influência da qualidade da matéria-prima no processo de ... · por ele não ter atendido a todas...

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Influência da Qualidade da Matéria-Prima no Processo de Produção de Biodiesel da Enerfuel Carolina Nunes Pinto Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Química Orientadoras: Prof. Drª. Maria Joana Castelo Branco de Assis Teixeira Neiva Correia Engenheira Sandrina da Silva Amaral Júri Presidente: Professora Doutora Benilde de Jesus Vieira Saramago Orientadora: Engenheira Sandrina da Silva Amaral Vogal: Professora Doutora Maria Cristina de Carvalho Silva Fernandes Novembro, 2016

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Influência da Qualidade da Matéria-Prima no Processo de

Produção de Biodiesel da Enerfuel

Carolina Nunes Pinto

Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em

Engenharia Química

Orientadoras: Prof. Drª. Maria Joana Castelo Branco de Assis Teixeira Neiva Correia

Engenheira Sandrina da Silva Amaral

Júri

Presidente: Professora Doutora Benilde de Jesus Vieira Saramago

Orientadora: Engenheira Sandrina da Silva Amaral

Vogal: Professora Doutora Maria Cristina de Carvalho Silva Fernandes

Novembro, 2016

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Agradecimentos

"Antes de Desejar o topo é necessário "Agradecer" pela base"

Nesta etapa final, não queria deixar de agradecer a todos quantos foram importantes ao longo

do meu percurso para obtenção do grau de Mestre em Engenharia Química:

À Professora Maria Joana Neiva Correia, minha orientadora, por todo o apoio e

tempo despendido em prol do meu sucesso.

À Galp Energia, em particular à Enerfuel, na pessoa do Engenheiro Ricardo Neves (Diretor da

Unidade Industrial) e da Engenheira Sandrina Amaral (Orientadora), pela disponibilidade e

conhecimento partilhado.

À ENMC, na pessoa da Dr.ª Maria do Céu Sàágua (Coordenadora da Unidade de

Biocombustíveis) por todo o apoio e disponibilidade que sempre demonstrou.

Aos meus pais e irmão, por serem o pilar de sustentabilidade de todo o caminho por mim

percorrido.

Ao meu namorado Miguel e seus familiares, que muitas vezes me deram força para seguir em

frente.

Aos meus familiares e amigos, todos sem exceção, pelo incentivo durante o meu percurso

académico.

A Deus por me dar a vida e um sentido de orientação positivo: "Não fiques zangado com Deus

por ele não ter atendido a todas as tuas vontades, Agradece a Deus por te ter socorrido naquilo que

precisavas".

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Resumo

A produção e utilização em larga escala de biodiesel tem como entrave o seu custo elevado que

depende do custo das matérias-primas e da tecnologia de produção. A utilização de matérias-primas

de baixo custo é por isso muito importante.

Esta dissertação estudou o impacto da qualidade deste tipo de matérias-primas na capacidade

de produção e propriedades do biodiesel produzido pela Enerfuel. Este processo envolve um pré-

tratamento por esterificação ácida, transesterificação básica seguida de destilação do biodiesel.

Verificou-se ser possível reproduzir no laboratório os resultados obtidos no processo industrial.

De facto, o teor em FAME do biodiesel não destilado produzido em laboratório variou entre 90,9%-

93,9%, valores comparáveis aos 88,9%-92,7% analisados para duas amostras de biodiesel não

destilado da Enerfuel.

Efetuou-se a análise aos dez lotes de produção e elaborou-se um ficheiro em Excel para efetuar

o balanço de massa aos tanques de todas as matérias-primas e estimar as propriedades médias dos

blendings de matérias-primas utilizados em cada lote de fabrico. Esta análise permitiu verificar que os

polímeros tipo-polietileno são o parâmetro mais problemático e os rendimentos de produção mais

baixos corresponderam valores desta propriedade acima da especificação.

A Análise de Componentes Principais permitiu identificar a correlação entre as propriedades das

matérias-primas e destas com o rendimento de produção e propriedades do biodiesel. Verificou-se a

correlação inversa dos polímeros tipo-polietileno com o rendimento de produção, a correlação direta do

teor em enxofre das matérias-primas e do biodiesel ou entre as substâncias insolúveis das matérias-

primas e a contaminação total do biodiesel.

Palavras-Chave: gorduras animais, óleos alimentares usados, propriedades, biodiesel

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Abstract

The large-scale production and use of biodiesel is hampered by its high cost, which

depends on the cost of raw materials and production technology. The use of low cost raw

materials is therefore very important.

This dissertation studied the impact of the quality of this type of raw materials on the

production capacity and properties of the biodiesel produced by Enerfuel. This process involves

an acid esterification, basic transesterification and distillation of biodiesel.

It was possible to reproduce in the laboratory the results obtained in the industrial

process. In fact, the FAME content of non-distilled biodiesel produced in the laboratory ranged

from 90.9%-93.9%, values comparable to the 88.9%-92.7% analyzed for two samples of non-

distilled biodiesel from Enerfuel.

The ten production lots were analyzed and an Excel file was prepared to mass-balance

the tanks of all raw materials and to estimate the average properties of the blendings of raw

materials used in each manufacturing batch. This analysis showed that polyethylene-type

polymers are the most problematic parameter and the lowest yields of the properties

corresponded to values above this specification.

The Principal Component Analysis allowed the identification of the correlation between

the properties of the raw materials and of these with the production yield and biodiesel

properties. The inverse correlation of the polyethylene-type polymers with the yield of

production, the direct correlation of the sulfur content of the raw materials and the biodiesel or

between the insoluble substances of the raw materials and the total contamination of the

biodiesel were verified.

Keywords: animal fats, used cooking oils, properties, biodiesel

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Índice

1. Introdução ............................................................................................................................................ 1

2. Biocombustíveis .................................................................................................................................. 3

2.1. Legislação Europeia e Nacional ................................................................................................... 3

2.2. Gerações de Biocombustíveis ...................................................................................................... 4

2.2.1. Biocombustíveis de Primeira Geração .................................................................................. 5

2.2.2. Biocombustíveis de Segunda Geração ................................................................................. 6

2.2.3. Biocombustíveis de Terceira Geração .................................................................................. 8

2.2.4. Biocombustíveis de Quarta Geração .................................................................................... 9

3. Biodiesel ............................................................................................................................................ 11

3.1. Introdução ................................................................................................................................... 11

3.2. Matérias-Primas para a Produção de Biodiesel ......................................................................... 12

3.2.1. Óleos Vegetais .................................................................................................................... 13

3.2.2. Gorduras Animais ................................................................................................................ 14

3.2.3. Óleos Alimentares Usados .................................................................................................. 16

3.2.4. Matérias-Primas Consumidas em Portugal ......................................................................... 17

3.3. Transesterificação ...................................................................................................................... 19

3.3.1. Transesterificação Catalítica ............................................................................................... 20

3.3.1.1. Transesterificação Catalítica Homogénea e Heterogénea .......................................... 20

3.3.1.1.1. Transesterificação Catalítica Básica ..................................................................... 21

3.3.1.1.2. Transesterificação Catalítica Ácida ....................................................................... 23

3.3.1.1.3. Transesterificação Catalítica Básica com Pré-Tratamento Ácido ......................... 23

3.3.1.2. Transesterificação Catalítica Enzimática ..................................................................... 25

3.3.2. Transesterificação Não-Catalítica ....................................................................................... 25

3.3.2.1. Transesterificação Alcoólica Supercrítica .................................................................... 25

3.4. Parâmetros do Biodiesel ............................................................................................................ 26

3.5. Análise do Mercado de Biodiesel ............................................................................................... 30

4. Enerfuel ............................................................................................................................................. 37

4.1. Processo de Produção de Biodiesel da Enerfuel ....................................................................... 37

5. Resultados Experimentais ................................................................................................................. 39

5.1. Simulação Laboratorial do Processo de Produção de Biodiesel da Enerfuel ............................ 39

5.1.1. Caracterização da Matéria-Prima ........................................................................................ 39

5.1.2. Esterificação dos Ácidos Gordos Livres .............................................................................. 39

5.1.3. Transesterificação dos Triglicéridos .................................................................................... 41

5.1.4. Secagem de Amostras no Evaporador Rotativo ................................................................. 42

5.1.5. Resultados Laboratoriais ..................................................................................................... 42

5.2. Efeito da Qualidade das Matérias-Primas na Capacidade de Produção e na Qualidade do

Biodiesel ............................................................................................................................................ 44

5.2.1. Características das Matérias-Primas recebidas pela Enerfuel ........................................... 44

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5.2.2. Características das Matérias-Primas Utilizadas em cada Lote de Biodiesel Produzido na

Enerfuel ......................................................................................................................................... 47

5.2.3. Qualidade do Biodiesel Produzido na Enerfuel ................................................................... 49

5.3. Análise de Componentes Principais da Influência da Composição das Matérias-Primas na

Capacidade de Produção .................................................................................................................. 49

5.3.1. Modelo que Relaciona as Propriedades das Matérias-Primas e o Rendimento de Produção

....................................................................................................................................................... 51

5.3.2. Modelo que Relaciona as Propriedades das Matérias-Primas e do Biodiesel ................... 54

5.3.2.1. Modelo PCA com Todas as Propriedades das Matérias-Primas e do Biodiesel

Disponíveis ................................................................................................................................ 54

5.3.2.2. Modelo PCA com as Propriedades Selecionadas ....................................................... 57

6. Conclusões ........................................................................................................................................ 61

Bibliografia ............................................................................................................................................. 63

Anexos ................................................................................................................................................... 67

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Índice de Tabelas

Tabela 1 - Biocombustíveis de Primeira Geração, adaptado de [12], [13] ............................................. 6

Tabela 2 - Biocombustíveis de Segunda Geração, adaptado de [12] .................................................... 7

Tabela 3 - Vantagens e Desvantagens das Tecnologias que Permitem a utilização de Óleos Vegetais

(comestíveis ou não), Algas, Gorduras Animais e Óleos Alimentares Usados para Produzir um

Biocombustível, adaptado de [2] ........................................................................................................... 11

Tabela 4 - Composição dos Ácidos Gordos de Diversos Óleos Vegetais, Cx:y (x - número de átomos

de carbono, y - número de ligações duplas), adaptado de [17], [20] .................................................... 13

Tabela 5 - Composição dos Ácidos Gordos de Diversas Gorduras Animais, Cx:y (x - número de átomos

de carbono, y - número de ligações duplas), adaptado de [17] ............................................................ 15

Tabela 6 - Fatores que influenciam a Catálise Homogénea e Heterogénea, adaptada de [2], [4], [17]

............................................................................................................................................................... 21

Tabela 7 - Norma EN 14214:2012+A1:2014/AC, Propriedades para Análise e respetiva Unidade,

Valores Limite e Método de Ensaio Associado, extraído de [32] .......................................................... 27

Tabela 8 - Operadores Económicos com Expressão no Mercado Português, adaptada de [43] ........ 32

Tabela 9 - Capacidade de Produção Instalada de cada Produtor em Regime Geral, por Tipo de

Biocombustível ...................................................................................................................................... 33

Tabela 10 - Preços Comerciais do FAME, relativos ao Ano de 2016 [45] ........................................... 35

Tabela 11 - Resultados da Análise da SGS (Société Générale de Surveillance) e Especificações

exigidas pela BDI para as Gorduras Animais de Categoria 3, extraído de [49]Erro! Marcador não

definido.

Tabela 12 - Condições Operatórias estabelecidas para a Etapa de Esterificação .............................. 39

Tabela 13 - Condições Operatórias estabelecidas para a Etapa de Transesterificação ..................... 41

Tabela 14 - Resultados Laboratoriais dos Ensaios realizados no Laboratório do IST ......................... 43

Tabela 15 - Resultados Laboratoriais dos Ensaios realizados no Laboratório do IST ......................... 43

Tabela 16 - Especificações exigidas pela BDI para as Gorduras Animais, Categorias 1 e 3 .............. 46

Tabela 17 - Especificações exigidas pela BDI para os Óleos Alimentares Usados ............................. 46

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Índice de Figuras

Figura 1 - Classificação dos Biocombustíveis, extraída de [3] ............................................................... 4

Figura 2 - Esquema das diversas Técnicas de Produção de Biocombustíveis, extraída de [4] ............ 5

Figura 3 - Processos de Conversão da Biomassa, extraída de [11] ...................................................... 7

Figura 4 - Produção de Biocombustíveis de Primeira e Segunda Geração, respetivamente, a partir da

Biomassa Alimentar e Não Alimentar, extraída de [11] .......................................................................... 8

Figura 5 - Ciclo de Reciclagem de Carbono para a Produção de Metanol Líquido Renovável, extraída

de [10] ...................................................................................................................................................... 9

Figura 6 - Representação de um Triglicérido, em que n1≠ n2≠ n3 ........................................................ 12

Figura 7 - Processo de Extração e Refinação de Óleos Vegetais, adaptado de [2] ............................ 13

Figura 8 - Coloração de Gorduras Animais recebidas na Enerfuel (Esquerda: Categoria 1; Direita:

Categoria 3), extraída de [23] ................................................................................................................ 15

Figura 9 - Matéria-Prima Utilizada para a Produção de Biocombustíveis pelos Produtores Nacionais

(Linha Contínua: Nacional; Linha Descontínua: Importada), (Fonte: ENMC) ...................................... 18

Figura 10 - Processo de Transesterificação com Metanol, adaptado de [37] ...................................... 19

Figura 11 - Mecanismo de Transesterificação Catalítica Básica, extraída de [2] ................................ 22

Figura 12 - Mecanismo de Transesterificação Catalítica Ácida, extraída de [29] ................................ 23

Figura 13 - Transesterificação Catalítica Básica com Pré-Tratamento Ácido para a Produção de

Biodiesel, extraída de [11] ..................................................................................................................... 24

Figura 14 - Mecanismo de Transesterificação Metanólica Supercrítica (onde R’ é um grupo triglicerídeo

e R1 é uma cadeia de ácidos gordos), extraída de [30] ........................................................................ 26

Figura 15 - Representação Gráfica da Produção e Consumo de Biodiesel na União Europeia, (legenda:

e – estimativa; p – previsão) Fonte: Global Agricultural Information Network (GAIN) [38] ................... 31

Figura 16 - Representação Gráfica da Produção e Consumo de Biodiesel em Portugal, Fonte: DGEG

[44] ......................................................................................................................................................... 34

Figura 17 - Representação Gráfica da Produção, Incorporação e Venda Direta no Mercado de

Biodiesel, Fonte: DGEG [44] ................................................................................................................. 35

Figura 18 - Montagem Experimental dos Ensaios Laboratoriais de Esterificação e Transesterificação

[23] ......................................................................................................................................................... 40

Figura 19 - Produto da Esterificação (Esquerda: 1.º Ensaio Laboratorial e Direita: 2.º Ensaio

Laboratorial) .......................................................................................................................................... 40

Figura 20 - Produto da Transesterificação (Esquerda: 1.º Ensaio Laboratorial e Direita: 2.º Ensaio

Laboratorial) .......................................................................................................................................... 42

Figura 21 - A) Espectrofotómetro NIR BOMEM e sonda de fibra ótica acoplada; B) Pormenor do orifício

da sonda onde passa o feixe de luz; C) Pormenor da imersão da sonda numa amostra .................... 43

Figura 22 - Percentagem de Matéria-Prima Utilizada e Variação Percentual da Produção face à

Matéria-Prima utilizada no Processo, em cada Lote de Armazenamento de Biodiesel ....................... 45

Figura 23 - Representação da Decomposição da Matriz de Dados Original por PCA [51] ................. 50

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Figura 24 - Modelo de PCA construído com as Propriedades das Matérias-Primas e o Rendimento de

Produção ............................................................................................................................................... 52

Figura 25 - Modelo de PCA construído com as Propriedades das Matérias-Primas e o Rendimento de

Produção (Lado Esquerdo: gráfico de scores do PC2 vs PC1; Lado Direito: gráfico de loadings do PC2

vs PC1) .................................................................................................................................................. 52

Figura 26 - Representação sobreposta dos scores (bolas a preto) e dos loadings (triângulos vermelhos)

do PC2 vs PC1 (biplot) para o Modelo de PCA construído com as Propriedades das Matérias-Primas e

o Rendimento de Produção ................................................................................................................... 54

Figura 27 - Modelo de PCA construído com Todas as Propriedades das Matérias-Primas e do Biodiesel

Disponíveis ............................................................................................................................................ 55

Figura 28 - Modelo de PCA com Todas as Propriedades das Matérias-Primas e do Biodiesel

Disponíveis (Lado Esquerdo: gráfico de scores do PC2 vs PC1; Lado Direito: gráfico de loadings do

PC2 vs PC1) .......................................................................................................................................... 55

Figura 29 - Representação sobreposta dos scores (bolas a preto) e dos loadings (triângulos vermelhos)

do PC2 vs PC1 (biplot) para o Modelo de PCA construído com Todas as Propriedades das Matérias-

Primas e do Biodiesel Disponíveis ........................................................................................................ 56

Figura 30 - Representação sobreposta dos scores (bolas a preto) e dos loadings (triângulos vermelhos)

do PC2 vs PC1 (biplot) para o Modelo de PCA construído com as Propriedades das Matérias-Primas e

do Biodiesel Selecionadas incluindo o cloud point ............................................................................... 58

Figura 31 - Representação sobreposta dos scores (bolas a preto) e dos loadings (triângulos vermelhos)

do PC2 vs PC1 (biplot) para o Modelo de PCA construído com as Propriedades das Matérias-Primas e

do Biodiesel Selecionadas excluindo o cloud point .............................................................................. 59

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Lista de Abreviaturas

BDI BioDiesel International

BTL Biomass-to-Liquids

CEN Comité Européen de Normalisation

CFPP Cold Filter Plugging Point (Temperatura Limite de Filtrabilidade)

C1 Categoria 1

C3 Categoria 3

DGEG Direção Geral de Energia e Geologia

DME Dimetylether

ECS Entidade Coordenadora do Cumprimento dos Critérios de Sustentabilidade

EIA U.S. Energy Information Administration

ENMC Entidade Nacional para o Mercado de Combustíveis

ETBE Ethyl Tertiary Butyl Ether

ETSA Empresa Transformadora de Subprodutos Animais, SA

EUA Estados Unidos da América

FAAE Fatty Acid Alkyl Ester

FFA Free Fatty Acids (Ácidos Gordos Livres)

FQD Fuel Quality Directive (Diretiva da Qualidade dos Combustíveis)

GAIN Global Agricultural Information Network

GEE Gases com Efeito de Estufa

HVO Hydrotreated Vegetable Oil

ISP Imposto sobre os Produtos Petrolíferos e Energéticos

ISO International Organization for Standardization

IST Instituto Superior Técnico

NIR Near Infrared Spectroscopy

PC Principal Component (Componente Principal)

PCA Principal Component Analysis (Análise de Componentes Principais)

P&I Piping & Instrumentation

PPD Pequenos Produtores Dedicados

PRG Produtores de Regime Geral

RED Renewable Energy Directive (Diretiva das Energias Renováveis)

RMSECV Root Mean Square Error of Cross Validation

SGS Société Générale de Surveillance

TdB Títulos de Biocombustíveis

Ton Tonelada

UCO Used Cooking Oil (Óleos Alimentares Usados)

UE União Europeia

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1. Introdução

O contínuo desenvolvimento da sociedade num planeta em constante transformação requer,

cada vez mais, uma gestão eficiente dos recursos energéticos.

