análise dos impactos econômicos e sociais da …

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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA “LUIZ DE QUEIROZ” LES - Departamento de Economia, Administração e Sociologia 011-601 – Estágio Profissionalizante em Engenharia Agronômica Análise dos Impactos Econômicos e Sociais da Implementação da Rastreabilidade na Pecuária Bovina Nacional Aluna: Flávia Maria Sarto nº USP: 2976232 Orientadora: Prof a Dr a Sílvia Helena Galvão de Miranda Supervisor: Eng. Agr. Msc. Cláudio Silveira Brisolara Piracicaba/ SP Novembro 2002

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Page 1: Análise dos Impactos Econômicos e Sociais da …

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULOESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA “LUIZ DE QUEIROZ”

LES - Departamento de Economia, Administração e Sociologia011-601 – Estágio Profissionalizante em Engenharia Agronômica

Análise dos Impactos Econômicos e Sociais da

Implementação da Rastreabilidade na

Pecuária Bovina Nacional

Aluna: Flávia Maria Sarto nº USP: 2976232Orientadora: Profa Dra Sílvia Helena Galvão de Miranda

Supervisor: Eng. Agr. Msc. Cláudio Silveira Brisolara

Piracicaba/ SPNovembro 2002

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ÍNDICE

CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO.......................................................................................................................................4

1.1 Apresentação.............................................................................................................................................................4

1.2 Importância do Trabalho..........................................................................................................................................6

CAPÍTULO 2 - OBJETIVOS............................................................................................................................................8

CAPÍTULO 3 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA...............................................................................................................9

3.1 Conceitos:..................................................................................................................................................................9

3.2 Tendência dos Consumidores..................................................................................................................................10

3.3 Rastreabilidade na União Européia.......................................................................................................................123.3.1 Rastreabilidade na França................................................................................................................................143.3.2 Rastreabilidade na Alemanha...........................................................................................................................163.3.3 Rastreabilidade no Reino Unido......................................................................................................................173.3.4 Rastreabilidade em Outros Países....................................................................................................................203.3.5 Rastreabilidade na Austrália............................................................................................................................223.3.6 Rastreabilidade no Canadá ..............................................................................................................................24

CAPÍTULO 4 - RASTREABILIDADE NO BRASIL...................................................................................................26

4.1 O Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina – SISBOV...........................26

4.2 Passos para a Rastreabilidade................................................................................................................................30

4.3 Sistemas de Identificação........................................................................................................................................32

4.4 Custos do Rastreamento..........................................................................................................................................33

CAPÍTULO 5 - IMPACTOS NA CADEIA....................................................................................................................37

5.1 Necessidade de animais rastreados para o cumprimento da 1º fase do SISBOV...................................................37

5.2 Custos para rastrear todos os animais destinados à exportação – 2º fase.............................................................40

5.3 Adequação de todo o rebanho brasileiro ao SISBOV – 3º fase..............................................................................41

5.4 Impactos nas exportações.......................................................................................................................................42

5.5 Problemas e Obstáculos da Implantação do SISBOV............................................................................................43

CAPÍTULO 6 - CONCLUSÕES.....................................................................................................................................46

BIBLIOGRAFIA..............................................................................................................................................................49

ANEXOS............................................................................................................................................................................54

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Agradecimentos

Agradeço, em primeiro lugar, à Deus, por tudo que sou e que tenho nesta

vida, e por todas as oportunidades que Ele põe em meu caminho.

Agradeço em especial à minha família, principalmente, e a todos os meus

amigos, que, mesmo indiretamente, contribuíram com todo o carinho do mundo para que

eu conseguisse realizar este trabalho.

Agradeço à minha Profa.Sílvia Helena Galvão de Miranda, pela idéia deste

trabalho e orientação, sempre com palavras profissionais e amigas; ao meu supervisor do

trabalho, Cláudio Brisolara, pela imensa paciência que apresentou para comigo; e à todas

as pessoas do Departamento Econômico da FAESP, Sílvia Janine, Rodolfo, Simone,

Otávio, Fernanda, Stephannie, Paulinho, Marli e Ane, pela amizade, companheirismo,

pelos importantes conselhos e pelos inesquecíveis momentos de descontração.

Agradeço também às pessoas que me ajudaram na coleta de informações:

Leandro Ries e Thaís (Planejar), Sr. Ênio Marques (ABIEC), Sr. Hélio Toledo (Sindifrio),

Miguel Cavalcanti (BeefPoint), Geide Jr. (FNP), Luciana (OIA Brasil), Vantuil (Brasil

Certificações), Prof. Pedro Felício, entre outros. Sem elas, talvez esta pesquisa não

estaria completa.

No mais, agradeço à ESALQ e todos os componentes dela pela minha

formação acadêmica e, mais que isso, pela minha formação pessoal e por tudo de bom

que levarei nesta vida: amigos e professores, exemplos de dedicação e de vida.

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CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO

1.1 Apresentação

Diversas mudanças vêm ocorrendo no cenário da alimentação mundial.Expansão do comércio mundial de alimentos, mudanças nos hábitos alimentares, maiordemanda por produtos altamente processados, e ocorrências de contaminações dealimentos e bebidas por micropatógenos ou resíduos têm levado a mudanças também nosetor produtivo de alimentos. Alguns episódios que foram amplamente divulgados, comoa Bovine Spongiforme Encephalopathy – BSE1 nos bovinos da Inglaterra, oshambúrgueres contaminados por Echerichia coli 0157H nos Estados Unidos, os frangos esuínos contaminados com dioxina na Bélgica e os focos de febre aftosa na Argentina, RioGrande do Sul e Inglaterra aumentaram a preocupação dos consumidores e dosgovernantes em relação à qualidade dos alimentos comercializados.

Após indícios que correlacionaram a BSE ao mal de Creutzfeldt-Jacob (CJD),que afeta o sistema neurológico do ser humano, governos de diversos países,principalmente da União Européia, região mais afetada pela BSE, aprovaram legislaçõesrigorosas para tentar controlar o problema. Essa nova regulamentação visou controlar,principalmente, o processo de produção nas fazendas, estabelecendo registros, controlese inclusive a identificação individual. A esse processo de controle, identificação ecertificação de origem deu-se o nome de rastreabilidade ou rastreamento bovino.

Estes procedimentos são ferramentas para garantir a Segurança doAlimento2, tendência de consumo que considera as preocupações dos consumidores arespeito da sanidade, garantia de qualidade e procedência do produto e a idoneidade dequem o produz.

1 Chamada no Brasil como Encefalopatia Espongiforme Bovina – EEB, ou a “doença da vaca louca”.2 Do inglês Food Safety, refere-se a um programa que visa fortalecer as ações de segurança, prevenção e

controle com finalidade de obter segurança e qualidade dos alimentos, ou seja, ausência decontaminação (FELÍCIO, 2002).

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Nesse contexto, a União Européia passou a exigir que todos os países queexportam para seu mercado adotem sistemas de controle e gerenciamento de riscosemelhantes ao seu processo de identificação e registro de animais, e também derotulagem, a fim de garantir a rastreabilidade. Tal exigência é baseada no princípio deequivalência, estabelecido pelo Acordo de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias (SPS).Este princípio estabelece que um país pode apenas exigir dos demais paísesexportadores o cumprimento de legislações que são aplicadas no seu mercadodoméstico. Portanto, a União Européia primeiramente organizou e implantou seu sistemade identificação de bovinos para poder exigir esse mesmo sistema de identificação econtrole dos países que para lá exportam.

Após o primeiro passo dado pela União Européia, outros países tambémpassaram a implantar e exigir os procedimentos para garantir a rastreabilidade e acertificação da carne bovina produzida em seus países ou importada. Por consequência,o Brasil, para não perder um de seus principais mercados (União Européia), e se projetarà frente das exigências de outros mercados, teve de adequar-se a esta tendência e criarseu próprio sistema de rastreabilidade para atender às exigências dos seus consumidoresinternos e externos.

No âmbito interno, as deficiências do controle sanitário e ausência de umsistema de registro e identificação nacional de bovinos foram alguns dos aspectos quelevaram uma missão da União Européia a classificar o Brasil, em abril de 2002, como umdos países que apresentavam risco de manifestar a BSE, apesar de nunca ter havido umúnico caso desta enfermidade no país. Os motivos para tal desconfiança por parte dasautoridades européias deveram-se às irregularidades no preenchimento das Guias deTrânsito Animal (GTAs), que registram o trânsito de animais e atestam a sanidade destes,irregularidades nas notas fiscais e também pelo fato de haver em nosso território animaisvindos da Inglaterra (região originária da BSE e mais afetada), cujo paradeiro eradesconhecido.

Esta missão, segundo MAPA (2002), apesar de reconhecer o esforço dogoverno brasileiro em se implementar um sistema de medidas preventivas e demonitoramento relacionado à BSE, fez duras críticas ao sistema de defesa agropecuária

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existente no país. Foi enfatizada a ausência de fatores essenciais para que o sistema dedefesa funcione, citando apropriadamente a não existência de um sistema deidentificação individual de animais como um dos principais fatores para que o combate àBSE seja eficiente.

Desta forma, a comissão não encontrou maneiras de identificar se estesanimais podem ter vindos originalmente de outros países onde a BSE manifestou-seporque os documentos oficiais brasileiros apenas registram o número de animais, e não asua procedência.

Então, esses fatores – segurança do alimento, tendência de certificação dosalimentos de origem animal e vegetal, equivalência sanitária e falta de controle deregistros de rebanho – levaram o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento(MAPA) à criação do SISBOV, Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação deOrigem Bovina e Bubalina, que foi promulgado através da Instrução Normativa nº 01, de10 de janeiro de 2002.

Apesar de o SISBOV ter sido criado para atender às exigências da UniãoEuropéia, ele servirá também para modernizar a pecuária nacional, a qual é umaimportante geradora de empregos, pelos investimentos existentes em estrutura, dedivisas para a balança comercial brasileira, através das exportações (embora apresenteuma produtividade baixa e deva modernizar-se) e, principalmente, de ser uma das maisimportantes fontes de proteína animal para a população, esta atividade requer atenção ereconhecimento dos órgãos públicos para seus problemas.

1.2 Importância do Trabalho

A pecuária de corte no Brasil tem mostrado grande dinamismo e eficiência. Opaís é o segundo maior produtor mundial de carne e possui o maior rebanho comercial domundo, hoje estimado em 160 milhões de cabeças. A maior parte da produção é voltadaao mercado interno, cerca de 90%, porém é notável o crescimento do volume exportado.

