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Informação, Ciência, Política Científica: O Pensamento de Derek de Solla Price Gilda Maria Braga Instituto Brasileiro de Bibliografia e Documentação Escola de Biblioteconomia e Documentação da FEFIEG Derek de Solla Price, Ph. D. em Física, Ph. D. em História da Ciência, Avalon Professor de História da Ciência da Universidade de Yale — que criou para ele o Department of History of Science and Medicine — Consultor da National Science Founda- tion, Vice-Presidente do Internacional Council for Science Policy Studies, detentor de inúmeros tí- tulos e prêmios científicos em âmbitos nacional e internacional, autor de mais de 300 livros e artigos, é sem dúvida alguma, um dos melhores exemplos da eficácia do chamado Matthew Effect in Science. Dois, dentre seus livros, são considerados clássicos da literatura: Science Since Babylon, traduzido em árabe, polonês e urdu foi recebido pela crítica em termos de "excelentes observações e fatos curiosos ... abundantes em um livro leve, deli- cioso e curioso"; Little Science, Big Science — "leitura compulsória para todo cientista", segundo a revista Nature — foi editado também em paperback e traduzido em russo, italiano, polonês, japonês, alemão, romeno, francês e espanhol. Suas pesquisas são tão importantes quanto diversificadas: des- cobriu o único manuscrito sobre Astronomia do poeta inglês Geoffrey Chaucer; estabeleceu a re- lação entre os relógios d'água chineses e os me- dievais europeus; analisou e interpretou o complexo e sofisticado mecanismo de Antikythera, um ca- lendário astronômico descoberto em 1901 e cons- truído aproximadamente em 80 AC.; estudou o comportamento c as redes de citações bibliográ- ficas, dando nova dimensão a esses estudos biblio- métricos; descreveu a natureza da Ciência, da co- municação e da produtividade científica, através de leis internacionalmente aceitas: Frente de Pes- quisa, Colégios Invisíveis, Crescimento Exponen- cial, Elitismo etc.; estabeleceu fundamentos para a política científica e tecnológica que têm sido largamente utilizados por vários países. Em 1964, após prestar depoimento no Congresso Norte Americano, ao Pucinshi Committee, sobre a criação de um centro nacional de informações, Derek de Solla Price resumiu, em sete itens, pro- blemas fundamentais da ciência e, da informação científica: precisamos de mais pesquisas sobre a na- tureza e a função da informação; mais pesquisas são necessárias, antes que esquemas de indexação mecanizada possam ser desenvolvidos em grande escala, para enfrentar os problemas da recuperação da informação; as informações que sejam ou pos- sam ser de natureza taxonômica devem ser cen- tralizadas e processadas mecanicamente; a infor- mação tecnológica, não-taxonômica e não-cumula- tiva, requer tratamento específico e diferente para ser adequadamente processada ou centralizada; os meios de comunicação informal, predominantes na Frente de Pesquisa, necessitam de auxílio atra- vés da formação de novos Colégios Invisíveis; mais comunicação formal, para uso da Frente de Pesquisa, vem sendo aperfeiçoada pelos índices de citações, cuja utilização deve ser francamente estimulada; seria muito oportuno o lançamento de um jornal científico, diário, para facilitar o inter- câmbio de informações entre os crescentes subcam- pos especializados da atividade científica e tec- nológica. , A CIÊNCIA COMO CIÊNCIA A Ciência da Ciência é bem mais vasta que o termo que a designa, abrangendo várias Ciências da Ciência e talvez várias Humanidades da Ciência. Há uma tendência generalizada para conceituar a nova disciplina como um conjunto de conheci- mentos explorados em duas direções verticais: de cima para baixo e de baixo para cima. A partir de cima, pelos administradores e especialistas em política científica, preocupados em fundamentar suas decisões em bases sólidas; a partir de baixo, Ci. Inf., Rio de Janeiro, 3(2):155-177, 1974 155

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Informação, Ciência, Política Científica: O Pensamentode Derek de Solla Price

Gilda Maria BragaInstituto Brasileiro de Bibliografia e DocumentaçãoEscola de Biblioteconomia e Documentação daFEFIEG

Derek de Solla Price, Ph. D. em Física, Ph. D. emHistória da Ciência, Avalon Professor de Históriada Ciência da Universidade de Yale — que crioupara ele o Department of History of Science andMedicine — Consultor da National Science Founda-tion, Vice-Presidente do Internacional Council forScience Policy Studies, detentor de inúmeros tí-tulos e prêmios científicos em âmbitos nacionale internacional, autor de mais de 300 livros e artigos,é sem dúvida alguma, um dos melhores exemplosda eficácia do chamado Matthew Effect in Science.Dois, dentre seus livros, são considerados clássicosda literatura: Science Since Babylon, traduzidoem árabe, polonês e urdu foi recebido pela críticaem termos de "excelentes observações e fatoscuriosos . . . abundantes em um livro leve, deli-cioso e curioso"; Little Science, Big Science —"leitura compulsória para todo cientista", segundo arevista Nature — foi editado também em paperbacke traduzido em russo, italiano, polonês, japonês,alemão, romeno, francês e espanhol. Suas pesquisassão tão importantes quanto diversificadas: des-cobriu o único manuscrito sobre Astronomia dopoeta inglês Geoffrey Chaucer; estabeleceu a re-lação entre os relógios d'água chineses e os me-dievais europeus; analisou e interpretou o complexoe sofisticado mecanismo de Antikythera, um ca-lendário astronômico descoberto em 1901 e cons-truído aproximadamente em 80 AC.; estudou ocomportamento c as redes de citações bibliográ-ficas, dando nova dimensão a esses estudos biblio-métricos; descreveu a natureza da Ciência, da co-municação e da produtividade científica, atravésde leis internacionalmente aceitas: Frente de Pes-quisa, Colégios Invisíveis, Crescimento Exponen-cial, Elitismo etc.; estabeleceu fundamentos para apolítica científica e tecnológica que têm sidolargamente utilizados por vários países.Em 1964, após prestar depoimento no Congresso

Norte Americano, ao Pucinshi Committee, sobre acriação de um centro nacional de informações,Derek de Solla Price resumiu, em sete itens, pro-blemas fundamentais da ciência e, da informaçãocientífica: precisamos de mais pesquisas sobre a na-tureza e a função da informação; mais pesquisassão necessárias, antes que esquemas de indexaçãomecanizada possam ser desenvolvidos em grandeescala, para enfrentar os problemas da recuperaçãoda informação; as informações que sejam ou pos-sam ser de natureza taxonômica devem ser cen-tralizadas e processadas mecanicamente; a infor-mação tecnológica, não-taxonômica e não-cumula-tiva, requer tratamento específico e diferente paraser adequadamente processada ou centralizada; osmeios de comunicação informal, predominantesna Frente de Pesquisa, necessitam de auxílio atra-vés da formação de novos Colégios Invisíveis;mais comunicação formal, para uso da Frente dePesquisa, vem sendo aperfeiçoada pelos índicesde citações, cuja utilização deve ser francamenteestimulada; seria muito oportuno o lançamento deum jornal científico, diário, para facilitar o inter-câmbio de informações entre os crescentes subcam-pos especializados da atividade científica e tec-nológica. ,

A CIÊNCIA COMO CIÊNCIA

A Ciência da Ciência é bem mais vasta que o termoque a designa, abrangendo várias Ciências daCiência e talvez várias Humanidades da Ciência.Há uma tendência generalizada para conceituara nova disciplina como um conjunto de conheci-mentos explorados em duas direções verticais: decima para baixo e de baixo para cima. A partirde cima, pelos administradores e especialistas empolítica científica, preocupados em fundamentarsuas decisões em bases sólidas; a partir de baixo,

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GILDA MARIA BRAGA

por todos os que, segundo análises históricas,características sociológicas e psicológicas de usuáriose produtores da informação e parâmetros seme-lhantes, procuram obter uma imagem real de comoa Ciência c cientistas atuam em várias circuns-tâncias. Entre os dois pólos situam-se economistase especialistas diversos, lidando com dados esta-tísticos, objetivando encontrar as bases teóricasdesse conjunto de conhecimentos.Durante longos anos a Ciência progrediu sem cons-ciência de si mesma, envolvida em uma espéciede misticismo cultivado pelos próprios cientistas;um exame das últimas décadas demonstra, no en-tanto, que a Ciência tornou-se uma força produ-tiva da sociedade, provocando a necessidade deconhecer-se como deveria ser ela administrada efortalecida para os objetivos dessa sociedade.Paradoxalmente, a maior resistência a esta nova dis-ciplina é exercida pelos próprios cientistas, arrai-gados à idéia de que apenas cientistas são capazesde criticar o estado da Ciência, aconselhar insti-tuições e universidades, traçar linhas de ação paralaboratórios de pesquisas e academias. Isto, apesarde a Arte contar com críticos de renome que jamaispintaram, desenharam ou compuseram; analoga-mente, um excelente professor de Economia nãoé geralmente um industrial bem sucedido. Salien-tando, com fino humor, que practice doesn't makeexpertise, Solla Price sugere que talvez os cien-tistas devessem ser alertados para o fato de quenem mesmo a mãe mais prolífica poderia serqualificada como boa ginecologista em função ape-nas daquela virtude. A Ciência requer especia-listas adequadamente treinados para entendê-la edirigi-la; tornou-se importante demais para serdeixada por conta dos cientistas, demasiadamenteocupados em fazer Ciência.Evidentemente tais opiniões provocaram protestosem diferentes revistas, a vários níveis, rapidamen-te encerrados com uma única pergunta: quanto, narealidade, o cientista sabe sobre a Ciência comoum todo. baseado em seu treinamento e experiência?A Ciência da Ciência é uma disciplina de segundaordem, mas de primeira importância, e vem gra-dualmente impondo-se como tal: em 1841 foi criadaa primeira Historical Society of Science, por JamesOrchard Halliwell; o primeiro periódico, Ms.iniciado por George Sarton, em 1913, tornou-se em1924, o órgão oficial de divulgação da Historyof Science Society. .Os primeiros congressos inter-nacionais de História da Ciência foram realizadosem Paris — 1926 — e Londres — 1931. A primeiraguerra mundial acelerou mudanças de pontos devista: com a expansão da Física Nuclear e a orga-nização da Big Science como problema nacional,a batalha pelo planejamento da Ciência ganhounovas dimensões. Os historiadores da Ciência(incluindo Bernal) adquiriram um novo status, nãoporque a Ciência poderia tornar-se importante

