infra-estrutura e serviços, 2003

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Page 1: Infra-estrutura e Serviços, 2003
Page 2: Infra-estrutura e Serviços, 2003

MANUAL DE MELHORES PRÁTICAS PARA O ECOTURISMO – TURISMO SUSTENTÁVEL

Infra-estrutura e serviços

Page 3: Infra-estrutura e Serviços, 2003

APRESENTAÇÃO

ORGANIZADOR Roberto M. F. Mourão • PRODUÇÃO EXECUTIVA Lindamara Soares • ESTAGIÁRIO Bruno Bourrus Magioli Maia

PROJETO GRÁFICO Imaginatto Design e Marketing • ILUSTRAÇÕES José Carlos Braga • REVISÃO AnaCris Bittencourt e Marcelo Bessa • FOTO DA CAPA Flip de Nooyer / Foto Natura, Project Brazile

CONSELHO DELIBERATIVO

Roberto Leme Klabin • Presidente

Cláudio Benedito Valladares Pádua • Vice-presidente

MEMBROS VOGAIS

Acadêmico

Benjamin Gilbert • Fundação Oswaldo Cruz

José Augusto Cabral • Consultor

Paulo Eugenio Oliveira • UFU

Ambientalista

Garo Batmanian • WWF/Brasil

Ibsen de Gusmão Câmara • FBCN

Jean Marc von der Weid • AS-PTA

Nurit Bensusan • ISA

Empresarial

José Luiz Magalhães Neto • Grupo Belgo Mineira

Roberto Konder Bornhausen • Unibanco

Roberto Leme Klabin • RK Hotéis e Turismo Ltda

Roberto Paulo Cezar de Andrade • Brascan

Governamental

João Paulo Capobianco • MMA

MEMBROS SUPLENTES

Acadêmico

Cláudio Valladares Pádua • UnB

Keith Spalding Brown Junior • Unicamp

Paulo Nogueira Neto • USP

Roberto Brandão Cavalcanti • UnB

Ambientalista

Clóvis Borges • SPVS

Jean-Pierre Leroy • Fase

José Adalberto Veríssimo • Imazon

Mª Dores V. C. Melo • Soc. Nordestina de Ecologia

Empresarial

Edgar Gleich • Consultor

Guilherme Peirão Leal • Natura Cosméticos

Juscelino Martins • Martins Comércio & Serviço Distribuição S.A.

Maria Mercedes von Lachmann • Grupo Lachmann

Governamental

Paulo Kageyama • MMA

Ronaldo Weigand Junior • MMA

SECRETARIA EXECUTIVA

Pedro Leitão • Secretário Geral

FUNBIOFundo Brasileiro para a BiodiversidadeLargo do Ibam 01, 6º andarHumaitá - Rio de Janeiro, RJ - 22.271-020(21) 2123-5300www.funbio.org.br

SECRETARIA EXECUTIVA

Maria Clara Soares • Coordenadora de programas Funbio

Roberto M. F. Mourão • Diretor técnico programa MPE | Ecobrasil

CONSULTORES

Ariane Janer • Ecobrasil | Bromélia

Marcos Borges • Ecobrasil | Grupo Nativa

COMITÊ TÉCNICO

Ariane Janer • Ecobrasil | Bromélia

Jeane Capelli Pen • Rain Forest Alliance

Marcos M. Borges • Ecobrasil | Grupo Nativa

Mário Mantovani • SOS Mata Atlântica

Oliver Hillel • U. N. Environment Program

Rogério Dias • Cerrado Ecoturismo

Sônia Rigueira • Terra Brasilis

Werner Kornexl • Banco Mundial

EQUIPE TÉCNICA

Luciana Martins • Gerente de programa

Maria Aparecida Arguelho • Coordenadora de campo

Marcos Amend • Coordenador de campo

Valéria Braga • Coordenadora técnica

Michele Ferreira • Assistente de programa

APOIO

Marcus Vinícius C. Pires • Assistente administrativo

Estagiários

Bárbara Nunes, Daniel Soares , Flávia Bichara

Mensageiro

Claudio Silvino

Corpo técnico - Autores e instrutores

Ana Cláudia Lima e Alves, Ana Elisa Brina, Ana Maria Saens Forte,

Ariane Janér, Armando Cypriano Pires, Carlos Alberto Mesquita,

Cláudia de Sousa, Dante Buzzetti, Equipe Tamar, Evandro Ayer,

Fábio de Jesus, Fábio Ferreira, Fábio França Araújo,

Fábio Vieira Martinelli, Fernanda Messias, Gerson Scheufler,

Humberto Pires, Jean Dubois, Jeane Capelli Pen, Leonardo Vianna,

Liana Sá, Lucila Egydio, Luiz Gustavo Barbosa, Marcelo Oliveira,

Marcelo Skaf, Márcia Gomide, Maria Aparecida Arguelho,

Mª das Graças Poncio, Maria Clara Soares, Márcio Viana,

Marcos Martins Borges, Marcos Nalom, Paul Dale, Paulo Bidegain,

Paulo Boute, Paulo D’Ávila, Pedro Bezerra, Renato de Jesus,

Roberto M.F. Mourão, Rogério Dias, Rogério Zouein,

Rui Barbosa da Rocha, Salvador Silva, Sandro Sáfadi,

Sebastião Alves, Sérgio Pamplona, Sônia Elias Rigueira,

Suzana Sperry, Tasso de Azevedo, Waldir Joel de Andrade

Ecobrasil | MPEMelhores Práticas para o EcoturismoRua Visconde de Pirajá 572, 2º andarIpanema - Rio de Janeiro, RJ - 22.410-002Tel: (21) 2512-8882www.ecobrasil.org.brwww.mpe.org.br

M294 Manual de melhores práticas para o ecoturismo /

Organizador: Roberto M. F. Mourão. - Rio de

Janeiro: FUNBIO; Instituto ECOBRASIL,

Programa MPE, 2004.

128p. : il ; 21 cm

1. Ecoturismo – Manual. I. Título.

CDD: 338.47

Page 4: Infra-estrutura e Serviços, 2003

ESTE MANUAL É UM DOS PRODUTOS DO PROGRAMA “MELHORES PRÁTICAS

PARA O ECOTURISMO”, PROMOVIDO PELO

EM PARCERIA COM

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

APOIO

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Montcamp Equipamentos Wöllner Outdoors

Page 5: Infra-estrutura e Serviços, 2003

Fundo Brasileiro para a Biodiversidade

(Funbio) é uma organização não-governa-

mental, criada em outubro de 1995, cuja

missão é apoiar ações estratégicas de conservação e

uso sustentável da biodiversidade no Brasil. Com esse

fim, o Funbio capta e gere recursos financeiros, esti-

mulando o desenvolvimento de iniciativas ambien-

tais e economicamente sustentáveis. Sua atuação é

pautada na Convenção da Diversidade Biológica,

acordo internacional assinado durante a Rio 92.

O Funbio é dirigido por um conselho delibera-

tivo, formado por lideranças dos segmentos ambi-

entalista, empresarial, acadêmico e governamental.

É operado por um comitê executivo, seis comissões

técnicas e uma secretaria executiva que conta com

profissionais de diferentes áreas.

Ao longo de oito anos de trabalho, o Funbio

apoiou mais de 60 iniciativas nas áreas de conser-

vação, agrobiodiversidade, manejo florestal não-

madeireiro, manejo florestal madeireiro, manejo

de recursos pesqueiros, ecoturismo e Agenda 21

local, totalizando um desembolso de aproximada-

mente US$ 7,1 milhões até o ano de 2003. Seu pú-

blico-alvo é o setor produtivo brasileiro, bem como

organizações não-governamentais e associações

comunitárias comprometidas com o desenvolvi-

mento sustentável, além das comunidades locais

beneficiárias de suas ações.

O ecoturismo começou a ser investigado como

área potencial de trabalho para o Funbio em 1999,

dentro do Programa de Estudos Estratégicos.

A pesquisa constatou carência na área de capacita-

ção de profissionais que atuam em empreendimen-

tos de ecoturismo.

A resposta a esse problema foi o desenvolvi-

mento do Programa MPE, com o objetivo de defi-

nir um conjunto de “melhores práticas” que sir-

vam de referência para projetos de ecoturismo no

Brasil. Este manual que você tem em mãos é um

dos frutos desse trabalho.

Pedro Leitão

Secretário Executivo

0

Page 6: Infra-estrutura e Serviços, 2003

APRESENTAÇÃO

O conceito de sustentabilidade, proposto pela Co-

missão Brutland no informe “Nosso futuro co-

mum” (1987), despertou um intenso processo de

discussão. Diferentes interpretações vêm sendo for-

muladas desde então, trazendo visões de mundo

por vezes conflitantes e bastante diversas. Uma

contribuição inequívoca trazida pelo conceito de

sustentabilidade foi o reconhecimento da neces-

sidade de integrar a dimensão ambiental ao con-

ceito de desenvolvimento. A Rio 92 trouxe o de-

safio de estabelecer uma série de acordos volta-

dos a enfrentar a destruição do planeta, bem como

de integrar a participação dos cidadãos como fa-

tor fundamental para o alcance do desenvolvimen-

to em bases sustentáveis.

O reconhecimento da finitude dos recursos

naturais do planeta trouxe à tona uma questão

fundamental. Se os recursos são limitados, que

valores, deveres e obrigações devem regular a dis-

tribuição e o acesso aos recursos disponíveis?

Considerando que os países ricos, com menos de

20% da população mundial, consomem 80% dos

recursos mundiais, enquanto os países mais po-

bres consomem apenas 2% dos recursos, falar em

sustentabilidade nos conduz à necessidade de

repensar o modelo de desenvolvimento em cur-

so, que vem gerando não apenas um padrão de

produção e de consumo excludente do ponto de

vista social, como também insustentável do pon-

to de vista ambiental.

Após 12 anos da Rio 92, apesar de não se re-

gistrarem avanços significativos no enfrentamen-

to das questões estruturais de eqüidade socioam-

biental essenciais para garantir a sustentabilidade

do desenvolvimento, verifica-se o nascimento de

um sem-número de novas organizações, propos-

tas e iniciativas voltadas para a conservação e o

uso sustentável de recursos naturais, que buscam

conciliar o desenvolvimento econômico com a

justiça social e a sustentabilidade ambiental.

Desenvolvimento sustentável

Page 7: Infra-estrutura e Serviços, 2003

Neste contexto, situam-se os esforços para o

desenvolvimento de um modelo de turismo soci-

almente responsável. O turismo sustentável utili-

za o patrimônio natural e cultural, incentiva sua

conservação e busca a formação de uma consciên-

cia ambientalista, promovendo o bem-estar das

populações envolvidas. Por esse motivo, vem des-

pontando como importante aliado na conserva-

ção do meio ambiente e como alternativa econô-

mica que estimula a inclusão social. O Brasil é um

país extremamente rico em recursos e em belezas

naturais, possui entre 15% e 20% da biodiversida-

de e 13% da água doce do mundo e abriga enor-

me diversidade cultural. O aproveitamento desse

potencial por meio do desenvolvimento de estra-

tégias que fortaleçam o turismo participativo, so-

lidário e sustentável é, sem dúvida, uma grande

oportunidade para o país.

Maria Clara Couto SoaresCoordenadora de Programas Funbio

Page 8: Infra-estrutura e Serviços, 2003

A idéia básica é que, à medida que o Pro-

grama MPE seja implementado, ajustado e ree-

ditado com práticas propostas aplicadas no cam-

po e avaliadas, o manual também seja ajustado

e acrescido, sempre buscando melhorar as prá-

ticas anteriormente estabelecidas. A disponibi-

lização dos tópicos e subtópicos será feita de

forma gradativa, e o manual será ajustado me-

diante sugestões e críticas, até mesmo com dis-

tribuição em meio eletrônico.

Aos autores dos temas foi solicitado que se

limitassem a textos teóricos condensados entre cin-

co e dez páginas, sem, contudo, prejudicar o con-

teúdo. A condensação sugerida, a princípio, pode

até ser considerada negativa, mas seu objetivo é

estimular o público leitor a se concentrar no que

for mais essencial dentro do assunto, abstraindo-

se do que for supérfluo ou secundário. Nesse sen-

O Manual MPE foi criado com o objetivo inicial

de ser utilizado nos cursos de capacitação dos

monitores MPE, em suas consultas e complemen-

tação de conhecimentos, e também de servir como

material didático para os envolvidos, local e regi-

onalmente, com os projetos conveniados.

Porém, em virtude da carência de publicações

sobre ecoturismo e desenvolvimento sustentável,

abordados de forma prática e sucinta no Brasil, o

comitê gestor do Programa MPE decidiu produzir

e disponibilizar o conjunto a um público mais am-

plo, atendendo a uma necessidade das demais pes-

soas interessadas pelos temas abordados.

Este manual pretende ser uma ferramenta di-

nâmica, com flexibilidade para incorporar suges-

tões e críticas, conforme os avanços do Programa

MPE, recebendo informações dos trabalhos de cam-

po, por meio do sistema de monitoramento.

Manual de Melhores Práticas para o Ecoturismo (MPE)

Page 9: Infra-estrutura e Serviços, 2003

tido, tal decisão pode ser encarada de forma posi-

tiva, visando oferecer ao público o melhor apro-

veitamento possível.

Formato

O Manual MPE é composto de: Módulos Temáti-

cos, subdivididos em Seções, Tópicos e Subtópi-

cos. Na composição dos Tópicos (Texto teórico), de

acordo com o tema que está sendo tratado, po-

dem vir a fazer parte como subtópicos: Caixa de

ferramentas, Estudo de caso, Anexo técnico, Glos-

sário e Referências bibliográficas.

Desejamos a você uma boa leitura e um aproveita-

mento prático melhor ainda.

Roberto M. F. MourãoOrganizador do Manual MPE

Page 10: Infra-estrutura e Serviços, 2003

Infra-estrutura e serviços

1. Meios de hospedagem

1.1 Aspectos construtivosde hotéis de selva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14por Sérgio Borges Pamplona

• Caixa de ferramentas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18

• Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

1.2 Hotelaria – hotéisde selva e pousadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24por Maria Aparecida Arguelho e Lucila Egydio

• Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40

2. Alimentação

2.1 Bares e restaurantes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42por Maria das Graças Pôncio

• Caixa de ferramentas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44

• Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53

3. Energia alternativa

3.1 Fontes alternativas de energia . . . . . . . . . . . . . 56por Pedro Bezerra de Carvalho Neto

• Anexo técnico 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64

• Anexo técnico 2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68

• Anexo técnico 3 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73

• Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75

4. Trilhas

4.1 Interpretação ambiental . . . . . . . . . . . . . . . . . 78por Rogério Dias

• Caixa de ferramentas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86

• Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87

4.2 Condução de visitantes e excursionismo . . . . . 88por Rogério Dias e Waldir Joel de Andrade

• Caixa de ferramentas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95

4.3 Manejo de trilhaspor Waldir Joel de Andrade

• Caixa de ferramentas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 101

• Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107

4.4 Inventário de trilhas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 108por Marcos M. Borges

• Caixa de ferramentas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111

• Referências bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 114

4.5 Passarelas e torres de observação . . . . . . . . . 115por Roberto M. F. Mourão

• Caixa de ferramentas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118

• Estudo de caso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119

4.6 Nagegação terrestre e cartografia básica . . . 120por Fábio França Silva Araújo

• Caixa de ferramentas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125

Page 11: Infra-estrutura e Serviços, 2003
Page 12: Infra-estrutura e Serviços, 2003

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Manual de Melhores Práticas para o Ecoturismo – Turismo Sustentável | Infra-estrutura e serviços

1. MEIOS DE HOSPEDAGEM

Page 13: Infra-estrutura e Serviços, 2003

www.mpefunbio.org.br - Incentivamos a cópia, reprodução e divulgação do conteúdo. Favor mencionar a fonte.

N este texto, o leitor terá acesso aos mais relevantes princípi-

os que norteiam as ações de planejamento, projeção e cons-

trução de hotéis de selva, bem como as alternativas e possibili-

dades de técnicas e materiais, visando alcançar uma arquitetu-

ra sustentável e integrada ao meio ambiente.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

ASPECTOS CONSTRUTIVOSDE HOTÉIS DE SELVA

SÉRGIO BORGES PAMPLONA1.1

Page 14: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 15Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Meios de hospedagem | Aspectos construtivos de hotéis de selva, Sérgio Borges Pamplona

Construção típica de caboclo amazônico, adequada ao clima e regime de chuvas regional emodelo para hotéis de selva, Reserva Extrativista do Rio Ouro Preto, Guajará-mirim, RO

Robe

rto

M. F

. Mou

rão

Este capítulo não pretende ser uma coleção de re-ceitas fechadas e acabadas. Também não preten-de ser uma descrição profunda de técnicas ou ma-teriais de construção. Aliás, nem poderia almejarser isso, tendo em vista a própria estrutura abran-gente e multidisciplinar deste manual e o espaçode que dispõe.

O objetivo deste capítulo é enumerar uma sériede princípios que devem nortear as ações de plane-jamento, projetação e construção de hotéis de selvae listar alternativas e possibilidades de técnicas e demateriais, instigando a pesquisa e a busca por umaarquitetura e uma prática construtiva mais susten-táveis e integradas ao meio ambiente, algo funda-mental para o desenvolvimento correto do ecoturis-mo e para a sociedade como um todo.

Hotéis de selva estão definidos neste manualcomo “meios de hospedagem localizados em áreasremotas, normalmente seguindo a definição de pou-sada, voltados para um segmento específico, cominfra-estrutura rústica e com características típicasda região, respeitando princípios de sustentabilida-de ambiental em suas práticas”.

Isso significa que a sustentabilidade ambientaldeve estar presente em todas as etapas de concep-ção, planejamento, construção e operação de um ho-tel de selva. Deve estar, ainda, explicitada de todas asformas possíveis para o ecoturista. Nesse sentido, ohotel de selva pode ser visto ao mesmo tempo como:

• uma edificação hoteleira – portanto, deve con-templar todo o espectro de funções e necessi-dades típicas dessa atividade;

• um centro de educação e interpretação ambi-ental – por isso, deve procurar colocar em práti-ca tudo o que existe em discurso sobre um viver

mais integrado à na-tureza, mostrandocomo isso é mais doque simplesmentese extasiar com asmaravilhas do mun-do natural.

Hitesh Mehta (1998)oferece uma definiçãomais completa de um ho-tel de selva, que incorpo-ra uma série de caracte-rísticas que ele deve apre-sentar: é uma instalaçãopara acomodação turísti-ca que vai ao encontro dosseguintes critérios:

a. ajuda na conserva-ção do ambientecircundante (tantonatural como cultural);

b. tem o mínimo impacto no entorno natural du-rante sua construção;

c. se encaixa em seu contexto físico e cultural es-pecífico por meio da atenção cuidadosa com aforma, o paisagismo, a cor, assim como do usoda arquitetura vernacular;1

d. usa meios alternativos e sustentáveis para oabastecimento de água e reduz seu consumo;

e. prevê o manejo e a deposição cuidadosos dosresíduos sólidos e esgotos;

f. supre suas necessidades de energia por meio de

um desenho apropriado (solar passivo) e do usode fontes renováveis de energia;

g. usa materiais e técnicas tradicionais de constru-ção sempre e onde isso for possível e combinaseu uso com tecnologias modernas para maiorsustentabilidade;

h. oferece programas interpretativos para educartanto empregados como turistas sobre o ambi-ente natural e cultural local;

i. procura trabalhar junto com a comunidade local; e

j. contribui para o desenvolvimento sustentávellocal por meio de programas de pesquisa.

1 Por arquitetura vernacular ou vernácula entende-se o modo tradicional de construir de uma determinada cultura nativa.

Page 15: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 16Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Meios de hospedagem | Aspectos construtivos de hotéis de selva, Sérgio Borges Pamplona

Em outras palavras, a concepção, o planejamen-to, a implantação e a construção do espaço físico deum empreendimento ecoturístico (e seu posteriorfuncionamento) devem sempre buscar ter o menorimpacto sobre o sítio e a menor pegada ecológica2

possível sobre o planeta.

Planejar é preciso

O planejamento do empreendimento ecoturísticocomeça por uma cuidadosa análise da paisagem dosítio onde a construção será erguida. A configura-ção do terreno sempre determinará formas, dispo-sições espaciais, circulações e o emprego de mate-riais específicos. Da mesma forma, a matriz cultu-ral do local onde o hotel de selva estiver sendoconstruído deverá ser respeitada. Afinal, tanto osítio e seus aspectos naturais como a cultura localsão a razão de existir do empreendimento ecotu-rístico naquele local específico.

Nesse sentido, a disposição dos elementospelo sítio deve privilegiar a percepção da paisa-gem natural em vez de criar um novo conjunto depercepções baseado em idéias de funcionalidadepreconcebidas. A não ser que essa funcionalidadeseja proposta de acordo com aquela expressa nossistemas naturais e contribua para a sustentabili-dade do empreendimento como um todo ao longodo tempo. É o caso do planejamento proposto pelapermacultura,3 muito útil se incorporado ao pla-nejamento de hotéis de selva.

Os elementos do hotel de selva devem ser loca-dos no sítio de forma a evitar ao máximo tanto ocorte de árvores significativas como a alteração datopografia local. Assim, devem ser evitados aterros,nivelamentos extensos e cortes grandes no terreno.

Devem ainda ser observadas as legislações am-bientais federais e locais no que diz respeito a áreasde proteção permanente e afastamentos mínimos.

Construção sem danosComo a experiência ecoturística pressupõe uma re-lação forte entre o ecoturista e o sítio, escolhido jus-tamente por seus atributos naturais, todo o proces-so construtivo deve perturbar o local o menos possí-vel. Para tanto, ele deve ser bem planejado de for-ma a utilizar para a circulação de materiais o mes-mo sistema de circulação desenhado para o hotel deselva. Os materiais devem ficar estocados em locaisque posteriormente virão a ser pavimentados ouconstruídos e devem ser trazidos em quantidadestais que possibilitem esse tipo de gerenciamento.

Veículos pesados para escavações, aterros enivelamentos devem ser evitados ao máximo, mas,se forem considerados inevitáveis, devem ter suacirculação e movimentos dirigidos pelo projetistade forma a seguir os futuros caminhos propostospara o hotel de selva, do mesmo modo que os ma-teriais e equipamentos.

Um hotel de selva deve oferecer aos seus hós-pedes o maior conforto térmico possível, tentandoconseguir isso sem isolá-los do meio ambiente natu-ral – tentando tirar partido das características cli-máticas locais de forma que as edificações fiquemfrescas ou aquecidas (conforme se queira) sem o usode equipamentos eletromecânicos ou com um usomínimo. Na verdade, toda edificação deve ser proje-tada com essa preocupação. Por isso, é importanteuma análise prolongada e profunda do clima local edo microclima do sítio.

Dicas de tecnologias apropriadas a qualquer cli-ma podem geralmente ser encontradas na arquite-tura tradicional da região, conhecida em geral pelonome de arquitetura vernacular. As característicasde abertura, ocupação do terreno, orientação, esco-lha de materiais e disposição de elementos podemdar uma boa idéia de respostas arquitetônicas dire-tas às condições climáticas. De modo geral, o confor-to térmico será conseguido por meio de:

• escolha correta e apropriada dos materiais devedação e cobertura – e em geral os materiaisnaturais são bons isolantes térmicos;

2 Pegada ecológica é uma medida que indica, por meio de uma série de cálculos razoavelmente complexos, a área da superfície do planeta

necessária para sustentar aquela atividade. A partir desse cálculo, pode-se dizer, por exemplo, que, se toda a humanidade resolvesse adotar

os padrões de consumo do Primeiro Mundo, precisaríamos de pelo menos mais três planetas iguais à Terra para sustentar esses padrões.

3 Permacultura (em inglês, permaculture): termo cunhado na década de 1970 pelo naturalista australiano Bill Mollison a partir da contração

das palavras permanent e agriculture, quando da criação de um sistema de design, ou planejamento, e manutenção consciente de ecossistemas

agriculturalmente produtivos que possuíssem a diversidade, estabilidade e resiliência dos sistemas naturais. “É a integração harmoniosa das

pessoas com a paisagem, de forma a suprir seu alimento, energia, abrigo e outras necessidades materiais e não-materiais de uma forma

sustentável.” O design permacultural, ou planejamento permacultural, é, portanto, um sistema em que se juntam componentes conceituais,

materiais e estratégicos em um padrão que funciona para beneficiar a vida em todas as suas formas. Isso inclui evidentemente todos os

aspectos de toda e qualquer edificação que se queira ecológica ou sustentável, desde a locação dentro do sistema até o reaproveitamento dos

seus esgotos e águas servidas, passando pela escolha dos materiais de construção utilizados.

Page 16: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 17Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Meios de hospedagem | Aspectos construtivos de hotéis de selva, Sérgio Borges Pamplona

• orientação das edificações de forma a possibilitaro aproveitamento dos fluxos naturais de vento eda insolação que o terreno recebe, tanto para efei-to de refrigeração como de aquecimento;

• formas arquitetônicas que potencializem essascaracterísticas do local, e aí convém reforçar queé sempre útil estudar as soluções tradicionaisda população local ou de povos que vivam emcondições climáticas semelhantes.

Em outras palavras, estamos falando de umaarquitetura bioclimática. É aquela que parte de umaanálise cuidadosa do clima local, levando em consi-

Assim, tem-se, no projeto de um hotel de selva,a possibilidade de apresentar técnicas, elementos,formas e alternativas que, de outro modo, não seri-am acessíveis à população local. Isso deve estar pre-sente desde o planejamento da propriedade até ouso de novas técnicas construtivas que sejam umpasso à frente em relação às tradicionalmente exis-tentes, passando pelo uso de elementos de alta tec-nologia, como as placas fotovoltaicas, ou pela intro-dução de tecnologias apropriadas e simples, mas quepressupõem mudanças de paradigma, é o caso dossanitários compostáveis e das coberturas vivas.

deração a orientação, topografia, insolação, vege-tação e regime dos ventos e chuvas para gerar solu-ções arquitetônicas que propiciem o maior confortotérmico possível sem o uso de equipamentos mecâ-nicos de ventilação ou calefação.

Nos casos em que for impossível escapar do usodesse tipo de equipamento, devem ser especifica-dos aqueles com maior eficiência energética e cir-cunscritos a áreas específicas da edificação. Deve-se,por exemplo, tentar sempre priorizar o ventiladorem vez do ar-condicionado, inserindo-o em um dese-nho arquitetônico que facilite a ventilação e renova-ção do ar. E o ar condicionado deve ficar restrito aáreas que realmente necessitem de condicionamen-to térmico constante, como escritórios.

Linguagem arquitetônica

Deve valorizar e interpretar a arquitetu-ra vernácula local naquilo que tem de

mais significativo. Mas não deve seater rigidamente a ela, nem copiá-

la, por no mínimo dois motivos: emprimeiro lugar, porque é umaedificação hoteleira, com um pro-grama arquitetônico não tradicio-nal a uma pequena comunidade, eque, portanto, pode gerar algumaforma nova; em segundo lugar, por-

que, como é importante que o hotelde selva tenha o compromisso de as-

sumir o papel de centro divulgador depráticas sustentáveis, é igualmente impor-

tante que, em sua própria concepção e constru-ção, tenha a liberdade de deixar isso visível, não sópara os visitantes como para os habitantes locais.

Page 17: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 18Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Meios de hospedagem | Aspectos construtivos de hotéis de selva, Sérgio Borges Pamplona

Casa de fardos de palha

Algumas possíveistécnicas construtivas• Adobe (alvenaria portante)

• Tijolos portantes

• Taipa de mão (cob)

• Taipa de pilão

• Tijolos de solo-cimento

• Paredes monolíticas de solo-cimento

• Estruturas de madeira ou bambu (comfechamento que pode ser com madeira,bambu, fibras vegetais, adobe ou tijolo)

• Taipa de sopapo ou pau-a-pique

• Taipa em painéis moduladospré-fabricados

• Superadobe

• Fardos de palha

Materiais e sistemas construtivos

Os materiais e as técnicas a serem utilizados noshotéis de selva serão quase tão variados quanto osecossistemas e climas em que os estabelecimentosestiverem inseridos.

Evidentemente, deve ser dada a mais absolutaprioridade aos materiais naturais e àqueles indus-trializados com garantia de terem sido elaboradoscom processos o mais ambientalmente amigáveispossível. No caso destes, toda uma indústria estáflorescendo no Brasil e deve ser estimulada e apoia-

da por, entre outras atitudes responsáveis, evitar ouso de formaldeídos, CFCs e outros produtos tóxicos,não emitir resíduos poluentes e usar matérias-pri-mas extraídas sustentavelmente.

O ideal é que o responsável pelo projeto arqui-tetônico proceda a uma investigação cuidadosa esem preconceitos a respeito de:

• materiais e técnicas tradicionalmente utilizadosnaquela região, que podem ser usados da formatradicional ou aprimorados com apropriações eadaptações convenientes e de bom senso;

• matérias-primas locais que podem ser utili-zadas na região em um contexto de planeja-mento regional, como a utilização e reposi-ção cuidadosa de bambu ou de madeiras lo-cais para a construção;

• técnicas construtivas sustentáveis de desenvol-vimento recente ou que estejam sendo maisdivulgadas só recentemente: é o caso dos tijo-los de solo-cimento, das construções com far-dos de palha, das coberturas vivas, do supera-dobe, entre outras.

Esse último item enfatiza o compromisso doempreendimento ecoturístico não só com a manu-tenção dos ecossistemas locais, mas também com aspopulações nativas, que hoje estão bastante seduzi-das e hipnotizadas pelo modelo insustentável quese alastra pelo planeta.

O empreendimento deve se propor a servirde modelo de como se inserir de forma harmônicano ambiente, permanecendo lá por várias gera-ções, utilizando técnicas que algumas dessas po-pulações já conhecem e outras das quais nuncaouviram falar. Mesmo assim, os materiais e as téc-nicas a serem utilizados, se não forem conhecidos

pela população local, devem ser facilmenteapropriáveis, de forma que sua mão-de-obra pos-sa ser aproveitada e capacitada quando da cons-trução do hotel de selva.

É sempre interessante proceder a uma prévia“análise do berço ao túmulo” dos possíveis materi-ais. Trata-se da pesquisa do ciclo completo de vidade cada material utilizado, com toda sua implicaçãoem termos de energia consumida, conseqüênciasambientais e resíduos produzidos, desde a extraçãode sua matéria-prima, refino, processamento, ma-nufatura e tratamento até seu transporte, uso eeventual reutilização ou deposição final.

Page 18: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 19Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Meios de hospedagem | Aspectos construtivos de hotéis de selva, Sérgio Borges Pamplona

Painel pré-moldado para taipa Algumas possíveiscoberturas· Telhas de barro

· Telhas feitas com materiais reciclados

· Telhas de bambu

· Telhados vivos

· Palhas de diversas espécies

· Capim santa-fé;

· Cavacos ou tabilhas;

· Tijolos cerâmicos (abóbadas e cúpulas)

Deve-se evitar o uso de materiais sabidamen-te tóxicos, como o cimento amianto e outros quecontenham ou sejam produzidos com CFCs ouHCFCs, além daqueles sob suspeita de emitir ga-ses nocivos, como o granito (e suas emissões deradônio), e reduzir ao mínimo possível o uso demateriais altamente energívoros,1 como cimento,ferro, alumínio, vidro e aço.

Fundações

Em geral, os empreendimentos ecoturísticos sãode pequena escala. As edificações não costumamser muito grandes nem pesadas. As fundações dehotéis de selva devem procurar evitar ou reduzir ouso de grandes volumes de concreto e aço epriorizar os materiais que possam ser extraídosde localidades próximas, como pedras. Podem serusadas também fundações de tijolos, solo-cimen-to e até lodo e bambu.

Estruturas e vedações

As estruturas podem ou não ser independentes dasvedações, a depender do material e da técnica em-pregados. O importante é que os materiais utiliza-dos tenham a menor pegada ecológica possível. Porisso, deve ser dada ênfase a técnicas que utilizempedra, terra e madeira, bambu ou palha, preferen-cialmente da região.

Deve-se lembrar que a arquitetura de terra temtido grande impulso nos últimos anos por todo omundo. Suas técnicas têm sido reavaliadas, moder-nizadas e chanceladas por institutos de pesquisa, oque lhe dá de volta a credibilidade que merece.

É bom lembrar também que a madeira é umdos materiais mais energeticamente eficientes queexistem. O ideal é que seja de origem próxima aolocal. Pode ter várias origens, a saber, da mais dese-jável a menos desejada: pode ser o aproveitamentode árvores caídas naturalmente; pode ser madeiraoriunda de extração corretamente manejada e, por-tanto, certificada pelo Forest Stewardship Council(FSC) ou pelo Instituto de Manejo e Certificação Flo-restal e Agrícola (Imaflora); pode ser madeira oriun-

da de demolição ou ainda madeira de refloresta-mento, apesar das críticas pertinentes que são fei-tas às monoculturas de espécies florestais.

Portas e janelas

Devem seguir a mesma regra das estruturas evedações. É necessário pesquisar as esquadrias de-senvolvidas e utilizadas tradicionalmente naquelaregião e tirar partido delas. Sendo executadas emmadeira, os mesmos critérios listados a respeito daorigem da madeira devem ser seguidos.

Coberturas

A escolha dos materiais para as coberturas dos hotéisde selva deve partir dos mesmos critérios dos outrosmateriais. Em geral, esse item costuma ser um gargalo,

1 Energívoros são materiais que consomem grande quantidade de

energia para sua produção.

Page 19: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 20

Água da chuvaPara que a água da chuvapermaneça potável, os seguintescuidados devem ser tomados:

1. guardar a água em tanquesfechados, de metal ou argamassaarmada, onde não entre luz;assim, ela se conserva por maisde um ano;

2. na entrada do tanque, instalarum mecanismo simples quedescarte a primeira água dachuva, que lava o telhado;

3. e a água deve passar por um filtroporoso antes de ser consumida.

Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Meios de hospedagem | Aspectos construtivos de hotéis de selva, Sérgio Borges Pamplona

porque a cobertura tem a tarefa de isolar as pessoasdas intempéries, do calor e do frio. Portanto, o materi-al deve ser bom isolante térmico e impermeável.

O que se vê é um uso muito grande da palha nascoberturas dos hotéis de selva. De fato, esse é um ma-terial bastante apropriado para vários climas e ecos-sistemas, sobretudo se o planejamento incluir manejoe reposição cuidadosos das plantas (palmeiras, em ge-ral) que fornecem o material, de forma a garantir asustentabilidade da manutenção dessa cobertura.

Para evitar o inconveniente de insetos e poeira,típicos das coberturas de palha, diversos forros po-dem ser usados, como esteiras de palha, bambu, comtela contra inseto entre elas e a palha. Também po-dem ser usados forros de madeira e armações debambu ou madeira com tecido.

Além da palha, outros materiais podem ser usa-dos, como o cavaco, para regiões com boa oferta demadeira, as coberturas vivas (telhados de grama),as abóbadas e cúpulas de tijolos cerâmicos, as telhascerâmicas e as de bambu, estas pouco disseminadas.

Louças, metais e instalaçõesNeste item, dificilmente se escapa dos materiais in-dustrializados, apesar de existir sempre a possibili-dade de se utilizarem elementos artesanais em ma-deira ou bambu que podem fazer às vezes de pias,torneiras e canos.

Em se tratando dos industrializados, porém,deve-se priorizar os mais eficientes e produzidos como maior rigor no que diz respeito a processos e mé-todos que respeitem o meio ambiente. Assim, deve-se optar por sanitários compostáveis ou vasos sani-tários que usem descarga de baixo fluxo, pias comfechamento automático para áreas comuns, lumi-nárias que só fiquem acesas se os hóspedes estive-rem no apartamento e equipamentos eletroeletrô-nicos que sejam o mais eficientes possível.

Uso de tradições locaisÉ importante dar o maior espaço possível para a ma-nifestação criativa do artesanato local em um hotelde selva. Elementos ou técnicas artesanais devem seraproveitados até como elementos construtivos, alémde objetos de decoração, o que já costuma acontecer.

Esteiras de palhas e tramados de cestaria podemser usados como divisórias internas, portas de armári-os, forros para telhados, revestimentos para paredes.

Com cerâmica podem ser confeccionados apli-ques e luminárias, além de moringas, pratos, pane-las, potes, saboneteiras e outros.

Com madeira e bambu podem ser feitos cor-rimões, esquadrias, bancadas, armários e móveis.Com madeira entalhada podem ser feitos, alémdo que já foi citado, pequenos objetos e acaba-mentos diferenciados.

Tecidos artesanais podem ser cortinas, colchas,revestimentos de paredes, portas e móveis, forros paratelhados, divisórias e até uniforme de funcionários.

Exemplos de tipos de cobertura

Page 20: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 21Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Meios de hospedagem | Aspectos construtivos de hotéis de selva, Sérgio Borges Pamplona

Água limpa (abastecimento)

A água é um dos temas mais prementes em qual-quer agenda ambiental que se faça. Como não po-deria deixar de ser, é um item fundamental para asustentabilidade de qualquer edificação. Ela devecontar com uma fonte segura de abastecimento deágua potável ou, melhor ainda, com pelo menos duasfontes de água potável, de forma a não correr riscosde carência desse produto fundamental.

Como em geral os hotéis de selva situam-se emlocais de acesso remoto, é natural que a rede públi-ca de água não esteja próxima. Assim, as principaisfontes de abastecimento podem ser:

• rios e nascentes, de preferência a montante dohotel, a fim de que a água possa vir por gravidade;

• águas subterrâneas, como poços e cacimbas;

• água da chuva, que pode ser captada dos te-lhados e usada para qualquer finalidade, des-de irrigação, descarga de vasos sanitários, atéconsumo humano.

A água pluvial que escorre superficialmenteno solo nos arredores do hotel de selva pode sercaptada e estocada em pequenos açudes, valas deinfiltração ou cisternas subterrâneas e pode serusada para irrigação.

Como regra geral, o projeto do hotel de selvadeve tentar impermeabilizar o solo o menos possí-vel e prever a plantação de árvores de forma inten-sa, a fim de facilitar a recarga do lençol freático – oque resultará na manutenção da quantidade e qua-lidade da água das nascentes e dos poços.

Na outra ponta da questão água, deve-se tra-tar e reutilizar toda a água consumida pelo hotel deselva em todas as suas atividades, e isso será vistono próximo item.

Água suja

O saneamento é outro ponto crucial de um hotel deselva, aliás como de qualquer agrupamento huma-no. De nada adiantará estar em um lugar lindamen-te preservado, com belos produtos ecoturísticos, seo hotel estiver contaminando com coliformes fecaise outros agentes patogênicos os cursos d’água pró-ximos ou o lençol freático sob o solo. O conceito esta-rá totalmente falho e se mostrará insustentável como tempo, quando os efeitos surgirem.

O que se deve fazer é não somente exigir que setratem os esgotos do hotel de selva, mas também, jáno projeto e na construção do empreendimento, en-carar a questão do saneamento de uma outra forma,que incorpore a seguinte visão sistêmica:

• os esgotos não são uma coisa só: devem serseparadas as águas negras das águas cinzas.Aquelas são as efetivamente contaminadascom fezes, necessitando de tratamento cuida-doso, e estas são as provenientes de pias, chu-veiros e lavanderias, e precisam de muito me-nos tratamento, apenas algumas filtragens emareia e brita, para serem reincorporadas aoecossistema sem prejuízo algum. Com isso, di-minui-se o tamanho das instalações de trata-mento e se descentraliza o sistema;

• os esgotos, principalmente as águas negras,são contaminantes, mas são também umagrande fonte de nutrientes para o sistema. Ele-mentos químicos raros e úteis poderão ser dis-ponibilizados para o solo a partir do esgoto.Portanto, devem efetivamente ser tratados,mas com o objetivo de serem reaproveitados omais próximo possível, de preferência para pro-duzir alimentos e outras plantas para o em-

preendimento, diretamente, sob a forma deadubo, ou indiretamente, por meio da produ-ção de biomassa a ser compostada;

• todo efluente deve ser tratado o mais próximopossível da fonte poluidora. Para isso, o planeja-mento eficiente é fundamental e deve estar sem-pre atento para a topografia do local, para quenão se tenha de bombear esgoto morro acima.

Há várias técnicas de tratamento primário dosesgotos. Neste manual, há um capítulo específicosobre o tema. De qualquer forma, outra possibili-dade muito interessante para o trato das fezeshumanas, bem como do lixo orgânico do hotel, é ouso de sanitários compostáveis. São aqueles que

Sanitário compostável (modelo bason)

Page 21: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 22Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Meios de hospedagem | Aspectos construtivos de hotéis de selva, Sérgio Borges Pamplona

não utilizam água, mas que recebem o materialfecal e demais dejetos sólidos (restos de comida,por exemplo) em uma câmara escura onde sofremuma compostagem e se transformam, com o tem-po, em composto fertilizante.

Esse modelo é especialmente interessante.Além de não gastar água, o material gerado jápode ser reintroduzido no ciclo natural sem pro-blemas. Por outro lado, rompe com o paradigmade se defecar na água, ao mesmo tempo em queinicialmente assusta algumas pessoas, de imedia-to encanta outras, que passam a perceber imedia-tamente a questão do ciclo natural das coisas, atédo alimento que ingerimos. Possui um caráter for-temente educativo. Mas isso não é uma imposiçãoou uma regra geral. Pode-se usar o sanitário à basede água, mas sempre procurando escolher os mo-delos que possuam caixa acoplada e que traba-lhem com pouca quantidade de água (6 litros). Jáhá vários disponíveis no mercado.

Energia

Usualmente, os empreendimentos ecoturísticos selocalizam em locais remotos. Assim, ficam em ge-ral fora do alcance da rede convencional de ener-gia elétrica. Por isso, a questão da energia – temaabordado mais a fundo em outro capítulo – é desuma importância.

Se, por um lado, isso é um problema, por outropode também ser uma oportunidade. Em vez de separtir para as soluções típicas, que são em geral ainstalação de um gerador a diesel (barulhento, po-luidor e insustentável) ou a extensão da rede até olocal, pode-se partir para alternativas energéticasrenováveis, por exemplo:

• pequenas centrais hidrelétricas (PCHs), que po-dem aproveitar qualquer queda d’água acimade 3 metros com turbinas altamente eficien-tes, como as Pelton. É o sistema mais confiávele constante e traz a tendência descentraliza-dora das soluções sustentáveis;

• painéis fotovoltaicos (convertem energia solarem eletricidade) são cada vez mais eficientes,com manutenção baixíssima e longa vida útil,mas ainda muito caros e com grande pegadaecológica. Tendem a se tornar ainda mais efici-entes, acessíveis e sustentáveis com o aumentode sua escala de produção e utilização;

• painéis solares para aquecimento de água(capturam o calor do sol e o transferem para aágua) são uma tecnologia totalmente diferen-te e bem mais acessível que a fotovoltaica, sen-do já bastante difundida pelo Brasil;

• turbinas eólicas são um sistema altamente efi-ciente e indicadas primeiramente para locaisvarridos por ventos razoavelmente fortes, comoos litorais brasileiros e alguns vales onde o ven-to sofre canalização; em geral, são mais viáveisem sistemas mistos ou híbridos com o solar, umavez que é comum acontecer de ventar quandoo sol não está brilhando;

• turbinas estacionárias que funcionam em baixarotação com o fluxo constante de um cursod’água e que são sistemas interessantes paralocais que contam com um rio caudaloso, massem quedas significativas;

• biomassa, em que se tira partido do calor e dosgases gerados a partir da decomposição dematéria orgânica para gerar calor ou energiaelétrica, como fazem as termelétricas.

