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Educação, Ciência e Inovação Santa Maria, RS, 11 a 13 de novembro de 2009 1 INFLUÊNCIA DO NÚMERO DE HASTES FLORAIS NO RENDIMENTO DE GIPSOFILA CULTIVADA EM VASO ¹ SCHWAB, N. T.²; NEUHAUS, M.³; BELLÉ, R. A.³; BACKES, F. A. A. L.³ ¹ Trabalho de Pesquisa_UFSM ² Curso de Pós graduação em Engenharia Agrícola da Universidade federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil. ³ Curso de Agronomia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil E-mail: [email protected] RESUMO O objetivo foi avaliar hastes florais de Gypsophila paniculata “Million Bells” cultivadas em vaso, mantidas em diferentes números por planta. O experimento foi conduzido em estufa do Departamento de Fitotecnia da UFSM, no período de março a julho de 2009. Utilizou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado, com quatro repetições. Os tratamentos foram: cinco, dez, quinze e vinte hastes por planta. Avaliou-se o número de nós, altura de haste (cm), massa da matéria fresca e seca (g). Verificou-se que a altura e a massa de matéria seca diminuíram à medida que o número de hastes aumentou. Quanto à massa de matéria fresca, o tratamento com cinco hastes/planta foi 117,35% superior ao tratamento com vinte hastes. No tratamento com cinco hastes/planta todas produziram inflorescências, enquanto que com dez, quinze e vinte hastes somente 86,7%, 84,1% e 70% de suas hastes apresentaram floração, respectivamente. Palavras-chave: Gypsophila paniculata ‘Million Bells’; altura; taxa de florescimento. 1. INTRODUÇÃO A gipsofila, popularmente conhecida como mosquitinho, é uma das principais flores de corte utilizadas como complemento de vaso e na confecção de arranjos e buquês. Pertencente à família Caryophyllaceae, a gipsofila é originária dos países Mediterrâneos e Europa Oriental. Apresenta porte leve e folhas finas de cor verde acinzentada. Suas inflorescências são formadas por numerosas flores pequenas e brancas, as quais aparentam pureza, uma delicada transparência e notável leveza (MARIN, 2002; LORENZI & SOUZA, 2008; PETRY, 2008). No contexto mundial da floricultura, a Gypsophila paniculata L. garante 2,5 a 3% do total. Em 1999, encontrava-se em 9º lugar no ranking das dez flores mais vendidas (com 43,6 mil Euros ou 2,88% do total) e em 2000 caiu para a 10ª posição (42,5 mil Euros e 2,54% do total) (BELLÉ, 2008). No mercado brasileiro tem apresentado um crescimento vertiginoso demonstrando grande potencial para exportação (PEDROSA et al., 2000). No Rio Grande do Sul, em datas comemorativas, alguns autores relatam que chegam ao estado mais de 500t de rosas e mosquitinhos. Neste sentido, a sua produção local é vantajosa, sobretudo para garantir a venda de flores frescas colhidas recentemente, o que acaba aumentando sua vida pós colheita (PETRY, 2008).

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Publicado no XIII Simpósio de Ensino, Pesquisa e Estanção - UNIFRA 2009.

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Page 1: Influência do número de hastes florais no rendimento de Gipsofila cultivada em vaso - por Natalia Teixeira Schwab

Educação, Ciência e InovaçãoSanta Maria, RS, 11 a 13 de novembro de 2009

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INFLUÊNCIA DO NÚMERO DE HASTES FLORAIS NO RENDIMENTO DE GIPSOFILA

CULTIVADA EM VASO ¹

SCHWAB, N. T.²; NEUHAUS, M.³; BELLÉ, R. A.³; BACKES, F. A. A. L.³

¹ Trabalho de Pesquisa_UFSM² Curso de Pós graduação em Engenharia Agrícola da Universidade federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil.³ Curso de Agronomia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, BrasilE-mail: [email protected]

RESUMOO objetivo foi avaliar hastes florais de Gypsophila paniculata “Million Bells” cultivadas em vaso,

mantidas em diferentes números por planta. O experimento foi conduzido em estufa do Departamento de

Fitotecnia da UFSM, no período de março a julho de 2009. Utilizou-se o delineamento experimental inteiramente

casualizado, com quatro repetições. Os tratamentos foram: cinco, dez, quinze e vinte hastes por planta.

