impactos do petróleo no desenvolvimento sócioeconômico do...

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Universidade Federal do Espírito Santo Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas Departamento de Economia Impactos do Petróleo no Desenvolvimento Sócio-Econômico do Espírito Santo Bruno Crespo da Costa Dias Dezembro de 2008

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Universidade Federal do Espírito SantoCentro de Ciências Jurídicas e Econômicas

Departamento de Economia

Impactos do Petróleo no DesenvolvimentoSócio­Econômico do Espírito Santo

Bruno Crespo da Costa Dias

Dezembro de 2008

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Impactos do Petróleo no DesenvolvimentoSócio­Econômico do Espírito Santo

Monografia   apresentada   ao   Departamento   de   Economia   do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas da Universidade Federal do Espírito Santo, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Ciências Econômicas. Orientado pelo Professor Rogério Arthmar

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente gostaria de agradecer ao meu pai, meu ídolo, meu amigo e meu companheiro que sempre me ajudou nos momentos difíceis e que foi o responsável por ter me aconselhado a fazer este tema tão abrangente e interessante.

Não poderia deixar de mencionar minha querida mãe, minha parceira e amiga que tanto amo e de quem tenho orgulho de ser filho, que muito me ajudou na estruturação e na ortografia deste trabalho.

Gostaria de agradecer ao Walter Serralheiro, grande amigo que pôde me ensinar todas as ferramentas necessárias para a formatação deste trabalho, e que também me deu apoio e carinho nos momentos de aperto.

Impossível deixar de mencionar meus irmãos, que mesmo longe sempre estarão comigo nos pensamentos, e com quem sempre pude contar em todos os momentos de dificuldade.

E claro, não posso deixar de citar  Verônica, o amor da minha vida, a pessoa que mais teve compreensão comigo durante a realização desse trabalho, minha namorada querida que tanto me incentivou e que realmente representa muito na minha vida.

Meus sinceros agradecimentos ao professor Rogério Arthmar, que teve paciência comigo, que me orientou com muita competência e responsabilidade; e sem dúvida, a todos os professores do Departamento de Economia da Universidade Federal do Espírito Santo, que foram fundamentais a minha formação ­  em particular, a professora Maria José, que mesmo não sabendo, foi uma grande educadora, e me ajudou muito em meu percurso acadêmico.

Gostaria também de citar meus professores da Universidade Estadual de Maringá, com quem tive a oportunidade de aprender e muito, no início do curso; em particular, meus sinceros agradecimentos ao professor Joaquim Miguel Couto. 

Agradeço a todos os meus amigos, que com certeza, tiveram grande participação na minha vida acadêmica, e que sem dúvida deixarão saudades.

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LISTA DE GRÁFICOS E TABELASGráficosGráfico 1: Evolução da distribuição de royalties no Brasil, 1999 – 2007 16

Gráfico 2: Distribuição de royalties no Espírito Santo, 1999 – 2007 17

Gráfico 3: Evolução da produção de petróleo no Espírito Santo – Terra e Mar 1996 – 17Gráfico 4:  Reservas totais de petróleo no Espírito Santo 18Gráfico 5: Evolução do preço do petróleo 2000 – 2007 20Gráfico 6: Curva Natural de extração do petróleo (Hubbert) 30Gráfico 7: Pico de Hubbert 31Gráfico 8: Produção brasileira de petróleo, 2008 – 2012 32Gráfico 9: Aumento do PIB per capita em percentual (%) de 2000­2005 37

Gráfico 10: Aumento do PIB em percentual (%) de 2000 – 2005 38Gráfico 11: Evolução do crescimento populacional dos municípios do ES citados, 2000 – 39Gráfico 12: Evolução do PIB do Espírito Santo, 2000 – 2006 40Gráfico 13: Variação do Volume do Valor Adicionado Bruto das Unidades da Federação na 

Região Sudeste41

Gráfico 14: Variação real do PIB a preços de mercado para o ES e BR – 2002 a 2006 41

TabelasTabela 1: Forma de distribuição dos royalties que excedem 5% (cinco por cento), 14

Tabela 2:  Distribuição da Participação Especial conforme Lei 9.478/97 15Tabela 3:  PIB, População e PIB per capita dos principais municípios beneficiários de 

royalties34

Tabela 3.1: Presidente Kennedy 34Tabela 3.2: Linhares 34Tabela 3.3: São Mateus 34Tabela 3.4: Serra 35Tabela 3.5: Aracruz 35Tabela 4:  PIB , População e PIB per capita de três municípios não beneficiários de royalties 36

Tabela 4.1:  Vila Velha 36Tabela 4.2: Cariacica 36Tabela 4.3:  Guarapari 36Tabela 5: Ranking do aumento do PIB per capita para os municípios estudados 37

Tabela 6: Ranking do crescimento do Produto Interno Bruto dos municípios citados 38

Tabela 7: Ranking do crescimento Populacional dos municípios citados 2000 ­ 2005 39

Tabela 8: Crescimento Industrial dos municípios de 2000 – 2005 40Tabela 9: Variação dos indicadores sociais do ES para até 2007 44Tabela 10: Evolução da receita do governo do Espírito Santo em comparação com a 

arrecadação de royalties e as participações especiais (1998 – 2003)47

Tabela 11: Evolução da receita do governo do Espírito Santo em comparação com a arrecadação  de royalties e as participações especiais (2004 – 2006)

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Tabela 12: Características da  aplicação de royalties dos paÍses analisados 62

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 6CAPÍTULO 1  HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO CONCERNENTE À ATIVIDADE 

PETROLÍFERA E SEU IMPACTO NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO8

1.1.  Histórico da Legislação 81.1.1.  Período Pré­Petrobrás 81.1.2.  Período de exclusividade da Petrobrás 111.1.3.  Fim do Monopólio da Petrobrás e Novo Estatuto do Setor Petrolífero 131.2.  Cenário Atual e Perspectivas 161.2.1. Impacto da Lei 9478/97 para os Municípios Capixabas. 161.2.2. A Era do pré­sal e sua polêmica 20CAPÍTULO 2 IMPACTO DO PETRÓLEO NO ESPÍRITO SANTO: MALDIÇÃO DOS 

RECURSOS E DESINDUSTRIALIZAÇÃO?27

2.1. Análise de Crescimento e Desenvolvimento nos Municípios Capixabas 332.2. O Espírito Santo e a Lei Nº 116/2006 44CAPÍTULO 3 IMPACTO DOS RECURSOS DO PETRÓLEO NO DESENVOLVIMENTO 

ECONÔMICO: ANÁLISE COMPARATIVA DE DIFERENTES MODELOS INTERNACIONAIS 

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3.1. Modelo de Aplicação de Royalties na Noruega 503.2. Modelo de Aplicação de Royalties em Dubai 533.3. Modelo de Aplicação de Royalties no Alaska 543.4. Modelo de Aplicação de Royalties na Venezuela 553.5. Modelo de Aplicação de Royalties na Nigéria 593.6. Modelo de Aplicação de Royalties na Indonésia 603.7. Modelo de Aplicação de Royalties no Canadá 61CAPÍTULO 4 CONCLUSÃO: GESTÃO E APLICAÇÃO DOS ROYALTIES NO ESPÍRITO 

SANTO63

REFERÊNCIAS 66

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INTRODUÇÃO

A indústria do petróleo em solo capixaba vive um momento de verdadeira explosão. O Estado passou da 4ª. colocação em 2007 para a 2ª. colocação em 2008 no ranking dos estados   brasileiros   que   mais   produzem   petróleo.   Paralelamente,   nosso   estado   tem apresentado grandes ganhos em receitas oriundas da extração petrolífera. Atualmente é o segundo estado brasileiro que mais recebe royalties1, ficando atrás apenas do Estado do Rio de Janeiro, que recebeu um valor de R$ 1.881.166.664,08, e na frente do Rio Grande do Norte, que recebeu R$ 180.151.778,16 (dados referentes ao acumulado de outubro de 2008   –   fonte:   Anuário   Estatístico;   ANP).   O   que   representava   um   valor   de   R$ 143.817.775,78 em royalties para dezembro de 2007, atinge atualmente um montante de R$ 214.085.219,32 para outubro de 2008, o que gera grandes expectativas em relação ao impacto dessas divisas no desenvolvimento sócio­econômico do Espírito Santo. 

Com o pontapé inicial da extração no pré­sal2 em solo capixaba, aumentam ainda mais essas  expectativas. Afinal, a exploração dos grandes volumes de petróleo recentemente detectados  naquela  área   trará  a  necessidade  de  se   investir   na  ampliação  de  portos, construção de navios e plataformas, etc.; estimulará a formação de uma enorme cadeia produtiva, que, espera­se, deve trazer grandes retornos financeiros ao estado do Espírito Santo.   É   indispensável   que   se   desencadeie,   a   partir   daí,   todo   um   processo   de desenvolvimento endógeno capaz de construir uma economia que possa sobreviver ao esgotamento do petróleo – pois este, por ser um bem finito, não renderá tanta riqueza para sempre.

Esperam­se, também, grandes melhoras na renda e nos níveis de emprego da população capixaba, proporcionadas pela aplicação correta dos royalties do petróleo.

Para isso, é de vital importância que o Governo capixaba saiba aplicar bem os recursos provenientes da “bênção negra”, a fim de não ser o Espírito Santo mais um dos vários 

1 Os royalties constituem uma das formas mais antigas de pagamento de direitos. A palavra royalty tem sua origem no inglês royal, que significa "da realeza" ou "relativo ao rei". Originalmente, royal era o direito que os reis tinham de receber pagamento pela extração de minerais feita em suas terras. No Brasil, os royalties são aplicados   quando   o   assunto   é   recursos   energéticos,   como   o   petróleo   e   o   gás   natural,   sendo   uma compensação financeira que as empresas exploradoras e produtoras desses bens não­renováveis devem ao Estado e cujo pagamento é feito mensalmente. O dinheiro arrecadado através dos royalties  tem várias aplicações, dentre elas o investimento em pesquisa científica e o repasse aos estados e municípios que exploram,   refinam   ou   distribuem   o   petróleo.   O   controle   e   a   distribuição   dos  royalties  está   sob   a responsabilidade da Agência Nacional do Petróleo(ANP).

2  A camada pré­sal é uma faixa de 200 km de largura que se estende por cerca de 800 quilômetros, abaixo do leito do mar, em lâmina d´água entre 1 e 3 mil metros de profundidade, entre o Espírito Santo e Santa Catarina;  engloba as bacias do Espírito Santo, Campos e Santos.O petróleo encontrado nesta área está a profundidades que  superam os  7  mil  metros,  abaixo  de  uma extensa  camada de  sal  que  conserva  a qualidade do petróleo. Vários campos e poços de petróleo já foram descobertos no pré­sal, entre eles o de Tupi, o principal até agora. (Diário do Nordeste – 3/9/2008)

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Estados brasileiros a sofrer a chamada maldição dos recursos naturais3 ou a malversação dos  royalties  –   pois   essas   receitas,   de   acordo   com   análises   realizadas   por   alguns estudiosos, em muitos municípios do Norte Fluminense, Rio Grande do Norte e Bahia, acabam por beneficiar apenas uma pequena camada social; nessas localidades, agrava­se a concentração de renda, e expande­se uma população de miseráveis, atraídos pelas oportunidades da indústria do petróleo mas  excluídos das mesmas.  

Este trabalho tem como objetivos verificar se, e até que ponto, o Espírito Santo já estaria experimentando uma versão local de maldição de recursos naturais e/ou efeitos sociais perversos do  boom  do petróleo, além de levantar questões e sugestões a respeito da política a ser implantada para a gestão das receitas do petróleo no Espírito Santo.

3 Cunhou­se a expressão "maldição dos recursos" para caracterizar situações em que o aumento da receita com a exportação de recursos naturais valoriza demais a moeda local e leva à desindustrialização do setor manufatureiro, que fica menos competitivo em relação aos produtos externos. Com isso, as divisas oriundas da   exportação   do   petróleo   ou   do   recurso   natural   abundante   não   se   traduzem   em   crescimento   e desenvolvimento econômico e social, e produzem, paradoxalmente, um empobrecimento da região afetada.

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CAPÍTULO 1:HISTÓRICO DA LEGISLAÇÃO CONCERNENTE À ATIVIDADE PETROLÍFERA E SEU IMPACTO NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

1.1 Histórico da Legislação

A história  da  exploração petrolífera  no  Brasil  pode ser  dividida  em  fases diretamente ligadas à   legislação que normatiza o setor. Assim, temos os períodos: 1858­1953, que poderíamos chamar de etapa pré­Petrobrás; 1954­1997, que corresponde ao período de exclusividade da Petrobrás; e a fase iniciada com o novo estatuto do setor petrolífero, a partir de 1997, que perdura até os dias de hoje. Com as recentes descobertas de petróleo em águas territoriais brasileiras, no campo geológico chamado de pré­sal – descobertas estas   que   projetam   um   salto   gigantesco   no   volume   estimado   de   nossas   reservas petrolíferas ­, já está em discussão uma nova alteração na legislação para o setor, como veremos adiante. 

1.1.1. Período pré­Petrobrás:

A história do petróleo no Brasil começa em 1858, quando Marquês de Olinda concede uma autorização para José  de Barros Pimentel explorar betume em terras situadas às margens do rio Marau, na Bahia.

Após vários poços serem perfurados sem sucesso, o engenheiro agrônomo Manoel Inácio Bastos constatou que os moradores de Lobato, na Bahia, utilizavam o óleo apenas para iluminação da cidade,  o  que,  mais   tarde  descoberto,  provocou o   interesse do capital privado 

De  acordo  com estudos  divulgados  na  Sindipetro­CE,  até   1938,  os  capitais  privados nacionais e estrangeiros podiam ser aplicados em quaisquer atividades petrolíferas no País. Os capitais internacionais da indústria de petróleo concentravam­se, principalmente, nas   mãos   das   empresas   resultantes   do   desmembramento   da   Standard   Oil,   norte americana,   em   1911,   e   da   Royal   Dutch/Shell,   empresa   formada   pela   união   de   duas empresas, uma holandesa e outra inglesa. Entretanto, ainda com base nos estudos da Sindipetro­CE,  nada  de  significativo   foi   feito  no  País  em conseqüência  dos seguintes fatores:

Na Venezuela, no México, no Oriente Médio e em alguns outros paises, as multinacionais tinham excelentes  concessões;  a  atividade petrolífera  nesses paises   tinham um baixo custo, além de pagarem baixas  taxas e royalties,   impostos ou participações.  Por esta 

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razão,   não   investiam   nada   significativo   fora   das   áreas   que   geologicamente   são extremamente favoráveis para conter expressivas jazidas de petróleo; 

Com o domínio da tecnologia de refino e do transporte internacional, as refinarias, que geralmente eram localizadas nos seus países de origem, detinham a maior fatia do lucro em que a atividade petrolífera proporcionava.Dessa forma, na prática era um monopólio no refino. Assim, pagando petróleo a preços ínfimos (reduzindo com isso o repasse para os países que permitiam a exportação no seu território) e vendendo derivados a preços elevados, não havia porque investir em exploração e refino em países como o Brasil;

O empresariado nacional  não tinha  tecnologia nem recursos  financeiros para  investir maciçamente nesse segmento.A distribuição dos derivados de petróleo  no País era considerada cartelizada;

O País importava derivados diretamente, mediante operações entre filial­matriz das   multinacionais   que   distribuam   os   produtos   no   território   nacional,   com possibilidade de superfaturamento nas importações;

Politicamente   campanhas   eram   desenvolvidas   para   mostrar   não   só   a  incapacidade do povo brasileiro para assumir um risco da magnitude do negócio  petróleo,  e  até  mesmo eram perseguidos  os  que  defendiam a  idéia  de  que poderia haver petróleo no País” (Sindipetro­CE, 2008).

Em 1907 foi criado o Serviço Geológico e Mineralógico Brasileiro (SGMB), ocasionando o aumento substancial da atividade de perfuração de poços em bases mais profissionais. Sondas foram compradas, geólogos e engenheiros de minas brasileiros foram contratados e integrados à estrutura de pesquisa e perfuração para petróleo no SGMB. Em 1933, foi criado o Departamento Nacional da Produção Mineral  (DNPM). Então, no contexto de uma disputa  entre  posições nacionalistas  e  empresários  estrangeiros   interessados  na exploração do petróleo no Brasil,  Getúlio Vargas, através do decreto lei de nº 395, em 29 de abril de 1938, criou o Conselho Nacional do Petróleo (CNP), que dava ao governo o controle sobre as atividade de refino e exploração do petróleo ( Lucchesi,1998:20).

Após o óleo ter sido descoberto em Lobato­BA, com uma organização mais eficaz graças aos órgãos criados em 1907 e ao CNP , é descoberto em solo brasileiro, em 1941, na Bacia do Recôncavo, o primeiro campo de petróleo viável comercialmente do país, o de Candeias.

Ainda segundo Lucchesi:

No  início,  a  exploração de petróleo  no Brasil   teve como participantes alguns empreendedores privados,  embora em grande parte  financiados por   recursos públicos e utilizando equipamentos do governo federal, de governos estaduais,  SGMB, DNPM e,  posteriormente,  do CNP. Caracterizou­se,  principalmente no  início, pelo amadorismo e pela falta de equipamentos e recursos, situação que melhorou sensivelmente com a entrada em cena do SGMB, do DNPM e, em 

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especial, do CNP (Lucchesi, 1998:5)

Em 1953, as idéias nacionalistas eram muito presentes no cenário político e econômico internacional, graças à influência das obras de Keynes e suas aplicações nas principais economias do planeta – a começar pela economia americana. Como se sabe, o governo dos EUA adotou políticas keynesianas para fugir da crise de 1929, e chegou a atingir o pleno emprego no período pós guerra. Isso criava um ambiente ideológico favorável à participação aberta do Estado na economia. Não foi diferente no Brasil, e Getúlio Vargas, através da Lei nº 2004/53, depois de várias descobertas de poços de petróleo em solo brasileiro,   cria  o  Petróleo  Brasileiro  S/A  –  PETROBRÁS.    De  acordo  com a    LEI  nº 2004/53, fica estabelecido que: 

Art. 1º Constituem monopólio da União:

I ­ a pesquisa e a lavra das jazidas de petróleo e outros hidrocarbonetos fluídos e  gases raros, existentes no território nacional;

II ­ a refinação do petróleo nacional ou estrangeiro;

III ­ o transporte marítimo do petróleo bruto de origem nacional ou de derivados de   petróleo   produzidos   no   País,   e   bem   assim   o   transporte,   por   meio   de condutos, de petróleo bruto e seus derivados, assim como de gases raros de qualquer origem.

Art. 2º A União exercerá, o monopólio estabelecido no artigo anterior:

I   ­  por meio do Conselho Nacional do Petróleo, como órgão de orientação e fiscalização;

II   ­   por   meio   da   sociedade   por  ações  Petróleo   Brasileiro   S.  A.   e  das  suas subsidiárias, constituídas na forma da presente lei, como órgãos de execução  (LEI 2.004/53).

