impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de...

34
nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008 Impactos dos encargos sociais na economia brasileira Mayra Batista Bitencourt Professora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul Erly Cardoso Teixeira Professor da Universidade Federal de Viçosa Resumo O objetivo deste trabalho é analisar os impac- tos da redução dos encargos sociais sobre os indicadores macroeconômicos. Desenvol- veu-se um modelo multissetorial aplicado de equilíbrio geral. São simulados seis cenários que incluem reduções nos encargos sociais e trabalhistas, sendo utilizadas duas alíquotas (25,1 e 45,0%) como representativas do custo do trabalho no Brasil. Os resultados indicam que a redução dos encargos sociais, desde que considerado o custo do trabalho de 45%, é su- ficiente para gerar outros postos de trabalho. Abstract The objective of this study is to analyze the impacts of a reduction in researched labor costs over some macroeconomic indicators. To do this, a multi-sector applied general equilibrium model was used. Six scenarios were built, including a reduction in social expenditures and increases in labor supply. It is noted that two aliquots had been used (25.10% and 45%) as representative of labor costs in Brazil. In general, the results indicate that the reduction of labor costs, considering the labor cost as 45%, is sufficient to generate new jobs. Palavras-chave mercado de trabalho, encargos trabalhistas, equilíbrio geral. Classificação JEL J38. Key words labor market, labor costs, general equilibrium. JEL Classification J38.

Upload: others

Post on 26-Aug-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Impactos dos encargos sociais na economia brasileira

Mayra Batista BitencourtProfessora da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul

Erly Cardoso TeixeiraProfessor da Universidade Federal de Viçosa

Resumo

O objetivo deste trabalho é analisar os impac-tos da redução dos encargos sociais sobreos indicadores macroeconômicos. Desenvol-veu-se um modelo multissetorial aplicado deequilíbrio geral. São simulados seis cenáriosque incluem reduções nos encargos sociais etrabalhistas, sendo utilizadas duas alíquotas(25,1 e 45,0%) como representativas do custodo trabalho no Brasil. Os resultados indicamque a redução dos encargos sociais, desde queconsiderado o custo do trabalho de 45%, é su-ficiente para gerar outros postos de trabalho.

Abstract

The objective of this study is to analyze the

impacts of a reduction in researched labor costs

over some macroeconomic indicators. To do this,

a multi-sector applied general equilibrium model

was used. Six scenarios were built, including a

reduction in social expenditures and increases in

labor supply. It is noted that two aliquots had

been used (25.10% and 45%) as representative

of labor costs in Brazil. In general, the results

indicate that the reduction of labor costs,

considering the labor cost as 45%, is sufficient

to generate new jobs.

Palavras-chave

mercado de trabalho, encargostrabalhistas, equilíbrio geral.

Classificação JEL J38.

Key words

labor market, labor costs,

general equilibrium.

JEL Classification J38.

Page 2: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

1_ Introdução

No Brasil, o mercado de trabalho enfren-ta o desafio de tornar-se mais competitivonum ambiente econômico globalizado ecom formação de blocos econômicos. Asmaiores dificuldades em se obter maioreficiência no fator trabalho estão relacio-nadas com os altos encargos sociais ecom o aumento da população economi-camente ativa, sem a contrapartida de ge-ração de outros postos de trabalho, devi-do ao incremento tecnológico, intensivoem capital. Diante desse cenário poucofavorável ao mercado de trabalho, a ques-tão da redução dos encargos sociais éconsiderada como uma das soluções paraatenuar o impacto da produtividade e doaumento populacional no nível de em-prego. Dessa forma, este trabalho buscacontribuir, por meio de simulações comdiversos cenários referentes a reduçõesdos encargos sociais e seus impactos so-bre a economia brasileira.

A hipótese estabelecida neste artigoé que a redução dos encargos sociais pode-ria contribuir para o aumento da competitivi-dade na indústria nacional. Os encargos so-ciais afetam o custo do trabalho, cujo nívele variação, em razão da taxa de câmbio e docrescimento da produtividade, podem serdecisivos na determinação do grau de com-petitividade da economia e, sobretudo, con-tribuiria para a redução do “Custo Brasil”.

De acordo com CNI (1998), o Cus-to Brasil está relacionado com distorçõesdo sistema tributário; encargos sociais e le-gislação trabalhista inadequada; obsolescên-cia da infra-estrutura de transportes e dastecnologias de telecomunicações; elevadoscustos portuários; estrangulamento do sis-tema energético; elevado custo financeiro;e elevados custos de transação.

Quando se discutem alternativas pa-ra estimular a geração de empregos e, as-sim, promover o crescimento e desenvol-vimento da economia brasileira, freqüente-mente ressaltam medidas para desonerar afolha de pagamentos dos encargos sociaisque incidem sobre ela, como forma dereduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho. Sendo assim, o objetivodeste trabalho é analisar os impactos daredução dos encargos sociais (em diferen-tes alíquotas) sobre os indicadores macroe-conômicos.

A determinação do peso dos encar-gos sociais no Brasil possui diferentes abor-dagens. A primeira, defendida por estudode José Pastore, citado por CNI (1998),conclui que os encargos trabalhistas, noBrasil, constituem 102,6% da folha de pa-gamento das empresas, contra 60% na Ale-manha, 58,8% na Inglaterra, 51% na Ho-landa e 9% nos Estados Unidos.

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Impactos dos encargos sociais na economia brasileira54

Page 3: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

Já na segunda interpretação, adota-da pelo DIEESE, conclui-se que o pesodos encargos sociais, no Brasil, é de 25,1%sobre o salário. Para o Departamento Inter-sindical de Estatística e Estudos Sócio-Econômicos – DIEESE (1997), tamanhadiferença reside no fato de que José Pasto-re não exclui da base de cálculo a parte dosalário relativa ao descanso semanal remu-nerado, aos dias de férias e feriados, ao 13ºsalário, aos dias de afastamento por moti-vos de doença pagos pelas empresas, aoaviso prévio e à despesa por rescisão con-tratual. Todos esses itens, que são de natu-reza salarial, são considerados por Pastorecomo encargos sociais. Entretanto, em opo-sição, o DIEESE argumentou que a basede comparação dos encargos não deve sera remuneração total do trabalhador, nemmesmo seu salário contratual, mas apenasparte dele.

Segundo o DIEESE (1997), paraentender como são calculados os encargossociais na folha de pagamento, deve-se,primeiramente, diferenciar salário de en-cargos sociais. Salário é a remuneração to-tal recebida, integral e diretamente, pelotrabalhador, como contraprestação pelo seuserviço ao empregador. Essa remuneraçãosubdivide-se em três partes, quais sejam,salário contratual recebido mensalmente,inclusive as férias; salário diferido (ou adi-

ado), recebido uma vez a cada ano (13º sa-lário e 1/3 de férias); e salário recebidoeventualmente (FGTS e outras verbas res-cisórias). Já os encargos sociais incidentessobre a folha restringem-se às contribui-ções sociais pagas pelas empresas comoparte do custo total do trabalho, mas quenão revertem em beneficio direto e integralao trabalhador. São recolhidos pelo gover-no, sendo alguns deles repassados a entida-des patronais de assistência e formaçãoprofissional.

Uma empresa que admite um tra-balhador por um salário contratual hipo-tético de R$ 100,00 gastará um total deR$ 153,93. Nessa conta está incluída aremuneração média mensal total recebi-da, integral e diretamente, pelo trabalhador(R$ 123,04), bem como os encargos sociaissobre a folha de pagamentos média mensal(R$ 30,89), ou seja, o custo total do traba-lho, incluídos os encargos sociais, superaem 53,93% o valor do salário contratual re-gistrado na carteira profissional, percentualmuito aquém dos 102% divulgados porparte expressiva do setor empresarial. Des-sa forma, pode-se dizer que os encargossociais representam 30,89% do salário con-tratual, ou 27,8% da folha média mensal daempresa, ou 25,1% da remuneração totalrecebida pelo trabalhador, ou ainda 20,07%do custo total do trabalho para a empresa(DIEESE, 1997).

Mayra Batista Bitencourt_Erly Cardoso Teixeira 55

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Page 4: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

Pastore (1996) explicou os argumen-tos do DIEESE, ao afirmar que a principaldiferença dos percentuais, no que se refereao quanto pesam os encargos sociais, estácentrada no número de dias efetivamentetrabalhados. Considerou, na sua base decálculo, 365 dias do ano. Para Pastore, noscálculos de encargos sociais, o que se levaem conta é o “tempo realmente utilizadono processo de produção”. Dos 365 dias,há 90 dias “improdutivos”; 52 repousos re-munerados; 26 dias de férias (30 dias menosquatro domingos); e 12 feriados oficiais; res-tam, portanto, 275 dias para trabalhar. Co-mo o salário é uma contraprestação pelotrabalho realizado, o salário anual é a remu-neração dos 275 dias trabalhados. As de-mais despesas que decorrem de lei são en-cargos sociais. O 13.º salário, por exemplo,surge da divisão de 30 dias por 275, o quedá 10,91%; as férias derivam da divisão de26 dias por 275, o que dá 9,45%; o abonode férias resulta do quociente entre 10 diasremunerados e 275 dias trabalhados, 3,64%;e assim por diante, até chegar aos 102%,que incluem também as obrigações sociais(INSS, FGTS, salário-educação etc.).

Essas divergências respondem, emgrande parte, pelos resultados discrepan-tes. Admite-se também que a empresa, aocontratar um empregado, não faça nenhu-ma provisão para o pagamento de repouso

remunerado, férias, feriados, etc., ao longodos 12 meses, razão por que todos essesitens entrariam no salário, deixando de serencargos sociais – o que é um erro. Os en-cargos sociais geram despesas que são de-sembolsadas, de forma direta ou indireta,pelas empresas. A maneira mais fácil decalcular tais despesas

é verificar o gasto total que cabe à empresa

por ano (por força da lei) e dividir esse va-

lor pelo número de horas de trabalho que o

empregado efetivamente se encontra à sua

disposição (Pastore, 1996).

