ines de castro - primeira parte

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Grandes temas da Literatura Portuguesa Aula 1 - Inês de Castro – Primeira parte José Carlos Siqueira 1. O tema de Inês  Na Europa, durante o século XVI, uma importante e poderosa parcela das casas reais e de aristocratas gov ernantes descendi a de uma rai nha por tug uesa. Net os e  bisnetos dessa mulher ocupavam tronos, dirigindo impérios e principados. m grande cronista e poeta da época, o portugu!s "arcia de #esende $%&'()%*+-, chegou mesmo a dedicar um poema a essa insigne linhagem /s principais reis de Espanha, de 0ortugal e Castela, e imperador de 1lemanha, olhai, que honra tamanha, que todos descendem dela, #ei de N2poles, também 3uque de 4orgonha, a quem toda 5ran6a medo havia, e em campo el)rei vencia, todos estes dela vém. $Trovas, in Cancioneiro Geral - 7as uma t8o importante genealogia aristocr2tica n8o deveria ser vista como surpreendente durante o século de ouro de 0ortugal, momento das grandes navega69es e descobertas, pois o pa:s ibérico nesse per:odo era uma pot!ncia dentro do continente. 1lém do mais, os casamentos entre as mais diversas e distantes casas reais era algo por demais corriqueiro, servindo de instrumento da pol:tica internacional e do ;ogo do  poder. 1 contece que essa monarca portuguesa tinha algumas peculiaridades capa<es de comover poetas e historiadores, e trans=ormar sua descend!ncia num verdadeiro milagre din2stico. 0ara come6ar, ela n8o era portuguesa, mas sim da "al:cia, uma regi8o ao norte de 0ortugal, subordinada > Espanha. Em segundo lugar, sua origem era controversa,  pois nascera =ilha bastarda $concebida =ora do casamento- de um importante aristocrata gal ego . ?e rce iro, morrera muito ;ov em, aos tri nta an os, bru tal me nte e@ecut ada

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Grandes temas da Literatura Portuguesa

Aula 1 - Inês de Castro – Primeira parte

José Carlos Siqueira

1. O tema de Inês

 Na Europa, durante o século XVI, uma importante e poderosa parcela das casas

reais e de aristocratas governantes descendia de uma rainha portuguesa. Netos e

 bisnetos dessa mulher ocupavam tronos, dirigindo impérios e principados. m grande

cronista e poeta da época, o portugu!s "arcia de #esende $%&'()%*+-, chegou mesmo

a dedicar um poema a essa insigne linhagem

/s principais reis de Espanha,de 0ortugal e Castela,e imperador de 1lemanha,olhai, que honra tamanha,que todos descendem dela,#ei de N2poles, também

3uque de 4orgonha, a quemtoda 5ran6a medo havia,e em campo el)rei vencia,todos estes dela vém. $Trovas, in Cancioneiro Geral -

7as uma t8o importante genealogia aristocr2tica n8o deveria ser vista como

surpreendente durante o século de ouro de 0ortugal, momento das grandes navega69es e

descobertas, pois o pa:s ibérico nesse per:odo era uma pot!ncia dentro do continente.

1lém do mais, os casamentos entre as mais diversas e distantes casas reais era algo por 

demais corriqueiro, servindo de instrumento da pol:tica internacional e do ;ogo do

 poder. 1contece que essa monarca portuguesa tinha algumas peculiaridades capa<es de

comover poetas e historiadores, e trans=ormar sua descend!ncia num verdadeiro milagre

din2stico.

0ara come6ar, ela n8o era portuguesa, mas sim da "al:cia, uma regi8o ao norte

de 0ortugal, subordinada > Espanha. Em segundo lugar, sua origem era controversa,

 pois nascera =ilha bastarda $concebida =ora do casamento- de um importante aristocrata

galego. ?erceiro, morrera muito ;ovem, aos trinta anos, brutalmente e@ecutada

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$degolada-, apAs a senten6a de um tribunal movido por intrigas palacianas. E, por =im, e

mais incr:vel, =ora declarada rainha depois de morta, alguns anos apAs a sua e@ecu68o.

Eis a:, em linhas muito sum2rias, a tr2gica vida de 3ona In!s de Castro, que

Bdepois de morta =oi rainha, nas palavras de Du:s de Cam9es. 7as isso n8o é tudo, por 

tr2s do que ;2 =oi relatado h2 também uma histAria de amor que marcou a literatura e as

artes de 0ortugal e toda a Europa. ma histAria que desempenhou um importante papel

na modelagem do esp:rito portugu!s, de sua identidade nacional, num processo em que

ao =ato histArico =oram sendo agregados detalhes, situa69es e desdobramentos criados

 por artistas e pela imagina68o popular, constituindo assim um mito que acabou maior e

mais interessante que a personagem histArica propriamente dita. 0ara entender esse

 processo, devemos conhecer a histAria e a =orma68o do mito de In!s de Castro.

2. A história

In!s de Castro nasceu na "al:cia, como ;2 =oi dito, entre %+( e %+*, =ilha

natural de 0edro 5ernandes de Castro, um alto =uncion2rio do trono espanhol e também

de ascend!ncia bastarda $como se v!, era algo recorrente na aristocracia da época-.

1pesar da bastardia, In!s cresceu no seio de uma =am:lia nobre e rica, e na ;uventude

tornou)se dama de companhia de sua prima, 3. Constan6a 7anuel, uma nobre

espanhola de uma importante =am:lia. ?8o importante, que Constan6a simplesmente

tornou)se a esposa do pr:ncipe herdeiro portugu!s, 3. 0edro. E aqui entra um

 personagem =undamental desta histAria.

/ in=ante 3. 0edro, =ilho de 1=onso IV, um not2vel monarca dos primArdios da

histAria portuguesa, ao conhecer a dama de companhia de sua esposa, a bela In!s,

apai@onou)se perdidamente por ela. / pr:ncipe, como era de se esperar, =oi

correspondido pela nobre galega, e tornaram)se amantes. / relacionamento amorosodeles era t8o intenso e aberto que provocou a desaprova68o da corte. Fuando Constan6a

concebeu seu primeiro =ilho com 3. 0edro, convidou In!s para ser madrinha, pois pelas

leis canGnicas a rela68o carnal entre pais e madrinhas era considerada incestuosa. 0arece

que a artimanha n8o =uncionou muito bem, ;2 que o rei 1=onso decidiu e@pulsar In!s da

corte e e@il2)la num castelo prA@imo da =ronteira com a Espanha.

7esmo separados, 0edro e In!s continuaram se comunicando e mantiveram

aceso o =orte sentimento que os ligava. 5oi quando uma =atalidade permitiu o retorno deIn!s e a continua68o de seu affair  com o pr:ncipe ao ter seu terceiro =ilho $e =uturo rei

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 portugu!s, apAs 0edro-, Constan6a morreu. ViHvo, o herdeiro do trono de 0ortugal

sentiu)se livre para manter In!s a seu lado, até com a possibilidade de torn2)la sua

esposa.

 No entanto, o rei, os =idalgos da corte e a opini8o pHblica da época n8o

 pensavam da mesma =orma. 1 =im de evitar con=litos, 0edro levou In!s para Coimbra,

onde =i@ou resid!ncia num belo palacete, o 0a6o de Santa Clara, constru:do pela avA de

0edro, a #ainha Santa uma decis8o que =oi considerada como uma provoca68o /

escKndalo que a situa68o causava era crescente, com a desaprova68o tanto da nobre<a

quanto do povo em geral.

 No entanto, essa =ebre de moralidade e bons costumes que se abatera sobre o

 pa:s tinha uma =undo pol:tico incon=ess2vel. In!s, mesmo sendo =ilha ileg:tima,

 pertencia a uma =am:lia poderosa na Espanha, os Castros, e seus irm8os haviam também

conquistado o a=eto e a con=ian6a de 3. 0edro. 1=irma)se que tais irm8os teriam

convencido 0edro a se casar com In!s e, em ra<8o do pai da mo6a ser de linhagem real

espanhola, e@igir o trono da Espanha, uni=icando assim os dois pa:ses.

