importância da água como elemento de sucesso na política ... · região de maior crescimento...

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ANO 6 | 2010 | Nº 11 ISSN 1659-2697 SAÚDE INCLUSÃO HÍDRICA EM TODO PROGRAMA DE ATENÇÃO À AIDS A importância do acesso à qualidade e quantidade de água na prevenção de infecções oportunistas em pacientes portadores do vírus da imunodeficiência humana INTERNACIONAL ÁGUA NA DIPLOMACIA MUNDIAL Hillary Clinton, Secretária de Estado dos EUA fala sobre a importância da água como elemento de sucesso na política exterior da Administração Obama METRÓPOLES AMEAÇADAS Das 40 grandes cidades existentes no mundo, 6 estão na América Latina

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ANO 6 | 2010 | Nº 11

ISSN

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SAÚDE

INCLUSÃO HÍDRICA EM TODO PROGRAMA DE ATENÇÃO À AIDS A importância do acesso à qualidade e quantidade de água na prevenção de infecções oportunistas em pacientes portadores do vírus da imunodeficiência humana

INTERNACIONAL

ÁGUA NA DIPLOMACIA MUNDIALHillary Clinton, Secretária de Estado dos EUA fala sobre a importância da água como elemento de sucesso na política exterior da Administração Obama

METRÓPOLES AMEAÇADASDas 40 grandes cidades existentes no mundo, 6 estão na América Latina

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CONSELHO EDITORIAL

Beneditto Braga | Vice-presidente do Conselho Mundial de Água (WWC). Professor Titular da EscolaPolitécnica da USP (Brasil)

Maureen Ballestero | Presidente da Global Water Partnership (GWP) Costa Rica. Membro do Comitê Diretivo da GWP América Central

Claudio Osorio | Assessor Regional em Redução de Desastres, Iniciativa Água e Saneamento UNICEF TACRO

Eduardo Mestre | Diretor da Tribuna da Água, Expo Zaragoza 2008

DIRETORA GERAL | Yazmin Trejos

PRODUÇÃO EDITORIAL:Satori Editorial | www.satoreditorial.com

EDITOR CHEFE | Boris RamirezEDITORA DE ARTE | Carmen AbdoDESIGN | Gerson TungREVISÃO | María del Mar GómezFOTO CAPA | Carmen Abdo

COLABORADORESHillary Clinton, Secretária de Estado EUAFederico Mayor Zaragoza, Presidente da Fundação para uma Nova Cultura de Paz. Ex-diretor geral da UNESCOAntonio Vives, Universidade de Stanford.Paula Beato, Secretária Geral Ibero-AmericanaDr. Miguel Angel Hernández | Eng. Rodolfo Pérez García |Engª. Adriana Coyotl, Depto. de Pesquisa em Zeólitas, Instituto de Ciências - Faculdade de Engenharia Química da Universidade Autônoma de Puebla (México)Guillermo Tapia Nicola, Secretário Executivo da FederaçãoLatino-Americana de Cidades, Municípios e Associações de Governos Locais (FLACMA)

ADMINISTRAÇÃO E DISTRIBUIÇÃOLuis Alonso Ramirez

VERSÃO EM PORTUGUÊSElisa Homem de Mello e Candeias | EB VERSÃO BRASILEIRA

FALE [email protected]

Uma publicação promovida pelo Grupo AMANCO

ANO 6 | 2010 | Nº 11

ISSN

165

9-26

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ANO 6 | 2010 | Nº 11

SAÚDE

INCLUSÃO HÍDRICA EM TODO PROGRAMA DE ATENÇÃO À AIDS A importância do acesso à qualidade e quantidade de água na prevenção de infecções oportunistas em pacientes portadores do vírus da imunode� ciência humana

INTERNACIONAL

ÁGUA NA DIPLOMACIA MUNDIALHillary Clinton, Secretária de Estado dos EUA fala sobre a importância da água como elemento de sucesso na política exterior da Administração Obama

METRÓPOLES AMEAÇADASDas 40 grandes cidades existentes no mundo, 6 estão na América Latina

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SUMÁRIO

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capaMETRÓPOLES AMEAÇADAS Crescimento urbano, contaminação, má administração de águas residuais e resíduos sólidos, falta de investimentos, impactos causados pela mudança climática. Realidades das cidades da América Latina, a região de maior crescimento urbano do mundo: 471 milhões de pessoas demandam água em suas cidades, das quais 6 são grandes centro urbanos com quase 65 milhões de habitantes.

06EconomIaRUMO À ORDEM FINANCEIRA E ECONÔMICAPolíticas econômicas, instituições e instrumentos financeiros conhecidos se deparam com resistência política e falta de recursos humanos e financeiros. Mesmo quando alguns destes obstáculos são difíceis de superar, os frutos da aplicação de políticas hídricas podem atrair mais e melhores investidores.

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SaÚDEA ÁGUA DEVE SER INCLUÍDA EM TODO O PROGRAMA DE ATENÇÃO À AIDSAcesso à qualidade e quantidade hídrica e infra-estrutura de saneamento ajudam a prevenir infecções oportunistas em pacientes portadores do HIV.

34cULTURaACROBACIAS E MALABARES PELA ÁGUAGuy Laliberté utiliza como cenário duas de suas melhores criações – o Cirque du Soleil e a Fundação One Drop – para unir estrelas do cinema e da música, líderes e ativistas mundiais em prol da proteção da água.38InTERnacIonaLUM TEMA PARA AGENDA DIPLOMÁTICAPor Hillary Clinton - Secretária de Estado dos Estados Unidos da América.Durante a celebração do Dia Mundial da Água 2010, Hilary Clinton foi clara ao destacar perante os membros da Sociedade Geográfica Nacional os compromissos do governo Barack Obama com os recursos hídricos.

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pERSpEcTIVa

LEgISLação

BREVES Do mUnDo

opInIão

TEcnoLogIa

SITES DE InTERESSE

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aLTo pERFIL / EnTREVISTa ExcLUSIVaGRANDES, MÉDIAS E PEQUENAS CIDADES PRECISAMDE PLANEJAMENTO HÍDRICO URBANO URGENTEGuillermo Tapia Nicola, Secretário Executivo da FLACMA leva a sério o desenvolvimento urbano regional e seus grandes desafios.

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Hillary Clinton, Secretária de Estado dos Estados Unidos, cogita de se colocar o tema hídrico na agenda mundial, por ser este um recurso que representa uma das grandes

oportunidades diplomáticas de nosso tempo, que poderá sal-var milhares de vidas, garantir a segurança alimentar, promover interesses de segurança nacional e proteger o meio ambiente.

Federico Mayor Zaragoza, presidente da Fundação Nova Cultura da Água e ex-diretor geral da UNESCO, faz um apelo em prol da construção de um mundo possível, com base na gestão hí-drica como questão de justiça social e de consciência ambiental. Segundo Zaragoza, a base para tal deve ser igualdade, transpa-rência e acesso entre as gerações e ao longo delas.

Federico Tapia Nicola, secretário executivo da Federação Latino-Americana de Cidades, Municípios e Associações de Governos Locais, nos lembra que todos os serviços de abastecimento hídrico necessitam de planejamento, formulação de projetos, cálculos de custos, de tarifas, de disponibilidade de pagamento, previsões de diminuição da degradação ambiental e sustentabi-lidade, para poderem cumprir com seus objetivos junto aos 471 milhões de latino-americanos que vivem nas grandes cidades da região.

Guy Laliberté, fundador do Cirque du Soleil e da Fundação One Drop, nos faz sonhar com um mundo mais justo, aonde cada ser humano tenha acesso à água limpa e possa viver com dignidade e saúde. Neste sonho, ele investe energia, força de vontade e criatividade.

Estas quatro personalidades mundiais compartilham suas idéias, ações, projetos, programas e sonhos nesta Edição, abrindo um novo decênio e sensibilizando a todos a respeito dos temas

água e saneamento em nossa história editorial. Eles ilustram o caminho desta publicação pioneira na América Latina, que de-monstra, uma vez mais, ser uma plataforma plural, multisetorial e aberta em seu renovado esforço de compartilhar com seus lei-tores as realidades e aspirações de diferentes setores que, apesar de pontos de vista concordantes ou opostos, têm em comum o compromisso humanitário de melhorar as condições do setor hídrico e do saneamento na região e no mundo.

Este afã nos leva a explorar, nesta Edição, os desafios e as oportu-nidades latino-americanos de atender à pressão que os recursos hídricos exercem sobre as grandes e médias cidades da região mais urbanizada do mundo. O tema é fundamental, pois nos faz reconhecer que o crescimento urbano acelerado, bem como a falta de investimento, o manejo inadequado de águas residuais e resíduos sólidos e os impactos da mudança climática são fatores que geram pressões sobre o acesso à água.

Especial atenção merecem os 64 milhões de habitantes das 6 maiores metrópoles latino-americanas: Zona Metropolitana da Cidade do México, Grande Buenos Aires, Área Metropolitana de São Paulo, Bogotá Distrito Capital, Lima Metropolitana e a Grande Santiago, as quais necessitam da construção de um pre-sente e um futuro melhor para todos. E a água que corre por seus generosos sistemas hídricos deve ser a torrente de mudança e transformação.

Nossa intenção primordial é a de continuar fortalecendo, junto às autoridades latino-americanas e mundiais, esta grande base de conteúdos, informações, estudos, iniciativas e imagens em torno da água como fonte refrescante, poderosa e moderna, para que se torne cada vez mais acessível a todos que aprofundam seu conhecimento.

Yazmín TrejosDiretora - aqua Vitae

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PERSPECTIVA

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M E T R Ó P O L E S DA AMÉRICA LATINAENFRENTAM FORTES MUDANÇAS DE CLIMA

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• CresCimento urbano, Contaminação, má administração das águas residuais e resíduos sólidos, Falta de investimento, impaCtos Causados pela mudança ClimátiCa: estas são as realidades das Cidades na região Com maior CresCimento urbano do mundo.

• resolver estes problemas requer novos modelos equitativos e sustentáveis para garantir água, saneamento e tratamento para 471 milhões de habitantes das zonas urbanas.

• das 40 mega regiões existentes no mundo, pelo menos 6 estão na amériCa latina.

Por BORIS RAMÍREZ

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nos primeiros meses de 2010, as grandes metrópoles da américa latina foram impactadas pelas devastações provo-cadas por chuvas, inundações, desabamentos e secas que

tiveram impacto na já abalada infra-estrutura de abastecimento, saneamento e tratamento de águas em uma região de alto cresci-mento urbano. tais fatos nos obrigam a colocar o tema na agenda da discussão.

são paulo / rio de Janeiro, dezembro de 2009 – fevereiro de 2010. a grande quantidade de chuva que caiu durante 50 dias causou uma das piores tragédias da história recente do brasil. a água dei-xou o trânsito caótico, fez rios transbordarem, contaminou fontes e paralisou as atividades produtivas. obrigou cerca de 85 mil pessoas a evacuarem as cidades de são paulo e rio de Janeiro, além de ter causado estragos também em minas gerais, espírito santo, paraná, santa Catarina e rio grande do sul.

Caracas, janeiro de 2010. a capital e várias das principais cidades da venezuela enfrentaram uma onda de calor com temperaturas de até 45 graus centígrados, quando a média em Caracas é de 27 graus centígrados. devido às poucas chuvas, as principais represas estão se esvaziando e até o famoso salto del ángel está secando. o governo declarou estado de emergência e pediu que a população consumisse a menor quantidade de água possível.

Cidade do méxico, fevereiro de 2010. após 24 horas de chuva ininterrupta, o Canal de la Compañía, na região oriente do vale do méxico, transbordou e 18 mil pessoas foram atingidas em vale del Chalco e ixtapaluca, além dos municípios de ecatepec e nezahual-cóyotl, devido à enchente do rio dos remédios. entre 15 mil e 20 mil pessoas sofreram danos materiais.

rio de Janeiro, abril de 2010. o pior temporal do estado resultou em 95 mortes. os principais afetados foram habitantes de favelas como o morro das mangueiras. vários pontos da cidade ficaram em baixo d’água por vários dias, período no qual todas as ativida-

des foram suspensas. as encostas de angra dos reis e de ilha grande se tornaram verdadeiras cataratas de barro e pedras, arrastando moradias e a frondosa vegetação da mata atlântica, o saldo: cerca de 60 vítimas fatais.

bogotá, abril de 2010. três pessoas mortas, uma ferida e 3.098 atingidas. este foi o saldo da primeira temporada de chuvas na Colômbia. do total de 32 departamentos existentes no país, 12 foram afetados pelas fortes precipitações pluviométricas. o primeiro período de chuvas na Colômbia começou em meados de março e deverá culminar em junho próximo.

todos estes eventos naturais evidenciam alguns dos aspectos não desejados das grandes cidades da américa latina: colapso ou déficit de serviços básicos – água e saneamento –, rápido crescimento urbano, ausência de planejamento e crescente con-taminação.

os desafios das metrópoles latino-americanas devem levar em conta um processo acelerado de urbanização, para o qual a Co-missão econômica para américa latina (Cepal) já havia adver-tido ao classificar a região como sendo a mais urbanizada do mundo, cujo crescimento demográfico nas zonas urbanas pas-sou de 42%, registrado em 1950, para 75% em 2000 e deverá chegar a 81% em 2015, segundo suas projeções.

os dados são reforçados por algumas das conclusões do v Fórum urbano mundial, ocorrido em março de 2010, no rio de Janeiro, que determinou que das 40 mega regiões existentes no mundo, pelo menos seis estão na américa latina. o trecho compreendido entre rio de Janeiro e são paulo (brasil) tem 43 milhões de pessoas, a zona metropolitana da Cidade do méxico tem cerca de 20 milhões de pessoas, buenos aires (argentina) tem 13 milhões de habitantes, lima metropolitana (peru) tem 7,8 milhões, bogotá distrito Capital (Colômbia) tem 7,6 milhões e santiago do Chile tem 5,4 milhões de pessoas.

