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MARINA VASCONCELOS SANTANA Pós-Graduação em Engenharia Civil – Universidade Federal de Santa Catarina Florianópolis – Avenida Desembargador Vitor Lima, 410, A2 406 – Trindade – 88040.401 [email protected] – [48] 37215185 / [48]99016346 INFLUÊNCIA DE PARÂMETROS CONSTRUTIVOS NO CONSUMO DE ENERGIA DE EDIFÍCIOS DE ESCRITÓRIO LOCALIZADOS EM FLORIANÓPOLIS - SC Monografia apresentada ao Eco_Lógicas: Concurso Catarinense de Monografias sobre Energias Renováveis e Eficiência Energética, promovido pelo Instituto IDEAL. Florianópolis 2009

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Page 1: INFLUÊNCIA DE PARÂMETROS CONSTRUTIVOS NO CONSUMO DE ... · O método deste trabalho engloba a análise da influência de parâmetros no consumo de energia em edifícios de escritório,

MARINA VASCONCELOS SANTANA Pós-Graduação em Engenharia Civil – Universidade Federal de Santa Catarina

Florianópolis – Avenida Desembargador Vitor Lima, 410, A2 406 – Trindade – 88040.401 [email protected] – [48] 37215185 / [48]99016346

INFLUÊNCIA DE PARÂMETROS CONSTRUTIVOS NO CONSUMO DE ENERGIA DE EDIFÍCIOS DE

ESCRITÓRIO LOCALIZADOS EM FLORIANÓPOLIS - SC

Monografia apresentada ao Eco_Lógicas: Concurso Catarinense de Monografias sobre Energias Renováveis e Eficiência Energética, promovido pelo Instituto IDEAL.

Florianópolis

2009

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RESUMO

Este trabalho avalia a influência de parâmetros construtivos no consumo de energia em edifícios de escritório. Essa avaliação foi realizada através de simulações computacionais utilizando o programa EnergyPlus. Para tal análise, foi modelado um edifício de escritório com características construtivas predominantes levantadas de edificações do centro da cidade de Florianópolis, e simulado com os dados climáticos desta. Os parâmetros considerados foram: os ângulos horizontal e vertical de sombreamento, o entorno, o fator solar dos vidros, o percentual de área de janela na fachada, a transmitância térmica dos materiais, a absortância dos materiais e orientação da edificação. Dessa forma, foram realizadas alterações de cada parâmetro construtivo, enquanto outras características mantiveram-se constantes, assim, avaliou-se a resposta no consumo de energia e os resultados comparados entre si. A cada variação de 10% do percentual de área de janela na fachada, o consumo de energia aumentou em 2,9%. Para a absortância das paredes externas, cada variação de 10% implicou no aumento de 1,9% do consumo de energia. Entretanto, ao se analisar a carga de resfriamento relacionada à transmitância térmica e à absortância do pavimento de cobertura, observaram-se variações significativas. Ao se aumentar a transmitância térmica da cobertura em 10%, implicou-se no aumento da carga de resfriamento em 8%; para a absortância da cobertura, a cada acréscimo de 10%, a carga de resfriamento aumentou em 14%. A simulação dos casos permitiu identificar a influência desses parâmetros da edificação no consumo de energia, auxiliando nas decisões mais adequadas ao clima em estudo a fim de garantir melhores níveis de eficiência energética. PALAVRAS CHAVE: Parâmetros construtivos; Eficiência energética; Simulação computacional.

ABSTRACT The main objective of this paper is to analyze office buildings located in Florianópolis – Brazil, evaluating the influence of construction parameters on their energy consumption using the EnergyPlus computer programme. Thus, a methodology for surveying building parameters to verify the most used characteristics in office buildings in Florianópolis was developed. Based on the collected data, a representative model was developed and used as the base-case for the computer simulations. Alterations in construction parameters were carried out in order to evaluate their influence on the energy consumption. The parameters considered were the horizontal and vertical shading angle, the building surroundings, the solar heat gain factor of glasses (SHGF), the window to wall ratio (WWR), the thermal transmittance (U-value) of components, the absorptance of surfaces and the solar orientation of the building. The analysis was divided in two groups: envelope and HVAC efficiency. For the envelope, by increasing the WWR by an increment of 10%, the annual energy consumption increased by 2.9%. Regarding the external walls absorptance, an increment of 10% implied an increase of 1.9% on the energy consumption. However, by analysing the cooling load related to the roof thermal transmittance and the absorptance of the roof tiles, significant variations were observed on the top floor. By increasing the roof thermal transmittance in 10%, an increase of 8% on the cooling load was observed on the top floor; and by increasing the absorptance of the roof tiles in 10%, an increase of 14% on the cooling load was observed. Results helped identify the influence of construction parameters on the energy consumption of office buildings, as well as the decision-making by providing appropriate measures according to the climate to guarantee better levels of energy efficiency. KEY WORDS: Construction parameters; Energy efficiency; Computer simulation.

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SUMÁRIO RESUMO/ABSTRACT .................................................................................................................... ii 1.INTRODUÇÃO............................................................................................................................... 1 2.OBJETIVO...................................................................................................................................... 1 3. METODOGIA................................................................................................................................ 2 3.1. Levantamento de dados.............................................................................................................. 2 3.1.1. Levantamento dos edifícios de escritório.................................................................................. 2 3.1.2. Levantamento das tipologias construtivas................................................................................. 2 3.1.3. Orientação solar dos edifícios.................................................................................................... 2 3.1.4. Determinação da forma.............................................................................................................. 2 3.1.5. Elementos de proteção solar...................................................................................................... 3 3.1.6. Levantamento das absortâncias das paredes externas............................................................... 3 3.1.7. Levantamento das atividades profissionais............................................................................... 3 3.1.8. Levantamento do padrão de ocupação e uso de equipamentos................................................. 3 3.1.9. Estimativa da densidade de carga interna de equipamentos...................................................... 3 3.2. Definição da tipologia predominante........................................................................................ 4 3.3. Simulações termo-energéticas.................................................................................................... 4 3.3.1. Fator de projeção....................................................................................................................... 5 3.3.2. Entorno...................................................................................................................................... 5 3.3.3. Fator solar dos vidros................................................................................................................. 5 3.3.4. Percentual de área de janela na fachada.................................................................................... 6 3.3.5. Transmitâncias térmicas............................................................................................................ 6 3.3.6. Absortâncias das paredes externas............................................................................................. 6 3.3.7. Orientação solar......................................................................................................................... 6 4. Resultados....................................................................................................................................... 6 4.1.1. Distribuição e número de edifícios de escritório ...................................................................... 7 4.1.2. Número de pavimentos tipo, forma, proporção e área............................................................... 7 4.1.3. Orientação das fachadas............................................................................................................ 7 4.1.4. Orientação e área das aberturas................................................................................................. 8 4.1.5. Elementos de proteção solar...................................................................................................... 8 4.1.6. Cores dos edifícios de escritório................................................................................................ 8 4.1.7. Detalhes construtivos................................................................................................................. 8 4.2. Padrão de ocupação e uso de equipamentos............................................................................. 9 4.2.1. Atividades profissionais nos edifícios de escritório.................................................................. 9 4.2.2. Padrão de ocupação .................................................................................................................. 9 4.2.3. Padrão de uso dos equipamentos............................................................................................... 9 4.2.4. Monitoramento dos equipamentos............................................................................................. 10 4.3. Tipologia predominante......................................................................................................... 10 4.3.1. Distribuição dos PJFs na tipologia predominante..................................................................... 10 4.3.2 Características da tipologia predominante.................................................................................. 10 4.4. Simulações termo-energéticas.................................................................................................... 11 4.4.1. Simulação da tipologia predominante: caso base...................................................................... 11 4.4.2. Variações do fator de projeção das proteções solares............................................................... 11 4.4.3. Variações do entorno ................................................................................................................ 12 4.4.4. Variações do fator solar dos vidros........................................................................................... 13 4.4.5. Variações do PJF....................................................................................................................... 13 4.5.6. Variações da transmitância térmica........................................................................................... 14 4.4.7. Variações da absortância........................................................................................................... 16 4.4.8. Variações da orientação............................................................................................................. 17 4.5. Síntese dos resultados................................................................................................................. 18 5. CONCLUSÃO................................................................................................................................ 18 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................................. 19

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1. INTRODUÇÃO

A correta escolha de parâmetros construtivos dá ensejo à eficiência energética e,

consequentemente, à economia de energia e à redução dos impactos ambientais.

