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57 INFORMATIVO SÃO VICENTE Boletim de circulação interna da Província Brasileira da Congregação da Missão Ano XLIV - N o 284 Março Abril de 2011 Rua Cosme Velho, 241 22241-125 Rio de Janeiro - RJ Telefone: (21) 3235 2900 Fax: (21) 2556 1055 _______________________ E-mail: [email protected] [email protected] www.pbcm.com.br Equipe responsável pelo Informativo São Vicente - Pe. Vinícius Augusto R. Teixeira - Pe. Paulo Eustáquio Venuto - Pe. Gentil José Soares da Silva Revisão: - Pe. Lauro Palú Formatação e Impressão: - Cristina Vellaco - Equipe de Mecanografia do Colégio São Vicente de Paulo “O Evangelho torna-se efetivo através da caridade, que é gló- ria da Igreja e sinal da sua fide- lidade ao Senhor. Demonstra-o toda a história da vida consa- grada, que pode ser considera- da como uma exegese viva da palavra de Jesus: ‘Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes’ (Mt 25,40). Muitos Institutos, especialmen- te na idade moderna, nasceram precisamente para ir ao encon- tro das diversas necessidades dos pobres (...). A história da vi- da consagrada é rica, neste sen- tido, de exemplos maravilhosos, por vezes geniais (...). São Vi- cente de Paulo, por sua vez, gostava de dizer que, quando se tem de deixar a oração para ir prestar assistência a um pobre em necessidade, na realidade a oração não é interrompida, porque ‘se deixa Deus para ir estar com Deus’ (SV IX,319)” (João Paulo II. Vita Consecrata, n. 82).

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INFORMATIVO SÃO VICENTE Boletim de circulação interna da

Província Brasileira da Congregação da Missão

Ano XLIV - No 284

Março − Abril de 2011

Rua Cosme Velho, 241

22241-125 Rio de Janeiro - RJ

Telefone: (21) 3235 2900

Fax: (21) 2556 1055

_______________________

E-mail:

[email protected]

[email protected]

www.pbcm.com.br Equipe responsável pelo Informativo São Vicente - Pe. Vinícius Augusto R. Teixeira - Pe. Paulo Eustáquio Venuto - Pe. Gentil José Soares da Silva Revisão: - Pe. Lauro Palú Formatação e Impressão: - Cristina Vellaco - Equipe de Mecanografia do Colégio São Vicente de Paulo

“O Evangelho torna-se efetivo através da caridade, que é gló-ria da Igreja e sinal da sua fide-lidade ao Senhor. Demonstra-o toda a história da vida consa-grada, que pode ser considera-da como uma exegese viva da palavra de Jesus: ‘Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizestes’ (Mt 25,40). Muitos Institutos, especialmen-te na idade moderna, nasceram precisamente para ir ao encon-tro das diversas necessidades dos pobres (...). A história da vi-da consagrada é rica, neste sen-tido, de exemplos maravilhosos, por vezes geniais (...). São Vi-

cente de Paulo, por sua vez, gostava de dizer que, quando se tem de deixar a oração para ir prestar assistência a um pobre em necessidade, na realidade a oração não é interrompida, porque ‘se deixa Deus para ir estar com Deus’ (SV IX,319)” (João Paulo II. Vita Consecrata, n. 82).

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SumárioSumárioSumárioSumário

Editorial ........................................................................................ 59

Voz da Igreja ................................................................................ 61

Superior Geral ............................................................................. 63

Palavra do Visitador .................................................................... 77

Especial João Paulo II, testemunha e mestre da Família Vicentina.............................................................

79

Testemunho

Lembrança pessoal de João Paulo II.................. Dom Vicente Joaquim Zico, C. M.

88

Memória I José Comblin: o legado de um profeta................ Maria Clara Bingemer – Teóloga (PUC-RIO)

91

Memória II Resgatando ........................................................ Pe. José Debortoli, C. M.

94

Vida da Província

Formação Permanente para a Vida Comunitária..... Pe. Paulo Eustáquio Venuto, C. M.

99

Família Vicentina

Seminário sobre Santas Missões Populares Vicentinas............................................................ Pe. Marcus Alexandre Mendes de Andrade, C. M.

104

Notícias ......................................................................................... 107

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EditorialEditorialEditorialEditorial

O carisma vicentino se enraíza

na vida e na missão da Igreja, chamada

a manifestar a presença salvífica do seu

Senhor e a comprometer-se de modo

decisivo com a edificação do Reino.

Depois de 2.000 anos de caminhada,

desde as primeiras comunidades até os

nossos dias, é claro que o rosto da Igre-

ja se apresenta sulcado por muitas ru-

gas e manchas, resultantes, sobretudo, de seus limites e fraquezas, das in-

fidelidades de seus membros e das ambiguidades de suas instituições.

Mesmo assim, nós amamos a Igreja e, nela, reconhecemos a ação do Espíri-

to que sempre de novo revitaliza suas disposições para o cumprimento da

missão que o Senhor lhe confia a serviço da humanidade. É obra de Deus,

Corpo Místico de Cristo, Comunidade de seus seguidores, a partir da qual

somos enviados em missão. Como lembrou o Cardeal G. Danneels, por oca-

sião de sua recente despedida da Arquidiocese de Malines-Bruxelas, “mui-

to temos recebido de nossa mãe, a Igreja: a Escritura, os sacramentos, o

esplendor de sua liturgia, a ternura pastoral que nos envolve e, sobretudo,

inúmeros irmãos e irmãs na fé e, mais ainda, os santos e santas que nos

inspiram”.

Em tempos de crise, sem o olhar lúcido e esperançoso que a fé nos

proporciona, dificilmente conseguiríamos qualificar o nosso sentido de per-

tença à comunidade eclesial e empenhar nossas melhores energias no cul-

tivo dessa vinha plantada pelas mãos do Senhor, sempre passível de opor-

tunas recriações. Vicente de Paulo, verdadeiro vir eclesiae, não hesitava em

afirmar: “A Igreja é comparada a uma grande messe que necessita de ope-

rários, mas operários que trabalhem. Não há nada mais conforme ao Evan-

gelho do que reunir, por um lado, luz e forças para a alma na oração, na lei-

tura e na solidão e ir, em seguida, repartir este alimento espiritual com os

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outros. É fazer como Nosso Senhor fez e, depois dele, seus apóstolos (...). Eis

como devemos fazer e eis como devemos demonstrar a Deus, com nossas

obras, que nós o amamos. Todo o nosso empenho consiste na ação” (SV XI,

40-41).

Neste tempo santo da Páscoa, o Informativo São Vicente une-se es-

treitamente ao júbilo de toda a Igreja pela beatificação do Papa João Paulo

II, fazendo ecoar o apelo que norteou o seu pontificado e que ele agora nos

dirige do Céu: “Não tenhais medo! Abri as portas a Cristo. Abri os vossos

corações ao amor de Deus”. Recordamos agradecidos seu entranhado a-

mor ao Senhor e sua solidariedade para com os dramas e esperanças da

humanidade. Recolhemos, no depositário de nossas mais vívidas lembran-

ças, a profundidade de suas palavras, a largueza de seus gestos e a autenti-

cidade de sua vida inteiramente doada ao serviço da Igreja. Como mem-

bros da Família Vicentina, não podemos deixar de trazer à memória a pa-

ternal solicitude com que o bem-aventurado pontífice manifestava sua a-

feição e proximidade para conosco nos 26 anos de seu fecundo ministério

petrino, encorajando-nos a atualizar, com criatividade e audácia, nossa

missão junto aos Pobres.

Desejosos de fazer parte do número daqueles operários que traba-lham reta e eficazmente na messe do Senhor, segundo a recomendação de nosso fundador, tenhamos presente, hoje e todos os dias, o desafio lança-do por João Paulo II, por ocasião da Assembleia Geral da Congregação da Missão, no ano de 1986: “Voltemos nossa mente e nosso coração para São Vicente de Paulo, homem de ação e de oração, de organização e de imagi-nação, de comando e de humildade, homem de ontem e de hoje. Que aque-le camponês das Landes, convertido pela graça de Deus em gênio da cari-dade, ajude a todos nós a pôr mais uma vez as mãos no arado – sem olhar para trás – para o único trabalho que importa, o anúncio da Boa Nova aos Pobres”.

Pe. Vinícius Augusto Ribeiro Teixeira, C. M.

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Voz da IgrejaVoz da IgrejaVoz da IgrejaVoz da Igreja

Mensagem da CNBB por ocasião da beatificação do Papa João Paulo II

“Deus nos chamou à santidade” (1Ts 4, 7)

A Conferência Nacional dos Bispos do Bra-sil (CNBB) dirige-se aos católicos e a todas as pessoas de boa vontade para manifestar sua alegria e gratidão a Deus pela beatificação do Servo de Deus João Paulo II, no próximo dia primeiro de maio. O Papa João Paulo II amava muito o Brasil e visitou nosso País por três ve-zes. Entre nós, ele foi carinhosamente acolhido e aclamado como “João de Deus”.

A beatificação nos incentiva a aprofundar nossa vocação universal à santidade. Na sua primeira mensagem, ele con-vidou a todos: “abri as portas a Cristo Jesus!” Sua vida foi um testemunho eloquente de santidade, pela grande fé, pelo amor à Eucaristia, pela devo-ção filial a Maria e pela prática do perdão incondicional. A Palavra de Deus foi por ele intensamente vivida e anunciada aos mais diferentes povos. A espiritualidade da Cruz o acompanhou na experiência da orfandade e da pobreza, nas atrocidades da guerra e do regime comunista, mas principal-mente no atentado sofrido na Praça de São Pedro. De maneira serena e e-dificante, suportou as incompreensões e oposições, as limitações da idade avançada e da doença.

O mundo inteiro foi edificado pelo seu empenho em favor da vida, da família e da paz, dos direitos humanos, da ecologia, do ecumenismo e do diálogo com as religiões. Revelou-se um grande líder mundial, um verda-deiro “pai” da família humana. Pediu várias vezes perdão pelas falhas his-tóricas dos filhos da Igreja. Ele mesmo foi ao encontro do seu agressor, na prisão, oferecendo-lhe o perdão. Pela encíclica Dives in Misericordia e na instituição do “Domingo da Divina Misericórdia”, manifestou seu compro-misso com a reconciliação da humanidade.

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Foi um papa missionário. Numerosas viagens apostólicas marcaram seu pontificado e incentivaram, na Igreja, o ardor missionário e o diálogo com as culturas. No Grande Jubileu conclamou e encorajou a Igreja a entrar no terceiro milênio cristão, “lançando as redes em águas mais profundas”. Afirmou e promoveu a dignidade da mulher; ampliou o Ensino Social da I-greja e confirmou que a promoção humana é parte integrante da evangeli-zação. Valorizou os meios de comunicação social a serviço do Evangelho. A todos cativou pelo seu afeto e sensibilidade humana; crianças, jovens, po-bres, doentes, encarcerados e trabalhadores foram seus preferidos.

O Papa João Paulo II estimulou, especialmente, as vocações sacerdo-tais, religiosas e missionárias. Aos sacerdotes, dirigiu, todos os anos, na Quinta-Feira Santa, sua Mensagem pessoal. Leigos e consagrados foram va-lorizados e encorajados nos Sínodos a eles dedicados, para promover sua dignidade, vocação e missão na Igreja.

Convidamos, portanto, todo o povo a louvar e agradecer a Deus pela beatificação do Papa João Paulo II. “O Brasil precisa de santos”, proclamou ele na beatificação de Madre Paulina. Sensibilizados por essas palavras, confiamos à sua intercessão a santificação da Igreja e a paz no mundo. Fa-zemos votos de que seu testemunho e seus ensinamentos continuem a a-nimar a grande família dos povos na construção de uma convivência justa, solidária e fraterna, sinal do Reino de Deus, entre nós.

Brasília, na Solenidade da Anunciação do Senhor,

25 de março de 2011

Dom Geraldo Lyrio Rocha Arcebispo de Mariana Presidente da CNBB

Dom Luiz Soares Vieira Arcebispo de Manaus

Vice-Presidente da CNBB

Dom Dimas Lara Barbosa Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro

Secretário-Geral da CNBB

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Superior GSuperior GSuperior GSuperior Geeeeralralralral Circular 1 – Quaresma

Quarta-feira de Cinzas, 9 de março de 2011.

A todos os membros da Família Vicentina. Queridos irmãos e irmãs,

Que a graça e a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo encham seus cora-ções agora e sempre!

Escrevendo esta carta da Quaresma para 2011, estou muito consciente dos frutos do ano jubilar que celebramos pelo 350º aniversário da morte de São Vicente e Santa Luísa.

Espero que este ano nos permita apro-fundar nossa relação com Deus, nossas relações entre nós como Família Vicentina, e em particu-lar com os nossos Senhores e Mestres, os Po-bres.

Como é do nosso conhecimento, a Quares-ma é um tempo intenso para examinar nossas relações pessoais, na consciência de nossos limi-tes e de nossas faltas. Sobretudo, é um tempo para nos voltarmos para os outros, e com certe-

za para Deus, para curar nossas relações, a fim de que nossos corações possam ser novamente preenchidos e transbordantes de sua compaixão. Recentemente, participei de uma oficina que a Comunidade de Santo Egídio organizada a pedido dos Bispos e amigos de Santo Egídio. O funda-dor deste magnífico movimento leigo, Andrea Riccardi, abriu o encontro com um discurso que se dirigia a todos os participantes mas, sobretudo aos Bispos, como pastores da Igreja. Ele tomou o Papa João Paulo II como mo-delo para os Bispos. O ponto essencial de sua partilha foi o exemplo que

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João Paulo II dava como homem de encontros, especialmente em seus en-contros com Deus e com os Pobres. É interessante ver que os Bispos pre-sentes, em seus comentários, ficaram edificados por esta reflexão simples, porém profunda. Eu mesmo fiquei edificado, mas meditei sobre o fato de que, em si, não havia nada que já não soubéssemos. Isto é, que o próprio Jesus Cristo nos ensinou; e, como discípulos, somos chamados a imitá-lo em sua relação única com o Pai e também a imitar sua maneira de ir ao en-contro das pessoas marginalizadas da sociedade.

Certamente, nosso próprio fundador, São Vicente de Paulo, nos cha-ma a este encontro com Deus quando diz: "Dai-me um homem de oração e ele será capaz de tudo!”. Chama-nos a esta profunda relação com o Pai, como era a do próprio Jesus. São Vicente nos diz também que: “a verdadei-ra religião, nós a encontramos entre os Pobres”; em outras palavras, neste encontro profundo com Deus, fazemos igualmente a experiência do nosso encontro com os Pobres. E, como São Vicente no-lo afirma claramente, en-tre os Pobres encontramos nossa salvação. Enquanto membros da Família Vicentina, peço que examinemos o duplo aspecto desta relação com Deus e com os Pobres durante esta Quaresma.

