independência dos estados unidos

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A colonização do continente americano desenrolou-se de forma absolutamen te desigual. Ao se observar as zonas da América Latina evidencia-se um grau absurdo de exploração, responsável, na atualidade, por marcas e seqüelas que dificultam o desenvolvimento dos países latino-americanos. De outro lado, a América do Norte quase não foi explorada pelos conquistadores espa- nhóis, que concentraram seus esforços na cordilheira dos Andes e no México. Encontrando metais precio- sos mais ao sul, os espanhóis praticamente abandona- ram a região norte, apesar do direito territorial asse- gurado pelo tratado de Tordesilhas. Para completar, em meados do século XVII, os espanhóis perderam o status de grande potência e por isso foram obrigados a reconhecer a perda dos territórios da América do Norte, aos conquistadores ingleses e franceses. POVOAMENTO POVOAMENTO POVOAMENTO POVOAMENTO POVOAMENTO Os ingleses foram os primeiros colonos da re- gião. Em 1584, desembarcaram no local batizado com o nome de Virgínia, em homenagem a rainha Elisabeth. Em 1607, deram início ao povoamento de Jamestown, na mesma Virgínia. Po- rém o grande marco de povoamento foi a mi- gração de 100 famílias no navio Mayflower, em 1620. Parte do gru- po era constituído de comerciantes e bur- gueses com razoável capital acumulado ao longo de vários anos de trabalho. A maioria des- ses imigrantes havia se convertido à religião protestante, conheci- da na Inglaterra como Puritanismo. Com a perseguição da Igreja Anglicana foram para a América construir a Nova Inglaterra. Os peregrinos do Mayflower preenchiam todos os requisitos do “bom comportamen- to” e das boas intenções. “Nossa causa é justa. Nossa opinião é perfeita. Nossos recursos internos são vastos. As armas que os nossos inimigos nos obrigam a tomar, nós as empregamos para a preservação de nossas liberdades. Tendo unanimemente resolvido, morreremos homens livres de preferência, a vivermos como escravos.” Thomas Jefferson. 1776. O lorde inglês Cornwalls se rende ao general Washington “Nossa causa é justa. Nos- sa opinião é perfeita. Nossos recursos internos são vastos e, se for necessário, ser-nos-á dado certamente auxílio es- trangeiro” Tomas Jefferson

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O artigo aborda a Independência dos Estados Unidos buscando suas origens e a importância que teve na história.

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Page 1: Independência dos Estados Unidos

A colonização do continente americanodesenrolou-se de forma absolutamente desigual. Ao se observar as zonas

da América Latina evidencia-se um grau absurdo deexploração, responsável, na atualidade, por marcas eseqüelas que dificultam o desenvolvimento dos paíseslatino-americanos. De outro lado, a América do Nortequase não foi explorada pelos conquistadores espa-nhóis, que concentraram seus esforços na cordilheirados Andes e no México. Encontrando metais precio-sos mais ao sul, os espanhóis praticamente abandona-ram a região norte, apesar do direito territorial asse-gurado pelo tratado de Tordesilhas. Para completar,em meados do século XVII, os espanhóis perderam ostatus de grande potência e por isso foram obrigados areconhecer a perda dos territórios da América do Norte,aos conquistadores ingleses e franceses.

POVOAMENTOPOVOAMENTOPOVOAMENTOPOVOAMENTOPOVOAMENTO

Os ingleses foram os primeiros colonos da re-gião. Em 1584, desembarcaram no local batizado com onome de Virgínia, em homenagem a rainha Elisabeth.Em 1607, deram início ao povoamento de Jamestown,na mesma Virgínia. Po-rém o grande marco depovoamento foi a mi-gração de 100 famíliasno navio Mayflower,em 1620. Parte do gru-po era constituído decomerciantes e bur-gueses com razoávelcapital acumulado aolongo de vários anosde trabalho.

A maioria des-ses imigrantes haviase convertido à religiãoprotestante, conheci-da na Inglaterra comoPuritanismo. Com aperseguição da IgrejaAnglicana foram paraa América construir aNova Inglaterra. Osperegrinos doM a y f l o w e rpreenchiam todos os requisitos do “bom comportamen-to” e das boas intenções.

“Nossa causa é justa. Nossa opinião é perfeita. Nossos recursos internos sãovastos. As armas que os nossos inimigos nos obrigam a tomar, nós as empregamos para a

preservação de nossas liberdades. Tendo unanimemente resolvido, morreremos homenslivres de preferência, a vivermos como escravos.”

