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AAAPPPEEENNNAAASSS
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PPPOOOEEESSSIIIAAA Jeferson J. Cardoso Franco (*)1
(Registrado na Biblioteca Nacional do Livro – Depto. de Direitos Autorais)
Belo Horizonte-MG - 2009
1 (*) Membro da União Brasileira de Escritores (UBE), matrícula nº 2.720, desde 1985.
PREFÁCIO
“Mas uma grave tristeza tinge meus lábios manchados de pecados.”
Assim Federico Garcia Lorca se confessa, irmanando-se com a natureza ao se deixar
capturar pela vária armadilha do poema PAISAGEM. Os poetas possuem esse destempero,
louco, que os move a tecer toalhas de espuma e cálices de espumante vinho. Destempero
que degela o poeta, que transforma o contemplativo estado de montanha em afluentes de
mavioso fluxo, portadores da missão de irrigar o planeta. Afirmo que o poeta é uma
montanha; aliás, uma cordilheira. Mas nem sempre. Pois as lontras e os cardumes
aguardam a bênção do degelo para que se façam em náufragos’ da essência que flui do
leito da poesia. O poema é um rio; o poeta, morador ribeirinho. O poeta: montanha!
Não me vai com pejo recontar o segredo da confissão do poeta. Não há lei que me
impeça, confraria que me iniba ou calvário que me acene com o cinismo da punição. Passo
adiante o segredo do poeta Jeferson. Se peco, não me entristeço mais que Lorca. Os meus
tantos pecados hão de se afogar nos ritmos dos versos e meus lábios estamparão a nódoa
das mais belas canções. Passo adiante o segredo de Jeferson Franco: a montanha se
liquefez!
Uma enxurrada de destempero lava os meus pecados. Ao ler os poemas deste
destempero, desfaço-me em esperança. E o meu anseio embarca, por inteiro, nesta
confissão de Jeferson. Neste fluir de canções e ritmos que arrombam a clausura dos
sussurros’ atados na camisa de força do confessionário. Salve o destempero’ da pública
confissão e que a expiação do poeta embriague cardumes e lontras; e que se junte à
necessária espuma dos oceanos. Os lábios, reviverão, quando forem ungidos por essas
canções.
Adilson Vilaça – Jornalista, escritor e professor de Filosofia - Colatina (ES), 23 de Setembro de 1991.
2
APRESENTAÇÃO
A ideia de publicar este trabalho transmitindo pérolas do pensamento e
relacionamento humano – extraídos do estudo, leitura, assimilação advinda da convivência
– de várias culturas e a partir dos preceitos pontuados (entre outras pessoas). Por minha
avó materna, Josephina Caldeira Damasceno, cuja avó (antes de passar pelo portal de
transição desta para uma outra dimensão espaço-tempo) coroou-me a infância e
adolescência com suas parábolas e ações. Ricas de sabedoria e extrema bondade.
Se faz importante que eu frise não ter a pretensão de reinventar a roda, conquistar
fama e lucro ou o reconhecimento público, de qualquer forma e em qualquer hipótese.
Sugiro, inclusive, que este trabalho seja testado utilizando uma forma simples (da qual
pode me interessar ou não, óbvio, quando se trata de lazer).
É facílimo: primeiro, feche este livro! (claro, antes de ler todos os passos!); depois
abra-o em qualquer posição. A seguir, leia um parágrafo ou uma página. Caso esta página
ou parágrafo possa te dizer alguma coisa, remove a leitura do ponto onde parou para o
teste. Caso isso não ocorra, é recomendável desistir.
E por que não testar este livro?
Vá em frente! Torço para que ele possa ser útil a você!
Jeferson Franco
3
ÍNDICE
HECATOMBE DE PAZ.............................................................................................................................. 5 LUAR DO PRADO...................................................................................................................................... 6 SÓ-NETO..................................................................................................................................................... 7 AO CANTADOR ANÔNIMO..................................................................................................................... 8 REFLEXOS.................................................................................................................................................. 9 AMENAS DELÍCIAS PEQUENAS............................................................................................................ 10A TODAS AS MULHERES........................................................................................................................ 11VAGA LUMES............................................................................................................................................ 13RETINAS...................................................................................................................................................... 14NÃO IREI EMBORA................................................................................................................................... 15HOMENAGEM A UMA MÃE AMIGA..................................................................................................... 16À MINHA SENHORA RAINHA................................................................................................................ 17AO MEU MESTRE AMADO NA TERRA................................................................................................. 19ELEGIA........................................................................................................................................................ 20QUARENTA PASSOS................................................................................................................................. 27SEMENTEADOR......................................................................................................................................... 28DOCE AUSÊNCIA...................................................................................................................................... 29POETAR....................................................................................................................................................... 30CONFISSÃO................................................................................................................................................ 31PEQUENA MELODIA................................................................................................................................ 32RELAÇÃO EM TEMPESTADE................................................................................................................. 33HINO DE AMOR......................................................................................................................................... 36MUNDO DA POESIA................................................................................................................................. 38SE AMO....................................................................................................................................................... 39SORRISO ABERTO..................................................................................................................................... 41ABRE-TE, PEITO!....................................................................................................................................... 43MÃOZINHAS SUAS................................................................................................................................... 45MÚTUA SOLIDÃO..................................................................................................................................... 46DÚVIDA...................................................................................................................................................... 47FLORES DE BEAGÁ.................................................................................................................................. 48VIDEOTAPEANDO NOS MEUS OLHOS................................................................................................. 50RELIGIÕES.................................................................................................................................................. 52ESPERANDO............................................................................................................................................... 53GOTAS DE REMINISCÊNCIAS................................................................................................................ 54PARA FAZER UMA CANÇÃO................................................................................................................. 55ACERCA DE OLHARES DE LÍTIO.......................................................................................................... 57DESAFIOS................................................................................................................................................... 58SÓ, NO RIO.................................................................................................................................................. 55POETA, SÓ, POETA.................................................................................................................................... 60CARRINHOS DE LATA............................................................................................................................. 61DESCOMPASSO DO VERSO.................................................................................................................... 62SENTIR E PODER...................................................................................................................................... 63DESPLUGADO............................................................................................................................................ 64CRESCER A DEUS..................................................................................................................................... 65POEMA EM GOTAS................................................................................................................................... 66BREJEIRICE................................................................................................................................................ 68POETORAÇÃO........................................................................................................................................... 69PEQUENINO GRANDE POEMAZINHO.................................................................................................. 70CALDEIRÃO DE SENSAÇÕES................................................................................................................. 71VIVER BALELAS....................................................................................................................................... 72MEU IRMÃO: EM MINHAS ORAÇÕES, TENHO PEDIDO................................................................... 73ESP(A)ELHO............................................................................................................................................... 75MARCAS..................................................................................................................................................... 76DIFERENTE CANÇÃO DE NATAL.......................................................................................................... 78SEGREDOS DO UNIVERSO...................................................................................................................... 79EVOLUÇÃO E INTEGRAÇÃO (À ETFES).............................................................................................. 80VELHO POETA MODERNO...................................................................................................................... 81CONTATOS COM O AUTOR.................................................................................................................... 82
4
HECATOMBE DE PAZ
Sonhava...