A lei estabelecia que, de todo óleo extraído, deveria ser obrigatório o pagamento de uma indenização   aos   Estados   e   Municípios   onde   a   lavra   fosse   efetuada,   por   parte   das empresas petrolíferas ou subsidiárias,  no valor  de 5% de  toda produção extraída.  Os Estados, por sua vez, teriam que repassar, aos Municípios envolvidos no processo de extração, uma quantia de 20% do valor recebido pela União, cuja aplicação deveria ser direcionada   preferencialmente   à   produção   de   energia   elétrica   e     pavimentação   de rodovias.

Para finalizar nossa breve recapitulação deste importante período da história do petróleo no Brasil, citamos Honorato, para quem

A Petrobras foi criada no contexto de um dos maiores, senão o maior movimento social que se tem notícia na história do Brasil relativo a uma ação pública. A Campanha “O Petróleo é Nosso” mobilizou políticos, artistas, intelectuais, sindicatos, donas de casa, 

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enfim, toda a sociedade brasileira. Não por coincidência a criação da Petrobras é vista pelos historiadores como o mais importante ato nacionalista do Brasil e um dos maiores da América Latina (Honorato, 2008:9).

1.1.2 Período de exclusividade da Petrobrás

Após a criação da Petrobrás, era obviamente muito necessário  que o Brasil adquirisse ganhos em conhecimento e tecnologia. Nosso país era muito carente em mão de obra especializada; a atividade petrolífera brasileira apresentava uma demanda crescente sem uma   oferta   de   trabalhadores   capaz  de   suprir   tal   aumento.  Assim,   foram  contratados técnicos estrangeiros em grande número, sobretudo, americanos; 

“[...]  os  esforços de produção e  prospecção  inicialmente concentravam­se no Recôncavo Baiano e na Amazônia até 1961 e após essa data, foi marcada por  presença   cada   vez   significativa   de   técnicos   brasileiros   e   concentração   de  esforços   ainda   no   Recôncavo,   mas   também   nas   demais   bacias   cretáceas  costeiras” (Luccheshi,1998:22).

Em 1956, a Petrobras produzia cerca de 11 mil barris por dia (bpd), enquanto que, nesse mesmo ano, o México produzia 240 mil bpd, o Peru cerca de 53 mil e a Argentina 97 mil. Entretanto,   o   crescimento   da   produção   ocorreu   de   forma   acelerada,   e   em   1963   a Petrobras já produzia cerca de 98 mil bpd (MOURA, 2003).

Um ano depois, com a  Lei Federal nº 3257, de 02 de setembro de 1957, as normas para a distribuição   dos   recursos  advindos  da   exploração   do  petróleo   foram  modificadas.  As empresas petrolíferas ou parceiras subsidiárias agora teriam que obrigatoriamente pagar uma indenização de 4% sobre o valor do óleo extraído aos Estados ou territórios onde fossem   realizadas   as   lavras,   e   agora   os   Municípios   passariam   a   receber   1%   de indenização ­ mas apenas aqueles que fizessem tal lavra ou extração. Essa indenização continuou   sendo   paga   trimestralmente,   devendo   seus   recursos   ainda   ser preferencialmente aplicados em geração de energia e pavimentação de rodovias.

Em 1968, o Brasil  começa a produzir petróleo em águas marítimas. Graças à   fase de euforia   então   vivida   pela   economia   brasileira,   mais   tarde   denominada   de   “milagre econômico” pelos historiadores, o governo brasileiro passou a incentivar cada vez mais a indústria petrolífera. Esta, então, atingiu um novo estágio, tornando­se capaz de produzir petróleo num primeiro campo marítimo: Guaricema, em Sergipe­Alagoas.

Em 1973, o Brasil, e todos os países dependentes de importações de petróleo, passaram por um momento de crise, devido ao choque do petróleo imposto pelos paises árabes. A dependência do Brasil, que importava em 1973 cerca de 80% do petróleo que consumia, gerou uma escalada nas  taxas de  inflação,  e  levou ao racionamento do consumo de combustíveis(Ward, 2006).

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A ameaça de interrupção do crescimento econômico brasileiro por falta de petróleo fez com que  a  Petrobrás   intensificasse  os  esforços  para  encontrar  o   tão  desejado   “ouro negro” e dar uma resposta à pressão e à insegurança decorrentes do chamado choque do petróleo.  Em novembro de 1974, veio  a  primeira  boa notícia:  a empresa descobrira  o primeiro  campo de  petróleo  da  bacia  de  Campos,  o  de  Garoupa.  Depois,  em  rápida sucessão, foram descobertos Pargo, Namorado e Badejo, em 1975; Enchova, em 1976; Bonito e Pampo, em 1977. Novas descobertas foram realizadas na Bacia de Campos em 1984: o Campo de Marimbá e o gigante Albacora. Segundo Lucchesi (cit., p. 29), 500 mil barris por dia foi a produção atingida ao final de 1984, configurando uma antecipação de quase um ano das metas estabelecidas pela Petrobrás.

Em 27 de dezembro de 1985, foi  implantada a Lei Federal nº 7453, determinando que agora   as   indenizações   aos   Estados   e   Municípios   envolvidos   na   atividade   petrolífera também concerniriam as extrações realizadas nas plataformas continentais, e alterando também o valor das indenizações a serem pagas. Pelos novos critérios da lei, os Estados e   territórios   confrontantes   com   poços   produtores   receberiam   1,5%;   os   Municípios confrontantes e os pertencentes às áreas geoeconômicas ficariam com 1,5%. Além disso, um Fundo Especial seria desenvolvido, para ser distribuído a todos os Estados, Territórios e Municípios. A distribuição sobre a produção em terra não foi modificada,  permanecendo como nos moldes anteriores.

Porém, em 1986, foi criada a Lei nº 7525, estabelecendo novas regras para a distribuição dos recursos. O valor de 1,5% do valor do óleo bruto extraído seria agora baseado nas áreas geoeconômicas de produção do óleo.  Assim, de acordo com a  localização dos Municípios, as indenizações seriam pagas em valor proporcional a cada área. Então, de acordo com a Lei nº 7.525/86, o valor repartido aos municípios confrontantes ficou da seguinte forma: 60% (sessenta por cento) aos Municípios que integram a zona principal; 10% (dez por cento) aos Municípios que integram a zona secundária; e 30% (trinta por cento) aos de zona limítrofe.

Em 1988, com a nova Constituição em vigor, a  Lei foi novamente modificada. A nova Lei Federal nº.  7990/89 teve o propósito de  impedir que os recursos dos  royalties  fossem utilizados em pagamentos de dívidas ou de pessoal, além de redefinir a compensação financeira pela extração de gás natural e petróleo em territórios, terrestres ou marítimos, de Municípios, Estados e Distrito Federal. De acordo com o Art.27, fica estabelecida a obrigatoriedade do pagamento do percentual de 5% (cinco por cento) sobre o valor do óleo bruto ou gás extraídos, aos respectivos Municípios, Estados e Distrito Federal. Além de   definir   os   percentuais   a   serem  pagos,   dependendo   de  onde   a   lavra  ocorrer,   fica estabelecido que o pagamento agora deverá ser feito mensalmente; e fica proibido o uso dos royalties para o pagamento de dívidas e de pessoal.

Art.27 “A sociedade e suas subsidiárias ficam obrigadas a pagar a compensação  financeira   aos   Estados,   Distrito   Federal   e   Municípios,   correspondente   a   5% (cinco por cento)  sobre o valor  do óleo bruto,  de xisto betuminoso e do gás  extraído de seus respectivos territórios, onde se fixar a lavra do petróleo ou se  

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localizarem instalações marítimas ou terrestres de embarque ou desembarque  de   óleo   bruto   ou   de   gás   natural,   operados   pela   Petróleo   Brasileiro   S.A.  (Petrobrás), obedecidos os seguintes critérios: 

I ­ 70% (setenta por cento) aos Estados produtores; 

II ­ 20% (vinte por cento) aos Municípios produtores; 

III   ­   10%   (dez   por   cento)   aos   Municípios   onde   se   localizarem   instalações  marítimas ou terrestres de embarque ou desembarque de óleo bruto e/ ou gás  natural. 

§ 4º É também devida a compensação financeira aos Estados, Distrito Federal e  Municípios  confrontantes,  quando  o  óleo,  o  xisto  betuminoso  e  o  gás   forem extraídos da plataforma continental nos mesmos 5% (cinco por cento) fixados no caput deste artigo, sendo 1,5% (um e meio por cento) aos Estados e Distrito  Federal e 0,5 (meio por cento) aos Municípios onde se localizarem instalações  marítimas ou terrestres de embarque ou desembarque; 1,5% (um e meio por  cento) aos Municípios produtores e suas respectivas áreas geoeconômicas; 1% (um   por   cento)   ao   Ministério   da   Marinha,   para   tender   aos   encargos   de  fiscalização e proteção das atividades econômicas das referidas áreas e 0,5% (meio por cento) para constituir um fundo especial a ser distribuído entre todos  os Estados, Territórios e Municípios. 

§ 6º Os Estados, Territórios e Municípios centrais,  em cujos lagos, rios,  ilhas  fluviais e lacustres se fizer a exploração do petróleo, xisto betuminoso ou gás,  farão jus à compensação prevista no caput deste artigo." 

Art. 8º O pagamento das compensações financeiras previstas nesta lei, inclusive  o da  indenização pela exploração do petróleo, do xisto betuminoso e do gás natural,   será   efetuado   mensalmente,   diretamente   aos   Estados,   ao   Distrito  Federal, aos Municípios e aos órgãos da Administração Direta da União, até o  último dia útil  do segundo mês subseqüente ao do fato gerador, devidamente  corrigido pela variação do Bônus do Tesouro Nacional (BTN), ou outro parâmetro  de correção monetária que venha a substituí­lo, vedada a aplicação dos recursos  em   pagamento   de   dívida   e   no   quadro   permanente  de  pessoal.”  (Art   27º   lei 7990/89)

1.1.3 Fim do Monopólio da Petrobrás e Novo Estatuto do Setor Petrolífero 

Em   1997,   chegava   ao   fim   o   monopólio   da   Petrobrás.  Em   6   de   agosto   de   1997,   foi promulgada a Lei 9.478, conhecida como a “Lei do Petróleo”, lei que perdura até os dias atuais.   Sua   grande   característica   foi   o   fim   do   domínio   da   Petrobrás   nas   atividades petrolíferas, ou seja, fim do monopólio estatal.

Essa mudança tinha como finalidade a atração de maiores recursos para o setor, uma vez que estava permitindo a entrada de empresas privadas na produção do óleo; antes, essas empresas só participavam da distribuição. Assim, com uma maior competitividade, a idéia 

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era de estimular mais o setor, favorecer o seu desenvolvimento mais rápido, alavancar uma  redução de seus custos e aumento de produtividade.

Logo após a divulgação da lei, foram criados o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) – que teria a responsabilidade de formular políticas para o setor energético ­ e a Agência Nacional do Petróleo (ANP), entidade reguladora governamental. Esta última teria como   finalidade,   de   acordo   com   o  Art.   8º   da   lei   nº   9478,  promover   a   regulação,   a contratação   e   a   fiscalização   das   atividades   econômicas   relativas   ao   petróleo   e   gás natural, bem como o controle e distribuição das compensações financeiras.

Dessa forma, como a ANP passou a ter o controle dos recursos minerais, as empresas privadas   participariam   das   atividades   de   exploração   e   produção   do   óleo   através   de licitações, contratos e leilões.

No que diz   respeito  à  distribuição dos  royalties,  houve uma significativa  e   importante mudança. Continuou sendo 5% para algumas regiões, mas, levando­se em consideração os riscos geológicos e expectativas de produção, a alíquota distribuída a outras regiões passava de 5% para 10%.

De acordo com a Lei nº 9478/97,Art, 49, a parcela do valor do royalty que exceder a cinco por cento da produção terá a seguinte distribuição: 

Tabela 1: Forma de distribuição dos royalties para a parcela acima de 5%de acordo com a Lei nº 9.478/97

Lavra em terra 52,5% aos Estados produtores 25% aos Municípios produtores 15% aos Municípios com instalações de embarquee desembarque de 

petróleo e gás natural

7,5% aos Municípios afetados pela extração

25%  ao Ministério da Ciência e TecnologiaLavra em plataforma continental

22,5%  aos Estados produtores22,5%  aos Municípios produtores 15%  ao Comando da Marinha 7,5%  Fundo Especial 

7,5%  aos Municípios afetados pela extração

Fonte: Elaboração própria a partir da Lei 9.478/97 (ANP, Art 49).

Do total de recursos destinados ao Ministério da Ciência e Tecnologia, serão aplicados no mínimo   quarenta   por   cento   em   programas   de   fomento   à   capacitação   e   ao desenvolvimento científico e  tecnológico nas regiões Norte  e Nordeste.  Além disso,  o Ministério   da   Ciência   e   Tecnologia   administrará   programas   de   amparo   à   pesquisa científica e ao desenvolvimento tecnológico, com o apoio  técnico da ANP, e mediante convênios com as Universidades e os centros de pesquisa do País, segundo normas a serem   definidas   em   decreto   do   Presidente   da   República   (Lei   Nº   9.478/97,   1º   e   2º parágrafo).

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De acordo com o artigo 50 da Lei do Petróleo (9478/97), no caso de grandes volumes de produção,   haverá   o   pagamento   de   participação   especial,   cujos   recursos   serão direcionados, além dos Estados e Municípios, ao Ministério de Minas e Energia ­ para financiamento de estudos, pesquisas e projetos – e ao Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos   e da Amazônia Legal, destinados ao desenvolvimento de estudos e projetos   relacionados com a  preservação do meio  ambiente  e   recuperação de danos ambientais causados pelas atividades da indústria do petróleo (Nota II,  art 50º, Lei nº 9478/97). Assim, a participação especial fica distribuída da seguinte forma:

Tabela 2: Distribuição da participação especial40 %  Ministério de Minas e Energia10 %  Ministério do Meio Ambiente40 %  Estado   em   que   ocorrer   a   produção   em   Terra   ou   confrontante   com   a   plataforma 

continental10 %  Município em que ocorrer produção em Terra ou confrontante com a            plataforma 

continental

Fonte: Elaboração própria a partir § 2º do art.50 da lei nº 9.478/97 publicado na ANP

Assim,  a   lei  9478/97 muda  completamente  os  patamares  das economias estaduais  e municipais, uma vez que houve um aumento significativo dos ganhos com relação aos royalties.  De acordo com dados  fornecidos pela  ANP,  em 1999 a soma dos  recursos acumulados, referentes à soma de todos os Estados brasileiros beneficentes, chegou a R$ 0.99 bilhões, enquanto que em dezembro de 2007, o total desses recursos chegou a R$ 7,49 bilhões. Para novembro de 2008, o acumulado chega a incríveis R$ 10,08 bilhões.

Como podemos ver no gráfico abaixo, é  muito significativo o aumento dos ganhos em royalties  pelos municípios beneficiários. No eixo vertical, está a medida dos bilhões de royalties em reais acumulados em seus respectivos anos no eixo horizontal.

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Gráfico 1: Evolução da distribuição de royalties no Brasil, 1999 – 2007

  

 

 

Fonte: ANP 2008.

1.2 Cenário Atual e Perspectivas

1.2.1 Impacto da Lei 9478/97 para os Municípios Capixabas.

Focalizando o debate sobre o impacto do petróleo para o Estado do Espírito Santo após a lei   9478/97,  podemos   fazer  uma  análise  com base  nos  royalties,  na  produção  e  nas reservas.

Com   relação   aos  royalties  capixabas,   os   números   são   impressionantes.   O   valor   do montante  dessas  compensações,  para  o  ano  de  1999,  era  de  R$  7,46  milhões;  ora, tomando como base o acumulado em novembro de 2008, o Estado recebeu um total de R$  234,75  milhões  em  royalties  no  período  1999/2008,   sendo  atualmente  o  segundo Estado que mais recebe receitas vindas do petróleo do país. 

Dentre os municípios capixabas beneficiados, destacam­se   Linhares, com uma receita total  de  aproximadamente  R$ 34 milhões,  seguido de Aracruz,  com 22,66 milhões,  e Presidente Kennedy, com 22,62 milhões. De acordo com o gráfico abaixo, fica claro o aumento das receitas vindas dos royalties também para o Estado do Espírito Santo após a aplicação da Lei nº 9478.

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1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 20080.00

2.00

4.00

6.00

8.00

10.00

12.00

0.99 0.87

2.30

3.17

4.395.04

6.20

7.70 7.49

10.08

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Gráfico 2: Distribuição de royalties no Espírito Santo, 1999 – 2007

Fonte: Anuário Estatístico ANP 2008

Existem dois fatores que podem ajudar a explicar o maciço aumento dos royalties: a) O grande salto observado na produção do óleo em todo território nacional, com sucessivos aumentos nas reservas descobertas sendo traduzidos em aumentos no número de barris extraídos; e b) A tendência mundial  à  elevação dos preços cotados para os barris de petróleo, verificada de 2007 a setembro de 2008.

No   que  diz   respeito   ao  1º   fator,   ou   seja,  à   produção  de  petróleo,   em  1999,   o   país acumulou para todo esse ano, 400 bilhões de barris de petróleo, sendo 325 bilhões em mar e 75 bilhões em terra. Em 2007, esse número aumentou para 638 bilhões, sendo 568 bilhões em mar e 69 bilhões em terra. Trazendo os dados especificamente para o Espírito Santo, sua produção em 1999 foi de 148 mil barris em mar e 3,8 milhões de barris em terra (ANP, 2008).

Gráfico 3: Evolução da produção de petróleo no Espirito Santo – Terra e Mar 1996­2007

FONTE: Anuário Estatístico ANP 2008 

17

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 20070

5000

10000

15000

20000

25000

30000

35000

40000

331 267 202 148 99 621138

66174407

5945

16759

36196

2980 2833 3245 3846 4568

70878984 9183

72786338 6102 5962

MarTerra

1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 20080.00

50.00

100.00

150.00

200.00

250.00

7.4713.92

24.3531.13

59.2851.62 57.28

96.61

143.81

234.75

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De acordo com o gráfico acima, a produção capixaba de petróleo chegou à marca de 5,9 bilhões em terra e 36 bilhões em mar de barris para o ano de 2007. Um aumento muito significativo, que levou o Estado de 5º maior produtor para a posição de 2º maior produtor atual de barris de óleo ainda em 2002, ficando atrás apenas do Estado do Rio de Janeiro – que, para o ano de 2007, atingiu a produção de 520 bilhões de barris.  

A grande evolução da produção capixaba deve ser  atribuída, em parte, à expansão de empreendimentos já   instalados (por exemplo, a plataforma P­34 no campo de Jubarte, que atingiu a capacidade máxima de 60.000 barris/dia) fazendo com que os 23 milhões de barris em 2006 se  transformassem em   42 milhões em 2007 – um aumento de 84% (gráfico   abaixo).  A   extração   capixaba   de   petróleo   superou   as   expectativas:   foram extraídos,  em 2005,  34  mil  barris  diários,  63  mil  barris  diários  em 2006 e,  em 2007, aproximadamente 153 mil barris por dia(Petrobrás apud. Lozório p. 2007). 

