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IMPACTOS FINANCEIROS E ECONÔMICOS NO DESEMPENHO DOS HOSPITAIS ANTES E APÓS O PROCESSO DE ACREDITAÇÃO Antonio Artur de Souza (UFMG) [email protected] JESSICA MARTINS DE FREITAS (UFMG) [email protected] JULIANA RIBEIRO SOUZA (UFMG) [email protected] Ewerton Alex Avelar (UFMG) [email protected] Uma das grandes preocupações que norteiam o contexto hospitalar no Brasil atualmente é a busca pela qualidade dos serviços prestados. Oferecer serviços com qualidade reconhecida e certificada exige dos gestores grandes esforços na busca por ferramentas que sejam capazes de amenizar as dificuldades na gestão de um setor tão complexo e necessário. Sendo assim, na busca pela performance ideal e pela qualidade dos serviços hospitalares, um sistema de gestão adequado aliado à aplicação de técnicas eficientes que permitam o controle eficaz de recursos e a construção de um ambiente propício para o desenvolvimento das atividades se torna fundamental. Dessa forma, a pesquisa descrita neste trabalho visa apresentar os impactos financeiros e econômicos causados nos hospitais em face do processo de acreditação por eles realizado. Além disso, objetiva-se apresentar as principais ferramentas que podem ser utilizadas para a análise financeira e, consequentemente, para a gestão hospitalar. A pesquisa foi desenvolvida a partir do estudo das demonstrações financeiras de 37 hospitais brasileiros e de dados operacionais, tais como nível de especialização e o número de leitos. Como resultado, tem-se que o monitoramento dos indicadores de desempenho é um fator muito importante na análise do desempenho das organizações e para a execução de uma gestão hospitalar eficaz e eficiente. A partir da análise financeira pôde-se observar que, em alguns contextos, a Acreditação Hospitalar tende a impactar positivamente no desempenho financeiro dos hospitais. Palavras-chave: Gestão Hospitalar; Acreditação; Ferramentas de Gestão. XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

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IMPACTOS FINANCEIROS E ECONÔMICOS NO

DESEMPENHO DOS HOSPITAIS ANTES E APÓS

O PROCESSO DE ACREDITAÇÃO

Antonio Artur de Souza (UFMG)

[email protected]

JESSICA MARTINS DE FREITAS (UFMG)

[email protected]

JULIANA RIBEIRO SOUZA (UFMG)

[email protected]

Ewerton Alex Avelar (UFMG)

[email protected]

Uma das grandes preocupações que norteiam o contexto hospitalar no Brasil

atualmente é a busca pela qualidade dos serviços prestados. Oferecer

serviços com qualidade reconhecida e certificada exige dos gestores grandes

esforços na busca por ferramentas que sejam capazes de amenizar as

dificuldades na gestão de um setor tão complexo e necessário. Sendo assim,

na busca pela performance ideal e pela qualidade dos serviços hospitalares,

um sistema de gestão adequado aliado à aplicação de técnicas eficientes que

permitam o controle eficaz de recursos e a construção de um ambiente

propício para o desenvolvimento das atividades se torna fundamental. Dessa

forma, a pesquisa descrita neste trabalho visa apresentar os impactos

financeiros e econômicos causados nos hospitais em face do processo de

acreditação por eles realizado. Além disso, objetiva-se apresentar as

principais ferramentas que podem ser utilizadas para a análise financeira e,

consequentemente, para a gestão hospitalar. A pesquisa foi desenvolvida a

partir do estudo das demonstrações financeiras de 37 hospitais brasileiros e

de dados operacionais, tais como nível de especialização e o número de

leitos. Como resultado, tem-se que o monitoramento dos indicadores de

desempenho é um fator muito importante na análise do desempenho das

organizações e para a execução de uma gestão hospitalar eficaz e eficiente.

A partir da análise financeira pôde-se observar que, em alguns contextos, a

Acreditação Hospitalar tende a impactar positivamente no desempenho

financeiro dos hospitais.

Palavras-chave: Gestão Hospitalar; Acreditação; Ferramentas de Gestão.

XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção

Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015.

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1. Introdução

A complexidade do ambiente no qual se inserem as organizações modernas provoca uma

demanda crescente por informações cada vez mais acuradas para a tomada de decisão. A

importância da informação, a expansão de mercados, a popularização da tecnologia e o

aumento da competitividade são fenômenos que trazem consequências marcantes para o

processo de gestão. Em resposta a esse panorama, no que compete às unidades de saúde, gerir

uma organização hospitalar requer constantes esforços na busca por ferramentas e métodos

que possibilitem a adaptação dos serviços às novas exigências do setor e da população.

