Índice de vulnerabilidade das famílias: resultados...

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RSP 147 Revista do Serviço Público Brasília 64 (2): 147-176 abr/jun 2013 Índice de vulnerabilidade das famílias: resultados espacializados para a década de 2000 no Brasil e regiões Bernardo Alves Furtado Introdução e literatura A percepção corrente é a de que o Brasil se modificou substancialmente e estruturalmente ao longo dos anos 2000 em vários aspectos 1 . De fato, os dados do Censo 2010 comprovam essa percepção de mudança e confirmam a melhoria média da qualidade de vida dos cidadãos em dimensões variadas. Entretanto, essa redução da vulnerabilidade das famílias ocorre de forma heterogênea e desigual entre as dimensões de análise e, especialmente, entre as regiões do País, seus Estados, seus Municípios e, até, entre porções do território municipal. Essa riqueza de descrição das alterações sociais no período só é possível porque os dados fornecidos decenalmente pelos censos permitem a identifi- cação espacial em grande escala, com resultados construídos a partir do âmbito familiar. Assim, o censo permite que se estimem indicadores temáticos, espacial- mente detalhados, baseados nas respostas aos microdados da amostra.

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147Revista do Serviço Público Brasília 64 (2): 147-176 abr/jun 2013

Bernardo Alves Furtado

Índice de vulnerabilidadedas famílias: resultados

espacializados para a décadade 2000 no Brasil e regiões

Bernardo Alves Furtado

Introdução e literatura

A percepção corrente é a de que o Brasil se modificou substancialmente e

estruturalmente ao longo dos anos 2000 em vários aspectos1. De fato, os dados

do Censo 2010 comprovam essa percepção de mudança e confirmam a melhoria

média da qualidade de vida dos cidadãos em dimensões variadas.

Entretanto, essa redução da vulnerabilidade das famílias ocorre de forma

heterogênea e desigual entre as dimensões de análise e, especialmente, entre as

regiões do País, seus Estados, seus Municípios e, até, entre porções do território

municipal.

Essa riqueza de descrição das alterações sociais no período só é possível

porque os dados fornecidos decenalmente pelos censos permitem a identifi-

cação espacial em grande escala, com resultados construídos a partir do âmbito

familiar. Assim, o censo permite que se estimem indicadores temáticos, espacial-

mente detalhados, baseados nas respostas aos microdados da amostra.

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Índice de vulnerabilidade das famílias: resultados espacializados para a década de 2000 no Brasil e regiões

O presente texto – baseado na literatu-ra teórica e metodológica recente (BARROS,FOGUEL E ULYSSEA, 2007; SOARES, 2008,2009) e com intuito precípuo de atualizaçãodos dados com as novas informaçõesdisponíveis – objetiva contribuir com aleitura imediata, por parte de gestorespúblicos, pesquisadores e o público em geral,das informações subjacentes às respostas acentenas de perguntas feitas a milhares defamílias nos anos de 2000 e 20102. Concen-tra-se, portanto, este texto, na descrição daconstrução dos indicadores e na análise dosresultados das referidas pesquisas do Censo.

Índices que buscam descrever a quali-dade de vida das famílias ou, de formaoposta, a vulnerabilidade familiar, sãocomumente multidimensionais, de formaque não apenas a renda é vista comodeterminante das condições de vida, mastambém o são a habitação e o acesso àurbanidade, ao trabalho, ao conhecimento,enfim, às oportunidades. Esse tipo deopção de mensuração pode se enquadrarno que Soares define, sob a ótica dapobreza, como a “falta de oportunidadespara viver uma vida plena” (SOARES, 2009,p.13). De todo modo, índices de qualidadede vida multidimensionais se restringem àdisponibilidade de dados presentes naspesquisas domiciliares de larga cobertura.

De fato, pesquisadores costumam con-cordar que a vulnerabilidade das famíliasé fenômeno que circunscreve a família deforma ampla e pode restringir seu acesso aoportunidades de maneiras diversas, sejapela qualidade inadequada da habitação emsi ou pela sua precária localização, seja pelafalta de acesso à educação e ao conheci-mento, seja pelos efeitos dessa falta deconhecimento na prevenção e profilaxia dasaúde, por exemplo.

Parece haver divergência, contudo,entre as formas utilizadas de se agregar as

“dimensões da pobreza para a obtenção deuma medida escalar” (BARROS; CARVALHO;FRANCO, 2006). Alguns autores defendemque, no âmbito do combate à pobreza, pormeio de políticas públicas, fazem-se neces-sários critérios objetivos, mensuráveis, nãopassíveis de dúvidas e que, nesse caso, arenda líquida é o critério mais adequado paraseleção das famílias eleitas como alvo dapolítica em questão (OSORIO; SOARES; SOUZA,2011)3.

Se a ênfase do estudo, contudo, for ade sintetizar informações, permitir oordenamento e a comparação entre regiõesdistintas e aspectos de necessidades dife-rentes, então índices escalares, multidimen-sionais, podem também ser de utilidadepública.

De fato, no âmbito das Nações Unidas,tendo em vista a comparabilidade entrepaíses, a construção de índices de vulne-rabilidade em geral se remete ao Relatóriode Desenvolvimento Humano de 1996 eanos seguintes. No Brasil, também háalguma produção de indicadores, inclusivena escala intraurbana e intrametropolitana(NAHAS, 2002; ROCHA; VILLELA, 1990) e, noâmbito municipal, com intensa utilizaçãode dados (QUEIROZ; GOLGHER, 2008).

O procedimento mínimo de cons-trução de índices envolve a escolha devariáveis que retratem fenômenos de inte-resse e sua operacionalização, ou seja, aforma como se atribuirão valores asituações observadas e como essas infor-mações serão tomadas no seu conjunto.Essa operação, de construção de partes doíndice e de escolhas de composição aditivado índice, é central, porque é dessa cons-trução que derivam as possíveis obser-vações que, em última análise, retratam ofenômeno que originariamente se buscavadescrever. Decorre desse processo, portan-to, que a construção do índice não é única;

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não é inequívoca e, assim, permite apenasinterpretações de indícios fenomenoló-gicos, condicionais ao desenho específicodo índice construído.

Ainda assim, a despeito das diferençasnos procedimentos de construção deíndices, pode se depreender que, observadoo desenho de construção do índice, infor-mações específicas para determinada facetade ação pública são explicitadas para oagente público.

Finalmente, vale esclarecer que, nocontexto utilizado neste texto, vulnerabi-lidade é o conceito associado àincapacidade da família de responderadequadamente, em tempo hábil, a eventosinesperados de ordem social ou ambiental4(SÁNCHEZ; BERTOLOZZI, 2007). Esta é adefinição utilizada oficialmente no Brasilpara a caracterização da Defesa Civil e desuas ações. “A intensidade de um desastredepende da interação entre a magnitude doevento adverso e a vulnerabilidade dosistema”(CASTRO, A. L. C., 1999, p. 2). Avulnerabilidade do sistema está intrinseca-mente ligada a questões específicas do local– sua geologia, sua infraestrutura, sua incli-nação, por exemplo –, mas também da or-ganização socioeconômica dos residentes –as instituições, os laços sociais e familiares,o grau de preparo e antecipação de situaçõespossíveis.

