impactos do programa das licenciaturas … · o presente trabalho discutirá as contribuições...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS DEPARTAMENTO DE QUÍMICA JOSIANE APARECIDA RODRIGUES FIALHO VIÇOSA – MG 2018 IMPACTOS DO PROGRAMA DAS LICENCIATURAS INTERNACIONAIS NA FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESSOAL DE UM GRUPO DE LICENCIADOS EM QUÍMICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA

JOSIANE APARECIDA RODRIGUES FIALHO

VIÇOSA – MG

2018

IMPACTOS DO PROGRAMA DAS LICENCIATURAS INTERNACIONAIS NA

FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESSOAL DE UM GRUPO DE LICENCIADOS EM

QUÍMICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

JOSIANE APARECIDA RODRIGUES FIALHO

VIÇOSA – MG

2018

IMPACTOS DO PROGRAMA DAS LICENCIATURAS INTERNACIONAIS NA

FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESSOAL DE UM GRUPO DE LICENCIADOS EM

QUÍMICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

Monografia apresentada ao Departamento de

Química da Universidade Federal de Viçosa como

parte das exigências para a conclusão do Curso de

Licenciatura em Química.

Orientador: Prof. Vinícius Catão de Assis Souza

JOSIANE APARECIDA RODRIGUES FIALHO

Aprovada em 26 de junho de 2018.

Profa. Aparecida de Fátima Andrade da Silva Departamento de Química – UFV

(Avaliadora)

Profa. Rita de Cássia Superbi de Souza Departamento de Química – UFV

(Avaliadora)

Prof. Vinícius Catão de Assis Souza Departamento de Química – UFV

(Orientador e Coordenador da Disciplina)

IMPACTOS DO PROGRAMA DAS LICENCIATURAS INTERNACIONAIS NA

FORMAÇÃO ACADÊMICA E PESSOAL DE UM GRUPO DE LICENCIADOS EM

QUÍMICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

Monografia apresentada ao Departamento de

Química da Universidade Federal de Viçosa como

parte das exigências para a conclusão do Curso

de Licenciatura em Química.

Dedico este trabalho aos meus pais, por

acreditarem em mim e tornarem o meu sonho

uma realidade.

AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus pela dádiva da vida. Por me ajudar a superar todos os

obstáculos ao longo dessa caminhada e por ter me dado forças para continuar.

Agradeço imensamente aos meus pais, José e Dorinha, pois confiaram em mim e me

permitiram essa oportunidade de concretizar e encerrar mais uma etapa da minha vida. Sei

que eles não mediram esforços para que este sonho se realizasse... Sem a compreensão,

ajuda e confiança deles nada disso seria possível hoje. A eles, além de dedicar esta

conquista, dedico a minha vida!

Ao meu namorado, David, por toda paciência, compreensão, carinho e amor. Obrigada por

compartilhar comigo os momentos bons e ruins, me ajudando a encontrar soluções para os

inúmeros desafios, mesmo quando parecia não existir mais caminhos... E também por fazer

essa caminhada mais tranquila para mim, tornando a sua família parte da minha.

Aos colegas do curso de Química, ao Sebo, um grupo de amigos que vai deixar enorme

saudade, e a todas as meninas que compartilharam comigo diversos momentos no 220.

Obrigada por sempre permanecerem ao meu lado durante essa longa caminhada,

compartilhando momentos de alegria, tristeza, angústias e ansiedade, me apoiando e

ajudando.

Às minhas amigas Patrícia e Ana Paula, por me fazerem enxergar a vida de uma maneira

mais simples, dando valor aos pequenos gestos de amizade. Obrigada pelos vários

momentos de alegria e por sempre ouvirem e acolherem os meus desabafos com carinho.

Ao professor Vinícius Catão, meu orientador, pelo apoio na realização deste trabalho, com

os vários incentivos, sugestões, paciência, ensinamentos e por nunca poupar esforços para

me ajudar. Meu muito obrigado por todas as orientações e pela sua amizade!

Às professoras Aparecida de Fátima e Rita Superbi, pela participação na banca examinadora

desta Monografia.

Aos participantes das entrevistas que se disponibilizaram, estando perto ou longe, a

contribuírem com o trabalho e nos ajudar na compreensão da investigação proposta.

Agradeço a todos pelas ideias trazidas na coleta dos dados!

Por fim, sou grata aos que me ajudaram, de maneira direta ou indireta, na conclusão deste

trabalho e entenderam por diversas vezes as minhas ausências: expresso aqui a minha

eterna gratidão e reconhecimento!

It is the supreme art of the teacher to awaken joy

in creative expression and knowledge.

[A arte suprema do professor está em despertar prazer

por meio da expressão criativa do conhecimento.]

Albert Einstein

RESUMO

FIALHO, Josiane Aparecida Rodrigues. Impactos do Programa das Licenciaturas

Internacionais na formação acadêmica e pessoal de um grupo de licenciados em Química

da Universidade Federal de Viçosa. Monografia de conclusão do Curso de Licenciatura em

Química. Universidade Federal de Viçosa, Junho de 2018. Orientador: Prof. Vinícius Catão de

Assis Souza.

O presente trabalho discutirá as contribuições formativas (no âmbito acadêmico, cultural e pessoal)

do Programa das Licenciaturas Internacionais (PLI), considerando a perspectiva de quatro graduados

em Química que participaram por dois anos do Programa em Portugal. O PLI, criado em 2009, teve o

apoio do Grupo Coimbra de Universidades Brasileiras em parceria com a CAPES, sendo uma ação

governamental para incentivar a permanência e a formação inicial de professores para a Educação

Básica. Nesse sentido, o Programa incentiva a mobilidade dos estudantes de algumas licenciaturas

entre as universidades brasileiras, portuguesas e francesas. Em relação à pesquisa realizada, ela

possui uma abordagem qualitativa exploratória. A coleta de dados consistiu na realização de

entrevistas semiestruturadas com os quatro licenciados em Química que participaram do Programa.

As entrevistas foram fundamentadas em um questionário contendo nove questões, sendo a análise

dos dados feita por meio de categorizações, com base na Análise de Conteúdo proposta por Bardin.

Concluiu-se, com base nos dados e na importância da internacionalização do Ensino Superior, que o

PLI apresentou pontos positivos ao permitir a mobilidade acadêmica, o conhecimento de novas

culturas, o crescimento pessoal e profissional, o que representa uma forma de valorização e

reconhecimento dos futuros professores. No entanto, o Programa apresenta alguns pontos que

precisam ser repensados, tais como: a organização curricular das instituições estrangeiras, com um

grande enfoque nas disciplinas do Bacharelado, o que gera certo prejuízo para a formação

pedagógica dos estudantes nos cursos de Licenciaturas; a falta do acompanhamento sistemático

durante a estadia fora, inclusive com relação à condição psicológica dos estudantes; a dificuldade

que os participantes do PLI enfrentaram em seu retorno, pois não se efetivou o acolhimento e os

encaminhamentos para a reinserção acadêmica desses estudantes, conforme previsto; e a falta de

políticas públicas e institucionais que buscam a valorização da participação em Programas dessa

natureza, sobretudo em concursos públicos ou processos seletivos simplificados. Por fim, é

importante reconhecer que, mesmo assim, o PLI trouxe importantes contribuições para a formação

profissional e pessoal dos futuros professores, permitindo acesso a uma formação diferenciada.

Palavras-chave: Formação inicial de professores; Programa das Licenciaturas Internacionais;

Internacionalização no Ensino Superior, Mobilidade estudantil.

ABSTRACT

FIALHO, Josiane Aparecida Rodrigues. Academic and human repercussions of the Brazilian’s

International Program for Teaching Training on a group of Chemistry undergraduates at

Federal University of Viçosa. Undergraduate Thesis Submitted to the Department of

Chemistry in Partial Fulfillment of the Requirements for the Degree of Bachelor in Chemistry.

Federal University of Viçosa (Brazil), June 2018. Supervisor: PhD. Vinícius Catão de Assis

Souza.

This research discuss the formative contributions (academic, cultural and personal) of the

International Pre-service Teacher Program (IPSTP), considering the perspective of four Brazilians

graduates in Chemistry who participated for two years of the Program in Portugal. The IPSTP, created

in 2009, was supported by the Coimbra Group of Brazilian Universities in partnership with CAPES, a

governmental action to encourage the development of pre-service teachers for School. In this sense,

the Program favors the mobility of undergraduate students among Brazilian, Portuguese and French

universities. In relation to the research, it has an exploratory qualitative approach. Data gathered

consisted of semi-structured interviews with the four Chemistry Brazilians graduates who

participated in the Program. The interviews were based on a questionnaire containing nine

questions, and the analysis of the data was done through categorizations, based on the qualitative

content analysis proposed by Bardin. Based on the data and the importance of the University’

internationalization, it was concluded that IPSTP presented positive points by allowing academic

mobility, knowledge of new cultures, personal and professional growth, which represents a form of

appreciation and recognition of future teachers. However, the Program presents some points that

need to be rethought, such as: the curricular organization of foreign institutions, with a great focus

on the disciplines of the Bachelor, which generates some damage to the pedagogical training of

students in the courses of Bachelor's degrees; the lack of systematic accompaniment during their

stay outside, including in relation to the psychological condition of students; the difficulty that IPSTP

participants faced in their return to Brazil, since the reception and the referrals to the academic

reinsertion of these students, as planned, were not effective; and the lack of public and institutional

policies to increase participation in programs of this nature, especially in public selection processes.