Para melhorar a sua qualidade de vida, o Homem tem consumido de forma excessiva, nas

últimas décadas, os recursos fósseis existentes. As previsões de consumo energético mundial

associadas à diminuição da quantidade de combustíveis fósseis existentes nos reservatórios

explorados e consequente aumento do preço de mercado conduziram, no final do século XX, à

necessidade da procura de combustíveis renováveis que satisfizessem o consumo humano e a

sustentabilidade do planeta (diminuição das emissões de gases nocivos para a atmosfera).

Após investigação em artigos científicos publicados é possível inferir que existe interesse em

otimizar o rendimento dos processos de produção dos diversos tipos de biocombustíveis, utilizados no

setor dos transportes (bioetanol, biodiesel e, em menor quantidade, biometano), e biolíquidos, utilizados

no aquecimento, arrefecimento e eletricidade, através da introdução de novas matérias-primas e do

contínuo aperfeiçoamento e desenvolvimento das tecnologias de produção [1].

A localização e capacidade instalada da unidade industrial, a tecnologia de produção utilizada e

o preço dos produtos secundários que advém do processo são fatores a ter em conta aquando da

produção de biodiesel. Porém o principal entrave à comercialização de biodiesel face ao diesel

convencional deve-se, principalmente, ao custo das matérias-primas utilizadas que representa cerca

de 70-95% do custo final deste biocombustível [2]. Para além do preço de mercado das matérias-primas

é necessário ter em conta a sua qualidade, uma vez que esta afeta diretamente a qualidade e o preço

do biodiesel comercializado.

O objetivo desta dissertação de mestrado centrou-se no estudo do impacto da qualidade das

matérias-primas utilizadas no processo da Enerfuel na qualidade do biodiesel produzido nesta unidade

industrial. As matérias-primas utilizadas no processo da Enerfuel são os óleos alimentares usados e as

gorduras de origem animal.

De entre os biocombustíveis existentes, o biodiesel tem particular destaque nesta dissertação de

mestrado uma vez que é o produto principal do processo industrial da Enerfuel e o único biocombustível

com expressão no mercado Português. Por conseguinte aborda-se em seguida a definição de biodiesel,

caracterizam-se as matérias-primas utilizadas no processo e apresentam-se as diversas tecnologias

de produção deste combustível, onde se detalham os diferentes mecanismos da reação de

transesterificação. Posteriormente observa-se com mais pormenor o processo de produção da

Enerfuel, através da análise detalhada de dez lotes de produção. Assim, depois de se ter efetuado um

balanço de massa aos tanques de todas as matérias-primas, tendo em conta as descargas efetuadas

pelos diferentes fornecedores, identificaram-se as misturas utilizadas nos diferentes lotes e

caracterizaram-se todos os parâmetros analisados nas matérias-primas compostas utilizadas em cada

batch. Com estes dados foi possível verificar, tal como pretendido, o efeito da variação das

propriedades das matérias-primas na qualidade do biodiesel produzido. Estes dados foram utilizados

para realizar uma Análise de Componentes Principais para identificar, mais claramente, a relação entre

a qualidade das matérias-primas e a qualidade do biodiesel produzido.

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2. Biocombustíveis

Os biocombustíveis são alternativas sustentáveis aos combustíveis derivados do petróleo uma

vez que são renováveis, biodegradáveis e permitem a redução das emissões de gases com efeito de

estufa (GEE) para a atmosfera. Estes combustíveis fomentam a nível mundial a proteção ambiental, o

desenvolvimento económico e a segurança energética devido à distribuição geográfica das suas fontes

de energia face à localização dos combustíveis fósseis. Porém têm como desafios as matérias-primas

e tecnologias utilizadas na produção [3], [4].

2.1. Legislação Europeia e Nacional

Existem normas políticas da União Europeia (UE) que diligenciam a produção sustentável dos

biocombustíveis para que estes aumentem a sua quota de mercado, assumindo-se como uma

alternativa fiável e rentável face ao diesel convencional.

Os biocombustíveis importados e produzidos em Portugal devem estar de acordo com as

diretivas da União Europeia, das quais se destaca a Renewable Energy Directive (RED) 2015/1513 e

a Fuel Quality Directive (FQD) 2009/30/CE, e as Leis Nacionais, destacando-se o Decreto-Lei

n.º117/2010 [5]–[7]. Para que os objetivos de sustentabilidade das diretivas sejam cumpridos, os

Estados-Membros dispõem de incentivos económicos e da possibilidade de cooperação em projetos

entre países que pertençam, ou não, à União Europeia [1].

A RED impõe como critério de sustentabilidade que, até ao ano de 2020, a União Europeia deve

garantir que pelo menos 20% do seu consumo final bruto de energia seja proveniente de fontes de

energia renováveis. Os Estados-Membros que integram a União Europeia devem garantir que, até ao

ano de 2020, o seu consumo interno de energia no setor dos transportes seja, no mínimo, 10%

proveniente de fontes de energia renováveis [5], [8].

A FQD define o aumento de incorporação de biodiesel no diesel, superior a 7% (v/v), e de

bioetanol na gasolina, 10% (v/v), e estabelece que os refinadores reduzam em 10% as emissões de

GEE, até ao ano de 2020. Esta redução percentual progressiva traduz o somatório de três parcelas:

6% através da utilização de biocombustíveis e aumento da eficiência dos processos de produção (de

notar que devem ser cumpridas as metas indicativas de 2% e 4% para os anos de 2014 e 2017,

respetivamente), 2% através da utilização de veículos elétricos e tecnologias recentemente

desenvolvidas (por exemplo, a captura e o armazenamento geofísico de carbono) e 2% através da

transação de créditos de emissão adquiridos pelo Mecanismo de Desenvolvimento Limpo do Protocolo

de Quioto [6], [9].

O Decreto-Lei n.º117/2010 fixa critérios de sustentabilidade mais restritivos que a RED e a FQD.

Segundo este documento são exigidas boas práticas agrícolas e ambientais e as matérias-primas

utilizadas para a produção de biocombustíveis não devem ter origem em terrenos que apresentem

elevada biodiversidade e solos com elevado teor de carbono. No que respeita à qualidade dos

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combustíveis, é estabelecida uma redução gradual das emissões de GEE de 35%, 50% e 60%,

respetivamente, para os anos de 2016, 2017 e 2018 [1], [7].

2.2. Gerações de Biocombustíveis

Os biocombustíveis podem ser classificados como primários e secundários, isto é, os primários

são utilizados de forma não processada para a produção de calor e eletricidade (lenha, pellets, etc) e

os secundários são processados para serem utilizados como combustível industrial e de transporte

(biodiesel, bioetanol, etc) [4]. É possível estratificar ainda os biocombustíveis segundo o estado físico

na natureza (sólido, líquido ou gasoso), a matéria-prima (animal, vegetal ou biomassa), a técnica de

produção (térmica, biológica, química ou física) e a geração (primeira, segunda, terceira ou quarta) [3].

A Figura 1 e Figura 2 esquematiza, respetivamente, a classificação dos biocombustíveis e as

diversas técnicas da sua produção.

Figura 1 - Classificação dos Biocombustíveis, extraída de [3]

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Figura 2 - Esquema das diversas Técnicas de Produção de Biocombustíveis, extraída de [4]

A classificação das gerações de biocombustíveis de acordo com as matérias-primas e

tecnologias de produção não é consensual entre os investigadores da área dos biocombustíveis. Desta

forma, a classificação que se apresenta nas secções seguintes das quatro gerações de biocombustíveis

está de acordo com os autores das publicações com as referências [2]–[4], [10]–[12].

2.2.1. Biocombustíveis de Primeira Geração

Os Biocombustíveis de Primeira Geração são produzidos a partir de óleos vegetais (soja, palma,

girassol, colza, coco, azeite, entre outros) e culturas comestíveis (milho, trigo, cevada, entre outros) e

tecnologia bem conhecida [10], [13]. A expansão destas culturas para a produção de biocombustíveis

pode concorrer com a produção alimentar uma vez que ambas competem por terrenos e mão-de-obra

[11]. Tendo em conta a Lei da Oferta e da Procura é ainda de salientar que a nível económico, o

crescimento da produção de biocombustíveis de primeira geração conduz a um encarecimento dos

produtos alimentares [2], [3], [11]. A primeira geração de biocombustíveis inclui os óleos vegetais puros,

o bioetanol, o bioETBE (bio Ethyl Tertiary Butyl Ether), o biodiesel e o biogás que podem ser

adicionados sem restrições aos combustíveis produzidos a partir do petróleo [11], [12]. Estes

biocombustíveis estão referenciados na Tabela 1 assim como a matéria-prima e o processo de

produção associados.

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6

Tabela 1 - Biocombustíveis de Primeira Geração, adaptado de [12], [13]

Tipo de

Biocombustível Matéria-Prima (Biomassa) Processo de Produção

Óleo Vegetal Puro Óleos Vegetais Pressão/Extração a Frio

Bioetanol Beterraba Sacarina (UE), Milho

(EUA) e Cana-de-Açúcar (Brasil)

Hidrólise1, Fermentação,

Destilação e Desidratação

BioETBE Bioetanol Síntese Química

Biodiesel

Óleos Vegetais Virgens, Óleos

Alimentares Usados e Gordura

Animal

Pressão/Extração a Frio

e Transesterificação

HVO (Hydrotreated

Vegetable Oil)

Óleos Vegetais, Óleos Alimentares

Usados e Gordura Animal Hidrotratamento e Isomerização

Biogás Matéria Orgânica Húmida Digestão Anaeróbia, Fermentação

2.2.2. Biocombustíveis de Segunda Geração

Os Biocombustíveis de Segunda Geração são produzidos a partir de matérias-primas não

comestíveis (gordura animal, óleo alimentar usado, biomassa lenho-celulósica e resíduos agrícolas,

florestais e industriais) [3], [10]. Estas matérias-primas, ao contrário das utilizadas nos biocombustíveis

de primeira geração, têm um rendimento de produção mais elevado quando cultivadas em terrenos

pouco aráveis, inadequados para a agricultura, não competindo desta forma com as culturas

comestíveis [2].

Face ao processo de produção de biocombustíveis de primeira geração, esta segunda geração

necessita de um processo de pré-tratamento que pode ser classificado como termoquímico biológico,

químico ou físico, tal como se pode verificar no diagrama de blocos apresentado na Figura 3.

1 Ocorre o processo de hidrólise se a matéria-prima se encontrar na forma de grão

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7

Figura 3 - Processos de Conversão da Biomassa, extraída de [11]

Esta geração de biocombustíveis inclui o bioetanol, o biodiesel, o biogás, o biohidrogénio e os

biocombustíveis sintéticos [bio-DME (bio-Dimetylether), o biometanol, Biomass-to-Liquids (BTL) e o

gasóleo/gasolina Fischer-Tropsch]. Estes biocombustíveis reduzem os poluentes da combustão, isto é,

a emissão de monóxido de carbono, hidrocarbonetos e partículas de carbono não queimado [10], [12].

Na Tabela 2 apresenta-se o tipo de biocombustível, a matéria-prima e o processo de produção dos

biocombustíveis de segunda geração.

Tabela 2 - Biocombustíveis de Segunda Geração, adaptado de [12]

Tipo de

Biocombustível Matéria-Prima (Biomassa) Processo de Produção

Bioetanol Lenho-celulósica Hidrólise Avançada e Fermentação

Biodiesel Óleos Vegetais, Óleos Alimentares

Usados e Gordura Animal

Hidrotratamento, Isomerização e

Transesterificação

Biohidrogénio Lenho-celulósica Gaseificação e Processos

Sintéticos ou Biológicos

Biocombustíveis

Sintéticos Lenho-celulósica

Gaseificação e Processos

Sintéticos ou Biológicos

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Em suma, a produção de biocombustíveis de primeira e segunda geração, respetivamente, a

partir da biomassa alimentar e não alimentar encontra-se exemplificada no diagrama de blocos

apresentado na Figura 4.

Figura 4 - Produção de Biocombustíveis de Primeira e Segunda Geração, respetivamente, a partir da Biomassa Alimentar e

Não Alimentar, extraída de [11]

2.2.3. Biocombustíveis de Terceira Geração

Os Biocombustíveis de Terceira Geração são produzidos a partir de algas, ou seja, organismos

eucarióticos aquáticos fotossintéticos que podem produzir num curto espaço de tempo grandes

quantidades de lípidos, proteínas e hidratos de carbono [3], [4], [10]. Estas matérias-primas têm enorme

potencial dada a sua disponibilidade e qualidade no meio sem que haja competição com a agricultura,

baixos custos de produção, elevada taxa de crescimento e renovação e eficiente captura do dióxido de

carbono utilizado para o crescimento das mesmas [3], [10].

A principal propriedade para a produção de biocombustíveis de terceira geração é o teor de

lípidos das matérias-primas [10]. Em condições de deficiência de azoto, o conteúdo lipídico da matéria-

prima aumento e os ácidos gordos livres (FFA) dão origem aos triglicéridos [4].

Os lípidos podem ser submetidos aos processos de transesterificação para a produção de Fatty

Acid Alkyl Ester (FAAE) e hidrogenação para produzir jet fuel com grau alcano adequado para ser

adicionado aos combustíveis de aviação [10].

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2.2.4. Biocombustíveis de Quarta Geração

Os Biocombustíveis de Quarta Geração são produzidos através de água, energia térmica e

captura de carbono atmosférico por processos de tecnologias avançadas utilizadas, por exemplo, no

hidroprocessamento de petróleo, geosíntese ou processos eletroquímicos [10].

Nos biocombustíveis de segunda e terceira geração a matéria-prima (biomassa) capta o dióxido

de carbono aquando do crescimento e produção de combustível, enquanto nos biocombustíveis de

quarta geração a produção é diferente e pode ser realizada através de um processo eletroquímico [10].

Este método consiste, a pressão e temperatura baixas, na captura de carbono, isto é, a água

introduzida no ânodo dissocia-se e os seus iões ultrapassam a membrana em direção do cátodo [14].

Estes iões reagem com o dióxido de carbono que alimenta o cátodo, produzindo água e compostos de

carbono (monóxido de carbono, metano, metanol, entre outros) [14]. Dos compostos referidos

anteriormente destaca-se o metanol líquido que pode ser adicionado ao biodiesel e à gasolina de

aviação [10]. Dos compostos referidos anteriormente destaca-se a produção de metanol líquido

renovável através da reciclagem de carbono, Figura 5. Este composto é considerado um biocombustível

de quarta geração dado que pode ser utilizado nos transportes como combustível ou como aditivo da

gasolina [10].

Figura 5 - Ciclo de Reciclagem de Carbono para a Produção de Metanol Líquido Renovável, extraída de [10]

Na secção seguinte aborda-se a definição e as tecnologias de produção do biodiesel, os

parâmetros que influenciam a sua qualidade e efetua-se uma análise ao mercado do biodiesel na União

Europeia particularizando de seguida o mercado Português.

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11

3. Biodiesel

3.1. Introdução

O biodiesel, FAAE, quando produzido a partir de matérias-primas renováveis é biodegradável,

não tóxico e uma alternativa ao diesel uma vez que apresenta propriedades semelhantes ao diesel com

valores adequados, por exemplo, o índice de cetano [15].

A utilização direta de óleos vegetais como combustível em motores a diesel convencional não é

possível, devido, entre outros problemas, à sua elevada viscosidade e como tal é necessário recorrer

a diversas tecnologias que permitam a sua utilização [2], [16]. Na Tabela 3 apresentam-se as vantagens

e desvantagens das tecnologias que permitem a utilização de óleos vegetais (comestíveis ou não),

gorduras animais e óleos alimentares usados como matéria-prima para produzir um biocombustível. A

transesterificação é processo mais utilizado para a produção de biodiesel e encontra-se descrita em

pormenor nas secções seguintes.

Tabela 3 - Vantagens e Desvantagens das Tecnologias que Permitem a utilização de Óleos Vegetais (comestíveis ou não),

Algas, Gorduras Animais e Óleos Alimentares Usados para Produzir um Biocombustível, adaptado de [2]

Tecnologia Vantagens Desvantagens

Diluição

Micro-emulsão . Processo simples.

. Elevada viscosidade;

. Baixa volatilidade;

. Baixa estabilidade.

Pirólise . Processo simples e não poluente.

. Elevada temperatura;

. Elevados custos de equipamentos;

. Pureza reduzida.

Transesterificação

. Propriedades semelhantes às do

diesel;

. Elevado grau de conversão;

. Baixos custos;

. Adequado para a produção industrial.

. Requer baixo teor de FFA e água

para a catálise básica;

. Emissão de efluentes poluentes;

. Ocorrência de reações secundárias;

. Dificuldade na separação de fases.

Álcool

Supercrítico

. Processo não catalítico;

. Reduzido tempo de reação;

. Elevado grau de conversão.

. Elevada temperatura e pressão;

. Elevados custos de equipamentos;

. Elevado consumo de energia.

O biodiesel pode ser utilizado, consoante o clima e o tipo de motor, diretamente (por exemplo na

Alemanha em motores automóveis adaptados) ou em misturas com o diesel: BX, em que X designa a

percentagem de biodiesel na mistura com o diesel convencional [10], [17], [18].

No que diz respeito ao biodiesel puro ou em misturas estão identificadas algumas desvantagens

associadas às propriedades a frio e à sua estabilidade durante o armazenamento e transporte, para

além da disparidade do valor comercial do biodiesel face aos derivados do petróleo [17].

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12

O biodiesel apresenta como vantagens face ao diesel convencional a capacidade de produção

através de matérias-primas renováveis, o baixo teor em enxofre e aromáticos, o elevado índice de

cetano e lubrificidade, a redução das emissões dos gases de efeito de estufa e a facilidade de manuseio

deste combustível [17].