Essa vulnerabilidade se refere a ques-tões físicas, tais como inundações, porexemplo, mas também a questões sociais eeconômicas, tais como a perda de empregoe renda pelos adultos da família, doençado responsável ou inadequações tempo-rárias da residência.

A título de exemplo, note que a capaci-dade econômica permite que, em caso denecessidades, a família tenha recursos paratomar as providências de bem estar ime-diatas à situação de risco que se coloca.

Recursos monetários facilitam ainda atomada de decisão em relação a açõespreventivas e recuperativas.

Dado o contexto e objetivos do texto,a ênfase que aqui se dá é na descriçãometodológica, suas alterações e caracteri-zação empírica das famílias a partir dosdados. Assim, dialoga-se com Barros,Carvalho e Franco (2006), além de outrasreferências para a discussão da literaturamais aprofundada.

Sinteticamente, além desta introdução,o texto descreve a metodologia e os proce-dimentos para a construção do índice devulnerabilidade baseado nas dimensões de(i) vulnerabilidade social; (ii) acesso aoconhecimento; (iii) acesso ao trabalho; (iv)escassez de recursos; (v) desenvolvimentoinfanto-juvenil e (vi) condições habita-cionais. Essas dimensões – modificadas e

“O índice devulnerabilidade dasfamílias (...) indicaque houve, noperíodo, reduçãomédia davulnerabilidade dasfamílias poucosuperior a 19%.”

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Índice de vulnerabilidade das famílias: resultados espacializados para a década de 2000 no Brasil e regiões

adaptadas do trabalho original – contem-plam um conjunto de 48 indicadores dife-rentes. Cada um deles, ou sua síntese, oíndice final, podem ser expressos para osrecortes geográficos de áreas de ponde-ração, internas aos municípios, até à sínteseglobal nacional.

Metodologia e procedimentos

Os indicadores e a metodologiaapresentados nesta seção buscam repetir aanálise feita para a Pesquisa Nacional porAmostra de Domicílios (PNAD) em anosanteriores (BARROS; FOGUEL; ULYSSEA,2007) naqueles quesitos cujas respostaseram suficientes para a construção do indi-cador. Em alguns casos, foram necessáriosajustes ou troca de indicadores, conformese descreve a seguir.

De acordo com a metodologia descritapor Barros, Carvalho e Franco (2006),procedemos ao cálculo de um “índicelinear”, calculado individualmente, paracada família (domicílio), de acordo com osmicrodados disponíveis. Como mencio-nado na introdução, são seis as dimensõesanalisadas, com o total de 48 indicadores.

Nos textos-base anteriores (BARROS,CARVALHO E FRANCO, 2006), apenas estãodisponíveis critérios gerais acerca dasdecisões de construção dos indicadores.Nesse trabalho, detalhamos, nas tabelasque seguem (Tabelas 1 a 6), especifica-mente os critérios utilizados na interpre-tação do indicador, bem como as variáveisdo Censo utilizadas para o cálculo paraos anos de 2010 e 2000.

A construção do índice, como descritooriginariamente por Barros, Foguel eUlyssea (2007), se baseia em série de indica-dores limiares de mensuração de vulnera-bilidades para as quais se calcula a ocor-rência ou ausência de aspecto específico.

Famílias abaixo do limiar para cada indi-cador recebem valores de 1. Caso contrá-rio, o valor é zero. As dimensões e o índicefinal são calculados de acordo com a agre-gação descrita mais abaixo. Esta seçãometodológica contém a descrição de cadaum dos indicadores de cada dimensão e aforma como a agregação foi feita.

A vulnerabilidade social é a dimensãoque busca quantificar a vulnerabilidade dafamília no seu aspecto mais geral (Tabela1). A Tabela 1 apresenta os critérios devulnerabilidade da família. A preocupaçãoprincipal é retratar a capacidade da famíliade prover sua sustentabilidade, tanto finan-ceira quanto de forma mais ampla, já queconsidera como parâmetros centrais apresença de bebês, crianças e idosos, côn-juges e sua proporção em relação aonúmero de dependentes no âmbito dafamília. Além disso, fatores como aausência de cônjuge ou presença de criançaque não viva com a mãe também impactamnegativamente essa dimensão. Mais do queobjeto de política pública, os resultadosdessa dimensão retratam a evolução ecomposição dos membros familiares e suacapacidade de reprodução. Ainda assim,para o gestor público, o conhecimento dapresença de famílias mais vulneráveis érelevante para a tomada de decisão da açãopública.

A dimensão acesso ao conhecimento(Tabela 2) quantifica, de um lado, apresença de adultos analfabetos ou baixaescolaridade e, de outro lado, a ausênciade adultos com maior escolaridade ouexercendo funções profissionais de maiorqualificação.

A dimensão acesso ao trabalho (Tabela3) busca identificar simultaneamente oacesso ao trabalho proporcionalmente noâmbito familiar, bem como avaliar a quali-dade (e formalidade) da ocupação, por meio

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Bernardo Alves Furtado

do tipo de ocupação e dos rendimentosauferidos individualmente.

A escassez de recursos (Tabela 4) écaracterizada especificamente para aque-las famílias cuja renda domiciliar percapita é ou inferior à linha de pobreza ouextrema pobreza (R$ 127,50) ou se épossível verificar dependência familiarem relação a programas de transferênciade renda.

Indicadores da componente

Vulnerabilidade social

V1. Alguma mulher teve filhonascido vivo no último ano

V2. Alguma mulher teve filhonascido vivo nos últimos doisanosV3. Presença de criança

V4. Presença de criança ouadolescenteV5. Presença de criança,adolescente ou jovemV6. Presença de idoso

V7. Ausência de cônjugeV8. Menos da metade dosmembros encontram-se emidade ativa

V9. Presença de pessoas comdificuldade grande ou impossi-bilidade de caminhar, enxergar,ouvir ou com deficiênciamental permanenteV10. Presença de criança nodomicílio que não viva com amãe.

Critérios

Existência de filho nascidovivo no período de referênciade 12 meses anterioresIdade do último filho tidonascido vivo

Considerada criança com 12anos ou menos idadeConsiderado adolescentecom 17 anos ou menosConsiderado jovens comomenores ou igual a 21 anosConsiderado idosos comomaiores de 64 anosNo domicílio, excluídos solteirosConsiderado pessoas idadeativa com 10 anos ou acimadividido pelo total no domi-cílio (excluídos empregadosdomésticos e familiares) émenor que meio

Ausência de cônjuge e adultomasculinho no domicílio

v4654

v4654

v4752

v4752

v4752

v4752

V0436v4752 v0402

v7100

v0410 v0411v0412 v0413

v0414

v0402 v0401

v6664

v6660

v6036

v6036

v6036

v6036

v0502v6036 v0502

v0614 v0615v0616 v0617

v0502 v0601

Censo 2000 Censo 2010

Variáveis

Fonte: Elaboração própria.

