implicações do programa dinheiro direto na escola

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253 Educ. Soc., Campinas, vol. 28, n. 98, p. 253-267, jan./abr. 2007 Disponível em <http://www.cedes.unicamp.br> IMPLICAÇÕES DO PROGRAMA DINHEIRO DIRETO NA ESCOLA PARA A GESTÃO DA ESCOLA PÚBLICA THERESA ADRIÃO * VERA PERONI ** RESUMO: Este artigo apresenta as conseqüências do Programa Di- nheiro Direto na Escola para a esfera da gestão das escolas públicas, especialmente aquelas relativas às conexões entre a constituição e ges- tão da esfera pública e da esfera privada. De certa forma, acreditamos que o PDDE materializa mudanças ocorridas no papel do Estado. Os resultados encontrados, com destaque para aqueles que envolveram a indução à criação de unidades de direito privado para o recebimen- to e gestão dos recursos descentralizados, organizam-se a efeito deste artigo, tendo em vista três aspectos constitutivos da gestão educacio- nal: a democratização da gestão da escola, a relação público e privado e a relação entre descentralização e centralização. Palavras-chave: Política educacional. Gestão da educação. Financia- mento da educação. IMPLICATIONS OF THE SCHOOL DIRECT FUNDING PROGRAM ON THE PUBLIC SCHOOL MANAGEMENT ABSTRACT: This paper presents some implications of the alterations entailed by the implementation of the School Direct Funding Pro- gram on public school management. It is the result of an investiga- tion into the consequences of this Program through case studies in five States – São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul, Pará and Piauí. These were selected to show, albeit relatively, the dif- ferent situations generated by the implementation of this Program * Doutora em Educação e professora assistente do Departamento de Educação da Universi- dade Estadual Paulista (UNESP, Rio Claro). E-mail: [email protected] ** Doutora em História e Filosofia da Educação e professora da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail: [email protected]

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Educação Básica - Políticas educacionais

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  • 253Educ. Soc., Campinas, vol. 28, n. 98, p. 253-267, jan./abr. 2007Disponvel em

    Theresa Adrio & Vera Peroni

    IMPLICAES DO PROGRAMA DINHEIRO DIRETONA ESCOLA PARA A GESTO DA ESCOLA PBLICA

    THERESA ADRIO*

    VERA PERONI**

    RESUMO: Este artigo apresenta as conseqncias do Programa Di-nheiro Direto na Escola para a esfera da gesto das escolas pblicas,especialmente aquelas relativas s conexes entre a constituio e ges-to da esfera pblica e da esfera privada. De certa forma, acreditamosque o PDDE materializa mudanas ocorridas no papel do Estado. Osresultados encontrados, com destaque para aqueles que envolverama induo criao de unidades de direito privado para o recebimen-to e gesto dos recursos descentralizados, organizam-se a efeito desteartigo, tendo em vista trs aspectos constitutivos da gesto educacio-nal: a democratizao da gesto da escola, a relao pblico e privadoe a relao entre descentralizao e centralizao.

    Palavras-chave: Poltica educacional. Gesto da educao. Financia-mento da educao.

    IMPLICATIONS OF THE SCHOOL DIRECT FUNDING PROGRAMON THE PUBLIC SCHOOL MANAGEMENT

    ABSTRACT: This paper presents some implications of the alterationsentailed by the implementation of the School Direct Funding Pro-gram on public school management. It is the result of an investiga-tion into the consequences of this Program through case studies infive States So Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso do Sul,Par and Piau. These were selected to show, albeit relatively, the dif-ferent situations generated by the implementation of this Program

    * Doutora em Educao e professora assistente do Departamento de Educao da Universi-dade Estadual Paulista (UNESP, Rio Claro). E-mail: [email protected]

    ** Doutora em Histria e Filosofia da Educao e professora da Faculdade de Educao daUniversidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). E-mail: [email protected]

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    Implicaes do Programa Dinheiro Direto na Escola para a gesto da escola pblica

    Educ. Soc., Campinas, vol. 28, n. 98, p. 253-267, jan./abr. 2007

    Disponvel em

    in such diversified educational scenery. Although the induction tocreate private law entities to receive and manage these decentralizedresources is being paid a special attention, these results are organizedaccording to the three aspects that constitute the educational man-agement: the democratization of school management, the relation-ship between public and private spheres, and the relationship be-tween centralization and decentralization.

    Key words: The State and educational policy. Education manage-ment. Education funding.

    Introduo

    ste artigo apresenta as implicaes, para a gesto da escola p-blica, das alteraes introduzidas pela implantao do ProgramaDinheiro Direto na Escola (PDDE). Resulta de investigao a res-

    peito das conseqncias desse Programa desenvolvida por meio de es-tudos de caso em cinco estados So Paulo, Rio Grande do Sul, MatoGrosso do Sul, Par e Piau , selecionados com o objetivo de eviden-ciar, ainda que relativamente, a diversidade das situaes geradas pelaimplantao do Programa, tendo em vista a sua adoo em um tam-bm diverso cenrio educacional.

