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INCLUSÃO DA DIMENSÃO AMBIENTAL NA MATRIZ DE DESEMPENHO ORGANIZACIONAL DE UMA EMPRESA PÚBLICA BRASILEIRA: UM ESTUDO PRELIMINAR DE ADEQUAÇÃO DE INDICADORES Marcos Pereira (Casa da Moeda do Brasil) Jose Antonio Assunção Peixoto (CEFET-RJ) Leydervan de Souza Xavier (CEFET-RJ) Resumo O conceito de desenvolvimento sustentável embasado em acordos internacionais se difundi de forma generalizada e, através de processos de institucionalização, alcançam e transformam as organizações públicas, fazendo com que incorporem ou dessenvolvam modelos de gestão que favoreçam a transparência de ações e decisões e a comunicação com a sociedade. Normalmente, focalizadas na apuração e controle de indicadores relacionados à dimensão econômica, as organizações estão paulatinamente dirigindo a atenção para tratamentos mais amplos de outros indicadores relacionados ao desenvolvimento sustentável, principalmente os relacionados à dimensão ambiental. No Brasil, isto ocorre na administração pública de uma forma ainda bastante discreta, dado o predomínio de protocolos de comunicação de resultados regulados e formatados em cumprimento a diretrizes estabelecidas pelo poder central, com pouco espaço à introdução de indicadores direcionados ao desempenho na proteção e recuperação do meio ambiente. Havendo, também, pouca flexibilidade para adaptação de mudanças conceituais neste sentido. Neste contexto, o objetivo deste trabalho é analisar a viabilidade de introdução de indicadores da dimensão ambiental do desempenho organizacional na matriz de indicadores da Casa da Moeda do Brasil (CMB) visando seu alinhamento às diretrizes da Global Report Initiative (GRI) para esta dimensão. 12 e 13 de agosto de 2011 ISSN 1984-9354

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INCLUSÃO DA DIMENSÃO AMBIENTAL

NA MATRIZ DE DESEMPENHO

ORGANIZACIONAL DE UMA EMPRESA

PÚBLICA BRASILEIRA: UM ESTUDO

PRELIMINAR DE ADEQUAÇÃO DE

INDICADORES

Marcos Pereira

(Casa da Moeda do Brasil)

Jose Antonio Assunção Peixoto

(CEFET-RJ)

Leydervan de Souza Xavier

(CEFET-RJ)

Resumo O conceito de desenvolvimento sustentável embasado em acordos

internacionais se difundi de forma generalizada e, através de processos de

institucionalização, alcançam e transformam as organizações públicas,

fazendo com que incorporem ou dessenvolvam modelos de gestão que

favoreçam a transparência de ações e decisões e a comunicação com a

sociedade. Normalmente, focalizadas na apuração e controle de

indicadores relacionados à dimensão econômica, as organizações estão

paulatinamente dirigindo a atenção para tratamentos mais amplos de

outros indicadores relacionados ao desenvolvimento sustentável,

principalmente os relacionados à dimensão ambiental. No Brasil, isto

ocorre na administração pública de uma forma ainda bastante discreta,

dado o predomínio de protocolos de comunicação de resultados regulados

e formatados em cumprimento a diretrizes estabelecidas pelo poder

central, com pouco espaço à introdução de indicadores direcionados ao

desempenho na proteção e recuperação do meio ambiente. Havendo,

também, pouca flexibilidade para adaptação de mudanças conceituais

neste sentido. Neste contexto, o objetivo deste trabalho é analisar a

viabilidade de introdução de indicadores da dimensão ambiental do

desempenho organizacional na matriz de indicadores da Casa da Moeda

do Brasil (CMB) visando seu alinhamento às diretrizes da Global Report

Initiative (GRI) para esta dimensão.

12 e 13 de agosto de 2011

ISSN 1984-9354

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A referência da GRI justifica-se, por constituir se iniciativa apoiada pela

ONU para padronização e apresentação de relatos em sustentabilidade em

nível internacional. A avaliação e a validação do relato se fazem através

dos stakeholders, o que se coaduna com a perspectiva do Novo

Institucionalismo. Os resultados, baseados em análise de documentos e

entrevistas sustentam a viabilidade do alinhamento de indicadores de

desempenho almejado, apresentando-se, também, indicações de como

operacionalizá-lo.

Palavras-chaves: Desempenho organizacional, Desenvolvimento

Sustentável, Gestão pública, GRI

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1. Introdução

Até o final dos anos 70, grande parte da sociedade não considerava a questão ambiental

prioritária o suficiente para merecer atenção. Como conseqüência, de um modo geral, as

organizações não dedicavam esforços significativos ao tema. As práticas ambientais corriqueiras

baseavam-se em conceitos ambientalmente frágeis e a idéia de sustentabilidade era relacionada,

basicamente, à sobrevivência e ao crescimento econômico (BENNET, 1998).

A situação começa a mudar a partir do início dos anos 80, quando alguns segmentos

sociais passam a identificar os impactos das operações industriais como altamente danosos ao

ambiente. Isto se dá pelos graves acidentes ocorridos na indústria, como as catástrofes de

Bhopal1, de Chernobyl2 e com o Exxon-Valdez3, dentre outros. Adicionalmente, o aparecimento

de problemas de impactos ambientais sérios com reflexos na saúde da população e danos à

natureza, como o comprometimento de rios, lagos e mares, agravou ainda mais essa condição

(BURSZTYN, 1994).