1 idéia repugnava o rei 1=onso e a maioria da nobre<a, que viam em

semelhantes conluios a possibilidade de 0ortugal submergir dentro da Espanha,

 perdendo sua autonomia e identidade. /s espanhAis constru:am na época uma poderoso

reino, de grande =or6a militar e sentimento de unidade. N8o seria 0ortugal a ane@ar a

Espanha, e sim o contr2rio.

/ rei, procurando a=astar o =ilho de In!s e, por tabela, de seus insidiosos irm8os,

tenta convenc!)lo a se casar de novo com uma aristocrata de =am:lia real, mas a t2tica

n8o =unciona. / esperto 0edro se esquiva da sugest8o, alegando que permanecia

enlutado e n8o havia ainda esquecido a Bamada Constan6a. Era o que di<ia o pr:ncipe.

Em meio a esse embate, nossa In!s teve nada menos que quatro =ilhinhos com 3.

0edro. / primeiro morreu ainda pequeno, mas os outros cresciam muito saud2veis. J2 oleg:timo herdeiro do trono lusitano, o in=ante 5ernando, cu;o nascimento levar2 > morte

Constan6a, mostrava)se doentio e =r2gil, tra<endo grandes incerte<as sobre seu =uturo e

o do pa:s, principalmente para o avG 1=onso.

?udo isso somado, =e< com que o rei, in=luenciado por conselheiros da corte,

decidisse cortar o mal pela rai<. 3urante a aus!ncia de 3. 0edro, que sa:ra para ca6ar  

um de seus hobbies =avoritos , o rei promove um ;ulgamento sum2rio em 7ontemor)

o)Velho, vila prA@ima a Coimbra, e sentencia In!s > morte por trai68o. 1 e@ecu68o é

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reali<ada imediatamente, e a bela In!s, por volta dos trinta anos, com tr!s =ilhos ainda

crian6as, é barbaramente degolada em ' de ;aneiro de %+**.

L claro que o pr:ncipe reagiu com viol!ncia >quele crime b2rbaro e covarde. Ele

rompe com o rei, seu pai, e inicia uma verdadeira guerra civil. 1s hostilidades se

 prolongam por dois anos, cessando apenas gra6as > interven68o e diplomacia da rainha

4eatri< de Castela, m8e de 0edro. 1pesar de ter um bom motivo para a guerra, na

verdade se considera que a morte de In!s tenha sido apenas um prete@to para o

con=ronto com o rei 1=onso. E, de =ato, o acordo obtido pela media68o da rainha m8e

concedeu poderes a 0edro que o tornaram na pr2tica o verdadeiro governante do pa:s.

 No =im das contas, tal acordo n8o =oi levado a cabo, pois, logo em seguida ao

 pacto, o rei 1=onso IV morria, a M de maio de %+*', com certe<a muito preocupado

com o destino de 0ortugal, do =ilho e de seu neto.

1 histAria n8o p2ra a:. 3epois de coroado, 3. 0edro I determina a puni68o dos

nobres que haviam aconselhado o =alecido rei a e@ecutar In!s. 0ero Coelho, lvaro

"on6alves e 3iogo Dopes 0acheco, reconhecidamente respons2veis pela morte de In!s,

n8o =icaram esperando para ver o que aconteceria e =ugiram para a Espanha. / nosso

 bom 0edro n8o teve dHvidas arquitetou com o monarca espanhol uma troca de

desa=etos e conseguiu que os =idalgos portugueses lhe =ossem entregues. No entanto, sA

0ero Coelho e lvaro "on6alves =oram presos, pois o mais esperto, 3iogo Dopes,

conseguiu escapar dos captores espanhAis, se dis=ar6ando em mendigo e =ugindo para a

5ran6a.

1 puni68o dos dois conselheiros =oi de uma crueldade sem precedentes. Em

%+%, depois de torturados para que delatassem outros participantes da e@ecu68o de

In!s, os dois tiveram o cora68o arrancado ainda em vida 0ero Coelho através do peito,

e lvaro "on6alves pelas costas o rei n8o Bacreditava que tivesse cora68o quem

 pudesse ter participado daquele odioso crime.0or =im, o gentil rei 0edro I =e< uma revela68o bomb2stica > corte ele havia se

casado o=icialmente com 3. In!s de Castro. /u se;a, uma das grandes preocupa69es de

seu pai, motivo inclusive de ter optado pela morte de In!s, havia acontecido em segredo,

l2 na regi8o de Coimbra. L verdade que 0edro n8o se lembrava nem do m!s em que isso

acontecera, mas ele mandou chamar o bispo da "uarda, na época de8o do mesmo local,

e mais um de seus criados para comprovarem a histAria. / bispo con=irmou que havia

ministrado a cerimGnia, e o criado, que presenciou o casamento. 7as por uma dessascomuns amnésias coletivas, nenhum dos dois lembrava também quando =ora... 3e

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qualquer =orma, era uma repara68o que o novo rei =a<ia a ultra;ada 3. In!s e a prova de

um amor que nem a morte nem o tempo conseguiam apagar.

3essa =orma, In!s era o=icialmente declarada rainha e seus =ilhos, legitimados,

 podendo inclusive aspirar ao trono, caso o =r2gil in=ante 5ernando por algum motivo

=altasse ao pa:s. Seria poss:vel pensar que tal repara68o estava na lAgica da vingan6a

que o rei ;2 havia desencadeado com o =lagelo dos conselheiros de certo modo,

0ortugal como um todo estaria pagando pela mesquinha desaprova68o ao romance do

 pr:ncipe e sua amante galega, bem como pelo al:vio coletivo sentido com a sua morte.

7as pode)se acrescentar a essa satis=a68o pessoal alguns ob;etivos pol:ticos. /s

descendentes de In!s poderiam no =uturo se arrogar ao trono espanhol, quem sabe

reali<ando a temida uni8o dos dois pa:ses.

/ casamento =oi ent8o postumamente o=iciali<ado, e o rei mandou con=eccionar 

dois magn:=icos tHmulos no mosteiro de 1lcoba6a. No primeiro =oram depositados os

restos mortais de In!s, enquanto que o segundo aguardaria o corpo de 0edro. 1ssim, a

eternidade uniria os dois amantes que as conven69es sociais, as intrigas cortes8s e a

=Hria paterna haviam se es=or6ado tanto para manter separados em vida. N8o se pode

esquecer também que a magni=ic!ncia desses tHmulos serviria ainda como s:mbolo

o=icial do casamento deles, um conveniente testemunho da legitimidade de seu

matrimGnio e de seus descendentes.

/ translado do corpo de In!s =oi =eito com toda a pompa e circunstKncia devidas

a uma rainha. 0or todo o tra;eto de Coimbra $onde a dama =ora primeiro sepultada- a

1lcoba6a, a nobre<a, o clero e o povo saudaram o =éretro como se =osse a uma monarca

viva, e as cerimGnias =Hnebres passaram > memAria dos portugueses em virtude de sua

suntuosidade e grande<a.

E l2 se encontram eles ainda, s:mbolos de um amor capa< de derrotar a prApria

morte, ou ao menos de o tentar, oriundos de uma época cu;a distKncia temporal atrans=orma num cen2rio de contos de =ada Em um reino distante, havia um rei, um

valente pr:ncipe e uma linda princesa...

3. O mito

1 histAria que acabamos de narrar tem base em documentos e relatos histAricos,

mas diversos de seus detalhes s8o di=:ceis de serem comprovados com toda a [email protected] di<er com isso que mesmo o =ato histArico est2 contaminado de incerte<as,

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=ruto da de=iciente documenta68o, dos métodos pouco con=i2veis dos registros e

crGnicas, além do que muitas das poss:veis =ontes para esses eventos se perderam no

decorrer do tempo.

