Índice de resiliÊncia a inundaÇÕes aplicado para a ... · e vinícius pandim, que entenderam...

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i ÍNDICE DE RESILIÊNCIA A INUNDAÇÕES APLICADO PARA A AVALIAÇÃO DE CENÁRIOS DE URBANIZAÇÃO NA CIDADE DE PARATY, RJ. Bruna Peres Battemarco Projeto de graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil da Escola Politécnica. Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheiro. Orientadores: Marcelo Gomes Miguez e Matheus Martins de Sousa Rio de Janeiro Setembro de 2016

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Page 1: ÍNDICE DE RESILIÊNCIA A INUNDAÇÕES APLICADO PARA A ... · e Vinícius Pandim, que entenderam meu afastamento nos períodos atribulados na faculdade e ... Orientadores: Marcelo

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ÍNDICE DE RESILIÊNCIA A INUNDAÇÕES APLICADO PARA A AVALIAÇÃO DE

CENÁRIOS DE URBANIZAÇÃO NA CIDADE DE PARATY, RJ.

Bruna Peres Battemarco

Projeto de graduação apresentado ao Curso de Engenharia Civil

da Escola Politécnica. Universidade Federal do Rio de Janeiro,

como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de

Engenheiro.

Orientadores: Marcelo Gomes Miguez e Matheus Martins de

Sousa

Rio de Janeiro

Setembro de 2016

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ÍNDICE DE RESILIÊNCIA A INUNDAÇÕES APLICADO PARA A AVALIAÇÃO DE

CENÁRIOS DE URBANIZAÇÃO NA CIDADE DE PARATY, RJ

Bruna Peres Battemarco

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO

RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A

OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

Examinado por:

______________________________________________

Prof. Marcelo Gomes Miguez, D.Sc.

______________________________________________

Engº. Matheus Martins de Sousa, M.Sc.

______________________________________________

Prof. Paulo Renato Diniz Junqueira Barbosa, M.Sc.

______________________________________________

Prof. Aline Pires Veról, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL.

SETEMBRO de 2016

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BATTEMARCO, BRUNA PERES.

Índice de Resiliência a Inundações aplicado para a

avaliação de cenários de urbanização na cidade de Paraty,

RJ/ Bruna Peres Battemarco – Rio de Janeiro: UFRJ / Escola

Politécnica, 2016.

xiv, 102 p.: il.; 29,7 cm.

Orientadores: Marcelo Gomes Miguez e Matheus Martins

de Sousa

Projeto de Graduação – UFRJ / POLI / Curso de

Engenharia Civil, 2016.

Referências Bibliográficas: p. 99-102.

1. Resiliência a Inundações; 2. Risco; 3. Drenagem

Sustentável; 4. Modelagem Matemática.

I. Marcelo Gomes Miguez; II. Universidade Federal do Rio

de Janeiro, UFRJ, Engenharia Civil; III. Requalificação Fluvial

Como Medida Alternativa Para a Mitigação de Cheias

Urbanas - Estudo de Caso do Rio Dona Eugênia

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Agradecimentos

Agradeço primeiramente a Deus, que ilumina a minha vida, guia meus passos e me

encoraja a seguir sempre em frente.

Aos meus pais, Jurema e Vicente, que sempre fizeram o possível e o impossível para

que eu pudesse alcançar meus sonhos, que estiveram presentes dando apoio, colo,

carinho e atenção e que me fizeram ser quem sou hoje, sendo meus exemplos,

minhas maiores inspirações.

À minha irmã, Thatiane, que sempre acreditou no meu potencial e me apoiou e apoia

em todos os meus passos. Ao meu primo-irmão Rubem José, que acompanhou todas

as noites em claro, todo o desespero para fechar trabalhos e estudar para provas

durante esses anos de faculdade.

A todos os meus tios, primos e ao meu cunhado, que sempre manifestaram carinho e

entusiasmo torcendo pelo meu sucesso.

Às minhas amigas-irmãs, Vívian, Larissa e Karla, que há 13 anos me dão força,

participam de absolutamente todos os momentos da minha vida e me mostram todos

os dias o real sentido da amizade.

À minha amiga-irmã Lanne, que se fez sempre presente nesses 10 anos de amizade,

que me aguenta com meus horários loucos e minha falta de tempo, me ouve seja qual

for o momento, me aconselha, me dá força e torce por mim.

Aos meus queridos amigos do IESA e do Carrescia, principalmente meu “Hello” amado

e Vinícius Pandim, que entenderam meu afastamento nos períodos atribulados na

faculdade e me ajudaram no que foi preciso.

Aos meus para sempre companheiros de DRHIMA, Juliana Smiderle, Nelson Bernardo

e João Paulo o meu muitíssimo obrigada! Vocês fizeram meu último ano na

universidade mais feliz. Vocês são os melhores parceiros que Deus poderia ter

colocado na minha vida nesse momento. Que essa amizade ultrapasse os limites do

Fundão e que seja para a vida toda. Engenheiros Civis de Recursos Hídricos com

muita alegria e com muito orgulho!

A todos os amigos que construí ao longo desses anos de curso, em especial Juliana

Ferreira, Beatriz Rodrigues, Juliana Correa, Karine Ramos e Mariane Gonzalez, que

dividiram comigo alegrias, desesperos com provas e trabalhos, correria nos

corredores... Vocês se tornaram muito especiais nessa caminhada.

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À minha segunda família, toda a equipe LHC, com quem convivi tantos anos e aprendi

muito. Muito obrigada Isaac, Anna Beatriz, Victor, Francis, Laurent, Virgílio, Lílian,

Marina, Gabrielly, Flávia, Lívia e todos os que passaram pelo laboratório ao longo

desses anos por fazerem meus dias no Fundão mais alegres.

Ao amigo e parceiro de trabalho Antonio Krishnamurti, por não me deixar um segundo

sequer desanimar, por sempre me apoiar, acreditar em mim e com quem aprendo a

cada dia.

À amiga Isadora Tebaldi, que esteve sempre disposta a me ajudar com a aplicação do

índice neste projeto final.

À Gabriela Leão e à Clara Cristine por todo apoio e dedicação nos processos aqui

apresentados. Vocês foram verdadeiros anjinhos na minha vida. Muito obrigada!

Ao meu orientador, Marcelo Miguez, e à minha co-orientadora nesses anos de

faculdade, Aline Veról, verdadeiros pais postiços, que me acolheram em sua equipe e

confiaram em mim durante esses cinco anos de convivência, com quem aprendi a

crescer e a gostar desse mundo das águas até então desconhecido para mim.

Obrigada por estarem sempre dispostos a me ouvir, a me aconselhar e a fazerem de

mim uma profissional melhor.

Ao meu orientador e amigo Matheus Martins, que esteve incansável ao meu lado em

todo o processo de modelagem para que fosse feito o melhor e sempre disposto a me

ajudar, seja em qual fosse a situação. Obrigada por acreditar em mim, por contribuir

no meu processo de aprendizagem e por se tornar um grande amigo.

Aos amigos da Aquafluxus, Osvaldo, Luiza e Caroline, que juntamente com o

Matheus, estiveram sempre presentes nesses anos de LHC e com quem aprendi

bastante também.

Ao professor Paulo Renato, por confiar em mim e por reforçar meu amor pela área de

Recursos Hídricos.

Ao professor Paulo Canedo, que me inspira profissionalmente e com quem tenho

aprendido muito todos os dias.

A todos que fizeram parte dessa caminhada, o meu muito obrigada.

Bruna Peres Battemarco

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica / UFRJ como

parte dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.

Índice de Resiliência a Inundações Aplicado para a Avaliação de Cenários de

Urbanização na Cidade de Paraty, RJ

Bruna Peres Battemarco

Setembro/2016

Orientadores: Marcelo Gomes Miguez e Matheus Martins de Sousa

Curso: Engenharia Civil

O problema das cheias urbanas, agravado pelo próprio processo de urbanização, é

um dos principais desafios das cidades na atualidade. Como forma de mitigação desse

problema, a visão tradicional do projeto de drenagem vem sendo modificada, nas

últimas décadas, por uma abordagem integrada de manejo sustentável das águas

pluviais e planejamento do espaço urbano.

Além disso, se torna cada vez mais difundida a ideia da mitigação de risco em vez da

preocupação somente em reduzir os impactos causados pelas inundações. Neste

sentido, aparece o conceito de cidades resilientes a inundações, com a utilização de

técnicas que racionalizam a relação água x edificação x espaço urbano.

Este projeto pretende, através da modelagem matemática, realizar o diagnóstico atual

das bacias dos rios Mateus Nunes e Perequê Açu, que atravessam a cidade de

Paraty, visualizar e analisar os efeitos da expansão urbana a partir de mudanças no

uso do solo e fazer proposições de projetos que visem a redução dos impactos

causados pelas cheias. Além disso, busca avaliar a resiliência a inundações da

cidade, através da aplicação do Índice de Resiliência a Inundações (IRES).

Palavras chave: Resiliência a inundações; Risco; Drenagem Sustentável; Modelagem

Matemática.

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Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for degree of Engineer.

Resilience Index for Flood Events Applied for Evaluation of Urbanization Scenarios in

Paraty City, RJ

Bruna Peres Battemarco

September/2016

Advisors: Marcelo Gomes Miguez and Matheus Martins de Sousa

Course: Civil Engineering

The urban flood problem, worsened by the urbanization process itself, is one of the

main challenges of cities nowadays. As a way to mitigate this problem, the classical

concept of drainage design has been changing, in recent decades, to an integrated

sustainable rainwater management approach within the planning of urban spaces.

Furthermore, the idea of risk mitigation instead of just reducing flooding levels is

becoming increasingly widespread. Thus, the flood resilient cities concept arises, using

techniques that rationalize the relation among water x edification x urban space.

Through the support of mathematical modeling, this project aims to carry out the

current diagnosis of Mateus Nunes and Perequê Açu River basins, which cross the

Paraty city center, then view and analyze the effects of urban sprawl caused by

changes land use and make proposals aiming at decreasing the impacts caused by

floods. Moreover, the proposed methodology pretends to evaluate the urban resilience

to flooding, by applying the Flood Resilience Index (FResI).

Keywords: Flood Resilience; Flood Risk; Sustainable Urban Drainage; Mathematical

Modeling.

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Sumário

1 Introdução ........................................................................................................ 14

1.1 Motivação .......................................................................................................... 15

1.2 Objetivos Gerais ................................................................................................ 16

1.3 Objetivos Específicos ........................................................................................ 16

2 Revisão Bibliográfica ...................................................................................... 17

2.1 Água e Cidades: Histórico e Impactos da Urbanização .................................... 17

2.2 Água e Cidades: Controle de Inundações Urbanas .......................................... 21

2.3 Drenagem Urbana Sustentável ......................................................................... 23

2.4 Requalificação Fluvial ....................................................................................... 26

2.5 Resiliência a Inundações .................................................................................. 31

3 Metodologia ..................................................................................................... 33

4 Ferramentas Metodológicas .......................................................................... 35

4.1 Modelagem Matemática: MODCEL .................................................................. 35

4.2 Índice de Resiliência a Inundações (IRES) ....................................................... 36

5 Estudo de Caso: Paraty, RJ. .......................................................................... 39

6 Modelagem Matemática - MODCEL ............................................................... 48

6.1 Divisão de Células ............................................................................................ 48

6.2 Estudos Hidrológicos ........................................................................................ 49

6.3 Condições de Contorno .................................................................................... 52

6.4 Cenários de Simulação ..................................................................................... 52

7 Aplicação do IRES .......................................................................................... 61

7.1 Subíndice Valor Relativo ................................................................................... 64

7.2 Subíndice Perigo ............................................................................................... 67

7.3 Subíndice Exposição ......................................................................................... 67

7.4 Subíndice Susceptibilidade ............................................................................... 68

8 Resultados e Discussões ............................................................................... 69

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8.1 Modelagem Matemática: MODCEL .................................................................. 69

8.2 Índice de Resiliência a Inundações (IRES) ....................................................... 83

9 Conclusão ........................................................................................................ 97

10 Referências Bibliográficas ............................................................................. 99

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Lista de Figuras

Figura 2.1: Festival do Nilo - obra de Fréderic Louis Norden em Voyage d’Egypte et de

Nibie, 1755 (VERÓL, 2013). ......................................................................................... 17

Figura 2.2: Alterações no balanço hídrico provocadas pela urbanização (JHA et al.,

2012 apud VERÓL, 2013) ............................................................................................ 19

Figura 2.3: Efeito da urbanização no hidrograma da bacia (SCHUELER, 1987 apud

VERÓL, 2013). ............................................................................................................. 19

Figura 2.4: Efeitos da urbanização (HALL, 1984 apud MIGUEZ et al., 2016) .............. 21

Figura 2.5: Conceito Tradicional de Drenagem ............................................................ 23

Figura 2.6: Exemplos de paisagens multifuncionais. (a) Reservatório de detenção

aliado a técnicas paisagísticas e uso de lazer em Santiago do Chile. (b) Bacia de

Detenção com Fins Esportivos em Porto Alegre – RS.

(http://www.aquafluxus.com.br/paisagens-multifuncionais/) ......................................... 24

Figura 2.7: Exemplos de Componentes do SUDS. (a) Vala de Infiltração. (b) Bacia de

Retenção, França. (c) Pavimento Permeável. (d) Telhado Verde – Telhado da

Prefeitura de Chicago, Estados Unidos. (http://www.aquafluxus.com.br) .................... 25

Figura 2.8: Conceito de Drenagem Urbana Sustentável .............................................. 26

Figura 2.9: Conceito da requalificação fluvial. (VERÓL, 2013). ................................... 27

Figura 2.10: Área de implantação da APA do Iguaçu (COPPETEC, 2008) ................. 29

Figura 2.11: Rio Brenta após projeto de requalificação (ENVIRONMENT AGENCY,

2006 apud VERÓL, 2013). ........................................................................................... 30

Figura 2.12: (a) Trecho de montante, mais sinuoso, com wetlands já implantadas. (b)

Aspecto geral da foz do Rio Besòs, com vegetação ribeirinha recuperada e retorno dos

peixes ao ecossistema; (c) Área do Parque – Trecho de jusante do Rio Besòs.

(MARTÍN-VIDE, 2001 apud VERÓL, 2013) .................................................................. 30

Figura 2.13: Conceito de risco ...................................................................................... 32

Figura 5.1: Localização do município de Paraty e principais acessos (MARINS, 2013).

...................................................................................................................................... 39

Figura 5.2: Bairros do município de Paraty, RJ. Em destaque, os bairros da região a

jusante da BR-101 (MARINS, 2013). ............................................................................ 40

Figura 5.3: Rede hidrográfica de Paraty (MARINS, 2013). .......................................... 41

Figura 5.4: Bacias hidrográficas dos rios Perequê Açu e Mateus Nunes ..................... 42

Figura 5.5: Trecho superior do rio Perequê Açu (MARINS, 2013) ............................... 42

Figura 5.6: Visão de montante do rio Perequê Açu a partir da Ponte Velha, localizada

entre os bairros Pontal e Centro Histórico (Acervo Pessoal) ....................................... 43

Figura 5.7: Foz do rio Perequê Açu (MARINS, 2013) .................................................. 43

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Figura 5.8: Curso superior do rio do Corisco (MARINS, 2013) .................................... 44

Figura 5.9: Vista do rio Mateus Nunes a partir da BR-101 (a) para montante (b) para

jusante (MARINS, 2013). .............................................................................................. 44

Figura 5.10: Rio Mateus Nunes com área de mangue à direita e o bairro Ilha das

Cobras à esquerda (MARINS, 2013). ........................................................................... 44

Figura 5.11: Centro Histórico de Paraty – (a) e (b) Ruas projetadas para funcionarem

como canais (MARINS, 2013); (c) Idem; (d) Nível das construções com relação ao

nível da rua (Acervo Pessoal). ...................................................................................... 46

Figura 5.12: Evento de cheia ocorrido em 2009. (a) Impactos das enchentes no trecho

próximo à foz, na Ponte Velha; (b) Alagamento na Rua da Lapa, Centro Histórico; (c)

Marca d’água na residência às margens do rio Perequê Açu – vista de jusante para

montante (MARINS, 2013). .......................................................................................... 47

Figura 6.1: Divisão de células utilizada na modelagem ................................................ 48

Figura 6.2: Visão detalhada da divisão de células na região de interesse ................... 49

Figura 6.3: Hietrograma de Projeto – TR25 .................................................................. 51

Figura 6.4: Hietograma de Projeto – TR50 ................................................................... 51

Figura 6.5: Maregrama utilizado na modelagem do município de Paraty, RJ (MARINS,

2013)............................................................................................................................. 52

Figura 6.6: Região de interesse no Cenário Tendencial – Células Modificadas .......... 53

Figura 6.7: Espacialização do Cenário Resiliente (BARBEDO, 2016). ........................ 56

Figura 6.8: Localização das soleiras e dos diques propostos no Cenário Resiliente ... 58

Figura 6.9: Hietograma de projeto – TR25 – Mudanças climáticas .............................. 59

