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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Impacto do surto de febre amarela na ocorrência de primatas em paisagens fragmentadas do Espírito Santo Nila Rássia Costa Gontijo Vitória, ES Maio, 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Impacto do surto de febre amarela na ocorrência de

primatas em paisagens fragmentadas do Espírito Santo

Nila Rássia Costa Gontijo

Vitória, ES

Maio, 2019

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E NATURAIS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS BIOLÓGICAS

Impacto do surto de febre amarela na ocorrência de

primatas em paisagens fragmentadas do Espírito Santo

Nila Rássia Costa Gontijo

Orientador: Sérgio Lucena Mendes

Coorientadora: Danielle Oliveira Moreira

Dissertação submetida ao Programa de Pós-

Graduação em Ciências Biológicas (Biologia

Animal) da Universidade Federal do Espírito

Santo como requisito parcial para a obtenção

do grau de Mestre em Biologia Animal

Vitória, ES

Maio, 2019

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AGRADECIMENTOS

À FAPES pela bolsa e recursos, que viabilizaram esse trabalho. Ao meu professor e

orientador, Dr. Sérgio Lucena Mendes, pela oportunidade e pala paciência! Aos membros

da banca, Dr. Rodrigo Lima Massara, Drª. Karen Barbara Strier Drª. Leonora Costa e Drª.

Carla Possamai, obrigada desde já pelas contribuições e por terem aceitado participar

dessa discussão. A minha coorientadora tão querida, Danielle Oliveira, que além das

inúmeras revisões e conselhos, segurou minha mão tantas vezes e não me deixou desistir!

A Minha amada madrinha de projeto, Paloma Marques Santos, que esteve presente em

todas as fases desse trabalho e foi cucial para que ele fosse concluído! Dani e Paloma,

não sei o que seria mim sem vocês! A Dr. Larissa Lynn Bailey, que gentilmente me

auxiliou com as análises estatísticas. Ao Projeto Sentinelas da Mata, que me proporcionou

experiência e tanto conhecimento durante um período tão difícil para nós ambientalistas,

como foi o surto de febre amarela no estado. A Poly, Jéssica, Zé, pelas contribuições

durante os campos.

Agradeço aos membros do LBCV, pelas conversas e dicas, principalmente ao Arthur,

Jardel, Bruninha, Amandinha, Jade e Andressa. Agradeço aos professores da UFES e da

UFOP, que me deram todo embasamento para chegar até aqui! Aos meus colegas de

mestrado e as meninas que dividiram uma casinha comigo em Vitótia. Aos moradores de

Domingos Martins, Santa Teresa, Santa Leopoldina e Santa Maria de Jetibá, que

aceitaram participara das entrevistas e contribuíram tanto para essa pesquisa.

Meu muitíssimo obrigado a minha família mineira (Costa) e minha família capixaba

(Duarte), que acreditaram em mim e sempre me apoiaram! Minha mãe, meu tesouro,

minha avó, minhas tias, meus primos tão amados, Jânia e Jô que foram minhas mães aqui!

Agradeço principalmente, aqueles que acompanharam de perto todo o processo e tiveram

a maior paciência do mundo comigo! Lucas, Aline, Rodrigo, Josi e Georgea, vocês são

preciosidades que a vida colocou no meu caminho. Meus amigos de Lafaiete e de Ouro

Preto, que entederam minhas ausências e meus desabafos! Minha eterna Casa Verde

(Vanessinha, Paulinha, Nat, Fran, Letícia, Cissa, Tay Bianca, Deb’s, Sabrina), por serem

essas grandes mulheres que me ensinam e me ajudam a sobreviver nesse mundo, sempre

dando apoio incondicional em todos os âmbitos da vida!

A todos que de alguma forma me ajudaram nesse período, recebam toda minha gratidão!

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SUMÁRIO

RESUMO..............................................................................................................................Pág. 8

ABSTRACT..........................................................................................................................Pág. 9

1 INTRODUÇÃO...............................................................................................................Pág. 10

2 MÉTODOS......................................................................................................................Pág. 13

2.1 ÁREA DE ESTUDO......................................................................................................Pág. 13

2.2 COLETA DE DADOS...................................................................................................Pág. 14

2.2.1 PONTOS AMOSTRADOS.........................................................................................Pág. 14

2.2.2 BUSCA ATIVA..........................................................................................................Pág. 15

2.2.3 ENTREVISTAS..........................................................................................................Pág. 16

2.3 ANÁLISES DE DADOS...............................................................................................Pág. 17