3.2. Matérias-Primas para a Produção de Biodiesel

Para que a produção de biodiesel seja eficiente é necessário avaliar a proveniência das matérias-

primas, nomeadamente, a localização geográfica, dimensão e disponibilidade de terrenos, o clima da

região e as metodologias de produção agrícolas [2].

Para uma comparação entre os diversos tipos de matérias-primas, no decorrer da sua produção,

é necessário avaliar diversas características, como por exemplo, a quantidade de GEE emitidos, a

qualidade e fertilidade dos solos após cada ciclo produtivo, os custos associados à logística e o preço

comercial das matérias-primas e produtos secundários [2].

A matéria lipídica, constituída maioritariamente por triglicéridos, utilizada como matéria-prima do

processo de produção de biodiesel provém de uma variedade de óleos vegetais (comestíveis ou não),

algas, gorduras animais e óleos alimentares usados. Estas matérias-primas apresentam semelhanças

físicas e químicas uma vez que são hidrofóbicas, o que conduz à formação de misturas heterogéneas

e insolúveis em água, mas solúveis em solventes orgânicos apolares [17].

Os triglicéridos, Figura 6, são ésteres sintetizados a partir de uma molécula de glicerol (coloração

azul) e três moléculas de ácidos gordos (coloração laranja).

Os ácidos gordos são constituídos, geralmente, por um número par de átomos de carbono

dispostos linearmente nos quais o comprimento da cadeia varia usualmente entre 12 e 24 átomos de

carbono. Estes compostos podem ser saturados ou insaturados. Os compostos saturados

caracterizam-se pelas ligações simples entre todos os átomos de carbono da molécula, o elevado ponto

de fusão e índice de cetano, serem pouco propícios à oxidação e estarem no estado sólido à

temperatura ambiente. Por sua vez, os compostos insaturados caracterizam-se pela existência de

algumas ligações duplas entre os átomos de carbono da molécula, apresentarem um reduzido ponto

de fusão, estarem no estado líquido à temperatura ambiente e apresentarem uma menor estabilidade

oxidativa do que os saturados [17], [19].

Figura 6 - Representação de um Triglicérido, em que n1≠ n2≠ n3

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13

3.2.1. Óleos Vegetais

Os óleos vegetais são obtidos através do processamento de sementes. Este processo encontra-

se dividido em três fases, preparação das sementes, purificação do óleo e processamento do mesmo,

como se esquematiza no diagrama de blocos da Figura 7.

Figura 7 - Processo de Extração e Refinação de Óleos Vegetais, adaptado de [2]

Estas matérias-primas são utilizadas para a produção de biodiesel e podem ser divididos em dois

grupos: comestíveis e não comestíveis [2]. Os óleos de palma, girassol, colza, coco, azeite, amendoim,

linhaça, sésamo, entre outros são exemplos de óleos vegetais comestíveis, enquanto jatropha, jojoba,

karanjia, óleos alimentares usados, entre outros são exemplos de óleos vegetais não comestíveis [10].

A composição dos ácidos gordos dos óleos vegetais mais utilizados no processo de produção

de biodiesel são apresentadas na Tabela 4.

Tabela 4 - Composição dos Ácidos Gordos de Diversos Óleos Vegetais, Cx:y (x - número de átomos de carbono, y - número

de ligações duplas), adaptado de [17], [20]

Matéria-Prima

Ácido Gordo

(%em peso)

Óleo de

Girassol*

Óleo de

Soja*

Óleo de

Palma*

Óleo de

Colza** Jatropha* Karanjia*

Caprílico (C8:0) - - - - -

Cáprico (C10:0) - - - - -

Láurico (C12:0) 0,5 - - - - -

Mirístico (C14:0) 0,2 0,1 - - - -

Palmítico (C16:0) 4,8 11,0 40,3 3,49 14,2 9,8

Palmitoleico (C16:1) 0,8 0,1 - - 1,4 -

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14

Matéria-Prima

Ácido Gordo

(%em peso)

Óleo de

Girassol*

Óleo de

Soja*

Óleo de

Palma*

Óleo de

Colza** Jatropha* Karanjia*

Esteárico (C18:0) 5,7 4,0 3,1 0,85 6,9 6,2

Oleico (C18:1) 20,6 23,4 43,4 64,4 43,1 72,2

Linoleico (C18:2) 66,2 53,2 13,2 22,3 34,4 11,8

Linolenico (C18:3) 0,8 7,8 - 8,23 - -

Araquídico (C20:0) 0,4 0,3 - - -

Beénico (C22:0) - 0,1 - - -

Saturados 11,6 15,5 43,4 21.1 16,0

Insaturados 88,4 84,5 56,6 78,9 84,0

Legenda

- Ausência de informação

*Fonte: [20]; ** Fonte: [17]

Como é possível verificar, os óleos de girassol e soja são constituídos maioritariamente por ácido

linoleico, o óleo de palma é composto por uma percentagem considerável de ácido palmítico e o ácido

oleico é o principal constituinte do óleo de colza, Jatropha e Karanjia.

As principais vantagens da utilização de óleos vegetais como combustível são a sua

disponibilidade em larga escala, serem renováveis e biodegradáveis e apresentarem um baixo teor de

enxofre e compostos aromáticos. Todavia existem desvantagens associadas, tais como a elevada

viscosidade, baixa volatilidade, reatividade das cadeias de hidrocarbonetos insaturados e provocarem

uma elevada percentagem de resíduos de carbono, para além do desequilíbrio do mercado aquando

da utilização do óleo como matéria-prima em detrimento da sua utilização como alimento. Como

consequência desta limitação o preço do óleo é inflacionado e a disponibilidade de culturas reduzida

[2], [16].

A desvantagem apresentada acima não se associa aos óleos alimentares não comestíveis, uma

vez que estes são unicamente produzidos para serem utilizados como matéria-prima para a produção

de biodiesel. As vantagens destes em relação aos óleos alimentares comestíveis incluem a

possibilidade de produção em larga escala em terras inapropriadas às práticas agrícolas, os baixos

custos de cultivo e a redução da emissão de GEE para a atmosfera. Contudo para a utilização da

maioria dos óleos vegetais não comestíveis na produção de biodiesel é necessário um processo de

pré-tratamento devido ao elevado teor em FFA destes óleos [2].

Por estas razões, as especificações recomendadas pela BDI para as matérias-primas a utilizar

na unidade fabril envolvem a determinação do teor em água, título, ponto de fusão, índices de iodo,

saponificação e peróxido, impurezas, matéria insaponificável e ácidos gordos livres e totais [21].

3.2.2. Gorduras Animais

As gorduras animais são classificadas em três categorias (1, 2 e 3) que refletem o grau de risco

que estas constituem para a saúde animal e pública [22]. A categoria 1 inclui os subprodutos animais

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15

que não podem ser utilizados na alimentação animal e humana, a categoria 2 engloba os fertilizantes

de solo e a categoria 3 abrange os subprodutos animais que podem ser utilizados na alimentação

animal e humana. Na Figura 8 é possível observar a diferença entre as gorduras animais de categoria

1 (escuras e com grande quantidade de matéria em suspensão) e categoria 3 (que apresenta uma

coloração esbranquiçada) [23]. A descrição pormenorizada destas categorias encontra-se referida,

respetivamente nos Artigo 8º, 9º e 10º, da Secção 4 do Regulamento (CE) nº 1069/2009 do Parlamento

Europeu e do Conselho de 21 de Outubro de 2009, que se apresenta no Anexo I. No que diz respeito

às gorduras recicladas, o teor em FFA permite subdividi-las em duas categorias: amarelas, se o teor

em FFA for inferior a 15% (%mássica), ou castanhas caso contrário [17].

Figura 8 - Coloração de Gorduras Animais recebidas na Enerfuel (Esquerda: Categoria 1; Direita: Categoria 3), extraída de [23]

A composição dos ácidos gordos das gorduras animais mais utilizados no processo de produção

de biodiesel são apresentadas na Tabela 5.

Tabela 5 - Composição dos Ácidos Gordos de Diversas Gorduras Animais, Cx:y (x - número de átomos de carbono, y - número

de ligações duplas), adaptado de [17]

Matéria-Prima

Ácido Gordo

(%em peso)

Gordura

de

Frango*

Sebo

de

Pato*

Gordura

de

Carneiro*

Banha

de

Porco*

Gordura

Reciclada

Amarela*

Gordura

Reciclada

Castanha*

Mirístico (C14:0) - - 0,2 - - -

Palmítico (C16:0) 0,5 - 3 1,7 2,43 1,66

Palmitoleico (C16:1) 24 17 27 23,2 23,24 22,83

Esteárico (C18:0) 5,8 - 2 2,7 3,79 3,13

Oleico (C18:1) 5,8 4 24,1 10,4 12,96 12,54

Linoleico (C18:2) 38,2 59,4 40,7 42,8 44,32 42,36

Linolenico (C18:3) 23,8 19,6 2 19,1 6,97 12,09

Araquídico (C20:0) 1,9 - - 64,7 0,67 0,82

*Fonte: [17]

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16

É possível concluir que todas as gorduras animais são constituídas maioritariamente por ácido

linoleico, com exceção da banha de porco que é composta por uma percentagem considerável de ácido

araquídico.

As gorduras animais caracterizam-se pelos seus constituintes dos quais se destacam: as

proteínas, os fosfolípidos, a água, os agentes patogénicos, os ácidos gordos livres e saturados, entre

outros. Por exemplo, o teor de água depende do tipo de matéria-prima (sebo, banha ou gordura animal)

e às condições e tempo de armazenamento desta. Segundo Banković-Ilić et al., os óleos vegetais

quando comparados com as gorduras possuem um teor de água superior, pelo que se utiliza uma

secagem atmosférica ou sob vácuo para reduzir esta quantidade. No que diz respeito aos agentes

patogénicos que não podem ser um perigo para a saúde humana ou aparecerem como contaminantes

do biodiesel, são oxidados pelo catalisador ácido da reação de esterificação [17].

Os contaminantes presentes nestas gorduras animais são as farinhas, os fosfolípidos, os

polietilenos, etc, e podem originar problemas no seu processamento. Assim, por exemplo, os

fosfolípidos presentes no biodiesel quando em contacto com a água formam precipitados insolúveis.

Estes compostos podem ser removidos por degomagem com adição de uma solução aquosa de ácido

cítrico ou fosfórico, sendo os precipitados insolúveis formados removidos por centrifugação [17]. No

processo de transesterificação, os fosfolípidos eventualmente presentes nas matérias-primas passam

maioritariamente para a fase de glicerina. Relativamente aos polietilenos, uma vez que são insolúveis,

podem provocar entupimentos na instalação ou nos filtros dos veículos que utilizem biodiesel

contaminado. Estes compostos podem aparecer nas gorduras de origem animal devido à contaminação

com sacos ou outros componentes de plástico. Como são solúveis a temperaturas elevadas nas

gorduras e no biodiesel, os polietilenos podem não ser eliminados nas várias etapas do processo de

produção e vão aparecer por isso no biodiesel final. Para os remover pode utilizar-se uma filtração a

baixas temperaturas com coadjuvantes de filtração [23].

Por esta razão, as especificações recomendadas pela BDI para as matérias-primas a utilizar na

fábrica envolvem a determinação do teor em água, título, impurezas, matéria insaponificável, índice de

iodo e peróxido, ácidos gordos livres, percentagem de ácidos gordos (saturados, insaturados e

linoleico) e rácio saturados/insaturados [21].

A produção de biodiesel a partir de gorduras animas, tal como sebo, banha e gordura, elimina a

necessidade de deposição destes resíduos em aterros sanitários [17].

As gorduras animas possuem um elevado pour e flash points, uma elevada viscosidade e

elevadas quantidades de ácidos gordos saturados. Além disso, o biodiesel produzido apresenta,

normalmente, um cloud point e cold filter plugging point (CFPP) elevado o que limita a utilização deste

produto no inverno. Para que estas adversidades sejam atenuadas procede-se a uma cristalização

fracionada com separação interna de sólidos ou adição de aditivos [2], [17].

3.2.3. Óleos Alimentares Usados

Os óleos alimentares usados, derivados de óleos vegetais comestíveis, resultam de atividades

comerciais e domésticas. A sua utilização como matéria-prima para a produção de biodiesel evita

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17

problemas relacionados com o tratamento de águas residuais, perdas de energia e perigo de saúde

pública quando estes resíduos são integrados na cadeia alimentar [24].

De acordo com M. M K Bhuiya et al., os óleos alimentares usados são, na maioria dos países do

mundo, duas a três vezes mais baratos que os óleos alimentares virgens, com exceção da União

Europeia devido à RED. Devido ao seu baixo custo, em consequência de uma maior oferta, a utilização

de óleos alimentares usados pode tornar rentável a produção de biodiesel [2].

O processo de fritura dos óleos alimentares conduz à ocorrência de reações de hidrólise,

oxidação e polimerização. Estas reações provocam a degradação dos óleos alimentares pela alteração

considerável das suas propriedades químicas e físicas quando comparadas com os óleos alimentares

virgens. Por exemplo, a formação de polímeros conduz ao aumento da viscosidade dos óleos, o

aumento do teor de acidez origina a alteração do sabor e cheiro destes, enquanto as reações de

oxidação levam a um escurecimento dos óleos alimentares [24].

Os óleos alimentares usados podem conter elevado teor em água e FFA o que pode originar

reações secundárias de hidrólise e saponificação, respetivamente, no processo de produção de

biodiesel [2].

3.2.4. Matérias-Primas Consumidas em Portugal

A Entidade Nacional para o Mercado de Combustíveis (ENMC) disponibiliza no seu site uma

base mensal que contém a informação sobre as principais matérias-primas utilizadas para a produção

de biocombustível (Fatty Acid Methyl Ester, FAME) pelos produtores nacionais e que pode ser

consultada no Anexo II. Com base nesses dados, traçou-se o gráfico apresentado na Figura 9 onde é

possível observar os valores das diferentes matérias-primas, nacionais e importadas, utilizadas para a

produção de biocombustíveis, tais como: soja, colza, palma, oleínas, FFA, óleos alimentares usados e

as gorduras animais de categoria 1 e 3. Pela análise da Figura 9 é possível concluir que a matéria-

prima com origem nacional mais utilizada é a colza, enquanto ao nível da importação a palma e os

óleos alimentares usados são os mais utilizados.

Os valores das matérias-primas, nacional e importada, relativas a cada mês têm em conta

apenas as matérias-primas que foram utilizadas para a produção de biodiesel. Os valores de stock dos

diferentes produtores só é tido em conta quando o ano é fechado. A emissão de Títulos de

Biocombustíveis (TdB) pela ENMC apenas tem em conta estes valores de matéria-

prima/biocombustível.

De referir que o óleo é considerado nacional se houver importação da semente e o esmagamento

for feito em território nacional. Caso contrário é considerado como matéria-prima importada.

Até 1 de Julho de 2016, todo o FAME que era produzido com a gordura animal (categoria 1 ou

categoria 3) como matéria-prima era elegível para dupla contagem e por isso não havia distinção destes

dois tipos de categoria. Desta forma, só a partir desta data é que se começou a distinguir os dois tipos

de categoria uma vez que a categoria 3 foi desclassificada como matéria-prima elegível para dupla

contagem, porque a sua utilização como matéria-prima para a produção de FAME competia com a sua

utilização para rações.

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18

Figura 9 - Matéria-Prima Utilizada para a Produção de Biocombustíveis pelos Produtores Nacionais (Linha Contínua: Nacional; Linha Descontínua: Importada), (Fonte: ENMC)

0,0

100,0

200,0

300,0

400,0

500,0

600,0

700,0

800,0

0

2000

4000

6000

8000

10000

12000

Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto

Palm

a, O

leín

as, F

FA

e C

ate

goria

1 (m

3)S

oja

, C

olz

a,

UC

O e

Cate

goria 3

(m

3)

Mês do Ano de 2016

Matéria-Prima Utilizada para a Produção de Biocombustíveis pelos Produtores Nacionais

Soja

Soja

Colza

Colza

UCO

UCO

Categoria 3

Categoria 3

Palma

Palma

Oleínas

Oleínas

FFA

FFA

Categoria 1

Categoria 1

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19

3.3. Transesterificação

De entre as diversas tecnologias existentes, a transesterificação é a tecnologia mais utilizada

para a produção de biodiesel a nível industrial. Esta tecnologia permite ultrapassar o problema da

elevada viscosidade dos óleos, apresenta uma elevada eficiência de conversão e custos de produção

razoáveis [2].

Nesta reação, Figura 10, os triglicéridos do óleo reagem com um álcool de cadeia curta,

normalmente metanol, na presença de um catalisador para produzir biodiesel ou ésteres metílicos de

ácidos gordos, se se houver utilizado metanol, e glicerol como subproduto. Esta reação de

transesterificação ocorre em três passos com os diglicéridos e monoglicéridos como produtos

intermédios.

Figura 10 - Processo de Transesterificação com Metanol, adaptado de [37]

Os fatores que influenciam a reação de transesterificação são a natureza e qualidade da matéria-

prima e dos reagentes (particularmente o teor em água e FFA), o tipo e concentração de álcool, o

catalisador e outras características operacionais importantes para uma reação química, tais como a

temperatura, velocidade de agitação e tempo de reação [2], [17].

O teor em FFA e água das matérias-primas são parâmetros de qualidade importantes. De facto,

como será descrito à frente, a água vai favorecer as reações de hidrólise dos triglicéridos e/ou do

biodiesel, enquanto o teor em FFA condiciona o tipo de processo e a necessidade ou não de se efetuar

um pré-tratamento.

O álcool utilizado na reação de transesterificação deve ser de cadeia curta, 1-8 átomos de

carbono, uma vez que cadeias longas podem reduzir a atividade do catalisador. Desta forma, o metanol

é o álcool mais utilizado industrialmente devido às propriedades físicas e químicas e ao seu baixo custo

[2]. Como será descrito abaixo, utilizar um excesso elevado de metanol desloca a reação no sentido

dos produtos, mas em casos extremos pode prejudicar a separação de fases do biodiesel e glicerol

[18].

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20

O catalisador reacional tem como função iniciar a reação e aumentar a sua velocidade e a

solubilidade do álcool [2]. Nas secções seguintes poderá verificar-se que os catalisadores utilizados

podem ser ácidos ou básicos, homogéneos ou heterogéneos ou ainda enzimas. A seleção do tipo de

catalisador depende da qualidade da matéria-prima e do custo de aquisição [18].

A reação de transesterificação ocorre a uma temperatura que depende do tipo de matéria-prima

que se utiliza mas normalmente não deve exceder a temperatura de ebulição do álcool, a pressões

próximas da pressão atmosférica [2], [18].

Por último, a velocidade de agitação tem que garantir a mistura eficaz das duas fases oleosa e

aquosa.