    Em cada um dos cinco estados pesquisados,1 buscou-se inventariare analisar o processo de implantao do PDDE e suas conseqncias para agesto de dois sistemas ou redes de ensino, conforme o caso: um estadu-al e outro municipal, este preferencialmente composto pela capital doestado. Os dados empricos coletados referem-se ao processo de implan-tao do PDDE e a sua execuo no ano de 2004. Complementarmente,com o objetivo de levantar informaes sobre as conseqncias do Pro-grama para o cho da escola e mais especificamente para a sua gesto,procedeu-se ao levantamento de informaes junto a uma escola de cadaum dos sistemas/redes. Sugeria-se, tambm, a coleta de informaes nasAPAES locais, condio no satisfeita em todos os estados.

    Na regio Sul, a pesquisa contemplou a rede estadual do RioGrande do Sul e municipal de Porto Alegre, englobando a observaoem duas escolas de ensino fundamental de cada uma dessas esferas ad-ministrativas, alm de uma escola da APAE. Tambm compuseram aamostra intencional dos casos aqui analisados as redes estaduais de SoPaulo, Piau, Par e Mato Grosso do Sul; as redes municipais das capi-

    RogrioNotaEstudo feito provavelmente durante o perodo de 2004-5 - 1 gesto Lula.

    RogrioRealce

    RogrioNotaA referente pesquisa busca compreender como se deu a implantao do programa dinheiro direto na escola nas redes municipais e estaduais de 5 regies do Pas: Norte, Nordeste, Sul, Sudeste e Centro Oeste.

    RogrioRealce

    RogrioRealce

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    tais desses mesmos estados, com exceo de So Paulo, onde se optoupor acompanhar a implantao do Programa na cidade de Pirassununga,por ter sido este viabilizado mediante a constituio de um consrciointerescolas. O PDDE exige para o repasse de recursos o nmero mnimode 50 matriculados, condio satisfeita em Pirassununga isoladamentepor apenas uma escola municipal, o que a fez constituir-se como escola-sede do consrcio, nela se instituindo a Unidades Executoras (UEx) qualas outras se submetiam para o recebimento dos recursos proporcional-mente aos alunos matriculados. Acredita-se que esta situao deva se re-produzir em municpios de pequeno porte.

    Em todas essas localidades, selecionou-se escolas contempladaspelo Programa para complementar a realizao das observaes de cam-po, com destaque para a percepo do funcionamento das UEx por meioda participao em reunies e da anlise de registros sobre o seu pro-cesso de implantao.

    O trabalho de campo consistiu, tambm, do levantamento e an-lise de documentao referente implantao e execuo do PDDE. Com-plementarmente, buscou-se entender a qualidade das exigncias e altera-es trazidas pelo Programa a partir da realizao de entrevistassemi-estruturadas, concedidas por representantes dos diferentes segmen-tos diretamente envolvidos na realizao do programa: tcnicos das se-cretarias/departamentos de educao; diretores, pais e professores, almde responsveis pelo PDDE no prprio Fundo Nacional de Desenvolvi-mento da Educao (FNDE).

    A opo pela anlise do PDDE justificou-se, desde a proposioda pesquisa, pela sua aproximao com formatos de gesto da esferapblica comprometidos com as alteraes na organizao e funciona-mento do aparato estatal, tendo em vista a adequao deste s exign-cias propagadas ou s estratgias adotadas para a manuteno do capi-talismo, dentre as quais se encontra a delegao, por parte do Estado,da responsabilidade pela oferta de polticas sociais a uma genrica so-ciedade civil (Montao, 2002).

    Suficientemente debatidas, mas no o bastante para minimizarsua tnica, as referidas exigncias identificavam a crise do capitalismodo final do sculo passado com a crise fiscal de um Estado consideradopelos setores hegemnicos, exageradamente, provedor. Por essa razo e,em linhas gerais, a superao da crise do capital subordinava-se a trans-

    RogrioRealce

    RogrioNotaparticiparam da pesquisa as redes estaduais do Rio Grande do Sul, So Paulo, Mato Grosso do Sul, Piau e Par. Foi escolhido uma escola de cada regio para cada sistema de ensino, com excesso de So Paulo, as capitais participaram com a rede municipal, sendo que em So Paulo foi escolhida Pirassununga.

    RogrioRealce

    RogrioRealce

    RogrioNotao mtodo da pesquisa!

    RogrioSublinhado

    RogrioNotaa justificativa!

    RogrioRealce

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    RogrioNotao discurso neoliberal que justifica a criao e implementao de polticas de um Estado Mnimo.

    RogrioRealce

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    Implicaes do Programa Dinheiro Direto na Escola para a gesto da escola pblica

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    formaes no papel do Estado, situao que inclua a adoo de novoslimites entre a esfera pblica e a esfera privada.