fator a nível internacional, mas porque já era im-portante.O reconhecimento da Ciência como poderosa forçamotivadora da civilização, afetando suas estruturasintelectuais, econômicas e políticas, trouxe a neces-sidade de analisar e compreender sua natureza.E há não apenas um. mas vários meios e métodospara tanto. A História e a Filosofia da Ciênciaconstituem domínios em expansão da Sociologia daCiência e das relações entre Ciência e Governo;igualmente emergem núcleos do conhecimento sobrePsicologia dos Cientistas e Economia da Ciência.Estes ramos de estudo derivam, logicamente, dasrespectivas áreas correlatas, mais abrangentes: aHistória da Ciência é uma subdisciplina da Histó-ria; os Sociólogos da Ciência graduam-se em So-ciologia. A conseqüência imediata desse processoé que um grande número dos que analisam aCiência sob estes pontos de vista estão profissionale intelectualmente dentro dos campos afins daHistória, Filosofia, Sociologia, Psicologia, Economia,Política etc. — são espectadores "externos", que,após breve incursão no novo campo, retornam ge-ralmente às respectivas áreas. Apenas a Históriae a Filosofia da Ciência evoluíram o suficiente paratornarem-se autônomas, adotando técnicas espe-cíficas e formando um corpo coeso, com caracte-rísticas próprias.Apesar desse aspecto geral fragmentário, numerososindícios mostram a tendência dessas disciplinaspara formar um todo coerente, maior que a somadas partes.Embora os nomes repetidos tenham caído de modadesde os tempos de Galileo Galilei, a repetiçãodeliberada — Ciência da Ciência * — serve paralembrar-nos que a Ciência deve arcar com toda aresponsabilidade decorrente deste duplo signi-ficado, cm ambos os contextos. Os neologismosCíentografia (Scientography) Cientosofia (Sci-entosophy) soam inexpressivos; Cientologia(Scientology) designa um culto inteiramente alheioao assunto.Ê interessante ressaltar a diferença entre a emer-gente Ciência da Ciência e o correlato grupo dedisciplinas que poderia ser denominado "Humani-dades da Ciência", i. e., a análise da Ciênciaatravés de processos humanísticos. A diferença con-siste da possibilidade de encarar os fenômenos daCiência através de uma abordagem científica — im-plicando uma análise racional e a formação deum conjunto crescente de conhecimentos. Eviden-temente, tais conhecimentos constituíram uma basepara estudos humanísticos, fundamentados em pro-cessos científicos. Curiosamente, embora várioscientistas tenham se tornado líderes da História eda Filosofia da Ciência (incluindo áreas corre-latas), seus conhecimentos têm sido utilizados sob

* Utilizada pela primeira vez em 1935, por Maria eStanislaw Ossowski

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um aspecto internalista; existem muito poucosestudos sobre os métodos, hábitos, motivações dotrabalho científico etc., feitos em bases científicas.Embora as Humanidades da Ciência tenhamatraído um número crescente de especialistas nosúltimos 35 anos, raros aceitaram o desafio de ana-lisar a Ciência "cientificamente".A Ciência da Ciência — como qualquer outra dis-ciplina — entrará em colapso se não for abordadaadequadamente, com o objetivo de adquirir conhe-cimentos que capacitem nossa compreensão doprocesso como um todo. As esperanças de encon-trar-se uma fórmula pronta para a organizaçãoda Ciência em escala nacional são tão poucas quan-to as de encontrar-se a fórmula ideal para o pró-prio progresso científico. Mas há uma chance decompreendermos melhor fenômenos tais como asrelações Homem-Ciência, Ciência-Ciência, Ciência--Tecnologia, e quanto maior for nossa compreensãodestes .fenômenos, mais capazes estaremos para so-lucionar problemas e contornarmos crises.Similarmente à Economia, que tomou-se valiosoinstrumento de auxílio para decisões governamen-tais, sendo ao mesmo tempo uma disciplina aca-dêmica, a Ciência da Ciência é a arma poderosa,que atuando naquelas duas esferas, poderá for-necer os meios necessários para a avaliação e a aná-lise do mundo da Ciência.

NATUREZA DA CIÊNCIA: LEI DO CRESCI-MENTO EXPONENCIAL

Em 1941, alertando para o futuro da pesquisa cien-tífica, Solla Price colocou os problemas do cresci-mento da Ciência em termos de tese — o crescenteconhecimento humano — antítese — a especializaçãoou fragmentação, que retarda este crescimento, esíntese — problema em aberto ao final do artigo,com um ponto de interrogação.O primeiro de seus estudos sobre crescimento expo-nencial foi apresentado ao 6º Congresso Interna-cional de História da Ciência, Amsterdam, 1950.Aplicado às literaturas de Física e de Teoria deDeterminantes e Matrizes, demonstra que o cresci-mento de áreas gerais é totalmente exponencial,enquanto que o de subáreas, após uma fase expo-nencial, transforma-se cm linear. O fator expo-nencial em ambas as áreas faz com que a literaturadobre de volume aproximadamente a cada 10-15anos — sendo pouco afetado por pressões externas,tais como guerras e súbitas descobertas científicas.A lei do crescimento exponencial é um tema fre-qüente na obra de Solla Price, como um sinal dealerta para enfrentarmos o problema antes que sejatarde demais. Seus diversos estudos evidenciamque as unidades de medidas podem variar: esta-tísticas nacionais de recursos humanos, de pro-fissionais registrados nas respectivas associações,

análises de alunos graduados em faculdades e outrosestabelecimentos de ensino, despesas anuais comatividades científicas e tecnológicas, publicaçõescientíficas, número de referências em bibliografiasespecializadas etc., levando sempre à três con-clusões fundamentais:1 — Todas as curvas de crescimento, quaisquer quesejam os parâmetros utilizados, têm, aproximada-mente, o mesmo padrão.2 — A curva é sempre exponencial (com precisãosurpreendente).3 — A constante obtida causa um efeito de dobroem um intervalo de 10-15 anos. § A primeira con-clusão parece indicar que os dados corroboram efe-tivamente, por diferentes processos, o mesmo fe-nômeno geral, podendo ser utilizado qualquer dosconjuntos mencionados acima para medir o "ta-manho" da Ciência.A segunda conclusão apenas confirma o que des-cobrimos intuitivamente: o desenvolvimento dequase todos os organismos tende a ser diretamenterelacionado às respectivas magnitudes; quantomaiores se tornam, mais rapidamente se expandem.Este aumento exponencial governa, também, otamanho da Ciência. Desde 1700 (ou mesmo an-tes), desde a Revolução Científica e os temposde Newton, a Ciência vem aumentando dessa ma-neira. Em outras palavras, é preciso ter em menteque o índice normal do crescimento científico — nopassado e no presente — conduz a uma duplicaçãoapós alguns anos. Qualquer estimativa baseada emum crescimento linear subestima a realidade.A última conclusão — o valor numérico da cons-tante do tempo — é talvez a mais significativa,O período de 10-15 anos que caracteriza a expansãocientífica é consideravelmente menor do que ocorrespondente a uma geração (aproximadamente25-30 anos) e menor ainda que outros cresci-mentos exponenciais associados a outras atividadeshumanas: o número de poetas, compositores, po-líticos etc., dobra de tamanho no período de 50 anos— mas neste mesmo período a Ciência dobra nomínimo 3 vezes, isto é, multiplica-se por 8. De ma-neira geral, o número de cientistas e documentoscientíficos decuplica-se no mesmo período de tempoem que a população mundial dobra. A Ciênciaé o produto de crescimento mais rápido de nossacivilização, e por mais três séculos vem explodindocom incrível impacto: estão vivos atualmente oscientistas produzidos nos últimos 45 anos, ou seja,o tempo correspondente a 3 ou 4 períodos de do-bros. Para cada cientista que viveu anteriormentea esses, existe um produzido pelo primeiro período,de dobro, dois produzidos pelo segundo período,quatro pelo terceiro, e talvez oito pelo quarto —percentualmente, cerca de 90% de todos os cien-tistas que já existiram estão vivos atualmente. Istosignifica que a maioria dos cientistas de hoje sãojovens, e que a maior parte das descobertas é feita,

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GILDA MARIA BRAGA

portanto, por jovens.É importante enfatizar que essas observações ba-seiam-se no caráter exponencial do crescimento,isoladamente, e são tão válidas para os dias de hojecomo para um ou dois séculos passados. Se aCiência está atravessando uma nova condição oucrise, esta crise está correlacionada, de algumaforma, com o fato de que o tamanho dos elementosenvolvidos tornou-se quase tão grande quantoseria possível. As dificuldades atuais são causadasmais pela desaceleração do crescimento exponen-cial do que pelo crescimento contínuo.Reduções em crescimentos exponenciais existem emdiferentes formas matemáticas; na maioria doscasos, há uma relação direta entre a maneira pelaqual o processo é iniciado e o período de temponecessário para desacelerar e atingir o ponto crítico— onde as características do processo alteram-seà medida em que se aproximam do ponto de satu-ração. O período de redução é, via de regra,três vezes maior que o período de duplicação dafase exponencial. Desta forma, se a Ciência jáiniciou uma nova etapa de crescimento logísticohaverá um período de 30-45 anos entre o começodo novo processo e o ponto crítico.Os problemas da Big Science — basicamente re-cursos humanos e literatura — apareceram durantea Segunda Guerra Mundial, mas devido à situaçãoentão existente passaram, de certa forma, desper-cebidos. Na próxima ou próximas décadas, esta-remos atingindo o final dos 300 anos de revoluçãocientífica e industrial; após uma adolescência pro-longada, precisamos planejar a nova fase de ma-turidade científica — e compreender os fenômenosque designamos por Ciência e Tecnologia.A Ciência é essencialmente diversa de toda e qual-quer atividade do homem; possui vida e ordempróprias, intransigente às vontades humanas, im-permeável a nacionalismos e enquadramentos fi-losóficos, alheia aos desejos e temores da sociedade,sensível somente, em perspectiva mínima, a aci-dentes fortuitos e gênios criativos, reagindo apenaslocal e temporariamente a grandes estímulos deapoio — positivos ou negativos.Existe um único mundo a ser descoberto e explo-rado — a Ciência é um enorme quebra-cabeças,onde há uma única forma correta de justapor seusdiferentes elementos — os frutos da árvore doconhecimento devem ser colhidos um a um, no de-vido tempo. É bem conhecida sua característicasupranacional: Budapest e Delhi, Moscou c Bostonproduzem a mesma Física, embora produzam dife-rentes gêneros de Música, correntes filosóficas,conceitos políticos e econômicos. Algumas anoma-lias temporárias podem ser detectadas na Frentede Pesquisa, quando, por exemplo, newtonianos ecartesianos entram em choque ou ainda quandouma escola segue Lysenko — mas no processo geral,ou faz-se Ciência da única forma adequada ou