Desde então, diversos acordos e tratados internacionais foram definidos, como o

Protocolo de Montreal (MRE, 1990), subscrito em 1987 e que atualmente conta com cerca de 180

nações comprometidas com suas metas de redução da produção de gases CFC

(clorofluorocarbono), do tipo Halon e de brometo de metila, considerado o primeiro grande

impulsionador de uma globalização ambiental em prol do combate à degradação e a Agenda 21,

elaborada e aprovada na Rio ECO-92 (MMA, 1992) quando a questão da ligação entre

desenvolvimento socioeconômico e as transformações no meio ambiente passa a fazer parte do

discurso oficial da maioria dos países em todo o mundo. Com isso, a relação entre sociedade e

meio ambiente passou a ser observada de maneira mais crítica e a própria concepção do problema

1

A tragédia de Bhopal foi um desastre industrial que ocorreu em 1984, quando 40 toneladas de gases tóxicos vazaram na fábrica

de pesticidas da empresa norte-americana Union Carbide. Mais de 500 mil pessoas, a sua maioria trabalhadores, foram expostas aos gases e pelo menos 27 mil morreram por conta disso. 2 Em 1986 ocorreu o acidente nuclear de Chernobyl. Um reator da central de Chernobyl explodiu e liberou uma imensa nuvem

radioativa contaminando pessoas, animais e o meio ambiente de uma vasta extensão. 3

Exxon Valdez é um navio petroleiro que ganhou notoriedade em 1989, quando aproximadamente 257.000 barris do petróleo que

transportava foram lançados ao mar, na costa do Alasca, depois de o navio. Em consequência centenas de milhares de animais morreram nos meses seguintes.

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passou para uma forma mais globalizada, indicando a estreita interdependência dos países quanto

às ações de impacto ambiental e social (VAN BELLEN, 2002).

Essa nova percepção muda a forma da sociedade e das organizações, como parte

integrante dela, verem a questão ambiental. Aparece o conceito de desenvolvimento sustentável,

apresentado em 1987, na Assembléia Geral das Nações Unidas, pela Comissão Mundial do Meio

Ambiente, através do chamado “Relatório Nosso Futuro Comum”, conhecido como “Relatório

Brundtland”. A definição, que consta deste relatório é a de que: “o desenvolvimento sustentável é

o desenvolvimento que atende às necessidades do presente, sem comprometer a habilidade das

gerações futuras de atender as suas necessidades”. Esse conceito busca o equilíbrio entre o

crescimento econômico e o desenvolvimento humano. Consiste num processo de transformação

no qual a exploração dos recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento

tecnológico e a mudança institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro.

(WCDE, 1987)

Sachs (1986) reafirma que o desenvolvimento sustentado deve ser socialmente desejável,

economicamente viável e ecologicamente prudente. Scandar Neto (2004) afirma que o

desenvolvimento sustentável ainda não é um conceito e sim uma idéia, uma vez que o fenômeno

se revela complexo e envolve a integração de suas dimensões. Este autor ainda reforça a

percepção da dificuldade em se lidar com a sustentabilidade, colocando que ela “não é uma coisa

a ser atingida, mas sim um processo contínuo”.

Diante das dificuldades de assimilação dos novos significados atribuídos ao conceito,

principalmente ao se estabelecer, explicitamente, um compromisso moral com as futuras gerações

humanas e, implicitamente, com a preservação e recuperação dos recursos naturais (bióticos e

abióticos) do planeta, se pode especular que tanto no discurso teórico quanto no prático ele vem

assumindo o contorno de um novo paradigma organizacional.

Nesse cenário paradigmático, a administração pública moderna tem passado por grandes

desafios, dentre os quais o de acompanhar a evolução da consciência da sociedade quanto à

necessidade de acompanhamento da gestão pública e da ação dos governantes segundo novos

critérios de avaliação a serem interpretados e desdobrados desde o nível das diretrizes

internacionais, até o das exigências locais, de acordo com o conceito de desenvolvimento

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sustentável. No entanto, existe a dificuldade de inclusão na gestão pública de ações de

transparência à sociedade, como a difusão de informações socialmente responsáveis do conceito

de sustentabilidade. A forma de apurar desempenho nas organizações públicas tem seu foco

principal no controle dos gastos, o que contempla apenas a dimensão econômica do desempenho.

Esse modelo necessita ser atualizado de forma a incluir as questões ambientais e sociais,

alinhadas com o conceito de desenvolvimento sustentável, interiorizando nessas organizações

públicas o princípio de conduta ética da nova visão de responsabilidade social das organizações.

Na dinâmica de mudanças dos modelos de gestão da sustentabilidade surge a Global

Reporting Initiative (GRI), oriunda do núcleo oficial de colaboração do programa das Nações

Unidas para o meio ambiente. A GRI tenta colimar as diversas experiências de elaboração de

relatórios empresariais, procurando abranger todos os tipos de organização, inclusive as empresas

públicas.

A GRI é uma organização não-governamental internacional, com sede em Amsterdã, na

Holanda, cuja missão é desenvolver e disseminar globalmente diretrizes para a elaboração de

relatórios de sustentabilidade utilizadas voluntariamente por empresas do mundo todo (ETHOS,

2008). Em outubro de 2006 foi lançada pela GRI a terceira geração (G3) das diretrizes para

relatórios de sustentabilidade (GRI, 2009).