Escutei recentemente uma canção bastante conhecida dos jovens de hoje, que exprime a necessidade última de recorrer a oração, especialmen-te quando olhamos ao nosso redor e vemos a imensidão de pessoas que sofrem. Existe também uma outra canção intitulada : “Born This Way”, em português, “Nascido assim”; de Lady Gaga, que é um hino para as pessoas marginalizadas. Lê-se numa das estrofes: “Mesmo que as deficiências da vida tenham te excluído, discriminado, ou importunado, alegra-te e ama-te hoje, porque nasceste assim”. Fico particularmente tocado por ver quantos jovens centralizam sua atenção, não em si mesmos, mas sobre as necessi-dades daquelas e daqueles que são pobres, como nós também observamos atentamente nosso mundo e todas as diferentes situações de sofrimento.

Dediquemos um tempo para aprofundar nossa relação com os Pobres. Gostaria de comentar sobre várias situações que observei, durante minhas visitas como Superior Geral, nos diferentes lugares onde a Família Vicenti-na realiza seu serviço e trabalha pela evangelização. O que me impressiona, como já disse em outras ocasiões, é que em cada sociedade existe um gru-po particular que se escolhe como “bode expiatório”. Estes são os mais desprezados, os excluídos de sua própria sociedade. Verifiquei isto em ca-da continente. Por ocasião de minha recente visita à Etiópia um Bispo, Dom

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Markos, nosso coirmão, falou-me de um grupo de pessoas que os Lazaris-tas e as Filhas da Caridade servem e que são considerados como os excluí-dos da sociedade etíope; há anos sofrem o desprezo e a discriminação, não somente daquelas e daqueles que com eles vivem dia a dia, mas constan-temente, também, das autoridades daquele país. Fiz esta experiência no Vietnã, na Índia, no Congo e mesmo nos países desenvolvidos, como aqui na Itália. Recentemente, a sociedade italiana inteira abriu os olhos sobre a horrível situação da enorme quantidade de ciganos que vivem na cidade de Roma em condições desumanas. Quatro crianças morreram queimadas por causa das condições miseráveis nas quais são obrigados a viver.

Durante uma celebração comemorativa que aconteceu em memória dessas quatro crianças, o Cardeal Vigário Agostino Vallini expressou-se for-temente em favor dos pobres e da necessidade de abrir os olhos sobre esta realidade, especialmente a dos imigrantes. Desafiou todas as pessoas pre-sentes a examinarem suas consciências, tanto pessoalmente como enquan-to comunidade cristã. Com certeza, muitas vezes, as pessoas imigrantes não querem deixar seu país de origem, mas o fazem para fugir da guerra, da fome, da violência a que estão submetidos, procuram desesperadamen-te viver em paz e na dignidade. Não há dúvidas de que a presença dos imi-grantes em toda sociedade cria novos problemas, cada vez mais comple-xos, e que não podemos avaliar de maneira simplista. Mas, como dizia o Cardeal, somos cristãos e não podemos não amar e não nos interessar pela vida daqueles que vivem na pobreza, considerados os menores de nossos irmãos e marginalizados por nossa sociedade.

O Cardeal afirmou que são a presença real de Jesus Cristo. Ouvindo is-to, pude imaginar claramente São Vicente dizendo a mesma coisa, a nós, membros da Família Vicentina: ver o Cristo nos pobres, e sobretudo entre os mais abandonados. Hoje, meus irmãos e irmãs, devemos enfrentar o de-safio de ver estes Pobres e responder-lhes: os sem abrigo, as crianças de rua, os prisioneiros, os imigrantes, as pessoas que sofrem com a desigual-dade de gênero, as mulheres que são submetidas a discriminação, as mu-lheres e crianças, por sua vez, vítimas do tráfico sexual e do trabalho, e as crianças soldados, um tema que gostaria de um dia desenvolver mais lon-gamente. É inacreditável como nossa sociedade utiliza jovens crianças para usar armas, fazendo-as lutar por pessoas que buscam unicamente seus in-teresses políticos e próprios desejos. O que estamos fazendo para defender a vida destes inocentes? É horrível vê-los carregar armas mais pesadas que eles e que podem matar outras pessoas tão inocentes quanto eles. Em sua

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homilia, o Cardeal acrescentou que diante de todas as formas de pobreza presentes nas cidades, sejam antigas ou novas, devemos nos ajoelhar e pedir perdão a Deus, e não somente a Deus mas também a todos os Pobres pelo que não fomos capazes de fazer por eles.

Muitas vezes, olhando a situação das pessoas marginalizadas, excluí-das, que já mencionei em cartas anteriores, sinto alegria no coração ao ver que os membros da Família Vicentina, de uma maneira ou de outra, aten-dendo suas necessidades, unem-se a eles com o amor que Deus colocou em seus corações pelos Pobres. Neste tempo de Quaresma, perguntemo-nos: estamos fazendo tudo o que podemos por aqueles que estão excluí-dos de nossa sociedade?

No Documento final da Assembleia Geral da Congregação da Missão, declaramos que “vendo o que o Senhor fez e que continua a fazer por nós, à maneira de São Vicente, gostaríamos de fazer e ser melhor para os Po-bres”. Isto não poderia ser um desafio para cada um de nós, membros da Família Vicentina, neste tempo de Quaresma fazer e ser melhor para os Pobres e com eles?

Peço também que voltemos toda a nossa atenção para os Pobres que estão em uma situação desesperadora, vítimas da violência durante as ma-nifestações em massa. Testemunhamos isto recentemente em toda a Áfri-ca do Norte: na Tunísia, na Argélia, Líbia e no Egito, para citar as situações mais evidentes. Os Pobres gritam para que suas necessidades sejam ouvi-das. Diante da surdez daqueles que são responsáveis para cuidar do bem comum, o sofrimento e a frustração aos quais se unem a fúria, não podem mais ser contidos e Deus fala “neste clamor irreprimível”. Como respon-demos e podemos responder a isso?

Encontramos, também, muitas vezes, os Pobres em outro lugar: nos conflitos que sobrevêm entre religiões, em particular quando a expressão dessas religiões se revestem do mais rudimentar fundamentalismo. Penso nas assim chamadas guerras “de religião” e sempre que, em nome de Deus, a violência e a destruição foram cometidas. Geralmente, isto é devi-do à incapacidade das pessoas envolvidas nesses conflitos de sentar e dia-logar abertamente, procurando soluções pacíficas, em vez de recorrer aos conflitos, à violência e à guerra.

Neste encontro proposto por Santo Egídio, tive a oportunidade de es-cutar um líder muçulmano que nos falava da importância não somente de

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viver em uma cultura de tolerância de uns para com os outros, mas da ne-cessidade de ir além, até a elaboração de uma cultura de aceitação, respei-tando-se uns aos outros pelo que somos, pela fé que expressamos, tentan-do obter uma compreensão clara de nossa própria fé e da dos outros. Isto deve ser feito de ambas as partes das situações de conflitos.

Trata-se de construir relações autênticas fundamentadas na confian-ça, que podem nascer no diálogo. Como discípulos de Jesus Cristo, neste tempo de Quaresma, somos chamados a refletir profundamente sobre as atitudes que muitas vezes nos dividem. A ignorância em si é uma das pri-meiras causas destas atitudes fundamentalistas com que, frequentemente, se buscam os próprios interesses em vez do bem comum de todos. Diante desta ignorância, o mundo cristão oferece uma solução: a educação. Este conferencista muçulmano dizia claramente que, lá onde os Cristãos ofere-cem uma boa educação humana alicerçada sobre valores, as relações entre os povos, tanto Muçulmanos como Cristãos, são bem melhores. A educa-ção é a chave e todos os que, no seio da Família Vicentina, estão implica-dos na educação devem refletir profundamente, em especial neste tempo de Quaresma, sobre este serviço que oferecemos, para ver se se trata de uma educação totalmente orientada para uma formação integral, uma for-mação que ajude as pessoas a construir valores, reunindo-as em relações de compreensão e de atenção mútuas.

Quanto à ignorância, é preciso também enfrentar um outro desafio, o do medo, que muitas vezes paralisa as pessoas, impedindo-as de sair de si mesmas para ir ao encontro dos outros e criar bons relacionamentos sadi-os e harmoniosos. A doação de Jesus Cristo, através de sua morte e ressur-reição, que está no cerne do que significa a Quaresma, dá-nos não so-mente um sinal, mas a graça e a coragem de sermos capazes de ultrapassar todo medo. É o amor de Deus por seu próprio Filho que pôde vencer a morte e destruir o medo paralisante, permitindo a seu Filho erguer-se den-tre os mortos para uma vida nova na Ressurreição. É este mesmo dom da ressurreição, este mesmo dom de amor de Deus que foi derramado em seu Filho e que é difundido sobre o mundo inteiro, que nos dá a coragem de avançar e construir autênticas relações.

Meus irmãos e irmãs permitam-me resumir meu propósito dizendo que o Senhor nos fala com veemência no clamor dos Pobres. Podemos fa-zer ainda mais? Podemos ser melhores? Examinemos nossas ações de soli-dariedade com aqueles que vivem na pobreza. Deixemo-nos renovar e se-

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jamos criativos para que as relações com aqueles que são pobres ganhem em profundidade, caminhando juntos para defender o que é justo e bom. Da mesma forma como somos chamados a ser um com os Pobres e a viver em solidariedade com toda a humanidade, trabalhando para construir um mundo de paz, somos chamados ao mesmo tempo para sermos um com Deus, que é a fonte de toda vida e de todo amor. Tenhamos consciência de que somos chamados a agir com justiça pela paz e pela integridade de toda a criação, impulsionados pelo que está no centro de nossa vocação vicenti-na: a caridade de Cristo crucificado. Que este dom que recebemos por nos-sa vocação vicentina, dom que é a expressão concreta do amor de Deus por cada um de nós, esteja no âmago daquilo que nos purifica, reconcilia e renova quando celebramos este tempo de Quaresma, que culmina no i-menso dom da vida nova que é a ressurreição de Jesus Cristo. Que o Ale-luia seja sempre nosso canto, pois somos um povo de Páscoa.

Seu Irmão em São Vicente, G. Gregory Gay, C. M.,

Superior Geral

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Circular 2 – Tempo Forte

28 de março de 2011

A todos os membros da Congregação da Missão

Circular do Tempo Forte (7-11 de março de 2011)

A graça e a paz de Nosso Senhor Jesus Cristo encham seus corações

agora e sempre!

1. Começamos a reunião de nosso tempo forte, estudando diversos temas que nos ocuparão nos próximos dois anos:

• A reunião de novos Visitadores projetada para 2012 e que ainda estamos planejando. Os coordenadores que escolhemos para 2012 são os Padres Claudio Santangelo e Stanislaw Zontak.

• A mudança nas visitas canônicas das Províncias durante os cinco anos desta administração.

• A atualização do catálogo “na internet”. O processo vai tomar-nos algum tempo, mas esperamos que esteja pronto para este ano.

• O Superior Geral apresentou um relatório do Pe. Jean Pierre Mongulu, da Província do Congo, que foi mandado para ajudar a Família Vicentina no Haiti para criar projetos para Zafén. O processo de desenvolvimento em Haiti é lento; entretanto, nossos esforços como Família Vicentina estão dando resultados, tanto em nível internacional como em nível local.

• A confecção da “Ratio” que queremos desenvolver para nossas paróquias. Estamos esperando as respostas das Províncias ao questionário que os Padres Eli Chaves e Stanislaw Zontak lhes enviaram para estudar a realidade dessas nossas obras.

2. Assuntos da Cúria

• Nomeamos um novo Diretor de Comunicações, o Pe. John Maher, da Província de Filadélfia. Estamos preparando seu curriculum vitae para enviá-lo aos Visitadores da Congregação. Não será apenas Diretor de Vincentiana e Nuntia, mas também o responsável por reformar a

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página cmglobal. Quero agradecer ao Pe. Julio Suescun tudo o que fez para melhorar as comunicações da Comunidade Vicentina em nível mundial. O Pe. Suescun volta à sua Província de origem, Saragoça, no começo de abril.

• Um relatório do Vigário Geral que é membro da Comissão dos Estatutos. Neste momento, os Estatutos já estão redigidos em italiano, sua língua original. A equipe previu uma reunião, depois da qual o texto será traduzido para as distintas línguas.

• Atividades do Secretariado Internacional de Estudos Vicentinos: por proposta de um de seus membros, Pe. Eugene Curran, haverá uma sessão de formação sobre Espiritualidade Vicentina e História, dirigida a nossos pesquisadores. Esperamos que aconteça em 2012. Será oferecida em duas sessões distintas, uma em cada semestre.

• Formação: Atendendo ao mandato da Assembleia Geral, formamos uma Comissão para a criação de uma nova Ratio Formationis. Os membros desta Comissão são os Padres Orlando Escobar (Província da Colômbia), coordenador; Jerry Luttenberger (Província Oriental dos Estados Unidos); Joy Thurutel (Província do sul da Índia); Negasi Ghirmazion (Província de São Justino de Jacobis); Robert Petrovsek (Província da Eslovênia) e Jan Martincek (Vice-Província dos Santos Cirilo e Metódio). A primeira reunião será dia 4 de junho. Serão acompanhados pelo Assistente responsável pela Formação Inicial e Contínua, Pe. Stanislaw Zontak.

• Vários membros do Conselho Geral estão participando de cursos de formação contínua oferecidos pelos Claretianos, em conjunto com a União de Superiores Gerais para ajudar os membros de Conselhos Gerais a estudarem sua função. O Pe. Javier Álvarez participou de uma "oficina" nos dias 12 e 13 de março, em que se estudou o tema dos Coirmãos em situações difíceis.

• Relatório do Coordenador da Comissão sobre o Islã, Pe. Claudio Santangelo. Está sendo preparada uma "oficina" para agosto deste ano, na Indonésia, aberta a todos os membros da Família Vicentina. Tratará sobre a relação entre Cristãos e Muçulmanos. Animo todos os Visitadores a considerar a possibilidade de Coirmãos de sua Província participarem desta importante sessão que interessa não só as Províncias já com áreas de grandes populações de muçulmanos, mas

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também as em que a população muçulmana está aumentando, como sucede na Europa Ocidental.

• Nomeamos um novo administrador da Cúria Geral, para substituir o Pe. Mario Grossi. É o Pe. Giuseppe Carulli, da Província de Nápoles. Aproveito esta oportunidade para agradecer muito especialmente ao Pe. Mario Grossi por seu serviço tão generoso. Ficará conosco na Cúria até o fim de junho, antes de voltar à sua Província de origem, Turim.

3. Um relatório da equipe da Central de Solidariedade Vicentina. O Diretor, Pe. Miles Heinen, e seus ajudantes, o Sr. Scott Fina e a Srta. Teresa Niedda, vieram apresentar-se e informar-nos sobre os distintos projetos com que cada um se ocupa. Ajudaram-nos a conseguir fundos financeiros para nosso projeto Zafén e estão cuidando, com muito entusiasmo, do desenvolvimento de nosso Fundo Patrimonial e também dos contatos com as diversas agências, quando as Províncias nos apresentam seus projetos.

