Índice de massa corporal, hÁbitos alimentares e...

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460 Resumo Objetivo: Verificar o Índice de Massa Corporal (IMC), os hábitos alimentares e as atividades de lazer em crianças e adolescentes participantes do Projeto Participe Esporte da Universidade Federal de Pernambuco. Metodologia: A pesquisa foi de caráter descritivo, de delineamento transversal. A amostra foi constituída por 99 crianças e adolescentes de ambos os sexos, sendo 51 do sexo masculino e 48 do sexo feminino, com idade entre 11 e 14 anos. Foram aplicados dois questionários para identificar os dados demográficos, hábitos alimentares e práticas de atividades no lazer. Para verificar o IMC, foram mensuradas a massa e a estatura corporal (massa/estaura²), sendo utilizados para avaliar o IMC, os critérios estabelecidos pelo Centers for Disease Control and Prevention. Resultados: Foi verificada uma prevalência de sobrepeso nos meninos (19,6%) quando comparado às meninas (16,6%), já em relação à faixa etária, aos 13 anos foi identificado maior ocorrência do sobrepeso (23,3%) e obesidade (6,7%). Conclusão: Na verificação do IMC, tanto por sexo quanto por faixa etária, as crianças e adolescentes foram classificados como eutróficos. De acordo com os hábitos alimentares das crianças e adolescentes, foi observada uma deficiência na ingestão de frutas e verduras, demonstrando hábitos considerados inadequados do ponto de vista qualitativo. Palavras-chave: Atividade motora. Estilo de vida. Sobrepeso. Obesidade. ARTIGO ORIGINAL DE TEMA LIVRE ÍNDICE DE MASSA CORPORAL, HÁBITOS ALIMENTARES E ATIVIDADES DE LAZER EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES Paulo Roberto Cavalcanti Carvalho a Petrus Gantois Massa Dias dos Santos a Gledson Tavares de Amorim Oliveira a Thamara Thais Santos de Melo a Gilmário Ricarte Batista a Edigleide Maria Figueiroa Barreto a a Universidade Federal de Pernambuco – UFPE – Recife (PE), Brasil. Endereço para correspondência: Paulo Roberto Cavalcanti Carvalho – Universidade Federal de Pernambuco – Departamento de Educação Física, Laboratório de Atividade Física e Saúde – Avenida Professor Moraes Rego, 1235 – Cidade Universitária – CEP: 50670-901 – Recife (PE), Brasil – E-mail: [email protected]

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460

Resumo

Objetivo: Verificar o Índice de Massa Corporal (IMC), os hábitos alimentares e

as atividades de lazer em crianças e adolescentes participantes do Projeto Participe Esporte

da Universidade Federal de Pernambuco. Metodologia: A pesquisa foi de caráter descritivo,

de delineamento transversal. A amostra foi constituída por 99 crianças e adolescentes de

ambos os sexos, sendo 51 do sexo masculino e 48 do sexo feminino, com idade entre 11 e

14 anos. Foram aplicados dois questionários para identificar os dados demográficos, hábitos

alimentares e práticas de atividades no lazer. Para verificar o IMC, foram mensuradas

a massa e a estatura corporal (massa/estaura²), sendo utilizados para avaliar o IMC, os

critérios estabelecidos pelo Centers for Disease Control and Prevention. Resultados: Foi

verificada uma prevalência de sobrepeso nos meninos (19,6%) quando comparado às

meninas (16,6%), já em relação à faixa etária, aos 13 anos foi identificado maior ocorrência

do sobrepeso (23,3%) e obesidade (6,7%). Conclusão: Na verificação do IMC, tanto

por sexo quanto por faixa etária, as crianças e adolescentes foram classificados como

eutróficos. De acordo com os hábitos alimentares das crianças e adolescentes, foi observada

uma deficiência na ingestão de frutas e verduras, demonstrando hábitos considerados

inadequados do ponto de vista qualitativo.