Thomas Jefferson. 1776.

O lorde inglêsCornwalls serende aogeneralWashington

“Nossa causa é justa. Nos-sa opinião é perfeita. Nossos

recursos internos são vastos e,se for necessário, ser-nos-ádado certamente auxílio es-

trangeiro”Tomas Jefferson

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Além do problema religioso havia na Inglaterra,condições sociais adversas decorrentes doscercamentos, que excluíram centenas de pequenos pro-prietários do convívio com a terra, estimulando-os àmigração para a América.

“O surto do capitalismo comercial e industri-al, a crise das empresas médias, a crise das pequenaspropriedades, que dava margem à crença nasuperpopulação da Inglaterra, o fechamento dos es-coadouros europeus em virtude da Guerra dos TrintaAnos, as lutas religiosas na Inglaterra e a persegui-ção dos dissidentes, a revolução da Inglaterra, o há-bito, contraído a partir de 1662, de deportar para ascolônias os condenados de direito comum que, ao ex-pirar o seu tempo, se tornavam excelentes cidadãos,pois haviam sido sentenciados por motivos fúteis, sãooutros tantos elementos de explicação deste grande nú-mero de emigrantes. De mais a mais, devido ao seucapitalismo mais avançado, a colonização inglesa foiprimeiramente impulsionada por companhias de co-mércio ou por associações de proprietários que delase encarregam tendo em vista um proveito: benefíciodo tráfico ou rendas territoriais” 2

Durante muito tempo, a in-terferência do Estado inglês na co-lonização limitou-se à liberação decartas patentes para obtenção de ca-pitais. O grande esforço da coloni-zação partiu da iniciativa particular,de proprietários de terra já estabele-cidos na América, realizando inten-sas campanhas no intuito de atrairimigrantes, organizando agências deimigração, oferecendo salários econdições compensadoras, termi-nando por atrair também a popula-ção que desfrutava de melhores con-dições financeiras. Mas, com tantosinteresses em jogo, por que a corte eo rei da Inglaterra não se interessa-

ram por tão promissora colônia?A princípio, por não existir na América do Nor-

te um produto a ser explorado de forma lucrativa quejustificasse a exploração colonial e pudesse garantir oretorno do investimento. O clima da América do Norteé o mesmo do continente europeu, adequado ao plantiode culturas de clima temperado, como, por exemplo, oscereais. A obtenção de peles e madeira de lei, tambémnão estimulava a monarquia, pois as duas mercadoriassobravam nas praças européias, havendo oferta maiordo que a procura. Sem encontrar reservas de metaispreciosos, a corte inglesa desencantou-se com a colô-nia americana.

O povoamento da América definiu-se após aformação das treze colônias do litoral. A presença doscolonos impôs aos indígenas uma realidade estranha,destituindo-os do seu hábitat natural, obrigando-os aaceitar a presença de conquistadores que abusavam defavores obtidos dos índios menos hostis.

De Norte a Sul, os colonos causaram devasta-ção das terras indígenas embrenhando as tribos noalcoolismo e prostituição. Iludidas, as tribos indígenastrocavam valiosas peles de animais, por facões, tesou-ras ou bebidas alcoólicas, lembrando o escambo ado-tado pelos portugueses no Brasil.

Para os índios norte-americanos, a terra era umbem que deveria ser repartido entre todos. Não conse-guiam compreender porque os “homens brancos” ma-tavam e morriam, por causa da terra. Envolvidos em

disputas coloniais, muitas vezes, reagiram e en-

Vista de NovaYork em 1730,onde a vidaparecetranscorrer commuita calma.

“As armas que os nossosinimigos nos obrigam a tomar

nós a empregramos para apreservação das liberdades,

tendo unanimenteresolvido morrer-

mos homens li-vres de preferên-

cia a vivermosescravos”

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frentaram a agressão colonizadora em pé de igualdade.Em 1636, índios da tribo Pequots aniquilaram várioscomerciantes de pele. Em represália, os colonos quei-maram diversas aldeias indígenas.

Daí em diante, o choque entre índios e brancospropagou-se pelas treze colônias, causando efeitoaniquilador nas populações indígenas. Os colonos usa-

ram e abusaram da vantagem do uso de armas defogo, além de manobrarem habilidosamente, confron-tando as tribos entre si. Depois de décadas de confli-to, o território indígena foi devastado e reduzido,empurrando as tribos para as áreas do interior, além doMississipi.