Ünver et al. (2004) e Oral et al. (2004) desenvolveram métodos que aborda a otimização do

desempenho de edificações na Turquia, em função de elementos que compõem o envelope

construtivo. Yang et al. (2008) criaram envelopes genéricos de edificações na China, considerando

zonas diferenciadas, e apresentaram o desempenho térmico e energético de cada envelope.

Um dos parâmetros mais significativos no consumo de energia está relacionado à abertura de

janela. Segundo Ghisi e Tinker (2005), grandes áreas de janela têm a inconveniência de permitir

ganhos ou perdas excessivas de calor. Logo, para amenizar o desconforto, torna-se mais intenso o

uso de sistema de ar condicionado, aumentando o consumo de energia. Num estudo realizado em

Netherlands, Bokel (2007) concluiu que houve redução na demanda de energia, na ordem de 1400

kWh/ano, com a utilização da combinação adequada de posição, de tamanho, de forma e de

sistemas de abertura. Ademais, Lam (2000) verificou que os ganhos de calor através da janela

representam quase 50% dos ganhos através do envelope da edificação.

O estudo das características do envelope de um edifício de apartamentos energeticamente

eficiente, de Cheung et al. (2005), mostra que, com redução de 30% da absortância à radiação solar,

pôde-se alcançar redução de 12,6% da carga de resfriamento. Num trabalho realizado em Hong

Kong, por Cheng e Givoni (2005), verificaram-se variações de temperaturas internas de até 12ºC, de

acordo com a absortância à radiação solar utilizada.

Na Turquia, Oral e Yilmaz (2006) e Aksoy e Inalli (2002) revisaram valores limites de

transmitância térmica relativamente à forma e à orientação solar de edificações, com o intuito de

alcançar conforto térmico e, consequentemente, conservar energia.

Simulação termo-energética é um método vastamente utilizado para analisar a influência dos

parâmetros construtivos no consumo de energia (LAM e HUI, 1993). Iqbal et al. (2007)

investigaram medidas de conservação de energia, em edifícios de escritório na Arábia Saudita,

donde concluíram que uma edificação pode reduzir o consumo anual de energia em até 36%.

A despeito da realização de estudos objetivando a avaliação dos parâmetros que estão

relacionados ao consumo de energia, necessita-se de um diagnóstico acerca da realidade construtiva

do Brasil e da utilização de edificações relativamente à eficiência energética. Frequentemente, a

falta de conhecimento, aliada à falta e de consciência dos profissionais, dá azo a escolhas

inadequadas, que não contribuem para a redução do consumo de energia.

2. OBJETIVO

Este trabalho tem como objetivo principal diagnosticar a situação de edifícios de escritório

localizados no município de Florianópolis – SC, bem como avaliar a influência de parâmetros

construtivos na racionalização do consumo de energia e no incremento da eficiência energética

desse tipo de edificação.

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3. METODOLOGIA

O método deste trabalho engloba a análise da influência de parâmetros no consumo de energia

em edifícios de escritório, a partir de levantamentos de características construtivas e levantamentos

de ocupação e de uso de equipamentos. De forma geral, consiste em localizar os edifícios de

escritório na cidade de Florianópolis; levantar as características predominantes; levantar as

atividades profissionais e seus padrões de ocupação e de uso dos equipamentos; monitorar alguns

equipamentos utilizados em escritórios; definir uma tipologia predominante; e, finalmente, realizar

simulações termo-energéticas do caso-base e das alterações dos parâmetros que envolvem a

edificação e que influenciam no desempenho energético desta.

3.1. Levantamento de dados

Para a coleta de dados, foram utilizados os resultados dos trabalhos de Minku (2005) e

Moreira (2005), os quais possuem levantamentos necessários à consistência da metodologia deste

trabalho.

3.1.1. Levantamento dos edifícios de escritório

A etapa inicial da coleta de dados consistiu na obtenção do número de edifícios de escritório

particulares, a partir de cinco pavimentos, situados no centro da cidade de Florianópolis. A

Secretaria de Urbanismo e Serviços Públicos (SUSP) forneceu o número de edifícios de serviços

existentes. A distinção entre edifícios de escritório públicos, particulares e comerciais foi realizada

mediante visitas in loco.

3.1.2. Levantamento das tipologias construtivas

Foram analisados 35 edifícios de escritório, dos quais se registrou as principais características,

tais como tipologia, localização, profissionais responsáveis, data de ocupação, número de

pavimentos, dimensões, áreas, orientações, área de janela por fachada, sistemas de aberturas e

elementos de proteção solar, as quais foram generalizadas ao serem transformadas em indicadores

para a simulação. Outros dados construtivos, como tipos de cobertura, lajes e paredes, foram

obtidos somente de 14 edifícios, devido à dificuldade de encontrar projetos na íntegra.

3.1.3. Orientação solar dos edifícios

A posição de cada edificação foi determinada por intermédio da orientação solar de sua

fachada principal, que se aferiu in loco. Com uma bússola, obteve-se o norte magnético dos

edifícios e, para o norte verdadeiro, utilizou-se o programa computacional Declinação Magnética

2.0, disponível no site <www.labeee.ufsc.br>. Para definir a orientação das fachadas determinou-se,

para cada ponto cardeal, um limite de abrangência de 22,5° no sentido horário e anti-horário.

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3.1.4. Determinação da forma

Relativamente à forma, as edificações foram classificadas em retangulares, quadradas e

triangulares, mediante aproximação do formato das plantas dos edifícios com as formas citadas.

3.1.5. Elementos de proteção solar

Os componentes das fachadas dos edifícios que funcionam como elementos de sombreamento

das aberturas, ou partes destas, foram considerados e denominados como elementos de proteção

solar. Entretanto, não se verificou a adequação e a eficiência desses elementos. Mediante registro

fotográfico, distinguiu-se os elementos de proteção solar, como brises, de suportes contínuos para

aparelhos de ar condicionado.

3.1.6. Levantamento das absortâncias das paredes externas

Obtiveram-se as absortâncias das paredes externas dos edifícios por intermédio de medições,

in loco, das respectivas refletâncias, as quais foram realizadas com o aparelho portátil ALTA II.

3.1.7. Levantamento das atividades profissionais

As atividades profissionais da amostra de edificações foram obtidas com visitas in loco,

entrevistas e consultas. Essas atividades foram divididas em modalidades de acordo com a área de

atuação. Tal levantamento serviu para identificar a relevância das atividades e focar as entrevistas

para a etapa de obtenção do funcionamento dos escritórios.