(Ah, quisera fosse real...):
Comumente triangularmente em meu leito,
como me deito, de peito,
invadido vejo ser, estarrecido,
(morada de íncubos e súcubos),
pela bomba nuclear.
Ah, mas tão sensível e fina e mística a menina,
(Mulher da preferência do poeta)
Se ajeita em meu quintal em cama
E ama, ama, ama, ama, ama, ama, ama, ama, ama, ama...
Até o próprio amor exacerbar-se.
Prenhe,
Dá à luz, ali, assim,
parido de mim,
Um Don Quixote em pomba,
(matricida contumaz),
detentor então e a partir de
da hecatombe de paz !..
Sonhava...
(Ah, um dia será real?..)
5
LUAR DO PRADO
Há um lugar
Há um lugar
Há um rincão...
...De tanto mar
Tanta magia
Tanto amar...
...Emoção!..
(É bom que se convenha,
A terra da poesia,
Vinícius já dizia:
É a Bahia!)
Não é terra que se possa descrever
(Que o bom do sonho não se vê)
Antes, é um cantinho
Ainda não devassado
Onde reina a energia
De saber gritar,
Bem sussurrandinho no ouvidinho apaixonado:
“Te amo”,
No Prado!
6
SÓ-NETO
Abriga tanto amor que até sufoca;
Represa em peito incoerente mar
De ser sozinho (opção), jazer em toca
O medo de sofrer e apanhar...
Desvia o pensamento a um vazio
Indefinível campovoado de memórias;
Tantas musas outrora, hoje estórias;
Explode um tal calor me torna frio
Como o solitário quarto de pensão
Suburbano musical – programação cruel,
Tornando-me ao poeta: eis-me em meu papel,
Novamente caneta em riste... novos planos
Sonhos adolescer, musa hoje em não
Às vésperas do voltar a ser amado...
7
AO CANTADOR ANÔNIMO
Um violeiro traz na alma
toda a energia
da poesia.
Você, cantador, traz em sua amálgama
tudo de bom,
graça e alegria
que toda a gente
sempre quis.
Grande poeta cantador:
sejas sempre feliz!..
8
REFLEXOS
Companheira, que teu seio seja sempre meu delírio
Meu repouso... e seja meu também o teu seio;
Que teus lábios sejam sempre mais que mel aos meus
Meu castelo... e sejam teus meus lábios;
Que teus olhos sejam minha moradia
Meu retorno... e sejam teus também meus olhos;
Que teus braços sejam minha eterna prisão
Minha guia... e sejam teus também meus braços;
Que tua voz seja o clarim dos meus dias
Meu despertar... e sejam tua minha voz;
Que teu corpo seja abrigo ao meu amor
Meu caminho... e seja teu também meu corpo;
Que tua vida seja o jardim dos meus dias
Meu poema... e seja tua minha vida...
Que tudo sejas e sempre sejas
E que eu também tudo seja em tua glória...
9
AMENAS DELÍCIAS PEQUENAS
Mito me satisfaria
que a vida se resumisse, dia após dia,
nos bons momentos apenas
na delícia das coisas pequenas,
amenas,
Suaves carinhos que realizados
quando irmanados com as criaturas
que nos
e a quem tanto amamos...
10
A TODAS AS MULHERES
Nascemos, todos, participantes do destino
Trazidos à luz por tua festa e sofrimento
E nos conduzem pelos caminhos e momentos
Orientando nossos passos, com carinho...
E a convivência nos torna fortes, destemidos
Por todo o tempo, se podemos contar contigo
Vencemos juntos obstáculos e inimigos
Com tua proteção, desvelo e teu abrigo...
Em nossas estórias sempre és mil personagens
Mãe, orientadora, amiga, esposa, amante... solidária
Rica, humilde, culta, simples, senhora ou escrava:
Eterna rainha a perfumar nossas passagens...
Cordeira e santa quando a situação permite
És a própria figura da sensibilidade
Porém, te tornas em furacão - quebras limites
Guerreira em armas por nossa integridade...
11
Toma este canto como humilde tentativa
De te mostrar o quanto nos és importante
Posto que a vida é tua opção decisiva
E moves o mundo com teus gestares populantes...
Que a energia que regula as dimensões
Prossiga assim por tantos outros 5.000 anos
Presenteando-nos com teu ser, em nosso plano
Tantos mais milênios enquanto houver emoções...
Que as gerações futuras mais te reconheçam
Estes valores e virtudes que te são fé
E em todo canto, em teu louvor, campos floresçam
Posto que os dias nascem para ti, ó ser mulher
Belo Horizonte (MG), 01/03/2000
12
VAGA LUMES
Crianças da noite
que se vêm e se vão,
vãos açoites
que nem sabe se são!
...acontecem!
Padecem, crianças, infâncias
ternas...
como se a roda nunca se cansasse
de trazer dias e séculos
(e nos meios, noites)
assim, feito carrasca
lhes herdando a borrasca...
13
RETINAS
Quanta coisa bela assisti
Na penumbra no fundo de tuas retinas
Tua força de mulher, tua graça de menina
No ninho de amor marginal em que nasci
Bela a cada segundo mais
Deusa loira do tamanho das pirâmides
Poderosa como as miríades da paz
Hipnótica; e eu de amor em transe
Sonho? não pude crer, por instantes
Pudesse haver sido em meus braços
Mulher completa e fina assim como a camurça
Mas eis que em chamando teu nome: Lúcia
Serpenteavas junto ao corpo teus abraços
Eras real, e sou feliz como nunca dantes...