Figura 6.10: Hietograma de projeto – TR50 – Mudanças climáticas ............................ 60

Figura 6.11: Maregrama utilizado como condição de contorno – Mudanças climáticas

...................................................................................................................................... 60

Figura 7.1: Compatibilização entre células utilizadas na modelagem e setores

censitários do IBGE ...................................................................................................... 61

Figura 7.2: Área Construída na Situação Atual ............................................................ 62

Figura 7.3: Área Construída no Cenário Tendencial .................................................... 62

Figura 7.4: Área Construída no Cenário Resiliente ...................................................... 63

Figura 7.5: Porcentagem da Edificação Danificada (PED) ........................................... 65

Figura 7.6: Porcentagem do Conteúdo Danificado (PCD) ............................................ 66

Figura 8.1: Hidrogramas na Estação Paraty – TR25 e TR50 – Processo de Modelagem

...................................................................................................................................... 69

Figura 8.2: Mancha de Inundação - Situação Atual - TR25 .......................................... 70

Figura 8.3: Mancha de Inundação – Situação Atual – TR50 ........................................ 71

Figura 8.4: Mancha de Inundação - Cenário Tendencial – TR25 ................................. 72

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Figura 8.5: Mancha de Alagamento - Cenário Tendencial – TR50 .............................. 72

Figura 8.6: Mancha de Inundação - Cenário Resiliente - TR25 ................................... 73

Figura 8.7: Mancha de Inundação - Cenário Resiliente - TR50 ................................... 74

Figura 8.8: Hidrogramas – Perequê Açu - BR-101 – TR25 ......................................... 75

Figura 8.9: Hidrogramas – Mateus Nunes – BR-101 – TR25 ....................................... 76

Figura 8.10: Perfil Longitudinal - Perequê Açu ............................................................. 77

Figura 8.11: Perfil Longitudinal - Mateus Nunes ........................................................... 78

Figura 8.12: Perfil Longitudinal - Canal do Jabaquara ................................................. 79

Figura 8.13: Mancha de Inundação - Cenário Tendencial com Mudanças Climáticas -

TR25 ............................................................................................................................. 80

Figura 8.14: Mancha de Inundação - Cenário Tendencial com Mudanças Climáticas –

TR50 ............................................................................................................................. 81

Figura 8.15: Mancha de Inundação – Cenário Resiliente com Mudanças Climáticas –

TR25 ............................................................................................................................. 81

Figura 8.16: Mancha de Inundação – Cenário Resiliente com Mudanças Climáticas –

TR50 ............................................................................................................................. 82

Figura 8.17: Valor Relativo – Situação Atual ................................................................ 83

Figura 8.18: Valor Relativo - Cenário Tendencial ......................................................... 84

Figura 8.19: Valor Relativo - Cenário Resiliente ........................................................... 85

Figura 8.20: Valor Relativo - Cenário Tendencial com Mudanças Climáticas .............. 85

Figura 8.21: Valor Relativo - Cenário Resiliente com Mudanças Climáticas ................ 86

Figura 8.22: Perigo – Situação Atual ............................................................................ 87

Figura 8.23: Perigo - Cenário Tendencial ..................................................................... 87

Figura 8.24: Perigo - Cenário Resiliente ....................................................................... 88

Figura 8.25: Perigo - Cenário Tendencial com Mudanças Climáticas .......................... 88

Figura 8.26: Perigo - Cenário Resiliente com Mudanças Climáticas ............................ 89

Figura 8.27: Exposição - Situação Atual ....................................................................... 90

Figura 8.28: Exposição - Cenário Tendencial ............................................................... 90

Figura 8.29: Exposição - Cenário Resiliente ................................................................ 91

Figura 8.30: Susceptibilidade - Situação Atual ............................................................. 92

Figura 8.31: Susceptibilidade - Cenário Tendencial ..................................................... 92

Figura 8.32: Susceptibilidade - Cenário Resiliente ....................................................... 93

Figura 8.33: IRES - Situação Atual ............................................................................... 94

Figura 8.34: IRES - Cenário Tendencial ....................................................................... 94

Figura 8.35: IRES - Cenário Resiliente ......................................................................... 95

Figura 8.36: IRES - Cenário Tendencial com Mudanças Climáticas ............................ 96

Figura 8.37: IRES - Cenário Resiliente com Mudanças Climáticas .............................. 96

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Lista de Tabelas

Tabela 2.1: Impactos da urbanização sobre as inundações (CARNEIRO E MIGUEZ,

2011)............................................................................................................................. 20

Tabela 2.2: Ações para atuação na Requalificação Fluvial. (VERÓL, 2013 adaptado de

NARDINI (2011) e Selles et al.(2001)) ......................................................................... 28

Tabela 6.1: Relações PDF estimadas para o Posto Paraty (MARINS, 2013) .............. 50

Tabela 6.2: Tempos de Concentração – Bacias dos Rios Perequê Açu e Mateus

Nunes (MARINS,2013) ................................................................................................. 50

Tabela 6.3: Vazões máximas instantâneas – Rio Perequê Açu na Estação de Paraty 53

Tabela 7.1: Características do Padrão de Urbanização – Cenário Resiliente .............. 64

Tabela 7.2: Cálculo da renda ........................................................................................ 64

Tabela 7.3: Áreas reais (m²) e CUB (R$/m²) ................................................................ 65

Tabela 7.4: Porcentagem da Edificação Danificada (Adaptado de Salgado, 1995) ..... 65

Tabela 7.5: CUB do Conteúdo (R$/m²) em 1995 e seu valor atual corrigido pelo IPCA-

E ................................................................................................................................... 66

Tabela 7.6: Porcentagem do Conteúdo Danificado (Adaptado de Salgado, 1995) ...... 66

Tabela 8.1: Vazões Máximas Instantâneas .................................................................. 70

Tabela 8.2: Lâminas Máximas de Alagamento e Área Total Alagada .......................... 75

Tabela 8.3: Lâminas Máximas de Alagamento e Área Total Alagada – Com Mudanças

Climáticas ..................................................................................................................... 82

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1 Introdução

O problema das cheias urbanas, agravado pelo próprio processo de urbanização, é

um dos principais desafios das cidades na atualidade. A expansão urbana

descontrolada não só diminui a permeabilidade do solo, aumentando o escoamento

superficial, como também favorece a ocupação de áreas ribeirinhas, que se

configuram como áreas de risco. Os prejuízos causados pelas cheias urbanas são

inúmeros, interferindo nos setores de transporte, saneamento e saúde pública, por

exemplo.

Como forma de mitigação desse grave problema, a visão tradicional do projeto de

drenagem vem sendo modificada, nas últimas décadas, por uma abordagem integrada

de manejo sustentável das águas pluviais e planejamento do espaço urbano.

Nesse contexto, a requalificação fluvial busca devolver características naturais ao rio,

tentando reverter perdas de oportunidade geradas por consecutivas intervenções

humanas, seja diretamente, como pontes e retificações aplicadas ao curso d’água,

seja indiretamente, pelo impacto da urbanização que modifica padrões de escoamento

na bacia.

Além disso, aparece o conceito de resiliência urbana, que consiste na habilidade de

uma cidade de resistir e/ou se recuperar de acontecimentos não planejados ou

associados a desastres naturais. A construção de cidades mais resilientes às

inundações pode ser feita a partir de técnicas que racionalizam a relação da água com

as edificações e com o espaço urbano. A elevação da resiliência pode, então, ser

alcançada através de projetos urbanos que considerem e respondam aos riscos

ocasionados pelas cheias, minimizando-os.

As mudanças de uso do solo que tem ocorrido ao longo dos anos na cidade de Paraty,

RJ, com ocupações ao longo dos cursos d’água e nas áreas planas a montante da

cidade, contribuíram para o agravamento dos riscos de inundação, principalmente nas

áreas a jusante, no centro da cidade. Este processo afeta diretamente a população e

coloca em risco seu patrimônio histórico, uma das fontes da principal atividade

econômica desenvolvida pelo município, o turismo.

A possibilidade de medir a resiliência a inundações de Paraty, frente a diferentes

cenários de urbanização, oferece um subsídio importante para a definição de projetos

de drenagem urbana mais eficazes e para a tomada de decisão referente à orientação

de futuros Planos Diretores.

A seguir, são apresentados a motivação e os objetivos gerais e específicos do projeto.

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1.1 Motivação

Ao longo dos anos de curso de Engenharia Civil, a autora participou de projetos de

pesquisa no Laboratório de Hidráulica Computacional da COPPE/UFRJ que

forneceram a base necessária para a construção do trabalho apresentado. O primeiro

contato foi com a requalificação fluvial, a partir da discussão de termos e conceitos

utilizados por projetos de manejo de águas pluviais e da compilação de casos

nacionais e internacionais, apresentada na XXXIV Jornada Giulio Massarani de

Iniciação Científica, Tecnológica, Artística e Cultural da Universidade Federal do

Rio de Janeiro em outubro de 2012. O trabalho serviu para análises feitas na tese

de doutorado de Veról (2013) e forneceu elementos para elaboração de dois

artigos apresentados no XXI Simpósio Brasileiro de Recursos Hídricos, em

novembro de 2015 (BATTEMARCO et al., 2015 e VERÓL et al., 2015).

Após intercâmbio acadêmico realizado em Portugal, o retorno ao laboratório

proporcionou o aprendizado da ferramenta de modelagem matemática MODCEL, com

objetivo de propor soluções para o controle de cheias na cidade de Noale, na Itália. Tal

trabalho foi realizado no âmbito do Projeto SERELAREFA - SEmillas REd LAtina

Recuperación Ecosistemas Fluviales y Acuáticos, com a participação de Itália,

Espanha, BRASIL, México e Chile. Os resultados obtidos foram apresentados na

XXXVI Jornada Giulio Massarani de Iniciação Científica, Artística e Cultural da UFRJ

em outubro de 2014.

Em seguida, foram realizadas complementação e atualização do estudo desenvolvido

na dissertação de mestrado de Marins (2013), além de simulação de vários cenários

de urbanização propostos na tese de doutorado de Barbedo (2016) para Paraty, Rio

de Janeiro. O trabalho proporcionou conhecimento dos problemas enfrentados pela

cidade no que diz respeito às inundações, fazendo com que este fosse o estudo de

caso adotado no projeto final.

A temática de minimização dos riscos e da construção de cidades mais resilientes às

inundações surgiu, primeiramente, com o envolvimento de pesquisadores de

Engenharia e de Arquitetura e Urbanismo, através da aplicação do Índice de

Resiliência a Inundações na bacia do rio Joana, Rio de Janeiro. O trabalho foi

apresentado na XXXVII Jornada de Iniciação Científica da UFRJ, em novembro de

2015 e um artigo (TEBALDI et al., 2015) foi apresentado no XXI Simpósio Brasileiro

de Recursos Hídricos, em novembro de 2015.

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Surgiu, então, o interesse em integrar o trabalho de modelagem matemática realizado

para Paraty, com a análise de sua resiliência às inundações através da aplicação do

índice na cidade. Desta forma, seria possível realizar uma avaliação mais ampla no

contexto de cheias urbanas, capaz de fornecer subsídios para processos de tomada

de decisão no planejamento urbano da cidade. Além disso, poderia ser verificada a

eficiência da aplicação do Índice de Resiliência a Inundações considerando-se

padrões atuais e futuros de uso do solo, bem como cenários futuros de Mudanças

Climáticas.

1.2 Objetivos Gerais

Os objetivos gerais deste projeto são:

Visualizar e analisar os efeitos da expansão urbana em Paraty a partir de

mudanças no uso do solo e seus impactos sobre os danos causados por

inundações, através da modelagem matemática;

Propor medidas para controle de cheias, a partir da avaliação diagnóstica;

Avaliar a resiliência da cidade de Paraty a inundações para os diferentes

cenários de urbanização, através da aplicação do Índice de Resiliência a

Inundações (IRES).

1.3 Objetivos Específicos

São objetivos específicos deste projeto:

Realizar o diagnóstico atual das bacias dos rios Mateus Nunes e Perequê Açu,

que atravessam a cidade de Paraty;

Visualizar e analisar os efeitos da expansão urbana a partir de mudanças no

uso do solo;

Fazer proposição de projetos que visem a redução dos impactos causados

pelas cheias;

Avaliar os resultados obtidos com a ferramenta de modelagem matemática

MODCEL (MASCARENHAS E MIGUEZ, 2002; MIGUEZ et al., 2011);

Aplicar o Índice de Resiliência a Inundações – IRES (TEBALDI et al., 2015) à

situação atual e aos cenários de expansão urbana modelados;

Avaliar a resiliência de Paraty através do mapeamento realizado com a

aplicação do IRES.

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2 Revisão Bibliográfica

Neste capítulo, serão discutidos alguns conceitos importantes que nortearam todo o

processo construtivo deste projeto, desde a relação entre água e cidades até o

conceito de resiliência a inundações.

2.1 Água e Cidades: Histórico e Impactos da Urbanização

A relação entre água e cidades ocorre desde o surgimento das primeiras civilizações.

A maioria das primeiras cidades da Antiguidade se desenvolveu em áreas próximas

aos rios, devido à necessidade de água para abastecimento e para irrigação, à

presença de terras férteis favorecendo a agricultura, à possibilidade de utilizar o rio em

rotas comerciais e à proteção conferida pelo rio como barreira natural. Outras, no

entanto, cresceram em locais elevados, priorizando a capacidade de defesa, e em

interseções de rotas comerciais, a partir de mercados estabelecidos nestes pontos

estratégicos. Cidades como Babilônia (posteriormente Bagdá, banhada pelos rios

Tigres e Eufrates), Mênfis (posteriormente Cairo, banhada pelo rio Nilo), Harapa (na

bacia do rio Indu) e Roma (nascida junto ao rio Tibre) são destaques deste período.

(CARNEIRO E MIGUEZ, 2011). A Figura 2.1 ilustra o desenvolvimento nas margens

do rio Nilo.

Figura 2.1: Festival do Nilo - obra de Fréderic Louis Norden em Voyage d’Egypte et de Nibie, 1755

(VERÓL, 2013).

Já no século XIX, com as profundas transformações nas sociedades inseridas pela

Revolução Industrial, o desenvolvimento das cidades se tornou cada vez mais rápido,

com um consequente aumento da população urbana. No Brasil, a urbanização ganhou

intensidade somente a partir da década de 1950, com um crescimento desordenado e

sem planejamento das cidades.

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Este processo histórico de urbanização descontrolada é um dos principais

responsáveis pelos problemas causados pelas inundações urbanas, grande desafio

enfrentado pelas cidades na atualidade.

As cheias dos rios são fenômenos naturais e sazonais, com importante papel

ambiental. No entanto, a ocupação urbana altera características importantes no seu

processo natural, aumentando sua intensidade e frequência e tornando maior o seu

risco associado, no que diz respeito à presença de pessoas, construções e atividades

econômicas.

Como ressaltado por Tucci (1993), enquanto a população de maior poder aquisitivo

tende a habitar os locais mais seguros, a população carente ocupa as áreas de alto

risco de inundação, provocando problemas sociais que se repetem por ocasião de

cada cheia. A falsa segurança transmitida por locais com baixa frequência de

inundações faz com que a população despreze o risco e aumente a densificação nas

áreas inundáveis. As áreas hoje desocupadas devido a inundações sofrem

considerável pressão para serem ocupadas. Com a ocupação da planície de

inundação dos rios urbanos, as águas das cheias procuram novos caminhos, atingindo

regiões não alagadas anteriormente.

Além disso, devido às características do relevo, a ocupação tende a ser de jusante,

regiões mais planas, para montante. Quando não há o controle da urbanização nas

cabeceiras da bacia ou não é ampliada a capacidade de macrodrenagem, a frequência

das cheias aumenta significativamente provocando a desvalorização de propriedades

e prejuízos periódicos. Nesse processo, a população localizada a jusante, sofre as

piores consequências, em razão da ocupação a montante. (TUCCI, 1993).

As inundações urbanas vão desde problemas localizados de microdrenagem,

alagando ruas e afetando pedestres e o tráfego, até a inundação de grande parte da

cidade, quando ambos os sistemas de micro e macrodrenagem falham. Como

apresentado por Carneiro e Miguez (2011), estes problemas podem acarretar

prejuízos materiais aos edifícios e seus conteúdos, danos à infraestrutura urbana, a

necessidade de realocação de pessoas, a proliferação de doenças de veiculação

hídrica, a deterioração da qualidade da água, entre outros.

Pode-se perceber, então, que a urbanização provoca mudanças significativas na

situação natural de equilíbrio das cheias. A substituição da vegetação natural por

áreas impermeabilizadas modifica as parcelas do balanço hídrico da região,

diminuindo a infiltração e aumentando o escoamento superficial, como ilustrado

esquematicamente na Figura 2.2. Além disso, a impermeabilização propicia um

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escoamento superficial com uma velocidade maior do que aquela adquirida no

escoamento que encontrava a vegetação em seu caminho. Pode-se dizer, então, de

forma geral, que o resultado desta modificação tende a aumentar e adiantar o pico de

uma cheia, tendo em vista que mais água fica disponível para escoar, com o aumento

da parcela de escoamento superficial, e que esta água passa a escoar mais

rapidamente, pela diminuição das retenções superficiais e na vegetação, face à

impermeabilização da bacia, conforme apresentado na Figura 2.3. (CARNEIRO E

MIGUEZ, 2011).