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Fatores desenCadeantes

estas regiões enfrentam uma série de desafios no setor hídrico e no sane-amento, consequência de diversos fatores:

Deficiente planejamento urbano. há 30 anos, quatro em cada 10 ha-bitantes de um país, viviam nas cidades. essa proporção começou a variar em 2007, com um grande êxodo rural para a cidade e espera-se - segundo dados da onu hábitat – que o fenômeno continue até 2030, quando as estimativas indicam que 60% da humanidade deverá viver na zona urbana. esse fenômeno é experimentado dramaticamente pelas cidades latino-americanas.

a excessiva concentração de habitantes atingiu níveis alarmantes em três metrópoles: Cidade do méxico, buenos aires e são paulo. outras já se encaminham para superar os 10 milhões de habitantes, entre elas rio de Janeiro, bogotá e lima. muitas outras deverão exceder os cinco milhões: belo horizonte, Caracas, guadalajara, monterrey, porto alegre, recife e salvador.

a superpopulação das cidades sofre um mau planejamento urbano, que reflete na prestação dos serviços básicos para as grandes concentrações de habitantes. “não há relação entre a prestação de serviços de abasteci-mento hídrico e de saneamento em relação à quantidade de pessoas que vivem nas cidades da américa latina, pois a superpopulação pressiona os recursos hídricos, que estão cada vez mais escassos e difíceis de serem ex-traídos e conduzidos à população carente, seja em seus lares, nas indústrias ou nas atividades agrícolas”, afirmou o arquiteto Carlos tucci, professor da universidade de belo horizonte (mg/brasil), durante a latinosan 2010.

diante do aumento na demanda dos serviços básicos e do crescimento urbano acelerado é necessário que as metrópoles adotem políticas e me-didas de coordenação entre autoridades e atores de diferentes áreas tão vitais “como urbanismo, transporte, educação, recreação e aqueles que cuidam do ambiente, especialmente da água”, afirmou alan alwan, da organização mundial da saúde (oms).

Má administração de águas residuais e resíduos sólidos. o pano-rama de aglomeração da população e a carência de serviços hídricos e saneamento têm um impacto no manejo de águas residuais e resíduos sólidos. os dados neste sentido são contundentes: as águas residuais do-mésticas que procedem de 208 milhões de pessoas (a maioria nas cidades) são descarregadas sem nenhum tipo de tratamento, sem contar as produ-zidas pelos setores industriais e agrícolas. as grandes cidades consomem, em média, um total de 600 mil litros de água por segundo, extraídos de fontes superficiais e subterrâneas, que são enviadas novamente para o ciclo d’água com pequenas porcentagens de tratamento. a isto, soma-se o fato de que cada habitante da região produz 1 kg de lixo por dia (569 milhões de kg), dos quais grande quantidade chega aos sistemas fluviais, tanto bacia acima como abaixo.

esse panorama faz com que “as cidades enfrentem a falta de saneamento junto com problemas na coleta de resíduos e na contaminação do ar, além dos acidentes de automóveis, das epidemias causadas por doenças infec-ciosas e hábitos cotidianos nocivos para a saúde”, comentou margaret Chan, diretora geral da oms, durante a inauguração do dia mundial da saúde, dedicado à saúde urbana.

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impaCto eConÔmiCoprovoCado por desastres

este é um tema complexo sobre o qual não se tem informação integral por envolver uma série de variáveis reconhecidas, mas não sistematizadas. “os impactos econômicos destes eventos naturais no setor hídrico e no saneamento não podem ser medidos, pois não existe informação para mensurar o custo das perdas de vidas humanas, da destruição de infra-estrutura, falta de abastecimento hídrico em setores produtivos, piora na saúde das pessoas, atenção às emergências, reconstrução de fontes de abastecimento, limpeza de rios, rede de esgotos, reparo de tubulações. este é um tema bas-tante difícil de ser abordado, sobre o qual não estão contabilizados os diversos dados”, afirma a especialista equatoriana em urbanismo, gloria montero, uma das integrantes do v Fórum urbano mundial.

impaCtos ambientais destas metrópoles

Existência de fontes de água. dada a pressão de grandes aglomerações de pessoas e de atividades produtivas, as águas naturais se contaminam, o abastecimento resulta insuficiente e desigual e os investimentos necessários aumentam até ficarem fora do alcance das possibilidades financeiras dos governos. as cidades latino-americanas extraíram água de fontes próximas: rios, lagos e lençóis freáticos. uma acertada descrição desta realidade é feita por danilo J. anton, em seu livro Cidades Se-dentas: Água e ambientes urbanos na América Latina, ao reco-nhecer que “rapidamente, estes recursos foram esgotados ou degradados e as cidades se viram obrigadas a investir recur-sos consideráveis na construção de represas e tubulações para trazer água de fontes mais remotas. as cidades em expansão superaram a maioria dos sistemas de abastecimento de água e novas fontes tiveram de ser exploradas, a fim de satisfazer as necessidades de seus habitantes. no entanto, os fundos não estão disponíveis. os sistemas de distribuição (desenhados ori-ginalmente para populações menores e de uso limitado) se tor-nam inadequados e obsoletos, resultando grande quantidade de fuga, rupturas dos sistemas de abastecimento ou coleta, tra-zendo o risco de maior contaminação”.

anton explica que: “a capacidade de armazenamento diminui devido à sedimentação; as bacias hidrográficas estão sendo in-vadidas por habitantes urbanos e rurais; a atividade industrial e agrícola descontrolada está produzindo mudanças, tanto no regime hidrológico quanto na qualidade da água. muitos depó-sitos de serviços básicos das zonas urbanas se tornaram inúteis, devido ao uso inadequado de suas bacias hidrográficas. novos depósitos serão muito mais caros que os antigos. novas represas devem ser construídas nas bacias impactadas pelo crescimento urbano, que aos poucos estão ficando longe dos consumidores de água”. (ver box).

Impactos no ciclo hídrico causados por secas e inundações. talvez um dos cenários mais dramáticos seja dos efeitos que a mudança climática está apresentando nos padrões meteoroló-gicos, caracterizado por fortes inundações e secas que têm um impacto direto nas fontes e no abastecimento da água.

as autoridades reunidas no rio de Janeiro, em março de 2010, sustentam: “prevê-se que, dentro das cidades, a mudança cli-mática deverá afetar de maneira negativa o acesso à água e centenas de milhares de pessoas ficarão vulneráveis a inunda-ções costeiras e desastres naturais à medida que o aquecimento global aumenta. os países mais pobres e as pessoas mais des-providas de condições serão as mais vulneráveis a esta ameaça. atualmente, quatro em cada dez casas nos países em desenvol-vimento localizam-se em regiões ameaçadas por inundações, deslizamentos e outros desastres naturais, especialmente em bairros simples e assentamentos informais. é significativo que estes desastres sejam, em parte, resultado de forças naturais, que também são produtos de fracassos no desenvolvimento ur-bano e no planejamento”.

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a este desequilíbrio natural é preciso somar também práticas ina-dequadas como: desperdício de água, falta de fomento para a conservação hídrica por meio de políticas sustentáveis e o paga-mento de tarifas por setor, além de sistemas de rede de esgotos deficientes e o fato de que mais de 90% das águas residuais são despejadas nas fontes sem nenhum tipo de tratamento.

neCessidade de investimentos no setor

tal crescimento só ocorre com um aumento no investimento di-ário em infra-estrutura. um dos serviços públicos mais afetados nas cidades latino-americanas é o de abastecimento hídrico.

estas obras custam caro! em 2007, estimativas indicavam que a américa latina deveria investir cerca de us$ 4,5 bilhões no setor hídrico e de saneamento entre 2006 e 2010. tais investimentos incluem projetos de acesso à água potável, bem como obras de saneamento e manejo de águas residuais e de resíduos sólidos.

o certo é que, pelo menos, os setores de saneamento básico e hídrico estão inclusos na agenda de investimentos. em abril de 2010, a empresa de consultoria Cg/la infrastructure apresentou o reporte latinoamericano de infraestructura 2015, que indicava

que “até 2015, us$ 17,7 bilhões deveriam ser investidos no setor hídrico e na rede de esgotos em toda a região, com um aumento de 52% sobre os níveis atuais”.

maus hábitos de uma população CresCente

o cenário tende a complicar com as altas taxas de degradação ambiental. José miguel insulza, secretário geral da organização dos estados americanos (oea), explica que “os problemas dos centros urbanos, especialmente a contaminação do ar e da água e os sistemas inadequados de rede de esgotos continuam tendo um forte impacto sobre milhões de pessoas. esta degradação ambiental descontrolada pode terminar por afetar a fortaleza das instituições democráticas. é difícil manter uma democracia quando 128 milhões de pessoas carecem de acesso adequado aos serviços sanitários, quando 92 milhões de pessoas não contam com água potável ou quando 80 milhões de pessoas respiram um ar contaminado, bem aquém do considerado aceitável pela organização mundial da saúde”. insulza afirma que tal situação é o resultado de decisões institucionais, mas também dos maus costumes e hábitos das pessoas no manejo de resíduos sólidos e de águas residuais.

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abundÂnCia e esCassez

ao se contrastar a realidade de uma região que conta com inú-meras fontes de água com os desafios do abastecimento é preciso levar em conta os seguintes aspectos: as américas do norte e Central têm 8% da população mundial e 15% da água do planeta; a américa do sul tem 6% da população mundial e 26% da água.

para poder entender e explicar esta relação de abundância e ca-rência é preciso analisar os seguintes componentes:

Prestação de serviços. o crescimento urbano vivido na região durante o século xx fez com que a população nas cidades pas-sasse de 167 milhões, em 1950, para 471 milhões, em 2010. estes conglomerados migraram para as zonas urbanas – segundo a onu hábitat – por conta de fatores tais como falta de terra nas zonas rurais; secas, inundações ou desastres naturais; industrialização das zonas urbanas gerando novos postos de trabalho e melhoria nas condições de comunicação e transporte.

na última década, as cidades cresceram em quantidade, quali-dade e desenvolvimento. mas, da mesma forma, as grades migra-ções do campo para a cidade, conseqüência da industrialização e do aumento das atividades comerciais, foram as responsáveis pelo aumento de favelas e de outras moradias cujo crescimento foi desordenado e cujos habitantes pressionam por educação, transporte, água, energia e saúde. “no caso da água, as zonas urbanas precisam de grandes projetos para garantir o acesso à mesma. mas é necessário também ordenamento, para que todos os usuários paguem tarifas justas que garantam água para mora-dias, indústrias, comércio e outras atividades produtivas”, afirmou marcos thadeu abicallil, especialista em setor hídrico e no sanea-mento pelo banco mundial (bird).

no entanto, o fornecimento de água e saneamento está ultrapas-sado. o sonho de tentar a vida na cidade grande traz esperanças de melhores serviços, de mais bens de consumo, os quais, por sua vez, também demandam aumento nos serviços de abastecimento hídrico.

Serviços de abastecimento. mesmo nos centros urbanos a re-lação local/serviços de abastecimento é diferente. existem setores com melhores infra-estruturas para o acesso aos mesmos, em con-traponto com regiões subdesenvolvidas, cujos serviços prestados são nulos ou deficientes. um estudo do estado das cidades da américa latina, realizado em 2010, determina que 117 milhões de pessoas na região (de um total de 471 milhões que vivem nas cidades grandes) vivem em assentamentos precários.

o tão esperado equilíbrio entre a relação local/serviços de abas-tecimento será alcançado apenas com investimentos e planeja-mento. “todos os serviços de abastecimento hídrico em cenários urbanos requerem elaboração de projetos, cálculos de custos, tarifas e disponibilidade para o pagamento das mesmas, além de previsões de atenuação, diminuição dos desastres ambientais e sustentabilidade. de outra forma, não é possível obter nenhum tipo de financiamento, sejam eles de fontes públicas ou privadas, nacionais ou internacionais. a falta de planejamento ocorre no âmbito do ordenamento territorial e na falta de conhecimento sobre a população e seus hábitos no uso da água que sejam acei-táveis frente à crescente permeabilidade das atividades urbanas em relação aos fatores de incidência externa”, de acordo com o dr. guillermo tapia nicola, secretário executivo da Federação latino-americana de Cidades, municípios e associações de go-vernos locais. (ver entrevista em alto perfil)

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FONteS De ABASteCiMeNtOem seu estudo Cidades Sedentas: Água e ambientes urbanos na América Latina, danilo J. anton percorreu, no início do ano 2000, a problemática da exploração descontrolada dos recursos naturais e seu impacto na água, concluído ser este um dos recursos mais afetados pelo processo de urbanização. sua pesquisa nos permite conhecer de onde várias cidades da região se abastecem de água, destacando rios e lençóis freáticos como sendo a maior fonte dos recursos hídricos. atualizamos os dados populacionais, com base em dados de 2007 e 2008.

