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INCLUSÃO FINANCEIRA NO BRASIL: EVOLUÇÃO DO ACESSO AOS SERVIÇOS
BANCÁRIOS E FINANCEIROS
Resumo
O objetivo geral do artigo é identificar as tecnologias e canais que permitiram a ampliação do
acesso ao sistema financeiro nos anos 2000. São objetivos específicos: (i) apresentar a
evolução das tecnologias e dos canais de acesso no Brasil em termos espaciais e temporais e
(ii) averiguar a existência de associações entre a expansão do acesso financeiro com
indicadores econômicos municipais e com efeitos de vizinhança (transbordamento). A
metodologia adotada para o artigo é a análise exploratória de dados georreferenciados a partir
das informações provenientes do Cadastro de Informações sobre Entidades de Interesse do
Banco Central (UNICAD) e do PIB dos Municípios (PIB Municipal calculado pelo IBGE).
Os resultados mostram que houve expansão significativa do acesso ao sistema financeiro de
modo a garantir a universalização ao nível municipal por meio de novas tecnologias. Embora
os canais tradicionais, como agências bancárias, não tenham aumentado em termos per-capita,
a distribuição geográfica nos anos 2000 indicou um comportamento de capilarização por meio
de outros canais, como postos de atendimento e correspondentes.
Palavras-chaves: Inclusão Financeira; Correspondentes Bancários; Brasil
Abstract
The general purpose of this paper is to identify the technologies and channels that allowed the
expansion of access to the financial system in XXI century. The specific purposes are: (i) to
present the spatial and temporal evolution of technologies and channels of access in Brazil;
(ii) to verify the existence of associations between the expansion of financial access and local
economic indicators and neighborhood effects (spillover effects). The methodology adopted is
exploratory analysis of geocoded data from the Information Register of Interest Entities from
Brazilian Central Bank (UNICAD) and GDP of Municipalities (calculated by IBGE). The
results show that there was a significant expansion of access to the financial system through
new technologies to ensure universality at the municipal level. While traditional channels
such as bank branches, have not increased in per-capita terms, the geographical distribution in
the 2000s indicated a capillarity behavior through other channels such as banking
correspondents and banking stations.
Keywords: Financial Inclusion; Banking Correspondents; Brazil
1
INCLUSÃO FINANCEIRA NO BRASIL: EVOLUÇÃO DO ACESSO AOS SERVIÇOS
BANCÁRIOS E FINANCEIROS
Lauro Emílio Gonzalez 1
Lucas Ayres Barreira de Campos Barros 2
Maiara Patti Gaulez Maciel 3
Raquel de Freitas Oliveira 4
Sérgio Mikio Koyama5
Vladimir Fernandes Maciel 6
INTRODUÇÃO
O objetivo geral do artigo é identificar as tecnologias e canais que permitiram a
ampliação do acesso ao sistema financeiro nos anos. São objetivos específicos: (i) apresentar
a evolução das tecnologias e dos canais de acesso no Brasil em termos espaciais e temporais e
(ii) averiguar a existência de associações entre a expansão do acesso financeiro com
indicadores econômicos municipais e com efeitos de vizinhança (transbordamento).
Os dados disponíveis sobre acesso e uso de serviços financeiros revelam que uma parte
significativa da população mundial permanece excluída do sistema financeiro formal ou
semiformal (Karlan & Murdoch, 2010). Demirguc-Kunt, Beck and Honohan (2007) estimam
que na maior parte da África Subsaariana, por exemplo, menos de 20% da população possui
conta bancária (sendo esta proporção superior a 80% na Europa Ocidental e América do
Norte) e que o número de pessoas sem qualquer acesso ou com muito pouco acesso financeiro
pode chegar a três bilhões em todo o mundo.
No Brasil, o uso de serviços financeiros formais permanece limitado e bastante
heterogêneo. Gonzalez, Diniz, Nascimento e Kasmirsky (2013) reportam, utilizando uma
amostra de aproximadamente 3 mil domicílios, que 29% dos respondentes (39% no quintil de
renda menor) não possuíam conta bancária; 48% dos respondentes nunca contrataram
qualquer tipo de seguro e 66% não possuíam conta poupança ou caderneta de poupança.
1 Coordenador do Centro de Microfinanças e Inclusão Financeiras da Fundação Getulio Vargas de São Paulo.
Professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Administração Pública e Governo da mesma
instituição. 2 Professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Contabilidade e Controladoria da Faculdade de
Economia, Administração, Contabilidade e Atuárias da Universidade de São Paulo. 3 Professora do Centro Universitário Fundação Santo André (FSA). Assistente de pesquisa do Centro de
Microfinanças e Inclusão Financeiras da Fundação Getulio Vargas de São Paulo. 4 Professora e pesquisadora do Mestrado Profissional em Administração da Fundação Álvares Penteado
(FECAP) e analista do Departamento de Estudos e Pesquisa do Banco Central do Brasil. 5 Analista do Departamento de Estudos e Pesquisa do Banco Central do Brasil. 6 Coordenador do Núcleo de Pesquisa em Qualidade da Vida e pesquisador do Centro Mackenzie em Liberdade
Econômica da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Coordenador do Programa de Pós-Graduação em
Economia e Mercados do Centro de Ciências Sociais e Aplicadas da mesma instituição.
2
Portanto, trata-se de um assunto pertinente à realidade brasileira e funcional para o
desenvolvimento, notadamente no combate à pobreza e desigualdade de oportunidades. Nota-
se ainda que existem poucos estudos sistematizando os bancos de dados disponíveis e
buscando identificar correlações e potenciais causalidades.
Este artigo, de cunho exploratório, está dividido em três seções, além desta introdução e
das considerações finais. A primeira faz uma revisão da literatura e dos conceitos de inclusão
e acesso ao sistema financeiro, além de apresentar os principais marcos regulatórios que
possibilitam a expansão de canais de acesso alternativo (correspondentes). A segunda seção
apresenta a metodologia empregada e as bases de dados utilizadas. A terceira e última seção
efetua análise exploratória dos dados em série temporal e em painel, valendo-se para tanto de
técnicas de geoprocessamento e de estatística espacial.
1. INCLUSÃO E ACESSO AO SISTEMA FINANCEIRO
A ideia de inclusão financeira remete ao processo de expansão do acesso e uso de serviços
financeiros com o intuito de incluir segmentos da população previamente não atendidos ou
com acesso muito limitado ao sistema (Beck, Demirguc-Kunt & Levine, 2011). Sob o ponto
de vista teórico, o papel fundamental das instituições e mercados financeiros é o de facilitar as
trocas entre agentes econômicos, ajudando-os a superar as dificuldades associadas à
coordenação de transações diretas entre si. Os provedores de serviços financeiros (não
necessariamente instituições bancárias) cumprem este papel ao desempenharem as seguintes
funções principais (Levine, 2005; Beck et al., 2011): (1) oferecer meios de pagamento que
facilitam trocas comerciais; (2) direcionar a poupança agregada dos agentes superavitários a
investimentos com diferentes escalas; (3) selecionar projetos de investimento utilizando
conhecimento especializado; (4) monitorar os tomadores de recursos e a aplicação da
poupança dos doadores; (5) oferecer serviços de gestão de riscos facilitando, por exemplo, a
diversificação e a suavização da volatilidade.