As reações de transesterificação podem ser catalíticas, não catalíticas, assistidas por micro-

ondas e assistidas por ultrassons [2]. Nos capítulos seguintes dar-se-á destaque apenas à

transesterificação catalítica que abrange a catálise homogénea, heterogénea e enzimática e à

transesterificação não catalítica que inclui o álcool supercrítico.

3.3.1. Transesterificação Catalítica

3.3.1.1. Transesterificação Catalítica Homogénea e Heterogénea

A catálise homogénea ou heterogénea pode ser ácida ou básica num só andar ou ácida num

primeiro andar e básica num segundo andar.

A catálise homogénea tem como condições reacionais uma razão molar álcool-óleo de 6:1-9:1,

1% (massa) de catalisador, uma temperatura aproximada de 65ºC e um tempo de reação de

aproximadamente uma hora [17].

A catálise heterogénea tem como condições reacionais uma razão molar álcool-óleo maior que

6:1, um catalisador (segundo Banković-Ilić et al.) com uma concentração de 2-20% (massa), uma

temperatura reacional da mesma ordem de grandeza da catálise homogénea ou superior e um tempo

reacional longo [17].

A catálise heterogénea apresenta como vantagens, face à homogénea, uma eficiente reutilização

do catalisador, uma separação e purificação de fases mais fácil, menores quantidades de efluentes

provenientes da lavagem do biodiesel e da separação de fases, aumenta a qualidade do produto

produzido e elimina a corrosão nos reatores e a poluição ambiental, contudo neste processo a

transferência de massa está limitada e é difícil extrapolar este método catalítico para a escala industrial

[2]–[4], [11], [17]. Todavia a utilização de catalisadores heterogéneos à escala industrial tem como

desvantagens a granulometria inadequada, a preparação e a estabilidade enquanto estão ativos na

reação [17]. Para além das comparações apresentadas anteriormente, na Tabela 6 apresenta-se uma

síntese dos principais fatores que diferenciam estes dois tipos de catálise [2].

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21

Tabela 6 - Fatores que influenciam a Catálise Homogénea e Heterogénea, adaptada de [2], [4], [17]

Fatores Catálise Homogénea Catálise Heterogénea

Processo/Tecnologia Utilização limitada de processos contínuos Leito fixo contínuo

Presença de Água/FFA Sensível Pouco Sensível

Velocidade de Reação Conversão rápida e elevada Conversão moderada

Tratamento após a

Reação

Neutralização do catalisador

(produção de resíduos químicos) Reutilização do catalisador

Reutilização do

Catalisador Impossível

Possível

(difícil em certas condições)

Custos de Produção Elevado (face à catálise heterogénea) Potencialmente Baixo

3.3.1.1.1. Transesterificação Catalítica Básica

Quando a matéria-prima possui baixo teor em FFA (menor que 4%) e água pode ser utilizado um

catalisador básico, uma vez que este permite ter uma conversão superior num curto espaço de tempo,

a temperatura (60-65ºC) e pressão baixa (1,4-4,2 bar), mesmo quando utilizados em baixas

concentrações (0,4-1 %mássica) [2], [4], [17], [25].

A transesterificação catalítica básica utiliza principalmente como catalisadores homogéneos

metais alcalinos alcóxidos e hidróxidos [4]. Relativamente aos heterogéneos, na literatura são referidos

testes de diversos catalisadores tais como os carbonatos de óxidos de diferentes metais alcalinos e

alcalinoterrosos, tais como K/Al2O3, MgCa (3:8), Ca/Al2O3, Li/CaO e CaO [26].

Os catalisadores metais alcalinos alcóxidos, CH3ONa e CH3OK, são os mais utilizados em escala

industrial porque são mais ativos que os catalisadores metais alcalinos hidróxidos, KOH e NaOH, e não

levam à produção de água no meio reacional através da reação (1) [3], [4].

𝐾𝑂𝐻 + 𝐶𝐻3𝑂𝐻 → 𝐶𝐻3𝑂𝐾 + 𝐻2𝑂 (1)

Se as especificações da matéria-prima não forem cumpridas ocorrem as reações de hidrólise

dos triglicéridos, (2), hidrólise do biodiesel, (3), e de saponificação dos FFA, (4), que levam à formação

de emulsões, aumentam a viscosidade do biodiesel e diminuem a eficiência do catalisador e o

rendimento da produção de biodiesel, causando perdas ao longo do processo [3], [17]. A neutralização

e a separação dos catalisadores alcalinos do biodiesel é concretizada através de lavagens com água

e água ácida o que implica grandes quantidades de efluentes [3].

(2)

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22

(3)

(4)

O metanol é sempre adicionado em excesso, ou seja, tipicamente utiliza-se uma razão molar

metanol:óleo de 6:1 ou superior [24]. Normalmente, em catálise heterogénea, utiliza-se um excesso de

metanol superior, isto é, 12:1 ou superior [26], [27].

A temperatura é outra variável importante, uma vez que o rendimento em biodiesel aumenta com

o aumento da temperatura. Contudo os custos do processo também aumentam. Assim, na maioria dos

processos industriais a reação decorre a pressão próxima da atmosférica e à temperatura de ebulição

do metanol (65ºC) [17].

O mecanismo de transesterificação catalítica básica, Figura 11, consiste numa sequência de três

passos reacionais. Inicialmente o álcool reage com a base (B) dando origem a um alcóxido e ao

catalisador protonado. A interação nucleofílica entre o centro ativo do alcóxido e o grupo carbonilo do

triglicérido permite a formação de um intermediário tetraédrico, que após rearranjo estrutural permite

obter um diglicérido aniónico e um éster alquilo. Posteriormente o catalisador é desprotonado e pode

reagir com o álcool remanescente, iniciando-se um novo ciclo catalítico até se obter uma molécula de

glicerol e três moléculas de éster [2].

Figura 11 - Mecanismo de Transesterificação Catalítica Básica, extraída de [2]

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23

3.3.1.1.2. Transesterificação Catalítica Ácida

A catálise ácida é aplicada quando as matérias-primas apresentam um elevado teor em FFA

(maior que 4%) e água [25].

A transesterificação catalítica homogénea ácida utiliza como catalisadores o ácido sulfúrico, o

ácido clorídrico, sulfato de ferro (III) e o ácido p-toluenossulfónico [2], [17]. No que diz respeito à catálise

heterogénea, na literatura são referidos diversos tipos de catalisadores tais como: resinas, zircónia

tungstada e sulfatada, sulfato de polianilina, heteropoliácidos, complexos metálicos, óxido de estanho

sulfatado, fosfato de vanádio, zeólitos, entre outros [28].

O processo de transesterificação catalítica ácida requer uma concentração de catalisador de 0,5-

20%mássica, a temperaturas superiores a 100ºC e com um tempo de reação de 3-48h que pode ser

reduzido quando se trabalha com temperaturas e pressões mais elevadas [2]. A atividade catalítica é

melhorada com o aumento tanto da temperatura reacional como da concentração de catalisador

utilizado na reação [17].

O mecanismo de transesterificação catalítica ácida, Figura 12, consiste numa sequência de três

passos reacionais nos quais as matérias-primas são respetivamente os triglicéridos, os diglicéridos e

os monoglicéridos (mecanismo apresentado abaixo). Inicialmente o grupo carbonilo do monoglicérido

é protonado e após rearranjo estrutural forma um carbocatião. A interação nucleofílica entre o

carbocatião e o centro ativo do álcool permitem a formação de um intermediário tetraédrico, que de

seguida elimina a molécula de glicerol e forma uma mole de éster [29].

A catálise ácida obriga à utilização de um tempo reacional mais longo e razões molares álcool-

óleo mais elevadas [2], [17].

Figura 12 - Mecanismo de Transesterificação Catalítica Ácida, extraída de [29]

3.3.1.1.3. Transesterificação Catalítica Básica com Pré-Tratamento Ácido

O processo de transesterificação em duas etapas permite obter rendimentos em FAME elevados

e ultrapassar as adversidades verificadas quanto este processo se realiza apenas numa etapa, como

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por exemplo para as matérias-primas com um teor em FFA elevado, a formação de sabões e emulsões

produzidas na reação de saponificação. Contudo os elevados custos de produção associados ao

processo em duas etapas é a sua principal desvantagem [17].

A transesterificação catalítica básica com pré-tratamento ácido, Figura 13, envolve a

esterificação catalítica ácida dos FFA (5) e a transesterificação catalítica básica dos triglicéridos (6) [4],

[11]. O metanol é o álcool que geralmente se utiliza neste processo [17].

𝑅1𝐶𝑂𝑂𝐻 + 𝑅𝑂𝐻 𝐶𝑎𝑡𝑎𝑙𝑖𝑠𝑎𝑑𝑜𝑟→ 𝑅1𝐶𝑂𝑂𝑅 + 𝐻2𝑂 (5)

(6)

Figura 13 - Transesterificação Catalítica Básica com Pré-Tratamento Ácido para a Produção de Biodiesel, extraída de [11]

As reações de esterificação/transesterificação catalítica em duas etapas, com metanol, ocorrem

numa gama de temperaturas de 60-65ºC (próxima do ponto de ebulição do metanol) e utilizam álcool

em excesso para favorecer a reação, maximizar o rendimento em biodiesel e para que a separação de

fases entre o biodiesel, o glicerol e a água de lavagem seja eficiente [4], [11], [17].

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25

3.3.1.2. Transesterificação Catalítica Enzimática

As reações de esterificação e transesterificação via catálise heterogénea enzimática ocorrem

numa gama de temperatura entre 30-50ºC (para evitar a desnaturação e consequente diminuição da

produção de FAAE) e utilizam catalisadores muito ativos, as concentrações variam entre 4-20% em

massa, e sensíveis ao teor em água presentes na matéria-prima [2]. Porém, se o teor em água for

superior a 30% há uma heterogeneidade da mistura e consequentemente o rendimento da produção

de FAAE diminui [17].

As lipases, catalisadores enzimáticos específicos, apesar do seu custo dispendioso quando o

processo é aplicado a uma escala industrial não leva à formação de reações secundárias, promovem

uma fácil separação dos produtos (biodiesel e glicerol), implica poucos processos de tratamento de

águas residuais e consequentemente não acarreta grandes impactos ambientais [2]. Para reduzir os

custos de aquisição das lipases estas são imobilizadas e podem ser recuperadas, um número limitado

de vezes, através da lavagem com um solvente orgânico para que posteriormente possam ser

reutilizadas nas reações de esterificação e transesterificação [17].

Na catálise enzimática o álcool que permite obter rendimentos em FAAE mais elevados é o

metanol [17]. Uma das causas da redução do rendimento em FAAE é o excesso de álcool que inibe a

ação das lipases [17]. Para que tal não ocorra é necessário adicionar o álcool com uma razão molar de

1:1 nos três passos reacionais. Devido a esta adição sequencial de álcool, a catálise enzimática não

obtém rendimentos reacionais tão elevados e requer mais tempo de reação que a catálise homogénea

ou heterogénea [2].

3.3.2. Transesterificação Não-Catalítica

Quando se quer reduzir os tempos de reação sem detrimento dos rendimentos é utilizada a

transesterificação supercrítica que implica, contudo, um grande investimento em equipamentos e um

consumo elevado de energia.

3.3.2.1. Transesterificação Alcoólica Supercrítica

A reação de transesterificação alcoólica supercrítica ocorre entre os triglicéridos presentes na

matéria-prima e álcool, na ausência de catalisador, a uma pressão e temperatura acima dos valores do

ponto crítico da mistura reacional (calculado a partir das propriedades críticas da matéria-prima e do

álcool e da razão molar álcool-óleo) [2], [4], [30].

Os álcoois utilizados na transesterificação supercrítica possuem cadeias pequenas, 1-4 átomos

de carbono, como por exemplo o metanol, o etanol, o propanol e o butanol [2].

Uma vez que o metanol é o álcool mais utilizado os valores críticos de pressão e temperatura

deste são, respetivamente, 79,54 bar e 239,5ºC, contudo as condições ótimas reacionais associadas à

utilização do metanol são 200-350 bar, 300-350ºC e uma razão molar de 40:1-42:1 [2], [30], [31].

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26

As condições supercríticas possibilitam uma melhoria da solubilidade de fases, reduzem as

limitações associadas à transferência de massa, aceleram a cinética química da reação, não são

suscetíveis ao teor de FFA e água da matéria-prima, permitem uma eficiente produção através da

conversão completa da reação com redução do tempo reacional e da energia consumida, para além

de viabilizarem uma separação de fases mais eficiente dada a ausência de catalisador na reação, o

que consequentemente facilita os processos de purificação [30]. De salientar que das condições

reacionais a que esta tecnologia opera, qualquer que seja a matéria-prima utilizada, a temperatura é a

característica mais importante e o seu aumento permite o aumento de rendimento em ésteres face às

restantes tecnologias [2].

No mecanismo de transesterificação metanólica supercrítica, Figura 14, o metanol interage com

o carbono carbonilo do triglicérido permitindo a formação de um intermediário tetraédrico que

posteriormente elimina o diglicérido e forma o éster. Esta sequência de reações ocorre até se obtém

três moléculas de ésteres metílicos e uma molécula de glicerol [30].

Figura 14 - Mecanismo de Transesterificação Metanólica Supercrítica (onde R’ é um grupo triglicerídeo e R1 é uma cadeia de

ácidos gordos), extraída de [30]

Esta tecnologia tem como limitações as elevadas pressões, rácios molares álcool-óleo e

temperaturas que conduzem ao craqueamento térmico, o que implica um elevado investimento em

equipamento e custos de produção elevados o que inviabiliza a aplicação desta tecnologia para a

escala industrial [2], [30]. Para que algumas destas limitações sejam atenuadas é necessário adicionar

à mistura reacional um co-solvente (como por exemplo o propano, o dióxido de carbono, o hexano,

entre outros) ou uma enzima na presença de dióxido de carbono supercrítico [2], [17].

3.4. Parâmetros do Biodiesel

O biodiesel deve obedecer às especificações de qualidade das normas internacionais consoante

o país ou região no qual é produzido. Assim, por exemplo, na Europa desde 2003 que o CEN (Comité

Européen de Normalisation) estabeleceu para o biodiesel a Norma EN14214:2003, que foi revista em

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27

2012 e 2014 (Norma EN14214:2012+A1:2014/AC). Alguns desses parâmetros podem ser consultada

na Tabela 7 [32]. No que diz respeito ao diesel convencional é utilizada a Norma EN 590:2009 [33].

Tabela 7 - Norma EN 14214:2012+A1:2014/AC, Propriedades para Análise e respetiva Unidade, Valores Limite e Método de

Ensaio Associado, extraído de [32]

Propriedades Unidade Limite Método de

Análise Mínimo Máximo

Teor em Ésteres % (m/m) 96,5 – EN 14103

Densidade, a 15ºC kg/m3 860 900 EN ISO 3675

EN ISO 12185

Viscosidade, a 40ºC mm2/s 3,50 5,00 EN ISO 3104

Ponto de Inflamabilidade ºC 101 – EN ISO 2719

EN ISO 3679

Teor em Enxofre mg/kg – 10

EN ISO 20846

EN ISO 20884

EN ISO 13032

Índice de Cetano – 51,0 – EN ISO 5165

Teor em Cinzas Sulfatadas % (m/m) – 0,02 ISO 3987

Teor em Água mg/kg – 500 EN ISO 12937

Contaminação Total mg/kg – 24 EN 12662

CFPP ºC –

0 (15/04-30/09)

-10 (01/10-15/11)

-20 (16/11-28/02)

-10 (01/03-14/04)

EN 116

Estabilidade Oxidativa horas 8 – EN 14112

Índice de Acidez mg KOH/g – 0,50 EN 14104

Índice de Iodo g iodo/100g – 120 EN 14111

EN 16300

Teor em Metanol % (m/m) – 0,20 EN 14110

Teor em Monoglicéridos % (m/m) – 0,70 EN 14105

Teor em Diglicéridos % (m/m) – 0,20 EN 14105

Teor em Triglicéridos % (m/m) – 0,20 EN 14105

Glicerol Livre % (m/m) – 0,02 EN 14105

EN 14106 Glicerol Total % (m/m) – 0,25 EN 14105

Teor em Fósforo mg/kg – 4,0 EN 14107

As propriedades identificadas na Tabela 7 são descritas de seguida.

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28

Teor em Ésteres – este valor é influenciado pelas características tanto da matéria-prima como

das condições reacionais do processo. Para matérias-primas de baixa qualidade a etapa de destilação

é crucial para diminuir a concentração da matéria insaponificável e desta forma aumentar o teor em

ésteres do biodiesel [18].

Densidade – define-se como o quociente entre a massa e o volume de biodiesel. Este parâmetro

depende do teor em ésteres e da quantidade remanescente de contaminantes no biodiesel e influencia

a eficiência da atomização na câmara de combustão do motor [17], [18].

Viscosidade – medida da resistência de escoamento do biodiesel. É afetada pelas condições e

tempo reacionais da reação de transesterificação e consequente processo de purificação. Este

parâmetro influencia o sistema de injeção dos motores automóveis [17], [18].

Ponto de Inflamabilidade – critério de segurança importante que consiste na medida da

inflamabilidade do combustível. Se o valor deste parâmetro for elevado o manuseamento, transporte e

armazenamento do biodiesel é seguro, isto é, o risco de incêndio é reduzido. A presença de metanol

remanescente no biodiesel é um o principal fator que afeta o ponto de inflamabilidade [17], [18].

Teor em Enxofre – o biodiesel caracteriza-se pelo baixo teor em enxofre quando comparado

com o diesel convencional. À redução do valor deste parâmetro nos combustíveis está associado um

menor desgaste dos motores automóveis bem como um menor impacto ambiental e na saúde pública

[18].

Resíduo de Carbono – quantidade de matéria rica em carbono recolhida após combustão de

uma amostra de combustível [34]. Estes resíduos correlacionam-se com a quantidade em FFA,

glicéridos, sabões, polímeros, ácidos gordos insaturados, catalisador e impurezas inorgânicas o que

contribui para a possível obstrução dos injetores e da câmara de combustão através da formação de

depósitos [18].

Índice de Cetano – medida do desempenho da ignição por compressão do biodiesel sob

condições reacionais normalizadas [15], [17]. Ao elevado índice de cetano associa-se uma rápida

ignição do motor, combustão suave e diminuição das emissões de partículas e gases escape [18].

Teor em Cinzas Sulfatadas – concentração de contaminantes inorgânicos (por exemplo

resíduos de catalisador) e sabões metálicos solúveis presentes numa amostra de biodiesel após

carbonização (processo de combustão) e posterior tratamento com ácido sulfúrico [18], [35].