Figura 2.2: Alterações no balanço hídrico provocadas pela urbanização (JHA et al., 2012 apud VERÓL,

2013)

Figura 2.3: Efeito da urbanização no hidrograma da bacia (SCHUELER, 1987 apud VERÓL, 2013).

A Tabela 2.1 resume os diferentes impactos da urbanização sobre uma bacia

hidrográfica.

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Tabela 2.1: Impactos da urbanização sobre as inundações (CARNEIRO E MIGUEZ, 2011).

Ação da urbanização Efeitos

Remoção da vegetação natural

Aumento dos volumes de escoamento

superficial e das vazões de pico; maiores

velocidades de escoamento; crescimento

dos processos de erosão e consequente

sedimentação em canais e galerias de

drenagem.

Aumento das taxas de impermeabilização

Aumento dos volumes de escoamento

superficial e das vazões de pico; menos

depressões superficiais, permitindo

menores retenções; menos irregularidade

nas superfícies de escoamento e maiores

velocidades de escoamento.

Construção de redes de drenagem

artificial

Significativo crescimento das velocidades

de escoamento e antecipação do pico

das cheias.

Ocupação de áreas ribeirinhas e

planícies de inundação

População diretamente exposta a

inundações periódicas em áreas naturais

de inundação; ampliação das áreas

alagáveis, com a diminuição do espaço

natural que deveria estar disponível para

o armazenamento temporário e

acomodação das cheias;

Ocupação desordenada de encostas e

favelização

Acréscimo dos volumes superficiais de

escoamento, somados a grande

quantidade de resíduos sólidos e lixo

produzidos pelas encostas ocupadas;

obstrução parcial ou total de dispositivos

de drenagem; degradação da qualidade

da água; população exposta a riscos de

deslizamento.

Disposição de resíduos sólidos e de

águas residuais na rede de drenagem

Degradação da qualidade da água;

degradação do ambiente natural e

construído, proliferação de doenças;

sedimentação na rede de canais e

obstrução das captações de água de

chuva.

Interferências recíprocas entre redes de

infraestrutura: pontes estreitas sobre rios,

tubulações de água cortando galerias,

entre outros, configurando singularidades

locais que restringem o escoamento.

Redução pontual da capacidade de

escoamento dos condutos afetados,

gerando remansos e alagamentos a

montante.

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A partir da Figura 2.4, que mostra a relação entre os diversos processos que ocorrem

com a urbanização, pode-se perceber que esses processos se referem principalmente

ao aproveitamento de recursos hídricos, ao controle de poluição e ao controle de

inundações.

Figura 2.4: Efeitos da urbanização (HALL, 1984 apud MIGUEZ et al., 2016)

2.2 Água e Cidades: Controle de Inundações Urbanas

O controle de inundações urbanas permite à população residente em áreas inundáveis

minimizar suas perdas e conviver harmoniosamente com o rio. As ações, que podem

ser estruturais ou não estruturais, incluem medidas de engenharia e de cunho social,

econômico e administrativo. A combinação ótima dessas ações constitui o

planejamento da proteção contra inundação ou seus efeitos (TUCCI, 1993). Deve-se

ter em mente que não há como controlar totalmente as inundações, pois se tratam de

efeitos de origem natural. Sendo assim; as medidas sempre visam minimizar as suas

consequências.

Segundo Carneiro e Miguez (2011), medidas estruturais são aquelas que visam

introduzir modificações físicas na rede de drenagem e sobre a paisagem urbana da

bacia. Elas atuam sobre os escoamentos gerados, de forma estrutural. Já as medidas

não estruturais, trabalham com educação ambiental, mapeamento de inundação,

planejamento da urbanização e da drenagem para um desenvolvimento de baixo

impacto, sistemas de alerta, construções a prova de inundação, entre outras ações.

Urbanização

Crescimento da densidade populacional

Acréscimo no volume de

águas servidas

Deterioração da qualidade

de águas pluviais

Deterioração dos cursos receptores

Problema de controle de

poluição

Aumento da demanda

hídrica

Problema de abastecimento

Crescimento da densidade

de construções

Aumento da área impermeabilizada

Redução da recarga de aquíferos

Redução da vazão de base

Acréscimo no escoamento superficial

direto

Aumento dos picos das

cheias

Problemas com controle de inundação

Clima urbano se altera

Modificações no sistema de

drenagem

Aumento da velocidade de escoamento

Redução no tempo de

concentração e recessão

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É importante ressaltar que soluções estruturais como ampliação da calha dos rios,

através do seu aprofundamento ou alargamento, ou a construção de reservatórios e

diques, por exemplo, são soluções que podem ser evitadas com o planejamento da

ocupação urbana. Deve-se considerar ainda que algumas dessas soluções estruturais

aceleram o escoamento e podem agravar as inundações em outros pontos da bacia.

(TUCCI, 1993).

A drenagem urbana tradicional, através de obras destinadas a retirar rapidamente as

águas acumuladas em áreas importantes, acaba transferindo o problema para outras

áreas ou para o futuro. Projetos de grandes sistemas de galerias pluviais e ações

destinadas à “melhoria do fluxo” em rios e canais, através de cortes de meandros,

retificações e mudanças de declividade de fundo seguem essa linha de pensamento.

Esta é uma visão que foca no controle do escoamento na própria calha do curso

d’água, dando pequena importância à geração do escoamento nas superfíces

urbanizadas (POMPÊO, 2000).

Além disso, o desenvolvimento das cidades sem controle e planejamento aumenta os

volumes de água a serem captados pela rede de drenagem existente devido ao

aumento das áreas impermeáveis na bacia. Desta forma, se tornam necessários cada

vez mais investimentos visando a adequação da rede de drenagem às novas vazões,

com obras que geram transtornos para a população de uma maneira geral.

Conforme apresentado por Miguez et al. (2016), ao longo das últimas décadas, a

drenagem tradicional vem sendo complementada ou substituída por conceitos que

buscam soluções sistêmicas para a bacia, com intervenções distribuídas, procurando

resgatar padrões de escoamento próximos daqueles anteriores à urbanização. Esta

nova concepção aborda preocupações de manejo sustentável das águas pluviais

urbanas, buscando criar uma relação harmoniosa entre o ambiente natural e o

ambiente construído. Medidas de armazenamento de água e incremento da infiltração

aparecem como alternativas para compensar as principais modificações introduzidas

pela urbanização sobre o ciclo natural da água.

Principalmente em países em desenvolvimento, que sofreram pela urbanização tardia

e sem controle, deve-se buscar o equilíbrio entre o desenvolvimento e crescimento

econômico e a gestão urbana, não apenas com o controle do uso do solo, mas

também a partir do reconhecimento dos limites das bacias hidrográficas, implantando

infraestruturas mais adaptáveis e resilientes, e mitigando os riscos de inundação

presente e futuro (MIGUEZ et al., 2016).

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2.3 Drenagem Urbana Sustentável

Segundo Miguez et al. (2016), tradicionalmente, a drenagem é definida como o

“conjunto de elementos, interligados em um sistema, destinados a recolher as águas

pluviais precipitadas sobre uma determinada região, conduzindo-as, de forma segura,

a um destino final” (Figura 2.5).

Figura 2.5: Conceito Tradicional de Drenagem

A drenagem urbana envolve um conjunto de ações e medidas, cujo objetivo é não

apenas minimizar os riscos a que as comunidades estão sujeitas, mas também

diminuir os diversos prejuízos causados por inundações e participar, de forma

articulada, de um plano integrado para o desenvolvimento urbano, de forma harmônica

e sustentável. (MIGUEZ et al., 2016).

Desenvolvimento Sustentável é definido no Relatório Brundtland (1986), com título

“Nosso Futuro Comum”, como o “desenvolvimento que satisfaz as necessidades do

presente sem comprometer a capacidade das futuras gerações em satisfazer suas

próprias necessidades”.

Desta forma, a perspectiva da sustentabilidade associada à drenagem urbana introduz

uma nova abordagem para as ações, pautada no reconhecimento da complexidade

das relações entre os ecossistemas naturais, o sistema urbano artificial e a sociedade

(POMPÊO, 2000).

A partir dessa abordagem, o problema das inundações urbanas passa a ser avaliado

de forma mais sistêmica. Tratar o problema em sua causa, com atuações distribuídas

sobre a paisagem urbana, para reduzir e retardar picos de cheia, permitindo também a

recarga do lençol freático, a fim de restaurar condições aproximadas do escoamento

natural, se torna uma questão mais importante. Como exemplos de atuação podem

ser citados reservatórios de detenção em lotes, praças, parques ao longo dos rios,

medidas de infiltração, como pavimentos permeáveis, trincheiras, valas, jardins de

chuva, ações de reflorestamento e manutenção de áreas verdes, entre outros. Tais

medidas podem ainda integrar o ambiente urbano de forma harmônica, configurando

áreas de lazer em tempo seco e, assim, assumir características multifuncionais, com o

bônus da melhoria do ambiente em que ela se insere (MIGUEZ et al., 2016). Na Figura

2.6, são apresentados exemplos de paisagens multifuncionais.

Captar Conduzir Descarregar

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(a) (b)

Figura 2.6: Exemplos de paisagens multifuncionais. (a) Reservatório de detenção aliado a técnicas

paisagísticas e uso de lazer em Santiago do Chile. (b) Bacia de Detenção com Fins Esportivos em Porto

Alegre – RS. (http://www.aquafluxus.com.br/paisagens-multifuncionais/)

Com a integração entre os conceitos de drenagem urbana e de desenvolvimento

sustentável, novas maneiras de tratar os problemas de cheias urbanas se

desenvolveram, entre elas os Sistemas de Drenagem Urbana Sustentável ou

simplesmente SUDS (Sustainable Urban Drainage Systems) e as Melhores Práticas

de Gerenciamento ou BMPs (Best Management Practices).

De acordo com Miguez et al. (2016), os projetos de SUDS buscam reduzir os

escoamentos superficiais a partir de estruturas de controle da água pluvial em

pequenas unidades. Desta forma, o controle dos escoamentos superficiais realizado

na fonte diminui a necessidade de grandes estruturas de controle na calha dos rios.

Os principais componentes desse sistema são, entre outros, de acordo com o Manual

de Sistema de Drenagem Urbana Sustentável (2007) publicado pela CIRIA

(Construction Industry Research and Information Association), as valas de infiltração,

as bacias de infiltração, de retenção e de detenção, os pavimentos permeáveis e os

telhados verdes, por exemplo. Alguns desses componentes são apresentados na

Figura 2.7.

(a)

(b)

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(c)

(d)

Figura 2.7: Exemplos de Componentes do SUDS. (a) Vala de Infiltração. (b) Bacia de Retenção, França.

(c) Pavimento Permeável. (d) Telhado Verde – Telhado da Prefeitura de Chicago, Estados Unidos.

(http://www.aquafluxus.com.br)

Segundo Aquafluxus (2015), BMPs são um conjunto planejado de ações

implementadas na bacia, com o objetivo de não só atenuar os impactos da

urbanização, buscando reduzir a quantidade de água lançada no corpo receptor

através da infiltração, como também olhar para a qualidade dessas águas. As BMPs

atuam tanto com medidas estruturais, para oferecer armazenamento temporário e

tratamento de águas pluviais, quanto com medidas não estruturais, com técnicas de

tratamento de escoamento de águas pluviais que usam medidas naturais para reduzir

os níveis de poluição. Exemplos típicos de BMPs incluem dispositivos de detenção ou

retenção, instalações de infiltração e wetlands.

Além dos SUDS e das BMPs, também aparece outro conceito que defende a

sustentabilidade dos projetos de controle de inundações. É o caso do

Desenvolvimento de Baixo Impacto ou LID (Low Impact Development). De acordo com

Coffman et al. (1998), LID são projetos que visam criar uma “paisagem funcional”

capaz de incorporar características de projeto que buscam simular as funções de

infiltração e armazenamento da bacia pré-urbanizada. Desta forma, o problema é

considerado de forma integrada, aliando o resgate às características naturais do ciclo

hidrológico ao incremento de valor à própria cidade.

São práticas do LID, por exemplo, a minimização do uso de áreas impermeáveis para

reduzir impactos, a maximização do tempo de concentração para se aproximar das

condições pré-urbanização, a melhoria da qualidade da água escoada para o corpo

d’água receptor e o controle do escoamento na fonte, impedindo a transferência dos

escoamentos para jusante.

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A partir das discussões apresentadas, pode-se perceber que, com o surgimento de

práticas a fim de promover uma solução que busca recuperar parte do ciclo hidrológico

natural, o conceito de drenagem urbana incorpora também atividades de infiltração,

sempre que possível, e de armazenagem, configurando assim o conceito de drenagem

urbana sustentável (Figura 2.8).

Figura 2.8: Conceito de Drenagem Urbana Sustentável

Outra possibilidade de minimizar as cheias urbanas são as ações de revitalização de

rios. Geralmente, essas ações envolvem soluções para o ambiente construído em si,

criando uma relação com o ambiente fluvial, sem necessariamente buscar melhorias

na qualidade da água ou recuperar características naturais dos rios. Aparece, então,

como uma alternativa possível e abrangente, capaz de beneficiar não somente o

ambiente construído, mas também o fluvial, o conceito de requalificação fluvial,

apresentado e discutido a seguir.

2.4 Requalificação Fluvial

A requalificação fluvial é uma questão que aparece como uma necessidade para

enfrentar a progressiva deterioração dos ecossistemas de rios em todo o mundo. Seu

conceito, de um modo geral, tem origem na percepção de que praticamente todos os

rios sofreram algum tipo de ação do homem, sendo quase impossível encontrar rios

em condições naturais (HOUGH, 2004; RILEY, 1998).

Além disso, como ressaltado por Veról (2013), foi verificado que rios que tiveram

diminuição de diversidade ecossistêmica apresentam algum tipo de degradação ou

desequilíbrio, afetam o ambiente construído e as atividades econômicas do seu

entorno e demandam obras de proteção, quase sempre em volumes crescentes. A

perda de suas características naturais acompanhada da redução da qualidade do

ambiente fluvial acarretam, quase sempre, maiores custos de manutenção e maiores

prejuízos, especialmente com as cheias.

Conforme proposto por CIRF (2006) e apresentado em Battemarco et al. (2015), a

requalificação fluvial trata de um conjunto de ações sinérgicas, que procuram agregar

valor ambiental e ecológico aos rios, abordando quatro elementos principais: risco

Captar

Infiltrar e Armazenar,

quando possível

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hidráulico e controle de cheias, qualidade da água, equilíbrio morfológico e

recuperação dos ecossistemas fluviais (Figura 2.9). É uma prática que busca

recuperar características naturais dos corpos hídricos, procurando satisfazer também

objetivos socioeconômicos e proporcionando, assim, benefícios para uso recreativo ou

lazer, aspectos que agregam valor para a sociedade.

O seu objetivo global é obter um curso d’água mais natural. Desta forma, deve-se em

primeiro lugar não piorar sua situação atual, tentando, em seguida, melhorá-lo, tanto

quanto possível.

Figura 2.9: Conceito da requalificação fluvial. (VERÓL, 2013).

Rios mais naturais demandam menos intervenções e são economicamente mais

viáveis, além de proverem soluções mais sustentáveis, ao longo do tempo, para o

controle de cheias e diminuição do risco hidráulico, por exemplo (VERÓL, 2013).

Assim, seus resultados podem aumentar a quantidade e a qualidade dos recursos

fluviais e seu uso potencial para a população ribeirinha (GONZÁLEZ DEL TÁNAGO e

GARCÍA DE JALÓN, 2007).

A abordagem da requalificação fluvial tem sido utilizada com sucesso em várias

cidades americanas e europeias, por exemplo. No Brasil, cada vez mais cidades

buscam incorporar estas ações, caminhando em direção a um desenvolvimento

urbano mais sustentável. Entretanto, cabe ressaltar que, enquanto a Europa, à luz da

Diretiva Quadro da Água (CE, 2000), pregava a necessidade de recuperar o bom

estado ecológico dos rios, de forma geral, até 2015, tendo introduzido a questão

ambiental de forma significativa nas discussões de requalificação de rios, no Brasil, a

maior parte dos estudos relacionados com o tema passa pelo controle de cheias,

muitas vezes em áreas urbanas, com ações que não necessariamente recuperam o

estado ecológico dos rios. (VERÓL et al., 2015).

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Basicamente, as ações para atuação na requalificação fluvial podem ser estruturais e

não estruturais. Na Tabela 2.2, são apresentados exemplos de ações para cada uma

das tipologias.

Tabela 2.2: Ações para atuação na Requalificação Fluvial. (VERÓL, 2013 adaptado de NARDINI (2011) e

Selles et al.(2001))

Ações estruturais Ações não estruturais

Remoção de elementos de risco

Restauração da vegetação

Melhora do regime hídrico

Melhora da qualidade da água

Facilitar o acesso da população à água e às

margens para efeito de lazer e recreação

Buscar a morfologia mais natural dos rios.

