inclusÃo social e desenvolvimento local apoiados …

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i TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO RIO DE JANEIRO: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS PELA ATIVIDADE TURÍSTICA Vitor Lederman Rawet Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Produção da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários para a obtenção do título de Engenheiro de Produção. Orientador: Ivan Bursztyn Coorientador: Roberto dos Santos Bartholo Junior Rio de Janeiro Agosto/2014

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Page 1: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

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TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO RIO DE JANEIRO:

INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS PELA

ATIVIDADE TURÍSTICA

Vitor Lederman Rawet

Projeto de Graduação apresentado ao

Curso de Engenharia de Produção da

Escola Politécnica, Universidade

Federal do Rio de Janeiro, como parte

dos requisitos necessários para a

obtenção do título de Engenheiro de

Produção.

Orientador: Ivan Bursztyn

Coorientador: Roberto dos Santos Bartholo Junior

Rio de Janeiro

Agosto/2014

Page 2: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

ii

TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO RIO DE JANEIRO:

INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS PELA

ATIVIDADE TURÍSTICA

Vitor Lederman Rawet

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO DE PRODUÇÃO.

Examinado por:

Rio de Janeiro, RJ - Brasil

Agosto de 2014

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Lederman Rawet, Vitor

Turismo de base comunitária no Rio de Janeiro:

Inclusão social e desenvolvimento local apoiados pela

atividade turística/ Vitor Lederman Rawet. – Rio de

Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2014.

VIII, 105 p.: il; 29,7cm.

Orientador: Ivan Bursztyn

Projeto de graduação – UFRJ / Escola Politécnica /

Curso de Engenharia de Produção, 2014.

Referências Bibliográficas: p. nº 103-105.

1. Turismo de Base Comunitária I. Bursztyn, Ivan II.

Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ,

Engenharia de Produção III. Turismo de base

comunitária no Rio de Janeiro: Inclusão social e

desenvolvimento local apoiados pela atividade turística.

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iv

“O turismo vai além dos sonhos e conquista o verdadeiro significado da vida.”

Rinaldo Pedro

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v

AGRADECIMENTOS

À minha família pelos momentos difíceis, pelo suporte e pelas alegrias dadas ao longo

dos estudos da graduação.

Aos meus amigos de faculdade e também de fora dela, que fizeram dos momentos

passados na graduação mais alegres, menos difíceis e mais interessantes.

À minha companheira Bárbara Fieto pelo apoio, ajuda técnica, ajuda psicológica, pela

paciência, conforto e tempo doados com carinho durante todo o período deste

trabalho.

Ao SOLTEC/UFRJ e todos que estiveram comigo no período em que estive lá, pelo

intenso aprendizado, importante para a formação como engenheiro e para a execução

deste trabalho. Em especial, aos professores Sidney Lianza e Ricardo Mello, que

muito bem me orientaram ao longo de dois anos no SOLTEC.

Aos meus amigos e professores do curso de guia de turismo da Marc Apoio, que

fizeram eu me apaixonar pelo turismo e foram importantes do meu aprendizado, sendo

essenciais para a realização deste trabalho.

Ao professor Ivan Bursztyn não só pelas horas disponibilizadas na orientação, pela

confiança e credibilidade, mas também pela consideração e apreço.

Page 6: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

vi

Resumo do Projeto de Graduação apresentado ao DEI/POLI/UFRJ como parte integrante dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro de

Produção.

TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA NO RIO DE JANEIRO: INCLUSÃO SOCIAL E

DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS PELA ATIVIDADE TURÍSTICA

Vitor Lederman Rawet

Agosto/2014

Orientador: Ivan Bursztyn

Coorientador: Roberto dos Santos Bartholo Junior

Curso: Engenharia de Produção

Diante do crescimento do turismo e dos seus consequentes impactos, é visto uma forma alternativa da prática da atividade turística. O Turismo de Base Comunitária surge como proposta de colocar a comunidade em um papel central. Seus habitantes tem o poder de decisão sobre a maneira que o empreendimento comunitário será desenvolvido, levando em conta os anseios da própria comunidade em uma organização auto-gestionária. Sendo assim, o TBC tem alta capacidade de potencializar o desenvolvimento local. Esse trabalho tem como objetivo ser um instrumento de fortalecimento do turismo comunitário na cidade do Rio de Janeiro, fazendo com que ele possa ser um fator de inclusão social de cidadãos que hoje estão marginalizados pelos roteiros do turismo convencional. Do ponto de vista da demanda por este tipo de turismo, o turista poderá procurar por passeios que envolvam a participação dos próprios membros da comunidade. Esse tipo de roteiro ainda sofre de certa carência no Rio de Janeiro, podendo ser, portanto, um “pontapé inicial” de um novo jeito de prática e aproveitamento da atividade turística. O trabalho se desenvolve a partir de um levantamento bibliográfico, um mapeamento de casos de TBC já existentes, uma pesquisa de campo para verificar e analisar esses empreendimentos, sistematização com resultados dessa pesquisa levando a conclusões e gerando conteúdo, reflexões acerca dos estudos de caso e por fim uma conclusão geral.

Palavras chaves: Turismo de Base Comunitária, Inclusão Social, Desenvolvimento Local, Protagonismo Comunitário.

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Abstract of Undergraduate Project presented to DEI/POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the requirements for the degree of Production Engineer.

COMMUNITY BASED TOURISM IN RIO DE JANEIRO: SOCIAL INCLUSION AND LOCAL DEVELOPMENT SUPPORTED BY TOURIST ACTIVITY

Vitor Lederman Rawet

August/2014

Advisor: Ivan Bursztyn

Joint Advisor: Roberto dos Santos Bartholo Junior

Course: Production Engineering

Given the growth of tourism and its associated impacts, is seen an alternative form of the practice of tourism. The Community Based Tourism emerges as a proposal to put the community in a central role. Its inhabitants have the power to decide on the way the community enterprise will be developed, taking into account the wishes of the community in a self-managed organization. Thus, the CBT has high ability to leverage local development. This paper aims to be a tool for strengthening community-based tourism in the city of Rio de Janeiro, enable it to be a factor for social inclusion of citizens who are now marginalized by the conventional tourist routes. From the point of view of demand for this kind of tourism, the tourist can look for tours that involve the participation of the community members themselves. This kind of tour is still missing in Rio de Janeiro, and may therefore be a “kickoff” of a new way to practice and benefit from tourism. The work evolves from a literature survey, a mapping of existing cases of TBC, a field survey to verify and analyze these cases, systematization with these search results leading to conclusions and generating content, reflections on the case studies and finally a general conclusion.

Keywords: Community Based Tourism, Social Inclusion, Local Development, Community Leadership

Page 8: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................................. 1

1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................ 6

1.1 O conceito de turismo comunitário ................................................................................ 7

1.2 O turismo comunitário e seus quatro eixos ............................................................... 10

1.3 As dificuldades da comercialização de iniciativas de TBC ..................................... 14

1.4 Estratégias para a inserção do TBC no mercado do turismo ................................. 15

1.5 O perfil do turista que busca o turismo de base comunitária .................................. 18

1.6 As limitações do TBC .................................................................................................... 22

1.7 Diferenças entre o TBC rural e o TBC urbano .......................................................... 23

1.8 TBC urbano – as favelas e sua caracterização ........................................................ 26

2. MAPEAMENTO DOS ESTUDOS DE CASO ....................................................................... 34

2.1 A metodologia do mapeamento ................................................................................... 34

2.2 Projetos gerais ............................................................................................................... 38

2.3 Santa Marta .................................................................................................................... 40

2.4 Complexo de Favelas da Maré .................................................................................... 46

2.5 Ilha de Paquetá .............................................................................................................. 50

2.6 Morro do Pereirão e o Projeto Morrinho ..................................................................... 56

2.7 Morro do Cantagalo-Pavão-Pavãozinho .................................................................... 60

2.8 Morro da Babilônia/Chapéu Mangueira ...................................................................... 67

2.9 Rocinha ........................................................................................................................... 72

3. REFLEXÕES ACERCA DOS ESTUDOS DE CASO ............................................................. 88

3.1 Análise Geral .................................................................................................................. 88

3.2 Elaboração de roteiros de TBC ................................................................................... 90

3.3 Análise FOFA ................................................................................................................. 93

CONCLUSÃO................................................................................................................. 99

REFERÊNCIAS BILBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 103

Page 9: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

1

INTRODUÇÃO

A) Apresentação do tema e contextualização

A atividade turística não se trata apenas de satisfazer e lidar com quem viaja, mas

também tem reflexos para os moradores locais. Se não praticado de maneira

consciente e responsável, pode causar danos ambientais, sociais e econômicos.

Sendo assim, torna-se imprescindível envolver mais um ator na análise do turismo: O

habitante local. É necessário que este se torne parte ativa da atividade, garantindo

assim que os danos citados acima não aconteçam. Ao contrário, o turismo deve ser

encarado como uma ferramenta de desenvolvimento local e inclusão social.

Uma importante ferramenta para que os que vivem onde o turismo é praticado é

justamente o TBC – Turismo de base comunitária. Este modelo de turismo consiste em

uma forma de organização sustentada na propriedade e na autogestão dos recursos

patrimoniais comunitários, como o arranjo das práticas democráticas e solidárias no

trabalho e na distribuição dos benefícios gerados pela prestação de serviços turísticos,

com vista a fomentar encontros interculturais de qualidade com os visitantes

(RIBEIRO, 2009). Por esta definição, pode-se ver que o TBC é um grande

potencializador de desenvolvimento local, em que a própria comunidade pode ofertar

um serviço turístico.

Cada vez mais o turista procura este tipo de empreendimento. Há um crescente

interesse em conhecer além do local visitado, estendendo-se a visita às pessoas que

vivem nele e o seu modo de viver. Por isso, se feito de maneira organizada, o TBC

pode gerar benefícios tanto para turistas quanto para a comunidade em questão.

Analisaremos casos situados no estado do Rio de Janeiro. Com a recente criação das

UPP’s e o aumento da segurança, as favelas se tornaram locais mais seguros para se

passear e conhecer se tornando um polo de cultura diferente refletindo no cotidiano do

Page 10: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

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carioca. O turismo de base comunitária tem potencial de se encaixar nessa nova

realidade. Com os moradores da favela se inserindo na atividade, oferecendo roteiros

e criando pequenos empreendimentos que possam oferecer produtos aos turistas, o

desenvolvimento local é potencializado, com possível melhora na qualidade de vida

dos habitantes.

Além disso, vale ressaltar o potencial turístico que o Rio de Janeiro tem, com uma rica

história, atrativos naturais e por isso certamente está entre as cidades com os

melhores visuais do planeta. Com isso, o turismo cresce cada vez mais, exigindo

diversificação e adequação aos diferentes tipos de turistas, incluindo esse que buscam

uma forte integração com quem mora na cidade, caso do turismo comunitário.

Com a realização da copa do mundo no mês de junho de 2014, e os jogos olímpicos

em 2016, este processo se torna ainda mais evidente. Em função disso, as agências

de turismo podem e muitas vezes até desejam praticar a atividade sem

responsabilidade, acarretando nos danos citados anteriormente. Porém, surge uma

oportunidade justamente no campo do turismo comunitário. Portanto, este trabalho

buscou fazer uma análise de como pequenos empreendedores ou comunidades

podem ser aproveitar desse cenário promissor e garantir que o legado desses dois

megaeventos para o turismo no Rio de Janeiro seja positivo para quem mora na

cidade.

B) Objetivo geral

O trabalho tem como grande objetivo ser um instrumento de potencialização do

turismo comunitário na cidade do Rio de Janeiro, fazendo com que ele possa ser um

fator de inclusão social de cidadãos que hoje estão marginalizados pela sociedade.

Sendo assim, que se possibilite a melhora ou criação de empreendimentos de TBC

que tenham viabilidade econômica, social, cultural e ambiental.

Do ponto de vista da demanda por este tipo de turismo, o turista poderá procurar por

passeios que envolvam a participação dos próprios membros da comunidade. Esse

tipo de roteiro, ainda sofre de certa carência no Rio de Janeiro, podendo ser, portanto,

um pontapé inicial de um novo jeito de prática e aproveitamento da atividade turística.

C) Objetivos específicos

Page 11: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

3

Os objetivos específicos aqui listados serão etapas que se cumpridas de acordo com o

esperado, atingirão o objetivo final. Porém, os objetivos específicos por si só já seriam

importantes contribuições para o turismo comunitário, seja no campo de sua análise

ou mesmo para o seu crescimento na cidade.

Esses objetivos consistem um levantamento bibliográfico, um mapeamento de casos

de TBC já existentes, uma pesquisa de campo para verificar e analisar esses

empreendimentos, sistematização com resultados dessa pesquisa levando a

conclusões e gerando conteúdo, uma análise crítica deste conteúdo, avaliando o

turismo praticado nesses casos e por fim uma conclusão.

D) Metodologia

A metodologia desse trabalho foi realizada de acordo com o desenvolvimento dos

objetivos específicos citados anteriormente. Os métodos estão descritos abaixo:

D.1)Levantamento Bibliográfico

Primeiramente, foi feita uma revisão bibliográfica sobre o tema, buscando aprofundar o

conhecimento e com isso, definir conceitos que irão nortear o desenvolvimento do

projeto. Esses conceitos serão não apenas no que tange ao turismo comunitário, como

também abordagens sobre ideias que são importantes para a vida comunitária, como

pesquisa-ação, economia solidária, cooperativismo e associativismo.

Foram estudados artigos e publicações que incluem reflexões teóricas e diferentes

estudos de caso de turismo comunitário para que sejam usados como exemplos e

através deles, se obter ferramentas para gerar outros empreendimentos ao longo do

trabalho. Também será importante a leitura de textos que envolvam a viabilidade

econômica e empresas com base em TBC. Artigos nacionais e internacionais

contribuem para compreender a diversidade as experiências.

Após este levantamento bibliográfico e consequentemente aquisição de conhecimento

sobre o tema, foi estabelecida a adoção de critérios para definir quais

empreendimentos seriam de turismo comunitário e quais não seriam. Esses critérios

estarão de acordo principalmente com envolvimento da comunidade e com o

Page 12: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

4

crescimento do desenvolvimento local

D.2)Mapeamento de casos de TBC

A segunda etapa consistiu em uma extensa pesquisa por locais em que o turismo

comunitário é praticado, seja de forma embrionária ou já com certo nível de

desenvolvimento. Além de mapear, cabe definir qual o tipo de turismo explorado

(ecoturismo, turismo cultural, turismo de aventura, etc.) e a complexidade e diferentes

necessidades.

É importante ressaltar que aqui ainda não há uma pesquisa de campo. Uma busca foi

feita por meio de professores, profissionais de turismo e mesmo entidades publicas

que tenham conhecimento no assunto e possam fornecer informações de onde

existem casos de TBC.

D.3)Pesquisa de Campo

Após o mapeamento, foi feita uma escolha baseada na importância, na facilidade e na

potencialidade de crescimento dos casos de TBC que serão estudados em pesquisa

de campo. Esse número foi de sete casos, buscando diversificação entre os casos.

Essa diversificação inclui a modalidade do turismo, a região da cidade e o número de

pessoas da comunidade que estão envolvidas no projeto.

Com a definição desses estudos de caso, foi feita a pesquisa de campo propriamente

dita. O objetivo incluiu recolher material dos empreendimentos, entrevistando alguns

dos atores participantes, incluindo os membros da comunidade que trabalham com o

turismo, os membros que não são ativos nele, eventuais parceiros e naturalmente

turistas.

D.4)Sistematização e geração de conteúdo

Com a pesquisa de campo concluída, foi necessário sistematizá-la com as explicações

de cada caso, comparações entre eles, avaliação da possibilidade de crescimento e

interesse e satisfação dos turistas que nele tem experiências.

Pode-se fazer uma análise do impacto do turismo no desenvolvimento local,

verificação da existência de conflitos e possibilidades de crescimento e fortalecimento

Page 13: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

5

do turismo comunitário como mais uma prática da atividade turística.

Outra ideia vinda da pesquisa de campo que está no conteúdo proveniente dela é um

dos objetivos finais, sendo a elaboração de roteiros interligados exclusivamente de

turismo comunitário, fazendo com que no futuro, existam roteiros prontos em que o

turista possa usufruir do envolvimento com os moradores da comunidade e de uma

experiência diferente, imersa na cultura local.

D.5) Reflexão crítica do conteúdo sistematizado

Uma vez completa a sistematização, foi feita uma reflexão e uma análise crítica a

partir deste documento gerado. Isso é importante, uma vez que os conceitos

abordados na revisão bibliográfica são verificados nos estudos de casos, podendo

atender ou não as “exigências” de um empreendimento de turismo de base

comunitária.

A principal ferramenta utilizada nesta reflexão crítica é a chamada análise SWOT,

traduzindo para o português, análise FOFA – Forças, fraquezas, oportunidades e

ameaças. Com essa ferramenta, é possível definir possíveis prioridades a serem

seguidas para potencializar e melhorar a prática do TBC no sentido de tornar o serviço

mais qualitativo, além de atrair mais turistas que buscam este tipo de turismo no Rio

de Janeiro.

Outra interessante análise foi a elaboração de um possível roteiro de turismo

comunitário na cidade do Rio de Janeiro que inclua não só os casos estudados, como

também coloque em evidência outros casos que não foram abordados neste trabalho.

D.6) Conclusão

Ao final deste trabalho, retomaremos o tema inicial tratado na revisão bibliográfica,

mas com um incremento baseado no que foi adquirido nos estudos de caso,

sistematização de conteúdo e na reflexão crítica.

Page 14: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

6

1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Antes de entrar propriamente na teoria que diz respeito ao turismo comunitário, pode-

se fazer uma reflexão da conjuntura que levou ao crescimento dele, do ponto de vista

da demanda, ou seja, dos turistas procurarem este tipo de passeio durante as férias. A

novidade da consciência ambiental, nos anos 80, atingiu o setor turístico, que passou

oferecer roteiros com o chamado turismo de natureza, ou ecoturismo (MALDONADO,

2009). Além dele, ganhou força o turismo cultural, em que a valorização do

conhecimento de uma cultura diferente passou a ser parte do cenário. Na maioria das

vezes é organizado por comunidades tradicionais, com cultura distinta, se utilizando da

interação com a natureza para garantir sua sobrevivência como comunidade, levando

a cabo o ecoturismo. A pesca artesanal, que muitas vezes é desenvolvida com

atividade complementar ou conjunta com o turismo comunitário, pode ser vista com

um exemplo.

Além do ecoturismo e do turismo cultural, outro conceito prévio ao turismo de base

comunitária é o turismo responsável. Não se trata de um novo segmento de mercado,

mas de uma nova atitude do turista frente à oferta de produtos e serviços turísticos. O

turista responsável é aquele que não se esquece, em seus momentos de lazer e

diversão, dos inúmeros impactos negativos decorrentes de suas opções de viagem.

Podemos identificar hoje duas grandes tendências com relação às ações de turismo

responsável. A primeira delas procura colocar em questão ações de responsabilidade

social e ambiental dos empreendimentos e empresários diretamente ligados ao setor.

Já a outra tendência é a de promoção de práticas de turismo que abram possibilidade

para uma relação direta entre os turistas e as comunidades receptoras,

potencializando os encontros interculturais e a geração de benefícios no âmbito local

(BURSZTYN, BARTHOLO, 2012). Na definição fornecida pela Associação Italiana de

Turismo Responsável (AITR, Associazione Italiana Turismo Responsabile), o Turismo

Responsável pode ser definido como:

Page 15: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

7

[...] o turismo realizado segundo os princípios de justiça social e

econômica e no pleno respeito ao meio ambiente e as culturas. O

turismo responsável reconhece a centralidade da comunidade local e

o seu direito em ser protagonista no desenvolvimento turístico

sustentável e socialmente responsável de seu território. Opera

favorecendo uma interação positiva entre indústria do turismo,

comunidade local e viajantes1.

De um modo geral, os resultados das pesquisas revelam o enorme potencial para o

desenvolvimento deste emergente nicho de mercado. Entre os principais destinos para

o turismo responsável, o sul do mundo ganha destaque. Em primeiro lugar a África,

seguida por países como a Índia, a Austrália, o Brasil e o México (BURSZTYN, 2009).

1.1 O conceito de turismo comunitário

Podemos utilizar duas definições como base para definir o conceito de TBC. Uma

síntese de Brohman (1996) e de Ribeiro (2009) dirá que o esse tipo de

empreendimento deve ser visto como uma atividade econômica que estimule a

participação dos habitantes locais gerando um bem estar social e cultural. Sua

organização deve ser feita de maneira auto-gestionária, dialogando com a comunidade

e com vista a fomentar encontros interculturais com os de qualidade com os turistas

visitantes.

Através dessa reflexão, pode-se ver que é necessário que a empresa que tenha como

base o turismo comunitário possua um caráter de funcionamento de autogestão, em

que seus líderes sejam eleitos de maneira democrática, os lucros sejam repassados

ou de maneira equitativa, ou de maneira em que todos concordem. Esses lucros não

podem ser vistos como o único interesse do empreendimento. Deve haver,

principalmente, preocupação com o desenvolvimento social.

Além disso, é pré-condição para uma comunidade que deseja fazer do turismo a sua

atividade de sustento que tenha consciência ambiental a fim de que garanta que a

extração de recursos seja feita de maneira sustentada, bem como o seu uso seja

aproveitado também pelas gerações futuras.

1 www.aitr.org

Page 16: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

8

Fica claro que quem deve oferecer esse serviço são os moradores da própria

comunidade. Eles devem ser protagonistas no empreendimento, que deve ser gerido

de acordo com as suas necessidades. Exemplos disso são a construções de

pousadas anexas as casas, passeios em que os guias e planejadores são os

habitantes do local, ou pequenos restaurantes em que a comida ofertada é preparada

e servida por esses mesmos membros da comunidade.

Há ainda uma análise feita por dois importantes órgãos que fomentam o turismo

comunitário. Um deles, a Rede Tucum (Rede cearense de turismo comunitário) que há

mais de duas décadas empreende neste tipo de turismo, define oito ideias que estão

atreladas ao TBC2:

1. As atividades de turismo são desenvolvidas por grupos organizados, e os projetos

são coletivos, de base familiar.

2. O turismo se integra à dinâmica produtiva local, sem substituir as atividades

econômicas tradicionais.

3. O planejamento e a gestão das atividades são de responsabilidade da organização

comunitária local.

4. O turismo comunitário baseia-se na ética e na solidariedade para estabelecer as

relações comerciais e de intercâmbio entre a comunidade e os visitantes.

5. O turismo comunitário promove a geração e a distribuição equitativa da renda na

comunidade.

6. O turismo comunitário fundamenta-se na diversidade de culturas e tradições,

promovendo a valorização da produção, da cultura e das identidades locais.

7. O turismo comunitário promove o relacionamento direto e constante entre grupos

que também desenvolvem a experiência de um turismo diferente, estabelecendo

relações de cooperação e parceria entre si.

8. O turismo comunitário fundamenta-se na construção de uma relação entre

sociedade, cultura e natureza que busque a sustentabilidade socioambiental.

Por outro lado a Rede Brasileira de Turismo solidário e comunitário (TURISOL)

define onze princípios que devem ser essenciais á prática do turismo comunitário3:

1. Produto turístico ou atração turística é o modo de vida.

2. Turismo é instrumento para o fortalecimento comunitário e associativo. 2 http://www.tucum.org/oktiva.net/2313/nota/118393 3 http://bahiaplus.wordpress.com/tag/rede-turisol/

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9

3. Participação – a comunidade é proprietária, gestora, empreendedora dos

empreendimentos turísticos.

4. O turismo é uma atividade complementar a outras atividades econômicas já

praticadas.

5. Distribuição justa do dinheiro e transparência no uso dos recursos.

6. Valorização cultural e afirmação da identidade.

7. Relação de parceria e troca entre o turista e a comunidade.

8. Questão fundiária – o turismo auxilia na luta pela posse da terra pela comunidade.

9. Conservação e sustentabilidade ambiental.

10. Cadeia de valor focada no desenvolvimento das comunidades – todos os elos da

cadeia contribuem.

11. Organização e normatização.

Como era de se esperar, essas duas diferentes diretrizes propostas não se opõe, ao

contrário, possuindo uma complementaridade no que tange à importância da

consciência coletiva, preocupação ambiental e manutenção e expressão da cultura

nas comunidades.

Outra questão importante colocada em ambas as definições, diz respeito ao caráter

contra hegemônico do turismo comunitário em relação ao turismo convencional, um

turismo de massa. Enquanto um visa uma massificação da atividade com intuito quase

exclusivo de garantir lucros, característico da sociedade capitalista, o outro entra com

um viés alternativo, em que o lucro se não é proibido, tem de conviver com condição

de fornecer benefícios sociais para a comunidade.

E vale dizer que no caso do turismo convencional, se praticado de maneira não

sustentada, pode vir a sufocar comunidades tradicionais, com menos recursos e que

costumam ficar a margem da prioridade dada pelo poder público. Podemos citar dois

exemplos em que isso acontece: grandes empreendimentos hoteleiros a beira de

praias paradisíacas acabam trazendo impactos negativos para os pescadores que lá

residem e a expulsão dos pobres moradores das favelas recém-pacificadas no Rio

pela especulação imobiliária. O que pode ser dito é que no turismo tradicional, as

comunidades são convencidas a abandonar suas atividades tradicionais para

trabalharem em subempregos.

Page 18: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

10

1.2 O turismo comunitário e seus quatro eixos

Outro conceito importante para moldar um empreendimento de turismo de base

comunitária é o desenvolvimento sustentável. Este deve ser direcionado no sentido de

satisfazer as necessidades do presente sem comprometer as capacidades das futuras

gerações de suprirem as suas próprias demandas. Não se pode, portanto, esgotar os

recursos de modo que em no futuro esse empreendimento tenha qualquer risco de se

acabar.

Porém, um turismo que se preocupe com o desenvolvimento sustentável somente no

seu sentido amplo será considerado apenas um caso de turismo sustentável. Para

chegar a um caso de TBC com as características citadas no item anterior, é

necessário que essa sustentabilidade se amplie em quatro eixos e todos eles devem

ser satisfeitos. Uma TBC bem sucedida deve ser sustentável em quatro importantes

dimensões: Econômica, Social, Cultural e Ambiental (MALDONADO, 2006).