“Tendo indígenas da tribo dos Pequots feitoum morticínio de traficantes, uma coluna de voluntá-rios do Massachusetts queimou suas aldeias em1636.Os guerreiros pequots sitiaram as aldeias doConnecticut e chacinaram os brancos que encontra-ram. Em 1673, numa noite, o exército do Connecticut(90 homens) cercou a principal aldeia dos Pequots eincendiou-a. Quinhentos índios, homens, mulheres ecrianças aí pereceram. Contra o restante da triboorganizou-se uma caçada humana.

Na sua maior parte os homens foram mortos eas mulheres e crianças reduzidas à escravidão. Se-nhor, escrevia um pastor ao governador deMassachusetts, Mr Endecott e eu, saudamo-vos nosenhor Jesus. Ouvimos falar de uma partilha de mu-lheres e crianças na baía, e gostaríamos de ter umaparte, isto é, uma moça ou menina e um rapaz, se vóscom isto estiverdes de acordo..A fome de terracausava um verdadeiro furor contra os índios. Osprincipais esforços foram destinados a destruir estespagãos. A terra tornou-se um dos deuses da NovaInglaterra”. 4

AS COLÔNIAS INGLESAS DO NORTEAS COLÔNIAS INGLESAS DO NORTEAS COLÔNIAS INGLESAS DO NORTEAS COLÔNIAS INGLESAS DO NORTEAS COLÔNIAS INGLESAS DO NORTE

Nas colônias inglesas do norte desenvolveu-sea atividade agrícola, basicamente voltada para o merca-do interno e cultivada em pequenas e médias proprie-dades. O clima temperado era ótimo para o cultivo decereais e outras culturas similares.

A abundância de peixe nas áreas mais ao norte,desenvolveu a pesca estimulando a construção de na-vios. Nas florestas frondosas encontraram madeira paraos gigantescos estaleiros das cidades litorâneas. A in-dústria naval possibilitou emprego para centenas depessoas, direta ou indiretamente, envolvidas na produ-ção dos navios. Como se vê, inadequadas para o plantiode culturas tropicais, as colônias do norte seguiram umcaminho próprio, destoante do restante da colonizaçãoda América.

Nas pequenas e médias propriedades predomi-nava o trabalho de pessoas da própria família, ou então,os servos de contrato, homens que trabalhavam em tro-ca do pagamento das despesas de viagem. O clima frioem boa parte do ano não era adequado a culturas delonga duração; além do mais, a região fica espremidaentre o mar e os montes Apalaches. As culturas de mi-lho, centeio, trigo e cevada abasteciam as cidades, queaumentavam a população à medida que chegavam maisimigrantes.

“A produção artesanal crescia satisfatoriamen-te, com a migração de artesãos europeus para as colô-

nias do norte e do centro, fugindo de problemas exis-tentes em sua terra natal, tanto das perseguições reli-giosas, como da desarticulação da produção artesanaleuropéia, principalmente inglesa, em decorrência daRevolução Industrial. Esses artesãos desempenharamimportante papel no processo de industrialização dosEUA. Traziam consigo as técnicas de produção e, alémdo mais, não aceitavam as leis promulgadas pela In-glaterra para inibir a produção de manufaturas nascolônias americanas.

A própria tecnologia de produção de certosmanufaturados era contrabandeada da Inglaterra,

Jorge III da Inglaterra, em quadro de A.Ramsay

Mapa da Américado Norte na épocada colonização

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apesar da proibição inglesa. Foi esse o caso, por exem-plo, das máquinas da indústria têxtil fabricadas nascolônias inglesas da América do Norte. A advertên-cia e a revista para descobrir se os emigrantes porta-vam planos ou desenhos de máquinas era inútil, poiseles os traziam na cabeça. E assim as colônias iam-seindustrializando, apesar das proibições metropolita-nas”. 5

Em meados do século XVII, as colônias do norteiniciaram um comércio ativo com regiões distantes docontinente africano e ilhas do Caribe. A compra e ven-da de mercadorias, conhecida como Comércio Trian-gular, acelerou o desenvolvimento colonial à revelia davontade inglesa. O esquema funcionava com os navioslevando para o Caribe dezenas de produtos manufatu-rados, vendendo-os nas áreas identificadas com a co-lonização inglesa.

