para os alunos da

educação básica. Lembrando que todas as atividades realizadas na escola são

feitas depois do diagnóstico do contexto escolar, pensando nas necessidades

da comunidade escolar. Coordenador do Subprojeto.

O coordenador enfatizou que o Subprojeto trouxe contribuições para os

professores de Química da escola, mesmo os que não fazem parte do programa, por

meio das ações conjuntas realizadas no ambiente escolar. E, uma das atividades

destacadas pelo coordenador, foi o evento “Dia mundial do Meio Ambiente”, onde os

docentes da escola, juntamente com os bolsistas do Pibid Química, Biologia e

Matemática realizaram palestras interdisciplinares aos estudantes do ensino médio da

Escola Estadual André Avelino Ribeiro. Mas, o coordenador enfatiza que a principal

contribuição do Pibid para os supervisores são as ações de formação continuada

realizadas nas dependências da Universidade por meio das atividades proposta no

Subprojeto. Nesse sentido, optamos realizar uma intervenção na entrevista realizada

com o coordenador com a seguinte pergunta, “Você que é professor das disciplinas de

137

Prática de Ensino e sabe a realidade dos professores que acompanham o estágio dos

licenciandos, você considera a postura do supervisor do Pibid diferente da postura do

professor do estágio?” (pesquisadora).

Há uma diferença, sim, por que o supervisor do Pibid desde o início sabe dos

objetivos do programa, da sua proposta, e o mesmo sabe que é um co-

responsável pela formação dos bolsistas, então todo subsídio e aporte teórico-

metodológico que ele venha necessitar, o mesmo vem recorrer a esse

conhecimento através de nós na UFMT. E a diferença do professor que

acompanha só no estágio supervisionado é que em muitos casos nos só

vamos ter contato com ele no período do estágio, já o supervisor tem um

contato direto na UFMT, toda semana esta aqui no LabPEQ participando das

atividades, então não está tão distante quanto o professor do estágio

supervisionado. A relação do supervisor com a universidade é muito mais

efetiva que a relação do professor do estágio.

Por meio das constantes discussões em ciclos de estudos e análises das situações

diárias vivenciadas no contexto educacional da escola pública é, ainda, mais

significativo por haver maior articulação entre teoria e prática como discutem Schön

(1992), Tardif (2002), Pimenta e Lima (2004), Schnetzler (2000). Além disso, por meio

da análise dos dados percebemos que a formação continuada proporcionada aos

supervisores pode auxiliar a contribuir para formação dos bolsistas, assumindo

efetivamente a posição de coformador, auxiliando os bolsistas a formarem-se

profissionais competentes, dotados de fundamentação teórica consistente e com

capacidade de análise e reflexão crítica acerca de todos os aspectos que compõem e

influenciam o contexto escolar.

5.2.6 - Elaboração de planejamento de ensino, projetos pedagógicos, planos de aula

e aulas experimentais

Os objetivos do Pibid em linhas gerais abordam a efetivação da relação

universidade escola, por se apresentarem em contextos distintos, incentivando e

valorizando o magistério, por meio de ações que visam melhorar a qualidade do ensino.

Para isso, o subprojeto descreve que o planejamento das ações voltadas para a escola,

foram elaboradas, pensando principalmente na criação de oportunidades e contribuições

em diferentes contextos, contribuições para formação inicial dos bolsistas, formação

138

continuada dos supervisores e formação de formadores para do coordenador de área.

Perceba como isso aparece na fala do coordenador de área,

O Pibid é um programa de iniciação a docência e o principal objetivo é

incentivar a formação inicial docente dos discentes que fazem o curso de

licenciatura, só que pra isso são desencadeados vários objetivos a serem

cumpridos no qual eu como coordenador também me enquadro e também

tenho vantagens nesses aspectos. A gente tem que promover ciclo de estudos,

participar de encontros pra discutir resultados de pesquisa, fazermos a

reflexão sobre a prática. Estamos em constante estudo. Temos que pesquisar

a todo o momento e estamos desenvolvendo pesquisas, participando de

eventos, participando de seminários, participando de palestras, promovendo

seminários, promovendo ciclo de estudos, ciclo de debates, então tudo isso,

de certa forma contribui para minha formação como docente do ensino

superior, por que não me deixa estático, não me deixa parado, a todo o

momento eu me forço a estudar, a ler um teórico que não havia lido antes,

para assim tentar resolver um problema que esta acontecendo. Todo esse

ciclo que eu iria ter na academia fazendo uma pesquisa no mestrado ou no

doutorado, estou vivenciando no Pibid. Estou em formação junto com os

meus educandos, estou naquela fase que ao ensinar eu também estou

aprendendo. A pluralidade de educandos, os diferentes saberes contribuem

para minha constante formação. Coordenador do Subprojeto.

O Pibid cria possibilidades formativas para o docente que esta em exercício na

escola, este retorna a universidade para participar de ciclos de estudos entre outras

atividades com a função de coformador desses bolsistas, quando os supervisores e

coordenadores participam no planejamento de ações voltadas para escola, o bolsista

constrói conhecimentos inerentes a prática pedagógica, a partir da reflexão e discussão

de questões relacionadas à aprendizagem, ensino, contexto educacional. Nesse momento

de planejamento de ações os bolsistas colocam-se à frente desse processo, aprender

articular ideias, gerir processos que envolvam ações específicas para o ambiente escolar

em especial para sala de aula, podemos evidenciar tal contribuição na fala da Ex-

bolsista nº 6.

Hoje sou coordenadora de Área (Ciências da Natureza e Matemática) do

CEJA - Licínio Monteiro da Silva, eu sento para fazer planejamentos junto

com os professores de Química, Física, Matemática, Biologia e Ciência. E

com toda certeza o que o Pibid mais contribui pra minha profissão, foi na

organização para realização de planejamentos, e hoje isso me ajuda muito.

Nós tínhamos que planejar e projetar tudo o que fossemos fazer na escola. Eu

me sinto muito segura no planejamento e execução dos projetos que

realizamos aqui, ainda mais por que os professores sempre esperam que eu

faça essa articulação entre as áreas Ex-bolsista nº 6.

139

A ex-bolsista nº 6 fala sobre a segurança que possui no domínio de sua função,

nas atividades de planejamento, principalmente no que se refere à articulação de ideias

de diferentes áreas bem como na execução dos projetos.

Eu acredito que, inicialmente, contribuiu para o desenvolvimento de

planejamentos de ensino. Contribui, também, na elaboração de avaliações

bem mais contextualizadas; contribui no planejamento e organização da aula,

de forma a instigar os alunos para novos conhecimentos, utilizando os

conhecimentos que os alunos já possuíam. Depois do Pibid eu consigo

elaborar uma aula, pensando nos conhecimentos anteriores que os alunos

trazem, e só assim construir uma aula com base no nível de conhecimento

que os alunos possuem. O Pibid, também, auxiliou na elaboração de aulas

experimentais, principalmente como pensar e organizar uma boa aula no

laboratório de ensino, os objetivos, procedimentos, o que o aluno vai fazer

nessa aula, deixando claro ele qual é o objetivo daquela aula. Ex-bolsista nº

4.

Percebemos no depoimento da ex-bolsista nº 4 a participação no Subprojeto de

Química contribui para o desenvolvimento de planejamentos de ensino, nesse sentido

Marcelo (2009) nos alerta para as modificações ocorridas quanto ao entendimento da

forma como ocorrem os processos de aprender a ensinar, destacando que o

desenvolvimento profissional é um processo continuo, e ocorre em longo prazo. Para

este mesmo autor o planejamento docente é fundamental e intencional ao

desenvolvimento profissional e, enfatiza, ainda, que esses processos de planejamento

auxiliam os professores a aprender a ensinar. E, dessa forma, possam ter uma ação mais

eficiente em sala de aula. Esta é uma evidência de contribuição do Programa. Perceba

como isso aparece na fala da ex-bolsista nº 6 “E com toda certeza o que o Pibid mais

contribui pra minha profissão, foi na organização para realização de planejamentos, e

hoje isso me ajuda muito. Nós tínhamos que planejar e projetar tudo o que fossemos

fazer na escola”.

Outro fator relevante na fala da ex-bolsista 4 se refere à elaboração de avaliações

mais contextualizadas. Como afirma Luckesi (2005, p. 29) sinaliza a diferença entre o

sistema de avaliação e exame. O autor afirma que se tem a compreensão conceitual da

diferença entre avaliar e examinar, contudo, não tem gerado condutas novas entre os

educadores. Este mesmo autor enfatiza que o ato de examinar tem apenas a função de

classificar o educando, minimamente, em “aprovado ou reprovado” e que avaliar,

Diversamente, o ato de avaliar tem como função investigar a

qualidade do desempenho dos estudantes, tendo em vista proceder a uma

140

intervenção para a melhoria dos resultados, caso seja necessária. Assim, a

avaliação é diagnóstica. Como investigação sobre o desempenho escolar dos

estudantes, ela gera um conhecimento sobre o seu estado de aprendizagem e,

assim, tanto é importante o que ele aprendeu como o que ele ainda não

aprendeu. O que já aprendeu está bem; mas, o que não aprendeu (e necessita

de aprender, porque essencial) indica a necessidade da intervenção de

reorientação..., até que aprenda. Alguma coisa que necessita de ser aprendida,

como essencial, não pode permanecer não aprendida. Tomar conhecimento

somente do que o educando aprendeu não permite investir no processo,

porém somente no produto (LUCKESI, 2005, p.29)

Com essa perspectiva, o subprojeto de Química/UFMT, edital 2007, foi

alicerçado em um processo de avaliação emancipatória, interdisciplinar e

transdisciplinar, por meios de trabalhos e ações que estimulem a construção de

propostas pedagógicas mediante ações curriculares que incentivem a contextualização

interdisciplinar, social e cultural, como proposto no PCNEM, PCN+ e OCNs (UFMT,

2010, p.7). Uma das primeiras ações descritas no relatório final de atividades do

subprojeto de Química é justamente a análise contextual da escola e em especial do

contexto histórico dos educandos ali matriculados.