É bem possível que a maior parte dessas alter-nativas tenha um custo imediato maior que os sis-temas convencionais. Quanto a isso, convém lem-brar que essas tecnologias ainda não têm a econo-mia de escala que as convencionais, mas estas mui-tas vezes não têm o seu custo ambiental (pegadaecológica) computado, o que os hotéis de selva de-vem levar em consideração. Além do mais, a longoprazo, haverá uma economia, mesmo para o país,que há um bom tempo se vê às voltas com o riscode colapso energético.

Mesmo assim, é bom planejar sempre um siste-ma auxiliar de geração de energia, para o caso dehaver problemas com o sistema principal. Assim,pode-se ter um sistema misto de energia solar eeólica e um gerador auxiliar a diesel ou gasolina,para ser acionado só em caso de emergência.

Não é nem um pouco delirante imaginar que,em breve, com o desenvolvimento ainda maior des-ses sistemas sustentáveis de energia, venha a sercomum a geração local e doméstica de energia, comojá acontece em alguns lugares do mundo, onde asconcessionárias compram de geradores particulares(pode ser uma casa, uma instalação industrial ou umempreendimento hoteleiro) o seu excedente de ener-gia e isso vai para a rede. Ao fim do mês, pode che-gar uma conta de energia com um valor a receber.

Contudo, todos esses sistemas só se viabilizama partir do momento em que a eficiência energéticapassa a ser uma meta constantemente perseguida.Então, não é demais frisar que isso significa a ado-ção de lâmpadas, implementos, fiação e equipamen-tos energeticamente eficientes, de edificações quepriorizem sistemas de ventilação e iluminação natu-rais e de um comportamento consciente de todos –hóspedes ou funcionários.

Page 22: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 23Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Meios de hospedagem | Aspectos construtivos de hotéis de selva, Sérgio Borges Pamplona

HAWKINS, D. E.; ELPHER WOOD, M.; BITTMAN,

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CEDATE. Taipa em painéis modulados. Brasília: MEC;

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MASCARÓ, Juan Luis. Infra-estrutura habitacional

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MEHTA, Hitesh. Site selection, planning and

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_____. Architectural aspects of ecotourism facilities.

S.L.: Ecolodge Design and Development Workshop;

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MOLLISON, Bill. Permaculture: a designer’s manual.

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PAIM, Flávio; URQUIZA, Otávio. Habitações auto-sus-

tentadas. Porto Alegre: Arcoo, 1995.

VAN LENGEN, Johan. Manual do arquiteto descalço.

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Bibliografia complementar

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– How to build your own. S.L.: Cal-earth Press, 1986.

MASCARÓ, Lucia et al. Luz, clima e arquitetura. São

Paulo: Nobel, 1979.

MCHENRY JR., Paul Graham. Adobe and rammed earth

buildings. S.L.: University of Arizona Press, 1984.

MOLLISON, Bill. Introdução à permacultura. Trad.

André Soares. Brasília: Ministério da Agricultura e

do Abastecimento – MA, 1998. (PNFC 0, Projeto No-

vas Fronteiras de Cooperação para o Desenvolvimen-

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VAN DER RYN, Sim; COWAN, Stuart. Ecological design.

Washington, D.C.: Island Press, 1996.

Links importantes

Forest Stewardship Council (FSC): www.fscoax.org

(credenciadora internacional de certificação de

madeira).

Smartwood: www.smartwood.org (rede credenciada

pelo FSC para certificação de madeira).

Imaflora: www.imaflora.org.br (entidade brasilei-

ra membro da Rede Smartwood – certifica madei-

ra no Brasil).

Page 23: Infra-estrutura e Serviços, 2003

www.mpefunbio.org.br - Incentivamos a cópia, reprodução e divulgação do conteúdo. Favor mencionar a fonte.

N este artigo, o público conhecerá detalhes sobre meios de

hospedagem disponíveis em áreas ambientais, aspectos admi-

nistrativos e setores que envolvem sua operação. Com agênci-

as de viagens e turismo, transportadoras e organizadores de

eventos, esses meios formam o comércio turístico que visa ofe-

recer toda sorte de serviços aos excursionistas.

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HOTELARIA – HOTÉISDE SELVA E POUSADAS

MARIA APARECIDA ARGUELHO E LUCILA EGYDIO1.2

Page 24: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 25Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Meios de hospedagem | Hotelaria – hotéis de selva e pousadas, Maria Aparecida Arguelho e Lucila Egydio

Os meios de hospedagem são todos os estabeleci-mentos que, em sua atividade comercial, oferecemo produto unidade habitacional (UH), como hotéisem todas as categorias, flats, pousadas, motéis, co-lônias de férias, albergues etc. Com as agências deviagem e turismo, os transportadores e organiza-dores de eventos formam o trade turístico, que visaoferecer qualquer serviço de que o turista ou excur-sionista possa necessitar.

Neste tópico, abordaremos os meios de hospe-dagem, seus aspectos administrativos e seus diver-sos setores, relatando, quando necessário, as carac-terísticas específicas desses setores na operação deum hotel de selva.

DefiniçõesHotel

Meio de hospedagem comercial que oferece servi-ço completo de alimentação e, obrigatoriamente,banheiro privativo, além dos demais serviços daoperação hoteleira.

Pousada

Meio de hospedagem comercial, instalado total ouparcialmente em edifício de valor histórico ou de signi-ficação regional ou local, que aluga aposentos do tipoquartos, apartamentos ou suítes, além de oferecer osdemais serviços de hotelaria. Localiza-se em ponto deatração turística, oferecendo hospitalidade e ambien-tação simples, aconchegante e integrada à região.

Hotel fazenda

Geralmente, localiza-se em áreas rurais, em fazen-das ainda ativas ou não. Pode ser um hotel ou umacasa de fazenda adaptada como meio de hospeda-gem que ofereça aposentos para pernoite com ca-racterísticas típicas da região. Os demais serviços dehospedagem podem sofrer ajustes conforme o ta-manho e as características do empreendimento.

Ecolodge (pousada de selva)

Meio de hospedagem localizado em áreas remotas,normalmente seguindo a definição de pousada, vol-tado para um segmento específico, com infra-estru-tura rústica e com características típicas da região,respeitando princípios de sustentabilidade ambien-tal em suas práticas.

Organização de empreendimentoshoteleiros

Um hotel, qualquer que seja sua dimensão, apre-senta em geral quatro processos:

Processo comercial

Envolve o contato com o hóspede antes (ao oferecero produto) e após a visita (ao verificar a impressãodo hóspede). Engloba os setores de promoções, ven-das, reservas e relações públicas do hotel.

Processo hospedagem

Compreende os serviços oferecidos durante a esta-dia do visitante no hotel e engloba os setores derecepção, telefonia, governança, lazer e eventos.

Processo alimentos e bebidas (A&B)

Refere-se aos serviços disponíveis de fornecimentoou venda de refeições disponíveis no meio de hospe-dagem em questão. Será aprofundado em tópicoespecífico adiante.

Processo administrativo

Envolve todos os setores relacionados com a coorde-nação administrativa e financeira do hotel, poden-do também englobar os setores de recursos huma-nos, segurança e manutenção.

TURISTA AlimentaçãoAtrativos

Organizadoresde eventos

Agênciade viagens

Meios dehospegagem Transportadores

Comercial

Administração

HospedagemAlimentose benidas CLIENTE

Page 25: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 26Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Meios de hospedagem | Hotelaria – hotéis de selva e pousadas, Maria Aparecida Arguelho e Lucila Egydio

Organograma básico de hotelaria

Setores

Os setores mencionados anteriormente de um meiode hospedagem podem ser resumidos conforme oorganograma abaixo.

Para que os administradores sejam eficientes,as teorias e filosofias administrativas devem ser con-vertidas em atitudes que venham a influenciar odesempenho dos funcionários.

Uma de suas principais ações é saber delegarpoderes e decisões, desde que conheça a capaci-dade e o desempenho de seus funcionários e con-fie neles. Por isso, é importante que sejam coloca-das as pessoas certas nas funções adequadas, para

que o seu potencial seja maximizado e os resulta-dos sejam a satisfação do funcionário, do adminis-trador e do cliente.

Gerente

O turismo vem ganhando uma importância cada vezmaior na economia mundial. Para conquistar essemercado, é necessário atender às necessidades eexigências específicas desse consumidor. É precisooferecer serviços de qualidade, em especial aquelesreferentes ao alojamento dos visitantes, já que osmeios de hospedagem são um dos principais supor-tes do roteiro turístico.

Embora o progresso técnico tenha trazido ino-vações e aperfeiçoamento às empresas hoteleiras,o elemento humano continua sendo a peça funda-mental, pois é dele que depende todo o processo deacolhida do cliente e, conseqüentemente, a própriarentabilidade da empresa.

O tratamento que o hóspede recebe no hotelrefletirá em grande parte na imagem que ele leva-rá da região ou do país. Portanto, atualmente exi-ge-se do elemento humano uma formação especi-alizada para todos os níveis de ocupação que com-põem a estrutura organizacional do hotel. Mas, aci-ma de tudo, exigem-se um comportamento ético epessoas em cargos de administração.

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Gerente geral

Controle

Chefe de A&B

MaîtreCozinheirosAuxiliares

Garçons Copeiros

Chefe deGovernança

FuncionáriosLavanderiaSupervisora

Camareira

Chefe de recepção

Telefonistas Recepcionistas

Reservas

Reservasnacionais

Reservasinternacionais

Chefe manutenção

JardineirosEncanadorEletricista

Vendas emarketing

Page 26: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 27Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Meios de hospedagem | Hotelaria – hotéis de selva e pousadas, Maria Aparecida Arguelho e Lucila Egydio

A importância da ética nas empresas cresceu apartir da década de 1980 com a redução das hie-rarquias e a conseqüente autonomia dada aos fun-cionários. Com isso, cabe ao administrador do hotelcomprometer-se com valores como honestidade emqualquer situação; coragem para assumir as deci-sões tomadas; tolerância e flexibilidade; integrida-de e humildade. A opinião dos demais funcionáriospode trazer importantes contribuições, e deve-sereconhecer que o sucesso individual é resultado dotrabalho em equipe.

Cabe ao administrador:

• avaliar detalhadamente os valores da empresa;

• trabalhar sempre com base em fatos;

• avaliar os riscos de cada decisão a tomar;

• saber que, mesmo ao optar pela solução mais éti-ca, poderá se envolver em situações delicadas;

• saber que ser ético significa muitas vezes per-der dinheiro, status e benefícios.

Todos esses valores e princípios auxiliam o ge-rente de hotel na execução de suas funções, queenvolvem a coordenação de todos os setores e a buscade um trabalho integrado que, como produto final,trará a satisfação do hóspede.

Recursos humanos

O setor é extremamente importante na indústriahoteleira pois, por se tratar de prestação de servi-ços, depende de funcionários bem selecionados, bemtreinados e com monitoramento constante na exe-cução de suas funções. Esse acompanhamento visacorrigir possíveis desvios e, fundamentalmente, re-conhecer o bom desempenho.

A dimensão do empreendimento definirá a ne-cessidade ou não de uma equipe específica paraesse fim. Esse departamento responsabiliza-se pelaseleção de funcionários, registro de empregados,folha de pagamentos, recolhimentos trabalhistas,administração de férias e benefícios oferecidos, or-ganização de treinamentos e desenvolvimento pro-fissional, entre outros. Portanto, caso não existaum departamento específico para esse fim, podem-se delegar algumas das funções a um escritório decontabilidade e outras podem ser exercidas pelopróprio administrador.

O administrador inicia o programa de recur-sos humanos de seu empreendimento ao fazer odesenho da estrutura organizacional que será im-plementada, quando dimensiona o quadro ideal,indicando quantos e que tipos de funcionários se-rão necessários.

A rotatividade de alguns setores é fator queserve como indicativo das relações de trabalho e dasatisfação dos funcionários. É também importanteque o administrador tenha claro o que espera decada funcionário. A elaboração de “descrições decargo” pode auxiliar o administrador e o funcioná-rio na compreensão do que se espera de seu de-sempenho. No entanto, pode dificultar as relações,caso se tenha o entendimento (errôneo) de que sedeve ficar limitado ao que foi descrito. Na áreahoteleira, é condição básica o estímulo ao espíritode cooperação entre todos os setores, carecendode pessoas multifuncionais.

Hotéis de selva têm, em geral, operação bas-tante sazonal, o que vai interferir no desenho doquadro de funcionários, dado que existem deman-das diferentes na alta e na baixa temporada. Esseaspecto será crucial na escolha da equipe de baixa

temporada, que deve ser composta por pessoas quepossam exercer funções diversas, não se atendo so-mente ao que exige seu cargo.

O administrador deve ser extremamente cui-dadoso na seleção, na designação de funções e notreinamento da equipe base – que usualmente sus-tenta a operação – apelando para mais funcionáriossomente quando efetivamente precisar. Dependen-do da localização do hotel de selva, podem existirpessoas que não são empregadas na operação du-rante a baixa temporada, mas se devem estudarformas alternativas de emprego, aproveitando ofuncionário em outras funções na mesma área ouem áreas vizinhas, para evitar perdê-lo na alta tem-porada, principalmente quando já foi treinado.

Segurança

A organização e a existência de um sistema de segu-rança em hotéis dependem da sua localização. Mes-mo com apoio dos órgãos oficiais, deve-se verificar anecessidade de um sistema para resolução de rarose pequenos problemas nesse setor. Em áreas demaior perigo, é evidente a necessidade de contrata-ção de serviços especializados. Atualmente, essesserviços são usualmente terceirizados.

A segurança deve ser praticada por pessoal trei-nado para esse fim e desarmado, que circula nos pon-tos mais expostos do prédio, como portarias, estacio-namento e outros pontos que careçam desse serviço(como o bar, o restaurante ou a boate do hotel).

Em hotéis de selva, a segurança é voltada aoatendimento de emergências noturnas, não sendoindispensável, mas os hóspedes devem saber a quemrecorrer em caso de emergências em horários emque os demais funcionários não estão em serviço.

Page 27: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 28Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Meios de hospedagem | Hotelaria – hotéis de selva e pousadas, Maria Aparecida Arguelho e Lucila Egydio

Chalés da Pousada dos Guanavenas, Ilha de Silves, AM

Robe

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M. F

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rão

Deve ser estabelecido o procedimento em ca-sos de emergência, definindo quem é responsávelpelo atendimento conforme o caso, por resgate, pri-meiros socorros e transporte para hospital. É indis-pensável que os funcionários de hotéis de selva te-nham treinamento em primeiros socorros.

O plano de segurança deve ser elaborado con-forme a disponibilidade de equipamentos e de pes-soal, além da distância do centro mais próximo parao atendimento da vítima.

Nesse plano, devem ser considerados:

• quem é capacitado para atender a cada tipode emergência;

• quais os equipamentos disponíveis para oatendimento;

• quais veículos podem ser utilizados no transporte(conforme o local do acidente);

• locais que estão equipados adequadamentepara atender ao caso (deve-se fazer levan-tamento de hospitais e clínicas da região,acesso possível, horário de atendimento,médicos responsáveis, especialidades médi-cas disponíveis etc.);

• parcerias que podem auxiliar na remoção dasvítimas (em alguns locais, podem ser feitos acor-dos com polícia, exército ou iniciativa privadapara auxílio em caso de emergência).

Manutenção

Há dois tipos de manutenção: a corretiva e a pre-ventiva. O desejável é que a última seja rotineira efreqüente, para evitar a necessidade da primeira. Aadministração do hotel deve diagnosticar os equipa-mentos e as instalações que devam ser objeto de

revisão periódica, para designar os funcionários res-ponsáveis por essa função. Com os especialistas, aadministração deve definir a periodicidade e o tipode revisão a que cada equipamento e instalaçãodevem ser submetidos, fornecendo as ferramentasadequadas para os funcionários designados.

A preparação de listas de checagem (check-lists) auxilia o funcionário a verificar todos os pon-tos necessários e a levar ao conhecimento da ad-ministração os ajustes que devem ser efetuados,além de permitir a documentação das revisões queforem feitas.

Com seus funcionários, cabe ao administradordefinir quais os tipos de material que serão estoca-dos para que os ajustes e reparosnecessários possam ser feitos deforma independente. No entan-to, também se pode decidir pelaterceirização desse tipo de servi-ço, prática bastante comum naatualidade. Os profissionais de hi-dráulica, mecânica, marcenaria,elétrica e construção civil são con-tratados especificamente confor-me a demanda de serviços.

Em caso de hotéis de selva,os serviços de manutenção roti-neira são executados, em muitoscasos, por uma ou duas pessoascom múlltiplas habilidades, tipode “faz tudo”, chamadas de “fun-cionários polivalentes”, que po-dem receber treinamento paraaperfeiçoar seus conhecimentos.A contratação de mão-de-obraespecializada ocorre em caso de

reparos de equipamentos mais específicos. O dese-nho da equipe de manutenção será definido confor-me o tamanho e o tipo de equipamentos utilizados.

Almoxarifado

É fundamental na operação hoteleira, pois é res-ponsável pelo recebimento, conferência, estocagem,conservação, distribuição e controle dos produtosutilizados pelos diversos setores do hotel. O bomdesempenho do empreendimento depende em gran-de parte da boa organização e gestão dos estoquesadequados e do bom entrosamento entre esse e osdemais setores do hotel.

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• 29Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Meios de hospedagem | Hotelaria – hotéis de selva e pousadas, Maria Aparecida Arguelho e Lucila Egydio

Cabe ao almoxarifado:

• receber e conferir mercadorias;

• verificar se a qualidade dos produtos é adequada;

• estocar em locais adequados;

• atender a requisições internas;

• registrar notas fiscais;

• controlar e gerar estoques;

• solicitar compras;

• acompanhar balanços e inventários;

• arquivar documentos do setor.

A localização do almoxarifado deve ser bemplanejada, e não um somatório de cubículos quesobraram. A dimensão adequada e, conseqüente-mente, sua organização e seu funcionamento sãofatores que acarretarão uma fluidez no serviço ebom acondicionamento dos materiais utilizadospor todos os setores.

O almoxarifado deve primar pela higiene, jáque o armazenamento de diversos produtos podeatrair insetos e animais indesejáveis. A organiza-ção do almoxarifado deve levar em consideraçãoa diversidade de produtos perecíveis, os quais de-vem ser estocados nas condições necessárias paramanter suas características e estar visíveis paracontrole constante.

As prateleiras utilizadas devem facilitar a cir-culação de ar, e os produtos precisam ser acondi-cionados de forma organizada e por categorias.Jamais misture alimentos com produtos de lim-peza ou com outros produtos químicos que pos-sam contaminá-los.

Todos os produtos devem ser catalogados epossuir uma ficha de prateleira, para reposiçãosempre que o estoque mínimo seja alcançado e

que não seja mais comprado caso atinja o estoquemáximo. As rotinas de funcionamento serão defi-nidas pela operação do hotel. Os setores devemsaber como fazer projeções do uso de materiaispara pedidos prévios antes do fechamento do al-moxarifado. Todos os produtos saem do almoxari-fado mediante fichas de requisição interna, assi-nados pelos coordenadores dos setores ou por fun-cionários autorizados.

Controle de custos

Todos os produtos e serviços oferecidos no hotel têmcustos que podem ser contabilizados conforme seuscomponentes. Nessa contabilização, entram os ma-teriais utilizados e a mão-de-obra empregada.

Antes de executar uma compra de ativo fixo,material de consumo ou revenda, é obrigação co-nhecer ou fazer uso da análise de preço–custo da-quilo que precisa ser comprado. Não é preciso sereconomista, mas o administrador deve estar sem-pre interessado nos elementos do custo e em comoé montada a estrutura do preço e da venda.

Um bom comprador faz sempre estas perguntasa si mesmo:

• como o fornecedor estabelece um preço?

• O que diz o mercado?

• Comparando com preços de produtos similaresno mercado, qual é o quadro?

É importante evitar a confusão entre “preço”e “custo”.

• Preço – é o valor de venda.

• Custo – é quanto foi gasto na fabricação doproduto/serviço.

Algumas normas recomendáveis na atuaçãode compras:

• a pessoa responsável pelas compras deve se-guir as normas e os critérios da administração,programando o pedido, definindo as opções dolocal de compra e a entrega da mercadoria ouda prestação de um serviço;

• simplificar métodos e processos de estoque edisponibilização de materiais;

• manter e melhorar a qualidade do produto final.

Principais responsabilidades do suprimento:

• identificar o que deve ser comprado;

• comprar nas melhores condições (qualidade xpreço x forma de pagamento);

• receber e conferir efetivamente a mercadoria;

• guardar de forma adequada considerando ascaracterísticas dos materiais;

• distribuir de maneira criteriosa.

Como controlar materiais:

• minimizar investimentos em estoque;

• minimizar perdas, riscos e desperdícios.

Reposição

É preciso considerar a real necessidade da comprapara não haver estoque excessivo e nem capitalde giro parado. O responsável pelo setor precisaestar ciente das compras efetuadas e manter umcontrole de estoque para ter noção exata do mo-mento do recebimento.

Deve ser definido para cada um dos itens man-tidos em estoque um “estoque mínimo” que, quan-do atingido, indica a necessidade de reposição. O“estoque máximo” implica a necessidade do uso da

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mercadoria antes de perder a validade. Esses núme-ros dependem do ritmo de uso de cada item. Isso vaisendo ajustado conforme a operação do lugar e di-fere da alta para a baixa temporada, por exemplo.Os números também podem ser indicadores das pre-ferências dos visitantes/consumidores.

Relação com fornecedores

Não se pode atingir o objetivo, satisfazer o clientee obter um lucro aceitável sem a contínua coope-ração e o apoio de todos aqueles que ajudam asuprir as necessidades da empresa. Com isso, deve-se sempre tratar fornecedores e colaboradorescomo potenciais clientes, estabelecendo uma re-lação saudável de parceria.

Administração hoteleira

A definição do papel do administrador de um hotel deselva depende da própria filosofia do empreendimen-to. Empresas dessa natureza devem pautar-se por prin-cípios de respeito ao ambiente natural e social circun-dante, assegurando que, nas ações empreendidas:

• os impactos ambientais e sociais das ativida-des, produtos e serviços da empresa sejamminimizados;

• haja um comprometimento com a melhoria con-tínua de serviços e com o uso de equipamentose ações voltadas para a sustentabilidade ambi-ental, social e econômica.

É necessário que o administrador tenha conhe-cimento dos efeitos decorrentes das atividades doempreendimento que possam afetar o ambiente,assim como se empenhe em transmitir esses co-nhecimentos aos funcionários. Os pontos de perda

troles e a coordenação direta de cada setor, carac-terizando uma organização hierárquica mais hori-zontal, sem intermediários entre a gerência e osdemais funcionários.

Esses fatores devem ser decididos conformeo planejamento do empreendimento e a deman-da que vai sendo gerada na operação, o que podeser modificado de acordo com a própria sazonali-dade da operação.

É bastante comum a existência de equipes dife-renciadas para a alta, a média e a baixa tempora-das. Cabe ao administrador otimizar o aproveita-mento da mão-de-obra, equilibrando da melhor for-ma as atividades com o número de funcionários.

Interface operação–cliente

São os momentos de contato entre potenciais e atu-ais hóspedes com todo o sistema de informações eadministração do hotel. Abrange desde o momentoda venda do produto, quando o cliente faz o primeiro

de insumos, de matérias-primas, de água e de ener-gia, a geração de efluentes, ruídos, emissões, lixo,aparas, entre outros, e os riscos de acidentes sãoaspectos importantes a serem considerados parauma administração efetiva dos impactos que o em-preendimento possa causar. Esses fatores tambémauxiliam no planejamento geral das ações adminis-trativas necessárias. Por exemplo, a partir dos da-dos pode-se definir um projeto de redução dodesperdício, substituir equipamentos, racio-nalizar processos etc.

Como a legislação sobre uso de equi-pamentos e ações ecologicamente corre-tas é incipiente no Brasil, cabe ao planeja-dor e ao administrador a busca pela imple-mentação de processos de menor impacto am-biental e social, além do constante monitoramen-to das atividades para revisão e reelaboração daspráticas adotadas.

Papel do administrador

A administração de hotéis de selva possui caracte-rísticas próprias, derivadas da própria evolução dosetor e das especificidades que vão sendo demanda-das por essa operação diferenciada.

Como as escalas em hotéis dessa natureza sãosempre menores, o administrador acaba acumulan-do e exercendo mais funções diretamente do quedelegando a subalternos. No entanto, é ele próprioquem costuma definir a necessidade ou não de mão-de-obra especializada, segundo suas próprias limi-tações profissionais.

A multifuncionalidade começa pela adminis-tração em hotéis de áreas remotas. Muitas vezes,nesses casos, as posições de chefia são inexistentese é o próprio administrador quem realiza os con-

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contato, até a saída, envolvendo os setores de ven-das e reservas, telefonia e recepção. Em todos eles,a conduta deve ser pautada por:

• cortesia;

• cooperação;

• discrição;

• rapidez;

• objetividade;

• linguagem adequada;

• postura.

Promoção e vendas

Responde por todos os processos de divulgação eefetivação das vendas do produto/empreendimentono público que se deseja atingir. Cabe a esse setor:

• Definir objetivos e planejar a estratégia de vendas

- Definir o público-alvo e os mecanismos que se-rão utilizados para melhor atingi-lo

- Prever e quantificar as vendas que devem serefetuadas para atingir os resultados financei-ros desejados

• Administrar as vendas

- Implementar mecanismos de acompanhamen-to das vendas efetuadas para futuras análises

• Monitorar os resultados das vendas

- Valendo-se dos mecanismos de acompanha-mento, verificar se as metas estabelecidas fo-ram ou não atingidas, buscando razões paraos resultados atingidos

• Estudar e mobilizar recursos para o setor

- Estabelecer, com base nos resultados atingi-dos, quais as fontes de recursos para a suamelhoria, restabelecendo metas

• Manter o cadastro dos clientes

- Estimular o retorno dos clientes, por meioda informação constante sobre novos pro-dutos e serviços

• Manter blocos de contratos

- Produzir arquivo e controle dos contratosefetuados com clientes e revendedores

• Estabelecer divisão de carteira por vendedor

- Definir as cotas de clientes que ficarão sob aresponsabilidade de cada profissional

• Elaborar e executar a programação semanal devisitas a clientes

• Efetuar pagamento das comissões a reven-dedores

• Manter controle de dados estatísticos sobreclientes

- Elaborar formas de coleta de dados sobreos clientes e suas impressões, para que asatividades de pós-venda sejam potenciali-zadas, assim como a redefinição e o alcancede novos públicos-alvo.

A política de vendas deve ser definida e divulgadaaos clientes e revendedores, para que todos tenhamprincípios e condutas pelas quais possam se balizar.

Promoção e vendas em hotéis de selva

Como normalmente caracterizam-se por menor es-trutura, os hotéis de selva não possuem departamen-to de vendas próprio, fazendo parcerias com opera-dores e agentes de viagem que se ocupam de promo-ver e vender o produto. Mesmo assim, as responsabi-lidades são as mesmas, e os proprietários de peque-nos empreendimentos devem preocupar-se com to-dos os fatores mencionados, mas em menor escala.

É fundamental que o administrador tenha claroquais são suas metas e qual é a imagem que desejadivulgar de seu produto. As parcerias devem satisfa-zer os princípios delineados para o empreendimento,e a divulgação deve basear-se nas reais característi-cas e serviços que serão encontrados pelos clientes.Criar falsas expectativas é um erro fatal. A propa-ganda negativa propaga-se em escala e velocidademuito maiores do que a propaganda positiva.

De qualquer forma, é necessário uma pessoaresponsável pelo acompanhamento das vendas e re-servas, além da análise dos resultados ao longo dotempo, para definir quais as modificações necessári-as na estratégia de promoção. Somente quem co-nhece o lugar pode divulgar de forma correta. Por-tanto, a organização de fam tours (familiarizationtours) é indicada para que a imprensa e os agen-tes de viagem promovam o produto com conheci-mento de causa.

A política de vendas pode ser um documentoque auxilie o empreendedor a estabelecer regrascom seus parceiros e clientes no que se refere aosprocedimentos adotados para efetuar e confirmarreservas e cancelamentos. Essa política deve con-ter um descritivo do empreendimento, a políticade comissionamento e também os prazos de paga-mento e cancelamento. Esse procedimento auxiliao administrador a negociar com seus clientes combase em critérios preestabelecidos e de conheci-mento de ambas as partes.

Com relação ao empreendimento em si, é im-portante que exista o cuidado em construir uma iden-tidade, com base no que o produto tem de diferencialno mercado. As vendas podem ser feitas diretamen-te, sem o auxílio de operadoras e agências, o queimplica preparo de espaço e pessoal para esse fim.

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TelefoniaA telefonista também exerce um importante papelna venda e na imagem do produto hoteleiro. Ela égeralmente a primeira pessoa a entrar em contatocom uma grande parcela de clientes, justamenteaquela que solicita a reserva. Além disso, recebe etransmite recados ou informações. Cabe, portanto,à pessoa encarregada desse serviço ser dotada dequalidades como: voz agradável e clara, conhecimen-to de idiomas, calma e educação.

Tanto as telefonistas como os funcionários derecepção devem receber treinamento conjuntopara o pronto, coordenado e efetivo atendimentodas necessidades dos hóspedes.

ReservasO setor deve ficar próximo à recepção, já que ambosfuncionam em constante sistema de troca de informa-ções. A reserva pode ser feita pessoalmente, direta ouindiretamente, via correio, telefone, fax ou e-mail.

Os administradores têm que definir de antemãoquais desses instrumentos serão utilizados e devempreparar-se adequadamente para isso. A Internetagiliza bastante todo o processo, mas a infra-estru-tura e os funcionários devem estar capacitados e cri-ar rotinas para utilizar essa ferramenta.

Os funcionários precisam operar em sistemasinformatizados de reservas ou possuir mapas dereservas, que devem ser consultados a cada solici-tação. Ao receber a solicitação, a checagem nosmapas de ocupação vai apontar se existem condi-ções para atender ao pedido.

Se não for possível atender ao pedido exata-mente dentro do solicitado, devem-se buscar ou-tras alternativas, pois o setor de reservas é um

dos principais pontos de venda do hotel. Caso aresposta seja positiva, retorne a solicitação o maisrápido possível.

Recepção

Postura

O hotel é um sistema integrado. Embora todas aspartes que compõem o sistema sejam importantespara o seu perfeito funcionamento, algumas têmpapel-chave. Uma delas é a recepção, pois o clienteé aí recebido e mantém contato constante com eladurante a sua estada. Além disso, é a recepção quelhe presta os últimos serviços.

Cabe ao pessoal da recepção:

• Tratamento profissionalA formalidade no tratamento é sempre ditadapelo hóspede. A primeira abordagem deve sem-pre ser formal e, caso o hóspede requeira, pode-se perder essa formalidade. Os recepcionistasdevem ser solícitos, sabendo colocar-se na posi-ção do cliente para solucionar seus problemas.

• Clareza e educaçãoAs informações e perguntas têm que ser feitassempre com clareza, utilizando palavras simplese de conhecimento geral. Evitar o uso de jar-gões da atividade, pois nem todos conhecem ostermos específicos do meio. A velha regra do“por favor, com licença e obrigado” precisa sermais observada do que nunca!

• Cortesia e discriçãoAtender com um sorriso causa mais bem-estaraos clientes. No entanto, não precisa ser artifi-cial, o que é facilmente perceptível.

As atividades dos hóspedes durante sua estadadizem respeito somente a eles. No entanto, ohóspede deve ser abordado em casos em quesuas atividades interfiram na rotina de serviçosdo empreendimento ou firam as suas regras,mesmo assim com discrição e educação.

• CooperaçãoEmbora cada funcionário tenha suas própriasfunções, é fundamental ter sempre em menteo espírito de equipe, procurando auxiliar os co-legas de trabalho em caso de necessidade. Obom cumprimento das funções do conjunto é oque fará com que o hóspede saia contente comos serviços oferecidos.

• InformaçãoA equipe da recepção, assim como a equipe detelefonia, deve dispor de um arsenal de infor-mações que possam ser requeridas pelos hós-pedes. Essas podem ser concernentes ao pró-prio hotel, como voltagem, localização de equi-pamentos e serviços, materiais utilizados, re-ceitas, entre outras. Também devem dispor deinformações sobre serviços e atividades em ge-ral que sejam oferecidos na localidade e arre-dores. Mapas, meios de transporte, númerosde telefones úteis, atividades culturais e delazer podem auxiliar o visitante a desfrutarmelhor de sua estada.

• Aparência pessoalAsseio e higiene são fundamentais para a boaapresentação de qualquer funcionário. Como arecepção é o primeiro contato visual que os hós-pedes fazem com a equipe do hotel, deve trans-mitir, pela sua postura e apresentação, os prin-cípios seguidos pelo empreendimento.

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Chalé flutuante, Uacarí Lodge, Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamiraua,Tefé, AM

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Rotinas de trabalho

As funções dos recepcionistas dependem dos tur-nos em que trabalham e das distribuições de fun-ções por turno.

Em geral, no turno da manhã se observa gran-de número de saídas de hóspedes, principalmenteaqueles cujas diárias vencem às 12 horas. O horáriode vencimento da diária é determinado pela admi-nistração do hotel, de acordo com a sua clientela, e acobrança de diária extra ou meia diária é definidana política de vendas.

O segundo turno, no período da tarde em geral,concentra grande número de entradas. O(s)recepcionista(s) deve(m) ter conhecimento das previ-sões de chegadas e também de apartamentos livres,para os possíveis hóspedes sem reserva (walk-in).

O turno da noite e madrugada é em geral maiscalmo, quando é feita a auditoria, o fechamento dodia e emissão de todos os relatórios.

Todas as chegadas (check in) envolvem o preen-chimento da ficha nacional de registro de hóspedes(FNRH), instrumento importante para que posteri-ormente possam ser obtidos dados estatísticos so-bre os visitantes.

É a partir daí que o Instituto Brasileiro de Turis-mo (Embratur) elabora diversas análises acerca damovimentação turística no país.

Os funcionários de cada turno devem ter ummomento de encontro para que os fatos dos turnosanteriores sejam levados ao conhecimento de to-dos. Portanto, os horários devem ser programadostendo em mente essa prática.

Além disso, é importante a existência de um li-vro de ocorrências, no qual são anotados os fatos quemerecem ser levados ao conhecimento da gerência.

Esquematicamente,temos como funções darecepção:

• realização de check ine check out;

• controle do painel dechaves e recados;

• lançamentos nas fatu-ras dos hóspedes;

• atribuição de aparta-mentos;

• esclarecimento de dú-vidas dos hóspedes;

• preparação da previsãopara o dia seguinte;

• atualização de dados;

• emissão de relatóriospara auditoria;

• controle dos serviçosde cofre, guarda-volu-mes e outros.

Existem diversos programas de computadorque agilizam essas funções. No entanto, há hotéisde menor porte que sobrevivem perfeitamentesem tais ferramentas. O administrador deve terclara a dimensão de seu empreendimento paraadequar as ferramentas às necessidades dele e àmão-de-obra disponível.

Governança

O hotel tem como missão acolher o viajante, alojá-lo. Portanto, o setor de governança trata da própriaessência da empresa. É o departamento que se ocu-

pa basicamente da arrumação dos apartamentos,lavanderia/rouparia e serviços de limpeza.

O setor é coordenado por uma governanta, quetem como subordinada uma supervisora ou camarei-ra-chefe, que controla a qualidade de serviço das de-mais camareiras. Estas são responsáveis pela limpe-za e arrumação dos quartos e áreas comuns do hotel.

Uma governanta deve:

• estimular trabalho em equipe;

• desenvolver nos seus subordinados o espírito deresponsabilidade;

• criar clima agradável de trabalho.

Page 33: Infra-estrutura e Serviços, 2003

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Serviço de limpeza

O principal serviço do setor é a limpeza dos aparta-mentos. O viajante dirige-se ao hotel para pernoi-tar. Ao utilizar o apartamento, deseja usufruir detodo o bem-estar. Significa que o apartamento devepossuir dimensões, materiais e equipamentos deacordo com a categoria do estabelecimento.

Dentro do espaço físico oferecido pelo aparta-mento, devem-se ordenar, da melhor maneira pos-sível, todos os móveis, materiais, utensílios e equipa-mentos, não esquecendo da decoração. Em hotéisde selva e fazenda, é importante que sejam decora-dos com artesanato e utensílios locais.

Funções

A governanta ou sua ajudante acompanha os rela-tórios gerados pela supervisora, mantendo registrosde quem arrumou cada apartamento e procurandodesignar sempre as mesmas camareiras para cadagrupo de apartamentos.

As camareiras fazem a limpeza dos aparta-mentos e pode ser requisitado que preencham aficha de limpeza e faxina (ver Tabela 1), depoisverificada pela camareira-chefe ou pela supervi-sora, se houver. De qualquer forma, alguém daequipe deve ser responsável por verificar os servi-ços das camareiras.

A ficha é preenchida pelas camareiras e revisa-da pela supervisora ou governanta, que encaminhaao setor de manutenção a solicitação dos reparosnecessários. A solicitação pode ser feita pela fichade requisição e manutenção (Tabela 2).

As camareiras também são responsáveis porlançar o consumo dos hóspedes em suas faturasem casos em que os apartamentos tenham frigo-bar. Quando o hotel fornece serviços de lavande-ria, cabe a elas recolher a roupa suja e retorná-laao apartamento.

A governanta tem que fazer revisões periódi-cas do estado de limpeza e arrumação dos aparta-mentos, assim como das condições dos móveis eequipamentos do aposento. Para isso, precisa ela-borar uma lista de vistoria, com base na Tabela 3.TABELA 1 – Ficha de camareira/arrumadeira

Limpeza Faxina

Apto. no Status Ocupação Camas usadas Manutenção Obs.

Simples Ocupado Duplo Desocupado Triplo Quádruplo

Simples Ocupado Duplo Desocupado Triplo Quádruplo

Simples Ocupado Duplo Desocupado Triplo Quádruplo

Assinatura camareira Assinatura supervisora/governanta

Tabela 2 – Requisição de manutenção

Apto no / local Ação Prioridade

01 Conserto sifão Urgente

da pia (vazando) Normal

Cozinha Reparo no forno elétrico Urgente

(aquece apenas um lado) Normal

Urgente

Normal

Urgente

Normal

Urgente

Normal

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Aposentos e áreas comuns

As rotinas de arrumação e limpeza dependem dadisposição e do tamanho dos apartamentos, do tipode forração e decoração, dos equipamentos exis-tentes e das características das áreas comuns. Es-ses fatores definirão o tamanho da equipe neces-sária para realizar a limpeza de forma eficiente eos equipamentos de que as camareiras necessita-rão para realizar suas tarefas.

À governanta cabe a função de dividir a cargade trabalho para cada camareira, de modo que oserviço seja distribuído igualmente. Como a ocu-pação é flutuante, cabe à governanta definir o tipode limpeza a ser efetuado e sua periodicidade. Asaída (após o check out) requer uma limpeza maisprofunda e demorada, enquanto as limpezas roti-neiras devem ater-se aos pontos principais defini-dos pela governanta.

Lavanderia

Tem como tarefas lavar e passar tanto roupas dohotel como de hóspedes, além de fazer reparos,estocar e controlar a quantidade e qualidade dasroupas do hotel. Não é responsável apenas pelasroupas de cama e banho, mas também pelas toa-lhas de mesa, guardanapos, panos de copa e pelosuniformes dos funcionários.

Esse setor foi o maior alvo de terceirizaçõesna indústria hoteleira. Muitos hotéis não possuemlavanderia própria, delegando essas funções a em-presas especializadas.

Produtos utilizados

Os produtos de limpeza e lavanderia de hotéis sãoespecíficos para o uso em larga escala e existe umainfinidade de produtos específicos conforme o tipo

Tabela 3 – Vistoria

Aspecto geral

Excelente Bom Aceitável Inadequado

APTO. no : ARRUMADEIRA:

Banheiro

Chão Louça Box Torneiras

Bom Bom Bom BomAceitável Aceitável Aceitável AceitávelInadequado Inadequado Inadequado Inadequado

Ralos Chuveiros Vidros Toalhas

Bom Bom Bom BomAceitável Aceitável Aceitável AceitávelInadequado Inadequado Inadequado Inadequado

Tapetes/pisos Acessórios

Bom BomAceitável AceitávelInadequado Inadequado

Observações: Data:

Assinatura:

Quarto

Piso Vidros Portas Móveis (externos)

Bom Bom Bom BomAceitável Aceitável Aceitável AceitávelInadequado Inadequado Inadequado Inadequado

Camas Móveis (interior) Frestas/arestas Acúmulo de poeira

Bom Bom Bom BomAceitável Aceitável Aceitável AceitávelInadequado Inadequado Inadequado Inadequado

Page 35: Infra-estrutura e Serviços, 2003

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de tapete ou forração, conforme os tecidos dos len-çóis, as cores etc. Cabe à governanta, com o depar-tamento de compras, optar por aqueles que aten-dam melhor suas necessidades e sejam condizentescom os princípios do empreendimento.

Governança em hotéis de selva

Possui a mesma importância que os mesmos setoresde outros meios de hospedagem. A acomodação doshóspedes continua sendo primordial, muito emboraeles não se dirijam a essas áreas exatamente pelaacomodação, mas sim pelo entorno.

Cabe ao empreendedor oferecer as melhorescondições possíveis, dentro dos princípios de integra-ção com o ambiente circundante, utilização de ma-teriais da região e respeito às características locais.Esses elementos devem ser objeto de grande cuida-do na decoração dos ambientes.

O treinamento das camareiras pode exigir aten-ção especial em áreas remotas, dado que muitaspodem não estar acostumadas às rotinas de limpe-za exigidas em meios de hospedagem.

O chefe de A&B coordena todos os envolvidos noprocesso, participando da elaboração dos cardápios,da definição da qualidade da matéria-prima a ser ad-quirida, do orçamento de venda, tanto para clientescomo para eventos, da organização, manutenção eatualização da fichas técnicas dos pratos e bebidas, dacoordenação das equipes do setor, do acompanhamen-to das etapas de produção dos pratos e bebidas e doatendimento aos hóspedes e clientes.

Cabe ao coordenador do setor ter conhecimen-tos sobre os pratos adequados à clientela e suas re-ceitas, drinques e suas receitas, pré-preparo e apre-sentação, custos e fornecimento de matérias-primase, ainda, marketing da área.