Nesses locais compravam o melaço à “preço debanana”, utilizado em seguida na produção do rum.Seguindo o caminho do Comércio Triangular, o rum e ofumo eram levados para a África, tornando-se moedana troca por centenas de escravos. Por último, os vali-osos escravos eram vendidos nas colônias inglesas do

Caribe e nas colônias do sul. Por tudo isso, as colôniasdo norte tiveram uma situação atípica no contextocolonial, pois tiveram a chance de se desenvolver aocontrário do restante, onde se impôs o pacto colonial.

Alguns historiadores norte-americanos atribuemo desenvolvimento colonial à inerente superioridadecultural dos colonos que realizaram o povoamento.Destacam a saga dos colonos que empregando poucosrecursos, conseguiram muito mais do que o resto daAmérica, que negligenciou fantásticas reservas natu-rais e riquezas, como ouro e cana-de-açúcar! Essa visãopreconceituosa e até certo ponto racista encobre averdade. Na América Latina, as metrópoles ibéricas nãoderam trégua às suas colônias, impondo-lhes o pactocolonial extorsivo e explorador. Em contrapartida, aInglaterra abriu mão do controle de suas colônias pelosimples fato de que elas não davam lucro, princípiobásico da exploração colonial.

AS COLÔNIAS DO SULAS COLÔNIAS DO SULAS COLÔNIAS DO SULAS COLÔNIAS DO SULAS COLÔNIAS DO SUL

Vários fatores explicam a natureza diferente dascolônias do sul. Em primeiro lugar, as condições cli-máticas eram mais adequadas às culturas de grandeaceitação no mercado europeu. No verão, a tempera-tura quente contrasta com chuvas prolongadas e in-tensas. Os rios gigantescos permitiam a navegação devárias embarcações.

Em segundo lugar, os colonos que povoaram aregião, eram em grande parte anglicanos e católicos,com larga experiência no trabalho agrícola. Na regiãoencontraram as condições ideais para o plantio de al-godão e fumo. Em pouco tempo, diversas fazendasdesenvolveram a produção algodoeira e fumageira, ge-rando capital abundante para a maioria dos fazendei-ros.

A produção em grande escala configurou umarealidade sócio-econômica distinta, contrastando coma realidade do norte. Monocultura, latifúndios,produção para o mercado externo e exploração da es-cravidão africana formaram as características básicasdas colônias do sul. No que se refere à mão-de-obra,inicialmente, utilizou-se o trabalho de colonos ingle-ses no esquema de servidão em troca da viagem. Mascom a expansão dos mercados e aumento das áreas decultivo os fazendeiros implantaram a escravidão emdetrimento da mão-de-obra livre ou semilivre. O abas-tecimento da escravidão era garantido pelo tráfico re-alizado pelas colônias nortistas através do ComércioTriangular.

NEGLIGÊNCIA SALUTARNEGLIGÊNCIA SALUTARNEGLIGÊNCIA SALUTARNEGLIGÊNCIA SALUTARNEGLIGÊNCIA SALUTAR

A organização política dastreze colônias foi estruturada combase num modelo original e des-toante das colônias portuguesase espanholas. Cada colônia tinhaum governador representante daautoridade real, além do conselhoadministrativo nomeado pelo rei, e aassembléia local com poderes de votar o orçamento edefinir o pagamento de impostos. Votavam para a es-colha dos representantes, os colonos que desfruta-vam de melhor condição financeira. Na maioria doscasos, a autoridade dos governadores era coibida

Na gravura acima,cena comum decombate entrefranceses eingleses, naépoca dacolonização

“São verdades incontestá-veis que o Criador conferiucertos direitos inalienáveis,

entre os quais: a vida, a liber-dade e a busca da felicidade”

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pelas decisões das assembléias, que asseguravam au-tonomia quase que ilimitada aos colonos.

Em conseqüência, desenvolveu-se em todas ascolônias um esquema político responsável pelo self-goverment, em detrimento do controle efetivo dametrópole. A turbulência revolucionária vivida pelaInglaterra ao longo do século XVII deu folga aoscolonos permitindo-lhes maior autonomia. Osproblemas internos fizeram a monarquia inglesa “es-quecer” de suas colônias da América do Norte. A essarelação se dá o nome de Negligência Salutar.