Tabela 1: Indicadores da componente vulnerabilidade social

Os indicadores da dimensão desenvol-vimento infanto-juvenil mensuramcrianças e adolescentes que trabalham emconsonância com aqueles que estão forada escola ou fora do padrão de regulari-dade desejável (Tabela 5). Além disso,inclui na ponderação elementos de pre-sença de óbito na família como fator rele-vante na estruturação do ambiente deconvivência familiar.

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Índice de vulnerabilidade das famílias: resultados espacializados para a década de 2000 no Brasil e regiões

Indicadores da componente

Acesso ao conhecimento

C1. Presença de adulto anal-fabetoC2. Presença de adulto analfa-beto funcional

C3. Ausência de adulto comfundamental completoC4. Ausência de adulto com se-cundário completoC5. Ausência de adulto comalguma educação superiorC6. Ausência de trabalhadorcom qualificação média ou alta

Critérios

Maior de 17 anos e ‘não sabeler e escrever’Maior de 17 anos e menos 7anos de estudo (fundamentalincompleto)Maior de 17 anos e fundamen-tal completoConsiderado ensino médiocompletoConsiderado acima de 11 anosde estudoClassificações de ocupaçõesequivalentes a 1, 2 e 3. Dirigen-tes em geral, profissionais dasciências e das artes e técnicosde nível médio (excluídos ofi-ciais forças armadas)

v0428 v4752

v4300 v4752

v4752 v4300

v4752 v4300

v4752 v4300

v4452

v0627 v6036

v6400 v6036

v6036 v6400

v6036 v6400

v6036 v6400

v6461

Censo 2000 Censo 2010

Variáveis

Fonte: Elaboração própria.

Tabela 2: Indicadores da componente acesso conhecimento

Critérios

Setor formal: Empregado comcarteira de trabalho assinada,militar, funcionário públicoestatutário, trabalhador domés-tico com carteira de trabalhoassinada, exclui empregador eempregado por conta própria

Salário Mínimo R$ 510 (defla-cionado IPCA 2010 para 2000,valor equivalente a R$ 268,95Salário Mínimo R$ 1.020(deflacionado IPCA 2010 para2000, valor equivalente aR$ 537,89)

Indicadores da componente

Acesso ao trabalho

T1. Menos da metade dos mem-bros em idade ativa encontram-se ocupados

T3. Ausência de ocupado nosetor formal

T4. Ausência de ocupado ematividade não-agrícola

T5. Ausência de ocupado comrendimento superior a 1 saláriomínimo

T6. Ausência de ocupado comrendimento superior a 2 saláriosmínimos

v4452

v0447 v0448

v4462

v4525

v4522

v6910

v6930

v6471

v6526

v6526

Censo 2000 Censo 2010

Variáveis

Fonte: Elaboração própria.

Tabela 3: Indicadores da componente acesso ao trabalho

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Bernardo Alves Furtado

Tabela 4: Indicadores da componente escassez de recursos

Fonte: Elaboração própria.

Critérios

Considerada como sendo 1/4 dosalário mínimo, i.e., R$ 127,50(para 2000 R$ 67,24)Considerada como sendo 1/2 dosalário mínimo, i.e., R$ 255 (para2000 R$ 134,48)

Renda total menos renda traba-lho maior que renda trabalho

Indicadores da componente

Escassez de recursos

R1. Renda familiar per capitainferior à linha de extremapobrezaR2. Renda familiar per capitainferior à linha de pobreza

R3. Maior parte da renda fami-liar advém de transferências

v4525 v4614

v4525 v4614

v4525 v4614

v6525 v6527

v6525 v6527

v6525 v6527

Censo 2000 Censo 2010

Variáveis

Indicadores da componente

Desenvolvimento infanto-juvenil

D1. Presença de ao menos umacriança com menos de 14 anostrabalhandoD2. Presença de ao menos umacriança com menos de 16 anostrabalhandoD3. Presença de ao menos umacriança de 0-6 anos fora da escolaD4. Presença de ao menos umacriança de 7-14 anos fora da escolaD5. Presença de ao menos uma crian-ça de 7-17 anos fora da escolaD6. Presença de ao menos umacriança de até 14 anos com mais de2 anos de atrasoD7. Presença de ao menos um ado-lescente de 10 a 14 anos analfabetoD8. Presença de ao menos um jovemde 15 a 17 anos analfabetoD9. Presença de ao menos uma mãeque tenha algum filho que já tenhamorridoD10. Presença de mais de uma mãeque tenha algum filho que já tenhamorridoD11. Presença de mãe que já tevealgum filho nascido morto

Fonte: Elaboração própria.

Critérios

Considerado filhos e filhas (filhosnascidos vivos maior filhos aindavivos)

v4752 v0439

v4752 v0439

v4752 v0429

v4752 v0429

v4752 v0429

v4752 v0431

v4752 v0528

v4752 v0528

v4620 v0463

v4620 v0463

v4670

v6036 v6900

v6036 v6900

v6036 v0628

v6036 v0628

v6036 v0628

v6036 v0629

v6036 v0627

v6036 v0627

v6036 v0663

v6036 v0663

v0669

Censo 2000 Censo 2010

Variáveis

Tabela 5: Indicadores da componente desenvolvimento infanto-juvenil

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Índice de vulnerabilidade das famílias: resultados espacializados para a década de 2000 no Brasil e regiões

Os indicadores que compõem adimensão de condições habitacionais(Tabela 6) buscam refletir de forma maisabrangente a moradia como instrumentode inserção social e elemento de suportecontra a vulnerabilidade. Nesse sentido, acondição de domicílio próprio, por exem-plo, reforça o fato de que, em evento dedesocupação laboral dos adultos do domi-cílio, não há necessidade imediata de arcarcom custos de aluguel da habitação. Outroscomponentes referem-se à qualidade intrín-seca da habitação e à disponibilidade deinstrumentos mínimos de acesso a serviços.Finalmente, buscou-se incluir na vulnera-

bilidade da habitação elementos de locali-zação espacial que são quantificados pelanecessidade de membros do domicílio dese locomoverem a outro município paraefeitos de acesso à educação ou ao trabalho.