Dimensão Econômica

Nesta dimensão, é importante que o turismo comunitário seja um instrumento de

superação da pobreza. Na maioria dos casos de TBC, sejam eles já existentes ou

apenas potenciais, a maioria das comunidades em questão convive com a escassez

de recursos. Sendo assim, as receitas geradas pela atividade têm de fornecer

benefícios reais, como bem-estar e segurança.

Por isso, é importante que a comunidade possa cobrir os seus gastos com a atividade

turística e gerar lucros que possam trazer ganhos sociais. Portanto, é preciso acesso a

crédito e capacidade de saldar dívidas. Torna-se importante a criação de fundos

comunitários e a melhora na infraestrutura do local para fazer com que a oferta de

serviços seja competitiva.

Além disso, outro fator que pode ser essencial na sustentabilidade e prosperidade

econômica é a capacidade e possibilidade de uma comunidade fazer parcerias que

venham a desenvolver o próprio empreendimento. São dois os principais parceiros

que podem fazer diferença: O poder público e agências de turismo. No caso do poder

público, incentivos fiscais, fornecimento de material ou mesmo estudos provenientes

de universidades podem potencializar a atividade turística. E agências de turismo, por

Page 19: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

11

outro lado, tem maior conhecimento e prática no que se refere à proximidade com

clientes e venda de pacotes.

Dimensão Social

O âmbito em questão diz respeito ás relações sociais que são geradas e impactadas

pelo TBC. É importante que os moradores da comunidade sejam protagonistas nas

decisões do empreendimento comunitário, tomando as decisões referentes a ele.

Porém, essas decisões devem ser tomadas de maneira democrática por toda a

comunidade, até mesmo dando voz àqueles que não lidam diretamente com o turismo.

Isso irá garantir que todos participem, dando a sensação de pertencimento,

melhorando a confiança entre os membros e atingindo ganhos sociais. Esses ganhos

serão repartidos entre todos e lucros têm de ser investidos para o bem da

comunidade, em áreas como saúde, educação e moradia.

É valido abordar nesta dimensão social, o conceito de empoderamento (ALDECUA,

2010). Uma comunidade vai ganhando poder aos poucos. Isso se dá em três etapas.

Em um estágio inicial, é necessária a aquisição de confiança por parte dos membros

com objetivo de lutar pelos seus objetivos. Com isso, pode-se fazer uma análise de

conjuntura para se ver as demandas da comunidade. Após isso, se alcança um

consenso entre os membros para posterior tomada de decisões. Uma vez que estas

decisões são consolidadas, passa o momento de a comunidade atuar e agir para

transformar o seu entrono e melhorar suas circunstâncias (ver figura 3).

Há diferentes níveis de empoderamento da comunidade, fazendo-o inclusive em forma

de pirâmide invertida, indo do empoderamento débil, passando ao empoderamento em

processo, chegando ao empoderamento máximo (ALDECUA, 2010).

No primeiro nível, ou seja, o empoderamento débil há duas possibilidades de

participação da comunidade. A pior delas vem por parte da manipulação de um agente

externo que finge consultar a comunidade para legitimar a atuação muitas vezes

danosa. O outro nível se dá por participação passiva, em que a comunidade é apenas

avisada das decisões tomadas.

No empoderamento em processo, em um primeiro nível ocorre a participação como

consulta, em que é a comunidade é consultada, mas os agentes externos não tem

Page 20: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

12

obrigação de levar em conta o que pensam os membros. A participação incentivada

materialmente vem em seguida, onde a comunidade recebe recursos em troca de

concessão do uso dos recursos naturais da região. Na participação funcional, a

comunidade já participa do processo de tomada de decisão, porém as decisões

maiores e mais importantes ainda ficam por conta de outros atores.

No empoderamento máximo, a comunidade participa das análises, desenvolve planos

de ação e apoia o fortalecimento das instituições locais. A participação é encarada

como um direito. Há um processo de aprendizagem comunitário sistemático e

estruturado. Os próprios moradores locais definem como serão usados os recursos

disponíveis. E finalmente no nível máximo, ocorre a automobilização: A comunidade

caminha totalmente independente de agentes externos e do poder público e se torna

protagonista de relações com ONGs e buscando meios de se desenvolver ainda mais.

Dimensão Cultural

Muitas vezes, o turismo de massa acaba por sufocar culturas tradicionais, se não for

praticado de maneira responsável. Isso ocorre porque diversos motivos. Antes de tudo,

o turismo convencional está preocupado quase que exclusivamente com o lucro,

gerando consequências negativas.

Um exemplo disso pode ser visto quando a especulação imobiliária ou mesmo por

Figura 1 - Pirâmide invertida do empoderamento (ALDECUA; 2011; p. 42)

Page 21: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

13

meios ilegais, se expulsa as populações tradicionais – como pescadores, indígenas ou

moradores de favela – de seus locais de moradia, dizimando a cultura ali existente.

Impactos ambientais também são responsáveis por transformações culturais, já que

praias são poluídas, prejudicando pescadores. Ainda podemos citar o fato de que

muitos membros dessas comunidades abandonam esta comunidade já que a oferta de

emprego fora dela é mais atrativa.

O turismo comunitário tem o compromisso de ir à contramão dessa tendência. Deve

ser um instrumento importante de valorização da própria cultura através deste modelo

de atividade. Isso se dá com ofertas de serviços turísticos que não só mostram como

também enaltecem a cultura local aos turistas interessados.

Atividades de TBC que tem esse potencial envolvem roteiros que mostram a culinária,

história, danças e ritmos, artesanato e elementos de integração da natureza, como

trilhas, entre outros. Esses instrumentos serão essenciais para a perpetuação da

cultura podendo chegar às próximas gerações. Além disso, esta cultura ainda será

mostrada aos turistas, que passarão a conhecê-la e também valorizá-la.

Dimensão Ambiental

Cada vez mais cresce modalidades de turismo alternativo, como o ecoturismo e o

turismo de aventura. Se praticados sob o olhar do turismo de massa, essas atividades

tem alta probabilidade de impactar o meio ambiente. Podem poluir mares e desmatar

florestas, gerando consequências negativas para os moradores locais.

Por outro lado, as iniciativas de TBC, na maioria dos casos, preserva o meio ambiente.

As razões para isso envolvem em primeiro lugar o fato de que os moradores locais

dependem dos recursos naturais para a sua sobrevivência e por isso, valorizarão mais

o ambiente ao redor. A outra questão diz respeito à necessidade de preservação para

a prática da atividade turística com visão de longo prazo.

O principal meio de preservação do meio ambiente pelas comunidades que se utilizam

de TBC é criação de unidades de conservação. Elas freiam a especulação imobiliária,

garantindo a posse da terra e permitem a exploração de recursos naturais de maneira

limitada, garantindo a proteção necessária ao meio ambiente. Já há várias

experiências de UC's pelo Brasil, onde o TBC cresceu e é praticado de maneira

Page 22: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

14

sustentável, como a Rede Tucum4, no litoral do Ceará.

1.3 As dificuldades da comercialização de iniciativas de TBC

Recentemente, o turismo de base comunitária se tornou uma alternativa da prática de

turismo no Brasil em âmbito local. A consequência desse fato foram iniciativas de

políticas públicas que fomentem e qualifiquem o TBC. Porém, isso ainda não tem sido

suficiente para que este modo de turismo chegue aos avanços sociais desejados pelas

comunidades. Os empreendedores locais precisam se qualificar de modo a melhorar a

gestão dos negócios, garantir sucesso na governança e estar em constante processo

de monitoração da atividade turística. Além disso, a principal transformação exigida é

a inserção do TBC no acesso ao mercado para a comercialização do serviço.

Pode-se dizer que os roteiros de TBC devem ser comercializados a fim de garantir a

sobrevivência e, portanto a existência do empreendimento, uma vez que a principal

causa para o insucesso das iniciativas é justamente essa dificuldade da inserção no

mercado por parte desses pequenos empreendedores. Por este motivo, torna-se

essencial a adoção de estratégias para sanar este obstáculo presente na consolidação

do TBC como alternativa ao turismo convencional.

Podem-se apontar algumas diretrizes que tem capacidade de ajudar a reduzir esse

quadro problemático: Usar o mercado convencional e integrar nestes roteiros de TBC;

aumentar o mercado de distribuição com ferramentas baseadas em tecnologia da

informação; e a concorrência em prêmios nacionais e internacionais com intuito de

tornar conhecidos os empreendimentos de TBC (BURSZTYN; BARTHOLO, 2012).

Felizmente, esse tema vem sendo debatido em fóruns onde há possibilidade de

promoção do turismo de base comunitária. Um exemplo disso ocorreu no I encontro

nacional da rede Turisol, em Uruçuba (BA), onde foi possível estabelecer seis linhas

de ação que busquem a melhora nos serviços:

Em relação à comercialização, foi sugerido o desenvolvimento de

parcerias com agências de viagem interessadas em trabalhar com

TBC; o apoio à estruturação de roteiros nas comunidades que fazem

parte da Rede; e o fortalecimento da Rede como veículo de promoção

e divulgação coletiva (BURSZTYN; BARTHOLO, 2012, p. 101).

Outra importante inciativa que pode ser citada é a parceria com agências e operadoras

4 http://www.tucum.org/

Page 23: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

15

de turismo, uma vez que estas possuem conhecimento prévio na operação da

atividade turística e poderiam ser de grande valia para empreendimentos comunitários

que desejam se inserir no mercado de turismo. Porém, essa relação conta com certa

desconfiança quando aplicada com agências com tamanho e inserção nacional, uma

vez que o perfil do turista que as procuram difere daquele interessado em TBC. As

empresas locais, por outro lado, têm maior conhecimento sobre o perfil do visitante e o

tipo de experiência de visitação que as iniciativas oferecem.

É interessante relatar os resultados de uma pesquisa com projetos de TBC, por

pesquisadores vinculados à Universidade do Estado do Rio de Janeiro e à Leeds

Metropolitan University Intitulada “Monitoramento dos Projetos de Turismo Base

Comunitária”. Em princípio, foram apontadas fragilidades em três áreas: acesso ao

mercado, governança e monitoramento (BURSZTYN; BARTHOLO, 2012).

Descobriu-se que o principal meio de divulgação dos roteiros de TBC é o “boca a

boca” e as redes de relacionamento direto. Naturalmente, esses dois métodos são

deficientes quando se trata do conhecimento das iniciativas para o grande público e

por isso são necessárias estratégias a fim de mudar esse cenário. Porém, o aspecto

positivo é que ainda não é possível para o TBC ofertar os serviços em grande escala e

há uma garantia de que o visitante que chega para conhecer o local está imbuído em

ter uma relação diferente com os moradores e se aprofundar na experiência.

A internet, por mais que tenha se massificado de maneira geral, ainda não é usada de

maneira eficaz pelos empreendedores de TBC em ambos os casos: divulgação dos

roteiros e atividades e ferramenta de comunicação com turistas interessados em visita-

los. Isso ocorre porque existem dificuldades no acesso a rede, sendo assim

necessária a capacitação dos membros no uso dessas tecnologias.

1.4 Estratégias para a inserção do TBC no mercado do turismo

A aproximação conceitual entre turismo responsável e TBC é evidente. O primeiro

atrai turistas com consciência de que estão ali para conhecer o ambiente de visitação

de maneira passiva, mas passa ser mais um ator presente na localidade. Já o

segundo reúne os viajantes que buscam maior autenticidade nos seus passeios e

fazem questão do acolhimento por parte das pessoas que oferecem o serviço, não

sendo apenas cliente, mas também participantes e transformadores da realidade local.

Page 24: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

16

Naturalmente, é preciso que existam comunidades dispostas a oferecer tal tipo de

turismo.

Entretanto, para garantir a sustentabilidade de ambos os casos, é necessário que eles

dialoguem entre si e também com o mercado consumidor de modo a encontrar seu

público-alvo e divulgas os seus serviços. Portanto, devem ser feitas estratégias com

esse objetivo. Burstzyn e Bartholo (2012) descrevem essas linhas de ação da seguinte

maneira:

O turismo responsável e o TBC representam novas utopias para as

práticas de turismo e não segmentos de mercado, como

apresentados, anteriormente, em alguns dos documentos e pesquisas

consultados. Para realizar esse potencial transformador, as iniciativas

de TBC precisam estabelecer uma estratégia sólida de

comercialização, no intuito de garantir sua viabilidade econômica sem

que isso signifique a perda dos valores que sustentam e dão

identidade às suas práticas. Priorizar o trabalho de divulgação do TBC

junto a grupos sociais sensíveis à temática socioambiental, como os

elencados acima, pode representar um importante avanço no sentido

de vincular o TBC como opção de lazer prioritária desses grupos

(BURSZTYN; BARTHOLO, 2012, p.110).

Serão enumeradas três ações principais no sentido de melhorar a inserção do TBC no

mercado:

Informação e facilitação da comunicação

O mais importante para as iniciativas de TBC é não existir qualquer dificuldade de

aproximação entre demandante e ofertante do serviço, ou seja, entre os visitantes que

se interessam em conhecer lugares onde é praticado o TBC e os empreendedores

locais. O primeiro passo para isso é ter na divulgação um conteúdo com os princípios

e valores que caracterizam o TBC para que potenciais viajantes se identifiquem e se

interessem em fazer a visita. Tal divulgação é importante para marcar uma identidade

única existente no TBC e a certeza de que o turista terá uma experiência diferente da

vivida com o turismo tradicional.

O conteúdo dessa divulgação deve ter os projetos sociais e ambientas existentes na

comunidade e como o visitante terá a oportunidade de influir no desenvolvimento

cultural, social e humano da região. Além disso, tem igual importância a explicitação

Page 25: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

17

dos atrativos turísticos de lazer, como praias, monumentos históricos e museus que o

turistas poderá desfrutar. Para atingir êxito, deve-se facilitar a comunicação entre

viajante e iniciativas locais através de internet, telefones e outros mecanismo que

possibilitem que não haja falha na nesta ligação.

Outro ponto importante se refere ao idioma. Como muitos são estrangeiros, o

aprendizado de um segundo idioma se faz essencial para atrair este público externo.

Além disso, a comunidade deve se esforçar ao máximo para manter o vínculo com

aquele turista que se mostrou feliz com uma visita realizada, com o objetivo de fazê-lo

um dia voltar ou mesmo de incentiva-lo a divulgar para conhecidos no seu país de

origem.

Canais de promoção e divulgação

A estratégia para a melhora da comercialização do TBC passa pelo uso principalmente

dos instrumentos de comunicação já massificados e passíveis de acesso pelas

iniciativas de TBC. Naturalmente, a internet é a principal ferramenta que se enquadra

nesse perfil e deve ser encarada como essencial no fortalecimento da divulgação das

atividades turísticas. Os empreendimentos de turismo comunitário devem investir na

criação de websites de fácil navegação contendo as informações que podem ser

relevantes aos turistas. A tradução do site para uma segunda língua também tem

grande utilidade. A inserção desses empreendimentos em sites de viagens já

reconhecidos pode ser uma alternativa interessante. Por fim, as redes sociais ajudam

na divulgação “boca a boca”.

Apesar disso, os custos para tomar tais iniciativas por vezes podem estar acima do

orçamento. É valida a ideia da criação de um portal que contenha exclusivamente

iniciativas de TBC regional ou mesmo nacional. Essa medida poderia diminuir os

custos e gerar um público identificado com a causa, conforme abaixo:

A inserção dos serviços e atividades oferecidos pelas comunidades no

elenco de atrativos dos destinos primários mais próximos contribui

para difundir o TBC entre os visitantes que já estão na região e podem

se interessar por agregar às suas viagens uma experiência diferente.

O foco prioritário nos viajantes independentes não quer dizer que as

iniciativas de TBC devem se fechar para o diálogo com agências e

operadores de turismo. Os empreendedores comunitários podem se

beneficiar do contato com esses agentes de mercado e abrir novas

oportunidades de negócios (BURSZTYN; BARTHOLO, 2012, p.112).

Page 26: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

18

Outra importante estratégia é a participação em eventos de turismo. A todo o

momento, acontecem feiras e congressos sobre o tema que se enquadram também no

TBC. Nesses eventos, é possível o estabelecimento de parcerias com outras agências

e uma oportunidade de divulgação do turismo de base comunitária.

Formação continuada

Outro problema enfrentado pelas comunidades que tenham interesse na prática do

turismo comunitário é a baixa qualificação. Sendo assim, é necessária a capacitação

dos moradores locais para garantir a qualidade do serviço prestado aos viajantes,

baseado nas suas demanda e preferências de visitação. Para isso, é importante o

suporte técnico proveniente de eventuais parcerias com universidades e o SEBRAE.

Outra parte da capacitação tem de ser justamente nas ferramentas de divulgação.

Conforme já abordado, a internet é uma das responsáveis por aproximar clientes e

interessado. Portanto, o ensino do uso de computadores e de montagens de site em

mais de um idioma também deve ser priorizado.

Por fim, cursos de línguas estrangeiras serão importantes tanto para a divulgação,

quanto para a realização do serviço propriamente dito. Uma vez que um guia local

saiba falar um segundo idioma, ele agrega valor ao seu trabalho e passa a se permitir,

mas turistas, aumentando o seu leque de clientes.

1.5 O perfil do turista que busca o turismo de base comunitária

Após uma análise de quais as estratégias poderiam fomentar o turismo de base

comunitária no que se refere a inserção no mercado, cabe um estudo sobre o mercado

potencial, isto é, quais são as características presentes em um turista que está

interessado em ter uma vivência de TBC em sua viagem. Isso é importante porque

traça um limita a busca apenas àqueles que de alguma maneira, tem possibilidade de

serem eventuais visitantes, descartando os que não têm qualquer chance, como os

que se interessam por um turismo de luxo.

Em primeiro lugar, é necessário um engajamento ativo por parte do turista, já que esse

protagonismo será essencial ao do TBC. Além desse perfil, o visitante dessas

comunidades desfruta dos momentos de diversão e lazer, mas não ignora os impactos

negativos que por ventura sua viagem possa oferecer, se esforçando para mitiga-los,

transformando-os em positivos e trazendo benefícios a comunidade.

Page 27: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

19

Além disso, é valido citar algumas pesquisas que foram feitas sobre o turismo de base

comunitária e o perfil do visitante em questão. De acordo com uma pesquisa feita pela

SNV Netherlands Development Organization, o conceito de turismo comunitário deve ser

visto como uma atitude consciente como turista ou mesmo como uma filosofia de

viagem (SNV, 2009). Os dados dessa pesquisa se revelam interessantes: os “turistas

responsáveis” são em gerais jovens e idosos, porém abrangem todas as faixas etárias,

tem elevado nível de escolaridade, rendimentos acima da média, são provenientes de

áreas urbanas e não visitam apenas as grandes cidades onde reinam o turismo

convencional. Além disso, costuma planejar as férias ativamente e além de conhecer

os locais que visitam, tem intenção de vivenciar experiências interativas, como

filantropia e voluntariado. Em termos de nacionalidade, os norte-americanos “vencem”

em números absolutos, mas com destaque para os britânicos e os espanhóis, estes

últimos em expansão.

Ainda de acordo com esta pesquisa, é possível verificar o que os turistas mais

valorizam em relação aos interesses turísticos. O quesito mais valorizado pelos

turistas em suas viagens pelo Brasil é a água (rios, cachoeiras ou mar), com 46% das

respostas. O contato com as comunidades locais, ou seja, a “cultura regional” foi

citada por 19% dos entrevistados. Em seguida, veio “jeito do povo” (12%) e

“personagens da cultura local” (3%). Um terço das pessoas revelou que tem interesse

nas iniciativas de TBC. Em outra pesquisa, o motivo principal na escolha dos destinos

está na natureza e nas praias. Porém, conhecer a cultura local e as festas populares

têm ganhado importância nos últimos tempos (MTUR, 2009).

Outro dado importante está relacionado às fontes de informação para viagem. Foi

demonstrado o papel fundamental da internet nesse sentido, uma vez que 62% dos

entrevistados, em uma das pesquisas, a definiram como principal fonte de

informações. Além disso, ainda é utilizada para realizar compras relacionadas à

viagem, como de passagens e para efetuar reservas em hotéis. Porém, a propaganda

“boca a boca” também exerce papel importante como fonte de informações, em uma

das pesquisas os entrevistados definiram as dicas de parentes e amigos como

principal fonte de informações para suas viagens (MTUR, 2010).

O perfil do turista brasileiro é viajar com a família, consistindo esse grupo em mais da

metade dos entrevistados. Outro dado importante é que não costuma comprar pacotes

de viagem em agências turísticas, tendo por hábito entrar em contato direto com os

Page 28: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

20

prestadores de serviço (MTUR, 2009).

Além disso, é necessário atentar para algumas mudanças que estão ocorrendo no

interesse do viajante. Aos poucos, os ícones culturais vão sendo menos importante

enquanto aspectos gerais da cultura tem ganhado relevância. As empresas terão de

se adequar a essa realidade, combinando cultura, lazer, conforto e produtos de

entretenimento, oferecendo, por exemplo, viagens que permitam hospedagem familiar

como parte da experiência.

Cabe dizer que cada turista interessado no TBC é diferente e procura experiências

diferentes. Alguns querem hospedagem no local e uma estadia curta. Outro topam

algum programa de voluntariado que aceitam ficar por meses convivendo com a

comunidade. Portanto, torna-se difícil traçar um perfil e definir claramente o TBC que o

viajante deseja. O melhor caminho para o desenvolvimento acaba sendo focar no

público mochileiro (BURSZTYN; BARTHOLO, 2012).

Estrangeiros, que quase sempre estão interessados em um turismo de luxo, passam

aos poucos a buscar o contato com outras culturas e conhecimento mais profundo

delas. É um perfil de turista que foge das praias badaladas e procura algo mais

sossegado. Portanto, não é aquele visitante que procura o turismo sexual, que está

mais presente nas praias onde o turismo de massa é forte, inexiste em ambientes

litorâneos com atividade de TBC.

E no caso dos turistas em geral, sejam eles brasileiros ou vindos de fora, sentirem

uma valorização maior por parte dos ofertantes de serviço já que estes moram,

conhecem e dão mais importância a história e ao desenvolvimento do local. É comum

turistas que usufruem de experiências de turismo comunitário, além de recomendarem

para amigos, manter o contato com os habitantes e retornarem em outra ocasião.

Isso no início é uma quebra de paradigma para os moradores. Os turistas costumam

fazer perguntas, querer saber como se desenvolve a vida no local. As comunidades,

porém, estão mais habituadas com outras atividades, como a pesca, com o contato

restrito aos próprios membros e teve que de certa maneira, de reinventar e “quebrar o

muro” para fazer o contato com os turistas.

A tabela 1 define o perfil dos turistas consumidores de TBC Foi feita com o intuito de

conseguir informações sobre o mercado de TBC na América Latina.

Page 29: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

21

Tabela 1 - Perfil do Consumidor de TBC (Adaptado de SNV, 2009, p.70).

Pode-se ver, nos anos recentes, um aumento no número de turistas motivados pelos

itens enumerados na tabela anterior. Aos poucos, há maior preocupação no

conhecimento da cultura local e das pessoas que lá residem, em um detrimento das

“coisas” que lá tem, isto é, dos pontos turísticos que lá existem. Não que se ignorem

monumentos, praias ou rios, mas esta visita não pode vir sem a inserção na

comunidade local. Em outras palavras, além de se conhecer os monumentos, se

conhece as pessoas que construíram e mantêm este monumento. Além de se

conhecer praias e rios, se entende também como se dá a rotina dos pescadores que

necessitam e usufruem dessas praias e rios.

A constante troca entre hóspede e hospedeiro é um das grandes combustíveis do

turismo comunitário, que certamente cresce com essa tendência de mudança nos

interesses dos turistas. A figura 2 ilustra essa mudança e revela o potencial de

crescimento do TBC.

Page 30: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

22

1.6 As limitações do TBC

Outro assunto que deve ser tratado com destaque diz respeito às limitações do TBC.

O turismo comunitário é um grande potencializador do desenvolvimento local, mas não

avança para outros aspectos de igual importância. No mundo desigual em que

vivemos, essa ferramenta é insuficiente para de fato transformar a sociedade e

tampouco caminha neste sentido, já que as pequenas comunidades não costumam

disputar os espaços institucionais e pouco se interessam no que acontece longe delas,

se preocupando apenas com o seu entorno. (ALDECUA, 2010)

Além disso, essas comunidades, em suas grandes maiorias tradicionais, não possuem

poderio econômico e ou lastro social capazes de se organizar em cooperativas,

associações ou qualquer grupo que seja capaz de lutar por melhoras para essa

própria comunidade. E aí está o grande desafio: Fazer com que haja uma construção

coletiva de modo a dar empoderamento a estas comunidades.

Portanto, ao analisarmos estas duas limitações, pode-se ver que uma está no caminho

externo devido à limitação do desenvolvimento ser apenas local, enquanto a outra se

dá no campo interno, que devido a conflitos ou mesmo incapacidade, dificulta a

implantação de empreendimentos de base comunitária ou do TBC.

É no acontecimento desses conflitos que é importante desmistificarem certos

romantismos que acercam a ideia do turismo comunitário. Ao longo de todo este

Figura 2 - Interesse do turista (BURSZTYN, 2009, p. 75).

Page 31: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

23

levantamento, o turismo comunitário foi tratado como se não houvesse defeitos,

enquanto as experiências de turismo de massa eram “como se fosse o diabo”. É

importante colocar um contraponto a esse paradigma.

Quanto mais democracia se preza em uma comunidade, mais difícil ela será de ser

gerida. Brigas de ego e distorções nas relações pessoais são normais, geram conflitos

e acabam prejudicando empreendimento, tornando-o cada vez mais difícil de auto

sustentar.

Algumas comunidades contam hoje com poucas pessoas que participam do

empreendimento de turismo comunitário de maneira direta. Embora todos os membros

do local possam tomar partidos e influam nas decisões do empreendimento, alguns

acabam sendo mais beneficiados do que outros, atraindo mais capital para si.

Há ainda locais em o que os conflitos chegam ao nível de certos membros da

comunidade defenderem abertamente uma migração de atividade comunitária para a

prática do turismo de massa, já que este pode render mais lucros e não foca na

coletividade. Esse caso é o exemplo da Prainha do Canto Verde, no litoral cearense

(FORTUNATO; SILVA, 2013).