14
NÃO IREI EMBORA
Ainda hei de estar por aqui
muito depois de ter ido
em tudo que aprendi
com todos vocês.
E, sei
também naquilo que, por acaso,
sem querendo, ensinei...
Da morte em corpo
sobreviverei
em frases, decepções, emoções:
sentimento...
valer fazendo a vida
em degustar momentos!..
15
HOMENAGEM A UMA MÃE AMIGA
À minha mãe, Avelina Santos Cardoso.
Anjos, trombetas, querubins em céu festivo:
Vibrava o universo em dia dez de fevereiro.
Eis que nascias, Avelina, em nosso convívio,
Luz do caminho, felicidade, amor verdadeiro,
Inebriado de bondade a todas as pessoas,
Nas terras em que a Providência te levou
A cultivar rico jardim de almas boas...
Seguiste então cumprindo o seu certo destino;
Angariando a amizade entre todos os seus iguais,
Nas duras horas, nas alegrias, choros ou hinos,
Trazendo a toda a gente força pra lutar sempre mais,
Olhando o mundo com poesia, sempre sorrindo
Superando sofrimentos, dores... orando pela paz...
Caminhaste eternamente, junto a nós, é o pedimos,
Amamentando-nos com seu amor – néctar de vida,
Recarregando nossos corações do amor divino,
Deus te ilumine sempre e mais, nossa mamãe querida
Orientando-te em direção à terra prometida,
Sigas por séculos e séculos realizando
O nosso sonho de ter, mais do que mãe: nossa AMIGA!
16
À MINHA SENHORA RAINHA
À minha amiga, companheira, cúmplice e esposa, Ana Regina (aninha).
Ainda que eu buscasse por todo o universo
Nos versos, energias, constelações e véus
Até em céus e terras as mais diversas
Renascesse esse poeta por zil vidas
Encetando encontrar, enfim, o ser amado
Galgasse montes, estrelas... todos os mundos
Inda que vasculhasse oceanos
Navegasse éteres oclusos, irrevelados
A buscar minha outra metade dividida
Sonhar jamais poderia, em são consciência
Invadir o paraíso em perfeição casal
Lendar, enfim, desta jornada descansar
Vingar raízes, sentir-me então ser ideal
Amado-amante, acontecendo em essência...
Dentro e todo o teu amor, me prostro
E interpreto os códigos essenciais silenciares...
17
Agora creio que minha busca encerrei
Garimpei você, jóia rara, jeito Naninha
Ungida menina-mulher, potência em simplicidade
Identidade que comunga com um rei:
Ana Regina, meu amor, Senhora-Rainha
Reinemos juntos por toda a eternidade!...
Floresta, Belo Horizonte (MG), 03 de Junho de 2.000
18
AO MEU MESTRE AMADO NA TERRA
Ao meu eterno amigo, hoje pilotando galáxias, meu pai!
Já não te vejo com meus olhos, ao meu lado
O velho baiano, meu herói, amigo fino
Sábio companheiro, amoroso, idolatrado
Éramos sempre unidos, pai e filho: meninos...
Caminho então, só de você, criando a vida
A te lembrar, sorriso largo, coração pleno
Rememorando nossos anos de alegrias
Dizendo a este meu tão mau-criado coração
Os versos de Gibran que me ensinaste, um dia
Sorvendo a existência, em festa, meio sofrida
Onde haveria poesia, produzindo pão...
Foi uma bênção conviver contigo, velho pai
Razão mais forte pra o meu viver não há de haver!
Ainda que da vida muito ainda eu saiba
Nada trará nuvens ao que pudemos viver
Como se em meu peito todo seu ser me caiba
O filho teu, hoje em pai, em paz demais!..
19
ELEGIA
I
Para crescer, nasci...
quase como nasce o mundo inteiro,
não fosse eu cesário,
dum tempestuoso dia
de janeiro
cercado de lua e nuvens,
típico da poesia...
... e fui vivendo em sensações
meio menino, meio vadio
conquistando as sensações
que me ofereciam a vida
buscando crescer por dentro,
versejando pensamentos
menos do que parece
muito mais do que eu queria...
Fui mais amando que amado sendo
nos padrões desta canalha
comendo flores e ventos
sem saber que os digeria
20
sabendo que saberia,
muito além do horizonte
da mais cruel distante fome
fardando destino em nome
gestando uma romaria...
Jejuei, pensei, sofri...
... amei, gozei, aprendi.
pensei, cansei, doutrinei,
(sem consciência de ca(u)sa...
E vivo sidarteando
poetar enquanto espero
o que nem imagino
no que é se é que vai dar...
II
Deserteei-me deveras,
- defesa perante as “feras”
que transpiram conhecimento,
transformam sonho em tormento,
exaltam “poderes podres”,
endeusam meros trigos em pão,
21
decepcionam-se em projeções
de seus egos malformados,
absorvem e não digerem
o sumo da emoção
travestida que se faz em compreensão...
Segui os “caminhos do vento”
ventando que me sentia,
chovi como mil lamentos
por gente que nunca vi,
inocente em seu sofrimento
karmando o que não deviam,
por opção de existir...
“Passei como passarinho”,
por campos floridos e bares,
provei o valor do verso
puro, simples e belo.
Entre meus pares plantei amigos
num povo que amo e prezo,
despertei visgos e amores
preguei quase em sempre o que vivo,
forma como encaro o mundo:
um tédio intenso e profundo.
22
sendo minha verdade besta,
A troca de sangue por pão
democracia em coração
por terras, morros, cidades
sem deixar que a má da maldade
torcesse meus versos pequenos
transformasse doses em veneno
remédios que eu não dominava,
e, junto comigo, doava
a qualquer ser que trouxesse
(por menos que nem sonhasse)
amargura na alma eterna
produto da pura energia
que moldou em barros os deuses
e hiberna no último fio
sedoso de um urso neném
em cavernas que não imaginas
e eu nem...
Nessa cantada vidinha
entre o homem engravatado que sorria
e o profeta que em mim se escondia
fui levado de roldão
a nem perceber que passaram
23
ao largo de meus compridos dedos
a fio, anos e segredos
compondo a imagem que levo
bailando pelos brinquedos
entre os frutos da criação,
trazendo na identidade
trinta e oito saudades
de ricos e belos
novos poemas que virão
um dia...