não se faz coisa alguma.Há uma grande sensação de impersonalidade emrelação às leis científicas, embora elas abranjamnosso único mundo. Se Crick e Newton não hou-vessem existido, seus trabalhos teriam sido feitospor outros; se Plank não houvesse descoberto aconstante que tem o seu nome, ainda assim tería-mos a mesma constante, batizada apenas de outraforma. Nas outras atividades humanas não existeesta lei simplificadora: se Beethoven não houvesseexistido, teríamos perdido uma contribuição única,e a Música poderia ter seguido rumos inteira-mente diversos, e se Cleopatra tivesse tido um narizcomprido ou os japoneses desenvolvido umabomba atômica, o curso da História teria sido, tal-vez, diferente.A Ciência parece ser tão fortemente ordenada emsua objetividade que há poucas chances de po-dermos decidir o que deverá ser feito no futuro,ainda que imediato. Qualquer previsão é impossí-vel, e embora possa haver certa importância deordem local e nacional em decidir-se que determi-nada lei é devida a Boyle ou Hooke ou Marriotte,ou em assinalar-se prioridades a descobertas, a po-derosa lei geral da Ciência é pouco ou nadaafetada por tais ocorrências.Seguindo uma distribuição similar às de Pareto, di-vidida em "milionários e pobres", em um processoaltamente competitivo, a organização científica éaltamente estruturada e cumulativa; seus diferen-tes pedaços são fortemente inter-relacionados, for-mando um todo coerente. Esta distribuição entre"milionário e pobres" causa enormes efeitos a âm-bito nacional: dotada de uma linguagem únicae universal, a Ciência propagou-se vertiginosamen-te, provocando, em alguns casos, um superdesen-volvimento. Como resultado, oscilações nacionais jásão detectadas: os Estados Unidos e a Rússiapossuem, atualmente, apenas a metade da estaturacientífica que teriam na ausência desta saturação;os países pequenos ("pobres") estão crescendomuito mais rapidamente. Embora as grandes naçõesainda desenvolvam-se, em termos absolutos, sofremum declínio acelerado, em termos relativos. O pro-cesso é análogo ao sistema de votação na ONU,onde um conjunto de pequenos países pode supe-rar, por maioria absoluta, uma grande potência.Precisamos conscientizar-nos de que a Ciência éuma tarefa internacional, crescendo cm escala in-ternacional; há uma impossibilidade cada vez maiorde apenas as grandes potências participarem desua organização. Talvez a primeira grande adver-tência deva ser dirigida aos países menos desen-volvidos, para que se esforcem e procurem, portodos os meios, integrar realmente o ensino univer-sitário com a educação primária e secundária;principalmente que deixem de lado os livros didá-ticos em línguas estrangeiras e produzam textosdecentes e adequados, em seus próprios idiomas.

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Sempre batalhamos contra o nacionalismo científico,mas atualmente pode ser uma boa estratégia in-verter as regras da batalha.Grande parte dos problemas enfrentados é devidaa uma simples confusão (mas de trágicas conse-qüências) entre Ciência e Tecnologia. Acreditamossaber o que estes termos significam, e inferimosque eles inter-relacionam-se de maneira simples.Supostamente, a função da Ciência — pura ou apli-cada — é entender a natureza das coisas; apli-cando-se esta Ciência obtemos Tecnologia — desen-volvida à vontade para moldar a natureza aosdesejos do homem. De acordo com esse modelo,parece claro que todos os benefícios que deseja-mos provêm da Ciência, sendo apenas necessáriauma certa habilidade para aplicarmos os conhe-cimentos que possuímos. Deixando de lado essasconcepções demasiadamente errôneas e simplistas,é possível estudar, objetivamente, o que significaseparar a Ciência da Tecnologia, compará-las,contrastá-las e determinar suas inter-relações. Con-centremos portanto a atenção na pesquisa, o limiteextremo da criatividade, onde coisas novas estãoacontecendo. Se conseguimos analisar como fun-cionam a Ciência e a Tecnologia a este nível, érelativamente fácil compreendermos o processo dosacontecimentos subjacentes à Frente de Pesquisa— relativamente, porque há muito mais especialistasatuando atrás da Frente de Pesquisa do que naFrente propriamente dita.As atividades científicas e tecnológicas são as demaior teor competitivo, e a competição para atin-gir o alto c enorme e extremamente dispendiosa,pois a maioria não o consegue. Não há evidente-mente, padrões absolutos de realização criativa. Umproblema é difícil porque poucos são capazes deresolvê-lo; se grande número de pessoas atinamcom a solução, a dificuldade desaparece. Emoutras palavras, usa-se o termo excelência, nestaárea, para definir alguém que é único entre mi-lhares, e gênio é aquele único entre milhões.Contrariamente à crença popular, não é a curiosi-dade natural ou a esperança de realizar algo debom que motiva mais fortemente os pesquisadores;vários estudos já demonstraram que a competição— o prazer de chegar primeiro, antes de qualqueroutro constitui, na realidade, o mais forte e pode-roso incentivo.Exatamente neste aspecto — o reconhecimento darealização criativa — aparece um dos mais importan-tes e curiosos contrastes entre Ciência e Tecno-logia. Na Ciência, o vencedor é o primeiro quepublica sua descoberta; através da publicação, oespecialista reivindica seus direitos de propriedadeintelectual. Paradoxalmente, quanto maior a divul-gação escrita maior é a segurança dos direitosde propriedade. O processo tecnológico é inteira-mente diverso: uma invenção deve ser patenteadae protegida contra a espionagem industrial; pre-

cisa ser fabricada e vendida antes que algumconcorrente possa copiá-la ou lançar um produtosimilar. A propriedade intelectual é então assegu-rada através do silêncio e de zelosa proteção ao in-vento — e isto acontece em países capitalistas emesmo socialistas, onde invenções constituem pro-priedade nacional, e não particular.A Tecnologia é uma espécie de propriedade arbi-trária da civilização, ao passo que a Ciência émais uma ordem da natureza do que uma proprie-dade de nossas mentes.Os produtos científicos e tecnológicos também po-dem ser utilizados para definir modalidades depesquisa. Se uma investigação resulta em novo co-nhecimento, algo que deve ser publicado aberta-mente para reivindicação de prioridade, entãoesta pesquisa é de natureza científica. Se, por outrolado, a investigação conduz a novo mecanismo,objeto ou processo — algo a ser vendido e com-prado, então a pesquisa é de natureza tecnológica.Sob o ponto de vista do material assimilado pelosdois tipos de especialistas, para gerar novos co-nhecimentos e objetos, há também diferentes pro-cessos. O cientista consome os resultados previa-mente divulgados na literatura; seu aumento básicoé o documento escrito. O tecnólogo — restrito a umsistema onde o silêncio é fator preponderante —não dispõe praticamente de literatura; suas infor-mações são obtidas, via de regra, através de anún-cios de novos processos e objetos. Encaradas sobesse prisma, pode-se dizer que a Ciência é papi-rocêntríca, e a Tecnologia, papirofóbica.A Ciência, como já foi dito, é uma espécie de que-bra-cabeças sempre crescente: onde quer que hajaum conjunto de conhecimentos, periodicamente au-mentados, nova Ciência c produzida. Velhosconhecimentos geram novos, de forma exponencial.De tempos em tempos o sistema científico é acres-cido de algumas subdivisões, mas o processo geralsegue um ritmo inalterável, mesmo em períodosde guerra e pobreza, sem aceleração extra em pe-ríodos de necessidade. Estranhamente o homempode influir muito pouco para apressar ou retardara criação do conhecimento científico ou orientá-loem determinada direção.A Tecnologia cresce de maneira análoga. É evi-dente, para qualquer historiador da Tecnologia,que quase todas as inovações prévias do que dequalquer novo conhecimento científico.Ciência gera nova Ciência, e Tecnologia gera novaTecnologia. Ambas formam pirâmides similares,com crescimentos exponcnciais paralelos — a inter-rclação existente processa-se a nível educacional.Embora não haja prova definitiva de que a Ciênciaé diretamente aplicada para fabricar a Tecnologiaque precisamos, parece óbvio que sem tradiçãocientífica não é possível desenvolvimento tecnoló-gico.

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GILDA MARIA BRAGA

Todas as sociedades têm que ter Ciência — poucaou muita, querendo ou não — uma vez que estaé a base primordial de nossa civilização. Cada paísdespende aproximadamente 1% em Ciência.Quase todas as nações seguem as regras do jogo— ou então são alijadas do processo. O sistematecnológico é diferente: os países desenvolvidosgastam o quádruplo em Tecnologia — para cadacientista, há quatro tecnólogos. Em Tecnologia, res-peitados os limites máximos, pode-se comprar oque se quiser. Em Ciência tem-se que comprar —um pouco mais, um pouco menos — o que ascircunstâncias determinam, em qualidade e emquantidade. Quanto mais cuidadoso e planejado foro investimento de um país em ambas as áreas,mais satisfatórios serão os resultados na competiçãointernacional, onde vencem apenas os melhores.

INFORMAÇÃO, PARÂMETRO DA CIÊNCIA

Em seus vários estudos sobre a Ciência da Ciência,Solla Price tem destacado a importância da infor-mação — formal e informal.Em 1956 demonstrou que as medidas da Ciêncialevam a um mesmo tipo de curva exponencial,qualquer que seja o parâmetro, inclusive a infor-mação registrada.Definindo Ciência como o que é publicado em pe-riódicos científicos, relatórios e documentos escri-tos de diversas naturezas — isto é, tudo o que écompreendido pela Literatura, derivou o conceitode cientista como aquele que já publicou um docu-mento científico. Partindo desta premissa gené-rica, o conceito pode introduzir qualificações maisrestritivas, como, por exemplo, aquele que publicou,nos últimos dois anos, ao menos um artigo em umperiódico internacional.Toda a moderna literatura científica originou-se dacorrespondência trocada entre personalidades comoHenry Oldelburg e Mersenne, da então incipienteRoyal Society of London. Na realidade, pode-serecuar ainda mais, uma vez que Arquimedes ePtolomeu, à semelhança de outros autores clássicos,registraram seus tratados em forma de cartas aamigos. Este hábito perdurou durante toda a IdadeMédia: o trabalho de Peter Peregrinus sobre oímã, por exemplo, foi enviado em forma de cartaa um colega de Paris, e inicialmente foi escritoem um acampamento militar. Os mecanismos so-ciais da Ciência evoluíram, mas encontram-seainda no mesmo estado de crise dos últimos séculos.Qualquer crise moderna é apenas uma a maisem longa série. Aqueles que falam em "explosãoda informação" esquecem-se de que, mesmo nostempos de Faraday e Franklin, metade da literaturaentão publicada havia aparecido nos quinze anosprecedentes.Deve haver soluções e novos métodos, mas parecetotalmente irreal esperarmos que alguma mágicapossa tirar-nos da atual confusão.