2.3.1 ANÁLISE DE PAISAGENS......................................................................................Pág. 17

2.3.2 ANÁLISE DE OCUPAÇÃO E EXTINÇÃO DE PRIMATAS..................................Pág. 22

RESULTADOS...................................................................................................................Pág. 24

3.1 ENTREVISTAS.............................................................................................................Pág. 24

3.2 BUSCA ATIVA.............................................................................................................Pág. 26

3.3 PROBABILIDADE DE OCUPAÇÃO, EXTINÇÃO E DETECÇÃO..........................Pág. 27

4 DISCUSSÃO....................................................................................................................Pág. 36

4.1 ENTREVISTAS.............................................................................................................Pág. 37

4.2 PROBABILIDADE DE OCUPAÇÃO, EXTINÇÃO E DETECÇÃO..........................Pág. 38

5 CONCLUSÃO.................................................................................................................Pág. 42

6 REFERÊNCIAS..............................................................................................................Pág. 43

7 ANEXOS..........................................................................................................................Pág. 53

8 APÊNDICES....................................................................................................................Pág. 54

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Percursos de deslocamentos diários (médios) apresentados por primatas durante a

estação seca em regiões de Mata Atlântica............................................................................Pág. 16

Tabela 2: Melhores modelos de buffer para o isolamento funcional, baseados no raio de influência

para cada espécie de primata, antes e após o surto de febre amarela. Δ LogLik= log de

verossimilhança, Δ AICc=correção do viés de AIC para amostras de pequeno número,

Df=Número de parâmetros e weight=peso............................................................................Pág. 18

Tabela 3: Índices de febre amarela (IFA), calculados a partir dos registros de epizootias

fornecidos pelo Projeto Sentinelas da Mata (UFES) dentro da área de influência direta dos pontos

amostrados para este estudo, ou seja, dentro de um buffer de 2.000 m. Sendo 13 pontos

amostrados em Santa Teresa/Santa Leopoldina, 13 em Domingos Martins e 10 pontos em Santa

Maria de Jetibá, representados por cada linha.......................................................................Pág. 22

Tabela 4: Redução de ocorrências de primatas, tanto geral quanto para cada região visitada, após

o surto de febre amarela ocorrida em 2017, de acordo com a percepção dos moradores (baseada

no número total de entrevistas).............................................................................................Pág. 26

Tabela 5: Registros de visualizações e vocalizações observadas durante as buscas ativas ocorridas

nas estações secas do ano de 2017 e de 2018........................................................................Pág. 26

Tabela 6: Seleção dos melhores modelos gerados para Alouatta guariba, Sapajus nigritus,

Callithrix spp., Callicebus personatus e Brachyteles hypoxanthus a partir do valor do delta (Δ)

AIC<2. Parâmetros: psi = probabilidade de ocupação, eps = probabilidade de extinção, gama =

probabilidade de colonização, p10 = probabilidade de detecção nas entrevistas antes do surto, p10

= probabilidade de detecção nas buscas ativas antes do surto, p11 = probabilidade de detecção

nas entrevistas antes do surto; p11 = probabilidade de detecção nas buscas ativas após o surto, b

= probabilidade de detecção com incerteza, b = probabilidade de detecção real. Covariáveis

utilizadas: área, índice de febre amarela (IFA) e isolamento funcional (IF_100; IF_300; IF_400;

IF_800; IF_1000). O isolamento funcional foi baseado no raio de influência sob cada

primata..................................................................................................................................Pág. 28

Anexos.................................................................................................................................Pág. 53

Apêndice 1: Modelo de entrevista.......................................................................................Pág. 54

Apêndice 2: Parecer do Comitê de ética.............................................................................Pág. 55

Apêndice 3: Modelos de buffer para o isolamento funcional, baseados no raio de influência para

cada espécie de primata, antes e após o surto de febre amarela ..........................................Pág. 59

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1: Área de estudo na região centro-serrana do estado do Espírito Santo indicando os quatro

municípios e as três subpaisagens amostradas (A, B, C). Os remanescentes de matas primárias e

secundárias estão representados na cor verde e os pontos amostrados, representados por

triângulos. A) região de Santa Teresa e Santa Leopoldina (ST/SL); B) região de Santa Maria de

Jetibá (SM); C) região de Domingos Martins (DM). Base cartográfica: IBGE e Geobases.

Projeção: UTM; Datum WGS 1984, Zona 24S.....................................................................Pág. 14

Figura 2:Registros de epizootias mapeados pelo projeto Sentinelas da Mata durante os anos de

2017 e 2018, nos municípios de estudo localizados no Espírito Santo ................................Pág. 20

Figura 3:A) Registros de epizootias na região de estudo (pontos em azul) utilizados para criar o

IFA (pontos em vermelho), dentro de um raio partindo dos pontos amostrados (triângulos pretos).