Uma das grandes preocupações que norteiam o contexto hospitalar no Brasil atualmente é a

busca pela qualidade dos serviços prestados. Isto porque, segundo Couto e Pedrosa (2007), a

má qualidade tende a gerar uma série de custos, dentre eles: custos com mortalidade elevados,

custos com retrabalho, custos com processos ineficientes, perda de produtos, perda de clientes

e comprometimento da imagem da organização perante a sociedade. Para isto, a área de saúde

tem passado por grandes mudanças que, objetivam oferecer serviços de saúde de qualidade

para toda a população (ARRETCHE, 2000).

A qualidade desses serviços pode ser atestada por meio da certificação, processo pelo qual

uma agência governamental ou uma associação profissional reconhece oficialmente uma

organização ou indivíduo como tendo certas qualificações predeterminadas. Ou seja, a

certificação é um meio utilizado para afirmar que determinada organização apresenta um

determinado nível de qualidade. Demonstrando, assim, a capacidade da organização

hospitalar de apresentar aos pacientes resultados favoráveis e satisfatórios.

Dentre as possíveis alternativas existentes para se certificar a qualidade dos serviços prestados

por uma organização de saúde, destaca-se o processo de Acreditação Hospitalar (AH). Este

procedimento visa avaliar os serviços prestados e classificar as unidades de saúde em níveis

específicos de qualidade e, com isso, atestar o bom desempenho dos serviços prestados por

elas. Este processo tende a favorecer tanto a unidade prestadora e seus colaboradores quanto

os usuários dos serviços. Isto porque para ser acreditado o hospital deve atender alguns

requisitos, dentre os quais: infraestrutura adequada, capacitação de funcionários, investimento

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em ensino e pesquisa, administração, desempenho das atividades e atendimento ao paciente,

que tendem a trazer benefícios para todos os envolvidos.

Assim, a pesquisa descrita neste trabalho visa apresentar os principais impactos financeiros e

econômicos causados nos hospitais em face do processo de acreditação por eles vivenciado,

por meio do uso de indicadores financeiros e operacionais, bem como dos níveis de

acreditação dos hospitais conforme a classificação estabelecida pela Organização Nacional de

Acreditação (ONA).

2. Referencial teórico

2.1. Acreditação hospitalar

De acordo com o Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar (2002; p. 10),

o processo de acreditação hospitalar é um método de consenso, racionalização e

ordenação das instituições hospitalares e, principalmente, de educação permanente

dos seus profissionais e que se expressa pela realização de um procedimento de

avaliação dos recursos institucionais.

Segundo Bittar (2000), a acreditação é um procedimento de avaliação dos recursos

institucionais, que tende a garantir a qualidade da assistência através de padrões previamente

aceitos. Logo, a AH pode ser entendida como um processo que avalia a qualidade dos

serviços de saúde prestados à população.

Conforme diretrizes da ONA (2014), o procedimento de acreditação é voluntário, periódico e

reservado, ou seja, é um processo realizado por escolha da própria organização de saúde, com

um período de validade determinado e com a devida discrição das informações coletadas.

Segundo o Manual Brasileiro de Acreditação Hospitalar (2002), o processo de AH pauta-se

no pressuposto de que o hospital é um sistema complexo, com estruturas e processos

interligados, em que o funcionamento de um componente interfere em todo o conjunto e no

resultado final. Por isso, neste processo avalia-se o conjunto da atividade, que envolve tanto

os recursos materiais e tecnológicos quanto os recursos humanos e sociais.

O procedimento de acreditação é um método de consenso, racionalização e ordenação das

Organizações Prestadoras de Serviços Hospitalares, bem como de educação permanente dos

seus profissionais. Neste processo uma organização credenciada pela ONA certifica a

qualidade de uma agência, serviço ou grupo operacional para o fornecimento de serviços

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específicos, avaliando quesitos como: instalações, objetividade, integridade, capacitação e

competência, no que tange a organização e os seus profissionais. Além disso, são avaliados

aspectos como liderança e administração, serviços profissionais e organização de assistência,

serviços de atenção ao paciente, de apoio ao diagnóstico, de apoio técnico e abastecimento, de

apoio administrativo e infraestrutura e ensino e pesquisa.

