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 Intensivo Modular Trabalhista  Módulo I Direito Constitucional Bernardo Fernandes Data: 04/02/2014 Aula 01 Intensivo Modular Trabalhista  Anotador(a): Juliana Pereira Complexo Educacional Damásio de Jesus RESUMO SUMÁRIO TEORIA DA CONSTITUIÇÃO 1. Constitucionalismo 2. Neoconstitucionalismo 3. Transconstitucionalismo Contatos do professor: E-mail : [email protected] Facebook : Bernardo Gonçalves Fernandes TEORIA DA CONSTITUIÇÃO 1. Constitucionalismo É definido como o movimento do séc. XVII (na Inglaterra) e do séc. XVIII (nos Estados Unidos e França), que teve como objetivos a limitação do poder (fim do poder absoluto com uma nova organização do Estado) e o estabelecimento de direitos e garantias fundamentais. No constitucionalismo inglês, a limitação do poder se deu por meio da supremacia do parlamento (Revolução Gloriosa   1688/1689). A monarquia reinava, mas o governo cabia ao Parlamento. Também foi editada uma declaração de direitos (Bill Of Rights), em 1689. A Constituição inglesa era material, não escrita, histórica e consuetudinária (costumeira). Já no constitucionalismo americano e francês, a limitação do poder ocorreu através de uma Constituição formal e escrita. Instaurava-se, então, a era do governo das leis, e não dos homens. Também foi editada uma declaração de direitos e aplicada a Teoria da Separação de Poderes (de Montesquieu). 1.1. Conceito de Constituição a partir do constitucionalismo do séc. XVIII (EUA e França) Canotilho entende que a Constituição passa a ser, a partir do séc. XVIII, a ordenação sistemática e racional da comunidade política plasmada em um documento escrito que limita o poder e estabelece direitos fundamentais. Observação: Diferença entre constitucionalismo americano e constitucionalismo francês, ambos do séc. XVIII:

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  • Intensivo Modular Trabalhista Mdulo I Direito Constitucional

    Bernardo Fernandes Data: 04/02/2014

    Aula 01

    Intensivo Modular Trabalhista Anotador(a): Juliana Pereira

    Complexo Educacional Damsio de Jesus

    RESUMO

    SUMRIO TEORIA DA CONSTITUIO 1. Constitucionalismo 2. Neoconstitucionalismo 3. Transconstitucionalismo

    Contatos do professor: E-mail: [email protected] Facebook: Bernardo Gonalves Fernandes

    TEORIA DA CONSTITUIO

    1. Constitucionalismo definido como o movimento do sc. XVII (na Inglaterra) e do sc. XVIII (nos Estados Unidos e Frana), que teve como objetivos a limitao do poder (fim do poder absoluto com uma nova organizao do Estado) e o estabelecimento de direitos e garantias fundamentais. No constitucionalismo ingls, a limitao do poder se deu por meio da supremacia do parlamento (Revoluo Gloriosa 1688/1689). A monarquia reinava, mas o governo cabia ao Parlamento. Tambm foi editada uma declarao de direitos (Bill Of Rights), em 1689. A Constituio inglesa era material, no escrita, histrica e consuetudinria (costumeira). J no constitucionalismo americano e francs, a limitao do poder ocorreu atravs de uma Constituio formal e escrita. Instaurava-se, ento, a era do governo das leis, e no dos homens. Tambm foi editada uma declarao de direitos e aplicada a Teoria da Separao de Poderes (de Montesquieu).

    1.1. Conceito de Constituio a partir do constitucionalismo do sc. XVIII (EUA e Frana) Canotilho entende que a Constituio passa a ser, a partir do sc. XVIII, a ordenao sistemtica e racional da comunidade poltica plasmada em um documento escrito que limita o poder e estabelece direitos fundamentais. Observao: Diferena entre constitucionalismo americano e constitucionalismo francs, ambos do sc. XVIII:

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    Constituio dos EUA Constituio Francesa

    Primeira Constituio escrita reconhecida pela teoria da Constituio, datada de 1787.