Agregação de indicadoresOs indicadores de cada dimensão

precisam ser agregados para, na sequência,comporem o índice nacional. A agregaçãoescolhida segue a orientação teórica deconstrução dos indicadores. Ou seja,agrega-se de acordo com a escolha temáticacomum de grupo de indicadores e rele-vância para a vulnerabilidade, de acordo

Indicadores da componente

Condições habitacionais

H1. Domicílio não é próprioH2. Domicílio não é nem próprionem cedidoH3. Densidade de 2 ou mais mo-radores por dormitórioH5. Acesso inadequado à água

H6. Esgotamento sanitário inade-quado

H7. Lixo não é coletadoH8. Sem acesso à eletricidadeH9. Não tem geladeiraH10. Não tem ao menos um dositens: geladeira, televisão ou rádioH11. Não tem ao menos um dositens: geladeira, televisão, rádio outelefoneH12. Não tem ao menos um dositens: geladeira, televisão, rádio,telefone ou computadorH13. Mobilidade. Trabalha ouestuda em município diferente daresidênciaH14. Domicílio improvisado

Fonte: Elaboração própria.

Critérios

Pago ou “pagando”É alugado ou outra condição

Maior ou igual

Considerado não tem água canali-zada em pelo menos um cômodoConsiderado fossa rudimentar, vala,direto rio ou lago, outra forma

Nem direta, nem indiretamenteConsiderada somente elétrica

Considerada telefone fixo

v0205v0205

v7203

v0208

v0211

v0212v0213v0215v0215 v0214v0221v0215 v0214v0221 v0219

v0215 v0214v0221 v0219v0220v4276

v0201

v0201v0201

v6203

v0208

v0207

v0210v0211v0216v0213 v0214v0216v0212 v0214v0216 v0218

v0213 v0214v0216 v0218v0219v0660 v0636

v4001

Censo 2000 Censo 2010

Variáveis

Tabela 6: Indicadores da componente de condições habitacionais

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Bernardo Alves Furtado

com a estrutura proposta originalmente porBarros, Foguel e Ulyssea (2007). Pode-sequestionar se a escolha da agregação deindicadores e a junção de cada dimensãocom contribuições iguais à composição to-tal do índice seriam adequadas. Nesse caso,a título de teste e validação, realizamos al-guns exercícios de análise fatorial, cujametodologia delega ao conjunto de dadose suas relações internas as possibilidadesde agregação em fatores (ou componentes).Feitos os cálculos, a composição dasdimensões se deu de forma similar à adiçãopor quantidades iguais. Observar-se-iamalgumas inversões de algumas unidades daFederação (UF) no seu ranqueamento,porém, com alterações pouco significativasno nível absoluto do índice final. No casodos indicadores individuais, observe-se quea agregação interna a cada dimensão é feitaobservando-se a consistência teórica decada tema. Assim, optou-se pela agregaçãoteoricamente informada.

De todo modo, a intenção de agregarinformações em dimensões e no índicesíntese cumpre apenas o papel de facilitaro entendimento dos dados. Cada indicador,de forma individual, também pode serobjeto de análise, como demonstram asanálises das Tabelas 9 e 10.

Especificamente, em relação à agre-gação para o caso da vulnerabilidade social,por exemplo (Tabela 7), tira-se a média dosindicadores v1 e v2, soma-se a média dosindicadores v3, v4 e v5, soma-se v6, amédia de v7 e v8, soma-se ainda v9 e v10e tira-se a média geral, dividindo-se por 6.As outras dimensões são agregadas deacordo com o exposto na Tabela 7.

O índice geral é formado a partir damédia simples das seis dimensões.

Recortes geográficos possíveisO censo demográfico realizado

decenalmente pelo IBGE é a ferramenta quepermite o melhor desenho espacial amostralno âmbito das pesquisas domiciliares brasi-leiras. Diferentemente da anualmenterealizada, a PNAD, cuja amostra permiteanálise de regiões metropolitanas e unidadesda Federação, os microdados da amostra doCenso permitem análise por áreas deponderação, que é a “unidade geográfica,formada por um agrupamento de setorescensitários, para a aplicação dos procedi-mentos de calibração das estimativas comas informações conhecidas para a populaçãocomo um todo” (IBGE, 2010, p. 45). Ao todo,há informações diferenciadas por 10.184diferentes áreas de ponderação, com mais

Tabela 7: Forma de agregação de indicadores em dimensões

Fonte: Elaboração própria.

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Índice de vulnerabilidade das famílias: resultados espacializados para a década de 2000 no Brasil e regiões

de mil Municípios com mais de uma áreade ponderação.

Resultados

O índice de vulnerabilidade dasfamílias – construído de acordo com as pre-missas observadas acima e a partir dosmicrodados da amostra dos censosdemográficos de 2000 e 2010 realizadospelo IBGE – indica que houve, no período,redução média da vulnerabilidade dasfamílias pouco superior a 19% (Tabela 8).

A redução foi influenciada diferente-mente pelas várias dimensões. Central paraa redução foi o aumento do acesso dapopulação ao trabalho e aos recursosfinanceiros, reduzindo em cerca de 29% e36% respectivamente tais indicadores.O desenvolvimento infanto-juvenilapresentou redução no índice da ordem de16,5%. Finalmente, as dimensões com piordesempenho foram as condições habita-cionais (14%), o acesso ao conhecimento– ainda com patamares altos em valoresabsolutos5 – e a vulnerabilidade social. Aanálise das alterações por indicadores decada uma dessas dimensões permite

antever indícios das razões destas altera-ções diferenciadas.

De fato, a análise da Tabela 9 indicaque somente a dimensão de acesso aoconhecimento obteve redução em todos osindicadores componentes. Ainda assim, osindicadores c5 e c6 (ausência de adulto comalguma educação superior e ausência detrabalhador com qualificação média ou alta)reduziram-se em ritmo lento, apenas 2,5%e 3,1% de melhora na década.

Em relação à dimensão de vulnerabi-lidade social, note que há aumento davulnerabilidade devido a maior presençade idosos, bem como maior número dedomicílios com ausência de cônjuge (v6 ev7). Além disso, há aumento do númerode residências nas quais há indivíduos comalgum tipo de deficiência, provavelmentepor melhorias na notificação dos casos dedeficiência. Finalmente, há quase estabi-lidade (aumento de 0,001) no indicadorreferente a crianças que moram em domi-cílios sem a presença da mãe.

Os indicadores de acesso ao trabalhoconfirmam a evolução da inserção nomercado de ocupação formal na década.De forma significativa, note a redução em

Tabela 8: Resultados da média índice geral e suas dimensões Brasil

Fonte: Elaboração própria. Informações extraídas dos microdados da amostra dos censos demográficosIBGE 2000 e 2010.

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nível do indicador t1 – maioria dos adultosdesocupados – que passa de 0,392 a 0,032,com consequente redução de mais de 90%no indicador. Além da quantidade de deso-cupados por domicílio se reduzir, tambémmelhoraram aspectos relacionados à for-malidade da ocupação (t3) e da remune-ração percebida (t5 e t6). Ainda assim, maisdomicílios apresentaram no períodoocupações exclusivamente agrícolas (t4).