Atualmente, o Estado produz 165.227 mil barris diários. Até o final deste ano, este número deve chegar a 200 mil barris por dia, e em 2010, atingirá a marca de 500 mil barris/dia (fonte: Secretaria do Estado do Espírito Santo).

Em relação às reservas, O Espírito Santo possuia em 1999 110 milhões de barris em mar e 1,1 milhões de barris em terra e para o ano de 2006, o Estado capixaba acumulou em mar 1.893,3 milhões de barris e em terra atingiu 194,3 milhões de barris. Um aumento muito   considerável,   principalmente   em   mar,   chegando   a   configurar   salto   de aproximadamente 172.118% em relação ao ano de 99. Sua evolução pode ser vista no gráfico abaixo:

Gráfico 4: Reservas totais de petróleo no Espírito Santo

Fonte: Anuário Estatístico ANP 2008

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1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 20060

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

2000

1 1 1 10 11

817733

15301422

1893

3477 110

174 172280

191112 90

194

MarTerra

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Apesar  de  2004 para  2005 apresentar  queda nas  reservas  totais,  o  ano de 2006  foi marcado por aumento tanto nas reservas em mar quanto nas reservas em terra, feito que não ocorria desde 2002(ANP, 2008).

Em relação ao segundo fator, ou seja, ao preço do barril do petróleo, este é fixado de acordo com o mercado internacional, e como observou­se uma grande desvalorização do dólar no segundo trimestre de 2008, o barril teve sua maior cotação da história em um único dia (08/06/08), chegando a fechar em US$ 138,54, contra US$ 127,79 na véspera (Gazeta Mercantil 2008/Caderno C, Pág.2)

Esses   valores   tendem   a   sofrer   grandes   flutuações   conjunturais,   influenciados   por instabilidades políticas nos países produtores, conflitos entre países produtores e seus vizinhos (ex. ­ boatos de que Israel poderia lançar um ataque militar ao Irã, ou vice­versa), e   até   fatores   meteorológicos   (ex.   ­   furacões   capazes   de   paralisar   a   produção   de plataformas ou refinarias no Golfo do México).  Concorreram, também, para sua elevação, as altas taxas recentes de crescimento econômico mundial, notadamente de países ditos emergentes,   como China,   Índia  etc.   ­   que  alavancaram a  demanda   internacional   por energia.

Com a forte crise que, desde setembro de 2008, vem varrendo a economia mundial, o preço do barril do petróleo ­ que chegara a atingir a marca de US$ 140 – baixou para US$ 60 em quatro meses. Nada que  faça o mercado desse setor se preocupar.  Por ser o petróleo   um   bem   vitalmente   necessário   para   a   economia   de   todos   os   países   na atualidade,   qualquer   que   seja   sua   matriz   energética,   é   de   se   esperar   uma   rápida recuperação no preço do barril de petróleo, tão logo a crise mundial se atenue. Ademais, um "colapso"  de preço para o  intervalo  de U$ 60 ­  $  70 só  é  assustador  quando se esquece que a média dos preços do petróleo em 2007 foi de US $ 72 o barril (e de US $ 66 em 2006).

Com o anúncio do investimento de US$ 1 bilhão no Espírito Santo até o final de 2009, a Petrobrás não parece estar mudando seus planos de expansão em função da presente queda no preço do petróleo no mercado internacional. De olho na futura normalização do mercado, serão perfurados 30 novos poços de petróleo no mar capixaba, na Bacia do Espírito Santo e na Bacia de Campos, situada no litoral sul capixaba. A   previsão é de gerar 600 novos empregos. Os recursos serão utilizados para a compra de quatro a seis sondas   (dos   tipos   auto­elevatórias,semi­submersíveis   ou   navios­sondas)   e   para   a operação das mesmas. A tendência é  de ser embarcados 100 trabalhadores em cada sonda (Zandonadi, 2008:17).

Assim, ainda que a curto prazo as receitas capixabas de  royalties  do petróleo devam sofrer uma queda importante, em função da presente redução nos preços internacionais desta commodity, é de se esperar, para curto ou médio prazo, uma recuperação ­ e uma elevação muito substancial ­ nos valores previamente recebidos.

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Gráfico 5: Evolução do preço do petróleo 2000 – Dez/2008

0

20

40

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2000

2001

2002

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jun/08

dez/0

8

Ano

Pre

ç o (U

S$) Preço do barril em US$

FONTE: Elaboração própria com dados na ANP 2008

1.2.2 A Era do Pré­sal e sua Polêmica

Atualmente, a atividade petrolífera no Brasil passa por um momento  ímpar.   Com uma reserva provada de aproximadamente 17 bilhões de barris, mas que poderá chegar a algo entre 70 bilhões a 100 bilhões de barris se forem comprovadas todas as estimativas das descobertas   na   camada   de   pré­sal,   o   Brasil   aparece   com   grande   destaque   nas perspectivas   para   a   produção   de   petróleo   no   mundo   (Kelly   Lima,   Portal   exame, 08.11.2007).

A camada pré­sal é uma faixa de 200 km de largura que se estende por cerca de 800 quilômetros,   abaixo   do   leito   do   mar,  em   lâmina   d´água   entre   1   e   3   mil   metros   de profundidade,  entre o Espírito Santo e Santa Catarina;   engloba as bacias do Espírito Santo, Campos e Santos (Fonte: Diário do Nordeste – 3/9/2008) . O petróleo encontrado nesta área está a profundidades que superam os 7 mil metros, abaixo de uma extensa camada de sal que conserva a qualidade do petróleo. Vários campos e poços de petróleo já foram descobertos no pré­sal, entre eles o de Tupi, o principal até agora.

A  confirmação  das   reservas de  petróleo  do  campo de  Tupi,  na  Bacia  de  Santos,  da Petrobras, eleva a companhia do quinto para terceiro lugar no ranking entre as principais companhias listadas em Bolsa de Valores no mundo todo e deve colocar o País no top 10 das maiores reservas de petróleo do mundo (Fonte: Diário do Nordeste,  08/11/2007).

O futuro já começou, e por ironia do destino, o marco simbólico do início da extração do petróleo no pré­sal foi exatamente no Espírito Santo. No dia 02/09/08, o presidente Luís Inácio   Lula   da   Silva   esteve   presente   no   Estado,   onde   inaugurou   a   era   do   pré­sal, 

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repetindo o gesto da conquista da auto­suficiência em 2006 ­ lambuzando as mãos de petróleo4.

Porém, a  confirmação paulatina  do  volume dessas  reservas desencadeou um grande debate nacional em torno de qual deve ser a política mais correta para a exploração da área  do  pré­sal.    Segundo Luís  Nassif   (2008),     todo esse debate  gira  em  torno  das seguintes questões principais: 

A   questão   federativa,   ou   como   dividir   os   royalties   do   pré­sal   entre   instâncias  administrativas; a questão social e a necessidade urgente de carimbar os recursos, para  que sua aplicação possa ser acompanhada pela opinião pública;  a questão das formas de  exploração e do desenvolvimento de todo um parque de fornecedores para a exploração –  de estaleiros, plataformas marítimas a movelaria e outros produtos. E por fim,   a questão relevantíssima do risco da praga dos recursos naturais – a apreciação cambial que pode  nos transformar em Venezuela ou Nigéria, em vez da Noruega.(Nassif 2008).

De acordo com Belluzzo, o Brasil precisa rapidamente definir uma política indústrial, uma vez que a história econômica mostrou que países aquinhoados com essa “bênção” ­ um dilúvio  de   riqueza  natural   ­   tendiam  à     desindustrialização,   conhecida  como   “doença holandesa” (tema que desenvolveremos no capítulo seguinte). Quanto a isso, o autor é claro:

Se o marco regulatório não for mudado, vamos ter vários desastres por aí. Um  deles é o risco macroeconômico da doença holandesa, se não acoplar isso em  um processo de industrialização fundado nos fornecedores de equipamentos. A  dependência  externa é  muito  grande  nesse setor.  É  preciso   ter  uma política industrial para o setor (Belluzzo 2008).

Muitos economistas defendem a idéia de se criar uma estatal  para administrar o restante do pré­sal, a Petrossal. Isso para que o Brasil possa otimizar os meios de captar toda a verba para o financiamento da produção sem comprometer a relação dívida/PIB e sem cair na burocracia do orçamento federal. No caso, é preciso definir quem e como financiar todos os gastos para a futura produção ­ e, de acordo com Belluzzo: “[...]planejar o ritmo das explorações das reservas e, ao mesmo tempo, induzir outros ramos da indústria a 

4 No dia 21 de novembro de 2008, a Petrobras anunciou que a perfuração de dois novos poços na camada do pré­sal no litoral do Espírito Santo comprovou uma 'expressiva descoberta' de petróleo do tipo leve (de melhor   qualidade)   na   área   chamada   de   Parque  das  Baleias,   na   parte  norte  da  bacia  de  Campos.  A petrolífera estima as reservas descobertas entre 1,5 e 2 bilhões de barris de óleo equivalente. Os poços foram perfurados a cerca de 80 km da costa e a cerca de 5 km do poço 1­ESS­103A, que já produz com alta vazão desde setembro. 

Ainda  segundo a  Petrobras,  as   reservas  se  encontram abaixo  dos  campos de óleo  pesado de  Baleia Franca, Baleia Azul e Jubarte, sob uma camada de sal de até 700 metros e em lâminas d' água de 1.348 e 1.426 metros. As reservas da chamada área do Parque das Baleias já totalizam 3,5 bilhões de barris de óleo equivalente, incluindo as descobertas anunciadas hoje, segundo os cálculos da Petrobras”.(Folha On Line 2008)

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trabalharem   juntos   no   fornecimento   de   equipamentos,   plataformas   e   navios”(Belluzzo 2008)

Segundo Nassif, só para os gastos previstos para a Bacia de Santos, o governo teria o seguinte custo:

Só para o pré­sal da Bacia de Santos, está programada a compra de 70 navios  que deverão custar em média US$ 150 milhões a 200 mi cada um; 28 navios­sonda, de US$ 800 milhões a US$ 1 bi; mais 140 barcos de apoio: US$ 50 mi.  No  total,  serão mais de US$ 40 bi  de  investimentos em produtos que serão adquiridos pela Petrobrás. Por trás deles, terá que se investir em estaleiros, em  fábricas   de   turbinas,   fábricas   de   grandes   motores   para   navios.   Depois,   na  indústria de movelaria  para a hotelaria desses navios,   indústria de tintas,  até  indústria de software para operar os navios (Nassif 2008).

Além   disso,   cabe  decidir   como   será   distribuída   a   riqueza   aos   concessionários   e   ao Governo. Por ser o petróleo um bem finito, é muito importante que se aplique uma política que permita a industrialização e o desenvolvimento do país como um todo  ­ pois só assim a sociedade terá um ganho permanente.

O governo – ministra Dilma à frente – propõe a criação de uma empresa só para gerir a exploração   e   a   aplicação   desses   recursos,   uma   “petro­sal”;   sugere   alterações   na legislação que regulamenta as concessões, a exploração do petróleo, e a alocação dos royalties,   o   que   vem   gerando   grande   polêmica,   pois   os   governadores   e   prefeitos beneficiados evidentemente são contra.

Para ilustrar esse debate, citaremos representantes dos 2 lados, o contrário a mudanças na distribição dos royalties e o favorável a essas mudanças. 

Segundo   Aloízio   Mercadante(PT­SP),   Senador   da   República,   é   fundamental   que   o Governo estabeleça novas formas de distribuição de royalties. Isso porque, a seu ver, os atuais critérios exibem diversas inconsistências, como o caso de vários municípios pobres que se situam do  lado do município "confrontante"  à   jazida,  mas  ficam excluídos dos benefícios   proporcionados   pelo   óleo.   O   Estado   do   Rio   é   mencionado   como   (mau) exemplo:

O fato concreto é que esse critério básico de distribuição gera graves distorções.  Tanto é assim, que 62% dos royalties do país, que tem 5.564 municípios, são  apropriados   por   apenas   nove   municípios   do   Rio,   um   estado   que   tem   92 municípios.  Portanto,   tais  distorções  não   se  dão  apenas  na  distribuição  dos  royalties entre os estados, mas também na repartição nos estados. No Rio de  Janeiro, os habitantes do município de Quissamã recebem, ao ano, quase R$ 7.000,00 per capita de royalties, ao passo que os habitantes de Belford Roxo, município   pobre,   recebem   apenas   R$   13,00.(Petróleo,   Royalties   &   Região,  boletim nº 20, Junho/2008, pág 4)

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Existem também os que se opõem a qualquer mudança na fórmula atual de distribuição dos royalties. Segundo o Senador Crivella (PRB­RJ), por exemplo, o Estado não deve alterar as regras atuais da distribuição dos royalties porque isso não seria justo com os produtores,  uma vez que  já  pagam o  tributo do  ICMS. Em defesa à  sua  tese,  cita  o Decreto   de   nº   2705/981   que,   segundo   o   Senador,   diz   claramente   que   os   royalties "[...]constituem compensação  financeira  devida pelos concessionários de exploração e produção de petróleo e gás natural” (Decreto nº 2705/981)

Ademais, o senador é contra as mudanças aventadas pelo governo federal argumentando que isso seria um desrespeito ao marco regulatório e aos produtores: 

Alterar  essas  regras  é  um desrespeito  ao marco  regulatório  do setor  e  uma ofensa aos entes  produtores,   já  duramente  penalizados  com a  tributação do ICMS, dos hidrocarbonetos, no destino. O instituto da compensação ou royalties,  é um direito assegurado na Constituição Federal. É cláusula pétrea do espírito  da federação brasileira" (Petróleo, Royalties & Região, 2008: 5).

Toda   essa   discussão   esbarra   na   complicada   problemática   da   legislação   tributária brasileira, reconhecidamente necessitada de reformas urgentes – reformas estas que, no entanto,  esbarram num cipoal  de  interesses políticos em conflito,   "guerra  fiscal"  entre Estados, etc.  Este tema, porém, extrapola o tema da presente dissertação.

Mas a polêmica relativa à gestão dos recursos da indústria petrolífera vai muito além do debate em torno da distribuição de  royalties. O próprio modelo atual de concessões de exploração   está   sendo   submetido  a   críticas   e  propostas  de   revisão.   Isso   porque   as licitações feitas anteriormente à confirmação do volume e extensão do campo petrolífero do   pré­sal   foram   realizadas   a   partir   de   estimativas   que   hoje   se   mostram   muito subestimadas; além disso,  consideravam cada área licitada como um campo isolado dos demais, o que se revelou inexato – pois hoje se sabe, como vimos acima, que a camada do pré­sal  constitui  um  imenso campo contínuo, que se estende do  litoral  do Espírito Santo ao de Santa Catarina;   engloba as bacias do Espírito Santo, Campos e Santos. Segundo   Nassif,   entre   outros   autores,   as   novas   descobertas   configuram   um   quadro totalmente novo, que exige a unitização da extração do petróleo no campo do pré­sal, sob controle do Estado brasileiro:

Para tanto, há a necessidade do chamado processo de 'unitização'. Isto é, criar  uma espécie de condomínio para a área [do pré­sal] e definir o percentual que  cabe a cada concessionário (proporcional à sua área) e ao governo (proporcional  às áreas do campo que ainda não foram licitadas) (Nassif,2008).

Segundo Nassif, o Brasil deveria criar um fundo com o objetivo de promover a exploração racional  do petróleo;  deveria   ter  uma política para desenvolver  e capacitar  a  indústria brasileira para atender às demandas relacionadas à exploração, ao refino e à distribuição do petróleo. O autor faz uma demonstracão de como o Brasil poderia proceder, propondo uma estratégia baseada em 3 passos:

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[1] – Precificar os ativos estatais nesse “condomínio” a bacia de Santos. Para  tanto estimar o valor de um barril de petróleo no subsolo hoje, no estado em que está, e multiplicar pelas reservas de propriedade da União.[2] – Esse valor seria  aportado na Petrobrás, como capitalização, ampliando a participação da União na empresa. Dependendo de ajustes adicionais na contabilidade nacional, essa operação ajudaria a reduzir a relação dívida/PIB.[3] ­ Pela Lei das S/A, a União se   obriga   a   cumprir   com   regra   de   direitos   dos   minoritários   que   queiram acompanhar no aumento de capital. Ao fazer o aporte ela recebe um montante  de ações e coloca à disposição dos minoritários que queiram acompanhá­la no  aporte.   Quem   quiser   acompanhar,   terá   que   pagar   pela   ação   o   preço estabelecido. Com isso, coloca­se dinheiro agora na mão do governo  (Nassif, 2008).

Vale observar que essa proposta significa aumento no controle do Estado brasileiro sobre os processos de produção de petróleo e gestão dos recursos daí advindos – tese que representaria uma verdadeira heresia em passado próximo, quando o debate econômico estava nacional e internacionalmente submetido a uma ampla hegemonia do pensamento neo­liberal. Presentemente, porém, após a grande “crise do subprime” que eclodiu nos EUA e contamina todas as economias do planeta, ocorreram falências e estatizações de grandes   bancos   e   instituições   financeiras,   e   intervenções   maciças   do   Estado   nos mercados   (nos   EUA,   Japão,   Inglaterra,   Alemanha,   etc.)   no   intuito   de   conter   o   caos econômico­financeiro.  Com isso, os conceitos de controle estatal,   regulamentação dos mercados  financeiros  e  crescimento  sustentável  voltaram  repentinamente  à  moda.  Os defensores  de  uma  participação  mais   ativa  do  Estado  na  promoção,   ordenamento  e direcionamento da economia – keynesianos e neo­keynesianos – recuperaram prestígio, o que pode ter consequências importantes na definição da política do Estado brasileiro para a exploração e gestão dos recursos do pré­sal.

Sobre a questão de uma possível fuga de capitais por parte dos investidores privados, se houver aumento de controle ou mesmo estatização das reservas do pré­sal, Beluzzo diz que será  complicado convencer o setor privado de algumas mudanças nas regras de exploração e distribuição; mas garante que a criação de uma nova estatal seria a prova de que os investimentos iriam  de fato ocorrer: 

Acho   que   essa   empresa   vai   ser,   na   verdade,   uma   garantia   de   que   os investimentos ocorrerão. Eles vão ter de discutir as regras, e isso vai ser uma  coisa conflitiva. Estou vendo que o setor privado está estrebuchando um pouco por causa da possibilidade de isso ser mudado, mas não acho que haja ameaça à participação do setor privado. É um problema da repartição dos ganhos, e aí  precisa levar em conta que o petróleo é recurso natural não renovável e pertence  à   comunidade.   Então   você   tem   de   dar   um   destino   minimamente   público   e  racional a isso (Belluzzo, 2008).