4. O Pe. John Gouldrick nos apresentou seu último relatório econômico. Estava com ele o novo Ecônomo Geral, Pe. Joseph Gedders. Fizemos um primeiro esboço da distribuição do Fundo de Missões e revisamos o orçamento das obras da Congregação da Missão. Foram aprovados vários orçamentos de distintas missões internacionais e de comunidades locais. Aproveito esta oportunidade para agradecer ao Pe. John Gouldrick por seu serviço como Ecônomo Geral durante estes quatro anos. Ele volta à sua Província de origem, a Província Oriental dos Estados Unidos.

5. O Pe. Eli Chaves dos Santos, Assistente para a Família Vicentina, nos apresentou seu relatório. O Pe. Eli forma uma equipe com o Pe. Juventino Castillero e a Irmã Ana Aparecida. Apresentou um plano de atividades. Um dos principais pontos de interesse de seu projeto para a Família Vicentina consiste em que todos os membros do Conselho Geral promovam as relações da Congregação da Missão com os outros Ramos da Família Vicentina.

Refletimos detidamente sobre o Documento Final da Assembleia Geral sobre a escuta cuidadosa dos membros da Família Vicentina que nos pedem que os ajudemos a melhorar sua liderança e a aprofundar sua formação na espiritualidade vicentina. A nova equipe da Família Vicentina está interessada em trabalhar junto com os responsáveis da página internet famvin.org. Ofereceram-se para promover o projeto de líderes vicentinos

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que o Superior Geral criou com membros dos vários Ramos da Família Vicentina.

6. O Pe. John Freund, da página internet, começou a desenvolver um plano que coincide com as Linhas de Ação do Documento da Assembleia Geral. Vocês logo receberão do Superior Geral outra comunicação sobre como implementar caminhos para distintos projetos como, por exemplo, para a formação inicial e contínua ou para a melhora da comunicação em todos os níveis.

7. O representante nas Nações Unidas, Pe. Joseph Foley, destacou, em seu relatório, três áreas: a Comissão para o Desenvolvimento Social, a Semana para a Harmonia das Religiões no Mundo e o trabalho do Comitê da Organização-Não-Governamental sobre o trabalho nas Minerações. Apresento-lhes um breve resumo:

• O representante permanente para a Comissão do Desenvolvimento Social sublinhou a necessidade de se criar um desenvolvimento centrado na pessoa humana. Pretende-se alcançar a justiça através da inclusão social, da equidade e da participação do povo. Estes são os novos paradigmas do desenvolvimento.

• A primeira semana de fevereiro de cada ano é conhecida como Semana da Harmonia do Mundo e intenta animar os governos a promovê-la entre todos os povos, sem levar em conta sua pertença religiosa. Um dos temas discutidos foi a importância de enfraquecer o impacto dos extremistas e reforçar as tradições religiosas autênticas e moderadas. Cerca de 87% da população do mundo pertencem a alguma comunidade religiosa. A religião é a segunda maior infraestrutura do mundo.

• A Organização-Não-Governamental do grupo de trabalhadores em mineração: a Comissão para um Desenvolvimento Sustentável, embora a riqueza produzida pelas minas seja necessária para a vida humana e os trabalhadores das minerações precisem dos postos de trabalho, evidenciou que as práticas das empresas mineradoras manifestam muito pouco interesse pelas pessoas e pelo meio ambiente. Na maior parte do mundo, os conflitos entre as corporações e as comunidades locais, especialmente as que vivem em terras indígenas, se resolvem por meio de violência e chantagem. Este Comitê pretende ajudar a minorar o impacto da exploração das minas sobre o ambiente, a

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economia, a saúde das pessoas e sobre toda a sociedade.

O Pe. Foley pergunta se há Coirmãos que trabalham no mundo do desenvolvimento, no diálogo inter-religioso ou no campo das minerações. Gostaria de saber quais são para poder trabalhar com eles.

8. Os Diretores do Centro Internacional de Formação (CIF), de Paris, Padres Marcelo Manimtim e José Carlos Fonsatti, apresentaram seu relatório:

• Para tentar diminuir o custo e, ao mesmo tempo, intensificar o trabalho das sessões de formação continua, reduziram as sessões, por agora de forma experimental, de três para dois meses.

• Além da sessão de dois meses, este ano haverá uma de um mês sobre o legado ou a herança vicentina, dedicada a Coirmãos de mais idade, na qual não haverá tanta ênfase nas conferências, mas na troca de experiências, já que os Coirmãos mais vividos têm uma riqueza maior neste campo.

• O programa especial deste ano é sobre a Liderança, pensada para superiores locais ou para futuros superiores.

• Nos próximos anos, esperam oferecer outras sessões sobre formação, missões populares, uma especial para a Europa Oriental e outros assuntos, sobretudo os relacionados com a Família Vicentina.

• Neste momento, peço a todos os Coirmãos que leem esta circular, se têm temas de particular interesse que deveriam ser tratados em sessões do CIF e que não estejam sendo tratados pelas Conferências de Visitadores e/ou pelas Províncias em seus programas de formação permanente, que se ponham em contato com os diretores do CIF e lhes digam, ou o façam indiretamente por meio da Cúria, dirigindo-se ao Pe. Stanislaw Zontak, que é nossa ligação com a equipe do CIF em Paris.

• O Superior Geral a vocês enviou uma carta, faz alguns meses, pedindo doações para bolsas de estudo. Esperamos que as Províncias vejam nossa formação permanente como parte essencial do que somos, como o disse claramente o Documento Final da Assembleia Geral, e pedimos que continuem sendo generosos em apoiar os Coirmãos que vêm de países em desenvolvimento, que dificilmente podem pagar os gastos de viagem e hospedagem nesta parte do mundo ocidental.

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9. Informações recebidas das Conferências de Visitadores e/ou das Províncias.

• A Assembleia da Conferência Europeia de Visitadores da Missão se reunirá em Celje, na Eslovênia, de 2 a 6 de maio. Uma parte das sessões se concentrará na formação contínua, na renovação da Ratio Formationis, na reconfiguração e no Documento Final da Assembleia Geral. Por parte da Cúria, participarão os Padres Stanislaw Zontak e Javier Álvarez.

• A Conferência Latino-Americana de Províncias Vicentinas nos enviou um relatório da sessão sobre Espiritualidade Vicentina, que se realizou em Curitiba, de 16 de janeiro a 11 de fevereiro. Participaram 11 Coirmãos de distintas Províncias de América Latina.

• A Conferência dos Visitadores da África e de Madagascar discutiu principalmente a nova missão no Tchad, que começará no próximo domingo de Páscoa, com dois Coirmãos da Vice-Província da Nigéria e outro da Província de Paris (Camarões).

• O relatório da Conferência de Visitadores da Ásia e do Pacífico incluiu a agenda de sua reunião anual de 14 a 18 de março. Participou dessa reunião o Pe. Varghese Thottamkara, Assistente Geral. Contou com a participação não só das Províncias da Ásia e do Pacífico, mas também do Superior Regional do Vietnã e dos representantes das Ilhas Salomão e de Papua-Nova Guiné. A reunião se realizou em Manila, nas Filipinas.

10. Com relação a nossas missões internacionais:

• Alegro-me em poder anunciar um novo missionário para El Alto, Bolívia. É o Pe. Emilio Torres, da Província do Peru, que chegou à missão dia 1º de março para juntar-se aos outros três membros, os Padres Cyrille de Nanteuil (Paris), Diego Plá (Madri) e Aidan Rooney (Oriental dos Estados Unidos), superior da missão.

• Fomos informados de que o Pe. Jorge Manrique (Província do Chile) se unirá em Cochabamba, Bolívia, à equipe dos Padres David Paniagua (Chile) e Joel Vásquez (Colômbia), superior.

• O Pe. Greg Walsh (da Província da Austrália) nos mantém regularmente informados sobre a missão das Ilhas Salomão, de que é o superior. Essa comunidade é formada pelos Padres Victor Bieler

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(Indonésia), Flaviano Caintic (Filipinas), Ivica Gregurec (Eslovênia) e Augustinus Marsup (Indonésia). A eles, se uniram o Pe. Raúl Castro, da Província da Argentina, e o Pe. Twolde Teclemichael, da Província de São Justino de Jacobis. Atualmente, o Pe. Simon Kaipuram, da Província Norte da Índia, está ensinando Sagrada Escritura durante dois meses e meio. Outro Coirmão da Vice-Província de Nigéria, Pe. Joachin Nwaorgu, será o próximo a chegar à missão junto com o Pe. Agus Setyono, da Província da Indonésia, que está atualmente aprendendo inglês na Austrália. Aproveito esta oportunidade para agradecer ao Pe. Drago Ocvirk, da Província da Eslovênia, por ir regularmente lecionar nas Ilhas Salomão, além de trabalhar para conseguir fundos com que manter a missão.

• Papua-Nova Guiné: recebemos um relatório do Pe. Homero Marín (Colômbia), superior da missão, que trabalha com o Pe. Justin Eke (Nigéria) e o Pe. Vladimir Malota (Polônia). Outros dois Coirmãos estão esperando seus vistos: os Padres Emmanuel La Paz (Filipinas) e Georges Maylaa (Oriente). Finalmente, ainda chegará outro Coirmão da Vice-Província da Nigéria, o Pe. Jude Lemeh.

• O Superior Geral e seu Conselho abriram nova missão internacional em Túnis, capital da Tunísia, por enquanto de forma experimental. Em setembro, dois Coirmãos irão começar essa missão: o Pe. Firmin Mola, congolês da Província de Tolosa, que atualmente trabalha na Argélia, e o Irmão Henry Escurel, da Província das Filipinas. Hoje, a missão está sendo atendida pelo Pe. Jordi Llambrich, da Província de Tolosa. Este ajudará a passar à nova equipe a experiência de apostolado num país tão integrado na herança vicentina. A catedral de Túnis é dedicada a São Vicente de Paulo. Na visita que fiz a essa catedral, vi em sua abóbada um quadro de São Vicente no céu, com Missionários à sua esquerda e Filhas da Caridade à sua direita, servindo aos escravos de Túnis.

11. Mais notícias das missões:

• O Pe. Sedy Rabarijaona, de Madagascar, se apresentou recentemente como voluntário para ir à Província de Porto Rico ajudar a população de Haiti.

• Recebemos uma carta do Arcebispo de Astana, no Cazaquistão, Dom Tomash Peta, pedindo missionários.

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• Também estudamos o oferecimento de dois Coirmãos que se apresentaram como voluntários para as missões.

12. Revisamos nosso calendário até o próximo tempo forte. Brevemente,

menciono aqui os compromissos do Superior Geral:

• Em março, reunião com a Conferência de Visitadores dos Estados Unidos, dias 29 e 30;

• Em abril, visita às missões internacionais da Bolívia: El Alto e Cochabamba, de 8 a 15;

• A Semana Santa numa cidade do sudoeste de Missouri, nos Estados Unidos, com a comunidade latino-americana, de 17 a 24;

• Visita à Vice-Província dos Santos Cirilo e Metódio, em Ucrânia, Bielorrússia e Sibéria, de 28 de abril a 15 de maio;

• Formação contínua com as Filhas da Caridade, em Paris, de 19 a 21 de abril;

• Visita à nova missão da COVIAM no Tchad e à comunidade das Filhas da Caridade e também aos Coirmãos da África Central, de 23 a 30 de maio;

• Reunião do tempo forte, de 6 a 10 de junho;

• Beatificação da Irmã Margarida Rutan, em Dax, França, de 18 a 20 de junho.

Concluo esta circular, pedindo a solidariedade de todos em relação às diversas situações de inquietação e destruição, causadas pelas pessoas ou por desastres naturais no Norte de África, principalmente no Egito e na Líbia, e pelo terremoto-maremoto somado ao desastre nuclear no Japão, que já provocou tantas vítimas. Como membros da Congregação da Missão, tentamos atender às necessidades dos mais vulneráveis. Aproveito esta oportunidade para desejar a todos vocês uma frutuosa Quaresma e um tempo pascal cheio de vida.

Seu irmão em São Vicente,

G. Gregory Gay, C. M. Superior Geral

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Palavra do VisitPalavra do VisitPalavra do VisitPalavra do Visitaaaadordordordor Evangelizar primeiramente as pessoas de casa

Através de breves relatos bíblicos, desejamos fazer uma ressonância

do encontro que tivemos na Casa do Engenho, nos dias 13 e 14 de abril de

2011, sobre o tema: “Gestão de Pessoas e Facilitação da Vida Fraterna em

Comunidade”.

1) Certa vez, o patriarca Jacó chamou seu filho José e lhe disse: “Vá

ver como estão seus irmãos” (Gn 37,14). O jovem partiu. “Um homem en-

controu José que andava errante pelos campos e lhe perguntou: O que você

está procurando? José respondeu: Procuro meus irmãos. Por favor, diga-

me: onde eles estão apascentando os rebanhos?” (Gn 37, 15-16).

2) Certa vez, Jesus vendo dois jovens curiosos, convidou-os para ver

onde morava: “Venham e vocês verão. Eles foram e viram onde Jesus mo-

rava e começaram a viver com ele naquele mesmo dia” (Jo 1, 39). Noutra

ocasião, Jesus disse não só aos dois, mas aos Doze: “Vão primeiro às ove-

lhas perdidas de Israel” (Mt 10, 6). Neste primeiro envio, os apóstolos fo-

ram designados para evangelizar as pessoas de casa. Na visão de Jesus, são

elas as primeiras destinatárias da missão. O apostolado com elas vem em

primeiro lugar. É uma exigência do amor concreto.

3) Sabemos que a Congregação da Missão é uma sociedade de vida

apostólica. Em qualquer casa ou obra onde estivermos, estamos em mis-

são. Aí nos esforçamos para viver ou continuar vivendo o nosso carisma de

evangelização dos Pobres. Este impulso missionário nos leva a pensar, de

imediato, nas pessoas de fora como destinatárias privilegiadas da missão. É

provável que nem paramos para refletir em profundidade que as pessoas

de casa devem também estar incluídas.

4) Olhando para o exemplo de Jacó e de Jesus, vemos dois envios,

ambos priorizando as pessoas de casa. Hoje, podem servir de referência

para nós. Por isso, ousamos afirmar que nossa missão começa em casa,

com as pessoas mais próximas, nossos Coirmãos, com os quais dividimos o

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mesmo teto. Aí está um campo de apostolado urgente, necessário e essen-

cial. Decorre da essência do amor concreto e mais verdadeiro. A prática

desse amor é exigente. Ela requer paciência, tolerância, criatividade, espíri-

to de esperança e fé. Vendo a nós mesmos e as Casas onde moramos, sob

o aspecto de nossos relacionamentos, sentimos que a vida fraterna em

comunidade depende de conversão permanente.

5) Em nossa casa, está o primeiro campo de apostolado: evangelizar e

servir ou evangelizar servindo os Coirmãos, companheiros de comunidade.