O grupo do DIEESE, ao buscar in-formações do Bureau Estatístico do Tra-balho, nos Estados Unidos, da Organiza-ção Internacional do Trabalho (OIT) e doCentro de Estudos sobre Renda e Custos(CERC), na França, descobriu que existeuma metodologia internacional segundo aqual o custo do trabalho se divide em contri-buições sociais e rendimentos do trabalho.

De acordo com essa metodologia,as contribuições sociais seriam todas as im-posições legais ou convencionadas por acor-dos que visam financiar fundos para as po-líticas públicas, enquanto os outros seriamconsiderados rendimentos do trabalho. Ado-tada no Brasil, essa metodologia modifica-ria totalmente os conceitos sobre encargos,visto que vários itens, como o FGTS, porexemplo, não seriam considerados encar-

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Impactos dos encargos sociais na economia brasileira56

Page 5: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

gos, mas rendimentos do trabalho, emboraseja um custo para o empresário. Isso por-que os 8% retidos sobre determinado salá-rio ficam numa conta à disposição do tra-balhador, diferentemente do INSS, em queos 20% retirados do salário vão para a con-ta da Previdência para serem aplicados emsaúde pública, aposentadorias e pensões;nesse caso, seriam encargos.

Baseado na metodologia da OIT,Camargo (1996) determina outro percen-tual. Para o autor, os custos não salariaiscom mão-de-obra equivalem aproxima-damente 90% do salário total de um traba-lhador e incluem o tempo pago não traba-lhado e contribuição do empregador à pre-vidência social. Levando em consideraçãoà metodologia da OIT, do custo não saláriototal, 45% destinam-se ao trabalhador co-mo salário indireto; 28% vão para o gover-no, para financiar a seguridade social e oensino formal; e 17%, às organizações pa-tronais, para financiar a capacitação profis-sional e os serviços econômicos prestadosa trabalhadores e empregadores. Portanto,os encargos sociais efetivos são de 45% so-bre a folha de pagamento.

Verificam-se, portanto, intensas con-tradições nos percentuais dos encargos so-ciais. E a não-definição de encargos criaproblemas para as empresas e os trabalha-dores. No entanto, independentemente do

custo do trabalho estabelecido quando sepropõe redução dos encargos sociais, é pre-ciso analisar se o que se deseja é a reduçãodos encargos sociais propriamente ditos, oua eliminação, pura e simples, de itens quecompõem a remuneração dos trabalhado-res, como, por exemplo, a parte do saláriorelativa ao descanso semanal remunerado,aos dias de férias e feriados, ao 13º salário,aos dias de afastamento por motivos de do-ença pagos pelas empresas, ao aviso prévioe à despesa por rescisão contratual.

Aliadas a essas divergências meto-dológicas acerca do percentual dos encar-gos sociais sobre a folha de pagamento,existe também uma divergência sobre osimpactos desses encargos sobre a econo-mia brasileira. Para o DIEESE (1997) o in-centivo à geração de empregos está muitomais associado à criação de um ambientepropício ao investimento produtivo, comtaxas de juros baixas e diretrizes claras depolítica industrial, agrícola, cambial e credití-cia, e às políticas ativas de emprego – como,por exemplo, a diminuição do limite legalde realização de horas extras e redução daprópria jornada de trabalho –, do que à re-dução ou eliminação de encargos sociais.

No entanto, existem outros autorescomo Pastore (1994), Amadeo (1992), queconcluem que uma redução dos encargossociais geraria um impacto positivo sobre a

Mayra Batista Bitencourt_Erly Cardoso Teixeira 57

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Page 6: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

geração e formalização do emprego, e, con-seqüentemente, sobre a competitividade daeconomia brasileira, visto o alto custo dotrabalho. Para Chahad e Fernandes (2002),o abrandamento dos encargos sociais outrabalhistas atenuaria a posição desfavorá-vel em emprego e salários, no entanto, res-saltam que é necessário distinguir encargosque proporcionam benefícios diretos aotrabalhador de outros que operam mais co-mo impostos. Os resultados de políticas deaumento da atratividade do emprego for-mal, portanto, dependerão de quais foremos encargos objeto de redução, com suaeficácia maior na hipótese de foco sobre osencargos de caráter tributário.

O que se constata é que, apesar da re-levância do tema, principalmente, no que serefere a uma abordagem mais quantitativados efeitos dos encargos sobre variáveis ma-croeconômicas, pouco se tem publicado arespeito do assunto, o que, por sua vez, enal-tece a importância deste trabalho. Portanto,no presente artigo verificam-se dois impor-tantes diferenciais: a metodologia quantitativautilizada e os diversos cenários simulados.Cabe ressaltar que os cenários aplicados, noque se refere ao percentual de redução dosencargos, estão respaldados nas metodolo-gias utilizadas no Brasil e na OrganizaçãoInternacional do Trabalho (OIT).

2_ Metodologia

A questão principal da incidência de tri-butos no mercado de trabalho está rela-cionada com a distribuição da carga tri-butária entre os setores produtivos, tra-balhadores e governo. Têm-se, por umlado, a classe empresarial e os trabalha-dores que necessitam de encargos sociaismenores para produzir, e, conseqüente-mente, gerar emprego, e, por outro, ostributos, que constituem uma das fontesprincipais na receita do governo. Dessaforma, necessita-se de um modelo quecapte as reações de todos os agentes eco-nômicos diante das alterações na estrutu-ra tributária do mercado de trabalho. Nes-se sentido, o melhor instrumental para ainvestigação do problema é o modelo deequilíbrio geral.

De forma geral, as soluções de mo-delos aplicados de equilíbrio geral reque-rem algoritmos específicos, que permitema resolução de amplos sistemas de equa-ções lineares e, ou, não-lineares. Nesse tra-balho utilizou-se o Mathematical Programming

System for General Equilibrium (MPSGE),constituindo-se de um sistema de progra-mação matemática na qual foi projetadopor Thomas Rutherford, do Departamen-to de Economia da Universidade de Colo-rado (Rutherford, 1993).

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Impactos dos encargos sociais na economia brasileira58

Page 7: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

A construção do modelo adotadona pesquisa requer uma série de procedi-mentos. O primeiro consiste em definir abase de dados e, conseqüentemente, a cons-trução da matriz de contabilidade social(MCS). A MCS é a principal fonte de dadose é obtida a partir da matriz insumo-produto(MIP), complementada por outras fontes(Boletim do Banco Central, Boletim do Te-souro Nacional, PNAD – Pesquisa Nacio-nal de Amostragem Domiciliar, POF – Pes-quisa de Orçamentos Familiares, e IBGE).

Nesta pesquisa, a matriz de contabi-lidade social foi obtida de outra matriz, ouseja, utilizou-se, como base, a MCS, de Bra-ga (1999), que contém 29 produtos, trêsagentes econômicos (família, firmas e go-verno), e o valor adicionado é compostopor trabalho e capital, dados que refletem amatriz de insumo-produto de 1995 (Apên-dice A). Como o enfoque desta pesquisa éo mercado de trabalho, optou-se por agre-gar as atividades produtivas e desagregar ovalor adicionado e os agentes econômicos.Quanto às atividades produtivas, essas sãodivididas em nove (agricultura, pecuária, ou-tros agropecuários, agroindústria, indústria,energia, transporte, serviço e administra-ção pública); os agentes econômicos são de-sagregados em firmas, famílias urbanas e ru-rais e governo; e o valor adicionado é divi-dido em trabalho qualificado e não qualifica-do e capital e ainda o setor resto do mundo.

Com base em Braga (1999), na desa-gregação das famílias urbanas e rurais, utili-zou-se a metodologia citada por Lírio (2001),a qual consiste em cruzar as informaçõesdisponíveis sobre o meio rural, no censo,com o conceito de “renda familiar rural”, daPNAD, relativo aos domicílios rurais.

Quanto à classificação do fator tra-balho em mão-de-obra qualificada e nãoqualificada, no Brasil, utilizaram-se as esta-tísticas fornecidas pela base de dados doGlobal Trade Analysis Project – GTAP(2002), em sua versão 5. Nos setores agri-cultura e pecuária, considerou-se que 3,4%dos trabalhadores são qualificados; 11,7%,outros agropecuários; 14%, agroindústria;14,1%, setor industrial; 23,9%, energia; 32,8%,serviço; 15,9%, transporte; e 52,9%, admi-nistração pública. Os trabalhadores não qua-lificados foram determinados pela diferença.

De acordo com Andrade e Najberg(1997), modelo que pretenda elaborar ce-nários confiáveis precisa de dados de en-tradas atualizados. Entretanto, de modogeral, a coleta de dados referentes às liga-ções interindustriais de um país tem umafreqüência menor do que a coleta de dadosdo sistema de contas nacionais, o que limi-ta a construção de uma MCS para o últimoano para o qual há uma MIP oficial. NoIBGE, as últimas tabelas para a construçãoda MIP disponíveis são de 1996, já que asposteriores ainda estão incompletas.

Mayra Batista Bitencourt_Erly Cardoso Teixeira 59

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Page 8: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

No entanto, a utilizada na presentepesquisa é a de 1995; vale ressaltar que,apesar de se ter uma MIP mais atualizada, ade 1995 é mais representativa, em virtudedos dados serem observados e não proje-tados, como muitos dados da matriz insu-mo-produto de 1996 (exceto os dados paracomércio internacional).

De posse da matriz de contabilida-de social, foi então construído um modelocapaz de atender aos objetivos propostos,e, portanto, realizar as diversas simulações.Para cada simulação implementada, o siste-ma de equações é resolvido para as variáveisendógenas, a partir dos valores fornecidospelas variáveis exógenas e demais parâme-

tros, permitindo a visualização dos efeitosde cada cenário sobre as variáveis analisadas.