Em um sistema financeiro desenvolvido, essas funções são desempenhadas com maior
qualidade, eficiência e eficácia (Levine, 2005). Serviços financeiros mais eficazes podem
contribuir para uma melhor alocação de recursos e para o aumento da produtividade na
economia como um todo (Love, 2003). Especificamente, o acesso ao sistema financeiro
facilita o investimento de longo prazo, possibilita a entrada de mais empreendedores e alivia
as restrições financeiras das empresas, especialmente as de pequeno porte e aquelas que
dependem mais de financiamento externo, isto é, para as quais os recursos gerados
3
internamente à organização não são suficientes (Aghion, Angeletos, Banerjee & Manova
2010; Rajan & Zingales 1998; Beck, Demirguc-Kunt & Maksimovic 2005).
A evidência empírica disponível é geralmente compatível com estes argumentos,
sugerindo que o desenvolvimento financeiro se relaciona positivamente ao crescimento de
empresas e países (Ayyagari, Demirguc-Kunt & Maksimovic, 2013; Levine, 2005). Quanto
aos canais de influência do sistema financeiro há, por exemplo, evidência de associação
significativa entre o grau de acesso a fontes de financiamento externas à empresa e: (i) o
número de novos empreendimentos (Klapper, Laeven & Rajan, 2006); e (ii) o montante de
inovação tecnológica e organizacional em empresas de países emergentes (Ayyagari,
Demirguc-Kunt & Maksimovic, 2011).
Adicionalmente, diferentes proposições teóricas sugerem que um acesso financeiro mais
amplo pode aumentar a eficiência e também reduzir a pobreza e a desigualdade social
(Aghion & Bolton, 1997; Galor & Zeira, 1993; Greenwood & Jovanovic, 1990). Embora a
evidência nesta linha seja ainda escassa (Karlan & Murdoch, 2010), alguns estudos multi-
países mostram uma associação robusta entre desenvolvimento financeiro e redução da
desigualdade (Beck, Demirguc-Kunt & Levine, 2007; Clarke, Xu & Zou, 2006). Beck,
Demirguc-Kunt and Levine (2007), em particular, documentam uma associação negativa
relevante entre o grau de acesso financeiro e a parcela da população com renda inferior a US$
1,00 por dia, sendo esta associação explicada em parte pelo aumento do crescimento
econômico e em parte pelo aumento da participação da parcela mais pobre da população na
renda nacional.
O impacto social do acesso financeiro pode ser explicado por mecanismos diretos e
indiretos. O acesso a crédito e outros serviços financeiros pode aliviar as restrições financeiras
dos mais pobres e fomentar empreendimentos de pequena escala, bem como o investimento
em capital humano, na forma de maior acesso à educação e saúde. Na mesma linha, o acesso a
serviços de crédito, poupança e seguros pode reduzir a exposição dos mais pobres a choques
negativos sobre sua renda. O desenvolvimento financeiro também pode beneficiar os mais
pobres indiretamente, por meio da expansão economia formal, do aumento na arrecadação de
impostos e melhorias de infraestrutura (Beck et al., 2011).
1.1.Acesso financeiro no mundo e no Brasil
Houve aumento no acesso financeiro dos mais pobres em anos recentes, em parte devido
ao crescimento acelerado das iniciativas de microfinanças. Por exemplo, segundo o The
Microcredit Summit Campaign Report, o número de clientes de instituições de microfinanças
4
no mundo saltou de 13,5 milhões em 1997 para 133 milhões em 2006, um crescimento de
29% ao ano, concentrado principalmente na Ásia (Karlan & Murdoch, 2010). Permanecem,
entretanto, diversas barreiras que limitam o uso efetivo dos serviços financeiros, notadamente
em países com menor renda. Por exemplo, Beck, Demirguc-Kunt, Peria and Soledad (2008)
documentam, utilizando uma amostra com 209 bancos de 62 países, barreiras na forma de
depósitos mínimos e taxas de administração proibitivas, tempo excessivo de processamento
de transações financeiras como empréstimos e transferências de valores e excesso de
burocracia.
No Brasil, as iniciativas governamentais visando ao aumento do acesso financeiro
ganharam momento a partir da década de 1990 (Zouain & Barone, 2007; Barone & Sader,
2008). Por exemplo, neste período foi criado Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) e
foram regulamentadas as Organizações da Sociedade Civil de Interesse Público (OSCIP) e as
Sociedades de Crédito ao Microempreendedor (SCM). Nos anos 2000 foram criadas regras
para o direcionamento de parte dos depósitos à vista captados pelas instituições financeiras
para operações de crédito destinadas à população de baixa renda e a microempreendedores,
bem como implementadas ações de estímulo à expansão do cooperativismo de crédito. Criou-
se em 2005 o Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO) e em 2012
o CRESCER - Programa Nacional de Microcrédito. Também se destaca, em anos recentes, o
significativo aumento da atuação dos bancos públicos na promoção da inclusão financeira da
parcela mais pobre da população (Miguel, 2012).
Contudo, uma das mudanças mais emblemáticas no panorama da inclusão financeira no
Brasil foi a criação dos correspondentes, que são firmas não-bancárias autorizadas a prestar
uma série de serviços, sob o amparo da Resolução 2.640/1999, posteriormente alterada pelas
resoluções 2.707/2000, 3.110/2003 e 3.954/2011:
I - recepção e encaminhamento de propostas de abertura de contas de depósitos à vista,
a prazo e de poupança mantidas pela instituição contratante;
II - realização de recebimentos, pagamentos e transferências eletrônicas visando à
movimentação de contas de depósitos de titularidade de clientes mantidas pela
instituição contratante;
III - recebimentos e pagamentos de qualquer natureza, e outras atividades decorrentes
da execução de contratos e convênios de prestação de serviços mantidos pela
instituição contratante com terceiros;
IV - execução ativa e passiva de ordens de pagamento cursadas por intermédio da
instituição contratante por solicitação de clientes e usuários;
5
V - recepção e encaminhamento de propostas de operações de crédito e de
arrendamento mercantil concedidas pela instituição contratante, bem como outros
serviços prestados para o acompanhamento da operação;
VI - recebimentos e pagamentos relacionados a letras de câmbio de aceite da
instituição contratante;
VIII - recepção e encaminhamento de propostas de fornecimento de cartões de crédito
de responsabilidade da instituição contratante; e
IX - realização de operações de câmbio de responsabilidade da instituição contratante,
observado o disposto no art. 9º7.
Os correspondentes têm sido objeto de muitas publicações nos últimos anos (Diniz, 2007;
Diniz, Pozzebon & Jayo, 2008; Ivatury, 2006; Ivatury & Mas, 2008; Kumar, Parsons &
Urdapilleta, 2006). De acordo com Diniz, Jayo and Christopoulos (2009), existem diferentes
modelos de negócios que combinam correspondentes microfinanças no Brasil. Assunção
(2013) encontra evidências de que os correspondentes eliminaram barreiras de entrada para a
provisão de serviços financeiros no Brasil. Esse resultado sugere um papel importante dos
correspondentes para aumentar a inclusão financeira, especialmente em locais mais remotos.
2. METODOLOGIA E BASES DE DADOS
A metodologia adotada para o artigo é a análise exploratória de dados georreferenciados a
partir das informações provenientes do Cadastro de Informações sobre Entidades de Interesse
do Banco Central (UNICAD) e o PIB municipal (IBGE).
