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Impacto REGINALDO NASCIMENTO NETO

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Impacto R E G I N A L D O N A S C I M E N T O N E T O

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Raimundo Nina Rodrigues, mé-dico, patologista e etnógrafo, que conquistou renome internacional, é considerado o pai da antropologia criminal no Brasil, porém, arvorando-se em teses racistas.1, 2

O autor postulava sobre supos-ta predisposição ao crime oriunda de fatores raciais.3 Era racista, pois defendeu a relação de superiorida-de e inferioridade de algumas raças em detrimento de outras. Em seus trabalhos, Nina Rodrigues denomi-nava mulatos os filhos gerados do cruzamento entre portugueses e africanas, classificando-os de mu-latos de primeiro sangue, mulatos claros e mulatos escuros.4 Também, apresentou os mamelucos como resultado da mistura entre branco e índia. Os mamelucos foram clas-sificados por ele como sendo mais próximos aos brancos. Caboclos eram mestiços de puro sangue. Do negro com o índio, resultariam os cafuzos.5

O termo mameluco, no Brasil, designou sempre o mestiço, filho de pai europeu e mãe índia.6 Quan-to à etimologia, no entanto, existe a controvérsia: se mameluco é o termo árabe oriundo de mamlouk significando governar, possuir, ter sob ordens, etc., e equivaleria a ser-vus em latim, ou de mamãrúca, que se decompõe em mamã, (misturar, mesclar) e rúca ou yrúca (tirar, ex-trair), isto é, aquele que procede da mistura.

No que se refere à etimologia da palavra mulato, é consenso de que ela deriva de mula, nome dado a um animal híbrido e normalmente estéril, gerado pelo cruzamento en-tre um cavalo com uma jumenta, no intento de comparar uma mistura de homem branco com mulher ne-gra ou vice-versa.7 Embora perten-çam ao mesmo tipo básico*, o que não cerceia a susceptibilidade de cruzamento, há discrepância entre o número de pares cromossômi-cos no DNA do cavalo e da jumen-ta, isto é, 32 e 31 respectivamente.

Seu descendente é, portanto, um híbrido. Vale ressaltar que híbrido é resultado de cruzamento gené-tico entre duas espécies distintas, porém pertencentes ao mesmo gê-nero, que normalmente não podem ter descendência devido aos seus genes incompatíveis.

Ancorados no firme argumento de que o Homem pertence a uma única espécie e que sua variação morfológica tem um só tipo de pro-toplasma, é descabido empregar o termo híbrido para descenden-tes das pessoas, ainda que interét-nicos. O DNA humano possui 46 cromossomos homólogos, e seus genes alelos são compatíveis para o cruzamento entre qualquer etnia.

Nina Rodrigues tinha o pensa-mento de que a mestiçagem hu-mana** era “um problema bioló-gico”8:1151 e “um risco à pureza dos brancos”. Ele pode ter sido efetiva-mente contaminado pelas ideias do Darwinismo Social, ideologia cor-rente em seu tempo e oriunda do Reino Unido na década de 1870.

Influenciado pela obra de Mal-thus9, Charles Darwin (1809-1882) concebeu que a luta pela sobrevi-

Dr. Raimundo Nina Rodrigues – 1862-1906

Nina Rodrigues tinha o pensamento de que a mestiçagem humana era “um problema biológico” e “um risco à pureza dos brancos”.

_________________* Não emprego aqui o termo

espécie conforme Theodosius Do-bzhansky e Ernst Mayr (2002) de que “espécies são grupos de popu-lações naturais que estão ou têm o potencial de estar se intercruzando, e que estão reprodutivamente iso-lados de outros grupos”, ou seja, um conjunto de indivíduos que partilham o mesmo fundo gênico, morfologicamente semelhantes e capazes de se cruzarem entre si em condições naturais e que geram descendentes férteis, “pois, embo-ra haja registros de hibridos vigoro-sos não estéreis na literatura cien-tífica, tal circunstância não é geral”.

** O termo mestiço vem do latim mixticĭus significando misto ou mes-clado. Mestiço é quem nasce de pai e mãe de etnias diferentes.

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vência perpetuaria os mais adaptados ao am-biente e descartaria os menos especializados, isto, em suas observações, representaria que as variações vantajosas seriam perpetuadas. Em consequências disso, escreve On the Ori-gin of Species by Means of Natural Selection, or The Preservation of Favored Races in the Strug-gle for Life em 1859.