1.7 Diferenças entre o TBC rural e o TBC urbano

O TBC Rural e o cenário propício a isso

Conforme abordado, é essencial para o TBC que haja protagonismo da própria

comunidade. Portanto, um local em que a vida comunitária seja mais presente e tenha

as suas instituições fortalecidas, tem uma maior potencial de desenvolver o turismo de

base comunitária.

Por esse cenário apontado, é de se esperar que o TBC seja mais praticado em

ambientes rurais ou ao menos não urbanos, já que nestes locais, a vida é menos

dinâmica, mais linear e com diversificação em níveis menores. O campo ou uma praia

não “frequentada” são ambientes mais propícios para seus habitantes se organizarem

em grupos e comunidades. Com isso, a vida comunitária se aflora e os grupos de

moradores acabam se tornando também grupos de trabalho.

Page 32: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

24

Alguns dos ali residentes, vendo que os moradores da cidade tem o hábito de em suas

horas de lazer, buscar um refúgio fora da agitação do ambiente urbano e passear em

locais mais tranquilos, escolhem o turismo como forma de garantir o seu sustento. O

empreendimento de TBC é então formado para atender uma necessidade local e

também garantir uma demanda vinda dos turistas de fora. Portanto, é muito mais fácil

e mais comum o TBC ser aplicado a um local mais rupestre, praticando-se o agro

turismo em um ambiente rural, praticando-se o ecoturismo uma unidade de

conservação ou até mesmo o turismo de aventura em locais propícios a escalada.

Estas tendências podem ser verificadas historicamente, uma vez que o TBC se iniciou

no campo, com comunidades rurais de origem indígena da América Latina e aos

poucos se estendeu para quilombolas, pescadores e outros grupos que representam

as comunidades tradicionais. No Brasil, o desenvolvimento ainda é recente e sendo

praticado também por esses agentes citados anteriormente (BURSZTYN, 2009).

O TBC Urbano: outro viés

Por outro lado, as características presentes da cidade grande e urbanizada se diferem

muito das encontradas no espaço rural, o que irá impactar também na maneira em que

se dá o turismo de base comunitária praticado. Na cidade, as comunidades se

organizam de maneira diferente o que tornará a análise de TBC mais profunda e com

certa dificuldade de ser feita.

Ao contrário da vida no campo, a cidade conta com um alto grau de dinamismo. A

diversificação entre as pessoas é bastante elevada, seja em classes sociais, em

bairros de moradia ou acesso aos bens essenciais. Além disso, a rotina das pessoas

também se difere, com alguns tendo de se deslocar quilômetros ao local de trabalho e

outros praticando os seus afazeres próximo às residências. A complexidade urbana

acaba por ser maior que aquela verificada no ambiente rural. Assim, se torna mais

difícil analisar uma comunidade, já que ela também terá estes altos níveis de

diversificação. Por vezes, se torna complicado até mesmo classificar determinada

moradia como uma comunidade.

No Rio de Janeiro, cidade onde está sendo realizado este trabalho, essa realidade se

acentua ainda mais, por ser a segunda maior cidade do país, com seis milhões de

habitantes e caráter extremamente cosmopolita. Outro interessante aspecto quase

Page 33: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

25

exclusivo à Cidade Maravilhosa é o fato de muitas vezes a pobreza conviver lado a

lado com a riqueza, já que as favelas podem estar localizadas mesmo nas zonas mais

abastadas da cidade.

O perfil do turista que visita a cidade, em contrapartida, também conta com diferenças

em relação àquele que vai para um ambiente mais sossegado. Ele tem interesse em

conhecer essa energia e esse dinamismo específico de cada cidade. No Rio de

Janeiro, com uma variada cultura e inúmeras formas de expressá-la, isso se torna

ainda mais evidente. O turista quer ao mesmo tempo visitar o Corcovado, comer no

restaurante mais caro da cidade e conhecer o bairro mais nobre, mas também curtir

um samba e cerveja na favela da Mangueira. Como então o TBC entrará neste

aspecto tão diverso?

Por esse cenário, a definição de comunidade e do consequente turismo de base

comunitário praticado por ela será simplificada para este trabalho como sendo um

empreendimento que faz uso da atividade turística (não necessariamente exclusiva) e

o protagonista e colhedor dos benefícios do turismo esteja com o morador local, seja

esta uma favela ou um bairro nobre.

Porém, quando se trata de TBC, o recente histórico e a visão mais comum é a que

este tipo de turismo é aquele praticado em uma favela, um turismo “pra pobre”. Cabe

então refutar esta teoria e afirmar que nem todo turismo feito em favela é TBC e

também colocar como falsa a ideia de que turismo em que o pobre não seja

evidenciado acarreta na impossibilidade de ser turismo de base comunitária.

TBC urbano – casos de não favela

No Rio de Janeiro, existem os chamados tours culturais que vão além de visitas aos

pontos turísticos tradicionais como corcovado e pão-de-açúcar. Esses passeios

envolvem o conhecimento de bairros ou regiões específicas. A principal delas é área

do centro da cidade, com muitos museus e outras atrações culturais. Outros locais

com alto potencial para a realização de tour são os bairros nobres da zona sul –

Copacabana, Ipanema e Leblon – o bairro boêmio e pacato de Santa Tereza, a ilha de

Paquetá, além de alguns bairros da zona norte e oeste.

Embora não seja a visão mais convencional, o turismo de base comunitária pode ser

Page 34: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

26

praticado nestes locais. Para isso acontecer, basta que a iniciativa de promover os

eventos turísticos parta dos próprios moradores residentes nestes locais. Sendo

assim, ele irá conhecer o cotidiano dos que ali vivem e poder transmitir com maior

entusiasmo, qualidade e precisão os hábitos e costumes locais. Também por ter

nascido e crescido no local, este guia tem alta capacidade de contar com detalhes a

história do bairro, que irá por vezes e em certos momentos, se confundir com a sua

própria história.

Também pode ser o exemplo de turismo comunitário a hospedagem em locais

históricos da vizinhança, como é o exemplo de Santa Tereza, em que casas com rica

história e muitas vezes até mesmo tombadas pelo patrimônio público são usadas com

estre propósito. Essa hospedagem gera identificação maior do turista com o bairro ou

mesmo do dono do empreendimento com este.

Porém, o maior exemplo de turismo comunitário praticado pro um determinado guia

local (ou um empreendimento), é uma eventual parceria com a associação de

moradores. Em conjunto, é possível melhorar certos aspectos do bairro, fomentando o

turismo e melhorando a qualidade do produto turístico para o visitante. Tal associação

tem o dever de cobrar do poder publico a implantação de placas sinalizadoras de

hotéis, restaurantes, ruas e pontos turísticos, garantir a limpeza do local ou revitalizar

uma praça em mal estado. Nos bairros banhados pela praia, também é papel da

associação e um de um possível núcleo de turismo comunitário a promoção de

campanhas que conscientizam a população para manter a areia limpa e uma água

própria para o banho.

É visível que nesses casos, os ganhos não se restringiriam ao turismo. Esses

benefícios seriam também ambientais (limpeza dos locais), e sociais (as placas

gerariam mais segurança). O dinheiro deixado pelos turistas também ficaria para o

bairro, gerando renda e garantindo um viés econômico ao TBC. Com esses fundos

adquiridos, novos investimentos podem ser feitos, gerando um ciclo virtuoso.

1.8 TBC urbano – as favelas e sua caracterização

Caracterização da favela

As favelas são caracterizadas por construções em pobres, sem planejamento e por

Page 35: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

27

certas vezes ilegais e em locais de risco, onde a população pobre das grandes

metrópoles se instala na busca de conseguir uma vida melhor de onde estava antes. É

um espaço onde a pobreza e a miséria se fazem presentes, bem como a ausência da

garantia dos bens essenciais. O poder público muitas vezes é negligente e

despreocupado com as questões acerca da favela.

É um fenômeno mundial, mas com características específicas ao caso brasileiro e

mais ainda a cidade do Rio de Janeiro. Seu histórico começa no final do século XIX,

com a abolição da escravidão. Os negros, sem ter onde viver e abandonados a sua

própria sorte, ocuparam os morros existentes na cidade.

Ao longo do século XX, o êxodo rural – principalmente da região Nordeste - foi se

intensificando e as favelas crescendo, porém sem ordenamento, aumentando ainda

mais os problemas sociais: ausência de educação, saneamento básico, empregos

precarizados e uma forte tendência à economia informal. Esse crescimento

desordenado também gerou problemas de saúde, já que o ar não cirucla como deveria

pelos becos e vielas. Os chamados “puxadinhos”, um andar construído acima do

primeiro pavimento dos barracos.

Mais recentemente, desde a década de 70, as favelas ganharam uma conotação ainda

pior. A ausência de oportunidades de emprego e educação levou os seus moradores

a se associarem com o tráfico de drogas como meio de vida. Isso levou o pânico e o

medo aos morros e favelas do Rio de Janeiro, tendo estes que conviver com uma alta

criminalização e índices elevados de violência. Essa violência era também causada

pelas invasões da polícia militar, que com a “desculpa” de conter o tráfico de drogas,

acabava gerando o “efeito colateral” de mortes de inocentes.

Porém, há também de se destacar o lado positivo da favela. É um local onde cultura

“transpira”. É o berço de ritmos genuinamente brasileiros, como o samba, e o funk. O

cotidiano dos moradores locais se difere bastante daquele presente no “asfalto” -

expressão designada para denominar o espaço onde a favela não está presente. No

Rio de Janeiro, isso se acentua ainda mais uma vez que “favela” e “asfalto”, ao mesmo

tempo em que estão distantes do ponto de vista dialógico e cultural, estão próximo do

ponto de vista geográfico. As favelas da zona sul, por exemplo, contam com atrações

únicas, como um belo visual da cidade. É nesse contexto que o turismo surge como

opção de emprego e desenvolvimento social para a favela.

Page 36: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

28

O Rio de Janeiro é a cidade com o maior número de favelas do Brasil. São mais de 1,3

milhão de pessoas ou 22% da população total (Censo IBGE, 2010). A comparação dos

indicadores das favelas com outras regiões da cidade também se faz interessante:

Rocinha e Alemão, com renda per capita de R$176,90 e R$220, estão muito abaixo da

média de R$615 da cidade. Os anos de estudo também estão aquém do necessário -

5,36 anos nas favelas contra 8,29 anos fora delas. Os dados foram retirados de censo

feito em comunidades de baixa renda, da FGV, em 20095.

Por isso, a favela não pode de maneira nenhuma ser ignorada com um espaço de

produção cultural e também um espaço a ser olhado com atenção pelos governos sob

todos os aspectos.

O novo contexto das UPP's

Em 2007, o governo instalou a primeira UPP (unidade de polícia pacificadora) em uma

favela do Rio de Janeiro, no morro Santa Marta em Botafogo. Desde então, já foram

instaladas quase 40 UPP's nas favelas cariocas, sendo a ampla maioria na zona sul,

entorno do aeroporto e do estádio do Maracanã e zona portuária carioca.

A UPP consiste em uma ocupação permanente por parte da polícia militar carioca nas

comunidades em que o tráfico estava presente. O governo a define com um trabalho

com os princípios da polícia de proximidade, um conceito que vai além da polícia

comunitária e que tem sua estratégia fundamentada na parceria entre a população e

as instituições da área de segurança pública6.

Essa teoria nem sempre se equivale à prática, já que por vezes os moradores

reclamam de abusos por parte dos policiais e impedem os habitantes de praticarem a

sua cultura, por exemplo, com a não permissão dos bailes funks. Há opiniões de que a

UPP, até certo ponto, restringe a liberdade, já que é preciso comunicar quando vai

haver festas e outros eventos. Além disso, na pesquisa de campo foi ouvido que o

tráfico continua presente na comunidade e que os jovens continuam tendo este

caminho como alternativa a ausência de políticas públicas.

Um exemplo dessa contradição presente nas UPP´s em que ao mesmo tempo ela 5 Disponível em <http://www.cps.fgv.br/cps/bd/favela2/Favelas2_Apresenta%C3%A7%C3%A3o3_VISUAL.pdf > 6 http://www.upprj.com/index.php/o_que_e_upp

Page 37: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

29

reprime o tráfico que é negativo para o desenvolvimento da comunidade, também

acaba reprimindo a própria comunidade. A UPP, antes de tudo, deve ser encarada

como uma ocupação, em que muitas vezes os moradores locais se submetem as

decisões policiais dos militares que estão na “gestão” da UPP. Esses policiais podem

não estar de acordo com os interesses da comunidade, exercendo a mesma função

que o tráfico exercia anteriormente.

Porém, é inegável o avanço das UPP's nas favelas cariocas. A violência diminuiu e a

favela voltou passou a ser um espaço não apenas ocupados pelos moradores. A

garantia da segurança fez com que o governo, embora ainda seja muito incipiente a

trazer os outros direitos básicos – saúde, educação e saneamento básico – pôde atuar

nas favelas e começar a melhorá-las. Muitos empreendimentos foram legalizados,

como brechós e lojas internas e a economia da favela pode aflorar melhor com esse

comércio interno.

É nesse contexto que o turismo começa a ser oferecido e praticado. Já existia TBC

antes da UPP, porém com a sua criação, o turista pode se sentir mais seguro e o

morador mais propenso a criar os empreendimentos e buscar este visitante. De certa

forma, pode-se dizer que o impacto da instalação das UPP´s no turismo é mais

externo do que interno. As agências passaram a ter segurança de que poderiam

realizar tours nas favelas e o turista também ganhou confiança para visita-las.

O TBC nas favelas

A favela é um espaço onde o cotidiano é diversificado. A cultura deste espaço tem uma

peculiaridade exclusiva não encontrada em qualquer lugar do Rio de Janeiro. O modo

de seus habitantes viverem é particular. A culinária, a dança, a música tocada nas

rádios comunitárias, a história e outros aspectos são muito interessantes. Soma-se

isso ao fato delas estarem localizadas em pontos estratégicos da cidade, próxima de

trilhas ecológicas e festas noturnas, fica pronto o cenário para as favelas fazerem

parte do roteiro do turismo do Rio de Janeiro.

Sendo assim, várias favelas já têm o seu núcleo de turismo e os serviços desejados.

Nem todos são necessariamente caracterizados como TBC, já que para isso, o

empreendimento deve ao menos atender alguns dos requisitos já tratados neste

trabalho.

Page 38: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

30

Sempre o protagonismo deve ser dos próprios moradores da favela. Eles devem

verificar quais são as melhores ofertas de passeios e buscar o melhor modo de atrair

os turistas. Assim como no TBC fora das favelas, dentro delas também é necessário

uma parceria com a associação de moradores, que pode dar o suporte ou até mesmo

ter um “braço” de suas atuações ligado à atividade turística. Isso é essencial para a

comunidade se sentir ativa e perceber que ela própria é a principal atora do

empreendimento. Deve haver também os quatro eixos que compõem o TBC. A

iniciativa deve ser sustentável sob o aspecto econômico, social, cultural ou ambiental.

O empreendimento de TBC não pode dar prejuízo, sendo importante que a favela

receba suporte da associação de moradores ou mesmo do governo. O papel do

governo deve ser incentivando o turista a conhecer a favela, incluindo este tipo de

passeio nos guias e folhetos oficiais da cidade. Assim, o dinheiro deixado pelos

turistas fica para a comunidade.

Socialmente e culturalmente, a favela deve “se mostrar” para o turista. Todos os

aspectos culturais se reforçam e sem mantém com o turismo, gerando uma troca de

“ganha-ganha” com essa expressão cultural. O turista, entre outros motivos, vem para

conhecer a cultura local, para se inserir no cotidiano. Na favela, ele conhece o samba,

a capoeira, o funk ou até mesmo os grafites pintados nas paredes das casas e locais

públicos. E para o morador, os laços sociais se fortalecem e a comunidade como um

todo desfruta do benefício.

Do ponto de vista ambiental, a preservação é essencial para garantir que as favelas

com trilhas e o consequente potencial para o ecoturismo possa atrair turistas que têm

o perfil para este tipo de passeio. Isso garantiria também que as favelas em

crescimento não teriam casas erguidas em áreas de risco, aumentando a possibilidade

deslizamentos e altos impactos sociais.

Podem-se citar alguns exemplos já existentes de serviços e maneiras de explorar o

turismo nas favelas cariocas. Várias delas já possuem festas e eventos culturais,

sendo a mais clássica e que representa o Brasil e o Rio de Janeiro, os ensaios das

escolas de samba para o carnaval carioca. A culinária é outra maneira de mostrar as

características da favela, com tira-gostos ou mesmo restaurantes. Há ainda os hostels

localizados nos morros que dão oportunidade do turista se hospedar e se inserir ainda

mais no dia-a-dia dos moradores.

Page 39: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

31

Porém, a principal oferta turística já existente e a ser explorada são os tours culturais

pela favela, e feitos pelos guias locais, garantindo que o turismo seja de base

comunitária. Santa Marta, Rocinha e Morro do Alemão são algumas das favelas que

contam com esses tours. O passeio passa por pontos estratégicos, vistas

interessantes e vez ou outra, inclui uma visita a uma laje de um morador. Existe ainda

a oportunidade de ver a produção artística da favela, como a passagem em lojas de

artesanato organizadas pelos habitantes locais.

Logo, a favela pode e deve ser explorada como o caso típico e com alto potencial de

prática para a exploração do turismo de base comunitária em cidades grandes, como é

o caso do Rio de Janeiro. É o exemplo de que o TBC não deve se restringir a

ambientes rurais e de comunidades tradicionais, podendo ser também aplicado a

comunidades com cotidiano mais dinâmico e diversificado.

TBC x Jeep Tour

“Se tiver qualquer coisinha pra doar pro pobre, qualquer coisinha, não doa não, porque

é disso que a gente vive”.

Essa frase foi transcrita de um vídeo do canal humorístico do youtube Porta dos

Fundos7. O vídeo destaca o ator principal como um guia turístico (não morador da

favela) que leva os visitantes para conhecer a favela. O passeio não evidencia em

nenhum momento a cultura local e o cotidiano dos residentes. Ao contrário, a “atração”

do passeio é justamente a pobreza e a miséria presentes nas favelas cariocas. E o

guia utiliza esse elemento para ganhar dinheiro, enquanto o turista se “delicia” com a

pobreza.

O vídeo naturalmente é fictício, mas revela uma realidade cada vez mais presente nas

agências de turismo de fora da favela. A principal delas é a jeep tour, que não faz um

passeio muito diferente daquele demonstrado no vídeo. O turista compra o passeio em

uma agência, é apanhado em seu hotel e passeia de jeep pela favela. Ou seja, a

impressão que passa é que se está em um safári e o “bicho” é o habitante local,

muitas vezes pobre e sem acesso aos bens essenciais. O pior ocorre quando além de

mostrar a realidade da favela, ainda invade a privacidade daqueles que lá vivem.

7 https://www.youtube.com/watch?v=8NlLQp2xmZ8

Page 40: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

32

Tiram-se fotos de pessoas sem perguntar se essas autorizam ou até mesmo invadem

casa e lojas sem qualquer consulta ou benefício para a comunidade. A figura 3

demonstra essa realidade através de propaganda para o turista.

Figura 3 - Exemplo de Propaganda de "Safari" (Site rocinha.org)

A agência, mesmo com esses elementos, tem a “ousadia” de chamar caracterizar essa

“modalidade” de turismo como turismo comunitário. Porém, não há qualquer troca

entre visitante e visitado, sendo esta feita apenas na forma de observação. A iniciativa

não parte da própria comunidade, não há qualquer comunicação com a associação de

moradores, e não nenhum ganho ou benefício que fique com há comunidade. A favela

é apenas uma mercadoria. O TBC é totalmente descaracterizado.

Outro problema evidenciado está no fato de que os guias, que não são locais, não

abordam o turismo de favela da maneira em que ele deveria ser colocado. Muitas das

vezes, a comunidade é apenas um espaço de contemplação com as belas vistas ou

outros pontos turísticos. Quando o morador está no centro das atenções, é

evidenciada apenas a sua alegria e o seus aspectos positivos. Os problemas sociais

existentes na favela, como a falta de recursos, a pobreza e a violência são ignoradas

no tour (MESQUITA, 2007). A miséria presente não pode e nem deve passar em

branco, uma vez que ela faz parte da realidade do favelado e é esta realidade que o

guia deve ter preocupação em passar. O maior problema, porém, desta “política” de

tour é que não há interação entre visitante e morador, essencial ao TBC. O visitante

não é transformado pela realidade da favela e o morador não recebe o benefício de

estar em contato com o turista. A relação ganha-ganha é deixada de lado.

Page 41: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

33

Portanto, cabe deixar claro que nenhum tour ou agência deste tipo foi estudado neste

trabalho e essa reflexão teórica serve para refutar qualquer hipótese de considerar

este tipo de empreendimento como TBC. Ele só não pode ser considerado assim,

como na maioria das vezes é prejudicial ao desenvolvimento social na favela.

Page 42: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

34

2. MAPEAMENTO DOS ESTUDOS DE CASO

2.1 A metodologia do mapeamento

Neste capítulo será traçada uma explicação e os critérios utilizados para a definição de

quais os estudos de caso de turismo de base comunitária já existentes – em maior ou

menor grau - na cidade do Rio de Janeiro.

A primeira etapa consistiu em uma ampla busca de todos os locais na cidade que

poderiam de alguma maneira e em alguma análise, serem considerados como um

empreendimento de turismo em que a comunidade local pudesse ser a protagonista,

de acordo com as definições explicitadas na revisão bibliográfica deste trabalho.

Naturalmente, a primeira vista com um “pensamento livre”, veio em mente as favelas

da zona sul carioca, sendo dois os principais motivos: A grande maioria tem uma visão

privilegiada da praia e de morros como o Corcovado e o Pão de Açúcar e por já

estarem próximas ao corredor hoteleiro da zona mais nobre da cidade e presente nos

roteiros dos guias turísticos impressos pelas agências. Algumas favelas da Zona Norte

também se encaixariam, uma vez que tem sido alvo de altos investimentos por parte

do governo (como a construção de teleféricos). Outras têm em suas escolas de samba

o carro-chefe para a exploração do turismo. Por fim, o bairro de Santa Tereza e a Ilha

de Paquetá seriam aqueles com potencial de TBC onde não há favela por conta do

seu ar bucólico e reservado.

Com essas ideias em mente, a busca inicial se deu na internet, com sites

especializados em turismo, como o Trip Advisor8 e outros locais mais institucionais,

como o Guia Oficial do Rio de Janeiro9. Foi possível também verificar em sites dessas

próprias favelas, comunidades e bairros se havia algo em torno da prática do TBC.

8 http://www.tripadvisor.com.br/ 9 http://www.rioguiaoficial.com.br/

Page 43: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

35

Além disso, houve a ajuda de dois acadêmicos para realizar o mapeamento. Um deles

foi o orientador deste trabalho, que já possuía um conhecimento prévio do assunto e o

segundo de uma dissertação de mestrado feita sobre o tema que já abordava um

estudo de caso de turismo em algumas das favelas do Rio de Janeiro. A tese é

intitulada de TURISMO EM FAVELAS CARIOCAS E DESENVOLVIMENTO SITUADO:

A POSSIBILIDADE DO ENCONTRO EM SEIS INICIATIVAS COMUNITÁRIAS e sua

autora é Elisa Spampinato.

Em um segundo momento, foi decidido o número de estudos de casos a serem

anlisados. O número de locais com empreendimentos de TBC, seja em potencial, seja

já em um estágio mais avançado era elevado e com certa diversificação nas

características de cada um. Evidentemente, não poderiam ser todos os casos

encontrados a serem estudados, para não deixar o trabalho extenso, sendo difícil de

compreendê-lo tanto por parte dos avaliadores e leitores, quanto pelo próprio autor.

Sendo assim, a decisão foi de escolher oito casos em que o TBC era explícito e tinha

um potencial de crescimento ou mesmo já tivesse atingido a maturidade.

Por fim, foram adotados alguns critérios a serem decididos. Era interessante que

tivesse uma gama variada de empreendimentos. Essa variação poderia incluir a

localização da cidade, o fato de ser favela e a presença de tipos diferentes de turismo

praticados. Outros critérios foram o tamanho da comunidade, o potencial do turismo

como atividade econômica baseado na localização e nos atrativos turísticos presentes

e o fato de estar no roteiro das principais agências. O status de cada empreendimento

foi feito com base em informações adquiridas pelo orientador e em pequenas

pesquisas realizadas via internet.

Porém cabe dizer que o primeiro critério, sendo este eliminatório, foi a prática de

Turismo de base comunitária ou ao menos uma projeto embrionário que viria a se

tornar assim. Portanto, todos os locais em que o TBC não era praticado, foram

descartados.

Para definir os casos a serem estudados, foi construída a tabela 2, de modo a auxiliar

fundamentar uma justificativa para as escolhas.

Page 44: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

36

Tabela 2 - Possíveis casos de TBC (elaboração própria)

TBC Favela Localização Tamanho Potencial Roteiro de agências

Rocinha Sim Sim Zona Sul Enorme Alto Sim

Alemão Não Sim Zona Norte Enorme Médio Médio

Santa Tereza Sim Não Centro Médio Alto Sim

Ecomunitário Sim Não Zona Oeste Pequeno Médio Não

Santa Marta Sim Sim Zona Sul Médio Alto Sim

Mangueira Não Sim Zona Norte Grande Médio Sim

Paquetá Sim Não Baía de Guanabara Pequeno Médio Não

Maré Sim Sim Zona Norte Enorme Baixo Não

Salgueiro Não Sim Zona Norte Grande Médio Sim

Cantagalo Sim Sim Zona Sul Pequeno Alto Médio

Pereirão Sim Sim Zona Sul Pequeno Médio Não

Chapéu Mangueira Sim Sim Zona Sul Pequeno Alto Não

Ladeira dos Tabajaras Sim Sim Zona Sul Pequeno Médio Não

Vidigal Não Sim Zona Sul Médio Alto Sim

Com essa tabela, os casos foram escolhidos. Foram decididos dois casos em que não

fosse uma favela, sendo Paquetá, por apresentar possibilidades diferentes e o projeto

Ecomunitário em Campo Grande, por ser o único caso presente na Zona Oeste. A

representante da Zona Norte foi a Maré, não só por ser a única com TBC na região,

como também para se realizar uma análise de um local, que em teoria, não tem

potencial para desenvolvimento do turismo.

