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i Universidade Estadual de Campinas Instituto de Química Departamento de Físico-Química Dissertação de Mestrado Indução e Dissipação de Cargas em Dielétricos: Evidências do Papel da Atmosfera como Reservatório de Cargas Thiago Augusto de Lima Burgo Orientador: Prof. Dr. Fernando Galembeck Campinas Fevereiro de 2009

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Page 1: Indução e Dissipação de Cargas em Dielétricos: … · i Universidade Estadual de Campinas Instituto de Química Departamento de Físico-Química Dissertação de Mestrado Indução

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Universidade Estadual de Campinas

Instituto de Química

Departamento de Físico-Química

Dissertação de Mestrado

Indução e Dissipação de Cargas em

Dielétricos: Evidências do Papel da Atmosfera

como Reservatório de Cargas

Thiago Augusto de Lima Burgo

Orientador: Prof. Dr. Fernando Galembeck

Campinas

Fevereiro de 2009

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FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA DO

INSTITUTO DE QUÍMICA DA UNICAMP

Burgo, Thiago Augusto de Lima. B915i Indução e dissipação de cargas em dielétricos:

evidências do papel da atmosfera como reservatório de cargas / Thiago Augusto de Lima Burgo. -- Campinas, SP: [s.n], 2009.

Orientador: Fernando Galembeck. Dissertação - Universidade Estadual de Campinas,

Instituto de Química. 1. Eletrostática. 2. Dielétricos. 3. Portadores de

carga. 4. Polietileno. I. Galembeck, Fernando. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Química. III. Título.

Título em inglês: Charge induction and dissipation in dielectrics: the atmosphere as a charge reservoir Palavras-chaves em inglês: Electrostatic, Dielectrics, Charge carrier, Polyethylene Área de concentração: Físico-Química Titulação: Mestre em Química na área de Físico-Química Banca examinadora: Fernando Galembeck (orientador), Edvaldo Sabadini (IQ-UNICAMP), Paulo Teng An Sumodjo (IQ-USP) Data de defesa: 19/02/2009

burguinho
Typewritten Text
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"Sofremos demasiadamente pelo pouco que nos falta e alegramo-nos pouco

pelo muito que temos..."

William Shakespeare.

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Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Deus, que foi o primeiro a colocar em meu

coração a vontade e o desejo de estudar.

Ao professor Fernando Galembeck, por ter me aceito como seu aluno, pela sua

disposição, e por ser um exemplo a ser seguido como pesquisador.

Aos grandes amigos que fiz ao chegar a Campinas, Márcio Navega (Ogrinho),

Wanderson Romão (Português), Giovani Conturbia (Psico) e Mario Killner

(Pinóquio).

Aos colegas de laboratório, Sérgio, Fábio, Cristiane, Rúbia, Camila, Ana,

Melissa, Rafael, César, Elisângela, Telma, Juliana e em especial a Maria por

todo treinamento em aparelhos do laboratório e também a Márcia pelas

conversas descontraídas.

À minha professora do ensino médio, Maria das Graças, que foi um dos meus

maiores incentivos, e uma das responsáveis por eu não desistir.

Ao meu querido avô, Diógenes Pereira Lima, que tanto me incentivava, e que

não conseguiu ver-me concluir os estudos.

Aos meus pais, Paulo e Silvana, pelo carinho e princípios que desde pequeno

me influenciam e principalmente por me fazerem provar do verdadeiro amor.

Aos meus irmãos, Túlio e Larissa, pelo afeto, compreensão, amizade e

companherismo. E à minha avó, Dona Célia, que para mim é uma segunda

mãe.

Aos meus sobrinhos Murilo e João Felipe por seus sorrisos.

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Curriculum Vitae

Dados pessoais

Nome: Thiago Augusto de Lima Burgo

Data de nascimento: 20/03/1984

Local : Presidente Prudente / São Paulo

Estado civil: solteiro

Endereço: Rua José Martins, 613 – Barão Geraldo – Campinas/SP

CEP: 13084-153

Telefone: (19) 3521-2906 Celular: (19) 9276-8046

E-mail: [email protected]

Filiação: Silvana Pereira Lima Burgo e Paulo Augusto Burgo

Áreas de pesquisa em que tem experiência:

Idiomas: Português, Inglês (compreensão, fala, leitura e escrita).

Formação Acadêmica

2007- 2009: Mestrado em Química. Universidade Estadual de Campinas,

Brasil.

Dissertação: “Indução e Dissipação de Cargas em Dielétricos: Evidências do

Papel da Atmosfera como Reservatório de Cargas”

Orientação: Prof. Dr. Fernando Galembeck

2003 - 2007: Bacharelado em Química. Universidade Estadual de Maringá,

Brasil.

Produção científica

Iniciação científica: Programa de Educação Tutorial - PET/SESu

Instituição financiadora: MEC

Instituição: Universidade Estadual de Maringá - UEM

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Período: 01/05/2003 a 31/01/2007 com carga horária de 20 horas semanais

Trabalhos Apresentados

Burgo TAL, Bertazzo S, Galembeck F. Charge Dissipation on the Surface of

Oxidized Polyethylene. In: VII Encontro da SBPMat/ 7th Brazilian MRS

Meeting, 2008, Guarujá/ SP.

Burgo TAL, Bertazzo S, Galembeck F. Indução de Cargas em Papel Imerso

em Campo Elétrico. In: 31ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de

Química, 2008, Águas de Lindóia/ SP.

Galembeck F, Gouveia RF, Burgo TAL, Bertazzo S. Detection of charge

distribution in insulator surfaces: a new model for insulator charging. In: 9th

International Conference on the Structures of Surfaces, 2008, Salvador, BA.

Program and Abstracts, 2008. p. 60-60.

Galembeck F, Galembeck A, Bertazzo S, Gouveia RF, Burgo TAL. A new

model for electrostatic patterning in dielectric surfaces. In: International

Workshop: Frontiers in Materials Research IV, 2008, Vina del Mar, Chile.

Book of Abstracts, 2008. p. s/n-s/n.

Galembeck F, Bertazzo S, Burgo TAL, Soares LC. Polymer Insulator

Electrostatic Charging: New Mechanisms based on Intrinsic and Extrinsic

Charge-Bearing Species. In: 10th International Conference on Advanced

Materials, 2007, Bangalore, India. CD-Rom: 10th International Conference on

Advanced Materials, 2007. p. C-13-C-14.

Bertazzo S, Buergo TAL, Galembeck F. . Electrostatic Dissipation of Low

Polyethylene Surfaces. In: VI Encontro da SBPMat/ 6th Brazilian MRS

Meeting, 2007, Natal. CD-Rom, 2007.

Burgo TAL, Martins LG, Favaro DC, Rozada TC, Oliveira CC. Apresentação

de Experimentos: Uma Forma Alternativa para o Ensino de Química. In:

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XVIII Seminário de Pesquisa, XIII Semana de Iniciação Científica e I Jornada

Paranaense de Grupos PET, 2006, Guarapuava/ PR.

Publicação

Artigo publicado

Soares LC, Bertazzo S, Burgo TAL, Baldim V, Galembeck F. A New

Mechanism for the Electrostatic Charge Build-up and. Journal of the Brazilian

Chemical Society, v. 19, p. 277-286, 2008.

Artigo submetido

Burgo TAL, Bertazzo S, Pinto FF, Januzzi SAV, Rezende CA, Galembeck A,

Galembeck F. Electric Potential Dissipation on Polyethylene: a New

Mechanism for Electrostatic Charge Build-up and Dissipation. Physical

Chemistry Chemical Physics.

Premiação

“Prêmio Unicentro de Iniciação Científica - Centro de Ciências Exatas e de

Tecnologia” XVIII Seminário de Pesquisa, XIII Semana de Iniciação

Científica e I Jornada paranaense de Grupos PET, 2006, Guarapuava/ PR.

Estagio

Laboratório de AGROQUÍMICA E MEIO AMBIENTE, Departamento de

Química - Universidade Estadual de Maringá - UEM. Maringá/ PR.

Período: 15/05/2006 a 09/11/2006, numa carga horária total de 140 (cento e

quarenta) horas.

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Atividades: -preparação de reagentes; -preparação de amostras de solo para as

respectivas análises; -análise de boro; -análise de enxofre em solo; e -análise

foliar. Coordenador: Prof. Dr. Ervim Lenzi.

Monitoria

“XXI Semana de Química da UEM” (Processo 1291/05). Universidade

Estadual de Maringá - UEM. Maringá/ PR. Período: 13/06/2005 a 17/06/2005.

Palestras

“IX Mostra de Profissões”. Centro Universitário de Maringá - CESUMAR.

Maringá/ PR. 25 de agosto de 2006.

“VIII Mostra de Profissões”. Centro Universitário de Maringá - CESUMAR.

Maringá/ PR. 26 de agosto de 2005.

“VII Mostra de Profissões”. Centro Universitário de Maringá - CESUMAR.

Maringá/ PR. 27 de agosto de 2004.

Participação em Congressos e Eventos

“VII Encontro da SBPMat 2008”. Guarujá/ SP. 28 de setembro a 02 de

outubro de 2008.

“31ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química”. Águas de Lindóia/

SP. 26 a 29 de maio de 2008.

“VI Encontro da SBPMat 2007”. Natal/ RN. 28 de outubro a 01 de novembro

de 2007

“XVIII Seminário de Pesquisa, XIII Semana de Iniciação Científica e I

Jornada paranaense de Grupos PET”. Guarapuava/ PR. 17 a 20 de outubro de

2006.

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“XI ENAPET”. Florianópolis/ SC. 16 a 21 de julho de 2006.

“VII SULPET”. Florianópolis/ SC. 21 a 24 de abril de 2005.

“IX ENAPET”. Cuiabá/ MT. 19 a 21 de julho de 2004.

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Resumo

Neste trabalho estudou-se o comportamento de potenciais induzidos em

celulose pela aproximação de um corpo eletrificado e também a dissipação de

cargas (positivas e negativas) em polietileno de baixa densidade (PEBD)

geradas por descarga corona. As medidas de determinação do potencial

eletrostático foram feitas utilizando eletrodos de Kelvin acoplados a

voltímetros eletrostáticos. Os resultados mostraram que a umidade relativa

(UR) tem papel decisivo tanto sobre a indução e dissipação de cargas em

celulose quanto sobre a dissipação de cargas em polietileno. Nos experimentos

de dissipação de carga em PEBD (virgem e oxidado) os potenciais são mais

rapidamente dissipados em umidade elevada. O polietileno sempre apresenta

um potencial negativo no equilíbrio (–4,6 ±0,7V), independente do sinal do

potencial medido após a eletrização inicial, positivo ou negativo. A atmosfera

se mostrou decisiva tanto para a aquisição quanto para a dissipação de cargas

nos materiais e os resultados foram interpretados de acordo com um modelo

no qual a atmosfera atua como reservatório de cargas uma vez que o equilíbrio

da água sob um potencial eletrostático V mostra excesso de concentração de

íons H(H2O)n+ se V < 0 e excesso de concentração de OH(H2O)m

– se V > 0, de

acordo com a definição de potencial eletroquímico. De acordo com este

modelo, a atmosfera é um importante e provavelmente decisivo reservatório

de íons na eletrização e dissipação de cargas de dielétricos.

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Abstract

The objective of this study is the verification of a model for electrostatic

charge induction and dissipation in dielectrics. Experiments aimed at 1) the

determination of electrostatic potential induced and dissipated in cellulose by

the approximation of a charged body and 2) the determination of electrostatic

potential dissipation by low-density polyethylene (LDPE) charged with corona

pulses. Measurements were made using Kelvin electrodes coupled to

electrostatic voltmeters with spatial resolution at the macroscopic and

nanometric scales. In cellulose, positive and negative charge induction follow

the same kinetics with similar time constants but positive corona-induced

potentials in LDPE are dissipated faster than negative corona potentials.

LDPE surface oxidation causes an increase in the rate of corona potential

decay that increases with the degree of oxidation. Relative humidity (RH) is

decisive for both charge acquisition and dissipation and the present results

cannot be explained by the usual assumption of surface conductivity as the

main charge/discharge mechanism. On the other hand, experimental results are

interpreted assuming that the atmospheric water is a charge reservoir for

dielectrics and charge acquisition and dissipation is the result of adsorption

and desorption of H+ and OH

- ions from adsorbed water, under the effect of

external or internal fields. LDPE in equilibrium under a moist nitrogen

atmosphere is not electroneutral, showing an equilibrium potential equal to –

4.6±0.7 V.

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Lista de tabelas

Tabela 1. Potenciais máximos e mínimos na inserção e retirada do indutor,

razão dos potenciais e constantes de decaimento. ................................ 27

Tabela 2. Caracterização por ângulo de contato e refletância no visível. ... 42

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Lista de Figuras

Figura 1. Série triboelétrica. .......................................................................... 5

Figura 2. Esquema de um capacitor de placas paralelas. ............................ 12

Figura 3. Foto do aparelho utilizado no experimento de indução de carga em

papel.. .................................................................................................... 16

Figura 4. Dispositivo piezoelétrico Zerostat®, Aldrich. .............................. 20

Figura 5. Aparelho utilizado para as medidas de potencial elétrico na

superfície de isolantes. .......................................................................... 21

Figura 6. Potencial vs. tempo (a 10% UR e usando uma folha de papel).. . 24

Figura 7. Potencial eletrostático vs. tempo para papel variando a UR de 10% à

70%. ...................................................................................................... 26

Figura 8. Ajuste empírico das curvas de potencial eletrostático vs. tempo para

o experimento com papel efetuado sob 10% UR. ................................. 28

Figura 9. Potencial eletrostático vs. tempo variando o numero de folhas de

papel de filtro, a 10% de umidade relativa. .......................................... 29

Figura 10. Curvas de potencial vs. tempo usando uma folha de papel de filtro,

a 0% UR. ............................................................................................... 30

Figura 11. Curvas de potencial vs. tempo para o porta amostra vazio a 0, 10 e

70% UR. ................................................................................................ 31

Figura 12. Medidas de indução de carga em papel em função do tempo com

suporte de teflon. ................................................................................... 32

Figura 13. Representação esquemática do mecanismo proposto para a indução

e dissipação de cargas em papel.. ......................................................... 35

Figura 14. Espectroscopia de infravermelho de refletância especular das

amostras de polietileno oxidadas. ......................................................... 37

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xxi

Figura 15. Instrumento utilizado para as medidas de ângulo de contato. ... 38

Figura 16. Imagem de uma gota de água sobre PEBD modificado com

K2Cr2O7/ H2SO4. ................................................................................... 38

Figura 17. Resultados das medidas de ângulo de contato de água com as

amostras de polietileno. ........................................................................ 39

Figura 18. Imagens das amostras oxidadas.. ............................................... 40

Figura 19. Espectros de reflectância no visível para os diferentes métodos de

oxidação. ............................................................................................... 41

Figura 20. Mapa de potencial eletrostático a 60% UR para PE lavado de

diferentes maneiras.. ............................................................................. 43

Figura 21. Imagem do porta-amostra de alumínio para as amostras de PEBD.