No que tange à avaliação escolar o relatório final de atividades do subprojeto de

química descreve que se realizou avaliação emancipatória e que esta inicialmente

ocorreu por meio da descrição da realidade escolar e análise dos problemas detectados

no ensino-aprendizagem da área de Ciência da Natureza e Matemática dos estudantes da

educação básica assistidos pelo programa. O projeto institucional do Pibid na UFMT

escolheu esse tipo de processo avaliativo pela compreensão de que avaliar

participativamente, no sentido da construção da conscientização, da autocrítica, do

autoconhecimento por parte dos envolvidos no processo educativo, do investimento na

autonomia e do compromisso e emancipação dos sujeitos, constitui-se em uma nova

ética da avaliação, sendo, portanto de grande valor na prática educativa.

No projeto PIBID-UFMT, a avaliação emancipatória desenvolve-se em três

momentos: a descrição da realidade dos contextos escolares, a crítica dessa

realidade; e a criação coletiva. Para subsidiar as ações são desenvolvidos

ciclos de seminários e de estudos referentes aos documentos curriculares da

Educação Básica, metodologias de pesquisa, formação continuada de

professores, epistemologia do ensino de ciências, dentre outros (UFMT,

2010, p. 11).

141

Luckesi (2005), nesse sentido, argumenta que a avaliação deve ser feita com

ênfase no processo e não no produto. O autor faz a reflexão que o conjunto de

procedimentos que são adotados com o objetivo de alcançar o melhor resultado, é o que

de fato nos motiva para realizar intervenções pedagógicas que contribuam para o

sucesso do ensino-aprendizagem de nossos educandos.

Podemos sugerir que as atividades realizadas no Pibid têm ênfase no processo,

já que constantemente se realiza análises da realidade escolar, bem como, dos

problemas detectados no ensino-aprendizagem. Está descrito que no relatório final de

atividades as ações tomadas para execução da avaliação emancipatória são de

responsabilidade dos bolsistas, sob orientação dos docentes da universidade e dos

professores supervisores das escolas participantes. “Esse tipo de movimentação, ou seja,

as reuniões entre alguns segmentos participantes do Programa e as construções

realizadas mediantes os debates, orientaram os trabalhos dos bolsistas a atender as

necessidades desveladas” (UFMT, 2010, p.11).

As ações coletivas entre os participantes do subprojeto de Química tendo como

base as recomendações da Orientação Curriculares para o ensino de Química

minimizaram as dificuldades didático-pedagógicas no ensino da Química. Isso foi

diagnosticado pela análise do contexto escolar descrito pelos bolsistas antes das

atividades propostas pelo subprojeto e pela análise feita durante e após a conclusão

dessas atividades.

Desse modo, o relatório final do subprojeto de Química edital 2007 conclui que

a perspectiva emancipatória, apesar de se apresentar desafiadora, tem proporcionado aos

discentes bolsistas avanços como: vivências interdisciplinares, prática docente,

interação Universidade-Escola e algumas diretrizes para a condução do currículo de

Química e das demais disciplinas da área da Ciência da Natureza e Matemática.

Contribui para uma melhor organização, pois se eu não tenho um bom

planejamento anterior à aula, a aula não será boa. Eu tenho cuidado com as

referências que eu estou pesquisando. Procuro pensar de que maneira os

aspectos epistemológicos podem interferir no aprendizado. Por exemplo, para

ministrar uma aula de modelos atômicos, será que é correto ensinar os alunos

usando a analogia de um pudim de passas, será que os alunos vão conseguir

entender e diferenciar isso. Então, nós bolsistas sempre tomávamos cuidado

com esses aspectos diários, como em sala de aula na sua apresentação em

relação aos alunos, da maneira como você organiza e planeja suas aulas,

142

desde como vou apresentar o conteúdo no quadro, pensando sempre o que eu

quero dessa aula. Nós aprendemos a sempre ter um plano B. Ex-bolsista nº

10.

A ex-bolsista 10 demonstra em sua fala a importância da organização e

planejamento docente, enfatizando que se isso deve ser feito antecedente a aula. A

mesma também menciona que o planejamento da aula, girava em torno da apresentação

do conteúdo, objetivos esperado daquela aula, aspectos epistemológicos do aprendizado

dos alunos, e que este planejamento prévio possibilitava e reflexão sobre um plano B,

para as aulas, que de alguma forma não estivessem sendo proveitosas. Ainda, sobre o

planejamento das aulas, percebemos que o subprojeto de Química procurou trabalhar

com aspectos importantes da prática pedagógica, tais como elaboração de aulas teóricas

e práticas, aspectos quanto à contextualização e melhor interpretação didática.

A ex-bolsista nº11 demonstra em sua fala os aspectos citados acima sobre as

ações do subprojeto, principalmente quando a mesma, relata sua preocupação, em

alcançar o objetivo proposto para aula, no que concerne ao aprendizado dos estudantes,

destacando melhorias quanto à facilidade no aprendizado. Com o objetivo de realizar

ações que ocasionassem melhorias na construção do conhecimento químico por parte

dos estudantes do ensino médio, o subprojeto de Química, trabalhou também com a

construção de jogos didáticos, por ter a ideia que a ludicidade no ensino de Química é

uma boa ferramenta de ensino, como bem aparece nas palavras da ex-bolsista 10.

O Pibid influenciou e muito minha iniciação à docência, não só na primeira

semana de aula, continua influenciando até hoje, por que quando eu vou

preparar uma aula eu já me lembro do coordenador me perguntando: qual era

o objetivo daquela aula? O que você quer ao final da aula? Ele me ajudava a

pensar: ‘se eu falar isso o que os alunos vão entender’, dependendo do que

questionar e comentar os alunos que podem ir por outra linha de pensamento.

Dependendo da minha ação posso fazer os alunos questionarem outras coisas

acerca do conteúdo, o que é positivo. Mas, também, dependendo da

abordagem posso estar fugindo do objetivo daquela aula. Desde então eu

tento amarrar muito bem a aula, temos sempre que pensar no objetivo da

aula, no conteúdo e fazer os questionamentos acerca desse conteúdo, de

forma a contextualizar o conteúdo e trazer o conteúdo para o dia a dia do

aluno de forma que ele sinta mais facilidade no aprendizado Ex-bolsista nº

11.

Outra grande influência do Pibid na minha docência é a produção de jogos

didáticos que facilitam e muito o aprendizado e os alunos gostam muito.

Então, desde o primeiro momento que eu entrei nesse colégio como docente

143

principiante, o Pibid me influenciou na maneira de preparar as aulas. Ex-

bolsista 10 (grifo nosso).

Na dimensão prática, ou seja, com análise nas falas dos sujeitos podemos sugerir

que parte das contribuições do subprojeto de Química está atrelada a elevação da

qualidade das ações pertinentes à formação inicial de professores de Química, por meio

de práticas pedagógicas, tais como, elaboração de planejamentos de ensino, planos de

aulas teóricas e prática, execução de roteiro experimental, jogos didáticos,

contextualização dos conteúdos científicos, metodologias de condução do ensino-

aprendizagem, que contribuem também para construção da identidade docente. Isto,

para Garcia (1999), decorrer do desenvolvimento profissional no contexto educacional

próprio de sua área de atuação. O coordenador expõe as atividades realizadas pelo Pibid

que reforçam as contribuições inerentes ao fazer pedagógico o coordenador do

subprojeto

Os bolsistas conhecem a estrutura e funcionamento da escola. Vivem

experiências especificas do trabalho docente em da sala de aula. Eles

realizam intervenções pedagógicas, como aulas teóricas, aulas dialogadas,

aulas experimentais. Eles confeccionam jogos didáticos, realizam monitorias

para os estudantes da educação básica que estão com dificuldades. Fazem

plantão tira-dúvidas, aula de campo, participam de minicurso. Eles vivenciam

a experiência prática no ambiente escolar que eles só teriam nas disciplinas

de estágio supervisionado. Coordenador do subprojeto.

Compartilhamos da ideia que essas contribuições só são possíveis pela vivência

desses bolsistas no contexto escolar, por meio de troca de experiências com outros

professores, ou seja, seus pares profissionais. Tardif (2002, p.33) ao falar dos saberes

experienciais do docente, enfatiza que os saberes específicos da docência, na verdade,

se compõe, de vários saberes, provenientes de diferentes fontes, diferentes contextos e

em diversas situações inerentes ao contexto educacional. Para Tardif (2002, p.33) os

saberes docentes são constituídos dos saberes disciplinares, curriculares, profissionais e

experienciais. Por fim, a participação e engajamento efetivo de pesquisadores do

LabPEQ e professores dos cursos de licenciatura em Química da UFMT no processo de

planejamento e ação no âmbito do Subprojeto de Química proporcionou contribuições

para a reflexão sobre as práticas pedagógicas e sobre os modelos de formação da

instituição de ensino superior.