As escolhas da Zona sul ficaram por conta da Rocinha, maior favela da América

Latina, Cantagalo e Chapéu Mangueira, por estarem no coração de Ipanema e

próximo a Copacabana respectivamente, dois dos bairros mais nobres da cidade. Por

fim, Santa Marta e Pereirão foram as últimas escolhas. As figuras 4 e 5 mostram um

mapa mostrando a localização dos casos.

Page 45: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

37

Figura 4 - Mapa geral. Indicações de Rocinha, Maré e Paquetá (Google maps).

Figura 5 - Mapa geral. Indicações de Cantagalo, Babilônia, Santa Marta e Pereirão (Google maps).

Page 46: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

38

Infelizmente, por motivos de incompatibilidade de contatos, o projeto Ecomunitário foi

descartado, já que as circunstâncias não permitiram pesquisas feitas pela internet –

muito por conta da ausência de um website - ou visitas de campo que possibilitassem

a compreensão de como funciona o projeto. Sendo assim, o número de casos

estudados caiu para sete.

2.2 Projetos gerais

Antes, é importante dizer que a favela (não necessariamente sendo empreendimento

de TBC) tem sido cada vez mais procurada pelos turistas. Eles buscam conhecer a

cultura local deste modo de vida tipicamente carioca. Isso tem se revelado nos

números. Em pesquisa recente divulgada pela FGV, os dados mostraram que 58,1%

dos brasileiros e 51,3% dos turistas que visitam o Rio de Janeiro tem interesse de

conhecer uma favela10. Antes de dar início aos estudos de caso, serão enumerados

alguns projetos existentes que envolvem todas as favelas do Rio de Janeiro.

Soul Brasileiro11

O soul brasileiro é um projeto que busca fazer turismo nas favelas do Rio de Janeiro,

de maneira responsável. Existe um foco na sustentabilidade, que permite que haja

uma continuidade natural dos benefícios obtidos mesmo ao término dos programas.

Os membros do projeto sempre procuram estabelecer relações positivas com as

comunidades, deixando parte da renda no local.

As favelas envolvidas no projeto são Chapéu Mangueira/Babilônia, Cantagalo/Pavão-

pavãozinho, Santa Marta e Vale Encantado.

O Guia das Favelas12

É um projeto realizado em conjunto pela agência de notícias das favelas, Minas de

Ideias Comunicação Integrada e ANF Produções. A ideia é a geração de um guia em

que o turista possa obter informações detalhadas de como chegar às favelas que tem

algum aproveitamento turístico. Também, o guia revela as atrações como mirantes e

10

http://infosurhoy.com/pt/articles/saii/features/society/2013/01/23/feature-01?change_locale=true 11

http://soulbrasileiro.com.br/ 12

http://www.guiadasfavelas.com/

Page 47: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

39

museus, além de restaurantes e lojas com produtos locais.

O guia já conta com onze favelas recém-pacificadas: Morro dos Prazeres, Morro da

Providência, Santa Marta, Rocinha, Complexo do Alemão, Chapéu Mangueira,

Salgueiro, Mangueira, Cantagalo-pavão-pavãozinho e Vidigal.

O projeto Top Tour

Em 2010, foi lançado o projeto Rio Top Tour. É uma parceria dos governos federal e

estadual trabalhando em conjunto com o ministério do turismo, que busca promover

inclusão social e econômica e desenvolvimento local através da atividade turística. O

investimento previsto seria de 230 mil reais13, envolvendo a capacitação de moradores

das favelas para ser guias de turismo, a preparação dos mesmos a receber turistas

estrangeiros e o incentivo ao microcrédito a pequenos empreendedores. Em várias

das favelas, houve ainda a instalação de placas de sinalização bilíngues e postos de

informação turística na base das favelas.

Há ainda a criação do selo “amigo do turista”, concedido pela secretaria estadual do

turismo. Este selo identifica os moradores de favelas que participam do projeto Top

Tour e são capazes de desenvolver empreendimentos de qualidade. Algumas das

comunidades beneficiadas pelo projeto são Santa Marta, Chapéu Mangueira,

Cantagalo, Borel e Cidade de Deus. Pode-se ver também a inclusão das favelas nos

principais guias de roteiros da cidade, incluindo aqueles fornecidos gratuitamente pela

RioTur.

Porém, ao se fazer uma simples pesquisa, é possível ver que boa parte do projeto não

foi a frente. A última notícia referente ao Top Tour data de 2011 e não há sequer um

site que explique o intuito e os benefícios do projeto. O blog já inexistente revelou que

boa parte dos recursos prometidos pelo poder público chegou, em parte também pelos

escândalos de corrupção no ministério do turismo (CARVALHO; SILVA, 2012). A

principal promessa que não se concretizou foi a formação de guias locais nas favelas

cariocas.

Diante deste fato, vale fazer uma reflexão que o governo exerce no que tange ao

incentivo do turismo que visa a inclusão social, base para os empreendimentos de

13

http://www.turismo.gov.br/turismo/noticias/todas_noticias/20100830.html

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40

TBC. Um projeto que parecia interessante acabou não impactando positivamente nas

favelas, já que a sua ausência acabou por abrir espaço para empresas de fora das

favelas e que já estão consolidadas e despreocupadas com um turismo responsável,

de praticar atividades que não trazem benefícios aos moradores das favelas. Isso será

visto melhor ao se analisar cada caso que será incluído neste mapeamento.

2.3 Santa Marta

2.3.1 Caracterização da Favela

A favela Santa Marta está localizada em um local privilegiado do Rio de Janeiro (ver

figura 6). Fica no bairro de Botafogo, zona sul do Rio de Janeiro, área nobre da

cidade. Para se chegar, não há grandes dificuldades, já que a oferta de transportes é

boa. A sua base, a Praça do Corumbá, recebe um grande número de linhas de ônibus

e está a apenas 10 minutos de caminhada do Metrô.

Figura 6 - Mapa com localização do Santa Marta (g1.globo.com)

Não é uma favela de tamanho relativamente grande, com 4700 moradores espalhados

pelas suas 1370 residências. Há um limite de expansão, já que em 2009 foi construído

um muro de contenção supostamente para preservar a mata nativa e evitar

construções em áreas de risco. Sendo assim, a única possibilidade de crescimento

populacional se dá através da verticalização, apresentando construções de até cinco

pavimentos (CARVALHO; SILVA, 2012).

Page 49: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

41

Na década de 1980, assim como na grande maioria das favelas cariocas, viu crescer o

tráfico de drogas e chamado poder paralelo. Por esse motivo, os indicadores de

violência subiram e os moradores passaram a conviver com o medo no cotidiano. Em

2008, porém, a comunidade foi escolhida para ser a primeira no Rio de Janeiro a

receber uma unidade de polícia pacificadora (UPP), que afastou o tráfico de drogas

armados e assim reduzir a violência.

Também em 2008, a construção de um plano inclinado facilitou a mobilidade dos

moradores que viviam nas regiões mais altas do morro, permitindo que a população

não necessitasse subir os 1300 degraus da escadaria. Houve ainda melhorias na rede

de esgoto, no sistema viário com pavimentação de ruas e distribuição de água.

Em 2012, houve nova investida do governo em obras com intuito de melhorar a vida

dos habitantes locais. O PAC (programa de aceleração do crescimento) pretende

construir 64 unidades habitacionais para os moradores em áreas de risco e 225 casas

devem receber reformas. Será construído também um centro comunitário de ação

social e reflorestamento de áreas por ocupações irregulares.

Mesmo com as obras recentes e a implantação da UPP, os indicadores econômicos e

sociais ainda se encontram bem abaixo do esperado. 20% estão na linha da pobreza e

6% estão em nível de indigência. Quando se trata de educação, a média de

escolaridade é de apenas seis anos e 30% dos jovens entre 15 e 18 anos não

estudam. Nos jovens de 15 a 24 anos, esse número chega 50%. O salário médio per

capita é o mais baixo entre as favelas da Zona Sul, atingindo apenas R$481,50

(FURTADO, 2012).

Isso mostra que o desenvolvimento social ainda está longe de ser alcançado pelos

moradores e assim se vê que o Turismo, se não tem a capacidade de resolver o

problema, tem o potencial de amenizá-lo, potencializando o desenvolvimento local e

fazendo a economia local ser estimulada, através de pequenos empreendimentos.

Prova disso é o número de turistas subiu de 60/dia antes da criação da UPP para

300/dia.

Felizmente, os recentes investimentos na favela já foram suficientes para alavancar o

turismo comunitário, já que existem guias locais com pequenos empreendimentos.

Page 50: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

42

2.3.2 Os empreendimentos turísticos já existentes

Em pesquisas sobre o turismo praticado na favela do Santa Marta, pode ser visto dois

empreendimentos que podem ser caracterizados como turismo de base comunitária.

São eles o Favela Santa Marta Tour e o Brazilidade.

Ambos têm em comum o fato de que seus principais atores nasceram e foram criados

no chão da favela e sendo assim, mostram a sua própria identidade, sua própria

cultura, seu próprio povo, ao oferecer tours guiados pela favela. Sendo assim, os dois

se enquadram em TBC, já que é praticado pelos próprios moradores e o benefício fica

para a comunidade ao invés de agentes externos.

É de se esperar também que ambos os empreendimentos façam passeios parecidos,

mostrando o que há de principal na favela. Além disso, há ainda o fato de que não há

uma “consulta popular” a comunidade na gestão do negócio e os ganhos das

atividades, se analisados de maneira direta, ficam quase que exclusivamente com os

empreendedores, não se entendendo a comunidade como um todo, a exceção de

cidadãos pontuais que vendem seus produtos, como é o caso de comida e artesanato.

Seria uma boa iniciativa procurar uma parceria com a associação de moradores.

Favela Santa Marta Tour14

Thiago Firmino, morador da favela, é guia credenciado pelo SEBRAE e iniciou em

2008 a realização de passeios guiados pelos principais pontos da favela que poderiam

ser de interesse do turista, seja ele brasileiro ou estrangeiro. Desde então, aumentou e

diversificou sua oferta de serviços turísticos pelo morro e hoje a pequena empresa já

conta com quatro guias moradores do Santa Marta. Por seu sucesso, Thiago já

concedeu entrevistas aos mais variados meios de comunicação e ganhou prêmios.

Recentemente, viajou a Colômbia para ajudar a implementar o turismo social em uma

favela colombiana.

O principal passeio oferecido é o tour guiado de duas horas pela favela. O turista tem

oportunidade de conhecer os becos e vielas do local, ouvindo sua história, além de

vivenciar o modo de vida dos moradores e passar pelos locais onde já estiveram

Rainha Elizabeth II, Alicia Keys e Madonna. Os pontos altos do passeio são a subida 14

http://favelasantamartatour.blogspot.com.br/

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43

no plano inclinado, a visita à estátua do Michael Jackson, no local onde ele gravou o

clipe para o seu CD “They don't care about us” em 1996. A visita também proporciona

ao visitante uma excelente vista do Rio de Janeiro. Do alto do morro, é possível avistar

o Corcovado, o Pão de Açúcar, a Lagoa e todo o bairro de Botafogo. Há ainda a visita

em lojas de souvenires geridos pelos próprios moradores. O custo é de R$50,00 por

pessoa para o tour em português e R$70,00 para o tour em inglês, com um tradutor

para o guia local. Algumas fotos com esses locais podem ser vistas na Figura 7.

Figura 7 - Painel de fotos com atividades de turismo no Santa Marta

O segundo interessante passeio é o chamado “Um dia na favela”. Neste passeio, o

turista visita os mesmos pontos do passeio anterior, mas com opção de almoço. O

interessante é que o almoço é preparado por uma moradora da favela, que come junto

com o turista em sua própria casa. Sendo assim, o turista pode observar exatamente

como vivem os cidadãos do Santa Marta. O passeio dura quatro horas e custa

R$150,00, incluindo almoço.

Por fim, a Santa Marta Favela Tour oferece opção de hospedagem para os que

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44

querem “morar” na favela, enquanto visitam o Rio de Janeiro. A estadia mínima é de

dois dias em uma pequena casa no meio do morro, com uma cama de casal e

colchonetes. O grupo que quiser fechar o pacote terá exclusividade no alojamento.

Não há valores no site.

Quando há demanda, há ainda passeios e serviços esporádicos. É feita a trilha até o

mirante Santa Marta, com bela vista do Rio de Janeiro. Outra opção é fazer uma festa

no Lajão, um salão na favela em que é oferecido caixa de som e bebidas. Há rodas

de samba, show de capoeira e tour fotográfico, entre outros. Até mesmo um paint-ball

foi aberto pela agência.

Vale ainda ressaltar o projeto Pipa na Laje, onde crianças e adolescentes da

comunidade ensinam os turistas a confeccionar pipas e empiná-las. A brincadeira

entretém moradores e visitantes e mais uma vez a cultura local é evidenciada, já que é

muito comum ver nas favelas cariocas pipas empinadas ao céu em grande número.

O site da agência (que na verdade é um blog), apesar de possuir muita informação,

ainda carece de certa organização, que poderia proporcionar ao turista maior

facilidade no acesso. Também conta o fato de que não há tradução para o inglês, o

que limita o site ao uso de falantes apenas do português. Por outro lado, pode-se ver

uma preocupação explicita com os impactos – positivos e negativos – com a existência

da atividade turística na comunidade.

Brazilidade15

Sheilla Gama, começou a promover passeios guiados pelo Santa Marta ainda em

1992. Formou-se em Turismo e ainda fez MBA em turismo e negócios e em 2010,

criou a empresa Brazilidades. A preocupação com a comunidade em que ela nasceu e

foi criada é visível em seu site, assim como a prática do turismo de base comunitário.

Inclusive esse é o termo usado por ela para designar o seu empreendimento.

Os passeios oferecidos são semelhantes ao do empreendimento anterior, com

passagem pelos principais pontos da favela e ainda a oportunidade de conversar

diretamente com alguns moradores e visitas a casa de outros. O diferencial é que

Sheilla, talvez por ser formada em turismo, também oferece palestras sobre o que faz

15

http://brazilidade.com.br/

Page 53: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

45

e tours para estudantes de arquitetura, turismo e outras especialidades que

enxerguem no morro algo para a sua profissão. Há ainda “pontes” com outras favelas,

em que Sheilla também realiza passeios.

O site da empresa é organizado e tem qualidade, além de ser oferecida uma versão

em inglês, mas carece de informações importantes, como e duração do passeio.

2.3.3 As características dos turistas

Uma pesquisa da Fundação Getúlio Vargas de 201316 permitiu traçar um perfil dos

turistas que visitam o morro Santa Marta. 400 pessoas responderam o questionário em

quatro línguas diferentes. 78,9% tiveram suas expectativas superadas. 57,2%

recomendariam o programa aos seus amigos e a arquitetura foi o que mais

impressionou para 56% dos entrevistados. Sobre insegurança, apenas 27,8% disse ter

se sentido inseguro em algum momento, mostrando que nas suas percepções, o Rio

de Janeiro é relativamente seguro. 85,9% estavam pela primeira vez na cidade.

Um dado importante para a comunidade é o quanto cada turista gastou no local.

81,4% dos estrangeiros gasta até R$10,00 e 61,4% até R$5,00. Dos que não gastam

nada, 40,6% disseram achar a oferta de produtos ruim e 11,6% reclamou da higiene

do local, O principal atrativo citado foi a estátua do Michael Jackson. Outros pontos

interessantes foram a trilha para o mirante, o Cantão e o Lajão Cultural. A se

desenvolver, consta o paint-ball e exposições culturais.

Os moradores também foram entrevistados e afirmaram que a principal barreira é a

língua, que impede muitos de oferecerem passeios turísticos a estrangeiros. Outro

ponto citado foi a necessidade da história do local ser mais bem aproveitada.

2.3.4 Dificuldades e Concorrência com agências externas

Conforme cita Furtado (2012), uma barreira que governantes e moradores ainda tem

de enfrentar está no caráter sazonal do turismo. Por ser o Rio de Janeiro uma cidade

que depende de sol e dias quentes para ser aproveitada pelo turista, acaba que o

turismo se dá em sua maior parte na alta temporada, isto é, no verão. Isso faz com

16

http://www.turismo.gov.br/turismo/noticias/todas_noticias/20130121-1.html

Page 54: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

46

que alguém da favela que dependa do turismo para se sustentar, deve estar sujeito a

esta limitação. Isso se reflete de maneira clara no Santa Marta, fazendo com que guias

procurem outras atividades na baixa temporada.

O principal problema, porém, é a concorrência com agências externas à comunidade.

Em primeiro lugar, estas estão mais consolidadas no mercado, contam com mais

estrutura e tem acordo com hotéis para oferecerem os passeios. A Jeep Tour, mesmo

cobrando preços mais caros que as agências locais, consegue clientes que poderiam

estar beneficiando a economia local.

O grande revés das agências externas, é que na maioria das vezes essas não estão

interessadas nos benefícios da comunidade com a atividade turística. E por

consequência disso, acabam impactando negativamente na favela, não respeitando a

privacidade dos moradores e não gerando renda para eles, já que os guias não são

locais. O turista, por outro lado, perde a autenticidade do passeio e não se insere

propriamente no local, já que seu guia não conhece o morro. Isso se revela nas

opiniões dos moradores:

“Quando são os monitores locais as pessoas dão força, mas quando é

guia de fora, os moradores não gostam muito. Quando é com eles, os

visitantes sequer compram alguma coisa aqui dentro, nem os

artesanatos que a gente põe para vender, nem na lojinha que tem lá

embaixo.” (MAIA e BISPO, s.d., p. 14).

2.4 Complexo de Favelas da Maré

2.4.1 Caracterização da Favela

É uma comunidade grande, formada por um conjunto de dezesseis favelas, localizada

na zona norte do Rio de Janeiro. Está na junção das principais vias de acesso a

cidade – Linha Amarela, Linha Vermelha e Av. Brasil – além de ser a primeira vista do

turista que chega pelo aeroporto internacional do Galeão. A figura 8 mostra a

localização da Maré.

As dificuldades começam no acesso a favela. A oferta de transporte na região não é

boa. Quem vem de transporte público deve utilizar um ônibus que passe pela Av.

Page 55: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

47

Brasil. Não há trem ou metrô nas proximidades e mesmo para quem tem opção do

transporte particular, a ausência de estacionamentos contribui para aumentar esta

dificuldade.

Figura 8 - Mapa com localização da Maré (g1.globo.com)

O complexo da maré tem um tamanho elevado, se estendendo por cerca de 800 mil

m2, sendo maior que a área de favelas como Rocinha e Complexo do Alemão. O

número total de habitantes gira em torno de 130.000 e a quantidade casas é de

aproximadamente 43.000, de acordo com o censo de 2010. É interessante verificar

que 65% da população local é formada por afrodescendentes e 70% dos domicílios é

chefiado por mulheres. Há um número alto de crianças e adolescentes, com 33% do

total17.

Assim como em outras favelas cariocas, o tráfico de drogas foi responsável por trazer

violência ao local. Talvez por esse motivo, o poder público sempre ignorou a favela.

Isso se reflete de maneira direta nos indicadores sociais. O IDH é o terceiro pior,

dentre os bairros cariocas e na comunidade e arredores, a apenas duas escolas,

mostrando que o cenário, ao menos neste quesito, não é animador. Além disso, o

saneamento básico é ruim e os centros de saúde não tem qualidade. A maioria dos

trabalhadores está no mercado informal.

Recentemente, em março/2013, a esperança se renovou entre os moradores da maré,

já que foi instalada uma unidade de polícia pacificadora (UPP). Por ser ainda muito

recente, ainda não é possível fazer uma avaliação dos impactos, mas já existe

projetos que envolvem a melhoria no tratamento de esgoto visando melhorar as

condições de balneabilidade.

17

http://www.acaocomunitaria.org.br/acb/index.php?option=com_content&view=article&id=124&Itemid=124

Page 56: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

48

Existem também inúmeros projetos sociais que fortalecem a comunidade dos mais

variados jeitos. Alguns exemplos interessantes de ser citados são o centro de estudos

e ações solidárias da maré, escola de fotógrafos populares e o núcleo interdisciplinar

de ações para a cidadania18.

2.4.2 O turismo na Maré

Por sua localização, a Maré não tem a mesma oferta de atrativos turísticos das favelas

da Zona Sul. A dificuldade de acesso e ausência de vistas panorâmicas interessantes

faz com que poucos turistas se interessem por conhecer o local. Além disso, os

centros turísticos da cidade, como praias, bons restaurantes, hotéis e principais pontos

turísticos da cidade se encontram relativamente longe da favela.

Outro motivo que dificulta a inserção do turismo com atividade econômica na região é

a violência. A inexistência da UPP até o presente ano colocava a favela como violenta,

o que naturalmente afugentava turistas e que agências agendassem passeios.

Obviamente, as perspectivas também não permitiam a criação de pequenos

empreendimentos turísticos dentro da própria comunidade.

Mesmo assim, há alguns projetos embrionários que procuram desenvolver turismo de

base comunitária na comunidade e que agora tem altas chances de sucesso devido a

implantação da UPP. O principal projeto em questão é o Projeto Vila Solidária19. De

acordo com a definição do projeto, ele se propõe a incentivar a criação de pequenos

empreendimentos na Vila do João (uma das favelas que integra o complexo da Maré),

baseado no comércio justo, sob os preceitos da economia solidária. A ideia é a

valorização da cultura afro-brasileira pelos moradores negros da favela. Já existem

algumas atividades que podem ser desfrutadas pelos turistas, como a refeição no

Buffet Mareação, especializado em culinária africana e a fábrica e loja de cerâmica da

maré, que reúne artesanato típico. Trata-se de atividades que resgatam a memória e

fortalecem a identidade local, favorecendo a alteridade entre visitantes e anfitriões.

18

http://soulbrasileiro.com.br/main/rio-de-janeiro/favelas/complexo-da-mare/complexo-da-mare/ 19

http://www.ivt-rj.net/ivt/

Page 57: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

49

O Museu da Maré20

Hoje, já há um ponto turístico para os interessados em conhecer a história da favela e

que partiu de iniciativa dos moradores da própria comunidade. Nasce do desejo dos

habitantes pela preservação da memória e afirmação de sua identidade. Fica

localizado na Av. Maxwell, e a entrada é gratuita.

O acervo do museu conta com material variado sobre a história local, composto por

fotografias, publicações, fitas de vídeo e áudio, jornais e mapas. O acervo está

disponível à consulta de moradores, professores e alunos das escolas públicas do

bairro e de pesquisadores das diversas instituições da cidade. Algumas fotos podem

ser vistas na figura 9.

Figura 9 - Painel de fotos do Museu da Maré

As pesquisas do museu são feitas pelos moradores que foram alunos de um pré-

vestibular comunitário e hoje estão em faculdades de história, geografia e serviço

20

http://museudamare.org.br/joomla/

Page 58: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

50

social. Há ainda a oferta de oficinas de ballet, jazz, teatro, entre outros. O projeto

Marias da Maré permite que mulheres com saberes populares de ensinar a confecção

de artesanato. Estes exemplos nos mostram que o museu transcende o papel de

mostrar a história do local, sendo um centro cultural que pode ser aproveitado não só

pelo turista, mas também pelo habitante local, estando assim muito de acordo com o

turismo de base comunitária.

O Site do museu conta com qualidade e se mostra organizado, principalmente para os

moradores da favela, já que informa localização, horário de oficinas, projetos e o

conteúdo do acervo. Por outro lado, ainda não possuí versão em inglês, o que pode

“afugentar” turistas estrangeiros.

2.5 Ilha de Paquetá

2.5.1 Caracterização da Ilha

Antes de dar início à analise deste estudo de caso, vale dizer que ele difere de todos

os outros analisados por não ser um projeto de turismo de base comunitária em uma

favela ou comunidade carente. Por este motivo, a análise não será na necessidade

dos governos de proverem os recursos que normalmente estão escassos em uma

favela. Porém, isso não impede de Paquetá ter as suas demandas e se fortalecer

como comunidade, seja no âmbito econômico, ambiental, social ou cultural.

Naturalmente, o turismo é uma ferramenta que pode promover tais progressos.

A pequena Ilha de Paquetá, com apenas 8 km2 se localiza no meio da baía de

Guanabara e é considerada um bairro do Rio de Janeiro. Embora o acesso seja fácil e

relativamente barato, a viagem é demorada. Essa viagem é feita em uma barca que

parte da praça XV, no centro da cidade e desembarca em Paquetá de cinquenta a

setenta minutos depois, dependendo do tipo de barca. A viagem de volta tem a mesma

duração e o preço é de R$4,80 cada perna. Em média, as barcas saem de duas em

duas horas nos dois sentidos. A localização da ilha pode ser vista na figura 10.

A ilha é um verdadeiro refúgio para quem quer fugir da vida agitada e barulhenta do

Rio de Janeiro. Um local em que carros são proibidos, as ruas ainda são de saibro e

os meios de transporte são as bicicletas, charretes e barcos, certamente tem potencial

Page 59: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

51

para ser um destino turístico. É comum ver os habitantes em passeios a pé ou

relaxando nas praças. As praias, ainda que não sejam próprias para o banho, são

bons pontos de lazer.

Figura 10 - Mapa com a localização de Paquetá (http://www.pensamentosequivocados.com)

Embora seja um lugar bucólico e pitoresco, todas as casas contam com o

oferecimento de energia elétrica e água encanada, o que reflete mais uma vez a

grande diferença entre a Ilha de Paquetá e as favelas estudadas neste trabalho. Ao

contrário, o local é extremamente tranquilo e seguro. Por esse ambiente e ser um

lugar com uma história rica, que vem desde a colonização portuguesa, Paquetá se

tornou uma APAC (área de preservação do ambiente cultural).

A população de Paquetá é cerca de 4500 pessoas fixas que tem um forte vínculo

comunitário, já que são antigas na ilha. Cerca de 10% faz o chamado movimento

pendular, trabalhando na “cidade continental” e voltando para a ilha ao final do dia. Os

outros são absorvidos pelo mercado local, no serviço público, ou em restaurantes e

bares. Há ainda uma grande quantidade de casas de veraneio, aonde “cariocas” vão à

Paquetá para disfrutar fim de semanas e feriados. Avalia-se que pelo menos 50% dos

domicílios da Ilha seja de veranistas. Somando-se as casas de veraneio e as

Page 60: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

52

residências fixas, o número de casas é de 2200, distribuídas em 40 ruas21.