III
Enfim, minha amante madrugada, eis
que se faz chegada a hora
de seguir a catarata
de suposta inspiração
pra não melindrar os horários
em que se abre a cortina
e o homem-salário se perfila
humilde perante a rotina
de sofrer as limitações humanas
que aqui resumem o amor...
Não há de bisar o cantor
posto que o “pão” tem seu preço
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e finjo que não padeço
para viver em harmonia
aplaudido por minha veia
que não sangra, poesia
amado por pérolas que vervo da lavra
que me aconteceu sem querer:
hei de me morrer aos pouquinhos
em outro escritório fresquinho
com mentes que mentem em “ser”,
sonhando de novo este véu
de mar e carinho
que só encontro sozinho
perdido em meu zebedeu
pelas esquinas da vida
poemando feridas
em meu sersensibilidade,
de antemão, sonhando a saudade
do que inda hei de viver
traindo todos que te ostracismam
sem mesmo te conhecer
por mero e mesquinho egoísmo
de não tentarem transcender
versos soltos em neve
em leve fluir de êxtase...
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Encontramo-nos-emos às claras, em breve
para sorvermos em papel
este néctar, minha amante poesia,
que ordena a existência
resume a ciência,
transforma o caminho traçado
seja errado ou correto,
que deve o homem padecer...
26
QUARENTA PASSOS
Quarenta luzes inundarem meu redor
Esse redor que comumente alcunho vida
Quarenta sóis invadiram-me do amor
Esse amor que meramente e flor parida...
Quarenta sonhos vi passar nesse segundo
Em que o relógio ajaneirou o nosso dia
Quarenta tempos em que giro pelo mundo
Este tão mundo que destilo poesia...
E foi como se nada houvesse acontecido
Entre o nascer, viver, crescer, correr, perigos
Ansiedando essa doce realidade
Cantando montes, vales, musas e cidades
Benzendo campos, infernando paraísos
Plantando amores, suas dores... colhendo amigos!
27
SEMENTEADOR
Não sei quais caminhos
trilha minha mente
Só sei ser sementeiro
poesias plantar
em solos nos quais caminho
espalhando sementes
por esse mundo inteiro.
De fato,
estes meus atos
aprisionam corações
transformando-se em canções
que nem direito sei cantar
Planto sorrisos
colho cobranças
e minha forte esperança
é que esses meus poemas
um dia me façam descansar...
28
DOCE AUSÊNCIA
Esta tua doce ausência
me faz trilhar infernos:
congela o meu canto,
quase me torna em prantos.
E, no entanto,
me faz imenso bem...
Devo estar maluco
mas faço e te futuco
pra me deixar em paz.
E, ademais,
é bom para o meu ego
e pra tristeza que carrego
(não a nego)
em peito
Viver esses desvios de personalidade
já que aqui, nesta cidade
arde a incongruência
grassa a inadimplência
reina a incompetência.
E quer saber duma coisa, (você, aí, ao lado),
vou parar de riscar posto que me sou cansado...
29
POETAR
Estou fadado à vala comum dos mortais...
é demais.
E, ademais,
mais que isso, pra quê?
Porém,
me sei quem sou!
não à-toa
na boa,
tenho rumo e missão...
(aliás, como todos têm).
No entanto,
por enquanto
(breve tempo entre o chegar e o partir)
hei de parir tentar
versos-potências
que nos permitam conjugar
verbos-essência
capazes de tornar, mais que a alma,
a sensibilidade, a poesia
em armas brancas de ciência
que domem toda a possível
violência!
30
CONFISSÃO
Meu dilema se traduz
Feito pérola revelada
Por caminhos caminhados
Em vida tornada estrada...
Meu sonhar tanto e bonito
Feito herói de conto antigo
Em tanto fazer amigos
Por dias de riso e ritos...
Meu sorrir em chuva e sóis
Como se palhaço fosse
Por dias em sal ou doce
Em laços, espaço... Anzóis...
Este meu jeito poeta
De cantar e prosseguir
Por um céu em chão... Luzir
E errar a forma certa
Resume todo o segredo
Que quem me conhece, busca:
É esta falta de medo do viver, que não me assusta!...
31
PEQUENA MELODIA
Diante de ti me quedo.
Tento prever, mais que o meu dizer e pensar
A possibilidade duma tua reação...
Perante você, teorizo.
Busco quedar o medo que, quase em segredo,
Me associa a ter você.
E se quase não me calo
este é o meu tentar domar
O embalo da onde que se reveste
Em torno/dentro de nós quando somos um!...
Sempre te amei, realeza
E também sei que sempre te amarei!
Meio que talvez a minha forma
Cuja desconhece as normas palpáveis
De toda forma de amar...
Diante de ti, ainda
Espero elevar, lindas:
A tua princesia e esta pequenina melodia
Que é minha forma de nos cantar!...
32
RELAÇÃO EM TEMPESTADE
Ei-la, que surge, pela porta adentro
E, de um assalto, se prostra à minha frente
Seus grossos lábios se abrem, num lamento
Enaltecido pela espera ardente
Me encontra tal à partida:
Sentado ímpar e alquebrado tanto
Irrefletido num ausente pranto
Sofrendo, mudo, o ardor da ferida
Traz de volta este corpo cálido
Seios arfantes, traz, no seu retorno
Na contra-luz, dispostos como adorno
Para reviver meu peito, já tão pálido
O abraço forte de seus braços trêmulos
Na sala cheia, agora, de presença
Tolhendo o antes que a cabeça pensa
Renova o ar... abala o certo em seus extremos
33
Sua constância jaz por terra desabada
Pelo passado que se faz tormento
Razões se perdem por escura estrada
Desesperando seus mais fortes sentimentos
Duvida, assim, de seu querer reconhecido
Me põe à margem para se afirmar
Não pode ver o quanto sou doído
E os meus finos olhos desandando a gotejar
Até que, enfim, rompe seu lance duro
E desabafa, sem receio, no meu ombro
E chora um choro paliativo e puro
Que afoga o coro... elimina assomos
Por ser amor penei com sua ausência
Por ser criança, esperei a cada instante
E agora, me transformo em paciência
Pra tê-la inteira e novamente amante
Vivi momentos de dúvida cheios
Fui imaturo e quase sou perdido
Enquanto havia de ser o esteio
Para enfrentar tua crise em colo amigo
34
O vendaval que te assomou, tão forte
Balançou a estrutura tua, com furor
Lançou ao chão sementes de morte
Do tão crescido e frágil nosso amor
Nosso barco, do naufrágio, esteve à beira
À mercê dos vagalhões, estremeceu
Na resistência a esta viagem primeira
Foi-se a escuridão e, arrojado, só cresceu
Restou do amargo nosso amadurecimento
Nos caminhos sinuosos de relação
Que haja a frente a comunhão dos pensamentos
Pra conduzir-nos em uma só direção...