1.2 Formulação da situação problema

Em 1973, pela Lei nº 5.895, de 19 de junho de 1973, a Casa da Moeda do Brasil (CMB)

passou de Autarquia para Empresa Pública, estatal não dependente, dotada de personalidade

jurídica de direito privado, com patrimônio próprio e autonomia administrativa. O Governo

Federal, através do Ministério da Fazenda, detém cem por cento de suas ações e cabe ao Ministro

da Fazenda definir os rumos estratégicos para a expansão da empresa, a destinação de seus

resultados e a política de investimentos, presente e futura.

A CMB tem por objetivo social, em caráter de exclusividade, a fabricação do papel moeda

e da moeda metálica nacional, a impressão de selos postais, selos fiscais federais, inclusive os

serviços de selos fiscais digitais e dos títulos da dívida pública federal. Atua em muitos outros

segmentos ligados à produção de impressos de segurança como passaportes, cartões indutivos

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para telefonia, bilhetes magnetizados para transporte (metrô), carteiras de trabalho, selos

cartoriais, selos de garantia de autenticidade e outros produtos.

O modelo de gestão utilizado pela CMB tem como principal influência, a perspectiva da

Qualidade Total, introduzida no país a partir da década de 80 e as perspectivas do Balance

Scorecard (BSC) na divulgação dos balanços financeiros obrigatórios. Com isso sua matriz de

indicadores para medição de desempenho tem o foco principalmente no aspecto econômico e no

aumento da produtividade de seus processos.

Partindo-se dessa realidade, busca-se, nesta oportunidade, contribuir para a inclusão de

informações relacionadas ao desempenho ambiental, na matriz de indicadores da CMB,

utilizando as diretrizes da GRI como referência para estruturação.

1.3 Objetivo

O objetivo deste artigo é analisar o sistema de medição de desempenho da CMB quanto à

viabilidade de inclusão de informações relacionadas à dimensão ambiental, nos termos das

diretrizes da GRI.

1.4 Metodologia da pesquisa

Tendo em vista o objetivo deste trabalho e os conceitos apresentados anteriormente, os

requisitos dos protocolos dos indicadores da dimensão ambiental servirão de base comparativa

com as informações disponibilizadas pela CMB à sociedade.

Os fundamentos do processo de institucionalização são à base do levantamento das

informações da CMB, levando-se em consideração as normas e legislação no qual a organização

está inserida e o peso de seus 317 anos de história.

As informações disponibilizadas no presente artigo pertencem a um quadro de referência

de uma dissertação desenvolvida no nível de mestrado em área afim à Engenharia de Produção.

No processo de coleta dos dados, foram adotados dois procedimentos distintos, sendo o

primeiro caracterizado pela coleta de dados secundários, de natureza documental, e o segundo,

pela coleta de dados primários, mediante a realização de entrevistas semi-estruturadas, utilizando-

se os requisitos dos protocolos de indicadores da GRI.

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Na coleta de dados secundários utilizaram-se informações apresentadas dentro do balanço

social, do relatório de gestão e no modelo de gestão da CMB.

Com relação à coleta dos dados primários utilizou-se a descrição dos requisitos dos

protocolos de indicadores ambientais da GRI. Os entrevistados através dessa orientação

buscavam enquadrar as informações e indicadores da CMB com os referidos requisitos.

As entrevistas aconteceram com funcionários do Departamento de Gestão Ambiental

(DEPGA) da CMB.

2. Fundamentação teórica

A fundamentação teórica deste trabalho se estabelece com o desenvolvimento de um

quadro de referência para integração de conceitos organizacionais a partir de quatro eixos. O

primeiro consiste do processo de institucionalização conduzido a partir de acordos internacionais

estabelecidos, por exemplo, em Montreal e no Rio de Janeiro. O segundo é o conceito de

desenvolvimento sustentável, o terceiro é o comprometimento de stakeholders4 nos processos de

escolha social e o quarto é o conjunto das diretrizes do GRI. Estas diretrizes são sintetizadas e

usadas para avaliar a matriz de indicadores da CMB, considerando-se, ainda, os resultados das

entrevistas realizadas.

A definição de stakeholders mais utilizada atualmente é a de Freeman (1984), onde o

autor definiu esse termo como “qualquer grupo ou indivíduo que afeta ou é afetado pelo alcance

dos objetivos da empresa”.

Na abordagem de Zucker (1987) institucionalização é um processo pelo qual atores

individuais transmitem o que é socialmente considerado real e, ao mesmo tempo, como uma

variável de quanto uma ação pode ser considerada como certa em uma determinada realidade

social. Outra definição é a apresentada por Scott e Meyer (1991), onde esses autores definem

institucionalização como o processo pelo qual as ações são repetidas e assimiladas por todos os

integrantes de uma determinada organização.

A questão da legitimidade organizacional é um aspecto central neste processo. Meyer e

Scott (1983) a definiram como “o grau de suporte cultural a uma organização”. Ruef e Scott

4 Stakeholder - nesse trabalho traduzido como partes interessadas.

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(1998) ampliaram essa visão, definindo legitimidade como uma condição que reflete alinhamento

cultural, suporte normativo e consonância com regras e leis relevantes.

Essa legitimidade organizacional faz com que alguns autores como Rossetto (2005)

considerem que a teoria institucional decorre da permeabilidade das organizações às mudanças

do ambiente no qual estão inseridas. Essa influência da inércia ambiental na tomada de decisão é

abordada na literatura institucional através do conceito de isomorfismo.