Os problemas serão mais dificilmente identificadosse tratados apenas sob o aspecto da comunicaçãoou mesmo sob o único ponto de vista de levar ainformação certa à pessoa adequada. A informaçãocientífica involve mais do que problemas de lite-ratura e de bibliotecas. O documento não é umaunidade estática de comunicação, a ser armazenadoe recuperado; é uma parte mutável da estruturasocial da Ciência, produzido em um conjunto decircunstâncias, utilizado em outro,A correspondência entre Arquimedes e Dositheos,Ptolomeu e Ciro, Peter Peregrinus e Sygerius deFoncaucourt, era, para ambas as partes, a únicaforma tradicional de publicação. Quando Newtonescreveu ao editor do Philosophical Transactions ecorrespondeu-se abertamente com seus colegas,o processo já havia sofrido alterações radicais. Emmeados do século 18, o periódico estava em francaascensão, e o livro começava a declinar na Frentede Pesquisa, sendo transformado em um meca-nismo parcialmente novo, destinado a condensar oconhecimento já solidificado. No século 19 o artigohavia se tornado uma instituição, e formava o átomoda comunicação científica profissional; no final doséculo proliferavam as notas de rodapé e citações— pouco usadas anteriormente — e predominavatambém a linguagem impessoal, sob o pretexto depreservar a Ciência da subjetividade.O aparecimento sistemático das primeiras biblio-grafias analíticas sofreu forte oposição daquelesque argumentavam que se Deus houvesse desejadoque existissem resumos, então não teria permi-tido que artigos fossem publicados em seus textosintegrais. Mas as bibliografias analíticas e outrasformas bibliográficas sobreviveram, ditadas pelaprópria necessidade de controlar a informação — ecm meados do século 20 cogitamos se, de algumaforma, os computadores podem fazer pelas formasbibliográficas o que estas fizeram pelos artigoscientíficos, e talvez o que os artigos científicos fi-zeram pelos livros, e estes pela correspondência.É importante ressaltar que a cada etapa os métodosantigos foram preservados, embora novos pro-gressos técnicos hajam modificado gradualmentetodo o sistema, produzindo novas forças e reações.Embora o conhecimento não-científico disponha,também, de uma estrutura, é a Ciência que — soba pressão de um crescimento exponencial e efeitoacumulativo — dá origem a novos sistemas. Devidoa este motivo, é errôneo deduzir que a literaturacientífica é apenas um outro aspecto dos proble-mas gerais da literatura e das bibliotecas, diver-gindo apenas no que se refere ao conteúdo. A Ciên-cia tem uma estrutura própria e única, respon-sável não só pela força e rapidez de crescimento— mas também pelo status da moderna ciência,tão valorizada pela sociedade que chega até acontrolar os poderes políticos e econômicos dasnações.

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Qual é esta estrutura especial, e como conseguiua Ciência moldar um processo c um sistema decomunicações para servir a seus objetivos? Para queserve um artigo científico? Porque é escrito?Porque é lido? Há alguns anos atrás o artigo erasimplisticamente igualado à comunicação cientí-fica. Sabemos, atualmente, graças a Menzel, Garveye Griffiths, que se nos referimos à comunicaçãoutilizada pelos pesquisadores e que serve-lhes defonte de dados, então 80% desta comunicação pro-vém de outros pesquisadores, através de canaisinformais: conversas, conferências, seminários, car-tas, e outros tentáculos do Colégio Invisível. Assimcomo 80% da comunicação não provém do artigocientífico, 80% do valor e função do artigo estáfora da área da comunicação. O documento e a co-municação sobrepõem-se em apenas 20%. Umdocumento quando publicado e aceito — mesmoparcialmente — torna-se parte integrante da Frentede Pesquisas, e eventualmente será incorporadoao conjunto de conhecimentos contidos nos livros.Um artigo é muitas vezes escrito para assegurara prioridade de urna descoberta: compelido, pelosistema, a publicar, o cientista procura todos osmeios que facilitem essa divulgação, ainda que sa-crificando a eficiência da comunicação. A renta-bilidade de rapidez de divulgação na Frente dePesquisa é tão grande que os mecanismos formaisde disseminação tornaram-se limitados, forçandoo uso de outros meios para acelerar este processoentre os membros do Colégio Invisível.Paralelamente aos problemas da informação cientí-fica, surgiu, no último século, o sistema social dapublicação tecnológica. Basicamente o tecnólogo émuito mais motivado para ler do que para escre-ver; no entanto, ainda não se conseguiu descobrirtotalmente o que ele deseja ler, nem porque oenorme volume de literatura existente não é satis-fatório. Provavelmente o que o tecnólogo precisanão é a tradicional literatura científica. A todo ins-tante ele defronta-se com problemas do tipo:"pode o alumínio ou suas ligas serem usados emfermentos de cerveja?" "Que esteróides atuamdesta e daquela maneira, sem envolver tais rea-ções?" Respostas a perguntas similares são encon-tradas em um banco de dados; não constituem otipo de material contido em artigos científicos nemconcentrado em livros de texto. Infelizmente umenorme esforço intelectual é necessário a fim deplanejar um sistema para ordenar esses dados. Poroutro lado, quando tais sistemas já existem oupodem ser planejados, o uso do computador facilitaa manipulação de grande volume de dados.As previsões que podem ser feitas nos permitemesperar que os computadores obtenham um razoá-vel sucesso com os bancos de dados — principalinstrumento de resposta aos problemas do tecnó-logo.

Os pontos cruciais da informação científica aindasão os da literatura formal, que constitui a memó-ria científica do homem. Uma das soluções seriaencararmos a documentação da Frente de Pes-quisa como de utilidade temporária, a ser posta delado, da mesma forma que o jornal diário, pre-servada apenas em algumas grandes bibliotecaspara o benefício da História. Nestas circunstânciasainda necessitaríamos de um veículo para registrarpesquisas de real valor e para atender objetivos di-versos: reivindicação de prioridades; informaçãopara os que necessitam chegar à Frente de Pesquisae serem capazes de contribuir para o sistema; dis-seminação do conhecimento acumulado, parte inte-grante da cultura e da Tecnologia. Para atingiressas finalidades necessitamos de um veículo con-tendo apenas informação de real valor, consti-tuindo um tipo de memória tão pequeno que nãonecessite de um computador para ser manipulado.Caminhamos gradualmente nesta direção, a medidaque vão aparecendo alguns periódicos de altonível, cm âmbito cada vez mais internacional. Estaespécie de periódico precisa ser encorajada, umavez que levará ao desaparecimento grande núme-ro de revistas que satisfazem apenas as neces-sidades de publicar, mas não as de ler.Periódicos que podem cessar, devem fazê-lo; pe-riódicos locais devem tornar-se nacionais, se sufi-cientemente importantes, e os nacionais devem in-corporar-se aos internacionais. Uma política res-tritiva deve ser adotada quanto à ética de traba-lhos em colaboração e à citação adequada daliteratura formal e informal. Talvez possamos uti-lizar a análise de rede de citações da Frente dePesquisas para selecionar, dentre os periódicos im-portantes, um superpcriódico — a divulgaçãode um artigo em tal revista seria uma grande dis-tinção, bem mais freqüente que um prêmio Nobel,mas bem mais rara que a afiliação a uma sociedadeprofissional.

As Pesquisa» Bibliométricas

Em fevereiro de 1974, durante uma conferência naDrexel University, Solla Price sugeriu meios deeliminar alguns problemas da informação atravésde pesquisas bibliométricas.A Bibliometria pode parecer uma espécie de con-tagem rotineira, utilizada pelos bibliotecários a fimde calcular quantos profissionais são necessáriospara atender a determinado fluxo de leitores. Apesarde incluir tais aspectos de utilidade prática, aBibliometria tem base mais formais, sofisticadas eestruturadas — e tem produzido resultados damaior importância filosófica — sendo, um dos últi-mos, algo parecido ao passe de mágica necessá-rio para tirar um coelho de um chapéu.Especificamente, Solla Price referia-se ao trabalhodesenvolvido por Belver Griffith e Henry Small,

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que procuraram e conseguiram, pela primeira vez,descobrir a estrutura natural emergente dos artigoscientíficos, à medida que vão sendo acrescidos deacumulações diárias. A importância dessa pesquisaé fundamental:.-utilizando a base de dados doScience Citation Index e um processo de co-ctíações,Griffith e Small descobriram que é possível fracio-nar toda a literatura científica em unidades-átomodo conhecimento e em seguida estruturá-la dina-micamente em classes e grupos hierárquicos, se-gundo um tipo de classificação taxonômica — atéagora o único meio de indexar e recuperar a infor-mação de maneira satisfatória.Para generalizar estatísticas empíricas através deconceitos teóricos, a Bibliometria examina, pri-meiramtnte, as relações entre diferentes variáveis:recursos humanos-documentos, ártigos-periódicos,produção-consumo etc., que apresentam diversasregularidades de distribuição. O número de artigosque originam n-Citações, o número de instituiçõesproduzindo anualmente n doutorados, o número deautores com n artigos, o número de revistas con-tendo n artigos — constituem exemplos do mesmotipo de distribuição.Cada Uma destas distribuições — log-normal, expo-nential, hiperbólica, inversamente proporcional etc.— é influenciada por um efeito remoto, o MatthewEffect: "Unto him who hath hardly at all, is takenaway completely". Como exemplo da força desteefeito, pode-se notar que a maioria das revistas quepublicam apenas um ou dois fascículos tendem adesaparecer; autores que escrevem apenas um oudois trabalhos tendem a não escrever mais. Devidoao Matthew Effect, a Ciência tem urna grande taxade mortalidade infantil. O índice de crescimento.7% ao ano. é uma combinação das taxas de nata-lidade, 17%, e de mortalidade - 10%.Em todos os fenômenos analisados — no tempo ena freqüência — as distribuições bibliomctricascorrespondem à formulação matemática do MatthewEffect, análogo à lei de Weber-Fechner, base daPsicologia Experimental: em se tratando, por exem-plo, da produtividade de autores, há o mesmograu de dificuldade em passar do primeiro parao segundo artigo do que em passar do segundopara o quarto, ou do décimo para o vigésimo. Oaumento constante da dificuldade corresponde aum constante aumento proporcional, expresso nu-mericamente: a dificuldade total é medida pelologaritmo do número de documentos.As distribuições bibliomótricas baseiam-se premissade que os logaritmos dos números totais de auto-res, citações, periódicos, artigos etc., dão a medida(tamanho) do núcleo da população total.