35
HINO DE AMOR
Cantar...
Como se fosse o mundo um fino éden
Como se a vida fosse serenata
Como se os dramas fossem só valores
Como se as feridas não florassem dores...
Erguer a voz acima dos ouvidos
Entoar a comunhão dos universos
Reger o cosmo e decifrá-lo em verso
Transcender música em tons multicoloridos...
Cantar uma canção sublime
Um repousar em cadeira de vime
Um canto breve com eco celestial
Transformação utópica em bem de todo mal...
Fazer hino certo em milhões de canais
Viver, de amor, repleto em todos os anais
Sem sombras... povoar de paz todos os ângulos
Sem medo, promulgar a liberdade, sem preâmbulos...
36
Viver uma canção eterna
Morrer cantando amor e amor e amor
Invadir astrais de uma constelação sem igual
Dizendo, seio-a-seio o quanto inda se pode ser cantor...
37
MUNDO DA POESIA
Uma garoa-menina esgueira o vento
Cai nos braços da relva seca
Percorre folha a folha toda a grama
Para findar as núpcias pela imensidão da terra.
A vida se faz noite novamente
E novamente vivo em comunhão com a mãe substituta
Familiarmente a dádiva de ver
Na mais normal das chuvas de verão
Um mundo inconquistável
Na qual caminham só e juntos
Duendes mágicos do mundo da poesia
Neste campo inverso
Tudo supre em existência
A falta em abundância de sentimentos
De uma população outrora humana...
38
SE AMO
Se amo,
Por que haverá de me importar o mundo
Imperfeito... com defeitos... podre ou são?...
Há de ser somente sonho
Maravilha... nada estranho
Tudo lindo e multicor...
Se amo,
Não assolará o vento meus castelos
Serei sólido... imbatível
Muro alto e intransponível
Só verei belas paisagens
Sorverei em mil miragens
Minha seiva para a vida...
Se amo,
Não desencadearão as guerras
O choro será passado
O amor imperará como nunca
E todos o conhecerão
Só será tudo em jardim florido
39
Nada torpe ou dolorido
O universo/ dia-a-dia...
Então, amo!
40
SORRISO ABERTO
Abra um sorriso leve
Mesmo que seja breve
Frágil, neve, como tal
Mas, abra-o, fechando o mal
Sorriso-brado... coisa mais que emblema
Em espanto aos corvos-problemas...
Abra um sorriso limpo
Como se fosse só criança
Transborda a humanidade de esperança
Que a dor, nem a chegar se atreve...
Abra um sorriso moço
Sorriso eterno... por segundos, apenas
Transmita mansidão à multidão em cena
Neste chorar, sublime, de viver no fosso...
Abra um sorriso
Não se importe com sua dimensão
Vale sorrir... mesmo em plena solidão
Porque o sorriso é chama em vento brando
41
E aumenta a cada nova brisa
É livre como passarinho
E traz o céu, do alto... para bem pertinho...
Abra um sorriso
E entenda, desde o rufar das tempestades
Aos insones, tantos, pelas cidades...
Porque sorrir... é viver paz de paraíso!..
42
ABRE-TE, PEITO!
Ei, meu peito
Deixe de ser tão estreito
Estoure estas coisas que te são acumuladas
Faça desta tua vida um nada
Sem te importares com os tradicionais efeitos
Consome este estopim tão longo
De paciência e falsa quietude
Suba à tragédia, em gestos, amiúde
E seja um grande grito o pavor de seu estrondo
Desfaça irreverente o torpor de tuas chagas
Teus fragmentos sejam tuas lembranças apagadas
A te representarem por infindas novas plagas
Às multidões desconhecidas, multidões desatinadas
Vá, meu peito, ao extremo do esquecimento
Profunda moradia dos que como tu, partiram
Te valerá o consolo, após tanto sofrimento
De que no novo mundo tuas dores não mais firam
43
Abre-te peito
Perde esta mania de ser assim tão sem jeito
E te projeta na utopia dos luares e espaços
Que já sou só depósito de prazeres mil escassos...
44
MÃOZINHAS SUAS
Suas mãozinhas sorriram
De encontro às minhas
Como se abre um girassol na primavera
Um amor ao divisar um outro amor, após a espera
Uma criança ao receber presente que quisera
Se encaminharam solícitas
Na direção destas mãos que são tão tuas
Mãos que galopam tropegamente pelas ruas
Pelo momento de te serem todas nuas
Ah... suas mãos
Finas e lisas
Como um frescor de brisa
Que acariciam faces a circularem tão precisas
São mãos princesas
E são inestimável riqueza
Deste amante que só te vê beleza
Em toda parte deste teu corpo perfeito
Essas mãozinhas meigas
Qu’inda hão de se estender à minha frente
Ao receberem o elo sagrado
A nos unir então eternamente!!!
45
MÚTUA SOLIDÃO
Embriagado por teus beijos
Tornei-me desejo
E fiz em uma vida
Um fim de semana
Você, quem amor pelos poros emana
Contribui para secar estas feridas
Que interpretam, em meu olhar,
Teus tristes olhos...
E fomos, então,
A expressão pura e completa
De dois desconhecidos que tornam-se afins,
Somam carências
Dividem carinho
Respiram compreensão
Por nada mais que assassinar
Nossa mútua solidão...
Num futuro talvez impossível
Tempo talvez nunca mais
Anseio novamente e forte
Viver esta tática emocional
De venerarmos os corpos e,
Transcendentais,
Tornarmos em um só nossos espíritos...
46
DÚVIDA
Quem vai ao longe,
Diz-me, ó mar,
Será segredo?
Por que evita perceber sua presença?
Diz-me, ó mar, que passa ao longe,
Será o medo?
Ou será a vida que me foge e me dispensa?
Diz-me, ó céu,
Seria tudo isto um sonho?
Terei atino ou estarei ouvindo
Um pouco além da realidade?
Vai mesmo alguém ao fim de meu vale tristonho
Ou será minh’alma
Em direção à eternidade?