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O setor, mesmo com o real valorizado, apresentou crescimento dasexportações nos anos de 1997 e 1998 e, após a desvalorização da moeda nacional, em1999, as estas ganharam ainda mais impulso e cresceram 60%, segundo dados daSecretaria do Comércio Exterior (SECEX) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria eComércio (MDIC). O volume embarcado passou de 261 mil toneladas equivalente-carcaça e 244 milhões de dólares em 1996 para 525 mil toneladas e mais de 1 bilhão dedólares em 2001 (MDIC, 2002). Em relação à contribuição ao Produto Interno BrutoNacional, o setor pecuário responde por cerca de 13% do PIB do Agronegócio, ou 3,5%do PIB Brasileiro (CEPEA, 2002).

O Brasil detém atualmente um rebanho da ordem de 160 milhões de cabeças,e a extensão territorial ocupada pela produção de carne a pasto é de 177.700.472 ha depastagens, segundo IBGE (1996). A atividade pecuária apresenta grande importânciasócio-econômica, contribui para o superávit na balança comercial brasileira e o comérciointernacional de carnes representa uma significativa importância nesse contexto, pois nosúltimos anos, exportou-se taxas que variaram entre 8 e 12% da produção nacional.

Com base no exposto, nota-se que o sistema de rastreabilidade bovina é umtema de primordial relevância e requer estudos mais aprofundados sobre o seudesenvolvimento e implantação.

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CAPÍTULO 2 - OBJETIVOS

O objetivo geral deste trabalho é entender, pesquisar e explorar arastreabilidade e sua implementação no Brasil, especialmente no estado de São Paulo.Os objetivos específicos consistem em:

• Explorar as razões condicionantes que levaram à criação do SISBOV no Brasil;

• Comparar os processos de rastreamento brasileiro com o de outros países;

• Analisar os custos advindos da rastreabilidade e seu impacto para o pecuarista;

• Desenvolver um estudo exploratório dos impactos que a implementação da

rastreabilidade poderá trazer à pecuária nacional, enfatizando suas implicações nocomércio da carne bovina;

• Comparar a visão dos agentes econômicos do setor a respeito do sistema de

rastreabilidade e suas consequências para a pecuária e economia nacionais.

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CAPÍTULO 3 - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

3.1 Conceitos:

Segundo LIRANI (2002), Rastreabilidade3 é a capacidade de encontrar ohistórico de localização e utilização de um produto, por meio de identificação registrada.No caso da carne bovina, ela consiste em um processo pelo qual a produção de carne éverificada (ou rastreada) desde o nascimento do bezerro até chegar ao consumidor, sejano mercado interno ou externo, possibilitando assim um reconhecimento da origem dacarne e uma ferramenta para a constatação de qualidade.

O conceito de rastreabilidade pode ser entendido como “a capacidade dereencontrar o histórico, a utilização ou a localização de um produto qualquer por meio deidentificação registrada” (JANK & NASSAR, 1998, citado por DULLEY & TOLEDO, 2002).Com ela é possível, através de uma etiqueta e um número vinculado a um corte da carnebovina, conhecer todo o manejo do animal, desde o seu nascimento até seu abate ecomercialização. Um sistema de rastreabilidade é, portanto, um conjunto de medidas quepossibilitam controlar e monitorar sistematicamente todas as entradas e saídas nasunidades, sejam elas produtivas, processadoras ou distribuidoras, visando garantir aorigem e qualidade do produto final (DULLEY & TOLEDO, 2002).

Ao tratar da rastreabilidade de carnes, a EAN International – organizaçãogestora de um sistema global de identificação e comunicação para produtos, serviços elocais, criada em 1977, para servir à Comunidade Européia – diferencia os termostracking (acompanhamento) e tracing (rastreamento), conforme as definições:

• Acompanhamento do Produto (tracking): é seguir o trajeto deste ao longoda cadeia de produção enquanto ele é transferido entre organizações.

3 Do inglês, Traceability, significa a capacidade de rastrear, proceder o rastreamento, seguir um rastro, ouacompanhar o trajeto de indivíduos, veículos ou mercadorias.

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• Rastreamento do Produto (tracing): é identificar a origem de uma unidadeou lote de produto específico.

A rastreabilidade também pode ser entendida como a precursora de umaaliança vertical na produção, industrialização e comercialização da carne. Isso porque,com ela, será possível, além de identificar a origem da carne e assim garantir aqualidade, gerar vínculos dos produtores com os frigoríficos, com o comércio e com osconsumidores (através da criação de marcas). Assim, representando uma alteraçãocultural nos contratos comerciais entre os elos da cadeia e pressupondo transparência,honestidade e permanente diálogo entre as partes na procura da satisfação doconsumidor (PIÑEDA, 2002). Considerando a ausência de coordenação entre os agentesexistente na cadeia de produção da carne bovina, a rastreabilidade poderá ser umaferramenta para ajudar a garantir a segurança do alimento para os consumidores e umrelacionamento saudável e transparente entre os elos da cadeia.

Segundo FELÍCIO (2001), o processo de rastreabilidade envolve oacompanhamento e requer a rotulagem da carne com um número de referência, que ligauma unidade de produto individual do ponto de venda ao animal, ou lote, do qual ela seoriginou e, obrigatoriamente, ao histórico de alimentação e saúde individual.

3.2 Tendência dos Consumidores

De acordo com HOWELLS (2000), é nítida a tendência entre os consumidores,principalmente dos países desenvolvidos, de exigir produtos com maior valor agregado eque prezem pela qualidade. É crescente o interesse pela segurança do alimento, pelafacilidade e praticidade de preparo do alimento, maior preocupação com questõesambientais e do bem estar animal e aumento da importância da qualidade dos hábitosalimentares.

O conceito de segurança do alimento foi definido em 1996 pela FAO comouma situação na qual as pessoas desejam ter acesso físico e econômico para adquirir

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alimentos seguros, nutritivos e em quantidade suficiente para suprir suas necessidadesbásicas.

O consumidor está cada vez mais consciente da importância de adquiriralimentos saudáveis, sobre os quais tenham conhecimento da origem, do valor nutricionale da qualidade. É a crescente preocupação com a segurança do alimento. Essa mudançana tendência dos consumidores foi um dos principais fatores estimulantes paradesencadear a proposta e instalação de programas de rastreabilidade e certificação deprodutos de origem animal e vegetal no mundo.

As exigências dos consumidores sobre segurança do alimento acentuaram-sea partir das declarações do governo britânico, através da Organização Mundial de SaúdeAnimal, no início de 1996, admitindo que o consumo de carne bovina de animais queapresentassem a doença da vaca louca (BSE) poderia transmitir aos seres humanos omal de Creutzfeldt-Jakob (CJD) (PIÑEDA, 2002). A reação dos consumidores e domercado foi imediata: houve um declínio de cerca de 40% no consumo de carne bovinana Europa e uma queda de 20% nos preços deste produto. As autoridades, paracontornarem a situação, propuseram medidas como restrições ao comércio de certostipos de carnes, elevação dos estoques de intervenção, introdução de programas deabates de animais e incentivos a sistemas de produção menos intensivos. Porém, o maiordesafio foi a definição de padrões que permitissem o rastreamento4 e oacompanhamento5 do produto para que, em um momento de emergência, houvesse apossibilidade do recolhimento do produto contaminado.

Com respeito à segurança do alimento, a rastreabilidade do sistema deprodução de carnes é uma garantia dada ao consumidor europeu, pela legislaçãocomunitária, que lhe dá a certeza de estar consumindo um produto que está sendocontrolado em todas as fases da produção: desde a fazenda até o prato (LOMBARDI,1998).

4 Product Tracing: identificação do centro de origem do problema.5 Product Tracking: monitorar e identificar riscos.

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3.3 Rastreabilidade na União Européia

Os problemas ocorridos com a contaminação de alimentos, já citadosanteriormente, e a tendência dos consumidores de exigir produtos com garantiasdemostráveis de qualidade foram os principais precursores da exigência derastreabilidade e certificação de produtos de origem animal na União Européia.

No ano de 1996, juntamente com as primeiras incidências da BSE, oaparecimento da rastreabilidade da carne bovina começou a tomar corpo na UniãoEuropéia. Os frigoríficos de carne bovina na Europa foram obrigados pela legislação aadotar um sistema de etiquetagem e identificação de animais, carcaças e produtoscárneos. A indústria de rações também passou a ser alvo de regulamentações daComunidade Européia, e tiveram que operar com maior transparência na fabricação deseus produtos.

No entanto, em 1997, na França, a INTERBEV (espécie de Câmara Setorialda Carne reunindo produtores, industriais e distribuidores franceses) criou uma marcapara sua carne bovina e vinculou a ela, além da identificação prevista na legislação, amenção de origem dos animais, local de abate e tipo racial. Assim, o setor pecuárioeuropeu iniciou, voluntariamente, a ação de oferecer informações extras ao consumidornos rótulos de seus produtos (SAMPAIO, 2001)

Neste mesmo ano, 1997, a Comunidade Européia, pressionada pelosconsumidores, publicou a Council Regulation (CE) 820/97, que veio servir de base paraas regulamentações posteriores (CE) 1760/2000 e 1825/2000, ainda em vigor,estabelecendo regras e exigências para serem cumpridas, internamente à ComunidadeEuropéia (CE), e, por extensão, aos países que para lá exportam carne bovina (LIRANI,2002).

Foram feitas várias tentativas de fixação de data para o início das exigências.O primeiro prazo foi 01/01/2000, o qual foi transferido para 01/01/2001 e posteriormente

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para 02/01/2002. Para este último, ainda foi concedida uma extensão de seis meses, atéo final de junho/2002, para que os exportadores pudessem se ajustar às novas normas.Contudo, a exigência de rastreabilidade pela União Européia somente teve início no dia1º de setembro de 2002.

Os Regulamentos elaborados pela Comunidade Européia, além de criaremum sistema de identificação e registro de bovinos, instituiu a obrigatoriedade de conter asseguintes informações no rótulo das embalagens dos derivados de carne bovina:(1760/00, Cap. I, Artigo 3.º):

• Número ou código de referência que assegure a relação entre a carne de bovino e oanimal (identificação do animal ou do lote);

• Número de aprovação do frigorífico que o animal ou grupo de animais foi abatido e oEstado membro ou país terceiro em que se encontra o frigorífico;

• Número de aprovação do frigorífico no qual se ocorreu a desossa do animal e o Estadomembro ou país terceiro em que se encontra o estabelecimento;

• Nome do Estado membro ou o país de nascimento do animal;• Nomes dos Estados membros ou dos países terceiros em que se processou a

engorda;• Nome do Estado membro ou do país terceiro em que ocorreu o abate.