2.1_ Características gerais do modeloaplicado de equilíbrio geralno mercado de trabalho

Iniciando a descrição da função de pro-dução, os agentes são maximizadores delucro e buscam a otimização, levando emconsideração suas restrições de tecnolo-gia e de recursos.

De acordo com as características dosetor rural, as estruturas das tecnologiaspara essas atividades são divididas em agri-cultura e pecuária. A estrutura tecnológicaé mostrada na Figura 1.

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Impactos dos encargos sociais na economia brasileira60

Figura 1_ Estrutura geral da produção agrícola

Fonte: Adaptado de Braga (1999).

Page 9: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

A função de produção nested, para osetor agrícola, é formada por quatro níveisde nesting e cinco elasticidades de substitui-ção. De forma geral, para atividades agro-pecuárias, consideram-se funções de pro-dução do tipo Leontief na combinaçãoinicial de capital e trabalho, ou seja, comoos produtores não têm possibilidade demudar a composição de capital e trabalhoqualificado, no curto prazo, a elasticidadede substituição nesse nível é zero.

A utilização de funções CES na tec-nologia de produção implica a adoção dachamada hipótese de Armington (Arming-ton, 1969) na diferenciação de produtos.Esse tratamento permite que o modeloexiba padrões de comércio intra-setoriaisnão especializados, uma importante regu-laridade empírica encontrada na literatura.

Dentro do nest trabalho, observa-seque há substitutibilidade entre trabalho qua-lificado e não qualificado nos níveis maiselevados de produção, ou seja, é permitidauma flexibilidade no uso do trabalho, por-tanto, utiliza-se uma função do tipo elasti-cidade substituição constante (CES).

Quanto ao comportamento do mer-cado de fatores, no que se refere ao fatortrabalho, de acordo com Barros et al. (2001),tradicionalmente, os Modelos Aplicados deEquilíbrio Geral (MAEGs) ajustam o mer-cado de trabalho com base em funções de

demanda e de oferta de trabalho. Em ummercado onde somente esses dois fatoresdeterminam o equilíbrio, não haveria de-semprego involuntário. Como esse resulta-do não parece refletir o equilíbrio do mer-cado de trabalho na maioria dos países,alguns modelos incorporam um terceirocomponente, que garante a existência dedesemprego involuntário no equilíbrio.

Para isso, foi incorporada ao modeloa hipótese de rigidez nos salários. Operaci-onalmente, isso equivale incorporar umaregra de fixação dos salários nominais quetorna essa variável exógena. Assim, todosos ajustes do mercado de trabalho são fei-tos pelo emprego. A especificação dos sa-lários para mão-de-obra qualificada e nãoqualificada é determinada pelo setor, ou seja,com base na quantidade percentual de tra-balhadores qualificados e não qualificados.

Na primeira ramificação da árvorede produção, os outros insumos e trabalhoentram em proporções fixas; na outra, têm-se terra e fertilizante, que são combinadosde acordo com as funções CES, formandoo insumo terra melhorada; e tem-se ainda acombinação ótima entre trabalho e terramelhorada, obtida pela função CES.

Aos demais produtos não agrícolaso valor adicionado é obtido por meio dacombinação de capital e mão-de-obra qua-lificada em proporções fixas, logo após,

Mayra Batista Bitencourt_Erly Cardoso Teixeira 61

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Page 10: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

permite-se a substituição por trabalho. Os in-sumos intermediários utilizados na indústrianão agrícola representam combinações do ti-po Leontief. Nas atividades da agroindústria,permite-se a substituição de fatores, de acor-do com suas elasticidades de substituição.Vale destacar que as elasticidades de substitu-ição entre os fatores de produção, adotadasno modelo, foram obtidas de estudos de Bra-ga (1999) e Lírio (2001).

Seguindo a descrição do modelopelos agentes econômicos, as famílias bus-cam a maximização da utilidade, portanto,a demanda dos consumidores está baseadanuma função de utilidade CES, sujeita à

restrição orçamentária (Figura 2). Aqui, va-le ressaltar que as famílias foram divididasem rurais e urbanas.

A Figura 2 mostra que, tanto para asfamílias rurais quanto para as urbanas, cadaconsumidor parte de uma renda X, quecorresponde à renda disponível, ou seja,descontados os impostos. A partir dessarenda, o consumidor opta pelo consumopresente ou consumo futuro (poupança).Descontada a renda destinada ao consumofuturo, o consumo presente será divididoem lazer (tempo ocioso) e consumo debens e serviço, combinados de acordo comas funções CES.

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Impactos dos encargos sociais na economia brasileira62

Figura 2_ Estrutura de preferências das famílias

Fonte: Elaborada pela autora.

Page 11: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

Quanto ao agente econômico go-verno, suas atividades são divididas emdois grupos. Primeiro, têm-se os gastos dogoverno, que envolve o setor administra-ção pública (saúde e educação pública), eos gastos das empresas públicas; no segun-do grupo, os bens e serviços são ofertadospublicamente às famílias, como forma detransferências. A renda do governo tem ori-gem na coleta de impostos e nas contribui-ções, a qual é transferida aos consumidorese mantida constante, em termos reais.

Para finalizar, a regra de fechamentoadotada é a neoclássica. Por pressuposição,os produtores são maximizadores de lucro.Uma das conseqüências de se admitir que asempresas maximizem lucros é que a derivadada função lucro das empresas, com relação àvalor da quantidade demandada de cada fa-tor, deve ser igual ao preço dos fatores (con-dição de primeira ordem). Dessa forma, a re-gra de comportamento da firma determina arelação entre os salários e o valor do produtomarginal de cada tipo de fator trabalho e emcada um dos setores considerados no mode-lo. Com relação aos demais fatores de produ-ção, admite-se que sejam específicos de cadasetor. De acordo com a teoria, para poupan-ça e investimento, pressupõe-se que a pou-pança do setor privado seja apenas um resí-duo do consumo e que o investimento sejatotalmente financiado pelo somatório daspoupanças privadas, governamental e exter-na. O numerário estabelecido no modelo é o

índice de preço ao consumidor (IPC), basea-do no consumo das famílias urbanas.

Cabe ressaltar que, de acordo comMansur e Whalley (1984), citados em Shovene Whalley (1998), na determinação dos resul-tados das simulações realizadas com MAEG,a definição dos parâmetros das formas fun-cionais é fundamental. O procedimento maisutilizado para selecionar esses parâmetros é acalibração, que deve ser entendida como ummétodo de estimação de parâmetros de for-ma que o modelo especificado seja capaz dereproduzir as observações do ano básico co-mo uma solução de equilíbrio desse modelo.Desse modo, o modelo é solucionado combase nas informações obtidas do equilíbrioinicial na Matriz de Contabilidade Social(MCS) e de estimativas das elasticidades desubstituição na produção e no consumo edas elasticidades-preço da demanda de im-portações e de exportações para gerar os pa-râmetros de eficiência, distribuição e substi-tuição das funções CES. Em contraste comos métodos econométricos estocásticos,que freqüentemente simplificam a estruturado modelo econômico para permitir a maiorriqueza da especificação estatística, o méto-do da calibração, ao optar pela riqueza da es-trutura econômica do modelo, faz uma re-presentação estatística não aleatória, pormeio de um modelo determinístico (Shovene Whalley ,1998).

De acordo com Shoven e Whalley(1998), esse procedimento admite que o flu-

Mayra Batista Bitencourt_Erly Cardoso Teixeira 63

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Page 12: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

xo circular especificado na Matriz de Conta-bilidade Social (MCS), para o ano- base, re-presente uma solução de equilíbrio inicial. Amudança implementada pelos cho- ques ex-ternos provoca, então, um processo de rea-justamento do sistema (que segue a lógica ex-plícita pelos parâmetros funcionais) até oalcance de nova posição de equilíbrio. Conse-qüentemente, a análise do impacto é feita pe-la comparação entre os valores das variáveisendógenas, nas duas situações otimizadas.O método de calibração, portanto, é maissimples e prático que a estimação economé-trica, permitindo maior operacionalidade aosMCEGs, uma vez que esses envolvem a utili-zação de grande quantidade de parâmetros.

2.2_ Formulação matemática

Este item objetiva desenvolver o modelomatemático empregado nesta pesquisa.Para isso, utilizaram-se outros trabalhosque se basearam nessa modelagem, comoos de Ferreira Filho (1998), Braga (1999)e Lírio (2001).

As equações do modelo são cons-truídas como um conjunto de equações si-multâneas não-lineares, no qual a alocaçãodos recursos é definida com base nos pre-ços relativos. Todas as equações têm for-mato genérico CES, e as elasticidades desubstituição adotadas variam de acordo como setor estruturado, podendo ser nulas (Leon-tief) ou unitárias (Cobb-Douglas). O obje-

tivo do modelo é que, em cada etapa doajustamento, os coeficientes especificadospara cada uma das atividades sejam próxi-mos da unidade, o que indica que o modeloseja capaz de reproduzir satisfatoriamente osvalores observados das variáveis endóge-nas, a partir das exógenas do ano-base.

De acordo com Braga (1999), aocitar Mathiesen (1985), a formulação domodelo de equilíbrio geral pode ser apre-sentada em três conjuntos de vetores devariáveis que determinam o equilíbrio com-petitivo, a saber:

a. um vetor não negativo de preçosdos bens finais, dos bens inter-mediários e dos fatores primári-os de produção;

b. um vetor não negativo de níveisde atividade para os setores deprodução da economia, com re-tornos constantes à escala;

c. um vetor de níveis de renda paraos consumidores;

d. uma condição de equilíbrio quesatisfaça ao sistema de três clas-ses de desigualdades não-linea-res: inexistência de lucro super-normal, equilíbrio de mercado eequilíbrio de renda.

