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C.DoU: 591~11107
íNDICES DE FAGOCITOSE ENCONTRADOS EM CAMUNDONGOS INFECTADOS COMS.mansoni~ UTILIZANDO CARBONO COLOIDAL
Raimundo Carlos Lemos NetolOthon de Carvalho Bastos 2
RESUMO
Objetivado em encontrar esclarecimento sobre a resposta imune cel~lar de camundongos ao Schistosoma mansoni durante a 3ª e 52 semanas de infecção,consideradas épocas de baixa de nível dos anticorpos circulantes, foi realizadotrabalho preliminar com a determinação do índice de Fagocitose emMUs musaulusa l b-i.n u e utilizando o método de absorção do carbono coloidal.
Lotes de camundongos, com 30 dias de vida, foraminfectados com o p~rasita (GI) e a atividade fagocitária foi determinada semanalmente, num total de8 semanas. Camundongos normais foram tomados como controle de experiência (GN) e,os índices de fagocitose determinados nestes animais, variaram de 5.0 a 6.0.
Diferenças significativas foram registradas entre o GI e o GN, a pa,!.tir da 6ª semana de trabalho. Os índices de fagocitose registradosno GI, na 6ª,7ê e 8ê semanas, foram 4.3; 4.1 e 4.4, respectivamente.
1 INTRODUçAO
A participação de anticorpos
na resposta imune ao hospedeiro ao
Schistosoma mansoni vem sendo estu
dada, desde que houve evidências
da freq1'iente h i.pe r-q amaq Lcbu Lí.riq
mia apresentada por indivíduos e.ê.
quistossomôticos (SADUN & WALTON,
1958; HILLYER & FRICK, 1967;
ANTUNES & Co1s., 1971 e KANAMURA
& Co1s., 1978).
A identificação de classes
de imunoglobulinas envolvidas na
resposta ao verme, também, vem
sendo feita, tanto na esquisto.§.
somose humana (HILLYER, 1969; A~
TUNES & Cols., 1971; KANAMURA&
Cols.,1978), como na experimental(HILLYER & FRICK, 1967). Em al
(l) Professor Adjunto I do Departamento de Patologia da UFMACoordenador do Programa de lmunologiaMestre em Biologia pela UNICAMP (SP).
(2) Professor Adjunto IV do Programa de Imunologia do Departamento de Patologia da UFMAPesquisador do CNPq. 11 ADoutor em Ciências. Universidade de Caffipinas,1979.Coordenador de Pesquisa da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação da UFMA.
Cad. Pesqo. são LuIs, 4 (2): 28 - 35, jul./dezol988
guns casos, a cinética da resposta
humoral tem sido levada em consi
deração (SHER & Cols., 1977 e
BASTOS, 1979). No trabalho de BAS
TOS (1979), ficou demonstrado que,
a evolução das imunoglobulinas en
volvidas na resposta imune ao p~
rasi ta, estudada em camundongos
durante oito semanas de infecção,
apresenta um perfil composto de
picos (resposta primária e secun
dária), separados por uma fase de
latência, registrada entre a 3ª e
5ª semanas de trabalho. MOTA-SAN
TOS & Cols. (1976), demonstraram
fenômeno semelhante, quando est~
daram a evolução da imune-respo~
ta a nível de anticorpos aq Lut.í.
nantes, dirigidos para hemácias
de carneiro, induzidas em camun
dongos esquistossomóticos.
o presente trabalho esp~
cula a atividade fagocitária de
células esplênicas e hepáticas de
camundongos, durante a evolução
da infecção esquistossomótica, com
intuito de iniciar trabalhos com
vistas a encontrar esclarecimen
tos sobre o que ocorre com a re~
posta imune celular destes animais.
na epoca em que foi determinada
latência da resposta humoral.
