infância e educação, na teoria educacional de john dewey
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INFÂNCIA E EDUCAÇÃO, NA TEORIA EDUCACIONAL DE
JOHN DEWEY - UMA ANÁLISE DA DIFUSÃO DE SUAS OBRAS
NO BRASIL APÓS O MANIFESTO DOS PIONEIROS DA ESCOLA
NOVA (1932-1964)
Autora: Michele Varotto
UFSCar (Universidade Federal de São Carlos)
Agência de Financiamento: CNPQ
Co – Autora: Alessandra Arce
UFSCar (Universidade Federal de São Carlos)
RESUMO
John Dewey, um dos grandes nomes da Pedagogia Contemporânea deixou um
legado educacional muito amplo no qual procura estabelecer uma educação ativa com o
preceito de que a escola se traduz por uma “sociedade em miniatura”. Este projeto
pretende, então, investigar a partir das obras divulgadoras de suas idéias educacionais,
como Dewey pensava a educação para as novas gerações, procurando compreender o
impacto das mesmas no movimento da Escola Nova brasileira, iniciado com o
Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova em 1932, cujos maiores nomes são: Anísio
Teixeira, Lourenço Filho e Fernando de Azevedo. Para tanto se destacarão suas
concepções de infância e educação.
PALAVRAS-CHAVE: Dewey; História das Idéias Pedagógicas; Escola Nova.
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OBJETIVOS:
Analisar através da coleção “Atualidades Pedagógicas” a divulgação das
idéias educacionais de John Dewey.
Analisar as concepções de educação e infância presentes nas obras de
Dewey divulgadas por meio da coleção mencionada.
Compreender a divulgação das concepções educacionais e de infância de
Dewey inseridas no Movimento das Escolas Novas brasileiro, buscando-se apreender o
movimento histórico-social e político da mesma.
METODOLOGIA:
Este projeto toma como guias metodológicos os mesmos utilizados no projeto de
nossa orientadora. Tendo, assim como princípios os mesmo de Saviani (2007:1-22) o
qual detalha o posicionamento fundamental para uma pesquisa dentro de uma
perspectiva histórico-crítica das idéias pedagógica, com isso os preceitos teórico-
metodológicos que tomo como norteadores deste trabalho são:
1. Caráter concreto do conhecimento histórico-educacional: isto é, a
construção de sistemas explicativos que em categorias mais concretas reproduzem o
conhecimento da realidade investigada, ou seja, é partir do todo por meio da análise
para se chegar à síntese, o que consiste na reconstrução, por meio de ferramentas
conceituais, das relações e determinações que caracterizam a educação como fenômeno
concreto, demonstrando o quanto o objeto de estudo (as concepções de infância, e
educação de Dewey) estão expressas na complexidade das relações e determinações
presentes na sociedade de sua época.
2. Perspectiva de “longa duração”: o trabalho com as idéias de Gramsci, neste
ponto, segundo Saviani (2007) é muito importante para que se possam distinguir os
movimentos orgânicos conjunturais dos estruturais, para se captar as mudanças
ocorridas é necessário abranger um período longo da história. No caso deste projeto
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trabalharemos de 1932 a 1964, para que possamos apreender o movimento de difusão
das idéias de Dewey.
3. Olhar analítico-sintético no trato com as fontes: “que implica o
levantamento e exame das informações disponíveis, abrangendo as suas diversas
modalidades e articulando-as sincrônica e diacronicamente de modo que não deixe
escapar as características e o significado do fenômeno investigado.” (SAVIANI, 2007,
p.4).
4. Articulação do singular e do universal: aqui se tem o empenho em
encontrar uma relação entre o local, nacional e internacional, trata-se de detectar qual o
grau em que o nacional e o local constituem expressões de tendências que se impõem
internacionalmente.
5. Atualidade da pesquisa histórica: é a consciência de que toda investigação
histórica é interessada, para tanto o impulso é provocado pela necessidade de resposta a
alguma questão que nos interroga no presente. Trata-se, então, da consciência de que o
presente está fortemente enraizado no passado, ou seja, para que se entenda o presente é
necessária à compreensão de suas raízes. Foi à necessidade de compreender mais ampla
e profundamente as concepções de infância e educação de Dewey, para entender suas
influências no movimento escolanovista brasileiro que me levou a realizar este projeto.
Assim, um trabalho que vise estudar a história das idéias pedagógicas deverá
enfrentar uma questão teórica, o território historiográfico, Saviani (2007) atenta para o
fato de que esse estudo permite o entendimento das idéias educacionais (idéias referidas
a análise dos fenômenos educativos que visam explicá-los pela concepção de homem,
mundo ou sociedade), já que encaram o movimento educacional que constitui a própria
prática educativa. Uma advertência pelo autor, pautada nos ideais de Gramsci, é de que
os critérios metodológicos devem se conduzir não na busca de uma relação entre o que é
orgânico e o que é ocasional, já que isto se constitui em um nexo de difícil movimento,
mas sim no exame dos fatos históricos concretos o que se faz algo muito mais didático e
produtivo, pois a história é um processo que necessita ter seu movimento reconstruído
pelo historiador.
