imprensa e voto nas eleiÇÕes presidenciais ...curitiba, v. 20, n. 41, p. 123-147, fev. 2012...

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123 RESUMO IMPRENSA E VOTO NAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS BRASILEIRAS DE 2002 E 2006 Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 20, n. 41, p. 123-147, fev. 2012 Recebido em 28 de junho de 2010. Aprovado em 22 de outubro de 2010. Pedro Santos Mundim O artigo apresenta os resultados de uma pesquisa sobre os efeitos da cobertura da imprensa no voto nas eleições presidenciais brasileiras de 2002 e 2006. Argumenta-se que ela foi um fator importante em ambos os pleitos. A variável dependente é formada pelas séries históricas de intenção de voto dos principais candidatos: Lula (Partido dos Trabalhadores), Serra (Partido da Social Democracia Brasileira), Garotinho (Partido Socialista Brasileiro) e Ciro (Partido Popular Socialista) em 2002, e Lula, Alckmin (Partido da Social Democracia Brasileira), Heloísa Helena (Partido Socialismo e Liberdade) e Cristovam Buarque (Partido Democrático Trabalhista) em 2006. A principal variável explicativa é a cobertura eleitoral de quatro grandes jornais do país: Folha de S. Paulo , O Estado de S. Paulo , O Globo e Jornal do Brasil. Completam o modelo as seguintes variáveis de controle: propaganda partidária dos candidatos, o Horário Político Gratuito Eleitoral no 1º e 2º turnos, os debates presidenciais e o índice de popularidade presidencial. Os modelos foram estimados via MQO. Os resultados dos testes indicam que, em 2002, a cobertura da imprensa de Lula e Ciro Gomes foi uma das responsáveis pela variação observada nas suas respectivas intenções de voto. Em 2006, a dinâmica foi um pouco mais complexa. Apenas as intenções de voto em Heloísa Helena foram afetadas por sua própria cobertura. A princípio, é surpreendente que a cobertura extremamente negativa de Lula não tenha lhe custado votos. Mas ela teve um impacto indireto, e importante, para Alckmin e Cristovam Buarque. Como esse impacto foi maior durante o escândalo do dossiê tucano, pode- se afirmar que a cobertura da imprensa contribuiu decisivamente para a ocorrência do 2º turno na última eleição presidencial. Esses resultados mantêm-se mesmo quando se analisam os votos de eleitores de grupos de escolaridade distintos, um controle para os diferentes níveis de exposição aos jornais. PALAVRAS-CHAVE: cobertura da imprensa; efeitos da mídia; eleições presidenciais brasileiras. “As eleições presidenciais brasileiras de 2006 são um caso de quase completa ausência de efeitos diretos da mídia no processo de decisão do voto da vastíssima maioria da população” (COIMBRA, 2007, p. 187). “Talvez pela ‘primeira vez em nossa história’ [...] deu-se a derrota completa da grande imprensa pelos eleitores. Foi como se, de repente, todas as teorias sobre a influência da mídia na opinião pública [...] tivessem sido invalidadas” (KUCISNKI, 2007, p. 134). I. INTRODUÇÃO 1 Kucinski e Coimbra estão certos em suas análises? Se olharmos apenas para o resultado final da eleição presidencial brasileira de 2006, pode- se dizer que sim. Contudo, se direcionarmos nossa atenção para outros aspectos da disputa, se analisarmo-la a partir de outros dados e premissas 1 Agradeço às críticas e sugestões de Marcus Figueiredo, Mauro Porto, Helcimara Telles, Malco Camargos, Mathieu Turgeon, Cleomar Gomes, Jairo Nicolau, Carlos Costa Ribeiro, dos participantes do II Simpósio Nacional de Marketing Político e Opinião Pública e aos pareceristas anônimos da Revista de Sociologia e Política às discussões presentes neste artigo. Obviamente, os problemas remanescentes são de minha inteira responsabilidade. Também agradeço a todas as agências de fomento que financiaram esse trabalho: a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

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RESUMO

IMPRENSA E VOTO NAS ELEIÇÕESPRESIDENCIAIS BRASILEIRAS DE 2002 E 2006

Rev. Sociol. Polít., Curitiba, v. 20, n. 41, p. 123-147, fev. 2012Recebido em 28 de junho de 2010.Aprovado em 22 de outubro de 2010.

Pedro Santos Mundim

O artigo apresenta os resultados de uma pesquisa sobre os efeitos da cobertura da imprensa no voto naseleições presidenciais brasileiras de 2002 e 2006. Argumenta-se que ela foi um fator importante em ambosos pleitos. A variável dependente é formada pelas séries históricas de intenção de voto dos principaiscandidatos: Lula (Partido dos Trabalhadores), Serra (Partido da Social Democracia Brasileira), Garotinho(Partido Socialista Brasileiro) e Ciro (Partido Popular Socialista) em 2002, e Lula, Alckmin (Partido daSocial Democracia Brasileira), Heloísa Helena (Partido Socialismo e Liberdade) e Cristovam Buarque(Partido Democrático Trabalhista) em 2006. A principal variável explicativa é a cobertura eleitoral dequatro grandes jornais do país: Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil. Completamo modelo as seguintes variáveis de controle: propaganda partidária dos candidatos, o Horário PolíticoGratuito Eleitoral no 1º e 2º turnos, os debates presidenciais e o índice de popularidade presidencial. Osmodelos foram estimados via MQO. Os resultados dos testes indicam que, em 2002, a cobertura da imprensade Lula e Ciro Gomes foi uma das responsáveis pela variação observada nas suas respectivas intenções devoto. Em 2006, a dinâmica foi um pouco mais complexa. Apenas as intenções de voto em Heloísa Helenaforam afetadas por sua própria cobertura. A princípio, é surpreendente que a cobertura extremamentenegativa de Lula não tenha lhe custado votos. Mas ela teve um impacto indireto, e importante, paraAlckmin e Cristovam Buarque. Como esse impacto foi maior durante o escândalo do dossiê tucano, pode-se afirmar que a cobertura da imprensa contribuiu decisivamente para a ocorrência do 2º turno na últimaeleição presidencial. Esses resultados mantêm-se mesmo quando se analisam os votos de eleitores degrupos de escolaridade distintos, um controle para os diferentes níveis de exposição aos jornais.

PALAVRAS-CHAVE: cobertura da imprensa; efeitos da mídia; eleições presidenciais brasileiras.

“As eleições presidenciais brasileiras de 2006 são um caso de quase completaausência de efeitos diretos da mídia no processo de decisão do voto davastíssima maioria da população” (COIMBRA, 2007, p. 187).

“Talvez pela ‘primeira vez em nossa história’ [...] deu-se a derrota completada grande imprensa pelos eleitores. Foi como se, de repente, todas as teoriassobre a influência da mídia na opinião pública [...] tivessem sido invalidadas”(KUCISNKI, 2007, p. 134).

I. INTRODUÇÃO1

Kucinski e Coimbra estão certos em suasanálises? Se olharmos apenas para o resultado finalda eleição presidencial brasileira de 2006, pode-

se dizer que sim. Contudo, se direcionarmos nossaatenção para outros aspectos da disputa, seanalisarmo-la a partir de outros dados e premissas

1 Agradeço às críticas e sugestões de Marcus Figueiredo,Mauro Porto, Helcimara Telles, Malco Camargos, MathieuTurgeon, Cleomar Gomes, Jairo Nicolau, Carlos CostaRibeiro, dos participantes do II Simpósio Nacional deMarketing Político e Opinião Pública e aos pareceristasanônimos da Revista de Sociologia e Política às discussões

presentes neste artigo. Obviamente, os problemasremanescentes são de minha inteira responsabilidade.Também agradeço a todas as agências de fomento quefinanciaram esse trabalho: a Fundação de Amparo àPesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), aFinanciadora de Estudos e Projetos (Finep), a Coordenaçãode Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes)e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico eTecnológico (CNPq).

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teóricas, é possível vislumbrar um cenáriodiferente, em que a imprensa teve um papelrelativamente importante e teorias de efeito damídia não foram invalidadas.

Neste artigo contesto, ao menosparcialmente, interpretações como as de Kucinskie Coimbra ao apresentar uma análise do papelda cobertura da imprensa nas eleiçõespresidenciais brasileiras de 2002 e 2006. Partoda premissa de que a imprensa, ao disponibilizarinformações que os eleitores utilizam para tomardecisões políticas, dentro de certos formatosinterpretativos e intensidades, interfere noprocesso dinâmico de decisão do voto nodecorrer da disputa – ou seja, durante ao menosnove meses do ano – podendo vir, ou não, a serum elemento decisivo no resultado final daeleição. O seu maior ou menor poder de decisãodependerá do contexto histórico e do acirramentode cada pleito.

Busco defender esse argumento com dadosempíricos. Para isso, utilizo uma versão um poucomodificada de um modelo de série temporalconstruído para medir os efeitos da cobertura daimprensa no voto dos eleitores (MUNDIM, 2010a;2010b)2. Uma das vantagens desse modelo é queele leva em conta o fato de que as eleições e acobertura da imprensa são processos dinâmicosque respondem a uma série de acontecimentos eeventos de campanha que ocorrem no decorrerda disputa. Analisar esse tipo de dinamismo talvezseja a melhor maneira de compreender como amídia interfere na decisão do voto dos eleitores,

o que seria mais difícil de observar em pesquisasque trabalhassem apenas com dados de cortetransversal.

Ao falar de imprensa neste artigo estareireferindo-se, especificamente, ao conteúdoveiculado pelos jornais impressos. O modeloproposto leva esse fato em consideração e buscaestabelecer um controle para os diferentes níveisde exposição dos eleitores a esses meios. Por isso,a sua variável dependente é formada pelasintenções de voto de Lula (PT), José Serra(PSDB), Anthony Garotinho (PSB) e Ciro Gomes(PPS) em 2002, e Lula (PT), Geraldo Alckmin(PSDB), Heloísa Helena (PSOL) e CristovamBuarque (PDT) em 2006, desagregadas por trêsgrupos de escolaridade dos eleitores: básico,médio e superior3.

Conforme pude argumentar em outrostrabalhos (idem), a escolaridade é um indicadormais adequado da exposição aos jornais do querenda familiar mensal, idade, região do país, sereside na capital ou não, sexo e interesse porpolítica4. Embora não seja um parâmetro tãoadequado quanto o índice de atenção políticaamplamente utilizado por Zaller (1992; 1996) emsuas pesquisas, ela ainda apresenta uma maiorcapacidade preditiva da exposição, seguida darecepção, das informações jornalísticas do quetodos esses outros indicadores (ZALLER &PRICE, 1993)5.