O tamanho do raio (2.000 m) foi baseado no deslocamento médio de Sapajus nigritus, a espécie

que possui o maior deslocamento médio dentre as espécies de primatas estudadas na região. B)

Ampliação do mapa mostrando a influência direta das epizootias em relação aos pontos de estudo

em Santa Maria de Jetibá......................................................................................................Pág. 21

Figura 4: Registros de presença de primatas antes e após o surto de febre amarela, de acordo com

a percepção geral dos moradores dos municípios afetados, fornecidos por meio de entrevistas em

2018. A. Percentual geral de primatas nos municípios de Domingos Martins, Santa Maria de Jetibá

e Santa Teresa/Santa Leopoldina; B. Percentual de primatas no município de Santa Teresa/Santa

Leopoldina; C. Percentual de primatas no município de Santa Maria de Jetibá; D. Percentual de

primatas no município de Domingos Martins.......................................................................Pág. 25

Figura 5:Modelos explicativos para a probabilidade de extinção (épsilon) de barbado (Alouatta

guariba) e intervalos de confiança de 95% (LCI – inferior e UCI – superior) em relação às

variáveis explicativas, com o segundo e o terceiro melhores modelos dentre os candidatos: A. 2º

modelo: Isolamento funcional de 100 m de buffer; B. 3º modelo: Tamanho da área...........Pág. 30

Figura 6: Melhores modelos explicativos para a probabilidade de ocupação (psi) de macaco-

prego (Sapajus nigritus) e intervalos de confiança de 95% (LCI – inferior e UCI – superior) em

relação às variáveis explicativas: A. 1º modelo: Tamanho da área; B. 2º modelo: Isolamento

funcional de buffer de 400 m................................................................................................Pág. 31

Figura 7: Modelos explicativos para a probabilidades de extinção (épsilon) de macaco-prego

(Sapajus nigritus) e intervalos de confiança de 95% (LCI – inferior e UCI – superior) em relação

às variáveis explicativas A- 3º modelo: Índice de febre amarela (IFA); B- 4º modelo: Isolamento

funcional de buffer de 800 m.................................................................................................Pág. 32

Figura 8: Melhor modelo explicativo para a probabilidade de ocupação (psi) de saguis (Callithrix

spp.) e intervalos de confiança de 95% (LCI – inferior e UCI – superior) em relação à variável

explicativa isolamento funcional de buffer de 100 m............................................................Pág. 33

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Figura 9:Modelos explicativos para a probabilidade de extinção (épsilon) de saguis (Callithrix

spp.) e intervalos de confiança de 95% (LCI – inferior e UCI – superior) em relação às variáveis

explicativas A- 1º modelo: Isolamento funcional de buffer de 1000 m; B- 2º modelo: Tamanho

da área...................................................................................................................................Pág. 34

Figura 10: Modelos explicativos para a probabilidade de ocupação (psi) de guigós (Callicebus

personatus.) e intervalos de confiança de 95% (LCI – inferior e UCI – superior) em relação às

variáveis explicativas A- 1º modelo: Isolamento funcional de buffer de 800 m; B- 2º modelo:

Tamanho da área...................................................................................................................Pág. 35

Figura 11: Terceiro modelo explicativo para a probabilidade de extinção (épsilon) de guigós

(Callicebus personatus) e intervalos de confiança de 95% (LCI – inferior e UCI – superior) em

relação à variável explicativa tamanho da área.....................................................................Pág. 36

Figura 12:Melhor modelo explicativo para a probabilidade de ocupação (psi) de muriquis-do-

norte (Brachyteles hypoxanthus) e intervalos de confiança de 95% (LCI – inferior e UCI –

superior) em relação à variável explicativa isolamento funcional de buffer de 300 m.........Pág. 36

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Resumo

Doenças infecciosas são motivos de grande preocupação na saúde pública mundial, com sua

emergência desencadeada por atividades antrópicas, em muitos casos. Dentre tais doenças estão

as arboviroses, causadas por arbovírus e podem representar grande ameaça para a fauna, gerando,

inclusive, o declínio de populações em vida livre. Uma das doenças mais conhecidas que atingem

populações de animais silvestres, principalmente primatas neotropicais, é a febre amarela.