Daí nascem o fervor e a mística na missão junto dos Pobres. Para sermos

bons evangelizadores em casa, com certeza, precisamos de mais habilidade

e competência do que na missão com as pessoas de fora. O apelo evangéli-

co para vermos Cristo nos Pobres pressupõe vermos Cristo também nas

pessoas de casa. Eis aí um considerável desafio.

6) Ao admitirmos que em nossa Comunidade (Casa) se encontra o

primeiro campo de apostolado, concluímos que podemos ser fiéis ao nosso

carisma missionário, mesmo quando já estivermos idosos ou enfermos. A

evangelização na Comunidade acontece mais pela qualidade de nossa pre-

sença e de nossos relacionamentos do que propriamente por citações bí-

blicas ou espirituais. Haja vista o exemplo de Jesus enquanto caminhava

com os discípulos de Emaús: eles reconheceram o Ressuscitado somente

no final de um relacionamento dialogante (cf. Lc 24, 13-35).

Concluindo esta reflexão, propomos alguns pontos para aprofunda-

mento pessoal ou comunitário:

a) Tomar consciência de nossas dificuldades e possibilidades para o exercí-

cio do apostolado em casa. Conversar sobre este assunto em nossas reuni-

ões. Esta dinâmica, com espírito desarmado, pode facilitar enormemente

nossos relacionamentos comunitários.

b) Que elementos inspiradores podemos encontrar na atitude de Jacó ao

chamar e enviar José para ir ver seus irmãos e no gesto de Jesus ao chamar

e enviar os Doze para evangelizar primeiro as ovelhas perdidas da casa de

Israel?

Pe. Geraldo Ferreira Barbosa, C. M.,

Visitador Provincial

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EEEEspecialspecialspecialspecial João Paulo II, testemunha e mestre da Família Vicentina*

A recente beatificação do Papa João Paulo II nos oferece a feliz oportunidade de rememorar sua

paternal solicitude para com a Família Vicentina, particularmente para com a Congregação da

Missão e a Companhia das Filhas da Caridade. É o que fazemos, servindo-nos deste artigo do Pe.

Florentino Meneses, C. M., publicado por ocasião do falecimento do bem-aventurado pontífice,

no ano de 2005. O texto original foi amplamente modificado pela redação do Informativo São

Vicente.

O Vigário de Cristo, seja qual for o seu nome e a época em que exerça

essa função, é, por direito próprio, testemunha e mestre da Igreja univer-

sal. Isso, que é certo para toda a Igreja de Cristo, é igualmente aplicável a

essa pequena parcela da mesma Igreja que chamamos Família Vicentina.

Desde a fundação, tanto a Congregação da Missão quanto a Companhia

das Filhas da Caridade estiveram conscientes de sua condição eclesial, que

as vincula estreitamente aos Sumos Pontífices, aos quais, “em razão do vo-

to de obediência, estamos obrigados a obedecer” (CC 38). Nas linhas que

seguem, veremos como a família espiritual e missionária de São Vicente e

de Santa Luísa pôde se beneficiar da fecundidade do ministério petrino e-

* Publicado em: Anales de la Congregación de la Misión y de las Hijas de la Caridad. Madrid, n.3, tomo 113, p. 255-272, mayo-junio 2005.

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xercido pelo Papa João Paulo II, hoje bem-aventurado, ao longo de mais de

um quarto de século.

1. O Papa Wojtyla e as Assembleias Gerais da C. M.

João Paulo II exerceu seu carisma de testemunha e mestre da Igreja

universal para com a Congregação da Missão, em diversas ocasiões, mas,

sobretudo, nos momentos mais solenes e nas convocatórias mais decisivas,

como em suas Assembleias Gerais. Durante o longo pontificado do Papa

Wojtyla, a Congregação da Missão convocou 5 Assembleias Gerais. Nelas, o

Papa se fez presente, algumas vezes, fisicamente, mediante alocução dire-

ta; outras, por meio de uma carta da Secretaria de Estado, e também atra-

vés de uma mensagem escrita, como aconteceu na de 2004. Em todas es-

sas ocasiões, sempre exortou a Congregação a manter sua fidelidade ao ri-

co patrimônio vicentino, ressaltando, em cada uma de suas intervenções, o

tema proposto para ser estudado e aprofundado na Assembleia em ques-

tão. Assim, por exemplo, aos participantes da 36ª Assembléia, celebrada

em julho de 1980, dirigiu-se com estas palavras: “Sei que os campos de vos-

so apostolado são múltiplos: as missões antes de tudo, no sentido mais

amplo da palavra, tal como as entedia vosso grande Vicente de Paulo; de-

pois, a direção e o ensino nos seminários, a direção das Filhas da Caridade e

das Voluntárias, os exercícios espirituais ao clero e aos leigos”.

Na Assembleia seguinte, a 37ª, depois de reconhecer com alegria que

o “surpreendeu a vontade unânime de avançar juntos em três direções

principais: o compromisso mais claro com o serviço dos Pobres, a vida co-

munitária e a formação para a missão”, João Paulo II se deteve brevemen-

te em cada uma dessas direções, refletindo mais profundamente sobre o

seu significado e alcance. Assim, pode recomendar “audácia, humildade e

competência” no serviço dos Pobres, acrescentando: “buscai as causas da

pobreza e estimulai as soluções a curto e longo prazo; soluções concretas,

flexíveis, eficazes. Sem esperar mais, vivei ao lado dos Pobres e atuai de

modo que jamais se vejam privados da Boa Nova de Jesus Cristo”. Para re-

lançar a vida comunitária na Missão, acudia a este fato concreto e atual:

“As novas comunidades que surgem, em todas as partes, são o sinal de

uma necessidade comunitária ardente em uma sociedade facilmente anô-

81

nima e fria”. E, finalmente, ao falar da terceira direção temática daquela

Assembléia, recomendava: “apoio sem reservas aos projetos que estudais

para dar aos futuros Padres e Irmãos da Congregação da Missão uma for-

mação espiritual, doutrinal e pastoral profunda, sólida e adaptada às ne-

cessidades de nosso tempo”.

À Assembléia Geral de 1998, dirigia-se o Papa, por meio de uma carta

de sua Secretaria de Estado, na qual, depois de “agradecer ao Senhor as

inúmeras graças concedidas à Igreja e ao mundo por meio dos filhos de São

Vicente de Paulo, pedia à Congregação da Missão que vivesse, “cada vez

com mais ardor, o carisma de seu fundador, sendo um significativo agente

da nova evangelização a que a Igreja é chamada”, assegurando-nos de que

aí estaria a garantia de um futuro tão ilustre como fora o passado de nossa

Comunidade.

A 18 de julho de 2004, o Papa João Paulo II deixava à Pequena Com-

panhia, reunida em Roma para a celebração de sua 40º Assembléia Geral,

sua última mensagem escrita. Refletindo sobre nossa identidade, escrevia

o Pontífice: “Quatro séculos depois de vossa fundação, a tarefa de levar a

boa nova aos Pobres é mais urgente do que nunca. Não só para os milhões

de pessoas que carecem do necessário para viver, mas também para o

mundo moderno afligido por muitas outras formas de pobreza... Vossa

Congregação está chamada a explorar novos caminhos para levar a men-

sagem libertadora do Evangelho a nossos irmãos e irmãs que sofrem”. E,

falando da formação do clero, sinalizava que não se pode subestimar a im-

portância desse apostolado, razão pela qual alentava-nos a continuar com

essa missão vital nos próximos anos. “Tendes uma grande história a cum-

prir”, concluía. “Avançai para águas mais profundas! Não tenhais medo de

aventurar, de lançar as redes. O Senhor mesmo será vosso guia!”.

2. João Paulo II nas Assembleias Gerais das Filhas da Caridade

Assim como em relação à Congregação da Missão, o magistério de Jo-

ão Paulo II em favor da Companhia das Filhas da Caridade aproveitou tam-

bém a celebração dos acontecimentos institucionais e solenes da Comuni-

dade para fazer-se presente nela. Cinco foram as Assembleias Gerais da

Companhia durante o ministério petrino de Karol Wojtyla.

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Na Assembleia Geral de 1979, assistida por 174 Irmãs, depois de evo-

car “os Fundadores, tão unidos em sua paixão evangélica por servir aos Po-

bres”, João Paulo II disse às assembleístas: “O calor da caridade é, sem dú-

vida, o que mais necessitam os humanos, hoje e sempre... Na época dos

computadores, sabemos o número exato de analfabetos, de menores a-

bandonados, de desnutridos, de cegos, de inválidos, de lares desfeitos, de

presos, de marginalizados, de prostitutas, de desempregados, de pessoas

que vivem nas favelas do mundo inteiro? Não tenhais olhos e corações se-

não para os Pobres... Amai não só aos Pobres, amai também vossa própria

pobreza, o ser vós mesmas pobres em espírito e de fato”. Alguns dias mais

tarde, uma carta da Secretaria de Estado agradecia a generosidade da

Companhia por seu donativo em favor das missões pobres, como expres-

são de que “continua servindo a Cristo naqueles que são vítimas da pobreza

sob todas as suas formas”.

A 20 de junho de 1985, João Paulo II concedia uma audiência privada à

Assembleia da Companhia desse ano. Resumindo ao máximo os temas nela

desenvolvidos, o Papa exortava às Irmãs, pronunciando esta frase que já se

fez lapidar: “Contra ventos e marés, conservem sua identidade”. E, deten-

do-se no “totalmente entregues a Deus para o serviço dos Pobres”, comen-

tava: “O serviço não é como um segundo tempo da consagração. Está já

presente nela”. Seria possível compreender essa consagração, fazendo abs-

tração do serviço dos Pobres? E este não resultaria falseado e até não mu-

daria seu ser se estivesse separado da consagração? Por isso, sublinha, em

seguida, a importância da oração: “É certo, filhas minhas, que uma Filha da

Caridade não pode viver se não faz oração”. E precisava: “Ação e oração

distintas e, entretanto, unificadas no pensamento vicentino, se vêem favo-

recidas por uma vida comunitária digna desse nome”. Ao final, lançava esse

desejo eclesial: “Irmãs, façam o impossível para ir aos mais pobres. São tão

numerosos hoje...”.

A Assembleia de 1991 se caracterizou, sobretudo, pela eleição de uma

superiora geral não francesa. Era a primeira vez que isso acontecia na tri-

centenária história da Companhia. O Papa quis destacá-lo claramente em

sua alocução de 27 de maio, ao dirigir-se a Irmã Juana Elizondo: “As Superi-

83

oras Gerais que a precederam eram procedentes da terra de França, como

São Vicente de Paulo e Santa Luísa de Marillac. As raízes familiares de vo-

cês chegaram ao outro lado dos Pirineus. Sua eleição ilumina com uma no-

va luz o caráter internacional da Companhia”. Feita essa respeitosa sauda-

ção, João Paulo II se pôs a comentar alguns aspectos do tema da Assem-

bleia: Como ser, no mundo e para o mundo de hoje, autênticas Filhas da

Caridade. Dirá, então: “Eu vos exorto, mais do que nunca, a partilhar a mi-

séria do mundo contemporâneo, pois fostes fundadas unicamente para ser-

vir ao mundo dos deserdados, dos pequenos”. E, aludindo à contemplação

diária de Cristo como fonte vivificadora de seu serviço aos Pobres, insistia

“na contemplação que vos inspira também a busca de um serviço eficaz”. E

terminava: “Em nome de Cristo e da Igreja, atrevo-me a mobilizar-vos de

novo em favor do mundo imenso e tão diversificado da pobreza”.

Em 1997, a Companhia das Filhas da Caridade se ocupou, em sua As-

sembleia Geral, do tema da Inculturação do carisma em um mundo em

mudança. Sobre isso, escrevia o Papa às assembleístas: “O amor aos Pobres

compreende o respeito às suas culturas, que são a manifestação da alma

de suas comunidades humanas, assim como o reconhecimento e a acolhida

dos valores que constituem sua riqueza”. Em seguida, convidava os mem-

bros daquela Assembleia: “Contemplai e analisai com lucidez as mutações

do mundo em que a Companhia é chamada a trabalhar, assim como as no-

vas formas de carência que provocam”. E ainda: “Apesar das dificuldades,

caminhai com segurança pelos caminhos dos Pobres: o Senhor vos prece-

deu e vos espera. Num mundo assim, o carisma de São Vicente é de uma

estimulante atualidade e, juntamente com toda a sua família espiritual,

corresponde à vossa missão dar-lhe maior vida ali aonde tenhais sido envi-

adas”. João Paulo II concluía sua carta com esta esperançosa mensagem:

“Filhas da Caridade, que o vosso estilo de vida, simples e fraterno, assim

como vosso compromisso missionário entre os Pobres, sejam uma fonte de

inspiração para os jovens, através de vossa irradiação pessoal e comunitá-

ria que revele a presença daquele que vos faz viver!”.

Finalmente, a Assembleia Geral de 2003. Como sempre, João Paulo II

se fez presente, mas, desta vez, através de uma breve carta da Secretaria

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de Estado, na qual expressava seu desejo de que o tema escolhido para a

reflexão, revisar para revitalizar, produzisse frutos de santidade, animando

a cada uma das Irmãs a viver a oferenda de sua vida cada vez com maior

intensidade, segundo o carisma dos fundadores e em conformidade com o

Evangelho. Então, acrescentava o Papa, “o testemunho de vossa consagra-

ção será um sinal de esperança para os mais pobres, para os que sofrem e

para todos aqueles que se interrogam sobre o sentido de sua existência”. E,

depois de invocar a intercessão da Virgem Milagrosa, de São Vicente, de

Santa Luísa e de Santa Catarina Labouré, concluía: “Que o Dono da Messe

vos conceda numerosas vocações”.

3. João Paulo II na capela da rue du Bac

Que o Papa Wojtyla foi um enamorado da Virgem Maria, isso é algo

que ninguém precisa provar. Qualquer um pode ler em seu brasão (“Totus

tuus”) e ver suas frequentes visitas aos santuários marianos mais significa-

tivos da geografia cristã. Um deles foi o da rue du Bac, de Paris, no qual ele

se fez presente no dia 31 de maio de 1980, para comemorar, com a Família

Vicentina, o 150º aniversário das aparições de Nossa Senhora das Graças.

Parece que sua veneração à Medalha Milagrosa era antiga e profunda.

