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1 Informação estatística sobre produção de recursos minerais contendo Lítio. Evolução no período de 1998 a 2017 Paula Castanheira Dinis e Sara Horgan Direcção-Geral de Energia e Geologia. Av. 5 de Outubro, nº 208, 208 (Edifício Sta. Maria) 1069-203 Lisboa e-mail: [email protected] e [email protected] Palavras-chave: Lítio; Pegmatitos litiníferos; Produção; Concessão mineira; Estatística; Baterias; Veículos elétricos; Portugal. RESUMO Os recursos minerais têm um enorme potencial para criar, contribuir e apoiar o desenvolvimento sustentável da sociedade moderna. Atendendo à crescente procura de lítio a nível mundial, fundamentada pela sua aplicação em tecnologias sustentáveis, na mobilidade e em sistemas inteligentes de distribuição, armazenamento e transporte de energia, o Governo Português fez uma forte aposta neste setor, tendo lançado as “Linhas de orientação estratégica, quanto à valorização do potencial de minerais de lítio em Portugal” através da Resolução de Conselho de Ministros nº 11/2018 publicada no Diário da República n.º 22/2018, Série I de 2018-01-31. Através da análise realizada neste trabalho, centrada na produção de pegmatitos litiníferos em Portugal nos últimos 20 anos, é possível obter uma perspetiva sobre a produção nacional de recursos minerais contendo lítio. Procurou- se também fazer o enquadramento de Portugal no mundo, em termos de produção deste recurso mineral perspetivando-se, para um futuro próximo, o desenvolvimento sustentável na senda de uma economia de baixo carbono. Linhas de orientação estratégica, quanto à valorização do potencial de minerais de lítio em Portugal Portugal apresenta condições geológicas muito favoráveis à ocorrência de mineralizações de lítio. O aproveitamento dos minerais contendo lítio, ocorre desde há várias décadas, sendo que estes recursos têm sido explorados conjuntamente com os feldspatos, tendo como destino, predominantemente, a indústria da fabricação de produtos cerâmicos refractários e, em menor escala, a indústria da fabricação de azulejos, ladrilhos, mosaicos e placas de cerâmica. Recentemente (desde 2016) verificou-se uma procura crescente do mercado de lítio, fundamentada pela sua aplicação em tecnologias sustentáveis, na mobilidade e em sistemas inteligentes de distribuição, armazenamento e transporte de energia, com destaque para o fabrico de baterias de iões de lítio com forte utilização nos veículos elétricos, fomentando, assim, o desenvolvimento de uma economia de baixo carbono. Desde 2016 diversas empresas formalizaram junto da DGEG 37 novos pedidos de prospeção e pesquisa de lítio, com um valor de investimento proposto na ordem dos 4 milhões de euros para o período inicial de contrato (3 anos), abrangendo uma área de cerca de 2500 km 2 . Ocorreram diversos entraves ao desenvolvimento e atribuição de direitos de prospeção e pesquisa para estes novos pedidos, uma vez que, na maioria dos casos, existia sobreposição de pedidos relativamente às áreas solicitadas. Em face desta procura e havendo interesse em dinamizar o setor e o mercado do lítio, o Governo português fez uma forte aposta neste setor e, em 13 de dezembro de 2016, determinou a constituição de um Grupo de Trabalho (Despacho nº 15040/2016), composto por 5 entidades: Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), Empresa de Desenvolvimento Mineiro, SA (EDM), e duas associações industriais do setor, a ASSIMAGRA e a ANIET, com o objectivo de identificar as ocorrências com potencial para revelação e aproveitamento deste recurso, estabelecer uma hierarquia de prioridades para o seu estudo e prospecção e, sequentemente, propor medidas, estudos ou criação de uma unidade para o seu processamento e beneficiação. Deste esforço, em março 2017, resultou um documento Relatório do Grupo de Trabalho do “Lítio” -, o qual se encontra disponível em http://www.dgeg.gov.pt/?cr=15897 e cujas principais conclusões foram as seguintes: 1. O mercado do lítio e dos seus compostos que abrange a sua aplicação num amplo e diversificado espectro de indústrias, incluindo a cerâmica e o vidro, os lubrificantes industriais, aplicações médicas, baterias de iões-Li, siderurgia de alumínio, entre muitas outras mantém-se dinâmico, com uma procura elevada e sustentável com reflexos na subida dos preços;

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    Informação estatística sobre produção de recursos minerais contendo Lítio. Evolução no período de 1998 a 2017

    Paula Castanheira Dinis e Sara Horgan

    Direcção-Geral de Energia e Geologia.