Nesse contexto houve uma reviravolta depoisda ameaça de guerra com os colonos franceses, quehaviam se estabelecido nas regiões mais interiores docontinente. A colonização francesa concentrou-se nosarredores do rio Mississipi e do lago Michigan. Asameaças espanholas haviam sido superadas, mas osfranceses se tornaram um grandeproblema se embrenhando pelasrotas de navegação. “Voltemosnossos olhos para a Nova Fran-ça”, afirmou Luís XIV, em 1663. Bus-cando a grande via de acesso aooceano Pacífico, os conquistado-res franceses descobriram que osmaiores rios corriam para o golfodo México. Os exploradores fran-ceses conquistaram todo o vale doMississipi batizando-o deLousiana, em homenagem ao rei.Com a incômoda vizinhança dosfranceses os colonos recorreram aInglaterra visando enfrentar umaeventual agressão francesa.

TENSÕES COM ATENSÕES COM ATENSÕES COM ATENSÕES COM ATENSÕES COM AMETRÓPOLEMETRÓPOLEMETRÓPOLEMETRÓPOLEMETRÓPOLE

Nas primeiras décadas do século XVIII, a rela-ção entre metrópole e colônia transcorreu em parceria.A explosão das tensões ficou para o desfecho da Guerrados Sete Anos, em 1763. Esse conflito envolveu váriasnações européias, afetando seriamente as colôniasinglesas, pois França e Inglaterra disputaram a possede Acádia e Terra Nova, reivindicada inicialmente pelosfranceses. Derrotada no conflito a França teve de abrirmão das cobiçadas regiões. Ironicamente, o rei Jorge

III da Inglaterra, alegou que as colônias deveriam arcarcom os prejuízos da guerra, beneficiadas que foram pelaaquisição da Acádia e Terra Nova.

O argumento embutia uma idéia antiga de cobrarnas colônias os impostos que justificassem a condiçãocolonial. Imune aos protestos da colônia, o rei da Ingla-terra (com a conivência do Parlamento) decretou umpacote de leis restritivas, contribuindo para acirrar osânimos e despertar nos colonos o sonho de rompimen-to com a metrópole.

O descontentamento aumentou com a Lei doAçúcar, em 1763, proibindo a aquisição de melaço nasAntilhas e a suspensão da produção de rum. O objetivoinglês era acabar com o lucrativo Comércio Triangular.A lei também afetava as colônias do sul, pois a partirdaí, seriam obrigadas a comprar escravos mais carosdos traficantes ingleses. Não aceitando a imposição, os

colonos realizaramostensivo contrabando e,em menos de um ano, a leicaía no ridículo, sendorevogada pelo Parlamentoinglês.

No ano seguinte, aInglaterra voltou à ofensi-va com a Lei do Selo,pagamento de imposto emdocumentos da colônia. Amedida envolvia muito di-nheiro pois todo documen-to seria taxado pelos ingle-ses.

Dessa vez oscolonos reagiram invocan-do um antigo princípioinglês da Magna Carta. Oargumento baseava-se na

premissa que não fazia sentido a aceitação de impostos,já que a colônia não estava representada no parlamentoinglês. A pressão colonial mais uma vez obrigou aInglaterra ao recuo, anulando a Lei do Selo.

Em 1767, o Parlamento taxou o chumbo, papelde imprensa vidro e chá. Desta vez, os colonos apela-ram para o boicote negando-se a adquirir os produtos,recorrendo mais uma vez ao contrabando. A pressão feza monarquia inglesa recuar nos impostos, à exceção daLei do Chá (1773), sob a alegação de que seria uma

O Tempo da História

1760

REVOLUÇÃO INDUSTRIAL

NA INGLATERRA

GUERRA DOS SETE ANOS

FRANÇA INGLATERRA

1756 - 1763

x1764

LEI DOAÇÚCAR

1765

LEI DO SELO 1767

LEI DO ChÁ

1776 - GUERRA DE INDEPENDÊNCIA - 1783

Plantações de anilna Carolina do Sul

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forma de os colonos colaborarem no saneamento fi-nanceiro da Companhia Inglesa das Índias Ocidentais.

Obviamente os colonos não aceitaram. Manti-veram o boicote e recorreram à violência no porto deBoston, incendiando alguns navios ingleses abarrota-dos de chá. Em represália, tropas da Inglaterra fecharamo movimentado porto, isolando-o do comércio com ou-tras regiões. Aleatoriamente foram escolhidos os “bo-des expiatórios” e, sem julgamento, foram fuzilados empraça pública. O Massacre de Boston foi a gota d’águapara os colonos decidirem enfrentar os abusos e arbi-trariedades metropolitanos.