Segundo DiMaggio e Powell (1983), no Novo Institucionalismo está sendo amplamente

demarcada uma tendência ao isomorfismo. Este conceito pode ser definido como “o conjunto de

restrições que forçam uma unidade de uma população a parecer-se com outras unidades que se

colocam em um mesmo conjunto de condições ambientais”. Essa colocação sugere que as

características organizacionais são modificadas na direção do aumento de compatibilidade com as

características ambientais.

É necessário compreender que os gestores precisam legitimar suas ações, seja por

interesse próprio ou pela responsabilidade em, no mínimo, aparentar um resultado adequado às

expectativas dos principais stakeholders. Nesse sentido, a teoria institucional pode contribuir para

conhecer as pressões isomórficas mais significativas para os gestores e que, de forma intencional

ou tácita, irão direcionar suas ações.

Diante do exposto, pode-se considerar que a perspectiva institucional é uma estrutura que

coloca grande importância sobre as normas do ambiente e o peso da história da organização para

explicar suas ações (EISENHARDT, 1988).

Segundo a GRI, elaborar um relatório de sustentabilidade “é a prática de medir, divulgar e

prestar contas para stakeholders internos e externos do desempenho organizacional, visando ao

desenvolvimento sustentável”. O relatório de sustentabilidade – alinhado com as diretrizes da

GRI - tem como objetivo descrever os impactos econômicos, ambientais e sociais de acordo com

o conceito de triple bottom line5, aplicado a uma organização, a fim de informar aos stakeholders

(RIBEIRO, 2008).

5 Triple Bottom Line - filosofia, que consiste num modelo de gestão empresarial baseado na adaptação de três pilares: viabilidade

econômica, consciência ambiental e responsabilidade social. Segundo esse conceito inglês, o progresso sustentável em longo prazo requer o equilíbrio desses parâmetros (RIBEIRO, 2008).

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A estruturação do relatório de sustentabilidade proposto pela GRI possibilita uma sólida

avaliação do desempenho da organização e pode dar suporte à melhoria contínua do desempenho

ao longo do tempo. Também serve como ferramenta para engajar stakeholders e assegurar uma

contribuição útil a processos organizacionais.

Segundo COTTRELL e RANKIN (1998), a GRI é uma das iniciativas consideradas mais

positivas na direção de revisão do que é avaliação de desempenho. Essa metodologia utiliza um

formato multistakeholders, acrescentando outros atores na estrutura organizacional.

Além da GRI, o Pacto Global das Nações Unidas (ONU), outra iniciativa voluntária, pode

ser considerada como tendo papel complementar na promoção de responsabilidade

organizacional e no desempenho de sustentabilidade.

As diretrizes G3 da GRI abordam aspectos chave do Pacto Global6 da ONU cobrindo o

status da implementação e desempenho de cada princípio do Pacto Global.

O Pacto Global catalisa liderança e inovação na tradução de compromissos chaves de

responsabilidade social corporativa na visão e ação organizacionais. Os princípios universais nos

quais o Pacto Global se baseia são um ponto central de referência nas diretrizes GRI. Portanto, a

GRI recomendaria o uso do Pacto Global como um meio prático de implementar tais princípios.

A GRI providencia um meio de mensurar o progresso numa base contínua e de relatar o

progresso (PACTO GLOBAL, 2009).

3.0 Apresentação da matriz de indicadores de desempenho da CMB

Tendo como objetivo a demonstração pública de eficiência da gestão de seus processos, a

CMB tem por iniciativa interna e imposição externa, através de órgãos reguladores, uma série de

relatórios relacionados à gestão da organização.

Dentro desse contexto pode ser citado o relatório de gestão, apresentado ao Tribunal de

Contas da União (TCU) como prestação de contas anual a que a CMB está obrigada nos termos

do art. 70 da Constituição Federal, elaborado de acordo com as disposições da Instrução

6 Pacto Global - é uma iniciativa proposta pela Organização das Nações Unidas (ONU) para encorajar empresas a

adotar políticas de responsabilidade social corporativa e sustentabilidade.

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Normativa TCU nº 57/2008, da Decisão Normativa TCU nº 100/2009 e da Portaria TCU nº

389/2009.

Dentro do relatório de gestão a CMB estruturou seus objetivos tidos como estratégicos

aplicando o modelo do Balanced Scorecard (BSC), conforme pode ser observado na tabela 1

abaixo:

Perspectiva Objetivo

Financeira Aumentar a capacidade de investimento, sustentada pelo aumento da rentabilidade e da lucratividade.

Cliente / Sociedade

Ampliar a participação da CMB nos mercados interno e externo.

Aprimorar o atendimento dos clientes de produtos exclusivos.

Interna

Modernizar os processos produtivos e gerenciais.

Buscar participações societárias estratégicas com vistas à verticalização da produção.

Desenvolver tecnologicamente o campo de atuação da CMB, o parque industrial, as áreas de apoio e novos produtos.

Alinhar a CMB às melhores práticas de governança, avaliação de risco e conformidade ‐ GRC.

Aprendizado e crescimento

Adequar as políticas de recursos humanos aos novos Objetivos Estratégicos da CMB.

Intensificar a atuação em ações de responsabilidade socioambiental e promoção da cultura.

Tabela 1: Objetivos Estratégicos da CMB utilizando a metodologia do BSC (Fonte: CMB, 2010).