Avaliou-se o número de nós, altura de haste (cm), massa da matéria fresca e seca (g). Verificou-se que a altura

e a massa de matéria seca diminuíram à medida que o número de hastes aumentou. Quanto à massa de

matéria fresca, o tratamento com cinco hastes/planta foi 117,35% superior ao tratamento com vinte hastes. No

tratamento com cinco hastes/planta todas produziram inflorescências, enquanto que com dez, quinze e vinte

hastes somente 86,7%, 84,1% e 70% de suas hastes apresentaram floração, respectivamente.

Palavras-chave: Gypsophila paniculata ‘Million Bells’; altura; taxa de florescimento.

1. INTRODUÇÃO

A gipsofila, popularmente conhecida como mosquitinho, é uma das principais flores de corte

utilizadas como complemento de vaso e na confecção de arranjos e buquês. Pertencente à família

Caryophyllaceae, a gipsofila é originária dos países Mediterrâneos e Europa Oriental. Apresenta porte

leve e folhas finas de cor verde acinzentada. Suas inflorescências são formadas por numerosas flores

pequenas e brancas, as quais aparentam pureza, uma delicada transparência e notável leveza

(MARIN, 2002; LORENZI & SOUZA, 2008; PETRY, 2008).

No contexto mundial da floricultura, a Gypsophila paniculata L. garante 2,5 a 3% do total. Em

1999, encontrava-se em 9º lugar no ranking das dez flores mais vendidas (com 43,6 mil Euros ou

2,88% do total) e em 2000 caiu para a 10ª posição (42,5 mil Euros e 2,54% do total) (BELLÉ, 2008).

No mercado brasileiro tem apresentado um crescimento vertiginoso demonstrando grande potencial

para exportação (PEDROSA et al., 2000).

No Rio Grande do Sul, em datas comemorativas, alguns autores relatam que chegam ao

estado mais de 500t de rosas e mosquitinhos. Neste sentido, a sua produção local é vantajosa,

sobretudo para garantir a venda de flores frescas colhidas recentemente, o que acaba aumentando

sua vida pós colheita (PETRY, 2008).

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Os maços de gipsofila comercialmente aceitos devem possuir peso mínimo de 300 g e

comprimento da haste floral de 30, 40, 50 e 60 cm (IBRAFLOR, 2000). Segundo Petry (2008) o

rendimento médio de gipsofila é de dez hastes florais por planta por ciclo, alcançando de cinco a oito

maços com cerca de 300 g por maço.

A espécie exige solos bem drenados e alcalinos, com pH entre 6,5 e 7,0, por isso a produção

em substratos que contenham cinza, como a casca de arroz carbonizada e queimada, cujo pH é

elevado, pode inibir o surgimento de doenças e facilitar a drenagem do substrato de cultivo (BELLÉ,

2008).

A produção comercial de gipsofila depende principalmente do conhecimento das condições

ambientais, de modo a produzir flores em épocas específicas do ano. A temperatura afeta a duração

do ciclo e o florescimento ocorrendo um efeito acumulativo entre comprimento do dia, temperatura e

intensidade luminosa. Sob condições de dias curtos e temperaturas baixas a planta se caracteriza por

apresentar um crescimento vegetativo com muitas ramificações, crescendo em roseta, sem alongar

as hastes e sem florescer (BELLÉ, 2008; PETRY, 2008).

Segundo Bellé (2008), o comprimento do fotoperíodo e a alta luminosidade são cruciais nas

fases de indução, iniciação e formação de flores. Para evitar problemas nestas fases o fotoperíodo é

geralmente aumentado para 16 horas por dia. Quando o crescimento é feito em temperaturas baixas

e luminosidade adequada (14 -16 h) o crescimento é lento, a floração é mais tardia (de 80 a 120 dias),

porém o rendimento e a qualidade podem ser ótimos. Esta situação ocorre naturalmente quando o

plantio ou o desponte são feitos no outono e a floração se dá no inverno.