Assim, percebe-se que para ser acreditado e manter um bom nível de qualidade na prestação

de serviços de saúde são necessários muitos esforços, principalmente no que se refere ao

processo de gestão hospitalar.

2.1.1. Níveis de acreditação

A acreditação dos hospitais se dá por meio da certificação da qualidade realizada por uma

organização acreditadora ou certificadora. O certificado de acreditação é concedido de acordo

com o nível de classificação da unidade de saúde, após o processo de avaliação dos serviços

oferecidos por ela.

Dessa forma, a ONA utiliza como critério as normas do Sistema Brasileiro de Acreditação e

do Manual Brasileiro de Acreditação para conceder aos hospitais os certificados de acordo

com os níveis de acreditação apresentados no Quadro 1. O certificado obtido pelo hospital ou

unidade de saúde apresenta um período de validade (2 ou 3 anos) de acordo com o nível de

acreditação alcançado no processo de avaliação, de modo que no decorrer do período cabe a

unidade manter o desempenho identificado durante o processo de

certificação.

Quadro 1- Níveis de acreditação

Básico Acreditado - Destinado às instituições que atendem aos critérios de segurança do

paciente em todas as áreas de atividade, incluindo aspectos estruturais e

assistenciais. Validade: 2 anos.

Pleno Acreditado Pleno - Destinado às instituições que, além de atender aos critérios de

segurança, apresentam gestão integrada, com processos ocorrendo de maneira

fluida e plena comunicação entre as atividades. Validade: 2 anos

Excelência

Acreditado com Excelência - O princípio deste nível é a “excelência em gestão”.

Um Programa da Saúde Acreditado com Excelência atende aos níveis 1 e 2 , além

dos requisito específicos de nível 3. A instituição já deve demonstrar uma cultura

organizacional de melhoria contínua. Validade: 3 anos. Fonte: Adaptado de <https://www.ona.org.br/Pagina/33/Acreditacao>.

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Com o intuito de fiscalizar a manutenção do desempenho verificado no processo de

certificação de qualidade hospitalar, as instituições acreditadoras e a ONA utilizam três

ferramentas: visitas ordinárias, periódicas e obrigatórias; visitas de manutenção

extraordinárias; e gerenciamento de eventos sentinela (erros médicos).

Se a instituição de saúde não estiver seguindo os padrões de qualidade identificados no

processo de acreditação, recusar a receber as visitas ou cometer algum tipo de irregularidade

que afete ou prejudique o processo, esta deixará de ser uma instituição acreditada e o

certificado será cancelado.

2.2. Gestão hospitalar

De acordo com Souza (2010, p.2), “a melhoria da qualidade dos serviços de saúde está

diretamente relacionada ao aprimoramento dos modelos de gestão hospitalar”. Sendo assim,

na busca pela performance ideal e pela qualidade dos serviços hospitalares, um sistema de

gestão adequado aliado à aplicação de técnicas eficientes que permitam o controle eficaz de

recursos e a construção de um ambiente propício para o desenvolvimento das atividades

torna-se fundamental.

Contudo, no contexto atual brasileiro, o sistema público de saúde enfrenta grandes obstáculos,

tais como problemas de gestão e racionalização de recursos públicos, falta de estrutura

organizacional e de controle dos gastos, ausência de investimentos e incentivos (SOUZA,

2010), o que dificulta a promoção de um serviço de saúde de qualidade e, consequentemente,

influencia no processo de certificação.

O problema de uma gestão administrativa ineficaz não atinge somente os hospitais

filantrópicos, sendo observado também em hospitais públicos e privados. Uma gestão

hospitalar ineficiente em termos de utilização de ferramentas de gestão financeira pode

ocasionar, por exemplo, baixa produtividade, elevados desperdícios de recursos e

desconhecimento do custo real dos procedimentos. Isso faz com que a situação financeira

dessas organizações se torne ainda mais suscetível às dificuldades (CARPINTÉRO, 1999;

BAER et al., 2001).

De modo geral, a ineficaz gestão financeira dos hospitais, associada à defasada remuneração

do Sistema Único de Saúde (SUS), acentuam o problema para todos os tipos de hospitais,

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sejam estas públicas ou privadas, filantrópicas ou não. Consequentemente, cresce o

endividamento dos hospitais, que deixam de realizar investimentos e manutenções em

equipamentos, levando inclusive à paralisação das atividades dessas organizações.