Nessa obra, ele teoriza que, supostamente, todos os seres vivos evoluíram, isto é, passaram por processo de diversificação ao longo do tempo, dando origem às novas espécies atuais ou já extintas na Terra por meio de mutações. No entanto, isso se deu antes das descobertas da Genética moderna e de Louis Pasteur. Simp-son, (1953), falando sobre mutações capazes de gerar novas espécies, assim se manifesta quanto ao Darwinismo: “A menos que exista algum fator aumentando tremendamente a chance de mutações simultâneas, tal processo jamais ocorreu na natureza”.10:96

Somado a essa conjuntura, eclode a pseu-dociência batizada de Frenologia com o mé-dico alemão Franz Joseph Gall (1758-1828), o primeiro neuroanatomista a estudar a localiza-ção das funções cerebrais, que desencadeou a cranioscopia, que, por sua vez, posteriormente foi chamada de Frenologia, do grego frenoσ − phrenos = mente + logoσ − logos = estudo.

A proposta era adivinhar as propensões de caráter, personalidade e nível do desenvolvi-mento das faculdades mentais e morais de um indivíduo por meio da aparência e das medi-ções do crânio humano. Assim, essas faculda-des estariam localizadas em setores cerebrais locados na superfície do crânio e, supostamen-te, poderiam ser interpretados pelo exame. Esses setores afetariam o contorno do crânio. A frenologia sustentava, assim, que a forma da cabeça de uma pessoa determinava o seu cará-ter e personalidade, bem como sua propensão para o crime.

A escritora americana Ellen White (1827-1915) foi uma das que se opôs a essa moda-lidade. Em 1893, escreveu sobre a frenologia como “vã filosofia, se gloriando em coisas que não entendem, pressupondo um conhecimen-to da natureza humana que é falso”.11

Todos esses elementos, populares no sé-culo XVIII, geraram grande controvérsia, pois foram muitas vezes usados para promover e justificar o racismo de forma aparentemente científica.

No entanto, ao se recorrer à história e a

postulados sobre a origem da etnia negra, seus etnônimos e atuação na civilização antiga, de-duz-se que, no passado, a etnia negra exerceu posição de liderança na humanidade. Diop fala sobre a origem dos antigos egípcios: “A hipó-tese da origem monogenética e africana da humanidade suscitada pelo professor Leakey tornou possível colocar em termos totalmente novos a questão do povoamento do Egito. Isso quer dizer que toda a raça humana teve sua ori-gem, exatamente como supunham os antigos... necessariamente, os primeiros homens eram etnicamente homogêneos e negroides”.12:39

Em áreas quentes da terra, como nos trópi-cos, o ser humano se adapta secretando me-lanina para garantir-lhe menor absorção dos raios solares, e sua pigmentação epidérmica é escura, assim, Elliot-Smith apud Diop,12:41 de-clara que “fica evidente que toda a” população egípcia era negra, com exceção de uma infil-tração de nômades brancos no período proto-dinástico.

No que concerne às representações hu-manas na escrita egípcia, Flinders Petrie revela que “a etnia negra era típica”. Demonstra que “os povos Anu eram negros”, sendo represen-tados com emblemas de chefia. Por exemplo, Min –uma das importantes divindades do Egito – chamava-se “o grande negro”.12:43

Além desses dados, Petrie declara: “o mural da tumba SD 63 (Sequence Date 63) de Hiera-cômpolis mostra negros nativos subjugando os invasores estrangeiros”.13:33 Heródoto, quando visitou o Egito, descreveu o povo que lá vira, re-petindo muitas vezes que tinham a pele negra: “a respeito dos Kolchus, que têm pele negra e cabelos crespos[...] são da raça egípcia”.14

Outro fator que se deve levar em conta são os etnômios. Por exemplo, segundo Mckssic,15

Cam, um dos filhos de Noé, segundo a Bíblia,16

em Gênesis 2:13, teve quatro filhos: Cuxe, Mi-zraim, Pute e Canaã. E teria dado origem às etnias negroides, australoides e mongoloides. De Cush, os cushitas, que dariam a origem aos etíopes, sudaneses e núbios, portanto negros. Segundo Mckissic,15 Cam significa quente, ou negro: “Cush é uma palavra hebraica que sig-nifica preto, Etiópia é uma palavra grega que significa homem de face queimada de sol ou preto, de éthios +ops”.