A gipsofila tende a florescer em ciclos, sendo que no final de cada ciclo de florescimento, as

plantas são podadas ao nível do solo e novo crescimento se inicia a partir das gemas basais, podendo

apresentar dois a três ciclos de florescimento durante um ano de produção comercial (SHILLO &

HALEVY, 1982).

O objetivo do trabalho foi avaliar o crescimento das hastes de Gypsophila paniculata “Million

Bells” plantadas em vaso, sob diferentes números de hastes por planta.

2. METODOLOGIA

O experimento foi conduzido em casa de vegetação no Setor de Floricultura, do

Departamento de Fitotecnia, na Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS, no período de

17 de março a 01 de julho de 2009.

Utilizou-se o delineamento experimental inteiramente casualizado, com quatro repetições. Os

tratamentos foram constituídos de cinco, dez, quinze e vinte hastes por planta mantidas após a poda.

As plantas de Gypsophila paniculata ‘Million Bells’ foram conduzidas em vasos de polietileno

com capacidade de 18 litros, contendo como substrato casca de arroz carbonizada (CAC), cujas

características são: pH - 6,4; CE (µs/cm) - 0,76; N (%) - 1,02; P (g/kg) - 0,85; K (%) - 0,61; Ca (mg/L) -

0,14; Mg (mg/dc3) - 0,06; Porosidade total (%) - 84,75; densidade de volume (g/L) - 113,23;

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Capacidade de retenção de água (%) - 78,65. Essas plantas vem sendo conduzidas nestes vasos

desde fevereiro de 2006.

A cultivar ‘Million Bells’ apresenta flores pequenas e brancas, de diâmetro entre 5 a 7 mm, de

pétalas duplas, com hastes muito ramificadas e com numerosas flores.

Os vasos contendo as plantas foram submetidos a estresse hídrico por um período de sete

dias, antes e depois da poda de renovação, realizada em 17 de março de 2009. A partir deste período

se iniciou o fornecimento de adubação. A fertirrigação foi realizada duas vezes por semana

aplicando-se 200 mL de solução por vaso, segundo DANZIGER (1995).

No dia 07 de abril de 2009, quando as plantas estavam com altura em torno de 10 cm foram

efetuados os tratamentos, através de desbastes, deixando-se cinco, dez, quinze e vinte hastes por

planta em cada vaso. A partir desse momento, as plantas receberam regime de dias longos (14 horas

de luz/dia) até o momento da colheita e também o tutoramento das hastes com arame galvanizado.

O início da colheita ocorreu em 17 de junho de 2009, quando 75% das flores estavam abertas,

fazendo-se cortes rentes à base da haste. O término se deu em 01 de julho de 2009.

As características fitotécnicas avaliadas na cultura foram: número de nós, altura de haste

(cm), massa da matéria fresca (g) e massa da matéria seca (g).

A análise estatística foi realizada através do software STATISTICA 6.0, seguindo o modelo de

análise para o delineamento inteiramente casualizado constando inicialmente da análise de variância

e teste F. Quando o efeito mostrou-se significativo, foi aplicado aos resultados o teste de Tukey em

nível de 5% de probabilidade de erro.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os valores médios referentes a número de nós, altura, massa da matéria fresca e massa da

matéria seca de gipsofila são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1 – Valores médios de número de nós, altura, massa da matéria fresca e seca e taxa de florescimento de Gypsophilapaniculata “Million Bells” em função de diferentes densidades de hastes por vaso. Santa Maria, 2009

Número dehastes

Número denós

Altura (cm) Massa da MatériaFresca (g)

Massa da Matéria Seca(g)

5 hastes 22,45 a* 81,65 a 19,54 a 3,74 a10 hastes 22,28 a 68,55 b 11,79 b 2,27 b15 hastes 21,94 a 65,81 b 9,84 bc 1,86 b20 hastes 21,76 a 65,77 b 8,99 c 1,83 bCV (%) 4,90 4,36 9,75 12,39

*Médias da mesma coluna seguidas de uma mesma letra não diferem entre si ao nível de 5% de probabilidade pelo teste deTukey.