144

5.2.7 - Prática pedagógica, Interpretação didática dos conteúdos e Dificuldades

Os estudos do campo educacional têm realçado o valor da prática pedagógica

por entender sua importância no desenvolvimento profissional do docente. O Pibid por

sua vez tem se apresentado na dimensão documental e prática como um programa de

iniciação à docência que além de sistemático, tem caráter indutor de uma formação

inicial baseada na prática pedagógica por meio da inserção do licenciando no ambiente

educacional público.

A teoria universitária do curso de licenciatura articulada à prática escolar, em

especial ao ambiente educacional público, fazem parte do processo de formação e

profissionalização docente. Brezezinski (2008, p. 1144) discute a questão da articulação

“teoria e prática”, enfatizando que o saber e ação docente precisam estar atrelados, da

mesma forma que o trabalho docente deve estar articulado as concepções de sociedade,

homem, educação, conhecimento específico, habilidades operativas, técnicas e

tecnológicas. Logo, essa fase de profissionalização que ocorre quando o licenciando

durante sua formação inicial entra em contato com o ambiente real de ensino

contribuem para formação dos saberes que Tardif (2002) caracteriza como saberes

específicos da docência.

Compartilhamos da ideia que todos os indivíduos independentemente de sua

função compartilham seus conhecimentos, podemos citar exemplos comuns do

cotidiano familiar, um pai ensinando seus filhos como utilizar os aparelhos eletrônicos

residenciais, quando os auxilia na leitura de histórias infantis, uma mãe que ensina seus

filhos as letras do alfabeto, uma receita caseira de bolo entre tantas outras situações

comuns no nosso dia. Dentre a diversidade de ensinamentos e aprendizados diários da

sociedade o que o professor tem de diferente em relação à pluralidade e abundância de

saberes. Nesse momento nos apoiamos em Tardif (2002) para afirmarmos que existem

os saberes específicos da docência, que se refere ao domínio do conhecimento cientifico

de sua área de formação e a método de realização da transposição didática desses

conceitos, essa habilidade docente se desenvolve ao longo da profissionalização por

meio das abordagens metodológicas sintonizadas a prática pedagógica diária em sala de

aula, no laboratório de Química, no laboratório de informática com o uso de ferramentas

da tecnologia da informação, e de posse das diferentes metodologias de ensino e dos

saberes específicos da docência é que, o professor realiza a mediação entre os

educandos e os conhecimentos.

145

Nesse sentido, quando analisamos a fala da Ex-bolsista nº 2, podemos sugerir

que melhorias na condição do ensino de Química por parte dos bolsistas, principalmente

em relação ao conhecimento de diferentes metodologias de ensino-aprendizagem sejam

mais uma contribuição do Pibid. A entrevistada afirma existir diferenças em relação ao

professor iniciante que faz parte do programa em relação aos demais que não fizeram,

se referindo especialmente a metodologia de interpretação didática dos conteúdos,

relacionando com o comum ensino tradicionalista.

Existe diferença entre o professor que faz parte do Pibid e um que não fez

principalmente, no que se refere à transposição didática dos conteúdos, por

conta dessa barreira que muitos professores têm do ensino tradicionalista. Na

minha época eu achava que o professor era só aquele cara autoritário, que

enchia o quadro e tinha que fazer tarefa no final do dia. E não é assim. “não é

assim”. Eu deixei de ter essa visão simplista, por que eu vim de um ensino

tradicionalista. De um ensino que eu não tinha relação com o professor. Para

o professor ou a professora era senhor ou senhora. Hoje os alunos até me

chamam de tia, ou você. Não que isso faça diferença, mas é para ressaltar que

naquela época não tinha nenhum relacionamento. O professor não me via

como pessoa, não se importava se havia dificuldade, só tinha que aprender,

ou decorar, se vira! Eu vim desse ensino. E não era isso que eu queria. Essa

visão que eu tinha da docência me deixava confusa em seguir ou não a

carreira docente. Por isso que no início eu preferia a opção de ficar em um

laboratório “frio” sem relacionamentos. Agora não. Ex-bolsista nº 2.

Maldaner (2006) discute a problemática, ora apresentada pela ex-bolsista,

referente à visão simplista da função docente, visão essa posta por um ensino

tradicionalista. O autor afirma que isso acontece nos cursos de licenciatura em Química,

pela freqüente falta de interesse dos docentes universitários das disciplinas especificas

em se trabalhar com a prática pedagógica em sala de aula. Costa (2012) também

descreve em seus resultados que existem diferentes entendimentos para prática como

componente curricular por parte dos docentes do curso de Química da UFMT. A fala da

ex-bolsista nº 8 descreve as dificuldades encontradas pela mesma no que diz respeito

aos ensinamentos de Físico-Química.

Quando a gente chega à sala de aula a dificuldade esta ali, pois na graduação

a gente viu o conteúdo muito mais aprofundado, dai pegar um conteúdo

desses de físico-química e fazer o aluno da educação básica entender e

imaginar aquelas situações é muito mais complicado. Ex-bolsista nº 8.

Maldaner (2006) afirma que se os docentes das disciplinas especificas, tais

como Físico-Química, Química Analítica, Química Orgânica entre outras, trabalhassem

146

com a prática pedagógica, discutindo com os licenciandos sobre o pensar e fazer

docente, os mesmos se familiarizariam com diferentes metodologias de ensino e teriam

menos dificuldade na condução das aulas.

A ex-bolsista nº 2 apresentou em sua fala uma possível diferença na iniciação à

docência do professor principiante que fez parte do Pibid e o professor principiante que

concluiu sua formação inicial sem fazer parte de nenhum programa de valorização e

iniciação ao magistério. Nesse sentido, no momento da entrevista semiestruturada

realizada com o coordenador do subprojeto optou-se pela realização de uma

intervenção, perguntando ao mesmo se o Pibid tem criado “ilhas de excelência” 20

:

Gostaria de esclarecer um aspecto, me diga o que você pensa a respeito disso, “como os

bolsistas tem toda essa estrutura em torno deles, de ter a iniciação à docência em plena

formação, os outros licenciandos que não participaram do Pibid, estão tendo as mesmas

possibilidades. Seria o Pibid uma ilha de excelência” (Pesquisadora)?

O coordenador respondeu o seguinte:

Eu não tenho fundamentação teórica pertinente para te responder o que é uma

ilha de excelência. Tenho algumas vagas ideias baseadas apenas no senso

comum. Se nos formos analisar, os alunos que participam do Pibid são alunos

diferenciados sim, em relação aos outros alunos que participam da graduação

normal. Porém os alunos que estão no curso de licenciatura em química

passam pelas disciplinas que estão no currículo formal para subsidiar e

auxiliá-los na construção da identidade profissional. O que o programa Pibid

vem acrescentar é esse incentivo aos alunos permanecerem na docência.

Muitos alunos participam do projeto sem ter essa identidade. Por exemplo, se

eu estou fazendo um curso de bacharelado, você observa que a maioria dos

alunos já está desenvolvendo pesquisas de iniciação científica, na área de

orgânica, na área de inorgânica, na área de físico química, ou seja, os alunos

de bacharelado estão criando uma identidade profissional enquanto químico

de laboratório, e os alunos participantes do Pibid tem a possibilidade de ter

uma iniciação científica, voltada pra docência, ou seja, iniciação à docência

[...]. Os alunos que não participam desses programas de iniciação científica e

iniciação a docência só iriam ter esse contato nas disciplinas de estágio, mas

não tem como negar que quem participa do Pibid é diferenciado. Contudo o

currículo do curso da subsidio para formação da identidade enquanto

docente, porque desde o primeiro semestre eles já vêem as disciplinas de

psicologia, no segundo semestre já começam a ter instrumentação para o

ensino de química, metodologia, e redação cientifica, eles também escrevem

projeto de pesquisa. [...] Então a uma diferença sim entre os alunos que

20

Neste caso nos referimos aos debates que se iniciaram nos últimos anos sobre Pibic e Pibid, nos eventos

científicos, seminários integradores, entre outros espaços que se discutem a contribuição de programas

como estes. Esses debates são recentes, e por esse motivo, poderíamos sugerir futuras investigações sobre

a temática. Em linhas gerais baseado apenas nas atuais discussões entendemos que se criam “ilhas de

excelência” quando existem pequenos grupos que de certa forma dentro de uma estrutura mais ampla

possuem algum beneficio em relação aos demais. No Pibid isso se centra na questão do bolsista passar um

período prolongado na escola, seu futuro ambiente profissional, desenvolvendo sua prática pedagógica

em ambiente real de ensino.

147

fazem parte do Pibid e que os não fazem como também a uma diferença entre

os que fazem Pibic e o que não fazem. Também podemos analisar essa

situação e afirmar que existiriam ilhas de excelência se privilegiássemos um

grupo de alunos em detrimentos de outros e não é isso que acontece. O

objetivo do programa é para todos licenciandos, para os que se identificam

com a docência, e, que querem ter a iniciação à docência em plena formação.