3
Para realização deste projeto estou fazendo o levantamento bibliográfico das
obras da coleção “Atualidades Pedagógicas” existentes no acervo da Escola Estadual
Dr. Álvaro Guião, bem as bibliografias no campo da História da Educação brasileira
para que possamos compreender e apreender a divulgação das idéias de Dewey no
contexto da Escola Nova brasileira. Também recorremos às obras do próprio Dewey
necessárias para a compreensão das idéias divulgadas na coleção. Estamos, também,
selecionando o material a ser lido e analisado, e a partir disso realizando reuniões
periódicas com minha orientadora para discussão das concepções que estão nestas obras
relacionadas à infância e educação.
INTRODUÇÃO E PROBLEMÁTICA
O presente trabalho é parte do projeto de pesquisa de minha orientadora
intitulado: A idéias Pedagógicas em movimento na Formação de Professores na Escola
Estadual Dr. Álvaro (1930-1969): uma análise de seu acervo bibliográfico e
documental. Pretende-se contribuir com a investigação a ser realizada no âmbito do
estudo das idéias Pedagógicas no Brasil analisando-se a difusão de pensamento de John
Dewey, em especial de sua concepção de infância e educação.
Este projeto, então, por meio da leitura dos livros publicados na coleção
Atualidade Pedagógicas, da Companhia Editora Nacional, no período de 1932 a 1964,
analisa a divulgação no Brasil das obras e idéias educacionais de Dewey, procurando
historicizar criticamente a difusão dessas idéias no contexto da difusão do movimento
escolanovista entre os educadores brasileiros.
O período histórico delimitado tem como marco inicial o lançamento do
“Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova” (1932) e como marco final o golpe militar
de 1964. Trata-se de um período de grande difusão do ideário escolanovista no Brasil.
Intelectuais brasileiros com Anísio Teixeira, Lourenço Filho e Fernando de Azevedo
publicavam suas obras e, concomitantemente, a Companhia Editora Nacional traduzia e
publicava as principais obras internacionais que visavam difundir os ideais
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escolanovista. Os trabalhos de John Dewey são o foco deste estudo, já que este teve
uma grande importância enquanto intelectual para a educação, em especial para o Brasil
e para a América.
O filósofo John Dewey, nasceu no ano de 1859 na cidade de Burlington no
Estado de Vermont, o qual se encontrava, neste período, dentro de uma região
denominada Nova Inglaterra composta por seis estados dentre eles Vermont, que se
localizava no extremo leste dos EUA, e contava com um grande desenvolvimento
industrial, exceto Vermont que ainda se caracterizava com contrastes agrícolas aliado às
atividades industriais domésticas. Isto favorecia uma oferta de trabalho a todos seus
habitantes. Dewey era filho de um dono de armazém, sua família acreditava que as
crianças deveriam fazer pequenas tarefas para se tornarem responsáveis, a crença
religiosa de seus familiares era o protestantismo congregacionalista o qual pregava
autonomia a cada comunidade, assim como a vida em solidariedade, estes foram fatores
de grande influência na vida de Dewey, e que embasaram suas idéias pedagógicas, já
que este viveu preceitos democráticos e igualitários em sua comunidade de origem.
Aos quinze anos de idade, Dewey ingressou na Universidade de Vermont onde
cursou Fisiologia, ali se encantou pela teoria darwinista apresentada nas idéias de
Huxley, e com isso, passou a desejar que o mundo fosse organizado conforme o
organismo humano. Por isso, acabou se despertando para a filosofia, e em 1882
ingressou na Universidade de Johns Hopkins na qual se inclinou para os estudos
filosóficos, já com vinte e três anos. Nesta instituição entrou em contato com a filosofia
de Hegel na qual encontrou elementos que completavam seus anseios na busca de uma
unidade orgânica no mundo. Neste momento a nação norte-americana, é marcada pelo
fim da guerra civil e o desenvolvimento da indústria e do comércio, fatores estes que
tiveram grande influência no pensamento deweyano.
A partir de 1884, Dewey iniciou sua carreira profissional na Universidade de
Michigan na qual permaneceu até 1894 que era marcada por um ambiente democrático,
com incentivo a liberdade e a responsabilidade dos jovens diante da educação, e se
integrou em um projeto em que procurava aproximar dos estudantes secundaristas, com
isso propunham visitas dos professores aos colégios. Para tanto, havia um clube de
professores que organizava temas sobre os mais diversos destinados a estas visitas, o
que foi fundamental para que ele formasse seu pensamento, já que tinha um grande
receio em relação a sua escolarização, que considerava como desinteressante e sem
nenhum estímulo.