Durante os anos de 2017 e 2018, o estado do Espírito Santo foi atingindo por um surto de febre

amarela silvestre que contabilizou vários registros de epizootias. Dessa forma, o presente estudo

objetivou estimar o impacto do surto da febre amarela em populações de primatas que habitam

fragmentos de mata em áreas com diferentes taxas de cobertura vegetal na região serrana do

estado. Realizamos buscas ativas em 36 pontos para verificar a presença de primatas após o surto

e 81 entrevistas com moradores próximos aos pontos amostrados para avaliar a percepção em

relação à presença desses primatas, antes e após da passagem da virose na região. Em seguida,

criamos modelos para estimar as probabilidades de ocupação antes do surto e a probabilidade de

extinção após o surto. Utilizamos como variáveis a área do fragmento, o isolamento funcional e

o índice de febre amarela. De acordo com as entrevistas, a redução recente de populações de

primatas isoladas em fragmentos foi para: Alouatta guariba, em 82,5%; Callithrix spp., 49,1%;

Callicebus personatus 25,5%; Sapajus nigritus 23,7%; e Brachyteles hypoxanthus para 19%. Os

modelos indicaram que quanto maior o isolamento funcional dos pontos amostrais, menor é a

probabilidade de ocupação antes do surto, para todas as espécies, exceto para A. guariba, espécie

que não foi influenciada por nenhuma variável estudada. Geralmente, fragmentos isolados

possuem um menor fluxo gênico entre as populações. Considerando que a redução da

variabilidade genética dificulta a viabilidade das populações e a sobrevivência da espécie em

longo prazo na região, o isolamento pode ter tornado as espécies mais suscetíveis a eventos

estocásticos, como é o caso do recente surto. As implicações da paisagem altamente fragmentada

podem, em conjunto, ter diminuído a ocupação de primatas e deixado as populações em

desequilíbrio. Consequentemente, a fragmentação, o isolamento e a presença da febre amarela

podem ter causado extinções locais nos municípios estudados, principalmente para Alouatta

guariba, espécie altamente sensível à virose. Assim, entender a resposta das espécies a fatores da

paisagem e a eventos estocásticos, como o surto de febre amarela, é fundamental para prever

futuras extinções ou distúrbios populacionais e, consequentemente, elaborar medidas de

conservação coerentes com a realidade local. Este trabalho reforça a importância da manutenção

de fragmentos florestais grandes e mais conectados que contribuam com a persistência e

viabilidade de espécies de primatas em poucos fragmentos.

Palavras-chave: epizootias, extinção local, entrevistas, redução populacional.

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Abstract

Infectious’ diseases are a big health concern worldwide that is triggered by anthropic activities in

many of the cases. Among these diseases are the arboviruses caused by arbovirus that can be a

big threat to the fauna, also decreasing the free life population. One of the most known diseases

that affect wild animal’s population mainly neotropical primates is the yellow fever. During 2017

and 2018 years, the Espírito Santo state was affect by an outbreak of wild yellow fever that

recorded several epizooties. So, the present study aims to evaluate the yellow fever outbreak

impact on primate populations that inhabit forest fragments in areas covered by different

vegetation rates in the highland region state. Active searches were performed at 36 point to verify

primate presence after the outbreak also 81 citizens were interviewed closed to the sample area to

evaluate their perception to primate presence, before and after the virosis in the area. Following,

models were created to estimate occupation probabilities before the outbreak and extinction

probabilities after the outbreak, using fragmental areas, functional isolation and yellow fever

index as variables. According to the interviews the recent primate population decrease in isolated

fragments was 82.5% to Alouatta guariba, 49.1% to Callithrix spp., 25.5% to Callicebus

personatus, 23,7% to Sapajus nigritus and 19% to Brachyteles hypoxanthus. The models indicate

that the greater functional isolatin of the sample points the lower outbreak occupation probability

for all species, except to A. guariba that was not influenced by the studied variables. Generally,

isolated fragments present lower gene flow between populations. Considering that variability

gene reduction unfavorable the population viability and the species long-term survival in this

region, the isolation may have become the species more susceptible to stochastic events such as

the recent outbreak. The highly fragmented landscape implications together to other factors may

have decreased the primate population occupation unbalancing the populations. Consequently,

the fragmentation, isolation and the yellow fever presence may have caused local extinctions in

the studied cities, especially to Alouatta guariba that is a highly susceptible specie to the viruses.

Therefore, to understand the species response to landscape factors and to stochastic events such

as yellow fever, is fundamental to predict future extinctions and population disturbances also to

develop conservation measurements consistent to local reality. This work reinforces the

importance to preserve large forest fragments more connected to contribute for primate species

persistence and viability in few fragments.