Finally, it is important to recognize that even though the IPSTP has brought important contributions

to the professional and personal training of future Chemistry teachers, allowing access to

differentiated training and formative experiences abroad.

Keywords: Pre-service Chemistry Teacher; Brazilian’s International Program for Teaching Training;

University’s Internationalization; Academic Student Mobility.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 10

1.1 CAMINHOS PERCORRIDOS PARA A CONSTRUÇÃO DO OBJETO DE PESQUISA ........ 10

1.2 PROGRAMA DAS LICENCIATURAS INTERNACIONAIS (PLI): BREVE HISTÓRICO E

OBJETIVOS FORMATIVOS ............................................................................................ 11

1.3 PROGRAMAS DO GOVERNO FEDERAL QUE PROPORCIONAM VIVÊNCIAS DE

PROFESSORES E ESTUDANTES EM INSTITUIÇÕES DE ENSINO NO EXTERIOR ................ 16

1.4 IMPORTÂNCIA DA INTERNACIONALIZAÇÃO PARA AS UNIVERSIDADES, A CIÊNCIA E

A FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES ............................................ 18

2 OBJETIVOS ............................................................................................................... 21

2.1 GERAL ................................................................................................................... 21

2.2 ESPECÍFICOS .......................................................................................................... 21

3 ASPECTOS METODOLÓGICOS: AMOSTRA, COLETA E ANÁLISE DOS DADOS ............... 21

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ..................................................................................... 22

4.1 AS CONTRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS, PESSOAIS E CULTURAIS DO PLI PARA OS

LICENCIADOS EM QUÍMICA ......................................................................................... 22

4.2 AVALIAÇÃO DO PLI NA VISÃO DOS PARTICIPANTES: PONTOS POSITIVOS E

NEGATIVOS DO PROGRAMA ....................................................................................... 26

5 CONCLUSÃO E IMPLICAÇÕES DO TRABALHO PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS/QUÍMICA E

A FORMAÇÃO DE PROFESSORES ................................................................................. 30

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 32

7.1 ANEXO A .............................................................................................................. 35

7.2 ANEXO B ............................................................................................................... 36

10

1 INTRODUÇÃO

1.1 CAMINHOS PERCORRIDOS PARA A CONSTRUÇÃO DO OBJETO DE PESQUISA

Ao lançar o olhar para o percurso que trilhei na minha graduação em Química,

constato que os assuntos relacionados à formação de professores, na teoria e na

prática, estiveram presentes ao longo de todo este tempo. Pude vivenciar experiências

favorecidas pelas aulas de Instrumentação para o Ensino de Química, nos Estágios

Supervisionados, nos Congressos que participei quando estive envolvida com o

Programa de Extensão Universitária (PIBEX) e no Programa Institucional de Bolsa de

Iniciação à Docência (PIBID). O interesse pela área de formação de professores se

consolidou, não deixando margem para a dúvida com relação a seguir o caminho da

Educação.

Ao final do ano de 2017, quando decidi iniciar a Monografia, eu estava um

pouco indecisa com relação a qual tema abordar. Em uma conversa com o professor

Vinícius Catão, surgiu à ideia de realizarmos um estudo sobre o Programa das

Licenciaturas Internacionais (PLI), algo que ainda não havia sido investigado no

contexto da UFV. A princípio, realizei a leitura de dois livros: Viagem à escola do século

XXI1 e Volta ao mundo em 13 escolas2, os quais me despertaram grande interesse pela

temática que aborda a importância da internacionalização no âmbito do ensino de

Química e de outras áreas. Além disso, esse assunto representa a descoberta do novo

para mim, onde me vi desafiada a realizar um estudo mais detalhado, pois o PLI é um

programa relativamente recente, com poucos trabalhos sobre os seus impactos.

Assim, as minhas vivências durante a graduação, destacando a participação no

Centro Acadêmico de Química, também aumentaram meu interesse por questões

sociais e políticas. Nesse sentido, surgiu um maior interesse pelo estudo deste

Programa volta às licenciaturas, considerando que o PLI é uma iniciativa do governo

1 CALVO, Alfredo Hernando. Viagem à escola do século XXI: assim trabalham os colégios mais inovadores

do mundo. São Paulo: Fundação Telefônica VIVO, 2016. Disponível em: http://fundacaotelefonica.org.br /wp-content/uploads/pdfs/04-11-16-viagem-a-escola-do-seculo-xxi2.pdf. (Acesso em: 26/05/2018) 2 GRAVATÁ, André et al. Volta ao mundo em 13 escolas. São Paulo: Fundação Telefônica VIVO, 2013. Disponível em: http://educacaosec21.org.br/wp-content/uploads/2013/10/131015_Volta_ao_mundo_ em_13_escolas.pdf. (Acesso em: 26/05/2018)

11

brasileiro que busca contemplar soluções para os problemas no campo de formação,

principalmente a formação inicial de professores. A partir disso, consegui visualizar

este estudo indo de encontro à temática que sempre me despertou interesse ao longo

da graduação, que é a formação docente.

Entendendo a importância do PLI no contexto nacional de formação inicial de

professores, faz-se necessária uma discussão que possibilite traçar uma avaliação

sistemática do programa, de modo a compreender as suas contribuições e os impactos

no âmbito nacional. Além disso, acredita-se que os resultados poderão fomentar novas

discussões, pesquisas e ações inovadoras voltadas a formação de professores.

1.2 PROGRAMA DAS LICENCIATURAS INTERNACIONAIS (PLI): BREVE HISTÓRICO E OBJETIVOS FORMATIVOS

O PLI foi instituído em 2009, com o apoio do Grupo Coimbra de Universidades

Brasileiras (GCUB), sendo financiado e desenvolvido pela Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O GCUB tinha por objetivos:

Promover estruturas de cooperação nas áreas da ciência, tecnologia e inovação, fomentando a organização de redes de investigação orientadas para projetos de valor estratégico; garantir o reconhecimento recíproco dos títulos e graus acadêmicos obtidos nas instituições dirigidas pelos seus associados; promover a internacionalização das universidades; estimular e facilitar a mobilidade de professores, de estudantes e de quadros superiores da administração das Universidades. (GCUB, 2015, p. 14)

O primeiro edital do PLI foi lançado em 2010, ano em que a primeira turma de

estudantes selecionados chegou a Universidade de Coimbra, em Portugal. Nos dois

primeiros editais (2010 e 2011) o Programa viabilizou o intercâmbio apenas para a

Universidade de Coimbra. A partir do terceiro ano do Programa (2012) foi firmado um

acordo com mais dez universidades portuguesas, acrescentado assim a Universidade

Nova de Lisboa, a Universidade da Beira Interior, a Universidade do Algarve, a

Universidade de Aveiro, a Universidade de Évora, a Universidade de Lisboa, a

Universidade do Minho, a Universidade do Porto, a Universidade Técnica de Lisboa e a

Universidade Trás-os-Montes. Em 2013, no quarto ano do Programa, firmou-se um

convênio com duas Universidades francesas: a Universidade Paris-Sorbonne, que

contemplou a licenciatura em Letras (Habilitação Português/Francês), e a Universidade

12

Pierre et Marie Curie, que contemplou os cursos de licenciaturas em Biologia, Física,

Matemática e Química.

As motivações que levaram à criação do PLI foram as constantes solicitações

dos estudantes das licenciaturas nas áreas de Ciências Humanas, Biológicas e Exatas,

que alegavam a falta de oportunidades para participarem dos programas de

mobilidade internacionais. Sobretudo porque alguns destes Programas inviabilizavam a

participação dos estudantes das licenciaturas, pois não ofereciam bolsas de estudo ou

tinham um número limitado de bolsas disponibilizadas para as Universidades. Dessa

forma, o PLI em seu primeiro edital contemplou sete cursos de licenciatura: Letras,

Artes, Química, Física, Biologia, Educação Física e Matemática. Atualmente, mesmo

com os diversos cortes orçamentários colocados pelo governo federal, o PLI se

mantém selecionando estudantes dos cursos de licenciaturas das áreas de Biologia,

Física, Matemática, Química e Português (BRASIL, 2017). Isso se justifica devido o Brasil

ter um considerável déficit de professores com formação específica, o que está em

aproximadamente 250 mil docentes no Ensino Fundamental e médio, com destaque

para as áreas de Física e Química (BRASIL, 2015). Essa carência não é ocasionada pela

falta de vagas em universidades, mas devido os estudantes desistirem quando

comparam os salários dos professores com as outras profissões, como afirma o ex-

secretário de Ensino Médio e Tecnológico do MEC, Antônio Ibañez. Segundo ele, os

baixos salários não atraem os docentes dessas áreas para a sala de aula (BRASIL, 2015).