............................................................................................................... 44

Figura 22. Representação esquemática do suporte de alumínio com as

amostras de polietileno.. ....................................................................... 45

Figura 23. Mapa de potencial eletrostático de oito amostras de polietileno sob

40% UR.. ............................................................................................... 46

Figura 24. Gráficos representando a dissipação do potencial eletrostático em

função do tempo, em polietileno sob várias URs. ................................ 47

Figura 25. Decaimento do potencial elétrico em pontos na amostra de PE (A e

D) e no suporte de alumínio (B e C) sob 3% UR. ................................ 48

Figura 26. Mapas mostrando as meias-vidas de decaimento do potencial em

função da posição dos pontos no polietileno e da umidade relativa. .... 50

Figura 27. Média das meias-vidas de dissipação do potencial para cada peça

de PEBD como função da umidade relativa.. ....................................... 51

Figura 28. Mapas de potencial de equilíbrio. .............................................. 52

Figura 29. Média dos potenciais de equilíbrio em cada peça de PEBD, em

função da umidade relativa.. ................................................................. 53

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xxii

Figura 30. Mapas de potencial de equilíbrio das amostras de polietileno

lavadas de diferentes maneiras sob 60% UR e média do potencial de

equilíbrio sob 1% e 60% de UR. ........................................................... 54

Figura 31. Gráfico de simulação de potencial eletrostático obtido para o

potencial de -4V. ................................................................................... 56

Figura 32. Gráficos de potencial eletrostático em função do tempo para vários

os métodos de oxidação sob 1% de umidade relativa. ......................... 58

Figura 33. Gráficos de potencial eletrostático em função do tempo para os

vários métodos de oxidação sob 60% de umidade relativa. ................. 59

Figura 34. Ajuste do decaimento exponencial da linha 10 do gráfico (d) da

Figura 32. .............................................................................................. 60

Figura 35. Tempo de meia-vida do potencial das amostras oxidadas sob 1% e

60% de umidade relativa. ...................................................................... 61

Figura 36. Tempo de meia-vida vs. ângulo de contado para os vários tipos de

oxidação.. .............................................................................................. 62

Figura 37. Amostras oxidadas com solução de permanganato de potássio em

ácido sulfúrico.. ..................................................................................... 63

Figura 38. Potencial de equilíbrio sob 1% e 60% de umidade relativa. ..... 64

Figura 40. Imagens de topografia e potencial elétrico obtidos por KFM em

amostras lavadas com HCl. ................................................................... 67

Figura 41. Imagens de topografia e potencial elétrico obtidos por EFM em

amostras lavadas com HCl.. .................................................................. 68

Figura 41. Imagens de topografia, potencial elétrico e força elétrica obtidos

por KFM e por EFM em amostra oxidada com solução de KMnO4/H2SO4.

............................................................................................................... 69

Figura 42. Imagens de topografia e de força elétrica para as amostras

oxidadas. ............................................................................................... 70

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Índice

Capítulo 1 ...................................................................................................... 1

Introdução .................................................................................................... 1

1.1. Divisão da dissertação ........................................................................ 1

1.2. Eletrostática: uma ciência já há bastante tempo conhecida ............. 2

1.3. Os portadores de carga em dielétricos ............................................... 4

1.3.1 Portadores de carga: elétrons, íons ou ambos? ........................................................ 4

1.4. A atmosfera na eletrostática ............................................................... 7

1.5. Efeito da atmosfera: Hipótese ............................................................ 8

Capítulo 2 .................................................................................................... 10

Introdução às técnicas de análise e procedimento experimental ............. 10

2.1. Introdução as técnicas de análise .................................................... 10

2.1.1. Introdução ao método de Kelvin ............................................................................. 10

2.1.1.1 Histórico .............................................................................................................. 10

2.1.2. Método de Kelvin .................................................................................................... 11

2.1.3. Microscopia de Força Atômica (AFM) ..................................................................... 14

2.2. Procedimento experimental .............................................................. 14

2.2.1. Experimentos de indução eletrostática .................................................................. 14

2.2.1.1. Preparação das amostras para indução eletrostática ..................................... 14

2.2.1.2. Aparato do sistema de medidas ...................................................................... 15

2.2.1.3. Procedimento para as medidas de indução eletrostática ............................... 16

2.2.2. Monitoramento da dissipação de carga em polietileno ......................................... 17

2.2.2.1. Preparação das amostras de PEBD .................................................................. 17

2.2.2.2. Lavagens do polietileno ................................................................................... 18

2.2.2.3. Oxidação das amostras.................................................................................... 18

2.2.2.4. Caracterização das amostras ........................................................................... 19

2.2.2.5. Eletrização com descarga corona .................................................................... 19

2.2.2.6. Sistema de medida dos experimentos de dissipação de carga em polietileno20

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xxiv

2.2.2.7. Microscopia de força atômica ......................................................................... 22

Capítulo 3 .................................................................................................... 24

Resultados ................................................................................................... 24

3.1. Experimentos de indução de carga em papel .................................. 24

3.1.1. Mudança do porta-amostra de alumínio para um porta-amostra com bordas de teflon

31

3.1.2. Efeito da constante dielétrica do papel .................................................................. 32

3.1.3. Cálculo da densidade de carga ................................................................................ 33

3.1.4. Descrição dos resultados de indução de carga em papel ........................................ 34

3.2. Dissipação de carga em polietileno .................................................. 36

3.2.1. Caracterização das amostras ................................................................................... 36

3.2.2. Dissipação de carga em polietileno ......................................................................... 42

3.2.2.1. Polietileno virgem ........................................................................................... 43

3.2.2.2. Polietileno modificado .................................................................................... 56

3.2.2.2.1. Descrição dos resultados de dissipação de cargas em polietileno modificado 64

3.3. Microscopia de força atômica .......................................................... 65

3.3.1. Microscopia de força Kelvin e de força elétrica ...................................................... 65

Capítulo 4 .................................................................................................... 71

Discussão .................................................................................................... 71

4.1. Indução e dissipação de carga em celulose ..................................... 71

4.2. Dissipação de carga em polietileno .................................................. 75

Capítulo 5 .................................................................................................... 80

Conclusão ................................................................................................... 80

Referências ................................................................................................. 82

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1

Capítulo 1

Introdução

Fenômenos eletrostáticos são conhecidos já há bastante tempo e tem

implicações diretas em diversas áreas da ciência. Vários processos industriais

eletrostáticos funcionam muito bem, mas as explicações que se dá a eles são

ainda vagas, incompletas e algumas vezes controversas.

Nos últimos anos pesquisadores importantes têm se interessado sobre esse

tema como por exemplo George M. Whitesides, professor da Universidade de

Harvard e Allen J. Bard professor da The University of Texas em Austin, e

também revistas conceituadas estão publicando sobre o assunto como o

Journal of the American Chemical Society e também a Science. São

encontradas interessantes propostas na literatura mas, por hora, ainda existem

perguntas cruciais a serem respondidas. Neste trabalho, propõe-se um novo

modelo para a formação e dissipação de carga em dielétricos, eficaz para se

entender todos os resultados obtidos em experimentos de indução de carga

eletrostática em papel pela aproximação de um corpo eletrificado e de

dissipação de cargas em polietileno de baixa densidade (PEBD) geradas por

descarga corona.

1.1. Divisão da dissertação

Esta dissertação está dividida em 5 capítulos sendo que o primeiro é um

capítulo introdutório sobre eletrostática abordando questões controversas e o

que vem sendo estudado sobre o assunto. Também há neste capítulo uma

discussão sobre o que seriam os portadores de carga em dielétricos com

considerações de pesquisadores da área e a improbabilidade de algumas

entidades serem responsáveis pelas cargas em isolantes e, por fim, um resumo

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2

sobre as contribuições de pesquisa antecedentes realizados por nosso grupo de

pesquisa.

O capítulo 2 é composto de duas partes, sendo a primeira uma breve

introdução à hipótese proposta e a segunda as técnicas de análise e o

procedimento experimental.

No capítulo 3, são apresentados os resultados obtidos nos experimentos de

indução de carga em papel e de dissipação de carga em polietileno. O capítulo

4 é dedicado à discussão geral dos resultados apresentados e no capítulo 5 são

apresentadas as conclusões gerais deste trabalho.

1.2. Eletrostática: uma ciência já há bastante tempo conhecida

Os primeiros relatos sobre os fenômenos eletrostáticos remontam a 1500

anos a.C, quando Tales de Mileto observou que, ao se atritar um pedaço de

âmbar, este atraiu pequenos pedaços de palha [1]. Esses fenômenos vêm sendo

estudados ao longo dos séculos e os resultados foram consolidados por

Maxwell [2]. Os conceitos fundamentais são bem estabelecidos e aplicados

com sucesso em metais e semicondutores, mas não em isolantes. De fato,

eletrostática de isolantes é uma das áreas menos compreendidas da física do

estado sólidos [3] e esse fato está intimamente relacionado com o atual

desconhecimento sobre a natureza dos portadores de carga em isolantes

eletrizados, observado por muitos autores [4-9].456789

Eletrostática tem implicação direta em muitas tecnologias, como por

exemplo na reciclagem de polímeros [10], precipitação eletrostática, pintura

eletrostática, separação eletrostática de misturas granulosas. Uma das

aplicações mais importantes e conhecidas da eletrostática é a xerografia,

também chamada de eletrofotografia [11].

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3

Além de processos bem conhecidos, como os mencionados acima, há

importantes avanços tecnológicos fundamentados na eletrostática. A produção

de petróleo, muitas vezes também, traz associada quantidades significativas de

água. Ambos formam emulsões estáveis, pela presença de emulsificantes

naturais, o que dificulta sua separação. A indústria mundial do petróleo tem

desenvolvido tecnologias novas para solucionar esse problema. A Petrobras

vem testando com petróleo pesado um sistema de separação que combina o

método gravitacional com o eletrostático, conhecido como “Vessel Internal

Electrostatic Coalescer” (VIEC) [12]. O método gravitacional, mais

tradicional, separa a água do óleo por decantação. O eletrostático torna essa

separação mais eficiente, pois uma corrente elétrica faz com as gotículas de

água presentes do óleo se agrupem em gotas maiores, facilitando a separação

[13]. Entretanto a incerteza da identidade dos portadores de carga em

dielétricos cria diversos problemas tecnológicos [14-16] 141516que podem ser

seriamente prejudicados por excessos de cargas elétricas nesses materiais [17].

Não só implicações tecnológicas mais também questões de segurança são

atribuídas aos fenômenos eletrostáticos [18], fluxo de líquidos dielétricos e

também de gases geram cargas estáticas que são acumuladas e podem causar

explosões.

Descargas eletrostáticas [19-21], 192021 ocorrem freqüentemente, causando

pequenos e grandes desastres [22]. As descargas eletrostáticas ocorrem

quando um campo elétrico suficientemente alto, nas adjacências de um objeto

eletrificado, causa um “breakdown”, ou seja, uma ruptura dielétrica no meio

em que ele esteja inserido [23], freqüentemente o ar.

Há uma grande discussão no meio científico sobre a identidade dos

portadores de carga. Bailey [4] cita opiniões de pesquisadores conhecidos no

campo de eletrostática, onde não há concordância nenhuma entre eles sobre a

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4

identidade dos portadores de carga, uns afirmam ser elétrons e outros afirmam

serem íons.

1.3. Os portadores de carga em dielétricos

Nos condutores e semicondutores os portadores de cargas são elétrons ou

“buracos” formados pela ausência destes. Uma carga liquida negativa é

resultado de um excesso de elétrons acumulados no material e uma carga

positiva liquida é resultado da deficiência de elétrons. A eletrização por

contato (triboeletrização), nesses materiais, é governada pela função trabalho,

ou seja, os elétrons saem do material que possui menor função trabalho para o

material com maior função trabalho, até que os níveis de Fermi desses

materiais se equilibrem ficando com a mesma energia [24-25].

No caso dos dielétricos uma vez que estes não apresentam elétrons com

mobilidade detectável [26], uma carga liquida observada não poderia ser

atribuída à ausência ou excesso de elétrons que tenham sido retirados ou

inseridos no material.

1.3.1 Portadores de carga: elétrons, íons ou ambos?

Quando colocamos um sólido em contato com outro (atritando-os ou não)

frequentemente ocorre eletrização das superfícies, um processo conhecido

como Triboeletrização. Uma série triboelétrica (Figura 1) é uma lista de

materiais ordenados empiricamente de acordo com a tendência em adquirir

carga positiva ou negativa quando colocados em contato. Por exemplo, um

material listado em determinado ponto da tabela adquire carga positiva quando

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5

colocado em contato com materiais listados abaixo dele e adquire carga

negativa quando posto em contato com materiais listados acima dele.

Figura 1. Série triboelétrica de materiais ordenados empiricamente com a

tendência em adquirir carga positiva ou negativa quando estão em contato[27].

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6

Seguindo argumentos de transferência de elétrons como sendo os

portadores de carga em isolantes Whitesides [28] fez uma comparação entre

nylon (poliamida) e polietileno. De acordo com a série triboelétrica, nylon

adquire carga positiva enquanto polietileno adquire carga negativa. A

transferência de elétrons entre esses materiais requereria a remoção de um

elétron do nylon (custando vários eV), a separação da carga através de uma

interface (a custa de < 1 eV dependendo da distância), e adição de um elétron

no polietileno, que também custa energia e é um processo endotérmico. O

processo de transferência de elétron seria portanto endotérmico cerca de 5-10

eV; este valor é muito maior do que a energia térmica à temperatura ambiente

(RT ≈ 0.026 eV/mol). Assim, a transferência de elétrons de um polímero para

outro é improvável.

Em trabalhos recentes Whitesides [28-30] 2930mostrou que a carga adquirida

por vidro (normal e silanizado com sais de amônio quaternário e sulfonados)

em contato com uma esfera metálica pôde ser explicada pela transferência de

íons, uma vez que o vidro adquiriu carga oposta à do contra-íon móvel de sua

superfície. De fato, não houve observação direta nem identificação do íon

transferido.

Porém, Bard et al. [31] mostraram que a carga em teflon atritado com

acrílico (PMMA) é devido a elétrons, uma vez que ao colocar a amostra de

teflon eletrizado em meio ácido de HCl esta aumentou o pH da solução de 4

para 6.2 e também provocou a formação de gás hidrogênio, o que só seria

suportado pela presença de elétrons como sendo a carga do teflon.

Em resumo, até o momento não existe consenso sobre os portadores de

cargas nestes materiais [3-4]. Portanto, não há um modelo satisfatório capaz

de explicar a eletrização de isolantes.

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7

1.4. A atmosfera na eletrostática

Apesar da falha dos modelos atuais em explicar fenômenos elétricos

relacionados a dielétricos, alguns fatos experimentais estão bem estabelecidos.