A dimensão de acesso a recursoscontribui de forma importante para aredução geral da vulnerabilidade dasfamílias. Todavia, a decomposição dadimensão em seus componentes revela que,embora os indicadores referentes aonúmero de domicílios com renda per capitaabaixo da linha de pobreza e extrema

pobreza se reduza em cerca de 40%, oindicador referente à dependência dessasfamílias de transferências governamentaisaumenta em quase 800%. Aliás, já foidemonstrado em outros textos (SOARES,2008) que a transferência direta (r3) éfundamental para retirar as pessoas dapobreza (r1 e r2). De todo modo, a dimen-são não falha em capturar ambos os fenô-menos de aumento da dependência eredução de famílias abaixo das linhas.

A dimensão de desenvolvimentoinfanto-juvenil apresenta componentesdíspares (Tabela 10). Se, de um lado, háaumento da vulnerabilidade dado o maiornúmero de crianças e adolescentes quetrabalham em média, de outro lado, apresença de mães com filhos que tenham

Tabela 9: Resultados para indicadores das dimensões vulnerabilidade social,acesso ao conhecimento e ao trabalho e escassez de recursos

Fonte: Elaboração própria. Informações extraídas de microdados da amostra dos censos demográficosIBGE 2000 e 2010.

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morrido diminui fortemente. De maneirageral, também há melhora na presença decrianças e adolescentes nas escolas.

As condições habitacionais tambémevoluíram de forma heterogênea na décadaanalisada. Os indicadores que refletem anão propriedade do imóvel (d1 e d2) – e,

portanto, maior vulnerabilidade, por exem-plo, na ocorrência de desocupação dosadultos do domicílio e incapacidade dearcar com o custo imediato do aluguel –apresentaram aumento relevante. De outrolado, entretanto, condições de habitabi-lidade específicas, como acesso a água,

Tabela 10: Resultados para indicadores das dimensões desenvolvimentoinfanto-juvenil e condições habitacionais

Fonte: Elaboração própria. Informações extraídas dos microdados da amostra dos censos demográficosIBGE 2000 e 2010.

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esgoto e tratamento de lixo, melhoraramno período. Assim como também forampositivos os resultados referentes à possede itens de conforto e comunicação noâmbito domiciliar. Se consideradosaspectos ligados à localização da residência– e à necessidade de que os indivíduos pre-cisem ir a outros Municípios para acesso àescola e ao trabalho – então houve piorasignificativa do indicador (43,8%).

Como se vê, embora a redução davulnerabilidade tenha ocorrido em todasas dimensões analisadas, há variaçãoimportante entre aspectos e magnitudesespecíficas dos indicadores de cadadimensão.

Da mesma forma, a análise regionaldemonstra variabilidade diferenciada entreas Grandes Regiões do IBGE, embora emmenor magnitude (diferença de 3,7 p.p). OSul é a região que apresenta queda mais

significativa do índice geral, com reduçãode 22,1% de vulnerabilidade. Aproxima-sedo patamar global da região Sudeste. ONorte é a região com menor evolução noperíodo, aproximando-se do patamar daregião Nordeste, com pior desempenho(0,311).

Em relação à dicotomia urbano-rural –de acordo com definições estabelecidas emlei municipal e incorporação do IBGE –,note que a redução percentual é maior nasáreas urbanas, entretanto, dado o nível inicialda vulnerabilidade rural ser mais alto, houve,de fato, redução na distância entre os indi-cadores no período, caindo de 0,155 pontospara 0,146.

A análise do indicador agregado porregiões metropolitanas deve considerarque o IBGE utilizou a definição oficial –estabelecida em leis estaduais – para regiõesmetropolitanas, que, na ocasião do Censo

Fonte: Elaboração própria. Informações extraídas dos microdados da amostra dos censos demográficosIBGE 2000 e 2010.

Tabela 11: Resultados por região, urbano – rural e metropolitano – não-metro-politano

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2010, constavam como 36 regiões metro-politanas, três aglomerações urbanas e trêsRIDE6 – que integram Municípios emfronteiras estaduais. Não se entenda,portanto, ‘metropolitano’ como fenômenoou processo imbuído de atividades dehierarquia superior, mas apenas como defi-nição entendida pelos legisladores estaduais– usualmente utilizada como ferramentade desenvolvimento regional. Todavia, o‘não-metropolitano’ ainda apresenta –assim como o rural – níveis do indicadorde vulnerabilidade mais altos que áreasmetropolitanas, embora com redução ligei-ramente mais acentuada.

Como reforçado anteriormente, namedida em que se detalha a análise porregiões geográficas, dimensões e indica-dores, o pesquisador pode observar hetero-geneidades interessantes. A Tabela 12, porexemplo, permite inferir que o Norte foi aregião que apresentou a pior evolução nadimensão infanto-juvenil (-12%); que oNordeste, por sua vez, teve desempenhoabaixo da média brasileira nas dimensõesde acesso ao trabalho (-26,2%) e escassez

de recursos (-30,5%), mas melhores emdesenvolvimento infanto-juvenil (-22%) econdições habitacionais (-20,7%). OSudeste apresenta a pior evolução emredução da vulnerabilidade social (-8,3%)e em condições habitacionais (-7,3%). OSul e o Centro-oeste alcançam redução devulnerabilidade importante na dimensão deescassez de recursos, 54,5 e 50,3%,respectivamente.

Mais uma vez em relação à dicotomiaurbano-rural, note que, enquanto o melhordesempenho em áreas urbanas é em relaçãoao aumento de acesso ao trabalho (31,3%),as áreas rurais apresentam melhorias signi-ficativas em relação à vulnerabilidade social(10,3%) e às condições habitacionais(18,8%).

Entre os resultados apresentados deforma segmentada entre regiões, urbano,rural e metropolitano e as dimensões, avariação mais baixa – de piora davulnerabilidade – ocorreu em relação àscondições habitacionais em áreas metro-politanas (5,2%), embora ainda em níveismelhores do que a média brasileira.

Tabela 12: Resultados para as dimensões por regiões, urbano e rural e metropo-litano, não-metropolitano

Fonte: Elaboração própria. Informações extraídas dos microdados da amostra dos censos demográficosIBGE 2000 e 2010.

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A análise das unidades da Federaçãorevela que o estado que apresentou menorredução do indicador de vulnerabilidadefoi Roraima (Tabela 13). Ressalte-se,todavia, que o estado do Maranhão, aindaque com redução do indicador próxima à

média nacional, permanece como Estadocom pior indicador de vulnerabilidade. Asegunda e terceira colocações perma-necem com Piauí e Alagoas. Em termosrelativos, o Tocantins foi o Estado queconseguiu melhor desempenho no

Tabela 13: Resultados do índice por unidades da Federação

Fonte: Elaboração própria. Informações extraídas microdados da amostra dos censos demográficosIBGE 2000 e 2010.