Inclusive se diz que, em Lourdes, são exibidos uns slides sobre a Medalha e

que, num deles, aparece João Paulo II tirando do peito uma Medalha Mila-

grosa e dizendo: “É a única medalha que carrego!”. Tendo isso em conta,

já não nos estranha tanto que quisesse visitar a modesta e escondida Cape-

la das Aparições. Houve outras razões, além da já citada, como, por exem-

plo, recordar seu conterrâneo, São Maximiliano Kolbe, que aqui buscou

apoio para propagar sua “Milícia da Imaculada”; e, sobretudo, recomendar

a Maria a grande obra de renovação espiritual que Cristo pede à Igreja. No

lugar do habitual discurso ou sermão, o Papa se dirigiu a Maria com uma

prece que, em síntese, dizia:

“Neste lugar bendito, quero dizer-te hoje, com a confiança e o afeto

profundo de sempre: ‘SOU TODO TEU’. Venho como peregrino, as-

sim como tantos outros que visitaram esta venerável capela duran-

te os últimos 150 anos. Venho como o bem-aventurado Kolbe, antes

de sua viagem missionária ao Japão, há exatos 50 anos, quando vi-

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sitou este lugar, buscando apoio especial para propagar o que ele

chamava ‘A Milícia da Imaculada’. Venho confiar-te a grande obra

de renovação espiritual que Cristo pede à sua Igreja. Eu, humilde

sucessor de Pedro, venho confiar-te esta obra como já o fiz em Jas-

na Gora, em Nossa Senhora de Guadalupe, em Pompéia, em Éfeso...

e como o farei em Lourdes no próximo ano... A ti, consagramos nos-

sas forças e nossa disponibilidade para servir ao desígnio de salva-

ção realizado por teu Filho... Rogamos-te por todas as Filhas da Ca-

ridade, para que vivam o espírito de seu Fundador e por todos os

cristãos que sabem apreciar o valor da oração...”.

4. Beatificações e canonizações de membros da Família Vicentina

Nos 380 anos de existência da Congregação da Missão, 372 da Com-

panhia das Filhas da Caridade e 172 da Sociedade de São Vicente de Paulo,

não houve nenhum Papa que tenha proclamado oficial e solenemente, em

tantas ocasiões, a santidade de alguns membros da Família Vicentina como

o fez João Paulo II. Em seus 26 anos de pontificado, foram 7 os filhos e fi-

lhas da Família Vicentina elevados aos altares. Alguns, como Bem-

aventurados: as Filhas da Caridade, Maria Ana Vaillot, Odila Baumgarten e

Rosalie Rendu; o Padre Marco Antonio Durando, C.M.; e o leigo Frederico

Ozanam, da SSVP; e outros, como Santos: os Padres da Missão, João Gabri-

el Perboyre e Francisco Regis Clet, ambos missionários e mártires na China.

Em todos os casos, João Paulo II elogiou a vida, virtudes e testemunho cris-

tão destes Servos de Deus, falando deles individual e coletivamente em

homílias e discursos.

5. Duas mensagens para dois Centenários

Nos anos de 1991 e 2000, a Família Vicentina celebrou, com solenida-

de e alegria, dois acontecimentos centenários importantes. O primeiro teve

como protagonista Santa Luísa de Marillac, nascida a 12 de agosto de 1591,

e o segundo comemorou os 400 anos da Ordenação Sacerdotal de Monsi-

eur Vincent na capela de Chateau-l’Evêque, a 23 de setembro de 1600. O

Papa João Paulo II se uniu às duas celebrações com delicadas cartas: a pri-

meira dirigida à Irmã Joana Elizondo, superiora geral da Companhia das Fi-

lhas da Caridade, e a segunda a Mons. Gaston Poulain, bispo de Perigueux

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e Sarlat, diocese em que o Fundador da Missão e da Caridade foi ordenado

sacerdote. Uma e outra estão carregadas de ensinamentos, que não será

em vão retomar.

Na primeira, depois de traçar, em síntese, os principais aspectos do i-

tinerário de santidade de Luísa de Marillac, o Papa escreveu: “fundou, jun-

to com São Vicente de Paulo, a Companhia das Filhas da Caridade e, ao co-

locar as bases da Companhia, dava origem a uma nova forma de vida na

Igreja, que continuam praticando ainda hoje muitas sociedades de vida a-

postólica, que se dedicam ao apostolado em inúmeros campos da missão

eclesial... Abria-se um novo caminho frente a uma nova ordem de coisas na

Igreja. Centenas de instituições dedicadas ao cuidado dos enfermos ou à

educação da juventude feminina adotariam, posteriormente, um modo de

vida semelhante, pondo-se a serviço do próximo no mundo”. E, falando da

espiritualidade de Santa Luísa, João Paulo II nos brindava com esta bela e

profunda descrição: “A vida espiritual de Santa Luisa se caracterizava, so-

bretudo, por sua acolhida constante do Espírito Santo. Graças a uma dessas

intuições que levam em si mesmas o sinal da autenticidade, conjugava a

devoção ao SIM da Anunciação com a devoção à festa de Pentecostes’”. E o

Papa terminava sua carta, aludindo à espiritualidade da ação missionária

que as Filhas da Caridade devem cultivar, à imitação de sua fundadora,

porque “esta ação evangelizadora e caritativa as situa no coração da Igre-

ja... O sentido da Igreja que ela quis transmitir a suas Filhas deve ajudar-vos

em vossas tarefas apostólicas. Desta forma, desempenhais vossa função ti-

picamente feminina no Corpo místico de Cristo, na Igreja virgem e espo-

sa...”. Finalmente, João Paulo II recorda: “Meu predecessor Paulo VI a pro-

clamou patrona de todas as pessoas que se dedicam às obras sociais cristãs

e com razão, pois Luísa de Marillac soube sair em socorro dos pobres mais

afetados pela miséria”.

Na carta do 4º centenário sacerdotal do Padre Vicente, o Papa ressal-

ta: “sua principal preocupação, que continua tão atual, será, dali em dian-

te, o anúncio da Boa Nova aos mais desfavorecidos, tanto material quanto

espiritualmente. Para ele, é evidente que a evangelização constitui uma

responsabilidade que toca a todos os batizados, a toda a Igreja. Por isso,

87

suas primeiras grandes obras as empreenderá junto com os leigos, tanto

homens como mulheres... Por isso, dirá que os sacerdotes são insubstituí-

veis e impulsionará a reforma do clero depois do Concílio de Trento. A visão

do sacerdócio própria do Padre Vicente adquire dimensão universal: ‘Fomos

escolhidos por Deus – disse aos seus Missionários – como instrumentos de

sua imensa e paternal caridade, que deseja reinar e enraizar-se nas almas.

Nossa vocação consiste, pois, em ir, não só a uma paróquia, não só a uma

diocese, mas por toda parte’”. Em resumo, concluirá o Papa: “Vicente de

Paulo nos convida a olhar com novo olhar a missão no mundo atual e oxalá

sacerdotes e leigos saiam, cada vez com maior entusiasmo, ao encontro

dos homens e mulheres de nosso tempo para anunciar-lhes o Evangelho,

promovendo uma sólida formação humana, doutrinal, pastoral e espiritual,

e isso não só para os sacerdotes, mas também para os fiéis”. Trata-se de

uma carta que valoriza, sem triunfalismos, o humilde serviço evangelizador

da Congregação da Missão na Igreja, mas, ao mesmo tempo, convoca-a,

mediante sua adequada renovação, a uma “nova evangelização”.

Conclusão

Tanto o magistério de João Paulo II como seu testemunho existencial

foram copiosos e de muito proveito para toda a Família Vicentina. Cumpriu

conosco seu ministério petrino de acalentar e impulsionar nossa específica

vocação eclesial e o fez em todos os campos relacionados com o carisma

vicentino: missionário, mariano e caritativo-social de serviço aos Pobres.

Foi também o Papa que mais filhos desta humilde Família beatificou e ca-

nonizou. Por tudo isso, queremos expressar nossa gratidão ao bem-

aventurado pontífice, pedindo-lhe que continue nos iluminando e abenço-

ando do Céu.

88

TestemTestemTestemTestemuuuunhonhonhonho Lembrança pessoal de João Paulo II

Dom Vicente Joaquim Zico, C. M.

João Paulo II faleceu no

dia 2 de abril de 2005, e, cinco

anos depois, recebemos to-

dos, com alegria, a notícia da

sua beatificação em Roma, dia

1 de maio do presente ano.

Creio, cada um de nós,

no Brasil e no mundo inteiro,

teria algo a dizer dos sentimentos que experimentou um dia, e conserva

até hoje com carinho, do seu “encontro pessoal” com o grande Papa. Da

minha parte, tenho muito a contar, podendo modestamente escrever so-

bre as numerosas oportunidades que tive de encontrá-lo ou de ver-me à

sua frente para a graça de um abençoado diálogo.

Eu residia em Roma, de 1974 a 1981, como Assistente Geral de nossa

Congregação, e pude acompanhar, de perto, os diversos passos do início do

seu pontificado. João Paulo II foi eleito Bispo de Roma no dia 16 de outubro

de 1978. Eu estava na Praça de São Pedro, no

meio do povo, olhando também curioso na dire-

ção da fumaça branca que podia vir a qualquer

hora. Veio afinal a notícia e, logo em seguida, o

“Anuntio vobis gaudium magnum: Habemus Pa-

pam”. Padre em Roma, pude assistir a muitas

das audiências gerais, acompanhando as suas

catequeses, junto com a multidão que ali esta-

va.

Nomeado bispo, fui ordenado por ele na

Basílica de São Pedro e, logo após, recebido em

89

audiência, junto com a minha família. Já em Belém, fiz cinco visitas “ad

Limina”, quando, em audiências pessoais, tive a minha meia hora de

conversa com o Santo Padre, expondo-lhe a situação da Arquidiocese.

Na ocasião, tomei parte nos almoços, para os quais o Santo Padre cos-

tumava convidar os bispos do Regional em conjunto. Acompanhei de

longe as suas visitas a muitos países. Foi-me dado participar de outros

encontros menores com o Papa, ao tempo em que fora por ele nomea-

do membro do Pontifício Conselho para a América Latina. Fui assim a-

graciado por Deus por conhecer, falar e escutar, muitas vezes, o santo

Pontífice, hoje elevado à honra dos altares pelo seu sucessor imediato,

Bento XVI.

Pelo tempo que governou a Igreja, por seus ensinamentos, impor-

tantes documentos oficiais, sua personalidade humana excepcional, ges-

tos simples, largos e cativantes, seus discursos pastorais, muitos deles

admiravelmente oportunos – lembro especialmente o que escutei na

abertura da Conferência dos Bispos da América Latina, em Santo Do-

mingo – de tudo, eu concluo: a Igreja recebeu muitíssimo de João Paulo

II, do seu zelo apostólico, da sua pessoa simpática, santa e muito queri-

da no mundo inteiro.

Sua atividade incansável impressionou a Igreja inteira, mas o ex-

traordinário, o que mais ficou no meu espírito e, a meu ver, mais deve

de ter contribuído para a edificação e o crescimento da nossa Igreja no

mundo, foi o longo período de sacrifício da sua penosa inação, quando

teve de sofrer e pode aparecer-nos como vivendo de certa forma o “es-

tou pregado com Cristo na cruz” do apóstolo São Paulo.

Por todos estes motivos, a sua glorificação, hoje, justamente de-

sejada e pedida pela multidão, no momento da celebração da missa de

corpo presente: “Santo subito, Santo subito” (em português: ”Santo

já!”), é hoje uma realidade, alegria para nós todos.

Tenho o sentimento de ter “convivido” com um santo. Encantei-

me com a sua pessoa carismática, autêntico e visível homem de Deus,

de oração profunda e alma apostólica admirável: “Minhas obras dão

90

testemunho de mim” (Jo 5, 36), poderia dizer como Nosso Senhor falava

de si.

Volto o olhar para a

nossa Igreja, hoje pro-

vada e agitada por

grandes problemas. Ne-

cessita, sem dúvida,

mais que em outros

tempos talvez, do nosso

testemunho pessoal de

amor e fidelidade ao

Evangelho e a ela. No

“duc in altum” do Senhor, chamada a lançar-se em águas realmente pro-

fundas e desafiadoras, o bem-aventurado João Paulo II viveu mais que

todos essa realidade. Seja ele, hoje, nosso intercessor especial junto de

Deus.

91

Memória IMemória IMemória IMemória I

José Comblin: o legado de um profeta

Maria Clara Bingemer

Teóloga (PUC-Rio)

A Igreja brasileira vive na saudade e na espe-rança o luto por José Comblin, morto aos 88 anos no último dia 27 de março. Belga de nascimento, brasileiro por adoção, latino-americano por voca-ção, este missionário que deu sua vida junto aos pobres e sofredores do sul do Equador deixa um vazio nestes nossos tempos carentes de profetas. Sua voz de fogo e sua razão clara e lúcida certa-mente provocam imensa saudade e nostalgia.

O Padre José, como era carinhosamente chamado pelo povo nordes-tino a quem servia, nasceu em Bruxelas, Bélgica, em 1923. Foi ordenado sacerdote em 1947 e obteve o título de doutor em Teologia pela Univer-sidade Católica de Louvain, Bélgica. Onze anos depois de ordenado, em 1958, Comblin desembarcou em Campinas, Brasil. Aqui, foi assessor da JOC (Juventude Operária Católica) e professor da Escola Teológica dos Dominicanos em São Paulo, tendo como alunos alguns frades notáveis na história brasileira como Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, e Frei Tito Alencar Lima, torturado barbaramente nos cárceres da ditadura mili-tar brasileira, o que o levou à depressão e ao suicídio na França.

Posteriormente, lecionou na Faculdade de Teologia do Chile, mas vol-tou para Recife a convite de Dom Hélder Câmara onde foi professor do famoso ITER (Instituto de Teologia do Recife), pondo em prática iniciati-vas criativas para colocar a teologia ao alcance do povo mais pobre do meio rural. Criou muitos seminários rurais em Pernambuco e na Paraíba e aí encontrou inspiração e base para uma Teologia da Enxada.

Por suas idéias e prática, Pe. Comblin passou a ser persona non grata para o regime militar e foi finalmente expulso do Brasil em 1971. Exilou-se no Chile por oito anos. Dali, foi, por sua vez, expulso pela ditadura de

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Pinochet, em 1980. Voltou ao Brasil e radicou-se na Paraíba, dedicando-se inteiramente à formação de seminaristas rurais e animadores de co-munidades eclesiais de base. Alternava essa práxis docente e reflexiva em meio aos Pobres com aulas no curso de pós-graduação de missiologia na PUC de São Paulo.

Ouvir José Comblin falar era sempre um privilégio. Comprometido com a verdade, sem fazer nenhuma concessão neste ponto, abria sua bo-ca de profeta e deixava-nos muitas vezes desconcertados e perple-xos. Não poupava críticas a uma Igreja que, no entanto, amava com pai-xão. E a violência da crítica dava a medida do amor. No entanto, era mui-to consciente de que a Igreja estava a serviço do Evangelho de Jesus, seu amor maior. E fazia questão sempre de recordar isso.

José Comblin tinha uma grande esperança eclesial: os lei-gos. Acreditava profundamente nos cristãos batizados que recebiam do Espírito carismas e ministérios e se entregavam ao serviço de sua fé. E por isso criou vários movimentos missionários leigos, na Bahia, na Paraí-ba, em Tocantins e outros pontos do Nordeste brasileiro.