Segundo a tabela das nações descrita em Gênesis 10, os três filhos de Noé são Sem, Jafé e Cam. Cam foi pai de Cuxe, Pute, Canaã e Mi-zraim. Misraim, filho de Cam, foi o ascendente

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do Egito. Sabá, filho de Cuxe e neto de Cam, foi ascendente do Iêmen do sul, Arábia Saudi-ta, Etiópia e Somália.

Manetão, segundo Ki-Zerbo,17 escreveu na obra Aegyptiaca, no séc.III a.C., a história do Egito em grego, que é citada por Flávio Jose-fo em seus dois volumes de Contra-Apião, a etimologia do topônimo Egito como sendo o lugar onde havia um notório templo do deus Ptah. Na mitologia egípcia, Ptah era venerado como o patrono da cidade de Mênfis e era as-sociado à ideia de um construtor em pedras. Era a representação de um homem mumifica-do tendo um cetro nas mãos adornado com símbolos de vida e força.

Sendo o nome do templo Hut-Ka-Ptah– lu-gar do templo de Ptah – quando transliterado para grego torna-se aι − gι −ptoσ (Aigyptós). Porém, os egípcios chamavam a si mesmos de Kemet. (Cam)? Em Copta, língua antiga da família camito-semítica, Egito é XHMI que se translitera por Kimi, e em árabe por Misr (Mis-raim).

Tais aspectos linguísticos, documentais e históricos são indícios de que quando a cole-tânea de músicas hebreias, chamada de Sal-mos, menciona o Egito como sinônimo de ter-ra de Cam nos trechos “Então Israel foi para o Egito, Jacó viveu como estranjeiro na terra de Cam.” (Salmos 105:23)16 e “...coisas grandiosas no Egito, maravilhas na terra de Cam...”(Salmos 106:22),16 está descrevendo uma realidade constatada, pois, enquanto na poesia ociden-

tal a beleza manifesta-se por meio de rimas, nas línguas semíticas, ela se dá pela ocorrência de repetições da mesma ideia em sinonímias. Além disso, evidenciam-se como fatos as ale-gações bíblicas de que Moisés tenha se casa-do com uma mulher etíope e negra, bem como a do livro de Jeremias,16 capítulo 13, verso 23, descrevendo o povo etíope como escuro e alto.

Convém suscitar o questionamento quan-to à gênese da diversidade e variedade étnica, pois, se conforme evidenciado por Iosif Lazari-dis e colaboradores18 em seu artigo, “Os geno-mas de humanos antigos sugerem três popula-ções ancestrais para os europeus atuais”, então, que fatores estariam envolvidos no engendra-mento da diversidade étnica?

Para esse levantamento de hipóteses cabí-veis, é necessário erguer-se sobre uma premis-sa não fixista, que admita que tipos básicos têm a competência para a adaptação e variação dentro de certos limites, e que fatores externos exercem influências positivas e/ou negativas nesse processo. Para tanto, elencam-se dora-vante evidências a favor dessa argumentação.

Durante a Pangeia, a geografia da Terra era supostamente composta por montanhas, vales, rios, lagos, florestas. Assim, ainda que com au-sência de frio e menor variação de calor, umi-dade e radiação solar, um cobertor de retalhos costurava ambientes que abrigavam nichos ecológicos adequados à uma equilibrada tem-peratura, luminosidade, umidade, altitude, etc. No entanto, com as mudanças decorrentes de

Os genomas de humanos antigos

sugerem três populações ancestrais para os europeus atuais”,

então, que fatores estariam envolvidos

no engendramento da diversidade étnica?

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várias catástrofes associadas causadoras da deriva continen-tal, dada a fragmentação do único super continente de en-tão, o clima e a topografia da terra alteraram-se vertiginosa-mente, provocando extremos de frio, calor, de incidência de radiação solar, etc. Tal circuns-tância requereu o emprego das competências de adapta-ção biológica e do isolamento geográfico.

Parece razoável supor que, com a variação climática, de nichos, ambientes, costumes, e cadeia alimentar, dentre ou-tras circunstâncias, criar-se-iam condições favoráveis para a hibridização de animais, bem como de plantas cujas morfo-logias e fisiologias semelhan-tes assim o permitissem. Tais fatores também poderiam con-tribuir para a variação étnica dentro do tipo básico comum humano. Por exemplo, como já mencionado antes, o fato de que, em áreas quentes da terra, o ser humano se adapta secretando mais melanina para garantir-lhe menor absorção dos raios solares, mas os que têm de adaptar-se em regiões frias terão menor sintetização desse polímero de pigmenta-ção e, consequentemente, se-rão distintos daqueles.