2 MATERIALE MtTODOS
a) O Hospedeiro Vertebrado e a Procedê!!cia do Verme
Foram utilizados 64 camun
dongos com peso aproximado de 16g,
oriundos do Biotério da Universi
dade Federal do Maranhão. Estes
roedores formaram dois grupos n~
mericamente iguais. Cada grupo
passou a constituir 8 lotes de ca
mundongos. Somente um grupo foi
infectado com S. mansoni (GI). O
outro foi tomado como controle da
experiência (GC).
b) Infecção ie Camundongos
Planorbídeos do genero
Biompha laria qlab r at:a , infectados
com S. mansoni procedente da Re
gião da Baixada Maranhense, foram
expostos à luz e à temperatura de
28QC, por 2 horas, com a finalida
de de obter cercárias (PELLEGRINO
& MACEDO,1955). A presença de~
tas larvas era observada através
de lupa estereoscópica.
Com as cercárias obtidas,
foram infectados MU8 musculusalbinus, de 30 dias de nascidos,
empregando-se a técnica de imersão
exclusiva da cauda do roedor em
suspensão cercariana (OLIVER &
STlREWALT, 1952; STIREWALT &BRONSON,1955; BARRIOS-DURAN,
1955. A quantidade de cercárias
por camundongo t~Ji em numero de
100. Seguiu-se a determinação do
numero de cercárias viáveis por
infecção (MAGALHÃES,1969).
c) Estudo do índice de Fagocitose
O índice de fagocitose foi
Cad. Pesq. são Luis, 4 (2)= 28 - 35, jul./dez. 1988 29
determinado semanalmente, durante
um período de 8 semanas, em 8 ca
mundongos: 4 pertencentes ao gr~
po infectado (I) e 4 ao grupo con
trole (C) . Estes animais eram ino
culados por via endovenosa com
uma suspensão de carbono coloidal
de partículas de 250 Aº (BIOZZI
& Cols., 1953).
o coloide empregado foi pr~
parado de modo a obtermos uma pr~
paração estável no sistema san
guíneo, sem causar trombose nos
pulmões dos pequenos roedores
(BIOZZI & Cols., 1953).
d) Determinação do índice de Fagocitose
Camundongos albinos perte~
centes aos Grupos I e C foram,
inoculados com uma dose de carbono
contendo 16mg/100g de seu peso em
carbono por milímetro, de acordo
com a técnica estabelecida por
BIOZZI&Cols., (1952). A seguir,
foram coletadas amostras de san
gue de O.025ml do plexo retro
orbital, com intervalos de 3, 6,
9, 12 e 15 minutos, após a ap1i:.
caçao do colóide.
A quantidade relativa do
carbono foi estimada por e spe c t ro
fotometr ia a 64Omn, sendo os re
sul tados convertidos para a es
cala logarí t.mí.c a e expressos em
gráficos contra o tempo. O "slop"
da reta correspondeu ao índice de
fagocitose.
Apô s 15 minutos, a partir
da aplicação do coLó í de , os roe
dores foram sacrificados e os fí
gados e os braços removidos e p~
sados, indi vidua1mente, para es
tabelecer correção do índice de
fagocitose, ou seja, estabelecer
a atividade fagocitária.
3 RESULTADOS
3.1 - Infecção de Camundongos comS. mansoni
Os animais que foram subme
tidos ao estudo da absorção do
carbono coloidal, apresentaram
quadro de infecção que evoluiu
dentro dos parãmetros normais, c~
mumente encontrados em camundon
gos esquistossomóticos. O número
de cercárias viáveis para a infe~
câo , variou de 80 a 93 larvas por
camundongo (MAGALHÃES& CARVALHO,
1968; BASTOS & Cols., 1978); ve~
mes adultos começaram a aparecer
na época em que ainda se registr~
vam o encontro de esquistossômulos
(BRENER, 1956) e, a presença de
granulomas hepáticos, foi obser
vada a partir da 6ª senama de in
fecção (BRENER, 1956: 1959 e
WARREN,1967).
3.2 - Atividade Fagocitária
Os valores da atividade fa
30 Cad. Pesq. S~o Luis, 4 (2): 28 - 35, jul~/dez. 1988
goci tária determinada em camundongos infectados, estão expostosna TABELA1, onde podem ser obse!.vadas, também, as médias dos v~lores encontrados. Estes dadosforam estudados estatisticamentee calculados seus desvios padrões;desvio das médias e intervalo de
TABELA1
confiança. Osdesvips estão expo~tos na Figura 1.