3.1.8. Levantamento do padrão de ocupação e uso de equipamentos

A partir da relevância das atividades profissionais, visitou-se 41 escritórios e destes foram

obtidos os dados de funcionamento, o tempo de permanência dos usuários, a quantidade de usuários

e, por fim, os dias de ocupação. Para este trabalho, utilizou-se o padrão de ocupação médio da

amostra de escritórios.

Registraram-se os horários em que os equipamentos elétricos e o sistema de iluminação foram

ligados e desligados. Obtidos os resultados, tornou-se conhecido o uso dos equipamentos, tanto nos

dias úteis como nos finais de semana e feriados.

3.1.9. Estimativa da densidade de carga interna de equipamentos

Nesta etapa da pesquisa, foram monitorados equipamentos de dois escritórios de advocacia. A

partir desse monitoramento, obteve-se a potência total instalada. Assim, apresentou-se um indicador

de simulação (densidade de carga interna de equipamentos), que é resultado da razão da potência

instalada total pela área do escritório (W/m²).

Determinou-se a potência instalada de todos os equipamentos existentes, com exceção de

lâmpadas, com auxílio do medidor de consumo portátil Yokogawa MCP 5000, que forneceu o

consumo (kWh), a tensão (V) e a potência (kW) de cada equipamento, num determinado período de

tempo estipulado pelo usuário.

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Para as lâmpadas incandescentes e fluorescentes compactas, adotou-se a potência nominal e,

relativamente às lâmpadas fluorescentes tubulares, empregou-se a potência nominal mais 20% de

perda pelos reatores. A razão da potência instalada total de iluminação pela área resultou na

densidade de carga interna de iluminação.

3.2. Definição da tipologia predominante

A tipologia predominante constitui-se de características construtivas e funcionais mais

representativas em edifícios de escritório levantados em Florianópolis.

Definida a amostra, analisou-se a freqüência de ocorrência de pavimentos tipo e incidência

das formas encontradas. Avaliou-se também a freqüência de ocorrência das proporções, assim,

definiram-se as dimensões da tipologia predominante a partir da proporção representativa,

juntamente com a área da edificação.

À definição da orientação solar da tipologia predominante, analisou-se a freqüência de

ocorrência das orientações das fachadas principais e das orientações das demais fachadas. Além

disso, verificou-se a existência de elementos de proteção solar nas fachadas da amostra de

edificações.

A partir dos materiais construtivos que constituem as edificações da amostra, tornaram-se

conhecidos alguns indicadores significativos. O valor de fator solar dos vidros foi calculado com

base em dados dos componentes obtidos de catálogos de fabricantes e da biblioteca de materiais do

programa EnergyPlus. Obtiveram-se os dados de transmitâncias térmicas das paredes e da cobertura

e suas respectivas capacidades térmicas do procedimento de cálculo apresentado na ABNT (2005).

Os percentuais de área de janela na fachada (PJF) foram limitados por faixas, de 0 a 10%, de

10,1% a 20%, e assim sucessivamente, e analisados por fachada. Para a tipologia predominante,

analisou-se a freqüência de ocorrências dos PJFs conjuntamente, diferenciando somente fachada

principal (fachadas dispostas no alinhamento da rua) de fachadas laterais, independentemente da

orientação solar.

À tipologia predominante, adotou-se o padrão de ocupação médio obtido do levantamento de

funcionamento, permanência e quantidade de usuários, e dias úteis dos 41 escritórios visitados.

Obteve-se o padrão de uso dos equipamentos mediante o levantamento de utilização dos

equipamentos e do sistema de iluminação das salas monitoradas citadas anteriormente.

Obteve-se a densidade de carga interna dos levantamentos in loco e comparada a valores

utilizados em trabalhos similares. O total de carga interna é resultado da quantidade de potência de

iluminação (W/m²), da densidade de carga de equipamentos (W/m²) e da quantidade de pessoas

(pessoas/m²). A taxa metabólica considerada foi de 70 W/m², de acordo com a ISO 7730/94 (1994)

para atividade leve manual realizada em escritórios.

3.3. Simulações termo-energéticas

A simulação computacional foi empregada para avaliar o consumo de energia elétrica, por se

tratar do método mais simplificado de analisar a influência desse consumo em função das alterações

nos parâmetros construtivos.

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Para os dados de entrada no programa de simulação, utilizaram-se os levantamentos de

caracterização construtiva, bem como os padrões de uso e ocupação.

Utilizaram-se, ademais, arquivos climáticos de Florianópolis com dados horários

desenvolvidos no estudo de Goulart et al. (1998) revistos, tratados e compilados por Carlo (2005).

Iniciou-se a simulação termo-energética com a tipologia predominante e, em seguida,

simulou-se as alterações de parâmetros. Mediante alteração de um parâmetro por vez, tornou-se

conhecido o efeito de cada alteração no consumo de energia da edificação.

3.3.1. Fator de projeção

Relativamente às simulações das variações dos elementos de proteção solar, foram simulados

três casos com brises (ângulos de 45°). Os brises utilizados nas simulações são iguais para as

fachadas e dispostos em todas as aberturas da edificação. Foram modeladas placas de 50 cm,

distanciadas verticalmente a cada 50 cm. A Fig. 1 apresenta os croquis dos casos simulados. As

placas foram desenhadas de forma simplificada para a simulação, todas proporcionando a mesma

proteção desejada. Com relação aos brises horizontais, ainda foram simulados dois casos, variando

os ângulos verticais de sombreamento (ângulos de 25º e 65º).

(a) Brise horizontal (AVS45°) (b) Brise vertical (AHS45°) (c) Brise horizontal e vertical (AHVS)

Fig. 1: Características dos casos relacionados ao fator de projeção.

3.3.2. Entorno

Para a análise das obstruções, comuns no entorno das edificações, foram simulados casos em

seis situações distintas. Consideraram-se obstruções que representassem edificações construídas

respeitando o afastamento disposto pela Lei Complementar no 1/97 do Código de Obras de

Florianópolis (Fig. 2).

A altura considerada para as edificações do entorno, é idêntica a altura do edifício que

representa a tipologia predominante. A Fig. 3 apresenta os seis casos que foram simulados para a

análise da influência do entorno no consumo de energia do edifício. Os blocos com hachuras

representam a tipologia predominante.

Fig.2: Afastamento adotado pelo Código

de Obras de Florianópolis.

(a) obstrução NE (b) obstrução NO (c) obstrução SE

(d) obstrução SO (e) obstrução das

fachadas (f) obstrução total

Fig.3: Casos simulados para a análise do entorno.

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3.3.3. Fator solar dos vidros

Considerando-se o vidro adotado para a tipologia predominante, foram avaliados outros

vidros encontrados no levantamento construtivo das edificações (três casos), levando-se em conta

seus respectivos fatores solares (FS).

3.3.4. Percentual de área de janela na fachada

Estabeleceram-se faixas de percentagem à análise do consumo de energia relativamente à

dimensão das áreas de janela. Foram simulados casos com PJFs iguais para as quatro fachadas,

variando de 10% a 100%, em intervalos de 10%, totalizando dez casos.

3.3.5. Transmitâncias térmicas

Tendo em mente o valor adotado para as transmitâncias térmicas da cobertura e paredes do

caso base, foram avaliadas as alterações destas em faixas percentuais de -50%, -25%, 25% e 50%.

Para esses casos, não foram mencionados quais os materiais utilizados, apenas os componentes

construtivos desses materiais para as transmitâncias desejadas. A transmitância e a capacidade

térmica das paredes e da cobertura foram obtidas do procedimento de cálculo apresentado na ABNT

(2005). Foram simulados quatro casos alterando as transmitâncias térmicas da cobertura e quatro

casos alterando as transmitâncias térmicas das paredes externas. Para o último pavimento, mais

sensível às alterações climáticas e construtivas, analisou-se a carga de resfriamento, sabendo-se que

cargas maiores de resfriamento implicam consumo maior de energia.