Caso não tenha bolsas suficientes para o número de estudantes interessados

os mesmos podem participar do programa como bolsista ou voluntário

(Coordenador do Subprojeto).

Compartilhamos da ideia que a formação do professor deve estar fundamentada

na prática pedagógica, com articulação entre teoria e prática, por isso denominasse

práxis pedagógica, contudo precisamos enfatizar que a formação docente não deve ser

apenas baseada na prática, muito menos apenas com teoria específica, deve haver

equilíbrio entre o campo conceitual e metodológico. Partilhamos da acepção defendida

por Perrenoud (1993), quando se refere ao equilíbrio teórico e metodológico, para o

autor o professor principiante precisa se sentir a vontade em sala de aula. O autor

argumenta que isso, geralmente, acontece quando se tem o domínio dos gestos

profissionais. Perrenoud (1993) faz uma analogia interessante para explicar a

importância do equilíbrio teórico prático, quando cita o exemplo de como aprendemos a

nadar. O autor enfatiza que não aprendemos a nadar pelos livros.

5.3 - AS INTERFACES POSSÍVEIS ENTRE PIBID E ESTÁGIO

SUPERVISIONADO, NAS DIMENSÕES: Teórica, Prática e Documental

Em relação à iniciação à docência, as finalidades do Pibid e do estágio

supervisionado, estão dentro de um limite muito tênue, o que foi demonstrado pela

análise das dimensões: teórica, prática e documental. Em muitas situações os dois se

assemelham muito, gerando confusões, por exemplo, para os próprios atores do

ambiente educacional da escola básica, que vêem os pibidianos como estagiários. O

próprio bolsista faz algumas confusões. O ex-bolsista 01 apresentou-se confuso ao falar

das semelhanças e diferenças entre Pibid e estágio supervisionado.

Eu vejo semelhanças. Ah não sei. Percebo que o Pibid é mais prático, mais o

estágio também deveria ser assim. O Estágio tem várias fases: a observação

você olha, você tem uma coisa teórica ali, e você analisa. Daí tem a

monitoria, e é pouco tempo, é um semestre só. No Pibid o bolsista tem um

148

tempo maior dessa forma conseguem se relacionar com os alunos em sala

de aula. E o estágio não, às vezes você esta com uma sala, como por

exemplo, no meu estágio observação eu só tinha tempo à noite e só pude ficar

com uma sala, e a noite é totalmente diferente do matutino ou do vespertino.

Então acaba sendo diferente. No Pibid existe relacionamento entre os

bolsistas e os alunos, você consegue desenvolver mais a matéria, porque a

gente esta sempre naquele colégio, e o estágio não, às vezes você precisa

variar a escola, às vezes você não pode ficar, é muito superficial; No estágio

você não vê uma realidade daquilo que realmente é, até o colégio, um

exemplo claro disso. É que no Pibid você conhece os funcionários, no estágio

você acaba indo na escola apenas pra aquela aula. Ex-bolsista nº 8.

Tanto para o Pibid, quanto para o estágio as práticas pedagógicas, por parte

dos licenciandos investigados, são fundamentais para construção da identidade docente

e dos saberes específicos da docência. Podemos considerar que a prolongada relação do

bolsista na escola é uma das contribuições do PIBID. Para Pimenta e Lima (2004), a

formação inicial de professores precisa ser fundamentada na práxis pedagógica, com a

reflexão diária desses licenciandos sobre suas ações no ambiente escolar, a qual é

possibilitada pelo estágio supervisionado, e que, também é um importante objetivo do

Pibid.

Schön (1992) argumenta que só é possível a efetiva formação de professores

reflexivos, e a construção do próprio saber escolar com a inserção destes no ambiente

educacional. Porém, como reafirmam Pimenta e Lima (2004) os programas de

formação, ou seja, os currículos de graduação pouco ajudam os licenciandos a lidar com

suas necessidades formativas, já o Pibid possibilita aos licenciando bolsista a inserção

na escola pública, de forma supervisionada pelos supervisores e coordenadores do

programa, por meio da articulação entre universidade e escola, subsidiada por uma bolsa

mensal de iniciação à docência. As principais diferenças levantadas pelos bolsistas

estão centralizadas na questão da práxis pedagógica, do maior contato com a escola,

como aparece na fala do bolsista nº 10.

Eu acho que no Pibid a gente tem contato maior com os alunos, você conhece

mais os alunos talvez porque no Pibid você tenha mais tempo, já no estágio

supervisionado você não conhece muito bem os alunos. O aluno que fez parte

do Pibid tem bem mais conhecimento prático, tem uma visão mais ampla,

uma articulação melhor em sala de aula. Voltando a questão do estágio é

nesse momento que eu tenho que dar a aula e a gente não se envolve tanto

com os alunos como os bolsistas do Pibid. Eu acho que a diferença está no

aluno, pois o bolsista do Pibid consegue se envolver melhor e articular

melhor suas aulas do que um estagiário, por que ele esta ali realmente para

dar aula, dividir conhecimento. Eu acredito que o Pibid pode ser

149

considerado estágio sim, por que se você parar pra pensar nós bolsistas

conhecemos o funcionamento da escola, fazendo planejamentos,

participando da sala do professor. Nós tínhamos conhecimento do

planejamento global e diário. Na verdade, o aluno do Pibid se envolve bem

mais em todas as questões diárias da escola, como na organização da escola e

da sala de aula, até a articulação entre o licenciando e o professor supervisor

é melhor. Eu acho que o Pibid pode sim se considerado estágio

supervisionado só que de uma forma bem melhor. Ex-bolsista 10 (grifo

nosso).

No período de atuação no ambiente educacional da escola básica o licenciando

bolsista busca refletir e problematizar o trabalho docente, de forma continuada,

articulando teoria e prática. Não seria essa também a finalidade do estágio

supervisionado? Nesse momento o Estágio se distancia do Pibid visto que o estágio só

ocorre na segunda metade do curso, ainda de forma fragmentada por meio das práticas

de ensino, passando pelas etapas de observação, monitoria e regência.

Em relação à inserção dos licenciandos no ambiente real de ensino o

Coordenador do subprojeto destaca que um dos principais objetivos e finalidades do

Pibid são o incentivo a formação de professores para atuação na educação básica, por

meio da vivência desses com os conflitos e desafios do ambiente real de ensino,

Nós temos bolsistas do 2º ao 8º semestre participando do programa, e para

formação da identidade docente, o contato com a realidade escolar, com o

ambiente de trabalho é fundamental, já no curso de licenciatura esse contato

só inicia no 5º semestre. Os bolsistas conhecem a estrutura e funcionamento

da escola, conhecem o trabalho do professor e da sala de aula, realizam

intervenções pedagógicas, com aulas teóricas, aulas dialogadas, aulas

experimentais, eles confeccionam jogos didáticos, realizam monitorias para

os estudantes da educação básica que apresentam dificuldades, fazem plantão

tira-dúvidas, aula de campo, participam de minicursos, conseguindo assim

uma experiência sobre o ambiente escolar que só seria possível nas

disciplinas de estágio supervisionado. Os bolsistas conseguem fazer um link

entre a prática e as teorias por meio das discussões sobre os processos de

ensino-aprendizagem, ensino de química e a vivência no ambiente

educacional da escola pública, nesse sentido a participação no Pibid é muito

significativa porque fundamenta e caracteriza a identidade do profissional

docente, desde o início da carreira fazendo com ele veja se é essa profissão

que realmente quer seguir (Coordenador do Subprojeto).

O coordenador argumenta que o licenciando bolsistas tem a possibilidade de

articular teoria e prática, sendo a parte teórica vista por ele na universidade em todas as

disciplinas da área específica e de ensino, discutido nos ciclos de estudos com enfoque

no ensino-aprendizagem e aplicado à prática na escola de educação básica, ou seja, em

seu próprio ambiente de trabalho. Constatamos que a articulação entre universidade e

150

escola possibilitada pelo programa, contribui para fundamentação teórica da prática

profissional e consequentemente toma a prática como referência para fundamentação

teórica. Vale lembrar que de acordo com Pimenta e Lima (2004) o curso de licenciatura

não está conseguindo realizar essa articulação. Novamente, nos indagamos: não seria

essa a função do estágio supervisionado? Porém o estágio realizado apenas a partir do 5º

semestre do curso é capaz de realizar esta articulação? Como argumenta Pimenta e

Lima,

Na verdade os currículos de formação tem-se constituído em um

aglomerado de disciplinas isoladas entre si, sem qualquer explicitação de

seus nexos com a realidade que lhe deu origem. Assim nem sequer se pode

denominá-los teorias, pois são apenas saberes disciplinares em cursos de

formação, que em geral estão completamente desvinculados do campo de

atuação profissional dos futuros formandos (2004, p.33).

Nesse sentido podemos refletir que parte das contribuições do Pibid se refere à

possibilidade instrumental sobre a inserção do estudante no seu campo de trabalho, visto

que o programa o capacita para atuar como professor da educação básica com uma

carga de experiência que não seria possível somente no curso de graduação. O

licenciando tem a possibilidade de resignificar a sua prática docente por meio da

reflexão sobre a prática diária no contexto real de ensino. Nesse sentido, percebemos

por meio das leituras de teóricos que estudam a temática dos estágios supervisionados,

que o Pibid se assemelha muito ao mesmo, ou seja, apresenta as mesmas finalidades e

objetivos, como, formar o profissional em seu ambiente de trabalho.