Nogrupo de animais normais,tomamoscomocontrole da exper í.ên
cia, a atividade fagocitária, d~terminada durante todo o períodode trabalho, variou entre os valares 5.5 e 6.5 (Figura 1).
Atividades fagocitárias, para o carbono colc~dal, determinadas emcamundongosinfectados com S. mansoni da Região da Baixada Maranhense.
SEMANAS1 2 3 .4 5 6 7 8
5.9 6.0 6.3 6.1 6.0 4.0 4.3 4.16.1 6.0 6.2 6.6 6.5 4.4 4.4 4.36.4 5.5 6.0 6.0 6.0 4.3 4.0 5.06.5 5.5 6.5 6.0 6.0 4.6 4.0 4.5
X 6.2 5.75 6.2 6.4 6.1 4.3 4.1 4.4X 0.035 0.036 0.038 0.036 0.039 0.031 0.031 0.031
X = atividade fagocitária médiaX índice de fagocitose médio
4 DrscussAo E CONCLUSAO
Os princípios da técnicapreconizada por BIOZZI & Co1s.,(1953) ensinam que, as variaçõesocorridas em atividades fagocitárias, são devidas às variaçõesde peso dos dois principais órgãosefetores da fagoci tose do carbono:fígado e baço, quando utilizado16mgda partícu1q, inerte por 100gde peso corporal do animal receptor.
ceptor.
Em nosso trabalho, as atividades fagoci tárias,determinadasno grupo de animais infectadoscom S. maneorri, diferiram das enco!!tradas em animais normais, a pa!.tir da sexta semana de infecção(Fig.1). Nesta mesma época, foiconstatado o início da formaçãogranu10matosa hepática, decorre!!te da oviposição realizada pelo
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parasita. Estes fatos nos levam a
pensar que ocorreu maior retenção
das partículas coloidais, pelas
células do sistema mononuclear fa
gocitário, devido à um determina
do estímulo que tenha surgido du
rante a evolução da infecção e
que tenha ampliado a capacidade
de fagocitose destas células.
Entretanto, os índices de
fagocitose médios registrados da
6ª a 8ª semana, foram inferiores
aos encontrados da 1ª a 5ª semana,
indicando uma menor inclinação da
curva de absorção coloidal, con
seq{lentemente, menor absorção das
partículas (saturação crescente
das células fagocitárias), no p~
ríodo final da experiência.
o antagonismo dos dados: at!.
vidade fagocitária e o índice K,
da curva de absorção do carbono
coloidal , possivelmente, sao de
vidos ao modo de constituição do
Grupo Controle utilizado na exp~
riência. Foram constituidos de
animais normais, emvez de animais
infectados não inoculados com car
borio . Como a diferença do peso
entre um órgão sadio e um paras!
tado é significante, decorrente
das reações granulomatosas peri~
vulares, então, a di ferença que
foi determinada entre os pesos
dos órgãos dos animais pertenceQ
tes aos Grupos Infectados e Con
trole, não se deveu somente à ab
32
sorçao do carbono pelas célulasI
orgânicas. Mesmo assim, OR resul
tados expostos, indicam uma irre
guiar idade na capacidade de fago
citose das células do sistema mo
nonuclear fagocitário de camundon
gos esquistossomóticos que deve
ser investigada, de preferência
com antígenos oriundos do próprio
verme, em vez de partículas
inertes.
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ENDEREÇO DO AUTOR
RAIMUNDO CARLOS LEMOS NETO
Programade Pesquisa e PÓs-GrérluaçãoemIrmmologia- Departamento de PatologiaUniversidade Federal do Maranhão
CampusUniversitário do Bacangalei.: (098) 222-152965.000 - São Luís~.
34 Cad. Pesq. são LuLs , 4 (2): 28 - 35, jul./dez. 1988
8
I DESVIO PADRÃO
• i , • •, . .. .. ........•. .. .. .. ... GRUPO CONTR ot.t
7
..... .
6
.......
w 5o~osI-~ 4
3
2 3 864 75
SEMANAS DE INFE c c ão
Fig. 1 - Perfil da Atividade Fagocitária encontrada em camundongosinfec-
tados can Schistosana rransoní , detenninada durante oito senanas '
de observação.
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