Quanto aos registros obrigatórios referentes aos animais, subscreve o Artigo7.º que:

• Todos os operadores envolvidos no circuito de comercialização da carne bovina sãoobrigados a manter um registro atualizado, manual, informatizado ou documental, dasentradas e saídas de carcaças e/ou cortes, em cada fase de produção e da venda;

• Nos registros, deverá estar demonstrado com clareza a formação de lotes, se for ocaso;

• Deverão constar dos documentos de acompanhamento do animal, caso a carne nãose encontre rotulada, as menções obrigatórias que permitam assegurar arastreabilidade da mesma;

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• Os registros deverão ser mantidos durante três anos, podendo os organismoscompetentes consultá-los a qualquer momento até o prazo referido.

Um dos objetivos desta legislação seria estabilizar o mercado da carnebovina após a crise da BSE, através de medidas eficazes que tornassem transparentesas condições de produção e comercialização destes produtos, principalmente no quetange ao conhecimento dos antecedentes.

A Comunidade Européia acredita que esta legislação não só garantiu quefossem igualmente satisfeitas as condições de proteção de saúde animal e de saúdepública, como também encorajou a confiança dos consumidores na qualidade da carnede bovino (SAMPAIO, 2002).

Ainda em relação à União Européia, abaixo encontram-se algumaspeculiaridades referentes ao sistema de rastreabilidade existentes nos países-membros.

3.3.1 Rastreabilidade na França

O processo de identificação francês existe desde 1978, o qual é obrigatório ecomeça com uma pré-identificação feita na orelha direita dos animais com a aplicação deum brinco no máximo dois dias após o seu nascimento. Até o quarto mês após onascimento, o animal entra no sistema nacional de identificação através de um segundobrinco, com um número único de identificação de dez algarismos. Este número étranscrito no livro de registro oficial da propriedade, transmitido ao Instituto de PopulaçãoBovina (IPG), ficando disponível em um banco de dados a todos os agentes do sistema.A partir do registro no IPG, emite-se o Documento de Acompanhamento Bovino (DAB) oupassaporte animal, com o número oficial do animal, que deverá acompanhá-lo nos seusdeslocamentos.

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A partir do abate, a rastreabilidade que era individual passa a ser em lotes –carcaças com as mesmas características são agrupadas e recebem uma mesmaetiqueta. Na desossa, cada pedaço de carne receberá uma etiqueta referente ao seu lote,que o acompanhará até o cliente.

No caso de carne moída ou hambúrgueres, pedaços de músculos dediferentes lotes são misturados, e essas misturas receberão um número que poderá serassociado ao número dos lotes usados na fabricação. É o número das misturas queaparecerá na etiqueta do produto final.

O transporte dos animais deve ser feito com a Guia de Transporte Animal ecom o DAB. Este último deve conter no verso etiquetas com as datas de vacinação e dosexames laboratoriais para que o movimento animal seja autorizado.

Em 1997 foi criada uma marca para a carne francesa, a “Viande BovineFrançaise”. No rótulo da carne, além da marca, são também impressos a identificação doanimal, menção de origem, local de abate e tipo racial do bovino que deu origem ao corte(SAMPAIO, 2001), e a garantia que tal carne era proveniente de animais nascidos,criados e abatidos em território francês. Com isso, a França praticamente manteve sobseu domínio o mercado interno; posteriormente, outros países europeus começaram aseguir este caminho.

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Tabela 1: Etapas do processo de rastreabilidade na França

Fonte: SAMPAIO, 2001

De acordo com SAMPAIO (2001), o sistema de rastreabilidade francês ébaseado no sistema HACCP (Hazard Analysis of Critical Control Points) de controle dequalidade. Este sistema é reconhecido e recomendado pela Codex Alimentarius como umsistema capaz de garantir a segurança do alimento, pois permite identificar e avaliar osriscos em cada etapa da produção e do processamento e definir métodos de controledesses riscos.

3.3.2 Rastreabilidade na Alemanha

A Alemanha é um país composto por 16 estados e apresenta um rebanho deaproximadamente 14 milhões de animais, com uma média de 50 a 100 cabeças porpropriedade.

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A rastreabilidade neste país implantou-se basicamente como nos demaisintegrantes da União Européia: iniciou-se em 1992, porém sua aplicação de fato começouentre 1993 e 1994 (VIDAL, 2002).

A base do sistema de rastreabilidade consiste no uso de brincos comnumeração única pelos animais, controlado por um organismo central, e armazenado emum banco de dados, como o SISBOV brasileiro. Também fazem parte do sistema opassaporte animal, caderneta individual e registro de propriedades rurais com todos osseus dados (geográficos, produtivos, sociais, etc).

Com o abate e processamento dos bovinos, o sistema de identificaçãoalemão prevê uma relação desta fase com a segurança do alimento da carne a serproduzida. Cada corte de carne recebe uma etiqueta com um número (o mesmo queestava anteriormente no brinco do animal), que informa sua origem, ou seja, de qualbovino ele é proveniente. Com isto, espera-se garantir ao consumidor as característicasinerentes à carne rastreada.

3.3.3 Rastreabilidade no Reino Unido

De acordo com SCUDAMORE (2000), o setor pecuário no condado apresentacerca de 11 milhões de cabeças e caracteriza-se como sendo bastante intensivo. Atravésde uma Portaria emitida pela União Européia em 1992, todos os estabelecimentos queexercem atividade pecuária deste país devem estar registrados, o que facilita o processode registro de movimentos dos animais.

Em 1995, estabeleceu-se oficialmente o uso de um único brinco na orelhadireita do animal, que levaria um código numérico e as palavras “Reino Unido”. Adenominação dos brincos se faz através de um sistema computadorizado, concedendo acada unidade números seqüenciais que representam o nome e direção doestabelecimento (MEAD, 2002). Esta seqüência de números é atribuída e de usoexclusivo do Ministério da Agricultura.

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A pressão dos consumidores, no sentido de garantir a qualidade da carne quecompram, e as exigências da União Européia para registro do rebanho bovino foram osmotivos que levaram o Reino Unido a utilizar a identificação e rastreabilidade dos animais(SCUDAMORE, 2000), que iniciou realmente em 1997, com a (CE) 1760/2000. Neste,ficou estabelecido que o Reino Unido deveria obrigatoriamente estabelecer um sistemade registro oficial que, seria uma ferramenta para garantir a qualidade da carne paraexportação e consumo interno.

Dentre as normas que a União Européia estabeleceu constam o uso de doisbrincos por animal, documento de identidade ou passaporte individual, uma base dedados central computadorizada, que conta com informações sobre os animais(nascimento, animais importados, mortes, etc) e registro individual de cadaestabelecimento pecuário. Um dos brincos deve levar informações como código do país ecódigo numérico, o qual deve ser igual ao número do passaporte. O outro brinco develevar o número individual do animal, que foi concedido pelo Ministério da Agricultura, equalquer outra informação referente ao manejo.

No passaporte animal estarão os dados dos animais na forma de folhas(planilhas), e estas serão retiradas do passaporte e enviadas à base de dados central deforma postal ou eletrônica. No momento do abate, se o animal chegar ao frigorífico sem oseu documento de identidade (ou passaporte), ele será imediatamente rejeitado paraconsumo humano e provavelmente seu proprietário será advertido, ou severamentemultado (SCUDAMORE, 2000).

As dificuldades encontradas pela organização basearam-se nas tentativas demodificar os hábitos e comportamento de toda indústria pecuária, com a finalidade degarantir o registro e as informações dos movimentos animais, e na criação de uma basede dados computadorizada. Para a formulação do banco de dados foi criada uma novaorganização, chamada de Serviço de Movimento de Rebanho da Grã-Bretanha.

Em julho de 1996 iniciou-se o uso dos passaportes animais, e em setembro de1998 foi implantado o sistema de identificação animal. Foram necessários dois anos para

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progredir de um sistema sem informação para outra com registros informatizados. Aimplementação relativamente rápida resultou em maiores custos para os pecuaristas epara o governo, principalmente pelo fato de o sistema de produção ser exclusivamenteintensivo. Porém, segundo MEAD (2002), os produtores mais esclarecidos não estãodiscordando do sistema, e o custo real é baixo. Alguns pecuaristas estão obtendo umvalor melhor pelo fato dos animais estarem rastreados.

PASSOS PARA A IDENTIFICAÇÃO ANIMAL:1. O pecuarista solicita o conjunto de brincos para a empresa especializada;2. O fabricante de brincos recebe o pedido e verifica se a sequência de números contida

nos brincos não foi usada anteriormente;3. No momento de entrega dos brincos, há uma comunicação eletrônica entre a empresa

de brincos e o sistema de rastreabilidade do país, sendo que o pecuarista ficará entãocadastrado no sistema através dos números dos brincos que ele estará recebendo;

4. Junto com os brincos, o fazendeiro receberá um formulário para solicitar ospassaportes;

5. Quando um animal nasce, o fazendeiro dispõe de um prazo para identificar o animal,que é um pouco mais de 36 horas após o nascimento;

6. Dentro de 25 dias de identificado o animal, deve ser enviada a solicitação para opassaporte;

7. Com o envio do passaporte, significa que o animal está oficialmente registrado. Apósisso, qualquer movimento deverá estar informado no passaporte, e depois no sistemainformatizado. No caso de venda, o passaporte acompanha o animal e o compradorficará responsável por avisar ao sistema informático de tal mudança no passaporte;

8. Quando o animal for para o abate, os funcionários do frigorífico deverão verificar seupassaporte e seu brinco, e, após abatido, eles devem mandar o passaporte para obanco de dados central, onde será registrada a morte do animal. Se o animal morrerno campo, o pecuarista deverá seguir o mesmo procedimento.

Este sistema permite fazer a rastreabilidade da carne até o supermercado, demaneira tal que o consumidor pode conhecer a origem da carne que vai consumir.

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3.3.4 Rastreabilidade em Outros Países

O processo de rastreabilidade no mundo encontra-se em franca expansão.Em alguns países, ele já está em um estágio bastante avançado, como é o caso daFrança (já citado), Holanda e Austrália. Existem projetos em vários outros países queestão apresentando avanços e alguns projetos pilotos, de pequena extensão, envolvendoalguns produtores, frigoríficos e supermercados. Porém, ressalta-se que todos os paísesexportadores e importadores de carne estão levando muito a sério a necessidade deimplantação de programas que garantam a rastreabilidade e/ou a certificação

Na tabela abaixo, pode-se ver alguns países que já implantaram seu sistemade rastreabilidade e outros que começaram há pouco tempo e encontram-se emprocesso de implantação.