Diz-me, ó mar,
Diz-me, ó céu...
47
FLORES DE BEAGÁ
As flores de Beagá não perfumam
Como as flores de Vitória...
(E Brasília tem flores sintéticas)
Flores-memória,
Quer pétalas-louras,
Morenas,
Amarelas,
Índias,
Negras,
Pardas,
Mulatas
(E brancas)...
Cada cidade, uma flora...
...aflora
Saudade da cidade
Por cujas flores a gente chora
Estas nossas lágrimas mentais,
Justo agora
Em que para lá a gente vai...
48
É libertar a incarcerável visão
Acelerar compasso coração
Ao ver uma flor que aparece
Pelas ruas
(Que não são suas)
(As duas)
Na vã esperança de ser uma flor
Do jardim que te conhece!
49
VIDEOTAPEANDO NOS MEUS OLHOS
Ei:
Olha nos meus olhos,
Assim,
Diretamente
Como quem (quer que eu sinta)
Sente
A falta das verdades que,
luzes,
eles ainda traduzem...
Olha difusa e sem-vergonhamente
Se neles germinaram flores
Que você deixou,
Sementes
Há tanto tempo que ficou lá atrás...
E aliás
Aproveita para ver se eles te encantam
Se, atrevidos,
Eles ainda te cantam
Como outrora, sem dizer palavras
Embevecidos da paixão que abundava
Te seduziam enquanto luziam
50
Roubando o reflexo, na rua
Da eterna imensa e muito cheia lua...
Ei:
Olha nos olhos que hoje te olham,
Lentos
Videotapeando tantos bons momentos...
51
RELIGIÕES
O sol poente do saber se põe
A cada nova geração que acorda e sente
Incoerentemente à vida posta
De qualquer jeito assim em sua frente
Nasce uma esperança em cada seita
De um tal carinho certo percorrer
Restando sempre, ao fim das desilusões
Junto ao vazio... o desejo de morrer
São tantos deuses promissores
Pra tanta gente entorpecida
Pra um vasto céu de só-fredores
São tantos sóis pra pouca vida
É tudo somente uma dor
Buracos-negros, queda eterna são
Crianças a vagar na imensidão
Pedindo urgentemente a mão de algum senhor
52
ESPERANDO...
Cá estou eu
novamente esperando...
...acreditando ser verdade
o que me diz a cidade...
Aqui estou,
crendo
o que esta vida só me diz
que se aprende morrendo...
...morrendo de tanto crer,
vivendo de se fazer
amante a qualquer momento...
de se transformar romance
sensações destas nuances
que o povo, sugere, carente,
sem imaginar que assim fere
Em egoísmo os párias
da sensação, os asseclas
dum universo cheio de graça;
esta nossa pobre raça
que nos convencionam “poetas”...
53
GOTAS DE REMINISCÊNCIAS
Ouço a chuva, pelo vidro
Da janela escurecida
Pelas telhas, vejo a chuva
Como há muito eu não via
Chuva fina... Chuva fria...
Chove a chuva pelo jardim
Ai de mim,
Que a chuva
Chora forte minhas dores
Lateja estas feridas
Acertos e defeitos;
Estertores
Deste homem tão menino
Deste menino embora homem
Que sei a chuva
Que se sabe
E nem sei...
Forte chuva em Amazônia
Meus problemas, minha insônia,
Pequeninas gotas
Pelas quais sucumbirei...
54
PARA FAZER UMA CANÇÃO
Para fazer uma canção
Quero o andar trôpego das pessoas atropelantes à saída do trabalho,
O choro madrugal dos menores abandonados,
O grito sufocado dos torturados pela razão,
O ribombar matinal convidando à prece pelo pão,
O amor desperdiçado dos poetas solitários
O sorriso infantil dos recém-nascidos que não sabem sorrir,
A esperança das esposas dos pescadores em seu eterno retornar,
A brisa leve em sussurros dos insones às janelas,
O trilhar dos pássaros engaiolados e, ainda assim, felizes,
O batuque embriagante dos ensaios das escolas de samba,
A ânsia dos detidos em busca da liberdade...
Não precisa ser uma canção do hit-parade
Só precisa ser canção audível...
Descompromissada... desatinada...
Torta... sem rima... sem medo!
Uma canção para fazer preciso
Abrir a mente e respirar
Porque ela já está formada:
Em cada canto há um verso,
Em cada verso há um tom,
55
E falta apenas para fazer assim uma canção
Que eu largue mão de mim
E possa ser, além,
Alguém onipotente e onipresente,
Sensível tanto,
Que saiba captar a um só passo
E reunir num só hino
As vidas que me rodeiam
E são canções em si
Por serem vidas...
56
ACERCA DE OLHARES DE LÍTIO
Os olhos de certas pessoas são fúteis,
(todas elas os têm)
os olhares, maioria,
(eu os diria)
inúteis;
Sem nada além
de vagos torres sentimentos
pobres
sobre aparências
(a seu parco ver)
nobres!
Os olhares das pessoas,
hoje
sabem a nada
e o pouco que se fazem
e nem conta se dão
do nojo
que causam a quem entende,
de pura emoção!..
57
DESAFIOS
Não há luar,
não há lugar,
não há quinhão
que um dia possa
tirar da fossa
essa minha solidão...
Quiçá vestígio
deste litígio
e desprestígio
em que me faço
em que me laço
lançado sempre
em desafios!..
58
SÓ, NO RIO...
Sinto-me só
entre o silêncio
imortal
de tantos anjos mortais
aqui desta capital
do frio de mais que janeiro
acanalhado por uma rapeize
que sonha que me enxerga
através das brumas!
Estou numas da paz
(verdade!)
nest’outra,
distante,
vetusta cidade,
em plena e real
soledade!..
59
POETA, SÓ, POETA
Nos penúltimos segundos
descido fui aos próprios céus
e subi aos mesmos meus
infernos.
(de quando em vezes,
hiberno,
eterno buscador de nem sei o quê).
E trouxe de volta o mel
de que me visto
e insisto em ocre doce fel!
Em momento algum instante
meus revezes de ser errante
quiseram acertar-me o amor
que me cobre feito um redentor
a protegerem um poeta só poeta!
60
CARRINHOS DE LATA
Havia um tempo, na meninice
Em que sonhamos bastante unidos
Sonhos tão puros... céus coloridos
Inocentavam toda a meiguice...