    O documento escrito limitador do poder do rei (Constituio) surge apenas em 1791.

    Declarao de Direitos, de 1971. Declarao de Direitos de 1789.

    Nos EUA a Constituio foi editada antes da Declarao de Direitos, enquanto que na Frana a Constituio s foi editada aps a Declarao de Direitos.

    2. Neoconstitucionalismo

    Pode ser definido como o movimento da segunda metade do sc. XX que, ainda nos dias e hoje, tem como objetivo desenvolver um novo modo de compreender, interpretar e aplicar o Direito Constitucional e as Constituies relacionadas ao mesmo.

    a) Marcos do neoconstitucionalismo

    I. Marco histrico: o Estado constitucional de Direito que surge na segunda metade do sc. XX em diante. Exemplos: Constituio da Itlia de 1948, Constituio da Alemanha de 1949, Constituio da Frana de 1958, Constituio de Portugal de 1976 e Constituio da Espanha de 1978.

    II. Marco filosfico: o ps positivismo. Ps positivismo o fenmeno que busca superar a dicotomia jusnaturalismo x positivismo, indo alm da legalidade estrita sem desconsiderar o direito posto. um meio-termo entre o jusnaturalismo e o positivismo. Tambm considerado uma reaproximao entre o direito e a tica, o direito e a moral e o direito e a justia.

    III. Marco terico: um conjunto de teorias que envolve a fora normativa da Constituio, a expanso da

    jurisdio constitucional e uma nova hermenutica constitucional (novos mtodos de interpretao).

    b) Caractersticas

    I. Fenmeno da Constitucionalizao do Direito: a Constituio passa a ser o centro do ordenamento jurdico, aquilo de mais importante e fundamental. Envolve trs temas importantes:

    A irradiao da norma constitucional pelo sistema;

    A ubiquidade constitucional (fato de a Constituio estar em todos os lugares ao mesmo tempo);

    Filtragem constitucional (ideia de que qualquer interpretao s vlida se for conforme a Constituio a interpretao conforme a Constituio).

    II. Fora normativa da Constituio: o documento constitucional deixa de ser meramente poltico e passa a ser vinculante.

    III. Busca pela concretizao (implementao) dos direitos fundamentais, tendo como fundamento (mote) a dignidade da pessoa humana, que passa a ser norma de eficcia irradiante (termo utilizado por Ingo Sarlet).

    IV. Judicializao da poltica e das relaes sociais atravs de um significativo deslocamento de poder do

    Legislativo e do Executivo para o Judicirio. O Judicirio passa a ser protagonista das aes, chegando

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    at mesmo a implementar polticas pblicas. Este tambm o substrato/fundamento do ativismo judicial, pelo qual o Judicirio supre omisses de outros poderes.