Palavras-chave: Atividade motora. Estilo de vida. Sobrepeso. Obesidade.

ARTIGO ORIGINAL DE TEMA LIVRE

ÍNDICE DE MASSA CORPORAL, HÁBITOS ALIMENTARES E

ATIVIDADES DE LAZER EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES

Paulo Roberto Cavalcanti Carvalhoa

Petrus Gantois Massa Dias dos Santosa

Gledson Tavares de Amorim Oliveiraa

Thamara Thais Santos de Meloa

Gilmário Ricarte Batistaa

Edigleide Maria Figueiroa Barretoa

aUniversidade Federal de Pernambuco – UFPE – Recife (PE), Brasil. Endereço para correspondência: Paulo Roberto Cavalcanti Carvalho – Universidade Federal de Pernambuco – Departamento de Educação Física, Laboratório de Atividade Física e Saúde – Avenida Professor Moraes Rego, 1235 – Cidade Universitária – CEP: 50670-901 – Recife (PE), Brasil – E-mail: [email protected]

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BODY MASS INDEX, DIETARY HABITS AND

LEISURE ACTIVITIES IN CHILDREN AND ADOLESCENTS

Abstract

Objective: The main objective of this study was to verify the Body Mass Index

(BMI), eating habits and physical activities in children and teenagers participating in the Projeto

Participe Esporte da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Methodology: This was a

descriptive cross-sectional study and the sample was constituted of 99 children and adolescents

of both sexes, being 51 males and 48 females, aged 11 to 14. Two questionnaires were applied

to identify demographic data, eating habits and practice of physical activities. To check the body

mass index, body weight and height were measured (weight\height²) and the criteria established

by the Centers for Disease Control and Prevention was used. Results: It was found an overweight

prevalence among boys (19.6%) compared with girls (16.6%) and, in relation to age, at 13 years

old it was verified a greater occurrence of overweight (23.3%) and obesity (6.7%). Conclusion:

In BMC assessment, children and adolescents were classified as eutrophic, analyzing both sex

and age. In the eating habits of children and teenagers it was detected a low fruit and vegetable

intake, considered inappropriate from the qualitative standpoint.

Keywords: Motor Activity. Life style. Overweight. Obesity.

ÍNDICE DE MASA CORPORAL, LOS HÁBITOS ALIMENTICIOS Y

ACTIVIDADES DE OCIO EN LOS NIÑOS Y ADOLESCENTES

Resumen

Objetivo: El objetivo de este estudio fue determinar el Índice de Masa

Corporal (IMC), los hábitos alimentarios y las actividades de ocio de los niños y adolescentes

que participan en el Proyecto Participe Esporte, en la Universidad Federal de Pernambuco

(UFPE). Metodología: Fue un estudio descriptivo de corte transversal, en una muestra de 99

niños y adolescentes de ambos sexos, con 51 masculinos, con edades entre 11 y 14 años.

Se utilizaron dos cuestionarios para identificar las características demográficas, hábitos y

prácticas en actividades de ocio. Para comprobar su IMC, se midieron el peso corporal y la

talla (peso/altura²), utilizando los criterios de IMC establecidos por los Centros para el Centers

for Disease Control and Prevention. Resultados: Se encontró la prevalencia de sobrepeso en

los niños (19,6%) cuando se refieren a las niñas (16,6%), en el grupo de edad de 13 años

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se identificó una mayor incidencia de sobrepeso (23,3%) y obesidad (6,7%). Conclusión:

En la verificación de ambos IMC por sexo y por grupo de edad, los niños y adolescentes

fueron clasificados como eutróficos. En los hábitos alimentarios de los niños y adolescentes,

se observó una deficiencia en la ingesta de frutas y verduras, lo que demuestra hábitos

considerados inadecuados en términos de calidad.

Palabras-clave: Actividad motora. Estilo de vida. Sobrepeso. Obesidad.