As Redes de Citações Bibliométricas

Networks of scientific papers explodiu na Ciênciada Informação com o impacto de uma bomba

atômica. O subtítulo mesmo do artigo dá uma idéiade sua importância: o padrão dan referências (ci-tações) bibliográficas indica a natureza da Frentede Pesquisa científica. Ainda hoje, dez anos apósser publicado, é um dos artigos mais citados — emfreqüência e incidência — em quase todos os cam-pos da Sociologia da Ciência.A pesquisa, patrocinada pela National ScienceFoundation, foi primeiramente apresentada no Sym-posium on Statistical Methods for MechanizedDocumentation, 1964; a base de dados foi extraídado Science Citation Index.Analisando a natureza de toda a rede internacionalde artigos científicos. Solla Pries não só eviden-ciou as relações existentes entre clocumentos-docu-mcntos, documcntos-citações c citaçõcs-citações,mas também demonstrou leis que governam o me-canismo da informação científica, abrindo horizon-tes inteiramente novos às pesquisas bibliométricas.Há, em média, 15 citações em um artigo, emboraa distribuição seja desigual: o número de artigoscom n citações é proporcional a l/n2. Sendo de 7%o crescimento anual da literatura, há, para cadaconjunto de 100 documentos previamente publica-dos, 7 novos documentos a cada ano; consideran-do-se que em cada um dos novos documentos há~ 15 citações, verifica-se que, ao curso de todaa literatura, cada artigo publicado é citado, em mé-dia, uma vez ao ano. Tal estimativa pode levara conclusões apressadas e interpretações errôneas.É preciso considerar que o número de trabalhoscitantes cresce também exponencialmente, dobrandoa cada ~ 10 anos. Assim, a razão citações/docu-mentos citantes reduz-se à metade a cada 10 anos;desta forma, o fato de cada artigo ser citado aomenos uma vez ao ano, é devido à igualdade apro-ximada dos índices de crescimento e de obsoletis-mo da literatura.Embora o total de citações eleva ser igual ao totalde artigos, as distribuições diferem largamente.Em um dado ano, 35% de todos os documentosexistentes não são citados, e 49X o são apenas umavez (n = 1). Para grandes valores de n, o númerode citações decresce à razão de n2.5 ou n3; o nú-mero de artigos muito citados é bem menor do queo de artigos contendo muitas citações. Há umcerto paralelismo entre os 5% dos artigos contendomuitas citações (25 ou mais) e os 4% dos artigosconsiderados "clássicos", citados 4 ou mais vezesao ano.O equilíbrio entre artigos e citações evidencia umaimportante propriedade da rede: embora a maioriados artigos produzidos em determinado ano con-tenha um número médio de citações, metadedestas refere-se à metade de todos os documentospreviamente publicados; a outra metade das cita-ções liga os novos documentos a um pequeno grupode trabalhos recentes, gerando um pá .Tão de es-

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treitas e múltiplas inter-relações. Uma vez quesomente uma pequena e seletiva parte da literaturarecente está interligada através dos novos docu-mentos produzidos a cada ano, esta pequena parteconstituí uma camada epidérmica, crescente, umaativa Frente de Pesquisa que distingue a Ciênciados outros ramos do conhecimento humano.Os artigos publicados em determinado ano contêmcitações a documentos anteriores em uma pro-porção que decai para a metade a cada intervalode aproximadamente 13.5 anos, contados regres-sivamente a partir da publicação do artigo; esteíndice de decréscimo eqüivale ao do crescimentoexponencial dos artigos publicados no mesmo in-tervalo.O "fator imediato" (immediacy factor) — o "aglo-meramento" (bunching) — ou mais freqüentecitação de documentos recentes é responsável peloobsoletismo da literatura após uma década. A me-dida numérica deste fator pode ser derivada, e éparticularmente útil. Os cálculos demonstram que70% das citações formam a parte regular da curvahiperbólica, duplicando a cada 13.5 anos; 30%das citações formam um desvio acentuado, uma"protuberância" causada pelo fator imediato. Destaforma, os 70% representam uma distribuição alea-tória das citações a todos os artigos científicos jápublicados, e os 30% representam citações alta-mente seletivas à literatura recente. A extensão destefenômeno imediato tem grande importância, segeneralizado: 30% das citações de todos os docu-mentos formam a Frente de Pesquisa. Atravésdeste mesmo fenômeno pode-se deduzir que a lite-ratura periódica tem dois tipos de vida-média,uma efêmera e outra clássica, a duração de ambasvariando de acordo com o assunto.Solla Price sugere qiie artigos muito citados, os"clássicos" (incidência anual > 4) ou "superclás-sicos" poderiam ser reunidos em um periódicointernacional de artigos realmente importantes.Curiosamente, estes artigos muito citados têm fre-qüência semelhantes, em um padrão simétrico,possivelmente de significado teórico.A completa Frente de Pesquisa da Ciência nãoconstitui uma seqüência uniforme e ininterruptade artigos, é dividida em pequenas faixas e segmen-tos. Investigando citações periódico-periódico, SollaPrice conclui que estes pequenos segmentos cor-respondem, em qualquer período, ao trabalhode no máximo algumas centenas de pesquisadores.Estudando-se a natureza da Frente de Pesquisapoder-se-ia obter um método para delinear a topo-grafia da literatura periódica científica. Um mapatopográfico permitiria indicar a superposição e re-lativa importância de periódicos, países, autores,artigos etc. de acordo com respectivas posições nomapa e com o grau de centralização desses ele-mentos dentro de determinada faixa.A Biblioteca ainda é associada à idéia da Biblio-

teconomia aplicada a livros, utilizando um voca-bulário esotérico c muita Matemática. Essa abor-dagem ingênua assemelha-se, de certa forma, aodilema do homem que tentando escrever sobreMedicina chinesa, leu uma obra sobre a China,outra sobre Medicina e então "combinou os conhe-cimentos adquiridos".O problema fundamental dos que trabalham comBibliometria e na indústria de informações cien-tíficas é que esta espécie de informação não é denatureza idêntica às outras, diferindo apenasquanto ao conteúdo. A literatura científica, prin-cipalmente em sua função social, difere de todasas outras literaturas em maior grau do que a Me-dicina chinesa difere das outras medicinas.O aparecimento dos índices de citações, especial-mente o Science Citation Index, possibilitou o es-tudo aprofundado dos diversos tipos de literatura:através de métodos de contagem de citações épossível diagnosticar se determinado campo doconhecimento ou um documento comporta-se como"Ciência" ou como "Não-Ciência". Embora nãose possa demarcar limites radicais, estabelecendo,por exemplo, que documentos com 12 citações sãomais eruditos que os que contêm apenas 10, hátrês aspectos que merecem ser analisados maisde perto:— Porque documentos científicos têm, em média,

10 a 22 citações?— Que espécie de documento está muito acima

dessa média?— Que espécie de documento está muito abaixo

dessa média?Não há uma resposta precisa à primeira pergunta.Pode-se apenas observar que para o atual índicede crescimento da literatura (7% ao ano), o númerode citações à literatura antiga é da mesma ordemde magnitude que o conjunto total da literaturaantiga. Desta forma, um documento antigo origina,em média, apenas uma citação anual. Por outrolado, parece estar havendo um lento mas persis-tente aumento de citações em todos os campos.No que se refere à segunda pergunta, é bastanteclaro que um grande número de citações é carac-terística das revisões da literatura em determinadoassunto. Esta característica é comum a diversasáreas, em Ciências Básicas, Sociais ou Humanas. Há,no entanto, uma diferença menor do que poderiaesperar-se entre o número de citações em artigosprimários e em revisões da literatura.Documentos contendo número reduzido ou nenhumacitação existem cm quantidade expressiva, mesmoem áreas acadêmicas. Tais documentos ocorremtipicamente quando um cientista inexperienteescreve ex-cathedra, baseado em seus conhecimen-tos inatos.O número de citações, isoladamente, não é um pa-râmetro bastante preciso para distinguir Ciênciade Não-Ciência. É necessário medir a natureza

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do sistema de citações; é preciso conhecer, alémdo crescimento e da densidade procriativa do sis-tema, seu metabolismo ou eugenia.O envelhecimento normal da literatura é mais com-plexo do que parece, para os trabalhos com maisde 15-20 anos; a distribuição citações/tempo é pro-porcional à taxa de crescimento da literatura: umdocumento atual citará duas vezes mais documen-tos de 1913 do que de 1900, uma vez que cm 1913a literatura havia dobrado em relação a 1900. Maisimportante, no entanto, do que medir numerica-mente a vida média, i. e., o decréscimo do "efeitoimediato", é determinar a razão entre a Frentede Pesquisa e o resto da literatura: essa razão de-termina um índice de efeito imediato — o índicede Price — e representa a diferença, em incidênciade citações, a trabalhos dos últimos 5 anos e atrabalhos anteriores. A escolha do período de 5 anosé praticamente intuitiva: 10 é demasiado (causariaum aumento de 50% proveniente do crescimentoexponential) e 3 é muito pouco (período pequenopara uma disseminação significativa dos trabalhos).Para avaliar-se a extensão dos valores desse parâ-metro, podemos observar que uma literatura cres-cendo 5% ao ano, dobra de tamanho em ~ 14 anose contém aproximadamente 22% de tudo o quefoi publicado nos últimos 5 anos. Um campo decrescimento muito rápido — 10% — dobrando detamanho em 6.9 anos. conterá, em 5 anos, ~ 40%de toda literatura.O índice de Price opera cm micro ou macro escalapermitindo avaliar-se um periódico, um assunto,uma instituição, toda uma literatura científica oumesmo um único artigo. Um número baixo indicaum tipo de "metabolismo humanístico", onde épreciso digerir tudo o que já foi publicado, ama-durecer o conhecimento adquirido para entãopoder se produzir novos textos, versando aproxima-damente sobre os mesmos tipos de problemas.Em Ciências Puras, a precisão e a "rapidez de per-manência" na Frente de Pesquisa permitem queo estudante percorra, rapidamente, todo o conhe-cimento acumulado e emcrja na Frente de Pes-quisa, onde a interação com os colegas é tão im-portante quanto o conhecimento convencionalarmazenado.Ciências Puras, Ciências Sociais, Tecnologia e Humanidades constituem diferentes sistemas sociais,e cada um deles requer meios adequados para lidarcom os processos de publicação e comunicação entreos especialistas que situam-se dentro e atras das res-pectivas Frentes de Pesquisa. A elucidação de taisproblemas é fundamental, e se conseguirmos com-preender a Ciência como um sistema social, váriosobstáculos da Ciência da Informação — que fa-zem-nos esperar por soluções dispendiosas parafalsos problemas — serão removidos.