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Nos dois anos seguintes, em 1886, Dewey casou-se com Alice Chipman, a qual
por ser criada pelos avós teve uma educação em que a liberdade de opinião era
incentivada, e a posição crítica a realidade social também, isto influenciou Dewey que
passou a se envolver diretamente com os problemas sociais que o envolviam.
Em 1890, Dewey teve um contato muito próximo com as idéias de Mead, um
dos professores da Universidade de Michigan que acreditava que o cérebro tinha a
função de regular às relações do organismo com a vida, Dewey a partir disso, formulou
a idéia de que a mente é encarregada de mediar às relações entre ambiente e organismo.
Ao ler as idéias de James “Princípios da Psicologia (1890)” o qual afirma que a
consciência é descrita como uma continuidade, como um processo, Dewey acabou por
tomar esses escritos como bibliografias para seus alunos.
Mead e James sustentavam a tese em suas obras de que a mente era a
responsável por mediar o organismo com o meio. Estes pensadores em união com John
Dewey e Charles S. Peirce, após vivenciarem o avanço das experiências tecnológicas e
sociais, na tentativa da construção de um sistema democrático que ocorrem na nação
estadunidense no final do século XIX início do XX, tiveram a certeza de que a
inteligência e a energia humana seriam capazes de por meio de uma ação alterar os
limites da condição humana, como uma ferramenta para que o homem tivesse condições
de agir sobre as ações adversas do meio.
Esses ideais os levaram a formulação de um movimento filosófico denominado
de pragmatismo o qual teve grande repercussão na nação norte-americana, e é
considerado como o propulsor do desenvolvimento do país na formação do espírito de
seu povo. Os princípios básicos desta escola pragmática são:
(...) o pensamento e a ação devem formar um todo indivisível, o que implica tratar qualquer formulação teórica como hipótese ativa que carece de demonstração em situação prática de vida; as constantes transformações sociais fazem com que a realidade não constitua um sistema acabado e imutável; a inteligência garante ao homem capacidade para alterar as condições de sua própria experiência. Para os pragmatistas, o terreno em que se dá à transmissão do conhecimento, particularmente a escola, pode tornar-se um campo fértil de experimentação de teses filosóficas. (CUNHA, 2002, pág. 19-20).
Com essa concepção de uma filosofia com aplicação social, Dewey foi para a
Universidade de Chicago em 1894, que em pouco tempo organizou um ensino de uma
escola elementar, a qual contou com as aplicações de suas idéias, tanto na questão
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filosófica quanto na psicológica, ambas voltadas à educação. Esta instituição se
caracterizava como um laboratório de ensino que permitia a liberdade de ação e a
criação de novos métodos e técnicas pedagógicas.
Ainda em Chicago, Dewey contou com a influência de dois importantes
sustentáculos, assim denominado por Cunha (2002), um era o jurista Oliver W. Holmes,
e o outro era o professor Francis W. Parker, os quais mesmo pertencentes a uma geração
antecedente, mas que mesmo assim, tiveram grande impacto nas iniciativas pedagógicas
de Dewey em Chicago. Holmes partia do princípio que o liberalismo por confiar no
caráter experimental e na liberdade de pensamento se constituía na força que orientava a
ação humana, os quais coincidiram com a premissa inovadora de Dewey e com a
trajetória liberal dos Estados Unidos. Já Parker disse que cabia ao mestre ter uma
relação subjetiva com seus discípulos, pois isto garantiria um clima de liberdade, e um
ambiente agradável. A estadia em Chicago não termina por aí, neste Estado ele ainda
teve contato com Jane Adams, fundadora de uma casa de assistência social “Hull
House” na qual Dewey conviveu por algum tempo, e que tinha por base a relação
democrática e recíproca de auxílio. Que também influíram ao pensamento deweyan,
segundo Cunha (2002).
Em 1904, o filósofo deixa a Universidade de Chicago, por discordâncias frente a
sua escola-laboratório que dirigia, após ter permanecido lá por dez anos, período
considerável em que acabou por formar uma sociedade embrionária a qual deveria
constituir a escola, premissa muito defendida por ele. Nesse tempo em que permaneceu
em Chicago, Dewey, escreveu diversas obras que contam com suas idéias educacionais
expressas, dentre elas: “Meu Credo Pedagógico” (1897); “Escola e Sociedade” (1899);
“A Criança e o Currículo” (1902) e “A situação Educacional” (1902).
Em 1905 foi para a Universidade de Colúmbia na qual permaneceu até 1930,
nesta instituição inclinou seus estudos para a lógica e a epistemologia para esclarecer
suas idéias educacionais, a partir disso produziu mais obras, como “Democracia e
Educação” (1906); “Ensaios sobre a lógica experimental” (1916); “Reconstrução em
Filosofia” (1920); “Experiência e Natureza” (1925) e “A busca da certeza” (1929).