    Av. 5 de Outubro, nº 208, 208 (Edifício Sta. Maria)

    1069-203 Lisboa

    e-mail: [email protected] e [email protected]

    Palavras-chave: Lítio; Pegmatitos litiníferos; Produção; Concessão mineira; Estatística; Baterias; Veículos elétricos;

    Portugal.

    RESUMO Os recursos minerais têm um enorme potencial para criar, contribuir e apoiar o desenvolvimento sustentável da

    sociedade moderna. Atendendo à crescente procura de lítio a nível mundial, fundamentada pela sua aplicação em

    tecnologias sustentáveis, na mobilidade e em sistemas inteligentes de distribuição, armazenamento e transporte de

    energia, o Governo Português fez uma forte aposta neste setor, tendo lançado as “Linhas de orientação estratégica,

    quanto à valorização do potencial de minerais de lítio em Portugal” através da Resolução de Conselho de Ministros

    nº 11/2018 publicada no Diário da República n.º 22/2018, Série I de 2018-01-31.

    Através da análise realizada neste trabalho, centrada na produção de pegmatitos litiníferos em Portugal nos últimos

    20 anos, é possível obter uma perspetiva sobre a produção nacional de recursos minerais contendo lítio. Procurou-

    se também fazer o enquadramento de Portugal no mundo, em termos de produção deste recurso mineral

    perspetivando-se, para um futuro próximo, o desenvolvimento sustentável na senda de uma economia de baixo

    carbono.

    Linhas de orientação estratégica, quanto à valorização do potencial de minerais de lítio em

    Portugal

    Portugal apresenta condições geológicas muito favoráveis à ocorrência de mineralizações de lítio. O aproveitamento

    dos minerais contendo lítio, ocorre desde há várias décadas, sendo que estes recursos têm sido explorados

    conjuntamente com os feldspatos, tendo como destino, predominantemente, a indústria da fabricação de produtos

    cerâmicos refractários e, em menor escala, a indústria da fabricação de azulejos, ladrilhos, mosaicos e placas de

    cerâmica.

    Recentemente (desde 2016) verificou-se uma procura crescente do mercado de lítio, fundamentada pela sua aplicação

    em tecnologias sustentáveis, na mobilidade e em sistemas inteligentes de distribuição, armazenamento e transporte de

    energia, com destaque para o fabrico de baterias de iões de lítio com forte utilização nos veículos elétricos,

    fomentando, assim, o desenvolvimento de uma economia de baixo carbono. Desde 2016 diversas empresas

    formalizaram junto da DGEG 37 novos pedidos de prospeção e pesquisa de lítio, com um valor de investimento

    proposto na ordem dos 4 milhões de euros para o período inicial de contrato (3 anos), abrangendo uma área de cerca

    de 2500 km2. Ocorreram diversos entraves ao desenvolvimento e atribuição de direitos de prospeção e pesquisa para

    estes novos pedidos, uma vez que, na maioria dos casos, existia sobreposição de pedidos relativamente às áreas

    solicitadas.

    Em face desta procura e havendo interesse em dinamizar o setor e o mercado do lítio, o Governo português fez uma

    forte aposta neste setor e, em 13 de dezembro de 2016, determinou a constituição de um Grupo de Trabalho

    (Despacho nº 15040/2016), composto por 5 entidades: Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG), Laboratório

    Nacional de Energia e Geologia (LNEG), Empresa de Desenvolvimento Mineiro, SA (EDM), e duas associações

    industriais do setor, a ASSIMAGRA e a ANIET, com o objectivo de identificar as ocorrências com potencial para

    revelação e aproveitamento deste recurso, estabelecer uma hierarquia de prioridades para o seu estudo e prospecção e,

    sequentemente, propor medidas, estudos ou criação de uma unidade para o seu processamento e beneficiação. Deste

    esforço, em março 2017, resultou um documento – Relatório do Grupo de Trabalho do “Lítio” -, o qual se encontra

    disponível em http://www.dgeg.gov.pt/?cr=15897 e cujas principais conclusões foram as seguintes:

    1. O mercado do lítio e dos seus compostos que abrange a sua aplicação num amplo e diversificado espectro

    de indústrias, incluindo a cerâmica e o vidro, os lubrificantes industriais, aplicações médicas, baterias de

    iões-Li, siderurgia de alumínio, entre muitas outras mantém-se dinâmico, com uma procura elevada e

    sustentável com reflexos na subida dos preços;

    mailto:[email protected]:[email protected]://www.dgeg.gov.pt/?cr=15897

  • 2

    2. O potencial geológico nacional, embora elevado, apresenta uma insuficiente caraterização das ocorrências

    em termos mineralógicos e de cálculo de recursos, mesmo ao nível inferior de «recursos inferidos», que

    importa clarificar, quer pelos serviços oficiais quer pelas empresas;

    3. Não existem estudos relacionados com as fases de beneficiação (laboratorial e industrial) que possam

    suportar uma estratégia assente na sua instalação, no sentido de promover o aumento do valor acrescentado

    nacional;

    4. Não estão identificados projetos de investigação ou iniciativas de inovação relacionadas com a reciclagem

    dos minerais de lítio das baterias usadas que, numa lógica de economia circular, reduza os resíduos e a

    «pressão» sobre os minerais de lítio de origem primária.

    Recentemente, através da RCM n.º 11/2018, o Governo definiu as “Linhas de orientação estratégica, quanto à

    valorização do potencial de minerais de lítio em Portugal”, que determina a “dinamização de concursos públicos para

    a atribuição de licenças de prospecção e pesquisa, bem como para a respetiva exploração, sobre áreas previamente

    delimitadas”. As áreas potenciais definidas, onde se encontram os principais depósitos associados a este tipo de

    mineralização (depósitos do tipo pegmatito, aplitopegmatito e filões quartzosos), identificadas na figura 1, localizam-

    se no Norte e Centro do país e será sobre estas que serão lançados os concursos públicos.

    Fig. 1: Áreas potenciais para exploração de lítio.

    Fonte: Relatório do Grupo de Trabalho do “Lítio”.

  • 3

    Produção de pegmatítos litiníferos em Portugal – últimos 20 anos (1998-2017)

    Analisando os últimos 20 anos, no que se refere à produção de pegmatitos litiníferos em Portugal, constatamos que,

    ao longo deste período, contribuíram para a produção 8 concessões mineiras – denominadas “Alijó”, “Lousas”,

    “Mina do Barroso“ e “Gondiães”, localizadas na zona 2- Barroso-Alvão (de acordo com mapa da RCM 11/2018,

    figura 1); e “Alvarrões”, “Castanho”, “Castanho Sul” e “Gonçalo Sul” localizadas na zona 7- Guarda (de acordo com

    mapa da RCM 11/2018, figura 1), as quais constam do quadro1 e mapa seguintes:

    Quadro 1. Cadastro das concessões mineiras com produção de pegmatito litinífero, em 2017

    Fonte: DGEG

    Ativas Suspensão autorizada Inativa Estado não definido

    Quadro 2. Situação das concessões mineiras em termos de atividade no período 1998-2017

    Fonte: Inquérito único DGEG

    Os dados utilizados nesta análise foram obtidos a partir da base de dados da estatística dos recursos geológicos da

    DSEF-RG da Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) são referentes ao período 1998-2017. Tratam-se de

    dados anuais de produção de pegmatitos litiníferos das 8 concessões mineiras acima referidas, os quais se apresentam

    em seguida, no gráfico 1:

    C o nc e s s ã o m ine ira N º C a da s tro Em pre s a c o nc e s s io ná ria D is trito C o nc e lho Á re a s (ha ) S ite

    ALIJ Ó MNC000111 J o s é Alde ia Lago a & Filho s , S .A. Vila Real Ribe ira de P ena 312,5 http://www.josealdeialagoafilhos.pt/

    ALVARRÕES MNC000008 SOCIEDADE MINEIRA CAROLINOS, LDA. Guarda Guarda 641,29

    CASTANHO MNC000057 P EGMATÍTICA - So ciedade Mineira de P egmatites , Lda Guarda Guarda 90,71