Através da definição dos objetivos considerados estratégicos foram desdobrados

indicadores de desempenho que servem de acompanhamento para alguns dos objetivos citados

acima. Os indicadores são os seguintes:

EBITDA7 e Margem EBITDA - a capacidade de geração operacional de caixa da

CMB é apurada pelo conceito de EBITDA;

Lucratividade Operacional - traduz a relação existente entre o lucro líquido

operacional e a receita líquida total, demonstrando crescimento dos resultados das

atividades fins da CMB;

7 EBTIDA é a sigla em inglês para earnings before interest, taxes, depreciation and amortization. Para se chegar ao EBTIDA de

uma empresa é preciso utilizar a seguinte conta: lucro bruto menos as despesas operacionais, excluindo-se destas a depreciação e as amortizações do período e os juros.

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Rentabilidade Operacional - apura a participação do lucro líquido operacional na

composição do patrimônio líquido;

Produtividade - espelha o lucro operacional bruto em relação ao gasto total com

pessoal;

Perdas no processo fabril - percentual de produtos inúteis em relação à quantidade

entregue aos clientes;

Treinamento - capacitação e desenvolvimento profissional dos funcionários.

Outra demanda de informação é o balanço social8 da empresa, cuja divulgação é uma

iniciativa voluntária. Esse documento tem como objetivo apresentar a situação da CMB no

campo social e ambiental, registrando e divulgando as ações efetuadas nesses campos, bem como

avaliando as relações ocorridas entre o resultado da empresa e a sociedade.

Dentro desse balanço social a CMB divulga a evolução no decorrer dos últimos anos das

seguintes informações:

Admissões e demissões no período;

Número de funcionários por gênero no período;

Nível de escolaridade do corpo funcional no período;

Número de funcionários sindicalizados;

Distribuição dos funcionários por gênero e faixa etária;

Distribuição dos funcionários por tempo de empresa e gênero;

Perfil do estado civil dos funcionários;

Distribuição dos funcionários segundo raça e gênero;

Distribuição dos funcionários por níveis funcionais e gênero;

Corpo gerencial segundo raça e gênero;

Evolução dos benefícios concedidos no período.

Através da certificação ISO 9001:2008 que implica na necessidade de medição e

monitoramento dos processos, fez-se necessária outra base de informações e, com isso, após a

elaboração da política da qualidade e de seus objetivos, houve a formatação de indicadores para

8 Balanço social pode ser considerado um mecanismo utilizado pelas empresas para tornarem públicas as suas intenções e

compromissos, visando à transparência de suas ações no exercício da responsabilidade social corporativa.

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evidenciar a eficácia do sistema de gestão. Os indicadores definidos para atender a medição do

desempenho, preconizada pela ISO 9001:2008, são os seguintes:

Satisfação dos clientes;

Investimentos;

Crescimento das vendas;

Absenteísmo;

Número de não conformidade em auditorias;

Satisfação dos funcionários;

Acidentes de trabalho;

Evolução dos preços de matérias-primas e serviços;

Qualidade dos fornecedores;

Custo ambiental.

Os relatórios aqui apresentados fazem parte da estrutura da empresa e como foi

mencionado anteriormente são frutos de demandas internas e externas. Outras informações

permeiam a organização, como por exemplo, o balanço patrimonial.

Diante do exposto nessa sequência de quadros de indicadores, pode-se perceber a forte

influência da dimensão econômica no formato de medição do desempenho da CMB. Entretanto,

existe um objetivo estratégico específico que trata da intensificação das ações de

responsabilidade socioambiental, retratando um processo inicial de inclusão da dimensão

ambiental na estratégia da organização.

4.0 Inclusão da perspectiva ambiental baseada no protocolo de indicadores de

desempenho ambiental da GRI

As diretrizes da GRI para elaboração de relatórios de sustentabilidade podem colaborar

com a CMB na conceituação e adoção de um conceito de desempenho organizacional próprio,

que incorpore a temática da sustentabilidade e, nesse caso, favoreça a incorporação de

informações relativas às questões ambientais na estruturação de seus indicadores de desempenho,

além daquelas relativas às questões econômico-financeiras, já utilizadas.

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Serão considerados neste artigo, a título de avaliação, os indicadores essenciais da GRI do

protocolo de indicadores ambientais.

Os aspectos contidos nos indicadores ambientais estão estruturados de forma a refletir os

insumos, produções e tipos de impacto que uma organização gera no meio ambiente.

4.1 EN1. Materiais usados por peso ou volume.

Esse indicador descreve a contribuição da organização à conservação da base de recursos

globais e os esforços para reduzir a intensidade dos materiais e aumentar a eficiência da

economia.

A compilação desse indicador visa a identificar o total de materiais usados. Ou seja, todas

as matérias-primas, materiais associados ao processo de produção, peças semifabricadas e

materiais para embalagens, além dos materiais não renováveis9 utilizados. A informação deverá

ser repassada por peso ou volume total.

O levantamento dessas informações na CMB ainda está em sua fase inicial. Foram

separadas as principais matérias-primas e insumos por linha de fabricação e o consumo desses

materiais está sendo levantado por peso.

A CMB ainda não possui as informações necessárias para geração desse indicador, que se

encontra ainda em fase de levantamento.

4.2 EN2. Percentual dos materiais usados provenientes de reciclagem.

A relevância desse indicador está em identificar a capacidade da organização de usar

insumos reciclados. O mesmo visa a criar uma comparação, relatada em termos percentuais, entre

o total de insumos usados pela organização e o total de insumos reciclados utilizados.