Por exemplo, a atmosfera circundante ao dielétrico tem um papel fundamental

na formação e dissipação de cargas nos dielétricos. Particularmente, está bem

estabelecido que a umidade atmosférica tem papel fundamental na geração de

cargas (tanto por triboeletrização quanto por indução) [32] e na velocidade de

dissipação das cargas em isolantes. Mesmo assim, a influência da atmosfera

nos fenômenos elétricos de dielétricos é freqüentemente negligenciada nos

modelos ou mesmo em trabalhos que tentam explicar a formação e

comportamento das cargas nestes materiais [33-37].34 35 36 37.

Trabalho recente deste laboratório descreveu uma técnica para criar

padrões eletrostáticos na superfície de filmes finos de sílica e os resultados

foram interpretados usando um mecanismo simples baseado em sorção-

desorção de água atmosférica juntamente com uma injeção de cargas do

eletrodo de ouro no filme de sílica [38,39].

Uma publicação recente de Hogue et al. [40] apresenta um mecanismo

para a eletrização por contato que pode ser devido à superfície dos materiais.

Essa superfície pode ter regiões com mais ou menos sítios disponíveis para

uma dada espécie iônica, causando um desequilíbrio de carga nessa região

dando origem a potenciais elétricos. Hogue também concluiu que a troca de

íons da superfície dos materiais e a quantidade de carga diminuem com a

diminuição da pressão atmosférica. Verdaguer et al. [41] usaram um aparelho

de microscopia por sonda para mostrar que a adsorção de vapor de água

diminui o gradiente de potencial elétrico nas vizinhanças de cristais de NaCl.

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8

Por outro lado, Folan et al. [42] não encontraram efeito da água atmosférica

na carga de uma partícula polimérica em contato com níquel.

Plasma atmosférico feito por aprisionamento de íons corona em partículas

finas de gelo dispersas no ar tem sido usado para suprimir descargas

eletrostáticas no manuseio de grãos de termoplásticos [43].

1.5. Efeito da atmosfera: Hipótese

Estes resultados levaram então à formulação da seguinte hipótese: a

eletrização de isolantes sob condições atmosféricas tem uma contribuição de

íons atmosféricos bem como do excesso de íons gerados pela eletrização de

água adsorvida. Íons atmosféricos são transportadores de carga que migram

sob ação de campos elétricos, são distribuídos em um gradiente de potencial

elétrico de acordo com a equação de Poisson-Boltzmann, adsorvem em

interfaces de líquidos e sólidos e descarregam eletroquimicamente em

superfícies de metais e semicondutores.

Por outro lado, a água em equilíbrio sob um potencial eletrostático V tem

excesso de concentração de íons H(H2O)n+ se V < 0 e excesso de concentração

de OH(H2O)m‒ se V > 0, de acordo com a definição de potencial eletroquímico

definido pela Equação 1.1 [44],

𝜇i = 𝜇𝑖0 + 𝑅𝑇 ln ai + zi𝐹𝑉 (1.1)

onde, μi é o potencial eletroquímico das espécies i, 𝜇𝑖0 é o potencial químico

das espécies i, R é a constante dos gases, T é a temperatura, ai é a atividade das

espécies i, zi é a valência das espécies i, F é a constante de Faraday e V é o

potencial elétrico.

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9

Para verificar o papel da água na eletrização e dissipação de carga em

dielétricos, foram realizados dois tipos de experimentos distintos: o primeiro

de indução eletrostática em celulose e o segundo de monitoramento da

dissipação de carga na superfície de polietileno (virgem e oxidado) em função

do tempo.

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10

Capítulo 2

Introdução às técnicas de análise e procedimento experimental

Os experimentos de indução de carga em celulose são simples embora

fundamentais, necessitam apenas de um dielétrico, um indutor e um aparelho

para medir o potencial.

Os experimentos de dissipação de carga em polietileno, virgem e oxidado,

utilizaram diferentes técnicas de oxidação do polímero. Para medir o potencial

eletrostático das amostras, foi utilizado um voltímetro eletrostático com um

eletrodo de Kelvin e também foram adquiridas micrografias de força atômica

(AFM)i, força elétrica (EFM)

ii e força Kelvin (KFM)

iii.

2.1. Introdução as técnicas de análise

2.1.1. Introdução ao método de Kelvin

2.1.1.1 Histórico

O eletrodo capacitivo é o componente essencial de um dos métodos mais

usados na determinação de potencias eletrostáticos. O princípio de operação é

conhecido já há bastante tempo, proposto por Lorde Kelvin [45] em 1898.

Desde então muitos melhoramentos e modificações foram feitos ao método,

levando ao desenvolvimento de aparelhos relativamente fáceis de usar. Hoje,

os eletrodos usados são basicamente eletrodos chamados “eletrodos

vibratórios de Kelvin”, introduzidos por Zisman [46] em 1932. Existem

também métodos capazes de medir carga estática, um bastante conhecido é o

i AFM, do ingles Atomic Force Microscopy

ii EFM, do inglês Electric Force Microscopy.

iii KFM, do inglês Kelvin Force Microscopy.

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11

“Faraday Cup” desenvolvido pelo famoso cientista Michael Faraday por volta

de 1830 [47-48].

O eletrodo de Kelvin é ainda peça fundamental em microscopia de força

Kelvin (KFM) [49], variante do modo não-contato do microscópio de força

atômica (AFM). Esta técnica permite investigar o potencial elétrico junto a

superfícies, tanto de amostras condutoras quanto de semi-condutoras ou

mesmo isolantes.

2.1.2.Método de Kelvin

O método de Kelvin [50] é técnica não-invasiva extremamente susceptível

a alterações das camadas mais externas dos materiais, tais como as causadas

por adsorção, deposição, desgaste, corrosão e deslocamento atômico. Como

interações eletrostáticas podem ocorrer a distâncias consideráveis, a técnica

também acusa a presença de excessos de carga no interior de sólidos e

líquidos.

O método se baseia na formação de um capacitor de placas paralelas entre

o eletrodo e a superfície a ser medida, cuja distância é:

𝐶 = 𝑄

𝑉 (2.1)

onde C é a capacitância, Q é a carga elétrica acumulada no capacitor e V é a

diferença de potencial entre as placas.

A Figura 2 mostra um esquema de capacitor de placas paralelas, onde os

eletrodos são uma sonda de Kelvin e a superfície a ser analisada.

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12

Figura 2. Esquema de um capacitor de placas paralelas. V1 é a diferença de

potencial entre o eletrodo e o terra, V2 é a diferença de potencial entre a

superfície a ser analisada e o terra, V é a diferença de potencial entre o

eletrodo e a amostra e A é a área do eletrodo. Adaptada da referência 54.

A capacitância descrita na Eq. 2.1, depende da área das placas do

capacitor, da distância entre as placas e da natureza do meio entre elas.

Quando uma voltagem V é então aplicada, a quantidade de carga é diretamente

proporcional a essa voltagem. Assim, a capacitância pode ser agora

expressada como:

𝐶 = 𝜀𝜀0𝐴

𝐷 (2.2)

onde ε.ε0 é a permissividade elétrica do material entre os eletrodos, ε ~ 1 para

o ar, ε0 é a permissividade elétrica do vácuo, ε0 = 8,85.10-12

F m-1

, A é a área

do eletrodo e D é a distância entre as placas do capacitor.

Substituindo 2.2 em 2.1 temos:

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13

𝑄 = 𝑉𝜀𝜀0𝐴

𝐷 (2.3)

Qualquer mudança na distância entre os eletrodos durante um intervalo de

tempo dt requer que uma certa quantidade de carga dQ seja entregue ou

retirada do eletrodo uma vez que o potencial V é constante. Juntando essa

informação na Eq. 2.3 chegamos à seguinte expressão:

𝑑𝑄

𝑑𝑡 = 𝑉𝜀𝜀0𝐴

𝑑

𝑑𝑡

1

𝐷(𝑡) (2.4)

onde 𝑑𝑄

𝑑𝑡 é a corrente que flui do ou para o eletrodo quando a distância D

definida pela função D(t) sofre variação. Para a determinação do potencial

elétrico de uma superfície qualquer (V2 da Figura 2), aplica-se um potencial ao

eletrodo oscilante e monitora-se a corrente elétrica AC resultante. Quando a

corrente for igual a zero, V é também zero, e V1 = V2. Nesta situação o

potencial da amostra tem o mesmo valor em módulo do potencial aplicado ao

eletrodo de Kelvin.

As alterações de distância e aplicação do potencial ao eletrodo feitas

inicialmente por Lord Kelvin eram manuais o que conferia à medida precisão

limitada e exigia um tempo longo para sua realização. Foi então que Zisman

[46,54], um pesquisador do Naval Research Lab nos Estados Unidos,

introduziu o eletrodo de Kelvin vibratório. Este tipo de eletrodo vibra na

direção perpendicular à superfície a ser analisada produzindo uma corrente

alternada no eletrodo, que depende da sua amplitude e frequência de vibração.

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14

2.1.3.Microscopia de Força Atômica (AFM)

O microscópio de força atômica (AFM) foi inventado em 1986 pelos

pesquisadores Calvin Quate, Christoph Gerber e Gerd Binnig, este último

inventor do microscópio de tunelamento e ganhador do prêmio Nobel de

Física de 1986 [51,52].

AFM é um tipo de microscopia muito versátil, a começar pelas amostras,

cuja preparação se faz apenas adequando-as ao tamanho do porta-amostra. Por

outro lado, não se limita a amostras condutoras, como na microscopia de

tunelamento. As medidas podem ser conduzidas nos mais variados tipos de

ambientes: vácuo, atmosfera com umidade e/ou temperatura controladas ou

ainda imersas em meio líquido.

Os componentes de um microscópio de força atômica são: uma sonda

(ponteira + cantilever); um scanner (composto de um piezoelétrico que

responde a diferenças de potencial elétrico com movimentos nos três eixos x,

y e z); um porta-amostra, que na maioria dos instrumentos se move sob a

sonda; um laser, um espelho, um sistema de realimentação e um

fotodetector[53].

2.2. Procedimento experimental

2.2.1. Experimentos de indução eletrostática

2.2.1.1. Preparação das amostras para indução eletrostática

O dielétrico usado foi papel de filtro quantitativo (50,0±0,1)

2 mm

2 de área

e 0,021±0,001 mm de espessura marca Nalgon. O campo elétrico foi gerado

por uma placa de acrílico (PMMAiv

) com área igual à da amostra de papel,

iv PMMA-poli(metacrilato de metila)

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15

com espessura de 6 mm, que atritada a um pedaço de filme de polietileno.

Essa triboeletrização produz um potencial positivo na peça de acrílico que foi

mantida no suporte até que atingisse o potencial desejado, medido pelo

voltímetro eletrostático.

2.2.1.2. Aparato do sistema de medidas

Para os experimentos de indução de carga em papel, utilizamos uma caixa

de alumínio aterrada com um eletrodo de Kelvin disposto em seu interior

conforme a Figura 3. Em destaque são indicados o eletrodo oscilante de

Kelvin e os suportes para as amostras, sendo que o suporte inferior é para um

indutor eletricamente carregado e o superior para o dielétrico, no caso papel,

sendo que estes suportes estão montados sobre rolamentos lineares e podem

ser inseridos e removidos de sob o eletrodo. O eletrodo está disposto a 2 mm

acima do porta-amostra superior, que é a distância recomendada pelo

fabricante sendo que a distância entre os suportes, superior e inferior, é de 1,9

cm.

As medidas de potencial eletrostático foram feitas usando um eletrodo

vibratório (Trek 3800E-2) acoplado a um voltímetro eletrostático (TRek

368A) com limite de detecção de ± 2000 Volts [54]. O voltímetro foi

conectado a uma placa AT-MIO-16X para a aquisição de dados em

microcomputador. O software usado para a aquisição foi o DAQWare v2.1,

fornecido pela National Intruments.

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16

Figura 3. Foto do aparelho utilizado no experimento. A caixa de alumínio está

com a porta aberta.

Temperatura e umidade relativa (UR) dentro da caixa de alumínio foram

continuamente monitorados usando-se um termo-higrômetro (modelo MTH-

1380 marca Minipa) conectado a um microcomputador. A atmosfera no

sistema foi estabelecida usando uma corrente de nitrogênio gasoso (White

Martins). A fim de se controlar a UR do sistema, parte do fluxo de nitrogênio

foi borbulhado em água deionizada, assim variamos a UR de 0 a 70%. A

temperatura foi mantida constante a 22±1 ºC usando o sistema de ar

condicionado da sala.

2.2.1.3. Procedimento para as medidas de indução eletrostática

Os experimentos de indução de cargas foram feitos da seguinte maneira:

as amostras de papel foram colocadas 2 mm abaixo do eletrodo do voltímetro

eletrostático e então foram deixadas em repouso até atingirem o equilíbrio

Suporte

do

dielétrico

Eletrodo de Kelvin

Suporte do

Indutor

Termohigrômetro

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17

eletrostático com o ambiente dentro da caixa. Neste ponto o potencial

registrado pelo voltímetro eletrostático é constante igual a (0 ± 2) V. Após o

equilíbrio ter sido alcançado, uma placa de acrílico (eletrificada por fricção)

foi posicionada (1,9 ± 0,2 cm) abaixo do isolante como mostrado na Figura 3.

O potencial medido no voltímetro eletrostático foi continuadamente

monitorado, enquanto as seguintes operações foram feitas: primeiramente, o

indutor foi ciclicamente introduzido e removido abaixo do eletrodo, para

verificar sua estabilidade. Então, enquanto o indutor estava removido, o

isolante foi localizado abaixo do eletrodo e o indutor foi, de novo,

ciclicamente introduzido e removido. Finalmente, a amostra foi retirada e o

indutor foi novamente introduzido e removido, como na primeira etapa, a fim

de se verificar a estabilidade do potencial. Este experimento pode ser

visualizado em um vídeo com formato “avi” anexo no final desta tese.

2.2.2.Monitoramento da dissipação de carga em polietileno

2.2.2.1. Preparação das amostras de PEBD

Foi utilizado polietileno de baixa densidade (PEBD) suprido pela Dow,

extrudado e injetado em nosso laboratório e cortado com uma lâmina nas

dimensões (30mm x 12mm x 3mm) desejadas.

Foram feitas medidas de potencial elétrico em função do tempo em

amostras de PEBD lavadas com detergente comercial, lavadas com acetona

em extrator Soxhlet e em amostras oxidadas, sendo que as peças foram

oxidadas por 4 métodos diferentes.

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18

2.2.2.2. Lavagens do polietileno

Na primeira série de amostras os corpos de prova de PEBD foram lavados

com detergente neutro comercial e uma esponja, enxaguados com água

destilada e posteriormente água deionizada em abundância, e secos a

temperatura ambiente. Na segunda série de experimentos as amostras de

PEBD foram lavadas com acetona em um extrator Soxhlet por 48 horas e

secas em estufa por 2 horas a 50ºC. As amostras sempre foram manuseadas

pelas bordas e com luva de látex.

Na segunda série, as amostras de polietileno foram lavadas por 4

diferentes maneiras: com detergente; acetona em extrator Soxhlet; imersão por

30 minutos em solução básica de NaOH 0,01 mol L-1

e imersão por 30

minutos em solução ácida de HCl 0,01 mol L-1

, manuseadas também pelas

bordas e com luva de látex.