3 Partido dos Trabalhadores (PT); Partido da SocialDemocracia Brasileira (PSDB); Partido Socialista Brasileiro(PSB); Partido Popular Socialista (PPS); PartidoSocialismo e Liberdade (PSOL); Partido DemocráticoTrabalhista (PDT).4 É plenamente possível desagregar o eleitorado com basenesses outros critérios, desde que justificativas teóricas eempíricas sejam oferecidas para essa escolha. Por exemplo,poder-se-ia ter desagregado o eleitorado por grupo deescolaridade e levando-se em conta a região do país, já queesta foi uma variável-chave na eleição de 2006. Issodependeria, contudo, do acesso a todos os bancos de dadosdas pesquisas de intenção de voto utilizadas, e não apenasde seus relatórios, algo que não era possível no períodoem que este trabalho estava sendo feito.5 Zaller e Price diferenciam conceitualmente a exposiçãoda recepção: “nós distinguimos a simples exposição àsnotícias, que entendemos ser qualquer situação na qualuma pessoa entra em contato com eventos particulares ounotícias através de qualquer tipo de meio de comunicação[...], da recepção, que exige atenção, compreensão e a

2 Por cobertura da imprensa entendo, simplesmente, aseleção e interpretação diária de acontecimentos e eventosconsiderados “noticiáveis” feita pelos jornalistas, cujaversão é contada em forma de uma “história” para osleitores-eleitores (PATTERSON, 1994, p. 60). Talprocedimento narrativo pode ser complementado porimagens e/ou textos interpretativos, como editoriais,colunas e artigos. Entendo que tal procedimento temligações com uma “série de decisões feitas pelasorganizações midiáticas sobre o que observar, o quereportar, e que ênfase colocar nas várias partes dacobertura” (PATTERSON, 1980, p. 9). Neste artigo,contudo, o meu foco é a mensuração dos efeitos dessacobertura. Não pretendo explicitar ou discutir por que aimprensa brasileira cobre as eleições de uma determinadamaneira, prejudicando ou favorecendo um ou outrocandidato.

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Tal desagregação do eleitorado é importantepor pelo menos outras duas razões. Ela assumeque os eleitores expõem-se aos meios decomunicação de maneiras diferentes. Daí poder-se esperar que os efeitos da mídia não ocorramjunto a eles da mesma maneira. Além disso, elaestá em sintonia com estudos recentes sobreefeitos da mídia (DOBRZYNSKA, BLAIS &NADEAU, 2003; GAVIN & SANDERS, 2003;VREESE & SEMETKO, 2004; LAWSON &McCANN, 2005), pois permitirá o aparecimentode efeitos que não seriam captados caso a variáveldependente do modelo fosse as intenções de votodos candidatos como um todo. Como argumentouKrause, “a agregação do eleitorado pode produzirfalsos resultados, já que as respostas de váriossegmentos da população podem cancelar uns aosoutros” (KRAUSE, 1997, p. 1172), proporcio-nando, assim, um retrato impreciso dos fatoresque contribuíram para a formação das preferênciase da variação das intenções de voto.

Na primeira parte do artigo, lanço algunsargumentos em favor do desenvolvimento dosestudos sobre efeitos da mídia no Brasil, umcampo de pesquisa ainda pouco explorado nasCiências Sociais tupiniquins. Também discuto omodelo proposto e suas variáveis. Inicio asegunda parte do artigo com uma rápida exposiçãosobre o contexto e as razões do voto nas eleiçõespresidenciais brasileiras de 2002 e 2006, de acordocom diversos trabalhos que analisaram ambos ospleitos. Em seguida, apresento e discuto osresultados dos testes do modelo, a partir dos quaisdefendo a importância do papel da cobertura daimprensa nas eleições e a necessidade deincorporarem-se variáveis midiáticas nos estudossobre comportamento eleitoral.

II. ESTUDOS DE EFEITOS DA MÍDIA NOBRASIL: UMA LACUNA HISTÓRICA

Os estudos sobre efeito da mídia constituemum dos campos mais antigos, importantes e

produtivos da comunicação política nos EUA,especialmente aqueles voltados para a análise doimpacto da cobertura da imprensa nocomportamento e nas atitudes políticas doseleitores. Eles também são cada vez maisimportantes em países como Inglaterra, Alemanhae Holanda (SEMETKO, 1996). E, recentemente,pesquisadores americanos têm realizado análisesdessa natureza sobre países latino-americanoscomo México, Brasil e Peru (GEDDES &ZALLER, 1989; LAWSON, 2002; 2004; BOAS,2005; LAWSON & MCCANN, 2005).

Contudo, os estudos sobre efeito da mídiaainda são pouco explorados no Brasil. A melhorevidência desse fato encontra-se na tese de Colling(2006b). Após ter analisado cerca de 300pesquisas (entre teses, dissertações, artigos eensaios) a respeito de mídia e eleições presidenciaisbrasileiras entre 1989 e 2002, ele não encontrousequer um trabalho dedicado à recepção dasmensagens jornalísticas para verificar seu efeitona definição do voto dos eleitores (COLLING,2006a). As exceções seriam textos publicados emrevistas e livros editados em inglês, mesmo quealguns dos autores sejam brasileiros(STRAUBHAAR, OLSEN & NUNES, 1993;BOAS, 2005; BAKER, AMES & RENNÓ, 2006;PORTO, 2007a; 2007b), ou trabalhos bastanterecentes (BORBA, 2005; FIGUEIREDO, 2007;LOURENÇO, 2007; MUNDIM, 2010b).

Ao menos duas razões podem explicar essasituação. Em um país sem eleições presidenciaislivres e diretas por 25 anos, não fazia sentidoestudar o impacto da cobertura da imprensa novoto dos eleitores, mesmo em um período degrande avanço internacional nas discussões emetodologias de análise de efeitos da mídia6. Apartir de 1989, porém, era de esperar-se que aspesquisas sobre efeito da mídia ganhassem maiorimportância, fato que não aconteceu.

retenção da notícia” (ZALLER & PRICE, 1993, p. 134;grifos no original). Deve-se estar claro que, de acordo comeste e outros trabalhos de Zaller (1992; 1996), o índice deatenção política não é sinônimo e nem busca avaliar onível de sofisticação política dos eleitores, ainda que possahaver uma associação entre este índice e outras variáveiscomo escolaridade, sofisticação política, interesse porpolítica, diferentes níveis de exposição à mídia etc.

6 Por exemplo, o artigo de McCombs e Shaw sobre a teoriada agenda-setting foi publicado em 1972 (MCCOMBS &SHAW, 1972). A pesquisa de Patterson, que originou olivro The Mass Media Election, foi publicado em 1980(PATTERSON, 1980). Os resultados das pesquisasexperimentais de Iyengar e Kinder, em que foi cunhado oconceito de priming, foram publicados em 1987, no livroNews That Matter (IYENGAR & KINDER, 1987).

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A segunda explicação tem a ver com ainfluência da tradição crítica da comunicaçãopolítica no Brasil, com uma abordagem fortementenormativa, que tende a rejeitar análisesquantitativas, geralmente aplicadas nos estudossobre efeito da mídia, e a enfatizar que os meiosde comunicação são instrumentos de manipulação,utilizados por “diferentes agentes (proprietários,elites, classes dominantes, estado etc.)”, paraalcançar objetivos políticos específicos (PORTO,2003, p. 289-290). Elas também se concentram,principalmente, na análise de discurso da coberturada imprensa e das comunicações políticas(LATTMAN-WELTMAN, 1994; KUCINSKI,1998; 2007; MIGUEL, 1999; 2004; LIMA, 2004;MATOS, 2008).

Mesmo dentro desse cenário, existem diversasrazões para esperar que a cobertura da imprensaafete a opinião dos eleitores durante uma eleição.Entre elas estariam, por exemplo, a midiatizaçãoda política e a enorme quantidade de informaçõesproduzidas pelos veículos de informação duranteas campanhas (ALVAREZ, 1997); o fato de amaioria dos eleitores não participar diretamentedos eventos de campanha e depender dos meiosnoticiosos para ter acesso às informações que elesgeram (PATTERSON, 1980; HOLBROOK, 1996);a baixa prevalência de eleitores com preferênciaspartidárias – tradicionalmente um dos maisimportantes mecanismos de resistência àsmensagens midiáticas (CONVERSE, 1962;ZALLER, 1992) –, especialmente em países dedemocracia recente como o México e o Brasil(LAWSON & MCCANN, 2005; BAKER, AMES& RENNÓ, 2006).

Todos esses fatores confluem para uma últimae importante evidência empírica dos possíveisefeitos da cobertura da imprensa nas eleições: asignificativa variação das intenções de voto doscandidatos durante o período eleitoral, não apenasnos EUA (GELMAN & KING, 1993), mas tambémno Brasil (BAKER, AMES & RENNÓ, 2006;AMES, BAKER & RENNÓ, 2008)7. Se os nove

meses de corrida presidencial, com todos os seuseventos, acontecimentos e notícias não tivessemqualquer importância, não haveria umasignificativa variação das intenções de voto, nema necessidade de campanhas – e muito menosfaria sentido falar-se e pesquisar o efeito dacobertura da imprensa.

Assim, ao cobrir as eleições a imprensainterfere na construção da imagem dos candidatos,que são um atalho de informação que os eleitoresutilizam para decidirem seus votos (POPKIN,1991). A partir desses atalhos eles podem avaliar,sem muito custo, qualidades pessoais,competências administrativas, posicionamentosideológicos e interesses sociais dos políticos(CARREIRÃO, 2002), para mencionar apenas asrazões mais importantes das escolhas doseleitores. Uma vez que existem evidênciasempíricas de que essas imagens são revistas àluz de novas informações (KERN & JUST, 1997),ao afetar-se o atalho de informação, afeta-setambém a decisão do voto, levando à variaçãodas intenções de voto observadas durante asdisputas.

A existência de variação na opinião pública érequisito essencial para qualquer estudo sobreefeito da mídia. Como se observa na Figura 1,houve uma clara variação nas intenções de votodos principais candidatos durante os períodos dedisputa das eleições presidenciais brasileiras de2002 e 2006.

7 Segundo Ames, Baker e Rennó “um grande percentualde brasileiros muda seus votos durante as campanhas.Isso é evidente [...] nos movimentos observados nasintenções de voto agregadas durante as campanhas – comoas vividas por Collor em 1989, Lula e Fernando HenriqueCardoso em 1994 e Ciro Gomes em 2002” (AMES, BAKER& RENNÓ, 2008, p. 112).