Restabelecer a continuidade dos cursos

d’água para a fauna migratória

Restabelecer locais para a desova e biótipos

aquáticos

Desenvolvimento de cultura fluvial

(conhecimento, sensibilidade,

consciência, valores, know-how)

Educação ambiental participativa

Planejamento e processos decisionais

compartilhados

Normas/Regulamentação

Incentivos/Desincentivos

Informação/Monitoramento

Como exemplos de casos de requalificação fluvial, podem ser citados o Projeto Beira-

Rio, em Piracicaba, SP, o Projeto Iguaçu, Baixada Fluminense, RJ, o Projeto do

Parque do Rio Brenta, Londres, e o Projeto de Restauração do Rio Besòs, Barcelona.

As informações a seguir fizeram parte da compilação de Battemarco (2012), sob

orientação de Veról (2013), apresentada na XXXIV Jornada Giulio Massarani de

Iniciação Científica, Tecnológica, Artística e Cultural da Universidade Federal do

Rio de Janeiro.

O Projeto Beira-Rio buscou melhorar a qualidade da água do rio Piracicaba através de

implantação de coleta seletiva e de infraestrutura de saneamento. Também procurou

preservar o traçado original do rio com implementação da navegação fluvial,

recuperando as suas tradições culturais, além de estabelecer áreas de proteção

ambiental ao redor do cinturão meândrico do rio com a criação de um corredor

biológico, recompondo a vegetação ripária. Outro objetivo do projeto foi rever o

sistema de drenagem das águas pluviais com a implantação de comportas ao longo do

rio para controle das enchentes, o uso de pisos drenantes e a plantação de árvores

nas áreas de estacionamentos.

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O Projeto Iguaçu teve como foco o controle de inundações nas bacias dos rios

Iguaçu/Sarapuí com propostas que contribuíam para a melhoria da qualidade das

águas, como a limpeza dos rios, e para a recuperação das suas características

hidrológicas e morfológicas, com a remoção de singularidades nos canais, o plantio de

mais de 200 mil árvores ao longo das margens dos rios e a implantação de parques

fluviais do tipo Urbano Fluvial. Também procurou estabelecer áreas de proteção

ambiental com a implantação de parques fluviais do tipo Urbano de Preservação

Ambiental e criação e ampliação de APA’s (Figura 2.10). Além disso, buscou evitar a

reincidência de enchentes na época de fortes chuvas com a remoção de moradias em

áreas de risco e reassentamento da população residente nessas áreas, implantação

de parques fluviais do tipo Urbano Inundável e dragagem de trechos assoreados.

Figura 2.10: Área de implantação da APA do Iguaçu (COPPETEC, 2008)

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O Projeto do Parque do Rio Brenta buscou oferecer melhorias para o ambiente natural

e para as pessoas com a remoção das margens de concreto e remeandrização do

canal, antes retificado, ao longo de seu percurso original. Também proporcionou o

retorno da biodiversidade criando lagos e pequenos degraus ao longo de seu curso e

incrementou a capacidade de amortecimento e redução do risco hidráulico, a partir da

implementação do sistema de drenagem urbana sustentável (SUDS). Na Figura 2.11,

são apresentadas imagens do rio após as ações do projeto.

Figura 2.11: Rio Brenta após projeto de requalificação (ENVIRONMENT AGENCY, 2006 apud VERÓL,

2013).

O Projeto de Restauração do rio Besòs propôs a utilização dos 130 metros restantes

do rio para construir um sistema de wetlands (charcos ou pântanos), para tratamento

de esgotos, visando melhorar a qualidade da água do rio, além de plantio da

vegetação ribeirinha como forma de estabilizar as margens. Também buscou gerar um

ambiente propício para o desenvolvimento da fauna e da flora com a adoção de um

canal meandrante e o alargamento do canal, já na região de jusante, com utilização de

grama nas planícies de inundação que permitissem o uso público da região em forma

de um parque urbano. Alguns resultados do projeto são apresentados na Figura 2.12.

(a) (b) (c)

Figura 2.12: (a) Trecho de montante, mais sinuoso, com wetlands já implantadas. (b) Aspecto geral da foz

do Rio Besòs, com vegetação ribeirinha recuperada e retorno dos peixes ao ecossistema; (c) Área do

Parque – Trecho de jusante do Rio Besòs. (MARTÍN-VIDE, 2001 apud VERÓL, 2013)

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2.5 Resiliência a Inundações

Conforme exposto anteriormente, um dos principais desafios das cidades na

atualidade é o problema das cheias urbanas. Cada vez mais se torna mais difundida a

ideia da mitigação de risco em vez da preocupação somente em reduzir os impactos

causados pelas inundações.

O conceito de Risco possui uma variedade de definições, dependendo da área a que

se aplica. Segundo Jha et al. (2012b), risco é a combinação entre a probabilidade de

um evento ocorrer e as suas consequências negativas, ou em outras palavras, a

incerteza de perda ou dano em um dado período de tempo. O risco a desastres é uma

função do perigo, da exposição e da vulnerabilidade.

Muitas vezes, risco é confundido com perigo. Ainda que tenham relação, os termos

possuem significados diferentes. Perigo refere-se à situação que tem potencial para

causar danos e ameaça à existência ou aos interesses de pessoas, propriedades ou

meio ambiente (CETESB, 2003). Conforme ressaltado por Miguez et al. (2016), o

perigo, no caso das inundações, são disparados pelos próprios eventos de chuva

intensa, transformados em vazão pela passagem pela bacia, tomados como referência

e associados a certo tempo de recorrência, ou seja, a certa frequência que, por sua

vez, se traduz em uma possibilidade de ocorrência.

Deve-se ter em mente que a ocorrência de um evento perigoso não necessariamente

gera risco. Só haverá risco se houver danos. Ou seja, se uma região natural não

possuir elementos de valor expostos a possíveis danos, não haverá risco com a

passagem de uma cheia.

Os danos estão associados às consequências que a passagem de uma cheia pode

causar. Essas consequências são entendidas como Exposição, que representa a

presença de bens e pessoas na área afetada, e como Vulnerabilidade, melhor

entendida a partir de dois aspectos.

O primeiro aspecto é a Susceptibilidade, em que a população e os objetos expostos

são danificados durante um evento de cheia. O segundo é o Valor, onde há a

quantificação dos impactos monetários potenciais (TEBALDI et al., 2015).

Na Figura 2.13, é apresentado, de forma esquemática, o conceito de risco e seus

componentes.

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Figura 2.13: Conceito de risco

No sentido contrário à materialização do risco, surge o conceito de Resiliência. De

acordo com Jha et al. (2012b), resiliência é a habilidade de um sistema, comunidade

ou sociedade exposta ao perigo resistir, absorver, acomodar e se recuperar dos

efeitos do perigo a tempo e de forma eficiente, incluindo a preservação e restauração

de suas estruturas básicas essenciais.

Desta forma, projetos urbanos que considerem e respondam aos riscos causados

pelas cheias, capazes de minimizá-los, podem aumentar a resiliência. A construção de

cidades mais resilientes às inundações pode ser feita a partir de técnicas que

racionalizam a relação da água com as edificações e com o espaço urbano, podendo

ser estruturais e não estruturais.

As medidas estruturais vão desde obras de engenharia pesada e estruturas, tais como

defesas contra as cheias e canais de drenagem até as mais naturais e sustentáveis

medidas complementares ou alternativas, tais como zonas úmidas e tampões naturais.

Já as medidas não estruturais podem ser categorizadas em quatro objetivos básicos:

planejamento e gerenciamento de emergência, inclusive alerta e evacuação, maior

preparação através de campanhas de conscientização, planejamento do uso do solo,

que contribui tanto na mitigação quanto na adaptação a inundações urbanas, e

aceleração da recuperação e uso do pós-inundação através da melhoria de projetos

de construção e da própria construção (JHA et al., 2012a).

Risco

Probabilidade: Perigo

Consequência

Vulnerabilidade

Susceptibilidade

Valor

Exposição

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3 Metodologia

A metodologia para a análise das bacias dos rios Perequê Açu e Mateus Nunes, na

cidade de Paraty, RJ, estudo de caso adotado, apresenta as seguintes etapas:

Caracterização da bacia hidrográfica dos rios Perequê Açu e Mateus Nunes, no

Rio de Janeiro;

Modelagem da situação atual, com a utilização da ferramenta de modelagem

matemática MODCEL;

Diagnóstico do comportamento do sistema de macrodrenagem existente, a

partir dos dados fornecidos na modelagem da situação atual pelo MODCEL;

Identificação dos locais críticos;

Simulação da expansão urbana à montante da BR-101, de acordo com Plano

Diretor de Paraty, com o MODCEL;

Análise dos efeitos da expansão urbana à montante da BR-101, a partir dos

dados fornecidos na modelagem do cenário tendencial pelo MODCEL;

Proposição de medidas que visam a redução dos impactos causados pelas

cheias;

Simulação da alternativa de expansão urbana na região do Jabaquara,

localizada à jusante da BR-101, em conjunto com as medidas para o controle

de cheias propostas, conforme apresentado por Barbedo (2016), com o

MODCEL;

Análise dos efeitos da expansão urbana na região do Jabaquara e da resposta

das bacias às medidas propostas, a partir dos dados fornecidos na modelagem

do cenário resiliente pelo MODCEL;

Análise comparativa entre os resultados dos cenários simulados (atual,

tendencial e resiliente) obtidos com o MODCEL;

Obtenção de dados do IBGE sobre características socioeconômicas da

população, no que tange à renda familiar e classe social, e também das

edificações;

Compatibilização entre a divisão de células e a divisão em setores censitários

feita pelo IBGE;

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Análise visual da área construída, para cada cenário simulado, a fim de se

atribuir um peso a cada célula para utilização dos dados fornecidos por setor

censitário pelo Censo 2010;

Estudo a respeito da distribuição da população e de domicílios, bem como

análise da classe social, para o cálculo dos subíndices na situação atual e nos

cenários de expansão urbana modelados;

Aplicação do Índice de Resiliência a Inundações (IRES) à situação atual e aos

cenários de expansão urbana modelados;

Confecção de mapas referentes aos resultados obtidos com a aplicação dos

subíndices e do IRES;

Avaliação comparativa da resiliência de Paraty, através do mapeamento

realizado com a aplicação do IRES, entre os cenários simulados;

Conclusões e recomendações sobre os resultados obtidos no estudo de caso.

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4 Ferramentas Metodológicas

A análise das bacias dos rios Mateus Nunes e Perequê Açu, Paraty/RJ, foi

desenvolvida em duas etapas. A primeira envolveu a modelagem matemática, através

da ferramenta MODCEL, da região de interesse para a simulação de diferentes

cenários de urbanização, com propostas para o controle de cheias, e de padrão de

inundações, com a consideração de efeitos das mudanças climáticas. A segunda

envolveu a avaliação da resiliência a inundações da região frente aos cenários

modelados através da aplicação do Índice de Resiliência a Inundações (IRES) na área

de estudo. O índice conjuga quatro subíndices: Valor Relativo (VR), Perigo (P),

Exposição (E) e Susceptibilidade (S).

As ferramentas utilizadas encontram-se detalhadas nos itens a seguir.

4.1 Modelagem Matemática: MODCEL

O uso de modelos matemáticos cada vez mais se torna fundamental na análise de

cenários de escoamento em uma bacia hidrográfica. A partir deles, é possível

conhecer o comportamento do sistema de drenagem da bacia, avaliar os pontos

críticos que necessitam de intervenções, prever o impacto de uma alteração nos

padrões de urbanização e a resposta de projetos de controle de cheias, dentre outras

inúmeras funções. Desta forma, ajudam a estimar e otimizar custos e a analisar a

viabilidade técnica e econômica, por exemplo, configurando uma importante

ferramenta de planejamento e projeto.

No caso da modelagem de inundações urbanas, é importante que toda a bacia seja

representada de maneira sistêmica, a fim de abranger a variabilidade temporal e

espacial do fenômeno. Desta maneira, é possível simular ações integradas ao longo

da bacia (MIGUEZ E MAGALHÃES, 2010).

Para a modelagem das bacias dos rios Perequê Açu e Mateus Nunes, foi utilizado o

Modelo de Células de Escoamento – MODCEL (MASCARENHAS E MIGUEZ, 2002;

MIGUEZ et al., 2011). O MODCEL é uma ferramenta com vocação para representação

da paisagem urbana, que integra os processos hidrológicos, observados em cada

célula, com um modelo hidrodinâmico, em uma representação espacial que liga o

escoamento de superfície, de canais e o de tubulações. É um modelo Quasi-2D

baseado no conceito de células de escoamento (ZANOBETTI et al, 1970) no qual o

território é representado através de um conjunto de compartimentos que integram toda

a área da bacia, relacionados entre si por leis hidráulicas unidimensionais.

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4.2 Índice de Resiliência a Inundações (IRES)

De acordo com Zonensein (2007), índices são instrumentos que agregam informações

associadas a indicadores de distintas naturezas e significâncias, relacionando-os em

um único valor representativo de uma situação real. Desta forma, é possível realizar

comparações no tempo e no espaço, tornando-se uma ferramenta essencial de

suporte à decisão de projeto. Por outro lado, indicadores apontam um nível ou estado

e são capazes de estimar quantitativamente sua condição (social, econômica, física),

com o objetivo de representar o sistema completo (PRATT et al., 2004).

As propriedades de um índice (domínio, formulação e escala) influenciam fortemente

na escolha dos indicadores (VERÓL, 2013).

Sendo assim, o Índice de Resiliência a Inundações (IRES) é um índice quantitativo

multi-critério que varia de 0 a 1, levando à necessidade de normalização e conversão

a uma escala comum dos seus indicadores. O índice foi assim pensado para que,

mesmo com a possibilidade de tais indicadores terem naturezas e unidade distintas,

possam ser utilizados em comparação de situações complexas, segundo a sua

formulação (TEBALDI et al., 2015).

Sua metodologia se baseia no conceito de minimização do Risco, combinando seus

componentes básicos de perigo e vulnerabilidade, considerados no sentido contrário

de sua materialização. Com isso, o índice conjuga quatro subíndices referentes às

características de inundação, vulnerabilidade, valor relativo e exposição. Sua

formulação está apresentada na equação (1).

(1)

Onde:

IRES - Índice de Resiliência;

- Subíndice “Valor Relativo” variável entre 0 e 1, relativo às perdas da população

local, provocadas pela inundação;

- Subíndice “Perigo” variável entre 0 e 1, relativo à altura de inundação nas

edificações;

- Subíndice “Exposição” variável entre 0 e 1, relativo à densidade de domicílios

expostos às cheias;

- Subíndice “Susceptibilidade” variável entre 0 e 1, relativo às edificações

efetivamente afetadas pelas cheias (casa e térreo de edifícios);

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- Composição que representa as “Perdas Evitadas”, variável entre

0 e 1, relativa ao complemento para 1 do valor obtido com a ponderação dos fatores

exposição, susceptibilidade e valor;

- Pesos associados aos subíndices “Valor Relativo” e “Perdas Evitadas”,

atribuídos em função de sua importância relativa. O somatório dos pesos “ ” deve

resultar 1 ( );

- Pesos associados aos subíndices , , , atribuídos em função de sua

importância relativa. O somatório dos pesos “ ” deve resultar 1 (

).

A seguir, é apresentada a metodologia de cálculo de cada subíndice que compõe o

IRES.

Subíndice Valor Relativo (VR):

O subíndice Valor Relativo relaciona indicadores relativos a características da

inundação e, em geral, os seus prejuízos resultantes para a população de uma região.

Sua metodologia foi baseada em Salgado (1995) e Nagem (2008). Na equação (2), é

apresentada sua formulação, sendo apresentados todos os indicadores de sua

composição nas equações (3) e (4).

(2)

(3)

(4)

Onde:

CRE - Custo de danos à edificação, em função da altura de inundação;

CRC - Custo de danos ao Conteúdo das residências;

R - Renda familiar média;

CUBE - Custo Unitário Básico da Edificação;

PED - Porcentagem da Edificação Danificada, em função da altura de inundação;

CUBC - Custo Unitário Básico do Conteúdo;

PCD - Porcentagem do Conteúdo Danificado, em função da altura de inundação;

IPCA-E- Índice nacional de preços ao consumidor (utilizado para trazer a valores

presentes os cálculos realizados na metodologia original);

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Ar- Área da residência.

Subíndice Perigo (P):

O subíndice Perigo (Equação 5) inclui indicadores também relativos às características

de inundação e se refere ao alagamento de uma determinada área, relacionando a

altura da lâmina d’água resultante de um evento de cheia com uma altura referencial

de lâmina d’água, que considera o padrão de construção do local analisado e uma

lâmina d’água de 0,80m no interior da residência, representativa de dano significativo.

(5)

Onde:

- Altura da lâmina d’água;

- Altura referencial da lâmina d’água.