2.2.2.3. Oxidação das amostras

Peças de PEBD foram lavadas por 24 horas com acetona em um extrator

Soxhlet e secas por 1 hora a 50 ºC em uma estufa. As soluções oxidantes

foram quatro, descritas a seguir:

1) imersão em 200 mL de solução de KMnO4 0,5 mol.L-1

em meio de H2SO4

0,5 mol.L-1

;

2) imersão em 200 mL de solução de HNO3 6 M (63% m/m);

3) imersão em 200 mL de solução de K2Cr2O7 : H2SO4 : H2O (7:150:12 razão

em massa);

4) imersão em 200 mL de solução H2SO4 : H2O2 (30% m/m) (solução piranha)

na razão 3:1.

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19

A imersão das amostras de polietileno nas soluções oxidantes foi feita em

tubos de ensaio, no qual as amostras ficavam completamente cobertas pelas

soluções. Em todos os casos o tempo de imersão foi de 8 horas à temperatura

ambiente.

2.2.2.4. Caracterização das amostras

A superfície das amostras é bastante importante nas medidas de potencial

eletrostático, assim saber o estado em que está a superfície é de fundamental

valor para esse tipo de experimento. Todas as amostras de PEBD oxidadas

foram então caracterizadas, usando as seguintes técnicas:

1) espectroscopia de refletância especular no infravermelho com um aparelho

Nicolet 520 FT-IR;

2) coramento feito por imersão das amostras em solução isopropanólica de

Sudan III e azul de metileno [55] seguido por espectroscopia de refletância no

visível com um aparelho BYK-Gardner e;

3) medidas de ângulo de contato com água deionizada utilizando um aparato

composto de uma microbureta fixada a um tripé, uma mesa que pode se

movimentar em três planos e uma câmera CCDv para fotografar as imagens

das gotas.

2.2.2.5. Eletrização com descarga corona

A eletrização das amostras foi feita por descargas corona utilizando um

dispositivo piezoelétrico (Zerostat®, Aldrich), Figura 4. Descargas corona são

capazes de ionizar a atmosfera. Estudos de descarga corona e espectrometria

de massas [56] eletrizando a atmosfera com íons positivos concluíram que os

v CCD, do inglês Charge Coupled Device.

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20

portadores de carga mais comuns são do tipo H(H2O)n+ com n variando no

máximo até 8, são com íons desse tipo que as amostras são eletrizadas. Ao

apertar o gatilho da pistola, comprimimos o cristal piezoelétrico e isso cria

uma diferença de potencial que ioniza o ar com íons positivos, ao soltar o

gatilho isso cria uma diferença de potencial oposta a primeira e o ar é ionizado

com cargas negativas, são esses íons que ao serem adsorvidos geram o

potencial eletrostático na amostra.

Para a eletrização, as amostras foram alocadas em um suporte de alumínio

aterrado como mostrado na Figura 5, o dispositivo piezoelétrico empunhado

10 cm acima de cada peça e o gatilho da pistola acionado manualmente, com

um só disparo, para cada tipo de eletrização, positiva ou negativa.

Figura 4. Dispositivo piezoelétrico Zerostat®, Aldrich.

2.2.2.6. Sistema de medida dos experimentos de dissipação de

carga em polietileno

O sistema para a determinação do potencial eletrostático ao longo do

tempo em PEBD, consiste de um eletrodo Trek modelo 320C, com limite de

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21

detecção de ± 200 Volts, acoplado a um braço mecânico que se movimenta em

duas dimensões (eixos x e y) sobre as amostras e é controlado por um

programa (“Mesaxy”), desenvolvido pelo Centro para Manutenção de

Equipamentos (CEMEQ) da Unicamp. A resolução espacial das medidas é de

aproximadamente 5 mm, e permite medir 12 áreas distintas em cada amostra

de polietileno. Toda aparelhagem é montada dentro de uma caixa de alumínio

aterrada como pode ser visto na Figura 5.

Figura 5. Aparelho utilizado para as medidas de potencial elétrico na

superfície de isolantes. No interior da caixa é possível observar o braço

mecânico acoplado ao eletrodo de Kelvin, o porta-amostra de alumínio e o

termo-higrômetro utilizado para monitorar a temperatura e a umidade relativa.

Eletrodo de Kelvin

Porta amostra de

alumínio aterrado

Termohigrômetro

Braço mecânico

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22

A atmosfera no sistema foi estabelecida com uma corrente de nitrogênio

gasoso (White Martins). A fim de se alterar a UR do sistema, parte do fluxo de

nitrogênio foi borbulhado em água deionizada, da mesma forma que no

experimento de indução de carga em papel. A temperatura e umidade foram

monitoradas ao longo do tempo por um termo-higrômetro digital marca

Minipa modelo MTH-1380. A temperatura da caixa foi controlada por ar

condicionado que manteve a temperatura ambiente por volta de 22±1 ºC.

2.2.2.7. Microscopia de força atômica

2.2.2.7.1. Microscopia de Força Kelvin (KFM)

Amostras para medidas de KFM foram cortadas em pedaços quadrados (~

5 mm de lado) utilizando um microscópio de varredura por sonda Shimadzu

SPM-9600 e uma ponta de silício EFM-20 (Nanoworld) com 79 kHz de

frequência de ressonância e constante de força igual a 2,6 N/m. Imagens de

topografia e potencial foram obtidas simultâneamente. O sistema de varredura

fica dentro de uma câmara ambiental que permite o controle da temperatura e

da umidade relativa em torno da amostra do potencial elétrico durante a

varredura. As imagens foram adquiridas sob 25º C e 30% de UR.

Foram feitas duas imagens de KFM, a primeira de uma amostra de PEBD

lavada com HCl (Seção 2.2.2.2) e a segunda de uma amostra de PEBD

oxidada com KMnO4/H2SO4 (Seção 2.2.2.3). As medidas de KFM foram

feitas pela Dr.ª Camila Alves Rezende.

2.2.2.7.2. Microscopia de Força Elétrica (EFM)

Imagens de topografia e EFM foram obridas simultaneamente em um

microscópio Discoverer TMX 2010 (TopoMetrix). Foi obtido imagem de

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23

EFM das amostras lavadas por diferentes maneiras (Seção 2.2.2.2) e também

das amostras oxidadas (Seção 2.2.2.3). A técnica de EFM utiliza o modo AFM

não-contato e sondas de Pt recobertas com Si (Veeco) com 60-100 kHz de

frequência de ressonância e constante de força que varia de 1 a 5 N/m.

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24

Capítulo 3

Resultados

3.1. Experimentos de indução de carga em papel

Os resultados são apresentados como medidas do potencial registrado pelo

eletrodo de Kelvin em função do tempo, para diferentes números de folhas de

papel e distintas umidades relativas (UR). Um grande número de

experimentos mostrou que as medidas são reprodutíveis e também uma forte

dependência dos potenciais medidos com a umidade relativa. Um gráfico

típico de potencial vs. tempo (a 10% de UR, usando uma folha de papel) é

mostrado na Figura 6.

Figura 6. Potencial vs. tempo (a 10% UR e usando uma folha de papel). O

indutor foi periodicamente introduzido abaixo do eletrodo durante o

experimento.

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25

Na Figura 6, o potencial medido pelo eletrodo varia de zero a cerca de 800

V, quando o indutor é introduzido e removido de baixo do eletrodo. As

mudanças no potencial são rápidas, evidenciados pelas linhas verticais no

gráfico. Há uma pequena variação nos potenciais seguida pela introdução ou

remoção do indutor que é associada à vibração causada pelos deslocamentos

dos suportes do indutor e do papel.

Quando a folha de papel é introduzida sob o eletrodo e o indutor é

introduzido sob ambos, os potenciais medidos pelo eletrodo são inicialmente

bem menores que 800 V e diminuem rapidamente, nivelando a cerca de 120 V

na Figura 6 e a valores próximos de zero sob umidades mais altas (Figura 7).

Por outro lado, quando o indutor é removido, o eletrodo registra potenciais

negativos que depois aumentam até zero. Há uma grande simetria entre as

curvas de potencial vs. tempo obtidas quando o indutor é inserido ou

removido debaixo da amostra de papel. Além do mais, os experimentos

podem ser repetidos diversas vezes resultando em gráficos reprodutíveis sem

quaisquer sinais de mudanças irreversíveis. Essas duas observações podem ser

entendidas admitindo que a carga elétrica induzida e dissipada nos

experimentos é resultado de etapas opostas do mesmo processo reversível.

A Figura 7 mostra uma série de gráficos em diferentes umidades relativas,

que vão desde 10 a 70% de umidade relativa em atmosfera de nitrogênio.

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26

0 100 200 300 400 500 600

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Pote

ncia

l/ k

V

Tempo/ s

10% UR

0 100 200 300 400 500 600

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Pote

ncia

l/ k

V

Tempo/ s

20% RH

0 100 200 300 400 500 600

-0.6

-0.4

-0.2

0.0

0.2

0.4

0.6

0.8

1.0

Po

ten

cia

l/ k

V

Tempo/ s

30% UR

0 100 200 300 400 500 600

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Pote

ncia

l/ k

V

Tempo/ s

40% UR

0 100 200 300 400 500 600

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Po

ten

cia

l/ k

V

Tempo/ s

50% UR

0 100 200 300 400 500 600

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Po

ten

cia

l/ k

V

Tempo/ s

60% UR

0 100 200 300 400 500 600

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Pote

ncia

l/ k

V

Tempo/ s

70% UR

Figura 7. Potencial eletrostático vs. tempo medido 2mm acima de uma folha

de papel sob atmosfera de nitrogênio e 10-70% de umidade relativa.

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27

Portanto, o papel exerce um efeito de blindagem do eletrodo, que não está

descrito na literatura. O efeito da umidade sobre a blindagem e sobre a

dissipação das cargas acumuladas no eletrodo pode ser representado por dois

parâmetros:

1) potenciais máximos e mínimos, que são medidos imediatamente após a

introdução ou remoção do indutor;

2) as constantes de decaimento (k) das curvas de potencial vs. tempo, que são

ajustadas empiricamente à equação V = V0 + [A e(-kt)

] (ver Figura 10). Estes

valores estão resumidos na Tabela 1.

Tabela 1. Resultados extraídos da Figura 7: potenciais máximos e mínimos na

inserção e retirada do indutor, razão dos potenciais e constantes de

decaimento.

UR

(%)

I =

Potencial

máximo após

a inserção do

indutor (V)

II =

Potencial

mínimo após

a retirada do

indutor (V)

III =

Potencial

gerado

pelo

indutor (V)

A/C B/C

Constante de

decaimento

(k) após a

inserção do

indutor (s-1)

Constante de

decaimento

(k) após a

retirada do

indutor (s-1)

70 26 -31 962 0,027 -0,032 --- ---

60 46 -56 860 0,053 -0,065 --- ---

50 45 -52 859 0,052 -0,060 --- ---

40 89 -77 856 0,104 -0,089 0,669 0,894

30 179 -174 854 0,209 -0,203 0,310 0,299

20 299 -332 849 0,352 -0,391 0,241 0,246

10 490 -456 852 0,575 -0,535 0,119 0,140

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28

A Tabela 1 e a Figura 7 mostram que as curvas de potencial vs. tempo são

simétricas e as constantes de decaimento do potencial diminuem

significativamente com o aumento na umidade relativa.

A Figura 8 mostra dois ajustes empíricos das curvas da Figura 7, do

experimento feito sob 10% UR. É possível notar no final da curva que o ajuste

empírico desvia um pouco da curva experimental, mostrando a existência de

um evento lento superposto ao que é representado pela equação utilizada no

ajuste empírico.

130 140 150 160 170 180 190 200

0,10

0,15

0,20

0,25

0,30

0,35

Po

ten

cia

l/ k

V

Tempo/ s

V = V0 + [A e

(-kt)]

(a)

k = 0,119

200 210 220 230 240 250

-0,25

-0,20

-0,15

-0,10

-0,05

0,00

0,05

Po

ten

cia

l/ k

V

Tempo/ s(b)

k = 0,140

Figura 8. Ajuste empírico das curvas de potencial eletrostático vs. tempo (Fig.

9) para o experimento efetuado sob 10% UR.

A Figura 9 mostra experimentos feitos a 10% de UR, variando somente o

número de folhas de papel. O efeito do aumento no número de folhas de papel

sobre a blindagem do indutor é análogo ao efeito do aumento da umidade

relativa. Isso é consistente com a seguinte hipótese: o fator que determina a

carga depositada no papel é a massa de água adsorvida e absorvida no papel.

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29

0 100 200 300 400 500 600

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Po

ten

cia

l/ k

V

Tempo/ s

1 Folha

0 100 200 300 400 500 600

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Po

ten

cia

l/ k

V

Tempo/ s

2 Folhas

0 100 200 300 400 500 600

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Po

ten

cia

l/ k

V

Tempo/ s

4 Folhas

0 100 200 300 400 500 600

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Po

ten

cia

l/ k

V

Tempo/ s

6 Folhas

0 100 200 300 400 500 600

-0,6

-0,4

-0,2

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Pote

ncia

l/ k

V

Tempo/ s

10 Folhas

Figura 9. Potencial eletrostático vs. tempo variando o numero de folhas de

papel de filtro, a 10% de umidade relativa.

Medidas também foram feitas a 0±1% UR, apresentados na Figura 10. As

mudanças no potencial são muito lentas quando o indutor é introduzido abaixo

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30

da amostra e também quando é retirado. Nessas condições, a linha de base não

é alcançada nem mesmo 10 minutos após a introdução do indutor.

Figura 10. Curvas de potencial vs. tempo usando uma folha de papel de filtro,

a 0% UR.

Uma parte da blindagem eletrostática é devida ao porta-amostra de

alumínio, o que foi verificado introduzindo o porta amostra vazio (sem folha

de papel) entre o eletrodo de Kelvin e o indutor a várias URs. O resultado

desse experimento é mostrado na Figura 11e mostra que a introdução do

porta-amostra vazio reduz o potencial elétrico lido pelo eletrodo em cerca de

30 a 40%.

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31

0 100 200 300 400 500 600

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

Po

ten

cia

l/ k

V

Tempo/ s

0% RH

0 100 200 300 400 500 600

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

Po

ten

cia

l/ k

V

Tempo/ s

10% RH

0 100 200 300 400 500 600

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

1,4

1,6

Pote

ncia

l/ k

V

Tempo/ s

70% UR

Figura 11. Curvas de potencial vs. tempo para o porta amostra vazio a 0, 10 e

70% UR.

3.1.1.Mudança do porta-amostra de alumínio para um porta-

amostra com bordas de teflon

Para avaliar a participação da condutividade superficial, ou mesmo se

elétrons do suporte de alumínio que migram para o filme de papel são os

responsáveis pela blindagem do potencial, foram feitos experimentos da

mesma forma que os anteriores, porém colocando o papel sobre uma moldura

de teflon, que isola filme de papel do suporte metálico. O resultado desse

experimento é mostrado na Figura 12.