PRODUTIVIDADE CIENTIFICA E ELITISMO

À medida que as nações desenvolvidas investemmais e mais em pesquisa científica, agrava-se oproblema de analisar a Ciência em termos de custo-benefício, embora o aspecto realmente difícil deanalisar-se seja a parte dos benefícios ou lucros.O ideal seria uma avaliação da Ciência atravésde seu impacto sobre a sociedade, mas esta abor-dagem envolveria apenas as tecnologias compra-das pela sociedade, excluindo o aumento de conhe-cimentos c de know-how que possibilitaram aprodução de tais tecnologias. Ir além do consumoda sociedade para medir a produção de novosconhecimentos científicos c uma tarefa que exigeprecauções e cuidados, a fim de serem evitadoserros básicos que podem levar a errôneas e dis-pendiosas medidas políticas e administrativas.Uma vez que as devidas precauções sejam toma-das e que determine-se o que está sendo medido, ecom que precisão, é possível estimar-se a atividadede pesquisa e a produtividade de cientistas iso-lados, de grupos de pesquisadores, de instituiçõesc de países — e a partir dessas estimativas, umasérie de linhas diretrizes da política científica podeser determinada.O parâmetro mais utilizado para essas estimativasé a literatura publicada, ou seja, o produto-finalmais comum sob o aspecto da Ciência. No entanto,é preciso considerar que a literatura é um indi-cador de apenas parte da atividade de uma fraçãodos cientistas: há um grande grupo formado pelosque exercem suas atividades atrás da Frente dePesquisa. Para a maioria daqueles que atuam naFrente de Pesquisa propriamente dita, a literaturac não só um indicador, mas o produto final detodo esforço criativo. Neste sistema, qualquer con-tribuição — grande ou pequena — só se tornaefetiva após ser publicada, julgada e incorporada,de alguma forma, aos conhecimentos já existentes.Qualquer descoberta só completa o próprio cicloapós sua aceitação por outros cientistas do mesmocampo. Paradoxalmente, a propriedade de qual-quer descoberta científica só é atingida através dapublicação aberta — quanto mais completa eaberta a publicação, maiores são os direitos asse-gurados ao descobridor.Em qualquer estatística baseada em publicaçõesseria absurdo não considerar que estas diferemlargamente em tamanho c qualidade. Atualmente,é possível medir o impacto de uma publicaçãoatravés dos índices de citações existentes.Um dos mecanismos básicos da produtividade cien-tífica reside 110 lato de que, uma vez atingidaa Frente de Pesquisa, o cientista tem grande pro-babilidade de cessar a produção. Cada sucesso,cada publicação, reduz esta probabilidade. Sucessoatrai sucesso, e fracasso atrai fracasso, de tal forma

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que as chances de publicar-sc outro artigo aumen-tam de forma proporcional ao número de artigosjá publicados.Km virtude da probabilidade de cessar a produçãoliterária, uma vez atingida a Frente de Pesquisa,qualquer grupo de cientistas que alcance a Frentedeclinará em produção total com o correr dotempo. Gradualmente, um após o outro, retirar-se-ãoda Frente de Pesquisa — onde permanecerá umpequeno conjunto que continuará produzindo. Ogrupo, como um todo, decrescerá em produçãoanual, embora qualquer indivíduo possa produzirem ritmo contínuo. É preciso, portanto, distinguirefeito mortalidadc-da-Frente-de-Pesquisa do efeitoprovocado pelas eventuais oscilações que umcientista atravessa, de acordo com sua idade.A variação da idade na produtividade científicatem sido medida em várias populações de pes-quisadores — mas quanto maior a população maisdifícil se torna separar os dois efeitos mencionadosacima.De maneira geral, a vida produtiva de um cientistacompreende três fases distintas: período formativo,de crescimento rápido até um nível máximo, noqual é estabelecida a reputação do autor; matu-ridade,, durante a qual o índice de produtividadeoscila em torno de um nível estável ou em tornode vários níveis correspondentes a vários períodosprofissionais bem definidos; declínio, onde hádiminuição gradativa da atividade do pesquisador.O período formativo dura aproximadamente 10anos: o cientista atinge sua maturidade produtivaem torno de 30 anos, dependendo da área. O índicede produção inantém-se estável durante 25-30anos, iniciando-se então um declínio gradativo. Aimpressão popular de que há um grande decrésci-mo de produtividade após o período formativo é de-vida a um curioso efeito provocado pelo alto índicede mortalidade da Frente de Pesquisa acopladocom o rápido crescimento exponential.Desde o século 17 o número de cientistas e de pu-blicações tem crescido 1% ao ano, acarretandoum dobro a cada 10-15 anos; a qualquer tempo,metade de toda a literatura publicada apareceudurante a última década, de tal forma que a Ciênciaparece perpetuamente nova e recente. Um cien-tista cuja vida produtiva é de 40 anos, atravessa,no mínimo, 3 períodos nos quais a populaçãocientífica dobra, sucessivamente: para cada cientistaD, morto antes do aparecimento de C, há umoutro cientista E, aparecido no primeiro período;dois F e G — aparecidos no segundo período, equatro — /, L, M e N no terceiro período, ou seja,a cada cientista já desaparecido, correspondemsete atualmente vivos. Conseqüentemente, dentrequaisquer oito cientistas que já existiram, sete(±90%) estão vivos. Destes sete, quatro estão cmsua primeira década de produtividade, no períodoformativo. Assim, em qualquer época, não apenas

a maioria dos cientistas estão vivos, mas alémdisto são jovens. A distribuição de faixas etárias naCiência evidencia a concentração e alta incidênciade jovens.A média de publicações de um cientista que publicaregularmente (permanentes) oscila em torno de4 documentos anuais; incluindo-se também os quepublicam irregularmente (transientes) a médiaé de 2 documentos anuais. Estas médias não sãoobtidas através da simples multiplicação do nú-mero de autores pelo número de publicações. Gran-de número de documentos tem mais de um autor— documentos com mais de 12 autores são mesmocomuns, atualmente; a múltipla autoria é umaconseqüência da institucionalização e do apoio eco-nômico da pesquisa científica.Uma primeira abordagem leva, geralmente, à con-clusão de que os índices de produtividade deve-riam computar autorias fracionadas, considerandoo documento uma unidade a ser dividida igual-mente entre os autores. Embora isso pareça im-portante, várias pesquisas evidenciam que os resul-tados são praticamente os mesmos se atribuir-se, acada autor-colaborador, uma unidade de produção.Há, em média, 2 autores/documentos — os perma-nentes com 2 autorias primárias e 2 secundárias,anualmente. Considerando-se também os transientes,estes índices reduzem-se à metade.O recorde de produtividade foi provavelmente atin-gido por Theodore Dm Alison Cockerell (1866-1948), entomologista especializado em abelhas, cujabibliografia inclui 3904 documentos produzidosem 67 anos: mais de 2 documentos por semana,no período de maior produtividade e mais de umpor semana durante a maior parte do período.Embora quantidade e qualidade sejam medidas di-ferentes, há uma grande correlação entre quanti-dade c qualidade, provocada pelo Matthew Effect:o sucesso qualitativo de um documento provocasubsequentes publicações de outros documentos; aausência de sucesso tende a provocar o términoda produtividade.Em Little Science, Big Science, um capítulo inteiroé dedicado a Francis Galton (1822-1911), netode Erasmus Darwin e uma das mentes mais versá-teis e curiosas do século 19. Introdutor do métodode impressões digitais na Scotland Yard e fundadorda Eugenic Society, Galton era um apaixonadopelos números e pela estatística. Entre seus nume-rosos estudos incluem-se vários relacionados àprodutividade científica, e que antecedem, em apro-ximadamente 50 anos, o famoso trabalho de AlfredLotka* que originou a lei característica da produ-tividade científica: o número de autores com ndocumentos é proporcional a l/n²: para cada 100

* The frequency distribution of scientific productivity.Journal of Washington Academy of Sciences,16:317, 1926.

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autores que produzem um único documento, emdeterminado período, há 25 autores que produ-zem 2, 11 que produzem 3, e assim por diante.A natureza desta lei é tal que se computarmos aprodução total dos que escreveram n documentos,resulta que um grande grupo de pequenos produ-tores iguala-se, em produção, ao reduzido grupode grandes produtores.Solla Price abordou a lei de Lotka de outra ma-neira, de forma a permitir a acumulação dos re-sultados e atingir uma integração que conduz apro-ximadamente a uma lei inversa de potência lpara autores que produzem mais de n documentos;desta forma, l em 5 autores produz 5 ou maisdocumentos, e l cm 10 produz ao menos 10 docu-mentos.A lei Lotka não se ajusta, no entanto, a altas pro-dutividadcs: nestes casos, acima de determinadalinha divisória, o número de autores produzindo ndocumentos decresce mais rapidamente, à pro-porção que se aproxima de l/n3 — em outras pa-lavras: a produção cumulativa de populaçõesdeste gênero decresce de acordo com uma lei in-versa, de potência 2.Solla Price ajustou a fórmula de Lotka, de maneiraa permitir que houvesse uma única fórmula queservisse para os autores de alta e os de pequenaprodutividade. A fórmula ajustada leva às seguin-tes conclusões: cerca de 1/3 da literatura e menosl/10 de autores estão associados com alta pro-dutividade; e há em média 3,5 documentos por cien-tistas. Assim, um campo contendo 1000 documen-tos, tem cerca de 300 autores, dos quais 10 sãoaltamente prolíficos; 30 produzem mais de 10 do-cumentos cacla, e 180 produzem apenas l únicodocumento.De certa forma, a lei de produtividade asseme-lha-se à lei de Fechner-Weber, aplicada à Psico-logia experimental, onde a medida real é dada nãopela magnitude do estímulo, mas por seu logaritmo.Tipicamente, cerca de metade da literatura publi-cada é produzida pela raiz quadrada do númerototal de periódicos ou de autores: para dobraro núcleo, é necessário quadriplicar a população pro-dutora — e para acrescentar 10% ao núcleo épreciso dobrar a população produtora.Assim, a mão-de-obra científica e produtora da li-teratura consiste de um pequeno núcleo cercadopor uma população quase infinita, cujo númerocresce exponencialmente à medida que a magnitudee constância de sua contribuição decresce namesma proporção. Mesmo que não haja uma grandecorrelação entre o número de documentos de umautor e a importância de sua obra ou entre o nívelde um periódico e a quantidade de artigos queinclui, o Matthew Effect pesa na balança. Em ou-tras palavras: de um campo com 30.000 perió-dicos e 1.000.000 de autores, deriva-se uma listaseletiva de 175 periódicos e 1.000 autores que

respondem por metade do conjunto produzido, eprovavelmente por 70-80% da importância doconteúdo.A partir da lei de produtividade de autores, SollaPrice derivou a poderosa lei do Elitismo: todapopulação de tamanho N tem uma elite de tamanhoV NCOMUNIDADE CIENTÍFICA: OS COLÉGIOSINVISÍVEIS