    CASTANHO SUL MNC000043 FELMICA - MINERAIS INDUSTRIAIS, S .A. Guarda Guarda 71,99 https://mota-sc.com/grupo-mota/

    GONÇALO SUL MNC000070 J o s é Alde ia Lago a & Filho s , S .A. Guarda Guarda 51,3 http://www.josealdeialagoafilhos.pt/

    GONDIÃES MNC000108 FELMICA - MINERAIS INDUSTRIAIS, S .A. Braga Cabeceiras de Bas to 27,92 https://mota-sc.com/grupo-mota/

    LOUSAS MNC000110 FELMICA - MINERAIS INDUSTRIAIS, S .A. Vila Real Bo ticas 65,71 https://mota-sc.com/grupo-mota/

    MINA DO BARROSO MNC000100 SlipStream Res o urces P o rtugal Unipes s o a l, Lda Vila Real Bo ticas 542,12 http://slipstreamresources.com/

    C o nc e s s ã o m ine ira 19 9 8 19 9 9 2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 10 2 0 11 2 0 12 2 0 13 2 0 14 2 0 15 2 0 16 2 0 17

    ALIJ Ó

    ALVARRÕES

    CASTANHO

    CASTANHO SUL

    GONÇALO SUL

    GONDIÃES

    LOUSAS

    MINA DO BARROSO

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    Gráfico 1: Produção de pegmatitos litiníferos, em toneladas e milhares euros.

    Fonte: Estatística dos recursos geológicos da DSEF-RG da Direção Geral de Geologia e Energia.

    A escala de produção destas concessões mineiras é variável ao longo dos anos, havendo casos onde se mantem a

    regularidade produtiva com valores anuais consistentes, e outros com valores de produção significativamente

    menores havendo mesmo, nalguns casos, períodos de suspensão de atividade.

    Entre 1998 e 2006 a produção de pegmatitos contendo lítio foi exclusivamente assegurada por três concessões

    mineiras, nomeadamente “Castanho”, “Alvarrões” e “Gonçalo Sul”. Neste período verificou-se um aumento de

    produção de cerca de 15.000 toneladas, a qual em 2006 era de 28.500 toneladas. A quebra de produção em 1999

    deveu-se à interrupção da produção em duas destas concessões mineiras (“Castanho” e “Gonçalo Sul”). Entre 2007 e

    2011 a produção teve um aumento gradual, com a entrada em produção das concessões mineiras “Alijó”, “Gondiães”

    e “Mina do Barroso” e com o aumento da produção nas concessões anteriormente referidas, tendo em 2011 atingido o

    valor de 43.000 toneladas (variação +9.000 toneladas). Em relação ao período de 2012 a 2015, verificou-se uma

    diminuição acentuada da produção nas concessões mineiras com maior produção, situação traduzida pelos gráficos

    acima (variação -20.000 toneladas). O incremento registado em 2016 (variação de +20.000 toneladas) teve origem na

    retoma da produção de pegmatitos litiníferos na concessão mineira de “Lousas” e no aumento significativo de

    produção na concessão mineira de “Alijó”. Em 2017, houve novamente uma subida relevante na produção,

    perfazendo cerca de 66 mil toneladas (variação +25.000 toneladas), a que correspondeu um valor de produção de

    1.140 mil euros no total, tendo sido registado nesse ano o valor de produção mais elevado para todo o período em

    análise (1998-2017). Importa ainda referir que esta subida ficou a dever-se ao aumento de produção em “Alvarrões”,

    “Mina do Barroso”, “Alijó” e “Lousas”.

    Relativamente aos dados de produção no período 1998-2017, verificamos haver uma tendência crescente, embora

    com algumas oscilações (1999 e 2012-2015), sendo que ao comparar os dados de produção de 1998 com os de 2017

    verificamos ter havido um aumento de 80%, em tonelagem e em valor:

    1998 2017

    ton. 103 (€) ton. 103 (€)

    13 306 209 65 743 1 138

    Quadro 3 Totais da produção, em 1998 e 2017

    Fonte: Inquérito único DGEG

    A produção proveniente destas minas é, na sua maioria, utilizada na indústria nacional, existindo uma percentagem

    que se destina ao mercado europeu, principalmente, Espanha e França. A título de exemplo, em 2016, 35% da

    produção de pegmatito litinífero teve como destino este mercado.