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FIGURA 1 – INTENÇÃO DE VOTO DOS PRINCIPAIS CANDIDATOS DURANTE O 1° TURNO POR NÍVEL DEESCOLARIDADE. ELEIÇÕES PRESIDENCIAIS DE 2002 E 2006

FONTES: Datafolha (2002; 2006) e pesquisas eleitorais de 2002 e 2006 do Ibope.

As séries de intenção de voto possuemtendências bem diferentes umas das outras. Em2002, por exemplo, Ciro chegou a passar Lulaentre os eleitores de escolaridade média e superior,mas não entre os que tinham apenas o ensinobásico. Em 2006, se dependesse apenas do votodos eleitores mais escolarizados, Alckmin teria sidoo vencedor do 1º turno da eleição.

O que explica essas diferenças? As minhashipóteses são que uma das causas dessa variaçãofoi um fator exógeno, no caso a cobertura daimprensa, e que as diferenças das séries de intençãode voto entre os eleitores com graus deescolaridade distintos tem a ver com seusdiferentes níveis de exposição à cobertura daimprensa.

A importância desse fato para os estudossobre comportamento eleitoral é que, ainda quepequena, em certas circunstâncias essa variaçãopode ser suficiente para decidir o resultado deuma eleição (GRABER, 1989). Comoargumentaram Newton e Brynin, sobre o cenárioeleitoral inglês: “a imprensa nacional não devecausar uma diferença de mais de quatro ou cincopontos nas preferências eleitorais, mas isso seriasuficiente para mudar o resultado de todas aseleições britânicas do pós-guerra, com exceçãode 1983, 1987, e 1997” (NEWTON & BRYNIN,2001, p. 267).

No Brasil, na eleição presidencial de 1989,Fernando Collor de Melo (Partido da ReconstruçãoNacional (PRN)) saiu vencedor por uma diferença

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de apenas 6% dos votos, ou cerca de quatromilhões de eleitores. Embora um cenáriosemelhante não tenha se repetido nas eleiçõesseguintes, seria um erro não levar em conta oudar a devida atenção a esse fato. Existem diversosexemplos de eleições municipais ou estaduaisdecididas por uma tênue diferença entrevencedores e perdedores. Além disso, quem podegarantir que, no futuro, algumas de nossas eleiçõespresidenciais não sejam decididas por umamargem tão pequena?

III. O MODELO PROPOSTO E DUAS HIPÓ-TESES

Em trabalhos recentes (MUNDIM, 2010a;2010b) apresentei um modelo de série temporalvoltado para analisar o impacto da cobertura daimprensa no voto nas eleições presidenciaisbrasileiras de 2002 e 2006. Na ocasião, ele foitestado apenas nas intenções de voto gerais dosprincipais candidatos. Os resultados obtidos forambastante satisfatórios. Neste artigo, busco avançarno uso desse modelo, mas agora considerando osdiferentes níveis de exposição dos eleitores aosjornais impressos. A fórmula completa do modeloa ser testado pode ser visto na equação (1):

VOTOijt = α + β1 VOTOij,t-1 + β2IMPRENSAi,t-1 + β3 PROPAGANDAi

+ β4 HGPE 1º + β5 HGPE 2º + β6 DEBATES+ β7 AVALIAÇÃOjt + εt (1)

O que significa dizer que a intenção de votodo candidato i, em um período de tempo t, juntoao grupo de escolaridade j, é função de suaintenção do seu voto em t-18, da cobertura daimprensa sobre ele, além das variáveis de controle– todas serão discutidas adiante.

Esse modelo permite a formulação de duashipóteses a serem testadas. A primeira delas éque a cobertura da imprensa de Lula, Serra,Garotinho e Ciro em 2002, e Lula, Alckmin,Heloísa Helena e Cristovam em 2006 afetou asrespectivas intenções de voto. Rejeitar essahipótese seria o mesmo que dizer que a coberturada imprensa foi uma variável pouco ou nadaimportante nas duas últimas eleiçõespresidenciais.

A segunda hipótese a ser testada tem a vercom os diferentes níveis de exposição doseleitores à cobertura da imprensa. Diversaspesquisas mostraram que os jornaisdesempenham, melhor do que a televisão, o papelde informar os eleitores mais escolarizados(PATTERSON, 1980; ROBINSON & LEVY,1986; DRUCKMAN, 2005; GRABE, KAMHAWI& YEGIYAN, 2009). Foi por isso que argumentei,na introdução do artigo, que os eleitores de maiorescolaridade estão mais expostos à cobertura daimprensa. Essa diferença de exposição aos jornaisdeve aparecer tanto na significância quanto forçados coeficientes de β2 da variável IMPRENSAi,t-1. Isso nos leva à segunda hipótese: os efeitos dacobertura da imprensa no voto dos eleitoresaumentam à medida que passamos de um grupode escolaridade para o outro.

IV. A DESCRIÇÃO DAS VARIÁVEIS DOMODELO9

Neste item apresento a descrição das variáveisdo modelo, que seguem o padrão de trabalhosanteriores (MUNDIM, 2010a; 2010b).

IV.1. A intenção de voto dos candidatos

A variável dependente são as intenções de votoagregadas dos candidatos por grupo deescolaridade dos eleitores, medidas emporcentagem, em um tempo t que corresponde àdata de publicação dos relatórios das pesquisasdo Datafolha e do Ibope nos anos de 2002 e 2006,com base na pergunta estimulada de intenção devoto. Quando havia mais de um cenário político,foi levada em conta apenas a pergunta referente

8 Em séries temporais é comum a utilização de uma oumais variáveis explicativas que contenham uma defasagem(time lag) no tempo. Isso ocorre porque não se espera queos efeitos, por exemplo, de X sobre Y ocorraminstantaneamente, mas com um lapso temporal(GUJARATI, 1978). Em outros trabalhos (MUNDIM,2010a), apresento uma discussão mais detalhada das razõesteóricas – a decisão do voto é um processo dinâmico e aopinião dos eleitores em um tempo t sofre influência dassuas opiniões no tempo t-1 (ROMER, 2004; KEELE &KELLY, 2006) – e técnicas – eliminação de problemas deautocorrelação serial (BELTRÁN, 2007; WOOLRIDGE,2007) – da inclusão de uma variável dependente defasadano modelo proposto. Mas, por motivo de espaço, elasnão serão discutidas aqui.

9 Por motivo de espaço, não apresento uma descriçãoextremamente detalhada das variáveis incluídas no modelo.Mas tais descrições estão presentes em outros trabalhos(MUNDIM, 2010a; 2010b) ou podem ser solicitadasdiretamente com o autor.

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ao primeiro desses cenários10. Quando houvecoincidência das datas, optou-se por extrair amédia das duas pesquisas. Os gráficos dasintenções de voto dos principais candidatos naseleições presidenciais brasileiras de 2002 e 2006,separados pelos respectivos grupos deescolaridade, encontram-se na Figura 111.

IV.2. A cobertura da imprensa

Os dados que compõem as variáveis sobre acobertura da imprensa são derivados da Planilha deMonitoramento da Mídia Impressa do Doxa-Iuperj(Instituto Universitário de Pesquisas do Rio deJaneiro), que contém informações sobre a coberturadiária de quatro grandes jornais brasileiros, Folhade S. Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo e oJornal do Brasil12. Destes, os três primeiros estão,ao menos desde 2002, entre os quatro jornais demaior circulação do país13.

A variável foi construída da seguinte maneira.Primeiro, obteve-se o nível de exposição nosjornais sobre um determinado candidato i, em umperíodo de tempo que corresponde ao intervaloentre a publicação de duas pesquisas de intenção

de voto. Como os intervalos de tempo sãoirregulares, utilizou-se a média de aparições diáriaspor matéria dos candidatos. Em seguida, calculou-se o nível de favorecimento da cobertura daimprensa sobre os candidatos, por meio daobtenção da diferença do percentual de matériaspositivas e negativas publicadas sobre umdeterminado candidato i, no mesmo intervalo detempo entre a publicação de duas pesquisas.Finalmente, multiplicou-se a média de apariçõesdiárias por matéria de cada um dos candidatospelos respectivos somatórios de suas valências.

Descrições sobre como classificar uma matériacomo positiva, negativa ou neutra encontram-se emAldé (2004, p. 110-111) e Aldé, Mendes e Figueiredo(2006, p. 71-72). Embora alguns pesquisadores eanalistas possam divergir sobre qual é a melhormaneira de medi-las, o fato é que as pesquisas sobreefeitos da mídia e/ou de análise de conteúdo dacobertura da imprensa geralmente compartilham deuma métrica similar para a análise do conteúdo daimprensa em relação às “valências das matérias”.Quase sempre, o que se faz é dar o valor de –1 parao conteúdo publicado e considerado negativo paraum candidato, zero para o neutro e +1 para o positivo(HOLBROOK, 1996; NORRIS, 1997; GAVIN &SANDERS, 2003; 2004; PORTO, VASCONCELOS& BASTOS, 2004; VREESE & SEMETKO, 2004;SOROKA, 2006; JAKOBSEN, 2007).

Hallin (1994) e Dalton, Beck e Huckfeldt(1998), por exemplo, destoaram da maioria daspesquisas. No caso do primeiro, foi utilizada umaquarta categoria, “ambíguo”. No caso dossegundos, foi utilizada uma escala de sete pontos,em que um representava “extremamentenegativo”, quatro era “neutro” e sete“extremamente positivo”. Obviamente, essastambém são medidas válidas. Mas desconheçoalgum estudo que tenha analisado, com testesempíricos, que tipo de métrica seria maisadequada para apreender essa dimensão qualitativada cobertura da imprensa. Por essa razão, acreditoque trabalhar com os tradicionais conceitos denegativo, neutro e positivo ainda seja um critérioplenamente aceitável do ponto de vista científico.

A Figura 2 traz os gráficos da cobertura daimprensa dos principais candidatos nas eleiçõespresidenciais brasileiras de 2002 e 2006. Para umamelhor compreender a variação da cobertura,assinalei alguns eventos-chave que ocorreramdurante a disputa.