A partir do último ou últimos séculos, em especiala partir ria Segunda Guerra, reconheceu-se queo sucesso científico de um país depende largamentedo bem estar de sua comunidade científica — eprecisamos conhecer muito mais sobre as institui-ções sociais da Ciência e sobre psicologia docientista. O objetivo primário do cientista não é apublicação de documentos; além disso, o docu-mento não representa simplesmente um meio decomunicar conhecimentos. A finalidade inicial doperiódico era de fundo social: descobrir o queestava sendo feito e por quem — a publicaçãode novos conhecimentos era um objetivo secundário.Os artigos de periódicos, ao passarem para a formaatual, representaram uma grande inovação naCiência e sem dúvida alguma sobreviveram e foramaceitos devido, em grande parte, a serem um po-deroso instrumento para estabelecer e manter apropriedade intelectual.Esta função dos artigos científicos contém duasimportantes implicações: a comunicação científicaatravés dos periódicos é e sempre foi um fortemeio de conflitos de propriedade; as reivindicaçõesde prioridades têm importância vital para o cien-tista e suas instituições. Exatamente devido a essasimplicações, o cientista é muito mais motivado paraescrever do que para ler. Ainda devido a essasimplicações, há uma considerável organização socialde cientistas cujo objetivo é conseguir prestígioe assegurar prioridades através de meios mais efi-cientes do que a publicação em periódicos.Basicamente, os problemas da comunidade cientí-fica compreendem dois aspectos: no campo alta-mente produtivo, os problemas estão ligados a as-pectos da engenharia humana: promover a inte-ração de elementos de alto nível, atentando paraque os grandes periódicos continuem a correspon-der a grandes grupos naturais, fazendo com que osartigos importantes sejam reunidos e compac-tados em monografias c livros de texto. No outroextremo — no grande grupo de pequenos produ-tores — os problemas estão ligados a aspectos deintercomunicação: como fazer com que o imensogrupo de cientistas em formação acompanhe oritmo dos líderes, como controlar os periódicos me-nos produtivos e os artigos menos importantescie forma a evitar desperdícios? Há vários meca-nismos em ação, de acordo com a transição logís-

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tica da Little Science para a Big Science.' O pri-meiro fenômeno ligado à engenharia humana re-laciona-se ao número de novos grupos de cientistasque emergem, formados de no máximo 100 ele-mentos. No começo, quando há em um país apenasum pequeno grupo de cientistas, estes poderiamorganizar-se em uma Sociedade ou Academia, tipoRoyal Society, da Inglaterra, ou American Philo-sophical Society. Em estágio posterior o mesmo nú-mero de especialistas poderia organizar-se emsociedades especializadas. A moderna organizaçãoda Ciência, no entanto, excede aquele limite nu-mérico, mesmo em subáreas, e os grupos maiorescontêm dezenas e centenas de milhares de mem-bros. Em tais populações, há alguns grupos formadosde uma .centena de especialistas, contendo, cada urn,um conjunto de líderes que interagem. Provavelmen-te, durante a Segunda Guerra, as circunstânciasdeterminaram o estabelecimento de tais grupos deinteração. Os líderes da comunidade científicatêm necessidade de trocar idéias — e uma vez queas publicações regulares e mesmo as conferênciase congressos são insuficientes, estes pequenos gru-pos criaram e continuam criando mecanismos paraa comunicação diária. Há toda uma série de canaispara divulgar não apenas reimpressões, mas tam-bém notas prévias (preprints) notas prévias de tra-balhos em andamento e de resultados a serematingidos. Além da comunicação particular, por cor-reio, há também vários mecanismos para a comu-nicação e interação pessoal dessa comunidade: areunião, por exemplo, em centros de pesquisa,onde vários elementos reúnem-se por períodos decurta duração. Cada grupo parece ter uma espéciecie circuito de instituições, de centros de pesquisae de escolas, de forma a permitir que em um inter-valo de tempo de poucos anos, todos os membrosimportantes possam trabalhar com aqueles de suacategoria.Estes grupos constituem um Colégio Invisível, namesma acepção do termo empregado pelos cien-tistas que posteriormente, em 1660, reuniram-separa fundar a Royal Society. Seus membros encon-travam-se informalmente e distinguiam-se dos gru-pos centralizados em Wadham College e GreshamCollege, na Inglaterra. Da mesma forma queaquele grupo primitivo, os atuais também conferema cada membro um status científico, através daaceitação do indivíduo pelo grupo; conferem, tam-bém, prestígio, c além disso solucionam a crisede comunicação reduzindo o universo científico aum pequeno e seletivo grupo, possibilitando ainter-relação pessoal: os colégios invisíveis devemser encorajados por todos os motivos óbvios.Em cada área de atividade, onde há competiçãocientífica, existe um colégio invisível. Seus com-ponentes mantêm-se em contato com todos os quecontribuem para a pesquisa, não apenas cm escalanacional, mas cm internacional; procuram trabalhar

em equipes, trocam notas prévias e separatas. Umavez que formam uma elite poderosa, realmentedetentora de grande parte dos conhecimentos exis-tentes sobre suas respectivas áreas, podem tambémcontrolar, cm níveis locais e nacionais, a alocaçãode recursos físicos e financeiros. Podem aindacontrolar os prestígios e decidir sobre novas cor-rentes científicas, determinando — deliberada oucasualmente — a estratégia de ataque em uma área.Uma das medidas utilizadas para distinguir a Ciên-cia da "Não-Ciência" é o uso, nas citações e notas,dos nomes completos de autores ou iniciais apenas.Este processo mede a impersonalidade das rela-ções entre autores c leva a novas especulações. Umalto índice de utilização de nomes completos in-dicaria uma estrutura de Colégio Invisível, ondeautores seriam conhecidos entre si, como pessoashumanas, e não apenas rótulos da literatura. Em-bora tal medida pareça mais uma questão de modae de tradição de pensamento, os resultados sãosuficientemente precisos c consistentes para demons-trar uma tendência à impersonalidade nas áreasda "Não-Ciência".Embora seja relativamente fácil identificar ummembro do Colégio Invisível de um campo, éextremamente difícil estudar, como um todo, a co-munidade aí envolvida. As pesquisas sobre colé-gios invisíveis iniciaram-se há alguns anos, efetua-das por psicólogos e sociólogos, principalmente.Em 1986, Solla Price organizou um seminário docolégio invisível que estava estudando colégiosinvisíveis, reunindo um pequeno grupo de 6 cien-tistas que debateram resultados, conclusões e estu-dos de cerca de 20 outros especialistas em colégiosinvisíveis.Em 1971, a American Medical Society reuniu umgrupo de 10 cientistas entre os quais Diana Crane,Susan Crawford, Fred Strodtbeck e Gerald Zaltman,liderados também por Solla Price que comparoua pesquisa neste assunto com uma caça ao unicór-nio: ''Somehow, we got word of the existence ofsuch a beast, and we set out to hunt it in variousways appropriate to hunting something whichwould be like a sociological clique or peer group.Each of us latched on to one or two differentspecimens, and then we had to decide whatthe object was that we had indeed hunted down.In retrospect, we can see that it would not havebeen useful at all to decide on its properties beforehunting it".Colégios invisíveis crescem mais rapidamente quea totalidade da comunidade científica — cerca de2-4% ao ano. Contêm, também, um maior índice dejovens do que qualquer amostra aleatória dapopulação total.Na realidade, maior entendimento sobre o assuntoé necessário, pois sabemos muito mais sobre colé-gios invisíveis do que sabemos como descrevê-los.

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POLÍTICAS PARA A CIÊNCIA?

Em uma série de trabalhos — desde depoimentosperante o Congresso Nortc-Americano até confe-rências em diversos países — Solla Price tem enfa-tizado um conjunto de observações de grande im-portância para os dirigentes da política científica etecnológica de todos os países. Seus estudos sobrea natureza da Ciência e da Tecnologia, sobre asrelações existentes entre elas e as conseqüentesimplicações para a política científica têm impor-tância capital para os que procuram compreender,medir e avaliar a extensão e força do impacto daCiência e da Tecnologia sobre nossa Sociedade.O trabalho de Solla Price, em 1950, evidenciandoo crescimento exponencial da Ciência, deu origema uma abordagem totalmente nova aos estudos depolítica científica. Idêntica abordagem foi utili-zada em Little Science, Bíg Science, e tem sido ado-tada, largamente pelos países desenvolvidos, ondea estrutura de Big Science não comporta decisõesbaseadas simplesmente em opiniões pessoais. Em-pregando métodos estatísticos, Solla Price quanti-fica autores, documentos, recursos humanos, cita-ções bibliográficas etc. e através dessas análisesquantitativas procura descobrir a lógica interna daCiência e da Tecnologia, os princípios que as go-vernam e as regras necessárias para lidar com elas.As regras do jogo são mais compreensíveis do queo imaginam os cientistas: não é preciso conhecer-sea tecnologia da fabricação de motores para diri-gir-se um carro; da mesma forma, pode-se debater,com certa segurança, a maioria dos problemas dapolítica sem ser-se um cientista, no sentido restritoda palavra.O primeiro padrão que emerge de qualquer análisequantitativa refere-se ao crescimento exponencialda Ciência. Esse índice de crescimento, no entanto,não é dividido igualmente entre todos os paísesdo globo: na realidade, a Ciência tem uma distri-buição ainda mais elitista que a distribuição darenda: a população de milionários da Ciência émínima, em relação aos menos favorecidos: cercade 14 países controlam 90% da produção científicainternacional (Estados Unidos, Grã-Bretanha,Rússia, Alemanha, França, Japão, Canadá, índia,Itália, Austrália, Suíça, Checoslováquia, Suécia eHolanda); 26 países (entre os quais o Rrasil) par-tilham 9%; 39 países contribuem, juntos, com 1%,e 59 outros partilham 0,1%. Tais dados, publicadosem "Measuring the Size of Science" representama contribuição de cientistas de diferentes países àliteratura internacional. Aos diversos níveis nacio-nais, tal participação tem implicações diversas: cla-ramente os Estados Unidos e a Rússia, entrealguns, têm problemas de super desenvolvimentocientífico — seus crescimentos respectivos durarãoainda alguns anos depois cessarão. Ao crescimentoexponencial, sucederá o linear — e é preciso uma