2.5.2 O Turismo na Ilha

Por todas as características enumeradas, o turismo se faz muito presente na ilha,

sendo a sua principal atividade econômico. O ambiente bucólico e tranquilo atrai os

“cariocas”, que podem ser considerados turistas, para um dia ou um fim de semana de

lazer. Isso se mostra no trabalho dos residentes da ilha, que em sua maioria trabalham

em algo ligado ao turismo. Em consequência, a atividade turística já não está em fase

embrionária, contando com certo desenvolvimento. Prova disso é a existência de guias

e revistas em que o visitante pode obter mais informações e ganhar mais qualidade no

seu passeio. Além disso, por ser uma comunidade pequena e consciente, o TBC tem

alto potencial de ser praticado.

O passeio já começa antes do desembarque na Ilha. A vista proporcionada pela baía

de Guanabara é exuberante com a serra dos órgãos ao fundo e a Cidade do Rio de

Janeiro nas margens da baía. Ao chegar a Paquetá, o turista conta com uma boa

infraestrutura, sendo disponibilizado a ele uma boa quantidade de restaurantes e

bares, e caso queira pernoitar, há bons hotéis e pousadas a um preço relativamente

acessível. São ofertados ainda passeios de charrete e bicicletas e pedalinho pelas

principais praias, dando ao turista o que ele veio buscar: Fugir do barulhento Rio de

Janeiro sem sair do Rio de Janeiro.

São vários os pontos que podemos destacar que podem ser de interesse ao turista.

Entre os atrativos naturais, têm-se as praias, que se não podem ser aproveitadas para

banho, são locais de prática de esportes e passeios de pedalinho. Além deles, há

existência de trilhas aos pequenos morros que permitem uma visão privilegiada da

ilha. Exemplos dessas trilhas são a Pedra da Moreninha e Morro da Cruz. O Parque

Durke de Mattos atrai os visitantes a ver suas árvores centenárias.

Entre os atrativos culturais, pode-se citar a igreja do Senhor Bom Jesus do Monte e

capela de São Roque. A História pode ser vista através do Canhão de saudação a D.

João VI e o Solar del Rei, uma propriedade que recebeu o monarca português em

diversas oportunidades. Porém, o que mais impressiona são as quantidades de

centros culturais existentes para uma ilha pequena: o Coreto Renato Antunes (típico 21

http://www.ilhadepaqueta.com.br/geografia.htm

Page 61: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

53

de pequenas cidades e vilas, onde são realizados eventos cívicos); a Casa de Artes

Paquetá; o Centro Cultural da Ilha de Paquetá (com promoção regular de eventos

artísticos e culturais); o Centro de Memória da Ilha (para consultas e pesquisas) são

as referências que promovem Paquetá para habitantes locais e visitantes. A figura 11

mostra alguns desses locais.

Figura 11 - Painel de fotos com pontos turísticos de Paquetá

Vale fazer uma ressalva, porém, que o turista que visita a ilha, na maioria das vezes,

se limita ao morador da própria cidade do Rio de Janeiro. São raros os casos em que

chegam visitantes não cariocas à Paquetá e o número de estrangeiros é quase nulo. É

interessante inserir Paquetá no roteiro turístico dos guias que os turistas externos

usam para fazer seus passeios no Rio de Janeiro, algo que não acontece hoje.

2.5.3 Os empreendimentos Turísticos já existentes

Page 62: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

54

A Paquetur22

Como já tratado anteriormente, Paquetá vê no turismo a sua atividade principal.

Exatamente por esse motivo, a ilha conta com uma própria empresa de turismo. A

Paquetur oferece passeios pela ilha, indica restaurantes e até mesmo oferece pacotes

de visita, ou seja, é possível fazer reservas nas pousadas e hotéis e comprar passeios

diretamente com a empresa.

Ela está presente logo quando se chega a Paquetá, na Praça São Roque. Além de

organizar o turismo receptivo na Ilha com informações e serviços ao visitante,

veranista e morador, trabalha também na produção de eventos artísticos e culturais,

colocando Paquetá regularmente no roteiro cultural da cidade.

É a empresa a principal responsável pela confecção de mapas e guias da ilha. O seu

site apresenta boa qualidade, contendo todas as informações necessárias ao turista

que deseja conhecer a ilha, contendo os principais pontos turísticos, localização e

passeios. Falta apenas uma versão do site em língua estrangeira com intuito de atrair

o turista de fora.

O Projeto Reviver Paquetá23

Para complementar a existência de uma agência de turismo exclusiva, foi criado um

projeto de modo a valorizar o patrimônio social e cultural da Ilha. Enquanto a Paquetur

foca na promoção da atividade turística para os que vêm de fora de um modo direto, o

projeto Reviver Paquetá apresenta uma ideia mais transversal e que transcenda o

turismo para desenvolver a Ilha.

O projeto é promovido pela Casa das Artes de Paquetá, um centro cultural usado para

exposições, atividades musicais, entre outros. Conforme descrito no site do Reviver

Paquetá, o projeto se propõe a preservar e revitalizar a ilha e seu acervo natural e

cultural, que coloque em evidência o desenvolvimento sustentável, valorizando sua

identidade cultural, história, lendas, arquitetura, paisagismo e modo peculiar de vida da

comunidade. Busca-se o estabelecimento de permanente diálogo com o poder público

no sentido de programar políticas de gestão participativa e programas de revitalização

22

http://www.ilhadepaqueta.com.br/paquetur 23

http://www.ilhadepaqueta.com.br/reviverpaqueta

Page 63: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

55

e inclusão social. Nesse contexto, o protagonista é o próprio habitante da ilha, já que

outra ideia é a capacitação de mão de obra para promover o turismo.

Com essas definições, se tem uma visão clara de que se trata de um exemplo de

turismo de base comunitária, já que o trabalho de desenvolve através de práticas não

nocivas ao meio ambiente e a sociedade local, e atua na geração de empregos e

renda, desenvolvendo a economia local. O morador, o veranista e o próprio bairro

ganham com o Reviver Paquetá.

O projeto se divide em dois grandes eixos principais. O primeiro deles se propõe em

uma visão interna, visando mobilizar os moradores da Ilha a melhorar os serviços

turísticos. O segundo eixo é voltado para fora da comunidade, onde as principais

atribuições são a divulgação dos atrativos turísticos para o visitante que se interessa

em conhecer a Ilha.

Ao se fazer um aprofundamento nestes dois eixos do projeto, podemos enumerar

algumas das principais ideias de cada vertente.

O primeiro deles trata das estratégias e ações do projeto no seio da comunidade,

direcionadas a grupos, categorias profissionais e diferentes públicos alvo, visando à

melhoria da prestação de serviços e dos produtos turísticos artesanais e culturais de

Paquetá. Esse público-alvo é composto de prestadores de serviços e comércio da Ilha

como um todo, como charreteiros e bicicleteiros, pescadores artesanais e funcionários

de hotéis e restaurantes.

Entre as etapas e ações para ter sucesso nesse eixo, estão a capacitação dos

habitantes de confeccionar peças de artesanato através de oficinas usando produtos

que descrevam a identidade da ilha e palestras sobre associativismo e cooperativismo.

A segunda ação se dá através da qualificação profissional para melhorar a atratividade

cultural de Paquetá através de oficinas que ensinem a história do local e a formação

de um Coral interno. Por fim, outra ação interessante é o acompanhamento do projeto

junto à comunidade, com elaboração de questionários para moradores acerca do

turismo e informação do fluxo de passageiros junto as Barcas S/A.

O eixo de iniciativa voltado para fora da comunidade envolve a divulgação dos

serviços, produtos, atrativos e vida cultural, resgatando o imaginário positivo que o

Page 64: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

56

bairro tem como polo romântico, bucólico e seguro da cidade. Assim, o principal

objetivo é atrair o turista para visitar a Ilha com mais frequência e fazer com que

Paquetá seja mais conhecida no cenário turístico carioca. Sendo assim, o público-alvo

envolve os moradores do Rio de Janeiro, bem como os turistas que visitam a cidade, e

que se interessem por lugares bucólicos e tranquilos e possam usufruir de atrativos

naturais e culturais. O projeto visa também buscar os veranistas que possuem casa na

Ilha a frequentar mais o local.

As iniciativas principais nessa linha externa podem ser enumeradas da seguinte

maneira: A elaboração de materiais gráficos e audiovisuais que promovam Paquetá,

como por exemplo um livreto que conte a história da ilha, roteiros culturais e a criação

da revista Paquetá Viva, com agenda de eventos e notícias da ilha. Após isso,

destaca-se a importância de divulgar tal material, com a colação em pontos

estratégicos do Rio de Janeiro, a interatividade e conexões com outros projetos de

turismo de base comunitária, e elaboração de um vídeo institucional da Ilha. Por fim,

busca-se a estruturação do funcionamento do Centro de Referência ao Turista e a

criação de uma agenda de eventos para a ilha, como o Paquetá de Portos Abertos,

focado em passeios guiados, exposições culturais, entre outros.

Assim, pode-se ver que o Reviver Paquetá já é um projeto bastante estruturado, com

ações firmes e interessantes que visam promover o turismo de base comunitária na

pequena ilha de Paquetá e pode servir de exemplo para outros locais que desejam

implementar as mesmas ideias de modo a desenvolver a própria comunidade através

da atividade turística.

2.6 Morro do Pereirão e o Projeto Morrinho

2.6.1 Caracterização da Favela

O Morro do Pereirão está localizado no bairro de Laranjeiras, na zona sul do Rio de

Janeiro. É mais uma das muitas favelas da cidade, habitada na sua maioria por pobres

que vieram a Zona Sul em busca de emprego. A favela possui dois acessos, sendo um

por Laranjeiras, outro por Santa Teresa. O acesso através de Laranjeiras se dá pela

Rua Pereira da Silva, próxima a Av. Pinheiro Machado enquanto por Santa Teresa, o

acesso é feito através da Rua Almirante Alexandrino. A figura 11 mostra a localização.

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57

Figura 12 - Mapa com a localização do Morro do Pereirão (Google maps)

A comunidade é relativamente pequena, contando com 2000 habitantes distribuídos

400 residências em apenas 50 mil m2. Aos poucos, a ocupação avança de maneira

perigosa, com casas construídas em áreas de risco, merecendo atenção do poder

público.

O morro começou a ser ocupado pela população de baixa renda em 1945, onde existia

uma fazenda abandonada. Foi crescendo aos poucos e também sendo dominada pelo

tráfico de drogas, sendo por isso um lugar bastante inseguro para quem lá vivia e de

constantes reclamações dos moradores do bairro de Laranjeiras24.

Esse cenário mudou radicalmente em dezembro de 2000, quando o governo do

estado instalou a sede do BOPE, o batalhão de operações policiais especiais,

erradicando o tráfico de drogas e a violência do local. Hoje, pode-se dizer que o local

vive um clima tranquilo e os moradores da favela costumam elogiar a atuação da

polícia. Os moradores das proximidades também agradecem o fim dos constantes

tiroteios24.

Essa medida foi o pontapé inicial para o estabelecimento de parcerias entre ONGs e

poder público que passaram atuar na favela, impactando positivamente a vida no

morro. A formação da associação de moradores e o projeto Vida Nova25, que capacita

os jovens a serem agentes comunitários e os incentiva a estarem presentes na escola

são alguns exemplos disso. Outro projeto que daremos destaque é o projeto Morrinho,

24

http://www2.tvcultura.com.br/caminhos/35pereirao/terra-pereirao.htm#9711404270492494 25

http://www2.tvcultura.com.br/caminhos/35pereirao/pereirao2.htm

Page 66: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

58

que já ficou conhecido internacionalmente.

2.6.2 O Projeto Morrinho26 e o turismo na favela

O Projeto Morrinho é um grande exemplo de ação que partiu de baixo para cima, ou

seja, da base. É um dos poucos projetos que parte por iniciativa da própria

comunidade, mais especificamente de um único indivíduo que queria apenas se

divertir.

Em 1997, Necirlan de Souza Silva havia acabado de chegar ao Rio de Janeiro e se

impressionou com a maneira que as favelas eram construídas. Com apenas 14 anos,

o jovem e seu irmão mais novo recolheram alguns azulejos e começaram a montar

uma maquete no quintal do barraco que representasse a favela. Enquanto o grupo da

“construção” cresceu, a maquete também foi crescendo, ganhando tijolos e

equipamentos mais resistentes e hoje já soma mais de 300 m2 e o retrato fiel contendo

forma e conteúdo de como é a favela em miniatura (ver figura 13). O caráter único e

inovador da maquete são reconhecidos atualmente por experientes críticos de arte

como uma legítima manifestação artística contemporânea.

Em 2001, o que era brincadeira, virou algo mais sério. Quando três diretores de

cinema visitaram a comunidade do Pereirão e viram a maquete, se encantaram de tal

maneira que junto aos jovens “artistas” criaram a TV Morrinho, uma produtora

responsável por captar imagens e gerar material audiovisual sobre a vida na

comunidade e histórias que retratem o cotidiano da favela. A comunidade ganhou com

a capacitação de vinte jovens moradores do Pereirão que ganharam um emprego e

são exemplo de desenvolvimento local ao trabalharem no projeto. As filmagens já

contam com mais de 150 horas até hoje.

O que era apenas um projeto se transformou em ONG em 2007. Além da TV Morrinho,

outras iniciativas se fizeram presentes. Além da já existente TV, a ONG abarcou outros

três projetos. O Expo Morrinho27 que ficou responsável por fazer exposições da

maquete e esteve presente em locais como Londres e Nova York. O Morrinho Social

busca oferecer oficinas de audiovisual, arte-educação, cultura brasileira, juventude e

cidadania aos moradores da favela. Por fim, vale destacar o projeto Turismo no

26

http://www2.tvcultura.com.br/caminhos/35pereirao/pereirao2.htm 27

http://www.petrtv.com.br/2013/06/o-cinema-do-morrinho.html#1767827144358307

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59

Morrinho, um exemplo de TBC que será objeto de análise.

Figura 13 - Painel de fotos com a maquete exposta no Pereirão

O Projeto Turismo no Morrinho

O projeto consiste em visitas guiadas pela favela, onde o ponto alto é a visita à

maquete feita pelos garotos da comunidade. Necirlan se capacitou para ser guia e

conduz o turista pela favela, mostrando os seus hábitos e costumes e explicando

como funciona a ONG que ele mesmo ajudou a construir e como ela atua no morro.

Além da maquete, local em que a maioria dos turistas se encanta, o alto do morro

proporciona ao visitante uma vista privilegiada da praia de Botafogo, com o Pão de

Açúcar o fundo.

De acordo com a descrição do próprio projeto, o objetivo é trazer os pontos positivos

das favelas cariocas e também contribuir com a comunidade mostrando uma real

vivência em um local onde o visitante pouco conhece, de modo que as comunidades

de toda a cidade se tornem ponto de inclusão social e cultural dentro da sociedade

moderna. No último carnaval, entre 100 e 150 turistas passaram pelo Pereirão ao

Page 68: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

60

longo dos cinco dias28.

O passeio conta com uma hora de duração, aproximadamente e tem o custo de

R$50,00. Caso o turista tenha o interesse em colocar seu nome em um dos tijolos da

maquete, o preço é R$ 70,00 e ainda há a possibilidade de um Workshop sobre a

maquete por R$90,00. Caso seja necessária a tradução para o inglês, existe

possibilidade de uma “tradução simultânea”. É recomendado que se faça uma reserva

com dois dias de antecedência para garantir o passeio29.

Pousada Favelinha

Fora do projeto Morrinho, há outro empreendimento turístico na favela. Quem se

interessar em se hospedar no Pereirão durante sua estadia no Rio de Janeiro, tem

essa opção com a pousada favelinha, no alto da comunidade. Funciona como um

hostel e conta com uma boa infraestrutura e uma bela vista da cidade. O preço é de

110 reais no quarto duplo e 45 reais para o simples. O site da pousada conta com

versão em inglês, podendo assim atrair turistas estrangeiros30.

2.7 Morro do Cantagalo-Pavão-Pavãozinho

2.7.1 Caracterização da Favela

Localizada na nobre Zona Sul do Rio de Janeiro, esta favela é na verdade um conjunto

de três comunidades entre os bairros de Ipanema e Copacabana, dois dos bairros

onde muitos sonham viver e habitado por ricos. Há três acessos para se chegar favela.

O primeiro deles, pelo bairro de Ipanema é feito próximo a Rua Teixeira de Melo, na

saída do Metrô General Osório, através de um elevador panorâmico. Os outros dois se

dão por Copacabana, sendo um deles na Rua Sá Ferreira e outro na Rua Saint

Roman. A localização pode ser vista na figura 14.

Embora possa ser considerada uma favela só pela proximidade existente entre

Cantagalo e Pavão-Pavãozinho e assim o trataremos neste trabalho, é importante

dizer que há diferença entre as duas comunidades. O morro do Cantagalo, mais 28

http://acervo2.vivafavela.com.br/imagens/o-turismo-t%C3%A1-bombando-no-morrinho 29

https://www.facebook.com/ProjetoMorrinho 30

http://www.favelinha.com/en/travel-tipps/pereira-da-silva-our-favela/

Page 69: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

61

próximo a Ipanema, é composto basicamente por cariocas que descendem dos

escravos, tendo uma maioria negra. O Pavão-pavãozinho, rodeado por Copacabana,

tem nos imigrantes nordestinos a sua maior parte da população. Essa diferença gera

por vezes pequenos conflitos entre as duas comunidades, segundo um assistente

social que atua na comunidade.

Figura 14 - Mapa com a localziação dos Morros Cantagalo/Pavão-pavãozinho (riosonho.blogspot.com)

A população total gira em torno das 20 mil pessoas, dividas em 5 mil pelo Cantagalo e

15 mil por Pavão-pavãozinho O número de imóveis totais é de 5300. Os indicadores

sociais estão acima da média das favelas do Rio de Janeiro, o que era de se esperar,

por ser um local mais valorizado em virtude da localização na Zona Sul. Exemplos

disso são que 94% dos moradores tem acesso a rede de esgoto e 80% possuem

telefone.

Mesmo assim, a “tríplice favela” não esteve ou está livre das principais mazelas que as

favelas cariocas costumam enfrentar. A pobreza ainda é presente e o domínio do

tráfico sempre impôs aos moradores uma violência constante com as tradicionais leis

do silêncio e toque de recolher. As estimativas são de que o tráfico arrecadava entre

R$ 220 mil e R$ 330 mil por mês31.

A instalação da Unidade de Polícia Pacificadora, em 2009, obteve sucesso com o fim

tráfico na favela. Apesar de alguns incidentes envolvendo os policiais da UPP, a

violência diminuiu consideravelmente e permitiu aos habitantes investir em pequenos

31

http://soulbrasileiro.com.br/main/rio-de-janeiro/favelas/cantagalo-e-pavao-pavaozinho

Page 70: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

62

empreendimentos comerciais e atividades culturais. Porém, vale ressaltar que a UPP

não foi suficiente para erradicar a violência no local. Um exemplo disso foi a morte de

um bailarino que fugia do fogo cruzado promovido pela polícia, em abril de 201432.

Outro ponto positivo da implementação da UPP foi a criação de diversas iniciativas

sociais. Há projetos de educação para os moradores da comunidade trazidos por

ONGs, poder público e mesmo a UNESCO. Alguns exemplos são o Projeto Criança

Esperança, o AfroReggae com o programa “Dançando para Não Dançar”. No prédio

conhecido como Brizolão, também funciona o Centro Integrado de Educação Pública.

A escola serve de sede para aulas e palestras sobre cidadania, informática, circo,

costura, capoeira, dança e boxe. Ao lado dos professores, os próprios policiais ajudam

a administrar o espaço31.

2.7.2 O turismo na Favela

O Mirante da Paz

Além de ser um instrumento de mobilidade para os moradores da favela, a construção

do elevador trouxe ao Cantagalo uma possibilidade de turismo para a comunidade. No

alto do elevador, a 65m de altura, foi instalado um mirante que permite ao visitante

uma vista privilegiada da Zona Sul da cidade (ver figura 15 – 3ª foto). Faz parte do

visual as praias de Ipanema, Copacabana e Leblon, o morro Dois Irmãos, a Lagoa

Rodrigo de Freitas e a Floresta da Tijuca.

A entrada é feita pela estação de metrô da Praça General Osório e o uso do elevador

é gratuito. A estimativa é de que aos fins de semana, 3300 pessoas, entre turistas e

moradores (a grande maioria de moradores), utilizem o elevador, mostrando que ele

se faz útil33.

Os impactos indiretos envolvem a criação de pequenos empreendimentos comerciais

ao redor do complexo do mirante. Como são de inciativa dos próprios moradores, há

uma pequena movimentação da economia local. O principal exemplo dessa

comercialização é o bar da Bica, que vende comida. Existe também uma pequena loja

32

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2014/04/dancarino-do-esquenta-e-morto-em-favela-da-zona-sul-e-causa-protesto.html 33

http://oglobo.globo.com/rio/com-elevador-upp-morro-do-cantagalo-vira-ponto-turistico-2971650

Page 71: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

63

que vende artesanato feito pelos próprios moradores.

Embora seja um projeto que interesse aos moradores, ele ainda é insuficiente para

fazer com que o turista conheça de fato a favela. A maioria deles apenas sobe o

elevador, contempla a vista do mirante para então descer sem impactar positivamente

na favela. Não há qualquer contato com os moradores e o cotidiano da favela, sua

cultura e seus hábitos são colocados em segundo plano pelo turista. Por este fato,

pode-se constatar que o mirante por si só, não constitui um projeto de TBC, sendo

apenas um ponto turístico que não revela a realidade da favela. (Entrevista AS34)

O MUF - Museu de Favela35

É de longe o empreendimento turístico que mais atua na favela e um dos melhores

exemplos de TBC do Rio de Janeiro. A ONG foi formada em 2008, por dezesseis

sócios fundadores, moradores da favela que decidiram aproveitar o potencial turístico

do morro para valorizar a cultura e o modo de viver da favela e mostrar para cariocas e

turistas uma comunidade que vai além dos problemas econômicos e sociais. Dentre

esses dezesseis moradores, estavam líderes comunitários, e profissionais da área de

jornalismo, fotografia e propaganda.

A principal proposta da é fazer da favela um museu a céu aberto em que se exalte a

cultura e memória da comunidade, transformando este museu em um patrimônio

histórico e cultural da cidade do Rio de Janeiro. Nos passeios, os guias se propõem a

contar a história da formação das favelas cariocas, as origens culturais do samba, as

culturas negras e nordestinas (na qual estão inseridos os habitantes), a dança e as

artes visuais presentes no morro. Logo que se chega à favela, ainda nos corredores

do mirante da paz, há uma exposição organizada pelo MUF com depoimentos e fotos

de moradores que tem história na favela, contando como eram os primeiros tempos,

as principais mudanças ocorridas no território (ver figura 15 – 1ª foto). Em outras

palavras, o visitante se insere no cotidiano da favela durante a visita e pode ver e

entender como vive e quais os hábitos ali presentes. Sendo assim, o grande objetivo é

fazer do MUF um grande roteiro de visitação turística nacional e internacional, em que

se explora a diversidade cultural da favela (Entrevista AS).

34

Entrevista realizada com Antônia Soares, diretora do MUF, em 17/06/2014, por meio de áudio. 35

http://www.museudefavela.org/

Page 72: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

64

Figura 15 - Painel de Fotos com atrações do MUF e Morro do Cantagalo/Pavão-pavãozinho

O tour propriamente dito consiste em um passeio guiado por guias locais capacitados

em projetos da ONG. Inicia-se no mirante da paz, no Cantagalo, de onde se pode

contemplar uma excelente vista da Zona Sul. A partir daí, o passeio vai pelo coração

da favela, onde os turistas passam por pequenas biroscas onde são vendidos tira-

gostos e podem conversar com os moradores. São vistas também 27 pinturas e

“pichações” nas paredes pintadas por artistas que expressam suas poesias por meio

das artes visuais e textos escritos. A história da favela também é contada, enquanto os

guias mostram o local dos primeiros barracões construídos em 1907 até os dias de

hoje e o contato com os bairros de Ipanema e Copacabana. Também são vistas

apresentações de danças e músicas típicas, como dança de salão, capoeira, forró,

entre outras.

Portanto, é uma inserção em que o turista pode conhecer moradores e também o

território da favela. Ao final do passeio, também há uma visita á loja da REDEMUF, em

que são vendidos produtos locais e artesanato, movimentando a economia local e

tornando o projeto viável economicamente. O passeio tem duração de

aproximadamente três horas e o custo é de R$ 60,00 para brasileiros e membros do

MERCOSUL e R$ 100,00 para estrangeiros.

Page 73: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

65

Porém, o MUF transcende a questão do museu. É um verdadeiro ativo da favela, já

que traz impactos positivos para a toda a comunidade. Existem outros projetos que

não necessariamente estão diretamente ligados ao turismo, mas que a ONG procura

fazer de modo a trazer benefícios para os habitantes. Um dos focos de gestão do

MUF são projetos pedagógicos e de animação cultural que envolve artes,

comunicação e ritmo. Outro foco diz respeito à inserção da cidade na comunidade,

com roteiros culturais, festivais e eventos. Há ainda a parceria com universidades e o

poder público para atrair investimentos e auxílios técnicos. Um exemplo é a parceria

com o IBMEC e visitas da secretaria de cultura (Vídeo MUF36).

Podemos citar também a realização de oficinas para os moradores, para que estes se

capacitem em uma determinada atividade, podendo fazer desta uma fonte de renda.

Ou seja, existe não só a ideia da cidade conhecer a favela, mas da favela também

atuar no asfalto. Algumas das atividades promovidas pelo MUF que os moradores

puderam usufruir foram oficinas de artes plásticas, artesanato, percussão, teatro,

graffiti, e a elaboração de um guia turístico comunitário (Vídeo MUF).