As reuniões da SOTER (Sociedade Brasileira de Teologia e Ciências da Religião) não serão mais as mesmas sem sua presença lúcida, profética e sábia. Cercado pelos jovens teólogos de todo o Brasil, Comblin sorria e respondia a cada pergunta com atenção e simplicidade, como era seu es-tilo. Seu pensamento encantava e impunha respeito, mesmo se dele se discordava. Era um mestre, sem sombra de dúvida.

Encontrei-o pela última vez em março de 2010, em El Salvador, no congresso teológico que celebrava os 30 anos do martírio de Monsenhor Romero. Ali estava ele, sorridente, presente e ativo em corpo e al-ma. Caminhamos juntos com milhares de outros peregrinos até a catedral onde celebramos com devoção e júbilo a memória viva e subversiva do mártir que congregava gente do mundo inteiro em volta a sua pessoa e seu testemunho.

Ali, me disse que agora morava em Barra na Bahia. Explicou-me com uma pureza cheia de simplicidade e por isso mesmo mais comovente que sentia estar perto da morte. E que por isso necessitava converter-se. E nada melhor para converter-se do que estar perto de um profeta. Por is-so, tinha escolhido ir morar na diocese de Dom Cappio, a quem situava na categoria dos profetas. Seu depoimento comoveu-me profundamen-

93

te. Ouvir aquele homem de muito mais de 80 anos, buscando ainda con-versão e proximidade do Senhor após toda uma vida entregue a Deus e aos Pobres era realmente edificante.

A notícia de sua morte chegou-me por mensagem eletrônica de ami-gos. Juntamente com a dor da perda de um irmão mais velho, senti grati-dão por sua vida e responsabilidade em não deixar perder seu legado de teólogo, de profeta, de servidor de Deus e de seu povo. Junto ao Padre I-biapina, o padre José descansa de sua longa jornada. Mas sua profecia continua viva, sem descanso, inspirando e movendo novas vocações teo-lógicas que se dispõem a refletir e articular a Revelação de Deus com a história dos Pobres que vão se tornando sujeitos de sua história e cons-trutores do Reino.

94

Memória IIMemória IIMemória IIMemória II Resgatando...

Pe. José Debortoli, C. M.

Em 1972, fui colocado em Taguatinga (DF), onde fiquei apenas seis

meses trabalhando na Paróquia São José com o Padre Ruy do Carmo Perei-

ra de Aguiar, C. M. Eu estava com doze anos de sacerdócio, tendo traba-

lhado até então só em Seminários: Diamantina, Mariana, Assis. O Pe. Ruy,

impulsionado pelo Vaticano II, protagonizava uma bela experiência de uma

paróquia em “aggiornamento”. Até mesmo na igreja material, um edifício

amplo de forma redonda, com o altar no centro do templo.

Nas celebrações eucarísticas dominicais, após a proclamação da Pala-

vra, os fiéis se reuniam em grupos dentro da igreja e refletiam sobre a Pa-

lavra de Deus durante certo tempo. Antes do credo, o Padre Ruy fazia uma

síntese da Palavra para toda a comunidade. Nos sábados, os casamentos

eram comunitários. Às vezes, eram até seis ou mais matrimônios simultâ-

neos. Um numeroso grupo de catequistas levava muito a sério a pastoral

mais importante de toda paróquia. Pe. Ruy era muito querido pelos paro-

quianos pelo seu zelo e simplicidade. Mesmo sendo pároco de uma grande

paróquia em expansão, Pe. Ruy trabalhava também no Ministério do Inte-

rior (SUDECO).

PROJETO MARIÁPOLIS

Com um grupo de paroquianos, sobretudo jovens, da Paróquia São Jo-

sé, Pe. Ruy idealizou e pôs em execução um projeto inovador de promoção

humana e desenvolvimento comunitário num terreno de 30 alqueires, no

município de Padre Bernardo (GO), a 127 Km de Brasília, onde foram as-

sentadas umas 60 famílias. O terreno, em pleno cerrado foi adquirido me-

diante uma verba conseguida na Suíça (Fasternopler) pela Irmã Maria, Ca-

nisiana, nascida na Suíça, então trabalhando em Brasília. Parte do terreno

foi doação do proprietário. Os moradores dos arredores viviam em extre-

ma pobreza. Com a ajuda da Sudeco e de amigos, Pe. Ruy conseguiu abrir

95

um poço artesiano, depois trouxe da serra água encanada, conseguiu luz

elétrica, escola, organizou hortas comunitárias, plantação comunitária de

trigo, montou uma fábrica de tijolos, cursos para pedreiros, bombeiros, e-

letricista, estucador, etc.

Já na Paróquia São José em Taguatinga, Pe. Ruy organizara uma asso-

ciação cristã de ajuda mútua com o slogan: “Dez constroem para dez”. Em

vários anos, assim me afirmaram antigos paroquianos da São José, foram

construídas 522 casas amplas onde filhos de Deus viviam modesta mas

confortavelmente.

Pe. Ruy implantou o mesmo sistema “dez constroem para dez” no Pro-

jeto Mariápolis. Como funciona? Os membros das dez famílias iam constru-

indo casas sob o mesmo modelo. Mas, para que ninguém caísse na moleza

ou se ausentasse, as casas só eram sorteadas entre as dez famílias quando

as dez casas estivessem prontas.

Claro que o projeto de construção de casas tinha apoio financeiro com

empréstimos da Caixa Econômica Federal. Transcrevo a seguir pequena no-

tícia saída no “Correio Braziliense” de março de 1981.

“DEZ CONSTROEM PARA DEZ”

Tudo funciona no sistema de mutirão. Os moradores constroem suas

casas, com três quartos, sala, cozinha, área de serviço e uma horta no quin-

tal. Cultivam lavouras para seu próprio sustento e mantêm uma escola do

primário à quarta série do primeiro grau. Nela, estudam 162 crianças, com

professoras diplomadas.

A experiência de vida comunitária vem sendo desenvolvida na locali-

dade de Mariápolis, em Padre Bernardo, a cerca de 100 quilômetros de

Brasília e dela participam 300 pessoas. A idéia deste projeto é do padre Ruy

do Carmo Pereira de Aguiar, mas a comunidade de Mariápolis está amea-

çada pela má fé dos anúncios de loteamentos que se multiplicam na área,

desde que a experiência começou. O espírito cooperativo corre o risco de

ser desvirtuado.

96

E O PROJETO HOJE, EM 2011?

A cidade de Padre Bernardo pertencia então à diocese de Uruaçu

(GO). Posteriormente, foram criadas mais dioceses no Estado com o povo-

amento do planalto central. Hoje, a Cidade de Padre Bernardo pertence à

diocese de Luziânia. Nos primeiros anos, Dom José Chaves, bispo de Urua-

çu, visitou o Projeto Mariápolis a convite do Pe. Ruy, mas a diocese não as-

sumiu o projeto. Verdade que Dom José Chaves enviou religiosas para aju-

dar e foi por intermediação dele que a “Comunidade Kolping” assumiu o

projeto. Portanto, oficialmente, o Projeto Mariápolis está confiado à Insti-

tuição Kolping. Isto aconteceu em 1985, antes de o Pe. Ruy falecer.

De fato, inesperadamente, no dia 15 de novembro de 1985, o Eterno

Pai chamou para mais junto de si o bom Pe. Ruy, “servo bom e fiel”, um

amante dos Pobres, como bom filho de São Vicente. Ele estava com apenas

65 anos.

Hoje, o Projeto Mariápolis oficialmente tem o nome de “Comunidade

Kolping Mariápolis”.

RELIGIOSAS NO PROJETO MARIÁPOLIS

Depois do falecimento do Pe. Ruy, Pe. Carlos Zanata, C. M., deu certa

assistência ao projeto Mariápolis. O Visitador de então, Pe. José Elias Cha-

ves (depois, eleito bispo prelado de Cametá – PA) também foi lá. Mas nos-

sa Província Brasileira da Congregação da Missão não pôde ou não quis as-

sumir aquela bela obra pioneira de promoção social e de formação cristã.

Religiosas de pelo menos quatro Congregações trabalharam genero-

samente no projeto do Pe. Ruy. Em vida do Pe. Ruy, trabalharam Irmãzi-

nhas da Imaculada, congregação fundada por Santa Paulina, a primeira

santa brasileira canonizada (Madre Paulina nasceu na Itália, mas, com seus

pais, emigrou para o Brasil com poucos anos). Enviadas pelo bispo de Urua-

çu, trabalharam no Projeto também Irmãs da Providência de Gap. Essas re-

ligiosas residiam numa comunidade do Projeto Mariápolis e ajudaram mui-

to na catequese, nos cultos dominicais, como enfermeiras, etc.

97

Desde 1996, trabalham no Projeto Mariápolis Irmãs Franciscanas da

Divina Misericórdia, congregação ainda de direito diocesano, fundada em

Anápolis por uma religiosa norte-americana, Ir. Elisabeth Sweeney, ainda

viva. São religiosas que procuram encarnar o carisma de São Francisco de

Assis. Vivem da Providência Divina junto com os Pobres, onde, geralmente,

não há padres. Não têm salário, não recolhem INSS (como os Pobres). Atu-

almente, são seis as religiosas no Projeto Mariápolis.

O Padre vai lá uma vez por mês. Eu mesmo já fui lá três vezes para ce-

lebrar e tenho intenção de ir mais vezes. As religiosas zelam pela bela e

ampla igreja construída pelo Pe. Ruy. Celebram o culto dominical, animam

as diversas pastorais, catequese, coroinhas, etc. Visitam as famílias que es-

tão divididas em setores para as novenas de Natal, Campanha da Fraterni-

dade, Círculos Bíblicos. Tomam conta de uma casa de apoio com mais de

100 crianças e jovens matriculados. Esses ficam lá das 7h da manhã até às

17h.

Como filhas da Divina Misericórdia, cada ano, no primeiro domingo

depois da Páscoa – festa da Divina Misericórdia – organizam amplo acam-

pamento que vem reunindo numerosos fiéis, vindos também de muito lon-

ge. Montam-se centenas de barracas. Em 2010, uns dois mil fiéis ou mais

estiveram presentes no acampamento. Tudo começou em 2000, com a

chegada dessas religiosas. Durante o dia, são feitas conferências e encena-

ções sobre a espiritualidade da Divina Misericórdia e, nos intervalos, são

dadas também mensagens vocacionais. O Santíssimo fica exposto de dia e

de noite durante o acampamento, com numerosos adoradores. As pales-

tras ou conferências têm sido feitas também por bispos, mas, sobretudo,

por padres, religiosos(as) e leigos(as).

RESUMINDO...

O Projeto Mariápolis foi um belo sonho (“sonhar é preciso...”) do nos-

so Coirmão, Pe. Ruy. De sonho passou à realidade aos poucos. A alma do

projeto foi o Pe. Ruy sem dúvida. Mas ele foi muito ajudado por amigos e

muitos cristãos, seus paroquianos em Taguatinga, jovens sobretudo, idea-

listas “espicaçados” interiormente pelos apelos à renovação pedida pelo

Concílio Vaticano II que foi, sem dúvida, a mais bela obra do Espírito Santo

98

no século XX, convocando a Igreja a um “aggiornamento”, isto é, que a I-

greja estivesse atenta aos sinais do tempo, procurando caminhar ao ritmo

do mundo que se transformava aceleradamente com as novas tecnologias

e sob o comando da mídia que transformava o mundo numa “aldeia glo-

bal”.

Penso que fica bem transcrever também aqui uma homenagem de um

dos sobrinhos do Pe. Ruy. Transcrevo-o literalmente:

Ao Pe. Ruy do Carmo Pereira Aguiar. Em memória daquele que, como Cristo, servindo à humanidade, viveu: “amigo dos pobres e amando a verdade, defensor da justiça e do amor.

Foi-se o homem e ficou o exemplo. Na paz celestial, agora descansa aquele que, na terra, a Deus se entregou!”

Do seu sobrinho e afilhado Flávio Cristiano de Saboya Ribeiro

Rio, 15 de novembro de 1985.

99

Vida da ProvínciaVida da ProvínciaVida da ProvínciaVida da Província

Formação Permanente para a Vida Comunitária

O Encontro Provincial de Formação Permanente foi realizado nos dias 13 e 14 de abril de 2011,

na Fazenda do Engenho (Serra do Caraça), versando sobre o tema “Gestão de pessoas e facilita-

ção da vida fraterna em comunidade”. Os assessores foram o Pe. Eugênio Barbosa e o Diác. Mar-

celo Silva, ambos da Congregação do Santíssimo Sacramento (SSS). Este artigo se propõe sinteti-

zar as principais idéias apresentadas pelos assessores e refletidas por todos os presentes.

Pe. Paulo Eustáquio Venuto, C. M.

É importante que fi-

que clara a expressão

“formação permanente”.

Mais do que “entrar em

forma” é “estar em for-

ma”. Trata-se de “prepa-

rar-se para estar em mar-

cha, a caminho”. É o que

faz um atleta ao se submeter a um contínuo treinamento para alcançar seu

objetivo: um recorde ou uma medalha. Por isso, a formação permanente

(ou contínua) é uma tarefa árdua, constante e, por vezes, cansativa. Exige

de todos nós disposição, assiduidade, empenho, perseverança.

Como a nossa vida se dá em comunidade, a formação permanente a-

contece na própria convivência e nas diversas atividades promovidas em

comunidade. Cada membro da comunidade é responsável pela sua forma-

ção e, ao mesmo tempo, pela formação dos seus companheiros.

Ao falar de “Gestão de pessoas e facilitação da vida fraterna em co-

munidade”, cinco pontos podem ser considerados:

1. A cultura atual apresenta desafios que interferem na Vida Religiosa.

Hoje, a vida fraterna é o que mais atrai aqueles que querem abraçar a

Vida Religiosa e, ao mesmo tempo, é o principal motivo daqueles que a

deixam. O limite maior tem sido a comunicação que, através da informati-

100

zação, foi democratizada, constituindo um novo elemento nas relações

comunitárias, com sérias interferências na construção da comunidade

A relação com o sagrado e as formas de lidar com ele mudaram. A

concepção de Deus não é mais unitária, pois a sua imagem, hoje, está mui-

to diversificada, interferindo nas posturas e na compreensão de consagra-

ção. Isso se deve muito às influências das religiões orientais. Hoje, é tam-

bém marcante o narcisismo como cultura, o que tem trazido novas postu-

ras dentro da Vida Religiosa e levantado a questão da contraposição entre

a pessoa e a instituição. Quem é mais importante: a pessoa ou a institui-

ção? Outra questão é a nova concepção de desejo presente na cultura,

principalmente o desejo de consumo. Como lidar com esta realidade? O

desejo, em nossa cultura, não tem referência alguma que o confronte. Uma

vez instalado, por que não o realizar? O que o impede de ser realizado? O

que interessa é realizá-lo. Também, na Vida Religiosa, esta concepção está

presente, trazendo um grande desafio para as relações comunitárias. A in-

teriorização de certos valores ligados à maturidade humana e que direcio-

nam as atitudes comunitárias e as posturas pastorais foi a marca de uma

geração. Em contraposição, constata-se outra geração que não consegue

interiorizar esses valores, manifestando decisões diferentes e marcantes

em suas atitudes. A cultura também precisa ser questionada e evangeliza-

da.