Teor em Água – A nível industrial, para diminuir o teor em água contido na matéria-prima e a

adicionada no processo de lavagem, realiza-se uma destilação sob vácuo (dewatering) [24]. Durante o

armazenamento do biodiesel, tendo em conta a sua capacidade higroscópica, é possível que este

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29

absorva água. A presença de água no biodiesel conduz à corrosão do motor e pode reagir com os

triglicéridos levando à produção de sabões e glicerina [18].

Contaminação Total – de acordo com a EN 12662, a contaminação total refere-se à parcela de

material insolúvel retido após filtragem de uma amostra de biodiesel, sob condições normalizadas [18].

Corrosão do Cobre – este parâmetro pode ser correlacionado com o índice de acidez e

caracteriza a capacidade de corrosão do biodiesel face ao cobre, zinco e bronze que constituem partes

do motor e dos tanques de armazenamento [18].

CFPP (Cold Filter Plugging Point) – temperatura mínima de operação a que é possível filtrar

20 mililitros de combustível durante 60 segundos, sob condições de arrefecimento rápido e um vácuo

de 2 kPa. A especificação deste parâmetro varia consoante o clima do país ou região onde o

combustível é utilizado [36].

Cloud Point (Ponto de Turvação) – define a temperatura à qual a amostra se torna turva devido

à solidificação dos ácidos gordos saturados, que conduzem à formação de cristais [36].

Pour Point (Ponto de Fluidez) – define a temperatura mais baixa à qual o combustível ainda

consegue fluir. [36].

Estabilidade Oxidativa – o biodiesel, tal como todos os combustíveis, é propenso à degradação

oxidativa e desta forma apresenta problemas de estabilidade. No FAAE, através do número e posição

das cadeias olefínicas insaturadas é possível determinar o grau de oxidação. Esta degradação deve-

se à exposição à luz e elevadas temperaturas e à presença de metais e peróxidos. Os compostos

polimerizados que resultam da oxidação levam a um aumento da viscosidade do combustível e afetam

o seu desempenho [37].

Índice de Acidez – medida da quantidade de ácidos gordos livres presentes numa amostra

fresca, determinada através da titulação com KOH (Hidróxido de Potássio) e expresso pela quantidade

(em mg) de KOH necessário para neutralizar um grama de biodiesel. De referir que se a amostra

contiver acidez mineral esta também é determinada. O índice de acidez é influenciado pelas condições

processuais [18]. O aumento deste parâmetro, devido à formação de compostos orgânicos ácidos,

conduz ao aumento da corrosão [37].

Índice de Iodo – define o grau de insaturação do biodiesel, expresso em gramas de iodo que

reagem por cada 100 gramas de uma amostra de biodiesel [18]. O índice de iodo avalia a estabilidade

oxidativa e a ocorrência de reações de polimerização no biodiesel [36].

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30

Teor em Metanol – o metanol utilizado como reagente nas reações de transesterificação pode

contaminar os ésteres produzidos e causar corrosão no motor [34].

Teor em Monoglicéridos, Diglicéridos e Triglicéridos – as reações sequenciais de

transesterificação têm como matéria-prima inicial os triglicéridos que se vão decompondo em

diglicéridos e por fim em monoglicéridos [18]. Desta forma, o teor destes compostos no biodiesel

depende da eficiência processual [18]. Se o valor estabelecido na Norma EN14214 for ultrapassado

existe a possibilidade de formação de depósitos no sistema de injeção automóvel [18].

Glicerol Livre – a presença deste composto no biodiesel depende da eficiência dos processos

de separação e lavagem do FAME [18]. Durante o armazenamento, num tanque ou num depósito

automóvel, o glicerol dissocia-se do biodiesel e é depositado no fundo do tanque/depósito em conjunto

com outros componentes (água, sabões, entre outros) danificando, no caso automóvel, o sistema de

injeção [18].

Glicerol Total – a quantidade total de glicerol no biodiesel inclui o glicerol livre e o glicerol

presente nos compostos glicerídeos e, tal como o parâmetro do glicerol livre, é influenciado pelo

processo de produção do biodiesel [18].

Metais dos Grupos I (Na+K) e II (Ca+Mg) – este parâmetro encontra-se estritamente

correlacionado com o teor em cinzas sulfatadas [18]. No que diz respeito aos metais do grupo I, estes

têm proveniência nos resíduos do catalisador e podem conduzir à formação de cinzas no interior do

motor [18]. Relativamente aos metais do grupo II, estes têm origem nos processos de lavagem com

água conduzindo à formação de sabões [18].

Teor em Fósforo – o conteúdo deste parâmetro no biodiesel provém da matéria-prima utilizada

no processo, isto é, dos fosfolípidos (presentes nos óleos vegetais e gorduras animais) e dos sais

inorgânicos (presentes nos óleos alimentares usados) [18]. A longo prazo, o elevado teor em fósforo é

nocivo para o sistema catalítico de emissão de gases de escape [18].

Lubrificidade – mede a aptidão de um lubrificante para reduzir o atrito entre superfícies [36]. As

propriedades lubrificantes do biodiesel são, aproximadamente, 66% mais eficientes que as do diesel

convencional [2].

3.5. Análise do Mercado de Biodiesel

O crescimento per capita no sector dos transportes implica um aumento da procura de

combustíveis. Dada a consciencialização da sociedade atual no que diz respeito a questões ambientais

a procura pelo mercado dos biocombustíveis tem vindo a aumentar em detrimento dos combustíveis

fósseis.

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31

Os primeiros registos do mercado de biocombustíveis segundo o EIA (U.S. Energy Information

Administration) datam do início do século XXI, sendo que em alguns países, como é o caso de Portugal,

o consumo e produção de biocombustíveis só tem registos a partir de meados da primeira década do

século.

A nível Europeu, Figura 15, entre os anos de 2010 e 2012 verificou-se um decréscimo do

consumo de biodiesel acompanhado por uma crescente produção deste combustível. A partir de 2012

comprova-se uma tendência crescente tanto do consumo como da produção de biodiesel. De notar que

nestes registos é possível observar um excesso de consumo de biodiesel face ao seu nível de

produção, o que permite inferir a necessidade de importação deste combustível. Este facto pode dever-

se ao cumprimento das metas impostas pela RED e FQD para os 28 estados membros da União

Europeia.

Figura 15 - Representação Gráfica da Produção e Consumo de Biodiesel na União Europeia, (legenda: e – estimativa; p –

previsão) Fonte: Global Agricultural Information Network (GAIN) [38]

Atualmente o mercado Português compreende três grupos de operadores económicos,

produtores, importadores e incorporadores, que devem cumprir os critérios de sustentabilidade de

todos os biocombustíveis introduzidos no mercado Português, Decreto-Lei n.º117/2010 [1], [7]. A

Entidade Coordenadora do Cumprimento dos Critérios de Sustentabilidade (ECS) é responsável pela

verificação do cumprimento dos critérios mencionados anteriormente, com base nas avaliações

independentes dos operadores económicos [39], [40].

Os produtores de biocombustíveis podem ser classificados consoante o volume de produção

anual, isto é, os Produtores de Regime Geral (PRG) têm uma produção anual superior a 20 mil

toneladas (Ton), enquanto os Pequenos Produtores Dedicados (PPD) produzem, por ano, uma

quantidade igual ou inferior a 3 mil toneladas [1], [41].

Todos os PRG têm a sua produção certificada por regimes voluntários internacionais, de acordo

com a Portaria n.º8/2012 [39]. Os PPD utilizam uma percentagem igual ou superior a 60% (Fonte:

ENMC) de matéria residual, óleos alimentares usados, estão isentos do Imposto sobre os Produtos

Petrolíferos e Energéticos (ISP) e os biocombustíveis por este produzidos são introduzidos em frotas

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2010 2011 2012 2013 2014 2015e 2016pMega T

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Ano

Produção e Consumo de Biodiesel na União Europeia

Produção

Consumo

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32

dedicada ou para consumo próprio. Os TdB correspondentes à sua produção de biodiesel são

entregues à Direção Geral de Energia e Geologia (DGEG) que faz o leilão de TdB anual (Fonte: ENMC)

[7], [41].

Os operadores que importam biocombustíveis podem fazê-lo no estado puro ou quando estes já

se encontram incorporados nos combustíveis fósseis [1], [39].

Os incorporadores de biocombustíveis têm como destino final dos seus produtos o setor dos

transportes e a sua atividade deve cumprir os critérios de incorporação do Decreto-Lei n.º117/2010

para que a ECS-ENMC emita os títulos de combustíveis (TdB) que são válidos por um período de dois

anos [1], [7], [42].

Todos os operadores económicos com expressão no mercado Português podem ser consultados

na Tabela 8.

Tabela 8 - Operadores Económicos com Expressão no Mercado Português, adaptada de [43]

Designação Operador Económico

Produtores Regime

Geral

BioOeste – Valorização de Óleos Alimentares Usados, Lda.

Bioportdiesel, S.A.

Biovegetal - Combustíveis Biológicos e Vegetais, S.A.

Enerfuel, S.A.

Fábrica Torrejana, S.A.

IBEROL – Sociedade Ibérica de Biocombustíveis e Oleaginosas, S.A.

Prio Biocombustíveis, S.A.

Sovena Oilseeds Portugal, S.A.

Repsol Polímeros S.A.

Pequenos Produtores

Dedicados

Avibom Energia, Lda.

Biocanter Unipessoal Lda.

Biosarg, Lda.

Biovalouro – Produção e Comércio de Biocombustíveis, Unipessoal, Lda.

Braval – Valorização e Tratamento de Resíduos Sólidos, S.A.

Brevodisseia - Valorização de Resíduos, Lda.

Dictóleo Lda.

EGI Lda.

Pequenos Produtores

Dedicados

Future Fuels – Biotechnology, Lda.

Green Route - Produção de Biocombustíveis, Lda.

Metal Lobos Serralharia e Carpintaria, Lda.

Multirecolha, Lda.

Nature Light, S.A.

Paisagem a Óleo – Combustíveis Renováveis, Unipessoal Lda.

Valnor – Valorização e Tratamento de Resíduos Sólidos, S.A.

Supermateria – Unipessoal, Lda.

USV - Representações, Consultoria Em Metalurgia e Energias Renováveis Lda.

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33

Designação Operador Económico

Incorporadores/

Importadores*

BP Portugal – Comércio de Combustíveis e Lubrificantes, S.A.

Cepsa Portuguesa Petróleos, S.A.

Petróleos de Portugal – Petrogal, S.A.

Prio Supply, S.A.

Repsol Portuguesa, S.A.

RStar Petróleos, Lda.

* Registo das Empresas: Atlanticoil – Receção e Comércio de Óleos Minerais, Lda., Carlos da Veiga Fernandes & Filhos, Lda.

e Vapo Atlantic, Lda. suspenso por falta de envio de informação relativa ao cumprimento dos critérios de sustentabilidade dos

biocombustíveis incorporados nos combustíveis fósseis introduzidos ao consumo.

A capacidade de produção instalada em Portugal é de, aproximadamente, 600 mil toneladas por

ano. Contudo, devido ao limite de incorporação de biocombustíveis em combustíveis fósseis

estabelecido pela FQD, a produção anual nacional é aproximadamente metade da capacidade de

produção instalada. A capacidade de produção instalada de cada Produtor em Regime Geral, por tipo

de biocombustível, pode ser consultada na Tabela 9.

Tabela 9 - Capacidade de Produção Instalada de cada Produtor em Regime Geral, por Tipo de Biocombustível

Biocombustível Produtor em Regime Geral

Capacidade de Produção

Instalada

(milhares de Ton/ano)

FAME

(substituto do diesel)

BioOeste – Valorização de Óleos Alimentares Usados,

Lda. 3*

Bioportdiesel, S.A. 35

Biovegetal - Combustíveis Biológicos e Vegetais, S.A. 125

Enerfuel, S.A. 28

Fábrica Torrejana, S.A. 100

IBEROL – Sociedade Ibérica de Biocombustíveis e

Oleaginosas, S.A. 130

Prio Biocombustíveis, S.A. 100

Sovena Oilseeds Portugal, S.A. 105

BioETBE

(substituto da gasolina) Repsol Polímeros S.A. 53

*PRG porque abdicou da isenção de ISP (beneficio dado aos PPD) para ter direito aos TdB que lhe são emitidos aquando da

produção de biodiesel.

Fonte: ENMC

Os primeiros registos do mercado de biodiesel em Portugal datam de 2005. Analisando o

mercado Português, Figura 16, entre 2009 e 2015 observa-se uma tendência crescente da produção

face ao ano transato, com exceção do ano de 2012. Relativamente ao consumo, verifica-se um

aumento entre os anos de 2008 e 2010, todavia a partir de 2011 existe um contínuo decréscimo até ao

último ano onde foi possível obter registos (2014). A balança comercial de biodiesel no período de

tempo entre 2009 e 2013, salvo o ano de 2011, constata uma carência de produção face ao consumo

o que indicia a necessidade de importação deste combustível. Apesar do FAME produzido em Portugal

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34

satisfazer as necessidades nacionais, para cumprir as metas anuais obrigatórias estabelecidas pelo

Decreto-Lei n.º117/2010 há necessidade de importar HVO como substituto do diesel para perfazer a

incorporação de FAME e Bioetanol ou BioETBE para perfazer as necessidades de incorporação na

gasolina. Desta forma, Portugal importa a partir de Espanha a maioria dos biocombustíveis necessários,

na maior parte dos casos sob a forma de incorporado.

Figura 16 - Representação Gráfica da Produção e Consumo de Biodiesel em Portugal, Fonte: DGEG [44]

Para a escala temporal apresentada na Figura 17 verifica-se que a produção e incorporação de

biodiesel em Portugal têm uma evolução semelhante, porém a venda direta no mercado não

acompanha essa tendência apesar de se manter constante ao longo dos anos. A variação mais

acentuada na venda direta de biodiesel no mercado verifica-se entre os anos de 2013 e 2015, onde no

último ano se verifica o valor mais baixo do registo temporal da análise. O rigor no cumprimento das

metas contratualizadas na RED está diretamente correlacionada com o incremento de incorporação de

biodiesel no diesel convencional, que se verifica principalmente no ano de 2015. Através da análise da

Figura 17 comprova-se o comportamento da balança comercial portuguesa citada anteriormente, isto

é, entre 2009 e 2012, exceto no ano de 2011, foi necessário importar biodiesel dado que o nível de

incorporação de biodiesel superou a sua produção. A ENMC é a entidade que supervisiona o

cumprimento das obrigações de produção e venda de biocombustíveis nacionais [40].

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2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015Kilo

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Ano

Produção e Consumo de Biodiesel em Portugal

Produção

Consumo

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Figura 17 - Representação Gráfica da Produção, Incorporação e Venda Direta no Mercado de Biodiesel, Fonte: DGEG [44]

Os preços de venda de FAME praticados em Portugal Continental nos primeiros dez meses do

ano de 2016 estão apresentados na Tabela 10. Estes valores, de acordo com a ENMC, são calculados

com base no valor de faturação mensal associado ao volume de FAME vendido pelos produtores. De

notar que os preços apresentados para os meses de Setembro e Outubro de 2016 são valores

provisórios calculados com base no valor mensal dos óleos vegetais virgens [45].

Tabela 10 - Preços Comerciais do FAME, relativos ao Ano de 2016 [45]

Meses do Ano de 2016 Preço em Portugal (€.m-3)

Janeiro 789,50

Fevereiro 773,46

Março 771,81

Abril 733,32

Maio 753,55

Junho 754,86

Julho 756,09

Agosto 753,20

Setembro* 766,82

Outubro* 757,43

* os preços em Portugal referentes a este mês são provisórios

Em seguida será efetuada uma descrição pormenorizada, à escala industrial e laboratorial, do

processo de produção de biodiesel da Enerfuel.

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2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015

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Ano

Produção, Incorporação e Venda Direta no Mercado de Biodiesel em Portugal

Incorporado

Produzido

Venda Direta no Mercado

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4. Enerfuel

A Enerfuel é uma empresa que pertence ao grupo Galp Energia e encontra-se sediada na Zona

Industrial e Logística de Sines. Esta unidade industrial tem como produto principal o biodiesel,

produzido a partir de gorduras animais e óleos alimentares usados, e como produtos secundários a

glicerina e o sulfato de potássio.

Esta fábrica utiliza tecnologia da BDI e tem uma capacidade instalada de produção de,

aproximadamente, 25 mil toneladas por ano, num sistema de operação contínuo, 24 horas por dia numa

média de 330 dias por ano.

4.1. Processo de Produção de Biodiesel da Enerfuel

Após uma análise exaustiva do processo de produção de biodiesel da Enerfuel através da

consulta dos diagramas P&I (Piping & Instrumentation) da unidade fabril, esquematizou-se o diagrama

de blocos que se divide em quatro zonas distintas: esterificação, transesterificação, destilação do FAME

e os processos de separação, purificação e destilação dos produtos secundários. Toda esta informação

e descrição do processo está fornecida em Anexo.

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39

5. Resultados Experimentais

5.1. Simulação Laboratorial do Processo de Produção de Biodiesel

da Enerfuel

Conforme foi descrito na secção anterior, o processo de produção de biodiesel da Enerfuel

efetua-se em de três etapas, isto é, esterificação dos ácidos gordos livres, transesterificação dos

triglicéridos e destilação do biodiesel. Na simulação do processo efetuada no laboratório do Instituto

Superior Técnico (IST) não se efetuou a destilação do biodiesel e por consequência, nas secções

seguintes apenas se encontram descritas as etapas experimentais realizadas. Apresentam-se ainda os

resultados obtidos em dois ensaios laboratoriais e a análise de quatro amostras recolhidas na Enerfuel,

na mesma fase processual.

5.1.1. Caracterização da Matéria-Prima

Nestes ensaios laboratoriais utilizou-se uma amostra, cedida pela Enerfuel, de gordura animal

da categoria 3 que foi direcionada para o tanque de armazenamento.

5.1.2. Esterificação dos Ácidos Gordos Livres

As condições operatórias utilizadas para a etapa de esterificação dos ácidos gordos livres

apresentam-se na Tabela 11 e o procedimento experimental encontra-se descrito pelos pontos 1-6

apresentados em seguida [23].

Tabela 11 - Condições Operatórias estabelecidas para a Etapa de Esterificação

Parâmetros BDI Laboratório IST

1.º Ensaio e 2.º Ensaio

Razão Molar MeOH-G

[Massa Molecular da Gordura~875g.mol-1] 4,6* 5

H2SO4 (%massa) 1,624 1,62

Tempo Reacional (h) 2 3

Temperatura (ºC) 70 (Temperatura de Operação: 63-65ºC) 65

Pressão (atm) 1 1

% FFA 20 9,7

* - as condições identificadas como BDI referem-se às condições recomendadas pelo fornecedor da tecnologia que obrigam

à utilização de um excesso de metanol.