10 As razões para o uso desses dados são meramentepráticas, já que, infelizmente, não foi possível obter dadosde tracking polls, que são acompanhamentos diários dasintenções de voto dos candidatos. Ao contrário dos EUA,onde esses dados são amplamente divulgados por mais deum instituto de pesquisa de opinião, no Brasil eles aindasão exclusividade dos partidos. Daí a sua difícil liberaçãopelos institutos de pesquisa.11 Aqui é necessário um esclarecimento. A divisão doeleitorado por escolaridade do Datafolha é exatamente igualà mencionada. Já a do Ibope é um pouco diferente entre oseleitores com até o nível básico, que estão divididos emduas categorias: “até 4ª série” e “5ª a 8ª”. Elas foramagregadas em uma só categoria, “até 8ª série”, a partir dafórmula (x1 * n1 + x2 * n2)/(n1 + n2), sendo: x1 = % devotos para o candidato x entre os eleitores “até 4ª série” ex2 = % de votos para o candidato x entre os eleitores de“5ª a 8ª”; e n1 = o número total da amostra de eleitoresque disseram, na pesquisa, que iriam votar no candidato xentre os eleitores “até 4ª série” e n2 = o número total damostra de eleitores que disseram, na pesquisa, que iriamvotar no candidato x entre os eleitores de “5ª a 8ª”.12 Agradeço a Marcus Figueiredo e a toda equipe doDoxa-Iuperj, em especial a seus bolsistas, porproporcionarem-me acesso à sua base de dados sobre acobertura da imprensa durante as eleições. Parainformações sobre a metodologia emprega na a análise doconteúdo da imprensa, ver o texto de Aldé (2004).13 Dados da Associação Nacional do Jornais (2011).

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De um modo geral, e especialmente em relaçãoa Lula, os acontecimentos mais importantesforam: em 2002, o período de “crise econômica”,causada pela incerteza dos investidores emrelação aos rumos da economia com uma possívelvitória do petista, e a “Carta ao Povo Brasileiro”,em que Lula garantiu que manteria a estabilidadeeconômica; e em 2006, o estouro do escândalodo “Dossiê Tucano”, além da ausência do petistano terceiro debate dos presidenciáveis, àsvésperas do primeiro turno da eleição.

Em relação aos demais candidatos,especialmente em 2002, deve-se apontar: asdenúncias de corrupção contra Ricardo Sérgio,caixa da campanha do PSDB em 1994, queinfluenciaram negativamente a cobertura de Serra;e, em relação a Ciro, o período de coberturapositiva logo após a veiculação da propagandapartidária de dois partidos de sua coligação, oPTB14 e o PDT, no mês de junho (ALMEIDA,2006), além do início da sua derrocada, com arenúncia do coordenador da sua campanha, JoséCarlos Martinez, após denúncias de ter contraído

FONTE: Planilha Doxa-Iuperj (2002; 2006).

FIGURA 2 – COBERTURA DA IMPRENSA DOS PRINCIPAIS CANDIDATOS, NAS ELEIÇÕES PRESIDENCIAISDE 2002 E 2006

empréstimo com PC Farias, e a acusação desuborno envolvendo o vice da sua chapa, Paulinhoda Força (Sindical).

Finalmente, vale destacar que, no modeloproposto, a variável da cobertura da imprensa seráutilizada com uma defasagem no tempo. Essaescolha ocorreu por duas razões. A primeira delasé factual. Como se sabe, as notícias de “hoje”dos jornais trazem, na verdade, as informaçõessobre os acontecimentos de “ontem”. A segundadelas é teórica. Mudanças de atitude não ocorremde maneira repentina ou imediata. Na verdade, oacúmulo de informações disponibilizadas pelosmeios de comunicação ao longo de um determina-do período de tempo produzem “mudançasgraduais no equilíbrio de considerações que estãopresentes na cabeça das pessoas” (ZALLER,1992, p. 266).

IV.3. As variáveis de controle

Nem a intenção de voto dos eleitores, nem asua variação, são explicadas apenas pela coberturada imprensa. Por essa razão, torna-se necessáriointroduzir variáveis de controle no modeloproposto para minimizar ou evitar erros deespecificação (RENNÓ & SPANAKOS, 2006).14 Partido Trabalhista Brasileiro.

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As variáveis de controle também buscam conectaro modelo com a longa tradição das pesquisas sobrecomportamento político.

Ao lado da cobertura da imprensa, apropaganda político-institucional dos partidos, oHorário Político Gratuito Eleitoral (HPGE) e osdebates presidenciais formam o núcleo dasvariáveis comunicacionais que interferem nadecisão do voto. A melhor maneira de controlarseus efeitos é a partir da introdução de variáveisdummy para os períodos logo após a ocorrênciados eventos, conforme a sugestões de McDowallet alii (1980) para a análise de séries temporaisinterrompidas.

Para as propagandas político-institucionaisdeu-se o valor de “um” para o período de tempologo após a sua transmissão, e “zero” para osdemais, o que indica ausência de efeito. Essamétrica é semelhante à utilizada por Rennó eSpanakos (2006). A mesma métrica foi usada paraa construção da variável sobre os debates. Para oHGPE, foram criadas três variáveis dummy, umapara cada período da campanha, pré-eleitoral, 1ºturno e 2º turno, seguindo a métrica implementadapor Figueiredo (2007).

Os índices de popularidade do Presidente serãoutilizados como um indicador das avaliaçõesretrospectivas do governo feita pelos eleitores,alimentadas principalmente pelo desempenho daeconomia, além de outros fatores políticos esociais. Essa avaliação do governo será medida apartir da porcentagem de eleitores, em cada umdos três grupos de escolaridade, que avaliavam ogoverno como “ruim/péssimo”. O fato de a

avaliação negativa ser um indicador mais adequadodo que a positiva encontra justificativa no trabalhode Cervi (2006), pois ela capta melhor a mudançade humor dos eleitores do que as avaliações “bom/ótimo”.

Finalizada essa descrição, vale dizer que tantoo modelo quanto as variáveis que o compõemapresentam limitações. Por exemplo, algunspesquisadores poderiam preferir trabalhar com umconjunto de variáveis econômicas clássicas –crescimento do produto interno bruto (PIB), taxasde desemprego e inflação – como um indicadorda aprovação do trabalho do Presidente.Particularmente, preferi trabalhar com um modelomais simples e parcimonioso. Contudo, nadaimpede que outros pesquisadores tentemreproduzi-lo com outras variáveis ou comvariáveis construídas de modo diferente.

Em relação ao modelo, em outros trabalhos(MUNDIM, 2010a; 2010b) existem seções quediscutem, exclusivamente, alguns de seuspossíveis limites: um N maior poderia melhorarseus resultados; o risco de ele cair na “faláciaecológica”; e o fato de ele não captar – 2006 éuma exceção – todo o dinamismo inerente àsdisputas eleitorais em relações mais complexas,o que só seria possível por meio de métodos deestimação de equações múltiplas ou simultâneas,como SUR ou VAR. Por motivo de espaço, e paraevitar redundâncias, não discuto essas questõesaqui. Mas as respostas a esses problemasencontram-se nos referidos trabalhos.

A Tabela 1 traz as estatísticas descritivas dessase das demais variáveis do modelo15.

15 Modelos de séries temporais exigem que suas variáveissejam estacionárias (WOOLRIDGE, 2007; BUENO,2008). Testes KPSS identificaram problemas de raizunitária de ordem um nas seguintes variáveis: intenções devoto de Lula (2002 e 2006), Serra, Alckmin, Cristovam(médio e superior); cobertura da imprensa de Lula (2002 e2006), Garotinho e Ciro; e avaliação de governo (2002 e2006). Para corrigi-los, implementou-se o procedimentosugerido por Romer (2004), Woolridge (2007) e Bueno

(2008): a tendência determinística linear das séries foieliminada via MQO, estimando-se Yijt em função do tempo;os resíduos da equação constituíram-se na nova série. Aavaliação negativa do governo em 2002 e 2006 entre oseleitores de escolaridade superior apresentou tendênciaestocástica. Como identificou-se que elas tinham raizunitária de ordem um, bastou diferenciá-la uma única vez,conforme o procedimento descrito na equação ΔY = Yt –Yt-1, para “estacionarizar” a série. Para detalhes dessesprocedimentos, ver Mundim (2010b).

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FONTES: Pesquisas eleitorais do Datafolha e do Ibope e Planilha Doxa-Iuperj (2002; 2006).NOTAS: 1. Grupo de Escolaridade dos eleitores entre parênteses.

2. Inclui 2° turno.3. Percentual de eleitores que consideravam o governo ruim ou péssimo.

TABELA 1 – ESTATÍSTICAS DESCRITIVAS DAS VARIÁVEIS DO MODELOMÉDIA MÁXIMO MÍNIMO D.P. OBS.

Eleição Presidencial de 20021

Cobertura da imprensa dos candidatos

Avaliação do governo

Eleição presidencial de 2006Intenção de voto dos candidatos

Cobertura da imprensa dos candidatos

Avaliação do governo

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V. O BRASIL EM DUAS ELEIÇÕES: 2002 E 2006

A eleição presidencial de 2002 é um “divisorde águas” na história política do Brasil, dada avitória de Lula e do PT (NICOLAU, 2007), comaproximadamente 61% dos votos válidos, umpouco mais de 57,7 milhões de eleitores16. Elatambém foi um marco importante para a imprensa.Ao contrário do que fizeram em 1994 e 1998, em2002 os grandes jornais mostraram-se maisdispostas “a investir no assunto eleitoral comofato noticiável” (ALDÉ, 2004, p. 106-107)17.

Em 2002, o contexto eleitoral era de mudança.Mesmo com a estabilidade econômica conseguidacom o Real, Fernando Henrique Cardoso (PSDB)chegava ao último ano do seu segundo mandatocom 28,7% dos eleitores considerando suaadministração boa ou ótima, 41% regular, e 27,6%ruim ou péssima. Ao serem perguntados sobreque nota dariam ao governo, em uma escala dezero a dez, o Presidente teve uma média de 5,418.Os eleitores mostravam-se um pouco menossatisfeitos do que Serra, candidato do PSDB. Emuma entrevista no Programa do Jô em 13 de maiode 2002, o candidato tucano deu ao governo doPresidente uma nota 7,5 (ALMEIDA, 2006).

Mas essa discordância foi apenas um dosmotivos pelos quais Serra perdeu a eleição. Comomostra a análise de Almeida (idem), com base nosdados do Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB) de2002, fatores como a preferência partidária peloPT, a rejeição às privatizações, a avaliação favoráveldo preparo e da competência de Lula paraadministrar o Brasil e o seu plano de governo, e aavaliação negativa de Fernando Henrique em relaçãoao maior problema do país – o desemprego19 –,contribuíram favoravelmente para a maior

probabilidade do voto no petista do que no tucano,especialmente no 2º turno da eleição.

Quatro anos depois, um espectro rondava aeleição presidencial: o espectro do Mensalão20.No início de 2006 a magnitude dos seus efeitossobre os eleitores era uma incógnita, ainda maiscom uma cobertura midiática tão negativa.Contudo, o resultado das urnas desmistificou aopinião que diversos pesquisadores tinham sobreo poder da mídia. Enquanto uns celebraram a“derrota da imprensa” e a “emergência dasmassas” na política nacional (AMARAL, 2007),outros apontaram para a sua irrelevância(COIMBRA, 2007).