Para Armínio Fraga, o Brasil deveria criar um fundo no exterior e investir os rendimentos do mesmo, que seriam repassados anualmente ao orçamento, de acordo com prioridades a serem definidas ano a ano:

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Para ele, a melhor opção é deixar os recursos a serem obtidos num fundo no exterior   (a   maior   parte   das   receitas   com   o   petróleo,   vale   lembrar,   será   em dólares),   com   o   rendimento   da   aplicação   do   dinheiro   sendo   repassado  anualmente para o orçamento, para ser gasto de acordo com as necessidades  da  sociedade.  Com   isso,  as   futuras  gerações   também  vão   se  beneficiar  do dinheiro gerado pelo petróleo do pré­sal (Fraga apud. Lamucci, 2008)

Outra  opção  seria  a  política  aplicada  nos  anos  90,  quando   foram definidas   regras  e formas de exploração do campo de Marlim. Essa é a opinião de Mendonça de Barros, ex­presidente do BNDES: “ [...]Não é necessário inventar moda. O modelo de Marlim é uma  opção interessante" (Lamucci, 2008).

Nesse caso, seria constituída uma sociedade de propósito específico (SPE) sob a guarda do BNDES, exatamente como ocorreu para a exploração do campo de Marlim. Depois, seria feita a contratação de uma empresa, que poderia ser ou não a Petrobrás, para se encarregar da gestão operacional, recebendo parte da receita adquirida pela venda do produto, no caso o petróleo.

Outro grande debate se dá  por  conta da ameaça de recidivas no aumento da dívida interna e da inflação. Isso por conta da grande “inundação” da economia brasileira pelas divisas  provenientes da exportação de petróeo e derivados, que poderão ser investidas de forma desordenada. Esta advertência é feita por autores como Fraga:

O   problema,   é   que   trazer   uma   quantidade   grande   do   dinheiro   para   o   país pressionaria o mercado de câmbio,  levando o BC a esterilizar os reais pelos  quais os dólares foram trocados, elevando a dívida interna (...). É preciso tomar  muito cuidado para que não haja uma substituição de recursos e o dinheiro não provoque gastos adicionais (Fraga, apud.Lamucci 2008). 

Alguns economistas, como Nilson Teixeira, atual chefe do Credit Suisse, acreditam que o Brasil deveria utilizar os recursos adquiridos pela produção do pré­sal no abatimento da dívida púbica.

“ [...]É preciso acelerar a dinâmica de redução da relação entre a dívida pública e  o PIB", diz Teixeira, ressaltando que o abatimento de dívidas abriria espaço para o governo brasileiro registrar superávit fiscal.“ O governo passa a pagar menos  juro e tem espaço para fazer a reforma tributária e reduzir a carga de impostos  (Lamucci, 2008).

Qualquer que seja a política de exploração definida para a região do pré­sal, e o modelo de  gestão dos  recursos daí  provenientes,  é  de  extrema  importância  que as  decisões tomadas contemplem o melhor equacionamento possível de três  importantes questões:

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1   –   Que   os   ganhos   provenientes   da   exploração   do   petróleo   sejam   traduzidos   em crescimento   e   desenvolvimento   da   economia   como   um   todo,   alavancando   nossa industrialização e desenvolvimento tecnológico, ao invés de prejudicá­los;

2 – Que esse processo de crescimento econômico seja socialmente inclusivo, isto é, que se traduza em melhoras nos nossos indicadores sociais e na nossa distribuição de renda – a fim de que não se repita o fenômeno observado na época do “milagre econômico” da década   de   70,   quando   as   elevadas   taxas   de   crescimento   do   PIB   se   refletiram   em concentração   ainda   maior   de   renda   e   riqueza   na   nossa   economia,   havendo   uma distribuição de renda justa, melhorando a situação de toda a sociedade; (Fonte: Barbosa, pág 8)  

3 – Por ser o petróleo um bem finito, é muito importante que haja uma sustentabilidade da dinâmica   econômica   desencadeada   pelos   ganhos   do   petróleo   que   lhe   possibilite sobreviver ao declínio da atividade petrolífera ­  ou seja, que tenham sido criadas outras atividades   produtivas   sustentáveis,   dinâmicas   e   geradoras   de   renda,   capazes   de alavancar a economia depois de terminada a era do óleo.

Todo  esse  debate   tem o  objetivo  de   fazer   com que  o  Brasil   tome as  medidas  mais racionais possíveis para extração e distribuição de todas as riquezas possíveis a serem geradas   pelo   petróelo.   Grande   parte   da   polêmica   gira   em   torno   da   mesma   grande preocupação: A maldição dos recursos.

Infelizmente, segundo alguns autores, a referida maldição já estaria se abatendo sobre alguns estados e municípios brasileiros aquinhoados com  royalties  do petróleo. Nossos principais   produtores   de   petróleo   estariam   apresentando   indicadores   econômicos   e sociais negativos. Na maioria dos municípios, haveria uma grande concentração de renda e uma grande despreocupação com o futuro.

Esse é o tema que será debatido no próximo capítulo, tomando como objeto de análise municípios capixabas e o Estado do Espírito Santo.

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CAPÍTULO 2:IMPACTO DO PETRÓLEO NO ESPÍRITO SANTO: MALDIÇÃO DOS RECURSOS E DESINDUSTRIALIZAÇÃO?

Como demonstrado em tópicos anteriores, o Brasil, e o Espírito Santo em particular, vêm apresentando ganhos cada vez maiores com a produção de petróleo, ganhos esses que vêm­se   traduzindo   em   crescentes   aportes   de   receitas   dos   royalties   a   estados   e municípios.

Tudo levaria a crer que o aumento das receitas nos cofres públicos iria traduzir­se em melhorias   econômicas   e   sociais   para   toda   a   comunidade   capixaba,   redundando   em grandes investimentos em educação e saúde, em geração de emprego e renda, em obras públicas,  etc.

No  entanto,   o   fracasso  de  alguns  países   ricos  em  recursos  naturais,   em especial   o petróleo, em superar a pobreza e/ou promover o desenvolvimento fez com que surgisse a proposição de que os recursos naturais  representam uma “maldição”, ao invés de uma bênção. Um exemplo clássico desse fenômeno teria ocorrido na Holanda, onde vários setores   (como a   indústria   têxtil)  praticamente  desapareceram devido à  valorização do florim,  após a descoberta  de gás  natural  naquele  país  europeu,  na  década de 1960; cunhou­se   a   expressão     "doença   holandesa",   ou   "maldição   dos   recursos",   para caracterizar este problema ­ situações em que o aumento da receita com a exportação de recursos naturais valoriza demais a moeda  local  e  leva à  desindustrialização do setor manufatureiro, que fica menos competitivo em relação aos produtos externos. Com isso, as divisas oriundas da exportação do petróleo ou do recurso natural abundante não se traduzem   em   crescimento   e   desenvolvimento   econômico   e   social,   e   produzem, paradoxalmente, um empobrecimento da região afetada:

A Venezuela, por exemplo, que nos anos 60 teve um PIB per capita em torno de  80% do PIB norte­americano, hoje tem apenas aproximadamente 25% e caindo  (Hillbrecht, 2008).

É um problema, porque você pode criar uma situação em que há equilíbrio da  balança de pagamentos e, ao mesmo tempo, está perdendo massa econômica e  capacidade de gerar emprego (Belluzzo, 2008).

Além da “doença holandesa”, alguns países ricos em recursos sofrem com instabilidade política e guerras civis,  e não conseguem superar a pobreza.  (Bregman & Helder Jr., 2008).

De todo território Nacional, como vimos, o Estado do Rio de Janeiro é o maior produtor de petróleo. Com uma produção que chegou a 520,9 bilhões de barris para o ano de 2007 (Anuário ANP,  tb.2.9),  o Estado recebeu o equivalente a R$ 1,56 bilhões em royalties (ANP, 2007). Porém, seus municípios não apresentaram ganhos econômicos e sociais. O 

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que se pode observar é uma grande concentração de renda e um quadro econômico­social preocupante.

Com a instalação da indústria do petróleo no norte fluminense, ocorreu grande afluxo de migração  populacional  e  um aumento  desordenado  das  cidades  na   região.  Como os empregos   na   indústria   petrolífera,   em   sua   maioria,   exigem   boa   capacitação   do empregado, muitos foram excluídos das oportunidades, o que fez crescer a massa pobre e contribuiu para aumento da miséria.

Campos dos Goytacazes possuía 13 favelas em 1980; já no Censo Demográfico de 1991, foi identificado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), neste Município, um salto para 30  favelas, número que se manteve no censo de 2000. Fica claro que grande   contingente   populacional,   deslumbrado   pelas   oportunidades   geradas   pela indústria do petróleo, migrou para a cidade e acabou ficando desempregado e sem muitas opções,   contribuindo,   e   muito,   para   o   aumento   da   camada   pobre   do   município   de Campos. (Pessanha apud Lozório, 2007:32)

O mesmo fenômeno pode estar ocorrendo em outros municípios do Estado do Rio de Janeiro.  Com  isso,  aumentam os  índices  de  criminalidade,  a  violência  e  o   tráfico  de drogas, como destaca Érica Silva em seu trabalho realizado em Macaé­RJ(Silva 2003). Além de Campos, muitos outros municípios na região norte fluminense não apresentaram melhoras em seu quadro econonômico e social.

Segundo Honorato, os principais municípios do Rio de Janeiro não conseguem incluir a camada mais pobre da sociedade no processo de desenvolvimento. No caso, os gastos, benefícios e  investimentos advindos das receitas dos  royalties,   têm atingido apenas a camada mais rica da população. Assim, o autor conclui:

A explosão demográfica criou um conjunto de “sem­teto”. As cidades envolvidas diretamente   na   economia   do   petróleo   não   estão   criando   infra­estrutura  apropriada   para   absorver   essas   pessoas.   Simultaneamente,   mau   gasto   do dinheiro  público  e   suspeitas  de  corrupção   fazem parte  do  cotidiano   local.  A pobreza aprofundou­se nesse modelo distributivo. Cidades como Macaé e Rio das Ostras, transformaram­se em cidades voltadas para os migrantes sazionais  em busca de salários altos. A população local viu­se obrigada a mudar hábitos,  moradias   e   consumo   (os   custos   locais   são   proibitivos   para   os   menos favorecidos). A sociedade capitalista, como apresentado antes, sempre mostrou­se   dependente   de   energia   com   seus   benefícios   individualizados   e   seus prejuízos, socialmente distribuídos (Honorato, 2008:563).

Em um estudo   feito  por  Fernando  Postali,   foram  focalizados  os  3  principais  Estados Brasileiros beneficários de royalties para o ano de 2007: Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte e Bahia. Para seus respectivos Municípios, o autor  investigou se houve ou não crescimento econômico por conta do grande aumento das receitas vindas dos royalties. 

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Foi constatado que, nos 3 principais estados beneficiários do petróleo, seus municípios maiores produtores apresentaram a seguinte questão:

Os resultados indicam a manifestação de um fenômeno análogo à maldição dos  recursos   naturais:   municípios   que   recebem   receitas   de   royalties   a   título   de  compensação por serem regiões produtoras de petróleo tendem a apresentar  desempenhos inferiores em termos de crescimento do PIB e cada acréscimo de receita   tende   a   reduzir   o   crescimento   do   produto   em   relação   ao   grupo   de controle. Este resultado se mantém quando se estuda o efeito das receitas de  royalties no interior dos três estados mais beneficiados. Quando se medem os  efeitos da distribuição dos royalties sobre a taxa de crescimento dos PIB’s dos municípios beneficiários [verifica­se que] os municípios contemplados com tais recursos  cresceram menos   que  os  municípios  que  não   receberam  recursos.  Além disso, quanto maior o volume de royalties transferidos, menor tende a ser o  crescimento econômico do município (Postali, 2007:16).

O que   se   tem notado  é   que  alguns  prefeitos  desses  municípios  aparentemente  não pensam   nos   mandatos   futuros.   O   alerta   faz   parte   de   um   estudo   elaborado   pela Confederação   Nacional   dos   Municípios   (CNM).   Metade   dos   maiores   beneficiários   de royalties  do Estado do Rio de Janeiro, por exemplo,   está negligenciando sua estrutura tributária e, segundo reportagem do Globo, caso essa fonte seque, corre o risco de ter dificuldades de caixa.  De acordo com o estudo feito, os municípios que menos recebem royalties têm uma preocupação maior com a fiscalização e a arrecadação dos tributos; já os   municípios   que   mais   recebem   as   receitas   do   petróleo   deixam   de   exercer   uma fiscalização responsável ­  ou simplesmente deixam de cobrar impostos:

Dos municípios analisados, 58% ­ ou seja, 45 deles de 77 analisados ­ podem ser   considerados   altamente   dependentes   dos   royalties.   Em   média,   essas  cidades   recebem   R$   1.071,56  por   habitante   pelo   petróleo  e  arrecadam   com impostos apenas R$ 253,91 per capita.  Eles estão bem abaixo da média de  arrecadação tributária por habitante de  todos os municípios,  que chega a R$ 352,63. De acordo com o estudo, isso indica que os municípios recebedores de  royalties   em   geral   relaxam   no   trabalho   de   fiscalização   e   arrecadação   ou simplesmente deixam de cobrar impostos (Globo Online 2008).

Além   dos   principais   municípios   produtores   de   petróleo   no   Brasil   não   parecerem apresentar   melhoras   em   seus   problemas   econômicos   e   sociais,   uma   outra   questão merece ser abordada.

É   grande  a  preocupação  atual  sobre  o   limite  da  produção  petrolífera  no  Brasil   e  no mundo.  Por ser o petróleo um bem finito, é  inevitável o declínio e subseqüente término da produção de petróleo  em algum momento do   futuro.  De acordo com o  renomado geólogo Marion King Hubbert, a produção de petróleo, em determinada área ou região, caminha inicialmente como uma curva normal ­ ou seja, a quantidade extraída aumenta com o acréscimo de infra­estrutura produtiva (fase denominada de pré­pico), até atingir 

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seu ápice; em seguida, a produção diminui devido ao esgotamento gradual do recurso (etapa denominada de pós­pico). Esse processo pode ser visto no gráfico abaixo:

Gráfico 6: Curva Natural de extração do petróleo (Hubbert)

Em 1956, o geólogo Hubbert previu   que a produção de petróleo dos Estados Unidos (EUA) chegaria ao pico em torno de 1970, seguindo­se um  longo período de declínio (Deffeyes 2001). Suas previsões revelaram­se acertadas. O pico da produção dos EUA foi atingido   em   1969,   e   o   acerto   desse   prognóstico   fez   com   que   muitos   importantes estudiosos   do   tema   passassem   a   levar   seriamente   em   consideração   os   cálculos   e previsões de Hubbert para todo tipo de análise envolvendo o petróleo. Neste trabalho não será diferente.

Hubbert prognosticou que o pico do petróleo, para o mundo como um todo, ocorreria entre 2003­2006   (gráfico   abaixo).   Assim,   muitos   países   já   estariam   em   processo   de descendência,  uma vez que  já  passaram pelo período de otimização das reservas;  e outros países estariam entrando no pico em um futuro não muito distante. De acordo com Figueiredo:

Se a nível mundial o pico será cerca de 2005, a nível de muitos países, regiões e  províncias   petroleiras,   o   pico   já   se   deu,   está   no   pasado.   É   o   caso,  nomeadamente, dos Estados Unidos, do Canadá, da Venezuela, da Rússia e do 

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Mar do Norte. Para outros o pico ainda está no futuro, além de 2005. É o caso da Arábia Saudita, do Iraque, do Kuwait e da bacia de Cáspio (Figueiredo, 2007).

Gráfico 7: Pico de Hubbert

Fonte: Figueiredo 2007

Na atualidade, discute­se muito se a produção mundial – e a brasileira ­ está ou não em seu pico, e quando este será efetivamente atingido. Infelizmente, não há muita bibliografia disponível sobre esse tema envolvendo o pico de produção petrolífera para o Brasil em particular. Sendo assim, tomaremos como base as idéias de Ferreira(2005) e Szklo et alii (2006).

De acordo com o Ferreira, levando em consideração a exploração em terra e em mar, nossa  exploração chegará em seu pico em 2010, atingindo uma produção de 2,2 milhões de barris por dia. O estudo feito por Szklo, mesmo tendo adotado uma outra forma de cálculo, basendo­se na probabilidade, chegou a resultados muito parecidos. Para Szklo, o pico   da   produção   brasileira   será   em   2020,   quando   atingiremos   um   volume   de   3,27 milhões de barris extraídos por dia (Rosa, 2007:25).

Os 2 trabalhos citados acima são compatíveis com as metas da petrobrás, como pode ser visto no gráfico abaixo: 

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Gráfico 8: Produção brasileira de petróleo, 2008 – 2012

Fonte: Rosa 2007 pág 26

Assim, segundo Rosa:

Pelo   exposto,   seria   possível,   em   caráter   muito   preliminar,   situar   o   pico   da  produção de petróleo no Brasil no período 2010­2020, com maior probabilidade para 2010­2015. Isso significa que o país atingirá o Pico de Hubbert em data não  muito distante do pico global, ou seja, que o Brasil não é tão rico em petróleo  como geralmente se imagina (Rosa, 2007).

Vale assinalar, porém, que essas análises ocorreram antes da confirmação das primeiras estimativas   referentes   ao   campo   do   pré­sal.   Se   as   previsões   mais   otimistas   forem validadas, o pico da exploração do pré­sal irá ocorrer já num ponto de declínio da curva de produção do petróleo para o mundo como um todo, o que significará uma valorização ainda maior daquela   commodity   ­ e a inundação da economia brasileira por um volume ainda maior  de  dólares oriundos da exportação do petróleo e derivados.  Existem até especialistas apostando que os campos petrolíferos do pré­sal brasileiro escondem uma reserva muito maior que o admitido oficialmente: 

Voltando ao tema de um post anterior, comento uma matéria da Folha de São Paulo, do dia 13.08.2008, no caderno Dinheiro. Na matéria, há uma entrevista  com o engenheiro de petróleo Newton Monteiro. Segundo Monteiro, ex­diretor da ANP, as reservas do pré­sal brasileiro poderiam somar algo em torno de 360 bilhões de barris de petróleo (alguns analistas falam em meio trilhão de barris),  

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ultrapassando a Arábia Saudita e se tornando detentor das maiores reservas do mundo! (Fernandes 2008) 

Considerando o que pode significar o impacto de tais recursos sobre a nossa economia – mesmo com o desconto de possíveis exageros em algumas previsões – e a perspectiva de um inevitável declínio posterior, cabe analisar como o Estado do Espírito Santo tem sido   afetado   pelos   ganhos   até   agora   obtidos   com   o   petróleo,   ou   seja,   como   seus municípios têm reagido ao aporte de royalties. 

Para isso, tomaremos como base o trabalho de Postali, mas com uma análise baseada em dados econômicos e sociais, não em modelos econométricos.

Este   trabalho   fará  uma análise  nos principais  municípios  beneficiários  de  royalties  no Espírito Santo: Linhares, Aracruz, Presidente Kenedy, São Mateus e Serra.