Verificou-se que não houve diferença significativa entre as diferentes densidades de hastes

mantidas por planta para a variável número de nós (Tabela 1).

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Em relação à altura e massa da matéria seca observou-se um comportamento semelhante

nestas variáveis, sendo que o tratamento com cinco hastes por planta foi significativamente superior

em relação aos demais. Verificou-se que a altura e a massa de matéria seca diminuíram à medida

que o número de hastes aumentou nos diferentes tratamentos. Assim, as plantas com somente cinco

hastes promoveram um crescimento superior, em média, de 22,45% em relação aos demais

tratamentos, os quais não diferiram significativamente entre si. Quanto à massa de matéria seca a

densidade de cinco hastes foi, em média, 90,17% superior em relação aos demais tratamentos

(Tabela 1).

Quanto à massa de matéria fresca verificou-se que o tratamento com cinco hastes foi

117,35% superior ao tratamento de vinte hastes por planta. Entretanto, os tratamentos de vinte e

quinze hastes não diferiram significativamente entre si, bem como os tratamentos de quinze e dez

hastes (Tabela 1).

Observou-se que no tratamento com vinte hastes por planta, a altura das hastes se enquadra

ao padrão máximo de altura (60 cm), segundo o Ibraflor (2000), no entanto, observou-se que as

hastes apresentaram-se muito delgadas e frágeis o que determinou o menor acúmulo de massa de

matéria fresca e seca (Tabela 1).

O tamanho das hastes de gipsofila para a comercialização, segundo o Ibraflor (2000),

apresenta como valor ideal 60 cm de altura, sendo que tamanhos menores, ou seja, até 30 cm ainda

são aceitos no mercado, embora com menor valor comercial. Neste experimento, todos os

tratamentos aplicados resultaram em hastes com altura superior ao padrão de 60 cm, o que pode

proporcionar um maior período de duração na pós-colheita através de cortes para sua conservação.

Para se tornar mais rentável a exploração comercial da Gypsophila paniculata ‘Million Bells’, o

Ibraflor deveria recomendar um padrão inferior quanto ao peso ou um valor do maço diferenciado,

pois essa cultivar apresenta características agronômicas diferentes daquelas para as quais o padrão

foi criado.

4. CONCLUSÕES

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Considerando a época do ano de cultivo deste experimento, ou seja, o outono/inverno,

conclui-se que para se obter hastes de melhor qualidade as plantas da cultivar ‘Million Bells’ devem

sofrer uma uniformização do número de hastes produtivas de até dez.

5. REFERÊNCIAS

BELLÉ, R. A. Floricultura: Caderno didático. Santa Maria, 2008. 181p.DANZIGER. Gypsophila, cultivation practices in Israel. Dan Flower Farm. Beit Dagan, Israel, 1995.44p.INSTITUTO BRASILEIRO DE FLORICULTURA (IBRAFLOR). Padrão Ibraflor de qualidade.Campinas, 2000. 87p.LORENZI, H.; SOUZA, H. M. Plantas ornamentais no Brasil: Arbustivas, herbáceas e trepadeiras. 4ed. Nova Odessa: IPEF, 2008. 1008 p.MARIN, M. A. Gypsophila. Ediciones hortitecnia Ltda. Primeira Edición, Junio2002. 63 p.PEDROSA, M. W. et al. Concentração e acúmulo de nutrientes em plantas de Gypsophila paniculataL. cultivadas em solução nutritiva. Revista Brasileira de Horticultura Ornamental, v.6, n.1/2,p.19-30, 2000.PETRY, C. (Org.) Plantas ornamentais: aspectos para produção. 2 ed., Passo Fundo: UPF, 2008. 202p.QUOIRIN, M.G.G. et al. Micropropagação de Gypsophila pela cultura de segmentos nodais. ScientiaAgraria, Curitiba, v.9, n.1, p.79-83, 2008.SHILLO, R.; HALEVY, A. H.; Interaction of photoperiod and temperature in flowering-control ofGipsophila paniculata L. Scientia Horticulturae, Amsterdam, v.16, p.385-393, 1982.