Outro fator a se conside-rar é que, em relevos acima de 3.000 metros, classificados como de alta altitude, o corpo humano passa por alterações de funcionamento decorren-tes da baixa pressão de oxigê-nio. O resultado dessa baixa pressão barométrica é uma imediata hipóxia ou dificulda-de de respirar. Acima de 7.000 metros, tal hipóxia leva a óbito aqueles que não estão aclima-tados. O procedimento para a adaptação decorre do tem-po de exposição progressiva à altitude. O que faz o corpo tolerar os efeitos nocivos da baixa pressão do oxigênio.

Conforme Guyton e Hall,19 o processo para que haja a adaptação nessas altitudes passa pelo “aumento da ven-tilação pulmonar em decor-rência da exposição imedia-ta à pressão parcial de baixo oxigênio. Quando o corpo é submetido a PO2 diminuída há uma estimulação hipóxica dos quimiorreceptores arte-riais resultando num aumento de até cinco vezes o normal da ventilação pulmonar.” Segue--se, então, um incremento “no número de hemácias” e depois “os vasos sanguíneos se expan-dem aumentando a área da superfície na qual o oxigênio é difundido para o sangue.”Lo-go, tendo passado por esses processos desde a infância, os nativos em altitudes superiores a 3.500 metros têm o seu tórax aumentado devido ao trabalho dos músculos envolvidos na respiração. Decorre daí que, as diferenças de altitudes geram morfologias distintas.

Outro fator de adaptação e gerador de diversidade mor-fológica que pode ser dado como argumento é a observa-ção de que o nariz largo tende a dissipar o calor mais rapida-

Parece razoável supor que, com a variação climática, de nichos, ambientes, costumes, e cadeia alimentar, dentre outras circunstâncias, criar-se-iam condições favoráveis para a hibridização de animais, bem como de plantas cujas morfologias e fisiologias semelhantes assim o permitissem. Tais fatores também poderiam contribuir para a variação étnica dentro do tipo básico comum humano.

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Referências

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Reginaldo Nascimento Neto é mestre e dou-torando em Linguística pela Universidade Federal do Tocantins (UFT) e professor do en-sino tecnológico do Instituto Federal do Ma-ranhão (IFMA).

[email protected]

mente na expiração, e a resfriá-lo mais inten-samente na inspiração. Isso seria muito ade-quado para populações de zonas quentes da terra. Por outro lado, o nariz fino de fossas es-treitas é uma adaptação que aquece mais o ar no frio e retém mais calor durante a expiração. Assim, populações de áreas extremamente quentes adquiririam morfologias diversas das populações residentes em áreas externamen-te frias.

Nesse cenário, vale citar as regras de 1)Gloger (1833), 2)Bergmann (1847) e 3)Allen (1878) que, conforme Brown e Lemolino,20 postulam respectivamente:

(1) Dentro de uma espécie, os indivíduos de habitats mais úmidos tendem a ter uma cor mais escura do que os de habitats mais secos.

(2) Nos invertebrados endodérmicos, as raças de climas mais frios tendem a apresen-tar maior tamanho corporal em relação às mesmas espécies de climas mais quentes.

(3) Entre as espécies endodérmicas, os membros e outras extremidades do corpo são menores e mais compactas em indivíduos que vivem em climas mais frios: pássaros e mamí-feros de regiões polares tendem a ser mais ro-bustos e com membros menores.

Até aqui, sugere-se que aspectos morfo-lógicos externos tenham produzido variabili-dade em função de adaptações a contrastes de clima, altitude, isolamento geográfico, e outros fenômenos. Além destes, pode-se tam-bém postular que o modo de pensar, de falar e fazer cultura, refletidos nos gostos, cosmo-visão, e prioridades de subgrupos dentro de populações básicas também gerem variabili-dade étnica, sendo capaz de ramificá-la. Po-de-se comparar a diversidade provocada pelo tempo cronológico e distanciamento geográ-fico entre grupos étnicos, com o aumento que sofre o ângulo de um triângulo isósceles a cada centímetro que a medição ocorre, a par-tir do ápice rumo à base.

Ao se considerar que a humanidade se constitui de uma raça apenas composta por diversas etnias, bem como o registro histórico das terríveis consequências da insanidade de se supor que uma etnia possa ser de manei-ra inerente superior ou inferior a outra, urge compreender que qualquer apologia a ideo-logias racistas deve ser rechaçada com vee-mência.