Para estes municípios, faremos uma análise inspirada no trabalho de Fernando Postali, verificando se realmente apresentam sinais da “maldição dos recursos” em comparação com   municípios capixabas que não têm grandes participações nas receitas vindas das atividades petrolíferas; faremos ainda uma análise baseada no trabalho de Caçador(2003) em relação aos impactos dos royalties nas finanças públicas na gestão Paulo Hartung.

2.1 Análise de Crescimento e Desenvolvimento nos Municípios Capixabas Produtores de Petróleo

Para começar, investigaremos se os municípios que estão recebendo royalties estão crescendo menos em termos de PIB e PIB per capita do que os municípios que não são beneficiários desses recursos. 

Seguem abaixo os dados fornecidos pela CMN (Confederação Nacional dos Municípios) para os 5 principais Municípios beneficiários de royalties do petróleo no Espírito Santo:

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Tabela 3: PIB, População e PIB per capita dos principais municípios beneficiários de royalties

Tabela 3.1: Presidente KennedyEM REAIS(R$) 2002 2003 2004 2005

a. PIB (b+c+d+e) 81.081,22 319.098,17 183.574,54 285.294,85

b. Agropecuária  12.853,30 19821,91 14958,24 14038,93

c. Indústria  51.777,89 274.369,22 143.183,63 240.425,28

d. Impostos  2.289,04  1395,47 1224,90 1404,70

e. Serviços (+f)  14.160,98  23.511,57  24.207,78  29.425,95 

f. Administração Pública  6.364,22  13.600,97  14.812,75  19.021,64 

g. PIB per capita  8.454,77  33.225,55  19.086,56  29.622,56 

População  9.590  9.604  9618 9631 

Tabela 3.2:LinharesEM REAIS(R$) 2002 2003 2004 2005

a. PIB (b+c+d+e) 866.216,60  934.948,12  1.250.343,76  1.432.524,59 

b. Agropecuária  115.667,82  113.661,03  141.776,01  161.480,79 

c. Indústria  241.478,88  235.519,37  379.710,97  457.681,34 

d. Impostos  101.590,19  118.498,30  151.907,24  184.871,86 

e. Serviços (+f)  407.479,71 467.269,42  576.949,53  628.490,60 

f. Administração Pública  114.319,21  142.120,40  170.996,25  201.199,08 

g. PIB per capita  7.425,65  7.907,34  10.434,84  11.798,29 

População  116.652  118.238  119.824  121.418 

Tabela 3.3:São Mateus EM REAIS(R$) 2002 2003 2004 2005

a. PIB (b+c+d+e) 471.044,66  513.388,02  670.192,85  739.485,65 

b. Agropecuária  102.579,00  117.044,32  167.332,81  181.258,42 

c. Indústria  72.549,58  55.957,95  102.027,41  125.422,28 

d. Impostos  35.893,95  38.928,42 45.589,82 47.039,22 

e. Serviços (+f)  260.022,13  301.457,32  355.242,81  385.765,73 

f. Administração Pública  86.464,77  109.215,77  125.912,45  151.455,58 

g. PIB per capita  4.941,98  5.280,41  6.760,54 7.317,94 

População  95.315  97.225  99.133  101.051 

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Tabela 3.4: Serra EM REAIS(R$) 2002 2003 2004 2005

a. PIB (b+c+d+e) 3.966.928,17  4.689.794,46  6.834.221,34  7.230.789,95 

b. Agropecuária  11.769,78  14.803,91  12.940,00  13.205,11 

c. Indústria  1.713.645,40  1.916.427,79  2.871.218,31  2.765.148,36 

d. Impostos  595.187,67  950.989,92  1.478.809,44  1.664.226,39 

e. Serviços (+f)  1.646.325,31  1.807.572,85  2.471.253,59  2.788.210,09 

f. Administração Pública  340.887,14  402.573,65  455.920,89  554.846,94 

g. PIB per capita  11.346,37  12.998,11  18.372,25  18.868,51 

População  349.621  360.806  371.986  383.220 

Tabela 3.5:Aracruz EM REAIS(R$) 2002 2003 2004 2005

a. PIB (b+c+d+e) 1.350.984,10  1.844.027,73  1.821.966,36  2.377.700,18 

b. Agropecuária  89.874,07  85.041,18  153.957,80  202.433,75 

c. Indústria  715.177,20  1.010.417,55  914.570,89  1.252.976,37 

d. Impostos  195.684,65  318.396,07  296.600,69  400.056,06 

e. Serviços (+f)  350.248,18  430.172,94  456.836,98  522.233,99 

f. Administração Pública  86.116,70  97.046,97  121.796,38  136.677,78 

g. PIB per capita  19.826,01  26.524,76  25.698,42  32.894,32 

População  68.142  69.521  70.898  72.283 

Como podemos observar nas tabelas, para todos os 5 principais produtores de petróleo no   território  capixaba,  o  aumento  de  sua população  não configura  propriamente  uma explosão demográfica, e constatou­se crescimento tanto do PIB como do PIB per capita.

Tomando como base 3 municípios no território capixaba que possuem uma participação muito   insignificante   em   relação   aos   mencionados   acima   em   ganhos   de  royalties, proporcionados pela produção de petróleo, verifiquemos se a maldição dos recursos se verifica   numa   comparação   entre   suas   taxas   de   crescimento   e   a   dos   municípios recebedores de royalties – isto é, se os municípios “petroleiros” cresceram menos que os “não­petroleiros”.   Para   isso,   compararemos   os   dados   dos   maiores   recebedores   de royalties  com os que foram apurados,  no mesmo período, para os municípios de Vila Velha, Cariacica e Guarapari.

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Tabela 4: PIB , População e PIB per capita de três municípios não beneficiários de royalties

Tabela 4.1.Vila Velha

 EM REAIS(R$) 2002 2003 2004 2005

a. PIB (b+c+d+e) 2.491.907,58  2.981.022,91  3.629.810,48  3.761.758,48 

b. Agropecuária  5.255,46  5.688,32  6.154,95  5.829,94 

c. Indústria  677.578,02  706.340,61  873.322,92  814.594,43 

d. Impostos  387.858,89  570.797,76  758.104,74  840.198,11 

e. Serviços (+f)  1.421.215,20  1.698.196,23  1.992.227,87  2.101.136,00 

f. Administração Pública  283.871,96  380.695,15  440.894,52  525.922,75 

g. PIB per capita  6.752,20  7.883,61  9.374,41  9.491,65 

População  369.051  378.129  387.204  396.323 

Tabela 4.2: Cariacica EM REAIS(R$) 2002 2003 2004 2005

a. PIB (b+c+d+e) 1.539.058,30  1.732.841,63  2.078.873,07  2.411.205,84 

b. Agropecuária  5.919,26  7.429,09  20.837,95  19.237,09 

c. Indústria  395.469,97  431.564,11  550.258,12  719.575,75 

d. Impostos  201.858,71  246.343,05  291.575,82  350.126,36 

e. Serviços (+f)  935.810,37  1.047.505,37  1.216.201,18  1.322.266,64 

f. Administração Pública  278.129,15  325.553,08  371.874,30  444.763,55 

g. PIB per capita  4.545,69  5.034,49  5.942,85  6.783,42 

População  338.575  344.194  349.811  355.456 

Tabela 4.3: Guarapari EM REAIS(R$) 2002 2003 2004 2005

a. PIB (b+c+d+e) 447.449,47  500.930,69  589.574,64  613.348,63 

b. Agropecuária  15.266,76  18.178,12  17.829,16  24.151,00 

c. Indústria  58.769,25  50.687,97  77.243,35  80.989,46 

d. Impostos  35.940,89  38.154,45  44.389,02  44.822,77 

e. Serviços (+f)  337.472,57  393.910,15  450.113,11  463.385,40 

f. Administração Pública  87.661,07  111.930,40  124.270,48  145.382,15 

g. PIB per capita  4.657,88  5.055,97  5.775,10  5.834,97 

População  96.063  99.077  102.089  105.116 

Fazendo os  cálculos  para  os  aumentos  dos  respectivos  PIB's  per  capita,  o   resultado encontrado foi satisfatório para o Estado capixaba. De acordo com o gráfico abaixo, todos os   municípios   que   recebem  royalties  apresentaram   crescimentos   superiores   aos   dos municípios que praticamente nada receberam:

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Gráfico 9: Aumento do PIB per capita em percentual (%) de 2000­2005

Municípios que recebem royalties 

Municípios que não recebem royalties.

Fonte: Elaboração própria com auxílio da CMN 2008(Confederação Nacional dos Municípios)

De acordo com a classificação abaixo, todos os municípios que recebem recursos vindos do petróleo possuem um PIB per capita maior, com exeção de São Mateus.

Tabela 5: Ranking do aumento do PIB per capita para os municípios estudados em percentual(%) de 2000 – 2005

COLOCAÇÃO MUNICÍPIO AUMENTO PERCENTUAL DO PIB PER CAPITA DE 2002­2005

1 PRESIDENTE KENNEDY 250%

2 SERRA 66.29%

3 ARACRUZ 65.91

4 LINHARES 58.88

5 CARIACICA 49.22

6 SÃO MATEUS 48

7 VILA VELHA 40.57

8 GUARAPARI 25.27

Em relação ao PIB, também podemos observar uma situação mais favorável dos municípios receptores de receitas. De acordo com o gráfico abaixo, os municípios que não recebem royalties apresentaram um crescimento inferior aos municípios que recebem tais recursos:

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Cariacica Vila Velha Guarapari Aracruz Serra São Mateus Linhares Presidente Kennedy

0,00%

50,00%

100,00%

150,00%

200,00%

250,00%

300,00%

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Gráfico 10: Aumento do PIB em percentual (%) de 2000 – 2005

Fonte: Elaboração própria com auxílio da CMN 2008(Confederação Nacional dos Municípios)

De acordo com a classificação abaixo para o PIB, podemos observar que os municípios que estão recebendo royalties têm crescido mais do que os que não recebem.

Tabela 6: Ranking do crescimento do Produto Interno Bruto dos municípios citados 2000 – 2005

COLOCAÇÃO MUNICÍPIO AUMENTO PERCENTUAL DO PIB DE 2002­2005

1 PRESIDENTE KENNEDY 251

2 SERRA 82.27

3 ARACRUZ 75.99

4 LINHARES 65.37

5 SÃO MATEUS 56.98

6 CARIACICA 56.66

7 VILA VELHA 50.95

8 GUARAPARI 37.07

Para que nossa análise fique mais abrangente, será feita a verificação comparativa do aumento populacional de cada região (produtora X não­produtora de petróleo), a fim de saber se a variante população teve alterações significativamente diferentes para os dois grupos  de  municípios   ­   ou   seja,   se  houve  uma  migração  populacional  desordenada, possivelmente atraída pelos ganhos do petróleo, contribuindo para diluir  o crescimento econômico dos municípios “petroleiros”.

De acordo com o gráfico abaixo, o município da Serra teve o maior aumento populacional de 2000 a 2005.  Mas o que realmente deve ser  considerado  importante,  é  o  fato  de aparecerem,   logo   em   seguida,   Guarapari   e   Vila   Vilha   como   o   2º   e   3º   municipios respectivamente no ranking de aumento populacional.

38

CariacicaVila Velha

GuarapariAracruz

SerraSão Mateus

LinharesPresidente Kennedy

0.00%

50.00%

100.00%

150.00%

200.00%

250.00%

300.00%

Column B

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Gráfico 11: Evolução do crescimento populacional dos municípios do ES citados, 2000 – 2005

Fonte: Elaboração própria com auxílio da CMN(Confederação Nacional dos Municípios)

Analisando o ranking abaixo, vemos que os municípios que não estão recebendo receitas de royalties têm tido maiores incrementos na população:

Tabela 7: Ranking do crescimento populacional dos municípios citados 2000 – 2005

COLOCAÇÃO MUNICÍPIO AUMENTO PERCENTUAL DA POPULAÇÃO DE 2002­2005

1 SERRA 9.61

2 GUARAPARI 9.42

3 VILA VELHA 7.38

4 ARACRUZ 6.07

5 SÃOMATEUS 6.01

6 CARIACICA 4.98

7 LINHARES 4.08

8 PRESIDENTE KENNEDY 0.42

Destaque para Presidente Kennedy que, apesar de não ter quase nenhuma diferença populacional, fez crescer o PIB e o PIB per capita em mais de 250%.

Assim, em relação ao crescimento econômico, pelo menos no que tange ao período de tempo estudado por nós, o Estado do Espírito Santo não parece manifestar sinais da “maldição   dos   recursos”   detectada   no   trabalho   de   Postali.   Em   solo   capixaba,   os municípios   que   recebem  royalties  têm  crescido  mais   do   que  os   municípios  que  não recebem nada ou que têm pouca participação na distribuição dos  royalties,  como Vila Velha e Cariacica, exemplos citados acima. Além disso, todos os municipios analisados por nós apresentaram aumentos consistentes na atividade industrial, descaracterizando a 

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Cariacica Vila Velha Guarapari Linhares São Mateus Serra Aracruz Pres. Kennedy.0

2

4

6

8

10

12

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presença de uma vertente particular da maldição dos recursos (a “doença holandesa”: recursos naturais gerando desindustrialização) no caso dos municípios “petroleiros”:

Tabela 8: Crescimento industrial dos municípios de 2000 – 2005

MUNICÍPIO CRESCIMENTO PERCENTUAL DA INDUSTRIA DE 2000­2005

PRESIDENTE KENNEDY 364,33%

LINHARES 89,53%

SÃO MATEUS 72,87%

ARACRUZ 75,19%

SERRA 61,36%

VILA VELHA 20,22%

CARIACICA 81,95%

GUARAPARI 37,80%

Além disso,  o  PIB   capixaba  global  é   o   segundo  que  mais   cresce  no  Brasil.  Graças principalmente às atividade de exploração de petróleo e ao agronegócio, o Espírito Santo acumulou R$ 52,78 bilhões em 2006, tendo um crescimento real de 7,7% em relação ao ano anterior ­  ficando inclusive à frente da variação média nacional, que foi de 4%, como mostram os gráficos abaixo:

Gráfico 12: Evolução do PIB do Espírito Santo, 2000 – 2006

Pib (em bilhões) a preços de mercado para o ES ­ Valores correntes ­ 2002 a 2006

26.75631.064

40.21747.191

52.782

0

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

2002 2003 2004 2005 2006

Ano

 Pib

 em

 R$ 

bilh

õ es

pib capixaba

Fonte: IJSN/IBGE 2008 – Contas Regionais

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O ES foi  o responsável pelo maior crescimento do Sudeste brasileiro,  chegando a ter quase o dobro do desempenho em relação a Minas Gerais e Rio de Janeiro ­ que, juntos, tiveram uma expansão de 4%; e em relação a São Paulo, que teve uma expansão de 3,9% (IJSN e IBGE, 2008).

Gráfico 13: Variação do Volume do Valor Adicionado Bruto das Unidades da Federação na Região Sudeste – 2002 a 2006

Fonte: IJSN/IBGE 2008

De acordo com o gráfico abaixo, e como destacado pela presidente do IJSN, Ana Paula Vescovi, os numeros exibidos para o PIB capixaba mostram que, desde 2005, a atividade econômica do Espírito Santo registra um ritmo de expansão relativamente superior ao da expansão brasileira:

Gráfico 14: Variação real do PIB a preços de mercado.ES e BR – 2002 a 2006

FONTE: IJSN/IBGE 2008

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“Esses números confirmam a robustez e o dinamismo da economia capixaba,  além de   registrar  esse   ritmo  acelerado  de  expansão  superior  ao  da  situção  brasileira.” (Ana Paula Vescovi, presidente do IJSN)

Avaliando   o   período   2002­2006,   o   PIB   capixaba   acumula   expansão   de   20,5%, correspondente à média anual de 4,8%, ficando a frente da situação brasileira, que teve em seu PIB, um crescimento de 14,3%.(IBGE/IJSN 2008)

No que diz respeito à renda  per capita, os resultados tambem são animadores. O que representava R$ 8,378 mil em 2002, passou a significar R$ 15,065 mil em 2006, ficando à frente também da renda per capita nacional, que no mesmo período saiu de R$ 8,258 mil para R$ 12,724 mil .Assim, desconsiderando o crescimento populacional de 1,7% ao ano em média, a renda per capita real do Espírito Santo registrou alta de 12,8% entre 2002 e 2006, superando a alta acumulada no Brasil, que foi de 8,3%. Além disso, considerando apenas o ano de 2006, a variação real da renda per capita média no Estado capixaba foi de 6%, contra os 2,5% da média nacional (IBGE/IJSN 2008)

No que tange ao crescimento de cada um dos principais setores da economia capixaba em 2006, sem dúvida os resultados foram muito positivos.

O setor da Agropecuária obteve um crescimento de 4,2% correspondendo a 9,5% do valor adicionado do Estado. Em relação à produção vegetal , houve um crescimento de 7,7% do valor adicionado da atividade, correspondendo a um crescimento real de 3,8% em 2006. A produção animal teve crescimento real de 6,1%. 

O setor Industrial apresentou um crescimento de 7,4% em 2006. A extração mineral foi sem dúvida uma das atividades que mais contribuíram para esse feito. Com crescimento de 14,5%, foi influenciada sobretudo pelo aumento da extração do petróleo e gás natural, que   juntos   representaram   66%.   Outra   atividade   que   também   contribuiu   para   o   bom desempenho         do   setor   industrial   foi   a   de  transformação,   que   cresceu   5,0%,   com destaque   para   os   segmentos   de   alimentos   e   bebidas,   que   tiveram   um   aumento   de volume  na  ordem de  12,5%.em 2006.   .Vale   ressaltar  que  a  construção  civil  também obteve taxa de volume positiva em 4,9%.(IJSN/IBGE 2008)

Para  o  setor  de  Serviços,  houve  crescimento  de  7,5%,  sendo   responsáveis  diretos  o comércio e serviços de manutenção e reparação (8,7%), os transportes (14,2%), além da administração pública (3,5%), que juntos representam 59,7% do setor de serviços.

Em   nosso   entender,   haveria   necessidade   de   analisar   comparativamente   também   o desenvolvimento social dos municípios beneficiários e não beneficiários de  royalties. O indicador  mais significativo para  tal  análise  deveria  ser  a medida de Desenvolvimento Humano de cada município (IDH­M). É digno de nota que, segundo estudo do Instituto Jones   dos   Santos   Neves   (IJSN)   baseado   na   Pesquisa   Nacional   por   Amostra   de Domicílios (PNAD) do IBGE, feita pelo professor e diretor do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Marcelo Neri, o Espírito Santo foi o Estado que mais 

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conseguiu reduzir os índíces de probreza do país, ficando na frente inclusive de Santa Catarina entre os anos de 2001 e 2007.