(CUNHA, 2002, p. 22)
Para Dewey, viver é ser ativo, é esforçar-se para a adaptação ao ambiente, e o
cérebro deve intermediar a interação organismo-meio. Tal idéia partiu do pressuposto de
que a filosofia deve estar embasada numa psicologia do desenvolvimento biológico e
não fragmentos destinados à mente, cuja tarefa era montar um mosaico com retenção e
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associação destes ideais. Neste raciocínio, Dewey, afirma que o ser vivo é capaz de
moldar as suas ações, quando se identifica intelectualmente com os elementos a sua
volta, e isto de forma ativa, pois “o organismo (...) age sobre o meio ambiente, de
acordo com sua própria estrutura, simples ou complexa.” (idem, pág. 30). Em primeiro
de Junho de 1952, com noventa e dois anos de idade, Dewey vem a falecer.
Luzuriaga (1961) faz uma análise histórica do Movimento da Escola Nova
mundialmente, e ao remeter sobre sua atuação na América, afirma que o fundador
teórico de toda educação ativa foi John Dewey, o qual teve influências da filosofia de
Hegel e iniciou o movimento ativista que influenciou Kerschensteiner. John Dewey e
Georg Kerschensteiner têm suas idéias unidas intimamente, mesmo por caminhos
distintos, mas que pregam sem dúvida a reflexão teórica em união à ação educativa.
Dewey se embasa na filosofia e na psicologia e aplica suas idéias em sua escola
primária universitária de Chicago, e Kerschensteiner cria em Munique, Escolas do
trabalho. Estes pedagogos, portanto, impulsionam todas as demais idéias ativas para a
educação.
Dewey, entretanto, não deixa em suas obras uma única definição para sua
concepção de atividade educativa, mas sim, várias que se desenvolvem ao longo de suas
idéias. Em algumas obras, como em “Meu credo pedagógico”, nota-se que ele adota
uma posição bem mais psicológica em relação ao aspecto ativo, pois afirma que o
aspecto ativo faz parte da natureza da criança, e vem primeiro que o passivo é produzido
antes das sensações conscientes e estas são essencialmente motoras e impulsivas, ou
seja, o consciente se projeta em ação. Mas ao mesmo tempo não desconsidera o papel
social e vital da atividade na educação, o que faz com que ele leve para suas escolas as
denominadas “ocupações ativas”, definidas por ele como: “uma oportunidade para
afiliar-se a vida, para chegar a ser um ambiente natural da criança, em vez de ser um
lugar onde se aprendem lições que não têm uma abstrata e remota referência a alguma
vida possível que há de realizar no porvir.” (LUZURIAGA, 1961, pág. 33).
Já em sua obra “Democracia e educação”, Dewey, coloca a idéia de atividade em
união com a experiência, ou seja, as relações ativas que existem entre o ser humano e
seu ambiente natural e social. Assim a educação, deve se constituir como um meio que
conduza em seu ambiente a aquisição de idéias importantes para que o aluno aprenda
com seu interior. Em contrapartida, em sua obra “Experiência e educação”, ele afirma
que existe uma ligação orgânica entre educação e experiência pessoal, e ainda, diz que
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algumas experiências podem não ser educativas, as quais são responsáveis por barrar o
desenvolvimento das experiências no interior.
As diversas obras literárias de Dewey, dentre as quais algumas foram citadas
acima, podem ser classificadas como uma contribuição para a renovação dos modelos
arcaicos e rotineiros da educação, como afirma Cunha (2002), pois toda a preocupação
desse filósofo se volta para relacionar a vida extra-escolar infantil com a escolar, de
modo a promover um ensino que corresponda ao programa escolar, mas que tenha de
fundo as experiências e ocupações diárias dos mesmos, com uma atenção ao
desenvolvimento de cada um, assim como o despertar do sentimento de colaboração no
trabalho em grupo, pois para Dewey, as escolas devem se constituir em “comunidades
embrionárias” ou “sociedades em miniatura”, as quais têm a missão de reproduzir,
depurar e perfeccionar a vida social extra-escolar. A escola, nesta perspectiva, deve ter
um sentido pedagógico com introdução de atividades e experiência educativas que
façam parte da vida exterior ao ambiente escolar e, com isso tenha mais sentido a vida
do educando, formando este para uma atuação efetiva na sociedade em que vive.
Dewey apresenta em suas obras uma visão do sujeito na qual este é moldado
pelo meio a partir de suas características específicas para que consiga sua adaptação ao
ambiente em que vive de forma ativa, pois segundo ele, o indivíduo se adequa conforme
as necessidades para a vida naquele meio, ou seja, o ser é todo modelado por sua
interação com o meio. Procura-se, então, por meio dessa pesquisa analisar as
contribuições de sua teoria educacional para o campo pedagógico, as quais tiveram
grande influência, especialmente no território brasileiro pelos escolanovistas, cujos
maiores nomes são: Anísio Teixeira, Lourenço Filho e Fernando Azevedo que trazem as
idéias desse filósofo para o Brasil com o intitulado Manifesto dos Pioneiros no ano de
1932.