 No =undo, a prApria OistAria se encontra algo miti=icada um processo normal

em qualquer cultura e que abre margem para que o mito se =ortale6a e e@panda. No caso

de 0edro e In!s, logo depois de suas mortes, o imagin2rio popular =oi acrescentando

detalhes maravilhosos aos acontecimentos. Em Coimbra passou)se a acreditar que In!s

=ora morta em sua prApria casa, o =amoso 0a6o de Santa Clara. Junto a esse pal2cio

havia ;ardins, bosques e duas =ontes, numa destas, depois chamada de =onte das

D2grimas, e@istem rar:ssimas algas vermelhas, que a imagina68o do povo relaciona com

o sangue derramado da bela In!s. 1 outra =onte, Bdos 1mores, teve seu nome dado por 

Cam9es num trecho de Os lusíadas dedicado a In!s de Castro

E, por memAria eterna, em =onte pura1s l2grimas choradas trans=ormaram./ nome lhe puseram, que inda dura,3os amores de In!s, que ali passaram. $III, %+*-

E aqui entram em cena os poetas e artistas que, ao se apropriarem da histAria, =oram

recriando os =atos, dando !n=ase a alguns aspectos e obscurecendo outros. Eles =i<eramcom que a memAria desse sublime amor n8o =osse perdida, mas também provocaram

novos sentidos e =un69es que os =atos em si n8o possu:am. 5ernando 0essoa sinteti<a de

=orma per=eita esse processo de miti=ica68o

1ssim a lenda se escorre1 entrar na realidade,E a =ecund2)la decorre.Em bai@o, a vida, metade

3e nada, morre. $BlPsses, in Mensagem-

 Nesses versos, 0essoa est2 se re=erindo ao mito de =unda68o de Disboa, atribu:da

ao herAi grego lisses, que teria constru:do a cidade durante sua viagem de retorno da

guerra de ?rAia. 7as a idéia serve para qualquer mito um valor ou sentimento

=undamental > realidade humana é =ecundado pela lenda, que passa a valer mais do que

a prApria realidade histArica. ?ratando)se do mito de In!s de Castro, pode)se di<er que

um dos valores que est2 sendo =ecundado é a idéia de supera68o da morte pela =or6a do

amor. 7as n8o sA isso.

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O2 também a idéia da saudade, que =a< com que o passado n8o morra, ou que se

mantenha pulsante e decisivo no presente e no =uturo. Seria esse intenso sentimento que

levara 3. 0edro a sua vingan6a t8o cruel e > constru68o dos tHmulos ma;estosos, capa<es

de vencer o tempo e perdurar no =uturo. 0resente e =uturo determinados por um passado

que a saudade sustenta e d2 poder. 1 saudade portuguesa.

0ara dar um e@emplo da a68o dos poetas nesse sentido, ve;amos a =amosa cena

da coroa68o da rainha morta. Com base no dado histArico do corte;o =Hnebre do cad2ver 

de In!s para 1lcoba6a uma das =ormas encontradas por 3. 0edro para declarar In!s

rainha depois de morta , diversos escritores desenvolveram a =ant2stica cena em que o

corpo morto de In!s era assentado sobre o trono portugu!s e uma cerimGnia de

coroamento tinha lugar. Em seguida, para esc2rnio da nobre<a e do clero presentes, estes

teriam sido obrigados a bei;ar a m8o da rainha morta. 1 =or6a imagética e tétrica dessa

cena é inquestion2vel. Eis a: uma amostra do es=or6o humano em vencer a morte e

negar as =ronteiras entre o passado e o presente, um tema mitolAgico.

. Inês de Castro pelos !ronistas

/s primeiros relatos do drama de In!s de Castro =oram =eitos por cronistas. Seria

valioso entender esse tipo de escritor que participa tanto da literatura quanto da

historiogra=ia, e que no caso portugu!s tem ainda um pé na Idade 7édia e outro na

7oderna.

/s historiadores da l:ngua portuguesa datam o in:cio de nosso idioma no século

XII, sendo que os primeiros te@tos em portugu!s que sobreviveram até nosso dias s8o

 poemas. Na prosa, os primeiros escritos em portugu!s s8o os sempre citados romances

de cavalaria e as crGnicas. Estas Hltimas apresentam um duplo interesse s8o

documentos histAricos importantes =ontes prim2rias para o conhecimento do passado  e verdadeiros ensaios de estilo e e@press8o na l:ngua lusitana. 1 crGnica dessa época

 pode ent8o ser de=inida como o relato cronolAgico da vida de reis e nobres, de =atos

relevantes desses personagens, descri68o de batalhas, de eventos diplom2ticos etc.

Em 0ortugal, uma das primeiras crGnicas =oi redigida ou organi<ada pelo conde

3. 0edro 1=onso $%M')%+*&-. Ele era =ilho do conhecido rei 3. 3inis, o rei trovador, e,

 pu@ando ao pai, =oi também poeta e respons2vel por uma crGnica intitulada O livro do

conde D. Pedro, que, entre outras coisas, conta a histAria do mundo, come6ando por 1d8o e Eva e chegando > reconquista da Espanha pelos crist8os.

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J2 a histAria de In!s é registrada pela primeira ve< através da pena de 5ern8o

Dopes $%+M()%&(-. 1 importKncia da obra e das atividades intelectuais desenvolvidas

 por esse homem pode ser medida pelo =ato de que a histAria da literatura portuguesa

de=ine como data do in:cio do Oumanismo em 0ortugal a sua nomea68o como guarda)

mor da ?orre do ?ombo $uma espécie de bibliotec2rio che=e da documenta68o o=icial do

 pa:s-. / Oumanismo é a corrente cultural e liter2ria que, em terras portuguesas, vai de

%&%M a %*', substituindo a era do ?rovadorismo. / prAprio nome ;2 denuncia que o

=oco dessa corrente de pensamento é o homem, visto agora como centro do universo,

dotado de =aculdades que o di=erencia no mundo animal, principalmente, a ra<8o, e o

elevam > posi68o de ser supremo da Nature<a e seu virtual senhor.

5ern8o Dopes é considerado o Bpai da OistAria em 0ortugal. Ele ;2 pode ser 

considerado Bmoderno por haver promovido uma historiogra=ia baseada em

documentos e n8o mais =undamentada na tradi68o oral. / que n8o o impede de imprimir 

em seus relatos uma =orte carga dram2tica e de intenso dinamismo narrativo. Em seus

te@tos surge o povo em suas multi=acetadas mani=esta69es, chegando mesmo ao

 protagonismo em algumas ocasi9es. Seu estilo é bastante coloquial e direto, em que por 

ve<es o narrador chega mesmo a dialogar com o leitor.

4oa parte da produ68o de 5ern8o Dopes se perdeu, havendo sobrevivido entre

outras obras a Crônica d’el-rei D. Pedro I , na qual se registram algumas das passagens

da histAria de 3. In!s de Castro. m dos trechos mais impactantes relata o supl:cio e a

e@ecu68o de dois dos conselheiros que participaram da morte de In!s

1 0ortugal =oram tra<idos 1lvaro "on6alves e 0ero Coelho, e chegaram aSantarem, onde el)rei era. El)rei, com pra<er de sua vinda, porém mal magoado porque 3iogo Dopes =ugira, os saiu =Ara a receber, e, sanha cruel, sem piedadeos =e< por sua m8o metter a tormento, querendo que lhe con=essassem quaes=oram na morte de 3ona Igne< culpados, e que era que seu padre tratava contra

elle, quando andavam desavindos por a<o da morte dQella. E nenhum dQellesrespondeu a taes perguntas cousa que a el)rei prouvesse.E el)rei, com quei@ume, di<em que deu um a6oute no rosto a 0ero Coelho, e ellese soltou ent8o contra el)rei em deshonestas e =eias palavras, chamando)lhetraidor, 2 =é per;uro, algo< e carniceiro dos homens. E el)rei, di<endo que lhetrou@essem cebola, vinagre, e a<eite para o coelho, en=adou)se dQelles, emandou)os matar.1 maneira de sua morte, sendo dita pelo miudo, seria mui estranha e crua decontar, c2 mandou tirar o cora68o pelos peitos a 0ero Coelho, e a 1lvaro"on6alves pelas espaduas. E quaes palavras houve e aquelle que lhQo tirava, quetal o==icio havia pouco em costume, seria bem dorida cousa de ouvir. Em=im,mandou)os queimar. E tudo =eito ante os pa6os onde elle pousava, de guisa quecomendo olhava quanto mandava =a<er. $Cap:tulo XXXI.-