3.3.6. Absortâncias das paredes externas

À análise das absortâncias das paredes externas, realizaram-se simulações de nove casos, com

as cores obtidas do levantamento in loco. Contudo, para a cobertura, adotou-se a absortância

correspondente à cor do material obtida do levantamento de dados para a tipologia predominante.

Para as simulações das alterações, as absortâncias foram adotadas (20%, 40%, 60% e 80%), pois

não foram obtidas as cores das coberturas da amostra de edificações. Também foi realizada uma

análise da carga de resfriamento somente para o pavimento de cobertura.

3.3.7. Orientação solar

Para as simulações dos casos das alterações da orientação solar, foram consideradas as quatro

orientações principais: norte (0º), sul (180º), leste (90º) e oeste (-90º). Foram simulados quatro

casos e os resultados comparados ao obtido do caso base.

4. Resultados

As informações a seguir referem-se aos resultados obtidos dos levantamentos. Inicia-se com a

localização e distribuição dos edifícios na malha urbana central de Florianópolis e prossegue-se

com os resultados dos levantamentos que constituem o modelo representativo da realidade

construtiva local, ou seja, a tipologia predominante. Também são apresentados os resultados obtidos

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das simulações propostas na metodologia, tais como a simulação da tipologia predominante e de

suas alterações.

4.1. Caracterização da tipologia

4.1.1. Distribuição e número de edifícios de escritório

Foram considerados apenas os edifícios de

escritório localizados no centro da cidade de

Florianópolis, por ocorrer maior incidência desses

edifícios nessa região da cidade, relativamente à

distribuição na malha urbana. A Fig. 4 apresenta o

mapa do Brasil, a localização da cidade em estudo e

a distribuição dos 35 edifícios de escritórios

privados, dando destaque ao centro de Florianópolis.

Fig.4: Mapa do Brasil, destacando o município de Florianópolis e indicação da distribuição dos edifícios de escritório no centro da cidade.

A data de ocupação desses edifícios varia entre 1974 e 2003. 4.1.2. Número de pavimentos tipo, forma, proporção e área

Houve variação entre 7 e 17 pavimentos dos edifícios de escritório, porém, nesta análise,

consideraram-se apenas os pavimentos tipo. Dentre esses, ocorre variação entre 5 e 12 pavimentos,

sendo que a maior incidência é de 11 pavimentos, representando 28,6% dos edifícios analisados.

Relativamente à forma das edificações, foram encontradas 22 retangulares, 8 quadradas, 3

triangulares e 2 irregulares. Das edificações, 90% das formas retangulares possuem suas

profundidades iguais ou superiores ao dobro de suas larguras. A primeira ocorrência na análise das

proporções corresponde a 32% das edificações com profundidade igual ao triplo da largura.

Do número de escritórios existentes nos pavimentos tipo, 34,2% dos edifícios possuem até 2

escritórios por pavimento. O pé direito adotado foi de 2,7m, média aritmética dos valores obtidos do

levantamento. A maioria dos edifícios possui área do pavimento tipo igual ou inferior a 500m². A

primeira ocorrência que corresponde ao intervalo de área de 100m² a 300m², representa 57% dos

edifícios analisados. Em seguida, representando 37%, encontra-se o intervalo entre 300,1m² e

500m².

4.1.3. Orientação das fachadas

Para Florianópolis, adotou-se a declinação magnética de 17º30’, resultado obtido do programa

computacional Declinação Magnética 2.0. Dos edifícios analisados, 49% possuem fachadas

principais voltadas às orientações principais (norte, sul, leste ou oeste) e 51% voltadas às

orientações secundárias (nordeste, sudeste, noroeste ou sudoeste). A ocorrência de orientações é

bem distribuída, embora a primeira e a segunda ocorrência se destaquem, apresentando 22% para a

orientação nordeste e 17% para a orientação sul. Para essa análise, foram contabilizadas 141

fachadas, sendo que 23% são fachadas principais, e 77% são fachadas secundárias. O número de

fachadas principais é superior ao número de edifícios devido à existência de edificações localizadas

em esquinas, que possuem mais de uma fachada principal.

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4.1.4. Orientação e área das aberturas

No conjunto dos edifícios analisados, observa-se que, independente da orientação, 67% deles

possuem PJFs maiores nas fachadas principais. Considerando-se as fachadas principais e

secundárias conjuntamente, a maioria das edificações apresenta um PJF entre 10,1% e 20%, e 77%

das fachadas apresentam PJFs igual ou inferior a 50%.

Dentre as 41 fachadas, 66% apresentam PJF igual ou inferior a 50%, sendo que 34% possuem

PJF na faixa entre 30,1 e 40%. Dentre as 99 fachadas secundárias existentes, 80% apresentam o PJF

igual ou inferior a 50%, sendo que 28% encontram-se entre 10,1 e 20%. Observa-se, ainda, que não

existem fachadas com PJFs superiores a 70%.

4.1.5. Elementos de proteção solar

Dos edifícios analisados em Florianópolis, apenas 22,8% da amostra possuem algum tipo de

proteção solar, sendo que a maioria foi utilizada para fins estéticos.

4.1.6. Cores dos edifícios de escritório

Mediante o levantamento in loco, foi possível obter as cores de 32 edifícios. As cores são

variadas, sendo comum a presença de duas cores nas fachadas (41% da amostra). Em 19 casos

verificou-se apenas uma cor, representando 59% da amostragem. A partir da média da absortância

das cores de mesma tonalidade, observou-se que, dentre as 10 existentes, 70% apresentam

absortância superior a 50%.

4.1.7. Detalhes construtivos

Relativamente ao sistema de abertura, dos 14 edifícios de escritório estudados, 13 possuem

janelas do tipo máximo-ar e apenas 1 possui janela de dois tipos: de correr e máximo-ar. Os

sistemas de abertura tipo máximo-ar permitem ventilação, embora não sejam os mais adequados.

Logo, percebe-se que os edifícios de escritório utilizam tanto o ar condicionado como a ventilação

natural, em razão do tipo de abertura encontrado.

De acordo com os estudos feitos sobre o tipo de parede utilizada nos edifícios, verificou-se

que todos os 14 edifícios possuem paredes externas de tijolo cerâmico. Dentre eles, 13 possuem

tijolo cerâmico de 6 furos, dos quais 7 possuem a cerâmica assentada no sentido horizontal e 6 no

sentido vertical. Apenas um edifício possui tijolo cerâmico de 8 furos. A espessura das paredes

analisadas varia de 15cm a 25cm, a transmitância térmica varia de 2,02W/m²K a 2,49W/m²K e a

capacidade térmica de 158kJ/m²K a 200kJ/m²K (ABNT, 2003).

Dos 14 edifícios analisados, 3 possuem vidro fumê float 6mm, 2 apresentam vidros do tipo

comum 4mm e vidro transparente fumê 4mm. O restante dos tipos de vidro encontra-se em apenas

um edifício, tais como: fumê float 4mm, laminado prata 8mm, película colorida 8mm, laminado

marrom 8mm, vidro laminado 8mm, laminado azul 8mm, e vidro refletivo verde. Os vidros foram

agrupados em 6 tipos.