    O iderio conservador propunha a adoo da lgica mercantilcomo mecanismo para enfrentar as falhas do Estado, identificadas pelapresena da poltica nos processos decisrios. O objetivo seria, na medi-da do possvel, neutralizar esta caracterstica por meio do incentivo ado-o de mecanismos de mercado, inclusive no mbito da gesto estatal,de forma que o Estado lograsse atuar mais racionalmente, porque menossujeito s presses de grupos de interesses, tornando-se mais eficiente eprodutivo2 (Buchaman, 1984).

    Defensores da Terceira Via,3 como o ex-ministro Bresser Pereira,tambm incidiram sobre a reformulao do padro de oferta existentepara as polticas sociais. Por no as considerar compondo o ncleo estra-tgico do aparelho do Estado e tampouco como atividade exclusiva desseEstado, por um lado apregoavam sua oferta mediante a adoo de qua-se-mercados, como alternativa para o aumento de sua eficincia e, poroutro, repassaram para a sociedade a execuo das polticas sociais pormeio das parcerias pblico-privadas, denominadas de pblico no-esta-tal. Em sntese: um choque de mercado no interior do Estado, ajustenecessrio quelas esferas da ao estatal que, por sua natureza, no po-deriam ser diretamente privatizadas.

    Didaticamente, o texto est organizado em quatro itens. O pri-meiro busca apresentar e contextualizar as principais caractersticas doPrograma. Os trs ltimos itens indicam os resultados da pesquisa noque se refere democratizao da gesto, relao pblico-privado e relao entre descentralizao-centralizao.

    O PDDE e o marco das reformas no Estado brasileiro

    No Brasil, com as devidas adequaes e peculiaridades, a identi-ficao do Estado como o responsvel pela crise econmica obteveresposta poltico-institucional nas estratgias propostas pelo Plano deReforma do Estado no Brasil (Brasil, MARE, 1995), das quais destaca-mos a transferncia de polticas sociais para o denominado setor pbli-co no-estatal. (Bresser Pereira, 1997, p. 7).

    Essa ltima alternativa tem logrado justificar-se terica e ideolo-gicamente pela disseminao da chamada Terceira Via (Giddens, 2001)

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    RogrioRealce

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    RogrioNotaA famosa fala de que o "Estado como uma empresa", na sequencia de uma srie de argumentos de uma lgica de lucro e capital de giro.

    RogrioSublinhado

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    RogrioNotao Estado atuar mais racionalmente porque menos sujeito a presses polticas... Ocorre que surge aqui a presso de mercado, onde o tal Estado mnimo que no deve ser provedor muda de figura e segundo o mercado ele deve ser protecionista!

    RogrioSublinhado

    RogrioNotao que seria o "produto" de um Estado????

    RogrioRealce

    RogrioNotano campo do discurso poltico, como se deu o desaparelhamento do Estado em relao s polticas sociais na ltima dcada do sculo 20 e primeira dcada do sculo 21.

    RogrioRealce

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    e pela atuao de seu operador nas prticas sociais o Terceiro Setor(Montao, 2002) ou por sua variao institucionalizada, as Organiza-es Sociais. Nesse caso, o Estado, mesmo se retirando da execuo daspolticas sociais, mantm-se como seu financiador ou co-financiador.

    Desde ento, est na pauta dos governantes a adoo de meca-nismos que deleguem a responsabilidade pela oferta e/ou execuo daspolticas sociais, consideradas como finalidades no exclusivas do po-der pblico, sociedade por meio da privatizao ou da constituiodessa esfera hbrida pblica no-estatal.

    A viabilidade dessas mudanas, por sua vez, tem exigido umaforte atuao daquele mesmo criticado Estado, mediante polticas emedidas governamentais capazes de redefinir a lgica de regulao es-tatal at ento existente, razo pela qual sua total implantao aindano se configurou. No entanto, com maior ou menor nfase, medidasnessa direo tm sido sistematicamente tomadas, a exemplo das inici-ativas s parcerias entre instncias pblicas e setor privado, regulamen-tadas pela Lei Federal n. 9790, de 23/03/99, e no Decreto n. 3.100,de 30/06/99, que cria as Organizaes da Sociedade Civil de InteressePblico (OSCIP).

    Se analisarmos o indicado para a consolidao das OSCIP, tem-seque a configurao do setor pblico no-estatal se d por meio datransformao de instncias constitutivas da estrutura estatal em enti-dades juridicamente privadas.

    No campo da educao, acreditamos que o PDDE tem induzidoos sistemas de ensino a atuarem nessa mesma direo, tendo em vistaas estratgias propostas pelo Programa para atender aos objetivos dedescentralizao financeira, historicamente reivindicada pelas escolaspblicas.