1 – Pesar uma determinada quantidade de matéria-prima previamente aquecida, homogeneizada

e caracterizada, para um balão reacional de três tubuladuras - neste caso pesaram-se 300,3g e 300,1g

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para o 1.º e 2.º Ensaios, respetivamente. Colocar o balão no banho de água termostatizado,

previamente aquecido à temperatura do ensaio, ligar a agitação e a água de refrigeração – montagem

final esquematizada na Figura 18.

2 – Medir o volume de metanol, em mililitros, e pesar o catalisador (H2SO4), em grama, a

adicionar ao balão reacional.

3 – Após a matéria-prima ter atingido a temperatura do ensaio, adicionar uma parte do metanol,

seguida do catalisador e por fim o restante metanol.

4 – No final da reação, colocar o produto esterificado numa ampola de decantação (não deverá

ocorrer separação de fases).

5 – Lavar o produto com água destilada na proporção de 2 volumes de água por volume de

produto, ou seja, 2 × 100𝑚𝐿. Deixar decantar durante cerca de 5 horas na estufa a 55ºC e eliminar a

fase aquosa.

6 – Recolher uma amostra do produto para, após secagem, ser analisado (Figura 19).

Figura 18 - Montagem Experimental dos Ensaios Laboratoriais de Esterificação e Transesterificação [23]

Figura 19 - Produto da Esterificação (Esquerda: 1.º Ensaio Laboratorial e Direita: 2.º Ensaio Laboratorial)

Após o ensaio de esterificação, o teor final em FFA da amostra, para o 1.º e 2.º Ensaios foi,

respetivamente, de 1,8% e 0,7% o que perfaz uma conversão de 81% para o 1.º Ensaio e 93% para o

2.º Ensaio.

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41

5.1.3. Transesterificação dos Triglicéridos

As condições operatórias estabelecidas para a etapa de transesterificação dos triglicéridos

apresentam-se na Tabela 12 e o procedimento experimental é descrito pelos pontos 1-7 apresentados

em seguida [23]. A matéria-prima da transesterificação deve apresentar valores inferiores a 3% e 0,5%,

para o teor em FFA e água, respetivamente.

Tabela 12 - Condições Operatórias estabelecidas para a Etapa de Transesterificação

Parâmetros BDI Laboratório IST

1.º Ensaio 2.º Ensaio

Razão Molar MeOH-G 5,5 5 5

CH3NaO (%massa) 1,5 1,5 1,5

Tempo Reacional

(min)

30 (Tempo de Operação:

1h)

120 120

Temperatura (ºC) 60 65 65

Pressão (atm) 1 1 1

% FFA 2 1,8 1,1

1 – As matérias-primas sólidas deverão ser previamente aquecidas na estufa a ≈ 55ºC e

homogeneizadas por agitação após liquefação;

2 – Pesar a quantidade de matéria-prima necessária para o balão reacional de três tubuladuras

- neste caso pesaram-se 193,3g e 200,0g para o 1.º e 2.º Ensaios, respetivamente. Colocar o balão no

banho de água termostatizado previamente aquecido à temperatura do ensaio, ligar a agitação e a

água de refrigeração – montagem final esquematizada na Figura 18.

3 – Medir o volume de metanol, em mililitros, e pesar o catalisador (CH3ONa), em grama, a

adicionar ao balão reacional.

4 – Depois de se atingir a temperatura do ensaio, adicionar uma parte do metanol, seguida do

catalisador e no final o restante metanol. O cálculo da quantidade de catalisador a adicionar terá que

ter em conta o catalisador que será gasto na neutralização da acidez das diferentes matérias-primas,

no início desta etapa.

5 – Decorrido o tempo reacional, colocar o produto numa ampola de decantação. Após separação

das fases, rejeitar a fase de glicerina.

6 – Lavar a fase de biodiesel a quente. A primeira lavagem com água destilada, adicionando-se

cerca de 10% em volume face ao volume total de produto. Após separação de fases e/ou centrifugação

(a 8000 rpm durante 4 minutos) efetuar uma lavagem com 10% em volume de uma solução de HCl

(0,1M) seguida de nova lavagem com água quente. A formação de emulsões durante as lavagens

obriga a uma centrifugação antes da etapa de secagem.

7 – Após separação completa das fases deve-se proceder à secagem do produto no evaporador

rotativo e à recolha de uma amostra de produto (Figura 20).

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Figura 20 - Produto da Transesterificação (Esquerda: 1.º Ensaio Laboratorial e Direita: 2.º Ensaio Laboratorial)

Após o ensaio de transesterificação, o teor final em FFA da amostra, para o 1.º e 2.º Ensaios foi,

respetivamente, de 1,1% e 0,6% o que perfaz uma conversão de 39% para o 1.º Ensaio e 14% para o

2.º Ensaio.

5.1.4. Secagem de Amostras no Evaporador Rotativo

O procedimento experimental executado para a secagem de amostras no evaporador rotativo é

descrito pelos pontos 1-3 [23].

1 – Ligar o banho de óleo de aquecimento e programar a temperatura no controlador de

temperatura.

2 – Colocar o balão com a amostra a secar na tubuladura do condensador e apertar de modo a

que o balão fique seguro. Introduzir o balão no banho de óleo, ligar a bomba de vácuo e a agitação.

Regular a abertura da torneira de segurança de modo a regular o vácuo.

3 – Decorrido o tempo de secagem da amostra, abrir a torneira do vácuo, desligar a bomba de

vácuo e a rotação do balão. Depois de atingida a pressão atmosférica, retirar o balão com a amostra

e desligar o banho.

5.1.5. Resultados Laboratoriais

No final das reações de esterificação e transesterificação, determinou-se que o rendimento do

biodiesel produzido no 1.º e 2.º Ensaios foi, respetivamente, de 39% e 71%.

Posteriormente analisou-se o teor em FAME do biodiesel produzido através de Espectroscopia

de Infravermelho Próximo (NIR) num espectrofotómetro FT-NIR BOMEM MB-160, ABB (Figura 21) que

está equipado com uma fonte de luz de tungsténio-halogéneo e um detetor de índio-gálio-arsénio

(InGaAs Arid ZoneTM). Os espectros foram recolhidos com uma sonda de fibra ótica FLEX de

transflectância da SOLVIAS AG na gama espectral entre 12000 e 4000 cm-1.

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43

Figura 21 - A) Espectrofotómetro NIR BOMEM e sonda de fibra ótica acoplada; B) Pormenor do orifício da sonda onde passa o

feixe de luz; C) Pormenor da imersão da sonda numa amostra

Após recolha do espectro, o teor em FAME foi determinado recorrendo a uma calibração

previamente desenvolvida no laboratório do IST [50]. De referir que, para amostras dentro da gama de

calibração, o erro associado a esta determinação é de ≈ 1.5% que é comparável ao erro da

determinação por cromatografia gasosa, método de referência da EN 14214, que foi o método utilizado

para desenvolver a calibração NIR utilizada. Os resultados obtidos nos dois ensaios laboratoriais

realizados encontram-se na Tabela 13.

Tabela 13 - Resultados Laboratoriais dos Ensaios realizados no Laboratório do IST

Limites Norma EN

14214:2012+A1:2014/AC

96,5(%massa)

(mínimo)

500 ppm

(máximo)

Ensaios FAME Água

Ensaio Transesterificação 1 90,9 1650,643

Ensaio Transesterificação 2 93,9 1598,350

Como se pode verificar, o biodiesel proveniente de gordura animal de categoria 3, não destilado,

não cumpre o teor mínimo de FAME e máximo de água imposto pela norma EN

14214:2012+A1:2014/AC.

Para verificar se as sínteses realizadas no laboratório reproduziam o que se passa na fábrica,

foram retiradas, na unidade fabril, quatro amostras de biodiesel antes da coluna de destilação nos batch

1562, 1563, 1564 e 1565. Estas amostras foram analisadas por NIR para determinar o teor em FAME.

Assim, como é possível verificar na Tabela 14, os resultados obtidos nos testes laboratoriais e

industriais são aproximados e comprovam que a produção de um biodiesel que cumpra a norma EN

14214:2012+A1:2014/AC a partir de gorduras animais obriga a que seja efetuada a etapa de destilação.

Tabela 14 - Resultados Laboratoriais dos Ensaios realizados no Laboratório do IST

Limites Norma EN

14214:2012+A1:2014/AC

96,5(%massa)

(mínimo)

500 ppm

(máximo)

Ensaios FAME Água

Análise ao Batch 1562 92,4 -

Análise ao Batch 1563 92,7 -

Análise ao Batch 1564 88,9 -

Análise ao Batch 1565 92,2 -

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44

5.2. Efeito da Qualidade das Matérias-Primas na Capacidade de

Produção e na Qualidade do Biodiesel

Para estudar a influência da qualidade da matéria-prima no processo de produção de biodiesel

da Enerfuel foram analisados os lotes 1-10 produzidos em 2016. A identificação dos lotes tem a

nomenclatura XYZ, onde X designa o ano de produção do lote, Y corresponde à numeração ordeira de

produção do lote e Z indica o tanque de armazenamento de biodiesel produzido. Para simplificar a

nomenclatura, em algumas figuras e tabelas, apenas se apresenta o número de lote Y.

5.2.1. Características das Matérias-Primas recebidas pela Enerfuel

Para realizar a descrição dos lotes de produção de biodiesel foi preciso consultar o ficheiro do

Microsoft Excel de “Constituição de Lotes da Enerfuel” que em três folhas (Lotes de FAME, Batch

Report e Tanques de Matéria-Prima), com uma média de 425 linhas e 28 colunas, contém informação

do tipo de matéria-prima utilizada e respetivo relatório de análise de parâmetros da SGS e o tanque

onde esta se encontra armazenada. Este ficheiro identifica ainda a quantidade de matéria-prima

utilizada em cada batch, o batch inicial e final de cada lote produzido, a data de começo e término da

produção e o rendimento em massa do processo.

De referir que a análise efetuada ao ficheiro mencionado anteriormente e a outros ficheiros da

unidade industrial permitiram identificar alguns problemas nos dados introduzidos que foram

posteriormente resolvidos pela Enerfuel. Por isto, também foi necessário analisar os batch report

preenchidos pelos operadores da unidade fabril.

Com base na quantidade de matéria-prima utilizada em cada batch foi possível determinar a

quantidade de matéria-prima utilizada, por tanque, em cada lote de produção. Esta informação

encontra-se no Anexo III. Desta forma, a partir das quantidades totais foi possível calcular a contribuição

percentual da matéria-prima de cada tanque para a produção dos lotes de biodiesel, (7).

%𝑴𝒂𝒕é𝒓𝒊𝒂−𝑷𝒓𝒊𝒎𝒂𝒋=∑ (𝑞𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑚𝑎𝑡é𝑟𝑖𝑎 − 𝑝𝑟𝑖𝑚𝑎 𝑑𝑜 𝑡𝑖𝑝𝑜 𝑗)𝑖=𝑏𝑎𝑡𝑐ℎ

∑ (𝑞𝑢𝑎𝑛𝑡𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 𝑑𝑒 𝑚𝑎𝑡é𝑟𝑖𝑎 − 𝑝𝑟𝑖𝑚𝑎 𝑑𝑜 𝑙𝑜𝑡𝑒 𝑘)𝑖=𝑏𝑎𝑡𝑐ℎ

(7)

, onde 𝑖 varia entre o batch inicial e o batch final do lote produzido, 𝑗 varia consoante o tipo de matéria-

prima (UCO, Categoria 1 e Categoria 3) e 𝑘 varia entre os lotes de produção 1-10.

A soma da contribuição individual de cada tanque de armazenamento de matéria-prima permite

calcular a contribuição total de cada tipo de matéria-prima e relacioná-la com rendimento de produção

do processo, como se pode verificar no gráfico da Figura 22.

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45

Figura 22 - Percentagem de Matéria-Prima Utilizada e Variação Percentual da Produção face à Matéria-Prima utilizada no

Processo, em cada Lote de Armazenamento de Biodiesel

Pela análise da Figura 22 não é possível inferir qual o efeito de cada tipo de matéria-prima no

rendimento de produção de biodiesel. De facto, as variações do rendimento de produção não

resultaram certamente da variação da composição e qualidade das matérias-primas, mas sim de outros

aspetos associados processo, que podem ter acontecido mesmo em misturas mais favoráveis. De

qualquer modo, será expectável que o aumento da incorporação de categoria 1, por exemplo, se possa

refletir em mais problemas na produção com a consequente diminuição do rendimento em biodiesel,

enquanto o aumento dos óleos alimentares usados terá efeito contrário. De salientar que a variação

percentual da contribuição de cada tipo de matéria-prima utilizada para a produção de biodiesel é muito

pequena.

Como foi referido, um dos objetivos deste trabalho foi o de tentar correlacionar a variação das

propriedades das matérias-primas com a quantidade e qualidade do biodiesel. Contudo, esta análise

não é fácil de efetuar porque cada batch de fabrico pode utilizar matérias-primas armazenadas em

diferentes tanques que, por sua vez, resultaram da mistura de várias cargas provenientes de diferentes

fornecedores em alturas diferentes. Por esta razão foi necessário em primeiro lugar efetuar uma análise

detalhada à informação existente na Enerfuel relativamente à descarga e análise das matérias-primas

desta unidade fabril.

Assim, além da informação que consta do ficheiro “Constituição de Lotes da Enerfuel” já referido,

foi analisado o ficheiro do Microsoft Excel “Planeamento de Entregas e Expedições da Enerfuel”, a par

com os diferentes relatórios de qualidade emitidos pelo laboratório acreditado SGS. Assim, com base

no ficheiro “Planeamento de Entregas e Expedições da Enerfuel” que apresenta uma folha com 4552

linhas e 7 colunas foi possível recolher informação acerca das datas de entrada de matéria-prima em

cada tanque, carga/quantidade e fornecedor associado.

Após análise dos ficheiros da unidade fabril procedeu-se à elaboração de um novo ficheiro

Microsoft Excel, para cada lote, contendo a descrição detalhada das matérias-primas utilizadas

[identificação (UCO, Categoria 1, Categoria 3), tanque, relatório da SGS, data de entrada na

fábrica/tanque e massa descriminada]. A informação deste ficheiro pode ser consultada no Anexo IV.

90

91

92

93

94

95

96

97

98

99

100

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Pro

dução/M

até

ria-P

rima (%

)Maté

ria-P

rim

a U

tiliz

ada (

%)

Lote de Armazenamento de Biodiesel

%Matéria-Prima Utilizada & %Produção/Matéria-Prima

UCO

Categoria 1

Categoria 3

Produção/Matéria-Prima

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46

No que diz respeito aos parâmetros de qualidade das matérias-primas, a Tabela 15 e Tabela 16

apresentam os valores recomendados pela BDI e os métodos de ensaio, respetivamente, para as

gorduras animais de categorias 1 e 3 e para os óleos alimentares usados.

Tabela 15 - Especificações exigidas pela BDI para as Gorduras Animais, Categorias 1 e 3

Propriedade Unidade Limite Máximo Método de Teste

Polímeros – Tipo Polietileno mg/kg (ppm) 50 ISO 6656:2002

Substâncias Insolúveis % (m/m) 0,15 ISO 663

Fósforo mg/kg (ppm) 100 ISO 10540-1:2003

Teor em Água % (m/m) 0,50 ISO 12937:2000

Ácidos Gordos Livres (FFA) % (m/m) 20,0 ISO 660:2009

Triglicéridos Polimerizados % (m/m) 0,50 ISO 16931

Teor em Enxofre mg/kg (ppm) 100 ISO 20846:2011

Matéria Insaponificável % (m/m) 2,0 ISO 3596:2000

Índice de Iodo g iodine/100g 120 ISO 3961

Tabela 16 - Especificações exigidas pela BDI para os Óleos Alimentares Usados

Propriedade Unidade Limite Máximo Método de Teste

Polímeros – Tipo Polietileno mg/kg (ppm) 50 ISO 6656:2002

Substâncias Insolúveis % (m/m) 0,15 ISO 663

Fósforo mg/kg (ppm) 20 ISO 10540-1:2003

Teor em Água % (m/m) 0,50 ISO 12937:2000

Ácidos Gordos Livres (FFA) % (m/m) 20,0 ISO 660:2009

Triglicéridos Polimerizados % (m/m) 10,0 ISO 16931

Teor em Enxofre mg/kg (ppm) 30 ISO 20846

Matéria Insaponificável % (m/m) 2,0 ISO 3596:2000

Índice de Iodo g iodine/100g 120 ISO 3961

Assim, posteriormente analisou-se individualmente cada relatório da SGS referido nas tabelas

do Anexo IV com vista à caracterização das diferentes matérias-primas. Para sintetizar toda a

informação, elaborou-se o documento apresentado no Anexo V que contém, para cada tipo de matéria-

prima, o método ISO, a especificação da BDI e os valores de cada parâmetro para as diferentes

matérias-primas, ou seja, polímeros tipo polietileno, substâncias insolúveis, fósforo, água, enxofre, FFA,

triglicéridos polimerizados, matéria insaponificável e índice de iodo.

Desta forma, a primeira tabela do Anexo V apresenta as propriedades dos óleos alimentares

usados recebidos pela Enerfuel sendo possível constatar que a maioria dos lotes estão dentro de

especificação em todos os parâmetros. De facto, em dez cargas recebidas pelos diferentes

fornecedores verificaram-se duas excedências nos teores em fósforo, água e enxofre e uma excedência

no teor em triglicéridos polimerizados e em matéria insaponificável. Uma das cargas recebidas excede

os valores recomendados em três parâmetros (água, enxofre e matéria insaponificável).

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A segunda tabela do Anexo V apresenta a qualidade das gorduras animais de categoria 1

recebidas pela Enerfuel. Das oito cargas analisadas todas apresentaram o teor em fósforo, enxofre e

matéria insaponificável fora de especificação. Os teores em polímeros tipo polietileno, água e FFA

estavam fora de especificação em um, três e cinco dos lotes, respetivamente. Estes resultados

evidenciam a importância de se efetuar um pré-tratamento às gorduras desta categoria.

Por último as terceira, quarta e quinta tabelas do Anexo V apresentam os resultados das análises

às gorduras animais de categoria 3. Dos trinta e dois boletins analisados é possível concluir que para

este tipo de gorduras os parâmetros mais problemáticos são os teores em fósforo, polímeros tipo

polietileno e triglicéridos polimerizados com mais do que dezasseis excedências. Deste modo, é

possível concluir que esta categoria de gordura animal também deverá ser pré-tratada.