Dentre os 14 edifícios estudados, a telha de fibrocimento foi encontrada em 4 edifícios,

enquanto 8 deles possuíam apenas laje. O sistema de cobertura mais encontrado foi o terraço com

Page 12: INFLUÊNCIA DE PARÂMETROS CONSTRUTIVOS NO CONSUMO DE ... · O método deste trabalho engloba a análise da influência de parâmetros no consumo de energia em edifícios de escritório,

9

laje nervurada preenchida com concreto celular, representando 3 dos 14 edifícios. Em seguida, 2

edifícios possuem lajes treliçadas sob telhados de fibrocimento e 2 possuem lajes nervuradas

preenchidas com tijolo cerâmico. As transmitâncias térmicas das coberturas analisadas variam de

1,93W/m²K a 2,42W/m²K e as capacidades térmicas de 106kJ/m²K a 451kJ/m²K (ABNT, 2003).

4.2. Padrão de ocupação e uso de equipamentos

4.2.1. Atividades profissionais nos edifícios de escritório

A atividade de maior participação percentual foi advocacia, representando 18,6% do total das

atividades. As seis atividades de maior participação dos edifícios, consideradas conjuntamente,

representam 51,4%. A partir do resultado desse levantamento, identificou-se a relevância das

atividades e estabeleceu-se o foco sobre as entrevistas de obtenção do funcionamento dos

escritórios cujas atividades foram mais representativas.

4.2.2. Padrão de ocupação

Neste trabalho, para a tipologia predominante, utilizou-se uma média obtida dos

levantamentos de ocupação. A ocupação média (seis usuários por escritório) foi obtida das médias

de usuários dos escritórios visitados. Com as entrevistas, pôde-se constatar que cada atividade

possui expediente diferenciado, que pode variar no período entre 8h e 20h para os dias úteis. Nos

escritórios visitados, não há expediente nos finais de semana e feriados, e a ocupação é diferenciada

para cada atividade.

O estudo mostrou que 70% dos ocupantes dos escritórios iniciam o expediente às 8h e 75%

finalizam o expediente às 18h. Demonstrou também que o período de intervalo de almoço é muito

variado. A Fig. 05 apresenta a ocupação média obtida. Observa-se ocupação mais intensa no

período das 8h às 12h e das 14h às 18h. Os demais períodos possuem uma ocupação reduzida

devido ao horário de almoço e a horários que comumente não possuem expediente.

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cupação m

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Padrã

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so

médio

ilum

inação (

%)

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3h

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Padrã

o d

e u

so m

édio

equip

am

ento

s (

%)

Fig.5: Ocupação média dos

escritórios visitados. Fig. 6: Padrão de uso médio para

iluminação Fig.7: Padrão de uso médio para

equipamentos.

4.2.3. Padrão de uso dos equipamentos

O padrão de uso de equipamentos provém do levantamento realizado junto à pesquisa de

padrão de ocupação. Foram obtidos os padrões de uso para cada equipamento encontrado nos

escritórios visitados. Os equipamentos mais comuns encontrados foram aparelhos de ar

condicionado, cafeteiras, computadores, fax, lâmpadas, geladeiras, impressoras, ventiladores, filtro

de água e rádio.

Page 13: INFLUÊNCIA DE PARÂMETROS CONSTRUTIVOS NO CONSUMO DE ... · O método deste trabalho engloba a análise da influência de parâmetros no consumo de energia em edifícios de escritório,

10

Para este trabalho, foi obtido um padrão médio de uso de equipamentos para a tipologia

predominante e outros padrões de uso de equipamentos (Figs. 6 e 7). Observa-se na Fig. 7 que há

uso de equipamentos em todo período. Justifica-se tal uso pela presença de equipamentos que não

são desligados, como a geladeira. Para a iluminação do corredor, foi adotado o uso das 8h às 19h.

4.2.4. Monitoramento dos equipamentos

Para o levantamento da densidade de carga interna de iluminação e equipamentos, dois

escritórios de advocacia foram monitorados (80m² cada). Para as densidades de carga de iluminação

e de equipamentos serem adotadas na tipologia predominante, foram obtidas médias das densidades

adquiridas no monitoramento. Desse modo, a densidade média de iluminação obtida foi de 6,4W/m²

e a densidade média de equipamentos obtida foi de 9,7W/m².

4.3. Tipologia predominante

4.3.1. Distribuição dos PJFs na tipologia predominante

Relativamente à distribuição e definição dos PJFs a serem utilizados na tipologia

predominante, adotou-se a freqüência de ocorrências dos PJFs encontrados no levantamento dos

detalhes construtivos da amostra de edificação. Tem-se que 35% das fachadas principais possuem

PJF entre 30,1% e 40%. Quanto às fachadas laterais, 32% encontram-se na faixa entre 10,1% e

20%. Com relação à orientação, adotou-se a fachada principal voltada para aquela que obteve a

maior incidência na análise das orientações das fachadas principais, no caso, a fachada nordeste,

com PJF de 40%. Já para as fachadas secundárias, adotou-se PJF de 20%.

4.3.2 Características da tipologia predominante

Para a modelagem da tipologia predominante, foram analisados todos os resultados

alcançados dos levantamentos. A tipologia predominante simulada possui 8m de largura por 25m de

comprimento, apresentando uma área de pavimento de 200m², que corresponde ao valor de área de

pavimento mais freqüente do estudo de ocorrência. Dessa forma, o edifício manteve uma proporção

aproximada de 1x3 das edificações retangulares analisadas. A média do pé direito obtido foi de

2,7m. Junto ao estudo de freqüência de ocorrência, obteve-se um edifício com 11 pavimentos

(Fig.8). A forma, a proporção, a área do pavimento e a área das zonas foram obtidas do estudo de

freqüência de ocorrência. O modelo possui 3 zonas térmicas, sendo a frontal e a posterior (88m²

cada) condicionadas, e, por fim, a zona denominada circulação (24m²), não condicionada. A Tab. 1

apresenta a descrição da tipologia predominante.

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11

Tab.1: Descrição da tipologia predominante.

Transmitância Térmica (W/m2K)

Paredes 2,47 Cobertura 2,42

Capacidade Térmica [kJ/(m²K)]

Paredes 200 Cobertura 187

Absortância Paredes 0,65

Cobertura 0,70

Vidro Cor cinza

Espessura 6 mm Fator solar 0,83

Ocupação média (m2/pessoa) 14,7

Densidade de carga interna (W/m2)

Iluminação 6,4 Equipamentos 9,7

Caract. do sis. de condicionamento de ar

Tipo Ap. de janela Capacidade de refrigeração (BTU/h) 21.000

Fig. 8: Modelo genérico. COP (Wtérmico/Welétrico) 2,8

O sistema de ar condicionado é formado por um aparelho de ar condicionado em cada

escritório (tipo aparelho de janela), operando durante o horário médio de uso da edificação (8h às

19h), para manter a temperatura interna a 24ºC. Embora as temperaturas sejam amenas no inverno

para o clima analisado, se ocorrerem temperaturas acima de 24ºC nesse período, o sistema é

acionado. Em nenhum caso o sistema de aquecimento é acionado. A taxa de infiltração foi fixada

em uma renovação de ar por hora para o período entre 8h e 19h (0,067m³/s) e 30% dessa taxa para o

período restante.

4.4. Simulações termo-energéticas

4.4.1. Simulação da tipologia predominante: caso base

Na Fig. 9, observa-se o gráfico de consumo em

kWh/m² no decorrer do ano para a tipologia predominante.

O edifício apresenta um consumo anual de energia de

191,8 MWh (87,2 kWh/m²). Claramente, observa-se na

curva da Fig. 25 que o consumo de energia durante o

período de temperaturas mais amenas (junho, julho e

agosto) é reduzido, pois os aparelhos de ar condicionado

não são acionados, nem mesmo para aquecimento, pois no

clima de estudo o inverno não é rigoroso.