    De acordo com a Resoluo n. 12, de 10 de maio de 1995, quelhe deu origem, seu objetivo seria agilizar a assistncia financeira daAutarquia Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educao (FNDE) aos sistemas pblicos de ensino, para cumprimento do disposto noartigo 211, da Constituio Federal de 1988, referente ao papel daUnio frente aos demais entes federados. At 1998, denominou-se Pro-grama de Manuteno e Desenvolvimento do Ensino Fundamental(PMDE), aparecendo pela primeira vez com a atual denominao no tex-to da Medida Provisria n. 1.784, de 14 de dezembro de 1998 (Bra-

    RogrioSublinhado

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    RogrioNotaas contradies desse modelo de "Estado Mnimo" que o Estado delega suas responsabilidades sociedade, mas continua sendo o financiador e o avaliador dos resultados. As aes tbm esto ligadas aos programas que o prprio Estado elabora (via ideologia externa, como j vimos) e condiciona implantao ao financiamento - modelo ipsis literis o que j conhecemos de outras dcadas, das chamadas agncias financiadoras...

    RogrioLinha

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    RogrioCaixa de textomesma direo das oscip's.

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    RogrioCaixa de textopdde

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    Implicaes do Programa Dinheiro Direto na Escola para a gesto da escola pblica

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    sil, 1998). O agora Programa Dinheiro Direto na Escola (PDDE) pas-sou tambm a incorporar escolas de ensino fundamental que atendes-sem alunos com necessidades educacionais especiais e comunidades in-dgenas. Em 2003, foi novamente atualizado pela Resoluo n. 3 de27/02/03, do FNDE, com base na Medida Provisria n. 2.178-36, de24/08/2001.

    Desde 1997, o Programa exige, como condio para o recebi-mento dos recursos diretamente pelas escolas, a existncia de UnidadesExecutoras (UEx): entidades de direito privado, sem fins lucrativos e quepossuam representantes da comunidade escolar. A Unidade Executoratem como funo administrar recursos transferidos por rgos federais,estaduais, municipais, advindos da comunidade, de entidades privadase provenientes da promoo de campanhas escolares, bem como fo-mentar atividades pedaggicas da escola (Brasil, 1997, p. 11).

    Declaradamente, o Programa opta pela criao de UEx de naturezaprivada como mecanismo para assegurar maior flexibilidade na gesto dosrecursos repassados e ampliar a participao da comunidade escolar nes-sa mesma gesto.

    Distribudos pelo FNDE, os recursos do Programa advm majorita-riamente do salrio-educao. Os repasses levam em conta as desigual-dades regionais, de tal forma que os estados das regies Norte (N), Nor-deste (NE) e Centro-Oeste (CO) recebem valores ligeiramente maiores queos das regies Sul (S) e Sudeste (SE) e Distrito Federal (DF), tendo emvista a quantidade informada no censo escolar de alunos matriculadosem escolas pblicas de ensino fundamental (inclusive nas modalidadesespecial e indgena) ou em privadas de educao especial, mantidas porOrganizaes No-Governamentais ou similares, sem fins lucrativos einscritas no Conselho Nacional de Assistncia Social (CNAS).

    Ainda assim, durante o perodo analisado os valores repassadoss UEx no sofreram qualquer reajuste, a no ser a incluso, em 2004,de um fator de correo em relao ao nmero de alunos matriculadospor escola, de sorte que as escolas com maior nmero de alunos rece-bessem um certo subsdio adicional (Cruz et al., 2005; Peroni &Adrio, 2004).

    De maneira a visualizar tais valores, tem-se que uma escola comat 50 alunos recebeu R$ 500,00, ao ano, nas regies Sul, Sudeste eno Distrito Federal, e nas regies Nordeste, Norte e Centro-Oeste,

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    RogrioNotaO Estado centralizado atrela o acesso ao dinheiro do programa criao de "Unidades Executoras", entidades privadas que surgem para "gerir" o dinheiro pblico por exigncia do Estado nacional.

    RogrioSublinhado

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    RogrioLinha

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    RogrioCaixa de textoconfirmar se este valor por aluno...

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    R$ 600,00 (em valores da poca). Escolas consideradas de mdio agrande porte (de 751 a 1000 alunos) receberam, nas regies consi-deradas mais ricas, R$ 6.300,00, enquanto para aquelas com o mes-mo nmero de alunos e localizadas nos estados do N, NE e CO o re-passe foi de R$ 8.900,00.

    Em uma primeira aproximao, a tendncia minimizar a impor-tncia do PDDE, uma vez que o valor per capita anual pouco significati-vo. No entanto, mesmo com essas limitaes, observou-se um cresci-mento da ordem de 545% no nmero de escolas com UEx, no perodode 1999 a 2004, com conseqncias para a gesto escolar educacionalque passamos a apresentar.

    Democratizao da gesto da escola

    Uma primeira observao refere-se abrangncia do Programa, aqual se constitui por si em indicador da capacidade de induo a mu-danas que o PDDE apresenta: o nmero de UEx em escolas pblicas eorganizaes no-governamentais existente no Brasil salta de 11.643,em 1995, para 75.056 em 2004 (www.fnde.gov.br. Acesso em 29 nov.2005). Alm disso, embora o PDDE focalize os gastos no ensino funda-mental, outras etapas da educao bsica beneficiam-se do Programa epor ele so influenciadas, uma vez que, em um mesmo estabelecimen-to, vrias etapas de escolaridade so oferecidas e esto submetidas sdecises tomadas por uma mesma esfera coletiva de gesto agora carac-terizada como Unidade Executora.