2. A vida fraterna é identidade cristã e é um específico da Vida Religiosa.

Três elementos são fundamentais:

a. A vivência comunitária é própria da realidade humana, pois é um dado

da existência humana.

b. A vivência em comunidade é específica da identidade cristã, pois Jesus

expressou o Reino em comunidade ao reunir o grupo dos seus colabo-

radores – os apóstolos.

c. A radicalidade do seguimento de Jesus, como modelo institucional da

Vida Religiosa, é comunitária na vivência dos votos e na missão.

Como dialogar com uma cultura que não é cristã, que não considera

esses elementos e na qual somos minoria? Nisto, a Vida Religiosa adquire a

101

sua dimensão profética. Para que esse profetismo seja consistente é neces-

sária a “renúncia” baseada no testemunho.

3. Os conflitos na vida fraterna estão na base da maturidade humana.

Em geral, os conflitos que sur-

gem na vivência comunitária estão

mais na dimensão humana do que na

da fé. Geralmente, a maturidade

humana não está tão aberta para a

ação da graça, para a atuação de

Deus na vida da pessoa. A graça su-

põe a natureza. Por isso, a dimensão

da maturidade humana tem que ser

trabalhada constantemente para se construir uma vida fraterna comunitá-

ria mais saudável. Neste sentido, são necessários instrumentos que ajudem

a superar deficiências individuais e coletivas. A Vida Religiosa perdeu al-

guns instrumentos que, no passado, a ajudavam a “resolver”, a equilibrar

os conflitos ou as deficiências. Havia os famosos “capítulos” que, bem ou

mal, tentavam harmonizar os conflitos e suprir as deficiências. Hoje, há um

ganho bastante grande com a utilização frequente dos instrumentais da ci-

ência, nomeando as dificuldades e levando as pessoas a assumirem-nas. Se

elas não forem assumidas, não poderão ser redimidas. Só assim, pode-se

abrir espaço para a atuação da graça de Deus.

4. Modelos que são inspiradores para a construção da vida comunitária:

1º O modelo de relacionamento que aparece na construção da torre de

Babel, descrita em Gn 11, 1-9. Aí, vê-se uma aparente unidade sem comu-

nicação. Nesse modelo, pode-se analisar a estrutura de poder, a falta de

diálogo sem abertura para a escuta e o perfeccionismo que impediram o

entendimento.

2º O evento de Pentecostes narrado em At 2, 1-13. A comunidade dos A-

póstolos estava em crise, mas aberta para a novidade e para o crescimen-

to. Apesar da diferença de linguagem, há a possibilidade de compreensão.

102

Cada pessoa é manifestação da diferença e o acolhimento da diferença dá

a possibilidade de crescimento. No evento de Pentecostes, vê-se uma co-

munidade saudável que abre as portas e sai para anunciar: a comunidade

existe para a missão.

3º O modelo da Trindade que aparece em Jo 14, 15-21. Nessa narrativa,

vemos as diferenças que se respeitam, se unem e estão em função da mis-

são. Há unidade na diversidade. Há a comunicação entre as pessoas divi-

nas, revelando-se para amar e doando-se para a outra ser pessoa.

4º Mesmo sem uma referência bíblica explícita, a família também é mode-

lo, pois é constituída por laços de sangue que são extremamente sagrados.

Esses, às vezes, ultrapassam até mesmo a racionalidade e não são marca-

dos por uma escolha. O que nos une na construção da vida fraterna é o la-

ço da fé que implica uma escolha. Esse laço se torna superior ao laço de

sangue na medida em que há uma tomada de consciência do seu valor.

Ao analisar estes modelos, pode-se avaliar o sentimento de pertença

muito importante para a vida em comunidade.

5. A concepção atual do voto de obediência interfere na vida comunitária.

Está presente na socieda-

de atual o processo de ruptu-

ra das estruturas autoritá-

rias, através do qual o poder

não é mais legitimado pelo

sagrado. Há a primazia do

sentimento em detrimento

da razão. A busca de uma

síntese entre um e outro será

benéfica para a vida comunitária.

A contribuição das ciências modernas é valiosa para construção da vida

comunitária. Muitas atitudes que, no passado, eram reconhecidas como

virtude, hoje, muitas vezes, são tidas como patologia pelas análises que as

ciências apresentam. É necessário que a Vida Religiosa leve em conta tudo

isso, pois esses elementos ajudam na compreensão da obediência, hoje.

103

Diante dessa realidade, é importante considerar a unicidade da pessoa (o

que Deus espera dela), a recuperação da figura do superior como serviço à

comunidade e o exercício do discernimento comunitário para a tomada das

decisões.

Se a concepção de poder não for evangelizada, isto é, se não tiver o E-

vangelho como referência, a consciência e a estrutura de obediência não

terão sustentação: “Vocês dizem que eu sou o Mestre e o Senhor. E vocês

têm razão; eu sou mesmo. Pois bem, eu, que sou o Mestre e o Senhor, lavei

os seus pés; por isso vocês devem lavar os pés uns dos outros” (Jo 13, 13-

14). “Entre vocês não seja assim; pelo contrário, o maior seja o menor e o

que governa como aquele que serve” (Lc 22, 26).

104

FFFFamília Vicentamília Vicentamília Vicentamília Vicentiiiinananana

Seminário sobre Santas Missões Populares Vicentinas

Pe. Marcus Alexandre Mendes de Andrade, C. M.

Do dia 29 de abril a 1º de maio de

2011, no Centro Social Padre Raimun-

do Gonçalves, em Belo Horizonte

(MG), aconteceu o Seminário sobre

Santas Missões Populares, assessora-

do pelo Padre Luís Mosconi. Participa-

ram em média 90 pessoas, de vários

ramos da Família Vicentina: Associação

Internacional de Caridades (AIC), Congregação da Missão (CM), Filhas da

Caridade (FC), Sociedade de São Vicente de Paulo (SSVP), Juventude Marial

Vicentina (JMV), Associação da Medalha Milagrosa (AMM), Missionários

Leigos Vicentinos (MISEVI) e Associação dos Ex-Alunos dos Lazaristas e A-

migos do Caraça (AEALAC).

Ainda no início de sua fala, Pa-

dre Mosconi ressaltou a importân-

cia de São Vicente de Paulo e da

Família Vicentina no cenário eclesial

e social. Mostrou a importância de

nosso carisma e a atualidade e ur-

gência do serviço e da evangeliza-

ção dos Pobres. Falando de São Vi-

cente, salientou sua decisão clara

de manter Padres, Irmãs, Leigos e Leigas no serviço missionário juntos dos

Pobres. Louvou o incentivo recebido e o testemunho de Dom José Elias

Chaves, C.M., e ressaltou a Sociedade de São Vicente de Paulo, que lhe foi

apresentada logo que chegou à Bahia, como excelente forma de organiza-

ção dos leigos.

105

Seus comentários giraram em torno da urgência eclesial que é fazer

opção por uma Igreja Missionária, baseada no trabalho dos leigos e forma-

dora de uma nova consciência a partir do Evangelho, para a transformação

do mundo. Falando da conversão pastoral apontou a importância de se a-

bandonar verdadeiramente a pastoral de manutenção, especialmente no

que se refere às práticas e aos métodos que não mais correspondem às e-

xigências do mundo atual. Mas abandonar estruturas arcaicas exige muito:

exige ruptura de consciência, ruptura metodológica, ruptura do comodis-

mo para a disposição que envia ao mundo. Exige também confiança e aber-

tura para o trabalho em equipe, valorizando todos os carismas e todos os

ministérios presbiterais, religiosos e laicais.

Falando diretamente dos padres, particularmente dos párocos, salien-

tou a necessidade de os padres serem discípulos movidos pela paixão da

missão. Que confiem nos leigos e promovam a renovação, não deixando

nenhuma pastoral ou atividade paroquial fora do dinamismo missionário.

Inclusive, reforçou o que diz o Documento sobre a “missionarização” de

todos os projetos e planos paroquiais e diocesanos.

Missão exige discernimento, ousadia e urgência. Discernimento para

conhecer a realidade e para implementar novos métodos, para se conhece-

rem os desafios do momento presente, do mundo e da Igreja. Discerni-

mento para enxergar e acreditar no apostolado leigo. Missão exige ousadia

para ter coragem de proclamar, sem medo e sem titubear. Ousadia de

quem é discípulo, de quem é testemunha de um fato transformador e, por

isto mesmo, testemunha missionária. Missão exige urgência, porque não se

pode perder tempo diante da beleza do Evangelho e de sua força restaura-

dora do mundo, segundo a vontade de Deus.

Junto da missão, ganha destaque também a opção pelos Pobres e o

protagonismo dos leigos, intimamente ligados à urgência missionária. Uma

opção que consagre a Igreja a uma vida em solidariedade com os mais so-

fridos, com atitudes claras e que impactem a realidade. Não uma opção te-

órica ou algo que não tem relevância, mais parecendo modismo de algum

tempo ou de determinados grupos. No que se refere aos leigos, o destaque

foi dado ao protagonismo total, não apenas na linha da execução dos tra-

106

balhos, mas primeiramente protagonismo no discernimento e na elabora-

ção dos projetos pastorais. Aparecida descarta a reificação dos leigos, que

os torna objetos da ação do clero. Declara-os sujeitos da ação evangeliza-

dora, responsáveis por todo o processo missionário.

Neste contexto, surgiu em Aparecida o desafio da Missão Continental,

para que todo o continente pudesse celebrar um tempo kairológico de

Missão. No entanto, a implementação de Aparecida traz consigo alguns de-

safios. Um deles é o clero, que por sua natureza deveria ser o primeiro a-

nimador e estimulador da vida missionária. Mas nem sempre dá mostras

de disposição, firme vontade, capacidade, imaginação, ousadia e entusias-

mo missionário. A “profissionalização do Sagrado”, em alta nos tempos a-

tuais, mina o vigor apostólico e faz dos ministros ordenados distribuidores

de espécies sagradas. A meditação amorosa e contemplativa do Mistério

de Deus e a oblação da própria vida como oferenda de amor ao povo, con-

sagrando-se total e integralmente aos irmãos, não têm espaço nem condi-

ções de serem vividas no âmbito do “tecnicismo religioso”. Por outro lado,

muitos padres, inclusive padres bons, com a melhor intenção, acabam es-

vaziados pelo ativismo e pelo exaustivo labor missionário. Por causa do

muito trabalho, acabam deixando de lado a reflexão, a oração, a meditação

e a avaliação do apostolado, como também ficam sem tempo para os estu-

dos e o aprofundamento das questões da fé e da vida humana e social. E,

assim, o ministério presbiteral acaba na superficialidade e na consequente

esterilidade.

Como gesto concreto do encontro, Padre Mosconi nos motivou, à luz

da Ressurreição do Senhor, a assumir, como Família Vicentina, a animação

das Santas Missões Populares em toda uma diocese, inclusive sugeriu Ara-

çuaí, no Vale do Jequitinhonha, e em uma grande cidade, como Belo Hori-

zonte. Resta-nos, agora, com as motivações cultivadas neste encontro, co-

locar o pé na estrada, encher o coração de disponibilidade e ardor e fazer

valer nosso entusiasmo, transformando-o em atitudes missionárias concre-

tas e em força operosa na Igreja e no mundo. Que o Deus da Missão, Mis-

sionário por excelência, nos impulsione e fecunde nossas boas intenções e

nossas atitudes!

107

NotNotNotNotííííciasciasciascias

I – Notícias do Visitador e do Conselho

1. De 27 a 29/4/11, Pe. Geraldo Barbosa visitou a Missão do Vale do Jequi-

tinhonha (Francisco Badaró e Jenipapo de Minas). Ficou bem impressiona-

do com a seriedade e o dinamismo da equipe missionária. Os Padres Paulo

José, Marcus Alexandre, Raimundo João da Silva e Luís Veras estão sempre

empenhados na prática das virtudes missionárias vividas e ensinadas por

São Vicente de Paulo.

2. Nos dias 13 e 14/4/11, tivemos,

na Casa do Engenho, nosso Encontro

de Formação Permanente, com o

tema: “Gestão de pessoas e facilita-

ção da vida fraterna em comunida-

de”. Éramos mais de 40 participan-

tes. Os assessores, Pe. Eugênio Bar-

bosa Martins e Diácono Marcelo

Carlos da Silva, ambos Sacramenti-

nos, da Paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem, de Belo Horizonte, fo-

ram bem práticos e felizes na abordagem do assunto. Os bons frutos serão

colhidos, sobretudo em nossas Casas e em nossos trabalhos de equipe.

3. Transferências e novas colocações de Coirmãos:

- Pe. Luís Rodrigues Veras: da Missão-Paróquia de Francisco Badaró e

Jenipapo de Minas para a Missão-Paróquia de Riacho Fundo II, DF.

- Pe. Alex Sandro Reis: da Missão-Paróquia de Riacho Fundo II, DF, pa-

ra a Sede Provincial, RJ.

- Ir. Edmar Roque Teixeira: da Casa Dom Viçoso, BH, para o Santuário

Nossa Senhora Mãe dos Homens, Caraça.

- Ir. Milton Pereira de Jesus: do Seminário São Justino de Jacobis, BH,

para a Casa Dom Viçoso, BH, em substituição do Ir. Edmar.

108

- Pe. Geraldo E. Mól Santos: da Sede Provincial, RJ, para a Missão-

Paróquia São José Operário, em Serra do Ramalho, BA.

Todos aceitaram as mudanças em espírito de fé e obediência. Mas preci-

samos compreender que nem por isso deixam de sentir o impacto das no-

vas situações. A eles, nosso agradecimento pela disponibilidade em conti-

nuar servindo onde foram colocados.

4. Pe. Luiz Roberto Lemos do Prado, de Moçambique, onde está residindo

atualmente, deu-nos notícias novas. Entre outras considerações, diz o se-

guinte: “Estou me sentindo muito bem em Moçambique... Já estou bem

familiarizado com a turma que forma comunidade comigo. Vivo numa casa

onde está o Seminário Interno (4 Noviços). Fizemos uma boa programação

de visitas às 19 comunidades que formam a paróquia que assumi... Estou

tentando aprender o changana... rezando já uma parte da Missa na língua

nativa. A convivência nesta comunidade internacional está sendo muito

boa. Logo logo, vou treinar a direção do carro e tirar carteira de motoris-

ta...”.

5. Pe. Vandeir Barbosa de Oliveira, de Paris, onde é estudante, deu-nos no-

tícias: “Estou estudando Teologia Sistemática e Teologia Fundamental...

Dedico-me de maneira particular à Cristologia e, nos meus trabalhos deste

ano, focalizo o tema da Ressurreição na sua relação com a história. Espero

concluir bem este ano que terminará um pouquinho antes do final de ju-

nho...”.