Para melhor compreensão, é importante contextualizar esses grandes nomes
escolanovistas, ou como Saviani (2007) afirma a “trindade cardinalícia do movimento
brasileiro da Escola Nova”, que durante suas tantas cartas trocadas mostram claramente
suas concepções educativas.
Manuel Bergstron Lourenço Filho, nasceu em 10de março de 1897 em Porto
Ferreira. Estudou na Escola Normal Secundária da Praça da República em São Paulo,
em 1916, sendo nomeado professor de psicologia e pedagogia em Piracicaba. Lecionou
como na Escola Normal do Ceará nos anos de 1922 e 1923. Passou daí a Escola Normal
Caetano de Campos de São Paulo onde lecionou até 1930, no final deste período
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publicou o livro Introdução ao Estudo da Escola Nova, o qual compreende cinco lições.
Sendo revista pelo autor, sofrendo modificações em 1961, a qual configurou a obra em
três grandes partes que fazem ligações às cinco lições da configuração anterior.
Nesta obra Lourenço Filho (1969) destaca sua concepção de Escola Nova, ou
pedagogia contemporânea, assim chamada por ele, como um movimento diferente da
escola que existe, o qual visa à compreensão da psicologia e da biologia para entender
as necessidades da infância e também procura enquadrar as funções da escola, as
mudanças sociais. Ou seja, é um novo tipo de tratamento a escola que contou com
diversos ensaios e experiências de alguns educadores, iniciado no fim do século XIX.
As primeiras escolas encontradas na sociedade de simples composição, segundo
Lourenço Filho (1969) eram desnecessárias, quase não freqüentadas, já que as
atividades profissionais eram ensinadas pela própria filia, e com isso a condição social
era perpetuada. Mas com as mudanças trazidas principalmente pela industrialização, a
escola se tornou mais necessária. No entanto, esta não mudou a sua antiga configuração,
e por isso, assumiu uma posição inadequada dentro da sociedade. À medida que se
aperfeiçoaram, os conhecimentos biológicos e psicológicos perceberam que o
desenvolvimento humano tinha muita influência da vida social, e para isso os princípios
escolares deveriam ser ajustados a este novo social formado.
Com estes princípios, é que Lourenço Filho (1969) afirma que a Escola Nova foi
criada, como necessária para atender a nova sociedade que se formava devido a
Revolução Industrial, e a partir disso, procura divulgar seus preceitos de uma escola
“adequada” para a sociedade que, então, se formava, dedicando-se a este trabalho por
mais de cinqüenta anos.
Por ser habilitado tanto em pedagogia quanto em psicologia, teve um grande
aprofundamento em psicologia aplicada, realizando no Laboratório de Psicologia
Experimental da Escola Normal de São Paulo, atuando na instrução técnico-profissional
e na psicologia da infância referidas como aspectos característicos da Escola Nova,
segundo Saviani (2007). Publicou, também, diversas traduções no campo da psicologia
experimental aplicada.
Serviu-se da Editora Melhoramentos para organizar em 1926 a “Biblioteca de
Educação”, a qual corresponde a primeira coleção de divulgação de textos pedagógicos
no país. No âmbito da educação escolar, Saviani (2007) destaca que Lourenço Filho se
dedicou à elaboração de testes, conhecidos como “Testes ABC”, com o intuito de
identificar a lógica, a variedade mental, relativas ao conceito de maturação, visando,
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com isso, assinalar as deficiências particulares de cada criança “para a organização
eficiente das classes escolares” (SAVIANI apud MONARCHA, 2007, pág. 205).
No entanto, não esteve sozinho nesta divulgação, muito menos na elaboração das
concepções escolanovistas no Brasil, pelo contrário, contou com a colaboração de
Fernando de Azevedo que conheceu Lourenço Filho no início da década de 20,
tornando-se colegas na Escola Normal de São Paulo em 1925. Lourenço Filho, também
se torna amigo de Anísio Teixeira em 1929, data na qual Anísio Teixeira vai até o
gabinete de Fernando de Azevedo no Rio de Janeiro com uma carta de apresentação
escrita por Monteiro Lobato. A partir deste momento até 1971, eles trocaram diversas
cartas, estava então, formada a “trindade cardinalícia do movimento Escolanovista
brasileiro”. Daí por diante buscaram divulgar os ideais escolanovistas no Brasil.
Com relação a Fernando de Azevedo, este também publicou diversas obras, em
especial na Companhia Editora Nacional, na qual criou em 1931 a “Biblioteca
Pedagógica Brasileira” que possui cinco coleções, dentre as quais se destacou a coleção
Brasiliana.
Fernando de Azevedo trocou diversas correspondências com Lourenço Filho
quando estes se encontravam professores em instituições distintas a partir de 1927,
quando Fernando de Azevedo foi para o Rio de Janeiro para assumir o cargo de diretor-
geral da Instrução Pública do Distrito Federal. Durante esta gestão, ele promoveu a
reforma da instrução pública acrescentando nesta o espírito da Escola Nova, mas em
1930 a administração na qual ele participava perdeu sustentação política, e todos foram
depostos. E acabou voltando para São Paulo.