Sobre o estágio curricular Pimenta e Lima (2004, p. 24) afirmam que a

finalidade do mesmo é “integrar o processo de formação do aluno, futuro profissional,

de modo a considerar o campo de atuação como objeto de análise, de investigação e de

interpretação crítica, a partir dos nexos com as disciplinas do curso”. Novamente na

dimensão teórica percebemos a aproximação do Pibid e do estágio, pois é um objetivo

do estágio e também do Pibid a formação do licenciando baseada em perspectiva crítica

do processo formativo e da prática profissional.

Para Pimenta e Lima (2004, p. 35) “o estágio como pesquisa já se encontra

presentes em grupos isolados. No entanto, entendemos que precisa ser assumido como

horizonte ou utopia a ser conquistada no projeto dos cursos de formação”, novamente,

reafirmo que o programa é uma utopia que vem sendo realizada, visto que dentre as

contribuições relativas à formação inicial do professor de Química, o Subprojeto Pibid-

151

Química UFMT aflorou naturalmente nos licenciandos bolsistas o perfil de professor-

pesquisador. Na dimensão documental esse, também, é um dos objetivos descritos no

Edital-CAPES (2007) “proporcionar aos futuros professores participação em ações,

experiências metodológicas e práticas docentes inovadoras, articuladas com a realidade

local da escola”. Na dimensão prática, o coordenador do subprojeto discutiu o

desenvolvimento nos licenciandos do perfil de professor-pesquisador da prática

pedagógica,

No Pibid, nós promovemos ciclo de estudos, participamos de

encontros para discutir resultados de pesquisa. Para fazermos a reflexão sobre

a prática estamos em constantes estudos, temos que pesquisar e a todo o

momento estamos desenvolvendo alguma pesquisa, participando de eventos,

participando de seminários, participando de palestras, promovendo

seminários, promovendo ciclo de estudos e ciclo de debates (Coordenador

do subprojeto).

Ainda, discutindo com o coordenador sobre as contribuições do Pibid para

formação inicial do licenciando, fica evidente que o Pibid tem a função de apoiar a

formação desses alunos, com uma carga de experiência que não seria possível somente

no curso de formação,

Então voltando aos aspectos que o Pibid contribui para o licenciando

é realmente isso, possibilitar uma reflexão melhor ao licenciando sobre a

realidade escolar, sobre a formação docente, durante a sua formação, não

deixando isso apenas na responsabilidade das disciplinas pedagógicas do

currículo formal, então durante sua formação eles tem a possibilidade de

refletir, de pesquisar, de participar de eventos, de debates, isso sem estar

atrelado a um currículo fixo, sem estar amarrada a obrigatoriedade da

disciplina, e isso é muito significativo para formação desses alunos

(Coordenador do Subprojeto).

Nesse momento, percebemos na fala do coordenador que as atividades do Pibid

são complementares à formação docente, que a enriquecem, possibilitando aos

licenciandos a resignificação da prática docente, a problematização do espaço escolar

para formação profissional. Na dimensão documental, os objetivos descritos, nos

mostram a preocupação com a melhoria e qualidade das ações voltadas a formação de

professores, no 1º art. do Decreto 7.219, fica estabelecido, que

Art. 1o O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência

- Pibid, executado no âmbito da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal

de Nível Superior - Capes, tem por finalidade fomentar a iniciação à

docência, contribuindo para o aperfeiçoamento da formação de docentes em

nível superior e para a melhoria de qualidade da educação básica pública

brasileira.

152

Nesse sentido, podemos caracterizar o programa como um fomentador da

formação de professores para educação básica, e fomentar significa promover o

progresso, incitar, favorecer, animar, ou seja, a visão do programa é a de promover o

progresso dos cursos de licenciatura, como bem aparece no Edital Capes (2007) em

alguns dos seus objetivos,

Estimular a integração da educação superior com a educação básica

no ensino fundamental e médio, de modo a estabelecer projetos de

cooperação que elevem a qualidade do ensino nas escolas da rede

pública;

Elevar a qualidade das ações acadêmicas voltadas à formação inicial

de professores nos cursos de licenciaturas das instituições federais

de educação superior;

Valorização do espaço da escola pública como campo de

experiência para a construção do conhecimento na formação de

professores para a educação básica;

Percebe-se com a leitura atenciosa dos documentos que fundamentam o

programa que sua principal preocupação é com a melhoria da qualidade da formação

dos professores. E, aliando esta constatação ao discurso de estudiosos da temática de

estágio, percebemos que em parte essa preocupação pode ser explicada pelos desafios e

carências da formação inicial e principalmente da execução dos estágios vistos que esse

unanimente vem enfrentando dificuldades para sua realização efetiva (LIMA e

PIMENTA, 2004; BACON e ARRUDA, 2010; BURRIOLA, 2006; FAZENDA, ET al,

1994).

Compartilhamos da ideia que a experiência prática em sala de aula é parte

imprescindível para o processo de iniciação à docência, mas essa experiência só é

efetivamente conquistada por meio de um trabalho coletivo e articulada entre

universidade e escola, professor de estágio e professor supervisor, ou seja, se faz

necessário o diálogo entre ambos objetivando alcançar os melhores resultados dessa

experiência prática em sala de aula pelo licenciando.

O Pibid traz na dimensão prática e documental a preocupação com a

articulação entre universidade e escola, e entre os professores, como bem aparece em

alguns objetivos descritos no Decreto 7.219:

III - elevar a qualidade da formação inicial de professores nos cursos

de licenciatura, promovendo a integração entre educação superior e educação

básica;

153

IV - inserir os licenciandos no cotidiano de escolas da rede pública de

educação, proporcionando-lhes oportunidades de criação e participação em

experiências metodológicas, tecnológicas e práticas docentes de caráter

inovador e interdisciplinar que busquem a superação de problemas

identificados no processo de ensino-aprendizagem;

V - incentivar escolas públicas de educação básica, mobilizando seus

professores como coformadores dos futuros docentes e tornando-as

protagonistas nos processos de formação inicial para o magistério; e

VI - contribuir para a articulação entre teoria e prática necessárias à

formação dos docentes, elevando a qualidade das ações acadêmicas nos

cursos de licenciatura.

O Pibid demonstra a preocupação com o posicionamento do professor da

escola pública de educação básica, buscando mobilizá-lo a ocupar um papel de

coformador, tornando-se protagonista no processo de formação inicial. Esse é um dos

motivos apresentados na dimensão teórica para questionar os resultados do estágio.

Grande parte dos professores da escola básica não atua como

formador, limitando-se apenas a receber os estagiários em sua sala.

Certamente, isso decorre, pelo fato de que, em geral, a universidade não faz

um convite claro para que ele possa ter uma participação um pouco mais

ativa nesse processo. Com relação à escola, em muitas delas, os estagiários

ainda são vistos como um incômodo, no sentido de quebrarem a rotina da

sala de aula ou, quando muito, são vistos como substitutos provisórios para

cobrir a ausência de algum professor. Da parte do estagiário, o estágio, às

vezes, é visto como uma tarefa a mais a ser cumprida, e não como um

momento importante de sua formação (BACON e ARRUDA, 2010, p. 508).

Quando perguntado ao professor se existe diferenças entre o professor

supervisor do programa e o professor supervisor de estágio, o mesmo argumenta,

Há uma diferença sim, por que o supervisor do Pibid desde o início sabe dos

objetivos do programa, da sua proposta, e o mesmo sabe que é um

corresponsável pela formação dos bolsistas, então todo subsidio e aporte

teórico-metodológico que ele venha necessitar, o mesmo vem recorrer a esse

conhecimento através de nós na UFMT. E a diferença do professor que

acompanha só no estágio supervisionado é que em muitos casos nos só

vamos ter contato com ele no período do estágio [...]. A relação do supervisor

com a universidade é muito mais efetiva que a relação do professor do

estágio (Coordenador do Subprojeto).

Ao fazer a análise da interface entre as partes teórica, prática e documental se

percebem a intencionalidade do programa, em realizar uma proposta muito semelhante a

do estágio supervisionado, a de inserir o aluno licenciando na escola pública durante a

154

formação, porém de forma mais articulada e supervisionada pelo professor da

universidade e da escola, integrada pelo diálogo entre universidade e escola. A

intervenção do programa não seria uma forma de fazer com que a proposta do estágio

no currículo de graduação fosse realmente efetivada.

O Pibid se diferencia do estágio supervisionado por ser uma proposta

extracurricular, com carga horária maior que a estabelecida pelo Conselho

Nacional de Educação - CNE para o estágio e por acolher bolsistas desde o

primeiro semestre letivo, se assim definirem as IES em seu projeto. A

inserção no cotidiano das escolas deve ser orgânica e não de caráter de

observação, como muitas vezes acontece no estágio. A vivência de múltiplos

aspectos pedagógicos das escolas é essencial ao bolsista. Relatório Final de

Gestão 2009-2011/DEB/CAPES, p. 30.

