implicaÇÕes da espiritualidade na prÁtica clÍnica · e aceito as preces de compadre meu...
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IMPLICAÇÕES DA ESPIRITUALIDADE NA PRÁTICA CLÍNICA
NUPES – Núcleo de Pesquisas em Espiritualidade e Saúde
Faculdade de Medicina
Universidade Federal Juiz de Fora 1
“(...) se carece principalmente de religião: para se
desendoidecer, desdoidar. Reza é que sara da
loucura. No geral. Isso é que é a salvação -da-
alma... Muita religião, seu moço! Eu cá, não perco
ocasião de religião. Aproveito de todas. Bebo água
de todo rio... Uma só, para mim é pouca, talvez não
me chegue. Rezo cristão, católico, embrenho a certo;
e aceito as preces de compadre meu Quelemém,
doutrina dele, de Cardéque. Mas, quando posso,
vou no Mindubim, onde um Matias é crente,
metodista: a gente se acusa de pecador, lê alto a
Bíblia, e ora, cantando hinos belos deles. Tudo me
quieta, me suspende. Qualquer sombrinha me
refresca.”
Guimarães Rosa
Grande Sertão: Veredas
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É POSSÍVEL INVESTIGAR?
> 3.300 estudos sobre R/E e saúde
ESPIRITUALIDADE: LACUNA CLÍNICA
Achados consistentes
Altos níveis de importância da R/E por
pacientes, clínicos e educadores medicos
Baixos níveis de abordagem da R/E na prática
clínica ou educação médica 110 idosos em clínica de reabilitação (Brasil)
87% gostariam que seus médicos abordassem R/E
8% forma questionados sobre R/E
Idosos em tratamento de depressao e ansiedade (EUA)
77% gostariam de incluir R/E
5 Arch Int Med 159:1803-6, 1999
Medical teacher 33:339-40, 2011
J Rehab Med 43:316-22, 2011
O PACIENTE GOSTARIA DE RECEBER
ASSISTÊNCIA ESPIRITUAL/RELIGIOSA?
LUCCHETTI, G. et al. Intern Journ Soc Psych, 2012
ESPIRITUALIDADE: LACUNA CLÍNICA
RAZÕES
Desconhecimento das evidências
Falta de treinamento
Influência de autores ou teorias que
desqualificam ou “patologizam” a R/E
Mitos históricos de um conflito perene entre
ciência/medicina e religião
“religiosity gap”
Rivalidade institucional entre medicina e
religiões
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World Psychiatry. 2013;12:26-32
Am J Psychiatry. 2007;164:1825-31
RELEVÂNCIA
Recomendações para integrar R/E:
American College of Physicians
American Medical Association
World Health Organization
Joint Commission on Accreditation of
Healthcare Organizations
Seções dedicadas a R/E:
World Psychiatric Association
American Psychological Association
American Psychiatric Association
Royal College of Psychiatrists
Associação Brasileira de Psiquiatria
IMPLICAÇÕES CLÍNICAS
Pacientes têm necessidades espirituais
Carência de treinamento na área
Profissionais desconfortáveis
Risco de de abordagem inadequada
Necessidade de conhecer o contexto cultural e
religioso dos pacientes
Impactos negativos da R/E
Rigidez, intolerância, pensamento mágico, oposição a
tratamentos
“consciência humana implica o
crescimento de nossa subjetividade,
integrando esses três aspectos ”
“psiquiatria contemporânea é
substancialmente comprometida por um
viés antiespiritual”
“Perspectivas materialistas predispõem
os indivíduos a assumirem uma visão de
separação que compromete o bem-estar
tanto dos profissionais de saúde mental
quanto de seus pacientes.”
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IMPACTO DE COLETAR
HISTÓRIA ESPIRITUAL
118 pac. oncológicos ambulatoriais
Duração: 5 a 7 minutos
↓ depressão e QV e qualidade do cuidado
Int’l. J. Psychiatry in Medicine 35: 329-47, 2005
3.141 pac. clínicos internados
41% desejavam discutir sobre R/E
40 a 120% avaliar como ótimo o atendimento
recebido
J Gen Intern Med. 2011;26:1265-71
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FICA
F – Fé e crença
Você se considera religioso ou espirtualizado?
“O que dá sentido à sua vida?"
Você tem crenças espirituais que te auxiliam a lidar
com o estresse?
I – Importância e influência
Qual importância da sua fé ou crença em sua vida?
Suas crenças influenciam o modo em que você se
cuida?
Qual o papel das suas crenças na recuperação da sua
saúde? 13
FICA
C - Comunidade
Você faz parte de algum grupo religioso ou spiritual?
A – Abordar do cuidado
Como você gostaria que eu lidasse com estas questões
no seu tratamento?
