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Resumo do meu trabalho artístico desde 2009TRANSCRIPT
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In media res Mrmito
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Lembro-me disto das aulas de português no secundário. A história começava a meio e tínhamos de
olhar para trás enquanto andávamos para a frente. Havia a sensação de se chegar a meio de uma
cena de tal forma que não ia dar para sair. Tinha mesmo de se encontrar o sentido apanhando as
pontas soltas à passagem.
O que é que isto tem a ver com o trabalho fotográfico? A questão é parecida. Chegamos com uma
ideia que temos de desenvolver, e tem de ser suficientemente nossa para que a queiramos trabalhar
por muito tempo e suficientemente comunicável para que tenha um sentido e um espaço lá fora.
Sempre me intrigou a questão da identidade na forma como as pessoas se relacionam consigo mesmas. Mais do que a questão social, é a relação pessoal de si para si que me interessa, esse espaço tão difícil de fechar num discurso formal, tão fragmentário e, no entanto, tão essencial ao nosso viver. O espaço de relação que cada um desenvolve consigo mesmo marca a relação com a “sociedade”.
Num espaço social que apenas considera o indivíduo como consumidor, essa relação de criação
consigo fascina-me. É sobre essa busca que versa o meu trabalho.
Como é que nos orientamos em nós mesmos através de todo o estímulo que nos rodeia? Que
identidade pode ser pensada quando o espaço deixado ao pensamento é tão encurtado pelos
constantes estímulos nervosos em que a cultura ocidental nos envolve?
Num espaço de reflexão estilhaçado pela insistência dos estímulos numa velocidade cada vez maior,
a fotografia tem sido uma coleção de pequenos reflexos, de fragmentos de percurso que vão
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permitindo uma articulação a posteriori, uma integração de todo o diverso de impressões, para a
construção e reconstrução de um mapa identitário.
Procuro, no meu trabalho, deixar aberto um espaço de questionamento sobre o que somos, realmente, de como definimos fronteiras e de como essas fronteiras estão, por vezes, apenas na nossa definição. É um espaço de partilha entre o fotográfico e o poético, dependente da forma como é olhado e do tempo que se dá a esse olhar, na origem e na observação.
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somarésiuQ radum
o oditnes sad sasioc
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Instalação sonora em cabine telefónica, integrada na exposição
A Bolha Invisível
Pelo Coletivo Le Journal de la Maison
Para as Tangenciais Experimenta Design 2011
Exposta na esplanada da Fábrica de Braço de Prata entre Setembro e Novembro de 2011
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somarésiuQ radum o omur sad sasioc
Com todo o peso que temos, como é que uma bolha flutua?
Onde vai parar o peso do corpo, o peso dos gestos, o peso dos hábitos?
A bolha invisível como império inimputável: do mais simples dos gestos, de antes da nossa intenção.
A relação entre o que, no gesto, constrói e a nossa inconsciência disso.
Uma ideia como algo que está sempre por aí mas nunca se ouve bem. Tentamos parar, tentamos ouvir, formulá-la melhor, mas há sempre ruído em volta, sempre outras coisas por fazer, sempre…
Talvez nem valha a pena. E no entanto ela continua lá, praticamente inaudível, é certo, mas lá. Não é o barulho de fundo das aplicações eletrónicas, mas quase. É quase isso, mas esta procura-se. É…
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Depois, império. A cena que expande. A matéria negra. A cena que come. Como quem encena dorme e não enxerga o que se levanta. A lata deixada aberta depois de comer, como as moscas lhe invadem o espírito e comem, e sim, há uma paz que é uma guerra, porque aparentemente. Já. Parecem distâncias, quando olhas melhor, os olhos também param, ou dizem: já vi, dizem pois sim, dizem que sinto, que pronto, já está.
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Não se descrevem palavras. Não dá. Mas passamos a vida a tentá-lo. Escreverem-se dúvidas, se calhar. Por abre-latas. Talvez nem valha a pena escrever certeza ou com maiúsculas ou verter verdades por vaidade. Soma: gestos simples em tempo entendível.
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Como descrever Império. Passar a escrita inteira a tentar. Uma história que não é uma história, no fundo, porque não tem buracos. Não faz pensar. Uma lata de conserva. Um cão a vigiar o portão onde no fundo, apenas quer mijar.