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7antivemos a ortogra=ia da edi68o de %MR*. O2 nesse registro um ;ogo entre um

ambiente de tortura e uma situa68o doméstica. Dopes intercala um pedido banal de

temperos =eito pelo rei em meio a tormentos, in;Hrias e muita dor, brincando com a

 palavra coelho, que tanto é a carne que come o rei, quanto é o nome do torturado, 0ero

Coelho. Com isso ele prepara o des=echo da cena, revelando que a e@ecu68o =oi

apreciada pelo monarca durante sua re=ei68o, como num piquenique se acompanha um

 ;ogo ou uma brincadeira. / cronista en=ati<a assim o grau de crueldade e despre<o pela

vida humana demonstrado por 3. 0edro. L importante notar ainda que a =orma de

e@ecu68o dos dois conselheiros n8o é atestada pelo cronista, ou se;a, n8o havia

documentos que comprovasse essa in=orma68o, sendo portanto algo que =oi transmitido

 por via oral Bdita pelo miudo. 0osteriormente, a tradi68o ainda acrescentou que o rei

mordeu um dos cora69es arrancados, numa espécie de antropo=agia > moda européia.

". O #teatro$ do %ulgamento de Inês

/ primeiro te@to puramente liter2rio em que comparece o drama de In!s e 0edro

é de autoria de "arcia de #esende $%&'()%*+-, Trovas mor!e de In"s de Cas!ro, do

qual citamos um trecho logo no in:cio deste cap:tulo. Nesse poema se destaca a sHplica

que In!s teria =eito ao rei 1=onso IV para que poupasse a sua vida e, assim, a or=andade

de seus =ilhos. / rei se sensibili<a com as l2grimas da mulher, mas, incitado por um de

seus o=iciais, acaba permitindo a e@ecu68o de In!s.

1qui ;2 nos encontramos num momento de transi68o entre o Oumanismo, de que

5ern8o Dopes =oi o grande nome na crGnica, e o Classicismo $%*')%*M(-. / poeta e

cronista #esende ainda é catalogado pelos estudos liter2rios no Oumanismo, mas sua

obra ;2 preparava as condi69es para o surgimento dos escritores classicistas. O

cancioneiro geral , onde =oram publicadas as Trovas, é uma coletKnea da produ68o poética do Oumanismo e, portanto, uma s:ntese da literatura do per:odo.

/ Classicismo propriamente n8o =oi um rompimento com o Oumanismo, mas

sim uma espécie de radicali<a68o. 1 =im de se livrar de=initivamente dos princ:pios e do

 pensamento medievais, os artistas da nova escola v8o retomar os valores cl2ssicos, ou

se;a, a estética e as =ormas art:sticas da 1ntiguidade, especi=icamente da "récia e #oma

cl2ssicas.

 No teatro, a tragédia de concep68o greco)romana dominar2 por completo as produ69es dramatHrgicas. E um dos principais nomes portugueses desse g!nero ser2

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1ntGnio 5erreira $%*M)%*R-, cu;a obra)prima, por sinal, leva o nome de Cas!ro.

Segundo a estudiosa 7aria D. 7achado de Sousa, essa pe6a é a primeira tragédia

européia com tema Bmoderno, ou se;a, na qual os personagens n8o s8o nem deuses

nem herAis da 1ntiguidade, mas sim =iguras histAricas recentes $c=. Sousa %RM&%-.

5erreira é ainda avaliado por cr:ticos como 1ntAnio Saraiva e scar Dopes como

o mais :ntegro representante da escola Cl2ssica em seu pa:s $((***-, havendo por 

isso reali<ado com essa tragédia uma brilhante integra68o entre um tema moderno e a

estética cl2ssica. Sem dHvida, o dramaturgo portugu!s retomou a idéia da de=esa de In!s

na Trovas de "arcia de #esende e ampliou)a no quarto ato de sua pe6a na =orma de um

 ;ulgamento, onde comparecem ainda dois dos conselheiros reais no papel de

 promotores.

 Na tragédia cl2ssica, o 3estino tem papel central, pois determina o =im dos

 personagens independente de suas vontades e de seus es=or6os em impedir tal sina  

es=or6os que =atalmente sA os condu<em ainda com mais =irme<a para a sua destrui68o

$um bom e@emplo seria  #di$o rei,  de SA=ocles-. No caso de Cas!ro, o 3estino é

encarnado pelas ra<9es de Estado, su=icientes para condenar alguém inocente e obliterar 

a consci!ncia dos ;u:<es.

1 bela In!s questiona o rei 1=onso IV, no papel de ;ui<, sobre seu crime

C1S?#/ /uve minha ra<8o, minha inoc!ncia. T Culpa é, senhor, guardar amor constante T 1 quem mo temU se por amor me matas, T Fue =ar2s ao inimigoUamei teu =ilho, T N8o o matei. 1mor amor merece T Estas s8o minhas culpasestas queres T Com morte castigarU Em que a mere6oU $1to IV, cena I.-W...C1S?#/ Wainda se dirigindo ao rei 3ou tua consci!ncia em minha prova. T Seos olhos de teu =ilho se enganaram T Com o que viram em mim, que culpatenhoU T 0aguei)lhe aquele amor com outro amor, T 5raque<a costumada em todoestado. T Se contra 3eus pequei, contra ti n8o. $Ib.-

1 in=eli< mulher ainda acrescenta que a in;usti6a n8o seria apenas contra ela,

mas atingiria também o =ilho do rei, que ama In!s, e seus netos, que cresceriam Ar=8os.

/ rei ;ui< nesse momento cede >s sHplicas e se retira de cena convencido da in;usti6a

que seria a morte de In!s. 7as na cena seguinte, a sAs com dois conselheiros, é

con=rontado com as ra<9es de Estado

01COEC/ ... n8o te esque6as T 3a ten68o t8o =undada, que te trou@e.

#EI N8o pGde o meu esp:rito consentir T Em crue<a tamanha.

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01COEC/ 7or crue<a. T 5a<es agora ao #eino agora =a<es T W... 1 que viesteUT 1 pGr em mor perigo teu estadoU W...#EI N8o ve;o culpa, que mere6a pena.01COEC/ Inda ho;e a viste, quem ta esconde agoraU#EI 7ais quero perdoar, que ser in;usto.C/EDO/ In;usto é quem perdoa a pena ;usta.#EI 0eque antes nesse e@tremo, que em crue<a.C/EDO/ N8o se consente o #ei pecar em nada.#EI Sou homem.C/EDO/ 0orém #ei.#EI / #ei perdoa.01COEC/ Nem sempre perdoar é piedade.#EI Eu ve;o Ya inocente, m8e de uns =ilhos T 3e meu =ilho, que mato ;untamente.C/EDO/ 7as d2s vida a teu =ilho, salvas)lhe a alma, T 0aci=icas teu #eino a tiseguras. T #estituis)nos honra, pa<, descanso. T 3estrAis a traidores cortasquanto T Sobre ti, e teu neto se tecia... $1to IV, cena II.-

/ rei, pela segunda ve<, sucumbe aos argumentos dos acusadores. E agora, para

evitar novo con=ronto com In!s, ele d2 a senten6a de=initiva $na verdade, trans=ere aos

outros a decis8o-

#EI Eu n8o mando, nem veto. 3eus o ;ulgue. T VAs outros o =a<ei, se vos parece T Justi6a, assim matar quem n8o tem culpa. $Ib.-

 

/s conselheiros aceitam a incumb!ncia e matam a pobre In!s. Na pe6a de 5erreira, o rei en=renta um terr:vel dilema ser um ;ui< imparcial e

impessoal, ;ulgar Hnica e e@clusivamente a verdade do crime, ou um che=e de Estado,

respons2vel pelo bem geral e o =uturo da na68o. Ele cede > lAgica das ra<9es de Estado,

esse 3estino implac2vel, mas carrega, apesar disso, sua responsabilidade na decis8o,

uma situa68o que ;2 indica tra6os de modernidade se instaurando no modelo cl2ssico.