O índice [de pobreza] baixou de 28,1% para 13,3%, o que representa uma queda de 52,83%. Esses números deixaram o Espírito Santo à frente de Santa Catarina (­52%), Paraná (­46,5%) e Goiás (45,5%), em relação à diminuição da taxa de  pessoas consideradas pobres, ou seja, indivíduos com renda per capita até R$ 137,00.Nesses últimos seis anos, 405 mil capixabas saíram da pobreza. No ano  passado, os pobres responderam por 13,3% da população do Estado, que é de 3,53   milhões   de   pessoas.   No   Brasil,   esteíndice   é   quase   o   dobro:   23,6%.A melhoria sócio­econômica é observada ainda por meio do número de pessoas  que ingressaram na classe média. Entre 2001 e 2007, foram 684 mil habitantes a mais com renda média domiciliar entre R$ 1.064 e R$ 4.591, totalizando 1,767 milhão de capixabas nessa faixa.( Zandonadi 2008)

O desenvolvimento econômico e o conseqüente aumento na empregabilidade são os fatores que contribuiram para os resultados dos índíces de acordo com a  diretora presidente do IJSN, Ana Paula Vescovi

Observamos   que,   no   Estado,   a   contribuição   relativa   do   trabalho   para   o  crescimento da renda é de quase 90%. Percebemos, ainda, que houve redução de quase 20% no percentual de pessoas que dependem de transferência de  renda governamental (Zandonadi 2008)

Ainda segundo Vescovi,o Espírito Santo caminha no rumo certo no que concerne aos indicadores sociais: “[...]Somos um modelo no País de crescimento com inclusão social” (Governo do Espírito Santo, 25/09/2008)

Vale a pena ainda citar os resultados socioeconômicos alcançados pelo ES nos últimos anos, apresentados no seminário e divugados no site do Governo do Espírito Santo:

  ­ Entre 2003 e 2007, a queda da taxa de pobreza no Espírito Santo foi de  47% (PNAD/IBGE 2008)

 ­ O Espírito Santo foi o Estado que mais reduziu pobreza no período entre 2003 e 2007.  A taxa de pobreza, que era de  25,2% em 2003,  caiu para a metade, ou 13,3%, em 2007. Neste mesmo período, a extrema pobreza saiu de 7,8% para 3,5% , e a classe média cresceu  48%  no Espírito Santo (35% no Brasil). Em 2007, a classe média   já   representava mais  da  metade da população capixaba  (50,1%), índice acima da média nacional (47,1%).

  ­ Entre 2003 e 2007, a renda domiciliar  per capita  cresceu  27%, contra  23%  na média  do  país.  A  desigualdade  medida  pelo   índice  de  GINI  declinou  5,5%  no mesmo período, também acima do registrado no País (4,9%). Como conseqüência, no ranking dos estados com menor  índice de pobreza, o estado subiu do nono lugar   em 2003  para  o   terceiro   lugar   em 2007,   ficando  atrás  apenas  de  Santa Catarina e São Paulo.

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  ­  R$13.847,00  é  o  PIB  per   capita  no  Espírito  Santo.  A média  nacional   foi   de R$11.658,00. (IBGE/IJSN(2008)

 ­ 38% foi o crescimento do número de empregos formais no Espírito Santo entre 2003 e 2007, o maior entre os estados brasileiros. (PNAD/IBGE 2008)

  ­ 16,1%  foi a taxa de crescimento industrial no Espírito Santo no 1º semestre de 2008. A média nacional foi de 6,3%. (IBGE 2008)

  ­  100%  das  escolas  da  Rede  Estadual  nas  áreas  urbanas   têm  laboratório  de informática com internet de alta velocidade. (Sedu/ES 2008)

  ­ 20 vezes  foi quanto cresceu o investimento anual do Governo do Estado, nos últimos 5 anos. O valor investido hoje representa 16% da receita. (Sefaz/ES)

 ­ 97% dos capixabas estão satisfeitos em viver no Espírito Santo. (Ibope 2007)

Tabela 09: Variação dos indicadores sociais do Espírito Santo para até 2007

INDICADORES VARIAÇÃO 2001­2007 VARIAÇÃO 2006­2007

Renda Média 23,12% 4,82%

Índice de Gini ­11,23% ­1,98%

Porcentagem de Pobres ­52,63% ­11,08%

Porcentagem dos extremamente Pobres ­63,65% ­19,04%

Porcentagem de pessoas na Classe Média 46,28% 6,42%

Esses dados são para o estado do Espírito Santo como um todo, não permitindo uma análise comparativa mais fina entre municípios receptores e não receptores de royalties. No  entanto,   como  veremos  a  seguir,   o  Estado   capixaba  vem aplicando  uma  política própria de redistribuição interna de parte das receitas dos royalties  para municípios não petroleiros, o que pode estar contribuindo para diluir disparidades que se observam entre municípios de  outros estados produtores de petróleo. 

2.2 O Epírito Santo e a Lei Nº 116/2006

Numa época de grandes debates em torno da política a ser adotada para a extração do petróleo  na  área  do  pré­sal,   se  deve­se  ou  não  criar  uma estatal  para  esse   fim,   se devemos aplicar os   recursos daí advindos em investimentos no exterior ou canalizá­los para investimentos internos, etc., o estado capixaba foi ousado e deu um pontapé inicial para o equacionamento de algumas questões. Para tentar melhorar a situação econômica 

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e   social   dos   municípios   que   não   têm   o   benefício   da   receita   dos  royalties,   tentando combater a concentração de renda e buscando a melhor distribuição, o Estado do Espírito Santo criou um Fundo para Redução das Desigualdades Regionais, o que representa o primeiro projeto nacional nesse sentido, tendo como foco os 68 municípios capixabas que não recebem royalties.

Os recursos são provenientes do repasse de 30% dos royalties creditados ao cofre público estadual:

Em vigor  desde  junho de 2006,  a distribuição do dinheiro do  fundo  leva em  consideração a população, o percentual de repasses do ICMS e a condição de não  ser   grande   recebedor  de   royalties.  Os  municípios   que   têm  participação acima de 10% no ICMS e mais de 2% dos royalties não têm acesso aos recursos do Fundo. De julho a dezembro de 2006, o Governo do Estado repassou R$ 11,5 milhões aos municípios beneficiados. Vale destacar que os recursos só podem  ser   gastos   em   saneamento   básico,   destinação   final   de   resíduos   sólidos,  universalização   do   ensino   fundamental   e   atendimento   à   educação   infantil,  atendimento à saúde, construção de habitação para população de baixa renda,  drenagem e pavimentação da vias urbanas e construção de centros integrados  de assistência social.(Governo do Estado do Espírito Santo 2008)

Os 68 municípios capixabas beneficiários desse Fundo têm a obrigação de investir em áreas pré­establecidas pelo Governo Estadual:

Art.   3º   Os   recursos   repassados   aos   municípios   deverão   ser   depositados   em   conta  específica e serão aplicados exclusivamente em investimentos, inclusive os respectivos  rendimentos financeiros das disponibilidades, visando:

I ­ universalização dos serviços de saneamento básico;

II ­ destinação final de resíduos sólidos; 

III ­ universalização do ensino fundamental e atendimento à educação infantil;

IV ­ atendimento à saúde; 

V ­ construção de habitação para população de baixa renda;

VI ­ drenagem e pavimentação de vias urbanas; 

VII ­ construção de centros integrados de assistência social;

VIII ­ formação profissional;

IX ­ transportes;

X ­ segurança;

XI ­ inclusão digital; e

XII ­ geração de emprego e renda (LEI Nº 116/2006).

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Dessa maneira, além de se distribuírem recursos aos Municípios do Estado, procura­se orientar o desenvolvimento dos mesmos delimitando as áreas mais críticas em que os recursos devem ser investidos.

Para garantir que tais recursos sejam realmente aplicados nas áreas pré­determinadas, foi criado um Conselho de Acompanhamento e Fiscalização, que tem as seguintes funções: 

§ 2º São atribuições do Conselho:

I ­ fiscalizar a aplicação dos recursos;

II ­ realizar avaliações semestrais sobre aplicação dos recursos;

III ­ definir aplicabilidade dos recursos em consonância com o artigo 3º desta Lei;

IV ­  enviar   relatório sobre aplicação dos recursos e avaliação, nos meses de  julho e  novembro de cada ano, ao legislativo municipal e estadual (LEI Nº 116/2006).

Assim, a tendência é que os municípios contemplados pelo Fundo de Redução das Desigualdades Regionais também consigam obter as melhoras econômicas e sociais que vêm sendo conquistadas pelos municípios receptores de royalties. Cabe fazer a análise para 2005 em diante, assim que estiverem disponíveis todos os dados.

Porém, fazendo uma análise nas finanças públicas do Espírito Santo, Caçador chegou à seguinte conclusão:

Logo, o aspecto mais positivo das participações governamentais nas finanças públicas,  que  é   o  aumento  da  capacidade  de   investir   do  poder  público,  não   foi   verificado  no  orçamento do Estado do Espírito Santo. Dessa forma, o sistema econômico capixaba ainda   não   desfrutou   dos   efeitos   benéficos   típicos   de   uma   alta   arrecadação   com participações   governamentais,   o   que   ocorre   no   Estado   do   Rio   de   Janeiro,   grande beneficiário destes recursos (Caçador, 2005).

Para embasar essa afirmativa, Caçador partiu dos seguintes dados:

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Tabela 10: Evolução da receita do governo do Espírito Santo em comparação com a arrecadação de royalties e as participações especiais (1998 – 2003)

De acordo com os dados acima, para o ano de 2003, a participação dos royalties chegou a   apenas 1.37% da receita total do Estado do ES, o que ainda não permitia grandes investimentos em infra­estrutura, diversificação econômica e programas sociais. Porém, segundo o próprio autor, a tendência é de que esse quadro vá tendendo a mudar, por conta da expansão da produção petrolífera.

No entendimento de Caçador, o Espírito Santo estaria aplicando os recursos provenientes do petróleo de forma incorreta – utilizando­os para quitar dívidas com pessoal, ao invés de promover desenvolvimento econômico:

Mesmo sendo recursos pouco expressivos, o governo estadual – administração Paulo  Hartung– fechou um contrato de compra e venda de royalties com o governo federal em 4 de julho de 2003 38 . O acordo permitiu ao Estado receber R$ 351 milhões, cuja fonte  foram os royalties previstos para os próximos seis anos (entre 2004 e 2010), que serviu  para quitar os salários atrasados dos servidores públicos, amortizar a dívida com a União e capitalizar o fundo previdenciário dos servidores (Caçador 2005, p.

Por outro lado, poderíamos argumentar – a favor da decisão tomada pelo governo Paulo Hartung neste quesito – que seria muito difícil o Estado capixaba atingir ganhos expressivos em crescimento e desenvolvimento social, como vem ocorrendo, com o funcionalismo público insatisfeito, submetido a arrocho salarial. Salários atrasados são 

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compromissos trabalhistas que, na iniciativa privada, de acordo com a lei, têm prioridade de atendimento. Por que, na administração pública, isso deveria ser diferente? Na época de hegemonia do pensamento neo­liberal no debate econômico, com base no dogma do Estado Mínimo, tornou­se um jargão conotar como “gastança” e “desperdício de recursos governamentais” quaisquer gastos com funcionalismo público. Mas como atingir melhoras nos índices sociais de saúde, educação, segurança pública, etc., com servidores públicos forçados a greves sucessivas, privados do direito elementar de receber seu salário ao fim do mês? Ademais, aumentos na massa salarial são indutores de crescimento econômico, por estimular a demanda por bens e serviços.  

Para uma análise mais atualizada do peso das receitas de  royalties  no orçamento do Estado do Espírito Santo, obtivemos os dados abaixo, referentes aos anos 2004 a 2007

De acordo com dados do Tesouro Nacional, a evolução das receitas do Espírito Santo para os anos de 2004­2007 são os seguintes:

Tabela 11: Evolução da receita do governo do Espírito Santo em comparação com a arrecadação de royalties e as participações especiais (2004 – 2006)

Descrição 2004 2005 2006 2007

Receita Corrente 6.093.470.773 7.608.851.798 8.355.327.333 9.682.934.113

Receita de Royalties 51.617.198.56 57.283.546.37 96.611.916.56 143.817.775.7

Receita de Capital 211.949.849 201.982.898 201.460.468 323.135.624

Receita Total 5.925.393.069 7.327.286.923 8.040.876.262 9.342.978.159

Fazendo uma análise dos dados acima, podemos observar um aumento de 57,67% da receita total no período de 2004 até 2007, sendo que houve um aumento de 178,6% nas receitas de royalties para o mesmo período. Se, de acordo com os dados de Caçador, em 2003   as   receitas   dos  royalties  representavam   1,37%   do   total,   para   o   ano   de   2007, passaram a representar 1,53%. Ainda é pouco expressivo em relação ao total, mas deve­se   levar  em consideração que a  produção  irá  aumentar  consideravelvemente  quando começar a extração petrolífera na área do pré­sal. 

Apesar do Estado capixaba não ter apresentado ainda sinais visíveis da “maldição dos recursos”, é importante que se realize uma avaliação contínua do impacto dos royalties e da atividade petroleira para cada município e para o Estado do Espírito Santo como um todo,  a   fim  de  assegurarmos  o  cumprimento  das  3  metas  que definimos  acima:  1  – incentivo à industrialização, ao desenvolvimento tecnológico e à economia como um todo, ao invés da “doença holandesa”; 2 – inclusividade social do crescimento econômico; 3 – sustentabilidade daquele desenvolvimento para além do ciclo do petróleo. 

Como assegurar o cumprimento dessas metas? Um primeiro passo nesse sentido deveria ser   uma   análise   cuidadosa   das   políticas   adotadas   por   diferentes   países   que   foram beneficiados,  ou  prejudicados,  pela  descoberta  e  exploração  de  grandes  volumes  de 

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petróleo em seus territórios nacionais. Assim, podem ser identificados caminhos a seguir e armadilhas a evitar, a partir do estudo de casos virtuosos e de casos viciosos.

Dubai e Noruega, assim como o Canadá,  são países que aproveitaram muito bem os recursos do petróleo para promover o desenvolvimento global de suas economias com sustentabilidade futura, e também com desenvolvimento social. Segundo dados do PNUD, no    Relatório  do  Desenvolvimento  Humano:  2007/2008,  Noruega e Canadá   são os  2 primeiros países respectivamente no ranking mundial dos melhores níveis de IDH.

No capítulo que se segue,  faremos um estudo comparativo dos modelos virtuosos de Dubai,   Noruega,   Canadá   e   Alaska,   contrastando­os   com   os   casos   negativos   da Venezuela (pelo menos até um passado recente) e Nigéria.

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CAPÍTULO 3:IMPACTO DOS RECURSOS DO PETRÓLEO NO DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO: ANÁLISE COMPARATIVA DE DIFERENTES MODELOS INTERNACIONAIS 

Diante do debate exposto acima, sobre qual deve ser a aplicação correta para os recursos provenientes  do  petróleo,   a   fim   de  evitar­se   a   “maldição  dos   recursos”   e   a   “doença holandesa”,   faremos a seguir  uma análise  sobre os  modelos  adotados por  5    países grandes produtores de óleo. Vale  lembrar  que cada país  tem suas peculiaridades em termos de dinâmica econômica,  demografia,  perfil  de distribuição de renda e riqueza, cultura empresarial e política, escolaridade, grau de desenvolvimento econômico e social, etc. O impacto do petróleo sobre sua economia pode apresentar dois tipos de resultante: A desindustrialização, efeito da famosa “maldição dos recursos”, tendo como resultado uma piora no quadro econômico e social ­ ou ganhos em desenvolvimento econômico que prometem sustentabilidade futura, refletidos também em índices cada vez melhores de desenvolvimento social.  De   uma   maneira   geral,   países   em  desenvolvimento   tendem   a  aplicar   seus   recursos provenientes do petróleo em infra­estrutura, para assegurar o desenvolvimento econômico e social,  enquanto que nos países mais  ricos,  a preocupação é  maior  na área  fiscal; promove­se a sustentabilidade futura com sucessivos aumentos de receita decorrentes de aplicações dos recursos em fundos de investimentos.

Veremos a seguir tantos modelos positivos quanto negativos:

3­1 Modelo de Aplicação de Royalties na Noruega

De acordo com o Relatório do Desenvolvimento Humano de 2007/2008, a Noruega é atualmente um dos países mais desenvolvidos do mundo. Com um IDH que atingiu 0,968 no   rankig   do   PNUD,  esse   país  europeu   obteve  a   segunda   colocação,   ficando   atrás apenas da Islândia. Suas reservas provadas são de 7,7 bilhões de barris de petróleo.

Quando se discute a política de aplicação dos recursos oriundos do petróleo que deve ser adotada   no   Brasil,   principalmente   após   a   descoberta   do   pré­sal,   vários   economistas apontam o modelo norueguês como uma excelente referência – um caso tão virtuoso que muitos afirmam ser o modelo mais saudável para ser adotado em nosso país.

A Noruega começou a se preocupar com o futuro cedo. Considerando ser o petróleo um bem finito, e com a finalidade de se desvincular da dependência dos recursos oriundos da atividade petrolífera, o país criou em 1990 o  Fundo Petrolífero Estatal Norueguês (FPEN). Diferentemente do que ocorre no Brasil, onde a União detém 50% das receitas do óleo, neste país europeu, a União fica em posse dos 100%; realiza aplicações de tudo o que ganha com a atividade petrolífera em um fundo de pensão, que atua como se fosse um 

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fundo soberano. O dinheiro é investido no exterior, na compra de ações e bônus.  Apenas os dividendos dessas aplicações são gastos no país.(Lu Aiko Otta e Leonardo Goy 2008). 

Na verdade, o fundo tem 2 objetivos: promover a estabilidade macroeconômica e garantir grandes rentabilidades futuras para a sociedade através das aplicações na poupança.

De   acordo   com   Serra   (2005,   p.   133)   o   FPEN   contribui   para   a   estabilidade macroeconômica  em  duas   frentes:   nos  momentos  de  alta   do  preço  do  petróleo,   ele recolhe o excesso de divisas do país exportador,   reduzindo a pressão  inflacionária;  e quando o preço cai o fundo socorre o Tesouro, evitando a aceleração do endividamento.

De acordo com pesquisa publicada na revista Boletim dos Royalties e Desenvolvimento, de março de 2008:

O fundo norueguês, que em 2005 teve o seu patrimônio avaliado em US$ 213 bilhões (Enriquez, 2006, p.67), apenas aplica suas receitas em ações e títulos no  exterior . Uma possível elevação do preço do petróleo aumentaria as aplicações do fundo no exterior, o que não impactaria a atividade econômica na noruega. o  fundo,   portanto,   cumpre   o   papel   de   resguardar   a   economia   norueguesa   da  volatilidade dos preços do petróleo (Bregman e Queiroz 2008, p.5)

Dessa forma, a Noruega deu preferência para poupar seus recursos vindos do petróleo ao invés de aplicar em investimentos em infra­ estrutura. Diferentemente do que ocorre no Brasil, onde há distribuição de parte das receitas do óleo para os Estados e municípios, o Governo  norueguês  não  reparte  uma parcela  daquela   receita   com seus  territórios.  O subsídio   que   é   dado   a   alguns   estados   neste   país   escandinavo   tem   outro   objetivo: Promover   incentivos   aos   moradores   situados   em   regiões   afastadas   dos   centros petrolíferos   para   que   não   ocorra   uma   migração   populacional,   ou   seja,   para   que   os moradores situados nas terras geladas não abandonem suas áreas de origem  atrás das riquezas trazidas pela “bênção negra”.