Em 2006, o desemprego perdeu o seu lugarde destaque como o principal problema do país.Segundo dados do ESEB 2006, 39,7% doseleitores viam a corrupção como a questão maispremente a ser resolvida pelos nossos dirigentes.Apenas 10% diziam ser o desemprego (CESOP,2011). Obviamente, tais números estão sobre ainfluência dos escândalos do Mensalão e do“Dossiê Tucano”, que emergiu às vésperas do 1ºturno. Ainda assim, Lula saiu vencedor com umavotação recorde no 2º turno: 61% dos votosválidos, um pouco mais de 58,3 milhões deeleitores21.

Entre os diversos trabalhos que analisaram asrazões do voto em Lula, é praticamente unânimea opinião de que a avaliação retrospectiva,influenciada especialmente por “fatoreseconômicos”, pesaram na sua reeleição. O petistabeneficiou-se do pequeno porém persistentecrescimento econômico, da inflação baixa, doaumento do poder de consumo da população e doBolsa Família, programa de distribuição de rendaimplementado pelo seu governo (NICOLAU &

16 Valores calculados a partir dos dados disponíveis nosítio de internet de Jairo Nicolau (2009).17 O mesmo aconteceu com o Jornal Nacional, da RedeGlobo, que em 2002 “redescobriu a política” e fez umaampla cobertura da disputa, ao contrário do que tinhafeito em 1998 (MIGUEL, 2004).18 Pesquisa Datafolha de Intenção de voto para presidente,março de 2002 (cf. CESOP, 2011).19 Quando perguntados sobre “Qual era o maior problemado Brasil hoje” (Outubro de 2002, período de coleta dedados do ESEB), 41% dos eleitores afirmaram ser o“desemprego”. Quando perguntados “Qual era o maiorproblema do Brasil nos últimos quatro anos”, 36,6% disseramque era o “desemprego”. Ao avaliarem o “Governo

Fernando Henrique em relação ao combate contra o maiorproblema do Brasil nos últimos quatro anos”, 63,3% doseleitores classificaram-no como ruim ou péssimo.

20 O escândalo do Mensalão surgiu a partir de umaentrevista que o ex-Deputado Federal Roberto Jefferson(PDT) deu à Folha de S. Paulo, em 6 de Julho de 2005, emque acusou o governo de fazer pagamentos mensais aparlamentares em troca de apoio político no Congresso.Posteriormente, o Mensalão tornou-se um escândalo de“caixa-dois” da campanha política do PT. Bourne (2008)oferece uma excelente e detalhada descrição dessesacontecimentos.

21 Valores calculados a partir dos dados disponíveis nosítio de internet de Jairo Nicolau (2009).

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PEIXOTO, 2006; ABENSUR, CRIBARI-NETO& MENEZES, 2007; CARRARO et alii, 2007;HUNTER & POWER, 2007; RENNÓ, 2007;ZUCCO, 2008; LICIO, RENNÓ & CASTRO,2009; SINGER, 2009).

A corrupção, vista como o maior problema dopaís, não foi um fator importante na decisão damaioria dos eleitores. Rennó mostrou que “tantono primeiro quanto no 2º turnos, o desempenhodo governo Lula [...] e sentimentos quanto ao PTforam mais importantes [do que a corrupção] eserviram de escudos para protegê-lo das acusaçõesde corrupção” (RENNÓ, 2007, p. 278).

Do ponto de vista político-eleitoral, portanto,os impactos negativos de escândalos como oMensalão tiveram um efeito limitado. Mas osmesmos estudos mencionados acima tambémlevantaram uma questão relevante: ascaracterísticas demográficas dos eleitoresinterferiram diretamente na avaliação sobre osproblemas de corrupção. Desse modo, elasinterferiram tanto no resultado da eleição, comona dinâmica dos efeitos da cobertura da imprensano voto em 2006.

Durante boa parte do seu mandato, aaprovação do Presidente Lula era semelhante entreas pessoas pertencentes aos diferentes grupos deescolaridade. “Mas os três [básico, médio esuperior] começaram a divergir significativamentedepois que o escândalo do Mensalão estourou”(HUNTER & POWER, 2007, p. 13)22.

Como argumentam Hunter e Power (idem, p.16), os fatores econômicos e a avaliação

retrospectiva do governo tiveram maior impactojunto à parcela mais pobre e menos escolarizadada população. Segundo os autores, isso ocorreuporque a recuperação econômica durante o governoLula não proporcionou o mesmo crescimento darenda entre os mais privilegiados. Assim, enquantoos mais pobres tinham excelentes razões“econômicas” para votar no petista, as classes maisaltas tinham excelentes razões “econômicas” paranão votar nele. E, no Brasil, se levarmos em contaa diferença numérica de eleitores que pertencem aesses grupos, é o comportamento dos pobres emenos escolarizados que terá o maior efeitomacropolítico, como de fato acabou acontecendo.

VI. IMPRENSA E VOTO NA ELEIÇÃO PRESI-DENCIAL DE 2002

A Tabela 2 apresenta os resultados da aplicaçãodo modelo para os eleitores dos quatro principaiscandidatos da eleição presidencial de 2002. Emrelação à cobertura da imprensa, os resultadosmantiveram o padrão observado em outrostrabalhos, quando um modelo semelhante foiestimado tendo como variável dependente aintenção de voto geral dos candidatos (MUNDIM,2010b). Apenas as intenções de voto em Lula eCiro foram afetadas pelo conteúdo dos jornais.Ou seja, a cobertura positiva, a favor do candidato,rendia-lhe votos; e a cobertura negativa custava-lhe votos. Contudo, os grupos de eleitores dopetista e do candidato do PPS apresentaramdinâmicas diferentes. Antes de analisardetidamente esse fato, discuto os resultados daaplicação do modelo para os eleitores de Serra eGarotinho.

22 Para ter-se uma idéia, entre Dezembro de 2004 e Janeirode 2006, as pesquisas do Datafolha registraram uma quedade 6% na avaliação “Ótima/Boa” do Presidente entre oseleitores de escolaridade básica, de 9% entre os deescolaridade básica e 20% entre os de escolaridade superior.Quem cresceu foi a avaliação “Ruim/Péssimo”, pois aavaliação “Regular” permaneceu praticamente estávelnesse período.

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FONTES: Pesquisas eleitorais do Datafolha e do Ibope e Planilha Doxa-Iuperj (2002).NOTAS: 1. Método de Estimação: MQO. Todos os modelos produziram resíduos estacionários. Testes LM

detectaram problemas de autocorrelação serial apenas no modelo Lula “Médio” e Ciro “Médio”e “Superior”. A solução foi incluir uma segunda e uma terceira defasagem da variável dependen-te. Em relação a problemas de heterocedasticidade, os modelos Lula “Médio” e Ciro “Básico”foram estimados utilizando o estimador consistente de matrizes de covariância de White. Nosdemais modelos, não foram identificados problemas de heterocedasticidade.

2. ** p < 0,05 e * p < 0,1.

TABELA 2 – RESULTADOS DA APLICAÇÃO DO MODELO JUNTOS AOS ELEITORES COM DIFERENTESNÍVEIS DE ESCOLARIDADE, ELEIÇÃO PRESIDENCIAL DE 2002

VI.1. Cobertura da imprensa e voto para Serra

Enquanto a propaganda político-institucionale o HPGE no 2º turno foram importantes paraSerra, a avaliação negativa do governo e os debatespresidenciais tiraram-lhe votos. Em relação a estesúltimos, o resultado esperado era mesmo negativo,pois a pesquisa de Lourenço já havia demonstradoque “foi sobre o candidato José Serra, mais quequalquer outro, que observamos que os debatesconseguiram repercutir e transformar a opiniãodos eleitores pesquisados. Essa mudança foinegativa e significativa” (LOURENÇO, 2007, p.249).

Não surpreende que a avaliação negativa dogoverno tenha afetado o voto em Serra entre oseleitores menos escolarizados, já que problemasassociados à economia e a outros problemassociais geralmente afetam as pessoas desse grupode maneira mais profunda. Também nãosurpreende que essa mesma variável não tenhaalcançado significância estatística em relação aoseleitores dos outros dois grupos, uma vez que aestratégia de campanha adotada pelo tucano – o

candidato da “continuidade sem continuísmo”(ALMEIDA, 2006) – colocou-o como um críticodo governo.

VI.2. Cobertura da imprensa e voto paraGarotinho

Garotinho foi o candidato cujos votos menosdependiam das demais variáveis do modelo. É issoque explica por que a variável dependente defasadaé o melhor preditor da pequena variação observadana sua série histórica e por que os modelosaplicados ao candidato do PSB terem sempreobtido os menores resultados no Teste F e no R2

Ajustado.

As razões para isso estão fartamentedocumentadas em estudos que analisaram osresultados e as razões do voto na eleição de 2002.A grande força eleitoral de Garotinho era o votoevangélico (BOHN, 2004; CARREIRÃO &BARBETA, 2004; ALMEIDA, 2006;CARREIRÃO, 2007). Tal condição funcionavacomo um forte mecanismo de resistência doseleitores do candidato do PSB, mesmo com acobertura predominantemente negativa.

SERRA (PSDB) GAROTINHO (PSB) CIRO (PPS) BÁSICO MÉDIO SUP. BÁSICO MÉDIO SUP.

LULA (PT)BÁSICO MÉDIO SUP. BÁSICO MÉDIO SUP.

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O fato de os debates e a propaganda político-institucional terem trazido votos para Garotinhojunto aos eleitores de menor escolaridade tambémtem a ver com a sua base eleitoral evangélica.Como argumenta Bohn, “os fiéis evangélicos –sobretudo os membros das denominaçõespentecostais –, provêm de setores socioeco-nômicos significativamente desprivilegiados, tantono que se refere à renda quanto ao nível deescolaridade” (BOHN, 2004, p. 335). Portanto, érazoável que seu desempenho regular para ruimnos debates (LOURENÇO, 2007) tenhaimpressionado apenas os eleitores do grupo emque se concentrava a maior parte de seus eleitores.

A propaganda político-institucional deGarotinho teve um efeito contrário, eaparentemente inesperado para esse tipo deproduto midiático, junto aos eleitores de maiorescolaridade. A sua veiculação levou a uma perdasubstancial de votos. A explicação para essemovimento encontra-se no posicionamentopolítico do candidato do PSB. Seu discurso decampanha provavelmente afastou-o do eleitoradopouco disposto a aderir à suas perspectivasevangélica, populista e mais à esquerda(ALMEIDA, 2006).