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kW

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²)

Fig.9: Consumo de energia da tipologia predominante (caso base).

Os consumos anuais do edifício obtidos da simulação, relacionados à iluminação e aos

equipamentos, é de 40,2MWh e 76,2MWh, respectivamente. O percentual de cada um

relativamente ao total de consumo anual de energia é de 21% para iluminação e de 40% para os

equipamentos.

4.4.2. Variações do fator de projeção das proteções solares

A análise da influência no consumo de energia com relação à variação do fator de projeção foi

feita de forma simplificada, contudo, as respostas dos casos analisados foram bem significativas.

Page 15: INFLUÊNCIA DE PARÂMETROS CONSTRUTIVOS NO CONSUMO DE ... · O método deste trabalho engloba a análise da influência de parâmetros no consumo de energia em edifícios de escritório,

12

A Fig. 10 apresenta o consumo de energia

das variações do fator de projeção comparado

ao consumo do caso base. Nota-se que nos cinco

casos apresentados ocorreu uma redução no

consumo de energia. Entretanto, vale ressaltar

que a maior redução no consumo de energia não

significa, necessariamente, que seja o caso ideal,

pois a proteção pode estar barrando em excesso

a entrada de luz no ambiente.

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e en

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ia (kW

h/m

²)

caso base AVS 45 AVS 25 AVS 65 AHS AHVS Fig.10: Consumo de energia das variações do fator de

projeção.

O brise vertical obteve a menor influência na redução do consumo de energia, ao passo que os

demais casos obtiveram uma redução máxima no consumo de energia de 15,2% para o mês de abril.

A Tab. 2 apresenta o consumo anual de energia com relação ao fator de projeção.

Comparando-se o caso base com o caso que obteve menor consumo anual de energia, nota-se que

houve redução de 10,1 kWh/m².ano (11,6%). Tab.2: Consumo anual de energia com relação ao fator de projeção e variação percentual em relação ao caso base.

Consumo Caso base Brise horizontal Brise

vertical Brise horizontal e

vertical AVS25° AVS45° AVS65° Simulado (kWh/m².ano) 87,2 82,3 79,4 77,1 85,1 77,8

Variação (%) - -5,6 -8,9 -11,6 -2,4 -10,7

Os brises horizontais (ângulo vertical de sombreamento) demonstraram uma relação linear

com o consumo de energia. Ocorreu redução no consumo de energia paralelamente ao aumento do

ângulo vertical de sombreamento.

Observou-se que os casos simulados com proteção solar colaboraram para a redução do

consumo de energia. Contudo, deve-se atentar para a adequação desta ao tipo de clima e,

principalmente, à orientação solar. Para este trabalho, os brises foram considerados iguais para

todas as fachadas. Entretanto, para um melhor desempenho, estes devem ser projetados de acordo

com a orientação solar correspondente a cada fachada.

4.4.3. Variações do entorno

O entorno foi determinado da forma

descrita na metodologia, que foram

apresentados 6 casos. A Fig. 11 apresenta as

curvas de consumo anual do caso base e dos

demais casos simulados. Os casos em que

ocorreram as menores variações do consumo de

energia estão relacionados à obstrução, em

separado, das fachadas NE, SE e SO do caso

base, nas quais não ultrapassam 2% (Tab. 3).

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ia (kW

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²)

caso base obstrução NE obstrução NO

obstrução SE obstrução SO obstrução das fachadas

obstrução total

Fig.11: Consumo de energia das variações de entorno.

Da análise das obstruções adotadas separadamente, a maior variação do consumo de energia

ocorreu ao se obstruir a fachada NO, devido à grande incidência de radiação solar nesta. Embora no

período do inverno (junho, julho e agosto) a altitude solar seja menor, o que ocasiona mais

Page 16: INFLUÊNCIA DE PARÂMETROS CONSTRUTIVOS NO CONSUMO DE ... · O método deste trabalho engloba a análise da influência de parâmetros no consumo de energia em edifícios de escritório,

13

sombreamento em função das obstruções do entorno, o consumo é menor do que nos demais

períodos do ano, pois no inverno o uso do ar condicionado é reduzido.

A Tab. 3 mostra o consumo anual de energia relativamente ao entorno. Nota-se pequena

influência no consumo de energia ao analisar as obstruções do entorno individualmente. No entanto,

ao se obstruir todas as fachadas e até mesmo cercar toda a edificação (obstrução total), observa-se

que ocorre redução no consumo de 5,8% e 12,3%, respectivamente. Embora ocasione redução no

consumo de energia, o entorno também possui seus aspectos negativos, como a obstrução da

iluminação natural, a obstrução da ventilação natural e, até mesmo, a obstrução da vista para o

exterior. Tab. 3: Consumo anual de energia com relação ao entorno e variação percentual em relação ao caso base.

Consumo Caso base Obstrução

NE NO SE SO Fachadas Total Simulado (kWh/m².ano) 87,2 86,5 84,4 85,7 87,0 82,1 76,5

Variação (%) - -0,8 -3,2 -1,7 -0,2 -5,8 -12,3

4.4.4. Variações do fator solar dos vidros

Para a simulação das variações dos fatores solares dos vidros, adotaram-se os vidros que

foram encontrados com maior freqüência. Dessa forma, foram simulados: o vidro claro, com fator

solar igual a 0,87; o vidro refletivo prata, com fator solar igual a 0,61; e o vidro refletivo bronze,

com fator solar igual a 0,22. Os resultados foram comparados ao caso base, simulado com vidro

fumê, fator solar igual a 0,83, e PJF de 40% para a fachada nordeste e 20% para as demais fachadas.

A Fig. 12 apresenta a semelhança no

consumo anual de energia das variações do fator

solar dos vidros, exceto o vidro com fator solar

igual a 0,22, que apresentou a variação mais

significativa do consumo, 4,7% no mês de janeiro.

A Tab. 4 apresenta o consumo anual de

energia com relação ao fator solar.

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ia (kW

h/m

²)

caso base FS 0,22 FS 0.61 FS 0.87

Fig.12: Consumo de energia em função das variações do fator solar dos vidros.

Nota-se que a maior redução do consumo anual de energia foi de 3,5%. Dessume-se que a

pequena variação da influência do consumo pode ser explicada pelo pequeno valor de PJF adotado

no caso base. Observa-se, ademais, que ocorre acréscimo no consumo de energia, conforme se

aumenta o valor do fator solar dos vidros, embora o acréscimo seja pouco significativo.

Aumentando o fator solar em 0,1, aumenta-se o consumo de energia em 0,65%. Tab. 4: Consumo anual de energia com relação ao fator solar e variação percentual em relação ao caso base.

Consumo Caso base

0,83 Fator solar

0,22 0,61 0,87 Simulado (kWh/m².ano) 87,2 84,1 86,7 87,9

Variação (%) - -3,5 -0,6 0,8

4.4.5. Variações do PJF

Para analisar a influência da área de janelas da fachada no consumo de energia, foram

variados os PJFs em faixas de 10%, igualmente para as fachadas, e comparados ao caso base.

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14

A Fig. 13 mostra a variação do consumo

de energia no decorrer do ano com relação aos

PJFs adotados para a análise. Ocorre uma

redução máxima do consumo de 8,5% para PJF

igual a 10% no mês de abril, quando comparada

ao consumo do caso base, e um acréscimo

máximo do consumo de 25,1% para o PJF igual

a 100%, no mês de fevereiro.