    Desse quadro possvel perceber que a generalizao das UEx paraas diferentes redes e sistemas de ensino, de certa maneira, padronizouum formato institucional que delega a responsabilidade sobre a gestodos recursos pblicos descentralizados para uma instituio de naturezaprivada.

    No entanto, as conseqncias dessa generalizao para a gestodas escolas variaram de acordo com o grau de democratizao vigentenas redes antes da obrigatoriedade das UEx. Esse grau corresponde, paraefeito do aqui exposto, presena combinada ou no de trs fatores:existncia de colegiados escolares deliberativos e compostos por todos ossegmentos da escola, recursos financeiros descentralizados e relativa au-tonomia de gasto por parte das escolas.

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    RogrioNotao programa ento estimula a criao das unidades executoras (entidades privadas) para ter acesso ao dinheiro, mesmo pouco, do salrio educao. Isso no acontece impunemente, vejamos as consequncias...

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    RogrioNotah ento uma legitimao pelo Estado para que as instituies da 3 via - natureza privada - passem a gerir o dinheiro pblico.

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    Implicaes do Programa Dinheiro Direto na Escola para a gesto da escola pblica

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    Nos sistemas em que o debate sobre o aprofundamento da de-mocratizao da gesto encontrava-se em curso, como, por exemplo, oscasos da rede municipal de Porto Alegre e redes estaduais do RS e MS, aproposta de transformao dos Conselhos Escolares em unidade execu-tora assumiu um carter de disputa poltica entre diferentes segmen-tos da educao. O dilema vivido pelos sistemas relacionava-se opoem alterar a natureza jurdica dos Conselhos Escolares, transforman-do-os em unidade executora, cuja conseqncia seria a instalao deuma instituio de direito privado na esfera da gesto da escola ou, deoutro modo, o fortalecimento do Crculo de Pais e Mestres (CPM), es-trutura anloga s Associaes de Pais e Mestres (APM), tradicionalmen-te menos democrtica e, em muitos casos, no subordinada ao contro-le do colegiado gestor.

    Em Porto Alegre, a escolha, com muita relutncia, recaiu sobrea transformao do Conselho Escolar (CE). A rede estadual gacha pre-feriu ressuscitar a APM, procedimento anlogo ao ocorrido em MS, onde,apesar de amplo debate, o CPM continuou como UEx.

    Nas redes de ensino menos organizadas, em que a instituciona-lizao de mecanismos coletivos de gesto era parcial ou inexistente, oPrograma parece ter contribudo para sua implantao, inclusive indu-zindo incorporao, mesmo que formal, da presena de todos os seg-mentos escolares em seu funcionamento, como observado no Par, noPiau e em Pirassununga.

    Os arranjos, no entanto, variaram. Enquanto em Pirassununga,tendo em vista a fragilidade da organizao da educao municipal, asUEx foram constitudas tal qual o exigido pelo Programa, ou seja, viacriao de APMs; nas redes estaduais do Par e do Piau, dado o movi-mento recente de generalizao dos Colegiados Escolares, as UEx se con-solidaram a partir destes coletivos paritrios e deliberativos. Por conse-guinte, com uma estrutura mais democrtica e permevel participaode todos os segmentos da escola nas decises.

    bom que se diga que essa induo pode redundar em limitespara a prpria democratizao da gesto. No caso em que os Conse-lhos, recm-criados, nascem j crivados pela lgica da UEx, erigida apartir da ambigidade que a caracteriza (entidade de natureza privadaarticulada ao setor pblico) e da funo que lhe prioritria captarrecursos privados e gerir recursos pblicos descentralizados , h uma

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    RogrioCaixa de textono consegui compreender o que era pior ou melhor...

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    tendncia no funcionamento desses colegiados de secundarizar o exer-ccio das prticas democrticas nas decises.

    Por fim, nos casos em que a APM/CPM j funcionava como UEx,como em So Paulo, o PDDE aprofundou uma poltica de descentra-lizao existente no plano local que privilegiava, em nome da flexibi-lizao administrativa para a gesto de recursos pblicos, a institucio-nalizao de uma estrutura paralela administrao pblica, ainda quea ela vinculada, cuja natureza assemelha-se ao que se denominou aci-ma de pblico no-estatal.

    A nfase nos aspectos procedimentais, exigida pela lgica do Pro-grama e reforada pela preocupao das UEx com a correta prestao decontas junto ao Tribunal de Contas da Unio (TCU), tende a privilegiara dimenso tcnico-operacional e secundarizar a dimenso poltica pr-pria dos processos coletivos de tomada de deciso com graus maisavanados de participao. Nessa perspectiva, o Programa reforou otom pragmtico das polticas educacionais dos anos de 1990, uma vezque a ampliao da participao, historicamente assumida como pos-sibilidade de a sociedade civil exercer o controle democrtico sobre o Es-tado, reduzida ao emprego das energias de usurios e profissionais naassuno em tarefas gerenciais (Adrio & Garcia, 2005, p. 12) e/ouoperacionais.