CIDADE/ REGIÃO CARACTERÍSTICAS POPULAÇÃO FONTES DE AQUÍFEROS PROBLEMAS

Zona Metropolitana da Cidade do México

41 municípios pertencentes ao Distrito Federal e os Estados de Hidalgo e México

19,2 milhões(39% da população

do México)

Bacia de 600km2, Lerma-Cutzamala. Abastecida na Serra Chichinautzin ao sul; Serra das Cruzes a oeste e Serra Nevada a leste.

- Contaminação de fontes.- Má administração de águas

residuais.- Superexploração.

Grande Buenos Aires Formada por 24 regiões em 3,8 mil km2

13 milhões (32% da população da

Argentina)

Rio Matanzas / Poços profundos / Rio da Prata que recebe águas dos rios Paraná e Uruguai, formando uma bacia de 2 milhões de km2.

- Contaminação por diversas atividades em torno da bacia.

- Diminuição do volume de extração.- Má administração de águas

residuais.

Área Metropolitana de São Paulo

Formada por 38 municípios

11 milhões(5% da população

total do Brasil)

Abastecimento de fontes por alta precipitação de chuvas / rios e bacias pequenas / Complexo sistema de tubulações, túneis, tanques de armazenamento.

- Rios contaminados.- Superpopulação por conta da água.- Atividades agrícolas, industriais e

domésticas, consumindo grande quantidade de água.

- Despejo de águas residuais nos rios.

Bogotá Distrito CapitalFormada por 20 localidades

7,8 milhões(18% da população da

Colômbia)

Rio Bogotá, principal afluente do rio Magdalena / Aquíferos da cabeceira Cundi-Boyacense.

- Alta contaminação do Rio Bogotá.- Superexploração do aquíferos.- Superpopulação e grande atividade

industrial, agrícola e doméstica.- Má administração das águas

residuais.

Lima MetropolitanaFormado por 43 distritos de Lima e Callao

7,6 milhões(26% da população

do Peru)

Rio Rimac / Aquífero de Lima / Sistema de poços / Água para irrigação do Rio Chillón / Baixo nível de precipitação na região.

- Contaminação de fontes superficiais.- Atividades na bacia hidrográfica

média e alta.- Superpopulação.- Atividade mineradora e despejo de

dejetos industriais nas fontes hídricas.

Grande SantiagoFormado por 37 comunas

5,4 milhões(31% da população do

Chile)

Bacia do rio Maipo de 5 mil km2, em especial dos rios Mapocho e Zanjón de la Aguada / Poços.

- Contaminação de fontes.- Pressão pelo crescimento urbano.- Atividades humanas.- Resíduos sólidos e águas residuais.

Grande Área Metropolitana de Costa Rica

Formada por 4 cidades: San José, Alajuela, Heredia e Alajuela numa superfície de 2,04 mil km2

2,6 milhões(56% da população da

Costa Rica)

Fontes de água subterrânea / Aquíferos Colima Superior e Inferior / Aquíferos Formación del Barva / Poços.

- Contaminação de fontes superficiais.- Má administração de águas

residuais.- Atividades humanas.- Falta de sistema de saneamento

para 60% da região.

Área Metropolitana de Cidade de Guatemala

Formada por 15 municípios

2,5 milhões (21% da população de

Guatemala)

Abastecimento feito por 80% de fontes subterrâneas / Lago Amatitlán / Rios Michatoya, El Zapote e Tzalja.

- Contaminação de fontes superficiais, em especial Lago Amatitlán.

- Má administração de águas residuais.

- Manejo de resíduos sólidos.

Área Metropolitana de Montevidéu

Engloba desde Montevidéu até Punta del Este

2,2 milhões(58% da população do

Uruguai)Rio da Prata / Rio Santa Lucía / Poços.

- Contaminação de fontes.- Superpopulação.

Área Metropolitana de Manágua Formada por 7 distritos

1,8 milhão(33% da população da

Nicarágua)

Lagos de Nicarágua e Manágua / Aquíferos de las Sierras / Poços.

- Contaminação.- Má administração de águas residuais

e resíduos sólidos.- Atividades humanas, agrícolas e

industriais.

Cochabamba, Bolívia

1,7 milhão(17% da população da

Bolívia)

Rio Rocha que recebe água da bacia Cuchu Punata / Lagos Warawara, Escalerani e Saytokocha / Aquíferos aluviais.

- Contaminação.- Atividades humanas, industrial e

agrícola.- Má administração de águas residuais.

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AquA VitAe14

A ReGiÃO De MAiOR CReSCiMeNtO uRBANOo estudo Estado das Cidades da América Latina e do Caribe, apresentado no v Fórum mundial urbano, em março de 2010 na cidade do rio de Janeiro (brasil), destaca a américa latina como sendo a região de maior crescimento urbano do mundo. eis alguns dados:

• Em 1950, os cEntros urbanos da rEgião comportavam 69 milhõEs dE pEssoas, Em 2010, a população chEgou a 471 milhõEs E EspEra-sE quE para 2050 alcancE 683 milhõEs.

• na américa latina ExistEm 16.132 municípios.

• ExistEm 48 rEgiõEs mEtropolitanas.

• 75,8% da população é urbana.

• há um município para cada 31.543 habitantEs E um para cada 1.228 Km2.

• 4 Em cada 5 latino-amEricanos vivEm Em zonas urbanas.

Fonte: Estado das Cidades da América Latina e do Caribe, 2010 e FLACMA.

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AquA VitAe 15

CiDADeS, uSuÁRiOS iNStituCiONAiS DA ÁGuA

Caribe da Cepal estabelece quais são as responsabilidades das cidades, como usuários institucionais da água.

1- em matéria de recursos comuns e de transferência, os governos das cidades não são diferentes de outros usuários e precisam de um controle maior que seus limites.

2- este controle pode vir de autoridades hídricas ou de entidades de bacias hidrográficas que provêem espaço para mecanismos mais participativos.

3- em qualquer caso, os governos das cidades, ou as empresas de água potável e saneamento, responsáveis pelos serviços de abastecimento dos mesmos, devem contribuir com os gastos de administração do recurso e das entidades ligadas às bacias hidrográficas.

4- quando a proteção dos abastecimentos ou da segurança das cidades necessita de sacrifícios não usuais de proprietários e usuários, os governos das cidades devem contribuir com um orçamento para a bacia hidrográfica, onde as compensações pertinentes sejam pagas.

5- os governos das cidades devem ter capacidade legal e jurídica para reclamar e obter o fim de atividades que prejudicam sua segurança.

a impermeabilização da superfície acimentada, com edificações e ruas muda a capacidade hidrográfica do fluxo. é por isso que ocorrem as inundações e enchentes que causam contaminação entre outros efeitos, trazendo grande impacto na saúde, no turismo, na educação e nos gastos com obras.

os recursos disponíveis nas proximidades das cidades estão acabando ou se degradando, por isso a necessidade de explorar novas e mais remotas fontes, além de maiores requisitos de tratamento na raiz da piora da qualidade da água. isto faz com que os custos sejam mais elevados.

o bombeamento excessivo de água subterrânea provoca o afundamento da terra com consequente dano para as estruturas urbanas, diminuição do nível freático e, em alguns casos, com problemas de salinização das fontes.

a eliminação incorreta dos resíduos sólidos e líquidos urbanos e industriais contribui com a piora da qualidade hídrica nas fontes valiosas.

OS iMPACtOS DA uRBANiZAÇÃO

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RUMO À ORDEM FINANCEIRA E ECONÔMICA

ECONOMiA

AquA VitAe16

Por PAULINA BEATO/ ANTONIO VIVESSecretaria Geral Ibero-Americana/ Universidade de Stanford

Fotos: Carmen Abdo

Embora as políticas Econômicas, as instituiçõEs E os instrumEntos

financEiros sEjam conhEcidos, sua aplicação na ExEcução dE projEtos

sofrE com dificuldadEs dErivadas da rEsistência política E social E

com a falta dE rEcursos humanos E financEiros. mEsmo

quando alguns dEstEs obstáculos são difícEis dE supErar, os frutos da

aplicação dE políticas hídricas (valorEs, invEstimEntos, financiamEntos)

podEm atrair mais E mElhorEs invEstidorEs.

MElhORANDO O sEtOR híDRICO E DE sANEAMENtO

NOs pAísEs EM DEsENvOlvIMENtO

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O texto seguinte é um extrato de um amplo documento intitulado “Economia e finanças do setor hídrico em pa-íses em desenvolvimento”, realizado pelos autores para o Banco Mundial (BIRD). É possível ter acesso ao docu-

mento completo, em inglês, através do site www.cumpetere.com.

Este informe discute os princípios econômicos e institucionais, po-líticas de investimentos, medidas de eficiência e fontes financeiras, bem como estruturas financeiras necessárias para melhorar a efeti-vidade dos investimentos e facilitar o acesso à água.Algumas das políticas necessárias são as que estabelecem meca-nismos para o comércio da água, fixação adequada de preços, po-líticas agrícolas, ambiente propício para o investimento, programas adequados de atenção institucional (supervisão e regulamentação) e um melhor uso das fontes de financiamento. Os principais aspec-tos econômicos e financeiros que afetam a capacidade de melho-rar o acesso à água a curto e longo prazo são indicados a seguir.

Mecanismos de distribuição de água pura. Tais políticas in-cluem opções para o comércio hídrico, a fim de melhorar a eficiên-cia em seus diferentes usos. Embora o comércio da água melhore a eficiência, continua sendo necessária a intervenção do governo. Se os fatores externos – tais como custos por contaminação – não forem incluídos no valor a ser repassado aos usuários, não será possível obter eficiência. Para corrigir falhas do mercado é necessá-rio estabelecer impostos, taxas por contaminação e regulamentos específicos.

Valor da água potável. O fato de que, na maioria dos casos, os serviços hídricos e de saneamento apresentem rendimentos cres-centes, indica que haverá uma falta de mecanismos simples para gerar uma distribuição eficiente do recurso. A American Water Works Association afirma que a aplicação da teoria de preço por custo marginal sobre as tarifas hídricas carece de sentido prático. Bem-estar e sustentabilidade de subvenções cruzadas. Os sub-sídios cruzados são uma opção apropriada para incrementar o acesso aos serviços hídricos e de saneamento, já que os consu-midores têm flexibilidade no valor e todos os custos são cobertos pelas tarifas. Mas nem todos os subsídios são aceitáveis: alguns geram ineficiências, enquanto outros podem prejudicar o setor por conta do repasse aos consumidores.

Produção agrícola e outros temas. Na maioria dos casos, um aumento no preço da água diminuiria seu consumo sem necessa-riamente reduzir a produção agrícola. Há duas razões para isto. A primeira é que os altos preços diminuiriam o desperdício. A se-gunda é que os altos preços proporcionariam incentivos para as tecnologias de economia hídrica.

Aumentar a eficiência como fonte de financiamento. Uma das mais importantes formas de aumentar a disponibilidade da água é a redução de ineficiências. Os recursos investidos na eli-minação das ineficiências técnicas (tais como perdas de água), melhoria da eficiência energética e conservação da água são ren-táveis, já que reduzem a necessidade de novos investimentos. De forma geral, eliminar ineficiências pode atrair investimentos e/ou torná-los mais eficazes. Um melhor planejamento dos recursos, da coordenação, uma redução na influência política, na concorrência entre organismos, uma melhor gestão das instituições e aplicação políticas corretas são formas de melhorar a eficiência do setor.

Financiamento da infra-estrutura hídrica. Mesmo depois de melhorar a eficiência do sistema hídrico, pode ser necessário mais recursos financeiros para aumentar a cobertura dos serviços. Os recursos financeiros têm apenas três fontes: usuários (tarifas), con-tribuintes (impostos) e donativos públicos e privados. As diferenças de tempo entre a necessidade e a disponibilidade dos recursos financeiros destas fontes terão de ser financiadas através de trans-ferências do governo ou de empréstimos.

‘‘

‘‘

Os 10 principais usuários de água por volume são: Índia, China, Estados Unidos, Paquistão, Japão, Tailândia,

Indonésia, Bangladesh, México e Rússia.

3º Informe Mundial de Água 2009

AquA VitAe 17

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Desenho das estruturas financeiras. A correta estruturação e financiamento das modalidades de serviço podem ajudar a incre-mentar os recursos financeiros e criar estruturas de investimento mais robustas e eficientes. As responsabilidades e riscos entre os setores público e privado devem se estruturar em função das realidades locais e do clima de investimento (Estado de Direito, estabilidade macroeconômica, capacidade fiscal e qualidade das instituições, entre outras.)

Diminuição de riscos por aumento de investimentos. Os in-vestimentos no setor hídrico são especialmente arriscados e a ne-cessidade de recorrer ao financiamento, para fechar a brecha de investimento, introduz riscos adicionais que devem ser mitigados a fim de atrair recursos para o setor. O desenvolvimento do capital local e os mercados financeiros são essenciais, mas o desenvolvi-mento das companhias de seguros também deve ser, assim como também os investidores institucionais e instituições que possam financiar em longo prazo e garantir a cobertura de riscos. Embora estas instituições estejam se desenvolvendo, às vezes é preciso obter acesso a recursos financeiros externos. Para isso, é necessário estabilidade macroeconômica e redução do risco político.

A água é um recurso valioso que, consequentemente, deve ser valorizado e administrado.