Keywords: epizootics, local extinction, interviews, population reduction.

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1 - Introdução

Doenças infecciosas são motivo de grande preocupação para a saúde pública

mundial (Weaver, 2013). Dentre essas doenças, as arboviroses – causadas por arbovírus

– têm como característica epidemiológica principal a transmissão biológica entre

hospedeiros vertebrados, mediada por artrópodes hematófagos (Beaty et al., 1989;

Karabastos, 1985). Em muitos casos, a emergência da circulação do vírus de várias

doenças pode ser desencadeada por atividades antrópicas modificadoras do ambiente,

como os desmatamentos (Vasconcelos et al., 2001; Vasconcelos, 2010). Muitas viroses,

além de serem patogênicas para os humanos, podem representar uma grande ameaça para

a fauna, podendo gerar, inclusive, o declínio de populações em vida livre (Catenacci,

2017).

Uma das doenças mais conhecidas, que atingem tanto as populações de animais

silvestres quanto as populações humanas, é a febre amarela. Comum em regiões tropicais

das Américas e da África, a febre amarela caracteriza-se como uma doença infecciosa

não-contagiosa que se mantém endêmica (ou enzoótica) nas regiões de sua ocorrência

(Brasil, 2005; Vasconcelos, 2003). Ela causa surtos periódicos com casos isolados, ou

epidemias de grande ou pequeno impacto em saúde pública, sendo transmitida ao homem

através da picada de insetos hematófagos da família Culicidae. Nas Américas, existem

dois ciclos da doença, o urbano e o silvestre. O ciclo urbano é mantido por mosquitos do

gênero Aedes, na forma homem-mosquito-homem (Ribeiro & Antunes, 2009;

Vasconcelos, 2003). Já no ciclo silvestre, a infecção se mantém entre os macacos e outros

animais silvestres e os mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes. (Vasconcelos,

2003; Monath, 2001; Tesh et al., 2001, Ribeiro & Antunes, 2009, Brasil, 2005). Neste

último, os riscos para a população humana de contrair a doença onde ela é endêmica, são

maiores para aqueles que se expõem constantemente em áreas de florestas (Vasconcelos,

2003).

No Brasil, a febre amarela silvestre foi observada pela primeira vez em 1898, por

Adolpho Lutz, no interior do Estado de São Paulo (Franco, 1969). Contudo, ela foi

somente reconhecida em 1930, quando observaram que o mosquito transmissor não se

tratava do Aedes aegypti, mas sim de outras espécies de mosquito (Taylor, 1951,

Vasconcelos, 2003; Soper, 1936). A forma silvestre da virose não pode ser erradicada e

tem sido objeto de intervenções, visando ao seu controle, sendo medidas indispensáveis

a manutenção de coberturas vacinais altas e homogêneas (Ribeiro & Antunes, 2009), o

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controle de vetores e a vigilância de epizootias em primatas não-humanos (Brasil, 2014;

Figueiredo & Figueiredo, 2014). No Brasil, em casos de infecção experimental de febre

amarela, todos os gêneros de primatas não humanos se mostraram sensíveis e suscetíveis

ao vírus, sendo que os gêneros Aotus (macacos-da-noite), Alouatta (bugios ou barbados),

Saguinus e Callithrix (micos e saguis), foram considerados os mais sensíveis à doença.

Já os gêneros Ateles (macacos-aranha), Saimiri (macacos-de-cheiro), Cebus e Sapajus

(macacos-pregos) e Callicebus (sauás ou guigós) são tidos como mais resistentes (Brasil,

2005). Dentre eles, os primatas Cebus e Sapajus, apesar de desenvolver a infecção e de

manter a viremia, se mostram mais resistentes ao vírus da febre amarela (Taylor, 1951),

pois anticorpos são produzidos, neutralizando futuras reinfecções (Vasconcelos, 2000).

Já nas populações de Alouatta a infecção, mesmo em doses mínimas do vírus, torna-se

fulminante, com grandes semelhanças aos casos humanos fatais (Vasconcelos, 2003).