Portanto, outra motivação para a criação do PLI esta na possibilidade de um estímulo

desde a etapa inicial de formação, a entrada na carreira docente e o retorno dos

estudantes para as escolas públicas, a fim de proporcionar melhorias na Educação

Básica brasileira.

Sendo assim, a Capes lançou o Programa de Licenciatura Internacional (PLI),

cujo principal objetivo foi dar prioridade a melhoria do ensino nos cursos de

licenciatura, elevando a qualidade da graduação e a formação inicial dos professores.

Este programa prevê, entre outros resultados, uma dupla certificação, atribuída pela

instituição brasileira e pela portuguesa, bem como:

[...] ampliar a formação de docentes para o ensino básico no contexto nacional; ampliar e dinamizar as ações voltadas à formação de professores, priorizando a

13

formação inicial desenvolvida nos cursos de licenciatura; apoiar a formulação e implementação de novas diretrizes curriculares para a formação de professores, com ênfase no Ensino Fundamental e no Ensino Médio. (BRASIL, 2012, p.3)

Para participar do PLI, a Universidade candidata deve ter a licenciatura

legalmente constituída, ter sede no Brasil e possuir acordo geral de cooperação com a

instituição portuguesa a qual se pretende enviar os estudantes de graduação. O

Programa também conta com a participação dos coordenadores dos cursos da

Universidade, sendo que o proponente do projeto precisa ser um docente com

doutorado, além de estar vinculado a um dos cursos de licenciatura e ser brasileiro ou

estrangeiro com visto de residência permanente. Por ser um Programa institucional, o

estudante não se inscreve diretamente. A instituição que se inscreve por intermédio

de um coordenador, juntamente com uma equipe responsável por elaborar um

projeto. Em seguida, pré-seleciona os estudantes e recolhe os dados necessários para

a inscrição da proposta na base de dados da Capes. Cada projeto selecionado podia

conter no máximo sete estudantes. Vale ressaltar que, na área de Licenciatura em

Química da UFV (campus Viçosa), atualmente não há estudantes realizando a

mobilidade acadêmica promovida pelo PLI, pois no último edital o Projeto proposto

não foi aprovado, sendo aceito apenas o projeto de outro campus da instituição

(Florestal), como afirmou o atual coordenado do curso de Licenciatura em Química, o

prof. Efraim Lázaro Reis. Quando o projeto é aceito, o coordenador, além de selecionar

as estudantes que poderão participar, precisa acompanhá-los durante os dois anos de

duração do Programa e criar mecanismos/estratégias para esse acompanhamento.

As atividades relacionadas ao Plano de Estudo são realizadas de acordo com o

calendário da Universidade estrangeira onde se dá a mobilidade/intercâmbio, tendo o

suporte de um coordenador da instituição de origem e outro da universidade de

destino. O coordenador deve ainda acolher o estudante em seu retorno, sendo

responsável por reintegrá-lo a vida universitária, verificar questões administrativas e

burocráticas, com vistas a otimizar a conclusão dos estudos até a etapa final do curso,

quando o estudante terá a dupla titulação.

O Programa possui cunho social e, devido a isso, todo o candidato à bolsa

precisa ter cursado todo o Ensino Médio e, pelo menos dois anos do Ensino

Fundamental, em instituição pública brasileira, ou ter cursado parte do Ensino Médio

14

em escolas privadas na condição de bolsista integral, devendo comprovar a baixa

renda familiar (BRASIL, 2010; 2011; 2012).

O PLI permite que os estudantes, após realizarem os primeiros semestres de

estudos nas universidades brasileiras, prossigam seus estudos por um período de até

dois anos em outro país e, ao finalizar este período, retornem ao Brasil para o término

da formação na Universidade de origem. Entretanto, para a obtenção da dupla

titulação, o estudante deve cumprir uma quantidade específica de créditos na

Universidade onde faz o intercâmbio. Na Europa, esses números de créditos, European

Credit Transfer and Accumulation System (Sistema Europeu de Acumulação e

Transferência de Créditos), é um sistema que mede as horas obtidas pelo estudante ao

longo do desenvolvimento de diversas atividades, tais como tutorias, estágios,

projetos, trabalhos de campo, estudo e avaliações. No Programa em análise, o

estudante deve obter um total de 120 ETCS para obter a dupla titulação, sendo que no

primeiro ano, o estudante deve ter, no mínimo, 48 ECTS. Caso não venha a atingir o

mínimo de créditos para a aprovação, a continuidade dos estudos no segundo ano

caberá à deliberação da Capes, devendo esta emitir um parecer pelo Conselho

formado por representantes da universidade portuguesa e da Capes, com o apoio do

GCUB, tendo coma base o relatório de avaliação do estudante, elaborado pelo

coordenador do projeto (BRASIL, 2012).

O PLI proporciona aos estudantes brasileiros a graduação-sanduíche. Para isso,

eles contam com bolsas mensais da Capes, passagens aéreas e auxílios para seguro-

saúde e moradia. Para os estudantes realizarem a mobilidade e adquirirem a dupla

titulação, o Ministério de Educação (MEC) não realiza intervenções diretas. Exige

apenas a formalização de um convênio entre as duas instituições parceiras e que os

estudantes cumpram a carga horária integral do curso, as atividades extras exigidas no

currículo brasileiro, além da equivalência dos estudos realizados fora do Brasil.

O Programa oferece aos estudantes diversas vantagens, como os valores

agregados ao currículo e a formação diferenciada quando se vive a experiência de

estudar fora país, além da capacidade de conhecer outras organizações curriculares,

outras formas de abordar os conteúdos, ou seja, metodologias de ensino

15

diversificadas. Agrega-se a isso a convivência com outras culturas, com diferentes

formas de se organizar em um contexto, a vivência com a organização sociopolítica de

outro país e com as novas relações educacionais/formativas que se estabelecem. Por

esses e outros aspectos, verificou-se um crescimento de interesse no PLI quando

avaliamos os resultados dos editais do Programa no período 2010-2012, conforme

pode ser verificado na Tabela 1.

Tabela 1. Quantidade de projetos aprovados por edição do PLI.

Programa de Licenciaturas Internacionais Projetos aprovados

2010 – 2012 27

2011 – 2013 38

2012 – 2014 64

Fontes: BRASIL (2010, 2011, 2012).

Ressaltando que cada projeto contemplava sete estudantes, é possível verificar

o crescimento no número de participantes do PLI ao longo dos anos de 2010, 2011 e

2012. Esse crescimento se deve ao aumento das redes internacionais de cooperação,

as parcerias com base em benefícios mútuos, a busca pela internacionalização das

Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) brasileiras e a colaboração por parte das

Universidades.

Do ponto de vista dos estudantes, esse crescimento verificado anteriormente

ocorreu devido a um conjunto de motivações, como a possibilidade de estudar em

universidades com reconhecimento e prestígio internacional em sua área de formação

e em um país promissor em termos de oportunidades, buscando a qualificação

profissional. Visualizam na mobilidade acadêmica a possibilidade de desenvolver um

conhecimento cultural, criando a expectativa do amadurecimento, do

autoconhecimento, tornando-se protagonista do seu próprio conhecimento

(autonomia). Além disso, como muitos estudantes nunca tiveram a oportunidade de

viajar anteriormente para o exterior, encontram aí a possibilidade de aprender ou

aperfeiçoar outro idioma e vivenciar novas culturas.

Nesse sentido, cabe ressaltar que a internacionalização dialoga com o processo

de globalização que temos vivido há décadas, sendo esta caracterizada pela

16

“interdependência crescente entre as várias regiões do mundo resultante do rápido

aumento do fluxo de bens, serviços, capital, pessoas e informação” (LAUS, 2012, p.43).

Assim, entende-se que atualmente a:

[...] circulação internacional passa a ser um trunfo decisivo na competição entre as elites nacionais e internacionais, onde as competências e as titulações obtidas no exterior vêm-se mostrando recursos cabais nos debates sobre a reforma do Estado, nas transformações do campo científico e na atribuição de poderes a instituições supranacionais. (ALMEIDA et al., 2004, p. 9).