Dentre os aspectos que influenciam a performance financeira dos hospitais destacam-se: a

gestão de custos, os sistemas de informações, o acompanhamento e o controle dos resultados

econômico-financeiros. Segundo Souza (2009, p. 26), “especificamente sobre o controle da

gestão, há evidências de que essas organizações necessitam de ferramentas que

disponibilizem, no mínimo, sistemas e modelos de monitoramento e de avaliação dos

resultados”.

Em suma, para que as unidades de saúde possam atuar nesse meio alcançando bons níveis de

qualidade, é preciso que os responsáveis/gestores busquem métodos ou ferramentas de gestão

que sejam capazes de medir o desempenho organizacional e promover um correto controle

dos recursos disponíveis, a fim de garantir a eficiência da gestão hospitalar.

2.3. Ferramentas de gestão

A necessidade de melhoria nos padrões de gestão que as organizações do setor hospitalar vêm

buscando tem estimulado a adoção de ferramentas gerenciais destinadas ao alcance de maior

eficácia e eficiência dos recursos utilizados nas atividades de assistência (MATOS, 2005;

ABBAS, 2001).

Nos últimos anos, observa-se significativa preocupação com a gestão dos estabelecimentos de

saúde, tanto privados quanto públicos. Também tem dado-se ênfase à implantação e à

utilização de sistemas de gestão e de controle de custos, de maneira a profissionalizar o

gerenciamento dos serviços de saúde para o alcance da eficácia e da eficiência pretendidas, e,

consequentemente, para a obtenção da melhoria da qualidade desses serviços (RAIMUNDINI

et al., 2004). Entretanto, observa-se que a dificuldade de obtenção de recursos e controle dos

custos torna o enfoque do controle de custos e o acompanhamento do desempenho dos

hospitais ainda mais prioritário.

Por isso, na busca pela melhor maneira de gerir a atividade hospitalar, os gestores podem

atentar para diversas ferramentas, principalmente para as que auxiliam no processo de gestão

e na avaliação de desempenho. Estas são capazes de apontar e prever determinados

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comportamentos e, principalmente, gerar informações fundamentais para o processo de

tomada de decisão. Dentre estas ferramentas estão os indicadores de desempenho econômico-

financeiro e os indicadores de desempenho operacionais.

2.3.1. Indicadores de desempenho econômico-financeiro

Segundo Matarazzo (2003, p. 147), “índice é a relação entre contas ou grupo de contas das

Demonstrações Financeiras, que visa evidenciar determinado aspecto da situação econômica

ou financeira de uma empresa”. Sendo assim, é possível obter informações muito importantes

acerca do desempenho de uma empresa a partir do estudo de indicadores econômico-

financeiros.

Esses indicadores propiciam aos gestores um maior conhecimento sobre a situação econômica

e financeira da organização e um melhor embasamento para tomada de decisões adequada. De

modo que, permitem avaliar as condições e as limitações da atividade organizacional,

identificando pontos fortes e fracos e permitindo a análise do desempenho financeiro e até

mesmo operacional da organização.

Ao mesmo tempo em que o planejamento é pré-requisito à avaliação do desempenho,

observa-se que, se não existirem indicadores para serem utilizados como referência,

inviabiliza-se a obtenção de uma conclusão sobre a eficiência com que os recursos estão

sendo utilizados (ABBAS, 2001). Além disso, o acesso a informações sobre os clientes dos

serviços de saúde, a forma como os recursos são consumidos e as atividades desenvolvidas

possibilitam uma melhor qualidade da assistência e dos cuidados prestados (BORBA, 2005).

Desta forma, os indicadores se tornam ferramentas capazes de expressar as características

mais relevantes de uma organização, abrangendo tanto a sua situação econômico-financeira

quanto a sua evolução futura (MARICICA; GEORGETA, 2012). Os indicadores

frequentemente utilizados na análise financeira classificam-se nos seguintes grupos: Liquidez;

Estrutura de Capital; Rentabilidade; Lucratividade; e Atividade. Eles são apresentados no

Quadro 2, juntamente das informações que podem gerar se utilizados na análise do

desempenho hospitalar.