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ia (kW

h/m

²)

caso base PJF 10% PJF 20% PJF 30%

PJF 40% PJF 50% PJF 60% PJF 70%

PJF 80% PJF 90% PJF 100% Fig.13: Consumo de energia em função das variações dos

PJFs.

Na Tab. 5, observa-se que houve uma redução no consumo de energia de 6,6% para de PJF

equivalente a 10%. Já para o maior valor de PJF, equivalente a 100%, houve um acréscimo no

consumo de energia de 20,4%. Excluindo o caso base e considerando o consumo de energia do PJF

de 10% a 100%, nota-se um acréscimo no consumo de 23,6kWh/m².ano, equivalente a 29%.

Estabelecendo-se correlação do PJF ao consumo de energia, aumentando-se aquele em 10%, há um

acréscimo do consumo de energia de aproximadamente 2,9%. Tab.5: Consumo anual de energia com relação ao PJF e variação percentual em relação ao caso base.

Consumo Caso Base PJF

10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Simulado

(kWh/m².ano) 87,2 81,4 85,1 88,7 91,9 94,9 97,5 99,7 101,6 103,3 105,0

Variação (%) - -6,6 -2,4 17 5,4 8,8 11,8 14,3 16,5 18,5 20,4

4.5.6. Variações da transmitância térmica

Ao analisar a variação no consumo de energia em função das alterações das transmitâncias térmicas das paredes, observou-se a pequena influência deste parâmetro (Fig. 14).

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ia (kW

h/m

²)

caso base Upar 50% (3,70W/m²K)

Upar 25% (3,09W/m²K) Upar -25% (1,85W/m²K)

Upar -50% (1,24W/m²K)

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Out

No

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o d

e en

erg

ia (kW

h/m

²)

caso base Ucob 50% (3,63W/m²K)

Ucob 25% (3,03W/m²K) Ucob -25% (1,81W/m²K)

Ucob -50% (1,21W/m²K) Fig. 14: Consumo de energia em função das variações da

transmitância térmica das paredes. Fig. 15: Consumo de energia em função das variações da

transmitância térmica da cobertura. A partir da transmitância térmica obtida para o caso base, foram variadas para mais e para

menos em 25% e 50% do valor. A transmitância térmica obtida para o caso base foi de 2,47W/m²K.

Os demais valores de transmitâncias térmicas obtidos para as simulações estão apresentados na Tab.

6. Nestes casos, os valores das capacidades térmicas adotados foram mantidos ao se alterar as

transmitâncias térmicas, certificando-se que a variação do consumo é proveniente apenas da

alteração da transmitância dos componentes.

Tab. 6: Consumo anual de energia com relação à transmitância térmica das paredes e variação percentual em relação ao caso base.

Consumo Caso base

2,47 W/m².K U - parede

3,70 W/m².K 3,09 W/m².K 1,85 W/m².K 1,24 W/m².K Simulado (kWh/m².ano) 87,2 85,1 85,2 87,6 89,7

Variação(%) - -2,4 -2,3 0,5 2,9

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15

Nesse parâmetro, a resposta do consumo de energia com relação às variações das

transmitâncias térmicas das paredes não se comporta como o esperado, tendo em vista que, ao se

aumentar a transmitância térmica, ocorre um acréscimo no consumo de energia. Ao analisar o

balanço térmico dos casos simulados, percebe-se que, ao se aumentar a transmitância térmica,

ocorre perda de calor pelas paredes para o exterior, devido às cargas internas serem elevadas. Com

isso, o calor no ambiente interno é reduzido, o que, consequentemente, implica a redução do

consumo por condicionamento de ar.

A Fig. 15 apresenta as curvas de consumo de energia das variações da transmitância térmica

da cobertura. Nota-se que o consumo do caso base e dos demais casos se assemelha.

A transmitância térmica da cobertura foi obtida da mesma maneira que as transmitâncias

térmicas das paredes. A transmitância térmica da cobertura obtida para o caso base foi de

2,42W/m²K. Os demais valores de transmitâncias térmicas obtidos para as simulações estão

apresentados na Tab.7. Tab. 7: Consumo anual de energia e carga de resfriamento do edifício e do pavimento de cobertura com relação à

transmitância térmica da cobertura e variação percentual em relação ao caso base.

Consumo Caso base 2,42 W/m².K U - cobertura

3,63W/m².K 3,03W/m².K 1,81W/m².K 1,21W/m².K Simulado (kWh/m².ano) 87,2 87,8 87,6 87,1 86,8

Variação (%) - 0,7 0,5 -0,1 -0,5

Carga de resfriamento (kW) Caso base 2,42 W/m².K U - cobertura

3,63W/m².K 3,03W/m².K 1,81W/m².K 1,21W/m².K Edifício simulado 125969 129038 127887 125830 124353

Variação (%) - 2,4 1,5 -0,1 -1,3 Pavimento cobertura 15216 19697 19487 16440 14069

Variação (%) - 29,4 28,1 8,0 -7,5

Comparando-se os casos de menor e maior consumo, obtém-se uma variação de 1,2%.

Observa-se que a redução no consumo de energia é pequena, porém bastante significativa se

comparada proporcionalmente com o comportamento das paredes, visto que a área de cobertura é

menor que a área de paredes. Ao diminuir a transmitância térmica da cobertura em 1W/m²K, ocorre

uma redução no consumo anual de energia na ordem de 0,5%.

Relativamente ao pavimento da cobertura, também foram empregadas as cargas de

resfriamento à análise da transmitância térmica.

A Tab. 7 apresenta os valores de carga de resfriamento do caso base, das variações das

transmitâncias térmicas e, em seguida, os valores de carga de resfriamento do pavimento de

cobertura. Também estão apresentadas as variações de carga de resfriamento com relação à

tipologia predominante e ao pavimento de cobertura. Observa-se que, com relação ao edifício, a

variação máxima de carga de resfriamento foi de 2,4%. Quando é considerado somente o pavimento

de cobertura, ocorre uma variação de carga de resfriamento de 29,4% para uma transmitância

térmica de 3,63W/m²K. Essa análise demonstra que ocorrem pequenas variações de carga com

relação ao edifício. Entretanto, ao se tratar do pavimento que está mais vulnerável às influências da

cobertura, ocorrem variações significativas. Aumentando-se a transmitância térmica, ocorre um

acréscimo na carga de resfriamento.

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4.4.7. Variações da absortância

Nas simulações do edifício que representa a tipologia predominante, foram estabelecidas

paredes com acabamento superficial de cor cinza (absortância média é igual a 65%). Em relação às

variações observadas no consumo de energia (Fig. 16), quando a absortância varia do valor mínimo

obtido (α=0,19) ao máximo (α=0,9), ocorre aumento no consumo de energia de 15,1%.