Nesse departamento, estão incluídos os servi-ços de bar, copa, cozinha e restaurante. Caso o em-preendimento também ofereça serviços de eventos,é importante haver afinação entre os dois setorespara que os serviços oferecidos tenham qualidade.

Cozinha

Forma um conjunto ordenado de equipamentos einstalações integrados no esquema funcional. Emhotéis pequenos, a cozinha pode ter um layout do-méstico, quando atende a poucos hóspedes.

No entanto, quando o número de pessoas aten-didas aumenta ou quando o cardápio passa a terpratos mais sofisticados, é preciso planejar a instala-ção de equipamentos industriais, que facilitam o pre-paro de alimentos nessas condições. Isso tambémimplicará a necessidade de organizar as tarefas parao adequado preparo do cardápio.

Nesse caso, a cozinha passa a ser bastante simi-lar a uma linha de montagem, com setores de arma-zenamento, pré-preparo, distribuição de produtos

Cabe à governanta demonstrar os passos a se-rem seguidos na arrumação e limpeza e demonstrara qualidade a ser buscada, considerando sempre ascontribuições de suas subordinadas, além de acom-panhar o trabalho para as correções necessárias.

As técnicas de limpeza obedecem às regras pa-drão de limpeza e arrumação.

Um ponto crucial é a escolha dos produtos queserão utilizados. Como a operação pauta-se porprincípios de sustentabilidade ambiental, deve-seoptar por produtos inócuos ao meio ambiente oubiodegradáveis, minimizando os impactos negati-vos da atividade.

As práticas e as rotinas de trabalho adotadastêm que levar em consideração a economia de re-cursos, como água e energia elétrica. O uso de ma-teriais também deve ser criterioso, principalmen-te os químicos agressivos. Isso envolve constantemonitoramento e trabalho de educação ambien-tal com os funcionários e não deve restringir-se aosetor de governança.

Alimentos e bebidas (A&B)

Pode ser um setor de apoio aosserviços oferecidos ou tornar-seuma entidade própria, quepresta serviços ao hotel; res-tringir-se ao café da manhã,oferecer demais serviços de re-feição ou disputar o mercado

com a concorrência local, abrin-do-se ao público externo. Pode

ser importante centro de receitase também se tornar ponto de refe-

rência dentro do empreendimento.

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• 37Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Meios de hospedagem | Hotelaria – hotéis de selva e pousadas, Maria Aparecida Arguelho e Lucila Egydio

semiprontos e finalização/acabamento. Conforme ovolume de refeições a ser servido, pode-se ter umaestrutura de cozinha central, que processa até a eta-pa de produtos semiprontos, com cozinhas secundá-rias, que finalizam os pratos.

Todo o sistema também dependerá do tipo deserviço oferecido pelo restaurante. Quando o res-taurante oferece serviço à la carte, será necessárioum maior número de cozinheiros especializados emaior espaço para circulação.

Quando o serviço é do tipo bufê, com pratosprontos, menos profissionais serão necessários. Tudoisso vai influenciar no layout da cozinha e do restau-rante. Portanto, o dimensionamento da equipe e oplanejamento da cozinha dependem do tipo de ser-viço que se deseja oferecer.

Esse planejamento definirá os equipamentos eos utensílios necessários, o pessoal, as matérias-pri-mas e a estrutura organizacional do setor.

Os funcionários de uma cozinha, quando com-pleta, são os seguintes:

• chefe de cozinha;

• cantador.

Para a cozinha fria, são necessários:

• açougueiro;

• peixeiro;

• legumeiro;

• guarda-comidas.

Para a cozinha quente, são necessários:

• molheiro;

• cozinheiro de guarnições;

• cozinheiro de grelhados;

• assador;

• padeiro;

• confeiteiro;

• limpador de panelas.

Em cozinhas de micro e pequeno porte, os pro-fissionais devem acumular conhecimentos, uma vezque acabam se envolvendo em diversas funções.Mesmo que seja para atender número pequeno declientes, o serviço requer, muitas vezes, o mesmoatendimento de uma grande cozinha. Como fun-ções principais, temos:

chefe de cozinha:

• planeja o trabalho para a brigada da cozinha;

• estuda os preços dos cardápios;

• assegura e elabora a qualidade dos cardápios;

• determina as instruções necessárias para o flu-xo normal do trabalho;

• controla custos, higiene e segurança;

• treina o pessoal.

subchefe de cozinha:

• substitui o chefe, quando necessário, e supervi-siona todo o trabalho da equipe;

• auxilia pessoal da cozinha;

• desenvolve novas receitas em equipe.

auxiliar de cozinha:

• prepara a cozinha para o cozinheiro.

• prepara molhos e sopas,

• ajuda em todo o serviço que for necessário.

A rotina de trabalho em qualquer cozinha deveser pautada por limpeza, asseio pessoal e organiza-ção das tarefas a serem desempenhadas antes dopreparo dos pratos.

Restaurante

Também está intimamente ligado ao tipo de servi-ço oferecido pelo empreendimento. Sua principalfunção é servir de forma eficiente os pratos prepa-rados pela cozinha. O primeiro passo nesse sentidoé a pré-apresentação do local. O cardápio do dia e onúmero de pessoas a serem atendidas definirão aarrumação das mesas, do aparador e dos demaisutensílios necessários.

Conforme as dimensões do restaurante, podemser empregados:

• maître;

• garçom;

• commis;

• hostess;

• chefe de fila.

Bar

Em todos os hotéis é praticamente obrigatória a insta-lação de um. Principalmente naqueles que não ofere-cem serviços de alimentação. O local de instalação deveser longe dos apartamentos, evitando que os hóspe-des que desejam descansar sejam perturbados pelosruídos provenientes do bar. Normalmente, caracteri-za-se por um balcão com banquetes, podendo tam-bém atender a mesas que existam nas imediações.

Os barmen (ou bartenders) devem ter conheci-mento das bebidas e drinques mais tradicionais, alémde possuírem abertura para criar novas receitas, prin-cipalmente com a utilização de matéria-prima típicada região. Também podem ser servidos aperitivos,petiscos e lanches, para acompanhar as bebidas ser-vidas. Todos esses fatores, mais um vez, definirão otamanho da equipe, a dimensão e o layout do bar.

Page 37: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 38Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Meios de hospedagem | Hotelaria – hotéis de selva e pousadas, Maria Aparecida Arguelho e Lucila Egydio

A qualidade no atendimento e a higiene sãoaspectos essenciais a serem observados no serviçode bar. Em hotelaria, o tratamento dispensado aoshóspedes deve ser sempre cortês, simpático, solícitoe empático. O sorriso constante é desejável desdeque seja espontâneo, do contrário a impressão pas-sada pode ser negativa.

Outros equipamentos e instalações

Os meios de hospedagem podem dispor tambémde piscinas, vestiários, sauna, sala de jogos, qua-dras de esportes, cinema etc. Cabe ao administra-dor organizar as equipes ou funcionários respon-sáveis pela adequada manutenção, limpeza e ar-rumação desses aposentos, conforme a rotina deuso e disponibilidade de mão-de-obra existente.

Departamento de lazer

Alguns hotéis costumam oferecer atividades delazer e entretenimento a seus hóspedes. O dese-nho desse departamento depende intimamenteda clientela que se deseja atingir e do perfil dohotel. Podem incluir jogos, apresentações, entreoutras atividades em grupo ou individuais, nor-malmente coordenadas e conduzidas por moni-tores ou professores.

Interfaces com os demais setores do hotel

O departamento de lazer responde por toda e qual-quer atividade recreativa oferecida aos visitantes.Em hotéis de selva, é responsável por todas as ati-vidades de campo. O desenho e o funcionamentodesse departamento dependem em larga escala dotipo de atividade a ser oferecida.

Podem ser emprega-dos apenas guias e monito-res locais, com treinamen-to adequado para as fun-ções designadas, ou haverimportação de mão-de-obra, caso seja verificadoque a comunidade localnão possui pessoas comformação suficiente. Noentanto, deve-se ter emmente o fomento a inicia-tivas que levem, a curto,médio ou longo prazo, à ca-pacitação de pessoas da co-munidade local para todasas funções. A principalmeta do ecoturismo é tra-zer benefícios às comunida-

des locais. Isso não significa apenas empregá-las emfunções subalternas, mas oferecer condições paraque passem a gerir empreendimentos na região.

Os passeios são, usualmente, o principal atra-tivo desse tipo de hotel, sendo o principal fator deatração. A equipe deve ser organizada e dimensio-nada conforme a estrutura de atividades oferecidaaos visitantes. Existe a possibilidade de contrata-ção de equipe fixa ou de serem contratados guias econdutores em mercados próximos, conforme a de-manda e o grau de visitação.

Como é o carro-chefe do empreendimento,merece atenção especial por parte do empreende-dor. Em geral, existe um responsável pelo setor, quepode ser formado em Ciências Biológicas ou áreacorrelata, dado que fauna e flora são os temas prin-cipais a serem trabalhados. Pode existir um guia-chefe, um gerente ou um chefe de lazer, que organi-za a equipe, faz a seleção e o treinamento dos guias.É essa pessoa também que faz a interface com osdemais setores do hotel.

As principais interfaces são com o setor de ali-mentos e bebidas, que muitas vezes prepara lan-ches e refeições para as excursões; o setor de manu-tenção, que pode ser responsável pelo preparo deequipamentos do setor de lazer; e o setor de segu-rança e emergência, que auxilia em casos de aciden-tes durante passeios.

Como os guias são a principal interface entre oempreendimento e o hóspede, eles devem ter co-nhecimento de toda a operação do hotel, para darinformações e prestar auxílio em qualquer necessi-dade do visitante. Para isso, é imprescindível que otreinamento da equipe englobe o conhecimento daoperação hoteleira, e não somente dados técnicossobre fauna, flora e ecologia da região.

Os meios de hospedagem são responsáveis pela higiene, segurança, conforto eprivacidade dos hóspedes

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• 39Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Meios de hospedagem | Hotelaria – hotéis de selva e pousadas, Maria Aparecida Arguelho e Lucila Egydio

Planejamento físico

O perfeito funcionamento e a fluidez dos serviçosdependem da exata localização e dimensionamentodos setores. Nesse sentido, o estudo da interaçãoentre funcionários e o espaço, assim como dos cami-nhos percorridos, deve merecer um exame minucio-so para o planejamento dos espaços físicos, evitan-do-se, desse modo, o estrangulamento e as distânci-as dos ambientes que não sejam funcionais. É fun-damental entender como fluem os serviços para, emseguida, definir e dimensionar os setores.

As interfaces entre os diferentes setores, suascaracterísticas intrínsecas, a obtenção e estocagemde matéria-prima e, acima de tudo, a possibilida-de de que o hóspede não entre em contato cons-tante com os “bastidores” são fatores que devemser considerados no planejamento físico de ummeio de hospedagem. Para isso, será designadoum capítulo específico ao design de hotéis, especi-ficamente hotéis de selva.

Normas e procedimentos

Cada meio de hospedagem deve ter definidos, con-forme sua missão, normas e procedimentos espera-dos de cada componente de seu sistema. É precisoque estejam claros os serviços oferecidos e em quecondições, quais os direitos e deveres dos hóspedes,dos funcionários e da administração. Também sedeve ter claro como cada uma das partes pode coo-perar positivamente com a(s) outra(s).

Esses fatores devem ser definidos conforme operfil do empreendimento e seus objetivos, mesmoos de promoção e divulgação no mercado. Para oconhecimento de todos, podem-se deixar mensagensou quadros com as normas por escrito, em áreas co-muns ou nos apartamentos.

Também é importante que sejam desenhadosprocedimentos de avaliação do cumprimento dasnormas por todos os segmentos atingidos (admi-nistração, funcionários e hóspedes). Ao executar eavaliar as normas estabelecidas, pode-se analisar anecessidade de mudança ou referendar a continui-dade das normas vigentes.

Page 39: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 40Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Meios de hospedagem | Hotelaria – hotéis de selva e pousadas, Maria Aparecida Arguelho e Lucila Egydio

CASTELLI, Geraldo. Administração hoteleira. Caxias

do Sul: Educs, 1999.

DUARTE, Vladir Vieira. Administração de sistemas

hoteleiros – Conceitos básicos. São Paulo: Senac, 1996.

(Série Apontamentos, 35).

SENAC. Administração de pequenos hotéis e pousa-

das. Inédito.

SUDAM. Diagnóstico e análise do Pólo de Ecoturis-

mo do estado do Amazonas. Belém: Sudam, 1999.

SWEETING, J. E. N.; BRUNER, A. G.; ROSENFELD, A. B.

The green host effect. Nova York: Conservation In-

ternational, 1999.

Page 40: Infra-estrutura e Serviços, 2003

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Manual de Melhores Práticas para o Ecoturismo – Turismo Sustentável | Infra-estrutura e serviços

2. ALIMENTAÇÃO

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www.mpefunbio.org.br - Incentivamos a cópia, reprodução e divulgação do conteúdo. Favor mencionar a fonte.

S egundo dados da Organização Mundial de Saúde, 30% da

população de países desenvolvidos contrai algum tipo de do-

ença alimentar todo ano. O Brasil, infelizmente, faz parte des-

tas estatísticas, com a agravante da subnotificação. Para a au-

tora, a solução do problema, que aflige particularmente admi-

nistradores de bares e restaurantes, passa por adotar a garan-

tia da qualidade como fator de competitividade mercadológica.

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BARES E RESTAURANTES

MARIA DAS GRAÇAS PÔNCIO2.1

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• 43Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Alimentação | Bares e restaurantes, Maria das Graças Pôncio

O direito à alimentação é um direito humano básico,sem o qual não há direito à vida, não há cidadania,não há direito à humanidade. Usufruir desse direitoé ter acesso à riqueza material, cultural, científica eespiritual produzida na sociedade.

Para que o alimento seja considerado seguro,presume-se que deva ser apetitoso, possuir boa apre-sentação, ser confiável – para não causar danos à saú-de – e ter valor nutricional que atenda às demandasde nutrientes, assim como às necessidades de calori-as e proteínas requeridas pelo corpo humano.

A alimentação é vital para o ser humano. Semalimento em quantidade e qualidade suficientes,morre-se cedo, porque o organismo não se desen-volve corretamente e não dispõe de resistências paralutar ativamente contra doenças.

Estudos apontam a refrigeração inadequada, amanipulação incorreta e a preparação de alimentoscom mais de um dia de antecedência como algumasdas causas mais freqüentes de surtos de doençasveiculadas por alimentos (DVAs).

Para evitar a proliferação de microrganismos, épreciso mais do que lavar as mãos após ir ao banhei-ro. Algumas medidas de segurança alimentar sãofundamentais, das quais a maioria das pessoas seesquece ou simplesmente desconhece. Manter a tem-peratura adequada de cozimento (acima de 75°C) ede refrigeração (entre 0°C e 4°C) é a maneira maiseficaz de evitar contaminações por alimentos.

O maior perigo está no fato de que o alimen-to contaminado tem aparência, gosto e cheiro nor-mais, parece bom, perfeito, não possui caracterís-ticas sensoriais (cor, cheiro, odor, textura, aparên-cia) alteradas, mas pode estar contaminado, pro-porcionando ao homem mal-estar, doença, poden-do até levar à morte.

O código de defesa do consumidor visa à prote-ção da vida e à segurança do indivíduo contra produ-tos e serviços perigosos ou nocivos. É um instrumen-to legal que pode e deve ser usado contra aquelesque se esquecem de que fornecer produtos alimen-tícios inadequados, mal preparados, sem atender aosprocedimentos corretos de higiene e conservação doalimento, pode causar danos à saúde dos cidadãos.

Impacto socioeconômico das DVAs

Qualidade de vida é algo que todos nós queremos,vibramos quando nos deparamos com ela no nos-so dia-a-dia, seja por meio de produtos ou serviçoos quais utilizamos.

Os alimentos desempenham papel importan-te nesse contexto, sendo a disponibilidade, o aces-so e a qualidade higiênico-sanitária e nutricionalcondições relevantes para a promoção e a prote-ção da saúde.

Os números de DVAs são elevados. Fica difícilestimar a incidência global das doenças de origemalimentar, mas foi notificado, em 1998, que mais de2,2 milhões de pessoas morreram de diarréia. Amaior parte desses casos pode ser atribuída à conta-minação de água e de alimentos.

As estimativas da Organização Mundial de Saú-de (OMS) confirmam o dado: por ano, mais de 30%da população de países desenvolvidos contrai algumtipo de doença alimentar.

O Brasil não escapa dessa tendência e padecede uma agravante: a subnotificação, ao lado da altaprevalência de diarréia, sugere que o problema pos-sa ser de grande vulto.

Salienta-se que a contaminação dos alimen-tos cria um enorme peso social e econômico para o

país e para os sistemas de saúde, pois as doençasveiculadas por alimentos, além de serem graves,podem levar à morte.

Cabe também lembrar que o temor de doençasde origem alimentar é uma das principais causas derecusa dos estrangeiros em visitar o Brasil ou adqui-rir nossos produtos.

A solução passa por adotar a garantia da quali-dade como fator de competitividade. Hoje, há todoum movimento acontecendo no sentido de umamaior profissionalização, calcada na relação comer-cial, na importância de se atender de maneira maissatisfatória o cliente-turista – o que faz com que aquestão da qualidade em si seja levada mais a sério.

Investir em desenvolvimento de novas técnicasde preparo de alimentos e melhoria de processos deprodução é uma premissa básica para as empresasque querem continuar crescendo.

A implantação de medidas de segurança alimen-tar com a adoção das boas práticas de produção emtodas as etapas do processamento também estáchegando ao campo (cultivo e colheita de produtosagrícolas, criação de gado e aves, pesca e conserva-ção de peixes, transporte, armazenamento, produ-ção, preparo e comercialização de alimentos).

Hoje, a busca da qualidade é uma tônica domercado. O cliente também está mais exigente, pau-tado pelo Código de Defesa do Consumidor, exigin-do das empresas uma postura de responsabilidadetécnica e social.

Page 43: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 44Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Alimentação | Bares e restaurantes, Maria das Graças Pôncio

Os cardápios e o turista

O cardápio faz parte da imagem da casa. É por meiodele que se atende às expectativas dos clientes. De-pendendo do grau de qualidade na sua elaboração,o empreendimento poderá ou não obter sucesso.

É também um instrumento de vendas, pois,antes de dar-se o consumo, sua divulgação poderáagir positivamente ou não sobre a vontade dosclientes em dar preferência pela casa.

A fidelidade dos clientes é conquistada pelo car-dápio, e o constante acompanhamento de sua re-ceptividade poderá detectar a necessidade de no-vas opções culinárias, estabelecendo, paralelamen-te, estratégias de diversificação na conquista de no-vos clientes ou, ainda, na manutenção e na consoli-dação dos atuais. Por isso, são importantes a suaboa elaboração e uma revisão periódica, eliminandoas receitas de pouco giro, substituindo-as por novas.

Passos iniciais na elaboração do cardápio

a) Determinar o tipo de cliente existente na região.

b) Determinar a clientela em potencial que se de-seja abordar.

c) Descobrir seus hábitos alimentares.

d) Determinar o número de clientes que se pre-tende atender.

e) Estabelecer o número de opções para pratosquentes e frios.

Passos para a montagem do cardápio e receitas

a) Variedade e combinação de cores – isso comcerteza contribuirá para um consumo maisapetitoso.

b) Variedade dos formatos de corte e apresen-tação – os cortes dos alimentos devem ser fei-tos de forma que não os torne repetitivos.Abuse dos formatos irregulares para conse-guir efeitos mais agradáveis. No caso das fru-tas, sirva-as inteiras e com casca, com facaspara manuseio.

c) Variação de cozimento – as formas de cozimen-to e seus diferentes pontos interferem na boaapresentação dos pratos. Não há nada maisdesagradável que comer alimentos crus ou co-zidos demais. Além disso, alimentos produzidosfora de seu ponto modificam o aspecto.

d) Sazonalidade – procure utilizar os produtos den-tro de suas safras mais apropriadas. Nunca abramão da qualidade.

e) Padronização das receitas – indicam as quanti-dades, medidas, tipos de matérias-primas a se-rem utilizados e o processo de produção.

f) Tipos de receitas – evite preparações regionaisou típicas (feijoada, buchada de bode, maione-se, acarajé) e dê preferência a preparações le-ves e pouco manipuladas, evitando pratos mui-to elaborados, por causa do risco de contamina-ção cruzada dos alimentos.

Higiene pessoal

Todas as pessoas envolvidas no serviço de alimen-tação devem ser conscientizadas a praticar as me-didas de higiene pessoal, para que possam comple-

tar os bons hábitos de higiene. Os microrganismosque levam à intoxicação alimentar estão presentesem todo manipulador, não apenas por bactériaspatogênicas, mas também por indicadores de con-taminação fecal.

Portanto, medidas higiênicas rigorosas devemser adotadas, visando reduzir ao mínimo o manu-seio dos produtos. O principal requisito para a ad-missão do manipulador de alimentos é que o candi-dato tenha boa saúde.

Exames médicos periódicos recomendados

Exames médicos a cada seis meses deverão ser rea-lizados, obedecendo-se às seguintes etapas:

a) avaliação da ação dos riscos ocupacionais so-bre os funcionários (temperatura ambiente,manipulação dos objetos cortantes e/ou per-furantes);

b) exame físico minucioso com ênfase para a pelee as mucosas (unheiros, frieiras, machucados,feridas);

c) exames laboratoriais: parasitológico de fezes;VDRL (sífilis aguda ou crônica); hemogramacompleto (anemia); urina (para detectar sehá infecções);

d) a critério médico, poderão ser realizados os se-guintes exames: ginecológico; micótico paraunhas; infecções respiratórias e gastrintestinais;

e) tratamento: à base de medicamentos prescri-tos pelo médico.

Ao término da avaliação médica, deve seremitido o atestado de saúde ocupacional, especi-ficando a aptidão ou não para o cargo de mani-pulador de alimentos. O exame demissional tam-bém é obrigatório.

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• 45Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Alimentação | Bares e restaurantes, Maria das Graças Pôncio

Em caso de doenças

O manipulador de alimentos não deve trabalharquando apresentar:

a) qualquer tipo de doença que leve à contamina-ção dos alimentos;

b) os manipuladores serão treinados para comuni-car imediatamente toda lesão cutânea, diarréia,resfriados ou infecções da garganta ou do nariz;

c) enfermidade infecto-contagiosa ou que apre-sente inflamações ou afecções da pele, feridas,cortes, queimaduras ou outra anormalidade;

d) todo corte ou queimadura deverá ser imediata-mente desinfetado e coberto com um curativo,devendo o funcionário ser afastado da área deprodução e transferido para outro tipo de tra-balho que não seja a manipulação de alimentos;

e) os manipuladores devem evitar estar em con-tato com pessoas resfriadas, com bronquite ououtra doença infecto-contagiosa.

Uniforme

Os manipuladores de alimentos devem estar ade-quadamente uniformizados ao desempenhar suasfunções e respeitando as seguintes práticas:

a) ter uniforme de cor branca para área de produção;

b) usar o uniforme completo: calça-pijama, jale-co (sem bolsos, inteiriço ou com velcro), toucaou gorro (para proteção total dos cabelos),avental em tecido inteiro, avental de plásticoliso e transparente;

c) conservar o uniforme em bom estado, sem ras-gos, furos, manchas e costuras desfeitas;

d) manter os uniformes limpos, bem passados etrocados diariamente;

e) adotar o uso do avental plástico para atividadesque molhem, exceto nas áreas de cozimento;

f) não usar panos ou sacos plásticos para prote-ção do uniforme;

g) garantir que o uniforme seja usado apenas nasdependências internas do serviço;

h) impedir que o funcionário uniformizado sente oudeite no chão, em sacarias ou locais impróprios;

i) evitar carregar no vestuário canetas, lápis,espelhinhos e cigarros;

j) usar calçado fechado em couro ou borracha, semabertura nas pontas ou calcanhares;

k) apresentar o uniforme limpo e em boas condi-ções de conservação;

l) proibir o uso de chinelos, tamancos, sandáliasou calçado em lona;

m) estimular o uso de meias de algodão, limpas etrocadas diariamente;

n) não permitir que qualquer peça do uniformeseja lavada dentro do vestiário.

Recomendações gerais de higiene

a) Tomar banho antes de iniciar as atividades.

b) Lavar e secar bem os pés.

c) Lavar a cabeça com freqüência e escovar bemos cabelos.

d) Fazer a barba diariamente.

e) Conservar as unhas curtas, limpas e sem esmal-te ou base.

f) Usar sabonete e desodorante neutros.

g) Não usar perfume.

h) Não usar bijuterias, adornos, aliança, relógioe jóias.

i) Não usar rolinhos nem grampos nos cabelos.

j) Escovar os dentes após as refeições.

k) Não aplicar maquiagem.

Hábitos proibidos em serviço

a) Falar, cantar, assobiar sobre os alimentos.

b) Fumar no trabalho.

c) Coçar ou tocar no corpo ou rosto.

d) Assoar o nariz.

e) Circular sem uniforme na área de produção.

f) Espirrar ou tossir sobre os alimentos.

g) Pôr o dedo no nariz, boca ou orelha.

h) Manter lápis, caneta ou cigarro atrás da orelha.

i) Passar as mãos nos cabelos.

j) Axilas com odor desagradável.

k) Usar pano de prato para secar mãos e rosto.

l) Provar alimentos com as mãos.

m) Lamber os dedos.

n) Usar equipamentos e utensílios sujos.

Page 45: Infra-estrutura e Serviços, 2003

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Bar da piscina do Manary Praia Hotel, Natal, RN

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o) Mascar chicletes, palitos ou fósforos.

p) Comer na área de manipulação.

q) Tocar a maçaneta com mãos sujas.

r) Manipular dinheiro.

s) Esfregar bancadas e paredes com vassoura usa-da para o piso.

t) Lavar pano de chão na pia de manipular alimento.

Higienização das mãos

As mãos, quando mal higienizadas, transferem mi-crorganismos para os alimentos provenientes dointestino, boca, nariz, pele, pêlos e até de secre-ções de ferimentos. Por isso, devem ser higieniza-das no início do trabalho, a cada troca de ativida-de, após uso do banheiro, após fumar, antes detocar qualquer alimento, ao tocar lixo ou sujeiras,ao manusear dinheiro.

Como higienizar as mãos:

• ter lavatório próprio;

• usar sabonete bactericida neutro em sabone-teira dosadora;

• molhar mãos, punhos e antebraço com bastan-te água;

• passar sabonete bactericida na palma das mãos;

• esfregar uma mão na outra, dedos, punhos eantebraço, demorando pelo menos 15 segun-dos com as mãos ensaboadas;

• ensaboar a torneira e enxaguá-la;

• enxaguar as mãos em água corrente, de prefe-rência quente (42°C);

• após a lavagem, enxugar com papel toalha bran-co ou ar quente;

• aplicar solução desinfetante (álcool gel) ou ál-cool a 70% elaborado com a seguinte receita:1 litro de álcool a 96 GL, 20 mililitros deglicerina e 340 mililitros de água destilada(misturar primeiro o álcool e a glicerina e,depois, acrescentar a água). Observação: essareceita tem a duração de 24 horas. Instalarem saboneteira dosadora.

Estrutura física

Localização e construção

Poderá ser urbana, suburbana ou rural, desde quenão transgrida as normas urbanísticas, os códigos depostura estadual e municipais e não cause problemasde poluição. Para tanto, devem ser ouvidas as autori-dades competentes. O estabelecimento deve ser cons-truído em área onde as condições gerais de higiene esanidade sejam compatíveis com a atividade.

O estabelecimento deve situar-se em zonas isen-tas de odores desagradáveis, fumaça, pó ou outrospoluentes. Suas dimensões devem ser suficientespara atender ao objetivo visado, ou seja, instalaçãode equipamentos, estocagem de matérias-primas eprodutos acabados, e também para facilitar as ope-rações de manutenção e limpeza e evitar a entradade roedores, pássaros, insetos e demais pragas.

Teto

Liso, sem acúmulo de sujeira, de fácil limpeza. Apre-sente resistência à umidade e aos vapores e possuavedação adequada. Precisa ser impermeabilizadocom tinta apropriada, na cor clara. Deve-se evitarforro falso, isento de vazamentos e goteiras. Telhasque permitam a ocorrência de respingos tambémnão são recomendáveis.

O forro deve ser livre de trincas, rachaduras,umidade, bolor e descascamento. E estar em perfei-tas condições de limpeza e não possuir aberturasque não estejam protegidas com tela adequada oumaterial similar.

Entre as paredes e o teto não podem existiraberturas e/ou bordas que propiciem a entrada depragas e formação de ninhos. O pé direito normal éde 3 metros, sendo o mínimo aceitável de 2,7 metros.

Piso

Antiderrapante, resistente, impermeável e lavável.Precisa ser fácil de lavar e não possuir frestas. De-clive de 2% em direção aos ralos e canaletas. E es-tar livre de rachaduras, trincas, buracos. Os ângulostêm que ser arredondados pelas paredes entre si epor estas com o piso. Os ralos, sifonados para impe-dir a entrada de roedores e possuir grelhas comproteção telada.

Page 46: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 47Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Alimentação | Bares e restaurantes, Maria das Graças Pôncio

Paredes

Revestidas de materiais impermeáveis e laváveise de cores claras, até uma altura mínima de 2metros. É possível usar azulejo, laminado plásticoou pintura à base de epóxi (massa própria comaplicação em paredes em camada monolítica de2 a 3 milímetros de espessura). Devem ser lisas esem frestas, fáceis de limpar e desinfetar. Entreparedes e teto, não devem existir aberturas quepropiciem a entrada de pragas, nem bordas quefacilitem a formação de ninhos. Indica-se a apli-cação de cantoneiras e barras nos locais de movi-mentação para aumentar a resistência do mate-rial de revestimento.

Portas e janelas

Devem ser construídas de maneira a evitar o acú-mulo de sujeira, e as que se comunicam com o exte-rior precisam ser providas de telas com proteçãoantipragas. As telas têm que ser facilmente removí-veis para limpeza, mantidas em bom estado de con-servação e terem malhas com abertura menor ouigual a 2 milímetros.

As portas têm que ser de material não ab-sorvente e de fácil limpeza. Fechamento auto-mático com mola, abertura máxima de 1 centí-metro do piso e proteção inferior contra insetose roedores. No caso de portas e acessos às câma-ras frigoríficas, recomenda-se que sejam provi-das de cortina de ar. As janelas devem ter super-fícies lisas e laváveis, bom estado de conserva-ção, ausência de falhas de revestimento e ajus-tes perfeitos aos batentes. Precisam ser fixas eutilizadas preferivelmente para iluminação.Quando usadas para ventilação, essas e outrasaberturas têm que ser dotadas de telas.

Vestiários, lavabos e banheiros

• Completamente separados das áreas de pro-dução, de embalagem e armazenamento.

• Para uso exclusivo dos funcionários.

• Ter um armário para cada funcionário e serprovidos de água quente e conectados à redede esgoto.

• As paredes devem ser revestidas com materialliso e impermeável até a altura de 1,5 metro paraos vestiários e de até 2 metros para os sanitários.

• É obrigatória a existência de lavatórios próxi-mos dos locais de trabalho, para que os funcio-nários possam lavar adequadamente as mãosa cada troca de atividade.

• As pias para higienização das mãos não podemser usadas para higienização de alimentos.

• Utilização de saboneteira dosadora com sa-bonete líquido bactericida, álcool gel e papeltoalha branco.

• Não é permitida a instalação de vaso sanitá-rio tipo turco.

• Os banheiros devem possuir lavabo, vaso sanitá-rio, mictório, tampa, chuveiro, porta com mola,papel higiênico, papel toalha e sabonete líquidobactericida e cesto com tampa, nas proporçõesde um vaso sanitário com tampa, um lavatório eum chuveiro para cada 20 empregados.

Iluminação e ventilação

• Lâmpadas protegidas para evitar a contamina-ção dos alimentos no caso de se quebrarem.

• Iluminação nos seguintes padrões: 1.000 lux paraárea de inspeção; 250 lux para áreas de proces-samento; 150 lux para outras áreas.

• A direção do fluxo de ar não pode ocorrer deuma área contaminada para a área limpa.

• Ventilação adequada para propiciar a renova-ção do ar, remover o ar viciado, garantir o con-forto térmico e manter o ambiente livre de fun-gos, gases, fumaças e condensação de vapores.

• Ar ambiente das áreas de processamento dealimentos renovado freqüentemente, por meiode equipamentos de insuflação e exaustão de-vidamente dimensionados.

Cabe salientar que o ar condicionado e o venti-lador são equipamentos que não atendem a essesrequisitos e, portanto, não podem ser utilizados nasáreas de processamento.

O conforto térmico pode ser assegurado por aber-turas de parede que permitam a circulação do ar, natu-ralmente, com área equivalente a 1/10 da área do piso.

Para as operações realizadas em serviços de ali-mentação, é considerada compatível uma tempera-tura de 22°C a 26°C, com umidade relativa de 50% a60%. Quando esse conforto não puder ser assegu-rado por meio natural, o mais indicado é recorrer ameios artificiais, como exaustores.

Sistema de canalizaçãoe eliminação de rejeitos

Deve ser dimensionado a fim de suportar a cargamáxima pré-estimada, com encanamentos que nãotenham vazamentos, providos de sifões e respira-dores apropriados.

É recomendada a construção de caixa de inspeçãofora das áreas de operação, com freqüência de limpe-za proporcional ao volume de dejetos eliminados.

Rede de esgotos provenientes das instalaçõessanitárias e vestiários precisa ser independente daoriunda da unidade de processamento.

Page 47: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 48Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Alimentação | Bares e restaurantes, Maria das Graças Pôncio

Instalação elétrica

A rede elétrica, monofásica e trifásica, deverá ser bemdimensionada e com todas as proteções necessárias. Énecessária a previsão de quadros do tipo embutido,para facilitar a limpeza e higienização dos ambientes.

Suprimento de água

As áreas devem dispor de abundante suprimentode água potável.

Para garantir sua qualidade, a água deve serarmazenada em reservatório limpo e vedado.

Assim, os depósitos de água – caixas, cister-nas e outros – têm que permanecer conveniente-mente tampados.

É importante desinfetar os reservatórios nasseguintes ocasiões:

• após o término da construção e/ou reparo;

• por ocasião de limpeza programada, de seis emseis meses;

• sempre que houver suspeita de contaminação.

importantes são os produtos crus in natura – veí-culos de grande quantidade de microrganismoscausadores de doenças.

Visita a fornecedores

Servem para qualificação e triagem, validando ascondições operacionais do fornecedor, no sentido dedeterminar os pontos críticos de controle durante oprocessamento e a manipulação dos alimentos queserão entregues pelo fornecedor.

Controle sensorial

Envolve as observações das características senso-riais dos produtos processados ou distribuídos pe-los fornecedores, como cor, odor, textura, aspec-to e sabor.

A observação das características sensoriais éimportante para a identificação de produtos altera-dos do ponto de vista microbiológico ou químico.

Transporte

Observação do sistema de transporte utilizado prin-cipalmente para as matérias-primas perecíveis, oqual define critérios de temperaturas – quentecomo sendo 65°C; resfriado, 6°C a 10°C; refrigera-do, 4°C a 6°C; e congelado, 18°C –, além das condi-ções higiênicas do veículo.

Recebimento da matéria-prima

É a etapa do controle de qualidade do serviço. Épreciso observar diversas características: condiçõeshigiênicas dos veículos dos fornecedores, higienepessoal e uniforme do entregador; integridade ehigiene da embalagem; se os alimentos não estãoem contato com papel, papelão ou plásticoreciclado; avaliação sensorial; correta identificação

Os procedimentos de limpeza são:

• esvazie o reservatório;

• escove as paredes, o fundo e a parte da tampacom uma escova limpa;

• enxágüe bem;

• faça a desinfecção com solução de hipocloritode sódio a 2,5% (2 litros de hipoclorito para cadamil litros de água); deixe agir durante uma horae, em seguida, abra as torneiras para esgotartoda a água do reservatório;

• encha-o novamente.

Processamento

Aquisição da matéria-prima

As matérias-primas constituem o material básicopara a elaboração dos alimentos. Podem ser consi-derados matérias-primas todos os produtos proces-sados e manipulados, como os produtos crus in naturae os alimentos parcialmente preparados.

Das matérias-primas utilizadas, asmais importantes em relação ao

controle higiênico-sanitáriosão os produtos perecíveisprotéicos representadospelas carnes (bovinos, suí-nos, aves, pescados etc.),leite e derivados e ovos.

Os vegetais tambémmerecem atenção especial

quanto ao seu estado higiêni-co em virtude de contaminan-

tes ambientais e bactérias fecaisde origem animal ou humana. Na

realidade, as matérias-primas mais

Page 48: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 49Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Alimentação | Bares e restaurantes, Maria das Graças Pôncio

do produto no rótulo; data de validade; tempera-tura de recebimento (congelado, -18°C; resfriado,6°C a 10°C; refrigerado, 0°C a 6°C).

Critérios de conferência

Conferência das condições de entrega:

• As condições de entrega devem estar de acordocom os critérios estabelecidos para recebimento.

• O veículo, em condições adequadas de higie-ne e conservação.

• Os entregadores, adequadamente uniformizados.

• Caso haja mais de um fornecedor aguardan-do, a ordem de recebimento deve dar a se-guinte preferência:

1o – alimentos perecíveis resfriados e refrigerados;

2o – alimentos perecíveis congelados;

3o – alimentos perecíveis em temperaturaambiente;

4o – alimentos não perecíveis.

Essa ordem é válida também para a remoção eo armazenamento dos produtos.

• É importante retirar toda a mercadoria da em-balagem original, como caixa de papelão oumadeira, para ser acondicionada em contentorde polietileno ou aço inoxidável.

• Os contentores devem sempre ser deposita-dos sobre estrados e não diretamente sobreo chão.

• Manter separadas as diferentes mercadorias naárea de recebimento.

Conferência da qualidade do produto:

• Verificar as características sensoriais do produ-to (cor, odor, sabor, textura).

• Verificar a data de validade do produto. O Có-digo de Defesa do Consumidor exige que todoproduto estampe a data de validade em suasembalagens. Certificar-se de que o produtoserá consumido antes do vencimento do pra-zo de validade.

• Verificar as condições de acondicionamento:embalagem limpa e íntegra, disposição adequa-da dos produtos na embalagem.

• Verificar a temperatura dos produtos.

• É preciso registrar as ocorrências com o forneci-mento de alimentos sistematicamente em im-presso apropriado – Relatório de Inspeção deRecebimento (RIR) – e encaminhadas imediata-mente ao responsável técnico para sua avalia-ção e adoção de medidas corretivas.

• Para algumas regiões, os estabelecimentos decomercialização de bovinos e suínos somentepoderão entregar carnes e miúdos com tempe-ratura máxima de 7°C. As carnes de bovinos esuínos somente poderão ser distribuídas emcortes padronizados, devidamente embaladase identificadas (Portaria no 304 de 22/4/96).

• Remoção, controle e armazenamento.

• Remover os produtos perecíveis, após o recebi-mento, para armazenamento no prazo máxi-mo de 30 minutos.

• Manter as temperaturas das câmaras de acor-do com as especificações.

• Armazenar os alimentos em local específico, àtemperatura adequada (sob resfriamento, con-gelamento ou à temperatura ambiente).

• Identificar cada mercadoria recebida com eti-queta codificada contendo informações refe-

rentes a: data de validade, quantidade ou volu-me, fonte de origem (fornecedor) e outras es-pecificações necessárias.

Armazenamento e conservação

Nessa etapa, é importante armazenar as maté-rias-primas em condições cujo controle garanta aproteção contra contaminação; a redução dasperdas da qualidade nutricional, a não-deterio-ração do produto.

Organizando os estoques:

• identificar todos os gêneros, com data de che-gada e prazo de validade;

• armazenar de acordo com a data de fabrica-ção, para facilitar a seleção, segundo o princí-pio “Peps” (primeiro que entra, primeiro quesai), ou seja, observar rigorosamente as da-tas de validade;

• embalar de maneira adequada os alimentosarmazenados nos freezers para evitar a desi-dratação e queima pelo frio;

• não utilizar produto acondicionado em latasestufadas, amassadas ou enferrujadas;

• depois de abertos, armazenar os alimentosfora das embalagens originais, em recipientesadequadamente higienizados, cobertos e iden-tificados; temperatura de armazenamento(congelado, -18°C; resfriado, 6°C a 10°C; refri-gerados, 0°C a 6°C);

• não permitir contato do alimento com o piso;

• não entrar com embalagens de origem (caixade madeira, papelão) no estoque;

• não estocar produtos de limpeza com gêne-ros alimentícios.

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• 50Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Alimentação | Bares e restaurantes, Maria das Graças Pôncio

Regras de ouro da Organização Mundial de Saúde(OMS)

• Escolher produtos de boa qualidade, devidamen-te higienizados, isentos de contaminação e cor-pos estranhos.

• Cozinhar bem os alimentos.

• Diminuir ao máximo o tempo intermediárioentre o cozimento e a distribuição.

• Guardar cuidadosamente os alimentos cozidosàs temperaturas de segurança.

• Reaquecer adequadamente os alimentos cozi-dos até a temperatura de 75°C.

• Evitar o contato entre alimentos crus e cozidos.

• Observar a higiene dos manipuladores.

• Higienizar e desinfetar corretamente bancadas,equipamentos e utensílios.

• Manter os alimentos fora do alcance de roedo-res, insetos e outros animais.

• Utilizar água potável.

Pré-preparo e preparo dos alimentos

• Garantir que todos manipuladores higienizem asmãos antes de tocar em qualquer alimento, du-rante os diferentes estágios do processamento.

• Tomar cuidado com luvas e máscaras porquepodem ocasionar contaminação quando usa-das inadequadamente.

• Utilizar utensílios adequados na manipulaçãode alimentos.

• Evitar tocar com as mãos alimentos processados.

• Atentar para a não-contaminação cruzada en-tre os vários gêneros de alimentos durante amanipulação no pré-preparo.

• Proteger os alimentos em preparação ou pron-tos, garantindo que estejam sempre cobertoscom tampas ou filmes plásticos, os quais nãodevem ser reutilizados.

• Manter alimentos em preparação ou prepara-dos sob temperaturas de segurança, inferio-res a 4°C (geladeira) ou superiores a 65°C (es-tufa, banho-maria).

Cuidados com os alimentos

• Evitar pegar alimentos com as mãos.

• Pegar alimentos prontos com o auxíliode utensílios.

• Conservar tampados os alimentos.

• Cozinhar muito bem os alimentos.

• Provar os alimentos usando utensíliosó para esse fim.

• Não usar alimentos que apresentem sinaisde deterioração.

• Alimentos preparados devem ser conservadosem temperaturas controladas (quentes – aci-ma de 65°C; frios – de 0° a 4°C).

• Desprezar latas amassadas, abauladas, enfer-rujadas e vazando.