2.1. Bases de dados
O UNICAD é um sistema gerido pelo Banco Central do Brasil (BCB) que recebe
informações de diversos agentes, entre elas as instituições supervisionadas, a Comissão de
Valores Mobiliários (CVM), as entidades externas e os departamentos do BCB. Este sistema
unifica as informações referentes aos dados cadastrais das entidades supervisionadas pelo BC,
suas instalações e das pessoas físicas e jurídicas que, de alguma forma, tenham relação com as
entidades supervisionadas ou que estejam inseridas na sua área de atuação. Dentre as diversas
7 O art. 9º restringe a atuação dos correspondentes bancários às operações de:
I - compra e venda de moeda estrangeira em espécie, cheque ou cheque de viagem, bem como carga de
moeda estrangeira em cartão pré-pago;
II - execução ativa ou passiva de ordem de pagamento relativa a transferência unilateral do ou para o
exterior; e
III - recepção e encaminhamento de propostas de operações de câmbio.
6
informações existentes, o presente trabalho teve como foco a dispersão geográfica dos
principais pontos de atendimento8 disponibilizados pelo sistema financeiro.
Entende-se como ponto de atendimento o conjunto formado pelas dependências e pelos
correspondentes relacionados aos bancos comerciais, bancos múltiplos, bancos cooperativos,
banco múltiplo cooperativo, cooperativas, Sociedade de Crédito, Financiamento e
Investimento (SCFI) e Sociedade de Crédito ao Microempreendedor e à Empresa de Pequeno
Porte (SCMEPP). Anteriormente composta por 11 diferentes tipos de instalações, a Resolução
nº 4.072, de 26 de abril de 2012 consolidou as dependências bancárias em apenas 4 tipos, a
saber:
1) Agência,
2) Posto de atendimento (PAs)9,
3) Posto de atendimento eletrônico (PAEs),
4) Unidades administrativas desmembradas (UADs).
Em relação aos correspondentes bancários, o UNICAD possibilita a discriminação tanto
pelos incisos nos quais cada correspondente está habilitado a prestar, como também pelo tipo
de instituição ao qual está vinculado (bancos, SCMEPP, SCFI, cooperativas de crédito e
outras instituições financeiras).
A base de PIB Municipal foi desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) em parceria com os Órgãos Estaduais de Estatística, Secretarias Estaduais
de Governo e a Superintendência da Zona Franca de Manaus – Suframa e apresenta dados do
PIB municipal de 1999 a 2011. O cálculo do PIB dos Municípios baseia-se na distribuição,
pelos municípios, do valor adicionado bruto a preços básicos em valores correntes dos 20
setores de atividade econômica, obtido pelas Contas Regionais do Brasil a partir da utilização
de variáveis auxiliares que permitam esta distribuição pelos respectivos municípios. Apesar
de serem observados os valores adicionados brutos da Agropecuária, da Indústria e dos
Serviços, o PIB e o PIB per capita, o presente trabalho teve como foco as informações
agregadas de PIB e PIB per capita. Caber ressaltar ainda que, além das informações
8 Conforme o Relatório de Inclusão Financeira (RIF) de 2015
(http://www.bcb.gov.br/Nor/relincfin/RIF2015.pdf), “Os canais de acesso aos serviços financeiros são os meios
disponibilizados pelas instituições financeiras aos seus usuários para acesso a serviços financeiros. Esses canais
de acesso podem ser físicos ou remotos. O conjunto de canais de acesso físicos é tradicionalmente chamado de
pontos de atendimento”. 9 Postos de Atendimento Bancário (PABs), Postos Avançados de Atendimento (PAAs), Postos de Atendimento
Transitório (PATs), Postos de Compra de Ouro (PCOs), Postos de Atendimento Cooperativo (PACs), Postos de
Atendimento de Microcrédito (PAMs), Postos Bancários de Arrecadação e Pagamento (PAPs) e Postos de
Câmbio passaram a ser considerados PAs. A definição de cada um destes tipos pode ser encontrada no RIF 2011
(https://www.bcb.gov.br/Nor/relincfin/RIF2011.pdf) e 2015.
7
anteriormente mencionadas, o valor adicionado bruto corrente da Administração, saúde e
educação públicas e seguridade social foi segregada do PIB dos Serviços, devido à
importância desta atividade na economia brasileira.
Assim, a partir da compatibilização destas duas bases de dados10, o presente trabalho
considera dados anuais por município para o período de 1999 a 2015. Tendo em vista o
número reduzido de municípios que foram criados posteriormente ao ano de 2011 (apenas
cinco municípios), tais localidades, por simplicidade, foram excluídas da presente análise.
2.2.Análise exploratória de dados georreferenciados
De acordo com Anselin (1992), a existência de padrões espaciais para determinadas
variáveis implica a necessidade de se avaliar a associação espacial e a variação sistemática do
fenômeno por localização. LeSage (1999, p.3) afirma que “numa amostra de dados existe
dependência espacial quando a observação do local i depende de outras observações
localizadas em j≠i”, de sorte que,
𝑦𝑖 = 𝑓(𝑦𝑗), 𝑖 = 1, … , 𝑛 𝑗 ≠ 𝑖
Dessa forma, o estudo de padrões espaciais nas variáveis socioeconômicas é importante
porque “(...) localização e distância são importantes forças atuantes na geografia humana e no
funcionamento do mercado” (LeSage, 1999, p. 3-4).
A primeira etapa para buscar padrões é a elaboração de mapas temáticos. A partir da
inspeção visual é possível levantar a possibilidade de eventual padrão e/ou associação
espacial. Nos mapas temáticos elaborados na próxima seção as escalas de classificação dos
indicadores ao longo do tempo foram fixadas naquelas calculadas para o ano de 201511, de
modo que as informações dos diferentes anos sejam comparáveis entre si.
Para analisar eventual associação espacial, por sua vez, é preciso supor a forma do
relacionamento entre as entidades espaciais (neste trabalho são os municípios). A primeira
tarefa para que se façam análises espaciais é definir uma matriz de proximidade espacial,
comumente denominada de Matriz W ou “matriz de vizinhança”. Localidades que são
vizinhas compartilham fronteiras ou vértices comuns, ou seja, são contíguas (Lesage, 1999).
Esquematicamente, pensando-se no espaço como um tabuleiro de xadrez, as formas mais
10 Adicionalmente, estas informações foram também compatibilizadas com as informações existentes no RIF. 11 Os cálculos foram elaborados por meio do algoritmo de “quebras-naturais” de Jenks. Esse algoritmo permite
identificar os agrupamentos que “espontaneamente” existem no conjunto de dados, daí a “quebra-natural”. Ele o
faz maximizando a diferença entre as categorias e minimizando as diferenças internas a cada uma
(homogeneidade interna).
8
comuns de contiguidade são dos tipos “torre” (rook), “bispo” (Bishop) e “rainha” (Queen) –
respectivamente representadas na Figura 1.
Figura 1 – Representação dos tipos básicos de contiguidade (em preto a localidade i de interesse e em
cinza os vizinhos contíguos de acordo com o tipo) – valor 1 para os vizinhos e 0 para os “não vizinhos”
0 1 0 1 0 1 1 1 1
1 1 0 0 1 1
0 1 0 1 0 1 1 1 1
“Rook” “Bishop” “Queen”
(torre) (bispo) (rainha)
Fonte: elaboração própria
Neste artigo definimos a vizinhança por contiguidade do tipo Queen12, pois entende-se
que melhor se aplica ao caso dos municípios13.