    EMENTA Processo n: STF - RE-AgR: 410715 SP Relator (a): Min. Celso de Mello Julgamento: 22/11/2005 Publicao: 03/02/2006 Deciso: RECURSO EXTRAORDINRIO - CRIANA DE AT SEIS ANOS DE IDADE - ATENDIMENTO EM CRECHE E EM PR-ESCOLA - EDUCAO INFANTIL - DIREITO ASSEGURADO PELO PRPRIO TEXTO CONSTITUCIONAL (CF, ART. 208, IV)- COMPREENSO GLOBAL DO DIREITO CONSTITUCIONAL EDUCAO - DEVER JURDICO CUJA EXECUO SE IMPE AO PODER PBLICO, NOTADAMENTE AO MUNICPIO (CF, ART. 211, 2)- RECURSO IMPROVIDO . - A educao infantil representa prerrogativa constitucional indisponvel, que, deferida s crianas, a estas assegura, para efeito de seu desenvolvimento integral, e como primeira etapa do processo de educao bsica, o atendimento em creche e o acesso pr-escola (CF, art. 208, IV) . - Essa prerrogativa jurdica, em conseqncia, impe, ao Estado, por efeito da alta significao social de que se reveste a educao infantil, a obrigao constitucional de criar condies objetivas que possibilitem, de maneira concreta, em favor das "crianas de zero a seis anos de idade" (CF, art. 208, IV), o efetivo acesso e atendimento em creches e unidades de pr-escola, sob pena de configurar-se inaceitvel omisso governamental, apta a frustrar, injustamente, por inrcia, o integral adimplemento, pelo Poder Pblico, de prestao estatal que lhe imps o prprio texto da Constituio Federal . - A educao infantil, por qualificar-se como direito fundamental de toda criana, no se expe, em seu processo de concretizao, a avaliaes meramente discricionrias da Administrao Pblica, nem se subordina a razes de puro pragmatismo governamental . - Os Municpios - que atuaro, prioritariamente, no ensino fundamental e na educao infantil (CF, art. 211, 2)- no podero demitir-se do mandato constitucional, juridicamente vinculante, que lhes foi outorgado pelo art. 208, IV, da Lei Fundamental da Repblica, e que representa fator de limitao da discricionariedade poltico-administrativa dos entes municipais, cujas opes, tratando-se do atendimento das crianas em creche (CF, art. 208, IV), no podem ser exercidas de modo a comprometer, com apoio em juzo de simples convenincia ou de mera oportunidade, a eficcia desse direito bsico de ndole social . - Embora resida, primariamente, nos Poderes Legislativo e Executivo, a prerrogativa de formular e executar polticas pblicas, revela-se possvel, no entanto, ao Poder Judicirio, determinar, ainda que em bases excepcionais, especialmente nas hipteses de polticas pblicas definidas pela prpria Constituio, sejam estas implementadas pelos rgos estatais inadimplentes, cuja omisso - por importar em

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    descumprimento dos encargos poltico-jurdicos que sobre eles incidem em carter mandatrio - mostra-se apta a comprometer a eficcia e a integridade de direitos sociais e culturais impregnados de estatura constitucional. A questo pertinente "reserva do possvel". Doutrina.

    EMENTA Processo n: ADPF 45 Relator (a): Min. Celso de Mello Julgamento: 29/04/2004 Publicao: 04/05/2004 Deciso: ARGIO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. A QUESTO DA LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DO CONTROLE E DA INTERVENO DO PODER JUDICIRIO EM TEMA DE IMPLEMENTAO DE POLTICAS PBLICAS, QUANDO CONFIGURADA HIPTESE DE ABUSIVIDADE GOVERNAMENTAL. DIMENSO POLTICA DA JURISDIO CONSTITUCIONAL ATRIBUDA AO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. INOPONIBILIDADE DO ARBTRIO ESTATAL EFETIVAO DOS DIREITOS SOCIAIS, ECONMICOS E CULTURAIS. CARTER RELATIVO DA LIBERDADE DE CONFORMAO DO LEGISLADOR. CONSIDERAES EM TORNO DA CLUSULA DA "RESERVA DO POSSVEL". NECESSIDADE DE PRESERVAO, EM FAVOR DOS INDIVDUOS, DA INTEGRIDADE E DA INTANGIBILIDADE DO NCLEO CONSUBSTANCIADOR DO "MNIMO EXISTENCIAL". VIABILIDADE INSTRUMENTAL DA ARGIO DE DESCUMPRIMENTO NO PROCESSO DE CONCRETIZAO DAS LIBERDADES POSITIVAS (DIREITOS CONSTITUCIONAIS DE SEGUNDA GERAO).

    V. Reaproximao entre o direito e a filosofia, o direito e a tica, o direito e a justia e o direito e a moral

    (moralismo jurdico e leitura moral da Constituio). VI. Expanso da jurisdio constitucional, com a ampliao da competncia dos tribunais constitucionais.