Subíndice Exposição (E):

O subíndice Exposição é composto por indicadores relativos à exposição da

população aos eventos de inundações. Representa a população potencialmente

exposta a um evento de inundação de uma determinada área e é representado pela

densidade de domicílios (Equação 6).

(6)

Onde:

- Densidade de domicílios;

- Densidade de domicílios de referência, tomada igual à densidade do percentil

75%.

Subíndice Susceptibilidade (S):

O subíndice Susceptibilidade relaciona indicadores relativos às edificações que estão

diretamente susceptíveis aos eventos de cheia, ou seja, casas e pavimentos térreos

de prédios. Sua formulação é apresentada na equação (7).

(7)

Onde:

- Somatório de casas e edifícios;

- Densidade demográfica do total de residências de uma

determinada área.

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5 Estudo de Caso: Paraty, RJ.

O município de Paraty, juntamente com os municípios de Mangaratiba e Angra dos

Reis, pertence à Região da Costa Verde e está localizado na microrregião da Baía da

Ilha Grande, região litorânea sul do estado do Rio de Janeiro, que abrange os

municípios de Paraty e Angra dos Reis.

Os acessos principais ao município ocorrem pelas rodovias Rio-Santos (BR-101), que

atravessa o município no sentido norte-sul, e pela rodovia estadual Paraty-Cunha (RJ-

165), que liga a BR-101, na altura do município de Paraty, ao município de Cunha, no

estado de São Paulo. A Figura 5.1 mostra a localização do município de Paraty e as

principais vias de acesso.

Figura 5.1: Localização do município de Paraty e principais acessos (MARINS, 2013).

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O município de Paraty é composto por cerca de 30 bairros (Figura 5.2), sendo Parque

Mangueira e Ilha das Cobras, segundo Garcia e Dedecca (2012), os mais populosos

da cidade, com cerca de 7 mil e 2 mil habitantes, respectivamente.

Figura 5.2: Bairros do município de Paraty, RJ. Em destaque, os bairros da região a jusante da BR-101

(MARINS, 2013).

Conforme apresentado por Marins (2013), o crescimento populacional em Paraty foi

impulsionado com a abertura da BR-101, desencadeando muitas transformações

econômicas e intensificando as atividades ligadas ao comércio e à prestação de

serviços. A população passou de 9.360, no ano de 1950, para 20.626 habitantes em

1980.

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Segundo estimativas do IBGE para o ano de 2015, Paraty possui uma população de

40.975 habitantes, com uma área municipal total de 925,39 km². A densidade

demográfica atual é de 44 hab/km². O crescimento populacional do município de

Paraty vem sendo expressivo, com uma taxa média de 600 hab/ano, com destaque

para o período compreendido entre os anos de 2007 e 2010, em que a taxa foi de

1.565 hab/ano (MARINS, 2013).

Paraty teve, em 1958, seu núcleo urbano tombado pelo IPHAN como Patrimônio

Histórico e Artístico Nacional e, em 1966, todo o município foi classificado como

Monumento Nacional. Atualmente, pleiteia pelo título de Patrimônio da Humanidade

(NASCIMENTO, 2005). Desta forma, o centro histórico de Paraty se configura como

uma das fontes da principal atividade econômica desenvolvida na cidade, o turismo.

A rede hidrográfica de Paraty é composta por cerca de 15 rios principais, com

destaque para os rios Perequê Açu e Mateus Nunes, como pode ser visto na Figura

5.3.

Figura 5.3: Rede hidrográfica de Paraty (MARINS, 2013).

Ao longo dos anos, esses cursos d'água sofreram modificações tanto por processos

naturais, quanto por intervenções antrópicas, impactando toda a bacia, principalmente

no que diz respeito ao funcionamento da macrodrenagem da cidade.

As bacias dos rios Perequê Açu e Mateus Nunes, apresentadas na Figura 5.4,

possuem área de drenagem de cerca de 113 km² e de 52 km², respectivamente.

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Figura 5.4: Bacias hidrográficas dos rios Perequê Açu e Mateus Nunes

O rio Perequê Açu, principal curso d’água do município de Paraty, nasce no Parque

Nacional da Serra da Bocaina e deságua no mar, junto ao centro histórico da cidade.

Seu formador principal é o rio do Sertão, que nasce na Serra da Bocaina, a 1.400 m

de altitude, e perfaz 10.200 m até o ponto de formação do rio Perequê Açu, localizado

a uma altitude de 160m, percorrendo mais 11.000m até o desague no mar. Dessa

forma, o comprimento total do rio Perequê Açu, desde a cabeceira até a foz é de

21.200 m. Na Figura 5.5, na Figura 5.6 e na Figura 5.7, são apresentados alguns

trechos do rio Perequê Açu ao longo de seu percurso.

Figura 5.5: Trecho superior do rio Perequê Açu (MARINS, 2013)

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Figura 5.6: Visão de montante do rio Perequê Açu a partir da Ponte Velha, localizada entre os bairros

Pontal e Centro Histórico (Acervo Pessoal)

Figura 5.7: Foz do rio Perequê Açu (MARINS, 2013)

O rio Mateus Nunes nasce no Parque Nacional da Serra da Bocaina e deságua no

mar. Dentre os formadores, o principal é o rio do Corisco (Figura 5.8), que nasce a

uma altitude de 1.180 m e percorre 10.500 m até o ponto de confluência com o rio do

Corisquinho, a uma altitude de 10 m. O comprimento do rio Mateus Nunes do ponto de

formação até o deságue junto ao mar é de 6.500 m, configurando um total de 17.000

m da nascente até a foz. A Figura 5.9 apresenta a vista do rio Mateus Nunes a partir

da BR-101.

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Figura 5.8: Curso superior do rio do Corisco (MARINS, 2013)

(a) (b)

Figura 5.9: Vista do rio Mateus Nunes a partir da BR-101 (a) para montante (b) para jusante (MARINS,

2013).

Próximo à foz, o rio Mateus Nunes é caracterizado pela região de mangue, à direita, e

pelo bairro Ilha das Cobras, à esquerda, conforme ilustrado na Figura 5.10.

Figura 5.10: Rio Mateus Nunes com área de mangue à direita e o bairro Ilha das Cobras à esquerda

(MARINS, 2013).

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Com relação ao uso e ocupação do solo nas bacias, há o predomínio de florestas em

estágio médio/avançado de sucessão, representando cerca de 75% da bacia do rio

Perequê Açu e de 50% da bacia do rio Mateus Nunes. As duas bacias apresentam

percentuais semelhantes de afloramentos rochosos, áreas agrícolas, gramíneas e

áreas arborizadas. A área edificada da bacia do rio Mateus Nunes é em torno de 3%,

enquanto a da bacia do rio Perequê-Açu é de cerca de 2%. A área urbana em ambas

as bacias estudadas possuem um percentual muito inferior quando comparado aos

demais usos (MARINS, 2013).

O município de Paraty é uma localidade que enfrenta problemas decorrentes da falta

de planejamento urbano, da ineficiência dos sistemas de drenagem, da degradação

dos rios e das alterações de uso e cobertura do solo.

Como forma de proteger a população de doenças, como a cólera e a febre amarela,

por exemplo, algumas medidas foram previstas no projeto de construção da cidade. As

ruas foram feitas a 50 cm acima do nível do mar, com uma inclinação para uma calha

central e caimento em direção ao mar, facilitando o escoamento das águas de chuva e

a entrada das marés mais altas. Por esse motivo, as casas foram construídas cerca de

30 cm acima do nível da rua (IHAP, 2012). Desta maneira, a entrada do mar pelas

ruas era uma forma natural de manter a limpeza da cidade. Na Figura 5.11, é possível

observar as ruas projetadas para permitir o escoamento natural e o nível das

construções com relação à rua.

(a) (b)

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(c) (d)

Figura 5.11: Centro Histórico de Paraty – (a) e (b) Ruas projetadas para funcionarem como canais

(MARINS, 2013); (c) Idem; (d) Nível das construções com relação ao nível da rua (Acervo Pessoal).

Devido a esse histórico da cidade, a inundação das ruas de Paraty é motivo de

admiração por parte dos turistas, até os dias de hoje. No entanto, os alagamentos

causam uma série de transtornos aos moradores da região. O trânsito de pedestres

pelas ruas fica comprometido, fazendo com que seja necessário buscar caminhos

alternativos ou aguardar a maré baixar. É importante lembrar que a inundação

provocada pela maré alta não ocorre somente no Centro Histórico. Outras áreas da

cidade também são afetadas, sendo esses alagamentos encarados como um

inconveniente.

Além de sofrer influência direta dos eventos de maré alta, a cidade sofre com

transbordamentos por parte dos rios Perequê Açu e Mateus Nunes. Os maiores riscos

de inundação estão associados à ocorrência de eventos extremos de chuvas em

concomitância com os eventos de maré alta, relativos às marés de sizígia, e por

ventos vindos do mar em direção ao continente (MARINS, 2013).

Nos últimos anos, as inundações têm ocorrido com maior magnitude e frequência em

Paraty. Seus impactos causam prejuízos ao Patrimônio Histórico, comprometendo as

atividades turísticas e o comércio da região, além de trazer transtornos para os

moradores.

Segundo informações para a confecção do Mapa de Ameaças do Estado do Rio de

Janeiro de 2015, divulgado pela Defesa Civil em 2016, as inundações se configuram

como o primeiro lugar na hierarquização de ameaças do município, repetindo a

colocação de 2014. O processo de hierarquização contou com a participação da

sociedade civil e da Defesa Civil de Paraty, indicando a relevância dos impactos para

o município e para a população.

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Nesse contexto, o evento ocorrido entre os dias 09 e 10 de janeiro de 2009 merece

destaque. Na madrugada do dia 10, uma tromba d'água atingiu a região serrana de

Paraty, elevando o nível d'água no rio Perequê-Açu em até 8 metros, segundo

ESTADÃO (2009), deixando casas destruídas e pessoas desalojadas em doze bairros

(MARINS, 2013). A Figura 5.12 apresenta os impactos causados pelo evento.

(a)

(b) (c)

Figura 5.12: Evento de cheia ocorrido em 2009. (a) Impactos das enchentes no trecho próximo à foz, na

Ponte Velha; (b) Alagamento na Rua da Lapa, Centro Histórico; (c) Marca d’água na residência às

margens do rio Perequê Açu – vista de jusante para montante (MARINS, 2013).

Em novembro de 2010, foi publicado o Plano Diretor Municipal de Paraty, produto da

revisão do Plano Diretor de 2006. O Plano apresenta uma visão mais geral do

planejamento no município de Paraty, não sendo identificadas sugestões acerca da

preservação dos cursos d’água e da drenagem urbana na região.

Deve-se ressaltar que as diretrizes para a expansão urbana nas áreas a montante,

sem definição dos padrões urbanísticos, poderão acarretar no agravamento das

inundações nas regiões localizadas a jusante, já que reduzem a capacidade de

retenção das cheias nas áreas de preservação natural.

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6 Modelagem Matemática - MODCEL

Neste capítulo, será apresentado o processo de modelagem matemática das bacias

dos rios Perequê Açu e Mateus Nunes, desde a divisão em células utilizada até a

definição dos cenários de modelagem.

6.1 Divisão de Células

A divisão em células da região de interesse foi realizada segundo suas características

topográficas e urbanas, com base no Sistema de Informação Geográfica do Município

de Paraty e em outras bases de dados disponíveis, tais como cartas topográficas,

fotografias aéreas, imagens de satélite e visitas de campo. A representação das

bacias hidrográficas modeladas compreendeu 569 células referentes às áreas de

planície, 120 referentes aos rios e canais que compõem as bacias e 72 referentes às

áreas de encosta. A divisão em células é apresentada na Figura 6.1, de forma

completa, e na Figura 6.2, de forma detalhada a região de interesse.

Figura 6.1: Divisão de células utilizada na modelagem

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Figura 6.2: Visão detalhada da divisão de células na região de interesse

Após a divisão de células, foi realizada a construção da topologia do modelo, matriz

representativa da rede de células que o compõem. Em seguida, prossegiu-se para o

levantamento dos dados necessários para caracterizar cada célula, sendo eles: a

respectiva área de contribuição e de armazenagem, a cota do terreno, o coeficiente de

runoff, o número e os tipos de ligação com as células vizinhas, a distância entre os

centros das células e os demais parâmetros específicos de cada tipo de ligação entre

as células, como por exemplo, coeficiente de Manning, largura de ligação e cota do

vertedouro.

6.2 Estudos Hidrológicos

A caracterização do regime hidrológico das bacias dos rios Perequê Açu e Mateus

Nunes foi realizada a partir dos dados obtidos em Marins (2013).

Com base nas precipitações máximas diárias do posto pluviométrico de Paraty e nos

coeficientes obtidos pelas relações entre as precipitações de diferentes durações, para

o posto pluviográfico de Ubatuba, foram obtidos os valores de lâmina precipitada para

o município de Paraty. A relação Precipitação-Duração-Frequência (PDF) é

apresentada na Tabela 6.1.

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Tabela 6.1: Relações PDF estimadas para o Posto Paraty (MARINS, 2013)

Duração

(min)

Precipitação (mm)

TR5 TR10 TR25 TR50

5 10,0 12,3 15,1 17,2

15 25,5 31,2 38,4 43,8

30 38,4 47,0 57,9 65,9

60 54,6 66,8 82,2 93,7

120 72,0 88,1 108,4 123,6

240 91,1 111,5 137,3 156,4

360 102,0 124,8 153,7 175,1

480 110,8 135,6 167,0 190,3

840 127,6 156,2 192,3 219,1

1440 145,6 178,2 219,5 250,0

O tempo de concentração das bacias dos rios Perequê Açu e Mateus Nunes foi

calculado segundo a metodologia de George Ribeiro, que leva em consideração as

características físicas da bacia, como comprimento e declividade do rio principal, bem

como as condições de uso e cobertura do solo. As informações básicas para o cálculo

do tempo de concentração e os resultados obtidos encontram-se na Tabela 6.2.

Tabela 6.2: Tempos de Concentração – Bacias dos Rios Perequê Açu e Mateus Nunes (MARINS,2013)

Rio Comprimento

L (km)

Declividade

S (m/m)

Vegetação

(%)

Tempo de

Concentração

tc (min)

Perequê Açu 22,67 0,04186 95 398,37

Mateus Nunes 16,88 0,07003 94 290,15

O tempo de concentração é utilizado como base na definição do tempo de duração da

chuva de projeto. É importante que a duração seja, no mínimo, igual ao tc, garantindo,

assim, que toda a bacia contribua para o exutório.

A chuva de projeto foi determinada a partir dos dados da Tabela 6.1 para os tempos

de recorrência iguais a 25 e 50 anos.

O tempo de recorrência de 25 anos é a referência do Ministério das Cidades para

projetos de macrodrenagem. Já o tempo de recorrência de 50 anos foi utilizado para

verificação a fim de testar o limite de falha do projeto.

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Considerando uma chuva de projeto com duração igual a 420 minutos e total

precipitado igual a 162,3 mm para o TR de 25 anos e igual a 184,9 mm para o TR50

anos, foi feita a distribuição temporal de hora em hora segundo o Método dos Blocos

Alternados. Na Figura 6.3 e na Figura 6.4, são apresentados os hietogramas de

projeto para os tempos de recorrência de 25 e de 50 anos, respectivamente.

Figura 6.3: Hietrograma de Projeto – TR25

Figura 6.4: Hietograma de Projeto – TR50

0.0

20.0

40.0

60.0

80.0

100.0

1 2 3 4 5 6 7

Pre

cip

itaç

ão (

mm

)

Tempo (h)

TR25

0.0

20.0

40.0

60.0

80.0

100.0

1 2 3 4 5 6 7

Pre

cip

itaç

ão (

mm

)

Tempo (h)

TR50

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6.3 Condições de Contorno

Considerando que o município de Paraty está localizado na zona costeira do estado

do Rio de Janeiro e, portanto, sofre influências da maré, foi necessário analisar as

oscilações do nível do mar na foz dos rios Perequê Açu e Mateus Nunes, configurando

a única condição de contorno do Modelo de Células.

O maregrama utilizado foi determinado por Marins (2013) através do Sistema Base de

Hidrodinâmica Ambiental – SisBaHiA (ROSMAN, 2011), sendo consideradas as

variações no nível do mar causadas apenas pela maré astronômica, desconsiderando

a influência das marés meteorológicas, com base nas constantes harmônicas da

estação Parati, localizada na Ponte de Atração da cidade. O maregrama utilizado na

modelagem é apresentado na Figura 6.5.

Figura 6.5: Maregrama utilizado na modelagem do município de Paraty, RJ (MARINS, 2013).

6.4 Cenários de Simulação

Para a análise dos efeitos da expansão urbana e da proposição de medidas para o

controle de cheias em Paraty, foram propostos dois cenários, além da modelagem da

Situação Atual: Cenário Tendencial e Cenário Resiliente, detalhados a seguir. Os

cenários foram desenvolvidos com base nas proposições realizadas por Barbedo

(2016).

Calibração

O processo de calibração envolveu a comparação entre as vazões máximas

instantâneas obtidas no processo de modelagem e as vazões de referência calculadas

por Marins (2013) a partir das informações da estação fluviométrica de Paraty (Tabela

6.3), além de marcas de inundação mapeadas através de relatos de moradores.