Segundo Gobetti (2008),  essa política de não repassar parte das receitas do petróleo não causou   empecilhos   para   o   progresso   da   sociedade   norueguesa;   pelo   contrário, atualmente, como vimos acima, o País é  um dos mais desenvolvidos do mundo. Para ilustrar o modo como se dá o desenvolvimento em municípios da Noruega, o autor cita a cidade de Stavanger:

Esse sistema não impediu que cidades como Stavanger, capital norueguesa do  petróleo, se desenvolvessem ao longo dos últimos 40 anos, transformando­se em   uma   das   mais   ricas   do   país.   Até   a   década   de   60,   Stavanger   era   um município pacato e pobre do sudoeste, com cerca de 50 mil habitantes, a maioria dos quais dedicados à pesca e navegação. Com as primeiras descobertas de petróleo   em   seu   litoral,   passou   a   atrair   multinacionais   e   trabalhadores   e  engenheiros   de   todo   o   mundo.Em   vez   de   assistir   ao   boom   populacional,   o município ­ mesmo sem receber royalties ­ soube tirar proveito dele, arrecadando impostos com as 1.100 residências construídas a cada ano e reinvestindo parte  

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do dinheiro na construção de um forte sistema de educação. No Brasil, muitos municípios   beneficiados   pelos   royalties   não   fazem   o   menor   esforço   para  arrecadar tributos próprios, como o IPTU e o ISS.(Gobetti 2008)

E conclui dizendo que o ensino em tal cidade deve ser seguido como grande exemplo por ter excelente conceito:

Hoje, Stavanger concentra os mais importantes centros de ensino e pesquisa do mundo na área de engenharia do petróleo, que não só está dando formação para os jovens locais como atraindo profissionais de outros países. O governo também fortaleceu economicamente a região ao escolhê­la como sede da Statoil, maior empresa de petróleo do país, controlada pelo Estado, e ao fornecer suporte na área educacional  Gobetti, 2008)

Como Gobetti, e outros ainda, acreditamos ser de fato a Noruega um modelo interessante que deve servir de referência para o Brasil. No entanto, o governo brasileiro não deve mimetizar por completo tal política.

Podemos perfeitamente criar um fundo ou uma Estatal focada especificamente na gestão dos recursos do petróleo, com o objetivo de promover a estabilidade macroeconômica. Dada   a   volatilidade   do   preço   do   petróleo,   seria   interessante   assegurar   alguma estabilidade e rentabilidade com a aplicação de parte desses recursos em ações e títulos no exterior. Com isso, o país daria ainda um passo importante rumo à sustentabilidade do crescimento econômico para além do ciclo do petróleo. 

Porém, o Brasil carece, e muito, de investimentos em infra­estrutura. Com uma elevada concentração  de  renda,  aliada a  carências  agudas  no quadro  social,  o  país   também necessita de investimentos urgentes em saúde, educação, saneamento básico, habitação popular,  etc. Além disso, é preciso pensar no fluxo migratório que poderá ocorrer com o “boom” do petróleo. Atraídos pelas oportunidades que as grandes empresas petrolíferas proporcionam,   ou   parecem   proporcionar,   muitos   brasileiros   pobres,   pouco   ou   nada escolarizados, e desprovidos de melhores horizontes, tentarão melhorar sua qualidade de vida  em pólos   situados  em alguma  região   industrial   petrolífera  –  onde  acabarão  por engrossar as favelas e as estatísticas de criminalidade violenta.

Os dois países, Brasil e Noruega, são muito diferentes. Economicamente, o Brasil precisa de investimentos a curto prazo. No caso, o “fundo soberano brasileiro” não deve aplicar 100% das receitas do petróleo com títulos e ações no exterior, pois necessitamos de mais investimentos   em   infra­estrutura,   além   de   educação,   saúde,   saneamento,   habitação popular, etc.

Acreditamos que a política a ser implantada para a gestão dos recursos do petróleo no Brasil     deve     também   visar   a   sustentabilidade   da   dinâmica   econômica   pós­ciclo   do petróleo ­ ou seja, uma parcela da receita deve ser canalizada para promoção de outras atividades   econômicas   capazes   de   substituir   a   atividade   petrolífera   no   futuro;   outra parcela deve ser direcionada a investimentos a curto prazo.

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Um ótimo exemplo de sucesso nessas diretrizes é o modelo implantado em Dubai, nos Emirados Árabes, que conseguiu aliar investimentos internos a sustentabilidade. Será o segundo país que analisaremos neste capítulo.

3.2 Modelo de Aplicação de Royalties em Dubai

Dubai  é o segundo maior  emirado dos Emirados Árabes Unidos. Sua população atual é de  cerca de 1.570.000 habitantes, e sua área é de 3,885 quilômetros quadrados.

O modelo de aplicação dos recursos provenientes do petróleo realizado em Dubai merece destaque. Atualmente, essa região é um dos maiores centros turísticos do mundo, e toda a cidade é marcada pela modernização e luxo, enquanto que antes das descobertas das jazidas de petróleo, o emirado não apresentava nenhum indício de prosperidade e de modernização. Com a descoberta da “bênção negra”, os dirigentes de Dubai, ao perceber que as jazidas não iriam durar muito tempo, trataram de promover a sustentabilidade e investimentos em infra­estrutura. Já ao final da década de 60, começaram a desenvolver projetos para a aplicação dos recursos advindos da atividade petrolífera. 

De acordo com Quarmby (2008), o pontapé inicial para o desenvolvimento de Dubai foi a construção   do   porto   Jebel   Ali,   situado   bem   próximo   a   uma   usina   de   alumínio,   que fomentou um grande incremento do comércio pela região.

Desde a construção do porto, Dubai tornou­se também uma grande potência do turismo. Graças a forte aplicação de  royalties  no setor, essa região conseguiu se desenvolver a ponto de  implantar  as  “7  maravilhas”  do mundo moderno  ­  grandes centros  turísticos reconhecidos  internacionalmente,  que propiciam caudalosos e crescentes retornos aos cofres da cidade. São projetos e construções realmente “faraônicos”:  o Prédio Mais Alto do Mundo, 2 majestosos complexos de ilhas artificiais, O Maior Parque de Diversões, o Maior  Shopping Center,  O Maior  Resort  de Esqui   Indoor do Mundo,  O  Mais Luxuoso Resort Subaquático do Mundo  , etc. Segundo Bandini  (2007), espera­se que em 2010 Dubai atraia nada menos do que 15 milhões de turistas.

Além disso, Dubai constitui atualmente o principal centro financeiro e comercial do Oriente Médio, atraindo muitos investidores, notadamente após a eclosão da crise financeira global ainda em curso. Num cenário internacional de falta de confiança, Dubai aparece como um mercado seguro e lucrativo, como destaca o professor Rocha:

“[...]Mas à medida que a mordida cada vez mais profunda da crise do crédito vai  se espalhando a partir de Wall Street e tomando proporções globais ­  torpedeando mercados antes estáveis desde Xangai, China, até Estocolmo ­ o Gate(principal prédio do centro financeiro de Dubai) vai se transformando num poderoso farol que atrai uma revoada de homens de negócios em busca da sua fatia em um dos últimos mercados em alta do mundo”(Rocha, 2008).

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Além de atrair grandes investidores, essa região tem despertado forte interesse em trabalhadores vindos de qualquer parte do mundo. Segundo dados do Professor Rocha, são 20 mil pessoas que chegam por mês, atraídas pelos bons salários pagos no emirado:

“(...) uma multidão de trabalhadores, vindos do subcontinente sul asiático, que  arrumam   as   camas   dos   banqueiros   nos   hotéis   e   dirigem   seus   confortáveis  Mercedes pela cidade (cerca de 90% da população de 1,4 milhão de habitantes  de Dubai é estrangeira) (Rocha, 2008).

Com tudo isso, esse emirado tem conseguido obter altíssimos índices de crescimento:

Os   números   atuais   de   crescimento   econômico   para   essa   região   são  impressionantes.Está em cerca de 11% ao ano e o governo espera que continue nesse ritmo. Os preços dos imóveis cresceram 42% no primeiro trimestre do ano  ( Rocha, 2008)

Sem dúvida, deve­se analisar até que ponto esse crescimento econômico se reflete em desenvolvimento, cabendo­nos observar com cautela, como será feito o controle inflacionário e se ocorrerá um crescimento desorganizado. Porém, o mais importante passo já foi dado: Dubai se preocupou com o futuro da nação e tem conseguido boas divisas, sem ficar dependente da atividade petrolífera. 

3.3 Modelo de Aplicação dos Royalties no Alaska.

Grande parte  da  arrecadação de  royalties  de  petróleo  nos EUA  tem como objetivo  a ampliação  e  a  conservação  de  seu  patrimônio  ambiental:   uma vez  que  o  petróleo  é considerado um bem púbico,  nada mais coerente do que se investir parte de seus lucros em outros ativos púbicos.  Além disso,  os  royalties  também são usados para  financiar investimentos   como   alternativa   de   substituição   das   atividades   ligadas   ao   petróleo, trazendo ganhos de renda e promovendo a sustentabilidade (Leal, Serra 2003).

Ou   seja,   à   medida   que   as   reservas   de   petróleo   vão   se   limitando,   tendendo   ao esgotamento, recursos são lançados para promover investimentos públicos; e, ao mesmo tempo, existe a preocupação em diversificar a produção, para que a economia não se torne   dependente   da   riqueza   do   óleo.   Busca­se   garantir   a   sustentabilidade   e   o desenvolvimento social.

Um grande exemplo é o que ocorre no Alaska. Para prevenir uma perigosa dependência dos recursos do petróleo, esse estado americano criou um fundo permanente (Permanent Fund Dividends), cujos dividendos são distribuídos igualmente e diretamente à população que reside no território:

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Interessa   ressaltar  aqui  o   caráter  de  permanência  do   fundo,  cujos   recursos,  portanto, são considerados onerosos, exigindo retorno financeiro adequado. Do saldo acumulado, 45% são aplicados em papéis de renda fixa, entre 35% e 40% em   ações   de   empresas   americanas,   aproximadamente   10%   em   ações   de  empresas   estrangeiras   e   o   restante   em   empreendimentos   imobiliários  (Serra 2003)

Assim, para se precaver contra o fim das receitas vindas da “bênção negra”, o Alaska promove a sustentabilidade aplicando seus royalties no fundo. Seus lucros acabam sendo distriuídos   aos   moradores   como   uma   especíe   de   política   de   renda   mínima,   como destacam os economistas Serra e Leal: 

Como apenas os dividendos são distribuidos, a filosofia do instrumento é criar um fundo perpétuo suficientemente amplo para garantir um nível de renda aos moradores do Alaska  quando a curva  de recebimento dos royalties começar a cair(Serra, Leal 2003)

Diferentemente do que ocorre na Noruega, em que 100% dos royalties ficam com a União, nos EUA, os estados ficam com 50%. O Alaska também optou pela criação de um fundo, como aquele país nórdico; só que também se preocupa com o patrimônio público. Além de promover a sustentabilidade, deu um grande passo para o desenvolvimento social, gerando renda e prosperidade para toda a população. 

3.4 Modelo de Aplicação dos Royalties na Venezuela

Não restam dúvidas de que a Venezuela representa um caso importante para análise no debate sobre estratégias de aplicação dos recursos oriundos  do petréleo. Numa primeira aproximação ao caso venezuelano, temos dados muito preocupantes:  apesar de grandes reservas provadas (80 bilhões de barris) , os recursos do “ouro negro”  ainda não trouxeram estabilidade macroeconômica para a Venezuela, e a atividade petrolífera permanece constituindo a base da economia do país.A dependência do óleo é notável: suas receitas de exportação representam 75% do total, configurando metade da arrecadação pública e cerca de 1/3 do PIB( Queiroz e Bregman 2008).

Segundo alguns autores, a Venezuela não tem feito uma gestão adequada dos recursos advindos   das   atividades   petrolíferas;   essa   má   administração   apareceria   refletida   em desempenhos negativos, como os destacados por Eifert et al (2002: 13­14), mencionados no trabalho de Queiroz e Bregman citado acima:

As   instituições   venezuelanas   não   estão   preparadas   para     lidar   com   a dependência das rendas do petróleo, com seus constantes déficits fiscais e sua incapacidade de gerenciar a diversificação econômica(Queiroz e Bregman, 2008)

Em 1998, quando o preço do petróleo chegou a atingir o nível mais baixo desde 1970,  a Venezuela lançou um fundo de estabilização, que acumularia reservas quando o preço do 

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petróleo estivesse elevado e cobriria o déficit orçamentário quando os preços caíssem. Mas isso não impediu a expansão do déficit público. Mesmo com um aumento no preço do barril, em 2000, o país viu seu déficit crescer até atingir 10%:

As regras foram alteradas em 1999: o governo federal aumentou o seu poder discricionário sobre as receitas do fundo. assim, saques poderiam ser realizados por decreto presidencial (Serra, 2005, p. 139) e poderiam ser utilizados para o gasto social e o pagamento da dívida (Fasano, 2000, p. 11). em 2000, não obstante da elevação do preço do petróleo, o déficit público cresceu 10%, o que torna o país mais vulnerável a um possível choque de preços (Queiroz e Bregman 2008) 

Segundo alguns autores, a Venezuela tem optado por  investir a maior parte das receitas adquiridas com a atividade petrolífera em infra estrutura e em investimentos sociais:

Atualmente,  o governo parece ter  intuito de desenvolver essas áreas com os recursos   do   petróleo.   ao   menos   é   essa   a   intenção   do   Fundo     para   o  desenvolvimento econômico e Social do País(Fondespa), com recursos oriundos  diretamente da estatal Pdvsa .

Assim, após as mudanças no fundo de estabilização e a criação do Fondespa,  pode­se concluir  que a Venezuela optou por gastar mais e poupar menos os recursos do petróleo (primeira questão da aplicação de recursos) e pretende investir as receitas do óleo  na área social (segunda questão). a avaliação dessa estratégia poderá ser realizada apenas a médio prazo, com a observação das  contas públicas e dos  indicadores sociais(Barros, 2006, p. 228)

O fato é que não existe consenso quanto à existência de uma política de aplicação de royalties que seja adequada para todos os países em todos os tempos: poupar e aplicar fora do país, pensando no fim da dependência da “benção negra”  e visando às gerações futuras;  ou gastar, visando o financiamento do mercado interno, a ponto de se desenvolver internamente um processo de industrialização e ficar enfim, independente econômicamente.

Como mencionamos nos modelos do Alaska e da Noruega, os Governos criaram um fundo para poupar toda ou certa parcela dos royalties, para investir em ações e títulos, a fim de se ter recursos para promover a sustentabilidade e a estabilidade macroeconômica. Porém, esses dois países são muito diferentes da Venezuela, que administra uma pesada herança colonial e apresenta uma situação econômica e social muito distante dos EUA e países europeus.

Certa  ou errada em sua política de gestão dos  recursos do petróleo,  o  fato  é  que a Venezuela teve em 2005 a nona elevação consecutiva do PIB desde o último trimestre de 2003:

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Os dados  divulgados   recentemente  pelo  Banco  Central  da  Venezuela   (BCV) confirmam que a economia venezuelana apresentou crescimento de 10,2% no quarto   trimestre   de   2005   em   relação   ao   mesmo   período   do   ano   anterior,  acumulando a nona elevação consecutiva desde o último trimestre de 2003. Em 2005, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 9,3%”  (Severo 2006)

Segundo este autor, desde que a Venezuela passou a investir pesado em infra estrutura, direcionando   para   este   setor   os   recursos   do   petróleo,   tem   ocorrido   uma   grande diversificação   em   sua   economia.   No   entender   de   Luciano   Severo,   esses   aumentos sucessivos no PIB têm sido alavancados principalmente por segmentos não relacionados com a atividade petrolífera:

Assim   como   nas   outras   oito   ocasiões   anteriores,   o   forte   incremento   foi  impulsionado   fundamentalmente   pelas   atividades   não   relacionadas   com   o petróleo   :   construção   civil   (28,3%),   comércio   (19,9%),   transporte   (10,6%)   e  indústria manufatureira (8,5%). O setor petroleiro teve alta de 2,7%. Segundo  informe do Instituto Nacional de Estadísticas (INE), o desemprego em dezembro  de 2005 foi de 8,9%, dois pontos percentuais abaixo do mesmo mês de 2004; a redução equivale, em termos absolutos, a 266 mil pessoas. No ano, a inflação  acumulou 14,4% contra os 19,2% de 2004. A taxa de juros nominal caiu a 14,8%.( Severo 2006)

Uma análise imparcial desses resultados pode sugerir que talvez nem sempre poupar ou investir no exterior seja a   melhor política de gestão dos recursos oriundos da atividade petrolífera. Com gastos em atividades e setores não relacionados diretamente à indústria do petróleo, a  Venezuela estaria fomentando um expressivo desenvolvimento endógeno, e obtendo um fortalecimento crescente em seu mercado interno. De acordo com Severo, o objetivo dessa política é alcançar a independência econômica, e isso não parece ficar só   no  sonho.  Estariam ocorrendo  algumas mudanças  nos   fundamentos  da  economia venezuelana, esboçando­se assim um quadro novo e surpreendente: 

A   semeadura   do   petróleo   se   faz   possível   especialmente   através   de   sete mecanismos: 1) modificação da Lei de Hidrocarbonetos e aumento dos royalties  cobrados pelo governo às transnacionais petroleiras; 2) adoção do controle de câmbio em fevereiro de 2003, que aumentou as reservas internacionais de 15 bilhões de dólares para 30 bilhões de dólares e possibilitou a aplicação de outras  medidas;   3)   a   nova   Lei   do   Banco   Central   e   a   criação   do   Fundo   de  Desenvolvimento Nacional (Fonden), que já conta con 9 bilhões de dólares; 4)  novo enfoque do máximo órgão de arrecadação de tributos, o SENIAT, que este ano   aumentó   em   60%   a   recoleção   de   impostos   –sobretudo   das   grandes  empresas nacionais e transnacionais, históricamente morosas e inadimplentes;  5) amplo plano de investimentos públicos na plataforma de indústrias básicas,  com seu consiguiente efeito multiplicador e acelerador do investimento privado no   setor   transformador   de   insumos   básicos   em   productos   de   maior   valor  agregado;  6  )  aporte em 2005 de aproximadamente 5 bilhões de dólares às  Missões Sociais, como mecanismo de emergência para pagar a imensa dívida  social acumulada, diminuir o desemprego e combater a inflação; 7) o trabalho do  

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Ministério de Agricultura e Terras (MAT) para resgatar e ativar produtivamente um milhão e meio de hectáres de latifúndios improductivos, fortaleciendo o Plan de Siembra   2006   e   incorporando   a   milhares   de   trabajadores   rurais   ao   proceso  productivo. Estes sete dispositivos permitem que, apesar do  forte crescimento dos preços do petróleo, desde 2004 o PIB não­petroleiro tenha crescido a taxas significativamente mais elevadas que o PIB petroleiro, evidenciando o impacto  positivo   dos   recursos   petroleiros   sobre   as   atividades   não   relacionadas  diretamente com o mineral. Enquanto no segundo trimestre de 1999 o PIB não­petroleiro  significava 70,5% do  PIB   total,   hoje   representa  76,0%.  No mesmo período, a participação do PIB petroleiro no PIB total foi reduzida de 20,1% para  14,9% (Severo, 2006).