    VII. Renovao da teoria da norma com o reconhecimento da normatividade dos princpios jurdicos. Os

    ordenamentos passam a ser principiolgicos, pois os princpios passam a ter fora normativa. tambm renovada a teoria das fontes mediante o fortalecimento do papel do Poder Judicirio como fonte de vincular condutas. A jurisprudncia, hoje, chega a ser at mais importante que as leis. Por fim, tambm renovada a teoria da interpretao, vez que surgem novos mtodos da hermenutica constitucional, alm dos mtodos clssicos (exemplos: tpica, teorias da argumentao, ponderao, princpio da proporcionalidade, metdica estruturante de F. Mller)

    3. Transconstitucionalismo o entrelaamento de ordens jurdicas diversas (estatal, internacional, transnacional e supranacional) em torno dos mesmos problemas de natureza constitucional. O transconstitucionalismo ocorre quando ordens jurdicas diferenciadas (como OIT, OMS, Unio Europeia, Mercosul etc.) enfrentam concomitantemente as mesmas questes de natureza constitucional.

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    EMENTA Processo n: ADPF 101 / DF Relator (a): Min. Carmem Lcia Deciso: ARGIO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL: ADEQUAO. OBSERVNCIA DO PRINCPIO DA SUBSIDIARIEDADE. ARTS. 170, 196 E 225 DA CONSTITUIO DA REPBLICA. CONSTITUCIONALIDADE DE ATOS NORMATIVOS PROIBITIVOS DA IMPORTAO DE PNEUS USADOS. RECICLAGEM DE PNEUS USADOS: AUSNCIA DE ELIMINAO TOTAL DE SEUS EFEITOS NOCIVOS SADE E AO MEIO AMBIENTE EQUILIBRADO. AFRONTA AOS PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS DA SADE E DO MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO. COISA JULGADA COM CONTEDO EXECUTADO OU EXAURIDO: IMPOSSIBILIDADE DE ALTERAO. DECISES JUDICIAIS COM CONTEDO INDETERMINADO NO TEMPO: PROIBIO DE NOVOS EFEITOS A PARTIR DO JULGAMENTO. ARGUIO JULGADA PARCIALMENTE PROCEDENTE. 1. Adequao da arguio pela correta indicao de preceitos fundamentais atingidos, a saber, o direito sade, direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (arts. 196 e 225 da Constituio Brasileira) e a busca de desenvolvimento econmico sustentvel: princpios constitucionais da livre iniciativa e da liberdade de comrcio interpretados e aplicados em harmonia com o do desenvolvimento social saudvel. Multiplicidade de aes judiciais, nos diversos graus de jurisdio, nas quais se tm interpretaes e decises divergentes sobre a matria: situao de insegurana jurdica acrescida da ausncia de outro meio processual hbil para solucionar a polmica pendente: observncia do princpio da subsidiariedade. Cabimento da presente ao. 2. Argio de descumprimento dos preceitos fundamentais constitucionalmente estabelecidos: decises judiciais nacionais permitindo a importao de pneus usados de Pases que no compem o Mercosul: objeto de contencioso na Organizao Mundial do Comrcio OMC, a partir de 20.6.2005, pela Solicitao de Consulta da Unio Europeia ao Brasil. 3. Crescente aumento da frota de veculos no mundo a acarretar tambm aumento de pneus novos e, consequentemente, necessidade de sua substituio em decorrncia do seu desgaste. Necessidade de destinao ecologicamente correta dos pneus usados para submisso dos procedimentos s normas constitucionais e legais vigentes. Ausncia de eliminao total dos efeitos nocivos da destinao dos pneus usados, com malefcios ao meio ambiente: demonstrao pelos dados. 4. Princpios constitucionais (art. 225) a) do desenvolvimento sustentvel e b) da equidade e responsabilidade intergeracional. Meio ambiente ecologicamente equilibrado: preservao para a gerao atual e para as geraes futuras. Desenvolvimento