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32

0 500 1000 1500 2000 2500

-1,5

-1,0

-0,5

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

Pote

ncia

l/ k

V

Tempo/ s

10% UR

Figura 12. Medidas de indução de carga em papel em função do tempo com

suporte de teflon.

É possível notar da Figura 12 que as curvas têm o mesmo formato

daquelas apresentadas nos experimentos com o papel estando em contato

direto com o suporte de alumínio, mostrando então que se existir algum

fenômeno de condutividade superficial ou mesmo migração de elétrons para o

filme de papel, este deve ser muito pequeno.

3.1.2.Efeito da constante dielétrica do papel

O efeito da constante dielétrica do papel no potencial elétrico gerado pelo

indutor pode ser estimado quando o conjunto formado pelo eletrodo de

Kelvin, papel e indutor é considerado como um capacitor de placas paralelas,

separadas 2 cm por ar, com um pedaço de papel inserido entre elas. O

potencial elétrico entre as placas do capacitor pode ser determinado pela

equação 3.1 [57];

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33

(3.1)

onde V é o potencial entre as placas separadas pelo dielétrico composto (papel

+ ar), V0 é o potencial no vácuo, d1 é a espessura da folha de papel (0,02 mm),

d2 é a distância entre as placas menos a espessura da folha de papel (1,98 cm),

dT é a distancia entre as placas do capacitor, ε1 é a constante dielétrica do

papel (3,5) [58] e ε2 é a constante dielétrica do ar.

3.1.3.Cálculo da densidade de carga

O potencial elétrico de cargas induzido numa folha de papel pode ser

rigorosamente relacionado com a densidade de carga, usando-se a Equação

3.2, desde que consideremos que a folha de papel tenha um formato cilíndrico.

Usando coordenadas polares e considerando o centro do cilindro como a

origem, é possível determinar o potencial elétrico a uma dada distância gerado

por cargas uniformemente distribuídas dentro do cilindro [57];

drdsdrds

rV

Z R

2

0 0 022 ))((4

(3.2)

onde V é o potencial elétrico gerado pelo cilindro, ρ é a densidade de carga no

papel, ε é a constante dielétrica do meio, Z é a espessura do cilindro, R é o

raio total do cilindro, r é o raio dentro do cilindro, d é a distância da superfície

do cilindro ao detector, s é a distância de qualquer ponto dentro do cilindro ao

detector e ϕ é o ângulo da área da base do cilindro. O cálculo de potencial

elétrico gerado por uma distribuição de cargas em certo volume descrito pela

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34

Equação 3.2 que é a solução da equação de Poisson para um cilindro, foi

desenvolvido e calculado pelo aluno de IC Victor Baldim.

Usando a Equação 3.1 calculamos que a contribuição da constante

dielétrica do papel ao potencial detectado pelo eletrodo é de somente 1%.

Assim, no experimento feito a 10% UR podemos afirmar que as cargas

induzidas no papel produzem potenciais da ordem de 500V medidos pelo

eletrodo. Segundo a equação 3.2, a concentração de cargas no papel é 1 x 10–2

cargas unitárias/μm3, ou cerca de 10

‒10 mol de cargas por litro de papel.

3.1.4.Descrição dos resultados de indução de carga em papel

A atmosfera ao redor do isolante, amostra e eletrodo muda sob a ação do

potencial do indutor. Há mudanças tanto nas concentrações de H+ e de OH

como na camada de água adsorvida na superfície das amostras e em outras

superfícies, como está representado na Figura 13, que é uma representação

esquemática das mudanças observadas nos potenciais:

1) Esquerda: o indutor eletrizado positivamente é introduzido abaixo do

eletrodo que mede o potencial criado por todas as cargas nas vizinhanças,

tanto no indutor quanto na atmosfera;

2) Centro: a amostra é introduzida entre o indutor e o eletrodo. O acúmulo de

cargas provenientes de íons aquosos acumulados na superfície do material, de

sinal oposto às do indutor, leva a uma diminuição do potencial registrado pelo

eletrodo;

3) Direita: o indutor é retirado e o voltímetro registra um potencial gerado

por um excesso de cargas negativas na superfície da amostra.

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35

A densidade de carga que se forma como uma camada de adsorção de

água blinda então o eletrodo que acusa um potencial muito inferior ao do

indutor eletrificado.

Figura 13. Representação esquemática do mecanismo proposto. Círculos

escuros são de íons negativos e círculos brancos são de íons positivos. As

curvas de potencial vs. tempo no centro da figura mostram pontos

correspondentes aos três estados.

Os resultados apresentados são portanto explicados como segue:

1) Papel adquire excesso de cargas opostas ao potencial eletrostático a que

está sujeito, na presença de corpos eletrificados, sob temperatura e pressão

ambientes, exercendo um efeito de blindagem entre o eletrodo e um indutor

eletrificado;

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36

2) As curvas de indução (quando inserimos o dielétrico entre o eletrodo e o

indutor) e dissipação de carga (quando retiramos o indutor de baixo do

dielétrico) têm curvas simétricas, em todas as umidades relativas;

3) As taxas de criação e dissipação de cargas são mais rápidas em altas

umidades relativas do que em baixas umidades;

4) Criação e dissipação de cargas dependem da massa de água absorvida no

papel, uma vez que em umidades relativas mais altas há mais água no papel.

3.2. Dissipação de carga em polietileno

3.2.1. Caracterização das amostras

Foram obtidos espectros de infravermelho de as amostras de polietileno

oxidadas e os espectros de refletância especular são apresentados na Figura

14. Para obter cada espectro foram feitos 256 varreduras, e os resultados

apresentados são a média de todos eles. A resolução dos espectros é de 4 cm-1

.

O tratamento dos dados foi feito pelo software Origin 7.0. Dos espectros de

infravermelho, podemos ver claramente a banda característica do polietileno (-

CH2-) perto de 2800 cm-1

mas não conseguimos detectar a banda de carbonila,

nas condições em que o experimento foi feito.

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37

4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Ab

so

rbâ

ncia

Comprimento de onda/ cm-1

Polímero Virgem

4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Ab

so

rbâ

ncia

Comprimento de onda/ cm-1

K2Cr

2O

7/H

2SO

4

4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Ab

so

rbâ

ncia

Comprimento de onda/ cm-1

H2O

2/H

2SO

4

4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Abso

rbâ

ncia

Comprimento de onda/ cm-1

HNO3

4000 3500 3000 2500 2000 1500 1000 500 0

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

Abso

rbâ

ncia

Comprimento de onda/ cm-1

KMnO4/H

2SO

4

Figura 14. Espectroscopia de infravermelho de refletância especular das

amostras de polietileno oxidadas.

As medidas de ângulo de contato foram feitas pelo avanço da gota

(inserindo volumes de 5µL de água deionizada) e pelo retrocesso da gota

(retirando volumes de 5µL). O sistema para a aquisição das medidas é

ilustrado na Figura 15 e consiste de uma mesa que se move em 3 eixos (x, y,

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38

z) de uma microbureta Gilmont fixada em um suporte universal e uma câmera

Sony CCD. Uma imagem de uma gota de 5µL sobre a superfície de PEBD

modificado com solução de K2Cr2O7/ H2SO4 pode ser vista na Figura 16.

Figura 15. Instrumento utilizado para as medidas de ângulo de contato.

Figura 16. Imagem de uma gota de água sobre PEBD modificado com

K2Cr2O7/ H2SO4.

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39

O resultado das medidas de ângulo de contato é mostrado na Figura 17.

0 5 10 15 20 25 30

20

40

60

80

100

KMnO4

/H2

SO4

K2

Cr2

O7

/ H2

SO4

HNO3

(conc)

H2

O2

/H2

SO4

Polímero virgem

Ân

gu

lo d

e c

on

tato

/ g

rau

s

Volume da gota/ L(a)

0 5 10 15 20 25

0

20

40

60

80

100

Ân

gu

lo d

e c

on

tato

/ g

rau

s

Volume da gota/ L(b)

Figura 17. Resultados das medidas de ângulo de contato de água com as

amostras de polietileno para ângulo de contato de avanço (a) e ângulo de

contato de retrocesso (b).

Analisando a Figura 17, vemos que existem diferenças significativas entre

os métodos de oxidação. O polímero virgem, tem ângulo de contato em torno

de 90º enquanto as amostras oxidadas têm sempre ângulo de contato menor

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40

que 90º. Sabemos que quanto maior o ângulo de contato, mais hidrofóbica é a

superfície, ou seja, quanto menor ângulo de contato, mais oxidada está a

superfície de polietileno.

A caracterização por coramento seguido por refletância no visível foi feita

imergindo todas as peças em solução isopropanólica de Sudan III e azul de

metileno, método descrito por este laboratório [55], seguido por refletância no

visível. Quando imergimos as peças na solução isopropanólica, o Sudan III

(que tem cor vermelha) cora regiões apolares da amostra enquanto o azul de

metileno (cor azul) cora regiões polares da amostra. Na Figura 18, podemos

ver na figura da direita as amostras antes do coramento e à esquerda as

amostras depois do coramento, e não há diferenças visuais entre os diferentes

métodos de oxidação a não ser pela amostra oxidada com KMnO4/H2SO4 que

tem uma cor dourada. Os espectros de refletância no visível são apresentados

na Figura 19.

Figura 18. Imagens das amostras oxidadas. (a) amostras antes do coramento.

(b) amostras depois do coramento.

K2Cr2O7/ H2SO4 KMnO4/H2SO4

HNO3(conc) H2O2/H2SO4

Polímero Virgem

(a) (b)

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41

400 450 500 550 600 650 700

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Re

fle

ctâ

ncia

/ %

Comprimento de onda/ nm

Polímero virgem

Oxidação KMnO4/H

2SO

4

Oxidação HNO3(conc)

Oxidação H2O

2/H

2SO

4

Oxidação K2Cr

2O

7/H

2SO

4

Figura 19. Espectros de reflectância no visível para os diferentes métodos de

oxidação.

Os métodos de caracterização evidenciaram uma ordem quanto ao grau

de modificação das peças de polietileno. A Tabela 2 mostra os resultados das

medidas de ângulo de contato e de refletância no visível. As duas técnicas

indicaram que a ordem quanto ao grau de modificação das superfícies em

relação ao polímero virgem, foi:

KMnO4/H2SO4 > HNO3 (conc) > H2SO4/H2O2 > K2Cr2O7/H2SO4/H2O

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42

Tabela 2. Resutlados da caracterização para ângulo de contato e de refletância

no visível.

Métodos de

Oxidação

Ângulo de contato

(graus) para uma

gota de 5 μL

Reflectância em

400 nm (%)

KMnO4/H2SO4 41±5 14,33

HNO3(conc) 63±2 11,52

H2SO4/H2O2 71±3 9,81

K2Cr2O7/H2SO4/

H2O 74±4 8,22

Polímero virgem 90±4 4,92

3.2.2. Dissipação de carga em polietileno

Neste experimento investigamos o comportamento de cargas eletrostáticas

depositadas na superfície de polietileno (virgem e oxidado) por descarga

corona.

Os experimentos com PE virgem foram feitos em várias umidades

relativas (1, 10, 20, 40 e 60%) já os experimentos com PE oxidado foram

feitos em 1 e 60% de UR. A Figura 20 mostra um mapa de potencial

eletrostático para várias amostras de polietileno lavado de diferentes maneiras.

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43

Figura 20. Mapa de potencial eletrostático a 60% UR para PE lavado de

diferentes maneiras. Os retângulos desenhados sobre o mapa são os limites

(arestas) das amostras de polietileno.

3.2.2.1. Polietileno virgem

Os experimentos nesta seção foram feitos com polietileno de baixa

densidade (PEBD) fornecido pela Dow, extrudados e injetados em nosso

laboratório. Com o dispositivo piezoelétrico (Zerostat®) eletrizamos as

amostras com íons positivos e íons negativos. O procedimento para a

eletrização das amostras foi descrito na seção 2.2.2.5. Na primeira série de

experimentos desta seção, as amostras de polietileno foram lavadas com uma

esponja e detergente neutro e posteriormente enxaguadas abundantemente

com água destilada e em seguida com água deionizada.

O porta-amostra utilizado foi confeccionado em alumínio e aterrado no

momento das descargas em corona e ao longo da dissipação do potencial

elétrico. Uma imagem do suporte de alumínio é mostrada na Figura 21.

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44

Para a realização das medidas de dissipação do potencial elétrico, as

amostras foram inseridas na caixa e equilibradas por 24 horas na atmosfera a

ser avaliada. Após estas 24 horas, as amostras foram eletrizadas em pares

positivos e negativos alternados, formado assim amostras correspondentes

tanto na carga quanto na posição do porta-amostra (indicadas pelas mesmas

letras apresentada na Figura 22). Em seguida, foi iniciada a varredura das

amostras com o eletrodo de Kelvin.

Figura 21. Imagem do porta-amostra de alumínio que se encontra aterrado ao

terra no momento das descargas corona e durante a realização das medidas de

potencial eletrostático.

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45

Figura 22. Representação esquemática do suporte de alumínio com as

amostras de polietileno. Os sinais + e - indicam a eletrização a que as amostras

foram inicialmente submetidas.

O programa de controle de movimentação do eletrodo de Kelvin

(“Mesaxy”) apresenta como resultado o potencial elétrico medido pelo

eletrodo em cada posição, ou pixel, ao longo do tempo. Esse resultado pode

ser apresentado na forma de um mapa eletrostático da superfície, como no

exemplo mostrado na Figura 23.

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46

Figura 23. Mapa de potencial eletrostático de oito amostras de polietileno sob

40% UR. A varredura foi iniciada imediatamente após a eletrização por

descargas corona.

Observando a Figura 23 é possível notar a distribuição de potenciais na

superfície das amostras e o potencial elétrico neutro na superfície do porta-

amostra de alumínio.

Os potenciais de cada área de cada amostra de PE (12 áreas por amostra)

foram plotados em função do tempo, como está exemplificado na Figura 24.

Observa-se um padrão de variação dos potenciais mas algumas curvas

desviam claramente das outras, mesmo aquelas medidas na mesma amostra.

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47

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

0

50

100

150

200

(a)

Pote

ncia

l/ V

Tempo/ dias 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

-200

-150

-100

-50

0

Po

ten

cia

l/ V

Tempo/ dias

(b)

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

0

50

100

150

200

Po

ten

cia

l/ V

Tempo/ dias

(c)

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9

-200

-150

-100

-50

0

Po

ten

cia

l/ V

Tempo/ dias

(d)

Figura 24. Gráficos representando a dissipação do potencial eletrostático em

função do tempo, em polietileno: (a) e (b) a 3% UR; (c) e (d) a 60% UR. Em

(a) e (c) os potenciais iniciais são positivos e em (b) e (d) são negativos. Todos

os gráficos mostram os 12 pontos de cada amostra e suas respectivas posições

na peça de PE estão indicadas no canto direito inferior de (d).