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Tabela 2: Rastreabilidade no Mundo

PAÍS REBANHO DATA SISTEMA IDENTIFICAÇÃO OBRIGATÓRIO

SISTEMA IMPLANTADOUnião Européia 78.184.000Áustria 2.117.000 1996/97 Brinco Duplo SimFrança 19.857.000 1996/97 Brinco Duplo SimBélgica-Luxemburgo 3.033.000 1996/97 Brinco Duplo SimDinamarca 1.943.000 1996/97 Brinco Duplo SimGrécia 655.000 1996/97 Brinco Duplo SimAlemanha 14.410.000 1996/97 Brinco Duplo SimIrlanda 6.595.000 1996/97 Brinco Duplo SimItália 7.030.000 1996/97 Brinco Duplo SimReino Unido 11.091.000 1996/97 Brinco Duplo SimHolanda 4.129.000 1996/97 Brinco Duplo SimEspanha 6.100.000 1996/97 Brinco Duplo SimPortugal 1.224.000 1996/97 Brinco Duplo SimLeste Europeu 3.310.000Estônia 250.000 Jan/00 Visual SimLetônia 370.000 Jan/00 Visual SimLituânia 750.000 Jan/00 Visual SimHungria 800.000 Jan/98 Visual SimEslovênia 500.000 Jul/01 Visual SimBulgária 640.000 Jul/98 Visual SimAmérica do Norte 109.047.000Canadá (total) 13.200.000Província de Quebec/Canadá 1.500.000 Mar/02 Eletrônico + Visual Sim

Estados Unidos 95.847.000 SimOceania 39.608.000Austrália 28.840.000 1998 Visual SimNova Zelândia 10.768.000 Duplo Visual SimÁsia 6.480.000Japão 4.480.000 Duplo Visual SimCoréia do Sul 2.000.000 Duplo Visual Sim

EM IMPLANTAÇÃOAmérica do Sul 230.075.000Argentina 50.972.000Brasil 168.010.000 2002/2007 Livre/Visual SimUruguai 11.093.000Leste Europeu 11.050.000Polônia 5.500.000 Ago/2002 Visual SimTchequia 1.600.000 2002/2004 Visual SimEslováquia 650.000 2002/2004 Visual SimRomênia 2.900.000 2002/2004 Visual SimCroácia 400.000 2002/2004 Visual Sim

Em fase de estudo

Fonte: Elaborada pela autora, adaptada de informações de OLIVEIRA (2002) eANUALPEC (2002).

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Algumas peculiaridades sobre os sistemas de rastreabilidade de algunspaíses serão descritas a seguir, salientando o modo e época de implementação, adesãode produtores, custos e tipo de tecnologia usada.

3.3.5 Rastreabilidade na Austrália

A Austrália, como maior exportadora de carne bovina do mundo, é um dospaíses que se encontra em estágio mais avançado na implantação do sistema derastreabilidade e na utilização de tecnologias de identificação bovina (LIRANI, 2001).

De acordo com o Meat and Livestock Australia (MLA), o sistema derastreabilidade australiano tem como objetivo atender aos requisitos do EsquemaNacional de Identificação de Animais (National Livestock Identificacion Scheme – NLIS),

que é um sistema de identificação permanente dos animais, através de brincos ou debolus intra-ruminal, que utilizam dispositivos fixos contendo um microchip eletrônico. Odispositivo é lido eletronicamente e a informação é registrada em uma base de dadosnacional, onde ficarão armazenadas e disponíveis aos agentes do setor as informaçõesde características do animal, histórico de doenças e outros dados comerciais.

De acordo com BEASLEY (2002), no NLIS, há disponibilidade de que osdados informados pelo pecuarista retornem a ele com informações precisas sobre dadosde abate, rendimento e qualidade de carcaça, fazendo com que, além de um sistema derastreabilidade, o NLIS seja também uma ferramenta para se incrementar a qualidadezootécnica do rebanho e a administração da propriedade como um todo.

O NLIS permite que a Austrália comercialize a carne bovina no mercadointerno e externo, fornecendo rastreabilidade para o produto com os mais altos padrõesde segurança e integridade, atendendo às exigências do mercado europeu.

Os produtores australianos têm variadas opiniões sobre as exigências daUnião Européia (BEASLEY, 2002). Como no Brasil, os produtores mais avançados e queutilizam tecnologias de um modo mais intensivo, tendem a adotar mais rapidamentenovas tecnologias quando comparados com os mais tradicionais. O uso do sistema

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australiano de rastreabilidade (NLIS) é requerido apenas para fazendas nas quais osanimais destinam-se à exportação para a Europa, mas será exigido em todas aspropriedades a partir de janeiro de 2005. Apesar disso, apenas metade das propriedadesque têm esse sistema implantado o fizeram visando o mercado europeu. A outra parteadotou o sistema com o objetivo de obter ganhos e facilidades no gerenciamento dapropriedade.

Nos frigoríficos, a partir de janeiro de 2002 para o estado de Vitória, e demaisestados a partir de 2005, deve haver a instalação de equipamentos para leitura dosdados (dos brincos ou chips) para se adequarem ao sistema nacional de rastreabilidade.Existem também sistemas pós-abate de identificação dentro dos padrões EAN/UCC(sistema internacional de identificação de carcaças e cortes). A partir de janeiro de 2003,todos os frigoríficos devem exigir os brincos do Sistema NLIS nos animais, e avisar aobanco de dados do sistema os números dos animais que foram abatidos. Arastreabilidade, no caso do abate, é geralmente feita em lotes, isto é, lotes de carcaçasentram na sala de desossa e os cortes originados são identificados com as etiquetaspróprias desses lotes. Este procedimento é assim feito devido ao fato da numeraçãoindividual gerar custos excessivos para os estabelecimentos frigoríficos.

Quanto aos custos do sistema, em 1999 o Governo e a indústria pecuária,através do Fundo de Compensação para Pecuária, concordaram em fornecer subsídiospara fomentar a produção de brincos do NLIS, os quais são usados para classificar,identificar e rastrear os animais nas propriedades. O custo destes é AUD2,50 (dólaresaustralianos), o que corresponde a US$1,40 ou R$5,28.

Assim como no Brasil, de acordo com LIRANI (2002), o sobre preço da carnerastreada vai depender do mercado para onde irá essa carne. No caso australiano, acarne para a Europa - já rastreada - tem um plus no preço de cerca de R$0,36 ouUS$0,10 por quilo de carcaça (US$1,00 = R$3,586), o que equivale a aproximadamenteUS$1,56 por @ e mais de R$121,97 ou US$34,26 por animal. Considerando o preço da@ da carne na Austrália em 2001 como sendo US$40,00/@ (ANUALPEC, 2002), este

6 Considerou-se neste trabalho a cotação média do dólar de novembro de 2002 (US$1,00 = R$3,58).

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plus significará um acréscimo de 4% sobre o valor da @ de carcaça – ganhoconsiderável, que cobre e ultrapassa os custos da rastreabilidade.

Algumas estatísticas da base de dados do NLIS, referentes ao período deinício do sistema (1999) até o final de 2001:➔ Número de animais abatidos para a UE: 408.701;➔ Número total de produtores registrados na base de dados on line: 6.729;➔ Número total de frigoríficos acessando a base de dados on line: 21.

3.3.6 Rastreabilidade no Canadá

O Programa Canadense de Identificação Bovina foi estabelecido em 1º dejaneiro de 2001, para ser implantado até julho de 2002. Ele foi criado pela indústria decarne canadense, que destina metade da sua produção ao mercado interno e a outrametade ao externo. O objetivo da indústria foi assegurar qualidade aos seusconsumidores. Assim, uma das ferramentas criadas para esse fim foi o sistema deidentificação de origem da carne bovina e seus derivados (CCIA, 2002).

Primeiramente, o governo realizou um levantamento da população bovina dopaís e reformulou toda a legislação. Juntamente com a indústria, formou a Agência deIdentificação Canadense (CCIA – Canadian Cattle Identification Agency). Além disso,este programa representa um esforço conjunto da Agência Canadense de Identificaçãode Bovinos (CCIA), órgão representante do setor industrial, e da Agência Canadense deInspeção de Alimentos (Canadian Foods Inspection Agency – CFIA), representante doGoverno Canadense.

Segundo KELLAR (2000), a base de dados proveniente deste programa ficaránas mãos da indústria. O governo não terá acesso a essas informações devido ao temordos produtores em relação a um aumento dos impostos. O objetivo deste processo deidentificação é satisfazer somente as necessidades do mercado.

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De forma geral, os produtores e o mercado estão contribuindo para o sucessodo programa. A adesão está sendo estimulada e, de acordo com a CFIA, tal apoio temalcançado de 80-90% dos produtores do Canadá.

Quanto às exportações de carne, a identificação usada pela CCIA tem sidoaceita pela CFIA e reconhecida pelo Serviço de Inspeção de Saúde Animal e Vegetal dosEstados Unidos (Animal and Plant Health Inspection Service – APHIS/USDA) como umsistema de identificação para controle de trânsito de animais entre países.

O próximo passo para a CCIA é continuar com o sistema de identificação eestendê-lo para outros rebanhos, além de bovinos. Há também a intenção de manter aparceria governo-indústria para expandir e promover o programa.

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CAPÍTULO 4 - RASTREABILIDADE NO BRASIL

A rastreabilidade no Brasil surgiu a partir da Instrução Normativa nº 01,promulgada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA no dia 10de janeiro de 2002, que instituiu o SISBOV e iniciou o processo de identificaçãoobrigatória de animais no país.

4.1 O Sistema Brasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina eBubalina – SISBOV

O SISBOV, que estabeleceu as diretrizes básicas das regras e normas para oprocesso da rastreabilidade no Brasil, é definido como sendo “o conjunto de ações,medidas e procedimentos adotados para caracterizar a origem, o estado sanitário, aprodução e a produtividade da pecuária nacional e a segurança dos alimentosprovenientes dessa exploração econômica”.

Entre seus objetivos estão a “identificação, registro e monitoramento,individual, de todos os bovinos e bubalinos nascidos no Brasil ou importados”.

A aplicação desta norma estende-se a todo o território nacional, incluindo aspropriedades de criação de bovinos e bubalinos, as indústrias frigoríficas e ascertificadoras.

O sistema conta com uma base de dados única, a BND (Base Nacional deDados), centralizada no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento e gerenciadapela Secretaria de Defesa Animal (SDA/MAPA). A criação desta central de dados visamanter as informações dos animais, propriedades rurais e indústrias frigoríficasregistradas no SISBOV.

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O gerenciamento da BND e a emissão de números para os animais àscertificadoras estão a cargo do MAPA, que terá acesso às informações para controle dorebanho brasileiro. O sistema também prevê o trabalho das empresas certificadoras, queserão as responsáveis pela certificação das propriedades rurais, dos animais e dosprodutores, e pela relação destes com o Ministério – com o registro bovino e bubalino, osprodutores passarão as informações dos animais às certificadoras e estas ao Ministério,fazendo com que todos os animais certificados possuam registros na BND.