• TOTALMENTE PÚBLICO• TOTALMENTE PÚBLICO - CORPORATIVO• SOCIEDADE PÚBLICA DE RISCO COMPARTILHADO (JOINT VENTURE)• COOPERATIVAS• TERCEIRIZAÇÃO• CONTRATOS DE GESTÃO• FRANQUIAS• ARRENDAMENTOS• CONCESSÃO• SOCIEDADE PRIVADA DE RISCO COMPARTILHADO• COT/CPO/CPOT• TOTALMENTE PRIVADO - VENDA• TOTALMENTE PRIVADO - LICENÇA• TOTALMENTE PRIVADO

• SEGURO CONTRA RISCOS PÚBLICOS• GARANTIA DE CRÉDITO PARCIAL• GARANTIA DE RISCO PARCIAL• SUBSÍDIOS• MELHORIA DO CRÉDITO• FINANCIAMENTO EM MOEDA LOCAL

ESTRUTURAS DE PROJETOS

VIÁVEIS

MODALIDADESDE PROJETO

FERRAMIENTAS

• ESTRUTURA 1• ESTRUTURA 2• ESTRUTURA 3

MODALIDADES DE PROJETOS DISPONÍVEIS

• FERRAMENTA 1 • FERRAMENTA 2

FERRAMENTAS DISPONÍVEIS

PASSO 1 - AVALIAR AS CONDIÇÕES LOCAIS, VERIFICAR AS POSSÍVEIS DIMINUIÇÕES DE RISCOSPASSO 2 - ADAPTAR AS FERRAMENTAS E AS ESTRUTURAS DE PROJETO ÀS CONDIÇÕES LOCAIS

• MARCO LEGAL

• ESPAÇO FISCAL

• RISCO POLÍTICO

• FATORES MACROECONÔMICOS

• VONTADE DE PAGAMENTO

• CAPACIDADE INSTITUCIONAL

• TAMANHO E LOCALIZAÇÃO

• SUSTENTABILIDADE TARIFÁRIA

CONDIÇÕES LOCAIS

Antonio Vives e outros. Estruturação financeira de projetos de infra-estrutura em associações público-privadas: Uma aplicação a projetos de água e saneamento. BID, 2007. Disponível em www.cumpetere.com.

MODeLO PARA A eStRutuRAÇÃO FiNANCeiRA

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• Mike Young, Diretor Executivo e Presidente de pesquisa Econô-mica e Gestão Hídrica do Instituto do Meio Ambiente, University of Adelaide, Austrália.No setor hídrico, há três temas importantes: 1- Nos lugares onde não há acesso a fontes confiáveis de água e não há rede de esgotos os valores cobrados por estes serviços são altos, sem contar com a morte de crianças devido às doenças trans-mitidas pela má qualidade da água. 2- A escassez de água em todo o mundo continua aumentando e o custo para resolver este problema também. 3- Muitos fatores desestimulam o in-vestimento e a manutenção dos sistemas de abastecimento hídrico. Embora estas afirmações sejam fáceis de serem fei-tas, as soluções politicamente aceitáveis para estes desafios continuam sendo difíceis. Uma das formas de se avançar é ter uma maior disciplina econômica para o desenvolvimento de sistemas de tarifas para a água.

• Membros do Global Reference Group on Water.Deve existir um planejamento coordenado para determinar a quantidade de recursos financeiros necessários e assim poder outorgá-los. É necessário um plano de revisão de tarifas, dis-tribuição de impostos, subvenções cruzadas e financiamento externo que inclua apoio nacional, multilateral e de empresas privadas. É necessário também preparar projetos viáveis que possam ser financiados e que sejam de interesse para as orga-nizações que provêem recursos financeiros, sejam governos, comunidades ou empresas de prestação de serviços, tanto na-cionais como internacionais.É preciso melhorar o entorno geral de investimentos nos paí-ses (Estado de Direito, direitos de propriedade e permissões) e o do setor hídrico e de saneamento em particular, para atrair especialistas estrangeiros e capital que o fortaleça.

• Bernardo Siles, consultor de empresas agrícolas na América Central e no Caribe.É importante vincular setores produtivos que, assim como o agrícola, são importantes consumidores de água. É preciso ga-rantir o acesso à água, a transferência tecnológica que ajude o setor a ter melhores práticas e melhor taxa de preços. Isto porque a agricultura é primordial no abastecimento de ali-mentos. Entendo que a água é um fator de desenvolvimento e, como tal, deve ser visto como um mecanismo que requer regras claras no âmbito legal, financeiro e no resultado de investimentos para garantir seus usos.

• Diego Rodríguez, Economista sênior da Unidade de Água, Ener-gia e Transporte do Departamento Hídrico, Banco Mundial (BIRD).Os setores produtivos devem levar em conta a diferença entre os custos de ordem privado e social quando falamos do valor econômico do recurso hídrico. Para isso, devemos levar em conta os fatores externos que a utilização do recurso produz. Os custos sociais são muito diferentes dos privados, bem mais de ordem financeira. Este estudo nos permite justamente en-tender essas diferenças, que não são triviais e nos ilustra de uma maneira muito prática a importância de poder avaliar o

VOZeS e SetOReSpara conhecer os alcances desta proposta solicitamos

aos representantes de outros setores que analisássem este estudo.

recurso do ponto de vista econômico para poder estabelecer investimentos que sejam financeiramente rentáveis com altos benefícios sociais.

• Josefina Maestu, Diretora do Escritório das Nações Unidas para o Apoio ao Decênio Internacional para a Ação da Água.Melhorar o financiamento no setor hídrico e de saneamento é fundamental para alcançar os ODM. Segundo o Informe Glo-bal de Avaliação da Água e Saneamento da ONU - Água 2010, os compromissos de financiamento para o setor sofreram re-dução na última década, apesar de uma forte evidência de que ambos os serviços poderiam reduzir os custos com saúde, aumentar a assistência escolar e melhorar a produtividade. O estudo de economia e finanças do setor hídrico para os países em desenvolvimento proporciona algumas destas idéias ne-cessárias. Gostaria de acreditar que encontrarão mais eco na prática. Isto é, particularmente, em relação a dois aspectos: a) fixação de preços e b) em relação a como o uso de subsídios inteligentes (incluindo os subsídios cruzados e ajuda dos do-adores) melhoraria o acesso ao financiamento em países em desenvolvimento.

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Latinosan 2010 termina com compromisso assumido entre 10 países e 2 instituições regionais de promoverem

reformas e ações legais que garantam acesso universal ao saneamento em áreas urbanas e rurais de baixa renda

LEGISLAÇÃO

Carta de Foz do Iguaçu

A Carta de Foz do Iguaçu, resultado da II Conferência Latino-Americana de Saneamento – Latinosan 2010 – é novamente um marco para fomentar ações legais e cooperativas. Dentre elas, reafirmar os compromissos

de priorizar o saneamento nas políticas nacionais de desenvolvi-mento, firmadas em 2007.

Há menos de cinco anos para o cumprimento dos Objetivos de De-senvolvimento do Milênio (ODM), o documento de Foz do Iguaçu, assinado por representantes de 10 países e de duas instituições regionais, fixa algumas metas para melhorar estruturas legais, ins-titucionais e cooperativas, bem como condições nos setores ru-rais, em pequenos povoados, grupos indígenas, zonas periféricas urbanas e cidades intermediárias, onde fica evidente os maiores desafios ligados ao saneamento da América Latina.

A fim de monitorar estes avanços foi formado um Grupo de Tra-balho Interpaíses Latinosan, que deverá se reunir uma vez por ano para supervisionar o desenvolvimento das políticas do setor. “A Latinosan é uma grande oportunidade para os países repre-sentados de reafirmar seus esforços ligados à promoção do sa-neamento básico, ao fortalecimento do compromisso de superar a pobreza, ligados às conquistas dos ODM e dos direitos latino-americanos”, afirmou Marcio Fortes de Almeida, Ministro das Ci-dades do Brasil e um dos principais organizadores deste encontro. A Carta de Foz de Iguaçu foi firmada por representantes dos go-vernos da Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Jamaica, Panamá,

Paraguai, Peru e Uruguai, bem como pelo Fórum da América Cen-tral e pela República Dominicana para Abastecimento de Água e Saneamento (FOCARD) e pela Rede de Água e Saneamento em Honduras (RAS-HON)

O documento destaca problemas como a falta de planejamento territorial, de controle do uso do solo urbano, de prioridade para as soluções sustentáveis dentro da gestão de águas pluviais, além de problemas de impermeabilização excessiva, ocupa-ção de regiões vulneráveis. Tais problemas aumentam o risco de inundações nas zonas urbanas, os quais podem ser agravados com o au-mento da variação climática do aquecimento global.

Como resposta, os partici-pantes do Fórum defendem o esforço político e o com-promisso de promover pro-gramas de pesquisas em saneamento, com ênfase no desenvolvimento de tec-nologias simples e de baixo custo. E a contagem regres-siva para o III Fórum, a ser realizado no Panamá, em 2013, já começou.

AquA VitAe20

Por BORIS RAMÍREZ

IguaLdade No SaNeaMeNto

Foto: Carmen Abdo

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OS PRiNCiPAiS PONtOSReunidos de 14 a 18 de março, na cidade de Foz do Iguaçu, no Brasil, os países consignatários se comprometem a:

• Priorizar o saneamento básico entre as políticas nacionais de desenvolvimento.• Promover instrumentos de planejamento governamental ligados ao saneamento.• Assegurar o investimento contínuo, sustentável e em níveis adequados.• Integrar saneamento básico com políticas públicas de recursos hídricos, ambientais, sanitários, urbanos etc.• Desenvolver políticas públicas e modelos de gestão e de financiamento para promover o saneamento rural e de pequenas localizações.• Promover a regulamentação de serviços de saneamento e sua articulação com regulamentações setoriais em cada país.• Programar e fomentar programas de melhoria da gestão dos prestadores de serviços de saneamento.• Fomentar a pesquisa capaz de gerar tecnologias simples e baratas.• Intensificar ações de controle e vigilância de qualidade hídrica para consumo humano.• Promover, programar e disseminar ações de educação sanitária, ambiental, além de promover a mobilização social no que diz respeito

ao saneamento básico.• Programar prevenção e gestão de riscos de desastres no setor hídrico e de saneamento.• Assegurar que os casos de contaminação dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos, causados por falta de condições adequadas

de saneamento, sejam tratados conforme a legislação nacional.• Incitar os governos nacionais a assumir os compromissos e as ações necessárias, em coordenação com instituições financeiras.• Incitar prestadores de serviços e ao setor privado assumir compromissos e ações voltadas para o cumprimento dos ODM.• Fortalecer a cooperação intergovernamental na região.

ANOtAÇÕeS e APONtAMeNtOSA Aqua Vitae foi uma das participantes da II Conferência de Saneamento 2010. Lá esteve durante todas as deliberações, para tomar nota das declarações dos líderes regionais presentes no encontro. Embora a participação e os resultados não tenham correspondido às expectativas, os participantes reconhecem que este Fórum deve continuar sendo fortalecido:

Pamela Cox, Vice-Presidente do Banco Mundial (BIRD). “A América Latina avançou em matéria de água e saneamento em comparação com outras regiões. Uruguai, Costa Rica, Chile e Argentina estão no caminho para o cumprimento dos ODM. México, Equador, El Salvador, Guatemala y Honduras precisam se esforçar mais. As decisões da Latinosan são um bom mecanismo para se continuar avançando.”

Federico Basañes, Chefe da Divisão Hídrica e de Saneamento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). “Este segundo encontro é uma forma de reafirmar nosso compromisso pela busca de ações conjuntas, monitoramentos e follow-up nos mesmos. Tanto em Cali (2007)

quanto em Foz de Iguaçu, o tema saneamento vem sendo parte das agendas dos países. Isso já é muito importante.”

Antonio Da Costa, Comissionado das Nações Unidas (ONU) para Água e Saneamento. “É preciso melhorar o acompanha-mento, as fontes de financiamento e a gestão integrada dos recursos hídricos com uma abordagem ecossistêmica. A

discussão regional e global deve incorporar a transferência de conhecimento e experiências. O marco da Latinosan é o terreno ideal para este intercâmbio.”

Luis Romero, Rede de Água e Saneamento de Honduras. “O investimento no setor tem estado abaixo da média anual de US$ 19,5 milhões em comparação com os US$ 147 milhões registrados. Esta tendência nos mostra que em 2015 não atingiremos as metas dos ODM. Por isso, o espaço que temos na Latinosan é importante para contarmos o que vem ocorrendo em nosso país.”

Julio Castillo, Ministro do Meio Ambiente, Panamá. “Poderemos chegar a 2015 cumprindo as metas e melhorando a qualidade de vida. Para isto Foz do Iguaçu foi o melhor lugar para celebrar este encon-

tro, pois aqui temos de tudo: geração de energia, água e programas de reflorestamento.”

Foto: Carmen Abdo

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Contaminação das águas da Antártica

Após um mês de pesquisas no continente gelado, a Universidade de Zaragoza informou, por meio de um estudo que quantifica de maneira precisa, o grau de contaminação química apresentado nas águas da Antártica.

A expedição científica, denominada “Operación Skua”, foi realizada entre os meses de janeiro e fevereiro de 2010, sob a coordenação de Juan Ramón Castillo, diretor do Instituto de Pesquisas em Ciências Ambientais da região do norte de Aragón.

Os resultados da análise das amostras foram comparados com outras procedentes de mares quentes e até de fontes de água doce - mais alteradas pelo ser humano -, a fim de se desenvolver novos métodos de análise capazes de caracterizar espécies quí-micas metálicas (zinco, magnésio, ferro, selênio ou cádmio, entre outros.)