Os gráficos apresentados na Figura 24 mostram que a velocidade de

dissipação do potencial elétrico nas amostras de polietileno aumenta à medida

que a umidade relativa do meio aumenta. Esse aumento de velocidade é

particularmente intenso para as peças carregadas positivamente.

Também é possível notar que todas as peças no equilíbrio apresentam um

potencial negativo, independente do sinal das cargas aplicadas inicialmente

pela descarga corona. No equilíbrio, o potencial observado na superfície do

porta-amostra é zero, uma vez que o potencial das peças de polietileno é muito

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48

baixo. A observação do potencial neutro no porta-amostra, no equilíbrio, é

uma confirmação de que o potencial negativo no polietileno no equilíbrio não

é proveniente de algum artefato de medida.

Os mapas de potencial eletrostático obtidos também contêm informação

sobre o potencial de áreas no suporte de alumínio. A Figura 25 mostra gráficos

de potencial elétrico (sob 3% UR) de áreas sobre o alumínio, adjacentes às

amostras de polietileno. O potencial da superfície desses pontos tem sinal

oposto ao de PE, como de fato é esperado devido à indução de carga no metal.

Longe das amostras de PE, o potencial na superfície de alumínio é zero.

Figura 25. Decaimento do potencial elétrico em pontos na amostra de PE (A e

D) e no suporte de alumínio (B e C) sob 3% UR. As posições dos pontos

correspondentes as curvas estão mostrados no mapa a direita da imagem.

A curva exponencial descrita pela equação V = V0 + [A e(–kt)

] é capaz de

ajustar os dados experimentais, da mesma forma que nos experimentos de

indução de carga em papel (Seção 3.1.).

Dois parâmetros são extraídos das curvas experimentais de potencial

eletrostático vs. tempo:

1) o potencial eletrostático final de cada ponto (potencial de equilíbrio) e;

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49

2) a meia-vida dos potenciais, definida como o tempo requerido para reduzir

a metade o potencial máximo adquirido pela amostra. Nas amostras que

adquiriram potencial acima do limite de detecção do eletrodo (±200 V), foi

feito uma extrapolação a t=0s.

A Figura 26 mostra mapas de meia-vida do potencial eletrostático em

função da posição das peças. Há diferenças significantes entre as meias-vidas

para pontos distintos nas amostras. A dissipação do potencial eletrostático é

geralmente mais lenta a 3% UR que em altos valores de UR (20%, 40% e

60%) mas os valores também variam com o sinal do potencial. Para potenciais

positivos, meias-vidas é algumas vezes maiores sob 3% UR que sob 60% UR,

enquanto que as meias-vidas para os potenciais negativos é somente 2 vezes

maior na mesma comparação. A forte influência da umidade relativa nas taxas

de dissipação em amostras positivamente eletrizadas está em concordância

com resultados de Baum et. al.[59], onde mostraram que a taxa de decaimento

de filmes de polietileno eletrizados negativamente é apenas ligeiramente

afetado pela umidade relativa, ao contrário para os filmes eletrizados com

carga positiva ao diminuir a umidade relativa às taxas de dissipação

diminuíam consideravelmente.

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50

(a) (b)

(c) (d)

Figura 26. Mapas mostrando as meias-vidas de decaimento do potencial em

função da posição dos pontos no polietileno e da umidade relativa: (a) 3%, (b)

20%, (c) 40% e (d) 60%.

O efeito da umidade relativa nas meias-vidas do potencial eletrostático

pode ser também notado nos dados apresentados na Figura 27, que mostra

médias das meias-vidas para doze áreas em cada amostra como função da UR.

As barras de erro são importantes, esses gráficos confirmam o alto efeito da

umidade relativa no tempo de dissipação dos potenciais.

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51

3 20 40 60

0

20

40

60

80

100

120

140

160

180

Me

ia-v

ida

/ h

ora

s

Umidade relativa/ %

Amostra 1

Amostra 2

Amostra 3

Amostra 4

Amostra 5

Amostra 6

Amostra 7

Amostra 8

3

Figura 27. Média das meias-vidas de dissipação do potencial para cada peça

de PEBD como função da umidade relativa. As barras com borda mais escura

são as amostras eletrizadas com carga negativa, e as amostras com borda mais

clara com carga positiva.

As curvas de potencial vs. tempo para PEBD sempre convergem para

valores negativos. Isto sugere que há um potencial de equilíbrio para o

polietileno, sob as condições experimentais utilizadas neste trabalho. A

distribuição dos potenciais de equilíbrio nas amostras em diferentes valores de

umidade relativa é mostrada nos mapas da Figura 28. O potencial eletrostático

final medido nas amostras é sempre negativo, exceto por alguns pontos na

amostra 8 sob 3% UR (Figura 28 (a)). A convergência do potencial

eletrostático das amostras para valores de potencial não-zero é completamente

inesperada, considerando que o polietileno é um sólido molecular que

supostamente não tem espécies iônicas. A Figura 29 mostra a média do

potencial obtido de 12 áreas em cada amostra de polietileno. As barras de erro

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52

são importantes, mas a acumulação final de potenciais negativos nas amostras

é bastante clara, com somente uma exceção. O potencial médio de todos os

pontos é -4,2±3,5 V.

(a)

(b)

(c)

(d)

Figura 28. Mapas de potencial de equilíbrio sob: (a) 3%, (b) 20%, (c) 40%,

(d) 60% de umidade relativa.

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53

3 20 40 60-15

-12

-9

-6

-3

0

3

6

9

12

15

Umidade relativa/ %

Po

ten

cia

l d

e e

qu

ilíb

rio

/ V

Amostra 1

Amostra 2

Amostra 3

Amostra 4

Amostra 5

Amostra 6

Amostra 7

Amostra 8

Figura 29. Média dos potenciais de equilíbrio em cada peça de PEBD, em

função da umidade relativa. As barras com bordas espessas foram inicialmente

eletrizadas com cargas negativas e as com bordas mais finas com carga

positiva.

Para melhor investigar o comportamento do potencial de equilíbrio, um

novo grupo de amostras foi cuidadosamente lavado por quatro diferentes

procedimentos: (a) com acetona em um extrator Sohxlet; (b) imersão em

soluções aquosas de NaOH e (c) HCl seguidos por ultrassonicação e (d) com

detergente comercial e esponja seguida por enxágue em água deionizada.

Logo após remover as amostras dos líquidos de lavagem, as amostras

foram colocadas no suporte de alumínio (Figura 21) e secas em estufa a 50º C,

para reduzir efeitos de eletrização devido ao manuseio.

As medidas de potencial foram iniciadas quando as amostras estavam

secas, mas desta vez não foram submetidas à descarga corona e continuaram

até que o potencial ficasse constante.

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54

10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 110

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

110

120

X/ mm

Y/ m

m

-7,5

-5,0

-2,5

0

5,0

1 2 3 4

5678

Potencial

(V)

(a)

-10

-8

-6

-4

-2

0

Umidade relativa/ %

Po

ten

cia

l d

e e

qu

ilíb

rio

/ V

Amostra 1

Amostra 2

Amostra 3

Amostra 4

Amostra 5

Amostra 6

Amostra 7

Amostra 8

1 60

(b)

Figura 30. (a) Mapas de potencial de equilíbrio das amostras de polietileno

lavadas de diferentes maneiras sob 60% UR; (b) média do potencial de

equilíbrio sob 1% e 60% de UR. Amostras 1 e 5 foram lavadas com acetona

em um extrator Sohxlet, 2 e 6 lavadas com NaOH, 3 e 7 com HCl e 4 e 8 com

detergente.

O mapa de potencial de equilibro das amostras lavadas é mostrado na

Figura 30 (a) e as médias do potencial dos 12 pontos de cada amostra sob 1%

e 60% de UR estão na Figura 30(b). Os potenciais de equilíbrio são todos

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55

negativos para todas as amostras lavadas por diferentes maneiras (-4,6±0,7) V

e têm um valor igual à da figura anterior (-4,2±3,5) V mas com um erro bem

menor.

Isto mostra que PEBD tem um potencial de equilíbrio intrínseco e isto

pode ser usado para calcular a densidade de carga no seu interior como

veremos a seguir.

3.2.2.1.1. Cálculo de excesso de cargas na superfície de PEBD

Para calcular o excesso de cargas necessário para gerar os potenciais

determinados experimentalmente, foi utilizado um programa escrito em C++

por Renato Galembeck. O programa é baseado no Princípio de Superposição

[57], representado pela Equação 3.1:

n

i i

in

i r

qVV

11 04

1

3.1

A Figura 31 mostra um gráfico característico de simulação de um

potencial, no caso o potencial simulado é -4V. A simulação é feita colocando

valores inteiros de carga dentro das células (pixels) de uma matriz no Excel

(255x255), após isso essa matriz é “lida” pelo programa escrito em C++ que

gera um outro arquivo que por sua vez é aberto pelo programa Origin, gerando

uma figura do tipo da Figura 31. Note que o potencial máximo se encontra no

centro do gráfico, enquanto que ao caminhar para as bordas a magnitude do

potencial vai diminuindo.

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56

2

4

6

8

10

-4,0

-3,8

-3,6

-3,4

-3,2

-3,0

-2,8

-2,6

2

4

6

8

10

Pote

ncia

l ele

trostá

tico/ V

eixo

Y

eixo X

Figura 31. Gráfico de simulação de potencial eletrostático obtido para o

potencial de -4V.

O cálculo de excesso de carga foi feito para dois potenciais: ±150 V que

foi aproximadamente o potencial máximo das amostras quando eletrizadas por

descargas corona neste trabalho e ± 4 V que é representativo do potencial de

equilíbrio das amostras. Para o potencial de 150V a densidade de cargas

calculada foi de 11,4 cargas/µm2

e para o potencial de equilíbrio 4 V, a

densidade de cargas em excesso é 0,31 cargas/µm2.

3.2.2.2. Polietileno modificado

Nesta seção trataremos da dissipação de carga na superfície de PEBD

oxidado. Observações dos experimentos com polietileno virgem, revelaram

Page 80: Indução e Dissipação de Cargas em Dielétricos: … · i Universidade Estadual de Campinas Instituto de Química Departamento de Físico-Química Dissertação de Mestrado Indução

57

que ao aumentar a umidade relativa, em geral, as cargas eram dissipadas mais

rapidamente, portanto, ao oxidar as amostras, a intenção foi de promover uma

maior interação da atmosfera com a superfície, já que com a oxidação

deixaríamos as amostras mais hidrofílicas.Os experimentos foram feitos em

duas umidades relativas, 1% e 60%. As amostras foram eletrizadas com

descargas de íons negativos ou de íons positivos.

Na sequência são apresentados os resultados das medidas de potencial

eletrostático vs. tempo sob 1% e 60% de umidade relativa para os diferentes

métodos de oxidação. Cada gráfico contém doze curvas, como foi mostrado na

Figura 23.

As Figs. 32 e 33 estão dispostas da seguinte maneira, as peças mais

oxidadas (menor ângulo de contato, maior refletância a 400 nm, depois de

coradas) na parte inferior, e as menos oxidadas na parte superior. As curvas de

potencial eletrostático vs. tempo começam suaves, vão ficando mais

acentuadas à medida que a oxidação das amostras aumenta.

Os tempos de meia-vida foram calculados como sendo o tempo em que os

potenciais iniciais decaem até a metade. É possível notar da Figs.32 e 33 que

alguns pontos excedem inicialmente o fundo de escala do instrumento que é

de 200 Volts. Para calcular o tempo de meia-vida desses pontos, e também dos

demais, todas as curvas foram ajustadas e os valores iniciais obtidos por

extrapolação.

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58

0 100 200 300 1250 1300

-30

0

30

60

90

120

150

180

210

Virgem

Pote

ncia

l ele

trostá

tico/ V

Tempo/ horas(a) 0 100 200 300 400 500 600

-210

-180

-150

-120

-90

-60

-30

0

30

Virgem

Pote

ncia

l ele

trostá

tico/ V

Tempo/ horas

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

(b)

0 100 200 300 1250 1300

-30

0

30

60

90

120

150

180

210

K2Cr

2O

7/H

2SO

4

Po

ten

cia

l e

letr

ostá

tico

/ V

Tempo/ horas(c) 0 100 200 300 400 500 600

-210

-180

-150

-120

-90

-60

-30

0

30

K2Cr

2O

7/H

2SO

4

Po

ten

cia

l e

letr

ostá

tico

/ V

Tempo/ horas(d)

0 100 200 300 1250 1300

-30

0

30

60

90

120

150

180

210

H2O

2/H

2SO

4

Pote

ncia

l ele

trostá

tico/ V

Tempo/ horas(e) 0 100 200 300 400 500 600

-210

-180

-150

-120

-90

-60

-30

0

30

H2O

2/H

2SO

4

Pote

ncia

l ele

trostá

tico/ V

Tempo/ horas(f)

0 100 200 300 1250 1300

-30

0

30

60

90

120

150

180

210

HNO3(conc)

Po

ten

cia

l e

letr

ostá

tico

/ V

Tempo/ horas(g) 0 100 200 300 400 500 600

-210

-180

-150

-120

-90

-60

-30

0

30HNO

3(conc)

Po

ten

cia

l e

letr

ostá

tico

/ V

Tempo/ horas(h)

Figura 32. Gráficos de potencial eletrostático em função do tempo para vários

métodos de oxidação sob 1% de umidade relativa.

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59

0 50 100 150 200 250 300

-30

0

30

60

90

120

150

180

210

Virgem

Pote

ncia

l ele

tro

stá

tico/

V

Tempo/ horas(a) 0 50 100 150 200 250 300

-210

-180

-150

-120

-90

-60

-30

0

30

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

Virgem

Pote

ncia

l ele

tro

stá

tico/

V

Tempo/ horas(b)

0 50 100 150 200 250 300

-30

0

30

60

90

120

150

180

210

K2Cr

2O

7/H

2SO

4

Pote

ncia

l ele

trostá

tico/ V

Tempo/ horas(c)

0 50 100 150 200 250 300

-210

-180

-150

-120

-90

-60

-30

0

30

K2Cr

2O

7/ H

2SO

4

Pote

ncia

l ele

trostá

tico/ V

Tempo/ horas(d)

0 50 100 150 200 250 300

-30

0

30

60

90

120

150

180

210

H2O

2/H

2SO

4

Pote

ncia

l ele

trostá

toco/ V

Tempo/ horas(e)

0 50 100 150 200 250 300

-210

-180

-150

-120

-90

-60

-30

0

30

H2O

2/H

2SO

4

Pote

ncia

l ele

trostá

tico/ V

Tempo/ horas(f)

0 50 100 150 200 250 300

-30

0

30

60

90

120

150

180

210

HNO3(conc)

Pote

ncia

l ele

trostá

tico/ V

Tempo/ horas(g)

0 50 100 150 200 250 300

-210

-180

-150

-120

-90

-60

-30

0

30HNO

3(conc)

Pote

ncia

l ele

trostá

tico/ V

Tempo/ horas(h)

Figura 33. Gráficos de potencial eletrostático em função do tempo para os

vários métodos de oxidação sob 60% de umidade relativa.