Knight (2004, p. 9, apud LAUS, 2012, p. 44) afirma que a internacionalização “é

o processo de integrar uma dimensão internacional e intercultural nas funções de

ensino, pesquisa e extensão de uma instituição”. Gacel-Ávila (1999) destaca que o

processo de internacionalização deve ser visto como uma abertura institucional para o

exterior, entendendo que este processo deve contemplar “uma estratégia de mudança

institucional que origine o desenvolvimento de uma nova cultura onde se valorem os

enfoques internacionais, interculturais e interdisciplinares” (GACEL-ÁVILA, 1999, p. 38).

1.3 PROGRAMAS DO GOVERNO FEDERAL QUE PROPORCIONAM VIVÊNCIAS DE PROFESSORES E ESTUDANTES EM INSTITUIÇÕES DE ENSINO NO EXTERIOR

A formulação e implantação de políticas educacionais destinadas à

internacionalização da Educação Superior no Brasil teve início ainda no século XX,

atendendo um anseio do mercado de trabalho que exige cada vez mais dos indivíduos

novas competências na área profissional, demandando uma preparação mais

qualificada, além do conhecimento de outras línguas, culturas e experiências que

extrapolam a área específica de formação.

O processo de internacionalização no Brasil teve suporte da Capes, que

concedeu auxílios e bolsas por meio dos seus programas. As bolsas de estudos

concedidas eram atreladas a projetos conjuntos de pesquisa ou a parcerias

universitárias que se pautaram em acordos entre universidades brasileiras e

estrangeiras, com o intuito de promover a troca de conhecimentos, com

reconhecimento de créditos acadêmicos e a aproximação entre os currículos. Vale

ressaltar que os programas e ações visavam a mobilidade dos docentes e discentes,

levando a uma maior capacitação para a formação de profissionais no Ensino Superior,

o que poderia favorecer o desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil.

17

Contemplando alguns programas fomentados pelo governo federal, podemos

inicialmente mencionar o programa Ciências Sem Fronteiras (CsF), que teve o objetivo

de abranger as Engenharias e demais áreas tecnológicas; Ciências Exatas e da Terra;

Biologia, Ciências Biomédicas e da Saúde; Computação e Tecnologias da Informação;

Tecnologia Aeroespacial; Fármacos; Produção Agrícola Sustentável; Petróleo, Gás e

Carvão Mineral; Energias Renováveis; Tecnologia Mineral; Biotecnologia;

Nanotecnologia e Novos Materiais; Tecnologias de Prevenção e Mitigação de Desastres

Naturais; Biodiversidade e Bioprospecção; Ciências do Mar; Novas Tecnologias de

Engenharia Construtiva; Formação de Tecnólogos). Este Programa buscou promover a

consolidação, expansão e internacionalização da Ciência e da Tecnologia por meio do

intercâmbio dos estudantes nas diversas áreas mencionadas, com a finalidade de

estreitar a interação da graduação e da pós-graduação brasileira com competitivos

sistemas educacionais, buscando assim uma melhoria em relação à tecnologia e

inovações brasileiras. O programa CsF buscou também criar oportunidades para atrair

pesquisadores do exterior ou estabelecer parcerias com pesquisadores brasileiros nas

áreas mais importantes das Ciências, sendo esse uma iniciativa em conjunto dos

Ministérios da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) e do Ministério da Educação

(MEC), por meio de suas respectivas instituições que providenciam o auxílio (CNPq e

Capes), além das Secretarias de Ensino Superior e de Ensino Tecnológico do MEC.

O Programa Institucional de Internacionalização da CAPES (PrInt) também está

incluído como uma ação do governo federal abrangendo a seleção de projetos

institucionais de internacionalização propostos por Instituições de Ensino Superior ou

de Institutos de Pesquisa. O PrInt é um programa institucional que, em seus objetivos,

inclui financiamento para diversas modalidades, sendo: graduação plena, auxílio para

missões de trabalho no exterior, recursos para manutenção de projetos, bolsas no

exterior (doutorado sanduíche, professor visitante sênior, capacitação de cursos de

curta duração) e bolsas no país (professor visitante no país, jovem talento com

experiência no exterior, pós-doutorado com experiência no exterior). Todas as

modalidades citadas visam à ampliação do conhecimento, expandindo a qualidade da

pesquisa em ensino, Ciência e Tecnologia.

18

Outro programa do governo federal que pode ser citado é o Programa SETEC –

CAPES/NOVA. Este Programa buscou proporcionar vivências dos professores da rede

estadual no exterior, favorecendo a capacitação dos profissionais que atuam na

Educação Básica. Esse programa ofereceu bolsas individuais e auxílio deslocamento,

podendo se inscrever professores em efetivo exercício na Rede Federal, constituída

pelas seguintes instituições: Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia (IF),

Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefet), Escolas Técnicas vinculadas a

Universidades Federais e Colégio Pedro II. Ao longo da participação no Programa, os

profissionais que atuam na Rede Federal tiveram a oportunidade de adquirir domínios

de quatro habilidades linguísticas, tal como compreender, falar, ler e escrever em

inglês, considerando o contato direto com as práticas acadêmicas e culturais das

instituições consorciadas ao Northern Virginia Community College, nos Estados Unidos.

Além disso, proporcionou aos profissionais participantes ferramentas para uma

formação continuada de professores na preparação de novas metodologias de ensino.

Após o retorno dos participantes, surgiram novas possibilidades de futuros

intercâmbios de professores e estudantes, visto que foram estabelecidas parcerias

com os profissionais que atuam na área da educação nos Estados Unidos, podendo

assim contribuir para o crescimento na qualidade da Educação Básica brasileira.

1.4 IMPORTÂNCIA DA INTERNACIONALIZAÇÃO PARA AS UNIVERSIDADES, A CIÊNCIA E A FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA DE PROFESSORES

A internacionalização busca, dentre outras coisas, consolidar a excelência na

área de pesquisa, nas atividades de gestão das universidades e na docência por meio

da mobilidade de profissionais que constituem o corpo acadêmico e da equipe

administrativa, podendo gerar mudanças organizacionais, inovações curriculares e

crescente desenvolvimento profissional dentro de uma instituição de ensino.

Em relação à importância da internacionalização para as universidades, verifica-

se um desafio em reconhecer suas necessidades como instituição formadora, tendo

iniciativas que aproximem o mundo coorporativo dos cursos universitários. Isso pode

favorecer a criação de um ambiente profissional capaz de permitir uma formação que

atenda as exigências do mercado de trabalho, com profissionais preparados para

ocupar diferentes funções no Brasil e no mundo.

19

Para se tornar uma universidade reconhecida, necessita-se realizar pesquisas

com alto grau de impacto em todas as suas áreas. No universo da instituição, não é

suficiente possuir um ou dois profissionais qualificados. Há a necessidade de adquirir

uma gama de professores críticos e pesquisadores hábeis, acarretando assim uma

expansão da instituição para além dos seus limites regionais. A expansão da dimensão

internacional da Educação Superior, mais do que uma opção, é uma responsabilidade

de todas as instituições frente às exigências formativas para os profissionais do século

XXI (UNESCO, 1998).

Com o reconhecimento por parte da instituição dos benefícios da

internacionalização para os estudantes, os funcionários, a sociedade e a própria

instituição de ensino, inicia-se alguns passos que devem ser destacados, como o

desenvolvimento de metas e planos para impulsionar o processo de

internacionalização, tornando-o algo institucional. Isso implica em ampliar as relações

entre as metas de internacionalização, a missão institucional e seus objetivos baseados

em ensino, pesquisa, extensão e gestão. Posteriormente, é necessário integrar a

dimensão internacional no desenvolvimento de projetos das unidades e dos

departamentos da instituição, utilizando estratégias que incluam o ensino, a educação

continuada, a pesquisa, a mobilidade acadêmica, administrativa e, principalmente, a

inovação curricular. Além disso, é importante desenvolver a avaliação sistemática da

internacionalização, de acordo com os padrões de qualidade, estabelecendo comitês

de Relações Internacionais como agente de mudanças institucionais e levar em

consideração as necessidades da instituição, estabelecendo para isso um plano que dê

visibilidade às atividades de internacionalização (SOUZA, 2010).

Considerando a internacionalização no campo das Ciências, pode-se destacar a

importância da chamada pesquisa colaborativa, onde os conhecimentos se comunicam

em amplas comunidades de aprendizagem, estabelecendo redes de contato, o que

proporciona diversas possibilidades de atuação para os pesquisadores. Atualmente, há

intercâmbios frequentes em prol da internacionalização da Ciência, sobretudo quando

pesquisadores estrangeiros vêm para o Brasil e os pesquisadores brasileiros vão para o

exterior. Porém, alguns dados comprovam o baixo número de publicações de

pesquisadores brasileiros em colaboração internacional, alegando que a Ciência

20

brasileira é muito voltada para dentro do país. Além disso, o Brasil possui ainda

significativa dificuldade no aspecto da troca do conhecimento, pois poucos

pesquisadores de outros países demonstram interesse em desenvolver trabalhos nas

instituições brasileiras (STALLIVIERI, 2004). Assim, o Brasil necessita de políticas para

estimular a vinda de pesquisadores estrangeiros e, principalmente, criar condições que

atraem o retorno dos pesquisadores brasileiros, que encontram diversas

oportunidades em outros países. O objetivo da mobilidade entre os pesquisadores

brasileiros deve ser voltado para o desenvolvimento da Ciência e não um intercâmbio

que ocorra apenas por uma casualidade, mas também por uma necessidade, que se

torna difícil reconhecer por não existir políticas que acompanham e avaliam os

programas de circulação internacional de pesquisadores (VELHO, 2011).