INTRODUÇÃO

A obesidade é considerada um importante problema de saúde pública em

países desenvolvidos e uma epidemia global pela Organização Mundial de Saúde,1 sendo

considerado um dos fatores de risco para as doenças crônicas degenerativas, afetando mais de

um bilhão de pessoas em todo o mundo.2

A prevalência de obesidade está aumentando no mundo, sendo encontrado

um índice alarmante tanto nos países desenvolvidos como nos países em desenvolvimento,3

inclusive em crianças e adolescentes.4 Alguns dos principais fatores que ocasionam o aumento

da massa gorda em crianças e adolescentes ocorrem devido ao declínio no tempo para a

prática regular de atividade física5 e ao consumo alimentar, não somente quanto ao volume da

ingestão alimentar, como também à composição e qualidade da dieta.6

Alguns estudos vêm buscando identificar os fatores associados ao aumento do

Índice Massa Corporal (IMC) em crianças e adolescentes,4,7 que se tornou uma preocupação

maior para os pesquisadores,8,9 já que o mesmo está atingindo jovens de 6 a 17 anos e crianças

em idade pré-escolar.10 Dentro deste contexto, está bem evidenciada na literatura a relação

entre a inatividade física — impulsionada pelas comodidades que o mundo moderno oferece,

como a utilização de TV, telefones, videogames, computadores entre outros, proporcionando

ao indivíduo um estilo de vida sedentário — e hábitos alimentares inadequados, estando este

último associado ao aumento da ingestão de calorias em decorrência da industrialização e da

urbanização, aumentando assim a quantidade de gordura corporal.11-14

Segundo a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008–2009, realizada pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística,15 a prevalência do excesso de peso em crianças

de 5 a 9 anos variou entre 25 e 40%. Já em adolescentes de 10-19 anos, oscilou de 16 a

27%. Perante este fato, se torna evidente a necessidade de mudanças no estilo de vida desse

segmento da população, principalmente no que diz respeito à adesão de hábitos alimentares

mais saudáveis.16-18

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Por essa razão, a conscientização para a prática de atividades físicas regulares,

assim como a adesão aos hábitos alimentares saudáveis na infância e adolescência, se tornam

importantes fatores de desfecho para a saúde desses, agindo ainda de forma preventiva, tendo

em vista crianças e adolescentes a manter estes hábitos na fase adulta.19,20 Desta forma, o

presente estudo tem como objetivo verificar o índice de massa corporal, as atividades de lazer

e os hábitos alimentares de crianças e adolescentes frequentadores do Núcleo de Educação

Física e Desportos da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

METODOLOGIA

A presente pesquisa se caracteriza como descritiva, de delineamento

transversal. A população foi composta por crianças e adolescentes de ambos os sexos

(n=107), participantes do Projeto Participe Esporte da Universidade Federal de Pernambuco.

A amostra foi composta por 99 sujeitos (masculino n=51; feminino n=48), com idade entre

11 e 14 anos. Houve uma perda amostral de 8 sujeitos, devido à entrega incorreta dos

questionários ou não comparecimento na coleta do dados.

Inicialmente, foi solicitada ao Núcleo de Educação Física e Desporto da

Universidade Federal de Pernambuco a autorização para realização da pesquisa e em seguida,

durante a realização das atividades das crianças e adolescentes frequentadores, foi solicitado

um momento para a explanação do objetivo do estudo. Após a devida explicação e aceite das

mesmas em participar do estudo, foi entregue o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(TCLE) para cada criança e adolescente entregar ao pai ou responsável, sendo marcada para o

dia seguinte a entrega do documento. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Centro de

Ciências da Saúde da Universidade Federal de Pernambuco (processo 320/11) e seguiu as normas

da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisas envolvendo seres humanos.