Recomendações para alimentoshortifrutigranjeiros

Deverão ser higienizados, seguindo o procedimento:

• selecionar retirando as partes velhas eestragadas;

• separar em unidades as partes comestíveis;

• lavar em água corrente unidade por unidade, in-teira ou folha por folha, retirando toda sujeira;

• preparar solução de hipoclorito de sódio a 200ppm (partes por milhão) = 5 g/1 litro de água;

• mergulhar os vegetais na solução por 30 minutos;

• descascar e picar com faca, placa de altileno emãos previamente higienizadas e sanitizadas.

Os ovos podem estar contaminados com Salmo-nella. No preparo e na elaboração dos alimentos,a qualidade sanitária das preparações à base deovos deve ser garantida, adotando-se os seguin-tes procedimentos:

• não comprar ovos com casca rachada, por causado risco de contaminação;

• dar preferência para armazenar os ovos sobrefrigeração até 10°C, retirando da embala-gem de origem;

• não reutilizar embalagem de ovos, pois pode-rão estar contaminadas;

• sempre conferir o prazo de validade antes deusar os ovos;

• não consumir ovos crus nem alimentos prepa-rados nos quais os ovos permaneçam crus, comomaionese caseira, musses, glacês, gemadas, ovoquente ou frito com gema mole;

• usar somente maionese industrializada(ovo pasteurizado).

Técnica de pré-preparo e preparode alimentos

Regras básicas

• Higienizar as superfícies de trabalho, placas dealtileno, utensílios e equipamentos antes e de-pois de cada tarefa.

Page 50: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 51Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Alimentação | Bares e restaurantes, Maria das Graças Pôncio

• Atentar para não ocorrer, durante a manipu-lação, contaminação cruzada entre vários gê-neros de alimentos.

• Se tiver de usar o mesmo local para manipu-lar carnes, higienizar verduras e outros, épreciso higienizar as bancadas com água, sa-bão e desinfetar com solução clorada (10gramas de hipoclorito/1 litro de água), entreuma atividade e outra.

• Identificar superfícies de trabalho, placas dealtileno e utensílios para não os utilizar igual-mente em matéria-prima crua e alimentosjá preparados.

• Proteger os alimentos em preparação ou pron-tos, garantindo que estejam sempre cobertoscom tampas ou filmes plásticos.

• Descongelar carnes sob refrigeração (geladei-ra) – nunca descongele em temperatura ambi-ente ou dentro d’água.

• Manter os alimentos em preparação ou pron-tos sob temperaturas de segurança, inferioresa 4°C ou superiores a 65°C.

• No pré-preparo de carnes, retirar da câmara ougeladeira apenas a quantidade suficiente dematéria-prima para ser trabalhada de vez.

• Retorná-la à refrigeração, após o pré-preparo, re-tirando nova partida e assim consecutivamente.

• Evitar as preparações de véspera para alimen-tos previstos para consumo no dia seguinte.

• Não usar em preparações o ovo para consumo cru.

• Proibido o uso de maionese caseira.

• Preparar e consumir.

fritura, viscosidade, fumaça crescente ou for-mação de espuma.

• Reutilizar o óleo de fritura de peixe somentepara fritura de outros peixes, em condições ade-quadas de controle.

• Evitar exposição ao ar quando o óleo não esti-ver em uso.

• Guardar o óleo a ser reutilizado, após a filtração,em refrigeração e em recipiente com tampa.

• Reutilizar o óleo de fritura somente sob condi-ções adequadas de controle (na ausência de con-trole, trocar o óleo a cada seis horas de uso).

• Efetuar testes físico-químicos comerciais rápi-dos, desde que sejam comprovadas a sua quali-dade e eficácia.

Procedimentos para cocçãoe reaquecimento

• Garantir que o alimento alcance a temperatu-ra de 75°C no seu interior ou combinações detempo e temperatura que confiram a mesmasegurança como 65°C por 15 minutos.

• Manter todas qualidades nutritivasdo alimento.

• Elevar a temperatura de mo-lhos quentes a serem adicio-nados a alguma preparação,garantindo que ambos (mo-lho e alimento) voltem a atin-gir novamente 75°C no seuinterior.

• Elevar a temperatura do leite a serservido, frio ou quente, garantindo queatinja 75°C.

• Atentar para que óleos e gorduras utilizadosnas frituras não sejam aquecidos a mais de180°C, verificando a qualidade do óleo com fre-qüência e examinado o odor, o gosto e a cor.

• Manter registro das temperaturas de cocção.

Óleo de fritura

• Manter a temperatura ideal de 180°C, sempreque possível.

• Evitar a adição de óleo novo ao usado.

• Filtrar o óleo após o uso ou quando apresentarmuitos resíduos de alimentos fritos (usar filtropróprio ou usar pano fervido por 15 minutos).

• Desprezar o óleo sempre que apresentar umadas seguintes alterações: cor escura, cheironão característico, modificação no sabor da

Page 51: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 52Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Alimentação | Bares e restaurantes, Maria das Graças Pôncio

Uso de óleo em equipamento, com filtro e controlede temperatura – fritadeira.

• Observar as orientações do fabricante, manten-do, sempre que possível, a temperatura idealde 180°C e controlando o óleo como indicado.

• Não usar excesso de óleo na fritadeira (o nívelde óleo deve ser o mínimo requerido para fritaros alimentos convenientemente e o nível deveser adequado para otimizar a distribuição docalor por meio do óleo).

• Não sobrecarregar a fritadeira.

• Fritar por períodos longos em vez de usara fritadeira por períodos curtos.

• Reutilizar o óleo de fritura sob condições ade-quadas de controle (na ausência de controle,trocar o óleo a cada seis horas de uso).

• Manter a fritadeira sempre limpa.

• Evitar a exposição ao ar quando o óleo nãoestiver em uso.

Procedimentos para o porcionamento

A manipulação durante essa etapa deve ser realiza-da observando rigorosamente as recomendações dehigiene pessoal, ambiental e dos alimentos para evi-tar a recontaminação ou a contaminação cruzada.

O processo de porcionamento deve ser comple-tado no menor espaço de tempo possível, a manipu-lação deve ser feita em pequenos lotes, de modoque os alimentos não permaneçam abaixo de 65°Cou acima de 10°C por mais de 30 minutos.

Limpar e desinfetar os recipientes para uso, depreferência com tampas, para que os alimentos fi-quem protegidos da contaminação. Monitorar a tem-peratura e registrá-la em impressos próprios.

Procedimentos para a espera pós-cocção

1) Espera pós-cocção – nessa etapa, os alimentosque sofreram cocção aguardam atingir 55°Cpara, então, serem levados à refrigeração. Émuito importante o uso de um termômetro depenetração para o monitoramento da tempe-ratura.

2) Espera para o fornecimento ou a distribuição –nessa etapa, os alimentos devem ser protegi-dos de novas contaminações e mantidos sob ri-goroso controle de tempo e temperatura, paranão ocorrer multiplicação microbiana:

• alimentos quentes devem ser mantidosa 65°C ou mais;

• alimentos frios devem ser mantidosabaixo de 10°C.

Procurar diminuir ao máximo o tempo interme-diário entre a preparação e a distribuição. Asrecomendações indicadas para as etapas de pré-preparo e preparo dos alimentos devem ser cri-teriosamente mantidas e obedecidas na etapade espera, visando atingir a fase de distribui-ção/fornecimento em condições higiênico-sani-tárias seguras.

Procedimentos para a distribuição

• Manter os balcões térmicos limpos, com águatratada e trocada diariamente, mantida emtemperaturas de 82°C a 90°C, conferindo, as-sim, segurança à conservação dos alimentos.

• Abastecer os balcões térmicos com alimentosem quantidade suficiente para cada turno dedistribuição, mesmo que isso exija maior nú-mero de reposições.

• Não realizar reposições sobrepostas de alimen-tos em temperaturas diferentes, evitando con-taminação cruzada.

• Conservar as cubas tampadas quando houverinterrupção no atendimento.

• Utilizar cubas higienizadas no reabastecimentodos balcões de distribuição.

• Retirar os alimentos dos balcões tão logo ter-mine a distribuição.

• Manter registro das temperaturas de distribuição.

Distribuição e comercializaçãodos produtos processados

1) Conduta e critério para distribuição de ali-

mentos quentes – em alimentos quentes, queno cozimento atingiram temperatura inter-na de 75°C, deve-se observar: manter as pre-parações a 65°C ou mais por no máximo dezhoras (estufa).

2) Conduta e critério para distribuição de alimen-tos frios – os alimentos frios, potencialmenteperigosos, que favorecem uma rápida multi-plicação microbiana – como sobremesas cre-mosas, maioneses, salpicões e algumas prepa-rações à base de frios e laticínios –, devem serdistribuídos mantendo as preparações em tem-peraturas inferiores a 6°C por no máximo qua-tro horas.

Page 52: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 53Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Alimentação | Bares e restaurantes, Maria das Graças Pôncio

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria no 1.428 de 26

de novembro de 1993.

JÚNIOR, Enéo A. S. Manual de controle higiênico-sa-

nitário em alimentos. São Paulo: Varela, 1995.

HAZELWOOD, D.; MCLEAN, A. Manual de higiene para

manipuladores de alimentos. São Paulo: Varela, 1998.

TRIGO, Viviano Cabrera. Manual prático de higiene

e sanidade nas unidades de alimentação e nutrição.

São Paulo: Varela, 1999.

Bibliografia recomendada

• Portarias discriminadas em aspectos legais.

Page 53: Infra-estrutura e Serviços, 2003

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Manual de Melhores Práticas para o Ecoturismo – Turismo Sustentável | Infra-estrutura e serviços

3. ENERGIA ALTERNATIVA

Page 54: Infra-estrutura e Serviços, 2003

www.mpefunbio.org.br - Incentivamos a cópia, reprodução e divulgação do conteúdo. Favor mencionar a fonte.

A maioria dos empreendimentos de ecoturismo localiza-se dis-

tante da rede elétrica. Como oferecer, então, um mínimo de

conforto ao excursionista? As fontes alternativas, como a solar

e a eólica, são soluções de baixo impacto ambiental e podem se

tornar mais um atrativo turístico. Confira neste capítulo.

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FONTES ALTERNATIVASDE ENERGIA

PEDRO BEZERRA DE CARVALHO NETO3.1

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• 57Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Energia alternativa | Fontes alternativas de energia, Pedro Bezerra de Carvalho Neto

Gerador eólico, Parque Nacional Marinho de Fernandode Noronha, PE

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eto

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ar

O desenvolvimento de empreendimentos na áreade ecoturismo pressupõe o estabelecimento de umainfra-estrutura básica voltada para o apoio às ativi-dades do turista e para o seu conforto. Embora operfil do ecoturista apresente características dife-renciadas do turista dito convencional, pelo supostoaspecto de abnegação dos padrões urbanos e espíri-to empreendedor, não se deve desconsiderar a im-portância das ofertas de conforto. Os aspectos bási-cos do conforto identificados pela climatização doambiente, boa iluminação e água para beber e parahigiene têm na energia elétrica um insumo básico.

Alguns empreendimentos de ecoturismo estãolocalizados em lugares distantes da rede elétrica.Isso torna excessivamente dispendiosa a extensãoda rede até as instalações de interesse. Desse modo,é preciso buscar alternativas energéticas para pro-porcionar o conforto esperado pelo cliente, fatorfundamental para o êxito do empreendimento.

Qualquer alternativa energética diferente daintegração à rede – pelos aspectos restritivos e limi-tados de uma fonte energética local – deve estarorientada sob os conceitos de um aproveitamentoenergético eficiente com o exercício dos procedimen-tos do uso racional da energia e contemplando asdiretrizes obrigatórias de preservação ambiental.

As fontes renováveis, pelo baixo impacto ambi-ental, apresentam-se como bastante adequadaspara fornecer a infra-estrutura necessária para odesenvolvimento de atividades de ecoturismo e,quando bem estruturadas, podem constituir-se emmais um fator de atratividade para o turista.

As denominadas fontes alternativas de maiordifusão são as tecnologias:

• solar,

• eólica,

• biomassa;

• pequenas e microcentrais hidrelétricas.

Energia solar

É apontada freqüentemente como a energia do fu-turo. Sua aplicação é associada a dois aspectos bemdistintos, porém mutuamente confundidos:

• aproveitamento da radiação solar para pro-dução de calor – produção em baixa tempera-tura, por meio de coletores planos para aque-

cimento de água, ou produção em altas tem-peraturas, por meio de concentradores parageração de eletricidade;

• aproveitamento da radiação solar para ge-ração de energia elétrica – por meio de cé-lulas fotovoltaicas.

Energia eólica

Aproveitamento da energia cinética dos ventos paraa geração de energia elétrica por meio de turbinaseólicas acopladas a um gerador elétrico – os equipa-mentos conversores dessa tecnologia são denomi-nados de aerogeradores.

Biomassa

Aproveitamento da queima de resíduos sólidos,óleos vegetais ou gases orgânicos para geraçãode energia elétrica.

Micros e pequenas centrais hidrelétricas

Aproveitamento da energia potencial de pequenasquedas d’água de riachos para geração hidrelétrica.

Recomendações para projetoscom fontes renováveis

• Conhecer o potencial a ser explorado: essa infor-mação é essencial para o dimensionamento e aoperação do sistema com impacto direto na via-bilidade técnico-econômica do empreendimen-to. Para as energias solar e eólica, essas infor-mações são obtidas em atlas desenvolvidos paraessa finalidade. No caso da energia eólica, nãose deve dispensar uma medição no local do em-preendimento. Essa preocupação se intensificaproporcionalmente com a dimensão do projeto.

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• 58Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Energia alternativa | Fontes alternativas de energia, Pedro Bezerra de Carvalho Neto

• Desenvolver em conjunto a concepção arquite-tônica com o projeto de geração: as edificaçõesdevem ser trabalhadas sob o conceito da deno-minada arquitetura bioclimática, observando-se o tipo de material e revestimento utilizadona construção, posicionamento das dependên-cias na ocupação do terreno, aberturas paraventilação e iluminação etc. Esses aspectosincidirão diretamente no consumo de energiado empreendimento.

• Utilizar equipamentos elétricos de alta eficiên-cia e de baixo consumo.

• Alertar o ecoturista sobre os limites e restri-ções dos sistemas de geração: estabelecimentode procedimentos específicos para utilizaçãoracional dos recursos – desligar a luz quandodeixar o ambiente, abrir a geladeira por poucotempo e com freqüência reduzida, evitar des-perdício de água etc. De modo geral, essa pos-tura difere dos hábitos adotados nos centrosurbanos, onde a energia apresenta um caráter

aparente de um bem “inesgotável” – não sen-timos a presença da energia, mas reclamamosquando ela falta.

Esta seção tem o objetivo de apresentar os con-ceitos fundamentais da utilização das energias solare eólica, fornecendo ao leitor conhecimentosintrodutórios para compreensão dos componentesintegrantes dos sistemas de suprimento.

Energia solarGeometria solar e solarimetria

É a compreensão dos movimentos da Terra em rela-ção ao Sol – nascente e poente, e deslocamento doSol na abóbada celeste ao longo do ano. O conheci-mento desse tema proporcionará uma boa instala-ção dos painéis e coletores solares.

A importância no aprofundamento do tema se in-tensifica em aplicações nas localidades onde o númerode horas diurnas e noturnas variam muito ao longo doano, ou seja, localidades mais afastadas da linha do Equa-dor (latitudes superiores a 20o). Fraidenraich e Lyra(1995) apresentam uma boa explanação sobre o tema.

A solarimetria consiste na estimativa da radia-ção solar e o número de horas de brilho de sol deuma região. Essas informações estão disponíveis naspublicações denominadas atlas solarimétricos. Umaboa fonte de informação prática é o programaSundata, disponível na página www.cresesb.cepel.brdo Centro de Referência para Energia Solar e EólicaSérgio Brito (Cresesb). A partir do fornecimento dalatitude e longitude, são obtidos os valores médiospara o ponto mais próximo ao local de interesse.Para aplicações em localidades com baixa radiaçãosolar, é feita uma compensação elevando-se o nú-mero de painéis ou coletores.

Produção de calor: sistemasde aquecimento solar

A utilização da energia solar para aquecimento deágua por meio de placas coletoras planas proporcio-na um uso racional e eficiente da energia em oposi-ção ao uso não racional da produção de aquecimen-to de água utilizando chuveiros elétricos. Por ser umequipamento de elevado consumo de eletricidade,o uso do chuveiro elétrico torna-se completamenteinviável em sistemas de geração isolados.

Os aquecedores solares são dispositivos compos-tos de um conjunto de coletores solares, reservató-rio térmico (boiler), sistema de circulação de água(natural ou forçada) e um sistema auxiliar de aque-cimento (elétrico ou preferivelmente térmico). Osaquecedores solares não são dispositivos elétricos.

Funcionamento

A radiação solar aquece a água que circula nos tubosde cobre em serpentina, localizados na caixa do coletorsolar. O isolamento térmico e o vidro que recobrem acaixa impedem a perda de calor para o ambiente.

A água quente circula pela serpentina até umreservatório de cobre ou aço inox, termicamente iso-lados com poliuretano expandido, onde permanece-rá armazenada, pronta para uso a qualquer hora dodia, mesmo durante a noite. A caixa de água friaalimenta o reservatório mantendo-o sempre cheio.

Em sistemas simples, a água circula entre oscoletores e o reservatório por mecanismo naturalchamado termossifão – a água fria, mais densa, “em-purra” a água quente, menos densa, produzindo acirculação da água. Em sistemas mais complexos commaior volume de água, a circulação pode ser força-da por meio de motobombas.

O boiler coletaenergia do sole converte-aem água quente

Page 57: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 59Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Energia alternativa | Fontes alternativas de energia, Pedro Bezerra de Carvalho Neto

Dimensionamento

Para escolha de um sistema de aquecedor solar ade-quado, deve-se dimensionar a área dos coletoressolares, o volume de água e avaliar a necessidadetanto da circulação forçada quanto do possível siste-ma auxiliar de aquecimento elétrico ou a gás.

Essa abordagem deve considerar a radiação local,o número de pessoas na residência, os diversos usos daágua e os hábitos dos usuários. A área do coletor solaré dimensionada em função do volume do reservatóriotérmico. Uma boa aproximação é considerar-se a rela-ção de 1 metro quadrado de área do coletor solar paracada 100 litros de volume do reservatório.

Consumo residencial de água

A Tabela 1 apresenta valores típicos de consumode água de uma residência obtidos a partir da ex-periência de fabricantes para cálculo do volumedo reservatório.

Os melhores rendimentos energéticos para sis-temas de aquecimento solar são obtidos trabalhan-do-se com grandes volumes de água armazenados ecom temperaturas menores de utilização.

Para isso, o reservatório deve ser dimensiona-do de modo a armazenar toda água necessária noperíodo de um dia, pois a economia no dimensiona-mento do volume do reservatório poderá compro-meter a eficiência do equipamento.

Observações

• As tubulações devem ser de diâmetro reduzidopara evitar o resfriamento dentro da tubulação.

• As tubulações hidráulicas devem ser duplas,para água fria e quente.

• A orientação de um técnico competente deveestar no escopo da proposta de aquisição dossistemas de aquecedor solar.

• A diferença de altura entre os coletores solarese o reservatório localizado acima deve ser bemobservada para um funcionamento efetivo dacirculação natural.

• A escolha do fabricante deve ser direcionadapara aquele que apresentar informações deta-lhadas e criteriosas sobre o equipamento e ins-truções precisas sobre a instalação.

• O equipamento deve ser construído com mate-rial de boa qualidade e ter certificação de insti-tutos idôneos. Isso garantirá uma vida útil maislonga e melhor eficiência.

litros/minuto 30

litros/pessoa/dia 20 25 15

vazão pequena 3 litros/minuto

vazão confortável 7 litros/minuto

vazão farta 15 litros/minuto

banheira pequena 150 litros

banheira dupla 300 litros

banheira circular 400 litros

TABELA 1 – Consumo de água para uma residência

Chuveiro Banheira Ducha Lavatório Cozinha Lavanderia

caixa d’água

reservatório

coletores

Page 58: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 60Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Energia alternativa | Fontes alternativas de energia, Pedro Bezerra de Carvalho Neto

• Os coletores devem estar livres de sombreamen-tos e possíveis crescimentos de árvores próximas.

• Os coletores no hemisfério sul devem estarfaceados para o Norte com inclinação próxima àlatitude do local. Para latitudes baixas, deve-seconsiderar um ângulo de inclinação mínimo de 200.

• Os usuários devem ser informados sobre o fun-cionamento da tecnologia e os procedimentospara o combate ao desperdício.

As figuras ao lado apresentam um diagramade posicionamento dos sistemas de aquecimentosolar em face das distâncias entre o reservatório deágua fria (caixa d’água) e o reservatório térmico(boiler), considerando um sistema com mecanismonatural e com circulação forçada.

Produção de energia elétrica: tecnologiafotovoltaica (FV)

Uma outra forma bastante difundida de aproveita-mento da energia solar é a geração de eletricidadepor meio de células fotovoltaicas (FV). Os avanços datecnologia FV foram motivados pela corrida espaci-al e difundidos em aplicações terrestres a partir dacrise do petróleo na década de 1970 – a elevação daeficiência e o aumento da produção industrial comconseqüente queda dos preços resultaram em umalarga aplicação em estações remotas de telecomu-nicação e em sistemas de energia em áreas ruraisdistantes da rede.

A geração de eletricidade por células FV é oaproveitamento da propriedade de alguns materi-ais – semicondutores – de transformar diretamentea radiação solar em energia elétrica, sob o denomi-nado efeito fotovoltaico.

A célula FV é a unidade física desses sistemas; oseu agrupamento em série, encapsulado e emoldu-rado, é denominado módulo ou placa solar. O arran-jo desses módulos em série até atingir a tensão deoperação é denominado painel. Os painéis são agru-pados em ligações em paralelo para fornecerem acorrente necessária para o sistema.

Características tecnológicas

As células FV são hoje comercializadas em trêstecnologias distintas: silício monocristalino, policris-talino e filme fino. Nessa seqüência, as diferençastecnológicas se caracterizam, principalmente, pelabusca de custos mais competitivos, obtidos pelo aper-feiçoamento do processo de fabricação. As célulasde filme fino ainda não apresentam uma eficiênciapróxima das células de silício cristalino, cerca de 14%.

A quantidade de energia elétrica produzida pelatecnologia FV é proporcional à dimensão dos módulose à luminosidade existente.

Característica das células FV

Os módulos fotovoltaicos são identificados por: po-tência – pico de potência – em watt pico (Wp), cor-rente em ampère (A) e tensão em volt (V). São ain-da fornecidas a corrente de curto-circuito e a tensãode circuito aberto. Esses parâmetros definem umacurva característica e são referenciados para a con-dição padrão – radiação máxima de 1.000 W/m2 etemperatura ambiente de 25oC.

Um dos indicadores da qualidade dos módulos éo denominado fator de forma, obtido pela relaçãoentre a potência máxima de operação, dividida pelacorrente de curto-circuito multiplicada pela tensão

célula

painel

módulo

coletor solar

boiler caixa d’água

coletor solar

altu

ra m

ínim

ad

e ce

rca

de

2,5

met

ros

altu

ra m

ínim

ad

e ce

rca

de

1,9

met

ro

válvula solar dedesnível negativo

boiler caixa d’água

Page 59: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 61Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Energia alternativa | Fontes alternativas de energia, Pedro Bezerra de Carvalho Neto

de circuito aberto. Esse resultado pode ser expressoem percentual – quanto maior esse valor, melhor aqualidade do módulo.

A corrente produzida por um módulo FV é dire-tamente proporcional à radiação solar – quantomaior a radiação, maior a corrente produzida. Des-se modo, a corrente elétrica varia ao longo do dia,alcançando o valor máximo próximo do meio-dia. Jáa tensão varia inversamente com a temperatura,ou seja, a elevação da temperatura reduz a produti-vidade das células.

Características dos sistemas FV

• Modularidade: os módulos FV podem ser agru-pados em potência de dezenas de watts a cen-tenas de quilowatts.

• Células FV geram em corrente contínua: para ouso de equipamentos que operam com correntealternada, é necessária a instalação de inversores.

• Armazenamento de energia: como a geraçãosó ocorre durante a luz do dia, dependendo dacarga, necessita-se da utilização de sistemas dearmazenamento de energia. Usualmente, sãoutilizados bancos de baterias.

• Ocupação de área: os sistemas FV necessitamde áreas sem sombreamento que podem sercompartilhadas com outros usos. A densidadede potência é da ordem de 0,10 kW/m2.

• Capital intensivo para o investimento: a carac-terística dos sistemas de energia renováveis éum custo elevado do investimento e baixo custode operação e manutenção.

Sistemas com geração fotovoltaica são constitu-ídos por painéis, controladores de carga, inversores ebaterias, dispostos conforme o diagrama abaixo.

Observações para o dimensionamento

• Um módulo FV de 50 Wp apresenta uma áreaaproximada de 1 metro quadrado. Em locais comradiação média diária de 6 kWh/m2/dia, a gera-ção mensal é de cerca de 800kWh/kW.

• O banco de baterias deve ser dimensionado con-siderando a possibilidade de até três dias debaixa radiação.

• Havendo boas condições de vento, pode-se di-mensionar um sistema híbrido utilizando tecno-logia solar-eólica-diesel e grupo de baterias.

Considerações sobre a avaliação de custos

A Tabela 2 apresenta os itens de um projeto de sis-tema de energia FV de 10 kWp com a participaçãopercentual no custo total. Os módulos representamcerca de 50% do projeto. Com a elevação da potên-cia do sistema, eleva-se a participação dos custosdos módulos e reduz-se a participação dos custos deengenharia e o custo unitário por kWp.

Energia eólica

Cerca de 0,3% da energia solar que atinge a Terraé utilizada para produção dos ventos e das corren-tes marítimas. O vento é o ar em movimento, pro-duzido pela diferença de pressão resultante doaquecimento desigual da superfície terrestre emface das diferentes coberturas. O ar, por ter massa,possui energia cinética. Essa energia cinética podeser capturada por turbinas eólicas que, acopladas a

A figura apresenta um sistema FV, identificando-se osseguintes equipamentos: A – painel solar, B –controlador de carga, C – banco de baterias, D –inversor: transforma a corrente de 12 volts para 110ou 220 volts, E – equipamentos em 12 volts emcorrente contínua e F – equipamentos em 110 ou 220volts em corrente alternada.

Painéis FV Controladorde carga Inversor Cargas

Baterias

Sistemas com geração fotovoltaica○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

A

B

C

D

E F

Page 60: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 62Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Energia alternativa | Fontes alternativas de energia, Pedro Bezerra de Carvalho Neto

geradores, produzem energia elétrica. A máquinade conversão da energia dos ventos em energia elé-trica é chamada de aerogerador.

Os aerogeradores são classificados por sua po-tência em máquinas de pequeno, médio e grandeporte. As tecnologias de médio e grande porte sãoutilizadas para operação interligada à rede elétri-ca em arranjos denominados de fazendas eólicasou centrais eólicas. As máquinas de pequeno por-te são utilizadas em sistemas descentralizados su-prindo uma bateria ou banco de baterias, ou ain-da em sistemas híbridos que integram diferentesfontes energéticas.

Diferentemente dos sistemas FV, o desenvolvi-mento de projetos de suprimento de eletricidadeutilizando energia eólica prescinde de uma mediçãocriteriosa da velocidade do vento em um período depelo menos 12 meses. Esse cuidado é resultante dofato de a potência que se pode extrair do vento serdiretamente proporcional ao cubo da velocidade dovento além da densidade do ar (1,225 kg/m3) e da

área de varredura das pás. O instrumento utilizadopara medição dos ventos – intensidade, direção eturbulência – é o anemômetro.

Elementos constituintes de aerogeradores

• Torre – Usada para elevar a nacela e a turbinapara um melhor aproveitamento do vento, pelapossibilidade de áreas livres de obstáculos paraalturas mais elevadas e maior intensidade do ven-to relacionada com a altura. A torre é usualmen-te autoportante, podendo ser tubular ou em tre-liça. Para turbinas de grande porte, na tecnologiaatual, a torre alcança altura de até 80 metros.

• Turbina – Constitui o rotor do aerogerador, asturbinas para geração de eletricidade são namaioria compostas por três pás conectadas aocubo por um flange. O material utilizado paraconfecção das pás é em geral fibra de materiaiscompostos modelados em perfis aerodinâmicos.Na tecnologia atual, o diâmetro do rotor atingeaté 60 metros.

• Nacela – Compartimento que abriga o eixo, acaixa multiplicadora, freios, sistema hidráulico,motor de direcionamento e gerador. O multi-plicador é uma caixa de engrenagem que tornacompatível a rotação da turbina com a rotaçãodo gerador para obtenção da geração de ele-tricidade na freqüência desejada.

Os geradores para máquinas de grande e mé-dio porte são máquinas assíncronas ou síncronas, comfreqüências fixa ou variável. No entanto, para má-quinas de pequeno porte são usualmente utilizadosdínamos – geradores com ímãs permanentes produ-zindo energia em corrente contínua.

Os aerogeradores são caracterizados operacio-nalmente segundo uma curva de velocidade do ven-to versus potência elétrica produzida. A velocidadedo vento de iminência de partida é da ordem de 3metros a 4,5 metros por segundo, a velocidade deoperação nominal é na faixa de 12 metros a 14metros por segundo e a velocidade de segurança éde 25 metros por segundo.

Módulos 48

Obra civil e estruturas 4

Cabeação 1

Banco de baterias 14

Inversores 9

Engenharia 24

Total 100

TABELA 2 – Distribuição dos custos emum projeto de 10 kWp

Item %

>500 kW

Idem.

TABELA 3 – Classificação dos aerogeradores

Pequeno Médio Grande

0,25 kW ~ 20 kW

Aplicação em sistemasisolados. Energia é firmadapor bancos de bateria.

100 kW ~ 500 kW

Instalados em arranjosdenominados fazenda eólica eintegrados à rede em módulosde 1 Mw a 100 Mw.

Page 61: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 63Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Energia alternativa | Fontes alternativas de energia, Pedro Bezerra de Carvalho Neto

P (pás), C (cubo), F1 e F2 (freios), M (multiplicador), G(gerador), D (motor de direcionamento), T (torre), A(anemômetro), Pm (plataforma)

Metodologia para dimensionamento desistemas com energias renováveis

Avaliação do potencial e identificação das fontesmais adequadas:

• avaliação da radiação solar local;

• avaliação do potencial eólico local;

• avaliação do potencial hidráulico local;

• avaliação do potencial de biomassa.

Filosofia de operação:• compreensão dos procedimentos de operação

e características dos sistemas.

Análise da carga:• identificação dos equipamentos: potência, nível

e tipo de tensão, tempo de operação e freqüên-cia de utilização;

• construção da curva de carga diária, identifica-ção do pico da curva;

• identificação das cargas essenciais;

• observação da demanda diurna.

Dimensionamento do arranjo fotovoltaico:• dimensionamento dos painéis FV, observando

a necessidade de suprir o banco de baterias eas cargas diurnas.

Definição qualitativa dos possíveis arranjos:• identificação/definição das fontes que atende-

rão a carga – observando os níveis de tensão;

• compreensão da rotina de operação;

• definição dos arranjos – observação da possibi-lidade de implantação de procedimentos deseletividade das cargas.

Dimensionamento do banco de baterias:• especificação da autonomia desejada do banco

de baterias para atendimento da carga;

• especificação da bateria: tensão, capacidade,descarga máxima e fabricante;

• identificação da vida útil, envelhecimento rela-cionado com o ciclo de carga e envelhecimento;

• verificação do destino final das baterias, com oalcance da vida útil.

Banco de dados de custo dos equipamentos

Considerações finais

Foram apresentados os elementos característicos dastecnologias solar e eólica – esse conhecimento per-mitirá ao leitor a compreensão dos dados típicos dosequipamentos fornecidos pelos fabricantes e os cui-dados necessários para elaboração e operação deprojetos de suprimento de energia.

O leitor encontrará na bibliografia referênciase literatura técnica mais especializada que o orien-tará na execução de projetos. Ressalte-se que, casoa localidade apresente múltiplas potencialidades derecursos energéticos, merece uma análise criteriosaa concepção de um sistema híbrido de energia comum dispositivo de integração dos diferentes tipos degeração, ou seja, um equipamento de controle queestabeleça uma operação otimizada com aprovei-tamento maximizado dos recursos.

Pm

TURBINA NACELE

TORRE

P

P

C

F1

MG

T

F2

D

A

Page 62: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 64Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Energia alternativa | Fontes alternativas de energia | Anexo técnico, Roberto M. F. Mourão

por Roberto M. F. Mourão

Energia eólicaEste documento visa apresentar uma abordagemgeral sobre energia eólica e suas características noBrasil e no mundo.

O vento, uma das primeiras formas de energiaconhecida, já era empregado para mover barcos àvela em 3500 a.C. Em terra, os primeiros moinhos devento talvez tenham aparecidos na Pérsia por voltade 700 d.C. As pás giravam horizontalmente e eramconectadas diretamente a pedras de moenda quetrituravam grãos. Atualmente, a força do vento tam-bém é usada para irrigar terras áridas e drenar ala-gados, além de ser usada como fonte alternativapara gerar eletricidade.

A força do vento

Os barcos egípcios, de cerca de 1300 a.C., usavamvelas quadradas que só podiam aproveitar comeficácia a energia do vento quando ele vinha portrás. Por volta de 200 a.C., os navios do mediter-râneo usavam velas que podiam ser manobradas,aproveitando a energia do vento mesmo quandoele não soprava por trás delas. A maioria dos bar-cos à vela modernos tem velas triangulares quepodem ser manobradas para captar o máximo daenergia do vento.

Como a maioria dos moinhos de vento euro-peus possui pás verticais, elas giram à medida queparte do movimento horizontal do vento é trans-formada em movimento de rotação das pás. Essemovimento é transferido por engrenagens e poli-as para uma pedra de moenda, que tritura osgrãos. Para aproveitar ao máximo a energia dovento, a cobertura do moinho gira automaticamen-te para ficar de frente para o vento toda vez queele muda de direção.

O vento

Trata-se do ar em movimento em virtude do aqueci-mento desigual da superfície da terra pelo sol. A ter-ra e seu envelope de ar, a atmosfera, recebe maiscalor solar próximo ao Equador do que nas regiõespolares. Mesmo assim, as regiões equatoriais não fi-cam mais quentes a cada ano nem as polares ficammais frias. É o movimento do ar ao redor da terra queameniza a temperatura extrema e produz ventos nasuperfície tão úteis para a geração de energia.

Como todos os gases, o ar se expande ou au-menta de volume, quando aquecido, e se contrai ediminui de volume, quando resfriado. Na atmosfe-ra, o ar quente é mais leve e menos denso do que oar frio e se eleva a altas altitudes quando fortemen-te aquecido pelo sol. O ar aquecido próximo ao Equa-dor fluirá para cima, ou seja, na direção dos pólosonde o ar próximo à superfície é mais frio. As regi-ões terrestres próximas aos pólos agora têm maisar, pressionando-as, e o ar da superfície mais friatende a desligar dessas áreas e movimentar-se nadireção do Equador.

Muita energia está sendo constantementetransferida do sol para os ventos da terra. No entanto,apenas ventos das camadas atmosféricas mais baixassão acessíveis para a conversão de sua energia.

Circulação dos ventos locais

A força motora primária da brisa do mar é a dife-rença de temperatura entre a terra e o mar. Quan-do essa diferença é grande e diurna, podem ser es-peradas brisas marinhas relativamente fortes du-rante as horas da tarde e no começo da noite. Asbrisas marinhas mais intensas são encontradas na-quelas regiões subtropicais secas, ao longo da costaoeste de continentes onde haja um oceano frio. É

Exemplos de alguns aerogeradores construídos

1890–1910 Dinamarca 23 m 3 pás 200 kw

1931 Rússia 30 m 3 pás 100 kw

1941 Estados Unidos 54 m 2 pás 1.250 kw

1959 Alemanha 34 m 2 pás 100 kw

1978 Estados Unidos (Nasa) 50 m 2 pás 200 kw

Ano País Diâmetro Pás Potência

Page 63: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 65Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Energia alternativa | Fontes alternativas de energia | Anexo técnico, Roberto M. F. Mourão

No Arquipélago de Fernando de Noronha, parte da energia utilizada é produzidapor gerador eólico de última geração

Robe

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M. F

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precisamente nessas regiões que o vento predomi-nante é geralmente fraco e a brisa marinha local éna verdade quase a única fonte de energia eólicapor grande parte do ano.

A topografia, ou características físicas do solo,pode influenciar fortemente as características dovento. As montanhas impedem a passagem unifor-me dos ventos, o ar canalizado ao redor ou pelasaberturas freqüentemente aumenta os ventos for-tes locais, ideais para geradores de energia eólica.

A fonte eólica

A quantidade de energia disponível no vento variade acordo com as estações e as horas do dia. A topo-grafia e a rugosidade do solo também têm grandeinfluência na distribuição de freqüência de ocorrên-cia de velocidade do vento em um local. Além disso,a quantidade de energia eólica extraível numa re-gião depende das características de desempenho,altura de operação e espaçamento horizontal dossistemas de conversão de energia eólica instalados.

Conversão de energia eólica

Um aerogerador consiste num gerador elétrico mo-vido por uma hélice, que, por sua vez, é movida pelaforça do vento. A hélice pode ser vista como um motora vento, cujo único combustível é o vento.

A eletricidade que pode ser gerada pelo ventodepende de quatro fatores:

1. da quantidade de vento que passa pela hélice,

2. do diâmetro da hélice,

3. da dimensão do gerador,

4. do rendimento de todo o sistema.

As turbinas são, em princípio, instrumentos ra-zoavelmente simples. O gerador é ligado por meiode um conjunto acionador a um rotor constituído deum cubo e duas ou três pás. O vento aciona o rotorque faz girar o gerador e produz eletricidade.

Tipos de turbinas eólicas

Podem ser de uma, duas, três, quatro pás ou multi-pás. A de uma pá requer um contrapeso para elimi-nar a vibração. A de duas pás é mais usada por serforte, simples e mais barata do que a de três pás. Ade três pás, no entanto, distribui as tensões melhorquando a máquina gira durante as mudanças dedireção do vento. As multipás não são muito usa-das, pois são menos eficientes. As turbinas eólicasdo eixo vertical não são muitousadas, pois o aproveitamentodo vento é menor. A potência má-xima não ultrapassa 59,3% deeficiência, valor conhecido comolimite de Betz.

Energia planetária

Existem hoje no mundo 20 mil tur-binas eólicas em operação, quegeram 6 mil kWh por ano. Até oano 2000 – de acordo com a Agên-cia Internacional de Energia, quereúne 16 países industrializados– será atingida a marca dos 10mil Mwh.

A principal vantagem daenergia eólica é não causar da-nos ambientais e ter custo deprodução mais baixo em relação

a outras fontes alternativas. O custo de um Mwhde energia eólica está entre US$ 40 e US$ 60, tor-nando-a competitiva mesmo em relação às hidre-létricas, de baixo custo de produção.

As modernas turbinas de torres tubularesusam metodologia da engenharia aeronáuticapara gerar energia. A conversão do movimentodo ar em energia elétrica está nas pás da hélice:cada pá tem o mesmo formato que as asas de umavião. As pás têm “freios” que são acionados emcaso de excesso de vento (velocidade acima de 20m/s), turbulências e raios. A estrutura interna écomposta por um rotor, que liga a hélice ao com-partimento onde ficam o gerador e sensores develocidade, direção e temperatura do vento.

Page 64: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 66Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Energia alternativa | Fontes alternativas de energia | Anexo técnico, Roberto M. F. Mourão

O caso brasileiro

O Brasil começa a entrar na era da energia eólica.Até o ano 2005, o país planeja construir um parquecom 1.600 turbinas eólicas. A principal fonte são osventos que sopram em todo o litoral brasileiro, atéagora aproveitados apenas para bombear água emvelhos cata-ventos.

O Fórum Permanente de Energia Renovável,do Ministério de Ciência e Tecnologia, estima quecada uma das 1.600 turbinas eólicas terá capaci-dade máxima de 600 kWh.

As pesquisas sobre o comportamento dos ven-tos e a adaptação das turbinas às condições do paísvêm sendo realizadas pelo Centro Brasileiro de Tes-tes de Turbinas Eólicas (CBTTE), ligado à Universi-dade Federal de Pernambuco. No Nordeste, os ven-tos atingem uma velocidade média de 8 m/s, consi-derado pelos técnicos um patamar muito bom parageração de energia eólica.

A primeira turbina, com 18 metros de altura e13 metros de diâmetro, está em operação desde 1997,produzindo 80 mil kWh por ano, o que garante a ilu-minação externa de dez prédios. Uma nova turbinadeverá gerar energia para 60 prédios. O CBTTE estáinvestindo mais de R$ 1 milhão no projeto.

A Companhia de Eletricidade de Pernambuco(Celpe) também quer ampliar a capacidade da tur-bina construída em Fernando de Noronha. Atualmen-te, a usina garante 10% das necessidades de ener-gia da ilha, mas já em 1998 a Celpe pretende au-mentar esse percentual para 40%.

A Ilha de Fernando de Noronha é um dos locaisonde não só os aspectos econômicos (alto custo dageração através do diesel) como também os de na-tureza ecológica contribuem positivamente para ageração de energia a partir do vento. A turbina, emfuncionamento desde julho de 1992, tem potêncianominal de 75 kW, diâmetro do rotor de 17 metros(três pás) e uma torre de 23 metros de altura.

O projeto do sistema híbrido eólico/diesel da Ilhade Fernando de Noronha foi desenvolvido pelo Gru-po de Energia Eólica da Universidade Federal dePernambuco e pela empresa Folkecenter (Dinamar-ca), visando proporcionar uma economia de dieselna ordem de 70 mil litros anuais.

Tanto em Olinda como em Fernando de Noro-nha a energia eólica é somada à gerada em hidro etermelétricas, já que, na ausência de ventos, não épossível contar com a energia eólica.

O Ceará tem um programa de US$ 100 mi-lhões, com recursos dos governos brasileiro e ja-ponês, para geração desse tipo de energia. A Com-panhia de Eletricidade do Ceará (Coelce) buscaempresas interessadas em implantar a maior usi-na eólica da América do Sul.

O projeto prevê a instalação de cem turbinascom capacidade máxima de 60 Mwh por ano, o queequivale a 8% do consumo residencial de Fortaleza.A usina eólica deve ser criada numa área de mil hec-tares na praia de Paracuru.

Considerando o grande potencial eólico de vá-rias regiões do Brasil, é possível produzir eletrici-dade a partir do vento a um custo de geração infe-rior a U$ 50/mkw.

Fazenda eólica em Minas Gerais

No biênio 1983–1984, a Companhia Energética deMinas Gerais (Cemig) realizou medições e avaliaçõesdo regime do vento no Morro do Camelinho. Essasmedições demonstraram que a região se apresen-tava como promissora para o aproveitamentoenergético do vento, levando a Cemig a escolher aregião para desenvolver novos estudos para a im-plementação de um sistema de grande porte.