Em resumo, a experiência proporcionada pelo estágio e pelo Pibid está imbuída

das expectativas dos licenciandos, de como a escola vê e recebe este estagiário, de sua

socialização com os pares, de como o professor regente e supervisor lida com esse

processo, ou seja, das relações e limitações dos envolvidos. Em relação às semelhanças

do Pibid e do estágio na dimensão prática, o coordenador do subprojeto argumenta,

O estágio supervisionado é o momento do curso de formação de professores,

onde o licenciando que não teve contato com o ambiente escolar, com a

realidade da escola começa conhecer todos os processos de funcionamento da

unidade escolar. Por meio do estágio supervisionado os alunos começam a

construir sua identidade profissional. O Pibid se assemelha bastante ao

estágio. As atividades que nós desenvolvemos nesse programa de iniciação à

docência estão atreladas as atividades que o estágio supervisionado

desenvolve, porque primeiro no estágio supervisionado, nós fazemos a

observação e caracterização da unidade escolar, no Pibid também. No

segundo momento do estágio supervisionado, eles começam a trabalhar a

relação pedagógica professor / aluno, das disciplinas de Ciências e Química

em sala de aula, o processo de ensino de aprendizagem, fazem pequenas

intervenções pedagógicas, como monitoria, participações de minicursos, no

Pibid isso também ocorre. Quase no último momento do estágio, os alunos

começam a regência em sala de aula, sob supervisão de um docente. O Pibid

passa pelo mesmo processo. O programa realmente está muito atrelado ao

estágio supervisionado. Coordenador do Subprojeto (grifo nosso).

Com a análise das dimensões teórica, prática e dos documentos oficiais,

podemos sugerir, com base na fala dos sujeitos, que existem semelhanças entre Pibid e

Estágio e que um contribui com o outro, pois ambos dividem uma sistemática

acadêmica indutora, focada na prática pedagógica e na inserção do licenciando no

ambiente educacional público. Nos documentos oficiais não há uma explicação

epistemológica dos objetivos do Pibid, mostrando o distanciamento que deve existir

155

entre o programa e o estágio, concluímos que não está claro nos documentos que o

programa de forma alguma deve ser considerado estágio, porém percebemos que a

principal diferença entre ambos, se refere ao desempenho profissional do licenciando. O

Pibid não substitui o estágio, o aluno bolsista do Pibid não tem a função da profissional

da regência (como o estagiário), ou seja, ele não assume a sala de aula, a função

pedagógica como o profissional docente responsável pelas ações que ocorrem naquele

ambiente, e sim como um licenciando em processo de iniciação à docência,

supervisionado pelo supervisor e coordenadores do programa.

Como já mencionado, as atividades do Pibid se assemelham muito às

atividades do estágio, porém são apenas complementares. O aluno no estágio se coloca

na função docente, vivencia sua natureza profissional, discute com seus colegas dentro

do contexto de sua formação inicial. O Pibid colabora com isso, porém, não substitui a

dinâmica do estágio e seus objetivos.

156

CAPITULO VI

CONSIDERAÇÕES

“Ninguém ignora tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos

alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso

aprendemos sempre” (Paulo Freire)

Neste capítulo, apresentaremos as considerações da presente investigação, as

suas limitações. Também propomos algumas sugestões para investigações futuras.

Esta investigação foi feita na tentativa de respondermos a principal questão

norteadora deste trabalho que é “Em que aspectos o projeto PIBID/UFMT contribuiu

para formação inicial e iniciação à docência dos participantes do subprojeto Química

PIBID/Edital 2007?”. A fim de elucidar essa questão, coletamos dados dos sujeitos

envolvidos no Subprojeto de Química, do referido edital citado acima, utilizamos

diferentes instrumentos de coleta de dados com o objetivo principal de analisar as

contribuições do Pibid para formação inicial dos licenciandos de Química na visão dos

ex-bolsistas, das supervisoras e do coordenador do subprojeto de Química.

As análises desenvolvidas neste estudo remetem ao entendimento de que o Pibid

vem se tornando uma política pública muito importante de valorização do magistério,

possibilitando aos licenciandos atuação no seu campo de trabalho desde o início de sua

formação. O Programa é um das mais importantes iniciativas do país no que diz

respeito à formação de professores, por meio de uma nova proposta de incentivo e

valorização do magistério.

O Subprojeto de Química analisado nesta investigação proporcionou aos

bolsistas, participação em experiências metodológicas inovadoras ao longo de sua

graduação, percebemos que uma das principais contribuições do programa é a prática

pedagógica em ambiente real de ensino. Schön (1992) argumenta que só é possível a

efetiva formação de professores reflexivos, e a construção do próprio saber escolar com

a inserção destes no ambiente educacional.

O Pibid tem oportunizado o contato dos licenciandos direto com a realidade

escolar desde os primeiros anos de sua graduação, logo esse contato não ocorre apenas

nos momentos do estágio supervisionado, as atividades propostas no subprojeto foram

157

pensadas sob uma perspectiva de atuação diferenciada, permitindo ao bolsista um

amadurecimento da docência ao longo de sua formação e preparando-os para seu futuro

campo de atuação. Os dados analisados principalmente referentes à fala dos sujeitos

mostram evidenciais que a prolongada relação do bolsista na escola possibilita o

respeito à comunidade, e à escola de educação básica pública, pois a bolsista vivência

situações reais de ensino que envolve além do conteúdo Químico, por meio das relações

interpessoais os bolsistas vivenciam aspectos sociais e políticos da comunidade escolar.

O Pibid tem proporcionado a valorização dos cursos de licenciatura, dentro da

estrutura universitária que ate 2007 possuía o Pibic como principal projeto de iniciação.

A convivência dos graduandos no ambiente escolar público com o exercício da função

docente, em condições estimulantes, criativas e diversificadas tem proporcionado

algumas contribuições a formação inicial dos licenciandos em Química, tais como,

construção da identidade docente, melhor articulação teoria e prática, prática

pedagógica no contexto real profissional, definição da escolha profissional, reflexão

crítica da prática pedagógica e permanência na profissão.

Compartilhamos da ideia que a teoria universitária do curso de licenciatura

articulada à prática escolar, em especial ao ambiente educacional, fornece importantes

ferramentas ao processo de formação e profissionalização docente. Brezezinski (2008)

discute a questão da articulação “teoria e prática”, enfatizando que o saber e ação

docente precisam estar atrelados as concepções de sociedade, homem, educação,

conhecimento específico, habilidades operativas, técnicas e tecnológicas. Logo, essa

fase de profissionalização contribui para construção de saberes que Tardif (2002)

caracteriza como saberes específicos da docência.

A dimensão documental do Pibid demonstra a preocupação com o

posicionamento do professor da escola pública de educação básica, buscando mobilizá-

lo a ocupar um papel de coformador, tornando-se protagonista no processo de formação

inicial. A partir dos dados coletados, podemos concluir que o Pibid constitui-se como

um programa inovador voltado especificamente à formação de professores.

O programa apresenta aspectos positivos referentes à interação entre alunos da

graduação, professores em serviço e estudantes da educação básica que contribuem para

definição da identidade docente e permanência na carreira. As aproximações com a

educação básica oportunizam aos futuros professores envolvidos no projeto uma visão

158

sobre a escola e a docência, diferenciada daquela que normalmente lhes é incutida na

graduação ou no curto período dos estágios ainda fragmentados como argumenta

Pimenta e Lima (2004).

Em relação à iniciação à docência, as finalidades do Pibid e do estágio

supervisionado, estão dentro de um limite muito tênue, o que foi demonstrado pela

análise das dimensões: teórica, prática e documental. Em muitas situações os dois se

assemelham muito, gerando confusões, aos próprios atores do ambiente educacional da

escola básica. O Pibid e estágio enfatizam a importância das práticas pedagógicas no

contexto profissional da escola de educação básica. Corroboramos com Pimenta e Lima

(2004), no sentido de enfatizar que a práxis pedagógica, fornece possibilidades ao

licenciando de refletir e problematizar as ações educativas. Parte das contribuições do

Pibid se refere à possibilidade são de caráter instrumental, por meio da inserção do

estudante no seu campo de trabalho, com uma carga de experiência que não seria

possível somente no curso de graduação.

Pimenta e Lima (2004, p. 24) afirmam que o estágio supervisionado tem a

finalidade de “integrar o processo de formação do aluno, futuro profissional, de modo a

considerar o campo de atuação como objeto de análise, de investigação e de

interpretação crítica, a partir dos nexos com as disciplinas do curso”. Percebemos da

dimensão teórica que se refere ao estágio uma linha muito tênue com os objetivos e

finalidades do Pibid. Percebemos que as interfaces que aproximam Pibid e Estágio

supervisionado nas dimensões: teórica, prática e documental se referem à inserção do

licenciando na escola pública durante a formação. Contudo esse contato com ambiente

educacional proposto pelo Pibid ocorre de forma mais articulada, em especial pelo

diálogo entre universidade e escola e da efetiva participação do supervisor como co-

formador.

Com a análise das dimensões teórica, prática e dos documentos oficiais,

podemos sugerir, que existem semelhanças entre Pibid e Estágio, mais destacamos que

ambos se complementam e que não deve haver substituição de um por outro. Na

realidade o que deve haver é contribuições mutuas, pois ambos dividem uma sistemática

acadêmica indutora, focada na prática pedagógica e na inserção do licenciando no

ambiente educacional público. É importante destacar que o Pibid não substitui o estágio,

o aluno bolsista do Pibid não tem a função profissional da regência (como o estagiário),

159

ou seja, ele não assume a sala de aula, a função pedagógica como o profissional docente

responsável pelas ações que ocorrem naquele ambiente, e sim como um licenciando em

processo de iniciação à docência, supervisionado pelo supervisor e coordenadores do

programa.