A reação colonial concretizou-se na convocação do I Congresso de Filadélfia,em 1775. Inicialmente em tom

conciliatório foi aprovada a “Declaração dos Direitosda Colônia”. O documento imediatamente enviado àInglaterra solicitava a anulação das Leis Intoleráveis.Em resposta a monarquia inglesa apertou o cerco nacolônia, aumentando a repressão através da apreensãode armas e a censura implacável aos meios de comuni-cação. As tentativas de mediação resultaram em fracas-so, embora o renomado George Washington tentassepor todos os meios demover a monarquia inglesa daidéia de arrochar a colônia. Em resposta os colonosrealizaram o II Congresso de Filadélfia, em 1776, ondenasceu a Declaração de Independência dos EstadosUnidos.

O documento se inspirava na obra de JohnLocke, Tratado sobre o governo Civil. Esse livro tevegrande repercussão na América, tornando-se a “Bíblia”dos rebeldes. Os colonos levaram ao pé da letra, aobrigação do povo lutar contra governos arbitrários.Também a obra de Montesquieu, Rousseau e Voltaireeram debatidos avidamente pelos colonos quetraduziam os textos passando-osde mão em mão. O

alto grau de escolaridade, considerando os padrõesdo século XVIII, contribuiu para a propagação doideário iluminista.

“A 18 de abril, um forte destacamento da guar-nição de Boston foi enviado a Concord para apode-rar-se do depósito e prender os chefes patriotas SamuelAdams e John Hancock. Depois de uma noite de mar-cha, os uniformes vermelhos foram detidos por unscinqüenta patriotas armados diante do povoamentode Lexington - eram os primeiros insurretos. Após ummomento de hesitação, a tropa abriu fogo e os patri-otas perderam oito homens. Os soldados consegui-ram avançar mas em Concord foram recebidos pelofogo sustentado pelos patriotas. Tiveram de fazer meiavolta sem ter podido cumprir sua missão; no caminhode volta, foram atacados pelos revoltosos e perderamum décimo do efetivo - 247 homens num total de 2500,três vezes mais que os patriotas. Pela primeira vez nahistória das revoluções do fim do século XVIII, osrevolucionários armados faziam recuar tropas regu-lares”.8

A Inglaterra descartou uma possível concilia-ção com os colonos, enviando reforços para assegurara ordem no território colonial. Durante a maior parte doconfronto, forças coloniais e metropolitanas mostra-ram-se muito equilibradas. Porém, a partir de 1780, aFrança resolveu vingar-se da Guerra dos Sete Anos,enviando uma grandiosa esquadra na intenção de aju-dar os colonos. Em seguida, Holanda, Espanha eRússia entrariam ao lado dos colonos. A Holanda, pre-judicada em 1651, com a assinatura dos Atos de Nave-gação, tinha interesse em recuperar a hegemonia dorentável comércio marítimo. A Espanha, por sua vez,desejava a devolução de Gibraltar e ilha de Minorca,confiscados pelos ingleses, em 1704, no final da Guerrade Sucessão Espanhola.

Protestos derua na cidade deBoston. 1773

Massacre de Boston

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Independente dos interesses, a intervenção dosaliados europeus foi decisiva para a vitória dos colo-nos. Após assinar o Tratado de Versalhes, em 1783, aInglaterra foi obrigada a reconhecer a independênciados Estados Unidos da América. Na América do Nor-te, os ingleses perderam a “reserva colonial” da mar-gem esquerda do Mississipi. A Espanha recebeu a ilhade Minorca e a Flórida, conquistada pela Inglaterra,em 1763. A França recuperou a ilha de Tobago, no litoralsul-americano, e o Senegal, na África.

A CONSTITUIÇÃO DE 1787A CONSTITUIÇÃO DE 1787A CONSTITUIÇÃO DE 1787A CONSTITUIÇÃO DE 1787A CONSTITUIÇÃO DE 1787

A definição dos critérios políticos do novo go-verno, tornou-se prioridade para os representantes docongresso norte-americano. Os interesses do norte,industrial e comercial, não coincidiam com os do sul,agrícola e pecuarista. Os debates prolongaram-se aolongo de quatro anos, até a aprovação da Constituiçãode 1787. O documento constitucional assegurou oregime presidencialista e republicano e a implantaçãodo federalismo, que permitia autonomia para todos osEstados. Na elaboração da constituição destacaram-se Benjamim Franklin, Thomas Jefferson, JamesMedison e Alexander Hamilton.