Page 65: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 67Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Energia alternativa | Fontes alternativas de energia | Anexo técnico, Roberto M. F. Mourão

No segundo semestre de 1992, esse projetofoi enquadrado no Programa Eldorado do Ministé-rio da Ciência e Tecnologia do governo alemão, queoferecia recursos na ordem de 70% dos custos to-tais do projeto. A usina foi instalada em 1994, noMorro do Camelinho. Ela opera com capacidade de1 Mw e teve um custo total de US$ 1 milhão 540mil, sendo US$ 790 mil (51%) pagos pelo programaalemão e os demais US$ 750 mil (49%) custeadospela Cemig e financiados pela Financiadora de Es-tudos e Projetos (Finep).

Para a velocidade de vento média local, esti-mada entre 6 e 7 m/s (a 30 metros de altura) pre-vê-se uma produção média anual de energia entre1.500 e 1.800 Mwh.

Aerogerador da Ilha de Fernandode Noronha

A Celpe, em convênio com o Folkcenter e com oGrupo de Energia Eólica da Universidade Fede-ral de Pernambuco, instalou, na Ilha de Fernandode Noronha, a primeira turbina eólica de gran-de porte em operação comercial na América doSul. Até pouco tempo, a eletricidade da ilha eraproduzida exclusivamente por geração térmica,utilizando o óleo diesel. Embora ainda seja es-sencial, esse tipo de geração é cara e traz riscosde poluição ambiental.

O equipamento instalado tem uma potência de75 kW e está fixado numa torre de 23 metros dealtura, com hélices de 17 metros de diâmetro. Foifeito um investimento de cerca de US$ 250 mil nainstalação da turbina, prevendo-se uma economiade cerca de 10% do óleo diesel consumido na gera-ção de energia da ilha.

O equipamento foi instalado em 1992 e pro-duziu, no período de 1992–1995, uma energia acu-mulada de 152.926 kWh. Com os resultados satis-fatórios, a Celpe está estudando a implantação deoutro aerogerador na ilha para atender a pelomenos 50% da demanda.

Características do sistema• 4 turbinas eólicas de 250kW cada

• Rotor de eixo horizontal

• 3 pás de 26 metros de diâmetro

• Torre tubular cônica de 30 metros dealtura

• Gerador elétrico assíncrono de póloschaveados:

Geração de 80/250 kW

Rotação de 900/1.200 rpm

Tensão 380 V trifásico, 60 Hz

• Velocidade do vento

Nominal : 14 m/s

Partida: 3 m/s

Corte: 25 m/s

Sobrevivência: 60 m/s

Características do sistema• 1 turbina eólica de 75 kW

• Passo fixo

• 3 pás de 17 metros de diâmetro

• Torre autoportante de base quadrada com23 metros de altura

• Gerador elétrico

Tensão nominal 3 – 380 Vrms/60 Hz

Fusível de linha de 200 A

Potência nominal 90 kVA/75 kW (fp = 0.93)

Potência do trafo de acoplamento à redede 75 kVA/380/13.800 Vrms

• Velocidade do vento

Nominal : 12 m/s

Partida: 3.5 m/s

Page 66: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 68Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Energia alternativa | Fontes alternativas de energia | Anexo técnico, Roberto M. F. Mourão

por Roberto M. F. Mourão

A. Placa solar: transforma a luz solar em eletricidade.B. Bateria. C. Equipamento (12 V) a ser energizado.

Sol – usina de energia

A energia solar é uma fonte inesgotável de ener-gia, podendo representar uma solução para partedos problemas de escassez de energia que abala omundo. Em apenas uma hora, o Sol despeja sobrea Terra uma quantidade de energia superior aoconsumo global de um ano inteiro. É uma energiagratuita, renovável e não poluente. Então, por quenão aproveitá-la?

É o que a tecnologia fotovoltaica faz. Diferen-temente dos aquecedores solares de água comunshoje, o efeito fotovoltaico transforma a energia lu-minosa proveniente do Sol em eletricidade para abas-tecer lâmpadas, eletrodomésticos, bombas edessalinizadores de água, computadores, refrigera-dores ou quaisquer outros equipamentos elétricos.

A crescente demanda global por energia e aimportância do impacto das políticas energéticassobre a sociedade e o meio ambiente criam a neces-sidade de optarmos por uma fonte de energia quepossa abastecer a humanidade de forma inesgotá-vel e que possa servir de base para um desenvolvi-mento sustentável.

Nos dias atuais, em que os problemas ambien-tais se agravam e as matérias-primas se esgotam, aenergia solar fotovoltaica é cada dia mais cotadacomo substituição aos métodos convencionais degeração de eletricidade.

Nos países em desenvolvimento, essa fonte deenergia deve ser aproveitada ao máximo. Normal-mente, esses países apresentam elevadas extensõesterritoriais e estão situados em zonas tropicais, ouseja, dispõem de alta incidência de radiação, o quetorna viável o desenvolvimento de tecnologias ca-pazes de transformar a energia solar em energiatérmica, elétrica, química, mecânica etc.

As aplicações mais difundidas da tecnologia so-lar referem-se à conversão da radiação solar emenergias térmica e elétrica. Podemos citar:

• aquecimento de água;

• conversão fotovoltaica (iluminação, refrigera-ção etc.);

• geração de vapor;

• refrigeração;

• secagem de produtos agrícolas.

Como funciona?

O efeito fotovoltaico começou a ser pesquisado em1954 por cientistas da área espacial que buscavamuma forma eficiente de fornecer energia aos satéli-tes. Desde então, a energia solar fotovoltaica temse desenvolvido de forma espetacular e se faz cadavez mais presente em regiões onde a transmissãoda rede elétrica convencional é difícil ou custosa, ou,ainda, não é confiável.

O princípio de funcionamento é simples na es-sência: alguns materiais, principalmente o silício cris-talino, quando expostos à luz, geram eletricidade.Em uma placa voltaica, várias células solares feitassobre lâminas delgadas de silício cristalino sãointerconectadas apropriadamente para se obter avoltagem desejada. Ao ser exposta à luz, a placaproduzirá eletricidade em corrente contínua que

pode ser usada diretamente ou armazenada embaterias para uso posterior. A quantidade de ener-gia elétrica produzida será proporcional ao tama-nho da placa e à luminosidade existente.

Um sistema fotovoltaico típico para 12 volts (V)é composto de alguns elementos básicos, como mos-tra o diagrama abaixo.

Sistema fotovoltaico 110/220 V

Um sistema fotovoltaico mais sofisticado para 110V ou 220 V é composto de: uma ou mais placassolares; regulador de carga (evita sobrecarga dabateria); banco de baterias; inversor (transformaa corrente de 12 V em 110 ou 220 V.); equipamen-to 12V a ser energizado e equipamento 110 ou220 V a ser energizado.

A

B

C

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• 69Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Energia alternativa | Fontes alternativas de energia | Anexo técnico, Roberto M. F. Mourão

Nem todos os sistemas conterão esses mes-mos elementos. Em alguns casos, como no bombe-amento de água, apenas placas ligadas diretamen-te à bomba são suficientes, assim o sistema só fun-cionará durante o dia, enquanto as placas estive-rem gerando energia.

Dependendo da demanda, várias placas podemser ligadas em paralelo. Sistemas grandes usandoséries de baterias podem virtualmente suprir quais-quer necessidades energéticas.

Painel fotovoltaico

Dispositivo constituído em geral por 36 células so-lares utilizado para converter energia solar em ele-tricidade. A conversão direta da energia solar emcorrente elétrica é realizada nas células solarespor meio do efeito fotovoltaico, que consiste nageração de uma diferença de potencial elétricopor radiação.

Elétrons em movimentogerando corrente elétrica

A célula solar trabalha segundo o princípio de que osfótons incidentes, colidindo com os átomos de certosmateriais, provocam um deslocamento dos elétrons,carregados negativamente, gerando uma correnteelétrica. Esse processo de conversão não dependedo calor. Pelo contrário, o rendimento da célula solarcai quando sua temperatura aumenta.

As células solares não só são apropriadas pararegiões ensolaradas, mas também parecem pro-missoras para áreas em que outros tipos de siste-mas de energia solar perecem sem perspectivascomo as de baixa insolação. As células solares con-tinuam a operar com o mesmo rendimento sobcéu nublado, como sob a luz direta do sol.

As células solares convertem a luz solar emeletricidade, sem a presença de produtos poluentesou impactos ambientais. Elas são hoje o fundamen-to da indústria fotovoltaica, que, durante as trêsúltimas décadas, vem atendendo um mercado emrápido crescimento.

A conversão da energia solar em energia elétri-ca, com o uso de painéis fotovoltaicos, já é comerci-almente viável para pequenas instalações. Seu uso éparticularmente vantajoso em regiões remotas ouem zonas de difícil acesso.

Os sistemas de comunicação e, de modo geral,todos os equipamentos eletrônicos com baixo con-sumo de potência podem ser facilmente alimenta-dos por painéis fotovoltaicos. Torna-se especialmen-te notável a utilização de energia solar na alimenta-ção de dispositivos eletrônicos existentes em fogue-tes, satélites e astronaves.

Quais as vantagens dessa tecnologia?

A energia solar apresenta inúmeras vantagens, prin-cipalmente em países como o Brasil, onde o sol épresente na maioria das regiões.

• É uma energia limpa, pois não gera nenhumtipo de poluição.

• Nas instalações simples, não necessita assistên-cia técnica.

• Mínima manutenção, pois não há desgaste demódulos/placas solares.

• Vida útil dos módulos comprovadamente supe-rior a 25 anos.

• Não consome combustíveis.

• Permite auto-suficiência energética.

• Reduz custos com energia.

A energia solar é a solução para levar a eletrici-dade a locais aonde a rede convencional não chegou

ou onde é fornecida de maneira precária. É cada vezmais utilizada para a iluminação e comunicação ru-ral e bombeamento de água.

Postos de saúde remotos também se beneficiamcom a energia solar. Com a utilização de painéis sola-res, é possível abastecer refrigeradores para a conser-vação de vacinas, prover iluminação e comunicação.

Nos Estados Unidos, assim como na Europa, odesenvolvimento subsidiado da energia solar está tra-zendo a um número crescente de pessoas a certezade que há uma saída econômica e consciente para aquestão energética por meio da auto-suficiência e daindependência proporcionadas por essa tecnologia.

Graças ao aumento da demanda verificadanos últimos anos, existem nesses países diversasorganizações, grupos de usuários e revistas espe-cializadas em geração independente de energia.Vários websites informam sobre energia solar ecomercializam equipamentos.

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• 70Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Energia alternativa | Fontes alternativas de energia | Anexo técnico, Roberto M. F. Mourão

Serve para tudo

Graças à sua modularidade, portabilidade e simplici-dade de instalação, a energia solar pode ainda seraplicada a diversas outras áreas de atividade:

• repetidoras remotas de rádio e televisão;

• camping, motor-homes e barcos de passeio;

• dessalinização de água;

• iluminação pública;

• sinalização marítima;

• abastecimento de campos avançados militarese científicos.

Fatos

• A energia solar é uma fonte 100% natural,ecológica, gratuita, inesgotável e não agrideo meio ambiente.

• Nos Estados Unidos, em Israel, na Itália, França,Grécia, Alemanha, Austrália e no Japão, a ener-gia solar para aquecimento de água é larga-mente utilizada. Em alguns desses países, o equi-pamento de aquecimento solar tem parte sig-nificativa subsidiada pelo governo ou pela com-panhia energética.

• Sozinho, o chuveiro elétrico é responsável por6% do consumo nacional de energia elétrica,equivalente a quase o dobro do que se gastaem todo o país com iluminação pública.

• O Brasil é o único país do mundo a utilizar osistema de chuveiro elétrico como padrão naci-onal para aquecimento de água para banhos.

• A utilização de energia solar para aquecimen-to de água em residências de pequeno portee para núcleos habitacionais pode significaruma redução de cerca de 50% nos custos comenergia elétrica.

• Com cada metro quadrado de coletor solar ins-talado, evita-se a inundação de 56 metros qua-drados de terras férteis na construção de novasusinas hidrelétricas. A construção de novas hi-drelétricas resulta em perda da fauna e da flo-ra tropical, inundação de terras que eram oupoderiam ser utilizadas para agricultura e pe-cuária, perda de patrimônio histórico/cultural etambém na recolocação de famílias.

• Uma parte do milionésimo de energia solar queo Brasil recebe durante o ano (aproximadamen-te 15 trilhões de megawatts) poderia nos darum suprimento de energia equivalente a 54%do petróleo nacional ou duas vezes a energiaobtida com o carvão mineral ou ainda quatrovezes a energia gerada no mesmo período poruma usina hidrelétrica.

Perguntas e respostas freqüentesUma placa solar funciona com tempo nubladoou chuvoso?

Sim, a quantidade de energia elétrica produzida éproporcional à intensidade da luz que incide naplaca solar. Desse modo, com céu claro e sol oumormaço forte, a energia gerada será máxima,mas mesmo com céu nublado haverá geração deeletricidade. Até mesmo com tempo chuvoso, apequena claridade existente produzirá uma pe-quena quantidade de energia.

A placa solar acumula energia produzida,permitindo seu uso à noite?

Não. A energia gerada, se não for aproveitada nahora em que é produzida, será desperdiçada. Por-tanto, deverá ser usada na hora (por exemplo, para

acionar uma bomba d’água) ou armazenada embaterias para uso posterior (por exemplo, para ilu-minação durante a noite).

Quanta energia fornece uma placa solar?

A quantidade de energia gerada por uma única placasolar é limitada. Uma placa solar de 45 watts (mais oumenos 100 cm x 40 cm), por exemplo, gera diariamen-te 11 A.h (ampères-hora), energia suficiente para:

• manter acesa uma lâmpada fluorescente de 9watts por 12 horas, ou

• alimentar um aparelho de televisão de 12 Vdurante seis horas, ou

• operar um equipamento de rádio duranteuma hora, ou

• acionar uma bomba de 12 V durante o temposuficiente para abastecer uma caixa d’água demil litros por dia.

À medida que aumenta a demanda, torna-senecessário aumentar o número de painéis solaresdo sistema. Por exemplo:

• com duas placas solares, é possível fornecer ener-gia para iluminação, televisão e radiocomunica-ção, simultaneamente;

• com quatro placas solares, é possível alimentaruma geladeira;

• com cinco placas, é possível fornecer a energianecessária para iluminação, rádio, televisão ebombeamento de água para abastecimento deuma residência rural.

A placa solar serve para aquecer águaou alimentar um chuveiro elétrico?

Uma placa solar não deve ser usada para aquecerágua. É muito comum confundir um coletor solar

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• 71Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Energia alternativa | Fontes alternativas de energia | Anexo técnico, Roberto M. F. Mourão

térmico, que aproveita o Sol para aquecimento deágua, com uma “placa fotovoltaica”, que transfor-ma a luz solar em eletricidade. O coletor solar é umequipamento relativamente simples: trata-se deum aparelho pelo qual circula água, que se aquececom a incidência do sol.

Quanto a usar uma placa solar para alimentarum chuveiro elétrico, não é aconselhável. É muitomais simples (e muito mais barato) aquecer águausando diretamente um coletor térmico em vez deusar uma placa fotovoltaica para produzir eletrici-dade e depois transformar a eletricidade em calor.

Que tipos de aparelhos podem ser alimentadospor placas solares?

A placa solar produz eletricidade em corrente contí-nua (12 V, a mesma voltagem fornecida por umabateria automotiva). Somente aparelhos cujas vol-tagens de operação sejam compatíveis podem seralimentados diretamente por uma placa solar.

Estão disponíveis no mercado diversos equipa-mentos que funcionam em 12 V corrente contínua(lâmpadas, televisores, rádios, ventiladores, bombasd’água, geladeiras etc.). É possível também alimen-tar aparelhos que funcionam em 24, 36 ou 48 V cor-rente contínua, interligando dois, três ou quatropainéis solares de 12 V em série.

Como alimentar eletrodomésticos que funcionamem corrente alternada?

Para alimentar aparelhos de corrente alternada énecessário usar um inversor, que transforma 12 Vcorrente contínua em corrente alternada 110/220 V.

É importante considerar que nesse processode transformação ocorre a perda de parte da ener-gia produzida pela placa solar, e, dessa forma, aenergia disponível para a alimentação dos apare-lhos se reduz.

A quantidade de energia que se perde depen-de da qualidade do inversor utilizado (os inversoresde melhor qualidade têm rendimento superior).

Dá para alimentar com energia solar umrefrigerador doméstico?

É possível, porém muitos dos refrigeradores dispo-níveis atualmente consomem muito mais energia doque realmente necessitam (principalmente por cau-sa de sua deficiente isolação térmica). Alguns dosrefrigeradores de última geração podem ser acio-

nados com energia solar por meio de um inversor. Jáexistem no mercado refrigeradores desenvolvidosespecificamente para funcionar com energia solar.São refrigeradores de alto rendimento, cujo consu-mo é menor que o de um refrigerador convencionalde mesma capacidade.

É possível usar uma placa solar diretamentesem bateria?

Sim, mas nesse caso a energia produzida não teráonde ser armazenada e deverá ser utilizada no exa-to momento em que estiver sendo gerada. A bate-ria tem uma função muito importante no sistema:permite o armazenamento de energia para uso pos-terior e evita que variações da insolação interfiramno funcionamento dos equipamentos. Imagine, porexemplo, que você esteja falando no rádio e umanuvem escureça o sol. A corrente gerada pela placasolar diminuiria e o rádio provavelmente deixariade funcionar. A bateria evita que isso aconteça egarante o funcionamento dos equipamentos mes-mo durante a noite.

Existem algumas aplicações onde o funciona-mento sem baterias é perfeitamente aceitável.Uma bomba d’água, por exemplo, poderá funcio-nar adequadamente sem o uso de bateria, pois,nesse caso, a água bombeada nos períodos em quehá sol pode ser armazenada numa caixa d’água eusada quando necessária.

Por que às vezes a bateria se descarrega?

A capacidade de geração de uma placa solar é li-mitada. Desse modo, caso o consumo diário sejasuperior à energia produzida pela placa solar na-quele dia, a energia faltante será fornecida pelabateria, o que provocará sua descarga gradual. Se

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• 72Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Energia alternativa | Fontes alternativas de energia | Anexo técnico, Roberto M. F. Mourão

essa situação se repetir com freqüência, forçosa-mente a bateria se descarregará completamente.Para que um sistema de energia solar funcione commáxima confiabilidade, é importante usá-lo dentrodos limites para os quais ele foi dimensionado.

A capacidade do sistema amplia com uma bateriamais potente?

Não. O aumento da capacidade da bateria aumentaapenas a autonomia do sistema. Ampliando a capaci-dade, você aumenta o tempo que vai levar até que abateria descarregue completamente, caso o consu-mo exceda a capacidade de geração da placa solar.

Um sistema com autonomia de cinco dias, porexemplo, garantirá o funcionamento dos equipa-mentos durante esse tempo, independentementedas condições de geração da placa solar. Entende-sepor “autonomia” o tempo que o sistema pode fun-cionar, na eventualidade de cessar totalmente a pro-dução de energia pela placa solar

Como aumentar a capacidade de um sistema deenergia solar?

Simplesmente aumentando a quantidade de painéissolares do sistema. Por exemplo, um sistema comuma única placa solar terá sua capacidade duplicadacom o acréscimo de uma segunda placa, ou triplicadacom o acréscimo de mais dois módulos. Essa amplia-ção pode ser feita aos poucos, conforme as necessi-dades e a disponibilidade financeira do usuário.

É importante notar que a modularidade de umsistema de energia solar fotovoltaica permite nãosomente sua ampliação gradual, mas também pos-sibilita que um sistema maior seja desmembrado emdiversos sistemas menores que poderão ser reutili-zados em locais diferentes.

A instalação da placa solar requer um técnicoespecializado?

A instalação de um sistema de energia solar é ex-tremamente simples, podendo ser executada semdificuldades pelo próprio usuário, seguindo as ori-entações fornecidas junto com o equipamento.Não requer, portanto, a contratação de um técni-co especializado.

Qual é a durabilidade de uma placa solar?

As placas solares construídas com materiais dequalidade resistem a mais de 25 anos de exposi-ção às mais diversas condições ambientais, com ummínimo de cuidado e com uma incidência de defei-tos desprezível.

A energia solar pode ser usada em locais onde jáexiste rede elétrica?

Suprir eletricidade por meio de energia solar emlocais onde já existe rede elétrica é antieconômi-co, já que nos centros urbanos ainda prevalece amentalidade da energia farta e barata, que podeser esbanjada.

Para viabilizar o atendimento de uma residên-cia urbana típica por meio da energia solar, deve serevitado o uso de aparelhos de alto consumo (aque-cedores elétricos de água, por exemplo) ou de baixorendimento.

A iluminação incandescente deveria ser substi-tuída por lâmpadas de maior eficiência (uma lâmpa-da fluorescente compacta de 9 watts, por exemplo,ilumina tanto quanto uma lâmpada comum de 60watts, consumindo um sexto da energia).

Existe, mesmo assim, uma vasta gama de aplica-ções importantes onde é totalmente viável utilizarenergia solar em locais servidos por energia elétrica:

• iluminação de emergência em residências, fá-bricas, hospitais etc.;

• iluminação externa de jardins, pátios, estacio-namentos etc.;

• sistemas de segurança para residências, condo-mínios, prédios e fábricas;

• acionamento de equipamentos em geral, mui-to sensíveis a variações de voltagem e interrup-ções de fornecimento da rede comercial.

Page 71: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 73Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Energia alternativa | Fontes alternativas de energia | Anexo técnico, Roberto M. F. Mourão

por Roberto M. F. Mourão

Benefícios da energia solar

Além da importante tarefa de conscientização am-biental e sociocultural pelo uso de uma energia lim-pa e gratuita, a economia de energia convencionalcausada pela utilização da fonte solar evita desper-dícios extraordinários, tanto para a economia e es-tabilidade energética mundial como pelas grandesperdas ambientais irreversíveis.

Os coletores ou placas solares são normalmen-te instalados sobre os telhados ou coberturas. Paracada metro quadrado de coletor solar instalado,permite-se evitar a inundação de 56 metros qua-drados de áreas férteis na construção de novas usi-nas hidrelétricas ou também economizar energia.

Sistema de aquecimento de água por energia solar

Uma das mais utilizadas e viáveis formas de apro-veitamento da energia solar é o aquecimento deágua em residências, piscinas, hotéis, indústrias, edi-fícios, propriedades rurais ou qualquer outra aplica-ção que necessite de água quente. Quando se pensaem água quente com economia, a energia solar re-força ainda mais essa visão.

Funcionamento

Um sistema básico de aquecimento de água por ener-gia solar é composto de placa(s) coletora(s) solar(es)e reservatório térmico (boiler).

As placas coletoras são responsáveis pela absor-ção da radiação solar. O calor das placas é transmitidopara a água que circula em suas tubulações de cobre. Oreservatório térmico é um recipiente para armazena-mento da água aquecida. São cilindros de cobre ou açoinox isolados termicamente com poliuretano expandi-do. Dessa forma, a água permanece aquecida e pron-ta para uso a qualquer hora do dia. A caixa de águafria alimenta o reservatório, mantendo-o sempre cheio.

Em sistemas mais simples, a água circula en-tre os coletores e o reservatório por meio de ummecanismo natural chamado termossifão. Nessesistema, a água dos coletores fica mais quente e,portanto, menos densa que a água no reservató-rio. Assim, a água fria “empurra” a água quentegerando a circulação.

Esses sistemas são chamados da circulação na-tural ou termossifão. A circulação da água tam-bém pode ser feita por motobombas, sendo entãochamada de circulação forçada ou bombeada, nor-malmente mais utilizadas em piscinas e sistemasde grandes volumes.

Coletor solar

Difere do painel fotovoltaico porque utiliza a ener-gia solar para aquecer um fluido (em geral, a água),e não para gerar eletricidade. O coletor solar é oD

ados

méd

ios

para

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rasi

l. Fo

nte:

Abr

ava.

Diesel 66 litros/ano

1 m² Gás liquefeito de petróleo (GLP) 55 kg/ano (três botijões)

Lenha 215 kg/ano

Equivalência coletor solar x outras fontes energéticas

Coletor solar Combustível Equivalência

coletor solar

caixa d’água

reservatóriotérmico(boiler)

circulaçãode água emaquecimento

águaaquecida

Page 72: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 74Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Energia alternativa | Fontes alternativas de energia | Anexo técnico, Roberto M. F. Mourão

coração do sistema de aquecimento solar. É respon-sável pela absorção e transferência da radiação so-lar para um fluido sob a forma de energia térmica.

De modo geral, o coletor solar funciona rece-bendo radiação solar e a transfere para a placa ab-sorvedora. O calor é, então, transferido para o flui-do que escoa no interior de tubos que estão em con-tato com a superfície absorvedora.

O aspecto externo de um coletor solar é deuma caixa retangular rasa (em geral, de alumínio)com cobertura de vidro. Dentro da caixa, há umaserpentina (geralmente de cobre, por causa de suaalta condutividade térmica), por onde o fluido es-coa. Em volta dela, há uma superfície de cobre pin-tada de preto (placa absorvedora), para facilitar aabsorção de calor. O calor absorvido pela placa étransferido à serpentina, e a água fria, ao passarpelos canos, é aquecida.

Ainda é necessário que se tenha um isolamen-to térmico na parte inferior do coletor paraminimizar as perdas de calor para o ambiente. Acobertura de vidro permite a entrada de radiaçãosolar ao passo que evita que parte do calor da placaabsorvedora se perca por convecção, pois o vidroimpede a ação do vento. Além disso, é importanteque haja uma vedação eficiente para prevenir queentre umidade no coletor.

Além dos coletores solares, para um sistema deaquecimento completo, são necessários um reser-vatório térmico, um sistema de circulação de água eum sistema auxiliar de aquecimento elétrico.

Em períodos encobertos prolongados, caso atemperatura da água do reservatório térmico caiamuito, a resistência do sistema de aquecimento elé-trico auxiliar será acionada por um termostato, deforma a fornecer energia suficiente à água armaze-nada. De qualquer forma, com um sistema bem di-mensionado, esse não deverá ser um problema.

Dependendo da situação da instalação, os cole-tores podem ser verticais ou horizontais. Os últimossão utilizados em locais onde a altura disponível paraa instalação do sistema de aquecimento é reduzida.

Geralmente, os coletores são montados em umaposição fixa com uma orientação predefinida de talforma que a absorção de radiação solar seja a me-lhor possível. Como estamos no hemisfério sul, ocoletor solar plano deve ter sua face voltada para oNorte a fim de que haja um melhor aproveitamentoda energia solar incidente.

Lâminas de vidro

isolamento

chapa de metal enegrecida

tabuleiro

tubos de circulação de água

Page 73: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 75Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Energia alternativa | Fontes alternativas de energia, Pedro Bezerra de Carvalho Neto

Energia solar

FRAIDENRAICH, N.; LYRA, F. Energia solar. Recife:

UFPE, 1995.

GTES – CEPEL-CRESESB. Manual de engenharia para

sistemas fotovoltaicos. Rio de Janeiro: Cepel, 1999.

PALZ, W. Energia solar e fontes alternativas. São

Paulo: Húmus, 1980.

SPENCER, M. Energia solar. São Paulo: Melhoramen-

tos, 1996.

TIBA, C. (Org.). Atlas solarimétrico do Brasil. Recife:

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Energia eólica

GIPE, P. Wind power for home and business. S.l.:

Chelsea Green, 1993.

Centro de Referência para Energia Solar e Eólica –

www.cresesb.cepel.br

Page 74: Infra-estrutura e Serviços, 2003

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

Manual de Melhores Práticas para o Ecoturismo – Turismo Sustentável | Infra-estrutura e serviços

4. TRILHAS

Page 75: Infra-estrutura e Serviços, 2003

www.mpefunbio.org.br - Incentivamos a cópia, reprodução e divulgação do conteúdo. Favor mencionar a fonte.

O autor enfatiza o conceito e os princípios da intepretação

ambiental, uma ferramenta de trabalho fundamental utiliza-

da no manejo de áreas protegidas e, mais recentemente, no

ecoturismo. Ele destaca o planejamento como um pré-requisi-

to importante para quem deseja iniciar um qualquer empre-

endimento em meio ambiente.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

INTERPRETAÇÃO AMBIENTAL

ROGÉRIO DIAS4.1

Page 76: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 79Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Interpretação ambiental, Rogério Dias

Placa informativa do Parque Nacional Marinho deFernando de Noronha, PE

Robe

rto

M. F

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rão

Interpretação ambiental é uma importante ferra-menta de trabalho utilizada na educação ambien-tal, no manejo de áreas protegidas e, mais recente-mente, no ecoturismo. Aqueles que pretendem de-senvolver o ecoturismo em bases sustentáveis, res-peitando seus princípios ambientais e sociais, devementender o que é interpretação ambiental, para queserve e como deve ser aplicada. Trata-se de um con-junto de técnicas de comunicação que visa revelar anatureza e a cultura local para o público, a fim deinformar-lhe, entretê-lo e sensibilizá-lo, promoven-do atitudes e consciência conservacionistas.

Definição de interpretação ambiental:

É uma atividade educacional que aspira

revelar os significados e relações por

meio do uso de objetos originais, atra-

vés de experiências de primeira mão e

por meios ilustrativos, no lugar de sim-

plesmente comunicar informação literal-

mente. (Tilden, 1957)

É uma técnica didática, flexível e moldável

às mais diversas situações, que busca es-

clarecer os fenômenos da natureza para

determinado público alvo, em linguagem

adequada e acessível, utilizando os mais

variados meios auxiliares para tal. A in-

terpretação procura promover neste pú-

blico o sentimento de pertinência à natu-

reza, através da sua transformação ínti-

ma em relação aos recursos naturais, da

sua compreensão e de seu entendimento,

na esperança de gerar seu interesse, sua

consideração e seu respeito pela nature-

za e, conseqüentemente, pela vida.

(Pagani et al., 1996)

A base conceitual da interpretação está nasensibilização e transmissão de informações aosvisitantes, caracterizando-se por traduzir a lingua-gem do meio ambiente, num sentido amplo, en-volvendo aspectos naturais, históricos, arquitetô-nicos, sociais e culturais, à linguagem comum dosvisitantes, por meio de uma abordagem própria,aliando entretenimento, presença de significado,organização e também de uma mensagem a sercomunicada, buscando cativar o visitante eestimulá-lo a pensar (Egydio, 1999).

Princípios1

• A interpretação deve relacionar os objetos dedivulgação ou interpretação com a personali-dade, conhecimento ou experiência das pesso-as a quem se dirige.

• A informação não é interpretação. A interpre-tação é uma forma de comunicação que vai alémda informação, tratando dos significados, inter-relações e questionamentos. Porém, toda a in-terpretação inclui informação.

• A interpretação é uma arte que combina mui-tas artes (sejam científicas, históricas, arquite-tônicas) para explicar os temas, utilizando to-dos os sentidos para construir conceitos e pro-vocar reações no indivíduo.

• O objetivo fundamental da interpretação não é ainstrução, mas a provocação; deve despertar curi-osidade, ressaltando o que parece insignificante.

• A interpretação deve tratar do todo em con-junto e não de partes isoladas; os temas devemestar inter-relacionados.

• A interpretação deve ser dirigida para públi-cos determinados: crianças, adultos e inte-resses especiais.

Ferramenta de conservação

A interpretação é uma valiosa ferramenta de cons-cientização ambiental. Para que as pessoas passema respeitar e conservar a natureza, é preciso queelas conheçam as riquezas naturais, suas belezas,seus usos, as relações entre os seres vivos e o meioambiente e as pressões e ameaças existentes.

1 Definidos por Tilden, 1957.

Page 77: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 80Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Interpretação ambiental, Rogério Dias

A interpretação ambiental “é uma atividadeeducativa, que não necessariamente faz parte de umprocesso, mas de uma estratégia de manejo paraminimizar os problemas decorrentes do uso público deuma determinada área ou região” (Delgado, 2000).

Relação com o ecoturismo

Os ecoturistas desejam vivenciar e obter informa-ções ambientais e culturais sobre o local visitado.Particularidades geográficas, biológicas, históricas eculturais são consideradas importantes para quemaprecia a natureza.

Operadores de ecoturismo utilizam a interpre-tação ambiental para agregar valor aos seus produ-tos, buscando: diferenciar seu produto, atrair clien-tela de maior poder aquisitivo, enriquecer a experi-ência e aumentar a satisfação do visitante, promo-ver conscientização ambiental, assegurar que o pro-duto seja sustentável e difundir o manejo de áreasprotegidas (McArthur, 1998).

Segundo Vasconcelos (1996), “a interpretaçãoambiental é uma tradução da linguagem da nature-za para a linguagem comum dos visitantes, fazendocom que os ecoturistas sejam informados em vez dedistraídos e educados além de divertidos”.

Planejamento

É o trabalho de preparação para qualquer empre-endimento, segundo roteiro, métodos e medidasdeterminados. No planejamento de programas deinterpretação ambiental, deve-se buscar o maiornúmero de informações possíveis e contar com téc-nicos de diferentes áreas (educação, história, geo-grafia, biologia, arquitetura e turismo).

O planejamento deve basear-se num amplo di-agnóstico ambiental e cultural da área a ser inter-pretada. As principais fontes de conhecimento sãoas bibliotecas, as instituições de ensino e pesquisa ea própria comunidade local.

Dados primários (levantamentos de campo) esecundários (por exemplo, bibliografia, vídeos e de-poimentos de moradores locais) devem ser compila-dos e posteriormente analisados, a fim de definir oque se pretende interpretar.

Etapas do planejamento2

1. Inventário (identificar, descrever e mapear osatrativos e problemas ambientais) – O primeiropasso para se estabelecer um programainterpretativo é a realização de um minuciosodiagnóstico da área, procurando levantar nãosó os principais atrativos, mas todos os seus re-cursos ambientais e culturais, potencialidades,usos, limitações e problemas.

2. Identificação do público-alvo e suas necessi-dades – Será fundamental para se definir comointerpretar (linguagem e meios). Quando se estáplanejando para o ecoturismo, há uma tendên-cia em eleger como público-alvo apenas os visi-tantes. Porém, os programas educativos que vi-sam ao desenvolvimento do ecoturismo de basecomunitária devem tentar atingir toda a comu-nidade envolvida, incluindo os vários tipos devisitantes, os vários grupos de visitados e tam-bém os funcionários e administradores das áre-as naturais/culturais atrativas e as comunida-des do seu entorno.

3. Determinação dos objetivos específicos ouresultados esperados para cada público-alvo– Exemplo, divulgar a importância da biodi-

versidade para a comunidade local. Modifi-car comportamentos e atitudes impactantesdos visitantes.

4. Análise de oportunidades interpretativas – Es-tudo dos dados inventariados; desenvolvimen-to de temas básicos – conteúdos; seleção demeios, infra-estrutura e serviços necessáriospara o programa interpretativo.

5. Síntese – Revisão do inventário, dos objetivos edas análises; análise das condições e tendênciaspresentes, dos interesses do ambiente e das ne-cessidades dos usuários e da instituição; proposi-ção de alternativas e seleção da mais apropriada.

6. Avaliação dos recursos humanos e financeirosnecessários e distribuição de responsabilidades.

7. Desenvolvimento do plano – Detalhamentoe aprimoramento da alternativa selecionada.

Implementação

É a fase de execução do planejamento. O estabeleci-mento de prioridades será importante para a defini-ção das etapas de trabalho. A elaboração de um cro-nograma, com metas que vão sendo atingidasgradativamente, facilita a implementação do proje-to. Um dos problemas comuns nessa fase é que geral-mente a equipe que planeja não é a mesma que im-planta o projeto. Nesse processo, é necessária muitasensibilidade para que os erros e os acertos sejampercebidos e os ajustes possam ser adotados.

Também é importante perceber e saber apro-veitar as novas oportunidades que surgem no pro-cesso. Uma boa estratégia é manter um registro de

2 Adaptado de Sharpe, 1982.

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• 81Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Interpretação ambiental, Rogério Dias

tudo o que acontece. Esse registro facilitará a análi-se, a reflexão, a avaliação e a tomada de decisão.

É muito importante buscar parcerias paraviabilizar a implantação de projetos, pois o envolvi-mento de outros atores interessados no assunto for-talecerá o trabalho e facilitará a obtenção de recur-sos financeiros, humanos e logísticos (ver módulo Ela-boração de Projetos). Esse envolvimento deve ocor-rer de preferência no planejamento, comprometen-do os diferentes atores com as propostas desde oinício (Vasconcelos, 1996).

Outro fator fundamental para o sucesso de umprojeto é a comunicação. Deve-se procurar divulgaramplamente as intenções, os motivos, os planos e asações. A comunicação deve ser freqüente em todasas esferas pertinentes. A comunicação deve ocorrerentre a equipe de trabalho, entre as instituiçõesenvolvidas e, principalmente, entre a comunidadeem questão. Vários meios de comunicação devem

ser utilizados: conversas, reuniões, audiências, semi-nários, cartazes, folhetos, boletins, jornais, revistas,rádio, televisão, vídeo e Internet.

Métodos de interpretação

Abrangência

A interpretação ambiental deve ser um processocontínuo e estar presente em todas as etapas decontato do ecoturista com seu destino. A agênciaou operadora tem que fornecer material impressoou eletrônico com informações geográficas, ecoló-gicas e sociais sobre o local a ser visitado, criandoexpectativa e preparando o turista para um conta-to harmonioso com a natureza e a comunidade lo-cal. Os meios de transporte, hospedagem e alimen-tação devem também estar preparados para in-formar aos turistas sobre os atrativos e serviçoslocais. No local de recepção de um atrativo (porta-ria ou centro de visitantes), a interpretação deveestar presente em forma de placas, cartazes, pai-néis, folhetos, livros e mapas, além da forma ver-bal por intermédio de um recepcionista, guia ouguarda. A pessoa que recepciona o visitante deveser comunicativa e hospitaleira e deve estar bempreparada para orientar e dar informações e fazera interpretação ambiental do local.

Sensibilização

A fim de estimular e manter o interesse do público, éimportante explorar todos os sentidos: compreensão,visão, audição, olfato e tato. Há pessoas que captammelhor as informações por meio da visualização, ou-tras da audição ou do toque. Enfim, quanto mais pos-sibilidades de exploração sensorial, maiores são aschances de o ecoturista captar e reter a informação.

Preferências do público

Em geral, as pessoas gostam mais de envolvimentosensorial, humor, novas informações inteligíveis eum intérprete entusiasmado. E desgostam de leitu-ras, intérprete que fala muito, um programa técni-co e apresentações longas e sem entusiasmo.

Limitações

Por parte do público, é importante considerar suaslimitações de tempo, de interesses e de capacida-des. Geralmente, o visitante não dispõe de muitotempo ou interesse para obter muita informaçãoou participar de um processo educativo. Por isso,deve-se dar prioridade aos conteúdos mais significa-tivos e importantes. As formas de comunicação pre-cisam ser diretas, objetivas e eficientes.

Abordagem

A fim de atingir os objetivos predefinidos em umprograma de interpretação ambiental, é fundamen-tal utilizar uma abordagem adequada e eficiente. Aseguir, algumas características importantes para aabordagem interpretativa (Pennyfather,1975;Pagani et al., 1996; Vasconcelos, 1996):

• incentiva a participação (permite tocar, mani-pular ou utilizar objetos);

• ameniza (entretém, mantém a atenção);

• provoca a reflexão (desperta a curiosidade eincentiva a ação);

• relevância ao visitante (relaciona a interpreta-ção a fatos familiares ao público);

• aproximação temática (conecta as partes a umamensagem central);

• organizada (não requer muito trabalho daaudiência);

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• 82Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Interpretação ambiental, Rogério Dias

• seqüência (informações apresentadas numaordem lógica);

• gráficos (esquematiza conteúdos e ilustra in-formações);

• cria clima adequado (descoberta, suspense outransporta o imaginário do visitante para umadeterminada época ou situação);

• usa bom humor (alegria, descontração, motivação);

• temática (tem uma mensagem a ser comunicada).

Tópicos

É interessante definir tópicos para trilhas, locais deparada, mirantes e até centro de visitantes. Um cen-tro de visitantes no cerrado poderia ter como tópico“A diversidade do cerrado” e lá seriam encontradosdiversos materiais com informações sobre a biodi-versidade desse ecossistema. Uma determinada tri-lha pode ser particularmente rica em plantas medi-cinais. Assim, seu tópico central poderia ser “A far-mácia natural”, e as plantas medicinais ao longo datrilha seriam identificadas e valorizadas. Isso nãoquer dizer que outros assuntos interessantes devamficar sem interpretação.

Certos pontos de parada podem explorar aqui-lo que for mais significativo, como a paisagem, aflora ou até mesmo o solo. É interessante explicar oprocesso de formação de solo orgânico em uma mata,destacar o acúmulo de folhas e galhos, o papel dosorganismos decompositores e a importância da co-bertura vegetal para a proteção do solo e dos ma-nanciais. Isso poderia ser explicado por um intérpre-te (guia ou condutor) ou por um painel esquemático(placa com textos e ilustrações).

Existe uma infinidade de tópicos que mere-cem interpretação, tais como: biodiversidade, su-cessão ecológica, a vida de insetos sociais, cadeia

alimentar, relações entre ani-mais e plantas, relações intrae interespecíficas (competição,cooperação, predação, parasi-tismo, mutualismo, comensa-lismo), estações climáticas eadaptações biológicas, corre-dores ecológicos, geologia ehidrologia local, fatos históri-cos, lendas e folclores, impac-tos ambientais (caça, desma-tamento, erosão, poluição,extinção etc.).

Temas

Devem-se criar roteiros inter-pretativos coerentes e eficien-tes, baseados nos diferentesaspectos existentes ao longodas trilhas e nas principais informações e conceitosque se deseja transmitir. Para tanto, é preciso defi-nir os temas a serem interpretados. O tema é aidéia principal ou mensagem que se pretende pas-sar. Bons temas estimulam a observação, a refle-xão e a ação. A abordagem temática é muito im-portante. Muitos programas de interpretação nãoatingem seus objetivos por causa da falta de temasadequados e bem elaborados.

Passos para o desenvolvimento de temas

1. Após o diagnóstico ambiental e cultural, procu-re identificar o principal assunto (tópico) a serinterpretado (por exemplo, plantas medicinaisou cerrado rupestre).

2. Em seguida, identifique o que deve ser ressal-tado sobre esse assunto (por exemplo, a flores-

ta tropical possui centenas de plantas medici-nais; o cerrado rupestre é um rico ambiente queexiste sobre afloramentos rochosos).

3. Finalmente, defina o que você quer que seupúblico leve como mensagem (por exemplo,a floresta tropical possui centenas de plan-tas medicinais, utilizadas tradicionalmentepelos povos das florestas, que estão sendoexploradas pela indústria farmacêutica semque parte dos lucros seja revertida em bene-fícios aos povos das florestas e às florestas; ocerrado rupestre é um rico ambiente queexiste sobre afloramentos rochosos nos pou-cos pontos mais elevados do Planalto Cen-tral e está seriamente ameaçado pelo paisa-gismo predatório que rouba suas belas ro-chas para enfeitar jardins).