Mediante a devolução do TCLE com a devida autorização do responsável, foram

distribuídos dois questionários com o intuito de verificar dados demográficos (sexo e idade),

hábitos alimentares, a fim de identificar a ingesta de alimentos nas refeições diárias (café da

manhã, almoço e jantar) (adaptado de Barros et al.21) e práticas de atividades no lazer, com

a finalidade de verificar os hábitos ocupacionais das crianças e adolescentes (tempo gasto

assistindo televisão, jogando videogame e acessando a internet). Posteriormente à entrega dos

questionários, foi realizada a mensuração da massa e estatura corporal, a fim de estimar o IMC.

Para a mensuração da massa corporal foi utilizada uma balança digital de

marca Plenna, devidamente aferida, com aproximação de 100 gramas. A estatura corporal

foi verificada com um estadiômetro telescópico personal Sanny, com aproximação de 0,5 cm

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para altura, seguindo as diretrizes propostas por Gordon e et al.22 Na avaliação do IMC foi

utilizado o ponto de corte para o sobrepeso (percentil >85) e obesidade (percentil >95),

proposto por Cole et al.23

Os dados foram descritos em frequência relativa e absoluta utilizando o

programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) versão 17.0.

RESULTADOS

Na Tabela 1 o IMC foi estratificado por sexo, sendo observada uma prevalência

de sujeitos eutróficos em ambos os sexos, tendo os sujeitos do sexo masculino apresentado

maior ocorrência de sobrepeso (19,6%) e obesidade (5,9%).

Tabela 1 – Distribuição do Índice de Massa Corporal quanto ao sexo dos alunos

participantes do Projeto Participe Esporte da Universidade Federal de Pernambuco

(Recife-PE, 2012)

IMCMasculino

(n=51)Feminino (n=48)

Total (n=99)

Eutrófico 38 (74,5%) 38 (79,2%) 76 (76,7%)Sobrepeso 10 (19,6%) 08 (16,6%) 18 (18,2%)Obesidade 03 (5,9%) 02 (4,2%) 05 (5,1%)

IMC: índice de massa corporal.

Em relação à faixa etária, observa-se na Tabela 2 uma maior distribuição de

sujeitos classificados como eutróficos em todas as faixas etárias, já o sobrepeso apresentou

maior prevalência entre os sujeitos de 13 (23,3%) e 14 anos (23,1%), enquanto que apenas

5% foram classificados como obesos.

Tabela 2 – Distribuição do Índice de Massa Corporal de acordo com a faixa etária dos

participantes do Projeto Participe Esporte da Universidade Federal de Pernambuco

(Recife-PE, 2012)

IMC11 anos(n=32)

12 anos(n=24)

13 anos(n=30)

14 anos(n=13)

Total(n=99)

Eutrófico 25 (78,1%) 20 (83,3%) 21(70,0%) 10 (76,9%) 76 (76,8%)Sobrepeso 05 (15,6%) 03 (12,5%) 07 (23,3%) 03 (23,1%) 18 (18,2%)Obesidade 02 (6,3%) 01 (4,2%) 02 (6,7%) – 05 (5%)

IMC: índice de massa corporal.

Na Tabela 3 observa-se, em termos de frequência, os principais alimentos

consumidos pelas crianças e adolescentes durante as três refeições diárias, sendo os

alimentos ricos em carboidratos (pão, macarrão, arroz) e proteínas (leite, carne, ovo, feijão),

os mais consumidos.