A inexistência de lucro supernormal im-plica o equilíbrio que todos os produtoresou atividades obtêm lucro zero ou normal:

�i( p) = R

i( p) – C

i( p) � 0 �j (1)

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Impactos dos encargos sociais na economia brasileira64

Page 13: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

em que �i( p) é a função do lucro unitá-

rio (i representa cada uma das atividadesexistentes para as j categorias de estruturade produção acima mencionadas). A fun-ção lucro unitário é simplesmente a dife-rença entre custo e receita unitária. O cus-to C

i( p) e a receita R

i( p), a receita unitá-

ria, podem ser definidos por

Ci( p) � min {� p

ix

i| f

i(x) = 1} (2)

Ri( p) � max {� p

iy

i| g

i( y) = 1} (3)

em que x representa os insumos; y, pro-dução; e f e g, funções de produção asso-ciadas, o que indica a possibilidade decombinação de insumos e produtos noprocesso de produção.

O modelo foi construído como umconjunto de equações simultâneas não-li-neares, no qual a alocação dos recursos édefinida em função dos preços relativos.Como citado, todas as equações têm formatogenérico CES, em que as elasticidades desubstituição adotadas variam de acordo como setor estruturado, sendo possível aindaque elas sejam nulas (caso em que a CESassume formato Leontief) ou unitárias (Cobb-Douglas). Em cada etapa do ajustamento,os coeficientes foram especificados de for-ma que os níveis do benchmark, para cadauma das atividades, sejam próximos daunidade, indicando que o modelo é capazde reproduzir satisfatoriamente os valores

observados das variáveis endógenas, a par-tir das exógenas do ano-base.

Como usual, as variáveis endógenassão apresentadas em letras maiúsculas, asvariáveis exógenas em letras minúsculase os parâmetros em letras gregas. Os índi-ces (sub e sobrescritos) indicam a definiçãode setores (i e j), dos fatores primários ( f ),das famílias rurais e urbanas (r, u), governo( g ) e setor externo (x). A seguir são descri-tas as notações utilizadas no modelo.

As equações dos modelos são apre-sentadas em grupos seqüenciais. Inicial-mente são apresentadas as equações quecompõem a estrutura de produção e de-manda dos fatores, seguidas pelos blocosde quantidades, preços, rendas, demandagovernamental, equilíbrio de mercado, sa-lários e mercado de trabalho e, por fim, ofechamento do modelo.

De forma geral, no equilíbrio do merca-

do, os níveis de preços e de produção de-vem ser tais que a oferta de um produto se-ja maior ou igual ao excesso de demanda,definida por

yp

pd p Mi

i

iih

h

ih

h

h

i

� � � ��

( )( , ) (4)

em que os somatórios indicam, respecti-vamente, a oferta líquida do bem i paraos setores de produção com retorno cons-tante à escala; a dotação inicial agregadado bem i pelas famílias; e a demanda final

Mayra Batista Bitencourt_Erly Cardoso Teixeira 65

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Page 14: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

agregada do bem i pelas famílias, dadosos preços de mercado p e os níveis derenda das famílias M. As demandas finaissão derivadas da maximização da utilida-de, sujeita à restrição orçamentária.

Quanto ao equilíbrio da renda, o va-lor da renda de cada agente (M) deve ser igualao valor das dotações dos fatores ( p

i�

ih):

M ph i ih

i

� � � (5)

A descrição do equilíbrio competiti-vo, até aqui delineada, foi feita de formageral. Para formar um sistema de equaçõesque inclua as variáveis relevantes na pesquisa,as equações dos modelos são apresentadasem grupos. Inicialmente, são mostradas asequações referentes às atividades produti-vas, incluindo o consumo intermediário eo valor adicionado; posteriormente, sãoexibidas as equações de renda, impostos epoupança das famílias, firmas e governo.Como a pesquisa trata de uma análise domercado de trabalho, são consideradas asequações de salários e equilíbrio no mercadode trabalho. Por fim, têm-se as equações querepresentam o bem-estar dos consumidores.

Os modelos de equilíbrio geral sãorepresentados por grande número de equa-ções, dada sua complexidade. Nesta pes-quisa não são apresentadas as equações re-lacionadas com o setor externo, por nãoser o enfoque principal deste trabalho, em-bora sejam consideradas no modelo. Mais

informações sobre o modelo podem serobtidas de Braga (1999).

2.2.1_ Estrutura das atividades produtivas

Ao iniciar a descrição pelo consumo in-termediário setorial (CI

i), a equação (6)

descreve as demandas interindustriais mo-deladas por meio de equações CES demercadorias compostas PD

j, que, por sua

vez, são agregações CET de produtos im-portados ou produzidos domesticamente.

CI a PDi ij j

j

� � (6)

em que aij

representa o parâmetro de pro-dutividade, PD

jé a produção doméstica e

CIirepresenta o consumo intermediário.

O valor adicionado de cada ativida-de (VA

i) é composto por dois fatores bási-

cos de produção capital (K ) e trabalho (L),sendo o fator trabalho dividido em qualifi-cado e não qualificado. De forma geral,consideram-se funções de produção do ti-po Leontief na combinação inicial de capi-tal e trabalho (equação 10). Para o fator tra-balho, há substitutibilidade entre mão-de-obra qualificada e não qualificada, ou seja,é permitida uma flexibilidade no uso dotrabalho, portanto, utiliza-se uma funçãoCES. Vale ressaltar que K e L são homo-gêneos e móveis entre os setores ruraise urbanos. Essa mobilidade é requeridapelo fato de se adotar o modelo de equilí-brio geral, com pressuposições neoclássi-

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Impactos dos encargos sociais na economia brasileira66

Page 15: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

cas, onde há plena mobilidade dos fatoresdentro do país.

em que eié um parâmetro de eficiência e

pode ser entendido como um indicador do

estado da tecnologia; é um parâmetro dedistribuição que se relaciona com as parti-cipações relativas dos fatores no produto; e

� é o parâmetro de substituição que deter-mina o valor constante da elasticidade desubstituição para funções dessa natureza.

Apenas um único produto é produ-zido em cada setor, e todos os setores apre-sentam retornos constantes à escala. Asequações (8) e (9) referem-se às demandasordinárias dos fatores capital e trabalho,por unidade de valor adicionado. O com-portamento do produtor, considerando-sea premissa de racionalidade dos agentes, écaracterizado pela minimização de custos,sujeita à restrição de que VA

iseja 1.

em que DFik

é a demanda do fator capital;DF

iL, demanda do fator trabalho; e Pk e

PL são as remunerações brutas dos fato-res de produção.

As equações do consumo interme-diário e valor adicionado fecham o grupoda estrutura de produção. A partir da equa-ção (10), tem-se o delineamento das equa-ções que compõem renda, impostos e pou-pança dos agentes econômicos.

2.2.2._Renda, impostos e poupança das famílias,firmas e governo

A equação (10) define a renda interna(Y

f) dos fatores em função do somató-

rio do produto do preço médio dos fato-res (salário e remuneração do capital) eda demanda de fatores.

Y W DFf f if

i

� � . (10)

em que Wf

representa o preço médio dosfatores; e DF

ifé a demanda de fatores

(trabalho e capital).As equações (11) e (12) mostram

que as rendas dos fatores são totalmentedistribuídas, ou seja, o valor da renda dosconsumidores (rurais e urbanos) deve serigual ao valor das dotações dos fatores maisa transferência do governo, as quais podemser representadas por

Y Y TR Y TRc f

r

g

r

f

u

g

U� � � �( ) ( ) (11)

Y Y TRc f

f

g familias� �� � / (12)

Mayra Batista Bitencourt_Erly Cardoso Teixeira 67

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

DF eP

PiL i i

i K

i L

i

i

��

���

��� �

��

1

1

���

���

))

*

*��

�� �i

i

(8)

DF eP

PiK i i

i L

i K

i

i

��

���

��� �

��

1

1

���

���

))

*

*��

�� �i

i

(9)

VA e L Ki i i i

i

i

i

i

i

i

� � ��

���

���

� � �

�1 1 1

1( ) (7)

Page 16: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

em que Ycé a renda total dos consumido-

res; Y f

r representa a renda das famíliasrurais; TR g

r são as transferências do go-verno para as famílias rurais; Y f

u repre-senta a renda das famílias urbanas; e TR g

U

são as transferências do governo para asfamílias urbanas.

De posse das rendas, os consumi-dores decidem consumir ou poupar. Asequações (13) e (14) definem as poupançasdas famílias rurais e urbanas como a rendadisponível (menos os impostos diretos) decada categoria, multiplicada pela propen-são marginal a poupar de cada uma delas.

Sr= Y

r. (1 – t

r) . s

r(13)

Su

= Yu

. (1 – tu) . s

u(14)

em que Sre S

urepresentam as poupanças

das famílias rurais e urbanas; Yr

e Yure-

presentam as rendas das famílias rurais eurbanas; t

re t

usão as alíquotas médias

dos impostos diretos incidentes sobre asfamílias rurais e urbanas; e s

re s

urepre-

sentam a propensão marginal a poupardas famílias rurais e urbanas.

Com relação à renda e aos gastos dogoverno, modela-se o governo como umúnico consumidor, com uma função de uti-lidade Cobb-Douglas sobre todos os bens,capital e trabalho. O governo obtém rendaa partir da arrecadação de impostos e daprestação de serviços públicos. As equa-

ções (15) e (16) determinam as formas fun-cionais das receitas auferidas por meio dastarifas de importação (TIM), dos impostosindiretos (TI), dos impostos diretos (TD) edos impostos incidentes sobre o valor ex-portado (TEX). A soma dos valores dessasquatro variáveis endógenas gera a receitatotal do governo (equação 17).