Turismo profissional – cientistas botânicos observam orquídeas na Reserva deMacaé de Cima, Muri, RJ

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Page 80: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 83Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Interpretação ambiental, Rogério Dias

Meios interpretativos

Podem ser classificados em personalizados e não per-sonalizados. Os meios personalizados proporcionamuma interação entre o público e o guia ou intérprete.

Os meios não personalizados são os que não utili-zam pessoas, apenas objetos ou aparatos. Veja a se-guir exemplos de meios interpretativos e suas vanta-gens e desvantagens de acordo com Vasconcelos (1996).

Meios não-personalizados

• Trilhas autoguiadas: caminhos preestabelecidosonde se utilizam folhetos, placas, painéis e gra-vações sonoras.

• Audiovisuais automáticos: podem fornecer in-formação de alta qualidade, criam uma atmos-fera especial, com aumento da receptividade;são geralmente caros, requerem fonte de ener-gia e controle permanente.

• Exposições: objetos ou coleções que ilustram ouexplicam um tema, tanto em interiores, em cen-tro de visitantes, como em exteriores.

Meios personalizados

• Trilhas guiadas: passeios conduzidos por um guiaou intérprete em caminhos preestabelecidos.

• Audiovisuais com atendimento pessoal: filmes,projeções ou amplificação de sons em que o in-térprete está presente para explicar e respon-der perguntas ou ele é o palestrante.

• Palestras ou conferências: em diversos estilos,especialista traduz seus conhecimentos em lin-guagem compreensível para o público.

• Animação passiva: representação em formateatral, sem contar com a participação diretado público. Pode passar uma mensagem com-

plexa, criando um clima de realismo, que tornaa visita memorável e facilita a apreciação e aconscientização. Os animadores precisam serbons para conquistar o interesse do público.Reconstruir cenários e objetos pode ser caro.

• Animação ativa: simulações, jogos, representa-ções teatrais, utilização de instrumentos em queo público participa utilizando conhecimentosprévios ou adquiridos durante a visita na área.Aprender fazendo é mais efetivo, é provocativo,estimula a exploração de várias facetas indivi-duais, permite que o intérprete possa esclare-cer conceitos. O êxito depende da reação daspessoas. Esse meio requer tempo e pessoal trei-nado e só é aplicável a grupos reduzidos.

Trilhas guiadas e autoguiadasNão se deve encarar uma trilha apenas como acessoa determinado atrativo. A própria trilha deve serconsiderada como importante atrativo e, por isso,ser bem planejada e valorizada pela interpretação.

As trilhas guiadas necessitam da presença de umguia ou condutor que indicará o caminho e interpre-tará o ambiente. Em geral, as trilhas mais difíceis eperigosas devem ser guiadas. Já as trilhas autoguia-das dispensam a presença do guia, pois possuem sina-lização e material impresso com indicações, adver-tências e informações sobre o caminho e o ambiente.

Muitos ecoturistas gostam de percorrer trilhasa sós, desvendando a natureza no seu próprio rit-mo e observando detalhes que lhes interessam. Por

Meios personalizados

Vantagens Desvantagens

Possibilitam comunicação efetiva entre visitante e intérprete. Requerem o treinamento e a presença do intérprete.

A mensagem pode ser adaptada para diferentes públicos. Atendem a pequenos grupos.

A presença e a atuação do intérprete despertam maior interesse. A sua efetividade depende da habilidade do intérprete.

Possibilitam o envolvimento da comunidade local (intérprete). Geralmente implicam custo adicional para o visitante.

Meios não-personalizados

Vantagens Desvantagens

São auto-explicativos. Não possibilitam o esclarecimento de dúvidas.

Estão sempre disponíveis. São dirigidos a um público genérico.

Atendem a grande número de visitantes. É difícil manter o interesse do visitante.

Constituem forma rápida de educação. É difícil controlar o vandalismo.

Page 81: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 84Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Interpretação ambiental, Rogério Dias

outro lado, as pessoas menos experientes geral-mente preferem a companhia de um guia local. Por-tanto, um destino ecoturístico deve oferecer váriasopções de trilhas: guiadas, autoguiadas, curtas, lon-gas, fáceis e difíceis. É importante fazer uma ma-nutenção periódica das trilhas mantendo-as ínte-gras, limpas e seguras.

Dimensões e traçado de trilhaspara interpretação

É preciso muita cautela antes de se estabelecer umanova trilha. Uma trilha é sempre um impacto no meioambiente, por isso não se deve abrir muitas. De pre-ferência, utilize caminhos antigos ou trilhas de ani-mais já existentes. Devem ter em média 90 centí-metros de largura, podendo variar conforme o ter-reno e condições de visitação.

A maioria dos turistas está disposta ou prepa-rada a caminhar de 3 a 5 quilômetros. Trilhas maislongas, conhecidas como travessias, devem seropcionais para um público mais restrito e mais bempreparado fisicamente.

Em geral, a interpretação ambiental é planeja-da para trilhas curtas ou pequenos trechos, pontos deparadas e áreas de acampamentos de trilhas maio-res. As trilhas curtas e médias devem ser sinuosas eplanejadas em forma de circuitos, evitando voltar pelomesmo caminho. Isso manterá a expectativa do visi-tante, aumentará as possibilidades de interpretaçãoambiental e evitará problemas de congestionamen-to de pessoas e conseqüente alargamento da trilha.

No planejamento do traçado, deve-se seleci-onar paisagens variadas e preservadas, locais bo-nitos e agradáveis, ecossistemas e processos

ecológicos representativos, espécies vegetais sig-nificativas (árvores grandes, flores etc.), locaisplanos e solos estáveis.

É importante evitar locais frágeis (solos inun-dados ou sujeitos à erosão, presença de animaisameaçados e hábitats sensíveis etc.), prevenindoimpactos no meio ambiente, e locais perigosos(declividade acentuada, piso muito irregular ou es-corregadio, beira de abismos etc.), diminuindo, as-sim, o risco de acidentes. Mais detalhes sobre trilhasno capítulo “Manejo de trilhas”.

Pontos de parada

Ao longo da trilha, devem ser criados pontos deparada onde um tema interpretativo pode edeve ser apresentado. Esses pontos têm que serestabelecidos em locais estratégicos onde hajaelementos interessantes: paisagens, água, vege-tação, fauna ou sítio histórico e arqueológico.No caso das trilhas autoguiadas, as informaçõespodem estar em placas, painéis e folhetos. É im-portante haver sombra e assentos (troncos) nospontos de parada para permitir um breve des-canso da caminhada.

Características de uma parada temática efetiva (Ham, 1992)

• Possui um títu;lo-tema (por exemplo, o papeldos decompositores na formação de solo).

• Enfoca diretamente um fato visível e de interesse.

• Explica os fatos de forma rápida e interessante.

• Relaciona o tema da parada com o tema geralda caminhada.

• Contém menos de 65 palavras.

• Tem orações curtas, com menos de 20palavras cada.

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• 85Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Interpretação ambiental, Rogério Dias

• Usa verbos simples e na voz ativa.

• Apresenta uma linguagem familiar, sem utili-zar termos técnicos.

• Utiliza recursos visuais para ilustrar a mensagem.

• Estimula a participação da audiência com per-guntas e atividades.

Sinalização

Tanto a interpretação ambiental como o manejo douso público de unidades de conservação e quaisquerempreendimentos turísticos necessitam de sinaliza-ção. Seguem aqui apenas os objetivos e orientaçõesgerais para um projeto de sinalização. Recomenda-se a contratação de pessoal qualificado para o pla-nejamento e a implantação de um projeto de sinali-zação, pois se trata de um instrumento fundamen-tal na comunicação com o público. Se for bem feito,trará bons resultados, mas, se for deficiente ou ex-cessivo, mal dimensionado ou posicionado, feito comlinguagem difícil ou materiais inadequados, poderáser um desperdício de recursos ou, pior, constituir-senum sério impacto visual. Mais detalhes podem serencontrados em Barbosa e Troncoso (1997) e no ca-pítulo “Manejo de trilhas”.

Objetivos da sinalização

• Indicação de acessos

• Indicação de limites

• Orientação da circulação interna

• Organização do fluxo de visitação

• Indicação de serviços, equipamentose infra-estruturas

• Delimitação de espaços para usos específicos

• Orientação de segurança

• Informação de normas e regulamentos

• Informação de horários de funcionamento

• Informação de tarifas

• Interpretação ambiental

Orientações gerais para sinalização

• Planejamento (necessidades, público-alvo)

• Padronização (material, tamanho, cor, fonte,linguagem)

• Utilização de linguagem simples e direta

• Dimensionamento adequado (pedestre, proxi-midade, velocidade)

• Localização estratégica

• Não-utilização excessiva de placas (poluição visual)

• Não-utilização ou camuflagem de materiais ar-tificiais (cimento, ferro, plástico)

• Utilização de materiais naturais locais e durá-veis (madeira, pedra)

• Não-utilização de mensagens longas

• Não-utilização de cores fortes

• Utilização de painéis interpretativos

• Utilização de símbolos e imagens

• Complementação de informações com materi-ais impressos (guias, folhetos, mapas)

Page 83: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 86Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Interpretação ambiental, Rogério Dias

Conhecimentos básicos de interpretação• Conhecer bem as trilhas e a geografia regional.

• Saber identificar as espécies de plantas e ani-mais mais comuns do local.

• Reconhecer as espécies mais utilizadas na alimen-tação, medicina, artesanato, móveis, construção.

• Conhecer as espécies endêmicas, rarase ameaçadas.

• Localizar as árvores maiores ou mais significativas.

• Localizar onde diferentes animais sãoencontrados.

• Conhecer hábitos (horário de atividade, dieta)de animais silvestres.

• Conhecer tipos de rochas e solos.

• Levantar informações culturais e ambientaiscom moradores mais antigos.

• Conhecer os problemas ambientais e sociaisda região.

Monitoramento e avaliação

O monitoramento é utilizado para avaliar o desem-penho de um projeto. Por meio do monitoramento,é possível identificar falhas e realizar ajustes paraque os objetivos do projeto sejam atingidos. Trata-se, portanto, de um importante instrumento de ges-tão de projetos e fortalecimento institucional.

Para cada meta e atividade previstas, devem-se definir os parâmetros que podem ser utilizadoscomo indicadores de resultados. Nesse momento, éinteressante preparar uma matriz de monitoramen-to, onde constam todos os objetivos, metas e ativi-dades com seus respectivos indicadores (número deguias treinados, de grupos recebidos, de folhetosdistribuídos, de plantas identificadas e de placasdanificadas, quantidade de lixo recolhido, conheci-mento e satisfação dos ecoturistas). A coleta de da-dos deve ser sistemática, periódica e padronizada.

A avaliação é a comparação dos dados ao lon-go da execução do projeto, a análise dos resulta-dos. A avaliação deverá demonstrar se os recursosestão sendo utilizados eficientemente e se os obje-tivos estão sendo alcançados. A conseqüência da

avaliação é a tomada de decisão para realizar ajus-tes e melhorias no projeto. Existem vários instru-mentos de avaliação: observação direta, questio-nários de pré e pós-testes, formulários de avalia-ção, entrevistas, depoimentos, caixa de sugestões,fotos, filmagens, gravações e análises de impactos(ambientais, sociais e econômicos).

Indicadores

• Conhecimento do visitante: pré e pós-testes (for-mulários curtos).

• Satisfação do visitante: caixa de sugestões eformulário de avaliação.

• Impacto ao meio ambiente e às infra-estruturasexistentes (mudança de comportamento): mo-nitoramento de impactos (quantidade de lixo,alterações na vegetação e no comportamentoda fauna, rochas e placas depredadas).

Page 84: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 87Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Interpretação ambiental, Rogério Dias

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Page 85: Infra-estrutura e Serviços, 2003

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E ste capítulo leva o leitor por um passeio histórico, come-

çando pela atuação indígena para a preservação ambiental,

passando pelas entradas e bandeiras até chegar ao excursio-

nismo. Depois, descreve as várias atividades aí envolvidas, como

mergulho, montanhismo e safári fotográfico, entre outros.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

CONDUÇÃO DE VISITANTESE EXCURSIONISMO

ROGÉRIO DIAS E WALDIR JOEL DE ANDRADE4.2

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• 89Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Condução de visitantes e excursionismo, Rogério Dias e Waldir Joel de Andrade

Ilustração do Manual Indígena de Ecoturismo, que mos-tra guia-índio (mateiro) conduzindo ecoturistas em ob-servação de fauna

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As primeiras trilhas foram estabelecidas pelo ho-mem pré-histórico em busca de água, alimento eabrigo. Há pelo menos 12 mil anos, o homem habi-ta o território que hoje conhecemos como Brasil.Quando os portugueses chegaram em 1500, esti-ma-se que havia aqui cerca de 5 milhões de índiosdivididos em milhares de tribos e falando mais demil línguas diferentes.

Havia uma enorme diversidade cultural, resul-tado de um longo e complexo convívio com uma na-tureza tropical extremamente diversificada. Os ín-dios viviam essencialmente da caça, da pesca e dacoleta de produtos vegetais.

Grupos mais recentes iniciaram a prática daagricultura, principalmente da mandioca, do mi-lho e do amendoim. Esses índios viviam em estrei-ta harmonia com o meio ambiente. A cultura indí-gena representa uma das maiores fontes de co-nhecimento sobre a natureza. Em todas as tribos,existem excelentes caçadores, batedores, rastre-adores e exploradores.

Os índios foram, portanto, importantes demar-cadores de caminhos, conduzindo seus grupos pelastrilhas nas matas, nos campos e cerrados e pelashidrovias naturais: rios, córregos, igarapés ou corixos.

Entradas e bandeiras

Durante o primeiro século de ocupação (1500–1600),o homem branco ocupou basicamente o litoral bra-sileiro, em virtude das dificuldades encontradas nosconfrontos com os indígenas e do relevo e clima quen-te que tornavam difícil o acesso ao interior do país.Já no século XVII, várias pequenas expedições come-çam a desbravar o interior à procura de ouro e deíndios para o trabalho escravo.

As entradas foram expedições particulares deaventureiros que arcavam com os custos da viageme arriscavam tudo em busca das riquezas brasileiras.

As bandeiras foram expedições maiores e bemequipadas, acompanhadas por guarda militar e fi-nanciadas pela Coroa portuguesa, que oferecia ter-ras e títulos a quem encontrasse ouro em terras bra-sileiras. Os caminhos dos índios foram aproveitadospelos europeus para penetrar no interior do país.Naquelas explorações, os europeus utilizavam índi-os “pacificados” como condutores para encontrarcaminhos, passagens, alimentos e tribos indígenas.

O mateiroCom a formação de uma raça brasileira fruto damistura do índio com o branco e o negro, surgiu nointerior do país uma figura conhecida como mateiro.Moradores da floresta e trabalhadores rurais comgrande conhecimento sobre os recursos e os peri-gos da natureza, os mateiros são até hoje excelen-tes guias no mato.

Os mateiros são contratados por pesquisado-res, caçadores e pescadores vindos das cidades parao interior à procura de conhecimento e aventura.Na falta de condutores de visitantes capacitados, asoperadoras de ecoturismo costumam contratar ma-teiros, além dos guias usuais, para auxiliar no traba-lho de condução em áreas naturais.

O excursionismoNo início do século XX, migrantes europeus inicia-ram no Brasil a prática de excursionismo, uma ativi-dade recreativa de viagens à natureza. Os mais an-tigos grupos do Brasil se formaram no Rio de Janeiroe em São Paulo por meio da prática amadora de

montanhismo, com as explorações se concentrandona Serra do Mar (Serra da Mantiqueira, Itatiaia eSerra dos Órgãos).

A revolução industrial e o surgimento de novosmateriais e equipamentos, garantindo maior segu-rança e conforto na prática de montanhismo, favore-ceram não só a difusão dessa atividade, mas tambéma diversificação dos tipos de atividades de exploraçãoe convívio com a natureza ou de excursionismo.

Com o crescimento dessa atividade, o excursio-nista passou a ser uma das primeiras categorias deexploradores e condutores “profissionais”, utilizan-do técnicas e equipamentos especializados.

Page 87: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 90Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Condução de visitantes e excursionismo, Rogério Dias e Waldir Joel de Andrade

Atividades de excursionimoe ecoturismoMuitas das atividades de excursionismo listadas aseguir são também consideradas atividades de eco-turismo, especialmente caminhadas (hikking) e ob-servação de fauna e flora.

Assim, neste capítulo, ao se tratar de condutorde visitantes ou guia de ecoturismo, o conceito seestende a atividades de excursionismo, e, ao se tra-tar de técnicas e práticas de excursionismo, devemtambém ser consideradas no âmbito da atividadede guiamento ou prática de ecoturismo.

A prática de excursionismo e ecoturismo podese dar por meio de uma série de atividades, con-ceituadas a seguir:

• asa-delta, paraglider, pára-quedismo ebalonismo – atividades esportivas de vôo, semsentido de competição;

• bóia-cross – descida de rios com auxílio de bói-as especiais;

• canoagem, cayaking – navegação em rios, la-gos ou oceanos com utilização de canoas aremo ou caiaques;

• canyoning – descida de penhascos e/ou cachoei-ras, com o auxílio de equipamento especial (rapel);

• cicloturismo – viagens/passeios de bicicleta,realizados por estradas asfaltadas e/ou sempavimentação;

• escalada/climbing/alpinismo – atividade espor-tiva praticada em rocha ou gelo, sem sentidode competição;

• espeleologia – visita/exploração de cavernascom ou sem finalidade de estudo dos ambien-tes subterrâneos;

• estudos do meio – visitas com fins claramente edu-cacionais, realizadas em geral por público escolar;

• hikking – caminhada de curta duração; usual-mente não ultrapassa um dia;

• mergulho – atividade esportiva praticada emambiente aquático, com ou sem equipamentode respiração artificial (mergulho autônomo elivre), sem sentido de competição;

• montanhismo – nome genérico das atividadespraticadas em ambiente de montanhas; podeincluir exploração de serras, montanhas e picos;

• mountain biking – atividade esportiva realiza-da em trilhas e/ou estradas sem pavimentação,com bicicletas especiais para terrenos aciden-tados, sem sentido de competição;

• observação astronômica – atividade voltadapara avistamento de fenômenos celestes, comou sem ajuda de aparelhos;

• observação de fauna e flora – atividade voltadapara avistamento de espécies particulares (aves,borboletas, orquídeas etc.);

• rafting – descidas de rios encachoeirados feitasem botes infláveis;

• safári fotográfico – viagem cujo objetivo princi-pal é a realização de fotografias;

• trekking – caminhada com duração de maisde um dia, incluindo pernoites no meio natu-ral; no trekking, os participantes transportamseus equipamentos;

• turismo eqüestre/tropeirismo – viagem realiza-da com a utilização de transporte por cavalosou envolvendo passeios desse tipo;

• turismo esotérico – tipo de viagem com motiva-ção mística, espiritual ou sobrenatural(avistamento de óvnis, por exemplo);

• turismo rural/agroturismo – viagem que envolvevivência em propriedades rurais, usualmente como acompanhamento da rotina de trabalho delas.

As atividades podem ser classificadas nas se-guintes modalidades:

• esporte e aventura: montanhismo, espeleolo-gia, balonismo, vôo livre, paraglider, mergulho,cayaking e canyoning;

• contemplação e lazer: hiking, trekking, rafting,cicloturismo, canoagem etc.;

• aprendizado e cultura: observação de fauna eflora, fotografia, astronomia, estudo do meio eoutras práticas de educação ambiental etc.

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• 91Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Condução de visitantes e excursionismo, Rogério Dias e Waldir Joel de Andrade

Guias de ecoturismo

Muitos termos já foram utilizados para designar apessoa que orienta e conduz visitantes em áreasnaturais: guia mateiro, guia de selva, monitor ambi-ental, condutor de visitantes e, oficialmente, guiade ecoturismo ou guia de turismo especializado ematrativo turístico natural.

O último é uma categoria reconhecida pelaEmpresa Brasileira de Turismo (Embratur) e requernível médio de escolaridade e capacitação a partirde um curso específico.

O curso tem cinco meses de duração e abrange:técnicas de comunicação; teoria e técnica profissio-nal; relações interpessoais; geografia aplicada aoturismo; ecologia e preservação ambiental; teoria eprática do atrativo; primeiros socorros; segurança eprevenção de acidentes; atividades práticas.

Já as categorias “condutor de visitantes” e“monitor ambiental” foram criadas informalmentepara adequar a atividade à realidade do interiorbrasileiro e são comentadas mais adiante na formade estudos de caso.

A importância do guia, monitor ou condutor

Ele é o principal elo entre o visitante, o local e acomunidade visitada. É o guia que apresentará a ci-dade visitada e os recantos naturais existentes. Ocondutor deve estar sempre atualizado sobre a ofer-ta de serviços, opções de entretenimento e lazer,atrativos naturais e culturais.

Além disso, o excursionismo (e o ecoturismo) éuma prática que, se responsavelmente realizada,permite uma integração significativa e harmoniosacom a natureza, o desenvolvimento dos sentimentosde grupo, companheirismo e solidariedade. O gostode ser excursionista é algo que descobrimos dentrode nós: gosta-se ou não, não existe meio-termo.

Organização, determinação, privação, compre-ensão e vontade de vencer e fazer bem feito sãocaracterísticas que podem ser desenvolvidas ao lon-go das atividades excursionistas. Portanto, essas ati-vidades podem tornar-se excelentes instrumentospara a educação e o domínio pessoal.

O excursionista tem de entender que, em seumeio, a competição não é bem-vinda, e sim a colabo-ração e a ajuda mútua. O guia tem um papel funda-mental nesse processo, pois, como o próprio nome

indica, envolve a responsabilidade em direcionar efacilitar os processos de integração à natureza e deharmonização do grupo, além, é claro, de atentar paraas questões de segurança e bem-estar do grupo.

Não há uma receita única para a atividade deguia de ecoturismo ou de excursionismo. Neste capí-tulo, serão abordados temas como equipamentos,procedimentos antes e durante a excursão, alimen-tação e rudimentos de personalidade, para que essaatividade seja desempenhada racionalmente e pos-sa atender aos princípios do ecoturismo, do excursi-onismo e aos interesses do visitante.

Principais características do guia de ecoturismo

Para guiar uma excursão, tenha como regra princi-pal não cometer erros. O guia ou condutor é aqueleque deve fazer o grupo passar do inanimado (passi-vidade) ao animado (atividade). Entre seus objeti-vos, precisa dar atenção especial aos grupos e aosatrativos e comunidades.

Em relação aos grupos (visitantes):

• Recepcionar (com hospitalidade).

• Liderar o grupo (promover coesão e harmonia):- reduzir as ansiedades afetivas;- aumentar a satisfação perante uma satisfa-

ção coletiva;- estimular os contatos por meio do jogo de afi-

nidades, sem dividir o grupo;- reduzir os obstáculos à comunicação;- favorecer a existência de uma rede de comu-

nicação adequada;- permitir que o grupo descubra as suas normas

de funcionamento, evitando rigidez;- estimular a interação;- aumentar a coesão;- reduzir a resistência às mudanças.

Algumas das principaiscaracterísticas dasatividades deecoturismo eexcursionismo são:• contemplação, contato com

a natureza;

• atividade física, coletiva,não competitiva;

• experiência pessoal, educativa,conservação da natureza;

• segurança, relaxamentoe conforto.

Page 89: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 92Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Condução de visitantes e excursionismo, Rogério Dias e Waldir Joel de Andrade

• Conduzir o visitante (mostrar o caminho).

• Cuidar do grupo (física e psicologicamente).

• Providenciar descanso, sombra, água e alimento.

• Dar segurança (prevenir acidentes, primeirossocorros e resgate).

Em relação aos atrativos e às comunidades:

• Orientar (fornecer opções e detalhes importantes).

• Indicar (serviços e produtos).

• Informar e fazer cumprir normas decomportamento.

• Interpretar o ambiente – fornecer informações(geografia, ecologia e cultura).

• Informar e educar (ambiental e culturalmente).

• Colaborar com a organização do turismo na suacomunidade.

• Proteger os patrimônios culturais e ambientais.

Perfil do guia ou condutorPara a seleção e treinamento de guias, as seguintescaracterísticas são importantes:

• gostar muito de excursionismo;

• espírito de liderança e controle de grupo;

• hospitalidade, paciência, tranqüilidade,simpatia e humor;

• conhecimento sobre os patrimônios naturale cultural;

• capacidade de comunicação (domínio de conteú-do e crença na mensagem);

• domínio de técnicas de primeiros socorros, bus-ca e resgate;

• habilidades diversas;

• condicionamento físico;

• postura compatível (ética, respeito eresponsabilidade).

Qualidade do serviçoO turismo é uma importante fonte de renda nomundo todo. Existem inúmeros destinos e produtosde boa qualidade. O desenvolvimento de um turis-mo sustentável beneficia a todos gerando empre-gos, aquecendo a economia e valorizando os patri-mônios cultural e ambiental.

Todos os profissionais e empresas do ramo pre-cisam cuidar para manter seu público e, para isso,buscam cada vez mais a qualidade no atendimentoao turista. O turista bem recebido pode estendersua permanência, divulgar o destino e retornar comfamília e amigos.

Para isso, todos devem ser hospitaleiros, os pa-trimônios cultural e natural, preservados, os preços,justos, as informações, corretas, o local e as instala-ções, estar limpos, a comida e a água, saudáveis, e otransporte e as trilhas, seguros.

A qualidade também depende do comportamen-to do turista. Para tanto, é necessário realizar umtrabalho permanente de educação e conscientizaçãopara o ecoturismo (veja na “Caixa de Ferramentas”um exemplo de mandamentos do ecoturista).

O guia, por promover a integração entre o visi-tante e o visitado (comunidade, ambiente, serviços),tem papel fundamental para que a qualidade daexperiência de todos os envolvidos seja satisfatória.

Técnicas de mínimo impactoA visitação a áreas naturais sempre provoca algumimpacto. A simples presença do homem já é umfator de estresse para muitos animais. Os impactosmais comuns estão relacionados a quatro fatores:solo (compactação e erosão); vegetação (corte, co-leta, exposição de raízes, doenças, morte e altera-

ções na composição florística); fauna (mudanças decomportamento, desaparecimento de espécies sen-síveis e alterações na composição das comunidadessilvestres) e poluição (sonora, lixo, contaminaçãoda água e do solo).

O comportamento do visitante ou turista podeaumentar ou diminuir o grau de impacto. Dentrodessa perspectiva, criou-se o conceito de mínimoimpacto, a fim de promover uma conduta consci-ente e responsável.

As técnicas de mínimo impacto não devem serum enumerado de regras, mas sim um conjuntosimples de princípios (Barros e Dines, 2000). Um dosconjuntos bastante conhecidos é este: “Leve ape-nas lembranças. Deixe apenas pegadas. Tire apenasfotografias”. Nos Estados Unidos, surgiu o progra-ma LNT – Leave No Trace (não deixe rastro) expres-so em sete princípios:

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• 93Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Condução de visitantes e excursionismo, Rogério Dias e Waldir Joel de Andrade

Atitudes que você deveevitar para preservareste ambiente:• Descuidar-se de cigarros ou outros

objetos que possam causar incêndios.

• Entrar no parque com armas, facões,anzóis e bebidas alcóolicas.

• Colher frutos, flores, sementes, mudasou lenha para fogo;

• Perseguir, apanhar ou molestar animais;

• Poluir ou fazer as necessidadesfisiológicas nas águas;

• Jogar lixo nas trilhas e dependênciasdo parque;

• Danificar os elementos naturaise instalações do parque;

• Trafegar em alta velocidade,ultrapassando o limite permitido;

• Trazer cães, gatos ou outros animaisdomésticos para o parque.

• planeje com antecedência e prepare-se;

• caminhe e acampe em superfícies resistentes;

• trate apropriadamente seu lixo e seus dejetos;

• deixe na natureza o que você encontrar;

• minimize o impacto de fogueiras;

• respeite os animais silvestres;

• tenha consideração pelos demais visitantes.

O Ministério do Meio Ambiente do Brasil (Pro-grama Nacional de Áreas Protegidas, 2000), com acolaboração do Centro Excursionista Universitário(CEU) de São Paulo, editou um folheto explicandoum conjunto de princípios sobre mínimo impacto comos seguintes tópicos:

• Planejamento é fundamental;

• Você é responsável por sua segurança;

• Cuide das trilhas e dos locais de acampamento;

• Traga seu lixo de volta;

• Deixe cada coisa em seu lugar;

• Não faça fogueiras;

• Respeite os animais e as plantas;

• Seja cortês com os outros visitantes.

Barros e Dines (op. cit.) listam algumas orienta-ções específicas, encontradas em folhetos de parquesnacionais no Brasil, que estão relacionadas ao lado.

Exemplos

Condutores de visitantes – Goiás e Bahia

A realidade brasileira, particularmente do interi-or onde se pratica o ecoturismo, requer uma ade-quação na qualificação do guia aos baixos pata-mares de escolaridade e ao difícil acesso aos cur-sos oficiais. Nos estados de Goiás e Bahia, desen-

O curso abrangeu: equipamentos de excursi-onismo; alimentação física e psicológica; visitan-do a natureza suavemente; segurança; primeirossocorros; orientação e leitura de mapas; caminha-das de mais de um dia. O curso foi promovidopelo Ibama, financiado pelo Fundo Nacional doMeio Ambiente (FNMA), e organizado pelaFunatra – Fundação Pró-Natureza.

A maioria dos alunos era composta demineradores de cristal ou de seus filhos. No fim docurso formaram a Associação dos Condutores de Vi-sitantes da Chapada dos Veadeiros (ACVCV). Após oprimeiro curso, foram realizados vários outros cur-sos de reciclagem e de especialização, tais como:manejo de trilhas, primeiros socorros, técnicas deresgate e salvamento, informática, elaboração deprojetos e educação ambiental.

Esses cursos foram realizados por meio de par-cerias com outras ONGs e governos municipais, es-taduais e federal. Dentro da ACVCV, formou-se oGrupo de Busca e Salvamento (GBS), um dos gruposmais bem organizados e treinados do país para otrabalho em áreas naturais.

Outra forma bastante eficiente de capacitar ogrupo foi a realização de intercâmbios. Por intermé-dio desses intercâmbios, condutores que só conheci-am sua localidade viajaram para outros pólos de eco-turismo (Bonito/MS e Pirenópolis/GO).

Hoje, a ACVCV possui mais de cem associados econstitui-se num modelo de ecoturismo de base co-munitária. No entanto, ainda tem espaço paramelhorias como o estabelecimento de um mecanis-mo legal de concessão do serviço de guiamento noparque, uma parceria formal com proprietários deatrativos particulares e a implantação de um sistemade controle de qualidade das trilhas e dos serviços.

volveu-se, na Chapada dos Veadeiros e na ChapadaDiamantina respectivamente, a categoria de con-dutor de visitantes.

O primeiro curso de capacitação ocorreu em1991 em Alto Paraíso, com os moradores vizinhosdo Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. Essainiciativa deu-se após o Instituto Brasileiro de MeioAmbiente e dos Recursos Naturais Renováveis(Ibama) proibir acampamentos e visitas desacom-panhadas ao parque por causa da degradação queestavam causando à área.

Page 91: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 94Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Condução de visitantes e excursionismo, Rogério Dias e Waldir Joel de Andrade

Além de vários outros municípios goianos, mo-radores de Lençóis, no interior da Bahia, foram atrásda experiência da ACVCV e formaram a primeiraassociação de condutores da Chapada da Diaman-tina. Hoje, existem dez associações naquela regiãoe, recentemente, foi criada uma instituição regio-nal, a Associação dos Condutores de Visitantes daChapada da Diamantina (ACV-CD), para congregartodas as associações.

A região está protegida legalmente por meiodo Parque Nacional da Chapada Diamantina. Po-rém, trata-se de uma unidade de conservação combaixo grau de implementação, e o trabalho dos con-

dutores está garantindo a proteção na prática e asegurança do ecoturista. O estabelecimento de umaparceria entre o Ibama e a ACV-CD poderá propor-cionar o envolvimento comunitário na gestão doparque e garantir o desenvolvimento do ecoturis-mo de base comunitária.

Monitores ambientais – São Paulo

A Secretaria do Meio Ambiente do Estado de SãoPaulo criou a categoria de monitor ambiental a fimde capacitar membros das comunidades locais paraque trabalhem com ecoturismo e educação ambien-tal nas unidades de conservação do estado.

Trata-se de um curso de cem horas, dividido emcinco módulos:

1. O ambiente natural e a ocupação humanana região;

2. Introdução ao turismo;

3. O trabalho do monitor ambiental e técnicas decondução de grupos;

4. Primeiros socorros; e

5. Especialização para o trabalho de monitoriamicrorregional (por unidade de conservação).

Além do curso, existe um estágio de 120 horaspara praticar e aprimorar as técnicas.

O curso já foi realizado em parceria com aING-ONG,em vários municípios do Vale do Ribeira,e, recentemente, iniciou-se um trabalho de inte-gração dos monitores, por meio da criação da Redede Monitores Ambientais.

A comunicação e a troca de experiências se-rão fundamentais para o fortalecimento da clas-se, para a melhoria da qualidade dos serviços pres-tados e para o desenvolvimento do Pólo de Ecotu-rismo do Vale do Ribeira.

O associativismo

Um dos elementos-chave dessas experiências é oassociativismo. O associativismo é a reunião de pes-soas ou entidades com objetivos específicos a fimde gerar benefícios e superar dificuldades econô-micas, sociais, ambientais ou políticos. Existem vá-rias formas de associativismo (associação, sindica-to e cooperativa).

A organização social é um dos maiores desafi-os para promover o desenvolvimento sustentáveldo Brasil. Por meio do associativismo, podemos de-finir e realizar de forma conjunta planejamentos,prioridades, estratégias, treinamentos, negócios,compras, vendas, transportes, serviços de saúde,educação, recreação e lazer, alcançando, assim, amelhoria da qualidade de vida.

Responsabilidade e ética

A responsabilidade do guia ou condutor é muito gran-de. Cabe a ele cuidar da integridade do turista, dacomunidade local e dos patrimônios cultural e ambi-ental. O condutor precisa seguir rigorosamente oshorários e roteiros e usar flexibilidade quando ne-cessário, procurando sempre atender às expectati-vas do cliente. Experiência, planejamento e bom sen-so são fundamentais para evitar perigo e descon-forto (por exemplo, alterações no clima).

Guia naturalista localiza sinal de rádio de rádio-colarde mico-leão-dourado para grupo de observadores defauna em fazenda vizinha à Reserva Biológica de Poçodas Antas, Casemiro de Abreu, RJ

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Como foi dito anteriormente, não existe um procedi-mento único de excursionismo ou de guiamento. Noentanto, alguns procedimentos e técnicas padrão po-dem ser adaptados de acordo com cada contexto. Nes-ta caixa de ferramentas, são listados procedimentos,técnicas e estratégias para subsidiar o guia no planeja-mento e condução de excursões de um ou mais dias.

Procedimentos de planejamento eorganização da viagemPlanejando o roteiro

Um bom roteiro deve ter:• diversidade (ambiental e cultural);

• autenticidade (mostrar e proporcionar a vivênciado que é típico do local);

• beleza cênica;

• informação em quantidade e qualidade (geo-grafia, ecologia, história e cultura);

• rusticidade com conforto;

• limpeza em todos os locais;

• segurança.

Preparando a logística e o público-alvoPlanejar e providenciar todos os detalhes com an-tecedência:

• preparar mapa do roteiro para divulgação(folder), auxílio a guias e satisfação do visitan-te (saber onde está, aonde está indo e o quetem em volta);

• avaliar expectativas e condicionamento do pú-blico-alvo em relação ao planejado (tempo x dis-tância x esforço físico);

• contar com guias capacitados e experientes;

• verificar as condições do transporte (horário elocal combinados, combustível e manutenção);

• providenciar alimentação e volume de águaadequados;

• verificar as condições climáticas e se preparar(roupas e calçados adequados, chapéu etc.), avi-sando com antecedência ao grupo;

• trâmites burocráticos (por exemplo, autoriza-ção e regulamentos para utilização da área).

Medidas de segurança

• Verificar infra-estruturas, equipamentose materiais;

• providenciar seguro;

• equipamentos pessoais e coletivos (primei-ros socorros);

• identificar medidas e alternativas de emergên-cia (corpo de bombeiros, hospitais, delegacia etc.);

• conhecer bem a trilha a ser percorrida;

• comunicar itinerário para base de apoio ou pes-soa de confiança: comunicar a saída do grupo,o roteiro e o horário de retorno para alguémque possa providenciar resgate em caso deperda ou acidente;

• cada grupo deve ter um guia principal à frentee outro auxiliar no fim da fila.

Tamanho do grupo e número de guias

O tamanho ideal do grupo bem como o númeroadequado de guias para um determinado grupo sãode grande importância para minimizar impactos eaumentar a segurança e a satisfação do visitante.

A definição desses números depende de umasérie de fatores como: local visitado, experiência dosguias, condicionamento do visitante e clima, nãopermitindo que haja um número ideal preestabele-cido. No entanto, indicamos abaixo algumas estra-tégias que podem auxiliar na definição do tamanhodo grupo e do número de guias necessários.

• Número máximo/mínimo de participantes: os gru-pos devem ter no máximo 15 pessoas; em caso degrupos maiores, deve-se dividi-los em subgrupos.

• Relação de número de guias em função do gru-po (alguns exemplos):

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• 96Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Condução de visitantes e excursionismo, Rogério Dias e Waldir Joel de Andrade

- dez pessoas (dois guias);

- grupo com faixa etária de 5 anos (um guiacada cinco indivíduos);

- grupo com faixa etária de 8 anos (um guiacada oito indivíduos);

- grupo composto por 15 idosos (um guia maisuma pessoa para primeiros socorros).

Procedimento para a condução de gruposAntes de iniciar a atividade

a) Relaxamento: deve ser feito na intenção de:

• reforçar a liderança do condutor;

• concentrar o grupo na atividade;

• estabelecer um ritmo tranqüilo na caminhada;

• equilibrar as diferenças entre os participantes.

Sugestão de atividade: em voz baixa, o guiadeve organizar o grupo, de preferência em formacircular, de modo que todos possam ter uma visãofrontal dos participantes e ao mesmo tempo doguia. Pedir silêncio ao grupo e orientar a explora-ção de todos os sentidos (olfato, visão, audição, tatoe, se possível, paladar). Respirar fundo três vezes.Fechar os olhos. Escutar os sons tentando identificá-los e enumerá-los mentalmente. Sentir o ar (aro-mas, intensidade, temperatura). Tocar, ainda deolhos fechados, algum elemento natural próximoou apresentado pelo guia. Finalmente, de olhosabertos, procurando sempre manter o clima de tran-qüilidade, dar um breve espaço ao grupo para co-mentar sobre a experiência.

b) Alongamento: deve ser feito dando seqüên-cia ao relaxamento a fim de:

• aquecer o corpo para a caminhada;

• prevenir possíveis torções.

Sugestão de atividade: espreguiçar, inclinar ocorpo para um lado, depois para outro, fazer rota-ção de quadril, braços, mãos, pescoço e tornozelos.Com as pernas ligeiramente flexionadas, esticar osbraços o máximo para o alto e depois soltá-los emdireção ao chão dobrando a coluna (recomenda-senão forçar). É importante ressaltar que cada pessoapossui condicionamento físico e ritmo diferentes,devendo-se respeitar essas particularidades, princi-palmente com grupos de idosos.

Técnicas a serem empregadas durante a condução

• Fazer uma preparação psicológica (animar-se emotivar o grupo).

• Reunir o grupo em círculo para atrair a atençãode todos.

• Fazer saudações (“bom dia”, “bem-vindos” etc.).

• Fazer apresentação dos guias (nome, naturali-dade, ocupações).

• Apresentar um resumo do roteiro (distância,tempo, atrações, perigos, normas).

• Recomendar o uso de chapéu e protetor solar.

• Caminhar em fila e evitar sair da trilha.

• Fazer pequenas paradas para juntar o grupo,para descansar, comer e beber (de preferênciana sombra ou próximo a cursos d’água).

• Dar oportunidade para comentários e perguntas.

• Falar clara e objetivamente, sem desviar do as-sunto principal.

• Falar alto e claro para o grupo todo. Posicionar-se ao lado do grupo e projetar a voz em direçãoao grupo.

• Não falar demais! Não falar próximo aos turis-tas e mais alto do que eles.

• Esperar silêncio é melhor que “pedir” silêncio.

• Evitar gírias e termos técnicos e não falar pa-lavrões.

• Não paquerar o(a) turista.

• Oferecer água freqüentemente (levar ou indi-car onde conseguir água potável).

• Fazer sempre alertas de segurança (rua, trilha,tocos, buracos, pedras lisas etc.).

• Antes do banho, recomendar molhar primeira-mente as extremidades para evitar choque tér-mico, alertar sobre pedras lisas e proibir saltos.

• Informar nomes de paisagens, animais e plan-tas e sua utilidade para o homem e para o equi-líbrio ecológico. Explicar processos ecológicos(cadeia alimentar, interações – predação, para-sitismo, mutualismo, liquens –, sucessão ecoló-gica, formação de solos etc.).

• Usar de psicologia para superar obstáculos (es-timular o grupo).

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• Evitar ajuda desnecessária ou postura isenta.

• Lembrar que o guia é o líder. Mas também lem-brar que líder não é tirano.

• Realizar brincadeiras para relaxar.

• Atentar para as necessidades fisiológicas dogrupo (e para as limitações que certas pessoastêm em relação a desempenhar essas ativida-des em ambientes não urbanos).

Como tornar uma caminhada mais dinâmica(HAM, 1992)

• Tenha à mão ajuda visual e material de apoio àcomunicação para usar tanto nas paradas previs-tas como em oportunidades inesperadas (guiasde campo, binóculo, lentes manuais, termômetro,trena, corda, mapas, fotos, desenhos, gravador,gravações, argila, amostra de solos, partes deanimais e de plantas, fantoches, bonecos e arte-fatos) conforme o tema e o local a ser percorrido.

• Faça uso das prefigurações (representar algoque está por acontecer) e do mistério, princi-palmente na transição entre as paradas.

• Incorpore atividades curtas em suas paradas, comomedições, uso dos sentidos, jogos, adivinhações.

• Faça perguntas para envolver intelectualmen-te as pessoas no que você está fazendo. Elasservem para aumentar a atenção e podem aju-dar em comparações, deduções, resoluções deproblemas, demonstrações, avaliações.

• Envolva seu grupo na caminhada, estimulandocada um a usar todos os sentidos na busca de coi-sas que são de interesse ou que não possam ver.

• Se a caminhada for em um ambiente natural,não esqueça que essa é uma oportunidade para

as pessoas redescobrirem o seu lugar no mundoe aprenderem sobre elas mesmas. O papel dointérprete é o de assisti-las nessa descoberta.