1.". Inês de Castro na epop&ia !lassi!ista

1inda no Classicismo, mas agora no g!nero epopéia $poema longo, narrativo,

em que se relatam os =eitos de um herAi de uma determinada coletividade-, vamos

encontrar, em meados século XVI, Du:s Va< de Cam9es $%*&T*)%*'RTM(- compondo

Os lusíadas. Ele insere o episAdio de In!s de Castro no Canto III de seu poema épico.

Con=orme lemos ali, durante a travessia rumo > Zndia, a armada de Vasco da

"ama chega a 7elinde $cidade que ho;e pertence ao Fu!nia, na =rica-, cu;o rei solicita

ao almirante que conte a histAria de 0ortugal. Nos cantos III, IV e V, o "ama narra a

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histAria das duas primeiras dinastias portuguesas, chegando até o in:cio da viagem. /

relato de In!s ocupa de<essete estro=es do terceiro canto, nas quais a rainha depois de

morta é apresentada como v:tima da ine@orabilidade do 1mor.

?u sA, tu, puro 1mor, com =or6a crua,Fue os cora69es humanos tanto obriga,3este causa > molesta morte sua,Como se =ora pér=ida inimiga.Se di<em, =ero 1mor, que a sede tua Nem com l2grimas tristes se mitiga,L porque queres, 2spero e tirano,?uas aras banhar em sangue humano. $III, %%R-

1 idéia da responsabilidade do 1mor pela morte de In!s ;2 se encontrava em

"arcia de #esende e 1ntAnio 5erreira $BJ2 morreu 3ona In!s, matou)a 1mor, 1to IV,

cena II-. Em Cam9es, ele é apresentado como o deus 1mor $Eros, na tradi68o grega-,

um senhor B2spero e tirano, cu;a =or6a escravi<a os cora69es. Ele n8o se satis=a< apenas

com as l2grimas dos amantes, também dese;a seu sangue como o=erenda em seus

altares.

 No entanto, a grande contribui68o de Cam9es ao mito de In!s =oi a cria68o de

um conte@to l:rico no qual a histAria passaria ent8o a ser contada. 1té ali, pe6as e

 poemas se concentravam na narrativa dos eventos e nos discursos de de=esa e acusa68o.

/ bardo portugu!s vai dar =ormas e cores ao ambiente $Coimbra-, antropomor=i<ar a

 Nature<a, tra<er per=umes e mHltiplas sensa69es aos episAdios e conclamar =igurantes a

so=rer e chorar pelos amores de In!s e 0edro

 Nos saYdosos campos do 7ondego,3e teus =ermosos olhos nunca en@uto,1os montes ensinando e >s ervinhas

/ nome que no peito escrito tinhas. $III, %(-1s =ilhas do 7ondego a morte escuraDongo tempo chorando memoraram,E, por memAria eterna, em =onte pura1s l2grimas choradas trans=ormaram. $III, %+*-

1ssi como a bonina, que cortada1ntes do tempo =oi, cKndida e bela,Sendo das m8os lacivas maltratada

3a minina que a trou@e na capela,/ cheiro tra< perdido e a cor murchada?al est2, morta, a p2lida don<ela,Secas do rosto as rosas e perdida1 branca e viva cor, co a doce vida.$III, %+&-

Esse episAdio =orma com outras passagens do poema um con;unto de versos

dedicados aos in=ortHnios do amor. 7uitos comentaristas consideram que tal obsess8o

sobre o assunto revela um viés autobiogr2=ico de Cam9es, cu;a vida =ora atribulada por 

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diversas pai@9es =rustradas, uma caracter:stica que tra< assim maior encanto e

curiosidade > epopéia camoniana.

?alve< se;a o momento de se comentar que a histAria de In!s de Castro n8o se

restringe ao repertArio liter2rio portugu!s. / mito de 0edro e In!s, na verdade, =oi

incorporado pela Europa e também pelas 1méricas. 0ara =icarmos apenas em alguns

nomes mais conhecidos, citemos Victor Ougo, E<ra 0ound e o poeta brasileiro, nosso

contemporKneo, Ivan Junqueira. O2 ainda pe6as de balé e uma importante composi68o

oper:stica de Carl 7aria von [eber, além de outras Aperas de diversos autores. 0arte do

interesse demonstrado por esses pa:ses e seus artistas em rela68o > in=austa In!s se deve

ao Canto III de Os lusíadas. / trecho camoniano da histAria de In!s é um dos mais

apreciados e tradu<idos por todo o mundo.

0ara se ter uma idéia da di=us8o e do interesse suscitado por esse episAdio,

 podemos citar a tradu68o =eita dele para o alem8o por Johann "ottlieb 5ichte, destacado

=ilAso=o do Iluminismo. 0ara poder ler Os lusíadas no original, 5ichte aprendeu

 portugu!s e, a partir da:, procedeu a uma preciosa tradu68o dessa parte do poema de

Cam9es, respeitando tanto a métrica quanto o esquema r:mico do original.

1.'. Inês de Castro no Ar!adismo

/ modelo camoniano continuou servindo de inspira68o nos séculos seguintes em

0ortugal. 3urante o 1rcadismo, de %'* a %M*, isso =oi ainda mais sentido, pois essa

=oi uma corrente liter2ria que recuperou muitos dos princ:pios do Classicismo  

 princ:pios esses contrariados ou abolidos durante o 4arroco $%*M()%'*-. / poeta mais

signi=icativo do 1rcadismo portugu!s =oi 7anuel 7aria de 4arbosa du 4ocage, uma

=igura que até mesmo em sua biogra=ia procurou imitar a vida de Cam9es. N8o seria

surpresa, portanto, se 4ocage tivesse dedicado algumas de suas composi69es ao mito deIn!s de Castro, como de =ato aconteceu.

Sobre esse tema, a composi68o mais importante do poeta 2rcade é Can!a!a

mor!e de In"s de Cas!ro. 1 =orma Bcantata se divide em duas partes um longo

recitativo em que se narra um episAdio solene ou galante, e uma 2ria, um poema mais

curto e ritmado, adequado para ser cantado. Dogo na abertura do poema, 4ocage presta

sua homenagem a Cam9es, colocando como ep:gra=e e@atamente dois versos d\Os

lusíadas B1s =ilhas do 7ondego a morte escura T Dongo tempo chorando memoraram$IIII, %+*-. 1 cita68o tem também uma =un68o estrutural, pois a 2ria no =im da cantata

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seria os lamentos entoados pelas B=ilhas do 7ondego $neste caso, as nin=as sa:das do

rio que cru<a Coimbra e corre prA@imo ao 0a6o de Santa Clara, onde morava In!s-

?oldam)se os ares,7urcham)se as =lores7orrei, amores,Fue In!s morreu.

7:sero esposo,3esata o pranto,Fue o teu encantoJ2 n8o é teu.

Sua alma pura Nos céus se encerra?riste da terra0orque a perdeu

Contra a cruel#aiva =erina,5ace divina N8o lhe valeu.

?em roto o seio?esouro oculto42rbaro insultoSe lhe atreveu.

3e dor e espanto No carro de ouro/ NHmen louro3es=aleceu.