6. Acesse o site da Província: www.pbcm.com.br e veja a diferença. É o re-

sultado do trabalho do Pe. Marcus Alexandre Mendes de Andrade. A pedi-

do do Visitador, ele assumiu essa tarefa com alegria e competência.

7. No que se refere à indicação dos Diretores das Filhas da Caridade das 6

Províncias do Brasil, os Visitadores decidiram redefinir as responsabilidades

de cada uma das nossas Províncias, determinando o seguinte:

- PFCM: Províncias de Fortaleza e da Amazônia.

- CMPS: Províncias de Curitiba e de Recife.

- PBCM: Províncias de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro.

Pe. Geraldo Ferreira Barbosa, C. M.

109

II – Novo Bispo da Congregação da Missão

Aprouve ao Papa Bento XVI designar mais

um filho de São Vicente para o exercício do minis-

tério episcopal. Desta vez, a escolha recaiu sobre

o Pe. José Carlos Chacorowski, da Província do

Sul, nomeado bispo titular de Casae Nigrae e au-

xiliar de São Luís do Maranhão. Até o momento

de sua nomeação, ocorrida a 22 de dezembro de

2010, Pe. José Carlos era Diretor Provincial das

Filhas da Caridade da Amazônia, com residência em Belém (PA). Seu currí-

culo missionário inclui trabalhos os mais diversos, da missão no Zaire (hoje,

República Democrática do Congo) à Pastoral Rodoviária, tendo passado

também por várias paróquias e atuado tanto na formação dos Nossos

quanto na formação do clero diocesano. A Ordenação Episcopal foi realiza-

da em Curitiba, a 19 de fevereiro passado. Nossa Província esteve repre-

sentada pelo Padre Visitador. No dia 12 de março, Dom José Carlos Chaco-

rowski foi apresentado à Igreja de São Luís como seu bispo auxiliar. O lema

episcopal do novo prelado, extraído de Lc 4, 18, evidencia o seu desejo de

fazer deste ministério que lhe foi confiado um prolongamento de sua voca-

ção vicentina: Evangelizare pauperibus misit me. Com alegria, saudamos

nosso coirmão bispo, desejando-lhe um ministério fecundo e um pastoreio

abençoado, sob o olhar da Mãe das Graças.

III – Solenidade de Santa Luísa em BH

No dia 15 de março, solenidade de Santa Luísa de Maril-lac, os Ramos da Família Vicentina presentes em Belo Hori-zonte se reuniram na Creche Menino Jesus para uma celebra-ção eucarística, preparada com esmero pelas Filhas da Cari-dade. Juntos, quisemos elevar ao Senhor nosso hino de grati-dão pela vida de Luísa de Marillac, por sua generosa abertura ao toque do Espírito e por sua dedicação exemplar ao serviço dos pobres nas mais variadas circunstâncias em que lhe foi

dado atuar, sempre impelida pela caridade de Cristo. Assumimos o com-promisso de continuar celebrando essa data em comum, a fim de que os

110

membros de nossa Família conheçam cada vez melhor o perfil humano, es-piritual e missionário de Santa Luísa e nela encontrem inspiração e estímu-lo para perseverarem na missão que o Senhor nos confia como herdeiros de um fascinante e comprometedor carisma.

IV – Nova residência dos Coirmãos do Paulo VI

No início deste ano de

2011, conseguimos comprar a

casa onde as Irmãs Marianitas

residiam nas proximidades da

Comunidade Nossa Senhora

das Graças, na Missão-Paróquia

Pai Misericordioso. É uma casa

que responde bem às nossas necessidades e não perde o perfil da inserção

nos meios populares de nossa Missão.

A Missão-Paróquia Pai Misericordioso está localizada numa das regi-

ões mais pobres de Belo Horizonte, mas nem por isso deixa de administrar

bem seus recursos financeiros, mesmo sabendo da fragilidade de suas re-

ceitas.

Gostaria também de apresentar alguns motivos que nos levaram a de-

cidir pela aquisição de uma nova residência paroquial.

Nossa paróquia foi fundada em janeiro de 1999. Desde então os pa-

dres nela colocados passaram a morar na casa que foi construída acoplada

à igreja da comunidade São José Operário, onde funciona a secretaria pa-

roquial, localizada na confluência de duas ruas: Cana Caiana e Av. Antônio

Mariano de Abreu (avenida principal e única). Essa avenida é extremamen-

te barulhenta, seja pelas linhas de ônibus, pelos comércios, pelo trânsito

intenso, pela igreja Universal do Reino de Deus e pela Escola Municipal Pro-

fessora Acidália Lott que fica parte na avenida e parte à rua Cana Caiana.

Carros de propaganda dos comércios circulam pela avenida e, nos finais de

semana, alguns jovens exibem os seus carros de som, num barulho infer-

111

nal. Isso bem em frente à Igreja Universal que fica a alguns poucos metros

da casa onde moramos.

Um fator que nos causa significativo stress é termos a secretaria paro-

quial praticamente dentro de nossa casa. A sensação psicológica é de es-

tarmos o tempo todo no local de trabalho, de nunca nos desligarmos.

Outro aspecto a ser levado em consideração é o tamanho da casa.

Tem apenas 3 quartos. Dois bastante pequenos, com um banheiro comum

entre eles. O outro um pouco maior é que tem suíte. Nos fundos da casa,

adaptamos uma sala de computador para ser um 4º quarto. Além disso, a

casa é uma espécie de apartamento e “apertamento” que dá uma certa

sensação de “sufocamento”. O espaço da atual casa pretendemos trans-

formá-lo em um centro de pastoral da paróquia.

Estamos muito satisfeitos com a nova residência e agradecemos a

PBCM por ter nos apoiado e ajudado para a aquisição deste imóvel, por

meio do empréstimo do complementando.

Convidamos a todos para nos visitar! Serão muito bem-vindos!

Pe. Alexandre Nahass Franco, C. M. Pelos Coirmãos da Missão-Paróquia

V – Interprovincial das Filhas da Caridade do Brasil

Realizou-se, no período

de 1 a 8 de abril do corrente

ano, em Belém do Pará, o

XVIII Encontro das seis Pro-

víncias das Filhas da Caridade

do Brasil, representadas por

suas Visitadoras, Conselhos e

Diretores Provinciais.

O tema que norteou os trabalhos do Encontro foi: Na Amazônia, o Es-

pírito revigora o compromisso missionário. O objetivo do XVIII Interpro-

vincial foi avaliar as Linhas de Ação do último Encontro e traçar as novas Li-

112

nhas de Ação que irão orientar a missão das Filhas da Caridade no Brasil,

nos próximos três anos. Para ajudar na reflexão sobre o tema central, fo-

ram apresentados três conteúdos, com os seguintes temas e seus respecti-

vos assessores: Chamadas a viver em comunhão – Ir. Marlene Terezinha

Rosa, conselheira geral; Compromisso missionário frente aos novos desafios

– Mons. Raimundo Possidônio; A Palavra de Deus como força missionária

na espiritualidade vicentina – Dom Vicente Zico. Esses temas muito ajuda-

ram na elaboração das duas Linhas de Ação aprovadas no penúltimo dia do

encontro.

A acolhida das Irmãs, o ambiente fra-

terno, as celebrações eucarísticas, os mo-

mentos de espiritualidade que antecediam

cada encontro da tarde, a seriedade nos

grupos de trabalho e nos grupos por ofício,

o city tour monitorado por um competente

guia, etc., tudo fez com que o Encontro In-

terprovincial tivesse pleno sucesso. Parabéns à Província da Amazônia, pela

organização, zelo, seriedade, acolhimento e testemunho missionário. Deus

seja sempre louvado e reconhecido pelo trabalho de cada Irmã, particu-

larmente naquela porção do Brasil, onde a biodiversidade é notória e tão

cobiçada por suas múltiplas riquezas.

A missa de encerramento foi presidida pelo Arcebispo, Dom Alberto

Taveira, e concelebrada por Dom Vicente Zico e por cinco Diretores Provin-

ciais. Por tudo, dou graças a Deus!

Pe. Onésio Moreira Gonçalves, C. M.

VI – Seminário São Justino de Jacobis

Consciente do significado da voca-

ção vicentina e das exigências de uma

adequada formação inicial, a comunida-

de do Seminário São Justino de Jacobis

(Propedêutico e Filosofia), desde o início

do ano, vem se esforçando por concreti-

113

zar regularmente tudo o que foi assumido na elaboração do seu Planeja-

mento.

De grande proveito para todos, os encontros mensais de formação se

apresentam como oportunidades privilegiadas de reflexão sobre temas

pertinentes às dimensões do processo formativo. Começamos participando

de um estudo promovido pela CRB-BH, em fevereiro, sobre o tema da

Campanha da Fraternidade – 2011, com a assessoria da missióloga Ir. Alzira

Munhoz, CF. No mês de março, Pe. Dejair de Rossi, C. M., discorreu magis-

tralmente sobre o tema da Consciência Moral. Em abril, foi a vez do Pe. A-

lexandre Nahass Franco, C. M., instigando-nos com uma interessante refle-

xão sobre Liderança Servidora. Para maio, aguardamos a vinda do Pe. Ma-

noel Godoy, que nos fará uma apresentação das linhas mestras do Docu-

mento de Aparecida. Em junho, iremos ao Caraça para um dia de espiritua-

lidade e formação com o Padre Lauro Palú, C. M., sobre as Virtudes Vicenti-

nas. E, no segundo semestre, teremos mais.

O Postulinter tem sido avaliado positivamente pelos membros de nos-

sa comunidade que dele participam (Adão, Ezequiel e Polier). Ressaltam,

sobretudo, a relevância dos temas até agora abordados e a possibilidade

de conhecer e interagir com outros carismas que enriquecem e dinamizam

a vida da Igreja. Pe. Wander tem participado ativamente de várias ativida-

des da CRB Regional, tais como a coordenação dos encontros intercongre-

gacionais e o grupo de reflexão de formadores.

Voltando à nossa Casa, uma alvissareira novidade é o curso avançado

de língua portuguesa, ministrado pelo Prof. Mariano Pereira Lopes, bem

conhecido de todos nós, não só por ter sido seminarista da Congregação,

mas também por sua identificação e compromisso com a Família Vicentina.

Aproveitamos para deixar registrada aqui nossa profunda gratidão pelo va-

lioso e promissor serviço que o Prof. Mariano vem prestando à formação

dos Nossos, na mais completa gratuidade, com a seriedade e a competên-

cia que o caracterizam.

De 18 a 20 de março, a Comunidade esteve concentrada em seu retiro

espiritual, realizado no Cenáculo, em Venda Nova. Enriquecido por um si-

lêncio exemplar, por momentos fortes de oração pessoal e comunitária e

114

pela celebração individual do sacramento da Reconciliação, o retiro se

constituiu numa ocasião ímpar para renovar nossa decisão pelo Senhor e,

assim, capacitar-nos como homens de Deus para a missão junto aos Po-

bres.

A Semana Santa foi celebrada em diferentes comunidades, todas

marcadas pela pobreza e pela carência pastoral. Além de nossa participa-

ção na Missão da Família Vicentina (Francisco Badaró, Jenipapo e Chapada

do Norte) e na Missão da CRB, alguns colaboraram em duas outras frentes

missionárias, ambas igualmente desafiadoras: Novo Horizonte (MG), inte-

grando-se a um grupo de leigos da SSVP, e na Vila Santa Rosa, em Belo Ho-

rizonte, campo permanente de nosso apostolado. Voltamos felizes por

termos celebrado a Páscoa de Cristo na páscoa do povo.

De acordo com a sugestão apresentada pelo Padre Visitador e pelos

formadores, os estudantes aceitaram colaborar na organização da bibliote-

ca do Centro Social Padre Raimundo Gonçalves, como uma forma de in-

serção no mundo do trabalho e expressão de zelo pelo patrimônio provin-

cial. Estamos à espera da contratação do bibliotecário que orientará o

complexo serviço de seleção e catalogação do acervo.

Nossa comunidade se mantém sintonizada com os projetos desenvol-

vidos pela Família Vicentina. Por isso, todos tomamos parte no concorrido

Seminário sobre Santas Missões Populares, de 29 de abril a 1 de maio, as-

sessorado pelo Pe. Luís Mosconi, de cujos livros muito nos beneficiamos

em nossos estudos e trabalhos pastorais.

Assim, vamos percorrendo o nosso caminho, sempre atentos ao que o

Senhor pede de nós e iluminados pelo exemplo do patrono de nossa Casa:

“Devemos invocar São Justino de Jacobis para que continue a difundir sua

luz, a inculcar o seu exemplo, a transmitir a sua herança espiritual aos seus

Coirmãos e a todos os missionários” (Paulo VI).

Comunidade do SSJJ

115

VII – Livro de meditações de Dom Vicente Zico

Acaba de ser lançado, pelo Centro de Cultura e Forma-ção Cristã, da Arquidiocese de Belém, o livro Chamados a ser santos no serviço do Povo de Deus, de autoria de Dom Vicente Joaquim Zico, C.M., como justa homena-gem por seus 60 anos de Ordenação Presbiteral (22/10/2010) e 30 de Episcopado (6/1/2011). Trata-se de uma coletânea de breves, profundas e belas medi-tações para sacerdotes, resultantes dos retiros espiri-tuais orientados pelo autor nos últimos dois anos, em várias dioceses do Brasil e em algumas Congregações. A obra se divide em três partes: Ano Paulino: no cami-nho, com o apóstolo Paulo; Ano Sacerdotal: presbítero,

homem de Deus e servidor do seu povo; e Ano Vicentino: o Padre segundo São Vicente de Paulo. Apoiado na Sagrada Escritura, na Tradição, no Magis-tério e nas intuições de seu santo fundador, Dom Vicente oferece aos presbíteros do Brasil um verdadeiro itinerário de santidade, convocando-os a um renovado ardor espiritual e apostólico no serviço do povo de Deus. Pedidos: Centro de Cultura e Formação Cristã: (91) 4009-1550 / e-mail: [email protected]. Site: www.ccfc.com.br.

VIII – Páginas Escolhidas de São Vicente

Veio à luz a tradução brasileira de mais uma das obras do Pe. George-Albert Boissinot, Religioso de São Vicen-te, falecido no ano passado, depois de uma longa vida dedicada aos estudos vicentinos e à pesquisa sobre o seu fundador, Jean-Léon Le Prevost, e a espiritualidade e história de sua congregação. Trata-se de uma criteri-osa seleção de cartas e excertos de conferências de São Vicente de Paulo, precedidos por uma substancio-sa introdução à experiência espiritual do Santo da Ca-

ridade, tendo em vista o conhecimento das grandes intuições que anima-ram e nortearam sua caminhada para Deus e para os Pobres. Utilíssima lei-tura para todos os ramos da Família Vicentina, particularmente para os que desejam conhecer São Vicente por meio de suas próprias palavras. A publi-cação é o resultado de uma parceria entre a PBCM e os RSV do Brasil. Quem desejar adquirir algum exemplar poderá fazê-lo, dirigindo-se à Se-cretaria Provincial.

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