Os animais registrados no SISBOV possuirão um documento de identificação,constando as seguintes informações:

identificação da propriedade de origem;

identificação individual do animal;

mês do nascimento ou data de ingrsso na propriedade;

sexo do animal e aptidão;

sistema de criação e alimentação;

registro das movimentações;

dados sanitários (vacinação, tratamentos e programas sanitários).

No abate, competem aos frigoríficos devolver os documentos de identificaçãoanimal ao Serviço de Inspeção Federal do MAPA e dar baixa do respectivo documentojunto ao Ministério (BND). Se ocorrer morte acidental ou sacrifício dos animais, osdocumentos deverão ser devolvidos à certificadora emitente, para que esta efetue a baixados números pertencentes aos animais.

A instrução normativa estabeleceu os prazos para credenciamento depropriedades e animais:

• criatórios voltados à produção para o comércio internacional com os países membrosda União Européia deverão integrar o SISBOV até junho de 2002;

• criatórios que exploram animais cuja produção esteja voltada à exportação para osdemais mercados consumidores deverão estar registrados até dezembro de 2003;

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• todos os criatórios de bovinos e bubalinos pertencentes aos estados da zona livre deaftosa ou em processo de declaração de integração ao sistema deverão registrar-seaté dezembro de 2005;

• todos os demais criatórios de bovinos e bubalinos brasileiros, até dezembro de 2007.

Para regulamentar o SISBOV, foi publicada a Instrução Normativa nº 21, de26 de Fevereiro de 2002. Ela foi instituída pela Secretaria de Defesa Agropecuária - SDAcom o intuito de “estabelecer as diretrizes, os requisitos, os critérios e os parâmetros parao credenciamento de entidades certificadoras junto ao Sistema Brasileiro de Identificaçãoe Certificação de Origem Bovina e Bubalina - SISBOV”.

A Instrução Normativa nº 21 visa credenciar entidades nacionais,governamentais ou privadas aptas para promover a identificação, registro emonitoramento individual de todos os bovinos e bubalinos, nacionais e importados. EstaInstrução contempla também diversos conceitos relacionados aos requisitos e critériospara credenciamento, ao gerenciamento das operações de rastreabilidade, quais asempresas aptas a serem certificadoras, qual o papel de tais empresas junto ao MAPA,quais os parâmetros de tal instrução normativa, necessidade de auditoria, registros,certificados de origem, entre outros. Nela também consta a criação do CIDC –Coordenação Interdepartamental de Credenciamento, coordenação ligada à SDAresponsável pelo gerenciamento das atividades relacionadas à implantação eimplementação do credenciamento de entidades certificadoras.

Outra Instrução Normativa publicada pela Secretaria de Defesa Agropecuária– SDA, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, foi a de nº 47, de 31 dejulho de 2002, que teve como objetivos “aprovar as instruções complementares pararegulamentação, implementação, promoção e supervisão da execução do controleoperacional de entidades certificadoras credenciadas no âmbito do Sistema Brasileiro deIdentificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina – SISBOV”. Ou seja, talinstrução servirá para controlar o trabalho das certificadoras credenciadas.

Sobre a Base Nacional de Dados (BND), esta última Instrução Normativaestabeleceu os seguintes objetivos:

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• cadastrar propriedades e locais de permanência temporária de bovinos e bubalinos;• cadastrar proprietários de bovinos e bubalinos;• emitir os códigos de identificação individual a serem usados nos animais;• registrar a data e o local (país, estado, município e propriedade) de nascimento de

bovinos e bubalinos, e a data e o local onde os quais foram identificados;• registrar as características raciais e o sexo dos animais;• registrar transferências, desaparecimentos ou mortes dos bovinos e bubalinos

identificados junto ao SISBOV;• disponibilizar senhas de acesso limitado para os diferentes usuários;• disponibilizar dados para que as certificadoras emitam o Documento de Identificação;• manter o histórico de toda movimentação de bovinos e bubalinos, registrando locais

de origem, destino e datas de entrada e saída, bem como informações da GTA (Guiade Trânsito Animal) correspondente;

• registrar o manejo alimentar de bovinos e bubalinos identificados na BND;• registrar a data e local de abate dos bovinos e bubalinos.

O objetivo do MAPA é que este Banco de dados contenha todas asinformações referentes aos bovinos pertencentes ao rebanho brasileiro. Isso viabilizará ocontrole de enfermidades e do trânsito animal. Também possibilitará regularizar a cadeiapecuária combatendo a informalidade no sistema de abate e criando vínculos dosprodutores com os frigoríficos e estes com o Ministério, fazendo com que todos os elosda cadeia reforcem condições de comunicação (PIÑEDA, 2002).

Quanto às certificadoras, a Secretaria de Defesa Agropecuária publicouportarias credenciando empresas privadas no SISBOV. Até o presente momento, ascertificadoras credenciadas foram7:

• AGRICONTROL S.A. - Portaria nº 34 de 24 de julho de 2002;

7 O Ministério credenciou mais cinco empresas e a Secretaria da Agricultura do Paraná comocertificadoras no SISBOV. Porém, apesar de as portarias terem sido recentemente publicadas no DiárioOficial da União, as pesquisas deste trabalho realizaram-se com base nas 7 empresas demonstradasacima.

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• BIORASTRO CERTIFICAÇÃO DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS LTDA. - Portarianº 35 de 24 de julho de 2002;

• TRACER CERTIFICAÇÃO DE ORIGEM ANIMAL - Portaria nº 39 de 31 de julho de2002;

• BRASIL CERTIFICAÇÃO S.A. - Portaria nº 40 de 17 de junho de 2002;• PLANEJAR PROCESSAMENTO DE DADOS LTDA. - Portaria nº 41 de 17 de junho de

2002;• INSTITUTO GÊNESIS - Portaria nº 42 de 17 de junho de 2002;• SERVIÇO BRASILEIRO DE CERTIFICAÇÕES LTDA - Portaria nº 43 de 17 de junho

de 2002;• CERT-RASTRO CERTIFICADORA DO BRASIL;• ÁGIL RASTREAMENTO;• VIPPER – VIRGÍLIO PACULDINO PARTICIPAÇÕES E EMPREENDIMENTOS

RURAIS;• VITÓRIA CERTIFICADORA DE BOVINOS;• SECRETARIA DA AGRICULTURA E ABASTECIMENTO DO ESTADO DO PARANÁ;• BOVIRASTRO CONSULTORIA RASTREABILIDADE E REPRESENTAÇÃO LTDA.

Atualmente, as empresas privadas são maioria entre as certificadorashabilitadas junto ao MAPA. Apenas uma entidade do governo, a Secretaria da Agriculturae Abastecimento do Paraná – SEAB/PR, encaminhou processo e credenciou-se comoentidade certificadora. Este fato tem gerado controvérsias, pois algumas entidades declasse, como as associações de produtores e criadores, tentaram obter tal habilitaçãojunto ao Ministério, entendendo que pode haver um sombreamento de interesses.

4.2 Passos para a Rastreabilidade

O processo de registro dos bovinos e bubalinos depende de uma troca deinformações entre os elos da cadeia pecuária. De forma ilustrada, a figura abaixo mostraas etapas da certificação de bovinos e sua inclusão no sistema SISBOV:

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Figura 1: Etapas da certificaçãoO contato pode ser através de telefone,carta ou internet, sendo que via web oprocesso é muito mais simplificado.

A certificadora, de posse dos dados dosprodutores, entra em contato com oMAPA e solicita a disponibilidade denúmeros no SISBOV de acordo com aquantidade de cabeças do pecuarista.

Neste primeiro momento está sendoaceito a utilização do brinco de manejojá utilizado pelos animais; assim, o nºSISBOV é correlacionado à essanumeração. Os demais animaisrecebem o brinco com o númeroSISBOV. Nesta etapa, os produtoresiniciarão a coleta de dados dos animais(como sexo, raça e idade) em planilhase enviarão à certificadora. Esta,posteriormente, enviará estes dados àBase Nacional de Dados - BND.

Os produtores deverão anotar qualquerocorrência com o animal, como doença,transporte, vacinas, etc. Somente nocaso de morte deve-se avisar acertificadora. Os dados ficarãodisponíveis aos produtores paraatualização constante e também paraauxiliar no gerenciamento dapropriedade.

Nesta última etapa, os animais já sãoconsiderados como certificados.

Solicitação de Números aoSISBOV – MAPA

Identificação dos Animais e remessa dos dados à certificadora

Visita do técnico credenciado para checagem de informações

e elaboração do relatório

Registro dos animaisno SISBOV – dados disponíveis

ao produtor

Expedição do Documentode Identificação dos animais

Produtor entra em contatocom a Certificadora

Cadastro do Produtore da Propriedade

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4.3 Sistemas de Identificação

O custo total do rastreamento dependerá em grande parte do sistema deidentificação adotado. O sistema de brincos atualmente é menos oneroso do que oeletrônico, através de transponder ou chip.

Em um trabalho de pesquisa realizado por FERREIRA & MEIRELLES (2002)comparou-se 4 sistemas de identificação animal: marca a fogo incandescente na anca doanimal, brinco auricular, tatuagem no pavilhão auricular e bolus intra-ruminal comtransponder. A comparação entre eles, em relação ao desempenho da identificação,apontou que o bolus intra-ruminal possui maior eficiência que os demais, pois a leitura dotransponder é realizada através de uma antena e com o animal em movimento, portanto,não sofre interferência de artefatos ou imperícia dos operadores – levou-se apenas 1,0segundo para a realização da leitura. Depois do transponder verificou-se maior facilidadede identificação com o brinco, seguido da marca à fogo e da tatuagem.

Para analisar os custos envolvidos, foi necessário dividí-los em custos fixos evariáveis. O sistema bolus intra-ruminal necessita de instrumento de aplicação e deequipamento de leitura. O custo do conjunto é R$5.000,00, mais a unidade dotransponder, que custa R$7,52 por animal (US$2,11). Portanto, os custos com essesistema são relativamente altos.

Para utilizar a marca a fogo incandescente com códigos alfanuméricos,necessita-se de um jogo de carimbos mais um fogareiro de marca incandescente – estesprodutos apresentaram custos de R$84,16. No entanto, este tipo de marca só é viável empequenos rebanhos, pois com um elevado número de animais, a codificaçãoalfanumérica torna-se difícil pela necessidade de muitos números e letras por animal.Outro problema deste tipo de identificação é que este diminui a qualidade do couro dosanimais, por ocasião do curtimento. Por isso, este tipo de identificador não érecomendável.

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No caso da tatuagem, o aparelho tatuador com o jogo de números para fazer amarcação nas orelhas dos animais apresentou custo de R$224,00, mais a tinta para atatuagem, que custa aproximadamente R$0,05 por animal.