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    sustentvel: crescimento econmico com garantia paralela e superiormente respeitada da sade da populao, cujos direitos devem ser observados em face das necessidades atuais e daquelas previsveis e a serem prevenidas para garantia e respeito s geraes futuras. Atendimento ao princpio da precauo, acolhido constitucionalmente, harmonizado com os demais princpios da ordem social e econmica. 5. Direito sade: o depsito de pneus ao ar livre, inexorvel com a falta de utilizao dos pneus inservveis, fomentado pela importao fator de disseminao de doenas tropicais. Legitimidade e razoabilidade da atuao estatal preventiva, prudente e precavida, na adoo de polticas pblicas que evitem causas do aumento de doenas graves ou contagiosas. Direito sade: bem no patrimonial, cuja tutela se impe de forma inibitria, preventiva, impedindo-se atos de importao de pneus usados, idntico procedimento adotado pelos Estados desenvolvidos, que deles se livram. 6. Recurso Extraordinrio n. 202.313, Relator o Ministro Carlos Velloso, Plenrio, DJ 19.12.1996, e Recurso Extraordinrio n. 203.954, Relator o Ministro Ilmar Galvo, Plenrio, DJ 7.2.1997: Portarias emitidas pelo Departamento de Comrcio Exterior do Ministrio do Desenvolvimento, Indstria e Comrcio Exterior Decex harmonizadas com o princpio da legalidade; fundamento direto no art. 237 da Constituio da Repblica. 7. Autorizao para importao de remoldados provenientes de Estados integrantes do Mercosul limitados ao produto final, pneu, e no s carcaas: determinao do Tribunal ad hoc, qual teve de se submeter o Brasil em decorrncia dos acordos firmados pelo bloco econmico: ausncia de tratamento discriminatrio nas relaes comerciais firmadas pelo Brasil. 8. Demonstrao de que: a) os elementos que compem o pneus, dando-lhe durabilidade, responsvel pela demora na sua decomposio quando descartado em aterros; b) a dificuldade de seu armazenamento impele a sua queima, o que libera substncias txicas e cancergenas no ar; c) quando compactados inteiros, os pneus tendem a voltar sua forma original e retornam superfcie, ocupando espaos que so escassos e de grande valia, em especial nas grandes cidades; d) pneus inservveis e descartados a cu aberto so criadouros de insetos e outros transmissores de doenas; e) o alto ndice calorfico dos pneus, interessante para as indstrias cimenteiras, quando queimados a cu aberto se tornam focos de incndio difceis de extinguir, podendo durar dias, meses e at anos; f) o Brasil produz pneus usados em quantitativo suficiente para abastecer as fbricas de remoldagem de pneus, do que decorre no faltar matria-prima a impedir a atividade econmica. Ponderao dos princpios constitucionais: demonstrao de que a importao de pneus usados ou remoldados afronta os preceitos constitucionais de sade e do meio ambiente ecologicamente

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    equilibrado (arts. 170, inc. I e VI e seu pargrafo nico, 196 e 225 da Constituio do Brasil). 9. Decises judiciais com trnsito em julgado, cujo contedo j tenha sido executado e exaurido o seu objeto no so desfeitas: efeitos acabados. Efeitos cessados de decises judiciais pretritas, com indeterminao temporal quanto autorizao concedida para importao de pneus: proibio a partir deste julgamento por submisso ao que decidido nesta arguio. 10. Arguio de Descumprimento de Preceito Fundamental julgada parcialmente procedente.