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Quadro 2 – Indicadores de desempenho

LIQUIDEZ

ÍNDICE FÓRMULA INFORMAÇÃO

Liquidez Geral (LG) (AC+RLP)/(PC+ELP)

Indica o quanto o hospital possui em dinheiro e

direitos de curto e longo prazo para pagar o total de

suas dívidas

Liquidez Corrente (LC) (AC/PC)

Indica quanto o hospital possui de bens e direitos de

curto prazo para arcar com suas dívidas incidentes no

mesmo período

ESTRUTURA DE CAPITAL

Imobilização do Patrimônio Líquido (IPL)

(AP/PL) x 100 Indica quanto do Patrimônio Líquido do hospital foi aplicado no Ativo Permanente

Participação de Capital de

Terceiros (PCT) [(PC+ELP)/PL] x 100

Indica qual o percentual de Capital de Terceiros em

relação ao Patrimônio Líquido do hospital

Composição do

Endividamento (CE) [PC/(PC+ELP)] x 100

Indica o percentual da dívida total que o hospital deve

pagar no curto prazo (próximo exercício) em relação

ao total de suas dívidas

Índice de Cobertura de

Juros (ICJ) LAJIR/DF

Indica a capacidade do hospital de pagar juros aos

seus credores ( de pagar suas despesas financeiras)

Índice de Endividamento

Geral (IEG) (PC+ELP)/AT

Indica o montante de ativos do hospital que são

financiados com recursos de terceiros

ATIVIDADE

Prazo Médio de Rotação

de Estoque (PMRE) (ESTm/CSP) x DP

Indica quantos dias ou período de tempo, em média,

que os materiais e medicamentos ficam armazenados

no hospital antes de serem utilizados(número médio de

dias de estocagem)

Prazo Médio de

Recebimento de

Serviços Prestados (PMRSP)

(DRm/ROB) x DP

Indica qual o período de tempo (dias, semanas, meses)

que o hospital leva, em média, parareceber dos

convênios, particulares ou do SUS pelos serviços prestados

LUCRATIVIDADE

Margem Bruta (MB) (LB/ROL) x 100

Indica qual o período de tempo (dias, semanas, meses)

que o hospital leva, em média, parareceber dos

convênios, particulares ou do SUS pelos serviços

prestados

Margem Líquida (ML) (LL/ROL) x 100 Fornece o percentual de lucro que o hospital está

obtendo em relação a seu faturamento

Margem Operacional

(MO) (LO/ROL) x 100

Fornece o percentual de lucro que o hospital está

obtendo em relação a seu faturamento

RENTABILIDADE

Giro do Ativo (GA) (ROL/AT)

Mostra se o hospital está prestando um volume

apropriado de serviços indicando quanto faturou para

cada R$ 1,00 de investimento no ativototal hospitalar

Retorno sobre o Ativo

(RsA)

(LL/AT) x 100

Indica o valor em R$ do lucro líquido ou superávit do

hospital no período para cada R$ 100,00 investido pelo

hospital no ativo total, é, portanto, uma medida do

potencial de geração de lucro da parte do hospital

Retorno sobre o

Patrimônio Líquido

(RsPL)

(LL/PLm) x 100

Indica o valor em R$ do lucro líquido ou superávit do hospital no período para cada R$ 100,00 investido pelo

hospital no ativo total, é, portanto, uma medida do

potencial de geração de lucro da parte do hospital

Legenda: AC – Ativo Circulante; RLP – Realizável a Longo Prazo; PC – Passivo Circulante; ELP – Exigível

a Longo Prazo; AP – Ativo Permanente; PL – Patrimônio Líquido; LAJIR – Lucro antes dos Juros e do

Imposto de Renda; DF – Despesa Financeira; AT – Ativo total; ESTm – Estoque Médio; CSP – Custo do

Serviço Prestado; DRm – Duplicatas a Receber Médio; ROB – Receita Operacional Bruta; LB – Lucro Bruto;

ROL – Receita Operacional Líquida; LL – Lucro Líquido; LO – Lucro Operacional; PLm – Patrimônio

Líquido Médio.

Fonte: Adaptado de Souza et.al (2009).

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2.3.2. Indicadores de desempenho operacional

Ao se analisar o processo de gestão de uma organização hospitalar os indicadores de

desempenho operacional são tão importantes quanto os indicadores de desempenho

econômico-financeiro, uma vez que o desempenho financeiro de um hospital está diretamente

ligado a sua atividade operacional. Por isso, ao analisar o desempenho de um hospital os

gestores também devem considerar os indicadores relacionados aos aspectos operacionais da

organização. São exemplos de indicadores de eficiência operacional: taxas de ocupação,

número de leitos disponíveis na enfermaria, número de leitos disponíveis na UTI (GUERRA,

2011), bem como número de leitos disponíveis ao SUS e nível de especialização do hospital.