Uma vez definido o padrão de vizinhança, a medida mais simples e inicial de verificar a
existência de alguma dependência espacial se dá por meio da estatística conhecida como I de
Moran. De acordo com Freire (2011, p.70), a “auto-correlação [sic] espacial é a correlação de
certa variável (atributo) z numa área i com os valores dessa mesma variável em áreas [j]
vizinhas”. O I de Moran é, portanto, uma forma de medir a autocorrelação espacial (ver
equação abaixo).
𝐼 =𝑛
𝑆0(
∑ ∑ 𝑤𝑖𝑗𝑧𝑖𝑧𝑗𝑗𝑖
∑ 𝑧𝑖2
𝑖
)
Em que n é o número de observações, S0 é soma dos ponderadores da matriz W de
vizinhança, wij é o elemento da matriz W para o par (i,j), zi e zj são os desvios em relação à
média do atributo z. O I de Moran é uma estatística que varia no intervalo [-1,1]. Se ele
assumir valor zero significa ausência de autocorrelação espacial, enquanto que valores
positivos indicam autocorrelação positiva e valores negativos indicam autocorrelação
negativa.
12 Outra forma de se definir vizinhança e, portanto, de criar a Matriz W é por meio da distância entre as
localidades. Nesse caso, estabelecer-se-ia um raio máximo de distância de modo que a localidade i seria vizinha
da localidade j se esta estivesse dentro do raio de distância estabelecido. Caso j distasse acima desse valor, i não
seria sua vizinha. 13 LeSage (1999, p.13) informa que a natureza do problema estudado e eventuais informações ad-hoc (que não
sejam obtidas da amostra de dados) são a orientação básica de escolha do tipo de matriz de vizinhança.
9
A análise espacial, no entanto, não se restringe à existência geral da autocorrelação no
espaço. É necessário que se leve em conta as estatísticas espaciais locais a fim de se
identificar padrões, como aglomerações (clusters) de municípios de alta ou de baixa
acessibilidade aos serviços bancários e financeiros, por exemplo. Usualmente as
concentrações de localidades com alto valor do atributo medido são chamadas de hot spots,
enquanto que as concentrações com valores baixos do atributo são denominadas de cold spots.
De acordo com Cardoso (2010), as estatísticas calculadas com essa finalidade são
convencionalmente chamadas de “Indicadores Locais de Associação Espacial” (LISA – Local
Indicators of Spatial Association).
Uma forma complementar e mais sofisticada é identificar os clusters por meio do I de
Moran Local, conforme proposto por Anselin (1995). O LISA Cluster Map é um tipo de mapa
que identifica agrupamentos (clusters) usando a referida estatística. Os agrupamentos
identificados são estatisticamente significativos a 5% ou menos. Há quatro classificações
possíveis de agrupamentos:
i. Municípios de alta acessibilidade cercados por outros municípios com alta
acessibilidade (padrão High-High);
ii. Municípios com baixa acessibilidade vizinhos de outros municípios com baixa
acessibilidade (Low-Low)
iii. Municípios com baixa acessibilidade cercados por municípios de alta acessibilidade
(Low-High);
iv. Municípios com acessibilidade elevada cercados por municípios de baixa
acessibilidade (High-Low).
3. ANÁLISE DOS RESULTADOS
Os resultados abaixo apresentados foram divididos em duas partes: i) evolução dos
dados agregados nacionalmente, ou seja, a série temporal e ii) análise dos dados em estrutura
de painel (município ao longo do tempo). Tendo em vista a quantidade de municípios
brasileiros (acima de 5500), escolheu-se o georreferenciamento dos dados com vistas a
realizar a análise da evolução por meio de mapas temáticos e algumas estatísticas espaciais.
3.1. Análise das séries temporais de dados
Avaliando-se os pontos de atendimento ao sistema financeiro, segundo Gráfico 1,
verifica-se que tanto o número de dependências bancárias como os correspondentes
apresentaram uma tendência de crescimento ao longo de 2000 a 2013, invertendo esta
10
tendência nos dois últimos anos (2014 e 2015). Apesar desta similaridade, a taxa de
crescimento destes dois canais foi muito distinta, tendo os correspondentes apresentado uma
taxa de crescimento anual de 14,5% no período de 2000 a 2015 enquanto que as dependências
bancárias mostraram um crescimento de 5,1% ao ano. Analisando o comportamento ao longo
do tempo, é possível identificar que esta taxa de crescimento não foi homogênea ao longo de
todo o período.
Nas dependências, embora a taxa de crescimento médio nos últimos dez anos tenha
sido em torno de 3% a.a., nota-se que nos anos de 2008 e 2011 houve um forte crescimento de
7,9% e 6,9%, respectivamente14.
Gráfico 1: Evolução do número de dependências e correspondentes – 2000 a 2015
Fonte: elaboração própria por meio dos dados do Banco Central do Brasil
Ainda avaliando o comportamento das dependências bancárias, o Gráfico 2 apresenta
o comportamento do número de pontos para cada tipo. Enquanto as sedes, agências e postos
de atendimento (PA) apresentaram uma taxa de crescimento em torno de 2,5% a.a., os postos
de atendimento eletrônico (PAE) apresentaram uma taxa de crescimento de 5.7% a.a. entre
2005 a 2011, reduziram esta taxa para 3,6% e 1,5% em 2012 e 2013, respectivamente. Em
14 Apesar de ambas as séries terem sido obtidas de forma consistente ao longo do tempo, é possível identificar
uma elevada variação entre 2004 e 2005 cuja causa pode ser atribuída a um problema de qualidade da base de
dados.
0
50000
100000
150000
200000
250000
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Dependências Correspondentes
11
2014, os PAEs apresentaram uma redução de 7,5% e, em 2015, uma contração ainda maior de
14,6%15. Ainda em relação às sedes e agências, nota-se que após 2005, a variação anual é
decrescente apenas nos anos de 2010 (ano da fusão dos bancos Unibanco e Itaú) e 2015 (ano
da aquisição do HSBC pelo Bradesco).
Gráfico 2: Evolução do número de dependências por tipo – 2000 a 2015
Fonte: elaboração própria por meio dos dados do Banco Central do Brasil
Em relação aos correspondentes bancários, o período entre 2000 a 2005 apresentou um
crescimento exponencial, com taxas de crescimento anual em torno de 30%16 em decorrência
das mudanças normativas que, em 2000 permitiram a instalação de correspondentes em
municípios assistidos por dependências bancárias e em 2003 permitiram o substabelecimento.
Entre 2006 a 2012, notas-se o crescimento ainda elevado, contudo em taxas mais moderadas,
chegando a 20,2% em 2007 a 7,0% em 2008. Finalmente, após uma forte desaceleração em
2013 (2,2% a.a.), esta tendência inverte-se, apresentando uma taxa de redução de 15,0% em
2014 e 3,1% em 2015.
15 Uma hipótese aventada para esse comportamento de contração dos PAEs é o aumento do número e das
modalidades de assaltos aos caixas eletrônicos. Entretanto, haveria a necessidade de cruzamento dos dados desse
tipo de ocorrência com a taxa de variação dos PAEs, o que não é possível realizar porque a disponibilização
desse dado não é uniforme entre as Secretarias Estaduais de Segurança das diferentes Unidades da Federação. 16 Novamente ressalta-se que em estes valores são apenas referenciais, tendo em vista um possível problema de
qualidade nas informações anteriores a 2005.