Lourenço Filho partiu, então, para o Rio de Janeiro, onde foi convidado a
assumir a chefia do Ministério da Educação e da Saúde Pública. Segundo Saviani
(2007) ao todo foram escritas 115 cartas, em algumas delas aparecem também nomeado
Anísio Teixeira, a terceira pessoa da “trindade cardinálica escolanovista”.
Nascido em 20 de abril de 1894 em Minas Gerais. Fernando de Azevedo
graduou-se em Direito em 1918 em São Paulo, mas acabou por não exercer a advocacia,
dedicou-se ao magistério que já vinha exercendo desde 1914, já que em 1909 participou
da Companhia de Jesus, e lecionou em 1914, latim e psicologia no Ginásio do Estado
em Belo Horizonte. Em 1917 começou a lecionar estas disciplinas na Escola Normal de
São Paulo. Paralelamente dedicou-se ao jornalismo, trabalhando como noticiarista no
Correio Paulistano (1917 a 1922), e depois como crítico literário no jornal O Estado de
São Paulo (1923 a 1926). Com isso, acabou organizando um amplo inquérito sobre a
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situação educacional brasileira, tida por ele como uma encruzilhada, pois não sabia se
seguia os rumos antigos propostos pelos conservadores, ou se investia em rumos novos
no âmbito de estrutura e finalidade, como destaca Saviani (2007). Sua atuação como
jornalista ajudou-o a se transformar em especialista em educação, além de ampliar seu
círculo de relações desde políticos locais até os que viriam a ser protagonistas da
política brasileira, ou seja, se ligou a figuras importantes da política da época. Isso
explica o porquê foi chamado para ocupar cargos de destaque no campo educacional.
Convergiram seus interesses acadêmicos para o campo da sociologia, tomando-a
como importante para a formação dos normalistas, para isto tomou a decisão de
introduzi-la no campo da Escola Normal em 1928, quando empreendeu a reforma
educacional na instrução pública no Distrito Federal. Publicando a partir disto, diversas
obras que convergem para o campo sociológico.
Em sua obra Novos caminhos e novos fins: a nova política da educação no
Brasil – subsídios para uma história de quatro anos, escrita em 1931 por ele, declara-se
explicitamente sua filiação as idéias da Escola Nova. Segundo Saviani (2007), para
Azevedo a escola nova convergia em três aspectos:
1- A escola única: seria a educação inicial, ou educação primária, uniforme e
comum, que atenderia as crianças a partir dos sete anos de idade, com duração de cinco
anos, e obrigatória.
2- A escola do trabalho: o foco está no estímulo à criança levando-a a
desenvolver prazerosamente a partir de suas observações e experiências, cabendo ao
mestre satisfazer essas curiosidades intelectuais, por meio de um trabalho comum.
3- A escola-comunidade: é a escola organizada como uma “sociedade em
miniatura”, incentivando o trabalho em grupo, como também o dever do trabalho
individual para garantir o bem-estar do grupo. Assim, despertaria em todos, o
sentimento de solidariedade por meio do cumprimento das responsabilidades de cada
um para o bom funcionamento de sua comunidade.
Assim, considerando que a Escola Nova não é um aparelho de instrução, mas busca desenvolver uma educação integral, ela proverá, de forma articulada, a ‘educação física, moral e cívica’, desenvolvendo nos alunos hábitos higiênicos, despertando o sentido da saúde, a resistência e vitalidades físicas, a alegria de viver. Para tanto, as escolas contariam com inspetor-médico ou inspetor-dentário que, além da função de fiscalização, seria um educador sanitário com o qual colaborariam ‘o professor de educação física, a enfermeira
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escolar e o corpo de dentistas e, de maneira geral, todo o professorado.’(SAVIANI apud AZEVEDO, 2007, pág. 212)
Essas modalidades escolares, ou seja, uma configuração desta forma seriam
modalidades essenciais para a organização de uma educação popular em uma sociedade
industrial.
Para Azevedo a Educação Nova seria, então, uma denominação vaga e imprecisa
que abrange todas as iniciativas referentes às atividades das crianças calcadas nas idéias
biológicas e psicológicas da criança, uma visão nítida do papel da escola como
instituição que tem o dever de adaptar a criança as novas condições sociais; o foco no
indivíduo para a formação da escola, formar o indivíduo na comunidade, e vinculando
os métodos, e processos de aprendizagem a estrutura de melhor adaptação da escola a
sociedade vigente.
Com isso, nota-se que Fernando de Azevedo focou seus preceitos no aspecto
social, ele faz jus a sua carreira de sociólogo inspirada nos ideais durkheinianos, como
também uma aproximação aos ideais da visão autoritária do Estado Novo, como destaca
Saviani (ibidem). Para ele essa acepção se organiza tendo como foco na iniciação do
indivíduo, procurando organizar na escola uma comunidade de vida, orientando-se pelos
princípios de solidariedade e cooperação, com o sacrifício do individual para o bem do
coletivo que se funda em uma escola liberta e ativa, em que o professor num primeiro
momento estimula a atividade livre da criança para que esta pelo seu interesse
desenvolva seu trabalho com prazer, para num segundo momento fazer este trabalho em
cooperação.