5.2.2. Características das Matérias-Primas Utilizadas em cada Lote de Biodiesel

Produzido na Enerfuel

Depois de recolhida e verificada toda a informação apresentada nos Anexos III, IV e V, foi

decidido, de acordo com o objetivo, determinar a qualidade média das matérias-primas existentes em

cada tanque de armazenamento no início de cada ciclo de produção. Para tal, elaborou-se um ficheiro

no Microsoft Excel que permite efetuar os balanços de massa aos diversos parâmetros. Este balanço

de massa tem em conta as matérias-primas existentes nos tanques de armazenamento à data de início

de produção do lote, bem como as novas cargas de matéria-prima recebidas no tanque no decorrer do

processo de produção.

Assim, a média ponderada de um parâmetro num tanque de armazenamento de matérias-primas

é dada pelo quociente entre o somatório da multiplicação do valor do parâmetro e da carga individual

de cada relatório da SGS introduzido no tanque e o somatório das cargas contidas neste, de acordo

com (8).

𝑴é𝒅𝒊𝒂 𝑷𝒐𝒏𝒅𝒆𝒓𝒂𝒅𝒂 𝒏𝒖𝒎 𝑻𝒂𝒏𝒒𝒖𝒆 𝒅𝒆 𝑨𝒓𝒎𝒂𝒛𝒆𝒏𝒂𝒎𝒆𝒏𝒕𝒐𝒋

= ∑ (𝑣𝑎𝑙𝑜𝑟 𝑑𝑜 𝑝𝑎𝑟â𝑚𝑒𝑡𝑟𝑜 𝑥 × 𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 𝑖𝑛𝑑𝑖𝑣𝑖𝑑𝑢𝑎𝑙 𝑑𝑒 𝑖)𝑖=𝑟𝑒𝑙𝑎𝑡ó𝑟𝑖𝑜 𝑑𝑎 𝑆𝐺𝑆

∑ (𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 𝑡𝑜𝑡𝑎𝑙 𝑑𝑜 𝑡𝑎𝑛𝑞𝑢𝑒 𝑦)𝑖=𝑟𝑒𝑙𝑎𝑡ó𝑟𝑖𝑜 𝑑𝑎 𝑆𝐺𝑆

(8)

, onde 𝑖 varia entre o relatório da primeira carga recebida no tanque e o relatório da última carga

recebida no tanque, 𝑥 representa os parâmetros analisados para as diferentes matérias-primas e 𝑦

representa os tanques de armazenamento das diferentes matérias-primas.

Para cada lote de biodiesel produzido, as médias ponderadas dos parâmetros nos respetivos

tanques de armazenamento de matéria-prima podem ser consultadas no Anexo VI apresentam a

representação gráfica destes valores. De facto, os polímeros tipo polietileno, fósforo e enxofre são os

parâmetros mais problemáticos não só porque estão mais vezes fora de especificação, mas também

porque têm muita influência nos problemas que podem ocorrer no processo industrial (entupimentos,

etc), no rendimento mássico da unidade fabril e na qualidade do biodiesel.

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É importante referir que o cálculo das propriedades médias das matérias-primas dentro de cada

tanque no início de cada ciclo de produção não contabiliza o efeito do tempo de armazenamento. De

facto, por exemplo, é de esperar que o material insolúvel sedimente e que, como os tanques não são

agitados, a qualidade das matérias-primas dentro de cada tanque não seja homogénea.

As tabelas do Anexo VI permitem concluir que para os dez lotes de produção em estudo:

- a qualidade dos óleos alimentares usados no tanque de armazenamento variou pouco. De

facto, só foram descarregadas novas cargas na produção dos lotes 5 e 8 e estas apresentaram

propriedades semelhantes às dos óleos já armazenados;

- a qualidade da gordura animal de categoria 1 nos tanques de armazenamento variou pouco.

Contudo é possível concluir que o pré-tratamento efetuado apenas alterou os teores em triglicéridos

polimerizados, enxofre e matéria insaponificável, apesar destes valores ainda excederem a

especificação da BDI;

- a qualidade da gordura animal de categoria 3 nos tanques de armazenamento varia consoante

a ocorrência de novas descargas dos fornecedores durante a produção dos dez lotes.

Por outro lado, as figuras anteriores permitem também verificar que as variações ocorridas no

rendimento de produção traduzido pelo quociente entre a massa de biodiesel e a massa de matérias-

primas utilizadas, que varia entre 93,6% para o lote 1 e 99,7% para o lote 4, não estão diretamente

relacionadas com a maior ou menor quantidade de matéria-prima, na gama de variação existente. De

facto, por exemplo, para os lotes 7-9 que foram produzidos com 90% de matérias-primas dentro de

especificação em todos os parâmetros, a produção variou entre 95,0% e 98,9%. Contudo verifica-se

que os lotes 1 e 2 que tiveram o rendimento mais baixo (aproximadamente 94%) foram aqueles que

foram produzidos com a gordura animal de categoria 3, de pior qualidade. O aumento de produção

conseguido entre os lotes 2 e 3 (aproximadamente 4%) pode estar relacionado com a utilização de 80%

de gordura animal de categoria 3 dentro de especificação, isto é, de melhor qualidade. Claro que os

problemas que ocorrem em cada batch de produção dos lotes de biodiesel podem estar relacionados

com a qualidade das matérias-primas de lotes produzidos anteriormente, uma vez que podem ter

levado à formação de depósitos, entupimentos, paragens dos tricanter e decanter, entre outros.

Depois de caracterizadas todas as propriedades das matérias-primas em cada tanque e

conhecida a proporção de cada matéria-prima/tanque de armazenagem utilizada foi possível estimar

através de (9) os valores médios de todos os parâmetros analisados para o blending de matérias-

primas utilizado em cada lote. Os valores médios calculados e a sua representação gráfica são

apresentados no Anexo VII.

𝑴é𝒅𝒊𝒂 𝑷𝒐𝒏𝒅𝒆𝒓𝒂𝒅𝒂 𝒅𝒆 𝒖𝒎 𝑷𝒂𝒓â𝒎𝒆𝒕𝒓𝒐

=∑(%𝑴𝒂𝒕é𝒓𝒊𝒂−𝑷𝒓𝒊𝒎𝒂𝒋× 𝑀é𝑑𝑖𝑎 𝑃𝑜𝑛𝑑𝑒𝑟𝑎𝑑𝑎 𝑛𝑢𝑚 𝑇𝑎𝑛𝑞𝑢𝑒 𝑑𝑒 𝐴𝑟𝑚𝑎𝑧𝑒𝑛𝑎𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜𝑗)

𝑗

(9)

, onde 𝑗 varia consoante o tipo de matéria-prima (UCO, Categoria 1 e Categoria 3).

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5.2.3. Qualidade do Biodiesel Produzido na Enerfuel

Após destilação, o biodiesel é enviado para os tanques de qualidade onde são analisados quatro

parâmetros: glicerol livre, cloud point, estabilidade oxidativa e enxofre. Destes parâmetros, o glicerol

livre está relacionado com o processo de fabrico nomeadamente com a eficiência das operações de

lavagem enquanto os três restantes estão relacionados com o tipo de matéria-prima. De facto, o enxofre

no biodiesel, que só começou a ser analisado no lote 10, depende da existência ou não de enxofre nas

gorduras, enquanto o cloud point e a estabilidade oxidativa são maioritariamente dependentes da

composição em ácidos gordos das gorduras ou óleos alimentares usados.

Os resultados apresentados no Anexo VIII mostram que o glicerol livre esteve sempre dentro de

especificação e normalmente uma ordem de grandeza abaixo do máximo imposto pela EN

14214:2012+A1:2014/AC (0.02%) e, no lote 10 o biodiesel continha um teor em enxofre inferior ao

máximo de 10 ppm. Os valores obtidos para a estabilidade oxidativa indicam que é possível reduzir a

quantidade de aditivo utilizada porque, com exceção de um boletim que apresenta um valor inferior às

oito horas exigidas, todas as outras amostras apresentaram uma estabilidade oxidativa três a oito horas

superior ao imposto.

Posteriormente o biodiesel é enviado para os tanques de expedição e quando a capacidade

máxima destes é alcançada retira-se uma amostra para análise de modo a certificar o biodiesel para

posterior expedição da unidade fabril. No Anexo IX são apresentados os resultados dos parâmetros

analisados nos relatórios da SGS relativos à certificação de cada lote produzido. Neste caso são

analisados todos os parâmetros impostos pela EN 14214:2012+A1:2014/AC. Os resultados mostram

que, tal como seria de esperar para um biodiesel destilado, todos os parâmetros estão dentro de

especificação. De realçar o teor acima de 99% em FAME de todos os lotes. Por outro lado, é de realçar

o baixo índice de iodo do biodiesel ou os elevados valores de flash point e índice de cetano.

5.3. Análise de Componentes Principais da Influência da

Composição das Matérias-Primas na Capacidade de Produção

A Quimiometria é uma disciplina da Química que utiliza ferramentas estatísticas e matemáticas

multi-variáveis para obter informação relevante de problemas/processos químicos que são problemas

multi-variáveis (pressão, temperatura, composição das matérias-primas, condições de reação, etc.) e

multi-paramétricos (rendimento, pureza, teor em contaminantes, etc.) [51]. Na literatura estão descritas

diferentes técnicas quimiométricas aplicadas a diferentes processos mas nesta tese apenas se irá

descrever brevemente a análise de componentes principais que foi efetuada recorrendo ao software

Matlab Version 7.11 (MathWorks, Natick, MA, USA) e utilizando a PLS Toolbox Version 4.0 (Eigenvector

Research Inc., Manson, WA, USA) com base na metodologia proposta por Otto M. (1999) [52] e descrita

em Felizardo P. (2009) [51].

Assim, a Análise de Componentes Principais, do inglês “Principal Component Analysis” permite

a redução de dados a partir de combinações lineares das variáveis originais. Este tipo de análise é

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50

utilizada para identificar padrões e agrupar amostras semelhantes, sendo por isso muito útil numa

primeira etapa do estudo para obter informações relevantes de bases de dados mais ou menos

complexas.

Felizardo P. (2009) refere que “a Análise de Componentes Principais aplicada a uma matriz de

dados com m amostras e n variáveis constrói um novo conjunto de variáveis com as seguintes

características: as novas variáveis (componente principal, PC) são combinações das variáveis originais

e são independentes entre si, a primeira das novas variáveis capta a maior variância possível dos dados

originais e cada nova variável (PC) capta a maior variância possível não explicada pelo componente

anterior [51]. Assim, um modelo PCA decompõe a matriz de dados originais (com m amostras e n

variáveis) num produto de duas matrizes mais pequenas, designadas como scores (com m amostras e

k componentes principais) e loadings (com k componentes principais e n variáveis), onde k representa

o número de componentes principais necessários para descrever os dados.” Por outro lado, toda a

informação não capturada pelo PCA é armazenada na chamada matriz de resíduos - Figura 23 [52].

Figura 23 - Representação da Decomposição da Matriz de Dados Original por PCA [51]

Assim, estabeleceu-se uma matriz dos dados de produção para estabelecer o modelo de PCA.

Neste caso, as linhas da matriz representam os diferentes lotes de produção e as colunas apresentam

as diferentes variáveis ou propriedades médias determinadas por balanço de massa às matérias-

primas utilizadas em cada lote. A resposta analisada numa primeira fase foi a produção correspondente

a cada lote, calculada pelo quociente entre a massa de biodiesel produzido e a massa de matérias-

primas utilizadas.

É importante referir que os dados a analisar não podem ser normalmente utilizados diretamente

sem antes sofrerem um pré-tratamento. Existem diversos pré-tratamentos descritos na literatura para

dados do tipo deste modelo de PCA, para dados espectrais, etc. Neste caso, como os dados a tratar

apresentam dimensões muito diferentes, o pré-tratamento recomendado é o autoscaling ou

escalamento que centra a média dos valores no 0 e normaliza o desvio padrão para 1 [52].

A escolha do número de componentes principais a utilizar no modelo para descrever

convenientemente os dados originais é muito importante e os critérios estatísticos mais utilizados são:

escolher o número de PCs que conduzam a uma variância acumulada capturada superior a 90%

(algumas referências indicam 80%), só utilizar componentes principais com valores próprios iguais ou

superiores a 1 e/ou escolher o número de PCs que conduzam a um erro de validação cruzada mínimo

[52].

DADOS

m

n

SCORES

LOADINGS X

m

k

k

n

RESÍDUOS +

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51

No tratamento efetuado utilizou-se como método de validação cruzada o chamado leave one out.

Este método utiliza um processo iterativo que retira sucessivamente uma amostra do conjunto (leave

one out), construindo um modelo de calibração com as restantes amostras e prevendo o valor da

amostra não incluída no modelo. Este processo é repetido para todas as amostras sendo a média do

erro de previsão, calculado pela soma da raiz quadrada dos resíduos, denominada de erro médio de

validação cruzada (Root Mean Square Error of Cross Validation, RMSECV).

Após o estabelecimento do número de PCs do modelo com base num dos critérios acima

descritos, segue-se a eventual remoção de amostras outliers e a análise dos gráficos dos scores e dos

loadings.

Um outlier é uma amostra/ensaio cujos dados da propriedade a ser calibrada diferem dos da

maioria das amostras/ensaios pelo que a sua eliminação melhora o desempenho dos modelos. Existem

vários critérios para selecionar outliers tais como a análise do gráfico dos resíduos-Q versus os

Hotelling T2 em que as amostras que se situem no 4º quadrante do gráfico são outliers e a sua inclusão

no modelo tem que ser avaliada.

A análise dos gráficos de scores do, por exemplo, segundo componente principal (PC2) em

função do primeiro (PC1) permite identificar as semelhanças e diferenças das amostras ou ensaios,

verificando-se que amostras/ensaios semelhantes apresentarão scores semelhantes. Por outro lado,

nos gráficos de loadings os eixos variam entre -1 e 1 e as variáveis e resposta/s são representadas por

um vetor, sendo a importância de cada variável para a explicação da variação dos dados traduzida pelo

comprimento do vetor correspondente. Assim, quanto maior for o comprimento do vetor, maior será a

contribuição da variável para a variação dos dados. Por outro lado, vetores ortogonais representam

variáveis independentes, enquanto vetores que façam ângulos de 0º ou 180º representam

variáveis/propriedades diretamente ou inversamente proporcionais, respetivamente [51], [52].

A representação conjunta dos scores e loadings é também possível se os loadings forem

convenientemente escalados e sobrepostos no gráfico de scores. Nestes gráficos, apelidados de biplot,

a capacidade discriminatória das variáveis pode ser inferida a partir da direção dos loadings.

Por último é importante referir que a análise do PCA é mais útil quando se dispõe de uma

quantidade razoável de dados. Contudo neste caso só se estão a analisar dez lotes com um intervalo

de variação das propriedades reduzido. Além disso, a incerteza associada aos valores utilizados para

determinar os modelos (obtidos através dos balanços de massa realizados às matérias-primas) e a

reduzida gama de variação da maioria destes valores são outros aspetos negativos a ter em atenção.

Apesar destas limitações, optou-se por ilustrar as potencialidades desta metodologia para a

compreensão do processo de produção de biodiesel.

5.3.1. Modelo que Relaciona as Propriedades das Matérias-Primas e o Rendimento

de Produção

A análise de componentes principais à matriz de dados foi efetuada após pré-tratamento dos

dados por autoscaling e utilizando a metodologia de validação cruzada acima descrita. Os resultados

são apresentados na Figura 24. Como foi referido, um problema óbvio deste conjunto de dados que vai

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afetar a qualidade do modelo e a interpretação dos resultados é o estreito intervalo de variação dos

valores de cada propriedade.

Figura 24 - Modelo de PCA construído com as Propriedades das Matérias-Primas e o Rendimento de Produção

Tendo em consideração o que foi dito acima, optou-se por considerar o modelo com 2 PCs visto

que, apesar de se captar apenas 79% da variância dos dados, o terceiro e quarto componente

apresentam valores próprios inferiores a 1 e a sua introdução no modelo conduz a erros de validação

cruzada superiores (RMSECV: PC3-3,0529 e PC4-2,7645 versus PC2-2,7639). Assim, neste modelo,

o PC1 consegue captar 56,14% da variância dos dados e o PC2 23,09%.

Estabelecido o número de PCs do modelo, e visto que nenhum dos lotes foi identificado como

outlier, seguiu-se a análise dos gráficos de scores e de loadings apresentados na Figura 25.

Figura 25 - Modelo de PCA construído com as Propriedades das Matérias-Primas e o Rendimento de Produção (Lado

Esquerdo: gráfico de scores do PC2 vs PC1; Lado Direito: gráfico de loadings do PC2 vs PC1)

Analisando a Figura 25 - Lado Esquerdo, que classifica os dez lotes de produção em análise, é

possível distinguir quatro grupos formados por dois ou mais lotes de fabrico, apesar dos elementos do

mesmo grupo apresentarem alguma diferença nos respetivos scores, o que indica que a descriminação

não é muito clara. Os lotes 1 e 2 aparecem no 3º quadrante, os lotes 3 e 4 no 2º quadrante, os lotes 5-

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8 no 1º quadrante e os lotes 9 e 10 no 4º quadrante. Como foi referido acima, lotes com scores

semelhantes são semelhantes entre si. De referir que a análise do resíduos-Q para os diferentes lotes

mostra que os lotes 3 e 8 são os que apresentam maiores resíduos, ou seja, são pior descritos por este

modelo de PCA.

O gráfico de loadings apresenta a projeção das propriedades nos eixos dos componentes

principais e permite analisar a relação entre as variáveis. A escala dos eixos varia entre -1

(variáveis/resposta no seu valor mínimo) e +1 (variáveis/resposta no seu valor máximo) e o ponto (0,0)

representa as variáveis no seu valor médio. A Figura 25 - Lado Direito mostra que todas as variáveis

são importantes para o modelo visto que nenhum dos vetores coincide com a origem (0,0).