Uma das preocupações das políticas educacionais no Brasil passa pela formação

de professores. As bases da formação de professores estão diferenciadas entre os

bacharéis e os licenciados, distinguidos pelo acréscimo de disciplinas pedagógicas

destinadas ao ensino. Nesse âmbito, a internacionalização tem o papel de incentivar a

formação de docentes em nível superior para atuar na Educação Básica, contribuindo

para uma maior valorização do magistério. Além disso, a internacionalização busca

elevar a qualidade da formação inicial de professores nos cursos de licenciaturas,

promovendo uma integração entre a Educação Básica brasileira e o Ensino Superior.

Todas as ações que podem ser fomentadas pela internacionalização na vida de futuros

professores ocorrem com as diversas experiências profissionais e pessoais que são

possíveis vivenciar no exterior, por meio dos programas que oferecem a mobilidade

dos professores e estudantes. Dessa forma, o professor é figura central nas atividades

de internacionalização, com o objetivo de prepará-los profissional, social e

emocionalmente para o seu desempenho num contexto com demandas diversas e

relações plurais. Não pelo uso da autoridade que lhe é delegada no ambiente

educacional, mas por ser o facilitador/mediador do processo de internacionalização

curricular e o promotor das atividades que podem auxiliar o desenvolvimento das

competências interculturais junto aos estudantes (STALLIVIERI, 2016).

21

2 OBJETIVOS

2.1 GERAL

Fomentar uma discussão que visa traçar a avaliação sistemática das

contribuições acadêmicas, culturais e pessoais proporcionadas pelo PLI a um grupo de

licenciados em Química da Universidade Federal de Viçosa.

2.2 ESPECÍFICOS

• Analisar os pontos positivos e negativos do PLI apontados pelo grupo de

licenciados em Química da UFV e os impactos do Programa.

• Discutir algumas das ações do PLI no campo da formação inicial dos professores

de Química da UFV.

3 ASPECTOS METODOLÓGICOS: AMOSTRA, COLETA E ANÁLISE DOS DADOS

A pesquisa aqui proposta apresenta caráter qualitativo exploratório, visando

compreender o estudo por meio da coleta de dados narrativos, de particularidades e

experiências individuais. A coleta de dados consistiu na realização de entrevistas

semiestruturadas, fundamentadas em um questionário contendo nove questões que

podem ser verificadas em Anexo. As entrevistas foram realizadas individualmente com

quatro licenciados em Química pela Universidade Federal de Viçosa que participaram

do PLI por dois anos na Universidade de Coimbra (Portugal), selecionados em editais

distintos do programa. Foram eleitos pelos critérios previstos nos editais, além disso, já

tinha concluído o primeiro ano do curso de Licenciatura em Química. A definição da

amostra se deu com base na disponibilidade de cada um deles para participarem da

entrevista e buscando contemplar diferentes editais do PLI (2010 e 2012). Cabe

destacar que duas entrevistas foram realizadas pessoalmente e as demais via internet,

pois os entrevistados se mudaram de Viçosa após concluírem a graduação.

A análise dos dados foi feita por meio de categorizações das respostas, com

base na análise de conteúdo proposta por Laurence Bardin, que trabalha com o

reconhecimento de palavras ou expressões significativas encontradas no material

coletado para sistematização dos resultados. Neste instrumento analítico

interpretativo, as respostas aos questionários são analisadas e descritas por meio de

22

três etapas: a pré-análise, caracterizada pela leitura dos dados coletados para uma

análise preliminar; a categorização, quando se faz uma leitura mais aprofundada do

material, de modo a organizar os dados em classes de respostas; e o terceiro, que é

assinalado pela interpretação dos dados obtidos (BARDIN, 2015).

No presente trabalho, as categorias foram criadas de forma a agrupar as

principais contribuições para a formação profissional, cultural e pessoal dos

licenciados, destacando as falas dos entrevistados. Os dados foram discutidos com o

orientador da pesquisa, em um processo de validação conhecido como triangulação.

Para manter o anonimato, os licenciados serão identificados pela letra Lx, em que x é

um número de ordem atribuído aleatoriamente aos quatro participantes da pesquisa.

Além disso, todas as respostas das entrevistas serão apresentadas em itálico e usando

letra com fonte menor, com o objetivo de distingui-las das demais ideias trazidas no

corpo do texto. Por fim, destaca-se que a construção do trabalho contemplou quatro

fases delimitadas da seguinte forma: (i) definição do objeto a ser estudado; (ii)

preparação para a coleta dos dados; (iii) análise dos dados; e (iv) conclusões e

implicações para o ensino de Ciências/Química.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 AS CONTRIBUIÇÕES PROFISSIONAIS, PESSOAIS E CULTURAIS DO PLI PARA OS LICENCIADOS EM QUÍMICA

Com base nos dados analisados, foi possível constatar que os participantes do

PLI consideraram diversos pontos importantes em relação às contribuições

promovidas pela participação no Programa. L2, por exemplo, evidenciou a contribuição

no caráter de motivação do curso de Licenciatura em Química. Segundo ele, o PLI

apresentou muitas características que favoreceram a formação de professores e

colaboraram para a permanência de muitos estudantes no curso. Nesse sentido, ele

destaca que:

Eu não queria ser professor, tanto que eu era do Bacharelado e fomos para a Licenciatura. Mas quando eu cheguei lá tomei gosto para ser professor por que as aulas de EDU eram discussões muito interessantes e eu via como a sociedade em Coimbra levava a sério a questão dos estudos. Eu fui a escolas públicas, estruturas de outro mundo. A gente achava que o COLUNI era uma maravilha, mas lá as escolas públicas que nós visitamos eram bem melhores.

23

Assim eu pude ver como a educação é importante, me deu um incentivo de voltar para o Brasil e ser um excelente professor. (L2)

A partir das respostas apresentadas por L1, verificam-se indícios de que as

práticas voltadas à formação de professores que foram vivenciadas durante a

participação no Programa se mostraram muito relevantes para constituição do

profissional. Além disso, foi possível inferir como seria interessante se essas atividades

fossem realizadas aqui no Brasil, trazendo maiores contribuições para a formação dos

futuros professores da Educação Básica brasileira, conforme destaca L1:

Nós fizemos uma aula dentro da Universidade para os alunos da disciplina e essa aula era gravada em vídeo. Depois assistimos aos vídeos com a turma, que é um momento de constrangimento... você se assistir dando aula, mas o professor fala sobre algumas coisas como sua postura, seu tom de voz e sobre a disposição do quadro. Isso é interessante porque você se vê dando aula e essa experiência eu não tive aqui na UFV. (L1)

A fala da L1 também apresentou indicativos de como as diferentes visões

trazidas por vivências distintas dos licenciandos que participaram do PLI, oriundos de

diversas regiões brasileiras, ajudaram a construir um conhecimento crítico e reflexivo

acerca de diferentes assuntos, lidando com as incertezas e dialogando com as

diferenças. Além disso, toda essa vivência permitiu construir um entendimento sobre a

importância do consenso entre as partes e o respeito ao contraditório, promovendo a

formação dos participantes como cidadãos mais críticos.