0
5000
10000
15000
20000
25000
30000
35000
40000
45000
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
Agências e sedes PA PAE
12
Dois fatores inter-relacionados impulsionaram o crescimento vertiginoso dos
correspondentes (2006-2012): o uso do canal correspondente como forma operacionalizar a
bancarização de novos clientes e a busca por ganhos de eficiência e redução de custos, uma
vez que nem sempre é economicamente viável a oferta de serviços financeiros através de por
agências tradicionais (Diniz et al, 2009). Ademais, a evolução recente dos correspondentes
precisa compreendida à luz do contexto de transformações pelas quais a economia brasileira
passou, notadamente a emergência da chamada “nova classe média”, que constitui parcela
relevante dos clientes anteriormente mencionados.
Como em qualquer fenômeno socioeconômico, os efeitos de diversas variáveis se
combinam na determinação de um resultado. Programas sociais, relativa estabilidade
macroeconômica, combinando controle inflacionário e crescimento econômico, aumento real
do salário mínimo e aumento do emprego formal foram as principais causas da mobilidade
social que acabou gerando a chamada nova classe C. Obviamente, o conceito de classe média
vai além da renda e não cabe aqui uma discussão a respeito (Gonzalez & Porto, 2015). O
ponto a ser levantado é que, diante do quadro conjuntural descrito, os grupos de menor poder
aquisitivo passaram a ter mais graus de liberdade para alocar recursos e manejar seu
orçamento, aumentando a demanda por serviços financeiros, principalmente crédito para
consumo.
Uma das razões da reversão de crescimento dos correspondentes é a redução da
atividade econômica e o desgaste de um modelo de crescimento baseado no circuito crédito-
consumo. De fato, a relação entre crédito ao consumo e PIB no Brasil era a mais alta entre as
economias da América Latina em 2014 (Gonzalez, 2015). O ajustamento e a redução de
crescimento desse tipo de crédito colaboraram para a queda no número de correspondentes ao
final do período estudado. Claro que, examinado na sua integridade, o intervalo de análise
apresenta um quadro de grande importância relativa dos correspondentes.
O Gráfico 3 apresenta o comportamento do número de correspondentes por tipo de
serviço prestado. Avaliando-se o período entre 2005 e 2015, um comportamento quase
paralelo ao identificado no agregado pode ser observado no número de correspondentes que
estão habilitados para a execução de serviços de “recepção e encaminhamento de propostas de
operações de crédito e de arrendamento – inciso V” e “Recebimento e pagamento de qualquer
natureza – inciso III”, os quais representam a primeira e segunda principal atividade
executada pelos correspondentes bancários. As atividades de “Recepção e encaminhamento
de propostas de cartão de crédito – inciso VIII”, “Recebimento de pagamentos e
transferências eletrônicas – inciso II” e “Recepção e encaminhamento de propostas de
13
abertura de conta – inciso I” apresentam correlação aproximadamente de 95% com o total de
correspondentes bancários, com comportamento muito similar no período entre 2005 e 2012,
contudo, estabilizando após este ano, diferentemente da queda observada nas 3 séries
anteriores. A realização de “Execução de ordens de pagamento – inciso IV” apresentou um
crescimento mais modesto do que o agregado total, com uma taxa de 5,7% a.a. no período de
2005 a 2010 e, posteriormente, devolvendo praticamente todo este crescimento nos anos
subsequentes (-5,7% a.a. no período de 2010 a 2015). O número de correspondentes que
executam serviços de “Execução de cobranças – inciso VII” teve um crescimento similar às
demais séries até 2010, contudo, posteriormente, desapareceu em decorrência da Resolução
3.959 de 31/03/2011 que vetou este tipo de serviço para os correspondentes bancários.
Gráfico 3: Evolução do número de correspondentes por tipo de serviço prestado – 2000 a 2015
Fonte: elaboração própria por meio dos dados do Banco Central do Brasil
Avaliando o tipo de instituição as quais os correspondentes estão vinculados, o Gráfico 4
mostra que, apesar da grande maioria delas estarem associadas aos bancos, este percentual
apresentou uma tendência de redução no período de 2000 a 200817, passando de 94,5% para
17 É importante ressaltar que a vinculação não é exclusiva, podendo um estabelecimento funcionar como um
correspondente de mais de uma instituição financeira (banco, financeira, SCMEPP ou cooperativa). Desta forma,
o percentual apresentado, refere-se ao total de vínculos existentes em cada ano e não ao total de
estabelecimentos.
0
50000
100000
150000
200000
250000
300000
0
20000
40000
60000
80000
100000
120000
140000
160000
180000
200000
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
inciso_1 inciso_2 inciso_3 inciso_4 inciso_5
inciso_6 inciso_7 inciso_8 inciso_9 corresp
14
71,5%. Em contrapartida, os correspondentes vinculados às financeiras cresceram de 5,5%
para 27,4% neste mesmo período, ocupando praticamente a totalidade da redução dos 23 p.p.
de participação perdidos pelos bancos. As razões para maior atuação das financeiras estão
vinculadas ao contexto de expansão de crédito ao consumo, anteriormente descrito.
Gráfico 4: Evolução da participação relativa dos correspondentes por instituição ao qual estão vinculadas
– 2000 a 2015
Fonte: elaboração própria por meio dos dados do Banco Central do Brasil
Observando o Gráfico 5, que apresenta a evolução do número de vínculos por tipo,
conclui-se que tal perda de participação decorreu de uma forte redução no número de
correspondentes vinculados aos bancos no ano de 2008 (-12,2%) e uma elevação de 87,9% no
número de correspondentes vinculados a financeiras. Embora em magnitude muito menor,
nota-se que o número de correspondentes vinculados a SCMEPP no período de 2006 a 2009
praticamente dobrou em relação à média observada entre 2010 e 2015.
2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1 2 0 1 2 2 0 1 3 2 0 1 4 2 0 1 5
94,5% 93,9% 91,7% 89,5% 89,6%83,4% 84,2% 84,4%
71,5%74,8% 77,8% 80,3% 82,8% 84,8% 82,7% 82,0%
0,0% 0,2%0,2%
0,1% 0,1%
0,1% 0,6% 0,5%
0,5%0,4%
0,1%0,1%
0,1%0,1%
0,1% 0,2%
5,5% 5,9% 8,1% 10,3% 10,3%16,5% 15,2% 15,1%
27,4% 23,9% 21,1% 18,5% 16,1% 13,9% 15,8% 16,3%
0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,0% 0,1% 0,6% 0,9% 1,0% 1,1% 1,1% 1,2% 1,4% 1,5%
Vinculado a Bancos Vinculados a SCMEPP Vinculados a Financeiras Vinculado a Cooperativas
15
Gráfico 5: Evolução do número de correspondentes por instituição ao qual estão vinculadas – 2000 a 2015
Fonte: elaboração própria por meio dos dados do Banco Central do Brasil
Posteriormente a 2008, nota-se uma inversão desta tendência, sendo verificado uma nova
retomada de participação dos bancos, que atingiu em 2015 uma representatividade de 82,0%,
e uma queda das financeiras cuja participação caiu em 11 p.p., chegando a 16,3% dos
vínculos. Novamente, guardadas as devidas proporções, após 2008 verifica-se um crescimento
vigoroso dos correspondentes vinculados às cooperativas de crédito, passando de nove em
2000 para 3.430 em 2015, atingindo uma participação de 1,5% e apresentando anos com
crescimentos superiores a 100%.