O que mais reflete o MUF como um empreendimento de turismo de base comunitária

é o fato de que as tomadas de decisão sobre a ONG são tomadas pelo conjunto de

moradores do complexo Cantagalo-pavão-pavãozinho. A comunidade tem um papel

central nos destinos do MUF. O conselho comunitário do MUF é na verdade reunido

por representantes das diversas entidades e projetos existentes na favela. Fazem

parte deste conselho a academia de boxe, academia de dança, a associação de

comerciantes, o Afroreggae, o Surf na Favela, as igrejas, a Escola de Samba Alegria

da Zona Sul, a Rádio Comunitária, a Associação de Moradores, a associação de

comerciantes, entre outros. Pode-se ver que há um grupo bastante diversificado

responsável pelos rumos do museu e que colhem os seus benefícios (Vídeo MUF).

Através dessa análise, pode-se ver que o TBC está entranhado no projeto MUF,

devendo servir de exemplo para outras favelas e bairros que tem intenção de colocar

no turismo uma atividade em que a comunidade seja protagonista, em um ambiente

democrático e que os impactos, sejam eles positivos ou negativos, sejam divididos

entre todos (Vídeo MUF).

36

Vídeo institucional do MUF, disponível no endereço:

http://www.youtube.com/watch?v=SWCLI7Ni5Ps

Page 74: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

66

Apesar disso, algumas críticas devem ser feitas, enquanto muitos problemas são

encontrados. O turismo não é suficiente para manter o projeto do ponto de vista

financeiro. Os recursos são todos provenientes de editais promovidos pelo governo

(Faperj, CNPQ, etc.), deixando o projeto com um viés mais acadêmico e menos

empreendedor. Os auxílios por parte da academia são importantes, mas insuficientes

para inserir o MUF no mercado do turismo. Além disso, como a única maneira de

obtenção de recursos são os editais, fazendo com que o empreendimento se torne

independente deste mecanismo. Portanto, poderia ser positivo para os organizadores

do projeto repensarem essa estratégia (Entrevista AS).

Este problema acaba se referindo no número de turistas que visitam o morro – ao

menos através do MUF. Segundo os organizadores do projeto, a quantidade é de

apenas 10 turistas por mês, dependendo da época, se colocando muito diferente dos

outros estudos de caso neste trabalho. As principais justificativas pra isso são a não

inclusão do morro como um todo nos guias da cidade (apenas o Mirante da Paz está

explícito nesses locais) e a divulgação na rede hoteleira também é pequena. Outra

dificuldade é em relação ao domínio dos idiomas estrangeiros. Já houve casos em que

se dispensou o tour por conta de não existir voluntários capazes de fazer a tradução

para os guias locais (Entrevista AS).

Outros empreendimentos turísticos

Serão citados e explicados aqui outros dois empreendimentos que praticam a

atividade turística no morro, mas que não estão ligados ao MUF, apesar de não serem

uma concorrência a ele. Por vezes, o próprio MUF ajuda na divulgação deles, como é

o caso do Réveillon na Lage.

Todo fim de ano, o empresário Daniel de Piá organiza na laje da Dona Azelina a festa

conhecida como Réveillon na Laje. O turista tem a sua disposição comida e bebida

durante toda a noite, além de um café da manhã ao amanhecer. É possível ver a

queima de fogos da praia de Copacabana com uma vista privilegiada. A festa VIP no

Pavão custa R$ 1350, enquanto a versão “popular” é R$ 350. Embora o empresário

não seja um morador da favela, toda a renda é revertida para a comunidade37.

Outro empreendimento, a Pousada Cantagalo está localizada na favela e é

administrada por Dona Lígia, uma moradora local. Em sua maioria, os hóspedes vêm 37http://infosurhoy.com/pt/articles/saii/features/society/2013/01/23/feature-01?change_locale=true

Page 75: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

67

da Europa e ficam encantados com a vista. Os preços estão a partir de R$140,00 a

diária. A única reclamação de Dona Lígia é a de que a Comlurb não faz o trabalho

ideal, deixando o lixo acumular e de certa maneira, atrapalha a intenção de

hospedagem dos turistas38.

Há ainda guias locais que realizam os tours por conta própria, que não

necessariamente estão ligados ao museu de favela. Esses guias oferecem seus

serviços de maneira espontânea e na maioria dos casos, “sozinhos”, sem qualquer

amparo por parte da associação de moradores da favela ou do governo (Entrevista

AS).

2.8 Morro da Babilônia/Chapéu Mangueira

2.8.1 Caracterização da Favela

Estas duas favelas que estão “conurbadas” entre si, estão localizadas no bairro do

Leme, zona sul do Rio de Janeiro, bem próximo a Copacabana. Por estarem

praticamente juntas, sendo separadas apenas por uma rua, as duas comunidades

serão tratadas com uma única neste estudo. A localização é privilegiada, em primeiro

lugar, por estar colada a um dos bairros mais concorridos do Rio de Janeiro e, além

disso, estar situada no Leme, um local tranquilo e sem muita movimentação. A favela

fica a apenas 200m da praia, o que permite aos moradores desfrutarem de uma boa

opção de lazer.

O acesso é feito pela ladeira a Ary Barroso, no Leme. Há um bom número de linhas de

ônibus que chegam ao local e fica por volta de 20 min da estação Arcoverde do Metrô.

A subida é relativamente leve, e ao chegar ao final da ladeira, a rua a direita leva a

comunidade do Chapéu Mangueira, enquanto se for utilizado o caminho à esquerda,

chega-se ao Morro da Babilônia. A figura 16 mostra essa localização. Segundo dados

do Censo do IBGE de 2010, a população total nas duas comunidades é de 4 mil

moradores divididos em 1178 domicílios39.

38

http://turismonafavela.wordpress.com/tag/pousada-favela-cantagalo/ 39

http://uppsocial.org/territorios/chapeu-mangueira-babilonia/

Page 76: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

68

Figura 16 - Mapa com a localização dos Morros Chapéu Mangueira e Babilônia (Google maps).

Os indicadores sociais deixam a bastante a desejar em ambos os lados. Segundo o

site soulbrasileiro.com, 20% dos moradores ainda não possuem acesso à rede de

esgoto e água potável, precarizando assim as suas vidas. Os serviços de educação e

saúde também são insuficientes, já que existe apenas uma escola e duas creches e

há ausência de postos de saúde. Por outro lado, o sempre existente problema de falta

de segurança devido à presença do tráfico de drogas parece ter sido resolvido através

da intervenção policial por meio da UPP, em 2008.

A associação de moradores do Chapéu Mangueira é consideravelmente atuante na

comunidade. Além de projetos de fomento ao turismo que serão abordados mais

adiante, a associação organiza trilhas ecológicas, feiras de arte e almoços com comida

típica. A preocupação ambiental é bastante evidente pela associação e os moradores,

já que estes se mobilizaram para fazer do morro da Babilônia uma APA (Área de

proteção ambiental) em 2001 e formaram a Cooperativa de Reflorestadores da

Babilônia (CoopBabilônia40) e desde então vem promovendo um processo de

reflorestamento do morro com a plantação de 190 mil mudas.

Recentemente, os habitantes conviveram com dois problemas, que poderiam até

mesmo estar ligados entre si. O primeiro caso é de que alguns moradores relataram

ameaça de remoção por parte da prefeitura41, contra a sua vontade e sem a

40

http://coopbabilonia.blogspot.com.br/ 41

http://favelanaosecala.blogspot.com.br/2013/02/moradores-historicos-do-morro-da.html

Page 77: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

69

indenização necessária. O outro caso diz respeito à intenção de criar a primeira

estação do bondinho do Pão de Açúcar no morro. Isso gerou revolta não só dos

habitantes do morro, mas também de todos que moram no bairro do Leme, já que a

construção de tal estação acarretaria em danos ambientais ao morro e transformaria o

caráter tranquilo e silencioso do Leme.

É interessante dizer que o morro serviu de cenário para as gravações do filme Orpheu

Negro, em 1959, promovendo a favela até mesmo no cenário internacional42.

2.8.2 O turismo na Favela

Conforme já foi dito, a associação de moradores do Chapéu Mangueira é bastante

influente na favela e está constantemente buscando trazer benefícios através de

atividades sociais em que a comunidade esteja inserida, participando ativamente das

decisões e colhendo os frutos. É a única associação de moradores de favela do Rio de

Janeiro que possuí uma secretaria de turismo comunitário. Esse turismo é praticado

de diferentes formas através de passeios turísticos, de um hostel e de um restaurante

na favela. Algumas fotos podem ser vistas na figura 17.

A Chapéutour43

A Chapéutour é a empresa de turismo comunitária que gere os passeios aos turistas

interessados em conhecer o morro. A ideia nasceu da Coopbabilônia, que ao

reflorestar o morro, percebeu a existência de trilhas que poderiam interessar aos

turistas. A partir desse momento, Os condutores tiveram capacitação em condução em

trilhas e turismo, adquirindo certificado de guias pela EMBRATUR.

Portanto, o grande diferencial do passeio pelo Morro da Babilônia, é que além do

turista conhecer a comunidade e as características dos moradores, tem a

oportunidade de fazer trilhas pela mata que leva à vistas muito interessantes da cidade

do Rio de Janeiro. Em um contexto que o ecoturismo cada vez tem atraído mais

turistas e as trilhas a fazer no morro são leves, o cenário se torna bastante propício ao

desenvolvimento do turismo comunitário. São quatro os mirantes principais: Mirante

das Ruínas, Mirante do Rio Sul, Mirante do Rio Sul e Mirante do Campinho. Deles, é 42

http://www.riofilmcommission.rj.gov.br/locacao/babilonia-e-chapeu-mangueira-leme 43

http://chapeutour.blogspot.com.br/

Page 78: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

70

possível ver locais como a enseada de Botafogo, o Pão-de-Açúcar, as praias do Leme

e Copacabana, o Shopping Rio Sul e o Corcovado.

O passeio tem duração de duas horas, em média, e custa R$40,00. Além de passar

pelos referidos pontos, o visitante tem oportunidade de conhecer a favela, por vezes

assistindo apresentações de dança e capoeira, conhecendo o trabalho das

associações ou visitando biroscas e bares, podendo assim comer pequenos tira-

gostos ou mesmo feijoadas e desenvolvendo assim a economia local.

Para alguns tours, existe parceria com empresas de turismo externas, que oferecem

guias para traduzir para o inglês as informações fornecidas pelos guias locais. Como

projeto Chapéu Tour pertence à associação de moradores do Chapéu Mangueira e

dos moradores que participam do projeto, toda a renda das visitas fica na comunidade.

Até hoje, já foram feitas melhoras na favela com a renda proveniente do turismo, como

pintura da creche e realização de mutirões de limpeza, além de despesas da

associação.

Pode-se ver que o turismo comunitário está garantido, já que as melhorias acontecem

para quem está na própria favela. Isso é retratado também em um dos objetivos claros

do empreendimento. De acordo com o blog do guia legal44, O projeto tem por

finalidade trazer renda e criar empregos na comunidade além de ajudar a associação

de moradores.

O Favela Inn Hostel45

Cristiane de Oliveira é a empreendedora e gerente do hotel. A ideia veio quando ela

guiava turistas pela comunidade e eles por vezes pediam para descansar em sua laje.

Junto com seu cunhado, dono do imóvel, Cristiane fundou o hostel que serve de

abrigos a turistas que têm interesse em se hospedar na comunidade, próximo da praia

e localizado em um dos bairros mais concorridos do Rio de Janeiro.

O empreendimento ganhou apoio da associação de moradores e se tornou um

importante instrumento de potencialização do turismo no morro. Já conta com dezoito

leitos e atende hóspedes do mundo inteiro e por isso, a filha da gerente está

44

http://blogdooguialegal.blogspot.com.br/2010/03/opcoes-cde-turismo-na-comunidade.html 45

http://economia.uol.com.br/noticias/redacao/2012/07/04/albergue-em-favela-pacificada-do-rio-atrai-turistas-estrangeiros.htm

Page 79: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

71

estudando inglês para atender este público. Segundo os dados do site uppsocial.com,

90% dos hóspedes são estrangeiros. Além disso, Cristiane frequentou curso de

pequenos empreendendores no SEBRAE e assim se capacitou para tornar o negócio

viável, mesmo na baixa temporada. O empreendimento cresceu de tal maneira que já

aparece como opção de pousada no guia oficial do Rio e em sites de referência em

viagens, como o Trip Advisor.

Por vezes, o albergue serve de espaço para os turistas e hóspedes assistirem

apresentações de samba e choro e outras expressões culturais feitas pelos próprios

habitantes. Sendo assim, o albergue mostra sintonia com a comunidade, Chapéutour e

associação de moradores de colocar a favela no centro, como protagonista. Uma foto

do hostel pode ser vista na figura 17.

O hostel também mostra sinais de preocupação com a sustentabilidade. As divisórias,

por exemplo, utilizam bambu. As almofadas de fuxico, as luminárias e os pufes de

garrafa PET são produzidos por artesãos de comunidades cariocas. Os tapetes são

feitos com malotes bancários e o teto é reforçado com embalagens tetrapak. Também

foi implantada coleta seletiva e as lâmpadas foram trocadas por modelos mais

econômicos. Em breve, será instalado um coletor solar. A iniciativa foi reconhecida. O

albergue foi escolhido como referência e apresentado em junho no estande do Sebrae

na Rio+20 – Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável.

O Favela Inn já espelho para outras iniciativas parecidas. Recentemente, o grupo

Tabatur, pequena agência de turismo da favela dos Tabajaras, em Copacabana, visitou

o Morro da Babilônia e estabeleceu parcerias com intenção de criar um hostel em sua

própria comunidade46.

O Bar do David47

O que antes da implantação da UPP era apenas um bar que servia petiscos para os

moradores do morro da Babilônia, hoje serve em torno de 150 variedades de prato e a

média de pedidos chega a 40 por dia. O dono do bar, David de Jesus conta com três

funcionários e coloca a UPP como fator essencial de sucesso do empreendimento. A

foto pode ser vista na figura 17.

46

http://www.uppsocial.org/2012/07/grupo-de-turismo-do-tabajaras-visita-albergue-no-chapeu-mangueira/ 47

http://rioshow.oglobo.globo.com/gastronomia/restaurantes/bar-do-david-2280.aspx

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72

Em 2011, o bar foi o primeiro estabeleceimento de uma favela carioca a ser convidado

a disputar a famosa competição entre os botecos do Rio de Janeiro, o Comida di

Buteco48. Os preços são bastante acessíveis, já que o preço médio de um prato custa

apenas R$10,00.

Figura 17 - Painel de fotos do Morro da Babilônia

2.9 Rocinha

2.9.1 Caracterização da Favela

É mais uma das favelas com localização privilegiada no Rio de Janeiro. Instalou-se em

uma das bases do morro Dois Irmãos (na outra está o Vidigal), no bairro de São

Conrado, conhecido por ser um bairro nobre, com prédios e casas em que residem

pessoas de alta renda, aumentando ainda mais o contraste entre a riqueza dessas

residências e a pobreza da favela. Os pontos positivos da localização, além de

naturalmente estar na zona mais nobre, envolvem um excelente visual – de um lado

48

http://www.comidadibuteco.com.br/

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73

do morro, se avista o bairro de São Conrado, Pedra Bonita, Pedra da Gávea e Praia

do Pepino e do outro, na direção de onde a favela cresceu, já é possível contemplar a

Lagoa Rodrigo de Freitas e o Corcovado. A figura 18 mostra a sua localização.

Figura 18 - Mapa com a localização da Rocinha (Google maps).

A Rocinha é não só a maior favela do Rio de Janeiro, como também a maior da

América Latina. Os números, porém, variam entre diferentes fontes, o que de certa

maneira é esperado, dada a dificuldade de mapear uma favela com esse tamanho e

complexidade e adicionando o fato de que o acesso a certas regiões é difícil. Segundo

o censo de IBGE de 2010, a população local é de aproximadamente 70 mil pessoas.

Porém, os moradores contestam esse valor. Segundo Leonardo Rodrigues Lima,

presidente da União Pró-Melhoramentos dos Moradores da Rocinha (UPMMR), os

habitantes da Rocinha estão entre 180 e 220 mil pessoas. A discrepância se explica

pelo fato de o IBGE não entrevistar todos os moradores ao fazer o censo, conforme

disseram em depoimento os próprios moradores49. O mais provável é que devido ao

tamanho da favela, o número está em torno de 150 mil pessoas. As projeções são de

que só nos últimos dez anos, a população da Rocinha tenha dobrado50.

O número de domicílios (de acordo com o IBGE) é em torno de 30 mil, o que revelaria

uma média de cinco habitantes por residência. Eles estão espalhados pelos quase

49

http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2011/12/maior-favela-do-pais-rocinha-discorda-de-dados-de-populacao-do-ibge.html 50

http://soulbrasileiro.com.br/main/rio-de-janeiro/favelas/rocinha/rocinha/

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74

1,44 Km2 que abrangem as residências, o que mostra o tamanho elevado da

comunidade comparado com as outras favelas cariocas. Por este motivo, é

considerado um bairro independente de São Conrado desde 199251.

Hoje os principais serviços já chegam à comunidade, como televisão a cabo, energia

elétrica, agências bancárias, creches e escolas públicas. Porém, por ser muito grande,

a Rocinha também conta com uma diversificação que lhe é peculiar. Enquanto há

habitantes até mesmo de classe média nas áreas com os melhores indicativos sociais

e um comércio desenvolvido no sub-bairro do Barcellos, há também aqueles que

vivem na extrema pobreza, com casas construídas de madeira e de difícil acesso e

sem os bens essenciais. Algumas estão erguidas em áreas de risco, nos locais mais

pobres da favela48.

Apesar dessa diversidade, os dados mostram que a Rocinha está entre as duas

favelas com os piores indicadores sociais do Rio de Janeiro. Segundo os dados

levantados pelo centro de políticas sociais da FGV em 2010, a renda per capita é de

apenas R$220 por mês. De acordo com Marcelo Nery, coordenador desta pesquisa, “A

Rocinha (...) está praticamente 30 anos atrás do resto das regiões administrativas em

termos de escolaridade. A (...) comunidade, onde a idade média é de 27 anos, não

dispõe de um passaporte para o futuro para essa juventude". O tempo médio de

estudo na comunidade é de apenas 5,08 anos52.

Ainda de acordo com a pesquisa, 80,2% da renda da Rocinha vem dos moradores, o

que causa surpresa ao demonstrar que políticas de transferência de renda como o

bolsa-família se fazem ausentes. O desemprego é alto, atingindo 17,2% e revelando a

falta de oportunidades, um dos pontos de maiores reclamações por parte dos

moradores. Outras queixas foram a segurança pública, as unidades de saúde e o

escoamento de esgoto. Por outro lado, os habitantes elogiaram o abastecimento de

água e o fornecimento de energia elétrica50.

É importante também traçar um breve histórico de ocupação da comunidade. As

primeiras casas começaram a ser construídas na década de 30 do século passado e

se intensificou após a chegada de imigrantes portugueses depois do fim da segunda

guerra mundial. Havia o cultivo de plantas e hortaliças que abasteciam uma pequena

51

http://pt.wikipedia.org/wiki/Rocinha 52

http://www.ihu.unisinos.br/noticias/38834-alemao-e-rocinha-sao-as-favelas-mais-pobres-do-rio

Page 83: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

75

feira na Praça Santos Dumont, na Gávea. Nas décadas de 60 e 70, o crescimento foi

exponencial a partir da chegada de imigrantes nordestinos em busca de ofertas de

emprego no Rio de Janeiro. Com o crescimento desordenado, veio também a carência

de infraestrutura e os problemas sociais. Assim como em outras favelas cariocas, a

Rocinha foi castigada com a presença do tráfico de drogas e constantes incursões da

polícia militar, que por várias vezes acabava custando a vida de inocentes. Os

traficantes, por outro lado, aliciavam os jovens para o tráfico a medida que as

oportunidades de vida iam rareando.

Mais recentemente, a favela foi objeto de investimento do poder público, através do

programa de aceleração do crescimento (PAC) do governo federal. Com ele, veio a

construção de uma passarela, o alargamento de ruas e melhora no serviço de energia

elétrica. Em 2011, foi implantada a UPP, que expulsou o tráfico e melhorou

relativamente a segurança, além de permitir a melhora de outros serviços, podendo

aqui incluir o turismo. Porém cabe dizer que os moradores ainda sofrem com a

violência diária, como foi o caso do assassinato do pedreiro Amarildo por policiais da

UPP, em julho de 2013.

2.9.2 O turismo na Favela

Conforme já foi abordado, é cada vez mais comum a procura dos turistas em conhecer

as favelas do Rio de Janeiro e a consequente oferta de passeios deste tipo por parte

de agências ou mesmo dos moradores da comunidade. A Rocinha é a melhor favela

que representa esse cenário. Foi a primeira a ter passeios turísticos, muito antes da

pacificação, quando a cidade foi sede do evento sobre sustentabilidade ECO 92. O

turismo no local foi crescendo aos poucos e hoje as visitas a maior favela da América

Latina é o terceiro ponto turístico mais visitado da cidade, perdendo apenas para o

Cristo Redentor e o Pão de Açúcar53.

Embora tenha começado no início da década de 90, o crescimento do turismo na

Rocinha de deu na segunda metade da última década, tendo inclusive uma

preocupação por parte do poder público neste sentido. Rubem Medina, Secretário

Especial de Turismo do Rio de Janeiro, esclarece alguns fatos que ligam a favela com

o turismo, com as seguintes palavras:

53

http://www.rocinha.org/noticias/rocinha/view.asp?id=2656

Page 84: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

76

A prefeitura do Rio considera a Rocinha uma atração turística e não

vejo como isso possa prejudicar a imagem da cidade. Pelo contrário.

Existe uma demanda de turistas para conhecer a favela e esse roteiro

turístico já existe e movimenta o comércio local, os artesãos. [...]

(RENATO, 2007)

A Instalação da UPP também foi essencial para garantir maior confiança na visita

pelos turistas e também ganhar maior participação do governo no que tange a

atividade turística. Além disso, a Rocinha possui os diferenciais de estar próxima aos

principais hotéis, o que facilita a logística dos turistas serem apanhados e possuí duas

saídas, pela Gávea e por São Conrado, o que facilita para a saída em casos de

emergência, como possíveis conflitos (FREIRE-MEDEIROS, 2008).

O turismo na Rocinha foi crescendo nos últimos anos ao ponto de chegar a um

número médio de visitante de dois mil por mês, mostrando não só o potencial turístico,

mas também a o desenvolvimento desse potencial. Isso coloca a Rocinha em primeiro

lugar dentre as mais favelas visitadas da cidade (Vídeo da rocinha original tour54).

Os principais pontos turísticos da favela

Curiosamente, mesmo sendo a favela mais visitada, os seus pontos turísticos não são

o que mais marcam, como é o caso de outras comunidades. O principal a ser visitado

é o cotidiano dos moradores, conhecendo os seus hábitos e vendo a realidade de

suas vidas, suas casas e sua cultura. Isso é algo extremamente positivo, já que “o

grande acervo da favela é o favelado” (Entrevista AS). E isso se faz presente na

Rocinha. Inevitavelmente, o turista é obrigado no mínimo a ver - não necessariamente

a interagir – com o morador.

Entre os pontos que as agências de turismo levam – ou deveriam levar – os visitantes,

podemos destacar o Parque ecológico da Rocinha, inaugurado recentemente e com

opções de lazer e vista para a favela, o conjunto do PAC com casas renovadas e

pintadas, o Largo do Boiadeiro, a histórica igreja da Nossa Senhora de Boa Viagem, a

biblioteca cultural, que inclui um cineteatro e internet comunitária, a curva do S e a

praça dos artesãos, porta de entrada para a comunidade. Alguns destes pontos estão

colocados na figura 19.

54

https://www.youtube.com/watch?v=rx_gRCT8npY

Page 85: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

77

Figura 19 - Painel de Fotos com exemplos de turismo na Rocinha

Os atrativos culturais ficam por conta principalmente por conta dos ensaios da escola

de samba Acadêmicos da Rocinha. Como o carnaval é um ativo do Rio de Janeiro e

representa muito bem a cultura do morador de favela, acaba sendo também bastante

procurado pelos turistas. A quadra da escola não fica no interior da favela, se

localizando próxima a entrada, mas é possível dizer que quem a visita, conhece o

cotidiano a realidade dos habitantes locais.

Outro ponto cultural bastante apreciado nos tours é a culinária local, que não deixa de

ser carioca em uma visão ampla, mas com as particularidades presentes da favela. O

principal bar local, o bar do Elizeu oferece a feijoada típica por um preço mais em

conta do que aqueles encontrados nos principais gourmets da cidade, porém com a

mesma qualidade. Há ainda a presença dos tradicionalíssimos baião de dois e bife

com batata frita pelos restaurantes e o açaí, refresco que é figura constante nas

lanchonetes e bares. A vantagem dessas refeições servidas na favela comparada aos

restaurantes, é que é a mesma comida que os próprios moradores costumam se

Page 86: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

78

alimentar no seu dia-a-dia, aproximando turista e morador e atingindo o objetivo do

turismo de base comunitária55.

Por fim, há ainda na chamada Rua 1, na parte alta da favela, um comércio de

souvenires. O local é ponto de parada para boa parte das agências e guias que

oferecem os tours e conta com artesanato produzido pelos próprios membros da

comunidade, potencializando o desenvolvimento local. São oito barracas que os

turistas contemplam, tiram fotos e muitas vezes compram os produtos ofertados. Cabe

a crítica que muitos guias de fora da Rocinha recebem uma comissão de 10% na

venda, fazendo com que o dinheiro saia da comunidade. Entre os souvenires

oferecidos, estão bolsas e cintos de anel de alumínio, imãs e mini-maquetes feitas

com caixas de remédio, bolsas e chapéus de sacolas plásticas. Taco, madeira

reaproveitada e vinil transformam-se em quadros coloridos, que oferecem imagens do

Cristo Redentor, da paisagem que se vê do alto do morro e de casas da favela

(NUNES, 2008).

As agências externas e os seus tours

Primeiramente, foram as agências de turismo tradicionais que começaram a fazer os

tours pela favela, no ano de 1992. Marcelo Armstrong começou a organizar os

passeios e foi o pioneiro no turismo de favela, a partir de uma experiência que teve no

Senegal. Até hoje, com uma agência própria, ele realiza o tour pela favela e tem uma

agência própria, a Favela Tour. No caso desta agência, as estatísticas mostram que

98% dos turistas são estrangeiros, em sua maioria de Estados Unidos e Europa56.