O que era um ponto que sempre gerava um caos na aula, por que alguém levantava a mão e falava assim, porque no Brasil a gente tem isso e isso e é assim, ai levantava outra pessoa e falava não, no Brasil não tem isso. A gente viu também como era o PIBID em várias regiões, as pessoas comentavam e, às vezes, a configuração do programa era totalmente diferente do que a gente vive aqui [em Viçosa]. Então, às vezes nessas discussões a gente aprendia muito. (L1)

A diferença do modo como acontecia a formação de professores no Brasil e em

Portugal ficou evidente na descrição apresentadas, considerando as avaliações e as

distintas metodologias utilizadas em cada país, como por exemplo, a aplicação de

apenas uma prova ao final de cada semestre por disciplina, além disso, a falta de

rigorosidade quanto a presença dos alunos durante as aula. Além disso, com base na

resposta apresentada por L2, também foi possível afirmar que o PLI contribui para a

formação humana dos participantes, pois no seu ponto de vista o Programa permitiu

24

uma grande independência no licenciando e ajudou a consolidar uma maior identidade

como estudante de licenciatura (futuro professor de Química):

Eu gostava muito desse estilo por que te incentivava a estudar, a ser independente, mas se você corresse atrás de um professor para te ajudar ele estava ali. (L2)

É importante rememorar neste momento uma reflexão quanto ao objetivo

principal do PLI, que foi/é contribuir para uma melhor formação dos futuros

professores. Com relação a essa especificidade do Programa, temos indícios de alguns

pontos levantados pelos entrevistados, sobretudo quando ressaltaram a importância

do PLI para a sua formação profissional, com destaque para: (i) a oportunidade de

conhecerem uma Universidade diferente, que utiliza metodologias distintas em

relação ao Brasil; (ii) a chance de cursar disciplinas que não são oferecidas no Brasil e

que possuem conteúdos diferentes dos que são oferecidos na UFV; (iii) a vivência em

Estágios, convivendo com diversos professores e outros estudantes que

compartilhavam seus conhecimentos e trocavam relevantes experiência no campo

profissional; (iv) a oportunidade de frequentar bibliotecas e trabalhar em laboratórios

muito bem estruturados, como disponibilidade de diversos reagentes, materiais e

instrumentos que muitos dos licenciandos não conheciam; (v) a vivência em aulas com

conteúdos específicos da Educação que era diferenciadas, com discussões e

abordagens teóricas mais aprofundadas, onde tiveram a oportunidade de aprender a

elaborar provas, trabalhos e saber como avaliá-los; (vi) a oportunidade de aprender

novos métodos de ensino e avaliação da aprendizagem, adquirindo novas técnicas

para mediar o conhecimento científico em sala de aula; (vii) a participação em eventos

relevantes para o ramo da Química; e (viii) o enriquecimento do currículo, gerado pela

oportunidade da dupla titulação, pois o licenciando que participa do PLI tem a chance

de adquirir o diploma da instituição de origem e da instituição onde realizou o

Programa na Europa. A fala de L2 confirma os pontos mencionados anteriormente,

destacando as contribuições que se julgou relevante para a formação profissional:

[...] lá a gente tinha noite europeia da Ciência em que sentávamos em uma sala da universidade e falava sobre a Ciência. Eu tive um contato muito diferente, como vamos falar sobre Ciência e vai ser uma coisa banal, não vai ser como se precisarmos fazer um seminário, um congresso ou um simpósio para falar de Ciência. Era, vamos fazer uma reuniãozinha hoje à noite e vamos falar sobre Ciência e isso foi diferente. Também tinha os museus

25

dentro da faculdade, sendo uma vivência diferente, colocando que Ciência é algo comum, não é algo muito assustador, do irreal ou fora do comum. Ciências era algo do tipo, vamos tomar um café e falar de Ciência. Nesse sentido, eu tive uma aproximação muito grande, a Ciência está muito próxima de mim agora, não é uma coisa tão absurda, não é uma coisa tão fora do padrão do real. E também essas reuniões eram muito boas onde eu tive contato com vários equipamentos que são muito caros e que não temos aqui na UFV, equipamentos de espectrofotometria que eram muitos mais caros dos que temos aqui [para as aulas práticas]. Participamos também de palestras de métodos que são diferentes do pessoal da eletroquímica, que é uma pesquisa que eu não vejo muito aqui na UFV. Então lá eu tive contato com alguns ramos da Química que não estamos tão acostumados a ver por aqui e também a questão de vivenciar uma cultura muito diferente. Tive a oportunidade de visitar museus, de viajar, tivemos muitas excursões de alunos. Visitei o lugar onde tem a colisão de partículas na Suíça. (L1)

No sentido de permitir acesso a novos horizontes, L3 afirmou que o PLI também

contribuiu para uma melhor formação cultural dos participantes, pois eles moraram

por um tempo em outro país, vivenciando novas culturas. Emerge assim um olhar

diferenciado por meio das novas experiências como, por exemplo, viajar por diferentes

países, conhecer locais distintos, visitar museus e pontos turísticos, tal como foi

descrito na fala seguinte:

Com relação à parte cultural, podíamos viajar e conhecer outros locais. Visitar museus e pontos turísticos que contribuíram muito na questão cultural. Eu não aprendi somente coisas relacionadas a Portugal em si, mas como também de outros países que eu pude ter contato e isso me vez ter outra visão. A História, que no Ensino Médio eu não gostava da disciplina, consequentemente não sabia muita coisa. Mas depois de você visitar o local, você vê a importância de ter o conhecimento adequado e isso mudou o meu ponto de vista. (L3)

Ainda sobre essa questão, pode-se inferir como a formação cultural está

interligada as contribuições pessoais e profissionais, promovendo um desenvolvimento

dos licenciandos também como futuros professores.

[...] essa questão cultural, acho que acrescenta bastante. Chegamos a ter uma semana cultura brasileira lá, achei bastante interessante onde tivemos a oportunidade de mostrar um pouco da nossa cultura e de forma interdisciplinar, por exemplo, fiz um trabalho voltado para a Química do lança perfume e era através dessa experiência que eu tive lá, toda a pesquisa que foi feita para esse trabalho eu pude trazer para o Brasil e inclusive utilizei isso em sala de aula. (L4)

Desse modo, com base nas entrevistas realizadas, é possível inferir que o PLI

pode ser considerado uma das políticas públicas do governo federal que buscou

aprimorar a formação docente, o desenvolvimento da educação e da Ciência, além de

firmar a permanência dos estudantes no curso de Licenciatura, tal como relatou L2:

26

O modelo do PLI, ideia de ficarmos dois anos, ter o compromisso de você passar nas matérias se não você volta processado e perde o diploma, essa rigidez dele, essa seriedade, essa questão de ter um professor que te acompanha, além desse acordo entre uma universidade estrangeira e a brasileira previamente firmada, isso era para ser modelo para Ciências Sem Fronteiras ou para qualquer outra área. A ideia de parceria de dois países, de duas universidades em prol do desenvolvimento da educação e da Ciência. (L2)

4.2 AVALIAÇÃO DO PLI NA VISÃO DOS PARTICIPANTES: PONTOS POSITIVOS E NEGATIVOS DO PROGRAMA

Na perspectiva dos quatro licenciados que participaram do PLI, há aspectos

positivos e negativos a serem considerados. Foram apontadas questões em relação à

formação de professores que poderiam ser mais bem maturadas e melhor refletidas.

Nesse aspecto, ressalta-se a diferença do modelo dos cursos de Licenciatura no Brasil,

voltados a uma formação de professores com atuação na Educação Básica, e o modelo

do curso de Licenciatura em Portugal, onde priorizam as disciplinas referentes ao

Bacharelado em Química, mesmo tendo algumas disciplinas de cunho pedagógico.

Sobre os pontos positivos, a fala de L2 demonstra que a participação no PLI promoveu

um olhar diferenciado para a profissão docente, permitindo entender o que de fato é a

Licenciatura, além de compreender o sentido da profissão docente:

Eu acho que o impacto positivo é na critica que você faz a educação brasileira. Você sempre vai criticar por que eu vou ensinar isso para os meus alunos, eu vou explicar dessa forma, qual o impacto e a reflexão que vai ter na vida. A ideia de você não vai dar aula para um robô, mas para um ser pensante que vai usar aquilo em algum momento. Eu não espero que um aluno meu entenda para que sirva um processo industrial para fazer HCl, mas eu espero que aqueles princípios básicos da Química possa aplicar no dia a dia, que eles possam entender um raciocínio de um químico para que ele possa resolver qualquer problema na vida dele. E eu acho que isso foi uma coisa que me impactou no PLI, pensar como você vai dar aquela aula, como os alunos vão absorver ou como você vai avaliar seu aluno e se você quer ser mesmo um professor. (L2)

L1, por sua vez, destaca como ponto positivo a organização prévia do

Programa, com uma participação efetiva dos professores da UFV que deram suporte

para que ocorresse a mobilidade acadêmica, diferente do que ocorre em outros

Programas de internacionalização do governo federal, onde não há participação direta

dos professores e dos coordenadores das instituições:

Um dos pontos fortes do Programa, dos pontos positivos é a gente sair do Brasil com um planejamento, que foi uma das grandes falhas do Ciências sem Fronteiras, onde os alunos saiam daqui sem ter uma organização do

27

currículo que iria cumprir lá. Então a gente saiu daqui com um currículo todo pronto para os dois anos. (L1)

L2 traz como indício de ponto positivo do Programa o bom relacionamento que

teve com as pessoas em Portugal ao longo do período que esteve participando do PLI:

Eu não tive dificuldade de adaptação em Portugal. O pessoal em Coimbra tratou a gente muito bem. Coimbra é uma cidade universitária desde sua fundação. Ela foi a primeira capital de Portugal e depois que fundou ela, no outro ano fundaram a faculdade. Então tem mais de 700 anos. É tipo Viçosa, uma cidade antiga, então os portugueses de Coimbra são muito receptivos a estrangeiros, porque lá sempre foi assim. Então nessa parte de adaptação com a cidade foi muito tranquila, não sofri xenofobia. De vez enquanto havia aquelas pessoas meio babaca assim, mas tem em todos os lugares do mundo. No geral, fui muito bem tratado e muito bem recebido. (L2)

Com base em algumas falas, foi possível inferir que os participantes do PLI

puderam desenvolver competências relacionadas à formação profissional e pessoal.