    Mineralizações contendo lítio: Recursos e projetos em curso

    O grau de conhecimento destes recursos, em Portugal, tem aumentado na sequência de trabalhos de prospeção

    e pesquisa realizados nos últimos anos.

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    1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

    Quant. (escala esq.)

    Valor (escala dir.)

    ton 103€

  • 5

    Os dados mais recentes, existentes na DGEG, permitem contabilizar nas 8 concessões mineiras em atividade um

    volume global de reservas de 10,7 milhões de toneladas de pegmatito litinífero com teor médio ponderado de 1,06%

    Li2O, o que corresponde a cerca de 113 mil toneladas de Li2O contido e 53 mil toneladas de lítio metal. Ainda para

    estas 8 concessões mineiras, em termos de recursos, podemos afirmar que existem cerca de 22,7 milhões de toneladas

    de pegmatito litinífero com teor médio ponderado de 1,07% Li2O, a que correspondem cerca de 243 mil toneladas de

    Li2O contido e 113 mil toneladas de lítio metal.

    Existem atualmente 4 projetos em curso para a exploração de depósitos minerais contendo lítio, nomeadamente

    Barroso, Alvarrões, Argemela e Sepeda. Para estes projetos, os recursos estimados são de 48,4 milhões de toneladas

    com teor médio ponderado de 0,86% de Li2O correspondendo a 419 mil toneladas de Li2O contido e 194 mil

    toneladas de lítio metal.

    Dois dos projetos, Barroso e Alvarrões, correspondem a concessões mineiras em atividade, em que as empresas

    detentoras dos direitos se encontram a reestruturar os seus projetos de exploração tendo por objetivo a produção de

    concentrados de lítio. Os outros 2 projetos mineiros, Argemela e Sepeda, encontram-se em fase de atribuição de

    direitos de exploração na sequência dos trabalhos realizados ao longo de 5 anos no âmbito dos contratos de prospeção

    e pesquisa, que permitiram deixar demonstrada a existência de recursos e a viabilidade económica para a sua

    exploração.

    Comércio externo

    De acordo com os últimos dados da publicação anual World Mining Data, relativos à produção de lítio, Portugal

    ocupava, em 2015, a 8ª posição a nível mundial. A primeira posição é ocupada pela Austrália com a produção de

    24.140ton. de lítio contido, seguindo-se o Chile com a produção de 22.500ton. (2ª posição), a China com 9.500ton.

    (3ª posição), a Argentina com 7.710ton. (4ª posição) e os E.U.A. com 2.000ton. (5ª posição).

    Gráfico 2: Distribuição da produção mundial de lítio (Li2O contido).

    Fonte: World Mining Data 2017.

    Analisando a produção mundial nos últimos 10 anos (gráfico 3), constata-se que a produção de lítio, em termos

    gerais, tem vindo a aumentar. No período 2006 a 2015,observou-se uma subida de 21.793ton, tendo atingido cerca de

    68.000ton de Li2O contido no total.

    Encontrando-se o mercado do lítio em franca expansão é expectável que se registe uma subida ainda mais acentuada

    dos valores de produção e que, face às condições favoráveis existentes em Portugal, o contributo nacional para este

    mercado seja significativo, o que colocará Portugal no ranking de países líderes em produção de lítio, colocando a

    Europa no “mapa” deste mercado.

    Austrália 35%

    Chile 33%

    China 14%

    Argentina 11%

    EUA 3%

    Outros 4%

  • 6

    Gráfico 3: Evolução da produção mundial de Lítio (Li2O contido), em toneladas. Fonte: World Mining Data 2012; World Mining Data 2017.

    Em termos de produção de Li2O, ao longo destes 10 anos em análise (Quadro 4), verifica-se que a Austrália e o Chile

    lideram a produção deste concentrado representando, no geral, 70% da produção mundial anual. O Chile ocupa a 1ª

    posição, dando lugar à Austrália em 2015. Focando a produção chinesa, verificamos uma subida progressiva,

    passando da 5ª posição, com 2.820ton. em 2006, para a 4ª com 5.450ton. em 2010 e, finalmente, para a 3ª posição,

    com 9.500ton. em 2012. A China representa, assim, o país com o maior acréscimo de produção ao longo deste

    período.