1ves sinistras1qui piaram,Dobos uivaram,/ ch8o tremeu.

?oldam)se os ares,7urcham)se as =lores7orrei, amores,Fue In!s morreu.

In %imas.

 No poema de 4ocage =ica patente a inten68o do autor em ampliar o aspecto

l:rico, in=lacionando o que Cam9es ;2 havia =eito em sua epopéia. 0or isso, na cantata

desaparece o ;ulgamento de In!s, sua de=esa, os apelos pelos =ilhos pequenos, ou se;a, as

caracter:sticas dram2ticas que os poetas iniciais haviam privilegiado. 1qui, 4ocage est2

interessado na interioridade da bela In!s, em seus sonhos, nos seus pro=undos anseios e

sentimentos. /s algo<es surgem de sHbito no recitativo, despertando a mulher de seu

devaneio, e em completa mude< cumprem sua macabra tare=a BVAs, brutos assassinos, T

 No peito lhe enterrais os :mpios =erros. T Cai nas sombras da morte T 1 v:tima de amor,lavada em sangue.

3. 0edro também n8o comparece como personagem no poema. Ele apenas é

lembrado em seus versos pela amante e pelas nin=as. 0or isso, sua dor e conseqYente

vingan6a também est8o ausentes. In!s impera so<inha e soberana na cantata, e todos os

=igurantes servem apenas para indicar sua centralidade. 3essa =orma, 4ocage =a< de In!s

uma alegoria do 1mor $o sentimento ideal-, cu;a e@ist!ncia na terra trans=igura a

e@ist!ncia humana, mas cu;a prApria e@ist!ncia est2 sempre sob a amea6a do Adio e daviol!ncia dos que representam os interesses materiais e mundanos.

1.(. Inês de Castro em nossos dias

1té o século XIX, o amor desmedido, a in;usti6a =lagrante, a saudade sem

tréguas, o coroamento depois da morte, a perenidade do amor, o anseio pela eternidade

etc. =oram se reve<ando entre as !n=ases que as diversas produ69es e escolas liter2rias

dedicaram > histAria da rainha depois de morta. 7as, no =inal dos oitocentos, outros

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aspectos passaram a ser =ocali<ados e =acetas inesperadas surgiram de dentro de uma

histAria que se suporia haver esgotado todas as possibilidades de surpreender.

J2 hav:amos dito no come6o deste estudo que a =orma68o do mito de In!s de

Castro de certa =orma lastreou a constru68o da identidade portuguesa, da auto)imagem e

 personalidade da nacionalidade lusitana. Nesse sentido, o mito inesiano como que deu

corpo e =orma > Bsaudade portuguesa e gerou atributos a tal sentimento identit2rio

es=or6o de vencer a morte, alme;ar a eternidade, entre outros. 1 partir das vanguardas do

in:cio dos novecentos, vamos assistir alguns artistas procurando desconstruir o mito de

In!s, para de alguma maneira tocar, analisar e, quem saber, questionar o nHcleo da

imagem do ser portugu!s.

m dos e@emplos mais bem reali<ados dessa poss:vel desconstru68o est2 no

romance  &divinhas de Pedro e In"s  $%RM+-, da escritora portuguesa 1gustina 4essa)

Du:s, nascida em %R e ainda viva. ?rata)se de um dos talentos liter2rios mais

 pro=:cuos de 0ortugal. Sua produ68o liter2ria, que inclui romances, pe6as teatrais,

ensaios e biogra=ias, demonstra uma instigante preocupa68o com aspectos histAricos e

sociais da cultura de seu pa:s.

 Nas  &divinhas, um narrador de estatuto bem peculiar para um romance reali<a

uma espécie de inquérito sobre a Bverdade histArica do episAdio real de In!s de Castro.

Como tal verdade se encontra vedada ao conhecimento ob;etivo, tanto pela =alta de

documenta68o e testemunhos =iéis, quanto pela descon=ian6a sobre métodos e critérios

da OistAria enquanto disciplina cient:=ica, a narrativa vai tentando preencher as lacunas

e inconsist!ncias do relato conhecido, =ormulando assim uma outra possibilidade de

con=igura68o da prApria histAria.

 Narrador e leitor se unem num empreendimento ao mesmo tempo cr:tico e

criativo, procurando e@trair das brechas da histAria e do questionamento do mito

 produ<ido pela literatura anterior uma outra histAria, talve< um novo mito, capa< derepresentar mais adequadamente a sociedade presente. L assim que do livro de 4essa)

Du:s surge uma outra imagem de In!s n8o mais a inde=esa amante, alienada das

demandas pol:ticas e intrigas palacianas, mas uma mulher arro;ada, cu;a ambi68o pelo

 poder pGs em @eque o s!a!us 'uo portugu!s

Era preciso destru:)la e, se poss:vel, substitu:)la pelo mito. $...- 1o e@altar oamor de 0edro e In!s nesse quadro romKntico da obra tumular de 1lcoba6a, d2)

se)lhe uma satis=a68o simbAlica, tornando)o assim ino=ensivo para a sociedade.$4essa)Du:s %RM+%*M-

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3essa =orma, historiogra=ia o=icial e o mito primevo estariam mancomunados no

mesmo sentido de redu<ir a personagem real de In!s > de uma mo6a gentil e inde=esa,

apontando assim para o papel social que as mulheres portuguesas deveriam aceitar e

imitar na patriarcal sociedade lusitana. Fuanta di=eren6a, n8oU

Vinte anos antes da publica68o de &divinhas, o escritor Oerberto Oelder lan6ava

um livro de contos intitulado Os $assos em vol!a  $%R+-. Nele, o conto B?eorema

retomava nossa conhecida histAria sob um prisma ainda mais inusitado. Oerberto

Oelder, nascido em 5unchal, Ilha da 7adeira, em %R+(, é um dos mais celebrados

 poetas vivos em 0ortugal. 3ono de uma escrita hermética e ao mesmo tempo

desa=iadora, em B?eorema, o personagem central e narrador é 0ero Coelho, um dos

assassinos de In!s. 1 a68o decorre durante a sua e@ecu68o, que assume os aspectos de

uma missa negra. Fuando o rei 0edro I devora o cora68o do condenado, este passa a

e@istir dentro do monarca BIrei crescendo na minha morte, irei crescendo dentro do rei

que comeu o meu cora68o $Oelder %R'*%%-.

 Na verdade, ao contr2rio da descri68o =eita pela tradi68o, n8o h2 Adio entre os

dois, e seus atos parecem constituir um ritual religioso. / prAprio e@ecutado assim

e@plica a =ant2stica situa68o em que se encontrava

5ui condenado por ser um dos assassinos da sua amante =avorita, 3. In!s.1lguém quis de=ender)me, di<endo que eu era um patriota. Fue dese;ava salvar o #eino da in=lu!ncia espanhola. ?olice. N8o me interessa o #eino. 7atei)a parasalvar o amor do rei. 3. 0edro sabe)o. $Oelder %R'*%%')M-.

1 lAgica de 0ero Coelho é implac2vel, caso ele n8o tivesse cometido aquele

horrendo assassinato, todos os envolvidos seriam inevitavelmente esquecidos e o

sublime amor de 0edro e In!s da mesma =orma submergiria no sil!ncio. 3o modo como

aconteceu, os participantes daquela tragédia seriam imortali<ados e, através da

literatura, suas vidas poderiam ser o=erecidas a cada era como alimento eucar:stico B/

 povo sA ter2 de receber)nos como alimento, de gera68o em gera68o $ib., p. %%-, da

mesma =orma como a que 0edro comia o cora68o do narradorTassassino.

 No =im das contas, a verdadeira hero:na da histAria é a poesia, sendo que os

des=echos tr2gicos ou desditosos s8o apenas motiva69es para que a palavra poética

 possa e@ercer o seu papel de eterni<ar tudo aquilo que toca.