TIM pw M t txi

m

i i

m

i

� � . . . (15)

em que TIM é a receita das tarifas a im-portação; pw i

m é o preço internacionaldas importações; M

iquantidade impor-

tada; t i

m é a alíquota média das tarifas so-bre as importações; e tx é a taxa de câm-bio nominal.

TI P PD ti

PD

i i

PD

i

� � . . (16)

em que TI é a receita dos impostos in-diretos; Pi

PD é o preço da produção do-méstica, PD

irepresenta a produção do-

méstica; e t i

PD é a alíquota média dos im-postos indiretos.

TD = Yrtr+ Y

u1tu1

+ Yu2

tu2

+ Yu3

tu3

(17)

em que TD representa a receita dos im-postos diretos; e Y

rtr

e Yu1

tu1

represen-tam a renda das famílias rurais e urbanasmultiplicadas pelas alíquotas do impostodireto incidente sobre as famílias (ruraise urbanas por estrato de renda).

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Impactos dos encargos sociais na economia brasileira68

Page 17: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

TEX pw E t txi

x

i i

x

i

� � . . . (18)

em que TEX é a receita dos impostos so-bre exportação; pw i

x é o preço interna-cional das importações; E

ié a quantida-

de exportada; t i

x representa a alíquotamédia dos impostos indiretos; e tx é a ta-xa de câmbio nominal.

RG = TIM + TI + TD + TEX (19)

onde RG representa a receita do governo.A equação (20) define o consumo

do governo como o dispêndio real embens e serviços (GDTOT), como saúde,educação e administração pública, aloca-dos em diversos setores, e como as transfe-rências às famílias (TR). A equação (21)mostra que o total das transferências dogoverno para as famílias é dividido em ca-tegorias distintas, de acordo com a classifi-cação básica (rurais e urbanas).

CGi= GDTOT + TR

g(20)

TR TR TRg g

r

g

u� � (21)

A equação (22) mostra a estruturada poupança governamental (S

g), que po-

de ser definida como a receita do governo(RG

i), deduzida dos seus gastos com bens

e serviços (inclusas as transferências totaisdo governo às famílias urbanas e rurais –previdência urbana e rural).

S RG P CGg i

OBSi

i

i

� � �

��

��� . (22)

Finalizando a questão da poupança,a equação (23) representa a poupança totalcomo a soma das poupanças privada (S

p),

do governo (Sg) e da externa (S

x), sendo

esta última expressa em moeda doméstica:

S = Sp+ S

g+ (S

x. tx) (23)

2.2.3_Salários e equilíbrio do mercado de trabalho

Uma das conseqüências de se admitir queas empresas maximizam lucros é que aderivada da função lucro das empresas,com relação à quantidade demandada decada fator, deve ser igual ao preço dos fa-tores (condição de primeira ordem). Nocaso específico do modelo, essa regra decomportamento da firma determina umarelação entre os salários reais e o valor doproduto marginal de cada tipo de fatortrabalho e em cada um dos setores consi-derados. Dessa forma, os salários reaissão flexíveis.

Tradicionalmente, os modelos deequilíbrio geral ajustam o mercado de tra-balho a partir de funções de demanda portrabalho, tal como a mencionada anterior-mente, e de oferta de trabalho. Em ummercado onde somente esses dois fatoresdeterminam o equilíbrio, não haveria de-semprego involuntário. Como esse resulta-

Mayra Batista Bitencourt_Erly Cardoso Teixeira 69

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Page 18: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

do não parece refletir o equilíbrio do mer-cado de trabalho da maioria dos países,neste modelo será considerada a hipótesede rigidez nos salários nominais. Em termosoperacionais, isso equivale a incorporar umaregra de fixação dos salários nominais tor-nando essa variável exógena. Assim, todosos ajustes do mercado de trabalho seriamfeitos via nível de emprego. Desse modo, ademanda de trabalho torna-se endógena, ea diferença entre oferta (exógena) e a de-manda determina o desemprego.

A equação 24 determina o salárionominal de equilíbrio (W ), derivado dascondições de maximização de lucro da fun-ção de produção de valor adicionado. Fi-nalmente, a equação (25) define o salárionominal rígido. De acordo com FerreiraFilho (1998), essa formulação permite fa-cilmente a parametrização do salário real,alterando-se o valor de w. Se w for maiorque 1, então o salário real será maior queo salário nominal de equilíbrio; assim, ha-verá desemprego.

WVA

Lpvau r

eq

, ( )� �

��

�� �

��

�1

11

1 (24)

W = �.w (25)

em que 1

representa parâmetro da fun-ção CES relacionada com trabalho; VA,

valor adicionado; �, elasticidade de subs-

tituição na CES; � é o parâmetro de dis-tribuição da função CET e pva representao preço líquido do valor adicionado oupreço líquido do produto.

2.2.4_ Restrições do modelo

No modelo são consideradas três restri-ções, quais sejam, o desemprego rural, ourbano e o estabelecimento de um índicede preço em nível de consumidor, esco-lhido como numerário (NUM) (equação26). Esse índice pode ser definido comoo somatório de cada bem ponderado pelasua participação, em que z

isão parâme-

tros que medem a participação da produ-ção de cada setor no total absorvido pe-las famílias urbanas.

NUM z Pi

u

i

PDi

i

� � 2(26)

2.3_Cenários

No Brasil não existe consenso quanto aopercentual dos encargos sociais sobre afolha de pagamento. No entanto, existe oconceito estabelecido pela OrganizaçãoInternacional do Trabalho (OIT), na qualdefine os encargos sociais como contri-buições sociais pagas pelas empresas, masque não revertem em beneficio direto eintegral do trabalhador. São recolhidosao governo, sendo alguns deles repassa-dos para entidades patronais de assistên-cia e formação profissional.

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Impactos dos encargos sociais na economia brasileira70

Page 19: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

Admitindo esse conceito, tem-sena literatura dois valores base para o quantopesam esses encargos. O primeiro defen-dido pelo DIEESE, que estabelece umpercentual de 25,10%, e o segundo defen-dido por Camargo (1996), na qual deter-mina um percentual de 45%. Cabe res-saltar que Camargo considera que o per-centual dos custos não salariais com mão-de-obra equivale aproximadamente 90%do salário total, sendo que, do custo nãosalarial total, 45% destinam-se ao traba-lhador como salário indireto (benefíciopara o trabalhador) e 45% representam osencargos sociais.

Com base nas definições dos pesosdos encargos trabalhistas, são apresentadosseis cenários (Tabela 1).

Para cada peso do custo salarial, sãoapresentadas três propostas. A primeira con-siste em uma redução de 5,8 pontos percen-tuais que corresponde aos valores das alíquo-tas às contribuições sociais (sistema “S”) des-tinadas ao Serviço Social da Indústria (Sesi),Serviço Social do Comércio (Sesc), ServiçoSocial do Transporte (Sest), Serviço Nacionalde Aprendizagem Industrial (Senai), ServiçoNacional de Aprendizagem Comercial (Se-nac), Serviço Nacional de Aprendizagemdo Transporte (Senat), Serviço Brasileiro deApoio às Micro e Pequenas Empresas (Se-brae) e Instituto Nacional de Colonização eReforma Agrária (Incra), bem como ao sa-lário educação. Portanto, os pesos dos en-cargos sociais passam a ser de 19,30% (cená-rio 1) e 39,20% (cenário 4).

Mayra Batista Bitencourt_Erly Cardoso Teixeira 71

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Tabela 1_ Cenários Analíticos

Reduções nos encargos sociais

Peso inicial: 25,10% sobre a folha de pagamento

Reduções nos encargos sociais

Peso inicial: 45% sobre a folha de pagamento

Peso final:

19,30%

Peso final:

12,55%

Peso final:

9%

Peso final:

39,20%

Peso final:

22,50%

Peso final:

9%

Cenário 1 X

Cenário 2 X

Cenário 3 X

Cenário 4 X

Cenário 5 X

Cenário 6 X

Fonte: Elaboração da autora.

Page 20: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

Vale ressaltar que, como o sistema“S” são contribuições sociais que não re-vertem em beneficio direto e integral dotrabalhador, esses poderiam recair sobre areceita ou sobre o faturamento das empre-sas, e os não fixos e centrados, sobre a re-muneração do trabalhador.

A segunda proposta equivale à re-dução na magnitude de 50%, ou seja, ospesos do custos caem para 12,55% (cená-rio 2) e 22,50% (cenário 5). Quando se re-duzem os encargos nesses cenários, estásendo considerada uma diminuição sobretodos os impostos, incluindo INSS e FGTS.Essa simulação está baseada no trabalhodo Banco Mundial, citado por DIEESE(1997), na qual simula uma redução de50% nos encargos sociais que não revertemdiretamente para o trabalhador. A conclusãodeste trabalho mostra que haveria reduçãode apenas 2 a 5% no custo total das empre-sas, percentuais que não levariam a grandesinvestimentos nos setores produtivos e nageração de emprego. Essa conclusão tornao presente trabalho ainda mais relevanteno sentido de testar esta hipótese, median-te um modelo de equilíbrio geral.

A terceira proposta de redução visaadequar o peso dos encargos sociais noBrasil (25,10 e 45%) aos mesmos níveis depaíses concorrentes. Nos Estados Unidosos encargos sociais chegam no máximo a

9%, no Japão, 12%, nos Tigres Asiáticos,10%, na Europa se paga, em média, 60%.Apesar de o valor ser alto na Europa, suacompetitividade se destaca pelos altos sub-sídios concedidos aos produtores e às em-presas de forma geral (Pastore, 2000). Por-tanto, adota-se nesta pesquisa uma alíquotade 9% (cenários 3 e 6) como representativados principais países competidores. Valeressaltar que, em todos os cenários, estãopresentes as restrições quanto ao desem-prego rural e urbano, ou seja, conside-rou-se uma taxa de desemprego de 4,6%(apresentada pelo IBGE, para o ano de1995) e uma taxa máxima de 20%.