Neste estudo, utilizou-se como indicadores de desempenho operacional o nível de

especialização dos hospitais e o percentual de leitos destinados ao SUS.

Segundo o Ministério da Saúde (1977), hospital especializado é aquele destinado a atender

pacientes que necessitam de cuidados em uma determinada especialidade médica.O nível de

especialização dos hospitais pode ser consultado por meio do Cadastro Nacional de

Estabelecimentos de Saúde (CNES), que classifica os hospitais em especializados ou gerais,

de acordo com o tipo de serviços médicos que prestam.

O percentual de leitos destinados ao SUS também pode ser obtido por meio de consulta ao

CNES, o qual apresenta o número de leitos existentes em cada hospital e qual parcela destes é

destinada a prestação de serviços à população por meio do financiamento do SUS.

3. Metodologia

A metodologia de pesquisa utilizada no presente trabalho compreendeu, inicialmente, uma

pesquisa bibliográfica contemplando artigos, livros, dissertações, teses e anais de congressos

acadêmicos. Segundo Gil (2008), a pesquisa bibliográfica “é desenvolvida com base em

material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos”.Quanto aos

objetivos, fora utilizada uma pesquisa explicativa que, ainda segundo Gil (2008), permite

“identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos”.

No que se refere à abordagem do problema, foi utilizada a pesquisa quantitativa que, de

acordo com Martins e Theóphilo (2007), caracteriza-se como pesquisa “em que os dados e as

evidências coletados podem ser quantificados, mensurados”. A pesquisa quantitativa irá

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organizar, caracterizar e interpretar os dados numéricos coletados. Sendo possível o

tratamento dos dados através da aplicação de métodos e técnicas estatísticas (MARTINS;

THEÓPHILO, 2007).

O estudo envolveu a análise do desempenho de uma determinada população, que de acordo

com Babin et. al (2003) “é o total de todos os elementos que compartilham algum conjunto de

características”. Desta forma, a população pesquisada consiste em hospitais brasileiros, por

meio da qual delimitou-se uma amostra de 37 hospitais. Estes hospitais estão distribuídos em

dez estados brasileiros e os dados obtidos compreendem o período de 2006 a 2013.

Os dados financeiros foram obtidos a partir das demonstrações contábeis divulgadas hospitais

em meio eletrônico e padronizados por meio da ferramenta Microsoft® Excel. Já os dados

operacionais foram obtidos no banco de dados do SUS, o DATASUS. Além disso, foram

utilizadas informações apresentadas pelo site oficial da ONA.

Para análise dos dados, foram empregadas as seguintes técnicas: estatística descritiva, teste do

Qui-quadrado e teste de Kruskal-Wallis. Conforme Sampieriet al. (2006), a estatística

descritiva, como o próprio nome sugere, descreve os dados obtidos após a coleta com base em

variáveis estatísticas básicas. Especialmente, focou-se o emprego de tabulações cruzadas, que

são técnicas estatísticas que descrevem duas ou mais variáveis simultaneamente, por meio de

tabelas, representando o conjunto de distribuição dessas variáveis em um número limitado de

categorias (MALHOTRA; BIRKS, 2007).

O teste do Qui-quadrado é útil para analisar a significância de uma associação observada em

uma tabulação cruzada, uma vez que permite determinar se há uma alocação sistemática entre

duas variáveis analisadas (MALHOTRA; BIRKS, 2007). Este teste foi utilizado para analisar

diferenças estatisticamente significativas entre as variáveis qualitativas observadas.

Por sua vez, o teste de Kruskal-Wallis é definido por Maroco (2010) como uma alternativa

não paramétrica para testar se duas ou mais amostras provêm de populações semelhantes ou

de populações diferentes. O teste de Kruskal-Wallis foi empregado especialmente para

analisar se haveria diferenças estatisticamente significativas nas variáveis analisadas em

relação aos hospitais com algum nível de acreditação e os demais.

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Salienta-se que para a tabulação dos dados e para a operacionalização das análises, foram

empregados os softwares Microsoft® Excel 2013 e StatisticalPackage for Social Science

(SPSS) versão 17.0. Em todos os casos o nível de significância adotado foi de 0,10.

4. Resultados

Esta seção apresenta e analisa os resultados obtidos no desenvolvimento da pesquisa. Para a

análise dos resultados, os hospitais foram segregados de acordo com o seu nível de

acreditação. Do total da amostra, verificou-se que 14 eram acreditados em um dado nível,

sendo que: (i) três hospitais eram acreditados no nível Básico; (ii) quatro hospitais eram

acreditados no nível Pleno; e (iii) sete hospitais eram acreditados no nível de Excelência.