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Tabela 6.3: Vazões máximas instantâneas – Rio Perequê Açu na Estação de Paraty

TR (anos) Vazões Máximas Instantâneas (m³/s)

25 151,5

50 172,9

Situação Atual

A modelagem da situação atual tem como objetivo realizar um diagnóstico do

funcionamento das bacias dos rios Perequê Açu e Mateus Nunes, com a identificação,

quantificação e mapeamento das áreas sujeitas a alagamentos.

Este cenário foi utilizado como base para os cenários de urbanização simulados e

apresentados a seguir.

Cenário Tendencial

O Cenário Tendencial prevê a continuação da atual tendência de urbanização na

planície a montante da rodovia Rio-Santos (BR-101), como é preconizado pelo Plano

Diretor de 2010. Este cenário assume a expansão urbana de toda a área definida pelo

Plano Diretor (não aprovado), com a finalidade de mostrar os impactos da atual

tendência de expansão urbana se a ocupação não for controlada e nenhuma ação

sistêmica for definida. A região de interesse neste cenário é apresentada na Figura

6.6.

Figura 6.6: Região de interesse no Cenário Tendencial – Células Modificadas

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Para a modelagem do Cenário Tendencial, foram feitas as seguintes alterações nas

células em destaque na Figura 6.6, com relação à Situação Atual:

Consideração de aterro de 1 m;

Aumento do runoff;

Diminuição do Manning nas ligações;

Diminuição da largura das ligações, considerando que o caminho preferencial

do escoamento passa a ser pelas ruas.

Cenário Resiliente

O Cenário Resiliente direciona o crescimento urbano para os espaços abertos a

jusante da BR-101, com maior incidência no Bairro de Jabaquara. Essa alternativa

preferencialmente busca adensar a área de jusante, já ocupada. Além disso, são

propostas medidas de conservação ambiental das áreas a montante da BR-101,

permitindo ainda, porém, a ocupação de parte da bacia.

Este cenário enfatiza as medidas de requalificação fluvial, bem como restrições à

ocupação de áreas a montante da BR-101, a fim de não intensificar e buscando

minimizar os danos causados pelas inundações, principalmente no Centro Histórico da

cidade e seu entorno.

As propostas do Cenário Resiliente envolvem:

Definição de taxas de ocupação mais elevadas na área do Jabaquara e outros

espaços remanescentes junto à área urbana consolidada, que têm a drenagem

para o mar facilitada, sem incorrer em acréscimos de vazões para o centro

histórico;

Preservação das áreas a montante como área de infiltração fluvial e

amortecimento de cheias, transferindo o seu potencial construtivo para a área

de Jabaquara;

Introdução de novos canais complementares da rede hídrica existente a

jusante da BR-101, visando reconectar o sistema hídrico, recuperando assim

suas propriedades naturais de flexibilidade, valorizando a presença destes

elementos na paisagem local;

Dragagem do Canal do Jabaquara, do rio Perequê Açu e do rio Matheus

Nunes, nos trechos a jusante da rodovia BR-101, para a remoção dos

sedimentos em excesso observados na situação atual, visando recuperar as

condições de escoamento e características de seção transversal anteriores aos

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processos de assoreamento por desmatamento a montante ou pela retificação

de cursos d’água;

Abertura de novos canais ligando as duas bacias hidrográficas, permitindo

reconectar os rios Perequê Açu e Mateus Nunes, de forma a que estes voltem

a compartilhar parte da planície de inundação, aliviando os riscos de inundação

quando esta incide sobre uma das bacias separadamente, como tem sido

verificado em eventos de cheia registrados anteriormente;

Criação de áreas de armazenamento temporário a montante da BR-101, pela

margem esquerda do rio Perequê Açu, aproveitando a oportunidade gerada

pelo aterro da estrada, que oferece condições de retenção da água desviada

por um novo braço do rio Perequê Açu para a área de Jabaquara;

Recuperação da conexão do rio Mateus Nunes com suas planícies de

inundação, de forma a garantir um amortecimento das suas vazões e permitir

que as vazões do rio Perequê Açu que aportarão ao seu leito não gerem

extravasamentos de calha. Para obter esse efeito, como o fundo do rio Mateus

Nunes sofreu erosão e está distante da cota de vertimento pelas suas margens

a solução mais indicada, embora artificial, seria a introdução de soleiras

submersas no curso do Mateus Nunes, para forçar a subida do fundo por

assoreamento nestes locais, recuperando em parte a declividade mais suave

original e permitindo o extravasamento para as planícies de inundação. Nessa

configuração, as áreas da margem esquerda do Matheus Nunes deveriam ser

convertidas em parques, com conceito de paisagem multifuncional, para

recomposição de mata ciliar, amortecimento de cheias, área de lazer, aumento

de biodiversidade e melhoria ambiental;

Ocupação de forma seletiva e controlada de áreas a montante da BR-101,

preferencialmente nas planícies mais altas do rio Perequê Açu, onde já se

encontram vetores de expansão, de forma a conciliar o desenvolvimento

urbano com os interesses dos stakeholders, mas garantindo o respeito à

capacidade de suporte da bacia;

Definição de cotas de segurança para a implantação de edificações na área do

Condado, margem esquerda do rio Perequê Açu, onde um novo loteamento

também já se coloca em área de risco, mas que não permite diques, uma vez

que a drenagem interna não teria saída, a não ser por comportas tipo flap ou

por bombeamento;

Criação do canal do aeroporto, como medida extra;

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Introdução de diques de proteção, seletivamente, em parte da margem direita

do rio Perequê Açu, onde novos loteamentos, já implantados sem uma visão

sistêmica, colocaram seus proprietários em risco de inundação. Nestes casos,

a drenagem interna destes lotes deve ser dirigida aos parques marginais do rio

Mateus Nunes.

As medidas propostas no Cenário Resiliente são apresentadas de maneira

espacializada na Figura 6.7.

Figura 6.7: Espacialização do Cenário Resiliente (BARBEDO, 2016).

No processo de modelagem do Cenário Resiliente, foram consideradas as seguintes

modificações na Situação Atual:

Alterações no Jabaquara:

1) Consideração de aterro em todas as células com cota inferior a 1,50m, na

região do Jabaquara;

2) Aumento do runoff na área, calculado de forma ponderada de acordo com a

ocupação proposta;

3) Diminuição do Manning nas ligações;

4) Diminuição da largura das ligações, considerando que o caminho preferencial

do escoamento passa a ser pelas ruas;

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5) Transformação de algumas células de planície em células de canal para

representar a rede de canais proposta, com consequente alteração do tipo de

ligação dessas células, pois passam a ligar com suas margens por vertedouro.

Dragagem:

1) Diminuição da cota de fundo das células do Canal do Jabaquara e dos rios

Mateus Nunes e Perequê Açu, desde a BR-101 até sua foz, além dos canais

existentes na região do Jabaquara;

2) Diminuição do Manning das ligações em algumas seções do rio, devido à

dragagem;

3) Aumento da largura de saída do canal do Jabaquara para o mar;

4) Aumento da largura dos canais existentes na região do Jabaquara.

Ligação das bacias dos rios Perequê Açu e Mateus Nunes:

1) Criação de células para representar o canal de ligação entre as bacias;

2) Ligação entre o canal de ligação e os rios Perequê Açu e Mateus Nunes do tipo

vertedouro. O rio Perequê Açu passa a alimentá-lo a partir do momento em que

atinge a cota 1,0m;

3) Representação de um dique ao longo do canal de ligação em sua margem

direita, na área do parque proposto, com cota igual a 4,50m.

Parque Mateus Nunes:

1) Criação de células para representar os novos lagos e canais do parque

proposto;

2) Representação de um dique associado à soleira mais a montante, em uma

área do parque, com cota igual a 4,80m.

Parque Perequê Açu pela Margem Esquerda da BR-101:

1) Desvio do rio Perequê Açu para o parque feito através de canais de 12m de

largura com declividade de fundo semelhante à declividade do rio;

2) Inclusão de três lagos, com amortecimento da vazão desviada, que servem

para alimentar dois dos canais propostos (através de um orifício circular de 1m

de diâmetro cada) e o canal já existente na região (através de dois orifícios

celulares de 1,20m de lado cada).

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Soleiras:

1) Proposição de duas soleiras no rio Mateus Nunes: uma com 2,50m, mais a

jusante, e outra com 3,50m, mais a montante, de cota de vertimento.

Ocupação controlada a montante da BR-101:

1) Consideração de aterro de 1,0m na área de ocupação proposta;

2) Aumento do runoff, calculado de forma ponderada de acordo com a ocupação

proposta;

3) Diminuição do Manning das ligações;

4) Diminuição da largura das ligações, considerando que o caminho preferencial

do escoamento passa a ser pelas ruas.

Cota de Segurança do Condado: 5,70m.

Canal do Aeroporto:

1) Transformação das células de planície na região em células de reservatório.

Dique de 1,50m no trecho mais a montante e de 1,30m no trecho restante em

parte da margem direita do Perequê Açu.

A localização das soleiras no rio Mateus Nunes, bem como dos diques propostos, é

apresentada na Figura 6.8.

Figura 6.8: Localização das soleiras e dos diques propostos no Cenário Resiliente

+1,50m +1,30m

2,50m

3,50m

+4,50m

+4,80m

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Cenários Extras: Mudanças Climáticas

Como complementação, foram considerados efeitos das mudanças climáticas nos dois

cenários de urbanização simulados, com elevação do nível médio do mar em 15 cm

para o ano de 2035 e aumento na precipitação em 10%, para os TRs de 25 e 50 anos.

As alterações realizadas possuem como base o relatório de Rosman (2015) para o

ano de 2100, considerando a estimativa do IPCC de elevação de 18 a 79 cm do nível

do mar. Segundo este relatório, estudos mostram que nas últimas décadas o nível

médio do mar tem elevado de 4 a 6 mm por ano.

Este relatório considera cenários de mudanças climáticas com elevações do nível do

mar de 10 cm relativas a um cenário provável em 2040, supondo uma elevação do

nível médio do mar de 4 mm/ano, cenário NNM1, e de 15 cm relativa a um cenário

pessimista supondo uma elevação do nível médio do mar de 6 mm/ano, cenário NNM2

(BARBEDO, 2016).

Foi considerado um horizonte temporal até 2035, limite razoável de planejamento de

aproximadamente 20 anos, e assumido o cenário NNM2 previsto no relatório como

referência.

Os hietogramas de projeto para TR25 e TR50 anos, bem como a condição de

contorno, utilizados na consideração dos efeitos das mudanças climáticas são

apresentados na Figura 6.9, na Figura 6.10 e na Figura 6.11, respectivamente.

Figura 6.9: Hietograma de projeto – TR25 – Mudanças climáticas

0.00

10.00

20.00

30.00

40.00

50.00

60.00

1 2 3 4 5 6 7

Pre

cip

itaç

ão (

mm

)

Tempo (h)

TR25 - Mudanças Climáticas

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Figura 6.10: Hietograma de projeto – TR50 – Mudanças climáticas

Figura 6.11: Maregrama utilizado como condição de contorno – Mudanças climáticas

0.00

10.00

20.00

30.00

40.00

50.00

60.00

70.00

1 2 3 4 5 6 7

Pre

cip

itaç

ão (

mm

)

Tempo (h)

TR50 - Mudanças Climáticas

0

0.1

0.2

0.3

0.4

0.5

0.6

0.7

0.8

0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800

Nív

el (

m)

Tempo (min)

Condição de Contorno - Mudanças Climáticas

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7 Aplicação do IRES

Neste capítulo, é apresentado o processo de aplicação do Índice de Resiliência a

Inundações aos cenários modelados, por subíndice calculado.

Inicialmente, foi necessário compatibilizar as células utilizadas na modelagem,

conforme apresentado no capítulo anterior, com os setores censitários do IBGE

(Figura 7.1).

Figura 7.1: Compatibilização entre células utilizadas na modelagem e setores censitários do IBGE

Como os setores censitários na cidade de Paraty abrangem uma grande área não

ocupada, a fim de realizar uma representação mais próxima da realidade, foi feita uma

análise visual da área construída a partir de ortofotos do Inea de 2005/2006 e imagens

do Google Earth para a Situação Atual, apresentada na Figura 7.2. Posteriormente, as

áreas construídas foram atualizadas para o Cenário Tendencial (Figura 7.3) e para o

Cenário Resiliente (Figura 7.4).

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Figura 7.2: Área Construída na Situação Atual

Figura 7.3: Área Construída no Cenário Tendencial

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Figura 7.4: Área Construída no Cenário Resiliente

De posse dos valores de área construída, atribuiu-se a cada célula um peso para a

utilização dos dados do Censo 2010 do IBGE acerca dos domicílios e da população.

Este peso foi calculado dividindo-se a área construída da célula em questão pela soma

de áreas construídas do setor censitário a que ela pertence.

Para a avaliação do Cenário Tendencial, analisou-se da projeção da população para o

ano de 2035, conforme estimativa de crescimento populacional realizada por Barbedo

(2016). A área de interesse corresponde às macrozonas MA3, região a jusante da BR-

101, e MA2, região a montante da BR-101. De acordo com Barbedo (2016), a taxa de

crescimento ao ano para a macrozona MA3 é de 1,49% e para a macrozona MA2 é de

5,70%, correspondendo a um crescimento total de 37% e de 143% de 2010, dados do

censo do IBGE, até 2035, horizonte de planejamento do Plano Diretor,

respectivamente.

Para o Cenário Resiliente, considerou-se não só a taxa de crescimento utilizada para o

Cenário Tendencial como também o padrão de urbanização proposto por Barbedo

(2016), com a definição dos coeficientes de aproveitamento do terreno e das tipologias

(Tabela 7.1).

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Tabela 7.1: Características do Padrão de Urbanização – Cenário Resiliente

Coeficiente de

Aproveitamento

do Terreno

Gabarito

Máximo

Áreas por Tipologia Adotada

(m²)

Baixa Densidade 0,70 1 Habitação Familiar 110

Média Densidade 1,30 2 Habitação Popular 75

Alta Densidade - I 1,50 3 Habitação de

Interesse Social 60

Alta Densidade - II 4,50 6

7.1 Subíndice Valor Relativo

Para o cálculo do Custo de Danos à Edificação (CRE), primeiramente foi necessária a

classificação da população quanto à classe social a partir da renda familiar média, feita

com base nos dados da ABEP (2016).

A fim de se aproximar da realidade do estado do Rio de Janeiro, visto que os valores

são para o país, foi realizada uma ponderação a partir da diferença entre as faixas de

renda familiar por classe social. Os valores que auxiliaram a classificação econômica

da população foram calculados a partir da soma do valor de referência da ABEP

(2016) com a metade da diferença entre as faixas. Na Tabela 7.2, são apresentados

os valores de referência, a ponderação e a renda limite média obtida.

Tabela 7.2: Cálculo da renda

ABEP, 2016 (R$/família) Ponderação Renda limite

média (R$/família)

A 20888,00 Diferença entre

as faixas

Metade da

diferença

B1 9254,00 11634,00 5817,00 15071,00

B2 4852,00 4402,00 2201,00 7053,00

C1 2705,00 2147,00 1073,50 3778,50

C2 1625,00 1080,00 540,00 2165,00

DE 768,00 857,00 428,50 1196,50

Os dados acerca do Custo Unitário Básico das Edificações foram obtidos em

SINDUSCON-RIO (2016) e as áreas reais das residências a partir de sua classificação

em Residência Popular, associada a famílias de classes sociais D e E, Residência

Padrão Baixo, associada a famílias de classe social C, Residência Padrão Normal,

associada a famílias de classe social B, e Residência Padrão Alto, associada a

famílias de classe A, obtidas em ABNT (2006). Os dados são apresentados na Tabela

7.3.

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Tabela 7.3: Áreas reais (m²) e CUB (R$/m²)

Classificação econômica

(Baseado em ABEP, 2016) Áreas (ABNT, 2006)

SINDUSCON-RIO

(2016)

Grupo Renda familiar

(R$)

Tipo de residência

Unifamiliar

Área real

(m²)

CUB Valor

R$/m² Código

E < 1196,50 Residência Popular 39,56 1473,28 RP1Q

D

C Entre 1196,50 e

3778,50

Residência Padrão

Baixo 58,64 1422,10 R1-B

B Entre 3778,50 e

15071,00

Residência Padrão

Normal 106,44 1688,99 R1-N

A > 15071,00 Residência Padrão

Alto 224,82 2056,21 R1-A

Para o cálculo da Porcentagem da Edificação Danificada (PED), foram utilizados como

referência os dados apresentados na Tabela 7.4, adaptados de Salgado (1995). Com

a média entre os valores de porcentagem para cada altura de inundação, foi feita uma

interpolação polinomial e obtida uma equação (Figura 7.5), utilizada para o cálculo da

PED para cada altura de inundação obtida no processo de modelagem.