Já com o sistema de brincos numerados, necessita-se apenas do aplicador debrincos, cujo valor é R$66,50, mais a unidade de brinco, que custa por volta de R$1,00.Com isso, concluiu-se que o sistema de identificação por brincos é mais econômico que otransponder, que a marca à fogo e que a tatuagem, visto que o custo da unidade deidentificação por animal é menor e o investimento na tecnologia de aplicação e leitura dosdispositivos também é inferior.

Porém, o indiscutível avanço tecnológico da pecuária nacional leva àexigência de sistemas de identificação modernos e, a propósito disso, acredita-se que aidentificação eletrônica (brinco + chip) crescerá de forma significativa, fato que se verificatambém nos outros países. Entretanto, com as adversidades causadas peladesvalorização do câmbio, o sistema de identificação eletrônica está, atualmente, muitooneroso, tornando-se inviável devido aos preços serem em dólar (LIRANI, 2002).

4.4 Custos do Rastreamento

O que realmente vai determinar o custo unitário da rastreabilidade será onúmero de cabeças a serem registradas. Quanto maior o número de animaiscadastrados, menor será o custo por cabeça ou animal.

Comparou-se os custos entre as certificadoras, e, entre elas, os custosconsiderados foram: inscrição no sistema, taxa de rastreabilidade/certificação, prestaçãode serviços pela certificadora e tecnologia de identificação, brinco (estipulou-se o padrãode apenas 1 brinco por animal) e o valor da visita, o qual apresenta maior taxa devariação entre as certificadoras. A tabela que deu origem a esta, com os dadosdetalhados por certificadora, encontra-se no anexo deste trabalho.

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Para fins de análise e comparação dos custos entre as certificadoras, utilizou-se um sistema de identificação através de brincos, pois este instrumento é considerado atécnica menos custosa até o momento.

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Quadro 1: Custos das Certificadoras

Fonte: Elaborado pela autora.

Para realizar o estudo, foi necessário parametrizar o custo da tecnologia deaplicação e a distância da propriedade, evitando-se distorções na avaliação. Considerou-se nos custos a inscrição, rastreabilidade, emissão do documento de identificação animalvalor do brinco (1 unidade) e visita à propriedade cadastrada. Nas receitas, estimou-se

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um animal de rendimento de 16@ ao preço de R$ 47,01 (média do ano do Indicador àVista ESALQ/BM&F), e nas visitas, um valor de quilometragem de 300 km.

Simularam-se diferentes tamanhos de rebanho para demonstrar o impacto daescala no custo do rastreamento por cabeça – pode-se perceber que quanto maior orebanho, menor o custo por animal. Também se analisou qual a porcentagem que o custodo rastreamento representa na receita total da venda do animal. Neste item, a questão dotamanho do rebanho também é influente.

Analisando-se separadamente as diferentes rubricas inseridas no custo dorastreamento, tem-se a tabela abaixo. Considerou-se um rebanho de 200 animais e oscustos apresentados pela certificadora Planejar.

Tabela 3: Porcentagens dos custosCustos Para 200 animais Participação (%)

Inscrição 75,00 9,38Rastreabilidade 200,00 25,00Brincos 200,00 25,00Visita 325,00 40,63TOTAL 800,00 100,00

Fonte: Elaborada pela autora.

O item responsável pela maior parte do custo – 40,6% - foi a visita do técnico àpropriedade. Nesta certificadora, a visita comporta-se como um custo variável, ou seja,cobra-se um valor (R$0,95) por animal. O sistema de identificação através de brincosrepresentou, aproximadamente, 25% do valor do rastreamento, assim como a taxa derastreabilidade. A inscrição, por ser um valor fixo (independente do número de animais), éa responsável por apenas 9,4% dos custos.

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CAPÍTULO 5 - IMPACTOS NA CADEIA

Para dimensionar o reflexo econômico do rastreamento bovino na cadeia,dividiu-se este capítulo em três partes, segundo as etapas de adequação estabelecidasno SISBOV:

a) na primeira, mediu-se os reflexos para o cumprimento da 1º fase doSISBOV, que estabeleceu o prazo para rastrear os animais destinados àsexportações para a União Européia até setembro de 2002;

b) na segunda, mediu-se os efeitos advindos do cumprimento da 2º fase doSISBOV, ou seja, do rastreamento de todos os animais destinados àsexportações até dezembro de 2003;

c) na terceira, analisou-se os reflexos da 3º e última fase do SISBOV, que érastrear todo o rebanho brasileiro até dezembro de 2007.

Os problemas e obstáculos que estão sendo enfrentados pelos elos da cadeiaprodutiva da carne bovina também são analisados.

5.1 Necessidade de animais rastreados para o cumprimento da 1º fase do SISBOV

A partir das determinações dos prazos para cumprimento do SISBOV,procedeu a análise para determinação do número de animais envolvidos em cada etapade implantação, e os custos que estes representam para a cadeia de produção.

Partindo das exportações de carne bovina realizadas no ano de 2001, comdestino à União Européia, chegou-se ao número de animais necessários para cumprir omesmo volume de exportação. A partir do número de animais necessários para abate,tem-se a quantidade de animais que devem estar obrigatoriamente inscritos no SISBOV,para cumprir as exigências impostas pela União Européia.

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Para estimar a quantidade de animais necessários em cada fase para atenderàs exportações, converteu-se a quantidade de carne exportada de quilos para a unidadede equivalente-carcaça, e dividiu-se este valor pelo peso médio da carcaça dos animaisbrasileiros (185,5 kg8), resultando em uma estimativa do número de animais necessáriospara alcançar tal quantidade de exportação.

Tabela 4: Exportações para a União Européia, em Quantidade (Kg)Descrição 2001 Total Equivalente-Carcaça

In Natura 115.315.449 149.907.086,0 - Desossada 115.303.458 149.894.495,4 - Com Osso 11.991 12.590,6Industrializada 66.554.699 166.386.747,5TOTAL 181.870.148 316.293.833,5

Fonte: SECEX/MDIC

Para realizar os cálculos converteu-se a quantidade de carne exportada emquilos de equivalente-carcaça. Para isso, utilizou-se dos seguintes coeficientes:

– Carne In Natura Desossada em quilos x 1,30 = quilos de Equivalente-Carcaça;– Carne In Natura com osso em quilos x 1,05 = quilos de Equivalente-Carcaça;– Carne Industrializada em quilos x 2,50 = quilos de Equivalente-Carcaça.

Tendo a quantidade de quilos de equivalente-carcaça, e dividindo-o pelo pesomédio da carcaça dos animais, obteve-se a demanda mínima de animais para atender omercado europeu no ano de 2001. O valor encontrado foi de 1.705.088 animais por ano,ou, 142.091 animais por mês. Na obtenção destes dados, levou-se em conta que arelação de cortes traseiro/dianteiro exportada (60% traseiro e 40% dianteiro, segundoinformações da ABIEC) é praticamente a mesma existente naturalmente nos animais(56% traseiro e 44% dianteiro). Tendo isso em vista, optou-se pela não correção decálculos para determinar o número de animais. Porém, leva-se em conta o fato de queeste número pode ser maior.

8 Produção de carne (equivalente carcaça)/nº de bovinos abatidos. O valor condiz a uma média dos pesosde carcaça dos anos de 1998 a 2001 (ANUALPEC, 2002).

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De posse do número de animais necessários para se exportar para a UniãoEuropéia, calculou-se o custo do sistema de rastreabilidade para atender as exigênciasdesta 1º fase do SISBOV, tomando-se por base o valor da rastreabilidade por cabeça daempresa Planejar9, para um rebanho de 200 animais.

Tabela 5: Custos da Rastreabilidade para o Brasil – 1º faseNº Animais para

ExportaçãoCusto da Rastreabilidade

por animalCusto da

Rastreabilidade1.705.088 R$ 4,00 R$ 6.820.352,00

Fonte: Elaborada pela autora.

Na tabela acima, o custo envolvido no sistema de rastreabilidade é da ordemde praticamente 7 milhões de Reais. Trata-se de um valor não tão expressivo para aeconomia do setor pecuário, ao comparar-se com o valor gerado pelas exportações àUnião Européia - cerca de 1,6 bilhões de reais, e ao PIB do setor pecuário – 45 bilhõesde Reais (CEPEA, 2002), porém é significativo quando se considerar o impacto de talvalor para os pecuaristas. Vale lembrar que tal valor não existia há um ano atrás, ou seja,é um novo custo que foi imposto à cadeia e que está, até o momento, recaindo sobre osprodutores.

Por enquanto, quem está pagando estes custos é o produtor, pois não estáhavendo apoio governamental na forma de subsídios, os preços internacionais da carnebovina vêm continuadamente apresentando decréscimos e, na maior parte dosfrigoríficos, não está havendo bonificação no preço da arroba devido ao fato da carne serrastreada. Ao contrário, em alguns locais houve uma penalização para o animal que nãoapresentasse documento de rastreabilidade. Isto representa uma diminuição do poder decompra dos pecuaristas, pois não haverá recuperação do capital investido.

9 Escolheu-se a certificadora Planejar por ser uma das maiores empresas deste setor, com ampla atuaçãono Brasil, além de ser a empresa com a qual a FAESP mantém convênio.

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5.2 Custos para rastrear todos os animais destinados à exportação – 2º fase

Estimaram-se aqui o número de animais necessários para suprir a totalidadedas exportações brasileiras e o custo para identificar e rastrear todos esses animais. Esta2º fase do SISBOV deverá ser obrigatoriamente obedecida e implantada até dezembro de2003, de acordo com a Instrução Normativa nº 01.

Na tabela abaixo vê-se a quantidade total de carne in natura e industrializadaexportada pelo Brasil no ano de 2001. Como já feito anteriormente, desta quantidadeobteve-se o total em equivalente-carcaça, multiplicando a quantia em quilos peloscoeficientes de conversão.

Tabela 6: Exportações Totais Brasileiras, em Quantidade (Kg)Descrição 2001 Total Equivalente-CarcaçaIn Natura 368.287.663 478.773.962Industrializada 124.285.751 310.714.378TOTAL 492.573.414 789.488.339

Fonte: SECEX/MDIC

A estimativa do número de animais necessários para atender às exportações

brasileiras foi de 4.256.002 animais por ano.

A partir do número de animais, projetou-se o custo para adequação de todosos animais ao SISBOV. O valor por cabeça é o referente a um rebanho de 200 animais,com base na empresa Planejar.

Tabela 7: Custos da rastreabilidade para o Brasil – 2º fase:Nº Animais para

ExportaçãoCusto da Rastreabilidade

por animalCusto da

Rastreabilidade4.256.002 R$ 4,00 R$ 17.024.008,00

Fonte: Elaborada pela autora.