    Como conseqncia, tem-se a fragmentao do processo decis-rio expressa no aprofundamento da dicotomia entre as decises de na-tureza pedaggica e as de natureza financeira. Tal fragmentao podeser percebida de duas formas: a primeira relaciona-se valorizao dasUEx em detrimento dos colegiados escolares, nos casos em que se cons-tituem como instituies distintas e em que estes ltimos, aos menosformalmente, mantm-se responsveis pelas decises de natureza pol-tico-pedaggica. A segunda, nos casos em que os prprios colegiadosassumiram o formato de UEx, tem em seu funcionamento a minimi-zao das questes poltico-pedaggicas ou sua subordinao s de or-dem financeira.

    A lgica e as prticas decorrentes da poltica institucional pro-movida pelo PDDE podem, tambm, ser apreendidas pelo estmulo, ain-da que indireto, do Programa ao co-financiamento da escola pela co-munidade escolar, idia que tende a limitar a participao dos usurios arrecadao e gesto de recursos financeiros, redesenhando a atuao

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    RogrioNotaA lgica "liberal" com roupa de "neo" da burocratizao e pragmatismo das aes. Isso seria a tal da "racionalizao de recursos" do Estado.

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    RogrioNotaa "lgica" de "mercado" impera.

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    Implicaes do Programa Dinheiro Direto na Escola para a gesto da escola pblica

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    Disponvel em

    dos colegiados. Nesses termos, ainda que a captao de recursos privadospela escola no se constitua em novidade, o fato que h incentivos eamplia-se a legitimidade da participao financeira privada na escola p-blica. Por isso, para alm de uma autonomia de gesto financeira, a au-tonomia proposta no PDDE uma autonomia financeira (Santos,Gutierres & Silva, 2004, p. 12).

    Por fim, percebeu-se que a articulao entre a fragmentao nasrelaes estabelecidas entre mecanismos colegiados de gesto de natu-reza diversa e a nfase tcnico-operacional acentuada pelo PDDE concen-trou ainda mais as opes de poltica escolar nas mos dos diretores,implicando restries s prticas democrticas de gesto e contrarian-do um de seus princpios elementares: atribuir ao rgo coletivo degesto escolar a possibilidade de decidir sobre destinao e priorizaode recursos.

    Um ltimo aspecto a considerar refere-se presena ou amplia-o do controle social sobre os recursos descentralizados, j que se consi-dera, no mbito de polticas relacionadas democratizao da gesto daeducao, como necessria a existncia de medidas que facilitem o con-trole social do Estado por parte da sociedade civil (Paro, 1986). Pela an-lise do modus operandi das UEx na esfera das escolas, o Programa, ao con-trrio do que declarava em seus objetivos, pouco contribuiu para ainstalao de efetivas prticas de controle sobre os gastos, uma vez que asinformaes continuam restritas s equipes escolares e, em alguns casos,excetuando-se inclusive desse acesso os funcionrios no-docentes.

    Na esfera dos rgos de gesto dos sistemas/redes de ensino, a pre-ocupao com a prestao de contas, frise-se, com a correta prestao decontas, motivada mais pelo temor das diligncias movidas pelo TCU doque pelo estmulo ao controle do Estado pela sociedade civil, como seexigiria de polticas que articulassem descentralizao com democratiza-o desse mesmo Estado.

    A relao entre o pblico e o privado

    A introduo e/ou o fortalecimento, a depender do caso pesqui-sado, de uma nova relao entre a administrao pblica e uma institui-o de natureza privada, como o caso do modelo de UEx proposto paraas escolas pblicas, tm gerado dvidas e questionamentos sobre sua

    RogrioNotamas essa "autonomia" financeira no gera "dependncias" vis? Dependncias de vinculao poltica a determinados grupos dominantes financeiramente, onde estes podem talvez vir a intervir na poltica pedaggica da escola, inclusive em seu currculo?

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    RogrioNotao controle de contas se torna uma mera burocracia feita por tcnicos para prestao ao tribunal de contas, no alterando a participao democrtica da sociedade nesta prestao.

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    operacionalizao que, de certa forma, evocam a necessidade de refle-xo sobre uma tambm nova interface entre o pblico e o privado emeducao.