A CMB não possui as informações necessárias para geração desse indicador, pois não

utiliza na sua matriz de produtos nenhum tipo de material reciclado, são todos materiais virgens

adquiridos de fontes externas. Entretanto, conforme observado anteriormente a organização vem

implementando ações ligadas a reuso de água oriundo do tratamento de efluentes sanitários e

reutilização do resíduo de borra de tinta.

9

A GRI entende como materiais não renováveis aqueles recursos que não se renovam em períodos curtos de tempo, tais como

minerais, metais, petróleo, gás, carvão, etc.

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4.3 EN3. Consumo de energia direta10 discriminado por fonte de energia primária11.

As informações sobre o consumo de fontes de energia primária permitem avaliar como a

organização poderia ser afetada por novas regulamentações ambientais.

Como fonte de energia direta, oriunda de fontes não renováveis, a CMB se utiliza do gás

natural e GLP (Gás Liquefeito de Petróleo). O volume em 2010 de gás natural consumido foi de

578.236m3, totalizando um gasto anual de R$ 828.705,57. Com relação ao GPL o volume

consumido foi de 24.024Kg.

4.4 EN4. Consumo de energia indireta12 discriminado por fonte de energia primária.

A quantidade e a fonte de energia primária consumida indiretamente pela organização por

meio da compra de eletricidade e outros, podem indicar esforços no sentido de gerir impactos

ambientais.

Como fonte de energia indireta, oriunda de fontes não renováveis, a CMB se utiliza da

eletricidade. A quantidade de energia consumida em 2010 foi de 43.903.443 kWh, totalizando um

gasto anual de R$ 13.999.333,92.

Com relação ao consumo de energia por fonte, em 2010 os percentuais são os seguintes:

85,3% para energia elétrica; 14,6% para gás natural; 0,1% para GLP (Gás Liquefeito de Petróleo)

4.5 EN8. Total de retirada de água por fonte

A divulgação do volume total de água retirada por fonte contribui para compreensão da

magnitude global dos impactos e riscos potenciais associados ao uso da água por parte da

organização.

A CMB possui duas fontes de retirada de água, a Companhia Estadual de Águas e Esgoto

(CEDAE) e um lençol subterrâneo. O volume total de água retirado da CEDAE em 2010 foi de

241.469 m3 e do lençol subterrâneo 30.046 m

3.

10

A GRI entende como energia direta as formas de energia que entram nos limites operacionais da organização. 11

A GRI entende como fonte de energia primária a forma inicial da energia consumida para atender a demanda de energia da

organização. 12

A GRI entende como energia indireta a energia produzida fora dos limites da organização que é consumida para suprir a

demanda por energia intermediária (ex.: eletricidade, aquecimento, etc).

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15

O consumo total de água da organização em 2010 foi de 271.515 m3, totalizando um gasto

anual de R$ 4.605.670,11.

4.6 EN11. Localização e tamanho da área possuída, arrendada ou administrada dentro de

áreas protegidas13, ou adjacentes a elas, e áreas de alto índice de biodiversidade14 fora das

áreas protegidas.

O monitoramento de quais atividades estão sendo realizadas tanto em áreas protegidas

quanto em áreas de alto índice de biodiversidade fora das áreas protegidas possibilita a

organização a reduzir os riscos de impactos.

Conforme apresentado anteriormente a CMB está localizada no Distrito Industrial de

Santa Cruz, e possui 110.000 m2 de área construída, em uma área de terreno de cerca de 500.000

m2 e seu tipo de operação é produção. Não há entorno nenhuma área de proteção ou alto índice de

biodiversidade. De qualquer forma, internamente a CMB dispõe de um grupo de brigadistas que

eventualmente efetua resgate de animais silvestres nas dependências da organização. Entretanto a

CMB não possui as informações necessárias para geração desse indicador.

4.7 EN12. Descrição de impactos significativos na biodiversidade de atividades, produtos e

serviços em áreas protegidas e em áreas de alto índice de biodiversidade fora das áreas

protegidas.

Esse indicador fornece a base para compreensão de uma estratégia organizacional para

mitigar os impactos diretos e indiretos significativos causados pela organização na biodiversidade

de áreas protegidas e de alto índice de biodiversidade.

A CMB visando à certificação ISO 14.001:200415 (Sistemas de Gestão Ambiental - SGA)

elaborou uma avaliação de aspectos e impactos ambientais tomando como referência todas as

atividades da organização.

13

A GRI entende que área protegida trata-se de uma área geograficamente definida que é designada, regulada ou gerida para

atingir objetivos específicos de preservação. 14

A GRI entende que áreas de alto índice de biodiversidade são áreas não sujeitas a proteção legal, mas reconhecidas por suas

importantes características de biodiversidade por organismos governamentais ou não.

15 A norma ISO 14.001:2004 especifica os requisitos relativos a um sistema da gestão ambiental, permitindo a uma organização

desenvolver e implementar uma política e objetivos que levem em conta os requisitos legais e outros requisitos por ela subscritos e informações referentes aos aspectos ambientais significativos.

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16

4.8 EN16. Total de emissões diretas e indiretas16 de gases causadores do efeito estufa, por

peso.

As emissões de gases do efeito estufa são a principal causa de mudança climática e são

regulamentadas pela Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas

(UNFCC) e pelo subsequente Protocolo de Kyoto.