Quatro irmãozinhos trilhando trilhas
Imaginando mundo pequeno
A poesia vencendo venenos
- não atingiam nossa família!
Soltando pipas entre os jardins
Banhos de rio – muito peraltas
Surras de espada-de-São-Jorge...
Saudoso tempo, que vai tão longe
Feliz estado de querubins
Arquitetos de carrinhos de lata.
61
DESCOMPASSO DO VERSO
Descompassou-me o verso
em plena capital mineira
depois de então
te descobrir, te conhecer...
...novamente imaginar – dia seguinte –
te rever,
ansiar tragar em olhos esse seu
lindo sorriso
e visitar, invés,
o abismo de tua doce ausência!..
Então,
a sala, o prédio, a rua, o bairro, a cidade, o país, o planeta, quiçá a galáxia
prantearam com esse poeta a sua falta
e tudo revestiu-se em negrume
sem seu combinar (em rubro) e seu perfume
e me perturbo por não te ver de novo.
Hoje vivo o consolo
de ter/poder ligar-te ao telefone
ouvir-te a voz, talvez, soar teu nome
e imaginar, via Embratel, meiga e bela
Em doce e saudosa tela...
62
SENTIR E PODER
De tanto buscar na vida
Respostas a todos os porquês
Hoje a tenho dividida
Entre o sentir e o poder...
São trinta e três anos vividos
Num ciclo senóidico e vil:
Ora rei sob este céu anil
Ora em pontes-dias mal dormidos...
Assim, sigo minha profecia
De sorver, sempre e mais
Toda essência do que sei energia
Todos os tragos desta poesia
Vestida ora em doces, outras em sais
Rainha que se faz vadia...
63
DESPLUGADO
Ai, ai, minha poesia
que triste estou:
Você, que me trouxe de volta
(e nem me consultou)
a este mundo meio encardido,
perdido,
sofrido e sofrendo por nem
o que se mais possa dizer que uns
vinténs;
Será que mereço sofrer
no céu do sol e sal do sul
deste descompassado pobre coração
todo o vibrar desnorteado
calado, colado, selado de medo
(quem trago alguns dos seus segredos)
pra me redimir do que não devo
perante sua imperfeita criação?...
64
CRESCER A DEUS
Quando sentires o vento
leve, breve,
assim como o momento
lembra-te da vida
que, em si,
é passageira...
... Então,
abre tuas asas, cruza o infinito.
Vê como é bonito
o amanhecer:
nascendo flores,
ensolarando amores,
incentivando o dia,
aposta eterna
por se crescer
a Deus...
E os sonhos teus serão,
a cada novo dia,
um novo tempo!
Passageiramente eterno
como o vento!..
65
POEMA EM GOTAS
...E novamente a chuva
na janela do meu quarto só
gritando meu nome:
em cada gota, um nó
nessa já quase cerrada garganta muda!...
E novamente somos
eu e minha pequena poesia
elocubrando, abandonados
o que há de certo ou é errado
nesse romance que se nos acometeu...
Que fiz eu
além de nascer poeta?
que sou
além de um qualquer pobre esmoleiro
sonhador de junto, canto, amor primeiro
se o amor só me serve de carrasco
e, ao invés de mel,
me torna em asco
por padecer na solidão dias e noites...
66
Sentir no céu
da boca tantos açoites
que, penso,nunca fiz por merecer?
Até quando viverei essa vertigem
de me imaginar dividindo o imaginário
com qualquer ser que habita na fuligem
se só te/me encontro enquanto eterno solitário?...
67
BREJEIRICE
Oh,
quem tapeteias de praia o mar
reacendendo em dia
esta qualquer uma noite
empoetando para se doar,
empalavrando em açoites
operário da poesia...
Volve teu ínfimo olhar
em direção à minha pequenice
plantada em meus quarenta anos
de escadas, tropeços e planos
conservando (ainda bem) a brejeirice
e esta verve de teu poeta menino...
Sabes que é a ti que poetizo,
rainha-mulher,
glória dos céus, que se tornou viva
embora nesta humanidade tão perdida
e, mesmo que mais distante eu siga,
em te render poemas farei meu mister
eternamente musa, menina linda...
68
POETORAÇÃO
E foi-se a noite
-é dia!
Em praça quase ao meio –
Puxo o freio
E, de mão,
Te lembro e, então, a canção
Escorreita feito néctar desses longos dedos
A te orar o que nunca há de ser segredo
E mora no que se leva duma linda flor,
Esse sem medida amor e estribeira
(que nem sei mais se, posto que muito além do amor, é só amar)
Desconexo,
Desconecto do canal da poesia
Encerrando mais esta nossa oração
Já que o tempo me grita: - é dia!
E tenho que tornar as mãos
Em fabricar o pão...
69
PEQUENINO GRANDE POEMAZINHO
Como dizer-me
poeta
pra te cantar em versos
se, ao invés de
eu poeta te poetar
nada mais faço que palavrar
os diamantes desta lavra em euforia,
tu quem trazes,
és
e espalhas,
apenas
com teu respirar
a própria
poesia?..
70
CALDEIRÃO DE SENSAÇÕES
Não sei se te interpreto
ou se ainda
o que faço
é que simplesmente me projeto
(eterno tentador)
a porção musa que me aperfeiçoa
- símbolo meramente à-toa –
meio tipo muito, sinto
me querendo ser,
a um só tempo,
atitude e pensamento,
dardo, intenção e alvo!..
Não descobri ainda (e vou)
se a poesia em que me sou
se torna mero instrumento
para destapar o caldeirão de sensações
que me povoam o ser
por tornar minha obra em espelho
e, novo Narciso,
simplesmente me auto-conhecer...
71
VIVER BALELAS
Te saudadeio pelas ruas
assim, meio retas e paralelas,
como um teu poeta louco
nest’hora já meio rouco
cansado de viver balelas
com o verbo e o verso
em feridas nuas...
Te sonho acordado, em prantos,
ausência do teu canto
pra me trazer acalento
eu, que não consigo e tento
dessentir vontade tanta
de ser de novo em seu ninho
e nunca mais tornar a ser sozinho...