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Como pode-se ver, o valor que era de aproximadamente 7 milhões de Reaispara cumprir a 1º fase do SISBOV passou para 17 milhões de Reais nesta 2º fase. Estevalor deverá ser desembolsado até dezembro de 2003, prazo para que esta etapa sejatransposta.

5.3 Adequação de todo o rebanho brasileiro ao SISBOV – 3º fase

Considerando que o prazo final para que todos os animais do rebanhobrasileiro estejam inscritos no SISBOV é dezembro de 2007, analisou-se o impacto dainserção de todo o efetivo bovino e bubalino no sistema de rastreabilidade.

A taxa média de crescimento do rebanho brasileiro dos últimos 5 anos foi de1,83% ao ano. Considerando esta taxa como constante até 2007, tem-se que, neste ano,o rebanho brasileiro será de aproximadamente 183 milhões de cabeças. Os custos com osistema de rastreabilidade para atender à 3º fase do SISBOV, considerando o valor daempresa Planejar pela rastreabilidade de 200 animais, alcançariam, neste caso, 732milhões de Reais (aos preços de 2002, conforme descrito na tabela abaixo:

Tabela 8: Custo Total da Rastreabilidade para o Brasil – 3º faseNº Animais para

ExportaçãoCusto da Rastreabilidade

por animalCusto da

Rastreabilidade183.000.000 R$ 4,00 R$ 732.000.000,00

Fonte: Elaborada pela autora.

Se o custo continuar recaindo sobre os produtores, sem um incentivo oubonificação nos preços, todo este montante de 732 milhões de Reais irá afetar o setorprodutivo, ou seja, os pecuaristas, diminuindo sua renda através da transferência de partedesta para outros setores (prestação de serviços, indústrias, etc).

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5.4 Impactos nas exportações

O processo de implementação da rastreabilidade bovina no Brasil é, nesteprimeiro momento, fruto de exigências da União Européia – um dos principais mercadosconsumidores da carne bovina brasileira, responsável por aproximadamente 35% dasquantidades importadas e por 45% em valor do nosso produto. A julgar pela importânciado mercado europeu para as exportações brasileiras, na tabela abaixo estão descritas asexportações de carne totais brasileira e somente para a União Européia.

Tabela 9: Exportações brasileiras de carne bovina, industrializada e in natura, em 2001

Descrição ExportaçõesTotais

Exportações paraUnião Européia

Participação (%)da UE

Valor (Mil US$) 1.022.560 463.468 45,32%Quantidade (Ton) 525.258 183.420 34,92%

Fonte: SECEX/MDIC

Nota-se que a UE é um expressivo mercado consumidor da carne nacional,fato que deixa claro a importância de sua manutenção deste para a cadeia pecuária epara a balança comercial brasileira.

Em relação à produção nacional de carne bovina, as exportações totaiscorrespondem a cerca de 11% do total produzido e as exportações para a UniãoEuropéia representaram 4% da produção brasileira (ANUALPEC, 2002), vendidos apreços relativamente atrativos, considerando o baixo custo de produção brasileiro. Se oBrasil não implantasse um sistema de rastreabilidade, e a UE deixasse de importar carnebovina brasileira, a balança comercial brasileira perderia receitas da ordem de 463milhões de dólares. Desse modo, esse excedente de produção teria dois caminhos: ouseria exportado para outros países, recebendo possivelmente preços inferiores ao da EU(diminuindo o saldo da balança comercial brasileira), ou seria realocada no mercadointerno, gerando uma sobre-oferta no mercado, fato que depreciaria os preços noatacado, varejo e ao produtor.

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A manutenção das exportações para a União Européia significa geração dedivisas para o Brasil e maior estabilidade nos preços ao produtor. Considerando que opreço interno da arroba de boi gordo tem a exportação como um elemento na formaçãode preços, o volume de exportações e a sua competitividade é sensível às oscilaçõescambiais. Portanto, quando as exportações se mostram mais atrativas, o preço interno,atendendo aos princípios de oferta e demanda, aumenta, apresentando uma vantagemfinanceira ao pecuarista.

5.5 Problemas e Obstáculos da Implantação do SISBOV

Alguns dos problemas e obstáculos enfrentados pelos pecuaristas brasileirosneste processo de implantação do SISBOV referem-se à geografia brasileira, àdistribuição espacial do rebanho, aos aspectos econômicos e sócio-culturais do Brasil e àfalta de um sistema eficiente de informações, fato que impede a atualização de algunsprodutores em relação aos acontecimentos brasileiros e mundiais.

A seguir, discute-se algumas dessas limitações, que devem ser levadas emconsideração para implementação de um programa abrangente como este:

5.5.1 Custos: os custos para implementação da rastreabilidade representamum entrave para a introdução do sistema. Isso porque, como já relatado nostópicos anteriores, esses custos de rastreabilidade não existiam há um anopara os produtores, e agora, os pecuaristas devem mobilizar parte de suasmargens para fazer frente a este novo custo. Como atualmente as margens decomercialização estão cada vez mais estreitas, o aumento dos custos deprodução apenas trará desvantagens ao produtor, já que ele ainda não estátendo benefícios diretos com o sistema de rastreabilidade;

5.5.2 Espacialidade: dadas as dimensões do Brasil e do fato de que o rebanhoestá distribuído por todos os estados brasileiros, a implantação de um sistema

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Page 44: Análise dos Impactos Econômicos e Sociais da …

de rastreabilidade torna-se difícil principalmente quando comparada compaíses europeus, que possuem rebanhos e tamanhos de propriedademenores que os existentes no Brasil.

5.5.3 Educação: refere-se ao baixo nível de escolaridade e educação no meiorural brasileiro. O nível educacional e de informação dificulta a implantação denovos e amplos programas, como o do SISBOV, necessitando um períodolongo para a difusão e o entendimento de todos sobre as novasregulamentações. Fazer com que os pecuaristas e funcionários realmentecompreendam a importância e necessidade da rastreabilidade torna-se umatarefa difícil. A isso, somam-se as características conservadoras dospecuaristas, que os tornam resistentes às mudanças ou ao emprego de novastecnologias no seu sistema de produção. Para ilustrar tal dificuldade, pode-secitar o fato de que alguns presidentes de Sindicatos Rurais, ou seja, líderesregionais, desconheciam o SISBOV até meados de novembro, meses depoisda instituição e do início do funcionamento do SISBOV, quando foi realizadauma reunião sobre o tema na FAESP (Federação da Agricultura do Estado deSão Paulo);

5.5.4 Sistema de Informações: falhas na cadeia de informações podem serrelacionadas ao item anterior. Porém, é relativamente mais difícil fazer comque uma informação chegue a um produtor no meio rural do que no meiourbano, pela falta de meios de comunicação (computadores ligado à internet,jornais, telefone, etc) e também de canais publicitários e educativos querealmente levem a informação diretamente ao público-alvo;

5.5.5 Adaptação dos Agentes: além dos produtores, os frigoríficos, ascertificadoras e o próprio Ministério estão tendo que se adaptar ao novosistema. Os frigoríficos, por exemplo, têm que ajustar seus sistemas decontrole, etiquetamento e linhas de produção, para permitir o relacionamentodo animal ao seu produto, a carne. Haverão modificações físicas e ajustesfinanceiros significativos. Porém, o repasse desse aumento de custos aosconsumidores não seria interessante e poderia levar a uma redução no

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consumo. Então, como no caso dos produtores, os frigoríficos também terãoinvestimentos e custos sem retorno imediato com o sistema de rastreabilidadeda carne bovina;

5.5.6 Diferentes opiniões sobre o assunto: perguntados sobre o sistema derastreabilidade implantado no país e quais as perspectivas em torno dele,representantes de entidades de destaque nacional discordaram em váriosaspectos, demonstrando que ainda não há um consenso sobre o SISBOVentre todos os agentes da cadeia, dividindo opiniões e implicando em maioresdificuldades na sua implantação.

Resumindo, os principais obstáculos imediatos para a implementação doSISBOV são:

a) o estabelecimento de regras não bem definidas para o programa pelo MAPA, o quetem gerado interpretações diferentes em alguns aspectos das Instruções Normativas;

b) a tentativa de implantação, pelo governo, de um sistema central, sem a possibilidadede participação da iniciativa privada no processo;

c) o desenvolvimento de programas de computador pelas certificadoras e pelo próprioMinistério (BND) enquanto o SISBOV já está em pleno funcionamento;

d) mudanças constantes pelo MAPA nas regras e exigências do SISBOV através deportarias.

É difícil estimar a influência destas questões na velocidade de implantação dosistema de rastreabilidade no Brasil. Porém, vale a pena lembrar que elas representamentraves relevantes e que deveriam ser considerados pelo MAPA na ocasião da criaçãodo SISBOV, nos ajustes e no estabelecimento dos prazos de implantação.

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CAPÍTULO 6 - CONCLUSÕES

Com base na pesquisa realizada, conclui-se que o SISBOV – SistemaBrasileiro de Identificação e Certificação de Origem Bovina e Bubalina foi uma formaencontrada, pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) pararegistrar e identificar o rebanho bovino e bubalino brasileiro, com vistas a garantirrastreabilidade e manter as exportações de carne bovina à União Européia e, ao mesmotempo, reforçar o controle sanitário animal e a segurança do alimento.

O fato de se ter como exemplo o sistema de identificação dos países europeusevidencia que tal sistema não é transferível ao Brasil, pois ele foi desenvolvido pararealidades diferentes. Naquele continente, as propriedades são em menor quantidade emenor área, quando comparadas às brasileiras e o rebanho é muito inferior ao rebanhobrasileiro (80 milhões de cabeças européias versus 160 milhões brasileiras). Isso faz comque a identificação nesse local seja facilitada devido, devido à menor quantidade decabeças e aos pesados subsídios governamentais.

Tendo presente modelos de outros países, onde os sistemas de identificaçãorepassam ao produtor informações de rendimento de abate, peso de carcaça, etc (videAustrália), julga-se que no Brasil tais dados poderiam também ser disponibilizados aospecuaristas. Assim, o SISBOV ajudaria na gestão e monitoramento do rebanho e dapropriedade.

Quanto aos custos da rastreabilidade, e tomando-se como base um rebanhomédio de 200 cabeças, o custo da rastreabilidade por animal representou 0,53% do valorde receita dos animais. Em um rebanho de 50 animais, este valor aumentou paraaproximadamente 1,00% e, para 5.000 animais, o custo da rastreabilidade representou0,40% da receita individual do animal.