IV.3. Cobertura da imprensa e voto para Lula

A propaganda político-institucional e o HPGEdo 2º turno foram fatores que influenciarampositivamente as intenções de voto em Lula. Emrelação à primeira, os efeitos foram maiores àmedida que aumentava a escolaridade doseleitores. Já as pessoas com nível educacionalmédio foram as que mais responderam aos apelosdo HGPE do 2º turno.

A variável cobertura da imprensa alcançousignificância estatística entre os eleitores deescolaridade básica e média, o que confirma ahipótese de que a cobertura da imprensa afetou ovoto dos eleitores. Mas como o valor doscoeficientes é bastante semelhante, ao menos emrelação a Lula não é razoável aceitar a hipótese deque os efeitos da cobertura seriam maiores entreas pessoas com escolaridade mais alta. Esseresultado leva à seguinte pergunta: como explicaro fato de que os grupos dos eleitores que menosleem jornal foram os mais influenciados pelacobertura da imprensa?

Em primeiro lugar, as informaçõesdisponibilizadas pelos jornais alcançaram os

eleitores menos escolarizados por meio de outrosprocessos comunicacionais e/ou veículos daimprensa, especialmente a televisão. Issoaconteceu porque os meios noticiosos utilizamprocedimentos similares de obtenção deinformações e levam em consideração o que cadaum deles publica, seja por princípio jornalísticoou por simples concorrência (COMSTOCK &SCHARRER, 2005). Logo, análises da coberturados jornais como a do Doxa-Iuperj oferecem umbom indicador da cobertura da mídia como umtodo (MUNDIM, 2010a).

Em segundo lugar, por possuírempredisposições partidárias e ideológicas frágeis ouinexistentes, os eleitores de menor escolaridadesão mais propícios à influência dos fluxos deinformação midiáticos, desde que sejamalcançados por eles (ZALLER, 1992; 1996). Nessesentido, são vítimas mais freqüentes de seu baixonível de informação política e da dependência emrelação à mídia em períodos eleitorais. O fato deos jornais terem enquadrado a crise econômicacomo um “Risco Lula” possivelmente aumentoua incerteza desses eleitores sobre a manutençãoda estabilidade econômica obtida com o PlanoReal. Nesse contexto, o caminho lógico a serseguido era afastar-se do petista em direção aoutros candidatos que ofereceriam menor “risco”,como Serra ou Ciro.

Obviamente, as ações de Lula e de suacampanha – a que Borba (2005) chamou deadesão ao establishment – conseguiram mudar atendência da cobertura, que passou a ser positiva,o que contribuiu para inverter a situação a favordo petista. Após conhecerem melhor, ou estaremmenos incertos, em relação aos rumos econômicosde um futuro governo Lula, que não comprometeriaa estabilidade econômica, os eleitores deescolaridade básica e média não tinham mais razõespara não aderirem à onda de mudança que permeavao ambiente político eleitoral brasileiro em 2002.Como eles são maioria no eleitorado, a coberturada imprensa acabou sendo determinante para avitória do candidato do PT.

VI.4. Cobertura da imprensa e voto para Ciro

Ao analisar os resultados de um painel duranteas eleições de 2002, Baker, Ames e Rennó (2006)identificaram efeitos da cobertura da mídia juntoaos eleitores de Ciro, mas não dos demaiscandidatos. Para os autores, tal fatoprovavelmente ocorreu porque faltava a Ciro um

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eleitorado mais ideologicamente motivado e redesde relacionamento mais fechadas e resistentes aestímulos externos, como era o caso de Lula, Serrae Garotinho – este por causa da força do votoevangélico.

Tal posição é corroborada pelos resultados daTabela 2. Sendo os eleitores de Lula em 2002 maisideologicamente motivados, especialmente entre osde escolaridade mais alta, a cobertura da imprensateria maior probabilidade de influenciar a opiniãojustamente das pessoas de nível de escolaridademais baixa. Mas o mesmo não deveria acontecercom os eleitores de Ciro. É justamente esse cenárioque emergiu da aplicação do modelo às intençõesde voto do candidato do PPS.

Por que não houve influência nos eleitores demenor escolaridade, como ocorreu com Lula? Epor que os efeitos da cobertura de Ciroconfirmaram a hipótese de que os efeitos dacobertura da imprensa tornam-se mais fortes emais robustos à medida que aumenta aescolaridade dos eleitores? Porque a intensidadedos fluxos de informação de Ciro foi bem menorque a do petista e até mesmo que a de Serra.Apenas por um breve período, justamente quandoassumiu uma posição de destaque na disputa, entremaio e agosto de 2002, o candidato do PPS tevealta visibilidade. Em todo o resto do tempo, ele“apareceu” bem menos que o petista e o tucano,e a intensidade de sua cobertura não foi forte osuficiente para alcançar os eleitores de todos osníveis de escolaridade (MUNDIM, 2010a).

Quando fez uso da televisão de um modobastante intenso, como aconteceu no período daspropagandas político-institucionais dos partidosde sua coligação, Ciro ganhou votos entre oseleitores de menor escolaridade. Isso explica porque a variável que mede o efeito da veiculação dapropaganda não alcançou significância estatísticajunto às pessoas dos demais grupos.

Os eleitores de escolaridade média e superiordependeram mais da cobertura da imprensa.Infelizmente para Ciro, esta acabou sendo umafaca de dois gumes. Em um primeiro momento,após a crise econômica – que aumentoutemporariamente a incerteza em torno de Lula –,as denúncias contra Ricardo Sérgio – queafetaram a candidatura de Serra –, e a propagandapolítico-institucional da sua coligação – queimpulsionaram seu nome junto aos eleitores –, ela

teve um efeito positivo. Mas após as denúnciascontra Paulinho e Martinez, e o início do HPGEdo 1º turno com a agressiva estratégica de ataquesde Serra contra o candidato do PPS, a coberturada imprensa teve um efeito negativo.

Os resultados da Tabela 2 mostram que oseleitores de Ciro foram afetados negativamentepelo HPGE do 1º turno de maneira distinta. O queexplica por que o candidato do PPS perdeu maisvotos entre as pessoas com escolaridade superioré simplesmente o fato de ser onde ele tinha maisvotos a perder. Os efeitos negativos da coberturada imprensa e do HPGE do 1º turno somente nãoforam maiores, entre os eleitores de escolaridademais alta, porque Ciro foi bem nos debates(LOURENÇO, 2007). É razoável, portanto, queele tenha colhido os louros de seu desempenho eamenizado uma derrocada mais profunda nasurnas.

Finalmente, resta analisar o impacto da avaliaçãonegativa do governo no voto em Ciro. Houve umcrescimento da avaliação negativa que se deu apósa crise econômica (MUNDIM, 2010a). Esta nãoabalou apenas a candidatura da Lula, embora ofrenesi midiático em torno do “Risco Lula” tenhaaumentado a incerteza em sobre os rumos do paíscom um governo petista. Como, nesse mesmoperíodo, a cobertura da imprensa de Serra eranegativa, graças aos problemas envolvendo RicardoSérgio, o próprio Serra e sua campanha (ALDÉ,2004), abriu-se um espaço para o surgimento deum terceiro candidato.

Ciro foi essa terceira opção. A veiculação daspropagandas político-institucionais da coligaçãodo candidato do PPS proporcionaram-lhe o ganhode uma boa quantidade de votos. Nesse contexto,Ciro parece ter conseguido passar a imagem deum candidato que não comprometeria aestabilidade econômica e que prometia combatero desemprego (ALMEIDA, 2006), ao menos entreos eleitores de menor escolaridade que buscavamuma alternativa ao PSDB e o PT.

VII. IMPRENSA E VOTO NA ELEIÇÃO PRESI-DENCIAL DE 2006

A Tabela 3 apresenta os resultados da aplicaçãodo modelo para os eleitores dos quatro principaiscandidatos da eleição presidencial de 2006. Masuma pequena modificação foi inserida em relaçãoao modelo estimado para 2002. Embora as análisessobre essa eleição fossem unânimes em assinalar

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a ausência de efeitos do conteúdo da imprensasobre o voto em Lula, era difícil aceitar que acobertura do petista – Presidente concorrendo àreeleição, candidato com a maior visibilidade detodos os outros, em um tom fortemente negativo– não tivesse qualquer impacto junto aos eleitores.Por esse motivo, as variáveis que medem acobertura da imprensa sobre o petista foramintroduzidas como preditores da variação dasintenções de voto dos demais candidatos.

Novamente, os resultados mantiveram opadrão observado em outros trabalhos em relaçãoà cobertura da imprensa (MUNDIM, 2010b).Como esperado, as intenções de voto em Lulanão foram afetadas pelo conteúdo dos jornais. Aavaliação retrospectiva do governo do petistarealmente funcionou como um escudo contra asua cobertura extremamente negativa,especialmente entre os eleitores de menorescolaridade.

FONTES: Pesquisas eleitorais do Datafolha e do Ibope e Planilha Doxa-Iuperj (2002).Notas: 1. Método de Estimação: MQO. Todos os modelos produziram resíduos estacionários. Testes LM

detectaram problemas de autocorrelação serial apenas nos modelos Lula “Médio” (teste-F =2,65, p-valor = 0,09). Cristovam “Básico” (teste-F = 3,89, p-valor = 0,04). A inclusão de uma oumais variáveis dependentes defasadas não corrigiu o problema. Por isso, os resultados dessesmodelos devem ser analisados com cautela. Testes White não detectaram problemas deheterocedasticidade em nenhum dos modelos.

2. ** p < 0,05 e * p < 0,1.

TABELA 3 – RESULTADOS DA APLICAÇÃO DO MODELO JUNTOS AOS ELEITORES COM DIFERENTESNÍVEIS DE ESCOLARIDADE, ELEIÇÃO PRESIDENCIAL DE 2006

VII.1. Cobertura da imprensa e voto para Lula

O HPGE do 1º turno fez que o petista perdessevotos entre os eleitores de menor escolaridade.Figueiredo (2007) e Coimbra (2007) já haviamchamado a atenção para o fato que eleitores“menos interessados” e “menos informados”haviam se afastado de Lula, especialmente no finaldo 1º turno. Comparativamente, o interessante éperceber que o modelo agregado não foi capazde demonstrar esse efeito (idem).