Depois da “inauguração”, o negócio da Rocinha só foi crescendo e em 2007 já havia

sete agências que faziam o passeio: Forest Tour; Exotic Tours; Favela Tour; Be a

Local, Don’t Be a Gringo; Private Tour; Jeep Tour; Indiana Jungle e Rio Adventures

(MESQUITA, 2007). Hoje, ainda mais agências se juntaram a essas, mostrando que a

Rocinha e a favela carioca como um todo estão no roteiro pretendido por um turista

que visita o Rio de Janeiro. Dentre essas agências mais recentes, podemos destacar:

Carioca Free Culture; Rio40graus e Favelatour.

O passeio que cada agência oferta tem variações, mas costuma ter um padrão. Todas

55

http://www.rocinhaoriginaltour.com.br/paginas/gastronomia.html 56

http://turismo.ig.com.br/destinos_nacionais/2010/09/17/subindo+os+morros+do+rio+de+janeiro.html

Page 87: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

79

pegam os turistas no hotel, passam pelos principais pontos da favela, como a feira de

souvenires, os locais com vistas privilegiadas, o centro comercial e a visita a laje de

um morador. O custo do passeio fica em média de R$65,00. As diferenças ficam por

conta da maneira de visitação: algumas agências oferecem o passeio em jeep, outras

em moto-táxis locais e uma parte oferece o passeio a pé. Outra questão se dá em

relação às refeições na favela. Algumas as oferecem, enquanto outras não. Vale dizer

que há um ponto positivo, já que boa parte dos turistas deixa um bom dinheiro, ao

comprar suvenires ou fazer sua refeição na favela, beneficiando os seus moradores.

A crítica a essa agências externas fica por conta na maneira com que o passeio se dá,

conforme já foi abordado na revisão bibliográfica: O morador é evidenciado apenas da

maneira positiva, com sua alegria e os problemas da realidade da favela não são

abordados. Além disso, há relatos de que os guias não locais dessas agências não

conhecem a história da Rocinha e das favelas em geral, dando informações erradas

ou incompletas, o que certamente não aconteceria se os guias fossem locais

(MESQUITA, 2007).

Porém, entre as agências externas, há algumas exceções que merecem alguns

destaques. A Exotic Tours não é uma empresa local, mas emprega guias locais, já que

possuí uma escola própria de guias e lhes ensina noções de inglês ou espanhol

(MESQUITA, 2007). É um exemplo excelente de como uma agência, mesmo que

externa, pode aplicar TBC, já que não só emprega moradores, como os capacita. Fica

claro que a comunidade se fortalece com essa iniciativa. Além desse caso, a Favela

Adventures tem um tour também oferecido por um guia local, o mesmo ocorrendo com

a Carioca Free Culture, sendo que neste caso o guia é um ex-morador54.

Cabe dizer que os tours oferecidos na Rocinha tem um excelente retorno dos turistas

em relação à satisfação dos mesmos, o que já torna algo positivo, uma vez que o

chamado “boca-a-boca” é uma das formas de divulgação e certamente o visitante

estrangeiro indicará um passeio à favela para os seus conterrâneos quando esses

vierem ao Brasil, além de ser uma visita certa em um possível retorno. Segundo a

pesquisa feita pelo Estudo de Potencialidades Turísticas da Rocinha, ao serem

questionados sobre o atendimento recebido, a Rocinha recebeu o conceito Ótimo em

primeiro lugar, sendo citado por 89,2% dos entrevistados57.

57

http://www.rocinhaoriginaltour.com.br/paginas/rocinha.html

Page 88: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

80

3.9.3 O fórum de turismo comunitário e a Rocinha Original Tour

Embora todos os casos citados anteriormente podem ser questionados quanto a se

enquadrar como um caso de turismo comunitário, há um exemplo clássico de TBC na

comunidade. A Rocinha Original Tour58 é uma agência de turismo genuinamente

“rocinheira”, nascida e criada na própria favela, com guias e trabalhadores locais e em

total sintonia com outras associações da comunidade, a ponto de ser criado e estar

constante desenvolvimento um fórum de turismo comunitário pelo organizador e líder

local Ailton Macarrão.

Pode-se dizer que o Fórum não existe sem a agência e tampouco a agência sobrevive

sem o fórum. Um é o complemento do outro. É possível ver que as ideias que existem

na agência são as mesmas que perpassam no fórum: a visão de que o TBC é um

instrumento de desenvolvimento local e social para a comunidade, que esta deve ser a

principal beneficiada da atividade turística e os trabalhadores devem ser membros da

própria comunidade. Por tudo isso, pode se dizer que ambos estão afinados entre si e

totalmente de acordo com a prática do turismo de base comunitária, uma vez que o

protagonismo parte dos moradores locais. Segundo o próprio organizador, a agência é

um “braço” do fórum que faz a interface com o mercado (Entrevista AM59).

Neste trabalho, abordaremos os dois de maneira separada, primeiro explicitando como

trabalha a agência, como o tour é feito e a divulgação do trabalho, para depois analisar

o fórum de turismo comunitário, suas ideias e práticas em relação à comunidade e

seus eventuais parceiros.

A Rocinha Original Tour

A preocupação com o desenvolvimento da favela está explícito nas entrelinhas do site

da agência. O slogan “Conheça a Rocinha com quem a conhece” é só o primeiro

indício de que em primeiro lugar está a favela e que esta deve ser mostrada por quem

lá vive para dessa maneira, o turista aproveita-a maximizando o seu conhecimento.

Segundo o próprio site:

Nesse lugar, a Rocinha Original Tour faz um turismo solidário,

58

http://www.rocinhaoriginaltour.com.br/ 59

Entrevista realizada com Aílton Macarrão, em 26/06/2014.

Page 89: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

81

participativo e interativo, em conexão e articulação com parceiros

ancorados à preservação do meio ambiente, à interação e justiça

social. Somos Rocinha, somos locais, somos Rocinha Original Tour60.

Esse viés ligado à preservação ambiental, a interação entre visitante e morador e a

superação da pobreza através da justiça social é o combustível para a prática de um

turismo responsável, que agregue valor para os dois lados que usufruem da atividade

turística: Habitante local e turista. Há ainda a expressão cultural como um ativo que é

mostrado e valorizado nos tours da agência. Arte, cultura e entretenimento fazem parte

dos atrativos.

Os tours oferecidos têm um grande diferencial em relação às agências externas, uma

vez que além de passar pelos locais tradicionais, também passa por ambientes que a

primeira vista não são tão atrativos, mas que são de extremo interesse para alguém

que quer se entranhar a fundo no cotidiano da favela. Isso é algo que só pode ser

exercido com maestria qualidade quando realizado por um guia local. Os tours contam

por vezes com estabelecimentos comerciais que não necessariamente são conhecidos

pelas agências tradicionais (que muitas vezes se limitam aos barracões de suvenires

na Rua 1).

Além disso, podemos destacar o forte apelo cultural que estes tours contam ao passo

que as agências externas ignoram esta parte. Isso se refere, por exemplo, a visita a

sede da ONG Rocinha Surf Escola, a escola de samba Acadêmicos da Rocinha, e

alguns polos comerciais. Por vezes, há rodas de capoeira e bailes funk. Aos domingos,

o pagode toma conta do Pagomix. Há ainda os eventos esporádicos sempre

enaltecidos pela agência.

Vale dizer que ainda não é possível ter um parâmetro do sucesso ou mesmo das

capacidades da agência, uma vez que sua criação é muito recente. Aílton Macarrão

começou a operacionaliza-la e oferecer os serviços apenas no dia 27 de março deste

ano. Por este motivo, a empresa ainda está se organizando e quando há demanda,

procura alguns guias locais existentes na favela e dialogam com restaurantes e outros

empreendimentos da favela (Entrevista AM). Uma foto com o próprio Ailton Macarrão é

vista na figura 19.

Por ser uma agência ainda em fase embrionária, o principal meio de divulgação ainda 60

http://www.rocinhaoriginaltour.com.br/paginas/quemsomos.html

Page 90: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

82

é o “boca-a-boca”, embora já haja a ideia de parceria com hotéis. É importante

destacar que o site da agência é bastante esclarecedor, com explicações de como é

feito o tour, meios de fazer reserva, seu preço e os locais visitados. Há ainda conteúdo

sobre a favela e a cidade e o desenvolvimento da noção com o TBC, ainda que este

nome não esteja explícito. Para melhorar, o site é bilíngue com tradução para o inglês,

aumentando o mercado potencial para os turistas estrangeiros. O que mais representa

o caráter comunitário e gerador de emprego e renda proporcionado pelo turismo é que

o site foi desenvolvido por uma web designer local (Entrevista AM).

Há seis diferentes tours oferecidos, segundo o site:

O tour panorâmico - indicado para o público jovem e caminha-se pelos principais

pontos, incluindo o Parque ecológico e artesanato local. Seu custo é de R$80,00 e a

duração de 2h30min.

O tour área crítica - Passa por locais entranhados da comunidade, onde raramente

outras agências passam, como o visual “laboriaux”, a Rua do Valão, e o “Bate-Lata”,

onde a arte de comunidade é mostrada, O custo é de R$90,00.

O tour turismo cultural - Além de passar pelos principais pontos, inclui visita à escola

de samba, a escola de Surf e a casa das artes. A duração é 1h30min e o custo de

R$ 80,00.

O tour roteiro radical – É indicado ao público jovem por fazer a subida no moto-táxi

pela entrada de São Conrado e a descida ser toda a pé. A vista panorâmica, o

caminho do Boiadeiro e travessa das Palmas são pontos de visitação. O custo é de

R$ 90,00.

O tour turismo sociocultural (full day) – Com duração de cinco horas, cobre quase

todos os pontos turísticos já citados, além de um almoço em um dos restaurantes com

culinária típica e por vezes, recepção com música. O preço é de R$ 150,00.

O Roteiro Ecológico – Como o nome sugere, passa pelas trilhas presentes no morro

com consequente apreciação da mata atlântica. Há também visitas aos mirantes 199 e

do Laboriaux, com vista para todas as praias da zona sul. O custo é de R$ 80,00 e a

duração de 2h30min.

O Fórum de Turismo Comunitário

O líder comunitário e sócio fundador da escola de samba local, a Acadêmicos da

Rocinha, não estava satisfeito com a forma que o turismo estava se desenvolvendo na

favela. A exploração das agências externas não estava deixando benefícios a quem

Page 91: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

83

realmente interessa: a comunidade local. Ignorar a vida dos habitantes e não interagir

com eles são apenas alguns pontos negativos que a exploração da atividade turística

trazia ao local. Segundo o próprio Ailton:

A demanda foi crescendo, o ambiente foi sendo degradado, as

agências explorando um turismo de marginalidade, sem história e

equivocado. Não tem um real revertido para o social e não há

estrutura. Eles querem ganhar o todo e pagar a comissão para a

gente. Tinha que ser o contrário (Entrevista AM)

A denúncia é clara no que tange a preocupação com o ambiente local, através da

degradação do mesmo, do esquecimento ou abordagem incorreta da história da favela

e principalmente do ganho financeiro das agências sem qualquer contrapartida para a

favela, já que os guias não são locais e os ganhos daqueles que vendem sem

produtos são quase nulos, já que há um acordo prévio das agências com

comerciantes específicos, que são explorados (SPAMPINATO, 2009). Um exemplo

desse problema se verifica em um exemplo citado por Ailton quando uma vez estava

tendo um passeio promovido pela Jeep Tour e o jeep em que os turistas estavam

passou direto por uma roda de capoeira. Os turistas tentaram olhar, mas perderam a

chance de ver uma expressão cultural da favela (Entrevista AM).

Essa é mesma opinião da maioria dos moradores da Rocinha. Eles têm a perfeita

noção de que o que mais deveria ser mostrado, a alegria, a cultura e o cotidiano deles,

não é de forma alguma explicitado. Eles não veem problemas com os passeios e têm

perfeita noção de que o turismo de favela pode ser algo positivo, se praticado com

responsabilidade e respeitando o morador. Porém, tal oportunidade é perdida, como

revela uma moradora:

“Eu não vejo aquela publicidade por parte de quem está trazendo

[agências e guias] de ir lá mostrar a arte que acontece dentro da

comunidade. Tem uns lugares que eu não vejo eles visitarem, como

programas de assistência social. As coisas legais que existem

ninguém visita (entrevista R. 45 anos, professora do Ensino

Fundamental em FREIRE-MEDEIROS, 2009, p.119)”

A mídia também contribuí negativamente para mostrar ao asfalto o que é a realidade

da favela. As informações nos jornais são sensacionalistas e muitas vezes assumem

práticas de criminalização da pobreza por generalizar e revelar o que a favela não é –

Page 92: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

84

um espaço onde só há crimes e por isso, um local que deve ser temido por quem a

visita. Isso tem mudado, mas ainda é insuficiente e as agências externas continuam

evitando locais que supostamente são perigosos, mas que de fato não o são

(SPAMPINATO, 2009). Segundo é relatado por François, outro importante membro do

fórum, “a mídia vende o medo” (Entrevista F61).

É nesse contexto que Aílton decide fundar e criar o fórum de turismo comunitário da

Rocinha. O principal objetivo envolve a prática de um turismo solidário, responsável e

que o morador esteja no centro da atividade em ambos os casos: na prática do turismo

– com guias, comerciantes, hoteleiros, empreendedores, todos estes locais – e

também nos benefícios colhidos através da oferta de serviços. Pode-se dizer que esta

ideia está bastante afinada com um turismo de base comunitária.

Além disso, o essencial seria criar uma maior interação entre visitante e morador,

essência do TBC. Os guias locais, por conhecem a comunidade com melhor qualidade

teriam grande vantagem em relação aos guias não locais. E esse seria o maior

exemplo de um dos principais objetivos do fórum: a geração de emprego e renda para

os residentes locais (Entrevista AM). Isso seria visto não só com os guias, mas

também com outras atividades essenciais a cadeia produtiva do turismo, como lojistas,

vendedores de artesanato ou donos de pequenos hotéis. Um bom exemplo para isso é

que já trabalha uma estagiária estudante de turismo e moradora da comunidade em

conjunto com Aílton e François no Fórum.

A primeira ideia de Ailton quando o fórum, foi criado, em 2007, foi de dialogar com as

agências externas a fim de garantir um turismo mais responsável e qualificado. A

proposta foi entorno da utilização de trabalhadores locais, principalmente guias, para

realizar e fazer parte do passeio. Para isso seria necessário capacitar esses guias com

o aprendizado de um idioma estrangeiro. Em teoria, essa estratégia poderia ser

positiva tanto para as agências, que melhorariam a qualidade dos seus tours, quanto

para a comunidade, já que teria seus jovens e adultos trabalhando em um emprego

formalizado. Porém, estas agências não toparam tal projeto em nenhum momento, já

que não enxergavam a capacitação com um investimento e sim como custo, o que

manteve a mesma lógica do turismo praticado até então (SPAMPINATO, 2009).

Com a negativa das agências, o fórum foi o propulsor da criação de uma agência de

61

Entrevista realizada com François em 26/06/2014

Page 93: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

85

turismo interna, que conta hoje com quase 100% dos seus trabalhadores ou

colaboradores como moradores locais. Assim, em março de 2014 nasceu a Rocinha

Original Tour, a primeira – e até o momento única - agência de turismo receptivo

interna da Rocinha. O objetivo seria contrastar com o turismo praticado por essas

agências externas.

O método de divulgação, tours e preços e principais ideias de operação da agência já

foram explicitados neste trabalho, porém cabe aqui colocar que o que levou a oferta de

vários tours diferentes foi justamente uma ideia partida do fórum e que expressa muito

bem o TBC. As diferentes formas de turismo, como o ecoturismo, o turismo cultural, o

turismo culinário ou o “turismo de compras” estão alocados nos diferentes tours. Como

não existe “uma Rocinha” e sim “diferentes Rocinhas dentro de uma só”, nada mais

natural que ter mais de um tipo de tour para estas “diferentes Rocinhas”. Outra

iniciativa que o fórum pode proporcionar a foi a (re)criação do Parque ecológico, em

2009, uma área verde com 8 mil metros quadrados e equipamentos de lazer, turismo e

cultura, praça para idosos, ciclovia e parque infantil(SPAMPINATO, 2009).

Obviamente, além de ser um ganho para o turismo, foi um ganho para a comunidade,

que passou a poder desfrutar de tal área de lazer.

Um problema inicial na implantação do fórum, porém que persiste até hoje e que é

constante preocupação por parte de Aílton é em relação à união – ou melhor dizendo –

a não união entre os empreendedores, donos de negócios, lojistas e comerciantes em

geral. Isso pode ser evidenciado no trabalho feito por Spampinato (2009):

Nas conversas com o assessor de comunicação e com o presidente

do Fórum, ficou evidente a existência de problemas e dificuldades que

a instância precisa enfrentar para que comece a andar sozinha. Entre

esses problemas o mais grave seria, sem dúvida para os

entrevistados, a fragmentação dos comerciantes e dos grupos

produtivos presentes no território, que, junto com o ceticismo por

decepções anteriores, leva a uma escassa participação em suas

atividades, fazendo com que os que deveriam ser seus principais

atores, ficam esperando por ações que dependeriam

fundamentalmente de sua participação, ativando, dessa forma, um

perigoso círculo vicioso de inatividade organizativa e baixa

participação comunitária. (SPAMPINATO, 2009, p. 138).

Isso evidencia uma clara ausência de parcerias entre a comunidade no sentido de unir

forças para a comunidade ter um progresso. E isso não é um problema apenas para o

Page 94: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

86

desenvolvimento do turismo, como para todos os outros ramos comerciais e não

comerciais. O fortalecimento de uma comunidade depende da união entre os seus

membros e suas consequentes parcerias.

Além das parcerias internas, é importante também que haja parcerias externas. São

elas que irão garantir a comunicação, divulgação, promoção e o conhecimento das

atividades da favela para quem está fora dela. Se o turismo é uma atividade em que

os clientes não são locais, é essencial que existam instrumentos que garantam que

um turista em potencial vire um visitante de fato. Além disso, o governo, que pode ser

considerado um ente externo, é o principal promotor de políticas públicas que irão

influenciar diretamente a favela e também o turismo praticado nela. Pode-se dizer que

o governo é um dos principais stakeholders nas políticas da favela.

Sendo assim, destacaremos as parcerias já existentes entre o fórum de turismo

comunitário com outros empreendimentos internos e externos. No âmbito interno, o

fórum tem procurado estabelecer relações com os restaurantes e bares locais. Isso

porque é esperado que o turista tenha interesse em conhecer a culinária local e o que

comem os habitantes no seu cotidiano. Portanto, também será interessante que os

restaurantes e bares se adequem a essa realidade, proporcionando tal experiência ao

turista. No momento em que estávamos realizando a entrevista, Aílton e François

estavam marcando uma reunião com um pequeno empresário que tinha um bar

vendendo açaí e sanduíches (até mesmo em domicílio) para este entrar no fórum e

aumentar a sua renda através do turismo.

Além dos restaurantes, há outro foco com papel preponderante no fomento ao turismo.

Hoje, já há pequenos hotéis que hospedam turistas na Rocinha. Porém, não há

articulação entre eles e deles com o fórum. Além disso, o fórum desenvolveu um hotel

localizado na base da favela e uma loja. Por fim, vale citar a parceria entre o fórum e

um centro de convenções que serve para a realização de eventos, incluindo reuniões

da agência e do próprio fórum. Esse centro de convenções também pode servir como

um pub e receber festas para turistas e moradores (Entrevista AM). É com essas

parcerias que o fórum vai crescendo e se consolidando como um importante ativo da

favela. Hoje já fazem parte do fórum empresários, guias, e outros profissionais locais.

As parcerias externas começaram com a criação do fórum de TBC, em 2007, por

iniciativa própria e solitária de Aílton. Essa parceria se deu com a Turisrio através de

Page 95: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

87

seu diretor. Isso já colocou o fórum em parceria com a principal “empresa” de turismo

do governo. Em 2008, a parceria também foi com o SEBRAE, órgão governamental

que fomenta pequenos empreendimentos. Houve cursos de capacitação e a inclusão

do fórum de turismo na Rocinha no guia SEBRAE 2008. Além do governo,

ultimamente Aílton tem procurado a parceria com outro ente público: a universidade. O

conhecimento acadêmico pode ser essencial na modelagem de negócios e na

sustentabilidade econômica do fórum. Sendo assim, uma das intenções da minha

visita a campo e também do orientador deste trabalho e mais uma estudante foi

justamente estabelecer um canal de comunicação entre academia e favela.

Há também parcerias com entidades privadas. Foi conseguida uma aliança essencial

na formação e capacitação dos guias locais. A Fest tem na sua atividade o ensino de

idiomas estrangeiros, sendo assim possível o aprendizado por parte dos guias e a

consequente qualificação para fazer passeios com turistas estrangeiros. Para a

realização de eventos, acabou de ser firmada uma parceria com a empresa Embarque

Cultural, especialista na realização de eventos turísticos, aumentando e

potencializando as atividades do fórum62.

Há também um espaço físico em que o fórum funciona, no alto da favela. É importante

para a realização de reuniões como a nossa e para garantir a chancela de um

empreendimento sério, competente e por motivo de crença no sucesso por parte de

eventuais parceiros. Porém é interessante que haja um quiosque que divulgue o

produto turístico, algo que ainda não existe e que em principio, o fórum não coloca

como prioridade fazê-lo.

Apesar de todas essas parcerias, algumas já consolidadas e outras em processo de

construção, o fórum de turismo comunitário da Rocinha ainda não se formalizou.

Segundo disse Aílton, “primeiro a intenção é crescer, para depois formalizar”. Isso não

é prejudicial, já que o trabalho do fórum vem ocorrendo de maneira normal. Outro

ponto importante está no sustento da atividade, uma vez que a agência está recém-

formada e engatinhando na sua operação. Há um sócio que acredita no potencial do

turismo comunitário na favela e topa investimento momentâneo (Entrevista AM).

62

https://www.facebook.com/RocinhaTour?ref=ts&fref=ts

Page 96: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

88

3. REFLEXÕES ACERCA DOS ESTUDOS DE CASO

Nesta etapa do trabalho, serão discutidas e analisadas possíveis inferências que

envolvem os estudos de caso citados no capítulo anterior. Primeiramente, a

abordagem será uma análise geral sobre os casos, se fazendo utilização da

ferramenta “análise SWOT” e elaborando possíveis roteiros de turismo de base

comunitária.

3.1 Análise Geral

Após verificar os estudos de caso através de pesquisas e visitas a campo, poderemos

fazer uma reflexão de como o TBC está sendo desenvolvido na cidade do Rio de

Janeiro, o quanto apoio existe a esse fomento e quais os próximos passos a serem

dados no intuito de potencializar ainda mais esse mercado, garantindo a prática de um

turismo solidário e responsável, onde a comunidade esteja no centro das prioridades

dessas práticas.

Em primeiro lugar, é visível que o turismo como um todo cresce no Rio de Janeiro. A

cidade já tinha um grande potencial e recebia um alto número de turistas, mas os

grandes eventos colocaram ou colocarão - o Rio de Janeiro na rota do turismo

mundial. A quantidade de turistas já aumentou após a realização dos jogos pan-

americanos, em 2007 (Entrevista AM). A Rio +20, em 2012, trouxe a delegação de

inúmeros países. Em 2013, foi a vez da jornada mundial da juventude católica

aumentar o fluxo de turistas com o maior evento já realizado em número de pessoas.

Por fim já existem dados de que a Copa do Mundo superou as expectativas e trouxe a

cidade 886 mil turistas, que deixaram a quantia R$ 4 bilhões ante ao esperado de

R$ 1,1 bi63. Além disso, a Cidade Maravilhosa ainda será sede dos jogos olímpicos em

63

http://m.sportv.globo.com/site/programas/sportv-news/noticia/2014/07/numeros-do-turismo-na-copa-superam-expectativas-do-governo.html

Page 97: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

89

2016, o que certamente trará verba e mais turistas.

Com o crescimento do turismo na cidade, é esperado que os principais pontos

turísticos do Rio de Janeiro também aumentem suas visitações. E a favela entra neste

aspecto. Conforme já foi dito, a Rocinha, maior favela da América latina é o terceiro

atrativo turístico mais visitado da cidade51. Isso mostra que o turista esta cada vez

mais interessado em conhecer a realidade da favela, seja a Rocinha pelo tamanho e a

mística, seja o Alemão pela presença do teleférico, seja Salgueiro e Mangueira pelas

tradicionais escolas de samba. Não á toa que foram crescendo os hostels localizados

em favelas e passeios para conhecê-las foram sendo criados pelas agências. Dona

Marta, Cantagalo, Chapéu Mangueira/Babilônia, além dos já citados Rocinha e Alemão

são alguns exemplos disso. Pode-se concluir através dessa análise que o turismo de

favela já está impregnado no roteiro turístico do Rio de Janeiro.

Porém, o crescimento do turismo de favela não está automaticamente ligado ao

crescimento do turismo de base comunitária. Na revisão bibliográfica, foi abordado o

tema e explicitado as diferenças entre um e outro. Quando agências externas

promovem passeios pelas favelas, isso não se configura TBC. E isso se revela na

construção do turismo existente nas favelas. Podemos tomar a Rocinha como o maior

exemplo: quem primeiro atuou no local foram as agências externas, com um viés

exploratório e sem retorno para a favela. Essa mesma linha foi a que se seguiu em

outras favelas, arrancando certa antipatia dos moradores por conta da pobreza ser

propulsora do turismo, baseado na ideia de um safári da Jeep Tour.

Porém, veio nos moradores a percepção de que a atividade turística poderia ser um

instrumento no caminho do progresso e que o benefício do turismo ficaria na própria

comunidade. Começaram a surgir então pequenos empreendedores nas favelas que

ou lidavam com a atividade turística de maneira direta, realizando guiamentos ou

fornecendo hospedagens em suas lajes ou hostels locais, ou ainda indiretamente,

oferecendo aos turistas que visitam a favela seus produtos, como refeições e

artesanato. Isso pode ser visto nos estudos de caso. A Rocinha criou seu fórum e

agência, o Cantagalo tem o MUF, o morro da Babilônia conta com a Chapéutour e o

hostel e os passeios no Dona Marta são majoritariamente guiados por Thiago Firmino,

empreendedor e guia local. Os ganhos com o turismo começam a aparecer. Também

não podemos esquecer-nos do TBC praticado em ambientes que não sejam de favela,

como é o caso de Paquetá, que já tem um projeto mais desenvolvido.