3.2.Análise do painel de dados
A subseção anterior revelou que ao longo dos anos 2000 houve uma expansão de canais
alternativos (correspondentes) às dependências bancárias tradicionais. Nesta subseção analisa-
se a evolução espacial de dependências e correspondentes selecionados de forma que se possa
compreender se existe um padrão nessa evolução espacial e qual foi ele.
3.2.1. Canais bancários
Na Tabela 1 observa-se que o percentual de municípios brasileiros servidos por agências
se reduziu, de 73% em 2000 para 70% em 2015. Esse comportamento, porém, difere quando
0
50000
100000
150000
200000
250000
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000N
o. d
e ví
ncu
los
-B
anco
s e
Fin
ance
iras
No
. de
vín
culo
s -
SCM
EPP
e C
oo
per
ativ
as
Vinculados a SCMEPP Vinculado a Cooperativas
Vinculado a Bancos Vinculados a Financeiras
16
são observadas as regiões. A queda se deu principalmente na Região Sudeste (9 p.p.) e na
Região Centro-Oeste (7 p.p.). Nas demais Regiões houve aumento do número de municípios
atendidos, em especial na Região Norte. É importante notar que essa expansão da cobertura
em relação a 2000 não foi uniforme. Ao contrário, o percentual de cobertura se reduziu ao se
comparar com os anos 2005 e 2010.
Tabela 1 – Presença de agências bancárias por municípios das Grandes Regiões (2000-2015)
Região 2000 2005 2010 2015
Norte 53% 43% 45% 64%
Nordeste 60% 48% 48% 62%
Sudeste 86% 77% 76% 77%
Sul 73% 72% 70% 74%
Centro-Oeste 75% 62% 63% 68%
TOTAL 73% 63% 62% 70%
Fonte: elaboração própria por meio dos dados do Banco Central do Brasil
A Figura 1 mostra esse padrão de evolução do atendimento pelo canal agência bancária. A
quantidade de agências por 100 mil habitantes em 2000 tinha claramente uma concentração na
Região Sul e parte da Região Sudeste (abaixo do Vale do Jequitinhonha em Minas Gerais),
além do estado de Goiás. Os principais vazios de cobertura direta por agências eram os
municípios da Região Norte (especialmente Tocantins), da parte norte de Mato Grosso e dos
estados nordestinos de Piauí, Rio Grande do Norte e Paraíba. Ao longo dos anos o que se
percebe é uma redução dos vazios nos municípios da Região Norte e do Mato Grosso.
Figura 1 – Agências Bancárias por 100 mil habitantes (2000-2015)
2000 2005
17
2010 2015
Fonte: elaboração própria por meio dos dados do Banco Central do Brasil
A Figura 2 mostra que entre 2005 e 2015 houve uma redução de cold-spots do tipo low-
low, principalmente na Região Norte e em algumas partes do Nordeste. De outro lado, houve
na Região Sul um aumento de ocorrência de hot spots do tipo high-high. Este comportamento
pouco se relacionou com a variação do PIB. A correlação entre variação da quantidade
absoluta de agências por município e variação real do PIB por município entre 2005 e 201118
foi apenas de 0,068. Em termos das mesmas variáveis, porém em termos populacionais, a
correlação continuou próxima a zero (0,003).
Em linhas gerais, a autocorrelação espacial19, que estava próxima ao limite mínimo de
0,320 em 2000 (0,293424), manteve-se praticamente igual em 2015 (0,290223), denotando que
maior intensidade da presença de agências num determinado município afeta positivamente
muito pouco a intensidade nos municípios vizinhos.
18 Último ano disponibilizado pelo IBGE para as informações de PIB municipal quando da realização desta
pesquisa. 19 Medida neste artigo pelo I de Moran Global. 20 Considera-se que exista autocorrelação entre as variáveis quando o I de Moran for maior ou igual a 0,3 ou
menor ou igual a -0,3.
18
Figura 2 – Lisa Cluster-Maps de Agências Bancárias por 100 mil habitantes (2000-2015)
2005 2015
Fonte: elaboração própria por meio dos dados do Banco Central do Brasil
Os dados parecem mostrar que a cobertura bancária parece ser se expandido por canais
mais flexíveis e de menor custo, como os postos de atendimento. A Tabelas 2 mostra o
crescimento significativo no percentual de atendimento por Postos Avançados de
Atendimento (PAA), que em 2000 atingia apenas 6% dos municípios brasileiros (com maior
expressividade na Região Sul) e em 2015 cobria 50% deles, principalmente na Região
Nordeste. A Figura 3 mostra claramente a expansão desse canal nos municípios brasileiros,
especialmente nos municípios em que a presença de agência bancária se fazia diminuta ou
nula. Três estados se destacam nessa evolução: Tocantins, Mato-Grosso e Piauí.
Tabela 2 – Presença de Postos Avançados de Atendimento (PAA) por municípios das Grandes Regiões
(2000-2015)
Região 2000 2005 2010 2015
Norte 6% 8% 47% 56%
Nordeste 6% 8% 46% 65%
Sudeste 2% 2% 25% 45%
Sul 11% 13% 28% 30%
Centro-Oeste 3% 3% 35% 51%
TOTAL 6% 7% 35% 50%
Fonte: elaboração própria por meio dos dados do Banco Central do Brasil
19
Figura 3 – Postos de Atendimento Avançado (PAA) por 100 mil habitantes (2000-2015)
2000 2005
2010 2015
Fonte: elaboração própria por meio dos dados do Banco Central do Brasil
Seja em termos absolutos, seja em termos populacionais, a expansão dos PAA, entre 2005
e 2011, em praticamente nada se correlaciona com a variação real do PIB (0,027 e 0,0353
respectivamente). Tampouco há autocorrelação espacial global, tanto em 2005 (0,229232)
quanto em 2015 (0,175671). Isto implica que a maior intensidade de PAA num município não
afeta a intensidade nos municípios vizinhos.
Na perspectiva de indicadores locais de associação espacial, a Figura mostra uma redução
de municípios com hot spots do tipo high-high no Sudeste e no Centro-Oeste entre 2005 e
2015 e um aumento dos cold spots do tipo low-low nos municípios da Região Norte e
Nordeste. Pode-se interpretar isso como uma espécie de diluição e espraiamento dos PAA por
100 mil habitantes.
20
Figura 4 – Lisa Cluster-Maps de Postos de Atendimento Avançado (PAA) por 100 mil habitantes (2000-
2015)
2005 2015
Fonte: elaboração própria por meio dos dados do Banco Central do Brasil
A expansão dos Postos de Atendimento Bancário (PAB) não se deu da mesma forma que
os PAA. A Tabela 3 mostra que o percentual de municípios cobertos por PAB aumentou entre
2005 (15%) e 2015 (24%). Em 2000 a Região que detinha maior percentual de PAB era a
Sudeste (21%). Em 2015 embora a região Sudeste continue liderando (29% de municípios
cobertos), o crescimento das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste foram muito
expressivos, respectivamente 9 p.p., 12 p.p. e 11 p.p.