Tabela 7.4: Porcentagem da Edificação Danificada (Adaptado de Salgado, 1995)

Código Classes Altura de inundação (m)

0 0,25 0,50 0,75 1,00 1,25 1,50 1,75 2,00 2,50 3,00

R1-A A1. A2 0 0,09 0,16 0,17 0,17 0,19 0,19 0,20 0,21 0,22 0,24

R1-N B1. B2 0 0,06 0,13 0,14 0,15 0,16 0,17 0,18 0,19 0,20 0,23

R1-B C. D 0 0,04 0,13 0,14 0,14 0,16 0,17 0,18 0,18 0,19 0,22

RP1Q E -

Média 0 0,06 0,14 0,15 0,15 0,17 0,18 0,19 0,19 0,20 0,23

Figura 7.5: Porcentagem da Edificação Danificada (PED)

y = 0.0076x5 - 0.0694x4 + 0.2511x3 - 0.4494x2 + 0.4257x - 0.0042 R² = 0.9852

0

0.05

0.1

0.15

0.2

0.25

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 Po

rce

nta

gem

da

Edif

icaç

ão D

anif

icad

a

Altura de Inundação (m)

Porcentagem da Edificação Danificada (PED)

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O Custo de Danos ao Conteúdo das Residências (CRC) foi obtido, primeiramente,

calculando-se o Custo Unitário do Conteúdo a partir de ajuste dos valores citados por

Salgado (1995). Como os valores são antigos, tornou-se necessário fazer uma

correção monetária para o ano atual através do Índice de Preços ao Consumidor

Amplo-Especial (IPCA-E). As áreas utilizadas foram as descritas em ABNT (2006),

conforme citado anteriormente. Os resultados são apresentados na Tabela 7.5.

Tabela 7.5: CUB do Conteúdo (R$/m²) em 1995 e seu valor atual corrigido pelo IPCA-E

Classe

social

Área Real

(m²)

CUB 1995

(R$/m²) IPCA-E

VALOR ATUAL

(R$/m²)

A 224,82 71,86 4,402326 316,34

B 106,44 62,99 4,402368 277,29

C 58,64 36,30 4,402166 159,80

Em seguida, para o cálculo da Porcentagem do Conteúdo Danificado (PCD), foram

utilizados como referência os dados apresentados na Tabela 7.6, adaptados de

Salgado (1995). Com a média entre os valores de porcentagem para cada altura de

inundação, foi feita uma interpolação polinomial e obtida uma equação (Figura 7.6),

utilizada para o cálculo da PCD para cada altura de inundação obtida no processo de

modelagem.

Tabela 7.6: Porcentagem do Conteúdo Danificado (Adaptado de Salgado, 1995)

Padrão de

Acabamento

Altura de Inundação (m)

0,20 0,45 0,70 0,95 1,20 1,45 1,70 1,95 2,20 2,70 3,20

A 0 0,28 0,36 0,38 0,61 0,62 0,65 0,69 0,74 0,75 0,77

B 0 0,31 0,39 0,39 0,57 0,57 0,61 0,65 0,73 0,73 0,74

C 0 0,39 0,50 0,50 0,70 0,71 0,73 0,81 0,81 0,81 0,82

Média 0 0,33 0,42 0,42 0,63 0,63 0,66 0,72 0,76 0,76 0,78

Figura 7.6: Porcentagem do Conteúdo Danificado (PCD)

y = 0.0486x3 - 0.368x2 + 0.9635x - 0.1233 R² = 0.9637

0

0.15

0.3

0.45

0.6

0.75

0.9

0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5

Po

rce

nta

gem

do

Co

nte

úd

o

Dan

ific

ado

Altura de Inundação (m)

Porcentagem do Conteúdo Danificado (PCD)

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7.2 Subíndice Perigo

O cálculo do subíndice Perigo foi realizado dividindo-se a lâmina de inundação obtida

na modelagem dos cenários pela altura de referência igual a 1,00m, considerando

padrão de construção da cidade 20 cm acima do nível das ruas.

Embora sejam observadas no Centro Histórico construções a partir dos 30 cm, o

mesmo não ocorre nas outras regiões da cidade, justificando a opção por utilizar 20

cm.

É importante ressaltar que, para alturas de inundação inferiores a 0,10 m, considerou-

se que não há perigo para a população ou para o tráfego da cidade. Além disso, para

lâminas maiores que 1,00 m, atribuiu-se valor máximo ao subíndice.

7.3 Subíndice Exposição

A densidade de domicílios foi calculada através da multiplicação do peso atribuído a

cada célula pelo total de domicílios particulares permanentes do respectivo setor

censitário e da divisão do valor obtido pela área construída da célula em análise.

A densidade de domicílios de referência para a Situação Atual utilizada, representativa

do percentil de 75%, foi de 15 residências/ha.

O processo para o cálculo da densidade de domicílios no Cenário Tendencial

prosseguiu da mesma maneira que para a Situação Atual, sendo atualizadas as áreas

construídas e os dados acerca dos domicílios com a consideração da taxa de

crescimento para a respectiva macrozona de localização dos setores censitários.

A densidade de domicílios de referência para o Cenário Tendencial utilizada,

representativa do percentil de 75%, foi de 20 residências/ha.

Para a avaliação da Exposição no Cenário Resiliente, foi necessário calcular a

quantidade de domicílios prevista no padrão de urbanização proposto por Barbedo

(2016). Em primeiro lugar, calculou-se a área contruída a partir da multiplicação entre

a área do terreno e o coeficiente de aproveitamento considerando baixa, média ou alta

densidade. Em seguida, dividiu-se a área obtida pela área da unidade da tipologia

escolhida para cada região, podendo ser habitação familiar (110 m²), habitação

popular (75 m²) ou habitação de interesse social (60 m²).

Compatibilizou-se, posteriormente, o número de domicílios nas células das regiões

com expansão urbana propostas com o número de domicílios obtidos com a

consideração da taxa de crescimento nos dados do IBGE para as outras células.

Desta forma, foi possível calcular a densidade de domicílios no cenário.

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A densidade de domicílios de referência utilizada para o Cenário Resiliente,

representativa do percentil de 75%, foi de 26 residências/ha.

7.4 Subíndice Susceptibilidade

Para o cálculo do subíndice Susceptibilidade, foram utilizados os dados “Domicílios

particulares permanentes do tipo casa” e “Domicílios particulares permanentes do tipo

apartamento” do Censo 2010 por setor censitário. Os domicílios diretamente

susceptíveis às inundações são as casas e os térreos dos edifícios. Desta forma, foi

necessário buscar o gabarito máximo da cidade de Paraty a fim de se obter o número

de domicílios localizados nos térreos dos edificios.

De acordo com a Lei nº 1352/2002, que institui o Plano Diretor de Desenvolvimento

Integrado do Município de Paraty, o gabarito máximo é de 2 pavimentos e/ou 8,50 m

em todas as zonas do município.

Para a avaliação da susceptibilidade no Cenário Resiliente, considerou-se como

gabarito máximo para as regiões com padrão de urbanização proposto por Barbedo

(2016) 1 pavimento para baixa densidade, 2 pavimentos para média densidade,.3

pavimentos para alta densidade I e 6 pavimentos para alta densidade II. Nas demais

regiões, considerou-se o gabarito máximo de 2 pavimentos.

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8 Resultados e Discussões

Neste capítulo, são apresentados os resultados obtidos nos processos de modelagem

e de aplicação do Índice de Resiliência a Inundações (IRES), sendo feitas análises

acerca dos níveis de alagamento da cidade e da sua capacidade de se recuperar dos

eventos de cheia simulados.

Os resultados do processo de modelagem são apresentados através das manchas de

inundação, dos perfis longitudinais dos rios principais e de tabelas, com dados obtidos

para cada cenário simulado. Já os resultados da aplicação do índice, são

apresentados em forma de mapas, para cada subíndice calculado e para o resultado

final do IRES.

8.1 Modelagem Matemática: MODCEL

Nos tópicos a seguir, são apresentados os resultados da modelagem matemática, com

o uso do MODCEL, e as respectivas análises.

Calibração

Conforme citado no item 6.4, o processo de calibração envolveu a comparação entre

as vazões máximas instantâneas obtidas no processo de modelagem e as vazões de

referência calculadas por Marins (2013) a partir das informações da estação

fluviométrica de Paraty, além de marcas de inundação mapeadas através de relatos

de moradores.

Na Figura 8.1, é apresentado o hidrograma resultante do processo de calibração na

seção localizada na estação fluviométrica de Paraty e, na Tabela 8.1, as vazões

máximas instantâneas obtidas em comparação com as de referência, mostrando que

os valores foram próximos, sendo considerados aceitáveis.

Figura 8.1: Hidrogramas na Estação Paraty – TR25 e TR50 – Processo de Modelagem

0

50

100

150

200

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900

Vaz

ão (

m³/

s)

Tempo (min)

Hidrogramas - Estação Paraty

TR25

TR50

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Tabela 8.1: Vazões Máximas Instantâneas

Vazão Máxima Instantânea –

Modelagem (m³/s)

Vazão Máxima Intantânea de

Referência (m³/s) (MARINS, 2013)

TR25 146,3 151,5

TR50 186,8 172,9

Situação Atual

O diagnóstico atual das bacias dos rios Perequê Açu e Mateus Nunes foi realizado

com base, principalmente, no mapeamento da mancha de inundação, confeccionado a

partir dos dados de altura da lâmina de inundação obtidos no processo de modelagem

da situação atual.

A Figura 8.2 apresenta a mancha de inundação para as planícies das bacias dos rios

Perequê Açu e Mateus Nunes, na situação atual, com a consideração de uma chuva

de projeto com tempo de recorrência de 25 anos.

Figura 8.2: Mancha de Inundação - Situação Atual - TR25

A partir da análise da mancha de inundação apresentada, pode-se reconhecer as

áreas de alagamento atuais e verificar a criticidade associada a transbordamentos da

calha do rio Perequê Açu, principalmente, na região do Condado, na região da

derivação para o Canal do Jabaquara, pela margem esquerda, e na proximidade ao

Centro Histórico da cidade, no centro de Paraty, onde as lâminas de alagamento

chegam a 71 cm.

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A derivação para o Canal do Jabaquara encontra-se bastante assoreada, o que

agrava os alagamentos, tanto pela margem esquerda do canal, quanto pela margem

direita do rio Perequê Açu, logo a jusante, com alto grau de ocupação e

impermeabilização até chegar ao Centro Histórico. Este cenário causa prejuízos ao

Patrimônio Histórico, comprometendo as atividades turísticas e o comércio da região,

além de trazer transtornos para os moradores.

O rio Mateus Nunes encontra-se praticamente todo o tempo na calha, sendo os

alagamentos na sua bacia originários basicamente de problemas associados à

microdrenagem.

Na Figura 8.3, é apresentada a mancha de inundação da situação atual para uma

chuva de projeto com tempo de recorrência de 50 anos, onde pode ser visualisado o

transbordamento do rio Perequê Açu em praticamente toda a sua extensão, com o

surgimento de novos pontos de alagamento e intensificação dos pontos críticos para

um TR25. O rio Mateus Nunes continua contido na calha em praticamente todo o seu

curso, assim como visto para uma chuva com tempo de recorrência igual a 25 anos.

Figura 8.3: Mancha de Inundação – Situação Atual – TR50

Cenário Tendencial

Na Figura 8.4 e na Figura 8.5, são apresentadas, respectivamente, as manchas de

inundação confeccionadas a partir dos dados obtidos na simulação do Cenário

Tendencial para uma chuva de projeto com tempo de recorrência de 25 e de 50 anos.

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Figura 8.4: Mancha de Inundação - Cenário Tendencial – TR25

Figura 8.5: Mancha de Alagamento - Cenário Tendencial – TR50

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Observa-se, a partir da comparação entre as manchas de inundação do Cenário

Tendencial e as manchas da Situação Atual, que a expansão urbana na região a

montante da BR-101 sem definição de padrões urbanísticos e sem qualquer controle

de ocupação é capaz de intensificar os impactos das inundações nas áreas de

jusante, principalmente na bacia do rio Perequê Açu.

Com a utilização de aterros em toda a planície a montante da BR-101, o rio Perequê

Açu se mantém na calha nesse trecho, fazendo com que maiores vazões sejam

transferidas para jusante. Desta forma, essas áreas, que já sofriam com o

transbordamento do rio na situação atual, possuem seus impactos intensificados,

gerando mais transtornos para a população residente na região, bem como para os

turistas e para o comércio do Centro Histórico.

A bacia do rio Mateus Nunes, por sua vez, não sofre tanto com a intensificação da

ocupação na região de montante da BR-101.

Cenário Resiliente

Na Figura 8.6 e na Figura 8.7, são apresentadas, respectivamente, as manchas de

inundação confeccionadas a partir dos dados obtidos na simulação do Cenário

Resiliente para uma chuva de projeto com tempo de recorrência de 25 e de 50 anos.

Figura 8.6: Mancha de Inundação - Cenário Resiliente - TR25

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Figura 8.7: Mancha de Inundação - Cenário Resiliente - TR50

A partir da comparação entre as manchas de inundação do Cenário Resiliente e as

manchas da Situação Atual, pode-se observar que a ocupação controlada em parte da

região a montante da BR-101, com a preservação de áreas através da implantação de

parques, além da comunicação entre as bacias, transferindo a expansão urbana para

o bairro do Jabaquara, foi capaz de melhorar os impactos causados pelas cheias na

cidade de Paraty como um todo, juntamente com a dragagem e outras medidas

relacionadas à calha dos rios Perequê Açu e Mateus Nunes e do canal do Jabaquara,

que se mostraram fundamentais para o melhor funcionamento do escoamento.

Com as proposições feitas, as lâminas de inundação remanescentes não chegaram a

40 cm, mostrando a eficiência das medidas para o controle de cheias e do

direcionamento da expansão urbana no bairro do Jabaquara ao invés das planícies a

montante da BR-101.

Comparação entre os cenários

Através da análise dos dados apresentados na Tabela 8.2, pode-se perceber que, no

Cenário Tendencial, com futuras expansões urbanas a montante, a situação do centro

histórico piorarira, com alagamentos chegando a 80 cm. No entanto, o Cenário

Resiliente demontrou sua eficiência reduzindo a lâmina máxima atual, com

alagamentos inferiores a 40 cm.

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Também pode ser observado que a área total alagada sofreria um aumento de 14% no

Cenário Tendencial, enquanto no Cenário Resiliente a área total atualmente alagada

sofreria uma redução de 88%.

Tabela 8.2: Lâminas Máximas de Alagamento e Área Total Alagada

Cenário Lâmina Máxima de

Alagamento (m)

Área Total

Alagada (m²)

Situação Atual 0,71 1.342.192,50

Cenário Tendencial 0,80 1.524.970,14

Cenário Resiliente 0,36 156.745,30

No que diz respeito às vazões, conforme pode ser visto na Figura 8.8 e na Figura 8.9,

a ocupação urbana intensiva nas planícies a montante da BR-101, com aumento do

grau de impermeabilização e utilização de aterros, faz com que haja um aumento e um

adiantamento do pico do hidrograma com relação à situação atual, como era

esperado. Já no Cenário Resiliente, com as medidas propostas, as vazões foram

amortecidas. Como neste cenário é proposta a ligação entre as duas bacias e o tempo

de concentração da bacia do rio Perequê Açu é maior que o da bacia do rio Mateus

Nunes, o pico do hidrograma do Mateus Nunes encontra-se atrasado com relação aos

demais cenários simulados, já que agora, para a vazão máxima ocorrer, é necessário

um maior tempo de concentração.

Figura 8.8: Hidrogramas – Perequê Açu - BR-101 – TR25

0

50

100

150

200

250

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900

Vaz

ão (

m³/

s)

Tempo (min)

Hidrogramas - Perequê Açu - BR-101

Situação Atual Cenário Tendencial Cenário Resiliente

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Figura 8.9: Hidrogramas – Mateus Nunes – BR-101 – TR25

Na Figura 8.10, na Figura 8.11 e na Figura 8.12, são apresentados os perfis

longitudinais dos rios Perequê Açu e Mateus Nunes, da seção localizada na BR-101

até a sua foz, e do canal do Jabaquara, respectivamente, com os níveis d’água obtidos

para cada cenário modelado.

Pode-se observar que, na Situação Atual, o rio Perequê Açu extravasa em pelo menos

uma de suas margens praticamente ao longo de toda a sua extensão, tendo esta

situação agravada no Cenário Tendencial. No Cenário Resiliente, por sua vez, o rio

encontra-se na calha em praticamente toda a sua extensão, exceto no seu trecho final,

extravasando pela margem direita.

O rio Mateus Nunes em praticamente nenhum momento extravasa pela sua margem

esquerda. No entanto, pela sua margem direita, isso ocorre em praticamente todo o

seu curso tanto na Situação Atual, quanto no Cenário Tendencial. Já no Cenário

Resiliente, o rio se mantém completamente na sua calha, exceto em seu trecho final,

extravasando pela sua margem direita, já na região de mangue.

O canal do Jabaquara, por sua vez, extravasa em toda a sua extensão tanto na

situação atual, quanto no Cenário Tendencial, principalmente devido ao seu grau de

assoreamento. Com a implantação de medidas para melhoramento das suas

condições de escoamento, o canal se mantém completamente na sua calha no

Cenário Resiliente.