Atualmente não há na CMB cálculo de emissão de gases do efeito estufa, pois a

organização não tem como característica em seus processos produtivos a emissão em escala

desses tipos de gases. Entretanto, está em fase de contratação uma empresa prestadora de serviços

para monitoramento e análise das emissões atmosféricas da organização. Com isso, atualmente, a

CMB não possui as informações necessárias para geração desse indicador. Todavia, após

levantamento das informações pela empresa contratada, a organização passará a recolher

informações necessárias para adequado atendimento desse requisito.

4.9 EN17. Outras emissões indiretas relevantes de gases causadores do efeito estufa, por

peso.

Algumas organizações têm emissões indiretas de gases de efeito estufa significativamente

maior que suas emissões diretas. Estas estão sob controle da organização de forma que a mesma

com uma mudança de suas práticas pode conduzir reduções significativas.

Por estar localizada dentro de um Distrito Industrial, distante dos centros urbanos, a CMB

fornece a seus funcionários transporte. São mais de 40 linhas de ônibus que diariamente

transportam os funcionários de casa para o trabalho e vice-versa. Entretanto, não há nenhum tipo

de medição das emissões de gases de efeito estufa desse meio de transporte para que se possa

utilizar como referência para esse indicador. Além disso, a relevância dessa atividade não está

definida, assim como também não está definida a criticidade para os stakeholders. Com isso, a

CMB não possui as informações necessárias para geração desse indicador.

4.10 EN19. Emissões de substâncias destruidoras da camada de ozônio, por peso.

A medição das emissões de substâncias destruidoras da camada de ozônio possibilita uma

avaliação de como a organização obedece à legislação atual e seus prováveis riscos nessa área.

16

A GRI entende como emissões diretas as emissões de fontes que são de propriedade da organização ou por ela controladas. No

caso de emissões indiretas, resultam das atividades da organização, entretanto são geradas em fontes de outra organização.

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17

No processo de fabricação de seus produtos, a CMB não utiliza e não emite substâncias

abrangidas pelos anexos A, B, C e E do Protocolo de Montreal17 sobre substâncias que destroem a

camada de ozônio. A maioria dessas substâncias são CFCs, HCFCs, halons e brometo de metila.

Sendo assim, a CMB não possui as informações necessárias para geração desse indicador.

4.11 EN20. NOx, SOx e outras emissões atmosféricas significativas, por tipo e peso.

Esse indicador mede a magnitude das emissões atmosféricas da organização e pode

demonstrar o tamanho da organização e importância dessas emissões e comparação a outras

organizações.

Conforme apresentado no indicador EN16, a CMB está em fase de contratação de uma

empresa prestadora de serviços para monitoramento e análise das emissões atmosféricas da

organização. A partir do levantamento dessas informações, será possível obter a informação

adequada para atendimento desse requisito. Todavia, atualmente a CMB não possui as

informações necessárias para geração desse indicador.

4.12 EN21. Descarte total de água, por qualidade e destinação.

O volume e a qualidade da água descartada pela organização estão diretamente vinculados

a impacto ecológico e custos operacionais.

Os valores de quantidade total de água descartada na CMB podem ser avaliados traçando

um paralelo com os valores de vazão das estações de tratamento de efluentes. Sendo assim, pode-

se considerar que houve o descarte de 39.950 m3 de água, dentro dos parâmetros de carga

máxima legal para o volume anual de descarte.

Os volumes descartados nas estações de tratamento de efluentes industriais juntam-se aos

efluentes sanitários ao longo da rede da CMB e são encaminhados para as lagoas aeradas para

tratamento biológico dos efluentes. Das lagoas o volume de efluente descartado vai para uma

elevatória da CEDAE em Santa Cruz, de onde é descartada no Rio da Guarda que desemboca na

Baia de Sepetiba.

4.13 EN22. Peso total de resíduos, por tipo e método de disposição.

17

O Protocolo de Montreal sobre substâncias que destroem a camada de ozônio é um tratado internacional em que os países

signatários se comprometem a substituir as substâncias que se demonstrou estarem reagindo com o ozônio (O3) na parte superior da estratosfera.

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18

As informações sobre o destino da disposição de resíduos revelam até que ponto a

organização tem gerido o equilíbrio entre as opções de disposição e diferentes impactos

ambientais. Do ponto de vista financeiro, a redução contribui diretamente para a redução dos

custos de materiais, beneficiamento e disposição.

As informações referentes ao exercício 2010 ainda não foram consolidadas. Sendo assim,

serão utilizadas as informações do exercício 2009.

Foi gerado um total de 3.594,01 toneladas de resíduos. Sendo 174,87 toneladas de

resíduos Classe I18, 3.050,97 toneladas de resíduos Classe II A e 368,17 de resíduos Classe II B.

Os métodos de disposição são determinados pela CMB. No referente exercício os resíduos

da organização foram dispostos da seguinte forma: 314 toneladas para aterro industrial de

terceiros, 32 toneladas para tratamento físico/biológico, 1.093,28 toneladas para

reutilização/reciclagem/recuperação interna, 1.580,40 toneladas para aterro sanitário e 574,33

toneladas outros.

4.14 EN23. Número e volume total de derramamentos significativos19

.

Esse indicador serve como uma medida indireta para avaliar a capacidade de

monitoramento de uma organização.

Não há registros de derramamentos significativos por parte da CMB. Sendo assim,

informações como: localização e volume do derramamento e tipo de material derramado, além

dos impactos dos mesmos, atualmente não podem ser divulgados visando o atendimento desse

indicador. Entretanto a CMB mantém intenso controle das concentrações de substâncias químicas

oriundas dos processos de fabricação e que são descartadas em águas de lavagem.