Tabela 3 – Presença de Postos de Atendimento Bancário (PAB) por municípios das Grandes Regiões
(2000-2015)
Região 2000 2005 2010 2015
Norte 14% 10% 12% 23%
Nordeste 6% 5% 7% 18%
Sudeste 21% 29% 27% 29%
Sul 20% 21% 28% 29%
Centro-oeste 6% 9% 13% 17%
TOTAL 15% 16% 18% 24%
Fonte: elaboração própria por meio dos dados do Banco Central do Brasil
A Figura 5 mostra que, da concentração inicial no Sudeste, Mato-Grosso do Sul, triângulo
mineiro e Sul do Brasil em 2000, há uma queda em 2005 na sua intensidade. Posteriormente,
o número de PAB por 100 mil habitantes se expande e se espalha dentro dos estados do
Centro-Oeste e alguns agrupamentos de municípios nas Regiões Norte e Nordeste, porém sem
21
perder sua maior presença no Sul e no Sudeste (São Paulo e Rio de Janeiro principalmente).
Deste ponto de vista, enquanto o PAA expandiu sua cobertura e sua intensidade no sentido
Norte e Nordeste do Brasil, o PAB continuou ainda bastante concentrado no Sul e Sudeste,
isto é, há uma “complementaridade” regional entre esses canais. Não há, porém, nenhuma
relação entre a variação do PAB em termos absolutos e em termos populacionais com as
respectivas variações reais do PIB (0,034) e do PIB per capita dos municípios (-0,0028).
Figura 5 – Postos de Atendimento Bancário (PAB) por 100 mil habitantes (2000-2015)
2000 2005
2010 2015
Fonte: elaboração própria por meio dos dados do Banco Central do Brasil
Do ponto de vista espacial, a autocorrelação global foi próxima de zero em 2005
(0,0788967) e 2015 (0,0590665). Já os indicadores espaciais locais da Figura 6 indicam que
em 2005 quase não havia agrupamentos espaciais de PAB significativos no território, exceto
padrões do tipo high-high e low-high em municípios do Rio Grande do Sul e de Santa
Catarina e alguns pontos dispersos de high-low no Centro-Oeste e no Nordeste. Já em 2015,
os agrupamentos do tipo low-low se destacam em partes do Sul, Sudeste e Norte do país,
22
enquanto que em Goiás predomina municípios com PAB per capita low-high e em Tocantins
high-high.
Figura 6 – Lisa Cluster-Maps de Postos de Atendimento Bancário (PAB) por 100 mil habitantes (2000-
2015)
2005 2015
Fonte: elaboração própria por meio dos dados do Banco Central do Brasil
3.2.2. Canais de correspondentes bancários
Como a seção 3.1 mostrou, houve um crescimento exponencial do número de
correspondentes, em especial os bancários, de modo que, a expansão do acesso aos serviços
bancários e financeiros por parte da população se deu por novas tecnologias que não as
tradicionais agências bancárias. Por meio dessas novas tecnologias, 100% dos municípios
brasileiros possui alguma forma de acesso em 2015.
Destaca-se aqui os correspondentes bancários como forma adotada pelos bancos, além dos
postos de atendimento, para capilarizar sua presença em território nacional e, assim, ampliar o
atendimento em áreas não cobertas pelas suas agências. Dentre os nove incisos, que são
escopos dos serviços prestados, foram escolhidos os incisos I, III e V para análise mais
detalhada (por se entender que a presença deles reflete melhor a acessibilidade).
Ao longo de 15 anos, o serviço de abertura de contas bancárias por meio de
correspondentes sai da cobertura de praticamente 0% para 53% dos municípios brasileiros em
2015 (Tabela 4). A Região que tem a maior cobertura é a Nordeste (61% dos municípios),
seguida da Sudeste (54%).
23
Tabela 4 – Presença de Correspondentes Bancários com Inciso I por municípios das Grandes Regiões
(2000-2015)
Região 2000 2005 2010 2015
Norte 0% 4% 37% 39%
Nordeste 0% 18% 60% 61%
Sudeste 0% 18% 52% 54%
Sul 0% 1% 44% 46%
Centro-Oeste 0% 22% 38% 42%
TOTAL 0% 14% 51% 53%
Fonte: elaboração própria por meio dos dados do Banco Central do Brasil
A Figura 7 mostra que, entre 2000 e 2015, aberturas de contas por meio de correspondente
se disseminaram pelo país e os maiores níveis per capita de correspondentes prestadores desse
serviço se concentraram nos estados de Mato Grosso, Goiás, Tocantins, Piauí e interior da
Paraíba e do Rio Grande do Norte (além dos municípios do Sul e do Sudeste).
Figura 7 – Correspondentes Bancários: Inciso I por 100 mil habitantes (2000-2015)
2000 2005
2010 2015
Fonte: elaboração própria por meio dos dados do Banco Central do Brasil
24
Esse padrão de ampliação de cobertura, avaliado entre 2005 e 2011, não teve correlação
com a expansão das economias municipais. A covariação municipal do número absoluto de
correspondentes do Inciso I com o PIB e a covariação municipal do número de
correspondentes per capita e do PIB per capita foram quase nulas (correlações de 0,042 e
0,018 respectivamente).
Do ponto de vista espacial, todavia, no período 2005-2015, houve mudanças. A
autocorrelação global, que não era de magnitude relevante em 2005 (0,24108), atinge o limite
mínimo de 0,3 (0,300927), implicando que maior quantidade de correspondentes num dado
município está correlacionada com maior quantidade de correspondentes nos municípios
vizinhos.
Os indicadores de associação espacial local, por sua vez, não apresentam mudanças
significativas (Figura 8). Continua predominando a presença de cold spots do tipo low-low na
maioria dos municípios da Região Norte e em boa parte dos municípios nordestinos, além de
hot spots entre Goiás e Tocantins. As poucas alterações se referem ao aumento de
aglomerações do tipo high-high e low-high no interior de Santa Catarina, do Rio Grande do
Sul e do Piauí, além do quase desparecimento de concentrações low-low em municípios do
Mato Grosso do Sul e dos municípios litorâneos e setentrionais do Rio Grande do Sul.
Figura 8 – Lisa Cluster-Maps de Correspondentes Bancários (Inciso I) por 100 mil habitantes (2000-2015)
2005 2015
Fonte: elaboração própria por meio dos dados do Banco Central do Brasil
O serviço de pagamentos e recebimentos de qualquer natureza (Inciso III) ampliou em 15
anos sua cobertura a quase totalidade dos municípios brasileiros (98%). Entre 2005 e 2010 foi
o auge de sua expansão (Tabela 5). Regionalmente, apenas a Região Norte possui mais de 5%
de seus municípios sem esse serviço no ano de 2015.
25
Tabela 5 – Presença de Correspondentes Bancários com Inciso III por municípios das Grandes Regiões
(2000-2015)
Região 2000 2005 2010 2015
Norte 0% 16% 81% 92%
Nordeste 0% 31% 94% 98%
Sudeste 1% 39% 93% 98%
Sul 0% 21% 94% 97%
Centro-Oeste 0% 30% 93% 99%
TOTAL 0% 30% 93% 98%
Fonte: elaboração própria por meio dos dados do Banco Central do Brasil
Quando mostrados os números de correspondentes que prestam esse serviço por 100 mil
habitantes pela Figura 9, a praticamente universalização tem maior intensidade em localidades
específicas do país: os estados do Sul do Brasil (principalmente no interior), o interior de São
Paulo e dos estados do Centro-Oeste, os estados de Tocantins e Piauí, o interior do Rio
Grande Norte, Paraíba e Bahia.