72
MEU IRMÃO: EM MINHAS ORAÇÕES, TENHO PEDIDO AO DEUS DO MEU
CORAÇÃO, EM TODAS AS VEZES QUE ME LEMBRO DE VOCÊ (MANHÃ,
TARDE E NOITE):
• ABANDONO, para que possas saborear o prêmio da conquista de amizades;
• AMOR: para clarear sua compreensão e valorizar sua estada neste vale de sorrisos e
lágrimas;
• CALMA, para seres facilmente compreendido pelos seres e sofreres menos;
• CONCENTRAÇÃO, para que tenhas SACO para ler estas baboseiras.
• DESAPEGO, para que não permitas te escravizem e embotem sua visão periférica;
• DEVOÇÃO, para que não caias no abismo vazio da descrença;
• DIFICULDADES, para que te especializes nas soluções cotidianas e adquiras
conhecimento;
• DOR, para medires o valor e a sinceridade dos sorrisos;
• EQUILÍBRIO, para avaliares todas as batalhas da guerra da vida;
• ESPIRITUALIDADE, para exerceres os dons divinos que em ti habitam;
• FELICIDADE, para compreenderes a efemeridade de que se revestem os
relacionamentos humanos mal compreendidos e intencionados;
• GARRA, para combateres os bons combates;
• ILUMINAÇÃO, para tornares brilhante todos os caminhos por onde deixares sua
marca;
• PACIÊNCIA, para ouvires o que outros tem a te ensinar, ainda que já saibas de cor
a lição;
73
• PAZ, para que se voltes para as coisas mais importantes do Reino oculto dentro de
nós, embaciado pelos afazeres diuturnos;
• PUREZA, para traduzires através da natureza a verdadeira riqueza do universo;
• REFLEXÃO, para apreenderes os códigos do relacionamento humano;
• RIQUEZA, para poderes realizar seus sonhos e manter aberto esse seu belo
coração, auxiliando os seres humanos que de ti se aproximarem;
• SABEDORIA, para distinguires entre os homens as forças negativas dos
movimentos dos baixos sentimentos dos gestos puros, eivados de caridade e amor
ao próximo;
• SAÚDE, para enfrentares com disposição todos os dias da vida a que fostes
chamado para aprender com os homens e a eles ensinar;
• SOLIDÃO, para pesares o valor da companhia e da atenção;
• TERNURA, para alimentares de positividade seus ambientes;
• TRISTEZA, para entenderes através da melancolia um dos verdadeiros sentidos da
vida;
ENFIM,
Desejo sincera, definitiva e abrangente,
Que consigas alcançar tudo aquilo que desejas e, principalmente, que deixes de
desejar aquilo que não possa conseguir, assim que o perceber.
74
ESP(A)ELHO
São tantos os caminhos
pra tão poucos meus pés
que fico pasmo,
travado,
abestalhado mesmo
por me tornar tentar em bússolas atrizes
de variados matizes
e seguir me perdendo em rumo,
a esmo,
meio feito um porco
analisando o torresmo!
Revés,
o quanto me ofusco
ao tempo que te/me busco!...
75
MARCAS...
Marcas
que o tempo fere e passa
e deixam nas paredes desbotadas da mente
como apanhar por só buscar,
latente,
o gosto do amor em perfeição...
Marcas
a ferro, inesquecíveis momentos
de tanto querer ter em consciência
lamentos
como errar por tão só tentar,
somente,
acertos dignos de se intelectualizar...
Marcas
que amores loucos extenuantes guerras
sincera entrega e, após, decepção
da gente
como se dar por mais se conhecer,
doente,
de extirpar o mal da solidão...
76
Marcas
que se agrupam, tantas, pela vida
parasitando o plano emoções,
arrebentando a estrutura nossa
sendo feridas nunca esquecidas...
77
DIFERENTE CANÇAO DE NATAL
Vamos todos em bandos, jovens pela vida
Vivendo, solidários em grupos em solidão,
Na esperança de sermos tanto menos solitários
Sonhando mudarmos nossa existência sofrida...
Sou só um cantador, apenas buscando a paz,
Quase um papai-noel, lapidando o amor
Tentando construir um Natal feliz demais!.
Queremos resgatar o carinho e a poesia
Sem informatizarmos nosso coração aflito,
Que acelera ao lembrarmos o nascimento do Cristo
Transformando em natais os segundos, a cada dia!..
78
SEGREDOS DO UNIVERSO
Nada mais posso saber
além do que me cabe
e nada mais sei
do que me sabes.
Vivo assim:
dividido entre o pouco que sei
e o muito que anseio...
Não conheço a forma certa.
Não sei a dose correta de humildade
que se faz necessária á sabedoria.
Faria tudo que de humano
se me forjasse possível
Creria no absurdo,
Cultuaria o impossível,
Se isto me trouxesse a cósmica experiência...
Vivo, enfim,
humilde cultor da ciência de explorar,
quem sabe, em verso
o nosso humano plano,
segredos do universo!
79
EVOLUÇÃO E INTERAÇÂO
À ESCOLA TËCNICA FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO (Atualmente, Centro Federal de
Tecnologia do Espírito Santo – CEFETES).
Em uma das fases de sua evolução
o homem dedicou-se a ampliar
os benefícios inerentes à razão:
produzir em série, multiplicar...
Com o apoio da mulher e opiniões,
ideias úteis, legados do pensamento.
Em decorrência da ausência de padrões,
criou-se a escola para o desenvolvimento...
Então mais simples foi se tornando
e a integração eis que se fez cotidiana
unindo produção e meio educacional:
Em mesma sintonia de trabalho, mesma lida,
construindo nossa nação mais soberana
em sendo, todos nós, a Escola Técnica Federal!
80
VELHO POETA MODERNO
... É como se um turbilhão de vidas
naturalmente ocorressem em nossas vidas
fazendo transfusões de vidas
em nossas vidas
tão sem sentido
sentidas feito vendavais,
tal a sua força
arrepiando sentimentos tão modestos
deste moderno poeta velho...
... É como se a própria vida
esperançasse em ideais tanto mais nobres
do que consumir-se em uma boemia pobre...
Em uma só taça
é como se o amor se erguesse...
e, assim, ensinasse a quem dele aprendesse
a remoçar a cada novo dia!..
81
PARA CONTATAR O AUTOR
Elogios, críticas, conselhos, doações em muito dinheiro, previsões astrológicas, revelações
cósmicas, contatos imediatos de terceiro, quarto e quinto graus (queimaduras, não!) serão
muito bem vindos aos endereços:
Rua São Felipe, 110 – Sagrada Família – CEP: 31.030-290 – Belo Horizonte – MG
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