    EMENTA Processo n: ADPF 153 Relator (a): Min. Eros Grau Julgamento: 29/04/2010 Publicao: 06/08/2010 Deciso: LEI N. 6.683/79, A CHAMADA "LEI DE ANISTIA". ARTIGO 5, CAPUT, III E XXXIII DA CONSTITUIO DO BRASIL; PRINCPIO DEMOCRTICO E PRINCPIO REPUBLICANO: NO VIOLAO. CIRCUNSTNCIAS HISTRICAS. DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E TIRANIA DOS VALORES. INTERPRETAO DO DIREITO E DISTINO ENTRE TEXTO NORMATIVO E NORMA JURDICA. CRIMES CONEXOS DEFINIDOS PELA LEI N. 6.683/79. CARTER BILATERAL DA ANISTIA, AMPLA E GERAL. JURISPRUDNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL NA SUCESSO DAS FREQUENTES ANISTIAS CONCEDIDAS, NO BRASIL, DESDE A REPBLICA. INTERPRETAO DO DIREITO E LEIS-MEDIDA. CONVENO DAS NAES UNIDAS CONTRA A TORTURA E OUTROS TRATAMENTOS OU PENAS CRUIS, DESUMANOS OU DEGRADANTES E LEI N. 9.455, DE 7 DE ABRIL DE 1997, QUE DEFINE O CRIME DE TORTURA. ARTIGO 5, XLIII DA CONSTITUIO DO BRASIL. INTERPRETAO E REVISO DA LEI DA ANISTIA. EMENDA CONSTITUCIONAL N. 26, DE 27 DE NOVEMBRO DE 1985, PODER CONSTITUINTE E "AUTO-ANISTIA". INTEGRAO DA ANISTIA DA LEI DE 1979 NA NOVA ORDEM CONSTITUCIONAL. ACESSO A DOCUMENTOS HISTRICOS COMO FORMA DE EXERCCIO DO DIREITO FUNDAMENTAL VERDADE. 1. Texto normativo e norma jurdica, dimenso textual e dimenso normativa do fenmeno jurdico. O intrprete produz a norma a partir dos textos e da realidade. A interpretao do direito tem carter constitutivo e consiste na produo, pelo intrprete, a partir de textos normativos e da realidade, de normas jurdicas a serem aplicadas soluo de determinado caso, soluo operada mediante a definio de uma norma de deciso. A interpretao/aplicao do direito opera a sua insero na realidade; realiza a mediao entre o carter geral do texto normativo e sua aplicao particular; em outros termos, ainda: opera a sua insero no mundo da vida. 2. O argumento descolado da dignidade da pessoa humana para afirmar a invalidade da conexo criminal que aproveitaria aos agentes polticos que