Dicas para o desenvolvimento de bomrelacionamento com o grupoQualquer interessado em conduzir um grupo deverefletir sempre sobre o seguinte:

• transmitir ao grupo equilíbrio, alegria de esta-rem juntos e em cooperar;

• reúna o grupo quando for discutir assuntos e idéi-as de interesse de todos. Conversar com cadaum deles individualmente pode criar intrigas;

• mudar de idéias ou dar instruções contráriasdurante a execução pode gerar certa confusãoem relação aos subordinados;

• compreender o ser humano, aproveitando suasqualidades em benefício próprio e em benefícioda coletividade, isto é, procurar ser empático;

• procurar o consenso. Sempre obter o acordo detodos, evitando apoiar-se só na maioria, pois àsvezes a minoria tem razão; deixar a minoria tersua oportunidade para conquistar a maioria;

• respeitar profundamente o ser humano, tratan-do as pessoas com cortesia e delicadeza; sua ati-tude tem uma importância fundamental paraos outros membros do grupo e uma influênciamuito maior do que se pensa sobre as própriasatitudes dos outros;

• saber manter a calma. Sua atitude de respeito hu-mano se transmitirá da mesma forma ao grupo;

• controlar suas reações. Pensar dez vezes antes deemitir uma opinião de grande responsabilidade;

• não se deixar levar pelos seus impulsos (quandoalguém fica irritado, procurar, antes de tudo,compreender o porquê da reação);

• respeitar a posição de cada um;

• evitar críticas a qualquer pessoa em público;

• procurar elogiar, diante do grupo, os aspectospositivos de cada um;

• dar a cada um o seu lugar, levando em considera-ção os seus gostos, interesses e aptidões pessoais;

• evitar tomar a iniciativa (mesmo que provisória)de uma responsabilidade que pertença a outrem;

• evitar dar ordens, procurando a cooperaçãode cada um;

• evitar tomar partido nas discussões fazendo re-gistrar, imparcialmente, as decisões do grupo.

Cordas, binóculos, mapas são instrumentos importantese necessários para caminhadas e escaladas. Escalada doPão de Açúcar, Rio de Janeiro, RJ

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• 98Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Condução de visitantes e excursionismo, Rogério Dias e Waldir Joel de Andrade

Atitudes ecologicamente corretas

“Mandamentos do ecoturista”1

• Faça a escolha certa antes de viajar – sejacriterioso ao escolher seu operador turístico.Peça que ele forneça informações detalhadassobre o roteiro e a região. Certifique-se de queele segue princípios ambientalmente corretos.

• Seja receptivo. Viaje com predisposição de en-contrar e conversar com a comunidade local.

• Em vez de procurar o comum, procure descobrira riqueza de outros modos de vida.

• Respeite os hábitos culturais alheios. As culturas,as crenças religiosas, os costumes, o estilo de vida eas manifestações artísticas variam de região pararegião. Aceite-as, respeite-as e compreenda-as.

• Seja culturalmente sensível, principalmente aotirar fotografias, pechinchar, escolher seu ves-tuário. Cultive o hábito de escutar e observarmais do que meramente ouvir e ver.

• Observe os animais a uma distância que elesconsiderem segura. Aprenda a aproximar-sediscretamente e resista a tentação de che-gar mais perto.

• Informe-se sobre os regulamentos locais. Man-tenha-se na trilha principal e não use atalhos.Não deixe lixo para trás. Não colete plantas,animais, conchas, pedras e artefatos.

• Contribua para o desenvolvimento de proje-tos locais e transmita sua experiência a ou-tros visitantes.

Outras dicas que contribuem para o estabeleci-mento de uma atitude ecologicamente correta tan-to do condutor como do turista são:

• respeito ao próximo;

• trilha única;

• recolher o próprio lixo e outros encontradosna trilha;

• consciência na coleta (ver item seguinte);

• silêncio;

• não utilizar armas de fogo;

• tirar apenas fotografia;

• não levar aparelhos de som.

Coleta de frutos e sementes

Deve ser feita somente com autorização da unidadede conservação ou do proprietário e com responsa-bilidade. Colecionar frutos comestíveis ou não (ape-nas um de cada).

No fim do dia, observar quantidade e varieda-de de formas (biodiversidade), anotar utilidades co-nhecidas pelo grupo e recomendar pesquisar outras.Recomendar o plantio de sementes e da futura mudana escola, na praça ou no quintal de casa.

Trabalhos artísticos

Colagens, desenhos, pinturas e esculturas são inte-ressantes de serem feitos com rochas, solo, pigmen-tos, galhos e folhas secas, durante ou após a excur-são, principalmente com grupos escolares na inten-ção de explorar a diversidade de formas, texturas ecores e de reforçar o aprendizado de campo.

Equipamentos e alimentaçãoEQUIPAMENTOS

Calçados

Devem ser confortáveis. Os mais indicados são os decano alto, tipo botinhas, ou tênis para basquete. Emlocais fechados e perigosos, use botas altas ouperneira para evitar picada de cobra. Os calçadosdevem ser amaciados anteriormente. Nunca estreieum calçado novo em uma caminhada, você pode teruma desagradável surpresa. As unhas devem estarbem aparadas, evitando, assim, que provoquemmachucados ou encravem. Leve uma sandália levepara os momentos de banho e descanso.

Roupas

Precisam ser adequadas ao clima, ao local e à ativi-dade. Em clima quente, use roupas leves. Em locaiscom muitos insetos, use roupas compridas. As calçascompridas devem ser largas para não dificultar osmovimentos, sendo aconselháveis as de brim ou1 Segundo Lindenberg e Hawkins (1995).

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poliamida. As camisas devem ser de algodão parapermitir a troca de calor entre o corpo e o ambiente.As roupas de reserva para frio, vento e chuva nãodevem ser esquecidas. Lembre da roupa de banho etoalha leve (viscose de rayon). Para a proteção con-tra o sol, um chapéu é muito importante.

Mochila

As melhores são as de nylon grosso e forte, comreforço nos locais de implante das alças. Devemser acolchoadas e reguláveis. Deve ter umabarrigueira que serve para transferir o peso dosombros para os quadris. Quanto ao tamanho, umade volume igual a 60 litros é ideal, pois não é mui-to grande. O importante é que tudo caiba dentrodela, evitando, assim, objetos pendurados que pre-judicam bastante os movimentos.

Barracas

A opção deve ser pelas mais leves, impermeáveis eque ocupem o menor volume possível. A armaçãodeve ser de alumínio ou fibra e o peso deve ser no

máximo de 1,5 quilo por pessoa. Prefira as que te-nham sobreteto de nylon, importante para a con-tenção da chuva. As barracas devem ser armadas emlocal protegido do vento e que receba sol pela ma-nhã. O terreno deve ser seco e relativamente plano.Um plástico leve e resistente deve ser colocado en-tre o terreno e a barraca para, além de protegê-la,isolar da umidade e o frio.

Sacos de dormir

Os melhores são de fabricação artesanal, pois sãomais leves – pesam por volta de 1 quilo – e proporci-onam maior conforto térmico. O saco de dormir nãodeve ser muito grande, seu volume máximo deveser, geralmente, de 40 centímetros por 25 centíme-tros de diâmetro, guardadas, é claro, as característi-cas físicas de cada indivíduo.

Isolante térmico (espuma)

Colchonete bem fino, fabricado na espessura de 6milímetros a 10 milímetros, proporciona certo iso-lamento contra a umidade e a friagem do solo,

mas não chega a acolchoar oua compensar as irregularida-des do terreno.

Fogareiro

Existem fogareiros a gás, benzi-na e querosene. O último é o quepossui maior poder calorífico. NoBrasil, há a venda de fogareiroscom cartucho de gás descartável,de fabricação Yanes. São peque-nos e leves, mas em temperatu-ras abaixo de zero não funcio-nam bem. Para essas ocasiões, émelhor a espiriteira a álcool.

Outros

• apito e sinalizador

• caderneta e lápis

• cantil

• cordinhas de nylon

• lanternas e pilhas

• velas, fósforo ou isqueiro

• GPS e/ou bússola

• kit de costura

• kit de primeiros socorros

• transporte: combustível, óleo, pneus, estepe edocumentos

• panelas, pratos, talheres e caneca

• papel higiênico

• faca ou canivete, abridor de latas

• protetor solar

• repelente contra insetos

• sacos plásticos grandes e pequenos.

• solução ou pó reidratante.

• telefone celular, rádio-comunicador e baterias

• uniforme e crachá dos guias

ALIMENTAÇÃO

• Para refeições noturnas, em acampamentos, porexemplo, é preciso, primeiramente, consideraro número de pessoas e fogareiros disponíveis.Pratos como risotos e feijoadas vegetarianassimplificam e reduzem o tempo de preparo.

• Observe a disponibilidade de água.

• Em viagens de um dia, preparar a alimentaçãose torna muito mais simples. Os lanches prepa-rados em casa podem incluir pão integral, pas-tas diversas, brotos frescos. Frutas frescas de

Barracas montadas em camping selvagem

Out

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Page 97: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 100Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Condução de visitantes e excursionismo, Rogério Dias e Waldir Joel de Andrade

consistência firme, suco em caixa, barras degranola, cenouras e doces integrais podem es-tar incluídos no kit lanche.

• Ao pensar no cardápio e executá-lo, o grupo sedá oportunidade de ampliar suas relaçõesafetivas, uma vez que o período reservado àsrefeições é, também, um momento de integra-ção do grupo.

• Acima de tudo, é importante que o momento darefeição seja não só de reposição de energia per-dida com o desgaste físico, mas também de di-versão e coroamento das boas relações sociais.

• Faça um cardápio prévio conforme o númerode refeições e de pessoas e, também, liste esepare todos os itens necessários.

• Acondicione os itens de alimentação, em sacoplástico. Leve ainda sacos para lixo.

• Leve temperos, chás e outros itens que podemdar um sabor especial à viagem.

• Não leve comida demais. Leve algum alimento(um pacote de bolacha ou frutas secas ou umabarra de chocolate) fora do cardápio para umasituação de emergência.

• Dê preferência a alimentos naturais, integrais efrescos (quando possível). Cuidado com os refri-gerados pois poderão se deteriorar facilmente.

• Para equilibrar nutrientes, use seu bom sensolevando alimentos variados, coloridos, saborosos.

• Lembre-se do tempo de durabilidade de cadaalimento.

• Pense no peso e volume dos alimentos que estáescolhendo. Isso facilita a montagem da mochila.

• Numa situação de emergência, se ficar sem ali-mento, poderá fazer uso de alguns insetos, lar-vas e frutos silvestres.

• Tenha cuidado especial com os restos alimenta-res e vestígios. Cuide do seu lixo!

• Recomende ao grupo que tome um desjejumreforçado antes de sair de casa.

• Leve sempre um cantil com água (pelo menosum) e reabasteça-o sempre que possível.

• Evite água parada, próxima de pastagem e re-sidências. Pode-se utilizar hipoclorito de sódioou Hidrosteril, conforme indicação da embala-gem, para purificar a água.

• Ao programar o cardápio, lembre-se da águapara cozimento.

Kit alimentação para um dia de caminhada

• Lanche: biscoito, cereais (granola), chocolate ourapadura, frutas desidratadas ou cristalizadas,frutas frescas (maçã, pêra, nectarina, laranja),farofa ou paçoca de carne, leite em pó e cafésolúvel. Evite enlatados, vidros e produtos pe-recíveis (queijo, presunto).

• Suco e/ou água potável.

Kit alimentação para caminhada com pernoite(acrescentar ao kit caminhada de um dia)

• Almoço: macarrão com molho, salada (cenoura,pois não amassa), suco de fruta.

• Jantar: uma sopa com torradas, vinho.

• Café da manhã: cereais, mel, pão, manteiga,geléia, leite em pó, chocolate em pó.

• E muita água.

Indicadores

Uma boa forma de verificar o desenvolvimento daatividade de guiamento ou condução de visitantesé a criação de um sistema de registro de visitantese de grupos guiados, que pode ser feito em umcentro de atendimento ao turista ou na entrada deum atrativo natural.

É interessante aproveitar a oportunidade parase realizar dois trabalhos:

• definição do perfil do turista – devem-se coletarinformações como: data, roteiro, tamanho ecomposição do grupo, transporte utilizado, ex-pectativas, interesses (pode ter uma lista de op-ções: caminhada, escalada, cavalgada, bicicleta,observação de fauna e flora etc.), procedência,profissão ou ocupação, escolaridade, poder aqui-sitivo (pode ser medido indiretamente atravésde posses: número de carros, geladeiras, TVs etc.).

• registro do guiamento – deve conter tamanhodo grupo, roteiro, nome do guia ou condutor euma avaliação do serviço de guiamento, quedeve ser dada pelos turistas após a excursão,de forma discreta e até mesmo sigilosa paraevitar constrangimentos.

Cuidados especiais• Cargas extras

• Chuva/raios

• Roubos

• Fogo/queimadas – Frio/calor

• Facão/“terçado”

• Animais (vacas, cobras,abelhas, morcegos etc.)

Page 98: Infra-estrutura e Serviços, 2003

www.mpefunbio.org.br - Incentivamos a cópia, reprodução e divulgação do conteúdo. Favor mencionar a fonte.

A s trilhas de uso público em áreas naturais permitem suprir as

necessidades recreativas, com a segurança e o conforto neces-

sários para o visitante e sem prejudicar o meio ambiente. Se-

gundo o autor, as trilhas também podem ser motivo de encora-

jamento ao visitante a se manter em um caminho mais fácil, evi-

tando obstáculos e a abertura desnecessária de desvios.

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MANEJO DE TRILHAS

WALDIR JOEL DE ANDRADE4.3

Page 99: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 102Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Manejo de trilhas, Waldir Joel de Andrade

Um dos objetivos de trilhas de uso público em áreasnaturais é suprir as necessidades recreativas demaneira a manter o ambiente estável e permitir aovisitante a segurança e o conforto necessários.

As trilhas devem sutilmente encorajar o visitan-te a permanecer nelas por serem facilmente reco-nhecidas como caminho mais fácil, que evita obstá-culos e minimiza a energia dispensada. Para tanto,devem manter uma regularidade e continuidade deseu caminho, evitando mudanças bruscas de direção

e sinalização. Obstáculos como pedras, árvores caí-das e poças de lama devem ser evitados, pois provo-cam a abertura de desvios.

Grande parte do impacto ambiental em trilhasocorre por causa do seu abandono. Este é conseqüên-cia de: tentativa de evitar necessários ziguezagues,obstáculos e trilhas com superfície formada somen-te por pedras ou, ainda, a procura da sensação de“aventura” (Schelhas, 1986).

A alta qualidade do desenho de uma trilha de-pende primariamente do balanço entre beleza eobjetivo. Características naturais e cênicas devemser combinadas de forma criativa (Proudman, 1977).

O planejamento de trilhas deve levar em con-sideração alguns fatores como: variação das con-dições da região em decorrência das estações doano, informações técnicas (mapas, fotografias etc.)

já existentes sobre a região, pro-babilidade de volume de uso futu-ro e as características de drena-gem, solo, vegetação, hábitat, to-pografia, uso e exeqüibilidade doprojeto (Agate, 1983).

Pesquisar e ressaltar caracterís-ticas históricas e culturais leva à oti-mização das informações e à inclu-são da dimensão educacional às tri-lhas (Proudman, 1977). Tanto quan-to possível, as áreas atravessadaspelas trilhas devem apresentar gran-de diversidade biológica, climática etopográfica. Um dos problemas dodesenho de trilhas está relacionadoa variações de nível, onde a necessi-dade de ascensão é contraposta pelaerosão causada pela água.

É importante evitar que a direção da água sejaa mesma da trilha. Deve haver, ao menos, um siste-ma de drenagem correto para que ela corra “pela”e não “ao longo” da superfície da trilha.

Uma forma de ascensão moderada é conseguidapelos ziguezagues, mas sua construção deve levar emconsideração os seguintes fatores: eles são difíceis deconstruir, sua repetição é monótona, devem dar a sen-sação de avanço para quem sobe, devem ter curvasespaçadas para que uma não seja visível de outra (afim de evitar que as pessoas cortem caminho) e a dis-tância entre elas deve ser longa (Proudman, 1977).

Outra maneira de ascensão gradual é consegui-da pelas trilhas que contornam obliquamente cumes.Tais trilhas devem ter sua superfície com inclinaçãooposta (ou, pelo menos, em posição horizontal) emrelação à vertente e com canal de drenagem em suaparte interna, a fim de evitar problemas futuroscomo a erosão.

A concepção e o desenho das trilhas tambémdependem do ambiente em que a trilha se encontrae do acesso e volume de público que ela suportará.

Existência (ou não) e tamanho de estacionamen-tos são fatores importantes que também devem serlevados em consideração.

Obras

Há três fatores mais comuns causadores da necessida-de da realização de obras em trilhas: drenagem, ultra-passagem de corpos d’água e contenção de erosão.

Drenagem

Como a presença de uma trilha altera o padrão decirculação de água na área, algumas obras de “reor-ganização” da drenagem são necessárias.

Ponte pênsil, Parque Estadual de Campos do Jordão, SP

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Page 100: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 103Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Manejo de trilhas, Waldir Joel de Andrade

Figura 1 – Drenagem (canais, valetas e barreiras)

Ponte, Parque Estadual dos Campos de Jordão, SP

Ponte pênsil, Parque Estadual dos Campos de Jordão, SP

Foto

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Figura 2 – Pedras ou troncos e tablados ou estradospara ultrapassagem de alagados

Podem-se construir canais laterais de escoamen-to (para que a água corra paralelamente à trilha),canais que cruzam perpendicularmente à trilha (tan-to em nível como por baixo da mesma) e valas oubarreiras oblíquas à superfície da trilha, para facili-tar o escoamento da água que está eventualmentesobre ela (Figura 1).

Ultrapassagem de corpos d’água

Neste tema, estão incluídos não só a ultrapassa-gem de rios e riachos como também a ultrapassa-gem de locais alagados. No primeiro caso, as obrassão basicamente de construção de pontes epinguelas (figuras 1, 2 e 3).

Com relação à ultrapassagem de alagados (Fi-gura 4), pode-se solucionar o problema com blocosde pedra e/ou “fatias” de troncos dispostos estraté-gica e seqüencialmente. Outra maneira (porém maisdispendiosa) são os tablados ou estrados, que per-mitem uma caminhada fácil e segura, transferindoa superfície de uso direto do solo para a madeira.

Contenção de erosão

Há dois principais fatores de alteração do solo de-correntes da utilização de trilhas: compactação eerosão. O efeito do pisoteamento do solo produzum impacto mecânico direto que resulta na diminui-ção de seus poros. Compactando-se o solo, diminui

BARREIRA

VALAperpendicular

CANALlateral deescoamento

Page 101: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 104Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Manejo de trilhas, Waldir Joel de Andrade

Figura 3 – tipos de degraus utilizados em trilhas

sua capacidade de retenção de ar e absorção de água,alterando, assim, sua capacidade de sustentar a vidavegetal e animal (microfauna do solo) associada.

Erosão é um processo natural que causa gravesproblemas em áreas onde existem trilhas, principal-mente em regiões montanhosas. A erosão depen-de, em sua maior parte, do tipo de solo e do padrãode drenagem da área. Algumas causas podem sercitadas como facilitadoras do processo de erosão:alteração e morte da vegetação (que impede que asraízes auxiliem na manutenção da estrutura do solo)e pisoteamento (que provoca agitação da superfí-cie, possibilitando o deslocamento de pequenas quan-tidades de solo, principalmente em declives).

A presença de trilhas altera, ainda, o padrão decirculação da água na região. O solo deixa de absor-ver grande porcentagem da água, que passa a es-correr preferencialmente ao longo da superfície“lisa” da trilha. A água provoca o deslocamento de

partículas aumentando, desse modo, a erosão. Quan-to maior a inclinação do terreno, maior a velocidadeda água, e maior será a quantidade de partículasdeslocadas. Deve-se, pois, impedir que a água escoepor sobre a superfície da trilha, adotando-se as me-didas de orientação de drenagem, anteriormenteabordadas ou, ainda, pela contenção de erosão, cons-truindo-se degraus e “paredes”.

A construção de degraus é uma das mais difí-ceis obras em trilhas. Devem ser construídos somen-te se não houver outra alternativa. É importanteevitar longos trechos de degraus em linhas retas,construção em terrenos ao lado de quedas abruptas(terrenos normalmente instáveis) e também anali-sar o local da obra tanto com uma visão de quemdesce como de quem sobe, a fim de tornar o traçadoo mais atrativo possível (Agate, 1983).

Os degraus podem ser feitos de várias maneiras:com pedras, troncos e pranchas de madeira (Figura 3).

A construção de “paredes” de contenção em decli-ves (Figura 4) tanto previne a erosão da trilha, nocaso da encosta estar abaixo dela, como previne adeposição de material advindo da encosta acima.Também pode ser feita de pedras, troncos ou comambos (Agate, 1983; Proudman, 1977).

Outras

• MiranteEstrutura para prover segurança durante ob-servação de um determinado panorama.

• CorrimãoEstrutura para prover segurança, em escadas epinguelas.

• Guarda-corpoEstrutura de proteção, principalmente em mi-rantes, quando há exposição a desníveis acen-tuados e perigosos.

Figura 4 – paredes de contenção

com pedras

com tábuasisoladas

com troncos

em escada

contenção da erosão“acima” da trilhacom o uso de maisde um material

contenção da erosão“abaixo” da trilhacom o uso de pedras

contenção da erosão“acima” da trilha como uso de madeira

Page 102: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 105Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Manejo de trilhas, Waldir Joel de Andrade

Sinalização

Há necessidade de se proceder à sinalização de tri-lhas visando à segurança do excursionista e dos re-cursos da área atravessada pelas trilhas. A sinaliza-ção deve ser sistemática, compreensível e à provade vandalismo (Proudman, 1977).

As vantagens de sinalização em trilhas são asseguintes (Agate, 1983):

• permitir que os excursionistas (não familiariza-dos com a área a ser explorada) evitem gastoscom a aquisição de mapas;

• possibilitar que se encontre o caminho em áreasflorestais onde até mesmo os mapas de maioresescalas não apresentam detalhes suficientes;

• reduzir invasões acidentais;

• encorajar o uso de trilhas pouco conhecidas, re-duzindo a freqüência de limpeza (clareamento)da trilha.

Os tipos de sinalizações considerados neste ca-pítulo são:

• marcação à tinta;

• placas;

• montes de pedra (totem);

• fitas.

Marcação à tinta

Marca padronizada colocada estrategicamentenuma árvore ou pedra. A marca na Appalachian Trail(Proudman, 1977) é uma mancha branca de 2 x 6polegadas (aproximadamente 5 x 15 centímetros).Deve-se definir uma forma e cor padrão para a tri-lha. As melhores cores para uso nesses casos sãoazul, vermelho, amarelo, branco e laranja. Num sis-tema de trilhas, o interessante é usar cor primáriapara a trilha principal e uma cor secundária para astrilhas secundárias. Látex ou lucite são suficientes.

Após a seleção dos pontos a serem marcados,deve-se prepará-los apropriadamente para recebera tinta. Com um raspador ou escova de aço, deixa-sea superfície do tronco uniforme para ser pintada. Parase preparar a superfície de pedra, a escova de aço ésuficiente. Em caso de se alterar o traçado da trilha,marcações abandonadas devem ser obstruídas paranão causarem confusão aos excursionistas.

Placas

As placas são de importante utilização ao longo datrilha, pois informam o nome, a direção, os pontosimportantes, a distância e o destino.

Corrimão e degraus, Parque Estadual da Cantareira, SP

Elas podem ser confeccionadas em pedra, me-tal ou madeira. O último tipo é o mais popular eatrativo, e, se devidamente afixada, dificilmente aplaca será retirada como suvenir por certos visitan-tes inescrupulosos. Para se confeccionar tais placas,não se necessita técnica sofisticada. Na escolha damadeira, deve-se levar em conta os seguintes fato-res: durabilidade, resistência de ser trabalhada, dis-ponibilidade e custo. Uma placa de boa qualidade éaquela que não entorta e não possui nós.

As dimensões das placas são variáveis de acor-do com o comprimento da mensagem. Placas de iní-cio de trilha, por conterem um número grande deinformações, devem ter aproximadamente 3,5 cen-tímetros de espessura e as demais de 1 a 2 centíme-tros. Estas devem ser geralmente pequenas. Forma,cor e letreiro devem ser padronizados.

Foto

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de

Guarda-corpo, Parque Estadual Campos do Jordão, SP

Page 103: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 106Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Manejo de trilhas, Waldir Joel de Andrade

A maioria das placas, em geral, não necessitaráde letras com altura superior a 5 centímetros. Parapintá-las, podem-se usar duas cores de fundo e ou-tra para as letras ou, ainda, apenas uma cor para aletra sobre fundo natural. Neste caso, deve-se apli-car verniz náutico para proteger a placa das intem-péries. Uma forma mais durável de grafia em ma-deira é o entalhe das letras embaixo, o que tambémfacilita sua manutenção.

Para instalação das placas, pode-se utilizar umposte de madeira, tratada de preferência, ou apoiá-las sobre pilhas de pedra (totem). Pode-se, ainda,pendurá-las nas árvores ou arbustos, utilizando ara-me ou fio de nylon. Fixar placas em árvores utilizan-do-se pregos não é indicado, do ponto de vista ético.

Montes de pedras (totem)

Para se marcar trilhas em áreas desprovidas de ár-vores, é preciso construir pilhas de pedras, de fácilvisualização, também conhecidas por totens.

A distância entre elas deve ser de 30 a 50 metros.O importante é que o excursionista ao lado de umtotem possa visualizar outros dois – da frente e detrás. Dessa maneira, cada um deve ser locado estra-tegicamente. Ocasionalmente, pode-se pintar as pe-dras do topo do totem para facilitar a visualização.

Fitas

Outra forma de se marcar o caminho é pela utiliza-ção de fitas coloridas (as de plástico são duráveis enão perdem a cor) amarradas nos galhos, em tron-cos de árvores ou arbustos. No caso de regiões des-providas de galhos e arbustos, amarram-se as fitasno alto de uma estaca de madeira ou ferro.

Ferramentas e acessórios

As ferramentas usadas deverão variar de acordo como tipo de trabalho. Deve-se sempre ter a ferramentaadequada para cada tipo de tarefa. Os instrumentosutilizados tanto na implantação como na manuten-ção de trilhas não variam muito; em ambos os casos,deve-se sempre levar um kit de primeiros socorros.Uma lista de ferramentas é apresentada a seguir.

• Machados: são muito utilizados para cortar ár-vores e grandes galhos caídos e para prepararmourões usados em degraus ou na contençãode paredes. Existem os machados de duas facesafiadas, mas os de face única são mais segurose populares. O tamanho e o peso dependerãoda pessoa que usará o machado e do tipo detrabalho a ser feito.

• Pé-de-cabra: essencial no deslocamento degrandes pedras ou mesmo troncos.

• Serras: são utilizadas para cortar galhos e ár-vores. O tipo e o tamanho dependerão do tra-balho e do espaço disponível. O uso da motos-serra deve ser planejado pois pode haver difi-culdade de acesso a transporte de combustívelaos locais de trabalho.

• Picareta.

• Enxada.

• Pá.

• Baldes: utilizados para eventuais transportes daterra, areia, água etc.

• Ferramentas de carpintaria: utilizadas na cons-trução de pontes, degraus etc.

• Kit com martelo, pregos, arames, barbantes,panos (para secar os cabos das ferramentas emtempos úmidos e para limpar placas de sinaliza-ção), lima para amolar etc.

Deve-se salientar a necessidade de equipamen-tos de segurança, como óculos para a proteção dosolhos (utilizados durante o trabalho de cortar ou ser-rar madeira), luvas, capacetes e roupas adequadas.

Monte de pedra (totem)

Page 104: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 107Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Manejo de trilhas, Waldir Joel de Andrade

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Page 105: Infra-estrutura e Serviços, 2003

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P ara reconhecer as trilhas que podem ser utilizadas no eco-

turismo é necessário um levantamento detalhado dos recur-

sos naturais, históricos, culturais e de infra-estrutura. Esse in-

ventário também é fundamental para os trabalhos de diag-

nóstico, planejamento e monitoramento dos projetos de eco-

turismo comunitário.

○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○

INVENTÁRIO DE TRILHAS

MARCOS MARTINS BORGES4.4

Page 106: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 109Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Inventário de trilhas, Marcos Martins Borges

O inventário de trilhas é o levantamento detalhadodos recursos naturais, históricos, culturais e de infra-estrutura e equipamentos associados a trilhas utiliza-das ou que possam ser utilizadas para o ecoturismo.

Por causa da importância de trilhas para qual-quer projeto de ecoturismo, além de subsidiar oplanejamento, a implantação e o manejo de tri-lhas, esse levantamento é também fundamentalpara os trabalhos de diagnóstico, planejamento emonitoramento do projeto de ecoturismo comuni-tário como um todo.

O inventário de trilhas promove o levantamentode dois tipos de trilhas: as existentes e as potenciais.

As trilhas existentes são utilizadas para fins tu-rísticos ou para outros fins, como trilhas de ligaçãoentre comunidades e residências, “estradas de se-ringueiros” ou mesmo trilhas abandonadas, comouma estrada de ferro em desuso.

As trilhas potenciais ainda não foram abertas eo projeto pretende implementá-las para desenvol-ver um produto turístico, promover a ligação entrea comunidade e os atrativos, entre atrativos, ou qual-quer outro fim associado ao projeto de ecoturismo.

O objetivo deste tópico é o de fornecer subsídiospara a realização do inventário de trilhas, tendo comobase os princípios do ecoturismo, as características lo-cais e as demandas do mercado turístico, fornecendoaos monitores instrumentos para a capacitação de equi-pes locais operacionais (ELOs) no planejamento, de-senvolvimento e execução do inventário de trilhas.

Trilhas e ecoturismo

A atividade de ecoturismo é intrinsecamente relaci-onada ao uso de trilhas, já que um dos objetivos dequem pratica o ecoturismo é o de vivenciar de for-ma mais intensa os elementos naturais e culturaisde uma determinada região. Trilhas facilitam essaexperiência pois possibilitam:

• acesso a áreas e monumentos mais isolados epreservados (formações naturais, sítios históri-cos e arqueológicos, paisagem etc.);

• a observação de fauna e flora;

• experiências educativas ao explorar aspectosgeológicos, geográficos ou a história natural;

• mais segurança ao turista, já que minimiza ris-cos de acidentes e de se perder;

• atividade física em ambiente natural.

As diferentes atividades proporcionadas portrilhas fazem com que os tipos de usuários tambémsejam diferenciados, mesmo no contexto do ecotu-rismo. O tipo de usuário determinará o tipo de trilhae como ela deve ser implementada. Alguns tipos deusos mais comuns em trilhas são:

• caminhada, mountain bike ou passeio a cavalo;

• trilhas de uso múltiplo, combinando uma ou maisatividades e também usos não turísticos, o quepode gerar conflito;

• trilhas de uso parcialmente integrados, comloops (círculos) em áreas onde há conflito entredois tipos de usuários (por exemplo, caminhadae passeio a cavalo);

• trilhas sem barreiras e com estruturas para fa-cilitar o acesso a deficientes e idosos.

Do ponto de vista do projeto de ecoturismo, tri-lhas são importantes pois:

• viabilizam ou expandem o acesso a atrativosnão acessíveis por estradas ou rios;

• acrescentam atividades e atratividade ao pro-duto turístico;

• promovem maior permanência e gastos porparte do turista;

• minimizam ou facilitam o controle de impactos,especialmente em áreas mais frágeis.

Portanto, ao inventariar trilhas, é preciso terem mente todos os fatores anteriormente descri-tos e se imaginar no lugar dos diversos tipos deturistas (aventureiros, idosos, deficientes, estudan-tes etc.) e também de quem estiver manejando oprojeto. Trilhas mal planejadas podem provocartanto a insatisfação do turista como a geração deimpactos indesejáveis.Ponte rústica sobre lagoa

Rica

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Page 107: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 110Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Inventário de trilhas, Marcos Martins Borges

Inventário turístico e o inventáriode trilhasA realização do inventário de trilhas pode se dar como inventário turístico (ver seção Fontes de informa-ção e inventário) ou após ele. A vantagem em se rea-lizar junto com o inventário geral da comunidade é aotimização de recursos humanos e financeiros.

No entanto, caso o inventário da comunidadeenvolva uma grande área e diversos atrativos, arealização do inventário de trilhas conjuntamentepode fazer com que um inventário retarde o outro.Além disso, o inventário turístico da comunidadepode identificar uma série de trilhas existentes oupotenciais, o que torna difícil o planejamento ade-quado de recursos e tempo para a concretização doinventário de trilhas.

Portanto, a realização do inventário de tri-lhas com o da comunidade dependerá de fatoreslocais e de avaliação de viabilidade por parte daequipe de inventário.

Independentemente da realização conjunta ounão, o inventário de trilhas deve seguir os mesmospassos propostos na seção Fontes de informação einventário, com foco nos seguintes aspectos:

• no estabelecimento de parcerias (item 1), aten-tar para a necessidade de autorização para rea-lizar o levantamento em áreas públicas e parti-culares. Atenção especial em relação aos propri-etários particulares, já que eles podem negar oacesso a uma trilha ou mesmo explorá-la sem oscuidados necessários para manejar impactos;

• no levantamento de informações secundárias(item 2), concentrar em relatos históricos deantigos caminhos utilizados pelos bandeirantes,por rotas de comércio, de gado, conexão entre

comunidades etc. Esses relatos indicarão possí-veis trilhas que podem ser associadas a atrati-vos histórico-culturais;

• escrituras de fazendas e mapas antigos da re-gião também ajudam a identificar antigos ca-minhos. Buscar também informações científicase levantamentos que indiquem o tipo e a diver-sidade de fauna, flora e avifauna nas regiõescortadas pelas trilhas;

• na identificação de recursos humanos e finan-ceiros necessários (item 4), além de guias turís-ticos (caso haja na comunidade), integrar ma-teiros na equipe, pois eles conhecem e utilizamtrilhas locais, muitas delas desconhecidas poroutros elementos da comunidade. Nesse casoespecífico, fotos aéreas e mapas detalhados ouem menor escala (um para cada trilha), binócu-lo, máquina fotográfica, filmes e pedômetro sãoimprescindíveis. O uso de Global PositioningSystem (GPS) é recomendável, pois facilita o tra-balho de plotagem de pontos específicos da tri-lha, bem como facilita a equipe na exploraçãode novas rotas. O uso de um gravador pode aju-dar a registrar em maiores detalhes as caracte-rísticas das trilhas e regiões adjacentes.

• Na apresentação à comunidade (item 5), esti-mular os participantes a indicar trilhas de usocomunitário ou em suas propriedades.

Page 108: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 111Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Inventário de trilhas, Marcos Martins Borges

O que inventariar

O inventário de trilhas levanta todas as característi-cas de uma trilha e de sua região de influência quepodem se constituir em potencialidades ou pontoscríticos para o desenvolvimento dessa trilha (ver tó-pico Diagnóstico).

A trilha e seus arredores, mesmo as trilhas po-tenciais, devem ser percorridos em toda a sua ex-tensão para identificar atrativos, pontos de descan-so, de banho e outras características relevantes.

Por causa desses fatores, é importante a utili-zação de mapas e informantes locais (mateiros) paraagilizar e dar mais eficiência ao levantamento.

A equipe de inventário deve fazer o levanta-mento a pé, de bicicleta ou a cavalo (preferencial-mente a pé), para que possa apreender em deta-lhes as características da trilha e também para teruma noção de como o turista vai se sentir.

A seguir apresentamos uma relação de ele-mentos a serem inventariados, lembrando quecada comunidade deve procurar adequar eincrementar as sugestões de acordo com a reali-dade local.

Propriedade da terra

• Privada (indivíduo, empresa etc.)

• Pública (federal, estadual, municipal)

• Outros (ONGs, cooperativas, grupos religiosos etc.)

Uso da terra• Unidade de conservação (parques, reservas par-

ticulares de patrimônio natural/RPPNs etc.)

• Agropecuária (intensiva, tradicional etc.)

• Mineração (tradicional, mecanizada)

• Outros (extrativismo vegetal etc.)

Estado de uso da terra• Em uso

• Abandonada

• Não alterada

Infra-estruturas humanas• Casas, retiros, fazendas

• Pontes, túneis

• Estabelecimentos de infra-estrutura turística

• Outras estruturas e infra-estruturas

Interseções• Estradas (pavimentadas, não pavimentadas,

intensidade de tráfego)

• Trilhos, canais (em uso ou não)

• Outras trilhas

Pontos de acesso à trilha• Automóvel (tipo de estrada, distância do cen-

tro urbano ou comunidade)• Bicicleta (tipo de estrada, distância do centro

urbano ou comunidade)• Pedestre (distância do centro urbano, comuni-

dade ou estrada)

Recursos histórico-culturais• Marcos históricos (estruturas, sítios históricos e

arqueológicos, rotas, pontes antigas)• Pontos de interesse

Recursos naturais• Vegetação (estado, tipo, subtipo, endêmica)• Fauna (diversidade, animais ameaçados de ex-

tinção)• Avifauna (diversidade, aves ameaçadas de ex-

tinção)• Solos (tipo)• Topografia circunvizinha (pontos do relevo que

podem carrear água e sedimentos para a tri-lha, pontos passíveis de desmoronamento etc.)

Page 109: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 112Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Inventário de trilhas, Marcos Martins Borges

• Hídricos (rios, cachoeiras, lagos e outros re-cursos adjacentes ou que interceptam ou inun-dam a trilha)

• Clima (variação climática e pluviométrica anu-al, provável impacto no uso da trilha nas di-versas estações)

• Formações naturais significantes (lagos, forma-ções rochosas, matas densas, paisagens etc.)

Áreas degradadas ou sujeitas a degradaçõesexternas ao turismo

• Tipo, grau e fontes de degradação

Áreas degradadas ou sujeitas a degradaçõespelo turismo

• Tipo, grau e potencial de degradação (ver “In-dicadores para monitoramento”, adiante)

Áreas frágeis (e que devem ser evitadasou receber manejo específico)

• Tipo de fragilidade (por exemplo: um campoúmido, altamente impactado por pisoteamento;áreas de reprodução animal)

Áreas de alto risco para o turista• Tipo de risco (por exemplo: queda íngreme, ani-

mais peçonhentos, riscos de desabamento)

Relevo da trilha• Ascendente• Descendente• Irregular

• Pontos íngremes (grau de inclinação)

Função atual da trilha• Turismo ou recreação

• Ligação entre comunidades e residências• Comércio, trabalho, rota de gado etc.

• Outros

Forma da trilha• Circular• Oito• Linear• Atalho

Dimensões da trilha• Largura• Extensão (comprimento)• Tempo estimado para percorrer toda a trilha

(caminhada ou bicicleta ou cavalo)

Trilhas já utilizadas para fins de turismoou recreação

• Condições (ver “Indicadores para monitoramen-to” adiante)

• Restrições de acesso (taxa de entrada, gruposfechados, grupo mínimo etc.)

• Uso de interpretação (tipos de interpretação)

• Tipos de uso (caminhada, cavalo, mountainbike etc.)

• Número e freqüência de visitantes

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TABELA 1 – Impactos em trilhas e os seus efeitos ecológicos e sociais

Tipo de impacto Efeito ecológico Efeito social

Erosão de solo

Exposição de raízes

Formação de trilhas secundárias

Solo úmido

Água corrente

Alargamento de trilha

Trilhas criadas por visitantes

Lixo

Perda de solo e nutrientes, sedimentação eturbidez de água, alteração do padrão dedrenagem. É o tipo de impacto mais permanente.

Danificação de raízes, redução na saúde deárvores, intolerância a períodos de seca.

Perda de vegetação, exposição de solo.

Mais suscetível a ficar barrento e àimpermeabilização.

Maior intensidade de erosão.

Perda de vegetação, exposição de solo.

Perda de vegetação, fragmentação de hábitat devida animal.

Poluição, doenças em animais silvestres.

Maior dificuldade de viagem(caminhada), degradação de qualidadevisual, aumento de risco de acidentes.

Degradação de qualidade visual,aumento de risco de acidentes.

Degradação de qualidade visual.

Maior dificuldade de viagem, degradaçãode qualidade visual.

Maior dificuldade de viagem.

Degradação de qualidade visual.

Evidência de impacto humano,degradação de qualidade visual.

Evidência de impacto humano,degradação de qualidade visual.

Page 110: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 113Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Inventário de trilhas, Marcos Martins Borges

Indicadores para monitoramento

É importante que a equipe de inventário de trilhasjá inicie o processo de levantar dados para subsidi-ar o monitoramento de trilhas existentes e a se-rem criadas. Esses dados, ou indicadores, subsidia-rão uma avaliação dos impactos ocorrendo em tri-lhas existentes e o futuro monitoramento dessas ede novas trilhas. E é por meio desse monitoramen-to que ações poderão ser empregadas paraminimizar impactos e manter trilhas.

A Tabela 1 fornece uma relação de impactosmais comuns em trilhas e também descreve osefeitos ecológicos e sociais desses impactos. A in-tensidade de impactos em trilhas é influenciadatanto pelo tipo e intensidade de visitação, comopelas características físicas da trilha e adjacências(relevo, solo, vegetação e hídricos). Por isso, é fun-damental o levantamento desses dados quandoda realização do inventário. A Tabela 2 forneceexemplos de como mensurar os impactos listadosna Tabela 1.

Independentemente do grau de dificuldade dese mensurar esses impactos, o importante é que sedesenvolva uma metodologia consistente com as ne-cessidades e recursos humanos e financeiros do pro-jeto de ecoturismo.

Processamento das informações emapeamento

Após a realização do inventário, os dados coletadosdevem ser organizados, e comentários da equipede inventário devem ser adicionados aos dados ob-jetivos coletados.

Por fim, todas as trilhas devem ser plotadasem mapas individuais, pelo uso de computadoresou manualmente. Nesse mapa, os fatores relevan-tes observados devem ser realçados, mesmo pon-tos críticos identificados por meio dos indicadoresde monitoramento.

O ideal é que se plote as trilhas em mapas quecontenham linhas topográficas, cobertura vegetal,recursos hídricos e vias de acesso. Caso não haja ummapa com essas características, a equipe de inventá-rio deve tentar fazer um, mesmo que manualmente.

Por fim, um mapa de todas as trilhas na regiãoinventariada deve ser elaborado. As informações co-lhidas pelo inventário e as proporcionadas pelos ma-pas fornecerão os subsídios necessários para o plane-jamento da implantação ou manejo de trilhas.

Font

e: M

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001)

TABELA 2 – Indicadores de impacto em trilhas

Indicador Descrição

Tipo de uso:

· caminhada Segmento restrito a pedestres.· cavalo/caminhada Segmento aberto a uso de cavalos.

Inclinação excessiva Grau de inclinação superior a 20%.

Sistemas de drenagem:

· muito eficiente Designado para desviar a água da trilha (mensurado em termos de eficiência).· parcialmente eficiente· ineficiente

Erosão de solo Segmento mais erodido do que o originalmente esperado.

Largura excessiva Segmento expandiu entre 1 e 2 metros a mais do que trechos adjacentes e maistípicos da trilha.

Solo úmido Segmento tem solo úmido em mais da metade da largura da trilha, incluindo solosbarrentos e poças de água.

Exposição excessiva de raízes Segmento tem exposição intensa de raízes (o topo e os lados das raízes estão expostos).