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período, reduzindo seu indicador do nívelalto para mais próximo da média nacional.Estados do Sul, Sudeste e Centro-oesteapresentaram boa redução, acima dos20%, e aprofundaram sua distância emrelação à média nacional. A unidade daFederação com menor vulnerabilidadepermanece o Distrito Federal (0,183).

Novamente, advoga-se que infor-mações adicionais podem ser obtidas aodesagregar as dimensões analisadas noâmbito das unidades da Federação (Tabe-la 14). Os Estados do Nordeste, em espe-cial, tiveram reduções bem acima da média(da ordem de 6 ou mais p.p.) na dimensãode desenvolvimento infanto-juvenil. ABahia e o Tocantins apresentaram asmelhores reduções nas condições habita-cionais (-25% e -26,3%). Os Estados doSul e Centro-oeste, por sua vez, apresen-taram números de melhoria no acesso a

recursos cerca de 20 pontos percentuaisem relação à média nacional.

Alguns aspectos negativos merecemrealce. O Amazonas reduziu seu índice devulnerabilidade na dimensão de desenvol-vimento infanto-juvenil em apenas 4,85%.Os dois Estados seguintes com pioresresultados são Acre (5,73%) e Amapá (7,02).Roraima, por sua vez, apresenta destaquenegativo nas dimensões acesso ao trabalho(-18,39%) e escassez de recursos (-17%).

Na dimensão de condições habita-cionais, apenas dois Estados tiveram piorado indicador no período analisado: SãoPaulo, com piora de 1,09% no período, e oDistrito Federal, com aumento da vulne-rabilidade nessa dimensão de quase 20%.Ainda assim, ressalte-se que ambas as uni-dades da Federação apresentam valoresabaixo da média nacional de 0,14 em 2010(0,093 e 0,104, respectivamente).

Fonte: Elaboração própria. Informações extraídas dos microdados da amostra dos censos demográficosIBGE 2000 e 2010.

Tabela 14: Resultados por unidades da Federação e dimensões

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Na dimensão de acesso ao conheci-mento, a melhora no período entre asunidades da Federação varia entre 17,11%e 10,53, com o melhor avanço observadoem Tocantins e resultados menos rápidospara os Estados do Pará, Paraíba, Pernam-buco, Alagoas e Rio de Janeiro.

A análise por regiões metropolitanas(RM) também pode ser detalhada. A Tabela15 demonstra a evolução dos índices paraas 51 subdivisões consideradas pelo IBGEem 2010. As RM do Agreste e CampinaGrande são as com piores indicadores para2000 e 2010 e, além disso, apresentamevolução no período menor do que a médiadas RM em geral. A RM de São Paulotambém apresenta comparativamente baixamelhora no período, apenas 15,95%.Entretanto, seu patamar em 2010 (0,196)ainda é melhor do que a média das RM(0,212) e nacional (0,246). Cinco RMtiveram boa evolução no período, da ordemde 25%: RM Belo Horizonte: ColarMetropolitano, RM Chapecó: NúcleoMetropolitano, RM Grande São Luís e RMNorte/Nordeste Catarinense: NúcleoMetropolitano.

Os resultados da dimensão condiçõeshabitacionais também são apresentados deacordo com o recorte de regiões metropo-litanas. Note que, no caso desta dimensãoespecífica, 13 entre as 51 RM apresentampiora do indicador no período com variaçãopercentual positiva. Entre estas, destaque-se ainda a RM Norte/Nordeste Catarinense:Núcleo Metropolitano (60,4%) e RM Valedo Itajaí: Núcleo Metropolitano (29,55%).De outro lado, várias RM tiveram reduçãode vulnerabilidade em condições habita-cionais da ordem de 20%, ressaltando-seduas áreas de expansão metropolitana: RMLages: Área de Expansão Metropolitana(-26,96%) e RM Vale do Aço: Colar Metro-politano (-24,53%).

Em relação ao comportamento deMunicípios, podem-se selecionar algumastabelas ilustrativas7. Em primeiro lugar,pode-se apontar aqueles Municípios daFederação que obtiveram as melhoresreduções da vulnerabilidade no período de2000 a 2010 (Tabela 16), muito emboraem sete dos quais o crescimento da popu-lação tenha ocorrido em taxa superior àmédia nacional de 1,17% a.a. no período.Todavia, a média dos seus valores abso-lutos, 0,258, ainda é superior à médiabrasileira (0,246) e a população média ébastante baixa: 4.907 habitantes.

Os dez Municípios com menorvulnerabilidade no País (Tabela 17)apresentaram média populacional de 413mil habitantes, com valores para o índicebem abaixo da média nacional, emboracom crescimento no período maior que amédia brasileira para seis deles.

Entre os piores Municípios em valoresabsolutos, cinco encontram-se no Mara-nhão, dois no Pará e ainda no Amazonas,Pernambuco e Roraima. Todos apresentamtaxa de crescimento populacional relativa-mente alta no período, média de 2,73% a.a.,contra 1,17% a.a. da taxa nacional. Apopulação média é baixa, de cerca de 15mil habitantes. A variação de melhoria noperíodo também é bem inferior à nacional(-19%), da ordem de 8%, em média.

Finalmente, vale notar que dois Muni-cípios de Roraima não melhoraram suavulnerabilidade no período: Amajari eIracema, ambos com altas taxas de cresci-mento populacional (Tabela 19).

Alguns indicadores selecionadostambém podem ser utilizados na análisemunicipal. A título de ilustração, as tabelasabaixo detalham os resultados dos indica-dores h3 e h13 da dimensão condiçõeshabitacionais. O primeiro (h3) refere-se àdensidade de dois ou mais moradores por

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Fonte: Elaboração própria. Informações extraídas dos microdados da amostra dos censos demográficosIBGE 2000 e 2010.

Tabela 15: Resultados por Regiões Metropolitanas

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Fonte: Elaboração própria. Informações extraídas dos microdados da amostra dos censos demográficosIBGE 2000 e 2010.

Tabela 16: 10 Municípios com melhor variação no índice no período

Fonte: Elaboração própria. Informações extraídas dos microdados da amostra dos censos demográficosIBGE 2000 e 2010.

Tabela 17: 10 Municípios com melhor valor absoluto no índice no período

Tabela 18: 10 Municípios com menor variação no índice no período

Fonte: Elaboração própria. Informações extraídas dos microdados da amostra dos censos demográficosIBGE 2000 e 2010.

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dormitório, enquanto o segundo (h13)reflete a necessidade de deslocar-se a outromunicípio para estudar ou trabalhar. 393Municípios, por exemplo, apresentam valornulo para o indicador h3 em 2010, o queindica que, na amostra de famílias entre-vistadas pelo censo domiciliar, não havianenhuma ocorrência nesses Municípiospara domicílios com densidade maior ouigual a dois moradores por dormitório. Deoutro lado, Municípios no Amazonas, Paráe Roraima apresentam índices acima de 0,4nesse indicador8.