Analisando o vetor que traduz o rendimento de produção, verifica-se que o score no PC1 é de

cerca de 0,2 e no PC2 é de aproximadamente 0,4, ou seja, este vetor é maioritariamente descrito pelo

PC2. O teor em triglicéridos polimerizados e em FFA apresentam também valores elevados dos scores

no PC2. O gráfico mostra que as variáveis mais fortemente relacionadas com o rendimento de produção

são o índice de iodo e os triglicéridos polimerizados, com uma correlação direta, e os polímeros tipo

polietileno, com uma relação inversa. De facto, os vetores das duas primeiras variáveis estão também

no 1º quadrante e os ângulos por eles formados são pequenos, enquanto o vetor dos polímeros tipo

polietileno, que se encontra no terceiro quadrante, apresenta valores de loadings nos dois PCs

simétricos aos apresentados pelo rendimento em massa, mas o ângulo formado pelo prolongamento

do vetor para o 1º quadrante é reduzido. Este resultado parece indicar que maiores valores de índice

de iodo e do teor em triglicéridos polimerizados correspondem a maiores valores do rendimento de

produção, o que não deve acontecer na prática. De facto, não é expectável que haja grande influência

do índice de iodo das matérias-primas no rendimento de produção e, contrariamente ao obtido, é mais

razoável esperar que a um aumento do teor em triglicéridos polimerizados corresponda um menor

rendimento de produção, ou seja, os dois vetores deveriam estar em quadrantes opostos, tal como se

verifica para o vetor dos polímeros tipo polietileno. Esta relação anómala entre as variáveis e a resposta

está certamente relacionada com o reduzido número de lotes utilizados nesta análise e com a pequena

gama de variação das propriedades. Este problema afeta igualmente as outras propriedades que, com

exceção do teor em FFA, não estão tão correlacionadas com o rendimento de produção visto que os

vetores correspondentes fazem ângulos com o vetor do rendimento de produção mais próximos de 90º.

A Figura 25 permite também concluir que os vetores que traduzem a variação dos teores em

enxofre, matéria insaponificável e substâncias insolúveis das matérias-primas estão fortemente

correlacionados.

É também interessante analisar que propriedades contribuem para a diferenciação dos lotes.

Esta análise pode ser efetuada no chamado biplot apresentado na Figura 26.

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54

Figura 26 - Representação sobreposta dos scores (bolas a preto) e dos loadings (triângulos vermelhos) do PC2 vs PC1 (biplot)

para o Modelo de PCA construído com as Propriedades das Matérias-Primas e o Rendimento de Produção

De acordo com a Figura 26, a discriminação dos lotes 1 e 2 deve-se principalmente aos teores

em fósforo e polímeros tipo polietileno, os lotes 3 e 4 são descriminados devido aos teores em água e

FFA e para os lotes 9 e 10 os teores em enxofre, insaponificáveis e insolúveis são as variáveis

discriminatórias mais importantes.

Em conclusão, seria muito interessante estender este tipo de análise a todos os lotes produzidos

incluindo aqueles em que houve grande variação das propriedades.

5.3.2. Modelo que Relaciona as Propriedades das Matérias-Primas e do Biodiesel

As propriedades das matérias-primas e do biodiesel final apresentadas no Anexo VII e Anexo IX

constituem todos os dados disponíveis para o desenvolvimento dos modelos de PCA. Contudo, é

possível antecipar que algumas propriedades do biodiesel não deverão estar relacionadas com as

propriedades das matérias-primas mas sim com as condições processuais. É o que acontece com o

teor em água, dependente da eficiência do processo de secagem, ou mesmo com o teor em FFA. De

qualquer maneira, optou-se por efetuar a análise do PCA com todas as propriedades disponíveis e

estabelecer depois um segundo modelo só com as propriedades selecionadas de modo a identificar

claramente as relações entre propriedades que estes dados permitem observar. A metodologia utilizada

foi acima descrita.

5.3.2.1. Modelo PCA com Todas as Propriedades das Matérias-Primas e do Biodiesel

Disponíveis

Considerando todas as propriedades das matérias-primas e biodiesel estimadas ou analisadas

obteve-se o modelo apresentado na Figura 27 e tendo em conta a variação dos valores próprios, erros

de calibração e validação cruzada e a variância dos dados capturada optou-se por utilizar o modelo

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com quatro PCs. De facto, apesar de só ser possível capturar 90% da variância dos dados e obter um

valor próprio inferior a 1 com cinco PCs, a variação dos valores próprios é pequena do 4º para o 5º PC

e os erros do modelo com quatro PCs são inferiores.

Figura 27 - Modelo de PCA construído com Todas as Propriedades das Matérias-Primas e do Biodiesel Disponíveis

Assim, considerando o modelo com quatro PCs, obtêm-se um gráfico de scores e de loadings

do PC2 vs PC1 apresentado na Figura 28 e uma sobreposição destes scores e loadings apresentado

na Figura 29.

Figura 28 - Modelo de PCA com Todas as Propriedades das Matérias-Primas e do Biodiesel Disponíveis (Lado Esquerdo:

gráfico de scores do PC2 vs PC1; Lado Direito: gráfico de loadings do PC2 vs PC1)

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Figura 29 - Representação sobreposta dos scores (bolas a preto) e dos loadings (triângulos vermelhos) do PC2 vs PC1 (biplot)

para o Modelo de PCA construído com Todas as Propriedades das Matérias-Primas e do Biodiesel Disponíveis

O gráfico de scores do PC2 vs PC1 mostra que a análise da variação de todas as propriedades

das cargas e do biodiesel final separa os lotes 1 e 2 e, apesar de algumas diferenças nos scores,

agrupa os restantes oito lotes em três grupos: 3-4, 8-9 e 5-7 e 10. O gráfico da Figura 29 parece indicar

que o lote 2 é descriminado principalmente devido aos teores em polímeros tipo polietileno das

matérias-primas e índice de iodo do biodiesel (eixo negativo do PC2). O lote 1 também apresenta um

score negativo no PC1 relacionado com o teor em polímeros tipo polietileno, mas o teor em fósforo das

matérias-primas utilizadas é também muito importante para a sua descriminação.

O gráfico dos loadings da Figura 28 mostra que o teor em fósforo do biodiesel apresenta os

loadings nos dois PCs iguais a zero, ou seja, não contribui para o modelo, tal como se esperava tendo

em conta que têm o mesmo valor para todos os lotes. Por outro lado, comprova-se que o teor em FFA

das matérias-primas não está correlacionado com o teor em FFA do biodiesel (vetores ortogonais) pelo

que esta propriedade pode ser removida desta análise. Contrariamente, o enxofre do biodiesel está

correlacionado com o das matérias-primas e os teores em enxofre, matéria insaponificável e

substâncias insolúveis das matérias-primas estão fortemente correlacionados. O vetor dos triglicéridos

polimerizados é pequeno, o que indica que esta propriedade tem uma pequena variabilidade, e faz um

ângulo entre 90º e 180º com o vetor dos polímeros tipo polietileno o que indica que estas propriedades

apresentam alguma correlação.

Por outro lado, é sabido que o cloud point do biodiesel é influenciado pela maior ou menor

saturação das cadeias de ácidos gordos que o constituem, que é medida pelo índice de iodo. Contudo,

como já foi referido, as amostras de biodiesel são analisadas após aditivação para controlar a

estabilidade oxidativa podendo o cloud point ser também afetado, mas Yamane, Koji et al. (2013)

referem que a aditivação de biodiesel para controle da estabilidade oxidativa não alterou o cloud point

[53]. De qualquer maneira, os resultados obtidos indicam que, de acordo com o esperado, o cloud point

das amostras de biodiesel para expedição é quase inversamente proporcional ao índice de iodo do

biodiesel final (vetores fazem quase um ângulo de 180º).

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57

5.3.2.2. Modelo PCA com as Propriedades Selecionadas

O conhecimento do processo e as Análises de Componentes Principais anteriores permitem

selecionar quais os parâmetros de qualidade que podem ser retirados do PCA e construir uma nova

matriz de dados para estabelecer os novos modelos. Assim, desenvolveu-se um modelo com seis

propriedades das matérias-primas (polímeros tipo polietileno, substâncias insolúveis, fósforo,

triglicéridos polimerizados, enxofre e índice de iodo) e quatro propriedades do biodiesel (contaminação

total, enxofre, índice de iodo e cloud point) e, devido ao facto das amostras de biodiesel estarem

aditivadas, um outro modelo no qual se retirou o cloud point da análise.

Utilizando os critérios anteriormente descritos, no modelo com o cloud point foram escolhidos

três PCs que permitiram capturar 86,69% da variância da matriz de dados e a Figura 30 apresenta o

gráfico dos scores e dos loadings sobrepostos para o novo modelo. Assim, apesar da retirada de

algumas propriedades das matérias-primas e do biodiesel, o gráfico de scores ou agrupamento dos

lotes é semelhante. Quando se considera o cloud point na análise, a separação dos lotes 1 e 2 para

valores mais negativos dos scores do PC1 face aos restantes lotes deve-se ao teor em polímeros tipo

polietileno das matérias-primas. De facto, o vetor correspondente ao teor em fósforo das matérias-

primas também aparece no 2º quadrante com scores negativos no PC1, o que indica que os lotes neste

quadrante devem distinguir-se dos restantes também devido ao teor em fósforo das matérias-primas,

como de facto se verifica.

O quadrante onde se encontram os lotes 5, 6 e 10 coincide com o quadrante dos valores

superiores das substâncias insolúveis nas matérias-primas e da contaminação total do biodiesel, e

mostra que estes parâmetros estão fortemente correlacionados. Analisando os dados apresentados no

Anexo VII verificamos que, de facto, o biodiesel destes três lotes apresentou os valores mais elevados

de contaminação total, que o modelo de PCA mostrou estar correlacionado com a percentagem de

substâncias insolúveis nas matérias-primas.

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Figura 30 - Representação sobreposta dos scores (bolas a preto) e dos loadings (triângulos vermelhos) do PC2 vs PC1 (biplot)

para o Modelo de PCA construído com as Propriedades das Matérias-Primas e do Biodiesel Selecionadas incluindo o cloud

point

Relativamente à relação entre as propriedades das matérias-primas e do biodiesel final, o gráfico

de loadings da Figura 30 mostra que o teor em polímeros tipo polietileno e triglicéridos polimerizados

nas matérias-primas não estão correlacionados (ângulo dos vetores é aproximadamente 90º). Por outro

lado, apesar das amostras de biodiesel analisadas estarem aditivadas, mantém-se a relação esperada

entre o cloud point e o índice de iodo das amostras de biodiesel final, ou seja, os vetores

correspondentes fazem um ângulo de 180º indicando que as propriedades são inversamente

proporcionais, estando o cloud point diretamente correlacionado com a contaminação total do biodiesel.

Além disso, o lote 4 está próximo do vetor cloud point o que indica que esta propriedade é a que permite

a distinção deste lote que apresenta de facto um cloud point mais elevado. Por último, o teor em enxofre

das matérias-primas e do biodiesel estão relacionados na medida em que apresentam vetores com

norma semelhante e ângulo próximo de zero, quase coincidentes. Por outro lado, os vetores que

traduzem os loadings do índice de iodo das matérias-primas e do biodiesel não fazem um ângulo zero

como seria de esperar o que, para além dos erros associados às estimativas das propriedades, pode

estar relacionado com alterações do índice de iodo do biodiesel analisado devido à aditivação.

A Figura 31 abaixo apresenta os resultados do modelo efetuado excluindo o cloud point. Neste

modelo, os lotes 1 a 4 permanecem nos quadrantes com os scores de PC1 negativos, tais como os

vetores dos polímeros tipo polietileno e fósforo que são por isso as propriedades que distinguem estes

quatro lotes dos restantes. Por outro lado, quando se exclui o cloud point, o lote 10, que nos modelos

anteriores apresentava scores próximos dos lotes 5 e 6, é agora completamente descriminado devido

à contaminação total do biodiesel que deve ser superior à dos restantes lotes. A Figura 31 mostra

também que a contaminação total do biodiesel está correlacionada com as substâncias insolúveis nas

matérias-primas visto que estes vetores fazem um ângulo agudo.

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Neste modelo, os lotes 5 e 6 têm scores mais próximos dos lotes 7 e 9 devido às substâncias

insolúveis nas matérias-primas, enxofre e índice de iodo nas matérias-primas e biodiesel.

Figura 31 - Representação sobreposta dos scores (bolas a preto) e dos loadings (triângulos vermelhos) do PC2 vs PC1 (biplot)

para o Modelo de PCA construído com as Propriedades das Matérias-Primas e do Biodiesel Selecionadas excluindo o cloud

point

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6. Conclusões

Esta dissertação de mestrado teve como principal objetivo o estudo da influência da qualidade

das matérias-primas no processo de produção de biodiesel da Enerfuel e permitiu aprofundar os

conhecimentos sobre a temática dos biocombustíveis, particularmente do biodiesel.

O biodiesel apesar de ser a melhor alternativa ao diesel, tem como maior entrave o custo elevado

quando comparado com o diesel convencional. Este custo elevado deve-se à conjugação entre o custo

de aquisição das matérias-primas e do investimento afeto à tecnologia de produção utilizada.

O objetivo do trabalho foi o de tentar correlacionar as propriedades das matérias-primas com a

capacidade de produção e com as propriedades do biodiesel produzido. Todavia existiram algumas

dificuldades tais como: a reduzida amostragem de lotes que limita a gama de variação dos parâmetros

em estudo, o reduzido número de parâmetros analisados nas amostras dos tanques de qualidade do

biodiesel, a inexistência de análises ao biodiesel não aditivado e, entre outros, a incoerência de alguns

valores consultados nos ficheiros da unidade industrial.

Apesar destes problemas, este trabalho permitiu estabelecer a metodologia mais adequada para

estimar: a composição média das matérias-primas armazenadas em cada tanque no início da produção

de cada lote, a composição do blending de matérias-primas utilizadas em cada lote e, por

consequência, verificar a relação entre as propriedades das matérias-primas e do biodiesel. Para tal,

foram desenvolvidos ficheiros no Microsoft Excel que podem passar a ser utilizadas pela Enerfuel para

efetuar a programação de novos lotes de fabrico e/ou analisar eventuais problemas.

No início começou por se avaliar a validade da simulação do processo da Enerfuel à escala

laboratorial. Para tal, foram efetuados dois ensaios de produção de biodiesel a partir de uma gordura

animal de categoria 3 com um teor em FFA inicial de 9,7 %. Na etapa de esterificação com metanol e

ácido sulfúrico, o teor em FFA reduziu no 1.º e 2.º ensaios para, respetivamente, 1,8% e 0,7%. Seguiu-

se a transesterificação, lavagem e secagem do biodiesel. No final, o teor em FAME do biodiesel foi de

90,9% e 93,9%, que são comparáveis aos valores entre 88,9% e 92,7% das amostras de biodiesel não

destilado da Enerfuel.

No que diz respeito às matérias-primas utilizadas na Enerfuel, é possível concluir através da

análise dos relatórios da SGS referentes às dez cargas de óleos alimentares usados recebidos que a

maioria das cargas estão dentro de especificação, em todos os parâmetros. Relativamente às gorduras

animais de categoria 1 recebidas, foi possível verificar que as oito cargas recebidas dos fornecedores

apresentaram o teor em fósforo, enxofre e matéria insaponificável fora de especificação e, os polímeros

tipo polietileno, a água e os FFA estavam fora de especificação em um, três e cinco dos lotes,

respetivamente. Por último, dos trinta e dois boletins de análise das gorduras animais de categoria 3

analisados é possível concluir os parâmetros mais problemáticos para este tipo de gorduras são os

teores em fósforo, polímeros tipo polietileno e triglicéridos polimerizados com mais do que dezasseis

excedências.

As matérias-primas recebidas na Enerfuel são encaminhadas para os tanques de

armazenamento até serem utilizadas na produção dos lotes. Assim, a qualidade dos óleos alimentares

usados no tanque de armazenamento variou pouco. Por outro lado, a qualidade da gordura animal de

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categoria 1 armazenada nos tanques variou pouco. Quanto à gordura animal de categoria 3 verificou-

se que a qualidade nos tanques de armazenamento varia com a introdução de novas cargas nos

tanques. Os balanços efetuados permitem concluir que quando se utilizou gordura animal de categoria

3 de melhor qualidade (lotes 4-8 e 10), teria sido possível incorporar mais gordura animal de categoria

1.

Da análise aos balanços de massa efetuados, os polímeros tipo polietileno parecem ser o

parâmetro mais problemático visto que os lotes 1 e 2, com rendimento de produção mais baixos,

corresponderam aos lotes em que o valor médio deste parâmetro no blending de matérias-primas

esteve acima do limite de especificação.

Apesar do número de lotes analisado ser reduzido e da reduzida gama de variação e erros

associados à determinação de alguns dos valores, com o intuito de facilitar a identificação das possíveis

relações entre os parâmetros de qualidade das matérias-primas e a resposta do sistema em termos de

propriedades do biodiesel e rendimento de produção, efetuou-se uma Análise de Componentes

Principais (PCA). Assim, num dos modelos tentou-se correlacionar as propriedades das matérias-

primas com o rendimento de produção, enquanto noutros modelos se tentou identificar a relação entre

as propriedades das matérias-primas e do biodiesel.

O modelo de PCA com o rendimento de produção mostrou que as variáveis que estão mais

fortemente relacionadas com este parâmetro são o índice de iodo (correlação direta) e os polímeros

tipo polietileno (correlação inversa). Além disso, os lotes 1 e 2 são descriminados dos restantes devido,

principalmente, aos teores em fósforo e polímeros tipo polietileno, os lotes 3 e 4 são descriminados

devido aos teores em água e FFA e nos lotes 9 e 10 os teores em enxofre, matéria insaponificável e

substâncias insolúveis são as variáveis discriminatórias mais importantes.

O conhecimento do processo de produção de biodiesel permitiu selecionar os parâmetros de

qualidade das matérias-primas e do biodiesel que deveriam ser estudados numa nova análise de PCA.

Esta análise permitiu concluir que o teor em enxofre das matérias-primas e do biodiesel estão

relacionados e que a contaminação total do biodiesel está correlacionada com as substâncias

insolúveis das matérias-primas. Por outro lado, apesar das amostras de biodiesel analisadas estarem

aditivadas, verificou-se, como seria de esperar, o cloud point e do índice de iodo das amostras de

biodiesel final são inversamente proporcionais. Além disso, o cloud point está diretamente

correlacionado com a contaminação total do biodiesel. Porém, o índice de iodo do biodiesel parece ser

afetado pela aditivação visto que o vetor não é colinear com o índice de iodo das matérias-primas.

Como trabalho futuro sugere-se a elaboração de um software de monitorização contínua que

permita, através da análise dos relatórios da SGS das matérias-primas contidas em cada tanque de

armazenamento e do balanço de massa, ajustar com mais confiança o blending de matérias-primas a

utilizar com base na previsão dos valores dos parâmetros que mais afetam a qualidade do biodiesel

produzido. Seria também interessante estender a análise aos parâmetros operatórios utilizados em

cada ciclo de produção (quantidade de catalisadores, metanol, temperaturas, etc). Sugere-se também

a inclusão de um novo local de amostragem após a etapa de destilação do FAME e antes da aditivação

do biodiesel de modo a efetuar a otimização da quantidade de aditivo para controle da estabilidade.

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