Trilhas secundárias O segmento tem mais de uma trilha definida.

Água escorrendo na trilha O segmento tem água escorrendo na trilha.

Lixo Volume de lixo na trilha ou áreas adjacentes do segmento.

Page 111: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 114Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Inventário de trilhas, Marcos Martins Borges

BELL, Simon. Design for outdoor recreation. Londres:

E & FN Spon, 1997.

FLINK, C. A.; OLKA, K.; SEARNS, R. M. Trails for the

Twenty-First Century. Washington, D.C.: Island

Press, 2001.

GRUPO NATIVA. Ecoturismo: conceitos e princípios.

Goiânia: Grupo Nativa, 2000.

MARION, J. L.; LEUNG, Yu-Fai. Trail resource impacts

and an examination of alternative assessment

techniques. 2001. Artigo inédito.

Page 112: Infra-estrutura e Serviços, 2003

www.mpefunbio.org.br - Incentivamos a cópia, reprodução e divulgação do conteúdo. Favor mencionar a fonte.

V ocê sabe o que são passarelas de copadas? São considera-

das trilhas artificiais para observação, da mesma forma que

córregos podem ser considerados trilhas aquáticas. Neste tex-

to, o autor detalha tudo o que é necessário para se planejar

torres e passarelas com recursos naturais, como o rapel e as

pontes pênseis.

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PASSARELAS E TORRESDE OBSERVAÇÃO

ROBERTO M. F. MOURÃO4.5

Page 113: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 116Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Passarelas e torres de observação, Roberto M. F. Mourão

Torres e passarelas de copada (canopy towers ewalkways), associadas ou não, são estruturas desen-volvidas para possibilitar e facilitar o acesso, a umcusto moderado, para observação amadoracontemplativa, como a feita por ecoturistas, ou deestudo (estudantes, profissionais, pesquisadores) deflorestas ou segmentos florestais.

Passarelas de copada podem ser consideradascomo “trilhas” artificiais, que se prestam à observa-ção contemplativa ou interpretada, da mesma formaque igarapés, córregos e cursos d’água em manguezaispodem ser considerados “trilhas” aquáticas.

De custo moderado, elas permitem tanto a sim-ples observação de flora e fauna, como também quepesquisadores realizem observação de longa dura-ção e coleta de dados numa área definida e fixa.

Histórico de pesquisa

A pesquisa de copadas sempre esteve limitada pe-las dificuldades de acesso. Durante a década de1980, foram desenvolvidas várias técnicas de bai-xo custo, tais como escalada em corda ou rapel,escadas e torres.

Também foram desenvolvidos dispositivos quefacilitam a pesquisa simultânea por um grupo depesquisadores, mas muito mais caros, como, porexemplo, o dirigível de Hallé e Blanc ou gruas.

Quando se planejam torres ou passarelas,deve-se ter em mente a correlação entre custodo método de acesso e o número de pesquisado-res ou visitantes que poderão utilizar o dispositi-vo com segurança.

Escalada em corda ou rapel

Provavelmente é o método de acesso mais anti-go e usado para se atingir estratos superiores deflorestas para investigação. Esse método ofere-ce flexibilidade e facilidade de acesso, mas temsuas limitações:

• é inseguro à noite ou com tempo rigoroso;

• trabalho conjunto é praticamente impossível;

• observações de longa duração são em geraldesconfortáveis;

• acesso no sentido horizontal é limitado;

• medidas de precisão são dificultadas pelo movi-mento pendular da corda.

Passarelas (ou pontes pênseis)Alternativas de observar e/ou estudar copadas e es-tratos superiores da floresta, de forma confortável epermanente, e facilitam estudos a curto, médio e lon-go prazos. Esse sistema modular, que consiste empontes interconectadas e plataformas, de custo mo-derado, permite acesso fácil para usuários, além deser de fácil manutenção e de grande durabilidade.

TorresSão as estruturas, ou partes de um conjunto, quepermitem o acesso e a interpretação vertical deuma árvore ou de um conjunto de árvores, poden-do ser construídas paralelamente ou contornandoo fuste, de forma a aproveitar ao máximo a arqui-tetura da ramada.

Em sua construção, deve-se pensar em estágiosou plataformas em níveis de observação progressi-va, a partir do solo, passando pelo sub-bosque,copada e, finalmente, atingindo a parte superior àcopada, para visão panorâmica de 360º.

Atenção especial deve ser dada aos aspectossegurança e conforto de ascensão, levando-se emconta que torres devem ter seu uso adequado a vá-rios públicos: crianças, adolescentes, adultos e idososem boas condições físicas.

PlataformasEstruturas intermediárias e de apoio, em geralfixadas em árvores-tema, que servem paraconectar passarelas, permitindo, ainda, interpre-tação e/ou acesso a plataformas ou passarelasem outros níveis (inferior ou superior), dando con-tinuidade ao circuito.

Torre de observação, Fazenda Intervales, SP

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Page 114: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 117Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Passarelas e torres de observação, Roberto M. F. Mourão

Podem dar acesso ao solo ou a mirantes pano-râmicos acima da copada da mata circundante. Al-guns conjuntos aproveitam desníveis de solo paraacesso, evitando o uso de escadas, possibilitando seuuso por deficientes físicos ou pessoas idosas ou comdificuldade de locomoção.

Facilidade para a observaçãoda fauna e flora

Muitos ecoturistas de primeira viagem se desapon-tam pela dificuldade de observar a fauna em flo-restas tropicais. Uma das razões é que a maioriadas espécies vive entre 18 e 45 metros, nas copasdas árvores, camuflada e oculta na densa vegeta-ção. Torres, plataformas e passarelas são estrutu-ras que permitem a observação da flora e da fauna

de um ponto de vista pouco usual do homem, ouseja, que geralmente é limitado à observação hori-zontal ou do chão para o alto.

Desvantagens potenciais – pesquisa

Comparadas com outros métodos de acesso, há duasdesvantagens potenciais ao uso de torres e plata-formas e passarelas para pesquisa:

1. as estruturas são fixas e não é possível remane-já-las com propósitos de pesquisar e compararlocais diferentes;

2. há uma possibilidade de que organismos (flora efauna) das copas das árvores utilizarem as passa-relas e suas partes construtivas como pontes e ousuporte, tendo sua mobilidade natural alterada.

Torres e passarelas – indutores de fluxode visitantes

Por serem uma forma de acesso privilegiada paraobservação da fauna e flora, as passarelas aumen-tam muito o fluxo de visitas. A foto mostra umapassarela de copada do Kakum National Park, emGana, África. Projetada para uma capacidademáxima de 60 a 70 mil visitantes anuais, sem com-prometer a qualidade da experiência, o fluxo devisitas no parque cresceu de menos que 2 mil pes-soas em 1992, antes de sua construção, para maisde 20 mil visitantes em 1995. Esse aumento consi-derável de visitantes possibilitou não só um au-mento nos postos de trabalho para comunidadeslocais, como também recursos para ajudar prote-ger e manter o parque.

Passarela interligando módulos de hospedagem de hotelde selva na Amazônia, que serve para observação dafauna e flora do entorno

Robe

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Page 115: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 118Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Passarelas e torres de observação, Roberto M. F. Mourão

O local para a implantação de torres e/ou passarelasde copadas deve ser feito considerando simultanea-mente aspectos construtivos (engenharia) e biológi-cos (interpretação e/ou pesquisa). Após apredefinição de local e antes da decisão final do con-junto de árvores-tema, deve-se procurar antever aqualidade interpretativa ambiental e cênica espe-rada em relação às futuras estruturas (torres, pla-taformas, passarelas). Isso pode ser feito com assis-tência de equipe multidisciplinar de projeto (arqui-tetos, botânicos, engenheiros florestais, especialis-tas em ecoturismo e interpretação ambiental etc.) epela utilização de métodos rápidos de escalada (cor-das ou rapel) ou andaimes metálicos provisórios.

Módulos mínimosDependendo dos recursos financeiros disponíveis oude cronograma, pode-se inicialmente pensar na cons-trução mais simples: uma torre ou o módulo mínimode uma torre + plataforma + uma passarela. Porém,para uma melhor relação custo-benefício, deve-sepensar num conjunto de uma torre + duas platafor-mas + uma passarela.

Módulos ideaisCom uma ampliação da estrutura mínima, de me-lhor custo-benefício, com mais uma torre/platafor-ma + duas passarelas, chega-se à configuração ide-

al, ou seja, três lances de passarelas (pontespênseis), com duas plataformas (ou torres, ou mi-rantes) e uma torre de observação que atinja aci-ma do dossel superior do conjunto para uma visãopanorâmica de 360º.

Materiais construtivos

Em virtude da permanente exposição às intem-péries, umidade e temperatura são os maioresproblemas que podem eventualmente alterar oucomprometer a durabilidade dos materiais cons-trutivos. É importante usar materiais resistentescomo cabos de aço, peças em fibra de vidro e ma-deira tratada, sempre visando à segurança estru-tural. Sendo muitos componentes importados,deve-se planejar bem quanto aos custos de fretese taxas de importação.

Aspectos biológicos

1. Selecionar um conjunto de árvores que sejamrepresentativas da composição e diversidade doecossistema e/ou das florestas regionais.

2. Instalar torres e plataformas permitindo o má-ximo acesso com mínima perturbação para aconformação e a estrutura da copada.

3. Fazer o dimensionamento físico das estruturascondizentes com fins de observação amadora-contemplativa (ecoturismo) e estudo (educaçãoambiental, estudo, profissional e pesquisa).

4. Definir padrões rigorosos construtivos de for-ma a minimizar eventuais impactos na copa-da, no solo e subsolo (raízes), além das co-munidades relacionadas com a seção flores-tal de implantação.

Aspectos construtivos

1. Deve-se primeiramente selecionar local da mataou floresta primária ou secundária com um mí-nimo de 20 anos de recuperação, saudável, comárvores de copas densas e de boa conformação.

2. As árvores-tema, em geral espécies de desta-que que funcionarão como estações interpre-tativas e apoio de torres e/ou plataformas, de-vem estar relativamente próximas (espaçadasno máximo 30–35 metros), de forma que aspassarelas de interligação permitam contem-plar o entorno (copadas e paisagem), além daobservação e interpretação de flora e fauna.

3. Na escolha das árvores de apoio, devem-se evi-tar fustes pequenos ou com ocos que possamcomprometer a estabilidade dos sistemas deapoio e fixação de cabos, estais ou plataformas.

4. Escolher árvores com copas que apresentemramificação superior adequadas ao apoio deplataformas de conexão ou acesso.

5. Selecionar conjunto de árvores com possibilida-de de expansão de módulos (o desenho mínimoconsiste em uma ponte e uma plataforma).

6. Evitar árvores localizadas em locais escarpados,íngremes e precipícios, principalmente em regi-ões sujeitas a ventos fortes.

Page 116: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 119Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Passarelas e torres de observação, Roberto M. F. Mourão

A floresta tropical da África Ocidental é um dosecossistemas mais diversos do continente africa-no, sendo que Gana contém um quinto desse im-portante ecossistema.

Localizado 20 quilômetros ao norte da cidadelitorânea de Cape Coast, na região central de Gana, oKakum National Park tem área de 350 quilômetrosquadrados de floresta tropical úmida. Kakum foi de-clarada reserva florestal em 1932 e, nos últimos 50anos, teve seu manejo direcionado para extração demadeira. A área é hábitat de anfíbios, répteis,primatas, antílopes, 550 espécies de borboletas, 250espécies de aves e cerca de cem mamíferos.

O parque nacional foi escolhido para servir demodelo africano para conservação da biodiversida-de integrada e para o desenvolvimento econômico,combinando pesquisa científica e ecoturismo. O pro-grama do Kakum National Park é apoiado pela or-ganização não-governamental ConservationInternational, que contribui com assistência técnicade planejamento e implantação.

A combinação da passarela com o centro de vi-sitantes deverá ser modelo para outros planos dedesenvolvimento no sudoeste africano, destacando-se pelo uso de artes e materiais regionais em criati-vas exibições educacionais.

No início de 1995, a Conservation Internationale a American Society of Landscape Architecture (So-ciedade Americana de Paisagismo) organizaram um

seminário com o objetivo de criar o modelo de de-senvolvimento para a Área de Conservação deKakum (Kakum Conservation Área), dentro dos pa-râmetros estabelecidos pelo programa de desenvol-vimento turístico regional (Tourism DevelopmentScheme for the Central Region of Ghana).

Uma das decisões do seminário foi a construçãode um sistema de passarelas de copada e um centrode visitantes, visando melhorar a interação e a ex-periência dos ecoturistas com seus atrativos natu-rais e culturais. A passarela de copada de Kakum, aprimeira no continente africano, foi inaugurada noDia da Terra, em 1995.

Por ser uma forma de acesso privilegiada paraobservação da fauna e flora, a passarela aumen-tou muito o fluxo de visitas nacionais e internacio-nais a Kakum.

Projetada para uma capacidade máxima de 60mil a 70 mil visitantes anuais, sem comprometer aqualidade da experiência, o fluxo de visitas no par-que cresceu de menos de 2 mil pessoas em 1992,antes de sua construção, para mais de 20 mil visi-tantes em 1995.

Esse aumento considerável de visitantes possi-bilitou não só um aumento nos postos de trabalhopara comunidades locais, como também recursospara ajudar proteger e manter o parque.

A passarela construída, sustentada por oitoenormes árvores emergentes, tem 330 metros emcomprimento e está suspensa a uma altura médiade 27 metros, atingindo 36 metros em seu pontomais alto, tendo uma altura suficiente para man-ter uma boa distância do solo e a copada. O acessoé em uma ladeira, de forma que visitantes têmacesso a plataformas e passarelas sem necessida-de de escadas.

Envolvendo cada árvore de apoio, plataformasde madeira permitem a visitantes e pesquisadoresse posicionarem e desfrutar da privilegiada posiçãopara observar a floresta tropical.

A escolha e o posicionamento dos apoios e plata-formas (que não utilizam pregos ou parafusos) fo-ram feitos com grande cuidado para assegurar queas centenárias árvores que suportam a passarela nãosofram danos que comprometam sua estabilidade.

Custo e resultados

O custo da passarela de Kokum girou em torno deUS$ 120 mil, sem considerar contrapartidas locais ede apoiadores/patrocinadores.

Segundo a Conservation International, estima-se que a passarela já foi visitada por cerca de 60 milvisitantes nacionais e internacionais desde sua inau-guração em 1995. Atualmente, recebe 25 mil visi-tantes por ano.

John Kelson, consultor que participou da cons-trução da passarela, estima que, de sua inauguraçãoem 1995 até o fim de 1998, o faturamento estimadoé superior a US$ 400 mil (1 bilhão Cedis; 2.300 Cedis =US$ 1), ou seja, uma média de US$ 10 mil por mês.

Page 117: Infra-estrutura e Serviços, 2003

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NAVEGAÇÃO TERRESTREE CARTOGRAFIA BÁSICA

FÁBIO FRANÇA SILVA ARAÚJO4.6

O autor coloca a habilidade de encontrar o próprio caminho

como a mais importante para praticantes de atividades ao ar

livre. Lista as principais ferramentas de navegação disponíveis

e ensina o público a utilizar corretamente os mapas e outros

sistemas de coordenadas, como a bússola, um dos instrumen-

tos de navegação mais antigos ainda usados hoje.

Page 118: Infra-estrutura e Serviços, 2003

• 121Manual MPE – Ecobrasil | Infra-estrutura e serviços | Trilhas | Navegação terrestre e cartografia básica, Fábio França Silva Araújo

Apesar da existência dos modernos equipamentos para auxilio da navegação,as bússolas continuam a ser uma solução segura e robusta para viajantes

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Talvez a habilidade mais importante para os prati-cantes de atividades ao ar livre seja a de encontrar oseu próprio caminho, atravessando montanhas, va-les e chapadas, para finalmente chegar ao objetivoque escolheu, que pode ser uma cachoeira, um vale,uma montanha, um vilarejo etc. Essa habilidade étambém fundamental para poder voltar ao pontode partida em segurança ou procurar socorro, casoocorra algum imprevisto durante a atividade.

O termo orientação vem de “buscar o oriente”, oLeste, a direção onde nasce o Sol. Durante séculos, osol nascente foi a principal ou mesmo a única referên-cia de direção utilizada por todos os povos antigos.

Orientar-se significa descobrir a sua posição emrelação a pontos de referência como cidades, rios,estradas, serras etc., ou seja, determinar o pontoem que você se encontra na superfície da terra.

Já o termo navegação teve origem náutica edenominava a “arte” de conduzir com segurançauma embarcação entre dois portos.

De um ponto de vista mais amplo, a navegaçãopode ser considerada, ao mesmo tempo, uma arte euma técnica: a de identificar e percorrer o “melhorcaminho” entre dois pontos na superfície da terra.

Ao analisar essas definições, podemos concluirque saber se orientar é apenas uma das etapas danavegação. Podemos dividir a navegação em qua-tro passos básicos:

1. escolher um ponto de partida e um ponto dedestino;

2. planejar, com o auxílio de um mapa, uma “rota”entre os pontos escolhidos;

3. determinar, em campo, a exata posição do pon-to de partida;

4. percorrer a rota escolhida, efetuando as corre-ções necessárias ao longo do trajeto.

Ferramentas de navegaçãoPor mais que seja poética a idéia de navegar orien-tando-se pelo sol e pelas estrelas, para viajar em se-gurança por ambientes naturais a utilização de fer-ramentas específicas de navegação é imprescindível.

A boa notícia é que as ferramentas de navega-ção comumente utilizadas por praticantes de ativi-dades ao ar livre são muito simples, e há séculos sãoutilizadas por marinheiros, exploradores, militarese cientistas. São elas:

• o mapa;• a bússola;• o relógio;• o altímetro.

Além desses instrumentos básicos, é cada vezmais comum a utilização do Global PositioningSystem (GPS). O GPS é um equipamento que per-mite a obtenção da posição (coordenadas) de umponto na superfície da terra, pormeio da recepção de sinais de rádioenviados por satélites em órbita.

MapasUm mapa é uma representação pla-na do terreno, destinada a transmitirinformação acerca da posição relati-va entre cidades, estradas, acidentesgeográficos etc. Os mapas são as maisimportantes ferramentas de navega-ção. Sem um bom mapa, navegar équase impossível, mesmo que tenha-mos outros instrumentos à disposição.

Nem todos os tipos de mapa sãoadequados para a navegação terres-tre. Mapas turísticos, artísticos e rodo-

viários são de pouca valia simplesmente porque nãocontêm o conjunto de informações necessárias parase determinar uma posição e planejar uma rota.

Para poder ser utilizado em navegação, o mapaprecisa ter:

• uma escala definida;• um sistema de coordenadas;• um conjunto de convenções gráficas;• uma representação plana do relevo.

Um mapa que apresenta essas característicasé conhecido como mapa topográfico, carta topo-gráfica ou mapa planialtimétrico.

EscalaÉ a relação entre uma distância no terreno e suarepresentação no mapa. Uma escala de 1:100.000indica que cidades, montanhas, lagos e estradas sãorepresentados no mapa cem mil vezes menores do

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que são na realidade ou que 1 quilômetro (= 100mil centímetros) no terreno equivale a um centí-metro no mapa. No Brasil, o mais comum é encon-trar mapas de escalas 1:50.000 (Sul e Sudeste),1:100.000 (Norte, Nordeste e Centro-Oeste). O Dis-trito Federal e algumas cidades possuem mapasna escala 1:25.000 ou mais detalhados. Quantomaior for a escala do mapa, mais detalhado eleserá (um mapa 1:25.000 tem escala maior que umde escala 1:100.000).

O “fator de escala” (Fe) é a relação entre distân-cias medidas na carta (em centímetros) e seu corres-pondente no terreno (em quilômetros). Por exemplo:

• um mapa de escala 1:100.000 tem fator de es-cala = 1 (1 centímetro = 1 quilômetro),

• um mapa 1:50.000 tem fator de escala = 0,5 (1centímetro = 0,5 quilômetro = 500 metros), e

• um mapa de escala 1:25.000 tem fator de es-cala = 0,25 (1 centímetro = 0,25 quilômetro =250 metros).

Sistema de coordenadas

Forma de identificar a posição de um ponto nasuperfície da terra por meio de um conjunto de nú-meros. Por exemplo, a posição de uma cachoeira,uma montanha, uma cidade etc. pode ser anotada,possibilitando a troca de informações a respeito decomo chegar a esses lugares.

O sistema de coordenadas mais conhecido é ogeográfico (latitude e longitude ou lat/long), que iden-tifica uma posição por meio de dois ângulos: a latitu-de, que é medida em relação ao equador (latitude =0), e a longitude, medida em relação a um meridianode Greenwich (longitude = 0). O Pólo Norte está nalatitude 90º norte, e o Sul, na 90º sul.

Os mapas topográficos utilizados para navega-ção terrestre apresentam um outro sistema de coor-denadas, mais prático que o lat/long e conhecido comoUniversal Transverse Mercator (UTM). A grade UTMdivide o mundo em 60 zonas de 6º de largura. A zonanúmero 1 começa na longitude 180º oeste (W 180º =E 180º). Continuam em intervalos de 6º até a zona denúmero 60. Cada zona é projetada num plano e per-de sua característica esférica. Assim, suas coordena-das são chamadas “falsas”. A distorção produzidapela projeção limita esse sistema de coordenadas àárea compreendida entre as latitudes N 84º e S 80º.No entanto, dentro dessa área as coordenadas sãorepresentadas por um sistema métrico (distâncias me-didas em metros, não em graus).

Um mapa topográfico é recoberto por um qua-driculado de linhas horizontais e verticais. As linhasverticais indicam a direção Sul-Norte (Norte paracima) e as linhas horizontais indicam a direção Oes-te-Leste (Leste para a direita). Nas extremidades decada linha, está indicado um número, que represen-ta as coordenadas UTM.

As coordenadas UTM são representadas pordois números: o primeiro é conhecido como “lesteUTM” e representa a distância em metros entre ummeridiano de referência e um ponto na superfícieda Terra; o segundo é o “norte UTM”, medido emrelação a uma linha de origem (o equador para ohemisfério norte, e uma linha a 10 mil quilômetrosao sul do equador para o hemisfério sul).

Um exemplo de coordenada UTM é: 0.173.235leste, 8.123.472 norte, zona 23.

Para obter as coordenadas UTM de um pontono mapa:

1. localizamos a linha vertical imediatamente àesquerda do ponto e verificamos o valor corres-pondente a ela (número na base ou no topo dalinha), multiplicando esse número por mil, ob-tendo o valor “E1”. Em seguida, medimos a dis-tância (centímetros) entre a linha e o ponto emultiplicamos o valor obtido pelo fator de esca-la (veja o item 2.1.1) do mapa, obtendo o valor“E2”. Finalmente, somamos, E1 e E2, obtendoo valor “E” (“leste UTM”);

2. localizamos a linha horizontal imediatamenteabaixo do ponto e verificamos o valor corres-pondente a ela (número à esquerda ou à direi-ta da linha), multiplicando esse número por mil,obtendo o valor “N1”. Em seguida, medimos adistância (centímetros) entre a linha e o pontoe multiplicamos o valor obtido pelo fator de

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escala do mapa, obtendo o valor “N2”. Final-mente, somamos, N1 e N2, obtendo o valor “N”(“norte UTM”).

As coordenadas do ponto em questão serãorepresentadas pelos valores de “E” e “N”.

Em geral, os números relativos às linhas apre-sentam alguns algarismos de tipo grande e outrosde tipo pequeno (ex: 8272). Ambos os números de-vem ser considerados, ou seja, 8272 = 8272.

Para marcar um ponto no mapa a partir desuas coordenadas UTM, basta inverter o procedi-mento descrito.

Convenções gráficasSímbolos utilizados para representar cidades, estra-das, trilhas, rios, construções etc. Todo mapa temuma legenda com a descrição dos símbolos utiliza-dos e seus significados.

Representações planas do relevo

As “curvas de nível” são o recurso mais comum utili-zado para representar o relevo das montanhas, va-les, planícies, canyons etc. Outras representaçõesplanas do relevo são, por exemplo, o “relevo som-breado” e “escala de cores”.

Por definição, as curvas de nível são linhas nomapa que ligam pontos que tem a mesma altitude.Elas são desenhadas no mapa em intervalos regu-lares de altitude, por exemplo, unindo os pontosque tenham altitude de 800 metros, 840 metros,920 metros etc.

As principais feições topográficas que formamo relevo são:

• cumes;

• cristas;

• vales ou ravinas,

• planícies e planaltos.

Para cada uma dessas feições, as curvas denível apresentam características próprias. Os cu-mes (topos de montanhas) são representados porcurvas de nível fechadas e concêntricas (uma den-tro da outra). As cristas são representadas por tre-chos de curvas de nível em forma de “U” em cris-tas suaves, e em forma de “V” em cristas íngre-mes, com a ponta do U ou V apontando para asmenores altitudes.

Os vales ou ravinas são representados por tre-chos de curvas de nível em forma de ”U” em valessuaves e em forma de “V” em vales abruptos, com aponta do U ou V apontando para as maiores altitu-des. Na maioria das vezes, haverá um rio (linha azulno mapa) ligando as pontas dos “Vs”. Os planaltos eplanícies são representados por curvas de nível mui-to afastadas umas das outras.

Como característica geral, podemos destacarque, quanto mais próximas umas das outras são ascurvas de nível, maior a inclinação do terreno. Quan-do as curvas aparecem muito espaçadas umas dasoutras, o terreno é pouco inclinado.Detalhe do mapa cartográfico

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Uso da bússolaA bússola é um instrumento utilizado há centenasde anos em navegação. Seu principal componente éuma agulha imantada que aponta sempre para amesma direção (o norte magnético), alinhada com ocampo magnético da Terra.

Declinação magnética

Um detalhe fundamental a ser lembrado quandoutilizamos a bússola em conjunto com o mapa to-pográfico é a existência de dois nortes: O nortemagnético (norte da bússola) e o norte verdadeiro(norte do mapa). Essa diferença ocorre porque ofenômeno natural que causa o magnetismo terres-tre não está alinhado com o eixo de rotação daTerra (que define o norte e o sul verdadeiros). Essefenômeno também não é estável temporalmente,de forma que a posição do norte magnético varialentamente ao longo dos anos.

A diferença angular entre os dois nortes tem onome de declinação magnética e pode ser calculadaa partir de informações contidas na legenda dosmapas topográficos. Nessa legenda, é apresentadoum valor numérico da declinação, obtido no ano emque foi feito o mapa. É apresentado ainda quando adeclinação aumenta ano a ano.

Por exemplo: em Brasília, a declinação magné-tica era de -17º0’15” (menos 17 graus, 0 minuto e15 segundos) em 1984. Um grau (como se fosse umahora) se divide em minutos e segundos.

A declinação magnética no local cresce -7’ anu-almente. Entre 1984 e 2000, são 16 anos. 16 x -7’ = -112’ = -1º52’. Dessa forma, a declinação magnéticaem Brasília no ano 2000 é: -17º0’15’’ + (-1º52’’) = -18º52’15’’. Como a precisão da maioria das bússolasé de 2º, podemos arredondar esse valor para -19º.

Um valor negativo de declinação indica umadeclinação a Oeste, ou seja, o norte magnético estáà esquerda do norte geográfico.

É importante lembrar que, para cada local (cadamapa), existe um valor diferente de declinação. NoBrasil, por exemplo, a declinação magnética variaentre 3º (Acre) e 23º (Rio Grande do Norte).

Azimutes

Um dos usos mais importantes da bússola é a toma-da de azimutes, a determinação do ângulo entre adireção de visada a um alvo e o Norte. O azimute deum alvo é obtido apontando-se a régua da bússolana direção do alvo (existe uma seta na régua paraesse propósito) e girando a rosa-dos-ventos da bús-sola até que o norte da rosa-dos-ventos esteja ali-nhado com a agulha imantada.

O valor que aparecerá indicado na rosa-dos-ven-tos é o azimute (magnético) do alvo. Para a obten-ção do azimute verdadeiro, é preciso compensar adeclinação magnética, somando a declinação mag-nética do valor indicado.

Por exemplo: a visada de um alvo indicou umazimute magnético de 125º. Para obter o azimuteverdadeiro, somamos o valor obtido à declinaçãomagnética (-19º do exemplo anterior): azimute ver-dadeiro = 125º + (-19º) = 106º.

Um fator muito importante a considerar quan-do utilizamos uma bússola é a interferência causa-da por objetos metálicos, aparelhos elétricos, ro-chas e outras anomalias locais. Mantenha-se afas-tado de qualquer uma dessas fontes de interferên-cia ao tomar azimutes.

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Navegando com mapa e bússolaPlanejando uma rota

Uma vez definidos um ponto de partida e um pontode destino, passamos a planejar o trajeto entre es-ses dois pontos. Iniciamos, então, uma análise dasinformações contidas no mapa, sobre a área entrenossa posição e o nosso objetivo.

Muitas vezes vamos descobrir que nosso pon-to de destino não é visível a partir do ponto departida ou em algum trecho ao longo da rota. Nessecaso, é necessário escolher um ou vários pontosintermediários que possam permitir umareavaliação segura do rota escolhida. Esses pon-tos devem, de preferência, ser acidentes geográ-ficos de fácil identificação e visíveis ao longo dotrajeto (cumes de montanhas, rochas salientes,encontro de rios, torres, pontes etc.).

Nossa rota passa, então, a ser dividida em pe-quenos trechos (também conhecidos como “pernas”)entre esses pontos de referência.

Para definir esse trajeto, é preciso avaliar o re-levo, a vegetação e a existência de rios, serras, tri-lhas, estradas etc. entre nossa posição e o ponto dedestino. É preciso ter em mente que nem sempre ocaminho mais curto é o mais rápido, e é preciso deci-dir entre atravessar ou contornar os obstáculos.

Em geral, as cristas dos morros apresentam umavegetação mais rala que os vales, facilitando a pro-gressão. Outra vantagem de caminhar pelos toposdos morros é ter uma melhor visão dos arredores,facilitando a navegação. A margem e o leito dos riospodem tanto facilitar a progressão como obrigar aequipe a transpor cachoeiras, penhascos e vegeta-ção cerrada, de forma que a decisão de progredirseguindo rios deve ser avaliada com cuidado.

Uma outra estratégia de progressão é procurarseguir ao longo de uma curva de nível, ou seja, evitarum sobe e desce que leva a um desgaste desnecessá-rio. No entanto, não vale a pena insistir nessa abor-dagem se a encosta se tornar muito escarpada.

Siga por trilhas e estradas preexistentes sem-pre que possível, mas lembre-se de que uma trilhaou estrada só é útil se ajudá-lo a ir na direção certa.

Não tenha receio de abandonar uma trilha se ela sedesviar muito da direção que você pretende seguir.

Determinando a posição de origem

Depois que um roteiro foi previamente definido apartir do estudo do mapa topográfico, o próximopasso da navegação é a identificação no terreno denossa posição de origem, comparando o mapa como terreno ao redor.

Primeiro, procuramos por referências mais ób-vias, como nomes de estradas, rios, cidades e povoa-dos. Depois, verificamos as características de nossaposição atual, se estamos ao lado de um rio ou deuma estrada, se estamos em um vale ou sobre umacrista montanhosa etc.

Caso não seja possível localizar nossa posição comessas referências, passamos a comparar o relevo aoredor com o que vemos no mapa, tentando identifi-car, pela forma das curvas de nível, uma ou mais fei-ções topográficas que possam ser reconhecidas. Podeser uma montanha escarpada, um vale profundo cor-tando uma serra ou qualquer outro acidente geográ-fico com uma forma bem característica.

Para facilitar esse exercício de comparação, oideal é buscar um local descampado que permita umaboa visão da paisagem ao redor (por exemplo, o topode alguma elevação). Depois, é necessário alinhar omapa com o terreno, de forma que o topo do mapaesteja apontado para o norte verdadeiro.

Para tanto, colocamos a bússola sobre o mapa,com a régua alinhada com as linhas verticais do mes-mo; compensamos a declinação magnética do local,subtraindo da direção norte (0º) o valor da declinaçãomagnética; graduamos a bússola com o valor encon-trado – utilizando o exemplo anterior, “DM” -19º, e agraduação ficaria = 0º - (-19º) = 19º.

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Giramos, então, o conjunto mapa e bússola (ob-servação: não mova a bússola em relação ao mapa)até que a agulha da bússola esteja sobre a posiçãonorte da rosa-dos-ventos. Tendo identificado nomapa (e no terreno) um acidente geográficomarcante, podemos utilizar o azimute desse “alvo”para identificar a nossa posição exata no mapa.

Uma vez obtido o azimute verdadeiro do alvo,colocamos a bússola sobre o mapa de forma que aborda da régua toque a posição do alvo no mapa.Giramos, então, a bússola até que as linhas na baseda cápsula fiquem paralelas às linhas verticais do mapa.Traçamos uma linha ao longo da régua. Nossa posi-ção estará em algum ponto ao longo dessa linha.

Se estamos ao lado de um rio, estrada ou cristamontanhosa, precisaremos de apenas uma tomadade azimute. É só identificarmos o ponto onde essalinha cruza a estrada, rio ou crista para descobrirnossa exata localização.

Por outro lado, se estamos totalmente desori-entados, precisamos de duas tomadas de azimute,de dois acidentes geográficos diferentes. Repetimoso mesmo procedimento descrito para os dois pon-tos, e o cruzamento das duas linhas indicará nossalocalização. Esse método é conhecido comotriangulação e, para garantir sua precisão, é impor-tante que os dois alvos tenham uma separação en-tre 60º e 120º um do outro.

Percorrendo uma rota

Com boa visibilidade, percorrer uma rota consisteapenas em seguir os trechos entre os pontos dereferência, conforme foi planejado anteriormen-te. No entanto, sempre é necessário fazer algumascorreções, já que é impossível avaliar todos os de-talhes do terreno a partir do mapa.

Navegação estimada

Quando, por algum motivo (vegetação densa, nebli-na, noite etc.), não temos como nos orientar visual-mente observando os acidentes geográficos ao re-dor, precisamos contar com a navegação estimada.Esse tipo de navegação consiste em se avaliar a dis-tância percorrida em cada direção a partir de um pon-to conhecido, para se ter uma idéia aproximada deonde se está a cada momento, ao longo de uma rota.

Avaliando distâncias

Em algumas situações, para avaliar a distância per-corrida, é suficiente medir o tempo de percurso emultiplicá-lo pela velocidade estimada de progres-são. Para utilizar essa técnica, você precisa avaliarpreviamente sua velocidade de progressão em di-versos terrenos e em diversas situações.

Uma outra técnica, mais precisa e muito mais tra-balhosa, é avaliar a distância a partir da contagem dospassos dados em cada direção. Também nesse caso énecessária uma avaliação prévia do “tamanho médio”de seus passos em vários terrenos e situações.

Uma conjugação das duas técnicas pode tambémser utilizada, estimando-se a velocidade de desloca-mento a partir da contagem dos passos por um certotempo, para em seguida medir as distâncias a partirdo tempo de percurso e a velocidade estimada.

Mantendo uma direção

Para manter o deslocamento em uma determinada di-reção, a maneira mais simples (e menos precisa) é sim-plesmente caminhar com a bússola na mão, corrigindoimediatamente qualquer desvio. Se mais precisão énecessária, é preciso se deslocar em “alças”, ou seja, umintegrante do grupo se desloca na frente, sendo orien-tado pelos outros (por meio de gritos, sinais etc.) sobre a

direção correta a seguir, a partir da visada da bússola.Quando esse integrante estiver perto do limite do con-tato visual com o resto do grupo, ele pára e todos osoutros se deslocam até ele. O processo é repetido suces-sivamente até que a equipe alcance o alvo desejado.

Sempre que houver oportunidade, verificamos anossa posição com os acidentes geográficos que apa-recerem ao longo do caminho. Por exemplo, podemoscontar e acompanhar no mapa os vales, as trilhas e asestradas que atravessamos ou tomar o azimute dealgum ponto conhecido que se torne visível.

Para contornar um grande obstáculo, escolhe-mos uma direção de 45º ou 90º em relação à direçãoinicial e, sempre avaliando a distância (contandopassos ou medindo o tempo), contornamos o obstá-culo e retomamos o rumo inicial.

Estradas, cercas, rios, linhas de transmissão etc.podem ser utilizados como um “corrimão”, ou seja, umalinha que nos conduza até um ponto de destino ou umponto intermediário. Por exemplo, queremos chegar aum ponto ao lado de uma estrada. Pelo mapa, verifica-mos que existe uma linha de alta tensão que cruza aestrada e que passa perto de nossa posição atual. Emvez de seguir diretamente para o ponto de destino atra-vessando terreno desconhecido, utilizamos a linha dealta tensão e a estrada como “corrimãos” que nos con-duzam com segurança até o destino escolhido.

Desvio intencional

Em algumas situações, quanto queremos chegar a umponto ao longo de uma estrada, trilha ou rio, corremoso risco de chegar até o “corrimão” e não saber paraque lado progredir. Nesses casos, cometemos um errointencional em nossa rota, desviando para um dos la-dos de forma a ter certeza da direção a prosseguirquando atingimos o corrimão.

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Navegando com o GPSUm GPS novo ou que tenha ficado muito tempo semuso estará com o almanaque desatualizado. As in-formações do almanaque são continuamente emiti-das por todos os satélites da constelação GPS e indi-cam ao receptor onde procurar cada satélite a qual-quer momento do dia.

Nessas situações, antes de utilizar o GPS, é ne-cessário deixá-lo em um local aberto e sem obstru-ções, para que ele possa rastrear o céu em busca desatélites. A recepção de sinais de apenas um satélitejá é suficiente para que ele receba o almanaque econheça a posição de todos os outros. Esse processopode levar de 10 minutos a meia hora. Alguns re-ceptores de GPS possuem um recurso que permiteque o usuário indique o país onde se encontra, o queacelera o processo de cálculo da posição pelo GPS.

Sistema de coordenadas

O primeiro ajuste a ser realizado no GPS é a escolhado sistema de coordenadas. Um ou outro sistemapode ser mais conveniente para cada aplicação. Osistema lat/long, por exemplo, é útil para a utiliza-ção embarcada. Já o sistema UTM é útil para aplica-ções em terra, principalmente se o GPS for utilizadoem conjunto com um mapa topográfico.

DatumMapa que consiste nos parâmetros do modelo ma-temático utilizado para representar a superfície daterra e embasar o cálculo de uma posição. Do pontode vista prático, o GPS pode fornecer informaçõessobre a posição de um ponto na superfície da terraem qualquer datum. Caso o GPS esteja sendo utiliza-do em conjunto com cartas topográficas, é impor-tante ajustar o GPS para utilizar o mesmo datum do

mapa ou, caso contrário, poderá haver erros entreas posições calculadas com o GPS e as indicadas nomapa. A informação sobre o datum pode ser encon-trada na legenda das cartas topográficas. A maioriadas cartas topográficas do Brasil utiliza o datumCórrego Alegre, enquanto o datum padrão do siste-ma GPS é o WGS 84.

Receptores GPS para navegação

O receptor de GPS é um auxílio à navegação, po-dendo ser utilizado durante todas as etapas doprocesso de navegação, conforme já descrito.

Posição

Obter uma posição com um receptor GPS é muitosimples: se o aparelho estiver com o almanaqueatualizado e em um local com visão livre do céu, aoser ligado ele automaticamente indicará a posição.Essa posição pode ser verificada no mapa, auxilian-do o processo de navegação.

Velocidade e direção de deslocamento

Se o receptor começar a se movimentar, ele indicarátambém a velocidade de deslocamento e a direçãopara onde está indo (como se fosse uma bússola). Éimportante lembrar, no entanto, que a indicação dedireção do GPS só pode ser utilizada com o aparelhoem movimento, e não é possível utilizá-la para aobtenção de azimutes.

A função go toAlguns receptores de GPS possuem a função goto, que é um poderoso auxílio à navegação. Ascoordenadas de um ponto de destino podem serinseridas no receptor, e, ao ser acionada a fun-ção go to, o receptor indicará a distância da po-sição atual do receptor ao ponto de destino, as-sim como a direção (em linha reta) para se che-gar a esse ponto.

RotasSe uma série de pontos for inserida no GPS, é possívelpercorrer uma rota, indo de ponto a ponto com autilização da função go to. Uma função interessanteem alguns modelos é o track back ou rota de retorno.

O receptor de GPS é um auxílio à navegação aérea,aquática ou terrestre. Uma série de pontos inserida noaparelho permite percorrer uma rota, indo de ponto aponto com a utilização da função “go to”

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Ao acionar essa função, o GPS automaticamente criauma rota de retorno para o ponto no qual foi inicial-mente acionado.

Cuidados

Os receptores de GPS estão sujeitos a erros devários tipos (ver anexo I). A utilização do GPS nãoé possível no interior de construções, cavernas oumesmo em vales profundos. Além disso, são apa-relhos eletrônicos, sensíveis à umidade e ao ca-lor. Como último cuidado, é bom lembrar que amaioria dos receptores de GPS consome muitaenergia, esgotando suas pilhas em apenas algu-mas horas de utilização.

Perdidos!

Qualquer um que tenha aprendido as técnicas bá-sicas de navegação nunca ficará totalmente per-dido em nenhuma situação. Em algum momento,poderá ficar “ligeiramente desorientado”, maslogo encontrará maneiras de determinar, ao me-nos parcialmente, sua posição. Se você começar adesconfiar de que está no caminho errado, procu-re tentar determinar sua posição por meio de qual-quer uma das técnicas já descritas. Se não for pos-sível, retorne até o último ponto onde o grupo te-nha certeza de conhecer sua posição e reavalie orumo a seguir. É sempre melhor parar e pensar doque andar na direção errada.

Na verdade as pessoas se perdem porque de-positam excessiva confiança em sua habilidade deencontrar “intuitivamente” o caminho certo, seguin-do resolutamente na direção errada por horas ehoras até que fique praticamente impossível encon-trar pontos de referência para se orientar.

Experiência própria

Apesar da simplicidade dos princípios básicos da na-vegação descritos neste texto, convém lembrar que anavegação não é apenas uma técnica. Navegar bemexige experiência, intuição, raciocínio espacial, instin-to, lógica, bom senso; habilidades que não se desen-volvem sem um considerável empenho pessoal.

Aproveite todas as oportunidades que se apre-sentarem para treinar suas habilidades de navega-dor. Desenvolva o hábito de conseguir mapas doslocais para onde você viaja e utilize as técnicas denavegação como se você não conhecesse o caminho.Aventure-se por caminhos que você nunca trilhouantes, utilizando o mapa e a bússola para identificarpossíveis rotas.

Um bom navegador se constrói com prática,com interesse, com curiosidade, no dia-a-dia dasatividades de campo. Pessoas que visitam ambi-entes naturais depositando confiança cega emguias ou condutores estão, na verdade, desperdi-çando a oportunidade de ganhar experiência e setornarem bons navegadores. Estão abrindo mãodo direito de ir e vir de maneira independente nosambientes selvagens, desistindo de conquistar acidadania completa da natureza.

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