Em relação à necessidade de mobili-dade intermunicipal, vários Municípiosapresentam variação maior que 2000% noperíodo (Tabela 20). Finalmente, a Tabela21 apresenta 11 Municípios – próximos agrandes centros – nos quais o indicadorde mobilidade fica acima de 0,7. Os trêspiores resultados são para Municípios emSão Paulo.

O recorte espacial mais detalhadopossível é a análise das áreas de ponde-ração. A título de exemplo, dado o bomdesempenho do Distrito Federal no

resultado do índice, optou-se por ilustraras possibilidades da escala maior comBrasília e seu entorno (Figura 1). Note queo DF obtém, na média, valor de 0,183 noíndice de vulnerabilidade. De todo modo,se considerados os Municípios limítrofesao DF, que no conjunto compõem aRegião Integrada do Distrito Federal eEntorno, esse valor já aumenta para 0,207.Esses números médios não permitemobservar a heterogeneidade existentequando desagregada por áreas de ponde-ração. De fato, os dados da figura 1 indi-cam que a região central de Brasília, oPlano Piloto, o Lago Sul, o Park Way ouÁguas Claras, apresentam índices devulnerabilidade bem melhores, da ordemde 0,8 a 1,4. Regiões urbanas vizinhasconurbadas, por sua vez, apresentamvalores mais altos, da ordem de 0,28 a0,32, substancialmente maiores que amédia nacional (0,24)9.

Finalmente, a título de ilustração,apresenta-se o cartograma para o índicecompleto para áreas de ponderação para oano de 2010 (Figura 2).

Tabela 19: 10 Municípios com pior valor absoluto no índice no período

Fonte: Elaboração própria. Informações extraídas dos microdados da amostra dos censos demográficosIBGE 2000 e 2010.

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Tabela 20: 20 Municípios com maior variação no indicador h13 no período

Fonte: Elaboração própria. Informações extraídas dos microdados da amostra dos censos demográficosIBGE 2000 e 2010.

Fonte: Elaboração própria. Informações extraídas dos microdados da amostra dos censos demográficosIBGE 2000 e 2010.

Tabela 21: 11 Municípios com maior valor absoluto no indicador h13 no período

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Figura 1: Índice de vulnerabilidade 2010. Distrito Federal e entorno

Fonte: Elaboração própria. Informações extraídas dos microdados da amostra do censo demográficoIBGE 2010.

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Figura 2: Índice vulnerabilidade das famílias por áreas de ponderação

Fonte: Elaboração própria. Informações extraídas dos microdados da amostra do censo demográfico

IBGE 2010.

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Outros resultados, algumas limi-tações e ponderações

Dado que a elaboração deste trabalhobaseou-se em construção de metodologiaanterior, a própria manipulação dos dados,indicadores, dimensões e resultadosdesperta algumas considerações mais geraisque imaginamos seriam válidas paracompartilhar com o leitor. Em especial,seria possível pensar no rearranjo de algunsindicadores em dimensões distintas. Háquestões referentes à capacidade de con-sumo, por exemplo, abrigadas nas dimen-sões de condições habitacionais e acessoao trabalho.

Outra característica que reforça, emcerto sentido, a análise proposta (de inde-pendência entre os componentes do índice)é que a correlação entre as dimensões(Tabela 22) é relativamente baixa. Note que,à exceção da correlação entre acesso aoconhecimento e acesso ao trabalho, todosos outros pares apresentam valores abaixode 0,55. Isso indica que não está se mensu-

rando elementos repetidos nas várias dimen-sões, mas elementos distintos, fato que, decerto modo, reforça o caráter multidimen-sional da análise e as várias possibilidadesda qualidade de vida ser influenciada porgrande número de fatores. As relações decorrelação apresentam magnitudes similarespara os dois anos da análise.

Outra possibilidade que o modo deconstrução do índice nos permite realizaré a análise da desigualdade do indicadorinternamente a cada unidade da Federação.Como o índice é calculado por domicílio,para cada unidade da Federação é possívelcalcular a desigualdade do valor do índiceentre as famílias de determinado recortegeográfico de análise. Ou seja, para dadaunidade da Federação, é possível identificarse os valores do índice das famílias daquelaunidade são mais homogêneos ou maisheterogêneos. Em outras palavras, épossível calcular o coeficiente de Gini10 davariável calculada, o índice, para cadaunidade da Federação. Os resultados estãoapresentados na Tabela 23.

Tabela 22: Correlações entre as dimensões

Fonte: Elaboração própria.

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Tabela 23: Coeficiente de GINI do índice de vulnerabilidade das famílias, por UF

Fonte: Elaboração própria.

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Note que os Estados com maiorvulnerabilidade (MA, PI, AL) tambémapresentam maior homogeneidade entreas famílias componentes (coeficientes de0,242; 0,251 e 0,253; respectivamente). Ouseja, a vulnerabilidade entre as famíliasse encontra em patamares altos para oconjunto das famílias, com menos dispa-ridade entre os níveis de vulnerabilidade.De outro lado, unidades da Federação commenor vulnerabilidade apresentam maiorvariabilidade entre as famílias.

A análise da Figura 3 – que demonstraa correlação entre níveis de vulnerabi-lidade e o coeficiente calculado – emconjunto com o dado da evolução dessecoeficiente no período 2000-2010 explicitao fato de que, muito embora haja ganhossignificativos na melhoria da vulnerabilidadedas famílias na década, é crescente adesigualdade dessa vulnerabilidade, ou seja,proporcionalmente há mais famíliascom menor e com maior vulnerabilidade.Esse aumento se verifica com maior

magnitude nos Estados do Norte eNordeste. O Distrito Federal foi a únicaunidade da Federação no período a apre-sentar redução nesse índice, emborapermaneça em patamar bastante superioràs demais UF.

Considerações finais

Este texto buscou trazer ao leitorinformações acerca da vulnerabilidade dasfamílias escalonadas do geral para oespecífico. Observa-se, no conjunto,melhora considerável com diminuição davulnerabilidade das famílias no período2000 a 2010. Essa melhora se relativiza eé heterogênea na medida em que se anali-sam dimensões distintas da vulnerabilidadee indicadores específicos. De fato, asdimensões relacionadas ao trabalho e rendamelhoraram proporcionalmente mais quea vulnerabilidade social ou o acesso aoconhecimento. Foi diferenciada também amelhoria entre os Estados da Federação e

Figura 3: Correlação entre índice de vulnerabilidade das famílias e o coeficientede GINI do índice, por UF

Fonte: Elaboração própria.

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os Municípios. Por fim, fica fácil ver quemesmo porções do território com baixavulnerabilidade apresentam heterogenei-dades típicas da dicotomia centro-periferiaou urbano-rural.

De modo geral, o Nordeste e o Norteestão em patamares diferenciados emrelação ao restante do país. E no Nordeste,os Estados de Maranhão, Piauí e Alagoasmerecem atenção especial dos gestores depolíticas públicas.