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Tabela 3 – Distribuição em frequência dos alimentos que compõem as refeições

dos alunos participantes do Projeto Participe Esporte da Universidade Federal de

Pernambuco (UFPE) (Recife-PE, 2012)

Café da manhã Almoço Jantar

Item F % Item F % Item F %

Pão 59 24,3 Arroz 89 22,1 Pão 40 16,9

Leite 29 11,9 Carne 81 20,1 Sopa 27 11,4

Queijo 24 9,9 Feijão 75 18,6 Cuscuz 22 9,3

Suco 19 7,8 Macarrão 49 12,2 Carne 16 6,8

Ovo frito 18 7,4 Salada 26 6,5 Suco 14 5,9

Frutas 13 5,3 Frango 22 5,5 Hambúrguer 12 5,1

Vitamina 12 4,9 Suco 21 5,2 Macarrão 12 5,1

Café 10 4,1 Refrigerante 12 3,0 Inhame 10 4,2

Cereais 8 3,3 Purê 7 1,7 Refrigerante 10 4,2

Hambúrguer 7 2,9 Farinha 6 1,5 Leite 8 3,4

Refrigerante 6 2,5 Lasanha 3 0,7 Sanduíche 8 3,4

Misto quente 5 2,1 Batata doce 2 0,5 Ovo 7 3,0

Biscoito 4 1,6 Batata frita 2 0,5 Queijo 7 3,0

Bolacha 4 1,6 Peixe 2 0,5 Macaxeira 6 2,5

Presunto 4 1,2 Banana 1 0,2 Pizza 6 2,5

Mortadela 3 1,6 Cuscuz 1 0,2 Arroz 5 2,1

Inhame 2 0,8 Frutas 1 0,2 Batata frita 4 1,6

Mingau de cereais 2 0,8 Hambúrguer 1 0,2 Bolacha 3 1,3

Papa 2 0,8 Legumes 1 0,2 Iogurte 2 0,8

Torrada 2 0,8 Pizza 1 0,2 Presunto 2 0,8

Banana assada 1 0,4 – – – Salsicha 2 0,8

Bolo 1 0,4 – – – Almôndega 1 0,4

Carne 1 0,4 – – – Bacalhau 1 0,4

Cuscuz 1 0,4 – – – Biscoito 1 0,4

Milk–shake 1 0,4 – – – Bolos 1 0,4

Requeijão 1 0,4 – – – Cachorro–quente 1 0,4

Salame 1 0,4 – – – Café 1 0,4

Salsicha 1 0,4 – – – Chá 1 0,4

Sopa 1 0,4 – – – Feijão 1 0,4

Tapioca 1 0,4 – – – Frango 1 0,4

– – – – – – Frutas 1 0,4

– – – – – – Pastel 1 0,4

– – – – – – Purê 1 0,4

– – – – – – Salada 1 0,4

– – – – – – Tapioca 1 0,4

F: frequência absoluta.

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Na Tabela 4 constam quais os 20 tipos de alimentos que eles mais gostam de

consumir, verificando uma alta prevalência de ingesta de alimentos com alto teor calórico.

Tabela 4 – Relação dos 20 alimentos preferidos dos alunos participantes do Projeto

Participe Esporte da Universidade Federal de Pernambuco (Recife-PE, 2012)

Top 20 Alimentos Preferidos ITENS F %Refrigerantes 70 22,3Sucos diversos 44 14,0Pizza 25 8,0Lasanha 23 7,3Macarrão 19 6,1Batata frita 14 4,8Hambúrguer 14 4,5Carne 11 3,5Feijão 10 3,2Arroz 9 2,9Biscoitos 9 2,9Chocolate 9 2,9Frutas 8 2,5Pão 13 4,1Coxinha 7 2,2Salgadinhos 7 2,2Feijoada 6 1,9Leite 6 1,9Frango 5 1,6Cachorro Quente 4 1,3

F: frequência absoluta.

Na Tabela 5 estão dispostas as atividades de caráter sedentário, nas quais o

corpo está inativo, verificando que 65% dos meninos e 55% das meninas passam mais de

duas horas em frente à televisão, e esse número se repete em relação ao uso da Internet, sem

elevar o gasto energético acima dos níveis de repouso durante esse período.