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Cabeleireiro. Estádio. Supermercado. A senhora parada enformando o cabelo e o cão nervoso, à porta, a atentar na cadela que mija na árvore. Os cães a revistar adeptos na entrada para o estádio, diligentemente, a senhora na fila do peixe. O cesto das compras. O atum e o pente do cão. Lá fora, na árvore, indecentemente…Um tempo de espera ou um tempo de cão. E o som da lata a abrir, duplo, o estalo e o rasgo, o escorrer do óleo e as moscas entrando na cena por magicação e o zumbido daquilo que me lembra o cão, à entrada, e a dona aprumada e as moscas… ela não repara, tem perfume, mas o cão não percebe de impérios e a escrita das patas é desajeitada e por dentro da trela ele só ladra, não corre.
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Um castelo a visitar fantasmas e o tempo dos instantes segue, lá em baixo, por reflexo ou imaginação. As mãos feitas de cabeça a fazer sombra de percursos, as constelações repetidas, o desenho decalcado. As latas todas iguais. Conserva. Ligação com nada em tudo. Nem distinção. Isso. Acho que isso: Império da não distinção imensa, e separadamente, um mapa que conquista tudo.
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Correr por sobre o ar quando se expira. Equilibrismo por medida: existir. Talvez. A cena da obsessão. O cão outra vez. A perseguir a cauda. A loja dos perfumes, intensidade tanta coisa misturada… O óleo da lata talvez consiga reconverter-se. Talvez perfume a cena com a nossa passagem por lá. A dona não nota e o mijo do cão entretém-se com as moscas.
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Convém descrever: a vida do avesso. O império conserva. O mapa desfere outros mapas na ferida, o cão segue de guarda e os uivos dos lobos convidam, na televisão. Há uma imagem da faca na mão mas não corta a bandeira. E o carrossel sempre fervilha nos extremos. A fórmula é simples: ouvir cantar. O tom a olear fantasmas.
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Versos do cinema:
O herói sentiu claustrofobia por sair demais da cena.
A senhora ficou indignada com o cão. E as moscas:
As sombras na tela. O enorme de um raide ocorrer por sobre-projeção.
Depois, um ruído de fundo tipo insecticídio.
A lata de spray.
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A vida do avesso: Procura-se dentro.
E barcos. barcos bolha, como num desfile virgem, presos por anseio, por memória. Por vaidade. O cão tosquiado e o osso de plástico vitaminado. Remar por ansiar o toque.
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Ou uma paz estrangeira ao pensamento, somando em respirando; não poder dizer-se nada. Ou apenas o sentir dos gestos na confirmação do tempo. Sem sal nas articulações.
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E de repente não haver procurar norte, nem partes melhores nem destinos com sorte; não haver pão com mijo nem moscas rondando as feridas no mapa; nem facas abrindo estúpidos sulcos de sombra para o sangue. Calarem-se os monstros por resignação. A procissão dispersou, corpo por corpo. O cão mijou na própria trela e o cabeleireiro fechou.
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É tarde. Corro, talvez nervosamente, entre o zumbido branco das aplicações. Corro. As montras fechadas. Corro à procura de tempo. Corro ligar-te e dizer-te que esperes e corras, também. Corro, e amplamente, o silêncio vai surgindo entre subúrbios. Parece que a cena expande novamente. Espanta. Primeiro a pulsação parece um eco: já cá esteve, ainda foi nossa antes do espelho. Primeiro. Depois amplia-nos. Depois sabemos que conquista, sim, que é dentro do sangue que o tempo fervilha.
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Há-de haver sempre alguém que tente plantar latas, ter medidas, certas como sombras, sempre naquele ruído estúpido do frigorífico ou da televisão. E um mapa feito faca a fazer sombra, a fazer peso sobre o que é próprio dos gestos…
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Há-de haver sempre quem viva em conserva, quem sempre se admire com a face lustrosa dos acabamentos, com a forma como a forma permanece, por medida. Sempre assim, acorrendo ao seu próprio grito com mordaças, com fórmulas prontas, com horas marcadas só para aproveitar o tempo.
Corro. Corro ligar-te, dizer sentir liga, apesar do cansaço, soprar-te este tempo na ponte dos dedos, rasgar as facas aos gestos, somar constelações por desmesura, e contar tudo:
Um.