    Em 2009 verifica-se uma queda de cerca de 15.000 ton. na produção, a qual encontra explicação na vulnerabilidade

    do lítio em relação aos fatores externos, nomeadamente, o deflagrar da crise financeira do Subprime em 2008, com

    origem nos E.U.A.

    Quadro 4: Evolução da produção mundial de Lítio (Li2O contido), em toneladas.

    Fonte: World Mining Data 2012; World Mining Data 2017.

    Em 2010, o lítio foi incluído no grupo dos 41 recursos minerais considerados críticos pelo Ad-hoc Working Group on

    defining critical raw materials1, no âmbito da Iniciativa Matérias-Primas apesar de, atualmente, o lítio não fazer parte

    da lista de matérias primas críticas revista em 20172. Em 2008, esta matéria-prima já tinha sido classificada como

    crítica nos Estados Unidos, pelo Committee on Critical Mineral Impacts on the U.S. Economy3.

    O forte impulso e interesse no lítio deu-se há cerca de 3 anos, com o aumento da produção de carros elétricos, com

    reflexo no aumento exponencial das cotações deste metal (gráfico 4). Isto leva-nos a perspetivar/planear uma

    mudança de paradigma em termos energéticos – “a transição da locomoção automóvel de “dependente da combustão

    de derivados do petróleo” para “dependente da eletricidade acumulada em baterias””4.

    1 https://ec.europa.eu/growth/tools-databases/eip-raw-materials/en/system/files/ged/79%20report-b_en.pdf 2 https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:52017DC0490&from=EN 3 https://www.nap.edu/initiative/committee-on-critical-mineral-impacts-of-the-us-economy 4 “Recursos geológicos de Trás-os-Montes – Passado, presente e prespetivas futuras”; pg. 57

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    2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

    ton posição ton posição ton posição ton posição ton posição ton posição ton posição ton posição ton posição ton posição

    Austrália 11 105 2ª 9 613 2ª 11 976 2ª 9 874 2ª 16 343 2ª 21 050 2ª 27 120 2ª 21 000 2ª 22 200 2ª 24 140 1ª

    Chile 20 700 1ª 24 111 1ª 22 997 1ª 12 538 1ª 20 950 1ª 27 680 1ª 28 490 1ª 24 130 1ª 24 820 1ª 22 500 2ª

    China 2 820 5ª 3 010 5ª 3 100 5ª 2 600 5ª 5 450 4ª 5 290 4ª 6 870 3ª 8 600 3ª 10 000 3ª 9 500 3ª

    Argentina 6 256 3ª 6 691 3ª 6 783 3ª 5 016 3ª 6 820 3ª 5 720 3ª 5 660 4ª 5 700 4ª 6 400 4ª 7 710 4ª

    E.U.A. 3 200 4ª 3 230 4ª 3 230 4ª 3 000 4ª 3 000 5ª 3 000 5ª 3 000 5ª 3 000 5ª 3 000 5ª 2 000 5ª

    Outros 2 475 6ª 1 674 6ª 1 880 6ª 1 713 6ª 2 815 6ª 1 623 6ª 2 306 6ª 2 333 6ª 2 380 6ª 2 499 6ª

    TOTAL 46 556 48 329 49 966 34 741 55 378 62 203 72 116 63 633 69 050 68 349

    2012 2013 2014 20152006 2007 2008 2009 2010 2011

    ton

    https://ec.europa.eu/growth/tools-databases/eip-raw-materials/en/system/files/ged/79%20report-b_en.pdfhttps://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:52017DC0490&from=ENhttps://www.nap.edu/initiative/committee-on-critical-mineral-impacts-of-the-us-economy

  • 7

    Gráfico 4: Evolução do preço do carbonato de lítio e do hidróxido de lítio, de 2005 a 2016.

    Fonte: WorldBenchmark Mineral Inteligence.