    Entretanto, na percepo expressa por gestores e educadores esco-lares em todos os casos analisados, isso no se constitui em questo rele-vante. Os depoimentos centravam-se em avaliar positivamente a oportu-nidade de receber diretamente os recursos. Essa unanimidade indica, porum lado, a relevncia que polticas descentralizadoras tm para aquelesque vivenciam o cotidiano escolar, na medida em que se constituem empr-condio para o exerccio da reivindicada autonomia pedaggica.Alm disso, os montantes repassados pelo Programa, contrariando a per-cepo inicial, desempenhavam funo relevante na composio dos re-cursos geridos pela escola em todas as redes pesquisadas. Por outro lado,tambm certo afirmar que o pragmatismo a que esto sujeitos os edu-cadores, pela urgncia de respostas que o cotidiano da escola forja e exi-ge, tende a minimizar a preocupao com conseqncias de naturezamais geral, como as de natureza poltica, ou com as que apresentam im-pactos a longo prazo.

    Em relao dificuldade de percepo de conseqncias de mai-or amplitude, temos dois problemas a destacar. O primeiro aplica-seaos casos em que, sendo a UEx uma APM, geralmente cabe a um repre-sentante dos pais, em conjunto com o responsvel pela escola, assinaros cheques referentes aos gastos do Programa e, portanto, co-responsa-biliza-se pela gesto de recursos pblicos auditados pelo TCU. Comoento proceder em caso de responsabilizao por eventual mau uso dosrecursos pblicos? Afinal, no mbito da escola, quem responde por taisrecursos: O representante da administrao pblica, no caso o respon-svel pela unidade escolar, ou o representante da sociedade civil, paiou me do aluno?

    O segundo problema, tambm resultante da superposio entreas esferas pblica e privada inerente ao Programa, refere-se ao fato deque, ao se tornarem entidades de direito privado, as UEx, sejam elas APMsou CEs, passam a ter autonomia frente administrao pblica, aquirepresentada pela escola, prescindindo de submisso s regras do siste-ma ou rede pblica de ensino. A questo se torna mais complexa quan-do o Conselho Escolar a Unidade Executora, uma vez que, em mui-tas redes pblicas, esse colegiado compe a estrutura administrativa daunidade escolar ao ser a instncia de gesto da escola. Nesse caso,

    RogrioSublinhado

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    RogrioNotaa "democratizao" aparentemente falhou; a alienao dos atores envolvidos na gesto mostra que a interface entre pblico e privado sequer percebida como foco do processo.

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    RogrioNotamas, no seria esse um dos objetivos obscuros do norte neoliberal? Desqualificar o uso da verba pblica para servios considerados de cunho social e responsabilizar por completo a sociedade?

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    Implicaes do Programa Dinheiro Direto na Escola para a gesto da escola pblica

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    questionamos: Em que medida est preservada a natureza pblica daescola? Como garantir a subordinao por parte das UEx s normas daadministrao pblica definidas pelos sistemas de ensino?

    A relao entre descentralizao e centralizao

    Deslocamentos na tenso entre centralizao/descentralizao tmsido uma das caractersticas da redefinio do papel do Estado do pero-do, em razo dos quais, como visto, o Estado, em especial o governo cen-tral, tem exercido cada vez mais a tarefa de coordenao e avaliao daspolticas sociais, repassando sua execuo para a esfera da sociedade oude outros nveis governamentais.

    Tambm no Programa analisado percebe-se esse deslocamento,quando, ao mesmo tempo em que descentraliza recursos para as UEx, oPrograma exige um nico formato para sua constituio sem sequer ou-vir os sistemas de ensino analisados. provvel que essa imposio te-nha desrespeitado o pacto federativo, j que a Unio, por meio de umPrograma, redefiniu o formato de gesto de todas as redes pblicas deensino, por vezes desconsiderando polticas em vigor.

    O Programa foi concebido tendo em vista a desburocratizao e adescentralizao do repasse e da gesto financeira de recursos federais.Nesse sentido, o PDDE objetivou enfrentar uma rigidez, supostamenteinerente administrao pblica, para o que privilegiou a ponta do sis-tema. Isto significou o estabelecimento de relaes diretas entre as esco-las beneficiadas e o FNDE, sem a interveno de instncias governamen-tais locais na definio e execuo dos gastos. No entanto, em pelo menosum caso, a deciso sobre os recursos ficou submetida ao secretrio deeducao, situao que denuncia a fragilidade da anunciada descentrali-zao financeira em decorrncia de sua no articulao a medidas de es-tmulo participao e democratizao de toda a esfera pblica.

    Se o foco se dirigir para a esfera dos sistemas ou redes de ensino, acanalizao das poucas informaes sobre sua execuo a funcionrios etcnicos governamentais e a sua desvinculao dos Conselhos de acom-panhamento e fiscalizao de polticas ou programas educacionais, comoos Conselhos Municipais/Estaduais de Educao e o Conselho de Acom-panhamento e Controle Social do FUNDEF, tambm contriburam para ainsuficincia do controle social sobre o Programa. Faz-se exceo ao mu-

    RogrioNotano ? como garantir a "lisura" das intenes sociais? Como no ficar atrelado a este ou aquele sujeito, agora abonado de poder decisrio e podendo comprometer a idoneidade das prticas pedaggicas?