3_ Resultados e Discussões

3.1_ Efeitos da redução dos encargossociais sobre a economia brasileira,considerando a alíquota de 25,10%

Valendo-se da definição da base de dados,são simuladas três propostas de reduçãodos encargos. A primeira consiste em re-dução de 5,8 pontos percentuais, portan-to, o peso dos encargos sociais passa a serde 19,3% (cenário 1). A segunda equivaleà redução na magnitude de 50%, ou seja, ocusto cai para 12,55% (cenário 2). A tercei-ra proposta de redução, como o objetivocentral desta pesquisa é a busca de maior

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Impactos dos encargos sociais na economia brasileira72

Page 21: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

competitividade mediante redução dos en-cargos sociais, visa adequar o peso dos en-cargos sociais no Brasil aos mesmos ní-veis de países concorrentes, adotando-se,nesta pesquisa, uma alíquota de 9% (cená-rio 3) como representativa dos principaispaíses competidores.

Os efeitos de uma alteração de tari-fas e impostos no modelo são origináriosde um conjunto de interdependências. Qu-ando há redução na alíquota de impostosobre a mão-de-obra, ocorre decréscimono pagamento do salário. No entanto, oefeito final dessa mudança também depen-de da magnitude da redução e da especifi-cidade dos mercados. Como os modelosde equilíbrio geral captam todos essas rela-ções conjuntamente, a resposta dos cho-ques pode ser diferente do que ocorreriaem uma análise parcial.

Na análise dos efeitos sobre o merca-do de trabalho, observa-se na Figura 3 que osresultados dos cenários 1, 2 e 3 são muito se-melhantes. Com a redução da alíquota, con-seqüentemente, o pagamento do salário tempequena retração, sendo maior para saláriourbano não qualificado. Essa maior quedapode ser justificada pela expressiva participa-ção do fator mão-de-obra não qualificada nosegmento formal da economia.

Em sentido contrário, os capitais ru-ral e urbano apresentam variação positiva.

O que ocorre na economia é uma transfe-rência do fator mão-de-obra, principalmen-te não qualificada, para capital (rentabilida-de), cuja conseqüência é um acréscimo nataxa de desemprego, rural e urbano, de1,36 e 1,39%, no cenário 1, e de 1,03 e1,7%, no cenário 2. Somente no cenário 3 épossível encontrar redução da taxa de de-semprego, o que é explicado pelo maiorchoque atribuído ao modelo, ou seja, o de-semprego de 4,6% diminuiu para 2,7%, nosetor urbano, e para 4%, no setor rural,permitindo, dessa forma, ganhos de bem-estar para a sociedade.

Ao analisar as variações percentuaissobre as variáveis macroeconômicas, índi-ce de preço, investimento e comércio inter-nacional, verifica-se que, na variável índicede preço, não ocorrem mudanças significa-tivas, pois a redução dos encargos não foisuficiente para alterar esses preços. No en-tanto, quando se observam os níveis de in-vestimentos, o cenário 3 promove aumentode 2,78%, o que pode ser atribuído à expan-são dos capitais rural e urbano (Figura 4).

No cenário internacional, os cenári-os 1, 2 e 3 indicam aumento de competiti-vidade mediante acréscimo nas exporta-ções e decréscimo nas importações. Comredução no custo de produção e maioresinvestimentos em capital, o País dinamizao mercado interno e externo.

Mayra Batista Bitencourt_Erly Cardoso Teixeira 73

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Page 22: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Impactos dos encargos sociais na economia brasileira74

Figura 3_ Resultados percentuais obtidos de reduções dos encargos sociais sobre o mercado de trabalho

Fonte: Resultados da pesquisa.

Figura 4_ Resultados percentuais obtidos de reduções dos encargos sociais sobre as variáveis macroeconômicas

Fonte: Resultados da pesquisa.

Page 23: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

A Figura 5 mostra as variaçõespercentuais sobre a produção. Verifica-seque o aumento da competitividade se tra-duz em aumentos na produção para amaioria dos produtos, principalmente dosetor industrial. Como o setor de serviçosé o maior demandante de mão-de-obra, aredução do custo de produção promoveaquecimento nesse segmento. No que serefere aos setores agrícolas, pecuária eagroindústria, os ganhos são relativamen-te menores em relação aos demais, sendojustificados pelo aumento do consumo

de alimentos pelas famílias rurais e urba-nas (Figura 6).

Do ponto de vista social, obser-va-se pequena redução nos níveis de ren-das (cenários 1, 2 e 3) das famílias rurais,causada pelo desemprego, que aumentaem torno de 1,5%. Cabe destacar que essataxa de desemprego é calculada sobre 4,6%,ou seja, o desemprego passou a ser de 6%.Quanto à renda das famílias urbanas, veri-ficam-se aumentos em todos os cenários,sendo explicado pela não-redução dos sa-lários pagos para mão-de-obra qualificada.

Mayra Batista Bitencourt_Erly Cardoso Teixeira 75

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Figura 5_ Resultados percentuais obtidos de reduções dos encargos sociais sobre a produção

Fonte: Resultados da pesquisa.

Page 24: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

Com relação à arrecadação do go-verno e de sua renda, ocorre uma redução.Esse resultado só confere a confiabilidadedo modelo e da base de dados utilizada,visto que o item encargos social compõegrande parte da receita do governo.

Os resultados do trabalho realizadopelo Banco Mundial sobre a evolução do“Custo Brasil”, citado por DIEESE (1997),também mostraram que eventual reduçãodos encargos sociais teria efeitos muitomodestos sobre o custo das empresas e so-bre a economia. De acordo com os cálcu-los, na hipótese de a redução de 50% nosencargos sociais não reverter diretamentepara o trabalhador, haveria redução de ape-

nas 2 a 5% no custo total das empresas,percentuais que não levariam a grandes in-vestimentos nos setores produtivos e nageração de emprego.

Na análise dos resultados dos cená-rios descritos anteriormente, infere-se quea variação da redução dos encargos nasmagnitudes de 23,1% (cenário 1) a 50%(cenário 2) não implicaria impactos positi-vos na geração de emprego nem compro-metimento na arrecadação do governo. So-mente reduções acima de 50% (cenário 3)promoveriam aquecimento da economia,com geração de emprego e aumento aindamaior da competitividade.

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Impactos dos encargos sociais na economia brasileira76

Figura 6_ Resultados percentuais obtidos de reduções dos encargos sociais sobre o consumo e renda

Fonte: Resultados da pesquisa.

Page 25: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

3.2_ Efeitos da redução dosencargos sociais, considerando-sea alíquota de 45%

Ao analisar primeiramente o mercado detrabalho, verifica-se que o impacto da re-dução dos encargos sociais tem efeitopositivo na geração de emprego, mesmocom os acréscimos nos capitais rural eurbano, o que, a princípio, poderia subs-tituir o fator trabalho. No entanto, comoo investimento em capital dinamiza a eco-nomia, a partir da utilização do modelode equilíbrio geral, esses impactos reper-cutem no crescimento econômico, vistoque permitem maiores investimentos em

capital humano. No que se refere aos sa-lários pagos, esses se retraem devido àredução do custo de produção.

A Figura 8 mostra, com maior ênfa-se, os impactos positivos da redução dosencargos sociais nas variáveis macroeco-nômicas. Em relação à competitividade, abalança comercial é favorecida por maioressuperávits, proporcionados pelos aumen-tos percentuais das exportações e pelas re-duções das importações.

Para suprir o maior aumento nasexportações, a Figura 9 mostra incremen-tos na produção de todos os produtos.

Mayra Batista Bitencourt_Erly Cardoso Teixeira 77

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Figura 7_ Resultados percentuais obtidos de reduções dos encargos sociais sobre o mercadode trabalho

Fonte: Resultados da pesquisa

Page 26: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Impactos dos encargos sociais na economia brasileira78

Figura 8_ Resultados percentuais obtidos de reduções dos encargos sociais sobre as variáveis macroeconômicas

Fonte: Resultados da pesquisa.

Figura 9_ Resultados percentuais obtidos de reduções dos encargos sociais sobre a produção

Fonte: Resultados da pesquisa.

Page 27: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

Dada a geração de outros postos detrabalho, o mercado se aquece, o que pro-move aumentos no consumo de alimentose no nível de renda das famílias rural e ur-bana. No entanto, com relação ao agenteeconômico governo, têm-se reduções narenda e, principalmente, na arrecadação deimpostos (Figura 10).

Comparando os cenários analisa-dos, observa-se que os impactos sobre omercado de trabalho são mais expressivosquando se considera a alíquota de 45%como o custo dos encargos sociais. A uti-lização da redução de 5,8 pontos percen-tuais já é suficiente para reduzir a taxa de

desemprego. Verifica-se também que é apartir do cenário 6 que ocorrem aumen-tos mais significativos na competitividadee nos níveis de investimentos e, conse-qüentemente, na produção.

4_ Conclusão

A busca de maior competitividade, dadaa globalização e dada a formação de blo-cos econômicos, tem gerado intensas dis-cussões sobre as políticas a ser adotadasno Brasil, para que o país possa inserir-senesse processo sem desestruturar o mer-cado interno.

Mayra Batista Bitencourt_Erly Cardoso Teixeira 79

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Figura 10_ Resultados percentuais obtidos de reduções de encargos sociais sobre consumoe renda

Fonte: Resultados da pesquisa.

Page 28: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

Uma questão, de senso comum, é anecessidade de reduzir o Custo Brasil,que está relacionado com as distorções nosistema tributário; com os encargos sociaise com a legislação trabalhista inadequada;com a obsolescência da infra-estrutura detransportes e das tecnologias de telecomuni-cações; com os elevados custos portuários;com o estrangulamento do sistema energé-tico; e com os elevados custos financeiroe de transação.