O estudo pretende averiguar qual a distribuição destes me-tais e seus papéis no processo da fotossíntese, por meio da qual é possível eliminar quase que 50% do CO2 emitido na atmosfera.

Os cientistas trabalharam num amplo território do conti-nente, englobando o Arquipélago Palmer, as Ilhas Melchior, Ilha Brabant, Arquipélago Wilhelm, Ilha Adelaide, Península Arrows-mith e Coast Davis.

A expedição teve caráter internacional, fazendo parte da equipe de cientistas ingleses e franceses que trabalham em outros projetos sobre o magnetismo terrestre e projetos de observações sobre biodiversidade. O estudo conta ainda com o apoio do Plano Nacional do Ministério da Ciência e Inovação da Espanha.

Fonte: Agência EFE

Lagos em apuros

Metade dos 250 mil lagos existentes no mundo (estimativa) pode desaparecer por conta dos impactos provocados pela mudança cli-mática, segundo Marion Hammerl, presidente da rede Living Lakes e da fundação Global Nature.

A especialista alemã participou da 13ª Conferência Living Lakes, realizada em Chapala – cidade próxima a Guadalajara (Mé-xico) –, onde existem organizações dedicadas à conservação dos sistemas lacustres.

As prolongadas secas e o aumento da temperatura terres-tre devem acelerar o desaparecimento de lagos em várias partes do mundo, inclusive no continente africano. “Os mais vulneráveis são os que têm pouca profundidade, pois estão mais expostos as evaporações devido às altas temperaturas e porque têm menos capacidade de recuperação”, explicou a especialista.

Exemplos desta anomalia são os casos da lagoa Mar Chi-quita, na Argentina; de Bahía, nas Filipinas; de Chapala, no México, além das zonas úmidas da região de La Mancha, na Espanha, que são os reservatórios lacustres mais ameaçados.

Grande parte dos lagos no mundo apresenta escassez de água por conta do desvio que sofrem indiscriminadamente para uso industrial, agrícola e doméstico. A pouca água que chega está contaminada pelos resíduos industriais e não é tratada de forma adequada.

Estima-se que um terço dos lagos já desapareceu desde a década de 1960, período em que começaram a ser “esvaziados” para se ganhar terreno na agricultura, segundo registros existentes na Europa. Por isso, a especialista fez um chamado aos governos e à população mundial para que realizem esforços na economia hídrica e para que mantenham os bons níveis dos lagos.

Fonte: Living Lakes

Catarata seca

O sudeste da China está sofrendo a pior seca do último século. Como conseqüência, aproximadamente 60 milhões de pessoas e a Catarata de Huangguoshu - a maior da Ásia – estão ameaçadas pela falta d’água e pela seca.

A Catarata, com 67 metros de altura e 83 de largura, foi reduzida a uma cascata, segundo as fotografias mostradas pelo jornal China Daily.

Huangguoshu está localizada na província de Guizhou, uma das mais afetadas pela escassez hídrica, juntamente com Yunnan, o município de Chongqing e a região de Guangxi.

Estas regiões ficam meses sem chuva, salvo algumas preci-pitações provocadas de forma artificial, mas não o suficiente para amenizar a situação.

A seca arruinou as colheitas de produtos essenciais para a economia chinesa como o chá, cujos preços aumentaram nas últimas semanas; e o anis estrelado, utilizado na medicina tradicio-nal chinesa e um dos principais ingredientes do Tamiflu (fármaco usado para combater a gripe A H1N1).

O governo chinês começou a enviar ajuda humanitária aos afetados e, só em Yunnan, calcula-se uma perda de mais de US$ 3,5 bilhões.

Fonte: China Daily

BReVeS DO MuNDO

Huangguoshu em 2007 e em 2010

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AquA VitAe 23

Do total da composição do corpo humano de um adulto, 60% é água, localizada dentro e fora das células, no espaço entre as mesmas, no sangue e em outros líquidos do corpo. A quantidade varia segundo a idade e a composição corporal – gordura e massa muscular. Nas crianças, o conteúdo de água é de 75% e nos idosos é de até 50%. Os músculos contêm mais água que gordura corporal.

SOMOS SeReS De ÁGuACÉREBRO 73%

PULMÕES 83%

RINS 79%

SANGUE 79%

MÚSCULOS 79%

CORAÇÃO 73%

PELE 73%

FÍGADO 73%

OSSOS 31%

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AquA VitAe24

ALTO PERFIL

Guillermo Tapia Nicolaconhece as cidades dos mais variados tamanhos. O Secretário Executivo da Federação Latino-Americana de Cidades, Municipalidades e Associações de Governos Locais leva à sério o desenvolvimento urbano regional e seus grandes desafios. Nicola reconhece a existência de cidades com ampla disposição de água e outras, cuja distância para consegui-la é grande, os custos também e em detrimento dos que vivem em regiões próximas aos lençóis freáticos naturais. T

odos os serviços de abastecimento hí-drico e de saneamento nas cidades pre-cisam planejamento urbano, projetos sustentáveis, além de uma estrutura de

custos e tarifas que permita o desenvolvimento de obras (…) Mas também necessitam ações de melhoria ambiental nas fontes superficiais e sub-terrâneas, educação das populações no manejo de águas residuais e detritos sólidos e, acima de tudo, de fontes de financiamento públicas, pri-vadas ou internacionais.

Desta forma, o Dr. Guillermo Tapia Nicola, Se-cretário Executivo da Federação Latino-Ameri-cana de Cidades, Municipalidades e Associações de Governos Locais (FLACMA), fundamenta os fatores que devem ser levados em conta em relação ao tema água nos centros urbanos. “O

importante é estar envolvido, molhar os pés, entrar na linha de frente sem medo, aprender, exercer e buscar soluções para os problemas hídricos e de saneamento. Os bancos interna-cionais também devem estar mais envolvidos para que identifiquem linhas de crédito para as cidades de maneira direta, sem trâmites buro-cráticos, pois isso frustra, demora e até encarece o crédito, que é tão necessário para trazer solu-ções às demandas vicinais neste tema”.

De que maneira as cidades latino-ameri-canas estão enfrentando os desequilíbrios entre abundância e carência dos recursos hídricos?

É difícil precisar uma resposta em meio a uma gama de situações que se vive na região. A AL

planejamento hídrico urbano

urgentegrandes, médias ou pequenas cidades

Por BORIS RAMÍREZ

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AquA VitAe 25AquA VitAe 25

é uma zona do planeta que dispõe de uma importante proporção de água doce super-ficial da Terra, mas que também concentra uma grande proporção da população. A re-lação per capita de água sobre habitantes é vantajosa para a região. É notório tam-bém que, há 30 anos, a região suporta o mais rápido processo de urbanização do mundo. E é relevante para esta resposta o fato de que, na AL, as desigualdades de receita e acesso aos serviços básicos são as maiores do mundo. Com estes comple-xos antecedentes, me atrevo a tentar uma resposta nos seguintes termos:

• Todos os habitantes do planeta preci-sam de água para sua satisfação direta e para produzir os meios que permi-tem a vida, e a América Latina não é exceção.

• A maior parte da água disponível na região é usada na agricultura e na ma-nufatura e, consequentemente, no con-sumo direto.

• A maior parte da população regional está nas cidades.

• Nas cidades de todos os tamanhos, quase metade da população tem aces-so à água tratada; nas áreas rurais ape-nas 20% dos habitantes dispõem dela.

• Há cidades que dispõem amplamente de água e outras onde as pessoas de-vem percorrer grandes distâncias para obtê-la, com grandes custos e, fre-quentemente, em detrimento dos que vivem em regiões próximas aos lençóis freáticos naturais.

• Nos centros urbanos, em especial, são feitos esforços para educar as pessoas com relação ao uso racional da água e à disposição cuidadosa deste elemen-to quando está “servida” ou já conta-minada. Mas o fato é que todos os es-forços neste âmbito são amplamente insuficientes.

• A “reparação” dos danos ambientais por uso e disposição hídrica ainda está em estado embrionário.

As cidades têm uma capacidade de respos-ta que talvez seja maior que a dos estados ou países aos quais pertencem, pois iden-tificam com clareza o problema que afeta o meio ambiente e a necessidade de dar respostas imediatas para seus vizinhos. Por isso, vem-se cogitando atualmente uma

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Para assegurar as necessidades básicas, toda pessoa requer de 20 a 50 litros de água potável por dia.

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2º Relatório de Desenvolvimento da Água - 2006

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forte presença dos representantes muni-cipais na próxima COP 16 para apresen-tarem, de maneira unívoca, a opinião das cidades a partir de um próximo Fórum Am-biental, que deverá ser realizado em Ma-naus (Brasil), com o objetivo de fortalecer a Carta Ambiental gerada no ano passado sobre este tema.

Os casos mais dramáticos acontecem nas grandes cidades. Como as cidades de médio e pequeno porte fazem para enfrentar os mesmos problemas?

Não posso ratificar que a observação da situação nas grandes cidades seja pior. Nas cidades de médio e pequeno porte, às ve-zes, é possível encontrar água a distâncias mais curtas e em quantidades suficientes. Entretanto, não é sempre que isto ocorre, além do mais, em uma relação per capita, sempre custa mais caro prestar serviços

de abastecimento a populações dispersas. Também é mais difícil educar e controlar os efeitos de usos inadequados e disposições não responsáveis.

Como resolver o mau planejamen-to das cidades de médio e pequeno porte, visto que muitas delas carecem de obras de infra-estrutura de acesso aos serviços de água e saneamento básico?

Todos os serviços de abastecimento de água em cenários urbanos, devido sua própria natureza, requerem planejamento, formulação de projetos, cálculos de cus-tos, tarifas e disponibilidade para o paga-mento, bem como previsões sustentáveis, de atenuação e diminuição dos riscos am-bientais, já que, de outra forma, não é pos-sível obter fontes de financiamento, sejam elas públicas, privadas ou internacionais.

As fragilidades de planejamento ocorrem nos conceitos de ordem territorial e na ob-tenção de dados precisos sobre os usuários e consumidores de água que sejam aceitá-veis frente à crescente permeabilidade das atividades urbanas em relação aos fatores de incidência exógena, nacional, regional e mundial.

Há cidades que podem ser considera-das modelo em obras de acesso hídri-co e ao saneamento? Quais seriam?

Muitas cidades têm administrações exem-plares de fornecimento, tratamento, re-aproveitamento, condução, distribuição, comercialização e re-investimento da água e de sistemas sanitários em geral. Muitos destes casos são invisíveis pelo tamanho. Na América, podemos citar alguns mais fa-mosos, como Belo Horizonte, Vancouver, Medelín e Córdoba, entre outros.

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O mau planejamento é evidente em muitas cidades latino-americanas. Deve-se avançar na criação de consciência e educação entre os usuários e o uso da água.

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Belo Horizonte, capital do estado brasileiro de Minas Gerais, tem um modelo exemplar no manejo do setor da água.

De que maneira os problemas de falta de investimento em água e saneamen-to poderiam ser resolvidos?

Os três problemas mais frequentes para prover investimento neste componente chave para o desenvolvimento urbano na América Latina são a disponibilidade de recursos em condições de proximidade, quantidade e qualidade tratável da água; a disponibilidade de recursos financeiros em condições exequível para os municí-pios e os governos nacionais; e as possi-bilidades de recuperação de custos e re-investimento em sistemas sustentáveis, fator este altamente correlacionado com a pobreza, pois, em última instância, são os beneficiários finais quem pagam estes investimentos.

Estes fatores levam o tema aos aspectos estruturais de nossa natureza e sociedade e obviamente não têm soluções prontas, pois cada caso tem sua especificidade.

Quais outras ações de planejamen-to devem ser tomadas para que as populações das cidades de médio e

pequeno porte tenham sanados seus problemas de abastecimento hídrico e de saneamento?

Mais que medidas a serem tomadas, é pre-ciso haver um avanço no plano da cons-cientização, da educação e da informação, os quais devem ser pertinentes, verídicos, oportunos e gerar respaldos nas relações positivas produzidas entre as autoridades e os habitantes.

É preciso gerar uma maior e melhor cons-ciência dos cidadãos acerca do tema, de forma que cada um seja auto observa-dor, auto regulador e auto motivador do uso adequado da água e do saneamento. Quanto melhor usarmos o recurso, maiores as probabilidades de garantir a vida para as novas gerações. Da mesma forma, quanto menos contaminação gerarmos e quanto mais eficiente formos na reciclagem de desperdícios sólidos e líquidos – de forma a assegurarmos um adequado funcionamen-to dos sistemas de saneamento ambientais, junto àqueles cuidados que, por razões ób-vias, devemos incentivar, a fim de evitar a poluição e os danos ambiental em todos

os níveis – maior certeza teremos e gera-remos das cidades para seus habitantes e vizinhos, e poderemos cumprir com o obje-tivo de alcançar o bem comum local.

Existe algum mecanismo de transfe-rência de tecnologia capaz de melho-rar esta situação?

Os esforços dos governos locais e nacio-nais, bem como o suporte da cooperação externa proveêm múltiplas respostas para facilitar a aplicação de modelos bem suce-didos. Nesta linha, é preciso reconhecer o esforço das academias e dos grupos popu-lacionais organizados em associações de base, junto com os aportes das empresas privadas. Todos juntos oferecem uma gama de grande valor construtivo, mas ainda cla-ramente insuficientes.