    RogrioSublinhado

    RogrioSublinhado

    RogrioNotao resultado disso j conhecemos; inmeros escndalos relacionados consrcios de execuo de servios pblicos e desvio de verbas, trafico de influncias, dentre outros moralmente to condenveis quanto. A questo : ser que para descentralizar necessrio desobrigar o Estado a suas funes sociais? Abdicando dessas funes qual seria ento o papel do Estado? Apenas um "regulador" de mercado?

    RogrioRealce

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    RogrioNotapois ... o que me deixa confusa... Que tipo de descentralizao essa? MASSIFICADORA...

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    RogrioNotasim, mas na medida em que a exigencia da implantao das uex estava atrelada a um modelo de funcionamento das mesmas, o processo foi comprometido pelo pragmatismo burocrtico, apenas mudando o locus da burocracia, no?

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    RogrioNotaparece que mais do que recursos, a tal descentralizao tambm foi de controle do uso desses recursos... Gesto democrtica?

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    nicpio de Belm, onde as contas do Programa foram, por deciso lo-cal, analisadas pelo Conselho Municipal de Educao.

    Apontamentos finais

    O fato do Programa no pressupor para sua realizao a efetivademocratizao da gesto da esfera pblica fez com que, em muitos ca-sos, fosse pequena a desejada participao da comunidade na operaodos recursos repassados.

    importante ressaltar que o PDDE apresenta aspectos positivos.O primeiro diz respeito transparncia na distribuio dos recursosdo salrio-educao, tendo em vista critrios previamente divulgados.

    Tambm merece destaque a importncia que esse repasse finan-ceiro teve para o conjunto das escolas. Embora com impactos distintossobre o cotidiano escolar, em todos os casos analisados os recursos re-passados representavam importantes aportes no oramento escolar. Damesma maneira, o aumento da autonomia de gasto, permitida a partirde 1997, constitui em importante inflexo no sentido da desejada au-tonomia de gesto financeira para as escolas pblicas.

    Permanecero, como campo futuro de investigao e avaliao, asconseqncias para o carter pblico da escola decorrentes da instalao,em seu interior, de entidades de direito privado (UEx), nos moldes dasOrganizaes Sociais, ainda que o pragmatismo de muitos impea de re-lacionar essa opo com as formulaes privatizantes da atuao estatal.

    Recebido em agosto de 2006 e aprovado em fevereiro de 2007.

    Notas

    1. A pesquisa contou em cada estado com uma equipe de tamanho varivel, composta porprofessores e alunos de universidades.

    2 . Essa orientao tem na economia neoclssica, e mais recentemente na public choice, seusprincipais propositores. A idia-chave seria adequar a racionalidade econmica aosprocessos coletivos de tomada de deciso, nos quais se inscreve a gesto da esfera p-blica, para diminuir as externalidades da poltica, uma vez que elas, forosamente,prejudicariam a maximizao de resultados (Peroni & Adrio, 2004).

    3 . Bresser Pereira (1996), mentor da Reforma do Estado no Brasil, tem como base te-rica e poltica a Terceira Via. Apesar de comungar do mesmo diagnstico neoliberalpara a crise do capitalismo (o formato do Estado provedor), a estratgia proposta pela

    RogrioSublinhado

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    RogrioCaixa de textoquais??

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    RogrioCaixa de textodistribuio de recursos

    RogrioNotatoda a importncia do programa foi financeira, mas no poltica. Isso bom??? ... NO SEI!...

    RogrioSublinhado

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    Implicaes do Programa Dinheiro Direto na Escola para a gesto da escola pblica

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    Disponvel em

    Terceira Via a constituio de uma parceria entre a esfera pblica (Estado) e a priva-da (sociedade) para a oferta de servios pblicos, dentre os quais a educao.

    Referncias bibliogrficas

    ADRIO, T.; GARCIA, T. Alteraes no padro de oferta da educaobsica: algumas consideraes. So Paulo, 2005. 15p. (impresso)

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    SANTOS, T.M.; GUTIERRES, D.A.; SILVA, L. A relao gesto e auto-nomia financeira como poltica na escola. Belm, 2004. 24p. (impresso)

    Documentos

    BRASIL. Casa Civil. Medida Provisria n. 2.178-36, de 2001.

  • 267Educ. Soc., Campinas, vol. 28, n. 98, p. 253-267, jan./abr. 2007Disponvel em

    Theresa Adrio & Vera Peroni

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    BRASIL. Lei n. 9.790, de 23 de maro de 1999. Dispe sobre a quali-ficao de pessoas jurdicas de direito privado, sem fins lucrativos, comoOrganizaes da Sociedade Civil de Interesse Pblico, institui e disci-plina o Termo de Parceria, e d outras providncias. Disponvel em:. Acesso em: 10 maio 2004.

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    BRASIL. Resoluo n. 003, de 27 de fevereiro de 2003. Dispe sobre oscritrios e as formas de transferncia e de prestao de contas dos recur-sos destinados execuo do Programa Dinheiro Direto na Escola, PDDE,e d outras providncias. Disponvel em . Acesso em: 13 dez. 2005.