Mas muitas destas competências não estavam relacionadas com a sala de aula e a

docência, como foi analisado nesta fala de L1: “Como professora mesmo eu não tive

nenhuma experiência, pois as disciplinas da licenciatura lá não são direcionadas para

os alunos da graduação, as disciplinas da licenciatura são direcionadas para o

mestrado” (L1). Sendo assim, temos indícios que o objetivo principal do PLI de valorizar

os profissionais para atuarem na Educação Básica brasileira pode não ter sido

plenamente atingido. Isto pode ser uma crítica construtiva a ser avaliada pela Capes,

considerando que todo Programa passa durante a sua implementação por ajustes, de

modo a se alinhar/adequar aos propósitos a que se destina e atender as demandas

formativas que se propõe como política pública de impacto para o país que a fomenta.

L2 destacou que ao concluir sua participação no PLI ele não teve mais nenhuma

ação relacionada ao Programa. Não houve debates sobre as experiências vivenciadas

no exterior e nem a retomada de como isso foi importante para a sua formação. Ou

seja, quais os impactos a participação em um Programa desta relevância e magnitude

poderiam ter para a Universidade brasileira e a sociedade como um todo. Isto pode ser

verificado na fala a seguir:

Mas o que eu acho que pecou muito também foi o fato de, por exemplo, não ter criado algum seminário para reunir os alunos depois para gerar discussões, para a gente poder ter algum debate. Terminou o programa, foi cada um para a sua universidade, não teve essa coisa de vamos rever o que a gente viu lá, vamos falar de como foi. Não teve esse encontro para falar

28

sobre o Programa para a gente discutir alguma coisa, para falar dos impactos do programa. (L2)

Verificou-se nas falas apresentadas a preocupação por parte de todos os

participantes em trazer algum retorno para o Brasil. Esse fato permite afirmar que o

governo falhou nesse aspecto relacionado ao retorno dos estudantes, pois deveria ter

previsto uma melhor forma para que fossem socializadas as contribuições na

instituição de origem, sobretudo para aqueles que não tiveram a oportunidade de

participar do Programa e também para a Educação Básica brasileira, que clama por

conhecer novas práticas e estratégias metodológicas diferenciadas. Uma maior

integração com os estudantes que passaram dois anos no exterior poderia gerar

possíveis aberturas de novas iniciativas que viriam a colaborar com a melhoria do

curso e com a melhoria da educação no país. Além disso, seria uma forma de o

participante dar um retorno para o investimento público que lhe foi feito, ou seja, uma

forma de retribuição que geraria benefícios tanto para os estudantes que estivessem

retornando, quanto para a instituição e a sociedade como um todo. Isso talvez pudesse

gerar uma maior valorização do professor na esfera pública, pois este estaria melhor

qualificado para exercer a sua função, como destaca L2:

Por exemplo, eu tenho hoje o diploma de Coimbra, o diploma daqui e estou fazendo o meu mestrado, se eu terminar e for dar aula no Estado vou ganhar por volta de dois mil reais, mas se eu for dar aula em uma escola particular talvez ela vá ver que tenho uma formação melhor e vai pagar quatro mil, então que atrativo eu tenho. O governo investiu em mim e na hora de eu dar um retorno sendo um bom professor para o Brasil, atuando em escolas públicas, o outro lado das escolas privadas me atraiu mais. Então eu acho que falta esse incentivo do governo para que os alunos que foram para o PLI ou para as pessoas que possui uma formação no mestrado sejam atraído para rede pública federal, estadual ou municipal. (L2)

Considerando que o Programa é voltado para a formação inicial de professores,

pode-se afirmar que alguns aspectos importantes não foram cumpridos, sendo eles

bastante relevantes e que devem ser repensados pelos formuladores das políticas

públicas no Brasil, a fim de fornecer uma formação de professores mais eficaz:

[...] achei que faltou um enfoque maior nessa ideia mesmo de valorizar nossa Educação Básica brasileira, seja alguma espécie de relatório que deveria ser feito ou alguma espécie de atividade extra que fosse disponibilizada daqui para a gente aplicar lá, por exemplo. Com esse enfoque voltado para a educação Química para o Ensino Médio, talvez tivesse sido mais eficaz. Porque o quê fomos fazer lá foi simplesmente fazer um curso assim como poderia ter feito bacharel em Química na UFV. (L4)

29

Com relação à dupla titulação, pode-se inferir a partir das falas que todos os

participantes reconhecem a grande oportunidade que tiveram por ter estudado em

uma Universidade no exterior, o que certamente não seria possível sem o fomento do

PLI/Capes, pois o Programa priorizou a participação de estudantes com nível

socioeconômico mais baixo. Porém, nas falas apresentadas foram encontradas

diferentes visões acerca da importância da aquisição do diploma em países distintos,

como se pode verificar a seguir:

[...] se for pensar no caso deu ir a uma escola particular falar sobre o meu currículo e da minha formação em Coimbra tem um impacto. Agora se eu for fazer um concurso público não tem nenhum valor, infelizmente. Pelos menos os dois que eu fiz não pontuava a mais pelo fato deu ter me formado fora do Brasil. Na entrevista era considerado, mas na hora de fazer, por exemplo, as provas do estado não vão considerar. Então, nesse aspecto eu acho que deveria ter alguma mudança. (L2)

Realmente ter outro diploma, ter oportunidade de estudar em outro país conta ponto em nosso currículo. (L3)

Em relação às dificuldades enfrentadas pelos participantes, L1 destacou a

grande falta que sentiu da presença de um psicólogo durante a participação no

Programa, pois passaram por momentos com alta pressão psicológica como, por

exemplo, ao ter que cumprir elevados números de créditos em um curto período de

tempo. Quando os estudantes são selecionados para o PLI, uma das exigências é que

todos passem por uma avaliação psicológica, porém não tiveram esse apoio por parte

do Programa ao longo do período de participação:

Então era uma pressão muito grande, ficávamos sentindo essa pressão o tempo todo. Tudo era isso. Tem que cumprir, tem que cumprir. A gente via que os alunos estavam muito estressados, sentia isso muito forte. Eu tinha amigos que na última semana, estavam enlouquecendo, dando crise, chorando na rua, ficando louco. (L1)

Além disso, a ajuda de um psicólogo e o apoio da gestão e da coordenação local

do PLI se torna necessários quando os estudantes retornam a sua instituição de

origem, pois ocorre uma perda de contato com sua realidade local, com os

professores, com os Programas e projetos locais e com os grupos de amigos, o que

dificulta a adaptação e a inserção na sua volta:

Eu soube de histórias de outras pessoas que retornaram e não conseguiram se adaptar, entraram em depressão, ficaram muito mal ao retornar ao seu país e não porque a Europa era muito melhor que o Brasil, mas por ter voltado para uma realidade que não estava acostumado, não estava

30

habituado. Nós saímos de Viçosa já tinha um problema de segurança, mas não tão forte quando eu retornei. Eu fiquei em choque. Era o tempo todo caso de assalto, eu estava assustada com a cidade, estava preocupada, pois eu estava vivendo dois anos antes em um ritmo muito tranquilo quanto à violência. Quando eu voltei para cá, eu pensava: meu Deus é tão assustador... e eu tive que lidar com esse retorno que foi muito complicado. (L1)

Por fim, todos os entrevistados demonstraram que não houve uma iniciativa

para a socialização da experiência por parte do governo ou da instituição de origem,

não levando em consideração o quanto tais relatos poderiam contribuir para outros

estudantes que visam à mobilidade acadêmica. Isso considerando que as experiências

quando não são compartilhadas com as outras pessoas, se tornam limitadas somente

àqueles que tiveram a oportunidade de vivenciá-las, gerando assim pouco impacto.

5 CONCLUSÃO E IMPLICAÇÕES DO TRABALHO PARA O ENSINO DE CIÊNCIAS/ QUÍMICA E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES

Nos anos recentes, a internacionalização vai assumindo diversas formas,

passando a ser discutida e valorizada em todo ensino superior de várias maneiras, com

destaque para a cooperação internacional, redes de pesquisa internacional e a

mobilidade estudantil. Assim, PLI se insere neste contexto com o objetivo de abranger

a formação inicial de professores, constituindo-se como um Programa de mobilidade

acadêmica de modo que os estudantes adquiriram a dupla titulação, que é emitida por

meio de uma graduação sanduíche.