O que chama atenção, entretanto, parece ser a necessidade de incentivar com mais ênfase o que conhecemos como intercâm-bio de experiências – sejam estas bem su-cedidas ou não – porque ambas ajudam a copiar ou evitar. Há exemplos e ações de cidades grandes, médias e pequenas, cuja

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eNtRe CiDADeS e BAiRROS

Guillermo Tapia Nicola ([email protected]), atual Secretário Executivo do FLACMA, promove o equilíbrio entre os centros urbanos e rurais em favor de seu desenvolvimento.

• Advogado e juiz, nasceu no Equador• Licenciado em Ciências Políticas e Sociais. Doutor em Jurisprudência.• Entre seus cargos, destacam-se: Juiz do Município de Quito, Secretário Geral da Associação de

Municipalidades Equatorianas (AME), International Union of Local Authorities, Delegado Regional da Organização Mundial de Cidades e Governos Locais Unidos (CGLU).

O FLACMA é uma organização propositiva, de livre adesão, da qual participam Prefeitos, Governos Locais, Cidades, AGLs, Cooperativas e Redes. Representa a comunidade municipal regional e expressa os interesses locais e a vigência da autonomia de seus governos democráticos diante dos estados nacionais, dos conclaves estatais e civis, regionais e mundiais, das convenções internacionais, dos fóruns, da cidadania da Região e diante da CGLU.

dedicação especial sobre o tema tem sido regional e mundialmente reconhecida, va-lorizada e até premiada. Devemos continu-ar reconhecendo estes casos, estas experi-ências e socializá-las após uma adequada sistematização. Quem deve assumir a responsabili-dade diante do pouco investimento e planejamento no assunto?

Não se pode culpar alguém, senão os pró-prios sistemas públicos e privados, sobre as situações que pressionam sobre a deman-da e que são permanentemente mutantes e variáveis no grau de incidência.

Os fatores estruturais que mencionei an-tes são de grande peso. O importante é estar envolvido, molhar os pés, entrar na linha de frente sem medo, aprender, exer-cer e buscar soluções para os problemas hídricos e de saneamento. Os bancos in-ternacionais também devem estar mais envolvidos para que identifiquem linhas de crédito para as cidades de maneira direta, sem trâmites burocráticos, pois isso frus-tra, demora e até encarece o crédito, que é tão necessário para trazer soluções às de-mandas vicinais neste tema. É preciso en-volver as empresas privadas, para que se-

jam mais solidárias com as cidades e seus problemas, dos quais são parte integrante. De tal forma que a alegria ou tristeza das pessoas possa ser sentida e expressada por igual, pela empresa privada e pela pública apoiada na comunidade das metrópoles.

Existem programas regionais para manejo de detritos sólidos, melhora-mento de bacias fluviais e gestão de recursos hídricos, destinados ao abas-tecimento hídrico em cidades da Amé-rica Latina?

Em todos os países, felizmente, existe uma preocupação crescente por parte dos ato-res não apenas com relação à demanda dos serviços de saneamento básico como também sobre o investimento, aprovei-tamento sustentável do recurso, sobre as inovações tecnológicas, os novos esque-mas de gestão, além de uma crescente va-lorização da qualidade de vida, dos direitos e da sustentabilidade ambiental. Há uma longa lista de cidades empreendedoras que abordam o tema com grande visão e cujos exemplos devem ser seguidos por outras da região.

Como resolver o problema das gran-des cidades que usam água do siste-

ma fluvial o qual deveria atender às necessidades das cidades de médio e pequeno porte?

Os recursos naturais são de todos os cida-dãos. Se os cidadãos de um determinado país estão concentrados em sua maioria na metrópole, é aí que devem encontrar os serviços de abastecimento. Os respon-sáveis não podem se descuidar, no entan-to, das concentrações demográficas me-nores que têm os mesmos direitos. O uso da água nas grandes cidades não pode ser estigmatizado, ao contrário, a sustentabi-lidade gerada pelos processos de aprovei-tamento, distribuição, arrecadação, design e tecnologias aplicadas em cada caso deve ser controlada.

É preciso, no entanto, ir mais afundo na aplicação de sistemas de compensação ambiental para aqueles que cuidam das fontes vizinhas, por meio do controle das atividades que podem prejudicar os re-cursos hídricos. Não se trata de encontrar um culpado para gerar soluções, mas sim, como já foi dito, um melhor e maior envol-vimento por parte de todos, ações respon-sáveis e solidárias, e melhores – e iguais – sistemas de convivência social, que nos permitirá aportar soluções idôneas.

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OPINIãO

Os direitos humanos são indivisíveis, mas existe um direito maior: o direito à vida, que condiciona o exercício de todos os demais. O direito à alimentação, à nutrição, à água, à saúde… todos fazem parte dos “direitos essenciais”, pois deles depende a vida em si, sua qualidade, sua dignidade. Há algumas décadas, a água, assim como o ar, era con-siderada um “bem natural”, sobre a qual, os habitantes da Terra tinham livre acesso. Mas com o tempo, a disponibilidade de ar limpo e água potável foram se tornando mais restritas a ponto de se tornarem “bens de consumo”.

E isso é de importância vital, pois o bom estado da saúde humana en-contra-se diretamente relacionado à qualidade da água, como potabili-dade, adequação de sistemas de saneamento e diminuição de doenças ligadas à salubridade dos ecossistemas de água doce.

Sem dúvida, uma das grandes ações de um novo sistema econômico mundial seria promover o desenvolvimento sustentável global em opo-sição a uma economia de guerra e de especulação. Neste contexto, as infra-estruturas e tecnologias relacionadas ao tratamento hídrico são relevantes.

A gestão hídrica é fundamentalmente uma questão de justiça social e de consciência ambiental, baseada em três conceitos: igualdade, trans-parência e acesso entre as gerações e ao longo delas. Por esta razão, as medidas adotadas devem ser o resultado da adequada conciliação dos aspectos jurídicos, hidrológicos e ecológicos, bem como o da participa-ção dos cidadãos.

A gestão hídrica deve ser participativa, eficiente e solidária, de modo que fomente a responsabilidade individual e coletiva mediante o desen-volvimento compartilhado de conhecimentos e experiências. As unida-des básicas de gestão dos recursos hídricos devem ser bacia hidrográfica

e lençol freático, inclusive nos casos em que tenham caráter supranacio-nal. Pesquisas, desenvolvimento e inovação em tudo o que diz respeito à água devem ser incentivados, acelerando ao máximo a troca de seus resultados e benefícios para a sociedade.

A água faz parte das grandes exigências éticas que devem inspirar nosso “que fazer” diário e por isso é imprescindível levarmos em conta as necessidades do futuro em nossa conduta atual. Os recursos hídricos são limitados e desigualmente divididos, sendo estes alguns dos fatores que complicam sua gestão, já que nos encontramos confrontados com o desafio e o desenvolvimento sustentável que tal gestão representa frente às consideráveis pressões exercidas pelo crescimento econômico, pelo aumento da população, pela transformação de migrações e pela mudança climática.

Para alcançarmos este outro mundo possível que desejamos, os proble-mas básicos da humanidade deverão ser resolvidos mediante a partici-pação ativa do comportamento de cada cidadão, de tal forma que, em sua vida pessoal apliquem os mesmos princípios demandados daqueles que têm a responsabilidade de governar em seu nome.

Na Carta da Terra, propõe-se a criação de uma Agência Hídrica Mun-dial que, no âmbito das Nações Unidas, chegue a constituir um marco normativo mundial sobre a água, inserido num contexto de desenvol-vimento sustentável, reconhecido por todos os países. Somente assim, com uma visão ética global semelhante, critérios de racionalidade eco-nômica, a fim de promover a eficiência e a sustentabilidade na adminis-tração dos recursos hídricos, ao mesmo tempo em que se incorporam os princípios de justiça social e ambiental na gestão hídrica.

E todos os habitantes da Terra assumiriam que a água, além de um recurso essencial, é um patrimônio de todos.

A Aqua Vitae não emite opinião sobre os critérios expressados nesta seção, mas está aberta a diferentes perspectivas em torno do manejo do recurso hídrico.

PAtRiMÔNiO De tODOSÁgua e alimento: estas são as prioridades para se iniciar a grande transformação social que não aceita mais prorrogação. Se quisermos um século XXi onde a prosperidade possa ser para muitos, é preciso levar em conta a dignidade de todos os seres humanos para garantir seu bem-estar

FEDERICO MAYOR ZARAGOZAPresidente da Fundação Nova Cultura de PazEx-diretor Geral da UNESCO

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TECNOLOGIA

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TECNOLOGIA SUSTENTÁVEL

Entre os problemas ambientais que ameaçam a humani-dade no século XXI, a falta de água doce ocupa o ranking da lista. A isto, devem-se somar situações como aqueci-mento global, destruição das florestas tropicais e excessiva

pesca oceânica. A Organização das Nações Unidas (ONU) declarou que 2,7 bilhões de pessoas podem sofrer uma grave falta d’água até 2025, caso o consumo se mantenha nos níveis atuais.

Diante deste cenário, pesquisadores e acadêmicos podem ficar de braços cruzados ou propor novidades que ajudem a melhorar tal situação. É preciso conhecer os elementos importantes que o cenário apresenta: crescimento acelerado da população mundial (mais de 6 bilhões atualmente e próximo dos 9 bilhões de pessoas em estimativas para 2050) e aproveitamento de apenas 1% do total da água para consumo, irrigação e usos industriais.

O uso desta tecnologia – empregando argila e zeólitas naturais* do México – permite remover o flúor e o arsênico das águas contaminadas, tornando-a apta para usoe consumo humano.

Por DR. MIGUEL ÁNGEL HERNÁNDEZ,ENG. RODOLFO PÉREZ GARCÍA e ENG. ADRIANA COYOTL

Departamento de Pesquisas em Zeólitas, Instituto de Ciências. Faculdade de Engenharia Química. Universidade Autônoma de Puebla (México)

AUTOPURIFICAÇÃO:

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Desta forma, o Departamento de Pesquisas em Zeólitas, do Insti-tuto de Ciências da Universidade Autônoma de Puebla (México) tomou consciência de que, em todo o planeta, diversos grupos e empresas trabalham para resolver o complexo problema hídrico. Alguns revivendo técnicas ancestrais e outros, aplicando tecno-logias do século XXI. Mas todos com o objetivo de aproveitar, com máxima eficiência, cada gota d’água e convictos de aplicar soluções locais e incentivos econômicos em suas campanhas de conservação.

O desperdício de água doce no planeta é inquestionável, espe-cialmente na agricultura, que representa 70% de seu uso. É pre-ciso aproveitar a água de maneira eficiente, pois, à medida que a população mundial cresce e aumenta a demanda de alimentos, a irrigação não controlada impõe uma séria ameaça aos rios, man-guezais e lagos.

As águas subterrâneas cumprem um papel importante em vários casos e são vitais para o fornecimento de água potável para muitas regiões urbanas e rurais do mundo. No México, o abastecimento sociedade/águas subterrâneas é fundamental. Em alguns locais as pessoas consomem permanentemente água contaminada com ar-sênico (As) e flúor (F), em níveis capazes de colocar em risco a saúde delas. Ambos são elementos permanentes nos solos, nas rochas, águas naturais e organismos vivos. Sua mobilidade no ambiente se deve tanto a processos naturais como a atividades humanas. As concentrações destes elementos nas águas subterrâ-neas apresentam níveis superiores aos estabelecidos pelos órgãos internacionais. Sabe-se que a toxicidade de tais elementos é tal, que são capazes de causar danos à saúde quando ingeridos, por exemplo, através da água. A Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou os elementos arsênico e flúor como substâncias cancerí-genas e seus valores padrões - estabelecidos pela OMS – sofreram redução de 0,05 para 0,01 mg/L para o arsênico e de 1,5 mg/L para o flúor. No México, a concentração de arsênico e flúor estabelecida como máxima permitida, desde 2005, é de 0,025 mg/L e 1,5 mg/L, respectivamente.

UMA RESPOSTASão desenvolvidos diferentes tratamentos para remover o arsê-nico e o flúor presentes nas águas para uso e consumo humano, para os quais se empregam sólidos porosos: argilas e zeólitas. Os sólidos porosos são, atualmente, de interesse tecnológico e científico por conta de sua qualidade de interatuar com átomos, íons e moléculas, não apenas em sua superfície como também em seu interior.

A peculiar ordem estrutural destes sólidos porosos lhes confere grande utilidade como agentes de intercambio iônico, peneiras moleculares ou catalisadores. Além disso, por seu baixo custo financeiro, são empregados em campos tão importantes como o da descontaminação do meio ambiente, em forma de materiais purificadores de água e ar.

Os sólidos porosos que estão sendo aplicados atualmente nesta pesquisa são provenientes de diferentes fontes localizadas em nossa região do Estado de Puebla, México.

O objetivo principal desta investigação consiste em obter água de melhor qualidade para uso e consumo humano, aplicando materiais de procedência natural que gerem resultados satis-fatórios e com baixo custo, ou seja, desenvolver um método purificador com tecnologias sustentáveis.

‘‘‘‘Em todo o planeta, diferentes grupo e empresas trabalham para resolver o complexo problema

hídrico; alguns revivendo técnicas ancestrais e outros aplicando tecnologías do século XXI.