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    praticaram crimes comuns contra opositores polticos, presos ou no, durante o regime militar, no prospera. 3. Conceito e definio de "crime poltico" pela Lei n. 6.683/79. So crimes conexos aos crimes polticos "os crimes de qualquer natureza relacionados com os crimes polticos ou praticados por motivao poltica"; podem ser de "qualquer natureza", mas [i] ho de terem estado relacionados com os crimes polticos ou [ii] ho de terem sido praticados por motivao poltica; so crimes outros que no polticos; so crimes comuns, porm [i] relacionados com os crimes polticos ou [ii] praticados por motivao poltica. A expresso crimes conexos a crimes polticos conota sentido a ser sindicado no momento histrico da sano da lei. A chamada Lei de anistia diz com uma conexo sui generis, prpria ao momento histrico da transio para a democracia. Ignora, no contexto da Lei n. 6.683/79, o sentido ou os sentidos correntes, na doutrina, da chamada conexo criminal; refere o que "se procurou", segundo a inicial, vale dizer, estender a anistia criminal de natureza poltica aos agentes do Estado encarregados da represso. 4. A lei estendeu a conexo aos crimes praticados pelos agentes do Estado contra os que lutavam contra o Estado de exceo; da o carter bilateral da anistia, ampla e geral, que somente no foi irrestrita porque no abrangia os j condenados --- e com sentena transitada em julgado, qual o Supremo assentou --- pela prtica de crimes de terrorismo, assalto, seqestro e atentado pessoal. 5. O significado vlido dos textos varivel no tempo e no espao, histrica e culturalmente. A interpretao do direito no mera deduo dele, mas sim processo de contnua adaptao de seus textos normativos realidade e seus conflitos. Mas essa afirmao aplica-se exclusivamente interpretao das leis dotadas de generalidade e abstrao, leis que constituem preceito primrio, no sentido de que se impem por fora prpria, autnoma. No quelas, designadas leis-medida (Massnahmegesetze), que disciplinam diretamente determinados interesses, mostrando-se imediatas e concretas, e consubstanciam, em si mesmas, um ato administrativo especial. No caso das leis-medida interpreta-se, em conjunto com o seu texto, a realidade no e do momento histrico no qual ela foi editada, no a realidade atual. a realidade histrico-social da migrao da ditadura para a democracia poltica, da transio conciliada de 1979, que h de ser ponderada para que possamos discernir o significado da expresso crimes conexos na Lei n. 6.683. da anistia de ento que estamos a cogitar, no da anistia tal e qual uns e outros hoje a concebem, seno qual foi na poca conquistada. Exatamente aquela na qual, como afirma inicial, "se procurou" [sic] estender a anistia criminal de natureza poltica aos agentes do Estado encarregados da represso. A chamada Lei da anistia veicula uma deciso poltica assumida naquele momento --- o momento da transio conciliada de 1979. A Lei n. 6.683 uma lei-medida, no uma regra para o futuro, dotada de abstrao e generalidade. H de ser interpretada a partir da realidade no momento em que foi conquistada. 6. A Lei n. 6.683/79 precede a

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    Conveno das Naes Unidas contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruis, Desumanos ou Degradantes --- adotada pela Assemblia Geral em 10 de dezembro de 1984, vigorando desde 26 de junho de 1987 --- e a Lei n. 9.455, de 7 de abril de 1997, que define o crime de tortura; e o preceito veiculado pelo artigo 5, XLIII da Constituio --- que declara insuscetveis de graa e anistia a prtica da tortura, entre outros crimes --- no alcana, por impossibilidade lgica, anistias anteriormente a sua vigncia consumadas. A Constituio no afeta leis-medida que a tenham precedido. 7. No Estado democrtico de direito o Poder Judicirio no est autorizado a alterar, a dar outra redao, diversa da nele contemplada, a texto normativo. Pode, a partir dele, produzir distintas normas. Mas nem mesmo o Supremo Tribunal Federal est autorizado a rescrever leis de anistia. 8. Reviso de lei de anistia, se mudanas do tempo e da sociedade a impuserem, haver --- ou no --- de ser feita pelo Poder Legislativo, no pelo Poder Judicirio. 9. A anistia da lei de 1979 foi reafirmada, no texto da EC 26/85, pelo Poder Constituinte da Constituio de 1988. Da no ter sentido questionar-se se a anistia, tal como definida pela lei, foi ou no recebida pela Constituio de 1988; a nova Constituio a [re]instaurou em seu ato originrio. A Emenda Constitucional n. 26/85 inaugura uma nova ordem constitucional, consubstanciando a ruptura da ordem constitucional que decaiu plenamente no advento da Constituio de 5 de outubro de 1988; consubstancia, nesse sentido, a revoluo branca que a esta confere legitimidade. A reafirmao da anistia da lei de 1979 est integrada na nova ordem, compe-se na origem da nova norma fundamental. De todo modo, se no tivermos o preceito da lei de 1979 como ab-rogado pela nova ordem constitucional, estar a coexistir com o 1 do artigo 4 da EC 26/85, existir a par dele [dico do 2 do artigo 2 da Lei de Introduo ao Cdigo Civil]. O debate a esse respeito seria, todavia, despiciendo. A uma por que foi mera lei-medida, dotada de efeitos concretos, j exauridos; lei apenas em sentido formal, no o sendo, contudo, em sentido material. A duas por que o texto de hierarquia constitucional prevalece sobre o infraconstitucional quando ambos coexistam. Afirmada a integrao da anistia de 1979 na nova ordem constitucional, sua adequao Constituio de 1988 resulta inquestionvel. A nova ordem compreende no apenas o texto da Constituio nova, mas tambm a norma-origem. No bojo dessa totalidade --- totalidade que o novo sistema normativo --- tem-se que "[] concedida, igualmente, anistia aos autores de crimes polticos ou conexos" praticados no perodo compreendido entre 02 de setembro de 1961 e 15 de agosto de 1979. No se pode divisar antinomia de qualquer grandeza entre o preceito veiculado pelo 1 do artigo 4 da EC 26/85 e a Constituio de 1988. 10. Impe-se o desembarao dos mecanismos que ainda dificultam o conhecimento do quanto ocorreu no Brasil durante as dcadas sombrias da ditadura.