Tabela 5 – Identificação do tempo diário assistindo televisão, jogando videogame

e acessando a Internet, de acordo com o sexo dos alunos participantes do Projeto

Participe Esporte da Universidade Federal de Permanbuco (Recife-PE, 2012)

Duração Assistindo Televisão Jogando Videogame Acessando a InternetMasc. Fem. Masc. Fem. Masc. Fem.

Até 2h 33% 35% 42% 20% 38% 24%Até 4h 36% 22% 11% 4% 16% 18%Mais de 4h 29% 33% 9% 8% 33% 37%Final de Semana – – 4% 2% 4% 2%Não utiliza 2% 10% 33% 67% 9% 20%

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No Gráfico 1 está distribuído o tempo utilizado pelos alunos para a prática de

atividades físicas, sendo verificado que 54% das meninas realizam atividades por um período

de até 1 hora por dia, enquanto que os meninos se distribuem em percentuais próximos a

30%, para 1, 2 e 3 horas de atividade.

Gráfico 1 – Distribuição pelo tempo de prática de atividade física dos alunos

participantes do Projeto Participe Esporte da Universidade Federal de Pernambuco

(Recife-PE, 2012)

Masculino

Até 1h

60

50

40

30

20

10

0

Até 2h Até 3h Até 4h Mais de 4h

Feminino

DISCUSSÃO

A obesidade vem se tornando tema de crescente preocupação devido ao

importante aumento em sua prevalência e a sua associação com diversas condições

mórbidas.24 Desta forma, a obesidade infantil se torna alvo de grande preocupação, devido

ao risco desses indivíduos apresentarem maiores possibilidades de se tornarem adultos

obesos.25 Segundo a Organização Mundial de Saúde (WHO),26 a reversão desta condição de

sobrepeso e obesidade na população em geral se tornou um dos principais objetivos para a

saúde pública, principalmente pelo fato de que as populações atingidas por esta epidemia,

em termos de idade, são cada vez mais precoces.

Os achados do presente estudo demonstraram que 23,3% das crianças e

adolescentes se encontram na faixa de sobrepeso (18,2%) e obesidade (5,1%). Na distribuição

por sexo, foi visto que os sujeitos do sexo masculino apresentam maior prevalência de

468

sobrepeso e obesidade do que as meninas. Estes dados se contrapõem aos resultados

encontrados em outros estudos, que apontam para uma maior distribuição de sobrepeso e

obesidade para os sujeitos do sexo feminino.11,27 Apesar de não se encontrar bem ilustrada

a razão para esta ocorrência, segundo a WHO26 esta pode estar relacionada com a qualidade

da dieta, com questões socioeconômicas e ambientais e aspectos genéticos.

Na análise do IMC de acordo com a faixa etária, os resultados indicam que aos

13 anos ocorre uma maior prevalência de sobrepeso (23,3%) e obesidade (6,7%), o que para

Mello et al.28 se torna um fator preocupante, já que por volta dos 13 anos de idade a criança

obesa apresenta grandes chances de se tornar um adulto obeso.

No que tange aos hábitos alimentares das crianças e adolescentes nas três

refeições diárias (café da manhã, almoço e jantar), foi vista uma maior frequência de

alimentos relativamente saudáveis, além de uma deficiente ingestão de frutas, legumes

e verduras, aquém dos níveis recomendados pelo Ministério da Saúde do Brasil,29

demonstrando, do ponto de vista qualitativo, hábitos alimentares inadequados, já que nosso

estudo não fez referência à quantidade ingerida nas refeições. Uma pesquisa realizada

pelo POF,15 verificou que o consumo de frutas, verduras e legumes correspondia a valores

abaixo de 400 g diários, e que o consumo era insuficiente para 90% da população brasileira,

não atingindo as recomendações do Ministério da Saúde do Brasil,29 que recomenda um

consumo mínimo de 400 g por dia. Vale salientar a importância de se ter no cardápio a

inserção de frutas, legumes e verduras, pois além de terem baixo teor energético, são

alimentos ricos em nutrientes, vitaminas e fibras, podendo controlar a obesidade se forem

consumidos de forma adequada.30

Ao analisar quais os alimentos que as crianças e adolescentes preferiam

consumir, foi verificada uma predominância de alimentos não saudáveis, apresentando alto

teor calórico, tais como: refrigerantes, pizzas, lasanhas, batata frita e hambúrgueres. Estes

resultados vão de encontro ao estudo realizado por Costa et al.,20 que identificaram em

crianças de 7 a 10 anos numa escola particular na região urbana da cidade de Araçatuba