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ADIÇÃO DE CLORO

H2O

DEPÓSITO DE ÁGUA CORRENTE(RIOS, LAGOS, LAGOAS E REPRESAS)

Sistema de dosagem de reagentes

Sistema de �oculação – sedimentação

Bomba de ¼ de HP

Filtro zeolítico

Filtro de carvão ativado

ÁGUA TRATADA E DESINFETADA

DiAGRAMA De PLANtA ZeOLÍtiCAPara se compreender este mecanismo, é possível observar as etapas desenvolvidas a partir de uma fonte de água contaminada com arsênico e flúor até chegar a fase de água limpa, própria para consumo e usos agrícolas e industriais.

DESIGN E IMPLEMENTAÇÃO DOS PROTÓTIPOS Com base nos resultados da etapa anterior, será possível dese-nhar um protótipo para o tratamento das águas nos poços de re-giões que apresentem problemas de contaminação com arsênico e flúor. Prevê-se que este protótipo baseará seu funcionamento na capacidade das zeólitas naturais e sintéticas de realizarem in-tercambio iônico e retenção de metais pesados, sendo este um eficiente método para tratar águas contaminadas. Será projetada uma planta piloto adequada de tratamento, onde será selecio-nado o comportamento hidrodinâmico mais apropriado, bem como as dimensões e capacidades necessárias.

Além disso, prevê-se o planejamento de novas estratégias de con-trole, capazes de garantir o bom funcionamento do protótipo em diversas condições de operação: sobrecargas ou diminuição de substratos de entrada e níveis de pH, entre outras.

As metodologias adequadas para verificar o cumprimento da norma oficial mexicana - relacionada com a qualidade hídrica para uso e consumo humano - serão estabelecidas por questões práticas. O protótipo será desenhado em laboratório. No final do projeto, serão realizadas algumas provas sob situações reais nos poços selecionados previamente.

*Zeólitas - conjunto de minerais de estrutura porosa, basicamente formados por alumínio e silício (aluminiosilicato), hidratados de metais alcalinos e alcalinoterrosos.

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A água deve ser incluída em todo programa de atenção à AIDS

POR UMA RELAÇÃO SÃ E BENÉFICAAcesso à qualidade e quantidade hídrica e infra-estrutura de saneamento ajudam a prevenir infecções oportunistas em pacientes portadores do vírus da imunodeficiência humana.

Fotos: Patrícia Gatto

Por BORIS RAMÍREZ

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SAÚde

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A relação entre água e saúde é, sem dúvida alguma, es-sencial para a vida das pessoas. Tal filosofia é partilhada também pelo Projeto de Melhoramento da Higiene (HIP, por suas siglas em inglês), organização que, jun-

tamente com a Agência de Desenvolvimento dos Estados Unidos, orienta sobre temas ligados à água, saneamento e higiene, a fim de melhorar os programas de atendimento a pacientes portado-res do vírus HIV.

“É preciso ficar claro que a primeira incidência de acesso à água e infra-estrutura de rede de esgotos deve atender os quesitos que ajudem a melhorar a condição e a higiene dos pacientes com AIDS”, sustenta Dr. Edmundo Cárdenas, especialista em Imuno-logia, baseando-se na ajuda que o saneamento dá para melhorar a higiene e controlar o efeito de doenças oportunistas, como é o caso das diarréias e de outras associadas à água poluída.

Uma maior incidência de doenças oportunistas em pessoas com AIDS implica numa queda na qualidade de vida dos mesmos, diminui sua produtividade e pode gerar empobrecimento. Com este programa, o HIP intenciona “promover uma atenção integral para que os portadores do HIV possam viver mais tempo e com uma vida mais saudável. É daí que se reconhece a importância da água potável, do saneamento e da promoção da higiene na proteção e cuidado das pessoas infectadas pelo HIV”.

O objetivo desta iniciativa (www.hip.watsan.net) é destacar água, saneamento e higiene como componentes de melhora que podem e devem ser incorporados em todos os programas de pre-venção e atenção aos aidéticos, sobre tudo para ajudar a diminuir o impacto das diarréias nos mesmos.

Não é para menos: os cenários a serem controlados têm a ver com a introdução de melhorias nos seguintes níveis:

• Todas as estratégias têm relação com o controle do sexo, com o uso de preservativos e com a educação, mas deixam a desejar no que tange aspectos importantes como água, sa-neamento e higiene que devem estar presentes em todos os programas de prevenção e atenção.

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Mais de 33 milhões de pessoas no mundo estão contaminadas pelo HIV.

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para a coleta de água e sua economia. Foram sugeridos de 20 a 80 litros de água diários para apoiar estes pacientes.

• Aqueles que cuidam dos enfermos devem aprender técnicas simples de tratamento hídrico, como desinfecção com so-lução de hipoclorito (cloro) e SODIS – desinfecção por meio de garrafas de água expostas ao sol – e possuir informação sobre armazenamento e manejo adequado para reduzir a possibilidade de nova contaminação. Devem conhecer tam-bém o uso correto da reidratação oral e do sabonete.

• É preciso ensinar os pacientes e seus cuidadores a reconhe-cer fontes seguras de água e, na falta das mesmas, coletar água da chuva e submetê-la a processos de purificação.

• É preciso identificar e promover opções sanitárias para as fezes e promover a construção de privadas de boa quali-dade para as casas. É preciso assegurar que os banheiros ou privadas, bem como a entrada dos mesmos sejam sufi-cientemente amplos para caber mais de uma pessoa para o caso de usuários que necessitem de assistência. Desenhar serviços sanitários que utilizem luz natural e que tenham ventilação adequada. Identificar e promover a deposição apropriada das fezes e, quando a mobilidade dos usuários for limitada, colocar penicos à disposição dos mesmos.• A má qualidade da água incide no cozimento dos alimentos e

sua falta impede o hábito de lavar as mãos antes das refeições. Em pacientes com AIDS isto acarreta infecções gastrointestinais com consequências devastadoras.

• Pessoas com AIDS que consomem água não tratada podem contrair criptosporidiosis (doença oportunista causada pelo pa-rasita cryptosporidium parvum, presente em algumas comidas ou em água contaminada), acarretando em diarréia, vômito e câimbras estomacais, sintomas que, se prolongados, levam a desidratação. Outros germens presentes em alimentos e água não tratada são: salmonella campylobacter e listera monocyto-genes, que causam os mesmos sintomas além de infecções sanguíneas, meningite e encefalite.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que entre 85% e 90% das doenças provocadas por diarréia nos países em desen-volvimento podem ser atribuídas à insalubridade hídrica, ao sanea-mento inadequado e a más práticas de higiene.

RECOMENDAÇÕES PARA INTEGRARDurante a oficina “Integração da água, saneamento e higiene no lar com pacientes portadores do vírus da AIDS”, ocorrida em Ma-láui (África) em 2007, os responsáveis pelo programa revisaram e redefiniram as principais recomendações para integrar a água e o saneamento na prevenção e no tratamento da doença. Eis as mais significativas:

• A pesquisa demonstrou que os lares de pacientes com acesso a um maior volume de água têm um entorno mais limpo e menos transmissão de agentes patogênicos causadores de diarréia. Um dos objetivos em longo prazo seria que toda família pudesse dispor de uma fonte de água próxima de sua casa, entretanto, em curto prazo, é preciso desenvolver tecnologias apropriadas

‘‘ ‘‘O acesso à água é necessário para

pessoas com HIV, já que o asseio do corpo

é importante na prevenção de

infecções causadas por bactérias e fungos.

Organização Amigos contra a AIDS, México.

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uMA eStRADA SÃA Agência de Cooperação Alemã e o Instituto de Educação e Saúde propõem um caminho a ser seguido que tire melhor proveito da água e da higiene na atenção de pacientes com HIV.

Boas instalações sanitárias

acesso à água potável

identificar fontes de água limpa

incluir o tema água em programas soBre Hiv

Higiene elavagem das mãos

cozinHar alimentos com água fervida

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CULTURA

Cirque du Soleil e Fundação One Drop são grandes cenários

ACROBACIAS E MALABARESPELA ÁGUA

Guy Laliberté ouviu o chamado e não quis ficar de fora: entrou na água. E com seu entusiasmo juntou estrelas do cinema e da música com líderes e ativistas mundiais na ajuda pela preservação, promoção e proteção dos recursos hídricos.

Ele era um artista das ruas, engolia fogo e tocava música folclórica... deixou seu país natal, o Canadá, e foi para a Europa como um peregrino. De suas vivências, aprendeu

a reconhecer as carências do ser humano.

Hoje, Guy Laliberté é um empresário de sucesso, um filantrópico, um turista espacial e fundador e diretor executivo do circo mais famoso do mundo: o Cirque du Soleil. Laliberté encontrou na água um vínculo entre sua visão pessoal de sucesso - e ao mesmo tempo comprometida - com um tema de ordem mundial: tornar a água acessível para todos.

Após fundar o Cirque du Soleil, Laliberté se dedi-cou a atrair voluntários para conscientizar seu pú-blico sobre a água e o compromisso de lutar para que todos disponham dela. Fiel aos seus propósi-tos, em 2007, criou a Fundação One Drop (Uma Gota), com sede em Montreal (Canadá).

Em seu manifesto “Meu sonho” lê-se: “a água é nosso vínculo comum, nos une como seres huma-nos e cidadãos do planeta… continuo sonhando com um mundo mais justo. Um mundo onde cada ser humano possa ter acesso à água limpa e possa viver com dignidade e saúde. Os sonhos podem se tornar realidade quando todos investem nele suas energias, força de vontade e criatividade”.

Por meio da Fundação One Drop, Laliberté faz com que a arte do circo, do teatro popular, da música, das artes visuais, da dança e do folclore sejam mecanismos de promover educação, par-ticipação comunitária e sensibilização no que se refere à água. Mas acima de tudo um mecanismo para gerar projetos técnicos em países em desen-volvimento, a fim de melhorar o acesso ao recurso hídrico, garantir a segurança alimentar e promover a igualdade de gênero.

Laliberté aportou US$ 100 milhões para o ar-ranque da fundação, que deverá durar 25 anos. Convidou a todos os funcionários do Cirque du Soleil a doarem 1% de seus salários e vinculou organizações como Oxfam Internacional, Funda-ção Príncipe Albert II de Mônaco e RBC Projeto de Água Azul para prestarem assistência técnica e recursos financeiros. Também conseguiu fazer com que estrelas mundiais do cinema e da música como Salma Hayek, Bono e Shakira se unissem a seus esforços para criar as condições necessárias para o desenvolvimento de programas na América Central, África Subsaariana e Oriente Sul da Ásia.

Esteja na Terra ou no espaço, Guy Laliberté olha mais uma vez para sua volta e encontra na água esse vínculo básico que nos torna seres humanos melhores. E é para isso que ele trabalha.

Por BORIS RAMÍREZ

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De OLHO NA AMÉRiCA LAtiNA

NICARÁGUA. Em Estelí, desenvolve um projeto para melhorar o acesso à água, aumentar níveis de saúde e produção agrícola, além de garantir se-gurança alimentar. Este projeto impacta 1,2 mil famílias e deverá beneficiar 10 mil pessoas. Conta com um orçamento de US$ 4,4 milhões e um avanço de 65%.

HONDURAS. A bacia do rio Guacirope enfrenta a seca. Esta região monta-nhosa está desflorestada, o que reduz a capacidade do solo para retenção de água e gera baixos rendimentos agrícolas, pobreza, problemas de saúde e deterioramento ambiental. Este projeto beneficia mil pessoas e prevê atingir mais de 15 mil pessoas. Seu orçamento é de US$ 5 milhões e um avanço de 20%.

EL SALVADOR. O projeto é desenvolvido no Departamento de Francisco Morazán e deverá ser iniciado em julho deste ano. Seu objetivo consiste em criar uma unidade de microcrédito para projetos de água e saneamento.

HAITÍ. Os detalhes para fazer parte do plano de reconstrução e reabilitação da ilha – que deve ter início ainda este mês - estão em andamento. O ob-jetivo será unificar programas para garantir acesso à água nas populações afetadas pelo terremoto.

PARA MuDAR O MuNDOGuy Laliberté é uma máquina de sonhos e realidades. Nesta entrevista, concedida à Aqua Vitae, ele fala um pouco mais de sua missão especial.

O que leva Guy Laliberté a se comprometer de maneira tão direta com o tema água e com a luta para que ela seja entendida como um direito humano?Tenho viajado pelo mundo e em minhas inúmeras viagens para o exterior me fizeram enxergar o quão está seriamente afetada a dignidade humana por conta da pobreza. A água e a pobreza estão estreitamente vinculadas. Quando a popula-ção tem acesso fácil à água, tem mais tempo para se dedicar a atividades que lhes permitam melhorar sua qualidade de vida.

O que o senhor pretende dizer com o lema “Água para todos, todos pela água!”?A água tem o poder de unir os povos. A crise hídrica dá a oportunidade de nos unirmos como nunca antes e compar-tilharmos recursos, conhecimentos, experiência e esperança em torno de um objetivo comum: garantir o acesso universal à água potável para proteger este valioso recurso.

Como foi criada à Fundação One Drop? De que maneira ela foi vinculada a instituições tão importantes como o Cirque du Soleil, a Fundação Príncipe Albert II de Mônaco,

Oxfam International e RBC Blue Water Project? Cirque du Soleil ®, Oxfam Internacional, a Fundação do Príncipe Albert II de Mônaco e a RBC são os sócio fundadores da Fundação One Drop. Para saber mais e participar do que fazemos convido a todos a acessar http://www.onedrop.org

Como o senhor conseguiu atrair personalidades como Shakira, Salma Hayek, U2 entre outros em prol do tema água?Pedi a meus amigos que pensam igual a mim que fizessem parte do espetáculo “Missão Poética Social do Espaço”, para conscientizar sobre o tema água. É assim como eles, e mui-tos outros, usam as artes e a cultura para criar consciência e compromisso em relação à água.