E agora, se remetendo ao último membro da “trindade cardinalícia do
movimento escolanovista brasileiro”, temos Anísio Spínola Teixeira, que nasceu em
Caetité, na Bahia, em 1900. Teve seus estudos seguidos em escolas jesuítas, o que o
influenciou a querer se tornar um jesuíta, mas que foi acalentado no período em que
cursou Direito, vindo a completar em 1922. No entanto, o que prevaleceu foi sua opção
pela educação, em relação a sua opção pela ordem eclesiástica, esta foi bloqueada por
seu pai, já que sua família tinha toda uma trajetória na política baiana, e era o que sua
família esperava: que ele seguisse a política.
Entretanto, mesmo com essas duas opções, ele acabou ficando na área
educacional, uma opção relativamente difícil, já que na década de 20 a educação não se
encontrava reconhecida socialmente. Mas ele foi convicto em sua decisão, e mesmo
com alternativas mais atraentes, ele se vinculou a educação.
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Seu início nesta área se deu em 1924 quando foi convidado a ocupar o posto de
diretor da Instrução Pública do Estado da Bahia, com isso acabou por viajar por
diversos lugares no Brasil e na Europa. Em 1931 foi convidado a assumir o posto de
diretor-geral da Instrução Pública do Distrito Federal, nessa condição teve a
oportunidade de colocar em prática suas idéias renovadoras no âmbito da formação
docente criando o Instituto de Educação e transformando a Escola Normal em Escola de
Professores.
No decorrer de sua gestão publicou o livro “Em marcha para a democracia: à
margem dos Estados Unidos”, no qual avalia todo o processo de civilização dos
Estados Unidos destacando sua prosperidade material e a adequação da filosofia
pragmática à nova ordem científica, apresentando sugestões de Dewey e Walter
Lippmann para a democracia, na qual enfatiza a importância de uma educação para a
democracia.
Permaneceu neste posto até 1935, por conta das mudanças ocasionadas pelo
golpe do Estado Novo, fizeram com que ele tivesse que se demitir. Isso fez com que em
1936, já afastado da vida pública, publicasse o livro Educação para a democracia:
introdução à administração educacional, o qual foi reeditado em 1997, com uma
apresentação de Luiz Antonio Cunha.
Anísio, segundo Saviani (2007) discordava do caminho autoritário que a política
brasileira estava tomando, isso fez com que ele assumisse uma vida de trabalho privada,
se dedicando a tradução de obras de autores como Wells, Adler e Dewey para várias
editoras, mas que foram interrompidos em 1938 pela política ditatorial do Estado Novo,
já que era um trabalho intelectual. Com isso, se dedica por quase 10 anos à exportação
de minérios.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, e consequentemente com a criação da
ONU e da UNESCO a qual era dirigida por Julian Huxley que havia colaborado com
Wells em uma de suas obras “Ciências da vida”, traduzida por Anísio em 1936, fez com
que Anísio fosse convidado por Huxley para exercer o cargo de conselheiro da
educação superior, ficando neste cargo de 1946 até o início de 1947, quando resolveu
deixar a UNESCO e retornar a sua vida privada no Brasil. Ao mesmo tempo, ocorreu a
queda do Estado Novo o que ocasionou na reabertura democrática do Brasil, o que fez
com que Anísio fosse chamado a exercer o cargo de secretário da Educação na Bahia.
Ali permaneceu até 1951, quando retornou ao Rio de Janeiro assumindo o cargo de
secretário geral da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal de Nível
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Superior). Em 1952, assumiu como coordenador do INEP (Instituto Nacional de
Estudos Pedagógicos), permanecendo em ambos os postos até 1964, quando em
decorrência da ditadura militar teve seus direitos políticos cassados e foi afastado da
vida pública.
Nota-se que mesmo tendo oportunidade de assumir outros cargos, se dedicou à
educação vista por ele como a chave para um processo revolucionário. Mesmo sua
atuação educacional passando por diversos obstáculos, todos provindos basicamente das
resistências que formavam as forças dominantes no Brasil, que se mantinham contra as
transformações sociais que visassem superar a desigualdade, como destaca Saviani
(2007). Desigualdade esta que se refletia na educação, deixando esta como um
privilégio da elite. Anísio se contrapunha a essa visão, para ele, esta é direito de todos,
ponto este que atravessa todas as suas obras.
No contexto decorrente da Revolução de 30, com a reação das forças
tradicionais, Anísio se deparou com a necessidade de construir um partido político em
prol da democracia. Tratava-se do partido Autonomista do Distrito Federal. Esse
partido vinha na contramão das visões tradicionais, sua base estava na garantia de um
trabalho educativo que consolidasse a educação pública, visando à superação do caráter
personalista e clientelista da política tradicional.