De acordo com a Sociedade Brasileira de Primatologia, o Brasil é o país com o

maior número de primatas conhecidos, com 139 táxons (espécies e subespécies),

distribuídas em cinco famílias e 19 gêneros (Rylands, 2012). A Mata Atlântica, concentra

26 espécies de primatas, sendo 19 espécies endêmicas (Culot et al., 2018). Na região

serrana do Espírito Santo, sudeste do Brasil, ocorrem seis espécies de primatas:

Brachyteles hypoxanthus, Callicebus personatus, Callithrix flaviceps, Callithrix

geoffroyi, Sapajus nigritus e Alouatta guariba (alguns especialistas consideram duas

subespécies, cuja subespécie A. g. clamitans, ocorre no Espírito Santo) (Pinto et al,. 1993;

Mendes, 1995, Passamani, 2008), todas endêmicas da Mata Atlântica. Destas, as espécies

Brachyteles hypoxanthus, Callithrix flaviceps e Callicebus personatus foram

classificadas como Criticamente em Perigo, Em Perigo e Vulnerável, respectivamente,

pela lista da IUCN (2017), enquanto Alouatta guariba clamitans, Brachyteles

hypoxanthus, Callithrix flaviceps, Callicebus personatus estão listadas como Vulnerável,

Criticamente em Perigo, Em Perigo e Vulnerável, respectivamente, de acordo com o

Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (ICMbio, 2018).

Muitas espécies de primatas da Mata Atlântica são ameaçadas pela perda de

habitat, presença de espécies exóticas e alto índice de caça e captura para o comércio de

animais de estimação (Marques, 2003). Adiciona-se a essas ameaças, o surto de doenças,

principalmente para as populações de A. guariba (Mendes et al., 2008; Vasconcelos,

2003, Bicca-Marques, 2009). Como exemplo, surtos de alto impacto de febre amarela em

populações de A. guariba foram recentemente descritos para o Rio Grande do Sul em

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2008 e 2009, onde mais de 2.000 indivíduos vieram a óbito (Fialho, et al., 2012). E, no

ano de 2017, um surto igualmente grandioso ocorreu no Espírito Santo, Minas Gerais e

São Paulo, causando a morte de milhares primatas (Paules & Fauci, 2017, Strier et al.,

2009), principalmente de A. guariba. Após tais surtos, as populações de primatas foram

reduzidas e, até mesmo, extintas localmente em diversas localidades (Fialho et al., 2012;

Gomes et al., 2010; Almeida et al., 2012, Agostini et al., 2015). Mas não existem muitos

dados nos fragmentos de matas referentes ao surto que ocorreu em 2017, apesar de ser

sabido que ocorreu a morte de milhares de primatas.

A Mata Atlântica enfrenta um cenário de ameaça, onde 83% dos fragmentos

possuem menos de 50 ha e são altamente isolados (Ribeiro et al., 2009). Processos

ecológicos e demográficos importantes, como o fluxo gênico e a dispersão de indivíduos,

podem ser interrompidos (Laurance, et al., 2011, Moraes et al., 2018), resultando na

diminuição da diversidade genética e no número de indivíduos de uma população

(Allendorf et al., 2010) e, consequentemente, no aumento do risco de endogamia

(Kageyama et al., 1998). Surtos de doenças, como os da febre amarela, tornam-se grandes

ameaças para as populações (Norden et al., 2009), desencadeando um processo

irreversível de redução populacional, especialmente para aquelas populações isoladas em

fragmentos, aumentando o risco de extinções locais (Bicca-Marques, 2009; Bicca-

Marques & Freitas, 2010).

A eliminação do ciclo da febre amarela silvestre é inviável devido a diversos

fatores físicos e ecológicos envolvidos. Por isso, é preciso que haja um monitoramento

de primatas não humanos em áreas de risco de febre amarela, para entender a influência

da doença nas populações e evitar futuras reduções e extinções populacionais. Para tal, o

uso de modelos de ocupação pode ser um forte aliado, visto que podem estimar a

probabilidade de ocupação de espécies em um determinado local, corrigida pela detecção

(ou seja, a espécie está lá, porém não foi possível detectá-la) (MacKenzie et al., 2003).

Esses modelos sugerem que mudanças no tamanho da área ocupada por uma determinada

espécie podem estar correlacionadas com as mudanças no tamanho da sua população

(MacKenzie et al., 2002) e com algumas variáveis ambientais, espaciais ou biológicas,

como a rápida dispersão do vírus pelos fragmentos. Tal abordagem também permite a

análise da probabilidade de extinção, juntamente com a inferência de fatores ambientais

que possam influenciar o parâmetro (MacKenzie et al., 2003).

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Dessa forma, o objetivo deste estudo foi avaliar a relação entre os fatores

espaciais, a ocupação antes do surto e a extinção local de primatas após o surto de febre

amarela na região centro-serrana do Espírito Santo. Especificamente, nós hipotetizamos

que: (1) a probabilidade de ocupação de primatas antes do surto é maior em fragmentos

maiores e menos isolados; (2) a probabilidade de extinção nas populações de primatas

será maior nos fragmentos menores e mais isolados, visto que áreas maiores e mais

conectadas tendem a diluir os efeitos de doenças; e (3) a probabilidade de extinção será

menor em áreas com baixos índices de febre amarela do que nas áreas com mais registros

de epizootias.