-20

0

20

40

60

80

100

120

0 100 200 300 400 500 600 700 800 900

Vaz

ão (

m³/

s)

Tempo (min)

Hidrogramas - Mateus Nunes - BR-101

Situação Atual Cenário Tendencial Cenário Resiliente

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Figura 8.10: Perfil Longitudinal - Perequê Açu

-3.5

-2.5

-1.5

-0.5

0.5

1.5

2.5

3.5

4.5

31.41 619.42 882.04 1140.41 1611.15 2228.08

Co

ta (

m)

Extensão (m)

Perfil Longitudinal - Perequê Açu

NA - Situação Atual NA - Cenário Tendencial NA - Cenário Resiliente MD

ME Cota de Fundo Cota de Fundo - Dragagem

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Figura 8.11: Perfil Longitudinal - Mateus Nunes

-3

-2

-1

0

1

2

3

45.78 358.59 759.90 1049.46 1371.19 1674.95 1969.86 Co

ta (

m)

Extensão (m)

Perfil Longitudinal - Mateus Nunes

NA - Situação Atual NA - Cenário Tendencial NA - Cenário Resiliente MD

ME Cota de Fundo Cota de Fundo - Dragagem

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Figura 8.12: Perfil Longitudinal - Canal do Jabaquara

-3.5

-2.5

-1.5

-0.5

0.5

1.5

2.5

3.5

4.5

14.57 225.143 536.519 782.243 982.078 1242.881 1384.073

Co

ta (

m)

Extensão (m)

Perfil Longitudinal - Canal do Jabaquara

NA - Situação Atual NA - Cenário Tendencial NA - Cenário Resiliente

MD ME Cota de Fundo

Cota de Fundo - Dragagem

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Cenários Extras: Mudanças Climáticas

Na Figura 8.13 e na Figura 8.14, são apresentadas, respectivamente, as manchas de

inundação confeccionadas a partir dos dados obtidos na simulação do Cenário

Tendencial com a consideração dos efeitos das mudanças climáticas para uma chuva

de projeto com tempo de recorrência de 25 e de 50 anos. Já a Figura 8.15 e a Figura

8.16, apresentam as manchas resultantes do Cenário Resiliente.

Pode-se observar que a consideração dos efeitos das mudanças climáticas no Cenário

Tendencial intensifica ainda mais os impactos causados pelas inundações nas regiões

a jusante da BR-101.

Por outro lado, os resultados obtidos com a simulação do Cenário Resiliente mostram

que as medidas propostas não só são capazes de melhorar a situação atual de

alagamentos na cidade, como também de responder bem aos efeitos das mudanças

climáticas, com a maior lâmina de alagamento igual a 40 cm.

Figura 8.13: Mancha de Inundação - Cenário Tendencial com Mudanças Climáticas - TR25

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Figura 8.14: Mancha de Inundação - Cenário Tendencial com Mudanças Climáticas – TR50

Figura 8.15: Mancha de Inundação – Cenário Resiliente com Mudanças Climáticas – TR25

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Figura 8.16: Mancha de Inundação – Cenário Resiliente com Mudanças Climáticas – TR50

Através da análise dos dados apresentados na Tabela 8.3, é possível perceber que,

no Cenário Tendencial, a situação do centro histórico pioraria ainda mais, com os

alagamentos chegando a 86 cm. No entanto, o Cenário Resiliente demontrou sua

eficiência no que diz respeito à sua resposta aos efeitos das mudanças climáticas,

com suas lâminas de alagamento não ultrapassando 40 cm.

Também pode ser observado que a área total alagada sofreria um aumento de 114%

no Cenário Tendencial, enquanto no Cenário Resiliente a área total atualmente

alagada sofreria uma redução de 77%.

Tabela 8.3: Lâminas Máximas de Alagamento e Área Total Alagada – Com Mudanças Climáticas

Cenário Lâmina Máxima de

Alagamento (m)

Área Total

Alagada (m²)

Situação Atual 0,71 1.342.192,50

Cenário Tendencial 0,86 2.877.869,31

Cenário Resiliente 0,40 309.396,30

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8.2 Índice de Resiliência a Inundações (IRES)

Nos tópicos a seguir, são apresentados os mapas resultantes do cálculo de cada

subíndice na área de estudo, bem como da aplicação final do IRES, seguidos de

comentários e análises.

Subíndice Valor Relativo (VR)

O subíndice Valor Relativo é o responsável por atribuir ao IRES características sociais

a partir da relação entre a distribuição da população quanto à sua classe social e o

entendimento da importância da quantidade de perdas no que diz respeito à

capacidade de reposição da população. É importante ressaltar que, se em uma

determinada área houver uma baixa classe social com alto valor de perigo, é

necessária uma devida atenção tanto na fase de planejamento quanto na de projeto.

No Valor Relativo da Situação Atual, apresentado na Figura 8.17, as perdas

representadas pelas cores mais fortes estão localizadas, principalmente, nas regiões

do Centro Histórico e do centro da cidade de Paraty, assim como nas proximidades da

derivação do rio Perequê Açu para o Canal do Jabaquara, onde ocorrem as maiores

alturas de inundação, como observado na mancha de inundação no capítulo anterior.

Além dessas áreas, destacam-se negativamente o Condado e os loteamentos

existentes nas planícies mais a montante.

Figura 8.17: Valor Relativo – Situação Atual

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Com a expansão urbana a montante da BR-101, representada no Cenário Tendencial,

o Valor Relativo teve seu valor aumentado nas áreas ressaltadas anteriormente devido

ao acréscimo das lâminas de inundação a jusante. Além disso, com a presença de

domicílios a montante, o indicador valor relativo se materializa nessa região também,

como pode ser visualizado na Figura 8.18.

Figura 8.18: Valor Relativo - Cenário Tendencial

A partir da introdução de medidas para o controle de cheias e do direcionamento da

expansão urbana para a região do Jabaquara, as perdas foram sensivelmente

minimizadas, havendo clara melhora na região da derivação do rio Perequê Açu para

o Canal do Jabaquara, por exemplo, como observado na Figura 8.19. No entanto, a

cidade ainda apresenta locais com alto potencial de perdas, como o Condado e

algumas regiões do trecho inferior da bacia do rio Perequê Açu.

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Figura 8.19: Valor Relativo - Cenário Resiliente

Na Figura 8.20 e na Figura 8.21, são apresentados os resultados obtidos para os

cenários Tendencial e Resiliente, respectivamente, com a consideração dos efeitos

das mudanças climáticas. Pode-se observar que o Valor Relativo tem seu valor

aumentado, de uma maneira geral, devido a lâminas de inundação maiores.

Figura 8.20: Valor Relativo - Cenário Tendencial com Mudanças Climáticas

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Figura 8.21: Valor Relativo - Cenário Resiliente com Mudanças Climáticas

Subíndice Perigo (P)

Como era esperado, pode-se observar que as regiões mais escuras na Figura 8.22

encontram-se, em sua maioria, ao longo das margens do rio Perequê Açu e do Canal

do Jabaquara, bastante assoreado. A população residente nessas regiões está mais

exposta ao perigo proveniente das inundações. Com o aumento das lâminas de

inundação nas regiões a jusante da BR-101 devido a expansão urbana a sua

montante, o perigo é intensificado, principalmente no centro da cidade e no seu Centro

Histórico, como apresentado na Figura 8.23.

Com o direcionamento da expansão urbana para a região do Jabaquara e a adoção de

medidas de projeto, gerando consequente redução nas alturas de inundação, o perigo

é bastante reduzido para a bacia como um todo. Deve-se ressaltar que as regiões

perigosas visualisadas na Figura 8.24, assim como as demais áreas demarcadas em

verde constituem parques no Cenário Resiliente.

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Figura 8.22: Perigo – Situação Atual

Figura 8.23: Perigo - Cenário Tendencial

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Figura 8.24: Perigo - Cenário Resiliente

Com a consideração dos efeitos das mudanças climáticas, o perigo é aumentado com

a ocorrência de lâminas maiores de inundação em ambos os cenários, como pode ser

observado na Figura 8.25 e na Figura 8.26. No entanto, o Cenário Resiliente se mostra

mais estável a mudanças nos padrões de inundações, com perigo bastante reduzido

na bacia como um todo.

Figura 8.25: Perigo - Cenário Tendencial com Mudanças Climáticas

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Figura 8.26: Perigo - Cenário Resiliente com Mudanças Climáticas

Subíndice Exposição (E)

O subíndice Exposição representa o padrão de urbanização da bacia, sendo as cores

mais fortes representativas das regiões com maior densidade de domicílios,

localizadas entre os trechos inferiores dos rios Perequê Açu e Mateus Nunes, como

observado na Figura 8.27, na Situação Atual.

No Cenário Tendencial, é considerada a expansão urbana nas áreas planas a

montante da BR-101, logo, a exposição no cenário, apresentada na Figura 8.28,

aumenta nessas regiões.

O Cenário Resiliente, por sua vez, com a proposição de diferentes densidades para a

expansão urbana direcionada à região do Jabaquara, apresenta além da região com

maior densidade de domicílios da Situação Atual, o Jabaquara e a região de ocupação

controlada nas planícies a montante da BR-101, como visualizado na Figura 8.29.

Como os cenários extras com consideração dos efeitos das mudanças climáticas não

alteram o padrão de urbanização de seus cenários de origem, o subíndice Exposição

se mantém em ambos.

Em termos gerais, para se aumentar o valor de resiliência de uma cidade, no que diz

respeito à exposição, deve ser previsto uma ação de requalificação urbana.

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Figura 8.27: Exposição - Situação Atual

Figura 8.28: Exposição - Cenário Tendencial

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Figura 8.29: Exposição - Cenário Resiliente

Subíndice Susceptibilidade (S)

Assim como Exposição, o subíndice Susceptibilidade representa o padrão de

urbanização da bacia, sendo as cores mais fortes representativas das regiões mais

susceptíveis a inundações, ou seja, nas residências unifamiliares e nas unidades

residenciais localizadas no térreo dos edifícios. Paraty é uma cidade caracterizada por

poucos edifícios, sendo eles com gabarito máximo igual a 2 pavimentos, justificando o

apresentado na Figura 8.30, onde toda a área ocupada é susceptível a inundações.

A expansão urbana a montante da BR-101 representada no Cenário Tendencial não

altera o padrão de urbanização preconizado na Lei Nº 1352/2002, tendo somente o

aumento das áreas susceptíveis nas áreas planas de montante, como pode ser visto

na Figura 8.31.

Como no Cenário Resiliente são propostas ocupações caracterizadas por edifícios de

3 e 6 pavimentos em algumas regiões, apesar de terem maior exposição, são menos

susceptíveis a um evento de cheia, como ilustrado na Figura 8.32. Isso ocorre visto

que possuem apenas uma unidade residencial afetada pela enchente (o térreo), em

comparação ao total de unidades residenciais p resentes na edificação.

Assim como Exposição, o subíndice Susceptibilidade não se altera nos cenários extras

com consideração dos efeitos das mudanças climáticas.

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Figura 8.30: Susceptibilidade - Situação Atual

Figura 8.31: Susceptibilidade - Cenário Tendencial

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Figura 8.32: Susceptibilidade - Cenário Resiliente

Índide de Resiliência a Inundações (IRES)

Com relação ao IRES, na Situação Atual, ilustrada na Figura 8.33, pode-se observar

maiores valores de resiliência nas regiões não ocupadas, visto que há perigo devido

ao evento de cheia, mas como não há ocupação, não há dano sofrido, ou seja, não há

risco. Por outro lado, ao longo das margens do rio Perequê Açu e do Canal do

Jabaquara, bem como nas regiões dos loteamentos nas áreas mais a montante e no

Condado, são observados baixos valores de resiliência, como consequência do

extravasamento dos mesmos. A resiliência média obtida na cidade de Paraty na

Situação Atual foi de 78%.

No Cenário Tendencial, com a ocupação nas planícies a montante da BR-101 e

consequente aumento das lâminas de inundação nas áreas mais a jusante, os valores

de resiliência foram reduzidos, como apresentado na Figura 8.34, indicando que este

cenário é capaz de piorar a capacidade de recuperação da cidade a um evento de

cheia, tendo o valor médio da resiliência reduzido a 75%.

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Figura 8.33: IRES - Situação Atual

Figura 8.34: IRES - Cenário Tendencial

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No Cenário Resiliente, por sua vez, com a adoção de medidas para o controle de

cheias e consequente redução das alturas de inundação na bacia como um todo, é

possível notar uma significativa melhora nos valores de resiliência na cidade de

Paraty, como observado na Figura 8.35, com aumento do seu valor médio para 87%.

Figura 8.35: IRES - Cenário Resiliente

É importante ressaltar que outros pontos mais afastados do eixo fluvial nas três

situações analisadas apresentaram baixos valores de resiliência, indicando uma

provável falha de microdrenagem local, ou uma grande concentração de domicílios, ou

ainda uma capacidade baixa de reposição de perdas.

Os efeitos das mudanças climáticas fazem os valores de resiliência diminuírem, devido

ao aumento das lâminas de inundação na cidade, no geral, como apresentado na

Figura 8.36 e na Figura 8.37. O Cenário Tendencial tem seu valor reduzido a 72% e o

Resiliente a 85%. Os resultados mostram, no entanto, que o Cenário Resiliente é

capaz de responder positivamente tanto ao atual padrão de inundações quanto a

padrões futuros.

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Figura 8.36: IRES - Cenário Tendencial com Mudanças Climáticas

Figura 8.37: IRES - Cenário Resiliente com Mudanças Climáticas

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9 Conclusão

Este projeto procurou analisar o impacto de diferentes cenários de expansão urbana

no que diz respeito à resposta de Paraty, RJ, às inundações a partir de mudanças no

uso do solo e consideração de medidas visando minimizá-lo. Também buscou avaliar

a resiliência da cidade frente a um evento de cheia.

No que se referem aos impactos causados pelas inundações em Paraty, foi possível

constatar que as proximidades do Centro Histórico e o Condado são as regiões mais

afetadas pelos eventos de cheia. Reconheceu-se, assim, a necessidade de

implantação de medidas que minimizassem esses efeitos que prejudicam não só os

moradores, como também o turismo, principal atividade econômica da cidade, além de

causarem danos ao seu patrimônio histórico.

A avaliação das consequências da expansão urbana nas áreas a montante da BR-101

prevista no Plano Diretor de 2010, indistintamente, foi importante para verificar a

hipótese óbvia de que as regiões mais a jusante teriam seus impactos agravados e

que o planejamento para o horizonte do Plano deve ser revisto considerando esse

fator.

Reconhecendo a necessidade de se preservar as áreas de montante a fim de se

tornarem aliadas no controle de cheias da cidade e com a proposição de medidas

complementares, mas fundamentais para o melhor funcionamento do seu sistema

hídrico foi possível obter uma diminuição significativa das lâminas de inundação.

A simulação dos cenários alternativos de expansão urbana mostrou o quanto a

urbanização afeta os processos naturais de cheia nas bacias hidrográficas e que é

possível aliar, com planejamento e adoção de medidas de projeto atuando de forma

sistêmica na bacia, o crescimento das cidades com o ambiente natural existente.

Os cenários extras modelados com a consideração dos efeitos das mudanças

climáticas mostrou que as medidas propostas são capazes de responder bem não só

ao padrão atual de inundações como também a padrões futuros, mais severos.

Posteriormente, foi avaliada a resiliência da cidade a inundações através da aplicação

do IRES, Índice de Resiliência a Inundações, aos três cenários simulados no processo

de modelagem matemática.

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Embora o valor obtido para a cidade como um todo tenha se mostrado bom, a

avaliação espacial mostrou regiões críticas, com baixa resiliência, principalmente na

bacia do rio Perequê Açu, ao longo de suas margens. A aplicação no Cenário

Tendencial ressaltou que a expansão em áreas de montante não só intensifica os

efeitos das inundações a jusante, como também afeta a capacidade da cidade em se

recuperar dos eventos de cheia, com diminuição dos valores de resiliência no geral.

Após a implantação de medidas para o controle de cheias de forma sistêmica, visando

a melhoria do escoamento na bacia como um todo, o índice apresentou um

significativo aumento do valor de resiliência em consequência da redução das lâminas

de alagamento.

A aplicação do índice aos cenários que consideram os efeitos das mudanças

climáticas serviram para verificar a eficiência das propostas do Cenário Resiliente

quanto à capacidade da cidade de se recuperar de eventos de cheia. Desta forma, foi

verificado que a utilização de técnicas que racionalizam a relação da água com as

edificações e com o espaço urbano é capaz de construir cidades mais resilientes às

inundações.

A aplicação do IRES demonstra um bom potencial do índice para avaliar medidas de

controle de inundação em bacias urbanas, além de medir a capacidade do sistema de

se adaptar frente a mudanças futuras no padrão de uso do solo e no padrão das

inundações, configurando uma importante ferramenta a ser utilizada para subsidiar o

planejamento e projetos de soluções de drenagem urbana.

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