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/ =ato é que In!s de Castro ho;e designa um volumoso con;unto de te@tos que

trata das tem2ticas do amor, da morte, da saudade, da identidade portuguesa, do mito, da

mulher, entre outros, contando com grandes nomes da literatura portuguesa e de outras

literaturas e artes que t!m como re=er!ncia a tradi68o européia. 5ica, portanto, o convite

>queles que se sensibili<aram com o episAdio da que =oi rainha depois de morta, e com

as possibilidades cr:ticas que sua releitura ou reescritura ainda permite, que leiam na

:ntegra os te@tos que =oram analisados e procurem os outros muitos autores que se

aventuram nesse tema.

2. )e*to !omplementar

 No Hltimo cap:tulo da Chronica de el-rei D. Pedro I , 5ern8o Dopes descreve a

cerimGnia de translado dos restos mortais de In!s de Castro e o =im do reinado de rei 3.

0edro.

Capitulo +LI,

$Dopes %MR*-

Como oi trasladada ona Igne/ para o mosteiro de Al!o0aa e da morte del-rei

om Pedro .

0orque semelhante amor, qual el)rei 3om 0edro houve a 3ona Igne<, raramente

é achado em alguma pessoa, porém disseram os antigos que nenhum é t8o

verdadeiramente achado, como aquelle cu;a morte n8o tira da memoria o grande espa6o

do tempo. E se algum disser que muitos =oram ;2, que tanto e mais que elle amaram,assim como 1driana, e 3ido, e outras que n8o nomeamos, segundo se l! em suas

epistolas, responde)se que n8o =alamos em amores compostos, os quaes alguns autores

abastados de eloquencia, e =lorescentes em bem ditar, ordenaram segundo lhes prouve,

di<endo em nome de taes pessoas ra<9es que nunca nenhuma dQellas cuidou mas

=alamos dQaquelles amores que se contam e l!em nas historias, que seu =undamento teem

sobre verdade.

Esse verdadeiro amor houve el)rei 3om 0edro a 3ona Igne<, como se dQellanamorou sendo casado e ainda in=ante, de guisa que, pero dQella no come6o perdesse

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vista e =ala, sendo alongado, como ouvistes, que é o principal a<o de se perder o amor,

nunca cessava de lhe enviar recados, como em seu logar tendes ouvido. Fuanto depois

trabalhou pela haver, e o que =e< por sua morte, e quaes ;usti6as nQaquelles que em ella

=oram culpados, indo contra seu ;uramento, bem é testemunho do que nAs di<emos.

E sendo lembrado de lhe honrar seus ossos, pois lhe ;2 mais =a<er n8o podia,

mandou =a<er um moimento de alva pedra, todo mui subtilmente obrado, pondo elevada

sobre a campa de cima a imagem dQella, com corGa na cabe6a, como se =Gra rainha. E

este moimento mandou pGr no mosteiro de 1lcoba6a, n8o 2 entrada, onde ;a<em os reis,

mas dentro na egre;a, 2 m8o direita, a cerca da capella)mAr.

E =e< tra<er o seu corpo do mosteiro de Santa Clara de Coimbra, onde ;a<ia, o

mais honradamente que se =a<er pode, c2 ella vinha em umas andas, muito bem

corrigidas para tal tempo, as quaes tra<iam grandes cavalleiros, acompanhadas de

grandes =idalgos, e muita outra gente, e donas, e don<ellas e muita clere<ia.

0elo caminho estavam muitos homens com cirios nas m8os, de tal guisa

ordenados, que sempre o seu corpo =oi, por todo o caminho, por entre cirios accesos e

assim chegaram até ao dito mosteiro, que eram dQalli de<esete leguas, onde com muitas

missas e gr8o solemnidade =oi posto seu corpo nQaquelle moimento. E =oi esta a mais

honrada traslada68o que até 2quelle tempo em 0ortugal =Gra vista.

Semelhavelmente mandou el)rei =a<er outro tal moimento, e tambem obrado,

 para si, e =!l)o pGr a cerca do seu dQella, para quando acontecesse de morrer o deitarem

nQelle.

E estando el)rei em Estremo<, adoeceu de sua postremeira dGr, e ;a<endo doente,

lembrou)se como, depois da morte de 1lvaro "on6alves e 0ero Coelho, elle =Gra certo

que 3iogo Dopes 0acheco n8o =Gra em culpa da morte de 3ona Igne<, e perdoou)lhe

todo quei@ume que dQelle havia, e mandou que lhe entregassem todos seus bens e assim

o =e< depois el)rei 3om 5ernando, seu =ilho, que lhQos mandou entregar todos, e lheal6ou a senten6a, que el)rei seu padre contra elle pass2ra, quanto com direito poude.

E mandou el)rei em seu testamento, que lhe tivessem em cada um anno, para

sempre, no dito mosteiro, seis capell8es que cantassem por elle cada dia uma missa

o==iciada, e sairem sobre ella com cru< e agua benta. E el)rei 3om 5ernando, seu =ilho,

 por se isto melhor cumprir, e se cantarem as ditas missas, deu depois ao dito mosteiro,

em doa68o por sempre, o logar que chamam as 0aredes, termo de Deiria, com todas as

rendas e senhorio que nQelle havia.

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E dei@ou el)rei 3om 0edro, em seu testamento, certos legados, a saber 2 in=ante

3ona 4eatri<, sua =ilha, para casamento, cem mil libras e ao in=ante 3om Jo8o, seu

=ilho, vinte mil libras e ao in=ante 3om 3ini<, outras vinte mil e assim a outras

 pessoas.

E morreu el)rei 3om 0edro uma segunda)=eira de madrugada, de<oito dias de

 ;aneiro da era de mil e quatrocentos e cinco annos, havendo de< annos e sete me<es e

vinte dias, que reinava, e quarenta e sete annos e nove me<es e oito dias de sua idade. E

mandou)se levar 2quelle mosteiro que dissemos, e lan6ar em seu moimento, que est2

 ;unto com o de 3ona Igne<.

E porquanto o in=ante 3om 5ernando, seu primogenito =ilho, n8o era ent8o ahi,

=oi el)rei detido e n8o levado logo, até que o in=ante veiu e 2 quarta)=eira =oi posto no

moimento.

E di<iam as gentes, que taes de< annos nunca houve em 0ortugal, como estes

que rein2ra el)rei 3om 0edro.

3. i!as de estudo

0ara que o estudante possa completar as in=orma69es sobre a apropria68o da

histAria de In!s de Castro pela literatura e outras artes, sugerimos as seguintes obras

a. 4o0re a literatura portuguesa5

S/S1, 7aria Deonor 7achado de.  In"s de Cas!ro na li!era!ura $or!uguesa. Disboa

Instituto de Cultura e D:ngua 0ortuguesa, %RM&.

0. 4o0re a literatura europ&ia5

S/S1, 7aria Deonor 7achado de. In"s de Cas!ro( )m !ema $or!ugu"s na *uro$a.

Disboa Edi69es '(, %RM'.

. Ati6idades

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7uest8o 1 0or tr2s da e@ecu68o de In!s de Castro, pode)se detectar v2rias

 poss:veis Bra<9es de Estado que teriam levado o rei 1=onso IV a se decidir pela morte

da dama galega. Comente as principais.

9esposta 1 in=lu!ncia dos irm8os de 3. In!s na corte de Disboa era vista com

receios pelo rei e nobre<a eles estariam convencendo 3. 0edro a se casar com ela para

assim pleitear o trono espanhol. 1lém do vis:vel risco de 0ortugal ser ane@ado >quele

 pa:s, tal ob;etivo punha em risco a vida do leg:timo herdeiro do trono, 3. 5ernando,

=ilho legal de 3. 0edro com 3. Constan6a.