Se essas tendências se confirmarem e se mostrarem sustentáveis, a Venezuela realizará uma formidável transformação em seu quadro econômico e social. Entre crises politicas internas e externas, o país vem apresentando um forte desenvolvimento interno e tem investido em manufatura, provando querer chegar à independência econômica e tornando isso possível. 

Com os gastos na diversificação dos setores  internos,  o  processo de  industrialização começa a entrar em uma crescente. Entre 2003 e 2006, o setor de manufatura foi o que mais se expandiu no período, e passou o PIB petrolero pela primeira vez desde 1997. Tem havido   grande   financiamento   para   os   produtores   de   ítens   como   máquinas   e equipamentos, estimulando­se o desenvolvimento desse setor da indústria:

A participação da manufatura no PIB total, que havía sido comprimida a 14,7%  durante   a   “sabotagem   petroleira”,   hoje   chega   a   16,7%   com   tendências  crescentes. Tais resultados devem melhorar ainda mais quando se sintam os impactos do “Acordo Marco para a Reativação Industrial e a Transformação do  Modelo Produtivo” e do “Decreto para o Subministro de Matérias Primas ao Setor  Transformador   Nacional”   ,   que   buscam   reduzir   as   exportações   primárias   e  garantir   insumos   básicos   como   alumínio,   ferro,   aço,   madeira,   etc.,   aos produtores venezuelanos(Severo, 2006).

Com a expansão dos gastos do governo na economia venezuelana, principalmente pela aplicação dos dólares do FONDEN, esse país vem desenvolvendo projetos fantásticos:

Dentro destas linhas se criam empresas e se desenvolvem projetos como a nova  siderúrgia venezuelana para a produção de aços especiais, uma fábrica de tubos  petroleiros sem costura, três novas refinarias de petróleo, dez aserradeiros de madeira,   as   fábricas   de   cimento,   de   concentração   de   mineral   de   ferro,   de  laminação   de   alumínio,   de   pulpa   e   papel,   e   muitos   outros.   Além   disso,  recentemente   foi   aprovado   crédito   de   750   milhões   de   dólares   do   Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) para apoiar a construção da central  hidrelétrica   Tocoma.   No   total,   el   Sistema   Elétrico   Nacional   receberá  investimentos que se aproximam aos 3  bilhões de dólares em 2006  (Severo 2006).

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Para cada uma das iniciativas acima, o Estado da Venezuela detém 51% das ações. 

Cabe analisar os resultados do modelo venezuelano a médio e a longo prazo, para que sirvam de lição, negativa ou positiva; mas decerto, podemos dizer desde já que o caminho escolhido pela Venezuela não pode ser descartado nem desqualificado a priori, pois vem gerando resultados surpreendentes. 

Para que um país possa livrar­se definitivamente da dependência do petróleo, grandes economistas acreditam que uma aplicação inteligente dos recursos do próprio petróleo seja   capaz   de   alavancar   e   diversificar   a   atividade   econômica   e   promover   a sustentabilidade  da  economia,  para  além do  período  de   “pico”  da  extração  do   “ouro negro”. Se a experiência venezuelana mostrar­se bem sucedida nos próximos anos, será sem dúvida uma referência importante para a definição do modelo brasileiro de gestão dos recursos do petróleo, pois a realidade sócio­econômica da Venezuela é muito mais semelhante à do Brasil que a dos demais países que estudamos neste capítulo. 

3.5 Modelo de Aplicação dos Royalties na Nigéria

Nigéria é um dos países em que se pode observar a “maldição dos recursos naturais”. Com uma reserva de 36,2 bilhões de barris de petróleo e 182 Tcf de gás natural, esse país não conseguiu refletir as receitas petrolíferas em ganhos econômicos e sociais. A participação total do óleo em 2007 nas exportações era de cerca de 95 %  e entre 1995 e 2001 representou 37% do PIB e 63% da arrecadação pública (Bregman, Queiroz, 2008).

Com   muitos   problemas   sociais,   a   Nigéria   não   consegue   transformar   os   recursos   da “bênção negra” em desenvolvimento. Seus gastos internos acabam por beneficiar uma pequena elite política; a gestão fiscal foi inadequada, com forte crescimento dos gastos públicos nos momentos de alta do preço do petróleo 

Uma das razões para a má gestão econômica pode ser o fato de o país vir atravessando constantes crises políticas. As instituições nigerianas não conseguem conter sucessivos ataques de grupos políticos insatisfeitos a instalações de petrolíferas estrangeiras. Com isso, o investimento onshore ficou com um grau de risco muito elevado; aumentaram­se então os investimentos offshore, que sem dúvida exigem um custo muito maior (Gary e Karl, 2003, p. 29).

Dessa forma, a Nigéria tem gastado muito e mal, e poupado pouco. Diferentemente do que   se   faz   na   Venezuela,   onde   os   investimentos   de  royalties  são   focados   no desenvolvimento   interno  do  mercado,  esse  país  africano,  convivendo  com constantes crises políticas, não consegue investir seus recursos petrolíferos em prol da diversificação da economia;  acaba  beneficiando  apenas  uma minoria  da  população,  e  não  viabiliza nenhum processo de sustentabilidade. Com o crescimento da extração offshore, subindo mais o custo, esse país acaba abrindo mão de boa parte da receita que poderia ser aplicada ou investida em infra­estrutura.

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Conclui­se então que a Nigéria é um modelo negativo na gestão e aplicação dos recursos do petróleo. Esse país passa pela “maldição dos recursos naturais” e caminha a passos largos rumo à desindustrialização e miséria:

Segundo estes autores(Gary e Karl) a nigéria estaria gastando muito e poupando pouco os recursos do petróleo e aplicando os recursos em benefício de uma  minoria, o que não gera benefícios através da melhora de sua economia, tão  pouco proporciona rentabilidade para as futuras gerações com a aquisição de  ativos (Bregman e Queiroz, 2008)

3.6 Modelo de Aplicação dos Royalties na Indonésia

A Indonésia é  um país que conseguiu superar a maldição dos recursos naturais. Com uma reserva provada de 4,3 bilhões de barris de petróleo, é o décimo país no ranking das maiores reservas de gás natural do mundo, possuindo 97,8 Tcf. Porém, a produção de petróleo   indonésio   já   se   situa   no   pós­pico;   após   ter   atingido   seu   ponto   máximo,   já começou a decair,  tendo encolhido fortemente na última década.  (Bregman e Queiroz 2008)

Segundo   Bregman   e   Queiroz,   na   Indonésia   30%   dos   recursos   do   petróleo   são apropriados pelo governo central, 56% pelos estados e 14% pelos governos locais. Com o aumento  do  preço  do  petróleo  em  1973,  metade  do   crescimento  da  arrecadação   foi investido em programas rurais, infra­estrutura com base agrícola e um grande aporte de recursos  em educação (Eifert et al, 2002, p. 23). O país preocupa­se com a estabilidade macroeconômica, e não tem acumulado déficits:

Além   do   gasto   público   efetivo,   a   gestão   macroeconômica   na   indonésia   foi  adequada. O país não incorreu em déficits durante os períodos de alta do preço do petróleo e o ajuste orçamentário quando este caiu (e consequentemente a sua arrecadação pública) foi rápido e eficaz (Bregman e Queiroz, 2008).

Assim,   a   Indonésia   parece   representar   um   modelo   positivo   para   um   país   em desenvolvimento: realiza melhoras em infra­estrutura e investe em educação. Contudo, mesmo   tendo   obtido   ganhos   quantitativos   e   qualitativos   neste   último   setor,   haveria, segundo alguns autores, alguns ajustes a serem realizados para uma melhor gestão dos recursos: 

Outra questão importante é a dinâmica dos gastos em educação.Apesar de ter  melhorado seus indicadores sociais, o país ainda deve destinar muitos recursos à educação para promover o desenvolvimento.Granado   et al (2007) defendem que o total do gasto público neste setor é satisfatório, mas que sua composição  deveria se modificar.(Bregman e Queiroz 2008)

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3.7 Modelo de Aplicação dos Royalties no Canadá

O Canadá é o segundo maior país do ranking de maiores reservas provadas de petróleo do mundo. Perdendo apenas para a Arábia Saudita, esse país, com uma reserva de 179.2 bilhões de barris, conta com a província de Alberta que, sozinha, detém 95% da reserva provada total do Canadá (Bregman e Queiroz, 2008).

O Canadá é um país extremamente desenvolvido, com um IDH 0.961, semelhante ao da Noruega.   Porém,   seu   modelo   de   gestão   e   aplicação   dos   recursos   do   petróleo   era diferente antes da reestruturação de 1997. 

Com a responsabilidade de comandar as receitas vindas do petróleo, foi criado em 1976 o Fundo   Canadense.   A   principal   finalidade   do   fundo   era   a   diversificação   econômica, trazendo bons frutos para a sociedade e sua economia como um todo:

Seus   objetivos   são   o   de   reduzir   o   endividamento   da   província,   promover   a qualidade de vida dos seus cidadãos e diversificar a economia (Serra, 2005, p.  130).  O fundo é   financiado com 12% do valor bruto da produção de petróleo  (Bregman e Queiroz 2008)

Dessa forma, o Canadá,  através do Fundo, passou a realizar investimentos produtivos diretos   e   grandes   incentivos   sociais,   visando   à   diversificação   e   desenvolvimento endógeno de sua economia. 

Em 1997, o Fundo Canadense sofreu uma reestruturação e começou a adotar uma política muito semelhante à gestão norueguesa: passou a visar aplicações no mercado financeiro, com   foco  na   rentabilidade,     e   cancelou  os   investimentos  direcionados  a  promover   a diversificação   da   economia.   Isso   envolveu   a   definição   de   novas   regras   para   o funcionamento do Fundo:

Dentre essas regras, está a definição de uma composição dos investimentos no  longo  prazo:  29% das  aplicações  devem ser  destinadas  a   investimentos  em renda fixa, 45% em ações (sendo que 15% no Canadá, 15% nos Estados Unidos  e 15% fora dos dois países), 10% em investimento imobiliário e 16% em outras  aplicações (Bregman e Queiroz 2008)

Atualmente,  o  Canadá  prefere   investir  em  rentabilidade;    abdica  de   investir  em  infra­estrutura e educação. Por ser um país desenvolvido, cabe utilizar o modelo de gestão dos royalties  do petróleo de forma mais condizente com seu perfil  sócio­econômico. Assim como a Noruega, esse país opta por fundos de aplicação no exterior; mas também investe no país, lembrando que a maior parte das receitas atualmente visam à manutenção da riqueza do fundo. 

Dessa forma, cada país, desenvolvido ou não, adota um modelo de gestão dos royalties, aplicando suas receitas em investimenos externos ou internos. Os objetivos e ferramentas 

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da   política   para   o   setor   devem   ser   definidos   tendo   como   base   uma   análise   das necessidades econômicas e sociais de cada país. Por isso existem vários modelos de gestão   dos   recursos  do   petróleo.   Muitos   deles   são   investidos   em   ativos   que   geram rentabilidade ou em qualidade do capital  e do trabalho, como mostra a tabela abaixo, resumindo o que foi apresentado neste capítulo: 

Tabela 12: Características da aplicação de royalties nos países analisados

País Ativos que geram rentabilidade

Qualidade do capital e do trabalho

Síntese da aplicação

Noruega X Fundo com aplicação no exterior

Alaska X Fundo com aplicação no exterior

Dubai X Investimentos em Turismo e infra­estrutura

Venezuela X Investimentos Sociais e em infra­estrutura

Nigéria “Maldição dos recursos”

Indonésia X Investimentos em infra­estrutura e educação

Canadá X Fundo com aplicação no país e no exterior

Fonte: Elaboração Própria com dados extraífod da obra de Bregman e Queiroz 2008

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CAPÍTULO 4CONCLUSÃO: GESTÃO E APLICAÇÃO DOS ROYALTIES NO ESPÍRITO SANTO

Analisando o histórico da gestão capixaba dos recursos do petróleo, consideramos que a Lei 116/2206 foi um passo à frente rumo ao desenvolvimento. Com a criação do Fundo para   Redução   das   Desigualdades   Regionais,   municípios   que   antes   não   eram beneficiados pelos  royalties  passaram a receber receitas do Governo para promover a distribuição de renda e melhorar sua situação econômica e social. Tais recursos, como vimos,  são provenientes do repasse de 30% dos  royalties  creditados ao cofre público estadual. Com essa iniciativa, o Espírito Santo está sem dúvida estimulando um processo endógeno de desenvolvimento, levando a crer em uma melhora sustentável também nos indicadores sociais e na redução de disparidades sócio­econômicas 

A   nosso   ver,   seria   interessante   realizar­se   periodicamente   uma   análise   detalhada   e aprofundada da realidade sócio­econômica de cada município capixaba, e,  a partir  do diagnóstico assim obtido, criar­se um projeto e um plano de ação específico para cada um deles. . Se os investimentos municipais fossem obrigatoriamente pautados pelas metas e lineamentos   assim   definidos,   ficaria   mais   fácil   promover   o   crescimento   e   o desenvolvimento regional, e evitar o desperdício dos recursos em gastos e investimentos de baixo retorno econômico e social.  A  fiscalização dos gastos públicos por parte  da população, ONGs como a Transparência Capixaba etc., também é de suma importância para evitar malversação e desvio dos preciosos recursos públicos oriundos do petróleo.

Além dessa  questão,   cabe  a   realização  de  debates  públicos  com a  sociedade,   para definição do modelo de gestão mais adequado para a aplicação dos  70% restantes da receita disponível dos royalties 

Seja  qual   for  o  modelo,   sua  escolha  deve   ser   feita  a   curto  prazo,   uma  vez  que  as previsões mais pessimistas apostam que já estejamos chegando perto do pico de Hubbert para a produção de petróleo no Brasil.  Sendo o petróleo um bem finito, a patir  desse ponto haverá  uma queda gradativa da  sua produção,  até  que esta   finalmente acabe. Quando chegarmos a esse ponto, esperamos ter atividades alternativas de futura geração de renda para não ficarmos dependentes da "bênção negra". Precisamos evitar, a todo o custo, a mencionada  maldição dos recursos, que já estaria promovendo, de acordo com Postali, um processo de desindustrialização no norte fluminense.

Na   formulação   da  estratégia  a   ser   adotada   pelo   Estado   do  Espírito  Santo,   cabe  ao Governo estadual  buscar  promover  os  3  objetivos  principais  que definimos acima,  no capítulo 2:

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1   –   Que   os   ganhos   provenientes   da   exploração   do   petróleo   sejam   traduzidos   em crescimento e desenvolvimento da economia como um todo, alavancando inclusive nossa industrialização e desenvolvimento tecnológico, ao invés de prejudicá­los;

2 – Que esse processo de crescimento econômico seja socialmente inclusivo, isto é, que se traduza em melhoras nos nossos indicadores sociais e na nossa distribuição de renda;

3 – Que haja uma sustentabilidade da dinâmica econômica desencadeada pelos ganhos do petróleo que lhe possibilite sobreviver ao declínio da atividade petrolífera ­   ou seja, que tenham sido criadas outras atividades produtivas sustentáveis, dinâmicas e geradoras de renda, capazes de alavancar a economia depois de terminada a era do óleo.

Para definir  o melhor caminho para atingir  esses objetivos, consideramos  interessante realizar uma análise e uma escolha entre as 3 alternativas que se seguem:

1 – Modelo norueguês: direcionar os  royalties do petróleo a outro fundo e aplicar esses recursos, buscando rentabilidade futura, em títulos e ações, nacionais ou estrangeiras; nesse caso, o foco seriam investimentos externos à economia do estado.

2 – Modelos Dubai e Venezuela: realização de investimentos internos, promovendo um desenvolvimento endógeno a ponto de se diversificar a economia e torná­la independente do petróleo. No caso, os investimentos deveriam catalisar todo um desenvolvimento no mercado capixaba, promover a implantação de indústrias e/ou de outras atividades que proporcionassem   um   grande   retorno   financeiro   e   conseguissem   sustentar­se independentemente da atividade petrolífera (quando chegássemos ao fim de seu ciclo). 

3 – Modelo misto, conciliando as duas primeiras propostas. Acreditamos ser inviável, ao menos por enquanto, por não haver ainda tantos recursos petrolíferos disponíveis. Em julho de 2008, o Espírito Santo recebeu cerca de R$192.047.124,75 em royalties (ANP 2008). A menos que a exploração do pré­sal traga um salto muito expressivo nos aportes de  royalties  ao estado, os recursos não bastarão para a  implementação concomitante desses dois modelos.

Acreditamos que o caminho mais racional a ser adotado como referência, pelo Brasil e pelo Espírito Santo, é o modelo de aplicação dos royalties no Canadá. Este país investiu inicialmente suas receitas petrolíferas em infra­estrutura, e após um certo tempo, passou a aplicar no exterior, na forma de títulos e ações. 

A   nosso   ver,   o   Espírito   Santo   ainda   precisa   de   um   "empurrão"   para   alavancar   sua economia. Não existe atualmente no estado nenhuma outra atividade geradora de renda capaz de  substituir a atividade petrolífera, nem um parque produtivo desenvolvido a ponto de se defender da competitividade nacional e externa.

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Na área social, o Estado parece estar se desenvolvendo: segundo Marcelo Neri, como vimos, o Espírito Santo foi o Estado que mais conseguiu reduzir os índíces de probreza do país,  entre  os  anos de 2001 e  2007.  É  um grande passo,  mas ainda existem vários obstáculos a serem superados neste setor ­ como a violência, por exemplo, uma vez que Vitória está entre as capitais de maiores índices de criminalidade no Brasil.

Acreditamos que, a curto prazo, o Estado do Espírito Santo deveria direcionar os recursos dos  royalties  à   promoção   de   desenvolvimento   endógeno,   visando   a   robustecer   e diversificar sua economia, até torná­la independente do petróleo. Uma vez atingido este nível,  valeria a pena aplicar os royalties em títulos e ações externos ao estado, nacionais e/ou estangeiros, para obter mais segurança e rentabilidade. Feito  isso, o Estado com certeza se livrará da dependência da "bênção negra" e conseguirá promover uma ou mais atividades   geradoras   de   renda   para   toda   sua   sociedade,   atingindo   independência econômica, distribuição de renda e bons indicadores sociais.

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