Nesse contexto, a rigidez da legisla-ção trabalhista e os elevados encargos soci-ais incidentes sobre a folha de pagamentostêm sido apontados como grandes obstá-culos a maior competitividade da indústrianacional. Quando se discutem alternativaspara estimular a geração de empregos e, as-sim, promover o crescimento e o desenvol-vimento da economia brasileira, freqüente-mente abordam medidas para desonerar afolha de pagamentos.

Em virtude dessas discussões, estetrabalho objetivou analisar os impactos daredução dos encargos sociais (em diferen-tes alíquotas) nos indicadores macroeco-nômicos, tais como desemprego urbanoe rural, índice de preços ao consumidor,investimentos, receita do governo, arreca-dação de impostos, capital rural, capital ur-bano, salário rural (qualificado e não quali-ficado), salário urbano (qualificado e não

qualificado), renda das famílias (rurais e ur-banas), consumo alimentar das famílias,nível de produção setorial, preço domésti-co, exportação e importação.

A economia brasileira foi dividida emnove setores produtivos, quais sejam, agricul-tura, pecuária, outros agropecuários, agroin-dústria, indústria, serviços, transporte, ener-gia e administração pública, com presença dequatro grupos de consumidores (famílias ru-rais, urbanas, governo e exterior).

Foram realizadas seis simulações queenvolvem reduções dos encargos sociais.Os cenários 1, 2 e 3 mostraram os efeitosda redução de 25,1% nos encargos sociais.De maneira geral, com a redução do custosalarial, as remunerações da mão-de-obrativeram pequena retração. Em sentido con-trário, os capitais rural e urbano e os inves-timentos apresentaram variação positiva.No tocante ao índice de preço (cenários 1e 2), não houve alterações significativas,o que mostra que variações nas alíquotasdos encargos, nas magnitudes estabeleci-das nessas simulações, causam impactosmuito pequenos nos preços domésticos e,conseqüentemente, na produção. O efeitomais expressivo, nessas análises, foi na ar-recadação do governo e na sua renda. Por-tanto, verifica-se um aumento do déficit dogoverno, sem ocasionar, em contrapartida,maior crescimento econômico. Quanto à

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Impactos dos encargos sociais na economia brasileira80

Page 29: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

questão da competitividade, esses cenáriosmostraram bom desempenho, ainda quemodestos, visto que apresentaram peque-no aumento nas exportações e redução nasimportações.

Do ponto de vista social, observa-se pequena redução nos níveis de renda dasfamílias rurais, causada pelas reduções nossalários e pelo desemprego, que aumentouem torno de 1,5% nos dois cenários. Cabedestacar que essa taxa de desemprego écalculada sobre 4,6%, ou seja, o desempre-go passou para 6% (cenários 1 e 2). Comrelação ao terceiro cenário, houve algumasinversões nas análises. A redução dos en-cargos em torno de 65% implicou aumen-tos no consumo de alimentos, nos níveisde renda das famílias urbanas, no inves-timento e no capital, efeitos positivos queindicam aquecimento na economia brasi-leira. Nesse mesmo sentido, observam-sepequenos aumentos nos preços domésti-cos e na produção da maioria dos produ-tos. Quanto ao desemprego, somente o ce-nário 3 possibilitou redução na taxa. Odesemprego, que era de 4,6%, diminuiupara 2,70% no setor urbano e 4% no setorrural, permitindo, dessa forma, ganhos debem-estar para a sociedade. No entanto, emvirtude da redução nos encargos sociais, aarrecadação do governo diminuiu em 7,3%.

Nos cenários 4, 5 e 6 foram analisa-dos os efeitos da redução dos encargos so-

ciais, considerando-se agora o peso de 45%.O impacto da redução dos encargos sociaistem efeito positivo sobre geração de em-prego, capital rural e urbano, investimen-tos, competitividade, produção e níveis derenda das famílias rurais e urbanas, nos trêscenários. Somente o agente econômico go-verno teve a renda reduzida, dada a dimi-nuição da arrecadação de impostos que seacentuou ainda mais, comparativamente aoscenários 1, 2 e 3.

Portanto, os resultados produzidosneste trabalho mostram que, para alcançarmaior competitividade no mercado inter-nacional, bem como dinamizar o mercadointerno, via geração de emprego e renda,somente seria possível através de forte re-dução dos encargos sociais (considerandoque o peso dos encargos social seja de 25%sobre a folha de pagamento), mas isso im-plicaria, conseqüentemente, a alta reduçãode arrecadação do governo. Enfim, umchoque na magnitude simulada seria in-consistente com a realidade econômica,devendo ser descartado para efeitos de pro-postas para aumentar a competitividade daindústria nacional, e, sobretudo, gerar ou-tros postos de trabalho. E, quando se pro-põem menores reduções nos encargos so-ciais, os resultados mostraram um impactomuito pequeno sobre os indicadores ma-croeconômicos. Esses resultados corrobo-ram com o trabalho do Banco Mundial(DIEESE, 1997).

Mayra Batista Bitencourt_Erly Cardoso Teixeira 81

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Page 30: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

No entanto, considerando que o cus-to dos encargos sociais seja de 45%, obser-va-se efeitos positivos sobre a competitivi-dade da indústria nacional e, como conse-qüência, sobre o crescimento da economia.Cabe ressaltar que esse crescimento econô-mico é alcançado por meio de uma expan-são do déficit fiscal.

Enfim, verifica-se que somente re-duções dos encargos sociais não seriam su-ficientes para incentivar a geração de empre-gos, para aumentar a competitividade da in-dústria nacional e ainda sem comprometerdemasiadamente a arrecadação do governo.Já que o avanço tecnológico e o crescimen-to da população economicamente ativa sãoinevitáveis, o ideal seria combinar políticasglobais, com vistas a reduzir o Custo Brasil,e principalmente promover ajustes macroe-conômicos, como, por exemplo, redução dataxa de juros e, sobretudo, consolidação dareforma tributária. Portanto, rejeita-se a hi-pótese delineada na presente pesquisa.

Como proposta para o mercado detrabalho, os encargos trabalhistas poderiamrecair sobre a receita ou sobre o faturamentodas empresas, e os não fixos e centrados, so-bre a remuneração do trabalhador. Para asfirmas, principalmente as intensivas em mão-de-obra, essa proposta diminuiria o custodo trabalho e, portanto, estimularia a con-tratação de mão-de-obra, reduzindo a in-

formalidade. E ainda, dado o efeito multi-plicador do aumento da renda e da reduçãoda informalidade, a arrecadação do gover-no não seria prejudicada; pelo contrário,poderia se ter um aumento dessa.

Vale ressaltar que os resultados e,conseqüentemente, as conclusões origina-dos da aplicação dos MAEGs dependemdo valor dos parâmetros empregados emsua calibração e dos valores dos choques.Quanto ao valor dos parâmetros, como osMAEGs requerem grande número de in-formações, a ausência de dados mais desa-gregados tem dificultado a aplicação dessesmodelos na economia brasileira.

Como sugestão para trabalhos futu-ros, maior nível de desagregação setorial edas famílias (incluindo faixas de renda) ru-ral e urbana, bem como as obtenções dodesemprego específico em cada estrato, po-derá permitir análises mais acuradas dosefeitos de políticas alternativas sobre o mer-cado de trabalho.

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Impactos dos encargos sociais na economia brasileira82

Page 31: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

AMADEO, E. J. Mercado

de trabalho, relações industriais

e competitividade. Rio de Janeiro:BNDES, 1992, 100p.

ANDRADE, S.; NAJBERG, S.Uma matriz de contabilidade social

atualizada para o Brasil. Rio deJaneiro: IPEA, 1997. 33p.(Texto para Discussão, 58).

ARMINGTON, P. S. A theory

of demand for products distinguished

by place of production. InternationalMonetary Fund Staff Papers,v. 16, p. 159-178, 1969.

BARROS, R. P.; CORSEUIL,C. H.; CURY, S. Salário mínimo e

pobreza no Brasil: estimativas queconsideram efeitos de equilíbriogeral. Rio de Janeiro: IPEA, 2001.20 p. (Texto de discussão, 779).

BRAGA. M. J. Reforma fiscal

e desenvolvimento das cadeias

agroindustriais. Viçosa, MG: UFV,1993. 155p. Tese (Doutorado emEconomia Rural) – UniversidadeFederal de Viçosa, 1999.

CAMARGO, J. M. Flexibilidade

do mercado de trabalho no Brasil.

Rio de Janeiro: Editora FundaçãoGetúlio Vargas, 1996, 244p.

CHAHAD, J. P. Z.;FERNANDES, R. (Orgs.).O mercado de trabalho no Brasil:

políticas, resultados e desafios.São Paulo: LTr, 2002.

CNI. Confederação Nacional da

Indústria. Custo Brasil: o que foifeito, o que ainda precisa ser feito.Brasília: CNI/PEC, 1998, 65p.

DIEESE. Encargos sociais no Brasil

– Conceito, magnitude e reflexosno emprego. DIEESE, São Paulo,n. 12, ago. 1997.

FERREIRA FILHO, J. B. S.Introdução aos modelos aplicados de

equilíbrio geral: conceitos teoriase aplicações. Piracicaba: ESALQ,1998. 41p. (Série Didática, 120).

GTAP (Global Trade AnalysisProject). Skilled and Unskilled

Labor Data. (www.agecon.purdue.com/GTAP) Version 5.10p. 2002.

INSTITUTO BRASILEIRO DEGEOGRAFIA E ESTATÍSTICA– IBGE. Disponível em:www.ibge.gov.br. Acesso em:12 ago. 2001.

LIRIO, V. S. Do Mercosul à Alca:

impactos sobre o CAI brasileiro.Viçosa, MG: UFV, 2001. 221p.Tese (Doutorado em EconomiaRural) – Universidade Federal deViçosa, 2001.