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    O autor da teoria do transconstitucionalismo Marcelo Neves.

    Qual ordem deve prevalecer? A interna (estatal), a internacional, transnacional ou a supranacional? Segundo o autor da teoria (Marcelo Neves) no deve haver a imposio de uma ordem sobre as outras. Deve haver o dilogo (conversaes constitucionais/pontes de transio) entre as diferentes ordens para que decises mais adequadas (mais justas) sejam tomadas, principalmente em temas como direitos fundamentais.

    QUESTES

    1. (CESPE - 2012 - PC-AL - Delegado de Polcia) - O constitucionalismo moderno surgiu no sculo XVIII, trazendo novos conceitos e prticas constitucionais, como a separao de poderes, os direitos individuais e a supremacia constitucional.

    Certo

    2. (CESPE - 2012 - DPE-ES - Defensor Pblico) - Na perspectiva moderna, o conceito de constitucionalismo abrange, em sua essncia, a limitao do poder poltico e a proteo dos direitos fundamentais.

    Certo

    3. (FCC - 2012 - DPE-PR - Defensor Pblico) - O constitucionalismo fez surgir as Constituies modernas que se caracterizam pela adoo de: a) rol de direitos civis, polticos, econmicos, sociais e culturais e regime presidencialista de governo. b) pactos de poder entre soberanos e sditos que garantem queles privilgios, poderes e prerrogativas sem a contrapartida de deveres e responsabilidades exigveis por estes. c) princpio do governo limitado pelas leis, separao de poderes e proteo de direitos e garantias fundamentais. d) controle de constitucionalidade difuso das normas realizado por qualquer membro do Poder Judicirio. e) cartas constitucionais escritas, formais, dogmticas, dirigentes, analtica e outorgadas.

    Alternativa C

    4. (CESPE - 2012 - MP - Analista de Infraestrutura - Conhecimentos Bsicos - Todos os Cargos) - De acordo com o constitucionalismo moderno, as constituies escritas so instrumentos de conteno do arbtrio decorrente do exerccio do poder estatal.

    Certo

    5. (VUNESP - 2009 - TJ-MS - Titular de Servios de Notas e de Registros) - Assinale a alternativa que contm uma afirmativa correta a respeito do constitucionalismo. a) O constitucionalismo teve seu marco inicial com a promulgao, em 1215, da Magna Carta inglesa. b) O constitucionalismo surge formalmente, em 1948, com a edio da Declarao Universal dos Direitos Humanos da Organizao das Naes Unidas. c) A doutrina do Direito Constitucional unssona no entendimento de que o constitucionalismo surgiu com a revoluo norte-americana resultando, em 1787, na Constituio dos Estados Unidos da Amrica. d) possvel identificar traos do constitucionalismo mesmo na antiguidade clssica e na Idade Mdia.

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    e) O constitucionalismo brasileiro inspirou-se fortemente no modelo constitucional do Estado da Inglaterra.

    Alternativa D