Circo, artes visuais, folclore, teatro, música e dança. É possível sensibilizar por meio da arte? Inspirados pela criatividade do Cirque du Soleil ® e por seu compromisso social há muitos anos, temos como princí-pio o fato de que através das artes e da cultura é possível contribuir para mudar o mundo. O enfoque da arte social utiliza uma combinação de teatro, circo, música, poesia e multimídia para informar, sensibilizar e mobilizar indivíduos e comunidades em relação às questões ligadas à água por todo o mundo.

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A FUNDAçãO ONDE DROP DERRAMA SUAS AçõES NA REGIãO.

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INTERNACIONAL

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Sem dúvida, o tema água merece a atenção que está re-cebendo atualmente por definir, em muitos aspectos, a existência de nosso Planeta Azul. Este elemento é de vital importância para quase todas as atividades humanas,

desde a agricultura e indústria, até a produção de energia. Assim como o ar que respiramos, a água é vital para a saúde das pessoas e das comunidades. Num sentido literal e figurado, a água repre-senta a fonte da vida na Terra.

A água também pode trazer devastação, pois as secas impactam mais pessoas que todos os desastres naturais combinados. As inun-dações, assim como o acesso inadequado à água, ao saneamento e à higiene causam a morte de mais de 1,5 milhão de crianças por ano. Estes desafios hídricos são mais graves nas nações em desenvolvimento, mas afetam qualquer território do nosso planeta.

Os especialistas prevêem que em 2025 quase dois terços dos países do mundo terão dificuldades para ter acesso ao recurso hídrico. Muitas fontes de água doce sofrerão com a pressão adi-cional da mudança climática e com o crescimento da população. O acesso às fontes seguras de água potáveis é uma questão de segurança humana e também de segurança nacional. É por isso

que, tanto o presidente Obama como eu, reconhecemos que os problemas hídricos são essenciais para o sucesso de muitas de nossas maiores iniciativas na agenda da política externa.

Do total do uso da água no mundo, 70% vai para a agricultura. Por isso, promover a segurança alimentar depende de uma boa política administrativa dos recursos hídricos. As inundações e as secas podem acabar com os cultivos e com as economias que dependem da agricultura.

Também estamos trabalhando no aumento do poder das mulhe-res de todo o mundo porque, dependendo do continente sobre o qual estivermos falando, a média de mulheres agricultoras chega a 60%. Além disso, as que não têm acesso aos serviços de sane-amento devem caminhar durante horas por dia só para localizar e levar água, quando seria mais proveitoso investir tempo e energia em suas famílias e comunidades.

Parte do problema está na adaptação da mudança climática e seus impactos na água. À medida que a Terra esquenta, os padrões de chuva podem mudar e com eles os novos padrões de secas e inundações.

Água como sinônimo

de desenvolvimentoe entendimento internacional

um tema Para a agenda diPlomÁtica

Por HILLARY CLINTONSecretária de Estado dos Estados Unidos

Durante a celebração do Dia Mundial da Água, a Secretária de Estado dos Estados Unidos foi clara ao destacar perante os membros da

Sociedade Geográfica Nacional os compromissos do governo Barack Obama com os recursos hídricos.

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Passamos muito tempo trabalhando em temas como terrorismo, controle de armamentos e proliferação nuclear. Estes são, eviden-temente, temas importantes que merecem nossa atenção. Mas o da água é diferente. Para os Estados Unidos, a água representa uma das grandes oportunidades diplomáticas de nosso tempo, que permitirá salvar milhões de vidas, garantir a segurança ali-mentar, promover nossos interesses de segurança nacional, pro-teger o meio ambiente e demonstrar para milhares de pessoas que os Estados Unidos se preocupam com elas.

CINCO CORRENTES PARA SEGUIRQuero destacar cinco correntes de ação que dão nosso enfoque para os desafios hídricos.

- Em primeiro lugar, fortalecer a capacidade a nível regional, local, nacional e internacional. Os países e as comunidades devem tomar a iniciativa para assegurar seu futuro. Estamos buscando uma maneira de trabalhar com sócios internacionais que estimu-lem soluções para fortalecer o setor hídrico e de saneamento. A Corporação de Desafio do Milênio está apoiando os países que se comprometem a fazer reformas necessárias, melhorar a gover-nabilidade e assumir os desafios de desenvolvimento referentes à água. A Agência de Desenvolvimento dos Estados Unidos (USAID) está trabalhando nas bases e com os ministérios nacionais, para melhorar a governabilidade e a criação de capacidades.

Temos que fortalecer os mecanismos regionais de cooperação para a gestão dos recursos hídricos que transcendem as fron-teiras nacionais. Há mais de 260 bacias hidrográficas fluviais no mundo que fluem através das diferentes nações. Mas não pode-mos resolver isoladamente os problemas hídricos destes países. Devemos ver cada bacia hidrográfica ou lençol freático como uma oportunidade para realizar uma cooperação internacional maior.

‘‘‘‘Queremos identificar oportunidades estratégicas para trabalhar com empresas privadas e levar seus

conhecimentos técnicos e capital para vencer os desafios enfrentados pelo setor hídrico.

A bacia hidrográfica do Rio Nilo, por exemplo, é o lar de 180 milhões de pessoas espalhadas ao longo de 10 países da África Oriental. Muitas destas nações se encontram sumidas na pobreza e sete delas têm vivido conflitos recentes. Os especialistas estimam que a gestão cooperativa dos recursos hídricos na bacia hidro-gráfica poderia aumentar seu crescimento econômico, tirá-las da pobreza e assentar as bases para uma maior estabilidade regional. - Em segundo lugar, é preciso redobrar os esforços diplomáticos e obter uma melhor coordenação. Mais de 24 agências da ONU e outros organismos intergovernamentais e multilaterais de desen-volvimento, como o Banco Mundial, dedicam-se a temas hídricos. O trabalho destes organismos, pouco a pouco, vem sofrendo de uma enorme falta de coordenação e atenção. A Declaração Con-junta da Cúpula do G8 em Áquila (Itália) enviou uma mensagem sobre a prioridade dos problemas hídricos para a comunidade internacional. Nós nos comprometemos a dar seguimento e apre-sentá-los às organizações intergovernamentais, instituições finan-ceiras internacionais e outros organismos regionais e mundiais.

- O terceiro elemento de nossa estratégia frente ao problema hídrico é a mobilização de apoio financeiro. Já vimos como sub-venções relativamente pequenas podem ter um enorme impacto na segurança hídrica. Há dez anos, no Equador, a USAID começou a prestar assistência técnica, apoiando a criação de um fundo fiduciário de água para a futura proteção das bacias hidrográficas de Quito. Atualmente, graças ao trabalho de numerosos associa-dos, esse fundo chegou aos US$ 6 milhões, sendo outorgados US$ 800 mil por ano para os esforços de conservação. Outras subvenções estão voltadas ao apoio de projetos de saneamento, higiene ou para a melhoria de qualidade da água, envolvendo tecnologia de pequena escala, tais como a de purificação da água doméstica.

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- Em quarto lugar, é preciso aproveitar o poder da ciência e da tecnologia. Foi possível obter êxito com soluções simples, tais como filtros de cerâmica e desinfetantes de cloro. Mas a ciência e a inovação podem ter um impacto ainda maior em várias outras áreas. Os pesquisadores que trabalham nas agências dos EUA descobriram melhores técnicas para a desinfecção e o armazena-mento de água potável, para a previsão de inundações e secas e para melhorar a produtividade da água destinada à alimentação e ao crescimento econômico. Também temos visto avanços em novas tecnologias para o tratamento de águas residuais, dessali-nização e uso de sistemas de informação global. Temos que tra-balhar mais arduamente para compartilhar estes conhecimentos com o resto do mundo.

- É por isso que o aspecto final de nossos esforços relativos à água consiste em ampliar o alcance de nossas associações. Combinar nossos pontos fortes e esforços com o trabalho de outros. Assim, teremos resultados superiores à soma das partes. Organizações filantrópicas privadas, tais como a Fundação Bill e Melinda Gates, o Conrad N. Hilton Foundation e o Rotary International também estão cada vez mais comprometidas com a água e o saneamento. Queremos identificar oportunidades estratégicas para trabalhar com empresas privadas e utilizar seus conhecimentos técnicos e capital para vencer os desafios enfrentados pelo setor hídrico.

A canalização destas cinco correntes de ação, cujo objetivo é criar um rio poderoso, capaz de se estender por todo nosso programa diplomático, não será fácil de ser realizada. Mas, felizmente, temos uma equipe adequada para o trabalho. Enquanto nos de-paramos com este desafio, uma coisa deverá perdurar: o compro-misso dos Estados Unidos com os problemas hídricos. Estamos nisto a longo prazo. Temos de fazer isso por nós mesmos e pelas gerações futuras.

(O artigo completo está em: www.state.gov/secretary/rm/2010/03/138737.htm)

‘‘‘‘A Declaração Conjunta da Cúpula do G8 em Áquila (Itália) enviou uma mensagem sobre a prioridade dos problemas

hídricos para a comunidade internacional. Nós nos comprometemos a dar seguimentos a eles.

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SITES DE INTERESSE

www.atl.org.mx O PORTAL DA ÁGUA DO MÉXICO – ATLA palavra Atl provém do náuatle (ou asteca) e significa ‘água’, ‘fonte de vida’. Este portal apresenta espaços de discussão, sites de busca especializados com base em dados de governos federais, estaduais, municipais, órgãos internacionais, instituições acadêmi-cas, empresas do setor e público em geral, oferecendo informação em formato multi-mídia e capacitação online. O site é adminis-trado pelo Instituto Mexicano de Tecnologia da Água e tem como objetivo divulgar conhecimentos e tecnologia produzidos no México e no mundo, para o aproveita-mento sustentável e a gestão integral dos recursos hídricos.

www.internationalrivers.org INTERNATIONAL WATER MANAGEMENT INSTITUTE (IWMI)É um dos 15 centros internacionais de pesquisas ligadas ao manejo hídrico, apoiado por uma rede de 60 governos, fundações e organizações internacio-nais e regionais conhecidas como Grupo Consultivo sobre Pesquisa Agrícola Inter-nacional (GCIAI, por suas siglas em espan-hol). Trata-se de uma organização sem fins lucrativos, cuja missão é melhorar a ges-tão da terra e dos recursos hídricos para a alimentação. Seu trabalho se baseia nos desafios enfrentados pelas comunidades pobres nos países em desenvolvimento e visa ajudá-las a atingir os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) liga-dos à água, reduzindo, assim, a pobreza, a fome e mantendo são o meio ambiente.

www.capnet-brasil.org www.womenforwater.org REDE BRASILEIRA DE CAPACITAÇÃO EM RECURSOS HÍDRICOS – CAP-NET BRASILFormada em 2005, a rede foi integrada à rede mundial Cap-Net (Rede Internacional para Capacitação no Manejo Integrado de Recursos Hídricos) e tem o patrocínio da Agência de Cooperação do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento. O objetivo é atender à crescente demanda de capacitação em gestão integrada de recursos hídricos, especialmente no Brasil e em países de língua portuguesa. É possível ter acesso a materiais, artigos, tutoriais para capacitação no tema, redes de trabalho e banco de dados.

WOMEN FOR WATER PARTNERSHIPO Mulheres pela Água tem sede na Holanda e trata-se de uma rede internacional de or-ganizações femininas com presença em aproximadamente 100 países do mundo. Estas organizações contribuem para po-tencialização da mulher e da luta contra a pobreza a partir da água e do saneamento. A organização ajuda seus membros na ela-boração e execução de suas propostas de projetos mediante a busca de financia-mento, conselhos de especialistas, doa-ções, redes de trabalho e assessoramento técnico, legal e financeiro.

INTERNATIONAL RAINWATER HARVESTING ALLIANCE (IRHA)A Aliança Internacional para a Gestão de Água da Chuva (IRHA) foi criada em Genebra, em novembro de 2002, após as recomendações formuladas durante a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, realizada em Johanesburgo, com o objetivo de criar condições para captação de águas pluviais e promovê-las como um recurso valioso. Com a colaboração de organizações e espe-cialistas mundiais, esta Aliança influen-cia, promove e transfere conhecimentos e tecnologia de aproveitamento da água da chuva, bem como formas de enfrentar problemas de abastecimento para con-sumo e usos agrícolas ou industriais.

www.aguasustentable.org www.irha-h2o.org ÁGUA SUSTENTÁVELO Água Sustentável é uma ONG sem fins lucrativos, com sede em La Paz e Cocha-bamba (Bolívia). Desde 2005, trabalha com organizações sociais, realizando análises e propostas técnicas para a constituição jurídica dos direitos sociais de acesso, gestão e uso da água e do meio ambiente. As ações estão voltadas para a pesquisa, incidência, capacitação e gestão técnica a nível internacional, na-cional, regional e local, por meio das fa-cilidades de diálogo entre os atores que usam, vivem e trabalham com a água e as diversas instituições estatais, acadêmicas e ambientalistas.

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AS MASSAS HUMANAS MAIS PERIGOSAS SÃO AQUELAS EM CUJAS

VEIAS FOI INJETADO O VENENO DO MEDO...

DO MEDO À MUDANÇA. Octavio Paz (1914-1998) Poeta e ensaísta mexicano.

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