Mas os votos perdidos no final do 1º turnoforam praticamente recuperados com o HPGE do

2º turno. Segundo Figueiredo, “tão logo começouo 2º turno, Lula participou dos debates, a mídiadiminuiu seu ‘tom’ negativo e o debate entre osdois candidatos e suas campanhas ganhouconteúdos programáticos e ideológicos”(FIGUEIREDO, 2007, p. 18). Já a avaliaçãonegativa teve um impacto maior junto aos eleitoresde escolaridade média, que seriam menos afetadospelos programas sociais do governo. Isso tambémexplica por que, entre as pessoas comescolaridade superior, a avaliação negativa dogoverno não ser um preditor dos votos. Eles jáhaviam aderido à oposição.

ALCKMIN (PSDB) H. HELENA (PSOL) CRISTOVAM (PDT)

BÁSICO MÉDIO SUP. BÁSICO MÉDIO SUP.

LULA (PT)

BÁSICO MÉDIO SUP. BÁSICO MÉDIO SUP.

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VII.2. Cobertura da imprensa e voto para Alckmin

Os resultados apresentados são bastanteinteressantes. Os valores dos coeficientes dacobertura da imprensa de Lula candidato seguema lógica de uma das hipóteses: ainda que asdiferenças na magnitude dos coeficientes não sejatão grande – apenas 1,4 vezes maior – seus efeitoscrescem à medida que aumenta o níveleducacional dos eleitores. Essa mesma dinâmicaacontece com os coeficientes de outras duasvariáveis midiáticas do modelo: a propagandapolítico-institucional e o HPGE do 2º turno.

Entendo que isso aconteceu por duas razões.Primeiro porque a exposição dos eleitores aosjornais e às comunicações políticas como um todocresce à medida que aumentam seus níveis deescolaridade. Conseqüentemente, cresce aprobabilidade de o conteúdo do que é veiculadona imprensa e na mídia vir a afetar suas decisõesde voto. Em segundo lugar porque, conforme adiscussão sobre as razões do voto na eleição de2006, os eleitores de maior escolaridade tinhammenos interesses econômicos do que os eleitoresde menor escolaridade para apoiar a reeleição doPresidente. Logo, migraram para Alckmin.

O fato de a cobertura da imprensa de Lulacandidato ter afetado as intenções de voto emAlckmin entre os eleitores de menor escolaridademostra para onde foram alguns dos votos perdidospelo petista no final do 1º turno, em decorrênciada cobertura fortemente negativa sobre ele nesseperíodo. Uma explicação para esse deslocamentodos eleitores encontra respaldo na análise deCoimbra: “provavelmente confusas, semelementos de intelecção para avaliar e interpretaras informações que sobre elas foram despejadas,tais pessoas ficaram sem saber o que deviamfazer, se abandonavam a sua propensão de votarem Lula ou permaneciam com ela” (COIMBRA,2007, p. 207).

Contudo, eu também argumentaria que muitosdesses eleitores utilizaram seus votos de maneiraestratégica, em busca de algum tipo de prestaçãode contas do Presidente em relação aos episódiosdo dossiê tucano e da ausência no debate. Como,no 2º turno, Lula compareceu aos debates eexpôs-se ao escrutínio da imprensa, tais dúvidasou confusões dissiparam-se ou foramamenizadas, e aqueles que o tinham abandonadodo final do 1º turno acharam preferível dar-lhemais quatro anos de governo.

Os mesmos motivos que levaram os eleitoresde escolaridade superior a abandonar Lula em2006 podem ser usados para explicar por quedecidiram apoiar Alckmin. Isso explica por que aavaliação do Presidente teve impacto no votoapenas desses eleitores. O fato de a cobertura deLula candidato não ter afetado as suas intençõesde voto mostra, apenas, que eles já haviamdecidido em quem iriam votar.

O efeito da propaganda político-institucionaljunto aos eleitores mais escolarizados reforça essainterpretação. Comparativamente, pode-se dizerque eles esperavam com maior ansiedade que osdemais a definição do candidato do PSDB. Emborasejam significativos e robustos junto aos eleitoresde todos os níveis, os efeitos da veiculação dapropaganda foram, respectivamente, 1,47 e 1,22vezes maior para as pessoas com escolaridadesuperior em relação às com escolaridade básica emédia.

Movimento semelhante aconteceu em relaçãoao HPGE do 2º turno. Os efeitos foram,respectivamente, 2,85 e 1,49 vezes maiores paraos eleitores de escolaridade superior em relaçãoaos outros dois grupos de escolaridade23. SegundoRennó (2007), Alckmin beneficiou-se da maioriados votos oriundos de Cristovam, cujos eleitorestinham maior sensibilidade aos escândalos decorrupção. Como a maioria dos votos docandidato do PDT estava no grupo de pessoas demaior escolaridade – 7% das intenções de votoàs vésperas do 1º turno –, não surpreende que otucano tenha obtido um salto tão expressivo.

O calcanhar de Aquiles de Alckmin realmentefoi o seu desempenho nos debates. Os dadosmostram que eles levaram a uma perda de votosdo tucano justamente entre os eleitores maisafetados pela cobertura negativa da imprensa sobreLula candidato. Embora essa cobertura negativatenha continuado no 2º turno, mesmo que em umaintensidade menor, seu efeito foi anulado pelofraco desempenho de Alckmin em outros eventosda campanha. Isso teve um impacto direto eimportante nas suas intenções de voto.

Alckmin teve seu melhor momento na disputalogo após o escândalo do dossiê e o ápice da

23 Embora Lula também tenha se beneficiado da migraçãode votos entre os dois turnos, os ganhos foram menores,respectivamente 2,33 e 1,14.

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cobertura negativa de Lula candidato. Ele chegou,ainda que por pouco tempo, a ultrapassar o petistaentre os eleitores de escolaridade média. Mas esseefeito não foi duradouro pelos motivos expostosacima. Caso essa tendência tivesse se mantido, ahistória da eleição teria sido pelo menos um poucomais emocionante, já que o tucano ainda teria deganhar mais votos entre os eleitores menosescolarizados, uma tarefa extremamente difícil em2006.

VII.3. Cobertura da imprensa e voto para HeloísaHelena

Heloísa Helena foi a candidata que mais sebeneficiou da própria cobertura. Uma dasinformações mais importantes da Tabela 3 é queela confirma as hipóteses teóricas. Os coeficientesque medem o efeito da variável cobertura daimprensa são mais fortes à medida que cresce aescolaridade dos eleitores. No seu momento demaior exposição positiva, por exemplo, a candidatado PSOL ganhou cerda de 4,02% de votos entreas pessoas com escolaridade média, e cerca de8,49% entre as de escolaridade superior, mantidasas demais variáveis constantes.

Heloísa Helena também ganhou votos com oHPGE do 1º turno, uma informação que não foicaptada pelo modelo estimado com os eleitoresde maneira agregada (MUNDIM, 2010b). Poroutro lado, a candidata do PSOL perdeu votoscom a cobertura de Lula candidato entre oseleitores de escolaridade média e com a veiculaçãode sua propaganda político-institucional entre oseleitores de escolaridade superior. Uma possívelexplicação para esses resultados é a rejeição quemuitas dessas pessoas tinham em relação aodiscurso radical de esquerda da ex-Senadora.

A avaliação negativa de Lula também foi umdos fatores que contribuíram para explicar osvotos em Heloísa Helena entre os eleitores deescolaridade média e superior. Isso reflete odescontentamento de pessoas pertencentes aesses grupos com o Presidente, seja por motivoseconômicos ou pelas denúncias de corrupção.

VII.4. Cobertura da imprensa e voto paraCristovam

Nenhuma das variáveis do modelo mostrou-se capaz de explicar as razões do voto emCristovam para os eleitores com escolaridadebásica. Isso aconteceu, simplesmente, porque ocandidato do PDT foi ignorado por eles.

Os eleitores de Cristovam tinham escolaridadeacima da básica. Isso explica por que a estimaçãodo modelo junto a esses grupos produziu melhoresresultados. Percebe-se, contudo, que efeitosrealmente substantivos, que renderam aocandidato do PDT ganhos de mais de 1% devotos, somente ocorreram entre os eleitores deescolaridade superior. Mantidas as demaisvariáveis constantes, Cristovam ganhou 5,29%de votos junto a eles durante o período mais críticoda cobertura de Lula candidato, após o surgimentodo escândalo do dossiê.

Outro resultado importante, e que não pode serobservado no modelo estimado com as intençõesde voto geral do candidato (MUNDIM, 2010b), éo efeito do HPGE no 1º turno, e da avaliaçãonegativa do governo, justamente entre os eleitoresde escolaridade superior. Isso mostra que, maisuma vez, as pessoas desse grupo estavam em buscade uma opção que não fosse nem Lula, nemAlckmin, já que efeitos semelhantes aconteceramem relação aos eleitores de Heloísa Helena.

VIII. CONCLUSÕES

A principal conclusão deste artigo é que aimprensa é, sim, um elemento importante dasdisputas presidenciais brasileiras. As análisesmostraram que tanto em 2002 quanto em 2006as intenções de voto de seis dos oito principaiscandidatos ao cargo de Presidente da Repúblicaforam afetadas pelos fluxos de informaçãoprovenientes de quatro grandes jornais impressosdo país.

Em outros trabalhos (MUNDIM, 2010a;2010b), argumentei que a imprensa ajudou Lula aeleger-se Presidente em 2002. Os resultadosapresentados reforçam essa interpretação. Éverdade que, por um breve período de tempo, asua vitória fora ameaçada pela crise econômicadaquele ano, deflagrada em razão das incertezasdo mercado a um possível futuro governo dopetista. Contudo, depois de período deturbulências, esse quadro inverteu-se.

Deve-se reconhecer, portanto, que a adesãoao establishment de Lula em 2002 foi umaestratégia bem-sucedida. Ela fez que a coberturada imprensa do petista tornasse-se predominante-mente positiva ao mesmo tempo em que suaexposição ganhava intensidade, pois ele era o lídernas pesquisas e estava cada vez mais próximo deuma vitória histórica.

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Esse é um fato muito importante, especialmentequando se tem em vista que a cobertura da imprensapermitiu-lhe ganhar votos junto aos grupos deeleitores de escolaridade fundamental e média, emque se concentram mais de 85% dos votos noBrasil. Assim, do ponto de vista analítico, osresultados mostraram a utilidade e, por que não, anecessidade de levar-se em conta o papel dasvariáveis midiáticas, entre elas a cobertura daimprensa, em qualquer análise sobre a eleição de2002 e a sua dinâmica propriamente dita.