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60

As curvas podem ser ajustadas empiricamente na forma exponencial. A

Figura 34 mostra um exemplo de ajuste para uma curva de decaimento

exponencial.

0 100 200 300 400 500 600

-240

-210

-180

-150

-120

-90

-60

-30

0

30

Po

ten

cia

l e

letr

ostá

tico

/ V

Tempo/ horas

Linha 10 (K2Cr

2O

7/H

2SO

4 sob 1% de umidade relativa)

Fitting exponencial da curva

y = A1*exp(-x/t1) + y0

Figura 34. Ajuste do decaimento exponencial da linha 10 do gráfico (d) da

Figura 32.

A dissipação dos potenciais eletrostáticos das amostras oxidadas de PEBD

sob 1% e 60% de UR, tem algumas diferenças:

1) as amostras oxidadas (todas) dissipam com maior velocidade as cargas do

que o polímero virgem (para uma mesma eletrização);

2) sob 1% UR as cargas negativas são dissipadas mais rapidamente que as

cargas positivas; porém, sob 60% UR as cargas positivas são dissipadas com

maior velocidade que as cargas negativas, há portanto uma inversão na ordem

de dissipação das cargas com o aumento da UR;

3) cargas positivas são afetadas mais drasticamente pela UR que cargas

negativas. Os potenciais positivos são em média dissipados 3 vezes mais

rápidos em UR alta e os negativos não chegam a ser 2 vezes mais rápidos.

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61

Note a eletrização da amostra oxidada com HNO3(conc) sob 60 % UR teve

dissipação de seu potencial muito rápida, e a meia-vida do potencial não foi

calculada.

1% 60%

0

20

40

60

80

100

Te

mp

o d

e m

eia

-vid

a/ h

ora

s

HNO3(conc)

H2O

2/H

2SO

4

K2Cr

2O

7/H

2SO

4

Virgem

Figura 35. Tempo de meia-vida do potencial das amostras oxidadas sob 1% e

60% de umidade relativa. Barras com borda mais escura são amostras

eletrizadas com carga negativa, e barras mais claras amostras eletrizadas com

carga positiva.

Observando a Figura 35, vemos que há uma estreita relação da dissipação

do potencial com os métodos de oxidação das amostras.Por isso, foram

plotados os resultados de meia-vida do potencial eletrostático das amostras em

função do ângulo de contato, que pode ser visualizado a partir da Figura 36.

Analisando a figura em questão, é fácil observar que quanto menor o ângulo

de contato, mais rapidamente os potenciais são dissipados.

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62

50 60 70 80 90 100

0

20

40

60

80

100

(a)

Oxidação com HNO3(conc)

Oxidação com H2SO

4/H

2O

2

Oxidação com K2Cr

2O

7/H

2SO

4

Polímero virgem

Te

mp

o d

e m

eia

-vid

a/ h

ora

s

Ângulo de contato/ graus

50 60 70 80 90 100

0

20

40

60

80

100

(b)

Te

mp

o d

e m

eia

-vid

a/ h

ora

s

Ângulo de contato/ graus

Figura 36. Tempo de meia-vida vs. ângulo de contado para os vários tipos de

oxidação. (a) amostras eletrizadas inicialmente com carga positiva, e (b)

amostras eletrizadas inicialmente com carga negativa. Os ícones em preto são

das amostras dos experimentos efetuados sob 1% UR e as amostras em

vermelho dos experimentos sob 60% UR.

Há um comportamento anômalo entre as amostras que sofreram oxidação.

As amostras oxidadas via solução KMnO4/H2SO4, pouco se eletrizam sob

descargas corona, como pode ser visto na Figura 37. Os tempos de meia-vida

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63

não foram calculados para essas amostras, uma vez que seu comportamento

em relação à eletrização se mostrou muito singular. A amostra em questão

adquiriu potenciais opostos ao aplicado pelas descargas corona, ou seja, ao

tentarmos eletrizá-la com íons negativos ela ficava eletrizada positivamente e

vice-versa.

0 100 200 300 1250 1300

-30

0

30

60

90

120

150

180

210

Po

tencia

l e

letr

ostá

tico

/ V

Tempo/ horas

KMnO4/H

2SO

4

(i) 0 100 200 300 400 500 600

-210

-180

-150

-120

-90

-60

-30

0

30

KMnO4/H

2SO

4

Po

ten

cia

l e

letr

ostá

tico

/ V

Tempo/ horas(j)

0 50 100 150 200 250 300

-30

0

30

60

90

120

150

180

210

KMnO4/H

2SO

4

Pote

ncia

l ele

trostá

tico/ V

Tempo/ horas(i)

0 50 100 150 200 250 300

-210

-180

-150

-120

-90

-60

-30

0

30

KMnO4/H

2SO

4

Po

ten

cia

l e

letr

ostá

tico

/ V

Tempo/ horas(j)

Figura 37. Amostras oxidadas com solução de permanganato de potássio em

ácido sulfúrico. Há inversão de carga nas amostras após a eletrização com

descarga corona.

Os valores de potencial de equilíbrio também foram calculados, e os

resultados apresentados na Figura 38. Analisando a Figura 38 pode ser visto o

mesmo efeito do potencial de equilíbrio dos experimentos da Seção 3.2.2.1.,

no qual independentemente do tipo de eletrização, com cargas negativas ou

positivas, as amostras tinham um potencial final, chamado de potencial de

equilíbrio, que tem valor negativo.

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64

1% 60%

-8

-6

-4

-2

0

Po

ten

cia

l e

letr

ostá

tico

/ V

KMnO4/H

2SO

4

HNO3(conc)

H2O

2/H

2SO

4

K2Cr

2O

7/H

2SO

4

Virgem

Figura 38. Potencial de equilíbrio sob 1% e 60% de umidade relativa. Barras

com borda mais escura são amostras eletrizadas com carga negativa, e barras

mais claras amostras eletrizadas com carga positiva.

Em geral as amostras têm potencial de equilíbrio mais negativo quando

eletrizado com cargas positivas do que com cargas negativas. Para as amostras

eletrizadas inicialmente com carga positiva a média dos valores de potencial

de equilíbrio é (-4,2±0,5) V e para as amostras eletrizadas com carga negativa

(-3,2±1,5) V.

3.2.2.2.1. Descrição dos resultados de dissipação de cargas em

polietileno modificado

1) cargas positivas são dissipadas mais lentamente sob 1% de UR que as

cargas negativas, porém essa ordem é invertida sob a umidade de 60%;

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65

2) quanto mais efetiva foi a oxidação (menor ângulo de contato, maior

absorção de azul de metileno e maior refletância em 400 nm) mais

rapidamente os potenciais (positivos ou negativos) são dissipados;

3) os valores de potencial de equilíbrio, como nos experimentos com

polímero virgem (Seção 3.2.2.1.), são sempre negativos, cerca de -4 V;

4) nos experimentos sob 60% UR, os potenciais de equilíbrio seguem a

ordem de oxidação das amostras, de forma que as peças mais oxidadas têm os

menores valores (em módulo) de potencial;

5) as amostras oxidadas com KMnO4/H2SO4 eletrizam-se pouco e adquirem

potenciais de sinal oposto ao aplicado na descarga corona, ou seja, se

aplicarmos íons positivos a amostra se carrega com potencial negativo, que é

um comportamento totalmente inesperado.

3.3. Microscopia de força atômica

3.3.1.Microscopia de força Kelvin e de força elétrica

Imagens de microscopia de força Kelvin (KFM) foram obtidas nas

amostras lavadas com HCl, secas, e equilibradas sob ar saturado com vapor de

água e então transferidas para a câmara ambiental do microscópio a 30% UR.

Durante a aquisição da imagem, as amostras foram mantidas sob temperatura

controlada (25º C) e 30% de umidade relativa. A imagem de potencial

eletrostático mostrada na Figura 39 (b), junto com a imagem correspondente

de topografia AFM no modo não-contato, Figura 39 (a), mostram um

contraste significativo, evidenciando que os potenciais medidos usando a

sonda Kelvin macroscópica descritos nas partes desta dissertação, são o

resultado de um grande número de contribuições. Os valores de potencial

medidos na área de 6,25 μm2 vão de -7 a -5 V, evidenciando boa concordância

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66

com as medidas macroscópicas (-4,6 V, média do potencial das amostras

lavadas de diferentes maneiras). As linhas de varredura dessa imagem são

mostradas na Figura 39 (d) e comparadas com os mesmos traços de topografia

na Figura 39 (c). A dimensão fractal (D) correspondente é mostrada em cada

curva. Os valores são cerca de 1,03 para topografia e de 1,18 para potencial

elétrico.A superfície de PEBD não é fractal mas os potenciais e então a

distribuição de carga é, evidenciando que as cargas responsáveis pelas

medidas do potencial estão fixadas.

A mesma análise de dimensão fractal foi feita com imagens de força

elétrica (EFM) como pode ser visto na Figura 40. Mapas de força elétrica

mostram interessantes padrões e considerável heterogeneidade na superfície

de polietileno (Figura 40 (b)). A imagem de topografia é mostrada na Figura

40 (a) e as linhas A-B, C-D e E-F traçadas nas imagens mostradas em (c) e (d)

são as respectivas dimensões fractais (D).

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67

(a) (b)

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5

0

50

100

150

200

250

300

eixo-X/ m

E-F

0

50

100

150

C-D

0

50

100

150

D=1.03

D=1.03

D=1.02

Topografia/nm

A-B

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5

-7,0

-6,5

-6,0

-5,5

-5,0

Potencial/ V

eixo-X/ m

E-F

-7,0

-6,5

-6,0

-5,5

-5,0

C-D

-7,0

-6,5

-6,0

-5,5

-5,0

D=1.17

D=1.18

D=1.17

A-B

(c) (d)

Figura 39. (a) Imagens de topografia e (b) potencial elétrico obtidos por KFM

em amostras lavadas com HCl. Os perfis de linhas A-B, C-D e E-F, mostrados

em (c) e (d), foram traçados em diferentes sítios da imagem de potencial

elétrico e no mesmo local correspondente a imagem de topografia.

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68

(a) (b)

0 5 10 15 200

100

200

300

400

0

50

100

150

200

250

300

0

50

100

150

200

250

300

E-F

eixo-X/ m

D=1.09

C-D

Topografia/ nm

D=1.07

A-B

D=1.09

0 5 10 15 20-0,2

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

-0,2

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

D=1.14

E-F

eixo-X/ m

C-D

D=1.14

A-B

Potencial/ V

D=1.13

(c) (d)

Figura 40. (a) Imagens de topografia e (b) potencial elétrico obtidos por EFM

em amostras lavadas com HCl. Os perfis de linhas A-B, C-D e E-F, mostrados

em (c) e (d), foram traçados em diferentes sítios da imagem de potencial

elétrico e no mesmo local correspondente a imagem de topografia.

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69

Ainda foi feito microscopia de KFM da amostra oxidada com

KMnO4/H2SO4 e também EFM de todas amostras submetidas às oxidações.

As imagens de KFM e EFM e suas respectivas topografias são mostradas na

Figura 41 (note que as imagens não estão na mesma escala). Na Figura 42 são

mostradas as imagens de Topografia e Força Elétrica para as amostras

oxidadas.

(a) (b)

Figura 41. (a) Imagens de topografia e (b) potencial elétrico e força elétrica

obtidos por KFM (acima) e por EFM (abaixo) em amostra oxidada com

solução de KMnO4/H2SO4.

169.55

[nm]

0.001.00 um 2.00 x 2.00 um

LDPE oxidado com KMnO4/H2SO4 (G1)RH=70; offset=-0.2

0.35

[V]

0.11 1.00 um 2.00 x 2.00 um

LDPE oxidado com KMnO4/H2SO4 (G1)RH=70; offset=-0.2

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70

HNO3(conc)

H2O2/H2SO4

K2Cr2O7/H2SO4

Figura 42. Imagens de topografia (esquerda) e de força elétrica (direita) para

as amostras oxidadas.

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71

Capítulo 4

Discussão

4.1. Indução e dissipação de carga em celulose

Os resultados de indução e dissipação de carga em papel apresentados na

seção 3.1 mostraram, uma forte dependência da umidade relativa, no qual

podemos notar que quanto maior é a UR maior é o efeito de blindagem do

potencial eletrostático e mais rápida a dissipação do potencial no papel quando

retiramos o indutor.

Os experimentos feitos variando o número de folhas de papel (Figura 9)

sob 10% de UR mostram um resultado muito parecido ao de aumento da UR,

indicando que o fator de blindagem do potencial é a quantidade de água

adsorvida e absorvida no papel. O efeito de uma possível migração de elétrons

do porta-amostra de alumínio para o papel como sendo o responsável pela

blindagem do potencial, foi investigado num experimento no qual o dielétrico

foi isolado do metal com uma camada de teflon (Figura 12). Esse experimento

mostrou que a contribuição da condutividade na superfície deve ser muito

pequena, ou mesmo inexistente.

Não podemos explicar os resultados aqui apresentados usando modelos

usuais de indução de carga que são adequados para metais ou semicondutores,

baseados no deslocamento de carga ao longo do isolante para blindar a carga,

uma vez que cargas não são móveis em isolantes. Por outro lado, eles são

consistentes com a hipótese baseada na sorção de água atmosférica pelo

isolante, na condição de equilíbrio imposta pelo potencial eletroquímico, que

produz excesso nas concentrações dos íons H+ ou OH

- sob potenciais

eletrostáticos diferentes de zero [60].

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72

Este modelo é aplicado à interpretação dos resultados experimentais como

segue: após a introdução do indutor eletrificado positivamente, há a formação

de uma dupla camada elétrica iônica atmosférica análoga à que se forma em

líquidos, mas com maior espessura.Também na camada de água adsorvida na

superfície do papel há o acúmulo de íons, levando a um excesso de cargas

negativas. A densidade de carga que se forma na camada de adsorção de água

cancela as cargas do indutor. Então, o eletrodo acusa um potencial muito

inferior ao do indutor. Quando o indutor positivo é retirado e a amostra

permanece sob o eletrodo, esta tem um excesso de cargas negativas que é

detectado pelo eletrodo, mas as cargas negativas são rapidamente dessorvidas

na atmosfera gasosa ao redor.

O excesso de carga em um potencial V pode ser calculado usando a

equação de potencial químico das espécies i contendo z unidades de carga,

com uma atividade a, dada pela Equação 1.1. A introdução de potenciais

positivos V leva a uma diminuição da atividade H+ (que é igual à

concentração, desde que seja inferior a 10-5

mol L–1

) e outras espécies

catiônicas no equilíbrio. Por exemplo, a razão entre a concentração de clusters

negativos e positivos a 500 V é ln(a/a+) = +2eV/RT =

+2x9,6x104x500/(8,3x298) = 10

5, significando que íons negativos

predominam largamente neste potencial. Esse o acúmulo de íons é

suficientemente alto para diminuir o potencial medido pelo eletrodo, de

acordo com o princípio de Superposição.