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90

Apesar disso, cabe fazer a crítica que embora o TBC esteja em franco crescimento,

ainda está em fase inicial de desenvolvimento. A grande prioridade do governo ainda

caminha no sentido do turismo tradicional e a competição ainda existente com

agências externas, que já operam a mais tempo e tem profissionais mais gabaritados

para lidar com o mercado desafia o TBC a crescer ainda mais. Por isso, é preciso que

haja mais capacitação nos idiomas, como ficou evidente no caso do MUF. Outras

qualificações a serem adquiridas e que dizem respeito a todos os estudos de caso

está no que tange à gestão de empreendimentos turísticos.

Além disso, os empreendimentos de TBC devem procurar estabelecer um número

maior de parcerias, principalmente externas. As relações com o governo devem ser

fortalecidas, com incentivos financeiros para potencializar um crescimento maior e

incluir o turismo de favela como TBC no roteiro dos principais guias institucionais. A

criação de um subsecretaria de turismo de base comunitária e consequente criação de

um conselho para isso seria interessante. As universidades também podem oferecer

parcerias com conhecimento acadêmico e suporte nas atividades, como é o caso

adotado pelo MUF e que começou a ter relações na Rocinha.

Outro ponto importante e que pode ser verificado é que o diálogo presente entre as

favelas ainda é incipiente. Houve um número pequeno de relatos ou citações de um

conselho de turismo comunitário nas favelas ou simples trocas de experiências em

seminários ou debates, conforme falado na revisão bibliográfica. Esse tipo de evento é

importante para promover o TBC e mostrar que ele existe e tem força entre as

comunidades que o praticam. Isso enalteceria o turismo de base comunitária para o

mercado turístico, colocando-o como um alternativa real ao turismo tradicional. Um

exemplo que pode ser citado e que vai à contramão dessa realidade é a procura e o

interesse de guias moradores da Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, irem visitar

e ver como é o funcionamento do Favela Inn Hostel, no Chapéu Mangueira/Babilônia.

Há também já marcada uma reunião do fórum de turismo comunitário da Rocinha em

que estarão presentes membros de outras favelas na tentativa de adquirir experiências

e elaborar parceria para quem sabe, atingir a criação de um conselho (Entrevista AM).

3.2 Elaboração de roteiros de TBC

Nesta seção do trabalho esboçaremos possíveis tours a serem realizados para um

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91

público que demande certo tipo de passeio, em que em todos os locais visitados o

TBC esteja presente. Cabe dizer que quem se interessa em visitar atrativos turísticos

que o turismo de base comunitária seja aplicado tem a opção de conhecer todos os

estudos de caso aqui citados e outros que acabaram não sendo abordados, como é o

caso de Santa Tereza e Ladeira dos Tabajaras. Outra ressalva importante é que em

todos os roteiros elaborados, é importante que as condições do TBC sejam satisfeitas,

como o guia ser local, geração de benefícios para a comunidade, entre outros.

Roteiro Ecoturista

Este roteiro é indicado para aqueles que gostam do contato com a natureza e

conhecer um novo local através trilhas, cachoeiras e caminhadas pela mata, podendo

fugir do barulho da cidade grande, mesmo estando próximo a ela. Pela presença de

mata, trilhas já demarcadas, é recomendado procurar algumas das favelas estudadas.

O morro da Babilônia tem uma APA onde o ecoturismo pode ser explorado. A Ladeira

dos Tabajaras conta com trilhas para os morro dos cabritos. O Dona marta conta com

um mirante próprio após caminhada e a Rocinha tem seu parque ecológico. Um tour

ecoturista passando por essas quatro favelas poderia ter grande valia para os jovens,

que cada vez mais se interessam por esta modalidade de turismo.

Roteiro Culinário

Para quem se interessa em provar a comida carioca, nada melhor do que conhecer as

refeições do dia a dia do morador do Rio de Janeiro e também das favelas.

Naturalmente, há vários restaurantes gabaritados, mas as há certos locais em que

essa culinária transborda da melhor maneira a cultura carioca, como as favelas e

alguns ambientes específicos. Nesse tour, poderíamos citar a Rocinha, que já conta

com o seu próprio passeio destinado a esse público, o Bar do David, no morro da

Babilônia por ser uma referência no serviço local e ter um preço acessível, e o bairro

de Santa Tereza, característico por ser boêmio, mas também por restaurantes

especializados em feijoada, comida típica carioca.

Roteiro Cultural

A história dos locais a serem conhecidos são sempre procuradas por aqueles que se

interessam pela cultura local e entender como se deu o desenvolvimento de

Page 100: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

92

determinada região. É nesse sentido que é essencial um roteiro cultural de TBC. Cada

favela tem a sua história, o seu modo de expressar, o seu cotidiano. É por isso que

cada uma irá revelar uma realidade diferente. Não á toa, algumas já contam com

museus e outros atrativos culturais que podem ser colocados em um mesmo roteiro.

As favelas da Maré e do Cantagalo contam com os seus museus, sendo um fechado

como é o caso da Maré e um outro a céu aberto, como é o MUF. Além deles dois, o

turismo no morrinho possuí uma obra de arte de grande valor que merecer ser incluída

neste roteiro. Por fim, a Rocinha também já possuí um roteiro cultural que pode ser

visitado.

Roteiro Bucólico

Para quem está cansado da agitação e do barulho presente na cidade do Rio de

Janeiro, além dos locais cheios como praias e outros pontos turísticos, este tour tem o

potencial de ser uma alternativa de passeio tranquilo e alegre. É o caso da Ilha de

Paquetá associado ao bairro de Santa Tereza. Ambos se enquadram neste cenário

descrito acima e podem ser o refúgio não só dos turistas, como também dos cariocas

nos seus dias de folga ou fins de semana.

Roteiro Vistas Panorâmicas

Um roteiro para os interessados em ver o Rio de Janeiro do alto, porém em vistas não

tradicionais, como Cristo Redentor e Pão-de-Açúcar. Praticamente todas as favelas da

zona sul tem no seu visual um grande diferencial, porém cada um com uma

particularidade. Unir esses visuais em um tour poderia ser bastante interessante. O

Cantagalo tem o mirante da paz com vista para a Praia de Ipanema e Lagoa. Da

Rocinha, se avista a Praia do Pepino, Pedra da Gávea e Pedra Bonita. O Morro da

Babilônia permite a contemplação da Praia de Copacabana e do Alto do Dona Marta, a

vista para o Corcovado é peculiar, além de também ser possível ver um pedaço da

Lagoa e a Enseada de Botafogo e o Pão de Açúcar. Pode-se ver que quase todos os

pontos turísticos do Rio de Janeiro foram mencionados. Portanto, esse roteiro tem alto

potencial por possuir belas vistas.

Roteiro do Samba

O samba é sem dúvida nenhuma um patrimônio imaterial do Rio de Janeiro. Aqui se

Page 101: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

93

vive samba, se vive carnaval. O samba faz parte da cultura do carioca. Por este

motivo, poderia estar sem nenhum problema no Roteiro cultural. Porém, por ser algo

tão peculiar e especial para o carioca, merece um roteiro próprio. Naturalmente,

podemos incluir neste roteiro duas das principais escolas de samba da cidade:

Salgueiro e Mangueira. Além destas, a Rocinha também possuí sua própria escola de

samba e com uma quadra ampla. Portanto, o roteiro do samba incluiria ensaios para o

carnaval destas três escolas.

Aqui, cabe uma ressalva. Salgueiro e Mangueira ainda não possuem a prática do TBC

nas suas comunidades. Portanto é condição essencial para que estas favelas se

adequem ao turismo de base comunitária para então existir um tour em que o samba

esteja no centro das atenções e que também veja no TBC o tour acontecer. Um

passeio apenas com a Rocinha seria relativamente pobre se for apenas de Samba.

3.3 Análise FOFA

A ampla pesquisa e também as visitas de campo nos permitem enumerar os pontos

fortes e os pontos fracos presentes no turismo de base comunitária praticado no Rio

de Janeiro. Entre os aspectos positivos, faremos uma análise das forças e

oportunidades. Pelo lado negativo, serão verificadas as fraquezas e possíveis

ameaças. Esses quatro pontos juntos, forças, fraquezas, oportunidades e ameaças

constituem a chamada análise FOFA. Além de elencar exemplos para estes itens, será

conferido um nível de importância para tais exemplos em vista de uma análise

posterior. Os níveis irão variar de “alguma importância” até “muito importante”

passando pelo “importante”. As tabelas 3 a 6 demonstram esses exemplos.

Cabe ressaltar um ponto negativo acerca desta ferramenta. O melhor seria que os

próprios atores, no caso os empreendedores do TBC nos locais estudados

enumerassem suas FOFA's. porém o desenvolvido do trabalho acabou não permitindo

que isso acontecesse. Portanto, todos os pontos aqui listados foram de elaboração do

autor do trabalho e sem a validação dos moradores locais. Apesar disso, muitas ideias

vieram a partir da entrevista realizada com Aílton Macarrão, na Rocinha.

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Tabela 3 - Forças (elaboração própria)

Exemplos Nível Serviços Básicos e Infraestrutura existente Muito Importante

Localização e Acesso Muito Importante Atrativos culturais, gastronômicos e visuais Muito Importante

Existência de Site e blog voltados a atividade turística na comunidade

Muito Importante

Hospitalidade dos Moradores Muito Importante Preços Acessíveis Alguma Importância

Existência de Guias Locais Muito Importante

Tabela 4 - Oportunidades (elaboração própria)

Exemplos Nível Aumento do Emprego e Renda Muito Importante

Mais recursos de saneamento básico Muito Importante Interesse do turista para produto sociocultural Muito Importante

Investimentos ligados aos megaeventos Importante Aumento na procura pelo turismo de

experiência Muito Importante

Aumento do fluxo do turismo internacional Importante Aumento da receita do turismo no setor

terciário Importante

Tabela 5 - Fraquezas (elaboração própria)

Exemplos Nível Tratamento de Esgoto Insuficiente Muito Importante

Precariedade na Estrutura para o turismo (ex: sinalização, pouca profissionalização, baixa qualificação, ausência de centro turístico)

Muito Importante

Divulgação Ineficaz Muito Importante Poucas parcerias e articulações entre

associações Muito Importante

Baixa participação dos atores locais Muito Importante

Tabela 6 - Ameaças (elaboração própria)

Exemplos Nível Concorrência com agências externas Muito Importante

Valorização do Real Alguma Importância Desastres Ambientais Muito Importante

Aumento desordenado do fluxo de turistas Muito Importante Aumento dos preços internos Alguma Importância

Descontinuidade de políticas públicas Muito Importante

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95

Após essas definições, se organizará a Matriz FOFA (tabela 7) com intuito de

instrumentalização para o estabelecimento de relações entre os pontos positivos e

negativos. Nesta matriz estarão os organizados os fatores externos (oportunidades e

ameaças) e internos (forças e fraquezas) se relacionando com os pontos favoráveis

(forças e oportunidades) e os pontos desfavoráveis (fraquezas e ameaças).

Colocaremos nessa análise somente os pontos considerados como “muito

importantes” a fim de reduzir o universo e poder fazer melhores avaliações.

Tabela 7 - Matriz FOFA (elaboração própria)

Favorável Desfavorável

Fatores Internos da

Organização

Forças • Serviços Básicos e Infraestrutura existente • Localização e Acesso • Atrativos Culturais, gastronômicos e visuais • Existência de Site e blog voltados a atividade turística na comunidade • Hospitalidade dos Moradores • Existência de Guias Locais

Fraquezas • Tratamento de Esgoto Insuficiente • Precariedade na Estrutura para o turismo (ex: sinalização, pouca profissionalização, baixa qualificação, ausência de centro turístico) • Divulgação Ineficaz • Poucas parcerias e articulações entre associações • Baixa participação dos atores locais

Fatores Externos da Organização

Oportunidades • Aumento do Emprego e Renda • Mais recursos de saneamento básico • Interesse do turista para produto sociocultural • Aumento na procura pelo turismo de experiência

Ameaças • Concorrência com agências externas • Desastres Ambientais • Aumento desordenado do fluxo de turistas • Descontinuidade de políticas públicas

A partir desta matriz, mas uma análise profunda deve ser feita. Esta é a chamada

análise FOFA cruzada, que também gerará uma nova matriz. Nesta etapa, são

estabelecidas mais quatro relações. A primeira, entre fraquezas e ameaças, que

implicarão em ações para a sobrevivência do TBC como viável. A segunda relaciona

ameaças e forças visando a manutenção dessas forças ante a perspectivas das

ameaças. A terceira análise se dá entre oportunidades e fraquezas, em que se

buscará a adoção de medidas que busquem o crescimento do turismo de base

Page 104: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

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comunitária na cidade. Por fim, a última relação é feita entre os dois pontos favoráveis,

forças e oportunidades, que unidos, poderão proporcionar o desenvolvimento. Um

exemplo da matriz pode ser visto na figura 20.

Antes de construir esta matriz para o caso do turismo praticado no Rio de Janeiro,

colocaremos os pontos principais das relações estabelecidas e a conclusão que se

chega destas relações, conforme se segue nas tabelas 8 a 11.

Com essas relações, podemos chegar à parte final da análise FOFA, a construção da

matriz cruzada da tabela 12 que permite ver quais medidas devem ser tomadas de

modo a trazer grandes melhoras e quem devem ser postas em prática pelos

empreendedores do TBC.

Figura 20 - Exemplo de matriz FOFA cruzada (http://pt.wikipedia.org/wiki/An%C3%A1lise_SWOT)

Tabela 8 - Forças + Oportunidades (elaboração própria)

Forças Oportunidades Desenvolvimento Serviços Básicos e

Infraestrutura existente Mais recursos de saneamento

básico Ausência de defeitos na

Infraestrutura Atrativos Culturais,

gastronômicos e visuais Interesse do turista para produto sociocultural

Fortalecimento da cultura local

Hospitalidades dos moradores Aumento da procura do turismo de experiências

Aumento da troca ganha-ganha entre turista e morador

Existência de Guias Locais Aumento de emprego e renda Alternativa concreta de emprego aos moradores

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Tabela 9 - Forças + Ameaças (elaboração própria)

Forças Ameaças Manutenção Existência de Guias Locais Concorrência com agência

externas Alocação dos guias locais nas

agências externas Serviços Básicos e

Infraestrutura existente Desastres Ambientais Garantia que chuvas não

acarretarão em problemas Existência de Site e blog

voltados a atividade turística na comunidade

Concorrência com agência externas

Estratégia de divulgação que explicite a vantagem de se utilizar de agência interna

Localização e Acesso Aumento desordenado do fluxo de turistas

Adequação a recepção dos turistas sem prejuízos pra a

comunidade

Tabela 10 - Fraquezas + Oportunidades (elaboração própria)

Fraquezas Oportunidades Crescimento Tratamento de Esgoto

Insuficiente Mais recursos de saneamento

básico Melhora no tratamento de

esgoto Precariedade na Estrutura

para o turismo Aumento do Emprego e

Renda Melhora da Estrutura turística com maior renda proveniente

dos empregos Baixa participação dos atores

locais Interesse do turista para

produto sociocultural Envolvimento dos atores

locais Divulgação Ineficaz Aumento na procura pelo

turismo de experiência A procura exigir melhor

divulgação

Tabela 11 - Fraquezas + Ameaças (elaboração própria)

Fraquezas Ameaças Sobrevivência Tratamento de Esgoto

Insuficiente Descontinuidade de políticas

públicas Exigir a participação do

governo de maneira contínua Precariedade na Estrutura

para o turismo Aumento desordenado do

fluxo de turistas Melhora na estrutura e

controle no fluxo de turistas de modo a não prejudicar a

comunidade Divulgação Ineficaz Concorrência com agências

externas Melhorar a maneira e

estratégia de divulgação Poucas parcerias e articulações entre

associações

Descontinuidade de políticas públicas

Incentivo do fortalecimento das instituições internas a partir de políticas públicas

Page 106: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

98

Tabela 12 - Matriz FOFA cruzada (elaboração própria)

Fraquezas Forças

Ameaças

Sobrevivência • Exigir a participação do governo de maneira contínua • Melhora na estrutura e controle no fluxo de turistas de modo a não prejudicar a comunidade • Melhorar a maneira e estratégia de divulgação • Incentivo do fortalecimento das instituições internas a partir de políticas públicas

Manutenção • Alocação dos guias locais nas agências externas • Garantia que chuvas não acarretarão em problemas • Estratégia de divulgação que explicite a vantagem de se utilizar de agência interna • Adequação a recepção dos turistas sem prejuízos pra a comunidade

Oportunidades

Crescimento • Melhora no tratamento de esgoto • Melhora da Estrutura turística com maior renda proveniente dos empregos • Envolvimento dos atores locais • A procura exigir melhor divulgação

Desenvolvimento • Ausência de defeitos na Infraestrutura • Fortalecimento da cultura local • Aumento da troca ganha-ganha entre turista e morador • Alternativa concreta de emprego aos moradores

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99

CONCLUSÃO

Na introdução do trabalho, foi colocado o contexto em que está do Rio de Janeiro no

que se refere ao turismo. Sendo uma das cidades mais atrativas do mundo quando o

tema é beleza e diante da já passada realização de megaeventos, como Jornada

Mundial da Juventude Católica e Copa do Mundo de Futebol e da proximidade e

outros, como os jogos olímpicos, pode-se dizer que a Cidade Maravilhosa está entre

as principais rotas turísticas internacionais e nacionais.

É nesse sentido que tem crescido e pode crescer ainda mais a demanda pelo turismo

de base comunitária. Na análise FOFA, citamos como “muito importante” duas

oportunidades que são essenciais que fazem essa procura aumentar: Interesse do

turista para produto sociocultural e Aumento na procura pelo turismo de experiência.

Ambas em conjunto, tem capacidade de transformar o TBC numa alternativa real para

turistas e para aqueles interessados em ofertar o serviço turístico.

Vimos que o turismo comunitário é um importante instrumento de inclusão social.

Através dele, é possível atingir o desenvolvimento local, já que a atividade turística

pensada no âmbito de trazer benefícios para a comunidade pode gerar tais ganhos

aumentando a quantidade de emprego e renda. O TBC não é um fim em si mesmo,

mas um meio para a obtenção de crescimento e integração para a comunidade

(SPAMPINATO, 2009). Os quatro eixos tratados em Maldonado (2006) também são

essenciais e sempre tem de ser avaliados. O viés cultural garante o fortalecimento da

cultura da comunidade, o ambiental é importante para a preservação e consequente

exploração de maneira sustentável, o econômico terá papel fundamental na obtenção

de recursos para investimento posterior em outras áreas não necessariamente ligadas

ao turismo e o viés social está envolvido nos ganhos de democracia para a

comunidade.

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100

Outro conceito importante a ser avaliado é o Empoderamento (Aldecua, 2010). Ao

longo dos estudos de caso, pode-se ver como ele foi importante para a favela da

Rocinha, quando o inicio do processo se deu com passividade por parte da

comunidade, que aos poucos foi se empoderando e fundou o fórum de turismo

comunitário local.

Como os estudos de caso se dariam em uma cidade grande, ou seja, em um ambiente

tipicamente urbano, foi importante colocar características peculiares a um TBC

praticado na cidade, uma vez que os estudos realizados até o presente momento são

em sua maioria com ambientes rurais. Sendo assim, foi quebrada uma visão

convencional de que o TBC praticado na cidade é um turismo em favela ou em outras

palavras, um turismo “pra pobre”. Não só o TBC pode ser praticado em um ambiente

urbano que não seja de favela, como o turismo de favela não garante que estará

adequado ao TBC. Mesmo assim, as favelas são o grande exemplo de TBC praticado

no Rio de Janeiro. Por este motivo, seis dos sete casos estudados são de favelas.

Porém, a escolha de um caso que não fosse não foi sem propósito, foi feito justamente

com a intenção de mostrar a contrapartida.

Cabe reiterar nesta conclusão que o turismo de favela abre margem para a prática de

um turismo “opressor”. Isso ocorre porque as agências externas com guias não locais

não estão preocupadas com o bem-estar e o benefício adquirindo pelos moradores. A

inclusão social, objetivo principal do TBC, fica em segundo plano. A favela mais parece

um “safári”. Conforme aborda o tema Spampinato (2009), deve-se “pensar de outra

forma”, uma maneira mais humana, com a comunidade no centro, sendo protagonista

e sujeita das próprias ações ligadas ao turismo.

Foi com esses conceitos que os estudos de caso foram vistos. E com eles pode-se ver

como o TBC pode realmente ser um instrumento de desenvolvimento local, conforme

colocado nas primeiras linhas do trabalho. O Cantagalo ganhou opções de lazer para

sua comunidade através do MUF, a Rocinha gerou emprego e renda, a agência de

turismo em Paquetá é referência para a ilha, O museu da maré é um acervo com a

história da favela, O Dona Marta tem um guia local que assumiu tudo com um

protagonismo especial, o Turismo no Morrinho se transformou em ONG e por fim, a

Chapéutour tem ligação direta com associação de moradores do Chapéu Mangueira e

Babilônia. Apesar de todos os problemas conferidos nos estudos de caso, podem-se

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101

ver os benefícios claros que o TBC trouxe a todas essas comunidades, que puderam

se desenvolver em âmbito local.

Deve-se, entretanto não esquecer os limites do TBC e tomar certo cuidado para não

se ter uma visão relativamente míope e romantizada. O turismo pode ser um

instrumento de inclusão, mas não é o “salvador da pátria”. Ele não tem o potencial

sozinho de trazer educação, saúde e saneamento a uma determinada comunidade. É

importante que sempre se exija do poder público que esses direitos de qualquer

cidadão sejam garantidos através de políticas públicas.

Após os estudos de caso, foi importante fazer reflexões e obter conclusões de como

eles estão se desenvolvendo. A principal ferramenta foi a análise FOFA, em que foi

possível, após relacionar forças, fraquezas, oportunidades e ameaças, projetar ações

que garantam melhorias para a prática do turismo comunitário nas favelas.

Foi interessante também elaborar roteiros que sejam capazes de agregar apenas

experiências de TBC. Esses seis diferentes roteiros, se aplicados em conjunto pelas

comunidades que ofereçam os passeios, podem se consolidar como uma alternativa

real ao turismo convencional e entrar como um roteiro clássico do turista que vem ao

Rio de Janeiro interessado no turismo de experiência. Por este motivo, é válido

apresentar a ideia para os empreendedores de TBC no Rio de Janeiro, de modo a

agregar valor ao turista.

Portanto, fica como convite ao turista que lê este trabalho que varie as suas opções de

turismo quando for viajar. É importante valorizar não só o local em que a visita

acontece, mas também quem vive neste local. A prática de um turismo responsável é

essencial para que a atividade não seja predatória e prejudicial aos habitantes locais.

Além disso, a possibilidade de conhecer o lugar de maneira mais qualificada é

potencializada quando a consciência impera entre turistas e ofertantes do serviço

turístico, que são os moradores do local.

Podemos ainda traçar futuros objetivos nos quais este trabalho pode servir de

ferramenta. Explicitamos a importância do estabelecimento de parcerias. Sendo assim,

é valido elaborar um mapeamento de potenciais parceiros que possam fortalecer a

prática do turismo comunitário. No caso do conhecimento, universidade e instituições

privadas podem, por exemplo, oferecer cursos que melhorem a qualidade do negócio,

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102

como formação de guia de turismo, curso de idiomas estrangeiros para poder

aumentar o mercado de turistas ou ainda cursos de gestão de empresas. No que se

refere à aquisição de recursos, entidades do poder publico podem vir a ser parceiras.

Prefeitura e governo do estado podem incentivar e a RioTur teria a possibilidade de

incluir esses roteiros e atrações no seu guia oficial.

Por fim, seria possível ainda a construção de um aparato tecnológico que permita a

exposição os diferentes empreendimentos de turismo comunitário enquanto empresa

turística, ofertando um serviço e com isso, gerando valor para a comunidade. Essa

plataforma pode possibilitar também a criação de uma rede entre os diferentes

empreendimentos, permitindo trocas de experiências e o consequente fortalecimento

do turismo comunitário na cidade. Do ponto de vista da demanda, isto é, do turista, tal

plataforma tem a capacidade fornecer uma ferramenta rápida, acessível e com

facilidade de uso para que este turista interessado em conhecer outra realidade do Rio

de Janeiro possa fazê-lo.

Cabe também um questionamento acerca deste trabalho com o curso de engenharia

de produção. Um dos conceitos mais enfatizados ao longo do curso é a gestão. O

turismo é um negócio como qualquer outro, portanto para ter sucesso econômico e

gerar valor ao cliente, é essencial que a gestão desse negócio seja feita com

qualidade, buscando a otimização dos recursos e sendo positiva para o ofertante e o

demandante do produto. Outra importante análise é quando a organização e avaliação

do trabalho realizado por quem pratica o turismo. É evidente que é importante

entender como o trabalhador está operando o negócio de modo a melhorá-lo e

potencializar o seu desenvolvimento. A psicologia tanto do cliente, quanto do operador,

outro assunto abordado com ênfase pelo curso, está neste trabalho do principio ao

término, ainda que indiretamente. Um bom exemplo disso é a invasão do território da

favela por parte de agentes externos que não estão preocupados com quem lá vive.

Quando se trata do turismo comunitário, esses conceitos também podem ser

aplicados, porém com uma visão mais humana e menos tecnicista. A disciplina de

gestão de projetos solidários busca justamente uma formação que dialogue com essa

ideia. Pode-se enquadrar o turismo de base comunitária em um projeto solidário, uma

vez que o seu desenvolvimento desencadeia em benefícios para toda a comunidade,

com preocupações com a sustentabilidade ambiental, econômica, social e cultural.

Page 111: INCLUSÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO LOCAL APOIADOS …

103

REFERÊNCIAS BILBLIOGRÁFICAS

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Tourism Research, v. 23, n.1, pp. 48-70.

BURSZTYN, I., 2009, “Desatando um nó na rede: sobre um projeto de facilitação do

comércio direto do turismo de base comunitária na Amazônia”, Tese de doutorado,

Programa de Engenharia de Produção da COPPE/UFRJ.

BURSZTYN, I., BARTHOLO, R., 2012, “O processo de comercialização do turismo de

base comunitária no Brasil: desafios, potencialidades e perspectivas", Sustentabilidade

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