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Quanto aos custos, conclui-se que, se eles continuarem recaindo sobre osprodutores, haverá uma transferência de renda do pecuarista para outros setores de,aproximadamente, 7 milhões de Reais na primeira fase (rastreabilidade de animais comdestino às exportações para a União Européia); o valor transferido será de 16 milhões nasegunda fase (rastreabilidade de todos os animais destinados à exportação), e 732milhões de Reais serão desembolsados na terceira fase do SISBOV (rastreabilidade eidentificação de todo o rebanho brasileiro). Ou seja, é um novo custo que está sendoimposto à cadeia pecuária, diminuindo a renda do produtor e onerando ainda mais osistema de produção.

Os custos da rastreabilidade por animal, considerando um mesmo tamanho derebanho, variam entre as certificadoras estudadas em aproximadamente 100%, emgrande parte pela forma de cobrança das visitas técnicas.

Ainda sobre os custos, constatou-se que o custo da visita técnica dacertificadora à propriedade cadastrada é o mais significante item no custo total darastreabilidade por cabeça. Em rebanhos menores, como 50 animais, por exemplo, ovalor da visita é responsável por até 78% do custo, enquanto que para rebanhos de 5.000animais, esta porcentagem cai para até 3%. Isso mostra uma das dificuldades existentespara os pequenos produtores, pois além deles possuírem menor quantidade de animais,eles pagarão mais por cabeça. Significa também que, para os pequenos e médiosprodutores, seria muito interessante haver uma cooperação entre pecuaristas vizinhospara agrupar um número maior de animais e assim, diminuir os custos da visita dotécnico.

Em vista desse custo e das dificuldades explícitas para os pequenos e médiospecuaristas, o governo deveria se manifestar através das Secretarias de Agricultura ou daassistência técnica para conceder um suporte à estes produtores e tentar minimizaresses impactos nas suas rendas. Uma forma de fazer isso poderia ser o estabelecimentode um subsídio junto às certificadoras, dando assim uma ajuda de custo ao produtor, ouentão disponibilizar técnicos da assistência técnica ou das Secretarias de Agricultura pararealizar as visitas sem onerar o produtor.

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O SISBOV é, sem dúvida alguma, um programa de modernização da pecuárianacional e um meio de se controlar o rebanho como um todo, seja ajudando noscontroles de origem, trânsito, e sanidade animal. Porém, para um país com dimensõestão amplas quanto o Brasil, instituir uma identificação obrigatória de bovinos em um prazoexíguo, sem considerar os problemas e obstáculos dos produtores e indústrias, podetrazer muitas dificuldades na implantação e cumprimento dos prazos estabelecidos noSISBOV.

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ANEXOS

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Anexo 1: Custos para implantação da rastreabilidade, segundo as certificadoras10:

1 0 Custos sobre receitas: considerou-se um animal de rendimento de 16@ e o preço médio do ano doIndicador à vista ESALQ/BM&F de R$47,01. Nas visitas: considerou-se um valor de quilometragem de300 Km (ida e volta).

EMPRESA: PLANEJAR – SISTEMA S.I.R.B .

CUSTOS UNIDADE QUANTID. CUSTO/ UNIDADE Para 50 animais

Para 100 animais

Para 200 animais

Para 500 animais

Para 1000 animais

Para 2000 animais

Para 5000 animais

ANUIDADE Por ano 1 75,00 - - - - - - -INSCRIÇÃO 1 1 75,00 75,00 75,00 75,00 75,00 75,00 75,00 75,00RASTREABILIDADE Por animal 1 1,00 50,00 100,00 200,00 500,00 1.000,00 2.000,00 5.000,00BRINCOS 1 1,00 50,00 100,00 200,00 500,00 1.000,00 2.000,00 5.000,00

VISITA Diária Variável0,95 por animal

certificado+R$0,45/km rodado* 182,50 230,00 325,00 610,00 1085,00 2035,00 4885,00

TOTAL 357,50 505,00 800,00 1.685,00 3.160,00 6.110,00 14.960,00TOTAL POR ANIMAL 7,15 5,05 4,00 3,37 3,16 3,06 2,99% CUSTOS/RECEITA 0,95% 0,67% 0,53% 0,45% 0,42% 0,41% 0,40%

EMPRESA:BRASIL CERTIFICAÇÕES

CUSTOS UNIDADE QUANTID. CUSTO/ UNIDADE Para 50 animais

Para 100 animais

Para 200 animais

Para 500 animais

Para 1000 animais

Para 2000 animais

Para 5000 animais

INSCRIÇÃO - - - - - - - - - -ANUIDADERASTREABILIDADE Por animal 1 1,50 75,00 150,00 300,00 750,00 1.500,00 3.000,00 7.500,00BRINCOS 1 1,00 50,00 100,00 200,00 500,00 1000,00 2000,00 5000,00

VISITA Diária Variável 200,00(sal.mín.) + R$0,50/Km rodados* 350,00 350,00 350,00 350,00 350,00 350,00 350,00

TOTAL 475,00 600,00 850,00 1.600,00 2.850,00 5.350,00 12.850,00TOTAL POR ANIMAL 9,50 6,00 4,25 3,20 2,85 2,68 2,57% CUSTOS/RECEITA 1,26% 0,80% 0,57% 0,43% 0,38% 0,36% 0,34%

EMPRESA:INSTITUTO GÊNESIS – SISTEMA RASTROPEC

CUSTOS UNIDADE QUANTID. CUSTO/ UNIDADE Para 50 animais

Para 100 animais

Para 200 animais

Para 500 animais

Para 1000 animais

Para 2000 animais

Para 5000 animais

INSCRIÇÃO - - - - - - - - - -ANUIDADE - - -RASTREABILIDADE Por animal 1 4,00 (1) 200,00 400,00 800,00 2.000,00 4.000,00 8.000,00 20.000,00BRINCOS 1 1,00 50,00 100,00 200,00 500,00 1000,00 2000,00 5000,00VISITATOTAL 250,00 500,00 1.000,00 2.500,00 5.000,00 10.000,00 25.000,00TOTAL POR ANIMAL 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00% CUSTOS/RECEITA 0,66% 0,66% 0,66% 0,66% 0,66% 0,66% 0,66%(1) Inclui-se aqui também o valor da identificação e certificação (R$1,00/animal cada processo)

Já incluída no valor da rastreabilidade

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Page 56: Análise dos Impactos Econômicos e Sociais da …

EMPRESA:TRACER

CUSTOS UNIDADE QUANTID. CUSTO/ UNIDADE Para 50 animais

Para 100 animais

Para 200 animais

Para 500 animais

Para 1000 animais

Para 2000 animais

Para 5000 animais

INSCRIÇÃO Por animal 1 - - - - - - - -ANUIDADE - - -RASTREABILIDADE Por animal 1 1,00 50,00 100,00 200,00 500,00 1.000,00 2.000,00 5.000,00BRINCOS 1 1,00 50,00 100,00 200,00 500,00 1000,00 2000,00 5000,00

VISITA Diária Variável 200,00(sal.mín.) + R$0,50/Km rodados* 350,00 350,00 350,00 350,00 350,00 350,00 350,00

TOTAL 450,00 550,00 750,00 1.350,00 2.350,00 4.350,00 10.350,00TOTAL POR ANIMAL 9,00 5,50 3,75 2,70 2,35 2,18 2,07% CUSTOS/RECEITA 1,20% 0,73% 0,50% 0,36% 0,31% 0,29% 0,28%

EMPRESA:OIA BRASIL

CUSTOS UNIDADE QUANTID. CUSTO/ UNIDADE Para 50 animais

Para 100 animais

Para 200 animais

Para 500 animais

Para 1000 animais

Para 2000 animais

Para 5000 animais

INSCRIÇÃO - - - - - - - - - -ANUIDADE - - -

RASTREABILIDADE Por animal 11,20 + 0,45 (D.I.A.)

(2) 82,50 165,00 330,00 825,00 1.650,00 3.300,00 8.250,00BRINCOS 1 1 1,00 50,00 100,00 200,00 500,00 1.000,00 2.000,00 5.000,00

VISITA Diária Variável 250,00 + R$0,35/Km rodado* 355,00 355,00 355,00 355,00 355,00 355,00 355,00

TOTAL 487,50 620,00 885,00 1.680,00 3.005,00 5.655,00 13.605,00TOTAL POR ANIMAL 9,75 6,20 4,43 3,36 3,01 2,83 2,72% CUSTOS/RECEITA 1,30% 0,82% 0,59% 0,45% 0,40% 0,38% 0,36%(2) D.I.A. = Documento de Identificação Animal

EMPRESA:SB CERTIFICADORA

CUSTOS UNIDADE QUANTID. CUSTO/ UNIDADE Para 50 animais

Para 100 animais

Para 200 animais

Para 500 animais

Para 1000 animais

Para 2000 animais

Para 5000 animais

INSCRIÇÃO - - - - - - - - - -ANUIDADE - - -

RASTREABILIDADE Por animal 11,00 + 0,48

(Doc.Identificação) 74,00 148,00 296,00 740,00 1.480,00 2.960,00 7.400,00BRINCOS 1 1 1,00 50,00 100,00 200,00 500,00 1.000,00 2.000,00 5.000,00

VISITA Diária Variável 200,00(sal.mín.) + R$0,45/Km rodados* 335,00 335,00 335,00 335,00 335,00 335,00 335,00

TOTAL 459,00 583,00 831,00 1.575,00 2.815,00 5.295,00 12.735,00TOTAL POR ANIMAL 9,18 5,83 4,16 3,15 2,82 2,65 2,55% CUSTOS/RECEITA 1,22% 0,78% 0,55% 0,42% 0,37% 0,35% 0,34%

EMPRESA:BIORASTRO CERTIFICAÇÃO DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS

CUSTOS UNIDADE QUANTID. CUSTO/ UNIDADE Para 50 animais

Para 100 animais

Para 200 animais

Para 500 animais

Para 1000 animais

Para 2000 animais

Para 5000 animais

INSCRIÇÃO - - - - - - - - - -ANUIDADE - - -

RASTREABILIDADE Por animal 11,00 + 0,40 (Emissão

Certificado) 70,00 140,00 280,00 700,00 1.400,00 2.800,00 7.000,00BRINCOS 1 1 1,00 50,00 100,00 200,00 500,00 1.000,00 2.000,00 5.000,00

VISITA Diária Variável 200,00(sal.mín.) + R$0,45/Km rodados* 335,00 335,00 335,00 335,00 335,00 335,00 335,00

TOTAL 455,00 575,00 815,00 1.535,00 2.735,00 5.135,00 12.335,00TOTAL POR ANIMAL 9,10 5,75 4,08 3,07 2,74 2,57 2,47% CUSTOS/RECEITA 1,21% 0,76% 0,54% 0,41% 0,36% 0,34% 0,33%

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