7uest8o 2 3e que =orma, o mito de In!s de Castro a;udou a construir a

identidade portuguesaU

9esposta Sob a Atica tradicional, a saudade despertada pelo intenso amor que

3. 0edro nutria por In!s, capa< de manter vivo esse a=eto mesmo depois da morte da

amante e provocar cruéis vingan6as, acabou se constituindo numa marca do esp:rito

 portugu!s. / saudosismo passou a ser uma constante na cultura lusitana, alimentado

 pelas sucessivas obras liter2rias e art:sticas que retomaram o tema de 0edro e In!s. J2

nas obras contemporKneas, o mito tem sido revisto e, como no caso da escritora

1gustina 4essa)Du:s, ele teria contribu:do, por meio da imagem alienada e submissa de

In!s, com a manuten68o de uma sociedade patriarcal e machista.

7uest8o 3 1lém da grande qualidade art:stica do episAdio de In!s de Castro em

Os lusíadas, de Cam9es,  qual o papel que seus versos e@erceram na literatura

 portuguesa e na cultura ocidentalU

9esposta Cam9es criou um padr8o l:rico para esse tema que repercutiu nas

gera69es seguintes em 0ortugal, como as composi69es de 4ocage acerca de In!s podem

con=irmar. Em termos internacionais, o épico camoniano contribuiu para a divulga68oda histAria de In!s, sendo esse episAdio um dos trechos da epopéia mais tradu<idos e

 publicados individualmente.

". 9eerên!ias 0i0liogr:i!as

4ESS1)DZS, 1. 1divinhas de 0edro e In!s. Disboa "uimar8es, %RM+.4/C1"E, 7anuel 7aria 4arbosa du. &n!ologia $o+!ica. Disboa Ed. Verbo, %R'.

C17]ES, Du:s de. Os ,usíadas. #io de Janeiro Nova 5ronteira, %RR+.

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5E##EI#1, 1ntAnio. Cas!ro.  In S/1#ES, Nair de Na<aré Castro.  In!roduo lei!ura daCas!ro de &n!/nio 0erreira estudo, te@to integral e notas. Coimbra Divraria 1lmedina,%RR

"/44I, 72rcia Valéria ^amboni. B1té o =im do mundo In!s de Castro e a saudade doimposs:vel.  In  &nais do 1I *ncon!ro %egional da &bralic  $(('-. 3ispon:vel emhttpTT___.abralic.org.brTenc(('TanaisT(T&&'.pd=. 1cesso em ( de outubro de ((M.

OED3E#, O. ?eorema. In ``````. Os $assos em vol!a. *. ed. Disboa 1ss:rio e 1lvim, %R'*.D/0ES, 5ern8o. Chronica de el-rei D. Pedro I . Disboa ?Pp. do Commercio de 0ortugal,

%MR*. ?e@to digitali<ado dispon:vel no 0ro;eto "utemberg, httpTT___.gutenberg.org.0ESS/1, 5ernando. Mensagem. S8o 0aulo Companhia das Detras, (((.#ESEN3E, "arcia. Cancioneiro Geral . & vols. Disboa Imprensa Nacional Casa da 7oeda,

vol. IV, %RR()%RR+.S1#1IV1, 1ntAnio José e D/0ES, scar.  2is!/ria da ,i!era!ura Por!uguesa. 0orto, 0orto

Editora, ((*.SEN1, J. de. Estudos de OistAria e de Cultura. Disboa /cidente, %R+. v. I.S/S1, 7aria Deonor 7achado de. In"s de Cas!ro na li!era!ura $or!uguesa. Disboa Instituto

de Cultura e D:ngua 0ortuguesa, %RM&.

 ````````. In"s de Cas!ro( )m !ema $or!ugu"s na *uro$a. Disboa Edi69es '(, %RM'. ````````. 0edro I de 0ortugal e In!s de Castro.  In CEN?EN/, .f. $Coord.- Por!ugal( mi!osrevisi!ados. Disboa Salamandra, %RR+.

?/##ES 5IDO/, #ubens #odrigues. In!s de Castro e a doutrina)da)ci!ncia.  0olhe!im, % de ;unho de %RM', p. 4)MTR. Suplemento do ;ornal 0olha de 3o Paulo.

'. ;an!o de <uest=es >todas as alternati6as #a$ est8o !orretas?

%. Sobre In!s de Castro, aquela que Bdepois de morta =oi rainha, é correto

a=irmar que sua origem era

a. "alega.

 b. 0ortuguesa.

c. Espanhola.

d. Deonesa.

. 5ern8o Dopes é considerado o Bpai da OistAria em 0ortugal por ser um dos

 primeiros cronistas a se preocupar com a con=irma68o dos =atos através da an2lise e

registro de documentos. ma de suas principais obras se intitula

a. CrGnica de el)rei 3. 0edro I.

 b. Cancioneiro "eral.

c. OistAria de 0ortugal.

d. Divro do conde 3. 0edro.

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+. 1 respeito do Classicismo em 0ortugal é correto a=irmar

I. N8o representou uma ruptura com o Oumanismo, escola > qual se seguiu, mas

sim uma radicali<a68o de alguns de seus princ:pios

II. No teatro, abandonou os padr9es dramatHrgicos estabelecidos na "récia e

#oma antigas.

III. ma das mais importantes pe6as do per:odo é Cas!ro, de 1ntAnio 5erreira.

a. I e III est8o certas.

 b. I e II est8o certas.

c. 1penas II est2 certa.

d. 1penas I est2 certa.

&. Sobre o episAdio de In!s de Castro, que se encontra no Canto III d\ Os

lusíadas, de Cam9es, é correto se di<er que

a. / autor usa recursos l:ricos que depois repercutiriam nos poetas seguintes.

 b. Cam9es n8o repete idéias e motivos que ;2 haviam sido utili<ados em "arcia

de #esende e 1ntAnio 5erreira.

c. / episAdio n8o teve muita importKncia para a =ama e divulga68o internacional

d\Os lusíadas.

d. Cam9es baseou)se em g!neros e poéticas medievais para compor Os lusíadas.

*. 1 respeito de 4ocage podemos a=irmar que

I. 5oi um poeta 2rcade,II. 5oi in=luenciado pelo episAdio camoniano de In!s de Castro ao escrever sua

Can!a!a para essa personagem.

III. En=ati<ou os aspectos dram2ticos do ;ulgamento de In!s em sua Can!a!a.

a. 1s respostas I e II est8o corretas.

 b. 1penas a resposta I est2 correta.

c. 1penas a resposta III est2 correta.d. 1s respostas II e III est8o corretas.

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. 1 partir do =inal do século XIX, o tema de In!s de Castro

a. Continuou presente na literatura portuguesa, que passou a buscar aspectos e

 perspectivas inusitadas.

 b. /s poetas e escritores em geral continuaram a ser in=luenciados

 principalmente por Cam9es.

c. / tema =oi abandonado pelos autores portugueses, mostrando o esgotamento

das possibilidades liter2rias dessa histAria.

d. /s escritores passaram a en=ati<ar ainda mais os elementos da

responsabilidade do 1mor pela morte In!s $Cam9es- e a dramaticidade de seu

 ;ulgamento $1ntAnio 5erreira-.

'. No romance de 1gustina 4essa)Du:s, &divinhas de Pedro e In"s

a. 1s lacunas da histAria de In!s, em ve< de impedir uma avalia68o de=initiva

sobre o episAdio, d8o ao leitor a possibilidade de criticar sua cultura e recriar o mito da

 bela In!s.

 b. / narrador procura preencher as dHvidas sobre o caso de In!s com uma sAlida

investiga68o histArica.

c. / romance procura validar o mito tradicional de In!s, sem se importar com

sua verdade histArica.

d. / narrador, in=luenciado por Cam9es, resgata a imagem de In!s desenvolvida

 pela literatura anterior.

M. No conto B?eorema de Oerberto Oelder, o personagem principal e narrador é

a. 0ero Coelho, um dos assassinos de In!s.

 b. In!s de Castro no momento de sua e@ecu68o.

c. / Besposo de In!s, 3. 0edro I.

d. / rei 1=onso IV durante o ;ulgamento de In!s.