No contexto brasileiro da política nacional de formação inicial de professores,

entende-se que o PLI veio somar e contribuir para essa formação por se tratar de um

Programa internacional. Do ponto de vista dos licenciados que participaram da

pesquisa, o PLI possibilitou o estudo em universidades europeias renomadas, onde

puderam contar com uma infraestrutura diferenciada de laboratórios e bibliotecas,

além da participação em eventos, possibilidade de novas experiências e conhecimento

da cultura de outros países. Todos esses aspectos proporcionaram aos licenciados

relevantes contribuições pessoais, culturais e profissionais. Eles também tiveram a

oportunidade de repensar durante a mobilidade internacional o que, de fato, é uma

Licenciatura (qual o sentido do se formar professor de Química). Tudo isso catalisado

pelas diferentes experiências vivências no âmbito internacional.

31

Uma questão destacada pelos licenciandos foi o bom acompanhamento por

parte dos coordenadores dos projetos da Universidade Federal de Viçosa ao longo de

suas participações no Programa. Este monitoramento já estava previsto no Edital de

Seleção, que assegurava viagens dos coordenadores à instituição no exterior.

Entretanto, um dos pontos negativos apontados pelos licenciandos foi a falta de

acompanhamento por parte do Programa, avaliando a necessidade de um psicólogo

durante o processo de seleção do PLI. Acredita-se que esse aspecto deve ser

repensado, pois é notória a necessidade de um melhor acompanhamento do

Programa, inclusive com relação aos aspectos psicológicos dos participantes.

De acordo com os licenciandos, um ponto negativo do PLI se refere à sua

própria identidade de formação de professores, pois as universidades estrangeiras

priorizavam mais as disciplinas referentes ao bacharelado. Nessa visão, verificou-se a

necessidade do Programa repensar os objetivos ao qual foi criado e, assim, elaborar

práticas voltadas à formação inicial de professores. Isso considerando a necessidade de

os estudantes vivenciarem situações reais para o seu desenvolvimento como futuros

docentes, destacando assim a importância do alinhamento do PLI com as licenciaturas.

A partir dos estudos realizados neste trabalho, nota-se que o Programa não

previu uma efetiva interação dos estudantes que passaram dois anos no exterior com

os estudantes que ficaram na UFV. Além disso, o PLI não ofereceu aos estudantes o

acolhimento e encaminhamentos necessários para uma reinserção acadêmica. Nesse

campo, os responsáveis pelo Programa deveriam criar estratégias para assegurar que o

retorno dos licenciandos ocorresse de maneira satisfatória em suas universidades de

origem, para que desse modo fosse possível a eles desenvolverem ações e projetos

com vista a retribuírem às instituições e toda sociedade um pouco dos investimentos

que receberam ao longo do Programa.

Ao final do estudo, foi possível evidenciar que o PLI apresenta-se como uma

iniciativa de valorização para as Licenciaturas e, dessa forma, para a profissão docente

(formação inicial de professores). Mas deve-se repensar sua operacionalização,

considerando que o governo federal precisa elaborar políticas públicas ou

32

institucionais que busquem valorizar em concursos ou processos seletivos

simplificados a participação dos licenciados em programas dessa natureza.

Conclui-se, por fim, que o PLI proporcionou uma experiência sobre a

internacionalização no âmbito das licenciaturas, provendo contribuições acadêmicas,

pessoais e culturais aos participantes, com o objetivo de favorecer a formação inicial

de professores. Porém, apresentou alguns pontos que precisam ser aprimorados para

que as futuras ações no campo de formação de professores possam ocorrer de

maneira mais efetiva junto aos estudantes dos cursos de Licenciatura.

Com relação às implicações para o ensino de Ciências/Química o estudo sobre o

PLI proporciona para o futuro a realização de trabalhos investigativos buscando um

olhar para, “como as vivências culturais favorecem a atuação de um professor de

Química na formação dos estudantes com vistas à construção da cidadania e

valorização da diversidade na Escola?”. Além disso, pode-se promover no futuro a

construção de outro trabalho com relação a essa temática, sendo este uma análise

baseada em outros aspectos, como “quando se considera a necessidade de formação

de professores de Ciências/Química para a Educação Básica, qual a porcentagem, em

nível nacional, de licenciandos em Química que participaram do PLI e posteriormente

vão atuar na Escola?”. Estes são alguns possíveis trabalhos investigativos que podem

promover importantes reflexões sobre uma formação de professores que faça sentido

para os futuros docentes de Ciências/Química.

6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Tradução de Luís Antero Reto, Augusto Pinheiro. 3a reimpressão da 1ª ed. São Paulo: Edições 70, 2015.

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35

7 ANEXO

7.1 ANEXO A ROTEIRO PARA ENTREVISTA SEMIESTRUTURADA

1. Considerando a experiência vivenciada por você durante os dois anos de participação no

Programa de Licenciaturas Internacionais, em Portugal, quais as principais contribuições para a

sua formação profissional, cultural e humana?

2. O Programa das Licenciaturas Internacionais atendeu as suas expectativas iniciais? Descreva

pontos positivos e negativos que você avalia após vivenciar a experiência de cursar parte da

licenciatura em Química na Europa.

3. No Programa de Licenciaturas Internacionais você teve a oportunidade de vivenciar a formação

científica em uma universidade europeia, conhecendo as suas particularidades. Descreva

algumas experiências acadêmicas relevantes vividas em Portugal que você considera

importantes para uma formação profissional diferenciada?

4. Um dos objetivos do Programa de Licenciaturas Internacionais foi valorizar e estimular a

formação de professores de Ciências da Natureza para a Educação Básica no Brasil. Nessa

perspectiva, você considera que o programa alcançou de forma satisfatória o seu objetivo?

5. Atualmente você atua como professor na Educação Básica ou está cursando a pós-graduação?

Quais os motivos te levaram a seguir esse caminho após a participação no Programa de

Licenciaturas Internacionais?

6. A oportunidade de estudar fora do Brasil e adquirir a dupla titulação acadêmica, ou seja, obter

tanto o diploma da UFV quanto o de uma instituição estrangeira, certamente acrescenta muito

ao currículo. Mas de outro ponto de vista, como você avalia o Programa para quando se pensa

na formação de bons professores para atuarem na Educação Básica do Brasil?

7. Após vivenciar interfaces diferentes, onde ocorreu tanto a formação para o curso de

Licenciatura em Química quanto à formação do profissional de Educação Básica, quais são os

pontos positivos e os impactos do programa na vida do futuro professor?

8. Quais foram os principais desafios encontrados e como você classificaria a qualidade do

programa? Você pretende voltar a estudar fora em alguma nova oportunidade?

9. Por fim, o que você gostaria de contar sobre essa experiência em ter participado do Programa

de Licenciaturas Internacionais? Algo que considere relevante e que não foi mencionado

anteriormente.

36

7.2 ANEXO B TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Prezado(a) participante,

Convidamo-lo(a) a participar da pesquisa que investigará os impactos do Programa das

Licenciaturas Internacionais (PLI) na formação acadêmica e pessoal de um grupo de licenciandos em

Química da Universidade Federal de Viçosa, desenvolvida pela acadêmica Josiane Aparecida Rodrigues

Fialho, sob a orientação do prof. Vinícius Catão de Assis Souza (Departamento de Química – UFV).

Entendendo a importância do PLI para a formação inicial de professores, faz-se necessária uma

discussão que possibilite avaliar algumas das ações sistemáticas do Programa, de modo a compreender

as suas contribuições e impactos no contexto da UFV. Espera-se, assim, que os resultados deste trabalho

fomentem novas discussões, pesquisas e ações inovadoras voltadas à formação dos professores de

Ciências/Química. Dessa forma, a análise das respostas apresentadas nos permitirá compreender

alguns dos pontos positivos e negativos do PLI e os seus possíveis impactos no contexto do curso de

licenciatura em Química da UFV, com vista à análise e elaboração de ações no campo da formação inicial

e continuada dos professores de Ciências/Química. Para tanto, os seguintes aspectos serão respeitados:

(i) liberdade de se recusar a participar ou retirar seu consentimento em qualquer fase da pesquisa, sem

penalização alguma e sem prejuízo ao seu cuidado; (ii) garantia de sigilo quanto aos dados confidenciais

envolvidos na pesquisa e a identidade dos entrevistados; e (iii) participação voluntária na pesquisa, sem

ônus algum para os envolvidos.

Nesses termos, declaro ter sido informado(a) e concordo em participar, como voluntário(a),

fornecendo informações para a pesquisa descrita anteriormente ao participar da entrevista proposta.

Viçosa, _____ de _______________ de 2018.

_____________________________________________

Assinatura para a obtenção do consentimento

Licencianda responsável pela pesquisa: Josiane Aparecida Rodrigues Fialho

E-mail: [email protected]

Telefone: (31) 9 9548-2374

Professor Orientador: Vinícius Catão de Assis Souza

E-mail: [email protected]

Telefone: (31) 3899-4888