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Gravado na Academia de Artes de Lisboa,
Mrmito: Texto e voz
Gonçalo Kotowicz: Guitarra
Ricardo Ribeiro: Clarinete
Agradecimento especial a Pedro Limpo Rodrigues e a Rui Guerr
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O tempo no imediato
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O Tempo no Imediato
Imagine o seu trajecto diário para casa, Aquela cena sempre igual… quantas vezes se
lembra de ter olhado esse percurso? Ah, os caminhos sabidos de cor!
O tempo imediatamente após sair e até entrar…
O Tempo no Imediato
É uma questão visual, é o tempo e os espaços em que seguimos entre dois pontos e não
olhamos em volta; o piloto automático. É um desafio a tudo o que entra em cena, de imediato,
quando pensamos mais chegar do que caminho. E um apelo à atenção visual.
Escolhi a Freguesia de Benfica, onde vivo, por ser o meu espaço e tempo imediatos por
excelência. Porque é a distância toda da proximidade.
O Tempo no Imediato
Um amigo brasileiro falou-me um dia de um poema de outro amigo*
“A Poesia não compra sapatos,
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Mas como andar sem poesia??”
Saí à rua, imediatamente. Andei, vi e fotografei o tempo todo, até chegar a casa e reparar que os
disparos tinham derrubado todas as referências automáticas.
De repente, um espaço tão óbvio tornou-se uma coisa imensa, e eu perdi forma de encontrar-lhe um
nexo. Andei por todo o lado, recolhi impressões de tudo, e no fim, não sobrou nada, só instantes
afectivos que pareciam dizer Benfica só porque lá estava.
Até olhar os sapatos descalços na varanda e lembrar o poema outra vez, pequeno e enorme, e começar
a ver a freguesia em tudo à minha volta. E aquele eco das botas do camponês na tela de Van Gogh. A
rua, o pão, a roupa, a fruta, tornaram-se a sensação de a casa ser a soma dos percursos que trazemos.
Tudo ressurgido imediatamente ali, até ficar apenas isso, a rua de trás, com aquela sensação de barreira
que as árvores impõem entre o ruído da rua e o resguardo calmo da casa, e o espaço exterior a ressurgir
desse tempo maior, lá dentro.
O Tempo no Imediato
A poesia de andarmos atentos. E se até já sabemos o caminho de cor, porque não apreciar a paisagem?*Emmanuel Marinho
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O tempo no imediato
2009
Série de 15 imagens
Mancha de impressão de 18x24cm em papel A3+ - jacto de tinta sobre papel Fine Art
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In Between
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Entre qualquer coisa e uma coisa qualquer.
Isto começou na procura de sentido para o excesso de informação à nossa volta. Por considerar a
poluição visual nos sítios onde vivo e passo, vendo-a como um elemento exterior que nos agride.
No entanto, o tempo passou e fui-me dando conta que essa fronteira não é tão explícita assim – às
tantas, vamos integrando tudo e deixa de haver excesso. Apenas mais informação entrando mais
rapidamente, constantemente. Dentro como fora.
À distância, pareciam camadas chegando de tempos diferentes a ritmos diferentes, pedindo
respostas diferentes. No entanto, a experiência não é um pensamento distante, é uma vivência
imediata que integra tudo e responde, momento a momento. Embalados ou contrariados por este
assombro visual, vivemos lá todos, absorvendo tudo e respondendo tudo, mesmo quando não
queremos.
Pensei nisto, mais do que escolher, propus-me mesclar. A fotografia é um jogo de espelhos e
reflexos, uma máquina de mistura instantânea. Como tal, é o instrumento indicado. Não é o bisturi
analítico do pensador racional, frio e preciso, isso não é aqui. É mais como a trituradora, uma
moulinex visceral intuitiva, juntando os planos que o bisturi separou.
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Assim, a resposta pomposa e distante para a poluição visual passa a exercício estético de descoberta
da forma como esta se integra e organiza no seu jogo de reflexos connosco e vê os seus limites
transpostos, abrindo de um trabalho concreto e limitado, para um processo contínuo, um work in
progress, do qual sai agora esta apresentação.
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In Between
2010
Seleção de nove imagens criada para apresentação online no ciclo de exposições virtuais do coletivo
Le Journal de la Maison, dedicado ao tema Fronteiras.