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²)

caso base amarela azul begebranco laranja marrom pretarosa verde

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Jan

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Mar

Abr

Maio

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Dez

Co

nsum

o d

e en

erg

ia (kW

h/m

²)

caso base absortância 20% absortância 40%

absortância 60% absortância 80% Fig.16: Consumo de energia em função das variações da

absortância das paredes. Fig. 17: Consumo de energia em função das variações da

absortância da cobertura. A Tab. 8 apresenta o consumo anual de energia com relação às absortâncias médias das

paredes externas. Observa-se que a menor variação foi da cor branca, com uma redução do

consumo de energia de 8,4%. A maior variação comparada ao caso base foi da cor preta,

alcançando um acréscimo do consumo de energia de 5,5%. Tab. 8: Consumo anual de energia com relação à absortância média das paredes e variação percentual em relação ao

caso base. Consumo Caso base α=65% Branco α=19,0% Amarelo α=39,0% Bege α=39,2% Rosa α=60,7% Simulado

(kWh/m².year) 87,2 79,9 83,4 83,4 85,1

Variação (%) - -8,4 -4,4 -4,4 -2,4

Consumo Laranja α=61,3% Marrom α=74,4% Azul α=74,5% Verde α=85,8% Preto α=92,6% Simulado

(kWh/m².year) 86,8 88,7 89,2 90,6 92,0

Variação (%) -0,5 1,7 2,3 3,9 5,5

O consumo de energia aumenta em função do aumento da absortância das paredes. A cada

alteração de 10% da absortância, ocorre um aumento de aproximadamente 1,9% no consumo de

energia. A alteração da absortância das paredes é uma alternativa de economia de energia

relativamente simples de ser executada, pois, o mais das vezes, basta alterar a tonalidade da pintura

do acabamento externo do edifício. Além disso, esta medida pode ter seu custo quase nulo se for

implementada no período de execução ou reforma da edificação. Desta forma, a economia

alcançada pode ser bastante significativa.

À análise da influência da absortância na cobertura, adotou-se para o caso base uma

absortância de 70%, caracterizando a cor da telha de fibrocimento escura. Na Fig. 17, pode-se

observar que no mês de novembro ocorreram as maiores variações, chegando à redução do

consumo de 6,4% para absortância igual a 20%.

Como mostra a Tab. 9, houve redução do consumo de energia em todos os casos analisados

com absortâncias inferiores às do caso base. Houve aumento no consumo de energia, relativamente

ao caso base, somente para a hipótese da cobertura com absortância de 80%. Ademais,

correlacionado-se parâmetro com consumo, ao se aumentar a absortância em 10%, aumenta-se o

consumo de energia em 1%.

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Tab. 9: Consumo anual de energia e carga de resfriamento com relação à absortância média da cobertura e variação percentual em relação ao caso base.

Consumo Caso base α=70% α=20% α=40% α=60% α=80% Simulado

(kWh/m².ano) 87,2 82,8 84,6 86,3 88,0

Variação (%) - -5,0 -3,0 -1,0 0,9 Carga de resfriamento

(kW) Caso base α=70% α=20% α=40% α=60% α=80%

Edifício simulado 125969 107660 115210 122429 129479 Variação (%) - -14,5 -8,5 -2,8 2,8

Pavimento cobertura 15216 9083 11502 13962 16485 Variação (%) - -40,3 -24,4 -8,2 8,3

A mesma análise realizada para verificar a influência da transmitância térmica na carga de

resfriamento foi realizada para verificar a influência da absortância considerando-se tão-somente o

pavimento de cobertura. De acordo com dados apresentados na Tab.9, ao se comparar a carga total

dos edifícios, as variações são significativas. No entanto, ao se analisar somente o pavimento de

cobertura, essas variações são maiores, chegando até 40,3% de redução de carga de resfriamento. E

ainda, ao se alterar a absortância em 10%, ocorre uma variação de aproximadamente 14% de carga

de resfriamento no último pavimento.

4.4.8. Variações da orientação

Para analisar a influência da orientação no consumo de energia do edifício, o caso base foi

adotado com suas características fixas: PJF de 40% na fachada principal orientada a nordeste e 20%

para as demais fachadas.

Para os 4 casos simulados, orientou-se a

fachada principal para os principais pontos

cardeais (norte, sul, leste e oeste). Os resultados

de consumo de energia dos casos analisados,

relacionados à orientação, são similares, como

se pode observar na Fig. 18. Vale reforçar que

essa conclusão é válida apenas para o modelo

adotado.

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ia (kW

h/m

²)

caso base norte sul leste oeste

Fig. 181: Consumo de energia em função das variações das orientações.

A única situação que durante todo o ano apresenta o consumo mais elevado que o caso base é

o edifício com a fachada principal voltada para norte. As demais orientações apresentam oscilações

do consumo de energia decorrentes da altitude solar. No verão, quando a fachada principal está

orientada a leste e a oeste, ocorre redução no consumo de energia em comparação ao caso base, cuja

fachada está voltada para nordeste. Isso ocorre devido às diferenças de hora de sol incidentes nessas

fachadas.

A Tab. 10 apresenta o consumo anual de energia com relação à orientação. Observa-se que o

caso que apresentou maior variação de consumo de energia foi o edifício com a fachada principal

orientada a leste, no qual ocorreu uma redução no consumo de 3,1%. Ao comparar os casos que

obtiveram maior e menor consumo, edifícios com as fachadas principais voltadas para norte e leste,

respectivamente, nota-se acréscimo no consumo anual de 3,6kWh/m², apresentando variação no

consumo de 4,3%.

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Tab.10: Consumo anual de energia com relação à orientação e variação percentual em relação ao caso base. Consumo Caso base 45° Norte 0° Sul 180° Leste 90° Oeste -90°

Simulado (kWh/m².ano) 87,2 88,1 87,3 84,5 84,7 Variação (%) - 1,0 0,1 -3,1 -2,9

4.5. Síntese dos resultados

A Tab. 11 apresenta síntese dos resultados obtidos, indicando os principais parâmetros

construtivos que mais influenciam no consumo de energia e na carga de resfriamento para o caso da

análise da transmitância térmica e da absortância da cobertura para o último pavimento. Tab. 11: Variações do consumo de energia e carga de resfriamento com relação aos parâmetros construtivos.

Variação do parâmetro construtivo Variação do consumo de energia Consumo anual de energia (kWh/m².ano) Mínimo Caso base Máximo

10% Percentual de janela na fachada (PJF) 2,9% 81,4 87,2 105,0 10% absortância das paredes 1,9% 79,9 87,2 92,0

10° Ângulo vertical de sombreamento (AVS) 1,8% 77,1 87,2 82,3 10% absortância da cobertura 1,0% 82,8 87,2 88,0

0,1 fator solar 0,6% 84,1 87,2 87,9 10% transmitância térmica das paredes 0,5% 85,1 87,2 89,7 10% transmitância térmica da cobertura 0,1% 86,8 87,2 87,8

Variação do parâmetro construtivo Variação da carga de resfriamento Carga de resfriamento (kW)

Mínimo Caso base Máximo 10% transmitância térmica da cobertura 8% (pavimento de cobertura) 14069 15216 19697

10% absortância da cobertura 14% (pavimento de cobertura) 9083 15216 16485

5. CONCLUSÃO

A proposta metodológica de levantamentos de dados, de definição de um modelo

representativo da realidade construtiva e das simulações termo-energéticas, apresenta-se apropriada

à análise do desempenho energético de edificações.

De acordo com a literatura revista e com os resultados obtidos neste trabalho, verifica-se a

importância da escolha dos materiais e da adequação da edificação ao clima local para o alcance de

melhores níveis de eficiência energética. Esses aspectos influenciam no consumo de energia de

edificação, porquanto devem ser considerados na fase inicial de projeto. Muitas vezes, estudos e

medidas simples implicam redução significativa do consumo de energia.

Em decorrência do trabalho apresentado, demonstraram-se os parâmetros que mais

influenciaram no consumo de energia. Dentre esses, os que mais se destacaram foram o percentual

de área de janela na fachada, a absortância das paredes externas e a presença de proteção solar nas

aberturas. Ressalta-se que as análises foram realizadas especificamente para uma tipologia

predominante, localizada na cidade de Florianópolis, em cuja definição se buscou a maior

aproximação possível com a realidade construtiva local. O estudo auxilia, destarte, na obtenção de

meios de adequar esse tipo de edificação ao clima e na garantia de melhores níveis de eficiência

energética.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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