política totalmente nova para enfrentar os novosproblemas de saturação.Seguindo o modelo do quebra-cabeças, Solla Priceaborda os problemas da Indústria Internacionaldo Conhecimento deixando cm aberto uma questãodecisiva: será o quebra-cabeças infinito ou limi-tado ? Qualquer que seja a resposta, há evidênciaclara de que não há outra alternativa senão con-tinuar participando do jogo: é impossível manipulara Ciência — tentar, por exemplo, desenvolver maisa Química do que a Física — seu crescimento pa-rece imperturbável face a quaisquer tentativas demodificá-lo. A tecnologia tem comportamento to-talmente diferente, e deriva das necessidades domercado consumidor. Na maioria dos casos, as des-cobertas tecnológicas que não são consumidaspela sociedade representam uma falha dessas des-cobertas em relação a um mercado consumidor.O índice de crescimento tecnológico é tal que oinvestimento é variável e proporcional ao tipo detecnologia. Os parâmetros são tais que uma indús-tria crescendo ao ritmo normal de — por exemplo— 6%, necessita de 6% de investimento. Uma indús-tria similar, crescendo o dobro, necessita de uminvestimento oito vezes maior.Solla Price estabelece, de forma bastante precisa,as diferenças entre Ciência e Tecnologia atravésde seus produtos finais. O produto final da pesquisacientífica é o documento científico. No entanto,além da pesquisa, há outros resultados da atividadecientífica: novos processos e produtos, cuidadosprofissionais, ou algo de interesse direto para a in-dústria ou governo. Se o produtor pode "dispor"de seu produto — através, por exemplo, de umapatente — então o produto pode ser definido comotecnologia. Se o produto, por outro lado, não podeser utilizado pelo seu produtor e fizer parte deum todo internacional, então esse produto é Ciên-cia. Os produtos finais da Tecnologia representambení de consumo e serviços; o produto final daCiência é o documento científico — o artigo de pe-riódico, o livro.Em seu mais recente trabalho, ainda inédito (Anoverview of Science indicators) Solla Price fazuma revisão de sua própria literatura sobre o assun-to; esse trabalho abrange as idéias desenvolvidasao longo de mais de vinte anos de pesquisas. Demaneira geral, a atividade científica per capita éproporcional à atividade econômica per capita. Cor-relacionado o PNB com o consumo de energiaelétrica em vários países, demonstrou que os índicesper capita de atividade científica e de eletrici-dade estão relacionados linearmente; se multipli-carmos ambos os índices pela população, verifi-caremos que o tamanho absoluto da atividade cien-tífica de qualquer país c proporcional ao tamanhoabsoluto do consumo de energia elétrica per capita.O resultado obtido com essa distribuição permiteidentificar os países que têm muita ou pouca ati-

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vidade científica em relação aos desenvolvimentoseconômico e industrial.Utilizando dados de estudos feitos pela OCDE,Solla Price demonstra uma relação linear, atravésda equação:

onde DBPD representa a despesa bruta com pes-quisa e desenvolvimento (GERD, Gross Expendi-ture on Research and Development) e k tem valoraproximado de 4,3 — de tal forma que o investi-mento de 1% do PNB em P & D corresponde narealidade a um percentual de 1/4, 3 ou 23 traba-lhadores em P & D para cada 10.000 habitantes.Manipulando a equação base, vê-se também que ocusto médico P & D por trabalhador é um múltiplofixo (4,3) da renda média per capita.É evidente que não pode haver planejamento semum conhecimento detalhado de todos os compo-nentes envolvidos; o primeiro passo para qualquerdelineamento de política científica é o levantamen-to exaustivo de todos recursos científicos e tecno-lógicos disponíveis. É também de importância ca-pital o exame minucioso de vários problemas nasáreas de educação científica, técnica e tecnológica.Para os países em desenvolvimento, certas me-didas devem ser tomadas em caráter de urgência.Há necessidade de produção local de textos bási-cos em Ciência e Tecnologia, mesmo a nível deeducação primária. A produção destes textos deveser encarada como tarefa nacional, financiada eencorajada pelo Governo, uma vez que a Ciênciae a Tecnologia só desenvolvem-se plenamente seestiverem enraizadas na população. A nível edu-cacional mais elevado, é necessário estimular o usode um idioma internacional — como entrada esaída — a fim de assegurar a participação de umacomunidade nacional na comunidade internacional;nos casos de forte barreira lingüística, a compilaçãode dicionários especializados deve ser incentivada.O desenvolvimento científico dos países em desen-volvimento deve ser maior que o índice interna-cional de 1% — uma concentração de esforços deveser exercida a nível de graduação, assegurando,inclusive, um equilíbrio ideal entre o número deprofessores e alunos e grande estímulo às ativi-dades criativas e de pesquisa.O treinamento de profissionais no estrangeiro deveser permitido apenas quando esgotadas as possi-bilidades locais — e evidentemente devem sercriadas condições também locais para atrair de voltaaqueles profissionais: é sabido que os problemasde "brain-drain" provêm da falta de condições detrabalho nos países de origem.

A comunidade científica jovem deve ter oportu-nidades para interagir com a comunidade mais an-tiga e tradicional; além disso, os jovens devem par-ticipar, tanto quanto possível, das decisões sobreplanejamento.Os recursos instrumentais e tecnológicos — compu-tadores, reagentes químicos, instrumentos etc. —devem ser colocados à disposição dos cientistas;quanto maior o nível científico (na maioria dos ca-sos) maior esta necessidade.O sistema de financiamento da pesquisa científicadeve ser aperfeiçoado — desde as diretrizes paraconcessão de auxílios até o controle de contabili-dade, de maneira a permitir um cálculo de custode pesquisa e evitar que cientistas dispendam esfor-ços desnecessários para obterem os recursos deque necessitam.A fim de ser obtida uma eficiência máxima, é ne-cessário reforçar todo o complexo de relaçõesentre as partes do sistema de P & D nacional, in-cluindo ligações sócio-psicológicas, organizacionais,e econômicas e de informação.No que se refere à informação, diversos pontos de-vem ser particularmente enfocados, no própriointeresse do sistema de política científica: especialatenção deve ser dada à disseminação, em escalanacional, de relatórios inéditos sobre as necessidadesda agricultura, da medicina e da tecnologia, deforma a permitir que todas as unidades estejamatentas a tais demandas.O acesso à literatura é vital para a comunidadecientífica, tanto em termos de entrada como desaída. Bibliotecas equipadas, dispondo de recursostécnicos e tecnológicos, devem ser encaradas comoaltamente prioritárias. Uma comunidade científicanecessita de ser rapidamente informada sobre asmudanças e evoluções da Ciência, sobre novas des-cobertas — e é esta informação que permite aocientista sentir-se parte dos problemas internacio-nais e debater novos pontos de vista, científicos esociais. Para aumentar a participação dos cientistas,deve ser criado um periódico, em âmbito nacional,para debate de problemas nacionais. No entanto,em áreas onde a pesquisa científica é orientadapara a produção de Ciência propriamente dita, oscientistas devem ser encorajados a publicar emperiódicos internacionais, de forma a maximizar opotencial de suas contribuições.Em qualquer planejamento, incluindo política cien-tífica, é sempre salutar procurar-se soluções encon-tradas por outros países e a opinião de experts,principalmente para a análise da situação. No en-tanto, a única saída, principalmente para os paísesem desenvolvimento, é o exame contínuo, intcrna-lista, de todo o sistema de política científica etecnológica.

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O ECLETISMO DO PESQUISADOR

Derek de Solla Price obteve o primeiro Doutora-mento em Física, pela Universidade de Londres,aos 24 anos; seus trabalhos nesta área atraíram aatenção de Openheimer, com quem trabalhou du-rante anos, tendo feito, inclusive, parte do grupode pesquisas militares, durante a Segunda Guerra,sob a direção de H. Lowery.Após o segundo doutoramento em História da Ciên-cia, pela Universidade de Cambridge, em 1954,dedicou especial atenção à história de instrumentosantigos, tendo publicado vários artigos sobre astro-lábios e sobre mecanismos para medir o tempo.Consultor de diversos países para assuntos de po-lítica científica, membro honorário e ativo de vá-rias instituições internacionais e nacionais, SollaPrice tem seus trabalhos publicados em váriospaíses e em diversos idiomas. Parte de suas pes-quisas têm importância capital para a Ciência daInformação, particularmente para a DocumentaçãoCientífica, pelo papel que esta desempenha comoindicador não-obstrusivo da atividade científica.Seus trabalhos sobre as redes de citações bibliográ-ficas levaram-no a comparecer, em dezembro de1974, como expert, ao tribunal do Estado daPennsylvania, onde prestou depoimento sobre asqualificações de dois cientistas, baseando-se em res-pectivas incidências e freqüências de citações bi-bliográficas, fato inédito na Justiça Norte-americana.Suas pesquisas sobre a produtividade de cientistasconduziram-no à formulação da lei do Elitismo,cujas aplicações têm repercussões imediatamenteeficazes para a política científica.O mecanismo de Antikythera consumiu 20 anos depesquisas para ser reconstruído — os resultados,publicados também em 1974 pela American Phil-osophical Society, ainda estão revolucionando osconhecimentos até então existentes sobre a Ciênciagrega.Seu trabalho como pesquisador, cientista e tecnó-logo está concentrado em mais de 300 documentos,publicados a partir de 1941. Seria impraticáveltentar cobrir, em um único artigo, ainda que resu-midamente, toda esta atividade desenvolvida aolongo de mais de 35 anos de pesquisas — e nemhá tal objetivo, mas tão somente disseminar e evi-denciar a importância da obra de um cientista capazde sintetizar e de analisar a Ciência em seus aspec-tos micro e macroscópico.

BIBLIOGRAFIA DE DEREK DE SOLLA PRICE

LIVROS

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The Equatorie of the Planetis with a linguisticanalysis by R. M. Wilson. A manuscripttreatise ascribed to Chaucer. Cambridge, theUniversity Press, 1955. 214 p.

Heavenly clockwork. The great astronomical clocksof medieval China : a missing link inhorological history. Monograph No. 1 of theAntiquarian Horological Society. Cambridge,the University Press, 1960. 254 p. (Incollaboration with Drs. Joseph Needham andWang Ling)

The collector's series in science (a series of facsimileeditions of historical scientific books, editedwith the addition of prefatorial material). NewYork, Basic Books, Inc.

v. 1 Natural Magick, Giambattista delia Porta,1957.

v. 2 On the magnet, William Gilbert, 1958.

v. 3 Pirotechnia, Biringuccio, 1959.

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ARTIGOS

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