Em 2006, a cobertura da imprensa de Lula foio oposto do que ocorrera quatro anos antes. Desdeo início ela foi predominantemente negativa. Essainversão deu-se por motivos que remontam aoescândalo do Mensalão. Desde então, os fluxosde informação sobre o petista foram tão negativosque, dez meses antes da eleição, a revista Vejachegou a dizer que Lula seria derrotado em 2006,já que suas políticas assistencialistas não estavamfuncionando (SINGER, 2009).

Esse prognóstico teria sido completamenterechaçado nas urnas, ainda no 1º turno, se no dia15 de setembro não houvesse surgido um novoescândalo envolvendo o PT: o do dossiê tucano.A partir daí, até o dia da eleição, a cobertura deLula tornou-se não apenas predominante, masacima de tudo, fortemente negativa, tendo tidoseu pico de negatividade após ele ter se recusadoa participar do 3º debate presidencial, no dia 28de Setembro.

Mesmo que as intenções de voto em Lulatenham resistido à cobertura negativa da imprensa,esta afetou as intenções de voto de seu principalconcorrente, Alckmin, e de Cristovam. Somadoao efeito negativo do HPGE do 1º turno, que tirouvotos do petista junto aos eleitores de nível deescolaridade básica – a maior parcela do eleitorado–, o surgimento do dossiê tucano, e a coberturanegativa que se segue ao dia 15 de setembro,impossibilitaram a vitória de Lula já no 1º turno.Caso a sua avaliação retrospectiva não tivesserealmente funcionado como um escudo protetorcontra as críticas, o resultado da eleição de 2006poderia ter sido outro.

Na primeira parte deste artigo chamei aatenção para o fato de que poucos trabalhos noBrasil haviam implementado análises empíricasmais consistente para investigar os efeitos dacobertura da imprensa no voto dos eleitores

(RUBIM & AZEVEDO, 1998; COLLING, 2006a;2006b; PORTO, 2008). É salutar, portanto, queeu termine apontando quais são, a meu ver, asprincipais contribuições teóricas deste texto paraos estudos sobre comportamento político e efeitosda mídia no Brasil.

Engrosso o coro aos argumentos de autorescomo Porto (2007; 2008), para quem os estudoseleitorais que ignoram o papel da mídia apresentamalgumas limitações, ainda mais se considerarmosa importância da comunicação para as campanhaspolíticas e dos meios de informação como umtodo. Determinadas dinâmicas de perdas e ganhosde votos no decorrer da disputa somente podemser compreendidas se levarmos em conta variáveiscomo a cobertura da imprensa, a veiculação depropagandas político-institucionais dos partidos,o início do HPGE e os debates presidenciais.

Obviamente, essa é uma via de mão dupla.Trabalhos que simplesmente defendem que amídia definiu o resultado de uma eleição, ignorandoo papel de outras variáveis importantes comoavaliações retrospectivas e identidades partidárias,também são limitados. Nesse sentido, o ideal seriaa conjunção dos estudos sobre comportamentopolítico com as pesquisas sobre efeitos da mídia,apoiados por métodos estatísticos consistentes.Como afirmaram Rubim e Azevedo (1998) hámais de dez anos, essa convergência levaria aodesenvolvimento, no Brasil, de um dos maisimportantes campos de pesquisa das CiênciasSociais.

Outra contribuição importante do modelo (1)foi demonstrar a importância de desagregar-se oeleitorado, levando-se em conta as suas diferentescaracterísticas sociais. Esse tipo de procedimentometodológico já é amplamente realizado nosestudos eleitorais, mesmo no Brasil. Os exemplosmais recentes são as análises sobre a eleição de2006 e as discussões sobre a mudança da basesocial do voto em Lula.

Contudo, a desagregação do eleitorado aindaé pouco ou nada executada em estudos sobreefeitos da mídia ou nos trabalhos que buscamanalisar o papel da imprensa nas eleiçõespresidenciais brasileiras. Essa é uma necessidadepremente, ainda mais quando se sabe que os níveisde exposição dos eleitores aos meios deinformação está distribuída de modo muitodesigual na sociedade. Quando as pessoas não se

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expõem aos meios de comunicação da mesmamaneira, não podem ser, e nem são, igualmenteinfluenciados por eles. Sem essa premissa, teriasido mais difícil compreender a dinâmica de

perdas e ganhos de votos dos eleitores nas duaseleições analisadas. Para as pesquisas e análisesfuturas a mensagem que fica é, portanto:desagregar, desagregar.

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 20, Nº 41: 255-260 FEV. 2012

FROM NATIONAL-DEVELOPMENTALISM TO NEOLIBERALISM: THE REPUBLICANPARTY, THE NATIONAL STATE AND TAXATION

Clayton Mendonça Cunha Filho

The present paper seeks an understanding of the ideology of the Republican Party of the UnitedStates of America with respect to the State, through its ideas and position regarding the way theState is financed: the taxation of United States citizens. For this purpose, we have looked at thehistory of the Republican Party and made a case study of the tax cuts implemented by PresidentGeorge Bush during his first mandate (2001-2004), asking what they were, who they benefitted andwhat kind of impact they had on the financing of United States state machinery. We analyze theideological reasons for these cuts and how they reflect the current Republican position on the State,contextualizing and contrasting this position with those that were adopted and defended by the Partyat the time of its founding and over the course of its history. We discover than the history of theRepublican Party can be divided into two ideological phases: the first one, which runs from itsfounding in 1854 through the mid 1920s in which the State is seen as inducing economic developmentand maintaining national unity and the second, which brings us up to the present, in which the Stategradually cedes its role in inciting the economy to one in which individual freedom should prevail andin which the State is increasingly seen as an obstacle which should be eliminated.

KEYWORDS: Republican Party; Taxes; State; Ideology.

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SOCIO-PROFESSIONAL GROUPS, ACADEMIC DEGREES AND ELECTORAL DISPUTE

Odaci Luiz Coradini

This article presents results from an analysis of the relationship between social position, financialinvestment in campaigns and results of electoral disputes at different levels. We have included 2004municipal elections and 2006 general elections candidates. In order to consider resources emanatingfrom social position, we focus on professional status and academic title. We have also examined theeffect of the occupation held prior to assuming elected office. According to our general hypothesis,on the one hand, a process of greater concentration of occupational categories representing highersocial position and closely associated with valued academic degrees can be identified as we move upthe hierarchy toward more prestigious offices. Furthermore, in electoral disputes the effects of theseresources make themselves felt in candidates’ chances for success or failure. On the other hand,inaddition to resources associated with professions and educational level, where offices are prestigiousand chances of electoral success higher, we identify a corresponding increase in the occupational“charisma” linked to candidates’ previous professional activities.

KEYWORDS: Elections; Social Position; Social Selection; Academic Degrees; Politics andCharismatic Position; Electoral Processes; Financial Investment.

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THE PRESS AND THE VOTE IN THE 2002 AND 2006 BRAZILIAN PRESIDENTIALCAMPAIGNS

Pedro Santos Mundim

This article presents the results of research on the effects of press coverage of voting in the 2002and 2006 Brazilian presidential elections of. We argue that it was an important factor in both campaigns.Our dependent variable is made up of a historical series on intention to vote for the major candidates:Lula (Worker’s Party or PT, Partido dos Trabalhadores), Serra (Brazilian Social Democratic Party,or PSDB, Partido da Social Democracia Brasileira), Garotinho (Brazilian Socialist Party or PSB,

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REVISTA DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA V. 20, Nº 41: 255-260 FEV. 2012

Partido Socialista Brasileiro) and Ciro Gomes (Popular Socialist Party or PPS, Partido PopularSocialista) in 2002, and Lula, Alckmin (PSDB), Heloísa Helena (Party of Socialism and Freedom, orPSOL, Partido Socialismo e Liberdade) and Cristovam Buarque (Democratic Worker’s Party, orPDT, Partido Democrático Trabalhista) in 2006. Our main explanatory variable is electoral coveragein the country’s four major daily newspapers: Folha de S. Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globoand Jornal do Brasil. The following control variables complete our model: candidates’ partypropaganda, the free publicly-sponsored electoral broadcasting time - known as Horário PolíticoGratuito Eleitoral - in the first and second rounds, presidential debates and presidential popularityrates. Models were estimated through MQO. Test results indicate that in 2002, press coverage givento candidates Lula and Ciro Gomes was one of factors responsible for the variation observed invoting intentions. In 2006, dynamics were a bit more complex. The only the intentions to vote affectedby coverage were those for candidate Heloisa Helena. Furthermore, it is surprising that Lula’sextremely negative coverage did not cost him votes. Yet this coverage did have an important indirectimpact on candidates Alckmin and Cristovam Buarque. Since this impact was larger during thescandal involving PSDB activities, we can assert that press coverage contributed decisively to theneed for a second round in the last presidential election. These results are sustained even whenapplied to analysis of voting patterns for voters with different educational levels, used as a means ofcontrolling for different levels of exposure to newspaper coverage.

KEYWORDS: Press Coverage; Media Effects; Brazilian Presidential Elections.

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PROFESSIONAL JUDGES? CAREER PATTERNS FOR MEMBERS OF THE BRAZILIAN(1829-2008) AND UNITED STATES (1789-2008) SUPREME COURTS

Luciano Da Ros

This article compares the career profiles of U.S. and Brazilian supreme court judges throughout thepolitical history of these two countries. For these purposes, we analyze data on professional andjuridical experience and the circulation of positions within other branches of State power, includingelected offices, prior to Supreme Court appointment. In particular, this examination reveals similaritiesand differences of professionalization patterns among those who are the height of judicial power inboth countries, allowing for discussion of the political bases of this phenomenon within the juridicalfield. Most significantly, the article suggests that periods of increased recruitment of individualslinked to specifically juridical professions occurs as a response to the strengthening of the courtsthemselves. In the face of a new stage of increased prominence of these institutions, people who arerecognizably qualified in the area become an alternative source of legitimation for the organsthemselves, whether in contexts of competition or of the political hegemony of particular groups.

KEYWORDS: Juridical Careers; Selection of Judges; Professionalization; Juridical Professions.

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THE “DOCTORS” OF A NATION: THE ACADEMIC BACKGROUND OF BRAZILIANSENATORS AND ASSOCIATED VARIABLES

Pedro Neiva and Maurício Izumi

We provide a detailed description of the academic background of Brazilian senators during the 1987-2006 period, attempting to identify emerging cross-sectional and longitudinal patterns. We also attemptto verify to what extent backgrounds are related to region of origin, political party affiliation, participationin commissions, parliamentary experience and behavior within Senate plenaries. We discern apredominance of senators with Law degrees, yet a longitudinal perspective shows us that thisadvantage is on the decline. Other important groups are engineers, health professionals and peoplewith backgrounds in the humanities. Particular mention should be given to the role of senators with