4.15 EN26. Iniciativas para mitigar os impactos ambientais de produtos e serviços e a

extensão da redução desses impactos.

18

Os resíduos são classificados, de acordo com a NBR 10.004/04, como: Resíduos Classe I – Perigoso; Resíduos Classe II – Não

Perigosos; Resíduos Classe II A – Não Inertes; Resíduos Classe II B – Inertes. 19

A GRI entende como derramamento significativo todos aqueles que estejam incluídos na demonstração financeira da

organização ou registrados como derramamentos pela organização.

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19

Essa medida avalia ações que a organização realiza para reduzir impactos ambientais

negativos e aumentar os impactos positivos no que se refere à concepção e entrega de seus

produtos e serviços.

A CMB não faz Avaliação de Ciclo de Vida do Produto (ACV), entretanto algumas ações

para mitigar alguns impactos ambientais podem ser observadas. Em 2010, conforme apresentado

anteriormente a organização executou alguns projetos e atividades, são eles: destilação a vácuo

de efluente das máquinas de polimento; tratamento da sangria por eletrólise; aquisição de um

sistema de recuperação de solução de limpeza das máquinas de impressão calcográfica;

reutilização do resíduo de borra de tinta; início da implantação do novo sistema de tratamento de

efluentes sanitários com reuso de água; contratação de uma empresa especializada no processo de

gerenciamento total de resíduos; programa de produção mais limpa.

Além dessas ações, a CMB, atendendo a Instrução Normativa nº 01/2010 do Ministério do

Meio Ambiente, passa a incluir critérios de sustentabilidade ambiental em suas licitações,

considerando os processos de extração ou fabricação, utilização e descarte de produtos e

matérias-primas. Sendo assim, a organização tem a orientação de realizar aquisições de produtos

que causem menor impacto ambiental, ainda que eventualmente não configure o menor preço

para CMB.

4.16 EN27. Percentual de produtos e suas embalagens recuperadas20

em relação ao total de

produtos vendidos, por categoria de produto.

Esse indicador permite avaliar até que ponto os produtos ou materiais são coletados

convertidos em materiais úteis para o processo de produção da organização.

Não há na CMB registro de percentual de produtos e suas embalagens recuperadas por

categoria de produto. Sendo assim, não há informações necessárias para atendimento aos

requisitos desse indicador. Todavia, está em fase de estudos dentro da CMB a reutilização dos

discos não conformes no processo de eletrodeposição21, que normalmente são descartados, para

após tratamento reingressaram ao processo produtivo.

20

A GRI entende como recuperado à coleta, reutilização ou reciclagem de produtos e suas embalagens ao término de sua vida útil.

21 O conceito eletrodeposição é usado para definir o recobrimento de peças com um metal condutor ou outra substância, sendo

resultado de uma emigração de partículas carregadas eletricamente a uma solução aquosa iônica com o auxílio de corrente elétrica.

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20

4.17 EN28. Valor monetário de multas significativas e número total de sanções não

monetárias resultantes da não conformidade com leis e regulamentos ambientais.

O nível de não conformidade dentro da organização ajuda a indicar a capacidade da

gestão de assegurar que as operações obedeçam a certos parâmetros de desempenho.

Não há registros nos demonstrativos financeiros da CMB de multas resultantes da não

conformidade com leis e regulamentos ambientais.

Entretanto, visando aos requisitos desse indicador, podem ser utilizadas as notificações do

Instituto Estadual do Ambiente (INEA), cujas ações corretivas têm caráter imediato. Em 2010 a

CMB teve 04 notificações, sendo que uma das notificações estava cancelando uma terceira, ou

seja, na verdade foram 02 notificações. Estas estavam relacionadas à necessidade de plano de

ação e melhorias no controle e tratamento de efluentes líquidos industriais e sanitários e

atualização da planilha de cumprimento de condicionantes da licença de operação vigente.

5. CONCLUSÃO

Ao comparar as informações oriundas dos processos internos da CMB com os requisitos

dos indicadores ambientais da GRI, observa-se que a organização possui informações necessárias

para atendimento de diversos desses requisitos. Em algumas situações a característica de empresa

pública limita a avaliação do indicador proposto, mas em outros casos, mesmo que não sejam de

forma direta, muitas informações podem ser trabalhas e orientadas visando o atendimento aos

requisitos. Desta forma, ao apropriar-se do conjunto de protocolos de indicadores da GRI com

seus respectivos requisitos, foi possível observar uma oportunidade de ampliação da percepção de

desempenho.

A inclusão da dimensão ambiental na percepção de desempenho da CMB reforça seu

processo de legitimidade institucional, alinhando sua estratégia às mudanças do ambiente no qual

está inserida, ao mesmo tempo em que há um aumento de compatibilidade com as características

desse ambiente. Pode-se considerar que esse aumento de compatibilidade com as características

ambientais faz com que a CMB torne-se isomórfica na questão do desempenho ambiental, pois a

essa perspectiva do desempenho passa a ser uma demanda da sociedade e das organizações.

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21

Com a inclusão da dimensão ambiental na matriz de indicadores da CMB espera-se que a

abordagem da GRI seja ampliada no contexto das empresas públicas brasileiras, colaborando

assim com a sustentabilidade dessas organizações e conduzindo a uma homogeneização de

práticas, procedimentos e estruturas.

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