A presente pesquisa identificou possibilidades de futuras investigações, tais

como abordagem da temática de Ilhas de Excelência, sugerimos também maiores

aprofundamentos na temática sobre Pibid e Estágio Supervisionado. Percebemos

também que o tema instiga futuros estudos no campo das políticas públicas para

formação de professores, com ênfase na recontextualização da prática.

160

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168

APÊNDICES

169

APÊNDICE A

Questionário 01 – Caracterização dos Ex-bolsistas participantes do Subprojeto de

Química do Pibid/UFMT Edital 2007, quanto ao perfil socioeconômico e formação

acadêmica.

170

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO A DOCÊNCIA

LABORATÓRIO DE PESQUISA E ENSINO DE QUÍMICA

QUESTIONÁRIO DESTINADO AOS LICENCIANDOS E LICENCIADOS DO

CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM QUÍMICA DA UFMT – CAMPUS

CUIABÁ, PARTICIPANTES DO SUBPROJETO QUÍMICA-Pibid EDITAL 2007.

Solicito sua colaboração no sentido de responder ao presente questionário. O

objetivo é caracterizar os sujeitos que participarão da pesquisa de “Dissertação de

Mestrado” que se propõe investigar a “Em que aspectos o projeto Pibid/UFMT

contribui para iniciação à docência em relação às necessidades formativas do

professor de Química?”, com orientação da Profa. Dra. Irene Cristina de Mello,

Coordenadora Institucional do Pibid e Professora do Programa de Pós-graduação em

Educação da Universidade Federal de Mato Grosso. As informações obtidas poderão ser

utilizadas em futuras publicações, porém será garantido o absoluto anonimato quanto às

respostas.A sua opinião é fundamental para o sucesso deste trabalho. Sendo assim,

solicito que responda a este questionário com muita atenção.

Larissa Kely Dantas – Licenciada em Química e Mestranda em Educação

BLOCO I – DADOS PESSOAIS E SÓCIO-ECONÔMICOS:

1 - Nome Completo:

2 - Data de nascimento:

3 – Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino.

4 – Estado Civil: ( )Solteiro(a) ( )Casado(a) ( )Outro:

171

5 – Quantidade de pessoas na

sua família:

6 - Telefone:

7 – E-mail:

8 - Em relação a sua cor você se

considera:

( ) Branco ( )Negro ( ) Pardo ( )Outro:

9 - Você tem filhos (as): ( )Sim ( )Não. Quantos:

10 - Você possui casa própria? ( )Sim ( )Não

11 - Qual o meio de transporte

você utiliza para vir para a

universidade ou para ir à escola

onde trabalha?

( )Ônibus ( ) Carro ( ) A pé ( ) Outro:

12 - Qual a atividade

profissional ou acadêmica que

esta realizando atualmente?

BLOCO II – FORMAÇÃO ACADÊMICA:

13 – Você cursou seu ensino

médio:

( ) Todo em escola pública

( ) Todo em escola particular

( ) Maior parte em escola pública

( ) Maior parte em escola particular

14 – Quantas vezes você prestou

vestibular?

15 – Se prestou vestibular mais

de uma vez, foi para qual (ais)

172

cursos?

16 – Ano de ingresso no curso

de Licenciatura em Química:

Período que cursa atualmente:

( ) Concluído, ano de conclusão:

17 – Qual (ais) o(s) motivo(s) o

levou (aram) a escolher o curso

de Licenciatura em Química?

*Assinale quantas alternativas julgar necessárias.

( ) Aptidão pela docência

( ) Baixa concorrência

( ) Possibilidade de Cursar o Bacharelado em menos tempo

( ) Boas oportunidades no mercado de trabalho

( ) falta de conhecimento do curso na hora da escolha para o

vestibular

( ) Outros, quais:

18 – Quais foram/são suas

principais dificuldades no curso

de Química?

*Assinale quantas alternativas julgar necessárias.

( ) Falta de base em conhecimentos matemáticos e químicos do

ensino médio

( ) Dificuldades nas matérias pedagógicas para formação de

professor

( ) Falta de entendimento nas disciplinas de química devido à

falta de contextualização

( ) Falta de relação da práxis pedagógica, ou seja, relação da

teoria com a prática

( ) falta de estágios na área

( ) Falta de incentivo dos professores formadores do curso

( ) Problemas Financeiros

( ) Horário do curso – Vespertino e Noturno

( ) Outros, quais:

19 - Se você ainda esta cursando

Química Licenciatura, o que

pretende fazer após a conclusão

do curso?

20 – Na sua formação o que

você considera essencial para

ser professor de Química?

Obrigada pela atenção!

Mestranda Larissa Kely Dantas

Laboratório de Pesquisa e Ensino de Química – www.ufmt.br/labpeq

Área de Ensino de Química – 3615-8768

173

APÊNDICE B

Questionário 02 – Caracterização das Professoras Supervisoras participantes do

Subprojeto de Química do Pibid/UFMT Edital 2007, quanto ao perfil

socioeconômico, formação acadêmica e profissão docente.

174

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO A DOCÊNCIA

LABORATÓRIO DE PESQUISA E ENSINO DE QUÍMICA

QUESTIONÁRIO DESTINADO AO SUPERVISOR (A) DO SUBPROJETO Pibid

QUÍMICA/UFMT EDITAL 2007

Solicito sua colaboração no sentido de responder ao presente questionário. O

objetivo é caracterizar o perfil dos sujeitos que participarão da pesquisa de

“Dissertação de Mestrado” que se propõe investigar a “Em que aspectos o projeto

Pibid/UFMT contribui para iniciação à docência em relação às necessidades

formativas do professor de Química?”, com orientação da Profa. Dra. Irene Cristina de

Mello, Coordenadora Institucional do Pibid e Professora do Programa de Pós-graduação

em Educação da Universidade Federal de Mato Grosso. As informações obtidas poderão

ser utilizadas em futuras publicações, porém será garantido o absoluto anonimato

quanto às respostas.

Antecipadamente agradeço sua colaboração no preenchimento deste questionário e

também, o cuidado, a atenção e a seriedade que dispensar à tarefa.

Larissa Kely Dantas – Licenciada em Química e Mestranda em Educação.

BLOCO I – DADOS PESSOAIS E SÓCIO-ECONÔMICOS:

1 - Nome Completo:

2 - Data de nascimento:

3 – Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino.

4 – Estado Civil: ( )Solteiro(a) ( )Casado(a) ( )Outro:

175

5 – Quantidade de pessoas na

sua família:

6 - Telefone:

7 – E-mail:

8 - Qual o seu regime de

trabalho?

9 - Em média, quantas horas

você trabalha por dia?

10 – Quantas horas semanais

você dedica ao Pibid?

BLOCO II – FORMAÇÃO ACADÊMICA:

11 - Você cursou seu ensino

médio:

( ) Todo em escola pública

( ) Todo em escola particular

( ) Maior parte em escola pública

( ) Maior parte em escola particular

12 - Qual sua Formação em

Graduação.

Graduação:

Instituição:

Ano de Conclusão:

13 – Você possui pós-

graduação, qual:

Latu Senso: ( ) Especialização

Área:

Stricto Senso: ( ) Mestrado ( ) Doutorado ( ) Pós-Doutorado

Área:

176

BLOCO III – PROFISSÃO DOCENTE:

14 - Você atua como docente em

Ciências, Química ou outra

disciplina na educação básica

(Ensino Fundamental e/ou

Médio) há quanto tempo?

15 - Em que ano você ingressou

na carreira como docente da

rede pública de ensino?

16 - O que levou você a atuar no

subprojeto Pibid

Química/UFMT?

17 – Você realiza pesquisas em

ensino de Química?

18 – Qual a importância do

Pibid em sua opinião:

Obrigada pela atenção!

Mestranda Larissa Kely Dantas

Laboratório de Pesquisa e Ensino de Química – www.ufmt.br/labpeq

Área de Ensino de Química – 3615-8768

177

APÊNDICE C

Questionário 03 – Caracterização do Coordenador participante do Subprojeto de

Química do Pibid/UFMT Edital 2007, quanto ao perfil socioeconômico, formação

acadêmica e profissão docente.

178

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO A DOCÊNCIA

LABORATÓRIO DE PESQUISA E ENSINO DE QUÍMICA

QUESTIONÁRIO DESTINADO AO COORDENADOR DE ÁREA DO

SUBPROJETO Pibid QUÍMICA/UFMT EDITAL 2007 E CORDDENADORA

INSTITUCIONAL

Solicito sua colaboração no sentido de responder ao presente questionário. O

objetivo é caracterizar os sujeitos que participarão da pesquisa de “Dissertação de

Mestrado” que se propõe investigar a “Em que aspectos o projeto Pibid/UFMT

contribui para iniciação à docência em relação às necessidades formativas do

professor de Química?”, com orientação da Profa. Dra. Irene Cristina de Mello,

Coordenadora Institucional do Pibid e Professora do Programa de Pós-graduação em

Educação da Universidade Federal de Mato Grosso. As informações obtidas poderão ser

utilizadas em futuras publicações, porém será garantido o absoluto anonimato quanto às

respostas.