Salienta-se que a análise dos dados foi realizada anualmente para cada hospital, uma vez que,

na maioria das vezes, os hospitais obtiveram o certificado de acreditação ao longo do período

analisado na pesquisa.

No intuito de analisar a relação entre a certificação dos hospitais e os indicadores financeiros,

também foram computadas as seguintes informações financeiras para os hospitais que

compuseram a amostra: tamanho do hospital, endividamento, lucro antes dos juros,

depreciação e amortização e imposto de renda (earnings before interest, taxes, depreciation

and amortization – EBITDA) e retorno sobre o ativo. Ademais, também foram analisadas as

seguintes variáveis operacionais: nível de especialização do hospital e o percentual de leitos

destinados ao SUS. O Quadro 3 descreve a forma como cada uma das variáveis foram

operacionalizadas.

Quadro 3 - Operacionalização das variáveis empregadas no estudo

Variável Sigla Operacionalização

Tamanho TAM In (Ativo total)

Endividamento END Dívidas ÷ Ativo total

EBITDA EBITDA EBITDA ÷ Ativo total

Retorno sobre o ativo ROA Lucro líquido ÷ Ativo total

Nível de especialização ESP Se o hospital for especializado “1”, se não, “0”

Percentual de leitos destinados ao SUS SUS Leito SUS ÷ Leitos totais

Fonte: Elaborado pelos autores

Ao se analisar os hospitais que foram certificados com acreditação Básica, observou-se que

não houve qualquer diferença estatisticamente significativa entre eles e os demais hospitais

em relação a qualquer variável descrita no Quadro 3. Tais análises foram feitas por meio do

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teste do Qui-quadrado, no caso da variável ESP, e o teste de Kruskal-Wallis no caso das

demais variáveis analisadas. A Tabela 1 apresenta os resultados do teste de Kruskal-Wallis.

Tabela 1 - Resultado do teste Kruskal-Wallis - Hospitais com certificação Básica e demais

Variável SUS TAM END EBITDA ROA

Estatística do Qui-quadrado 0,13 0,04 0,99 0,03 0,03

Graus de liberdade 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00

P-valor 0,71 0,85 0,32 0,86 0,87

Fonte: Elaborado pelos autores

Por sua vez, ao se analisar os hospitais com acreditação Plena, observou-se uma diferença

estatisticamente significativa (a 10%) entre esses e as demais organizações estudadas no que

tange à variável ROA, de acordo com o teste de Kruskal-Wallis. Nesse caso, os hospitais que

apresentaram a cerificação Plena tenderam a ter um retorno inferior aos que não a possuíam.

Novamente, a variável ESP não apresentou diferenças significativas entre os grupos

analisados. A Tabela 2 descreve os resultados do teste Kruskal-Wallis.

Tabela 2 - Resultado do teste de Kruskal-Wallis – Hospitais com certificação Plena e demais

Variável SUS TAM END EBITDA ROA

Estatística do Qui-quadrado 0,13 0,02 0,46 1,44 2,82

Graus de liberdade 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00

P-valor 0,72 0,88 0,50 0,23 0,09

Fonte: Elaborado pelos autores

Já no caso dos hospitais acreditados com Excelência, esses apresentaram diferenças

estatisticamente significativas com aqueles que não a possuíam em três diferentes variáveis,

de acordo com o teste Kruskal-Wallis: SUS, TAM e END. No que tange a esta última

variável, a mesma foi significativa a menos de 10% e evidenciou que os hospitais acreditados

com Excelência tendem a ser menos endividados do que aqueles que não possuem tal

certificação. No caso da variável TAM, observou-se uma diferença estatisticamente

significativa (a menos de 1%), que evidencia que os hospitais acreditados com Excelência

tendem a ter maior porte em relação àqueles que não o são. Ademais, no caso da variável

SUS, também se constatou uma diferença estatisticamente significativa (a menos de 1%) entre

os hospitais acreditados com Excelência em relação aos que não o são. Aqueles acreditados

com Excelência tendem a prestar menor volume de serviços pelo SUS em relação àqueles que

não o são. A Tabela 3 destaca os resultados do teste de Kruskal-Wallis.