O primeiro aspecto destacado reporta-se à base econômica, referido que está ao progresso acelerado dos meios de produção e distribuição de bens; o outro diz respeito à estrutura política, indicando a exigência de que o Estado abandone a posição de espectador e policiador, assumindo um papel regulador. Anísio Teixeira admitia, portanto, que uma adequada gestão das atividades econômicas e sociais permitiria respeitar os direitos dos trabalhadores à sobrevivência e a uma vida digna, absorvendo, assim, as reinvidicações potencialmente vigorosas das classes trabalhadoras. (idem, pág. 223).
O que se põe neste momento é uma revolução cultural, que se configura pela
mudança de hábitos e costumes. Anísio mesmo entrando na política por uma tradição
familiar, e apoiado por seus familiares a se candidatar, ele não optou por um cargo de
teor político, pelo contrário, o dever de seu partido para ele era “difundir a cultura,
esclarecer de forma honesta e objetiva a população os problemas do país, indicando
soluções.” (idem, ibidem).
O triunfo para Anísio de seu partido, estava nas próprias idéias que defendia, seu
projeto estava na preparação e divulgação de uma literatura própria que esclarecesse à
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população os problemas do país, sempre tendo como objetivo maior a construção de
uma educação pública.
Mesmo seguindo as concepções de Dewey, Anísio estava atento às necessidades
brasileiras, procurando não somente transplantar a visão educacional do sistema norte-
americano, mas procurou construir instrumentos de aferição da aprendizagem e do
rendimento escolar, a partir das condições brasileiras. Mostrando que a educação como
um sistema popular democrático é uma necessidade.
Em sua formação pedagógica, Anísio fez duas viagens aos Estados Unidos, as
quais foram decisivas. Na primeira em 1927 escreveu o livro: Aspectos americanos da
educação, no qual relata todos os resultados de sua viagem apresentando: “comentários
sobre estabelecimentos de ensino, órgãos de administração, edifícios, métodos práticos
de ensino, currículo flexível e variado, vida estudantil, além de uma primeira
sistematização da concepção de Dewey” (idem, pág.227). Foi essa experiência que o
fez voltar em 1929 aos Estados Unidos para realizar mestrado na Universidade de
Columbia, ocasião pela qual fez estudos com Dewey. Ao retornar, traduziu dois ensaios
de Dewey, “A criança e o programa escolar e Interesse e esforço, reunidos no livro
Vida e educação, publicado em 1930 com uma introdução por ele redigida. E em 1933
publicou o livro Educação progressiva: uma introdução à filosofia da educação,
declaradamente filiado ao pensamento pedagógico de John Dewey.” (idem, pág.227-
228).
Todas estas idéias e estudos culminaram em um documento no qual se intitulava
“Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova”, no qual continham ideais revolucionários
que visavam romper com os preceitos conservadores, apontando para uma educação
laica, destinada a todos os cidadãos brasileiros, Nóbrega da Cunha um dos
“revolucionários”, defendia que Fernando de Azevedo havia assumido o compromisso
de divulgar, por um curto período de tempo, em forma de um “manifesto” os ideais de
uma política brasileira de educação.
No início de 1932 o documento já se encontrava redigido, por Fernando de
Azevedo em cinco dias, cumprindo-se os dois meses que Nóbrega da Cunha relatara.
No entanto, em uma carta de Fernando Azevedo a Anísio Teixeira, esse relata ao amigo
sua preocupação em encontrar mecanismos que impulsionassem uma ampla divulgação
do Manifesto. Foram 26 signatários do texto e nove colaboradores de Anísio em sua
gestão frente à instrução pública.
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Foi desta forma, que os preceitos de uma nova educação entraram na sociedade
brasileira e procuraram se difundir por todo o país, mesmo com diversas resistências,
mas que predominaram segundo Saviani (2007), no período de 1947 a 1961, mesmo
com a resistência das camadas conservadoras, em especial a Igreja.
No entanto, este documento assume por um lado uma concepção doutrinária, ao
afirmar que se filia à Escola Nova, propondo renovação com base nos princípios
anunciados na maioria das vezes de forma explícita, sempre se opondo a escola
tradicional. O documento apresenta a educação num primeiro momento como
homogeneizadora, destinado este papel a escola primária e secundária, para num
segundo momento, apelar para as aptidões de cada um destinadas ao ensino
universitário. Nota-se no “Manifesto” um grande apego às idéias de Dewey, que como
já foi dito, foi um dos grandes nomes da Escola Nova na América, e que a “trindade
cardinalícia escolanovista brasileira” teve grande contato, inclusive na tradução das
obras.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Até o presente momento o levantamento em andamento tem indicado que a
divulgação do Movimento das Escolas Novas brasileiras teve John Dewey e suas idéias
educacionais como protagonistas ao lado da psicologia experimental de Eduard
Claparede.
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