Em 1791, acrescentaram dez emendas à Consti-tuição, consagrando a Declaração de Direitos, prote-tora das liberdades e direitos individuais: direito dereunião, palavra, culto religioso, habeas-corpus, pro-priedade privada de meios de produção, representaçãopolítica e renovação do poder pela via eleitoral. As

eleições com base no sufrágio universal eraminovadoras, mas é bom lembrar que os escravos nãopossuíam direito de voto. Em outras palavras, o sufrágiouniversal não era tão universal como dizia a propaganda,pois excluía os escravos e uma parcela da populaçãoque não contribuía com o pagamento de impostos.

Em 1803, o território norte-americano aumentousensivelmente após a compra da Lousiana. O governoamericano comprou a imensa região por uma bagatela,aproveitando-se das dificultes financeiras da França,de Napoleão. Possuidor de um território que não paravade crescer, os Estados Unidos marchariam em grandevelocidade para o Oeste.

A “Revolução Americana”, como foi tambémchamada a independência dos Estados Unidos criouum fantástico precedente na relação das colônias comsuas metrópoles. A primeira colônia finalmente torna-va-se livre. O caminho estava aberto!

“A luta dos EstadosUnidos contra a Inglaterra foiapenas uma “guerra de inde-pendência” ou foi uma“revolução”? O problema foimuito discutido. Algunshistoriadores procuram ver naguerra de independência ame-ricana, uma revolução mais ra-dical do que a Revolução Fran-cesa.

Outros negam que estaguerra tenha trazido às antigascolônias inglesas profundasmodificações econômicas esociais.O mais sensato é ficarno meio termo. “A Guerra daAmérica foi também uma revo-lução política, econômica e so-cial, porém foi muito mais mo-

A Independência

Recrutasingleses partempara a colônia.

Entrada dastropas inglesasem Nova York

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derada nestes dois últimos campos. É necessário no-tar, entretanto, que a revolução foi decisiva e vitorio-sa, e que a exemplo da Europa, não foi seguida, amais ou menos longo prazo por uma contra-revolu-ção. A Guerra da América foi incontestavelmente, umagrande revolução política: os patriotas quiseram,pela primeira vez, transformar em fatos as idéias deLocke, Montesquieu e Rousseau, que haviam escritoque todo governo deveria ser fundamentado num pac-to ou contrato social”. 9

1 In. Scammel. C. V. Poderes da Coroa. Históriaem Revista. Time-Life. Pág. 135.2 In. Mousnier, Roland. Os Séculos XVI e XVII .A Europa e o Mundo. Difel Editora. Pág. 88.3 In. A Revolução Americna.GrandesAcontecimentos da História. Editora Três. Pág.89/90.4 In. Mousnier, Roland. Op cit. Pág. 89.5 In. Adas, Melhen. Geografia da América.Editora Moderna. Pág 146/147.6 Decreto assinado por Cronwell que restringia ocomércio de mercadorias inglesas e de suascolônias ao transporte apenas em navios daInglaterra7 In. Declaração de Independência dos EUA.Sinopse da História dos Estados Unidos daAmérica. Ministério das Relações Exteriores.Pág. 23.8 In. Godechot, Jacques. As Revoluções 1770 -1799. Livraria Pioneira Editora. Nova Clio. Pág.17.9 In. Godechot, Jacques. Op cit. Pág. 19.

“Quando uma longa série de abusos e de usurpações, tendendo invariavelmenteao mesmo fim, marca o desígnio de submetê-los a um Despotismo absoluto, é do seudireito, e do seu dever, rejeitar um tal governo e prover à sua segurança futura pormeio de novas salvaguardas.Tal foi a longa paciência destas colônias,e tal é hoje a

necessidade que as forçam a mudar o seu antigo sistema de governo... Em conseqüên-cia, nós, em nome e pela autoridade do bom povo destas colônias, que estas colônias

unidas são e têm o direito de ser Estados livres e independentes:que são desligadas detoda a obediência à coroa da Inglaterra, que toda a união política entre elas e o Estado

da Grã-Bretanha é e deve ser totalmente dissolvida.E,para sustentar estaDeclaração,com uma firme confiança na proteção da Divina Providência, nós empe-nhamos mutuamente as nossas vidas, os nossos bens e a nossa honra sagra-

da.”7