    As recentes estimativas5 apontam para a existência, em 2018, de mais de 3 milhões de carros elétricos em circulação

    em todo o mundo. De acordo com dados de 2016, a China lidera as vendas, detendo 43% deste mercado, seguida pela

    União Europeia (21%) e pelos E.U.A. (20%). Na União Europeia, em 2017, existiam cerca de 738.000 carros

    elétricos em circulação, significando um aumento de 37% em relação ao ano anterior. Os países com maior frota na

    UE são Alemanha, Reino Unido, França, Suécia e Países Baixos.

    Gráfico 5: Evolução global do número de carros elétricos, de 2011 a 2016.

    Fonte: Research for TRAN Committee Battery-powered electric vehicles: market development and life cycle emissions.

    Gráfico 6: Evolução das vendas de veículos elétricos na União Europeia, de 2011 a 2016. (BEV – Battery Electric Vehicle; PHEV – Plug-in Hybrid Electric Vehicle)

    Fonte: Research for TRAN Committee Battery-powered electric vehicles: market development and life cycle emissions.

    5 Research for TRAN Committee - Battery-powered electric vehicles: market development and lifecycle emissions (European Parliament)

  • 8

    De acordo com as estimativas da campanha EV30@306, que estabelece como meta, atingir 30% de participação de

    vendas de veículos elétricos até 2030, foram criados 2 cenários possíveis (gráficos da figura seguinte). No cenário

    mais ambicioso, “EV30@30 Scenario”, perspetiva-se um aumento exponencial do número de veículos elétricos que

    irá atingir cerca de 200 milhões nos próximos 10 anos.

    Gráfico 7: Cenários “New Policies Scenario” e “EV30@30 Scenario” relativos às estimativas do número de veículos elétricos a nível mundial

    Fonte: Electrical Vehicles Initiative; EV30@30 Campaign Beijing (China), 8 June 2017

    Considerações finais

    Com o interesse internacional pelo lítio a crescer, em conjunto com o potencial que Portugal apresenta, “é necessária

    a aplicação de uma nova metodologia que contribua para a maximização do valor do recurso pegmatito”7, de modo a

    viabilizar o aproveitamento do lítio para outros fins, nomeadamente, para o seu uso no fabrico de baterias destinadas

    a veículos elétricos.

    É assim expectável que o lançamento do concurso público para a prospeção e pesquisa de lítio, que o Governo

    Português irá lançar até ao final de 2018, venha dinamizar o setor mineiro. Esta exploração de pegmatitos litiníferos

    deve ser encarada não só para a exploração do lítio, mas também de outros minerais com interesse económico, como

    são o quartzo, o feldspato, a granada, as micas, as terras raras, o nióbio, o tântalo e o estanho de forma a valorizar este

    recurso de forma integral.

    Num futuro que se avizinha próximo, as iniciativas que promovem a sustentabilidade ambiental terão que ser

    privilegiadas, nomeadamente, no que se refere à economia de baixo carbono, na qual o lítio terá uma importância

    crucial. As atuais estimativas preveem um crescimento exponencial do número de veículos elétricos, apontando para

    a existência de cerca de 200 milhões de veículos elétricos em circulação no mundo, em 2030.

    Referências bibliográficas:

    European Parliament, 2018, Research for TRAN Committee - Battery-powered electric vehicles: market development and lifecycle emissions;

    Carlos Augusto Alves Leal Gomes, 2018, Panorâmica sobre condições naturais de ocorrência de minérios de lítio no Norte de Portugal – Perspectivas de valorização de

    recursos de Lítio metálico, Universidade do Minho;

    GEONOVAS N.º 25, 2012;

    EV30@30 Campaign, Beijing (China), 2017;

    World Mining Data 2012;

    World Mining Data 2017;

    Relatório do Grupo de Trabalho do “Lítio”; 2017;

    Resolução do Conselho de Ministros n.º 11/2018, de 31/01/2018;

    Dados da Estatística dos recursos geológicos da DSEF-RG da Direção Geral de Geologia e Energia;

    http://benchmarkminerals.com/.

    6 https://www.iea.org/media/topics/transport/3030CampaignDocumentFinal.pdf

    7 GEONOVAS N.º 25, 2012; pg. 19.

    http://benchmarkminerals.com/https://www.iea.org/media/topics/transport/3030CampaignDocumentFinal.pdf