2 - Métodos

2.1 Área de estudo

As coletas foram realizadas na região serrana do Espírito Santo, centro-sul do

estado (Figura 1). Historicamente, o estado do Espírito Santo foi inteiramente coberto

pelas formações do bioma Mata Atlântica, mas devido ao processo de desmatamento, essa

floresta se encontra sob um padrão fortemente fragmentado, restando apenas 15,9% de

mata nativa e 6,2% de mata nativa em estágio inicial de regeneração (Espírito Santo,

2018).

A vegetação nativa da área de estudo é composta por floresta perene densa (IBGE,

2012). No total, foram amostrados diferentes fragmentos em quatro municípios da região

centro-serrana do estado do Espírito Santo: Santa Maria de Jetibá (40° 44'32"W, 20° 01'

38"), Santa Teresa (40° 35'28"W, 19° 56' 12" S), Santa Leopoldina (40° 52’73” W,

20°10’04” S) e Domingos Martins (40° 39' 36"W, 20° 21'44" S). Esses municípios

possuem uma amplitude térmica grande devido à proximidade com o litoral (Dell’Orto et

al., 2011) e de acordo com Castro et al (2010), a região Serrana possui os maiores índices

médios pluviométricos em todo o território do estado do Espírito Santo. As demais

informações estão listadas no Anexo 1, de acordo com o site da web Climate-Data

https://en.climate-data.org/south-america/brazil/espirito-santo-210.

Domingos Martins (com uma área de 122.936,6 ha) possui 36,1% de mata nativa

e 7,3% de mata nativa em estágio inicial de regeneração; Santa Maria de Jetibá (73.529,9

ha de área) apresenta 35,7% de mata nativa e 7,3% de mata nativa em estágio inicial de

regeneração; Santa Leopoldina (71.798,6 ha de área) conta com 42,7% de mata nativa e

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8,6% de mata nativa em estágio inicial de regeneração e Santa Teresa (68.317,0 ha de

área) possui 32,1% de mata nativa e 7,8% de mata nativa em estágio inicial de

regeneração (Espírito Santo, 2018). A menor cobertura de mata nativa se encontra na área

de estudo no município de Domingos Martins. (Figura 1).

Figura 1 - Área de estudo na região centro-serrana do estado do Espírito Santo indicando

os quatro municípios e as três subpaisagens amostradas (A, B, C). Os remanescentes de

matas primárias e secundárias estão representados na cor verde e os pontos amostrados,

representados por triângulos. A) região de Santa Teresa e Santa Leopoldina (ST/SL); B)

região de Santa Maria de Jetibá (SM); C) região de Domingos Martins (DM). Base

cartográfica: IBGE e Geobases. Projeção: UTM; Datum WGS 1984, Zona 24S.

2.2 Coleta de dados

2.2.1 Pontos Amostrados

Os pontos amostrais foram selecionados de forma aleatoria e estratificada,

priorizando paisagens diferentes (subpaisagens) as quais se diferenciam pelo tamanho e

grau de conectividade de seus fragmentos e classificados de acordo com a sua área

florestal. Para isso, foram selecionadas três subpaisagens, divididas e classificadas a partir

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da porcentagem de cobertura florestal presente, no qual foram aleatorizados 36 pontos

(Figura 1). A classificação foi definida por taxa de cobertura vegetal, sendo considerada

a região amostrada em Domingos Martins aquela com menor proporção de floresta

(<17%), Santa Maria de Jetibá, com uma proporção intermediária (35%) e Santa

Leopoldina e Santa Teresa foram agrupadas em uma única região de amostragem,

considerada de mata mais densa (>65%); (Figura 1).