Espera-se que, com esse conjuntoinformacional, contribua-se para a publi-cidade de fatores socioeconômicosmúltiplos subjacentes aos efeitos ora apre-sentados, de modo que se possa esclarecerà opinião pública, bem como aostomadores de decisão de política pública.

(Artigo recebido em setembro de 2012. Versãofinal em junho de 2013).

Notas

1 Veja, por exemplo, Neri (2010).2 Além dos inúmeros resultados ora apresentados, tabelas completas (de Municípios, por

exemplo) podem ser solicitadas ao autor.3 Essa abordagem pode ser criticada por não considerar o caráter de subsistência e redes

sociais presentes nas áreas rurais (LOPES; MACEDO; MACHADO, 2003).4 Em relação à questão ambiental, ressalte-se que apenas no quesito habitação incluem-se

temas como saneamento básico e tratamento adequado de resíduos sólidos. Essa limitação notrato da questão ambiental deriva da restrição imposta pelo conjunto de perguntas feitas naamostra do censo.

5 Dado que se trata de índices de vulnerabilidades variando entre 0 e 1, valores mais próxi-mos de 1 indicam maiores vulnerabilidades, enquanto valores baixos próximos a zero, indicamreduzida vulnerabilidade.

6 Regiões Integradas de Desenvolvimento: RIDE DF - Região Integrada de Desenvolvi-mento do Distrito Federal e Entorno; RIDE TERESINA - Região Integrada de Desenvolvi-mento da Grande Teresina e RIDE PETROLINA/JUAZEIRO - Região Administrativa Inte-grada de Desenvolvimento do Pólo Petrolina/PE e Juazeiro/BA.

7 A tabela completa está disponível por solicitação ao autor.8 Limoeiro do Ajuru, Pará; Oeiras do Pará, Pará; São Paulo de Olivença, Amazonas; Porto

de Moz, Pará; Breves, Pará; São Gabriel da Cachoeira, Amazonas; Tonantins, Amazonas,Barreirinha, Amazonas; Amajari, Roraima; Melgaço, Pará; Jordão, Acre; Barcelos, Amazonas;Portel, Pará; Maraã, Amazonas; Normandia, Roraima; Santa Isabel do Rio Negro, Amazonas;Bagre, Pará; Uiramutã, Roraima.

9 A área de ponderação com melhor resultado absoluto 0,086 fica em Brasília. As duasseguintes em Belo Horizonte. A pior no Pará, a segunda pior em Roraima e a terceira no Rio deJaneiro.

10 Cálculos feitos com o Índice de Theil T também confirmaram aumento na inequalidadedos valores dos índices no período analisado (0,139 em 2000 para 0,155 em 2010).

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Índice de vulnerabilidade das famílias: resultados espacializados para a década de 2000 no Brasil e regiões

Referências bibliográficas

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Bernardo Alves Furtado

Resumo – Resumen – Abstract

Índice de vulnerabilidade das famílias: resultados espacializados para a década de2000 no Brasil e regiõesBernardo Alves FurtadoO objetivo deste texto é apresentar de forma imediata, mas também precisa e espacialmente

detalhada, a situação de vulnerabilidade das famílias brasileiras a partir das respostas aos censosdemográficos de 2000 e 2010. Dessa forma, espera-se oferecer aos gestores públicos em espe-cífico e a pesquisadores e ao público em geral material de acesso e referência ao conjunto – porvezes complexo e inacessível – de inferências possíveis a partir dos questionários dos microdadosda amostra dos censos. A metodologia utilizada para construção de indicadores sintéticos estáfartamente descrita na literatura anterior. A partir da construção de indicadores que denotampresença ou ausência de vulnerabilidades, agregam-se seis dimensões de análise, então reunidasno índice geral que pode ser descrito para o País, Estados, Municípios e áreas intraurbanas. Osresultados indicam que a vulnerabilidade das famílias brasileiras no período recuou em média20%. Esse comportamento, todavia, é heterogêneo entre as dimensões analisadas, seus indica-dores, as regiões e Estados do País. É exatamente na identificação dessa heterogeneidade dosefeitos percebidos na década que se encontra a contribuição do texto.

Palavras-chave: índice; vulnerabilidade; famílias

Los índices de vulnerabilidad de las familias: resultados espacializados para la dé-cada de 2000 en Brasil y regionesBernardo Alves FurtadoEl objetivo de este trabajo es presentar una investigación inmediata, pero también espacial-

mente precisa y detallada de la situación de vulnerabilidad de las familias brasileñas de lasrespuestas a los censos de 2000 y 2010. Por lo tanto, se espera ofrecer los gestores públicos einvestigadores en específico y el acceso del público en general material de referencia para elconjunto - a veces complejo y de difícil acceso – para las inferencias posibles acerca de loscuestionarios de los censos de muestras de microdados. La metodología utilizada para laconstrucción de indicadores sintéticos se describe ampliamente en la literatura. A partir de laconstrucción de indicadores que denotan la presencia o ausencia de vulnerabilidades, sumanseis dimensiones de análisis, a continuación, se reunieron en el índice que puede ser descrito porla nación, estados, condados y áreas intraurbanas. Los resultados indican que la vulnerabilidadde las familias brasileñas en el período cayó un 20% en promedio. Este comportamiento, sinembargo, es heterogéneo entre las dimensiones analizadas, sus indicadores, regiones y estados.Es precisamente esta heterogeneidad en la identificación de los efectos percibidos en la décadaque es la aportación del texto.

Palabras clave: índice; la vulnerabilidad; las familias

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Índice de vulnerabilidade das famílias: resultados espacializados para a década de 2000 no Brasil e regiões

Families vulnerability index: spatialized results to the 2000s in Brazil and regionsBernardo Alves FurtadoThe objective of this paper is to make available information – precisely and spatially detailed

– about families’ vulnerabilities derived from questionnaires’ answers of census data for 2000and 2010. In doing so this paper fulfills the task of providing reference data – occasionallycomplex – accessible to public authorities and researchers so that inferences can be made fromthe micro data of the census sample interviews. The methodology used is by and large detailedin the literature. The actual construction of the indicators is based on the analysis of presenceor absence of vulnerabilities within families across six different dimensions, detailed for thecountry, states, municipalities and intraurban detail. Results indicate that Brazilian families’vulnerability reduced by nearly 20% in the period on average. This behavior, however, isheterogeneous among the dimensions analyzed, the indicators or the regions and states of thecountry. It is exactly the analysis of this perceived heterogeneity in the decade that makes thecore of the contribution of this paper.

Keywords: index; vulnerability; families

Bernardo Alves FurtadoÉ doutor em Geociências pela Utrecht University (2009), Diretor Adjunto e Técnico de Planejamento e Pesquisa daDiretoria de Estudos e Políticas Regionais, Urbanas e Ambientais (Dirur) do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada(Ipea). Contato: [email protected]