MANSUR, A. H.; WHALLEY, J.Numerical specificationof applied general equilibriummodels: Estimation, calibrationand data. In: Scarf, H. E.;Shoven, H. E., editors. Applied

General Equilibrium Analysis.Cambridge University Press,Cambridge, 1984.

MATHIESEN, L. ComputationalExperience in SolvingEquilibrium models by a sequenceof linear complementarityproblems. Operations Research,v. 33, n. 6, p. 1225-1250, 1985.

PASTORE, J. Falácias sobreencargos sociais. A Folha de

S. Paulo, São Paulo, 29 mar. 1996.

PASTORE, J. Encargos sociaise revisão constitucional. O Jornal

da Tarde, São Paulo, 18 jun. 1997.

PASTORE, J. Encargos sociais

no Brasil e no Exterior:

Uma avaliação crítica. Brasília:SEBRAE, 1994, 142p.

PASTORE, J. Como ampliaro mercado formal? O Estado de S.

Paulo, São Paulo, 12 set. 2000.

RUTHERFORD, T. F. Mixed

inequality and nonlinear equation

solver. Boulder: Universityof Colorado, 1993. 40p.

SHOVEN, J. B.; WHALLEY, J.Applying General Equilibrium.3 edition. Cambridge University,Cambridge, 1998. 299p.

Mayra Batista Bitencourt_Erly Cardoso Teixeira 83

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Referências bibligráficas

E-mail de contato dos autores:

[email protected]

[email protected]

Artigo recebido em junho de 2005;

aprovado em outubro de 2007.

Page 32: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

Tabela 1A_ Matriz de contabilidade social – 1995 (R$ 1.000.000)

(continua)

Descrição do produto

Produtos

Agricultura Pecuária

Outrosprodutos

agro-pecuários

Outrasindústrias

EnergiaAgro-

indústriaServiços Transporte

Adm.Pública

Produto

Agricultura 826,21 1981,32 976,35 4402,27 60,30 9429,85 6,78 19,35 0,00

Pecuária 0,00 2218,94 0,00 194,19 0,00 11649,82 75,36 44,50 21,40

Outros produtosagropecuários

1254,84 1372,41 3077,34 9500,53 4,28 2928,79 1252,94 58,78 1403,70

Outras indústrias 1823,24 1200,98 3040,45 105580,00 3763,88 7098,14 36509,14 6913,95 8031,40

Energia 796,48 24,96 943,42 10520,43 13569,29 2432,82 1959,16 9384,22 1656,18

Agroindústria 2695,91 183,27 1154,93 12294,67 361,38 15071,90 3729,79 1918,93 1051,92

Serviços 623,75 654,66 1465,33 25444,19 5932,64 4968,02 38540,42 18068,84 25249,49

Transporte 660,65 692,48 1549,13 16026,66 2505,92 4354,65 11446,21 7010,76 2725,22

Administração pública 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

Subtotal 1 8681,08 8329,02 12205,85 183962,94 26187,89 57933,99 93519,80 43419,33 40139,31

Valoradicionado

Trabalho qualificado 68,92 43,80 434,90 6318,42 1002,28 770,66 25440,09 3971,47 44010,98

Trabalho não qualificado 1957,90 1244,23 3282,13 38493,06 3191,25 4734,09 52121,16 21006,33 39185,58

Capital 6994,29 9255,23 25471,62 56477,57 15362,62 11454,15 148554,15 27659,52 -2855,13

Instituições

Família rural 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

Família urbana 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

Governo 24,64 29,79 49,27 14484,55 2722,62 2808,02 24914,42 6649,44 4005,05

FBCF 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00

Resto do mundo 116,96 219,83 384,07 19235,86 5196,45 3218,17 3203,13 3885,99 2173,13

Subtotal 2 9162,71 10792,88 2921,99 135009,46 27475,22 22985,09 254232,95 63172,75 86519,61

Total 17843,79 19121,90 41827,84 318972,40 53662,91 80919,08 347752,75 106592,08 126658,92

Fonte: Adaptado de Braga (1999).

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Impactos dos encargos sociais na economia brasileira84

Apêndice A

Page 33: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

Tabela 1A_ Matriz de contabilidade social – 1995 (R$ 1.000.000)

(conclusão)

Descrição do produto

Fatores Instituições

DemandatotalTrabalho

qualificado

Trabalhonão

qualificadoCapital

Famíliarural

Famíliaurbana

Governo FBCFResto

do mundo

Produto

Agricultura 0,00 0,00 0,00 17,16 77,24 0,00 -360,40 413,36 17849,79

Pecuária 0,00 0,00 0,00 321,35 1334,25 0,00 3255,78 6,31 19121,90

Outros produtosagropecuários

0,00 0,00 0,00 3383,17 14046,89 0,00 3252,32 291,84 41827,83

Outras indústrias 0,00 0,00 0,00 16941,89 70341,46 0,00 28918,99 28807,90 318972,42

Energia 0,00 0,00 0,00 1729,38 7180,38 0,00 1638,01 1839,27 53662,90

Agroindústria 0,00 0,00 0,00 6396,35 26557,51 0,00 759,55 8742,98 80919,09

Serviços 0,00 0,00 0,00 27233,18 113071,71 0,00 84026,08 2474,42 347752,73

Transporte 0,00 0,00 0,00 9562,99 39705,38 0,00 4422,73 5929,29 106592,07

Administração pública 0,00 0,00 0,00 1,32 5,47 126652,13 0,00 0,00 126658,92

Subtotal 1 0,00 0,00 0,00 65586,79 272321,29 126652,13 125913,06 48505,37 1113357,65

Valoradicionado

Trabalho qualificado 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 82061,52

Trabalho não qualificado 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 165215,73

Capital 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 298374,02

Instituições

Família rural 28781,84 13406,50 32920,60 0,00 0,00 0,00 75108,94

Família urbana 104994,47 43926,20 100492,50 0,00 0,00 58393,23 0,00 3994,24 311800,64

Governo 38004,56 16287,68 5824,73 6870,18 28468,40 0,00 19663,75 10830,27 181637,37

FBCF 1172,22 502,38 156147,02 0,00 0,00 -20388,27 17972,00 155405,35

Resto do mundo 140,97 60,42 2989,17 2651,97 11010,95 16986,28 9828,54 189,02 81490,91

Subtotal 2 173094,06 74183,18 298374,02 9522,15 39479,35 54991,24 29492,29 32985,53 1351094,48

Total 173094,06 74183,18 298374,02 75108,94 311800,64 181643,37 155405,35 81490,90 2464452,13

Fonte: Adaptado de Braga (1999).

Mayra Batista Bitencourt_Erly Cardoso Teixeira 85

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Page 34: Impactos dos encargos sociais na economia brasileira · 2008. 6. 24. · reduzir o custo de contratação de mão-de-obra pelas empresas e flexibilizar as re-lações de trabalho

Tabela 1B_ Resultados percentuais obtidos de reduções dos encargos sociais sobre a economia brasileira

Variáveis Macroeconômicas Cenário 1 Cenário 2 Cenário 3 Cenário 4 Cenário 5 Cenário 6

Índice de Preço 0,018154 0,013418 0,163385 0,0379 0,0134 0,1784

Investimento 0,497858 0,869655 2,781302 0,5692 1,6728 4,3084

Exportação 0,26 0,25 1,84 2,76 3,75 5,696

Importação -0,12 -0,11 -1,17 -3,12 -3,89 -4,36

Consumo de Alimentos – Rural 0,2800 0,4040 2,0811 0,2431 0,7817 2,7904

Consumo de Alimentos – Urbano 0,2770 0,4014 2,0473 0,3223 0,7761 2,7511

Renda da Família Urbana 0,8255 1,6335 3,1854 0,8448 2,9403 5,8636

Renda da Família Rural -1,7320 -4,0234 -1,4953 -1,3019 -6,0356 -6,6947

Renda do Governo -2,7156 -5,9981 -6,8764 -2,2452 -9,2446 -14,4456

Arrecadação de Impostos -2,8830 -6,3693 -7,2998 -2,3713 -9,7671 -15,2600

Agricultura 0,090054 0,161568 0,249857 0,132 0,3881 0,6016

Outros Agropecuários 0,159779 0,329591 0,598664 0,1829 0,6437 1,1753

Energia 0,065379 0,044458 1,394299 0,0974 0,1741 1,5576

Indústria 0,465112 0,834692 2,67198 0,5068 1,5693 4,1004

Pecuária 0,101136 0,115865 0,715808 0,1595 0,326 1,0154

Agroindústria -0,04754 -0,174 -0,03767 0,0107 -0,1809 -0,1872

Transporte 0,540672 0,998776 3,079363 0,5855 1,8423 4,7605

Serviço 0,36625 0,604055 2,214065 0,436 1,2 3,3068

Salário Rural Não Qualificado -0,02067 -0,19143 -0,32008 -0,0239 -0,2632 -0,0881

Salário Urbano Não Qualificado -1,67114 -3,28338 -1,27241 -1,7175 -6,0594 -6,6888

Salário Rural Qualificado -0,01831 -0,01298 -0,16318 -0,0385 -0,0141 -0,1785

Salário Urbano Não Qualificado -0,01806 -0,01331 -0,16348 -0,038 -0,0143 -0,18

Capital Rural 2,034004 3,514803 12,01814 2,348 6,9199 18,8906

Capital Urbano 3,25368 7,567575 10,52101 3,2037 14,0763 24,1827

Desemprego Rural 1,3600 1,0300 -0,5300 -0,8098 -2,4498 -6,1690

Desemprego Urbano 1,3900 1,1700 -1,1900 -0,7488 -1,9632 -7,1660

Fonte: Resultados da pesquisa.

nova Economia_Belo Horizonte_18 (1)_53-86_janeiro-abril de 2008

Impactos dos encargos sociais na economia brasileira86

Apêndice B