O acúmulo de íons carregados na superfície e sua troca com a fase gasosa

ainda não são idéias amplamente aceitas, mas a existência de clusters iônicos

formados pela hidratação de íons gerados por radiação ionizante e outros

processos na atmosfera é experimentalmente bem descrita na literatura. No ar,

a população de clusters iônicos é muito complexa, porque o íon hidratado

Page 96: Indução e Dissipação de Cargas em Dielétricos: … · i Universidade Estadual de Campinas Instituto de Química Departamento de Físico-Química Dissertação de Mestrado Indução

73

pode se vincular a espécies atmosféricas como SO2 e CO2 formando uma

variedade de clusters de íons complexos na fase gasosa [56]. Em atmosfera de

nitrogênio seco tanto quanto na camada de água absorvida as cargas esperadas

são somente [H(H2O)n]+ e [OH(H2O)m]

–, além dos íons formados por radiação

ionizante (α, β, γ, raios cósmicos). Evidências experimentais desses clusters de

água carregada foram apresentadas por Turov e Mironyuk [61], que

detectaram diferenças nos espectros de RMN 1H de amostras de sílica

metilada e atribuíram essas diferenças à não homogeneidade de cargas em

clusters de água adsorvidos na superfície.

A proposta de transferência de carga para a superfície do isolante

associada à adsorção e dessorção de vapor de água é consistente com a forte

simetria das curvas de potencial vs. tempo observadas na presença de

indutores positivos e também com indutores negativos que criam carga

positiva no papel e dissipam da mesma forma que nos experimentos

mostrados. A simetria dos passos de formação e dissipação de carga pode ser

explicada admitindo: 1) que as espécies carregadas são similares, exceto o

sinal da carga, desde que todas são clusters iônicos de água; 2) que no

equilíbrio sob umidade relativa constante as taxas de adsorção e de dessorção

são iguais.

A 10% de UR, a pressão parcial de água na atmosfera é 2.61 x 10-3

atm

[58]. O número de colisões entre essas moléculas e a superfície do papel em

função do tempo, seguindo a teoria cinética dos gases [62], é

aproximadamente 1018

colisões por μm2 por segundo. O número de colisões

entre as moléculas de água e a superfície é portanto consideravelmente maior

que a quantidade de cargas geradas no material (1 x 10-2

carga/μm3 calculado

pela Equação 3.2) mostrando que a troca de cargas com a atmosfera é

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74

suficientemente rápida para justificar a indução de cargas na superfície da

folha de papel.

Independente de qualquer mecanismo de alta energia para a geração de

íons e admitindo que Kw = [H(H2O)n]+ [OH(H2O)m]

– também se aplica a

clusters gasosos, uma fração de clusters hidratados tanto quanto moléculas de

água absorvidas, clusters ou filmes deveriam sempre trocar cargas, positivas

ou negativas, sob os campos elétricos a que estão submetidos. Além disso,

essas cargas podem ser trocadas através de choques entre as moléculas que

caracterizam o equilíbrio dinâmico de clusters.

O presente modelo explica todos os resultados experimentais relatados até

agora e isso é baseado em conceitos simples e bem aceitos: a existência de

íons na atmosfera, a auto-ionização da água, formação local de excesso de

densidade de carga na região de potencial diferente de zero de acordo com a

equação de potencial eletroquímico e o equilíbrio de adsorção. Estes conceitos

têm sido extensivamente aplicados na ciência de colóides e superfícies, mas

quase que exclusivamente nas interfaces sólido-líquido e líquido-líquido.

A interação entre potenciais elétricos e água adsorvida não foi previamente

considerada para explicar a indução de cargas em isolantes apesar de a

adsorção de água em papel sob ar úmido ser bem conhecida [63,64]. Estes

argumentos são relevantes para entender a inadequação da microscopia de

varredura por tunelamento no estudo de camadas de água fina na superfície de

sólidos [65] já que a diferença de potencial entre a ponteira do microscópio e a

amostra pode deixar a superfície eletrizada com íons provenientes da própria

água.

O modelo ajuda também a entender a natureza das cargas espaciais (space

charges) associadas ao fenômeno de absorção dielétrica. Cargas espaciais são

frequentemente citadas, mas são dificilmente identificadas. Nós agora

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75

propomos que são, na maioria dos dielétricos, apenas íons H(H2O)n+ e

OH(H2O)m– derivados da água e mais ou menos fortemente aprisionados em

sólidos.

4.2. Dissipação de carga em polietileno

Os experimentos de dissipação de carga em polietileno virgem, bem como

os experimentos de dissipação e indução de carga em papel, mostraram

estreita relação com a umidade relativa. Observou-se que os potenciais são

dissipados mais rapidamente quanto maior for a umidade relativa do sistema.

As curvas de decaimento do potencial sob alta e baixa UR mostram

diferenças significativas. O decaimento exponencial em alta umidade pode ser

facilmente entendido com o presente modelo: os eventos responsáveis pela

dissipação da carga estão associados com a adsorção e dessorção das

moléculas de água, e admitindo que eles seguem uma cinética de primeira

ordem, como no modelo de adsorção de Langmuir, de fato deveríamos

observar um decaimento de primeira ordem. Cinética de primeira ordem para

o decaimento de potencial eletrostático foi também o padrão observado para

os experimentos de indução de carga em papel.

Quando inserimos cargas no polietileno (negativas ou positivas), por

descarga corona, o potencial local acima da superfície do PEBD torna-se

elevado. Assim, de acordo com a Equação 1.1, a concentração de H+ aumenta

sob um potencial negativo e OH- aumenta sob um potencial positivo. Íons são

transferidos de uma região com um potencial positivo para a atmosfera e isto é

mais rápido sob alta UR, isso por que as taxas de adsorção de dessorção de

moléculas de água e clusters iônicos são mais rápidas, da mesma forma que

ocorre nos experimentos de indução de carga em papel. Além disso, o

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aumento da quantidade dos íons H+ e OH

- também aumenta a condutividade

superficial [66]. Porém, o fato de que diferentes pontos em cada amostra

mostram padrões de dissipação não correlacionados é uma clara indicação que

a dissipação não é, em primeira ordem, ligada à condução superficial do

material.

Um resultado inesperado foi descoberta de um potencial de equilíbrio

diferente de zero em todas as amostras de PEBD.

O potencial de equilíbrio negativo em PEBD pode ser explicado admitindo

que íons negativos são mais comuns dentro e na superfície de PEBD à

temperatura ambiente que íons positivos. Água absorvida [67] ou mesmo água

atmosférica pode contribuir com íons H(H2O)n+ tanto quanto OH(H2O)m

‒, e

também outras espécies menos comuns [61,68]. A adsorção de OH‒ em

interfaces água-óleo e oleo-água é bem estebelecida na literatura [69] e uma

analogia pode ser feita com essa adsorção específica pode ser também

considerada para a interface PEBD-úmido/N2 levando então o potencial de

equilíbrio para um valor negativo. Um estudo teórico das razões estruturais

para este comportamento foi recentemente publicado [70] e diz que em água,

tanto H(H2O)+ quanto OH(H2O)

‒ têm características anfifílicas. Perto de

superfícies hidrofóbicas, o íon hidrônio se localiza entre a superfície e a

subsuperfície enquanto que o íon hidróxido é bem localizado na superfície .

A quantidade de cargas negativas na superfície de PEBD é muito menor

que o valor de densidade de carga da superfície de amostras dielétricas

hidrofóbicas imersas em água (aproximadamente 102 cargas/ μm

2). O

potencial de equilíbrio negativo a 1% e 60% de UR é igual dentro do erro

experimental, completamente oposto à crença generalizada de que carga

eletrostática é menos pronunciada sob alta UR. Isto também significa que o

potencial de equilíbrio não depende da quantidade de água adsorvida ou

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absorvida em polietileno, ou que esta não muda significativamente, na escala

de tempo dos experimentos relatados nesse trabalho.

Essa adsorção preferencial de hidroxila por materiais apolares pode ser

também o fato pelo qual há uma diferença nas taxas de dissipação de cargas

positivas e negativas, no qual os excessos de carga positiva dissipam mais

rapidamente que os excessos de carga negativa e que a dissipação de cargas

positivas é mais fortemente influenciada pela variação de UR que a de cargas

negativas, no polietileno. Esta observação é consistente com o excesso de

carga negativa observada no equilíbrio, e pode também ser explicada pela

adsorção preferencial de íons OH- em superfícies hidrofóbicas que reduz a

eficiência da troca de espécies negativas com a atmosfera, quando comparada

com as cargas positivas.

Outra hipótese é que a dissipação mais rápida de potenciais positivos é

devida a alta mobilidade catiônica na superfície do polímero, análogo ao tipo

de mecanismo de condução iônica de Grothuss [71]. No entanto, este tipo de

mecanismo pode somente ser considerado se admitirmos as moléculas de água

na superfície de PEBD como redes bidimensionais contínuas, mas isto não é

possível se levarmos em conta o poder de cobertura da submonocamada destes

experimentos.

As concentrações de carga que geram potenciais como os vistos neste

trabalho são muito pequenas, cerca de 0,1-1 carga por micrômetro quadrado.

Supondo que os íons na superfície tenham uma projeção de área de 0,01 nm2,

a área ocupada pelas cargas na superfície da amostra de PEBD é 1 a 2 partes

por bilhão e o número das espécies em excesso de cargas em 25 mm2 (área de

resolução do eletrodo) nos mapas de potencial pode ser muito baixo, 2,5x107

cargas unitárias ou 4x10-17

mol. Assim, pequenas mudanças químicas, como

por exemplo baixas concentrações de contaminantes na superfície de

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polietileno, são suficientes para gerar potenciais eletrostáticos da ordem de

centenas de volts.

Outros resultados experimentais vistos na literatura, obtidos utilizando

outros métodos de eletrização de polímeros, podem ser interpretados

reconhecendo que a superfície dos polímeros é heterogênea, mas isto não é

usualmente considerado ou evidenciado. O efeito da heterogeneidade sobre o

comportamento eletrostático ajuda a entender porque experimentos

relacionados à eletrização e dissipação de carga em dielétricos são

dificilmente reprodutíveis assim como as dificuldades encontradas para se

estabelecer uma série triboelétrica consistente [72], além da persistente

discussão acerca da diferença entre eletrificação por contato e triboeletrização.

Ao oxidar as amostras, a intenção foi promover uma maior interação da

atmosfera com a superfície, já que a oxidação gera amostras mais hidrofílicas.

Portanto aumentamos a interação de vapor de água da atmosfera com a

superfície da amostra. A oxidação de superfícies de polietileno afetou tanto a

sua eletrização por descarga corona quanto a taxa de dissipação de cargas em

excesso.

Foi observado que quanto menor o ângulo de contato da água sobre as

amostras oxidadas, mais rapidamente os excessos de carga são dissipados.

Esse fato é análogo ao encontrado quando aumentamos a umidade relativa nos

experimentos com polímero virgem.

Um resultado bastante surpreendente foi que o potencial obtido em PEBD

oxidado com solução de KMnO4/H2SO4, tem sinal oposto ao dos íons

aplicados na descarga corona, ou seja, há uma inversão de carga na superfície

dessa amostra. Essa amostra em questão adquiriu propriedades anti-estáticas,

já que tentativa de eletrização tanto por descarga corona com o dispositivo

piezoelétrico quanto por atrito (triboeletrização) produziu apenas potenciais

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muito baixos, quando comparado as outras amostras. Esse fenômeno pode ser

devido à presença do óxido de manganês presente na superfície do polietileno,

o que confere à superfície de polietileno propriedades muito singulares, que

devem merecem uma atenção especial, no futuro.

O mecanismo de dissipação das cargas em polietileno é o mesmo para a

geração de cargas em papel por aproximação de um corpo eletrificado. A

superfície eletrizada por descarga corona gera um campo elétrico que desloca

o equilíbrio químico da água adsorvida e dessorvendo íons para a atmosfera,

rapidamente.

As imagens de microscopia mostraram padrões bastante complexos nas

imagens tanto por KFM quanto por EFM, mostrando grande heterogeneidade

de cargas na superfície. Foram obtidos elevados gradientes de potencial nessas

imagens, sugerindo de que as superfícies dessas amostras não são

eletroneutras e que os potenciais medidos macroscopicamente são resultantes

de um grande número de contribuições de domínios carregados [73,74]. O

potencial medido por KFM sobre uma amostra lavada com solução 0,01M de

HCl ficou em torno de -5V, valor bastante próximo à média do potencial de

equilíbrio das amostras de polietileno lavadas de diferente maneiras e medido

com o eletrodo de Kelvin macroscópico, que é de ‒ 4,6V.

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80

Capítulo 5

Conclusão

Todos os novos resultados apresentados neste trabalho bem como a

informação obtida da literatura são consistentes com um modelo para

eletrização que leva em conta a adsorção de íons formados pela dissociação do

vapor de água ou moléculas de água adsorvidas. De acordo com este modelo,

a atmosfera é um reservatório importante e provavelmente decisivo de íons

que determinam comportamento eletrostático de sólidos dielétricos.

A indução eletrostática em folhas de papel pela aproximação de um corpo

eletrificado é explicada pela adsorção de vapor de água e formação de excesso

de cargas devido ao deslocamento do equilíbrio de dissociação da água por um

potencial elétrico, o que é esperado das propriedades dos potenciais

eletroquímicos de espécies como H(H2O)n+

e OH(H2O)m–. Este modelo

também se aplica à natureza e ubiquidade das cargas espaciais, entidades

frequentemente invocadas mas mal definidas. Segundo o modelo usado neste

laboratório, cargas espaciais são, em muitos casos, íons provenientes da

dissociação da água, dissolvidos, adsorvidos, absorvidos ou ocluídos em

sólidos e líquidos dielétricos.

As idéias apresentadas aqui, derivadas dos experimentos de indução

eletrostática em celulose, poderão permitir que a conexão entre eletricidade

atmosférica e indução eletrostática possa ser melhor definida, mas isso irá

requerer um melhor conhecimento da natureza e concentração de espécies

iônicas do que temos agora [75] e também do estado da água e outras

moléculas polares adsorvidos na superfície dos isolantes.

A heterogeneidade da superfície de PEBD foi revelada pelas taxas de

dissipação do potencial eletrostático, potencial eletrostático de equilíbrio e por

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dois tipos de microscopia (KFM, EFM) e é atribuída à composição química da

superfície e à heterogeneidade estrutural do polímero, bem como por

contaminantes em concentrações inferiores aos atuais limites de detecção dos

métodos analíticos para superfície.

As taxas de dissipação e os potenciais de equilíbrio em PEBD podem ser

ambos explicados admitindo que clusters de água com carga negativa são

adsorvidos em PEBD, mais fortemente que clusters de íons positivos, ao

contrário do que ocorre de celulose.

Os vários métodos de oxidação de superfícies de PEBD afetam

diferentemente a formação e a dissipação de excessos de carga no polímero.

A amostra que apresentou mais alto grau de modificação em relação ao

polímero virgem, que foi a oxidada com solução de KMnO4/H2SO4, adquire

potencial baixo ma oposto ao aplicado por descarga corona e tem propriedades

anti-estáticas.

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