Antecipadamente agradeço sua colaboração no preenchimento deste questionário e

também, o cuidado, a atenção e a seriedade que dispensar à tarefa.

Larissa Kely Dantas – Licenciada em Química e Mestranda em Educação.

BLOCO I – DADOS PESSOAIS E SÓCIO-ECONÔMICOS:

1 - Nome Completo:

2 - Data de nascimento:

3 – Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino.

4 – Estado Civil: ( )Solteiro(a) ( )Casado(a) ( )Outro:

5 – Quantidade de pessoas na

sua família:

6 - Telefone:

7 – E-mail:

179

8 - Qual o seu regime de

trabalho?

( ) 20 horas ( ) 40 horas ( ) Dedicação Exclusiva.

9 - Em média, quantas horas

você trabalha por dia?

( ) até 6 horas ( ) mais de 6 horas e até 10 horas

( ) mais de 10 horas. Por que:

10 - Qual a sua classe? ( ) Auxiliar ( ) Assistente ( ) Adjunto ( ) Associado.

11 – Quantas horas semanais

você dedica ao Pibid?

BLOCO II – FORMAÇÃO ACADÊMICA:

12 - Você cursou seu ensino

médio:

( ) Todo em escola pública

( ) Todo em escola particular

( ) Maior parte em escola pública

( ) Maior parte em escola particular

13 - Qual sua Formação em

Graduação.

Graduação:

Instituição:

Ano de Conclusão:

14 - Qual a sua formação em

Pós-Graduação

( ) Especialização – Lato sensu ( ) Mestrado - Stricto Senso

( ) Doutorado – Stricto Senso

Área:

BLOCO III – PROFISSÃO DOCENTE:

15 - Você atuou como docente

em Ciências, Química ou outra

disciplina na educação básica

(Ensino Fundamental e/ou

( ) Sim. Quanto tempo:

( ) Não.

180

Médio)?

16 - Em que ano você ingressou

na carreira como docente no

ensino superior.

17 - O que levou você a atuar no

Programa Institucional de

Bolsas de Incentivo à Docência.

18 – Você realiza pesquisas em

ensino de Química?

19 – Qual a importância do

Pibid em sua opinião:

Obrigada pela atenção!

Mestranda Larissa Kely Dantas

Laboratório de Pesquisa e Ensino de Química – www.ufmt.br/labpeq

Área de Ensino de Química – 3615-8768

181

APÊNDICE D

Questionário 04 – Caracterização e contextualização do Pibid e Subprojeto

Pibid/Química Edital 2007, nas Universidades Federais do Brasil.

182

Universidade Federal de Mato Grosso

Instituto de Educação

Programa de Pós-Graduação em Educação

Linha de Pesquisa – Educação em Ciências

Mestranda em Educação: LARISSA KELY DANTAS

Orientadora: Profa. Dr. IRENE CRISTINA DE MELLO

Equipe Pibid/CAPES é com muita alegria que comunico a vocês que já fui aluna de

iniciação a docência, bolsista da CAPES e participante do Programa Pibid. A

participação no projeto me trouxe muitos resultados positivos e avanços na profissão

docente. Hoje faço mestrado na UFMT, onde também me formei em Química

Licenciatura no ano de 2010. A temática da minha pesquisa do mestrado trata da

formação inicial de professores de Química, iniciação à docência e a participação no

programa Pibid, referente ao Edital 2007. Para iniciar a pesquisa precisarei de alguns

dados que possibilitem a contextualização do programa na cidade de Cuiabá e também

em nível nacional. Desde já agradeço a colaboração.

1. Quais universidades (lista) participaram do Pibid/Edital 2007?

2. Quantas escolas públicas participaram do Pibid/Edital 2007?

3. Quantos cursos de licenciatura foram atendidos no Pibid/Edital 2007?

4. Quantos foram os subprojetos de Química participantes do Pibid/Edital 2007?

5. Quais universidades apresentaram subprojetos de Química no Pibid/Edital 2007?

6. Quantos supervisores ao total participaram do Pibid/Edital 2007?

7. Quantos supervisores no total participaram dos subprojetos de Química (Edital

2007)?

183

APÊNDICE E

Entrevista semiestruturada 01 - realizada com os ex-bolsistas.

184

Universidade Federal de Mato Grosso

Programa de Pós-Graduação em Educação

LabPEQ – Laboratório de Pesquisa em Ensino de Química

ROTEIRO DA ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

Ex-bolsistas – Pibid- Subprojeto Química - UFMT

Conte um pouco sobre a sua atividade profissional atual. Qual a sua atividade

profissional? Trabalha com o ensino de Química? Em escola pública? O Pibid

contribuiu para sua escolha profissional?

1) Em que aspectos o Pibid contribuiu para sua formação como docente?

2) Em sua opinião em quais aspectos o Pibid contribui para formação do professor

da Educação básica participante?

3) E para escola de Educação Básica? Qual a contribuição do Pibid?

4) Como você vê a sua graduação em licenciatura em Química, antes e depois de

ter participado do Pibid?

5) Em que aspectos ter participado do Pibid contribuiu para sua atuação e

desempenho profissional?

6) Em sua formação, como foi à realização do estágio supervisionado? As horas

trabalhadas no Pibid foram aproveitadas no estágio supervisionado? Você

acredita que deveriam ter sido (ou não) aproveitadas?Por quê?

7) Como você caracteriza a importância do estágio para seu desempenho

profissional?

8) Em sua opinião em que aspectos o Pibid se assemelha ou se diferencia do

estágio supervisionado?

9) Em sua opinião o Pibid pode ser considerado estágio supervisionado? Por quê?

10) Como o Pibid influenciou sua iniciação à docência na comunidade escolar?

185

11) Quais as principais dificuldades e necessidade formativas de sua graduação?

12) De que forma o Pibid interferiu em seu processo formativo?

13) Ter participado do Pibid facilitou a construção de aulas experimentais,

transposição didática e confecção de materiais didáticos? No que mais?

14) Dentre as atividades realizadas no Pibid, cite aquela(s) que mais contribuíram

em sua formação.

15) Em sua opinião o Pibid incentiva mesmo a docência? Em que o Pibid poderia

ser melhor?

16) Você participou de pesquisas no ensino de Química durante o período que

esteve no Pibid? De que forma essas pesquisas realizadas ajudaram ou

melhoraram sua atuação como professor de Química?

17) Você percebe diferença(s) entre a sua iniciação à docência e a de professores

que não fizeram parte do Pibid? Quais?

186

APÊNDICE F

Entrevista Semi-Estruturada 02 - realizada com as professoras supervisoras.

187

Universidade Federal de Mato Grosso

Programa de Pós-Graduação em Educação

LabPEQ – Laboratório de Pesquisa em Ensino de Química

ROTEITRA ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

Supervisor do Subprojeto de Química - UFMT

1) Em que aspectos o Pibid tem contribuído em sua formação como docente na

Educação Básica? Como contribui para sua atuação e desempenho profissional?

2) Em que aspectos o Pibid contribui para formação dos licenciandos? Você

percebeu alguma influencia do Pibid na iniciação à docência dos licenciandos?

Qual (is)?

3) E para escola de Educação básica? Qual a contribuição do Pibid?

4) Em sua opinião em que aspectos o Pibid se assemelha e/ou se diferencia do

estágio supervisionado?

5) Em sua opinião o Pibid pode ser considerado estágio supervisionado? Por quê?

Para você o que é o Pibid?

Para você o que é o Estágio Supervisionado?

6) Se possível elenque as dificuldades e necessidade formativas de sua graduação e

dê que forma o Pibid interferiu na sua formação continuada?

7) Ter participado do Pibid facilitou na construção de aulas experimentais,

transposição didática e confecção de materiais didáticos? Por quê?

8) Você realizou pesquisas voltadas ao Ensino de Química?

188

APÊNDICE G

Entrevista Semi-Estruturada 03 - realizada com o coordenador de área.

189

Universidade Federal de Mato Grosso

Programa de Pós-Graduação em Educação

LabPEQ – Laboratório de Pesquisa em Ensino de Química

ROTEIRO DA ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA

Coordenador de área do subprojeto de Química Pibid/UFMT

1) Fale um pouco sobre a sua formação acadêmica. Você participou de algum

projeto que incentivava a docência? Por quê?

2) Em que aspectos o Pibid tem contribuído em sua formação continuada como

docente no Ensino Superior?

3) Em que aspectos o Pibid contribui para formação dos licenciandos?

4) Em que aspectos o Pibid contribui para formação do professor da Educação

básica participante (supervisor)?

5) E para escola de Educação Básica? Qual a contribuição do Pibid?

6) Além dos envolvidos diretamente (licenciandos, supervisores) quem mais se

beneficia com o Pibid?

7) Em sua opinião o Pibid pode ser considerado estágio supervisionado? Por quê?

8) Você considera as horas trabalhadas pelos licenciandos no Pibid como

atividades de estágio supervisionado? Por quê?

9) Em sua opinião em que aspectos o Pibid se assemelha e/ou se diferencia do

Estágio Supervisionado?

10) Para você o que é o Pibid? Para você o que é o Estágio Supervisionado?