Figura 9 – Correspondentes Bancários: Inciso III por 100 mil habitantes (2000-2015)
2000 2005
2010 2015
Fonte: elaboração própria por meio dos dados do Banco Central do Brasil
26
Novamente, como nos demais canais analisados, a correlação da variação da quantidade
absoluta de correspondentes de Inciso III com a variação do PIB e a correlação da variação da
quantidade por 100 mil habitantes com a variação do PIB per capita são praticamente nulas no
período 2005-2011 (0,059 e -0,002 respectivamente).
A associação espacial global que era pequena em 2005 (0,251746) torna-se elevada em
2015 (0,40099), indicando a existência de um efeito vizinhança (ou transbordamento) no
serviço de pagamento e recebimentos entre os municípios. Localmente, embora ainda haja o
predomínio de cold spots dentre os municípios da Região Norte, há redução desse mesmo tipo
de aglomeração ao norte de Minas Gerais e no interior da Bahia. Chama a atenção, também, o
aumento de expressivo de hot spots ao norte do Rio Grande do Sul, no interior de Santa
Catarina e no Oeste do Paraná (Figura 10).
Figura 10 – Lisa Cluster-Maps de Correspondentes Bancários (Inciso III) por 100 mil habitantes (2000-
2015)
2005 2015
Fonte: elaboração própria por meio dos dados do Banco Central do Brasil
O Inciso V se refere à recepção e ao encaminhamento de propostas de operações de
crédito e de arrendamento. A Tabela 6 apresenta que em 2000 apenas 11% dos municípios
brasileiros tinha acesso a esse serviço, sendo que na Região Sudeste a oferta de Inciso V
estava presente em 16% de seus municípios (a maior dentre as regiões). Transcorridos 15
anos, os correspondentes que ofertavam esse serviço estavam em 86% das municipalidades do
país, sendo que a Região Sul tinha 90% de seus municípios cobertos (maior taxa) e a Região
Norte possuía 80% (menor taxa). Diferentemente dos serviços relativos ao Inciso III, a maior
expansão dos serviços do Inciso V se dá entre 2010 e 2015.
27
Tabela 6 – Presença de Correspondentes Bancários com Inciso V por municípios das Grandes Regiões
(2000-2015)
Região 2000 2005 2010 2015
Norte 3% 10% 26% 80%
Nordeste 6% 17% 35% 81%
Sudeste 16% 37% 54% 88%
Sul 11% 38% 72% 90%
Centro-Oeste 9% 28% 51% 87%
TOTAL 11% 28% 49% 86%
Fonte: elaboração própria por meio dos dados do Banco Central do Brasil
A evolução espacial do número de correspondentes com serviços do Inciso V por 100 mil
habitantes é bastante parecida com a evolução do Inciso III (ver Figura 11). A quase
universalização da oferta tem maior intensidade em localidades específicas: os estados do Sul
do Brasil (principalmente em Santa Catarina e norte do Rio Grande do Sul), os estados do
Sudeste (destacando o interior de São Paulo) e Centro-Oeste, os estados de Tocantins e Piauí,
o interior do Rio Grande Norte e da Paraíba.
Figura 11 – Correspondentes Bancários: Inciso V por 100 mil habitantes (2000-2015)
2000 2005
2010 2015
Fonte: elaboração própria por meio dos dados do Banco Central do Brasil
28
Entre 2005 e 2011, as variações do PIB e do PIB per capita também não estão associadas
com as variações da quantidade absoluta e da quantidade por 100 mil habitantes de
correspondentes do Inciso V (0,0825 e -0,0019 respectivamente).
Espacialmente, já em 2005, a autocorrelação global já era positiva e acima de 0,3
(0,318685) e, em 10 anos, aumentou (0,381266), reforçando o efeito de vizinhança. Sob a
perspectiva local, os indicadores de associação espacial representados na Figura 12 mostram a
redução de cold spots do tipo low-low no oeste do Amazonas, Rondônia e norte do Mato
Grosso, assim como no Piauí e sul do Mato Grosso do Sul. Os hot spots high-high, por seu
turno, tinham uma concentração muito clara nos municípios localizados no leste de Santa
Catarina e do Paraná em 2005, migraram para o norte do Rio Grande do Sul e para o interior
de Santa Catarina. Além disso, Tocantins e Piauí apresentam hot-spots do tipo high-high e
cold-spots tipo low-high em maior quantidade de aglomerações em 2015 do que em 2005.
Figura 12 – Lisa Cluster-Maps de Correspondentes Bancários (Inciso V) por 100 mil habitantes (2000-
2015)
2005 2015
Fonte: elaboração própria por meio dos dados do Banco Central do Brasil
A princípio, de forma tradicional, esperar-se-ia que eventual expansão nos canais de
acesso estaria associada a maior circulação de recursos nas municipalidades em decorrência
do maior nível de atividade econômica. Entretanto, como mostrado nesta análise exploratória,
essa simples associação é praticamente nula, o que pode ser indício de que outros critérios e
outras estratégias foram adotadas por parte das instituições bancárias e financeiras, afora os
incentivos diretos e indiretos advindos dos marcos regulatórios e das políticas públicas, que
acabam por se refletir nos padrões espaciais.
29
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise exploratória indicou que houve expansão significativa do acesso ao sistema
financeiro de modo a garantir a universalização ao nível municipal. Em 2015, por exemplo,
100% dos municípios brasileiros tinham tecnologia de acesso. Embora os canais tradicionais,
como agências bancárias, não tenham aumentado em termos per-capita, a distribuição
geográfica nos anos 2000 mostra um comportamento de capilarização por meio dos postos de
atendimento.
Todavia, foram principalmente os canais não convencionais, como os correspondentes
bancários, os principais responsáveis pela universalização. O processo de expansão do acesso
ocorrido ao longo dos anos dos 2000 não se deu em associação com o crescimento do PIB
total e do PIB per-capita. Apesar do crescimento se destacar nas regiões de expansão da
fronteira agrícola (norte do Mato Grosso, Rondônia, Tocantins, Piauí e oeste da Bahia) ou de
agronegócio consolidado (interior de Santa Catarina e norte do Rio Grande do Sul) há outros
motivos que precisam ser explorados nos desdobramentos deste estudo, como a estratégia de
competição dos bancos e financeiras de expandir e capilarizar os atendimentos, antes
concentrados em municípios de porte mais significativo, sem aumento expressivo de custos
operacionais. Há também os efeitos das políticas públicas que tiveram como escopo a
transferência condicional de renda por meio de cartões magnéticos (Bolsa Família, por
exemplo) ou que visaram ampliação da oferta de microcrédito por meio de instituições
públicas (como o Crediamigo do Banco do Nordeste Brasileiro).
Pesquisas futuras a partir deste trabalho deverão, portanto, explorar aspectos de
causalidade com indicadores estatísticos espaciais. Ademais, uma vez compatibilizada a base
do UNICAD com o Relatório de Inclusão Financeira (RIF) e com as bases do IBGE, é
possível ampliar o âmbito da análise, seja por meio da fusão com dados do ESTBAN
(Estatísticas Bancárias do Banco Central do Brasil), seja por meio de modelos econométricos.
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