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Tabela 3 - Resultado do teste de Kruskal-Wallis – Hospitais com certificação com Excelência e demais

Variável SUS TAM END EBITDA ROA

Estatística do Qui-quadrado 14,10 6,45 3,59 0,85 0,79

Graus de liberdade 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00

P-valor 0,00 0,01 0,06 0,36 0,37

Fonte: Elaborado pelos autores

Dessa forma, verificaram-se algumas características peculiares dos hospitais acreditados com

Excelência em relação àqueles que não possuem tal certificação, quais sejam: são

organizações que apresentam um menor volume de capital de terceiros em sua estrutura de

capital (END), têm um maior porte (TAM) e dedicam menor número de leitos ao SUS (SUS).

Salienta-se que, o teste do Qui-Quadrado não evidenciou quaisquer diferenças significativas

entre os hospitais acreditados com Excelência e os demais no que tange à variável ESP.

Por fim, realizou-se uma análise para verificar se os hospitais que apresentassem qualquer

tipo de acreditação apresentariam variáveis estatisticamente distintas daqueles que não eram

acreditados. Nesse caso, pelo teste de Kruskal-Wallis, foram verificadas diferenças

estatisticamente significativas entre os acreditados e os demais nas seguintes variáveis: SUS

(a menos de 5%) e TAM (a menos de 10%). Assim, observou-se que os hospitais acreditados

tendem a prestar um menor volume de serviços para o SUS, assim como apresentaram um

maior porte. O teste do Qui-Quadrado não constatou quaisquer diferenças significativas entre

os hospitais acreditados e os demais no que se refere à variável ESP. A Tabela 4 apresenta os

resultados do teste de Kruskal-Wallis. Por sua vez, o Quadro 4 resume os resultados obtidos

no estudo.

Tabela 4 - Resultado do teste de Kruskal-Wallis – Hospitais com algum tipo de certificação e demais

Variável SUS TAM END EBITDA ROA

Estatística do Qui-quadrado 6,68 3,39 2,39 0,03 0,06

Graus de liberdade 1,00 1,00 1,00 1,00 1,00

P-valor 0,01 0,07 0,12 0,86 0,81

Fonte: Elaborado pelos autores

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Quadro 4 - Síntese dos resultados obtidos

Nível de acreditação Variável Descrição

Básico - Nenhuma variável se destacou em relação aos demais

hospitais.

Pleno ROA* Os hospitais com acreditação Plena tenderam a apresentar

retornos inferiores aos demais.

END* Os hospitais acreditados com Excelência tenderam a

apresentar menores níveis de endividamento que os demais.

TAM*** Os hospitais acreditados com Excelência tenderam a ser

maiores que os demais.

Com Excelência

SUS*** Os hospitais acreditados com Excelência tenderam a ceder menos leitos ao SUS.

TAM* Os hospitais acreditados tenderam a ser maiores que os

demais.

Geral

SUS** Os hospitais acreditados tenderam a ceder menos leitos ao

SUS.

Fonte: Elaborado pelos autores

Notas:

* Teste de Kruskal-Wallis – diferença estatisticamente significativa a menos de 10%.

** Teste de Kruskal-Wallis – diferença estatisticamente significativa a menos de 5%.

*** Teste de Kruskal-Wallis – diferença estatisticamente significativa a menos de 1%.

5. Considerações Finais

A Acreditação Hospitalar, além de permitir que os hospitais demonstrem a população o nível

de qualidade dos serviços prestados, propicia a gestão um maior conhecimento dos processos

da organização. Neste sentido, o presente estudo buscou examinar os impactos econômico-

financeiros nos hospitais em face do nível de acreditação. Verificou-se que o desempenho dos

hospitais acreditados com excelência é melhor do que os demais, no que tange ao nível de

endividamento e ao tamanho da organização, pois eles tendem a serem menos endividados e

terem maior porte. O que evidencia a boa atuação da gestão no controle das dívidas e no

alcance de resultados que garantem o crescimento de tais organizações.

Contudo, os hospitais acreditados plenos tenderam a apresentar retornos inferiores aos demais

hospitais da amostra, evidenciando que a gestão destes hospitais precisa ser melhorada para

alcançar ou superar o desempenho dos demais.

Assim, pôde-se observar que, em alguns contextos, a Acreditação Hospitalar tende a impactar

positivamente no desempenho financeiro dos hospitais e que ela pode beneficiar a gestão do

hospital, de modo que o conhecimento dos processos da organização durante a certificação

contribui para gerir de formar eficiente os controles e a prestação de serviços com qualidade.

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