(SP), uma maior frequência de alimentos inadequados como: refrigerante, batata frita,

doce e chocolate. Complementando a ideia, segundo a Secretária de Atenção à Saúde,30

as bebidas com adição de açúcar (sucos, refrescos e refrigerantes) têm consumo elevado,

especialmente entre os adolescentes, que ingerem o dobro da quantidade registrada para

adultos e idosos, além de apresentarem alta frequência de consumo de biscoitos, linguiças,

salsichas, mortadelas, sanduíches e salgados, bem como uma menor ingestão de feijão,

saladas e verduras.31 Devido a esses hábitos alimentares inadequados, é interessante que haja

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uma interação entre as práticas alimentares e o conhecimento dos alimentos, como enfatizam

Triches e Giugliani,6 no qual crianças com menos conhecimento e com práticas alimentares

menos saudáveis têm cinco vezes mais chance de se tornarem obesas.

Ao observar o tempo de prática das atividades físicas no lazer, identificamos

uma baixa duração, podendo este fato estar relacionado à questão dos comportamentos

sedentários, como é visto nesse estudo, no qual uma grande quantidade de crianças e

adolescentes passa uma boa parte do seu tempo diário realizando atividades sedentárias,

como assistir programas de televisão, jogando videogame e acessando a Internet. Segundo

Guimarães et al.,32 as crianças, no seu dia a dia, ocupam tempo com atividades que não

requerem um amplo gasto energético, o que pode ocasionar um acúmulo da gordura

corporal. Dentro desta realidade, fica confirmado que uma das barreiras aparentes para a

prática da atividade física está relacionada aos hábitos de natureza sedentária.12

Esse estudo teve como limitação a não realização de comparações nos

resultados, fazendo somente uma análise descritiva dos dados. Este tipo de análise se torna

difícil quando se procura interagir com outros estudos que avaliam os resultados de natureza

comparativa. Outra limitação foi o fato de não identificar a quantidade de alimentos

ingeridos nas refeições, revelando apenas o tipo de alimento consumido, e também quais

as atividades de lazer e sua frequência semanal. Por fim, vale considerar a importância

desse estudo em relação a essa temática em crianças e adolescentes inseridos em projetos

educacionais, visto que os resultados podem servir como banco de dados, possibilitando

ações no âmbito do projeto, familiar e escolar, a fim de uma readequação dos hábitos

alimentares e ocupacionais dessa população.

CONCLUSÃO

Ficou evidenciado tanto na verificação do IMC pelo sexo quanto pela faixa

etária, que a maioria das crianças e adolescentes foram classificados como eutróficos.

Em relação aos hábitos alimentares, foi observada uma deficiência na ingestão de frutas e

verduras, demonstrando hábitos considerados inadequados do ponto de vista qualitativo, bem

como foi observada uma preferência por alimentos que possuem alto teor calórico, havendo a

necessidade de uma melhor educação alimentar para a amostra investigada. No que concerne

à prática de atividade física, as crianças e os adolescentes afirmaram que realizam pelo menos

uma hora de atividade física diária, o que pode vir a se tornar um grande fator de prevenção

do sobrepeso e obesidade, visto que crianças que apresentam este hábito na infância tendem

a mantê-lo na fase adulta.

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Recebido em 21.12.2012 e aprovado em 27.01.2014