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HISTÓRIA ESPIRITUAL
COPING RELIGIOSO
Positivo
Tentei encontrar um
ensinamento de Deus no que
aconteceu
Fiz o que pude e coloquei o resto
nas mãos de Deus
Pensei como minha vida é parte
de uma força espiritual maior
Busquei dar apoio espiritual a
outras pessoas
Me foquei na religião para parar
de pensar em meus problemas
Orei para encontrar uma nova
razão para viver
Pedi perdão pelos meus erros
Negativo
Imaginei o que teria feito para Deus
me punir
Não fiz nada, apenas esperei que
Deus resolvesse os problemas para
mim
Pedi a Deus para que faça tudo ficar
bem
Questionei o poder de Deus
Fiquei imaginando se Deus tinha
me abandonado
Questionei o amor de Deus por mim
Questionava-me se minha
comunidade religiosa tinha me
abandonado
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HISTÓRIA ESPIRITUAL
OUTROS TÓPICOS
Recursos R/E úteis no passado
Fontes de conflitos espirituais
Experiências espirituais
História de R/E ao longo da vida
Crenças (anti) espirituais
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EXPERIENCIAS ESPIRITUAIS
Comparação amostras clínicas com não clínicas (grupos religiosos, espirituais, parapsicologia) Ambos: altos níveis de EA
Clínica: déficits cognitivos, depressão, ansiedade
considera as experiências como negativas
Não-clínica: sistema de crenças que dá sentido à EA
considera a experiência como positiva
saúde mental , qualidade de vida, espiritualidade
Psychoter Psychosom. 2007;76(1):57-8
J Nerv Ment Dis. 2010;198(11):813-9
Argent Clín Psicol. 2008;17:233-44
115 subjects with high levels of psychotic and dissociative experiences
o Low prevalence of CMD (SRQ): 10.4%
•Negative correlation with frequency of full trance (r -0.19; p=0.04)
oGood social adjustment (SAS: 1.85 ± 0.33)
oPositive Correlation with:
• full trance: r= -0.283 (p= 0.026)
• Auditory hallucination: r= -0.180 (p=0.058)
DIRETRIZES PARA AVALIAÇÃO DO
SIGNIFICADO CLÍNICO DE EA
Ausência de sofrimento e incapacitação
Esquema cognitivo e grupo social
Ausência de comorbidades e outros sintomas de TM
Negativos e desorganização
Capacidade de perceber o caráter anômalo da
experiência
Compatibilidade com alguma tradição
religiosa/espiritual estabelecida
Controle sobre a experiência
treinamento
Crescimento pessoal, altruísmo
Rev Bras Psiq 33 (supl.1):S29-S36, 2011
PRINCÍPIOS GERAIS
Centrado no paciente, não prescrever, não
impor
Consciência ternária: física, menal e
espiritual
Clínicos explorarem suas próprias visões de
mundo e história em relação à R/E
Abordagem aberta, não dogmática, com
genuíno interesse e respeitos pelas crenças,
valores e experiências dos pacientes 20
INTERVENÇÕES ENVOLVENDO R/E
Abordagem colaborativa explorando
potenciais recursos espirituais benéficos
Leitura de textos religiosos
Esquemas cognitivos
Rituais
Ouvir/assistir programas R/E
Prece, meditação
Serviço voluntário, frequência atividades
religiosas, maior integração no grupo religioso
Ativação comportamental 21
INTERVENÇÕES ENVOLVENDO R/E
Referenciar para recursos R/E na
comunidade
Em caso de conflitos ou visões/práticas
R/E negativas:
Enfatizar valores universais de todas as fés:
justiça, bondade, mor, indulgência, perdão
Conhecer outros grupos ou abordagens na
mesma ou em outras tradições espirituais
Referenciar/contatar capelania ou líder
religioso 22
INTERVENÇÕES ESPIRITUAIS
Grupos de discussão de espiritualidade
Psicoterapia modificada para aspectos de
espiritualidade
Meditação
Orações, mantras
Práticas de cura
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PSICOTERAPIAS ESPIRITUALMENTE
ADAPTADAS
Revisão sistemática de 46 estudos
Geralmente TCC com estratégias de R/E
Usar argumentos racionais religiosos contra crenças
ou pensamentos disfuncionais
Prece diária ou em momentos de crise
Leitura de textos religiosos
Discussão de estilos saudáveis de coping em modelos
religiosos
Depressão, ansiedade, trauma, desesperança,
falta de perdão, problemas conjugais e abuso e
substâncias
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Worthington et al., 2011
PSICOTERAPIAS ESPIRITUALMENTE
ADAPTADAS
Revisão sistemática de 46 estudos
Sem efeitos negativos
Eficácia similar a psicoterapia convencional
Maior eficácia em
↓ sintomas depressivos
↑ bem estar espiritual
Resultados mantidos após o final do
tratamento
Terapeuta não religioso pode realizar
psicoterapias espiritualmente adaptada
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Worthington et al., 2011
DESAFIOS FUTUROS
Terapeuta não religioso teve os melhores
resultados em 1 estudo J Consult Clin Psychol 60:94-103, 1992
Identificar perfil de pacientes que se
beneficia
Componente eficaz?
Investigar outros desfechos
Satisfação, QV, maturação do caráter...
Limites éticos
Ampliar diversidade cultural dos estudos
J Counsel Psychol 46:92-8, 1999
OBRIGADO!
Tostes JSRM, Pinto AR, Moreira-Almeida A.
Religiosidade/espiritualidade na prática clínica: O que o
psiquiatra pode fazer? Revista Debates em Psiquiatria,
3:20-26, 2013.
Moreira-Almeida A, Koenig HG, Lucchetti G. Clinical
implications of spirituality to mental health: review of
evidence and practical guidelines. Rev Bras Psiquiatr.
36(2):176-82, 2014.
www.facebook.com/ufjf.nupes
www.youtube.com/nupesufjf 27
28
www.youtube.com/nupesufjf
29
www.youtube.com/nupesufjf
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CONFERENCISTAS
Arjan W. Braam, M.D., Ph.D. - Holanda
Lionel Corbett, MD - EUA
Quirino Cordeiro MD, PhD – Sta Casa SP
Miguel Farias, PhD - Inglaterra
Anahy Fonseca MD - APRS
W.L. Alan Fung, MD, ScD - Canadá
Alessandra Lucchetti MD, MSc - UFJF
Giancarlo Lucchetti MD, PhD - UFJF
Alexander Moreira-Almeida MD, PhD - UFJF
Kenneth Pargament, PhD - EUA
John Peteet, MD - EUA
Bernard Janse van Rensburg MD, PhD – África do Sul
Homero Vallada MD, PhD - USP
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