2.2.2 Busca ativa

Para estimar quais espécies de primatas estariam presentes na área de estudo após

o surto de febre amarela ocorrido entre os anos de 2017 e 2018, foram realizadas buscas

ativas em campo entre os meses de maio a setembro de 2017 e maio a agosto de 2018

(estação seca), totalizando 39 dias e 351 horas de esforço amostral. Para minimizar o erro

de falsa ausência, adotamos a metodologia utilizadas para a preguiça-de-coleira,

Bradypus torquatus (Santos et al., 2016), espécie de difícil detecção. Assim, cada sítio

(N=36) foi amostrado em quatro visitas mensais em cada ponto (ocasiões), sendo 13

pontos em Santa Teresa/Santa Leopoldina; 13 em Domingos Martins e 10 em Santa Maria

de Jetibá (Figura 1). No centro de cada estação foram estabelecidas duas trilhas

perpendiculares, com 200 m de comprimento cada, formando uma cruz (Santos et al.,

2016). Nas estações de amostragem, foram utilizadas trilhas para coletar dados de

presença/ausência, por onde o observador caminhava a uma velocidade de 0,24 km/h,

observando cuidadosamente ao redor para identificar as espécies, por meio da observação

visual e por vocalizações. Devido ao fato de que o estudo abrange diferentes espécies de

primatas, para calcular as distâncias mínimas entre os pontos, levamos em consideração

a distância média percorrida pelos primatas (Tabela 1), e assumimos o valor mínimo de

1.000 metros entre os pontos amostrais e a metodologia de playback não foi usada, pois

nem todos os primatas respondem a essa sinalização. A ordem de visitação em cada ponto

e os horários foram alternados a cada ocasião.

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Tabela 1- Percursos de deslocamentos diários (médios) apresentados por primatas durante

a estação seca em regiões de Mata Atlântica.

Primatas Percurso diário médio (m) Autores

Alouatta guariba 477.5 Miranda, 2004

Sapajus nigritus 1,968.20 Delval, 2014

Callithrix spp. 1,300 Passamani, 1996

Callicebus personatus <1,000 BiccaMarques & Heymann, 2013

Brachyteles hypoxanthus 1,060.5 Marques et al., 2014

Média 1,161.24

2.2.3 Entrevistas

Foram realizadas entrevistas, com moradores residentes ao redor dos fragmentos

com os pontos amostrados, para identificar os locais onde existiam primatas antes do surto

de febre amarela e verificar a presença desses primatas após o surto, de acordo com a

percepção dos moradores. O questionário foi padronizado, baseado em um roteiro com

perguntas abertas referentes à presença e ausência de primatas após o surto de febre

amarela (Apêndice 1). No questionário, constavam perguntas como: nome do

entrevistado, sexo, idade, tempo na região, qual primata o entrevistado observava até

quatro meses antes do surto de 2017, qual primata morreu no período do surto, qual ainda

era visto e/ou ouvido após o surto, se o entrevistado notou a ausência de algum outro

animal e se acreditava que algum outro fator pudesse estar relacionado à ausência atual

de primatas. O número de entrevistas em cada sítio amostral foi proporcional ao tamanho

do fragmento, variando de uma a três entrevistas por ponto, o que totalizou 81 entrevistas.

A coleta dos dados referentes às entrevistas foi realizada durante o mês de

setembro de 2018, nas três regiões de estudo. Para obter maior confiabilidade, buscamos

por informantes que possuíam maior conhecimento sobre os primatas, que eram

proprietários dos fragmentos amostrados e que moravam há mais tempo na região.

Preferencialmente, os entrevistados eram homens, lavradores e que tinham contato

frequente com a mata. Para maior rigor nos resultados, atribuímos um nível de

confiabilidade para cada entrevista, sendo: 1- o entrevistado não tinha muito contato com

a mata e confundia os macacos; 2- o entrevistado não tinha muito contato com a mata ou

confundia os macacos; e 3- o entrevistado tinha contato com a mata e sabia diferenciar os

macacos. Visando evitar falsas detecções, testar os conhecimentos e atribuir o nível de

confiabilidade dos entrevistados, foram utilizadas vocalizações gravadas de cada espécie

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presente na região e fotografias. Assim, o nível de confiabilidade foi atribuído após essa

averiguação (Apêndice 1). Todo o processo de entrevistas foi devidamente autorizado

pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da Universidade Federal do

Espírito Santo (Parecer nº 2.410.010; Apêndice 2).

Foram feitas correlações, utilizando-se testes de qui-quadrado (χ²), para verificar

se as frequências de faixa etária (menor e maior que 47 anos), sexo, profissão e tempo de

residência no local (menor e maior que 26 anos) estavam relacionadas ao nível de

confiabilidade e à permanência dos primatas nos fragmentos, principalmente para

Alouatta guariba. A identificação de Callithrix foi agrupada por gênero, devido à

existência de diferentes espécies e de híbridos na região serrana.

2.3 Análises

2.3.1 Análise de paisagem

Realizamos as análises espaciais utilizando o mapa de uso de cobertura do solo

entre os anos 2012-2015, resolução de 0,25 metros cedido pela Geobases (IEMA-ES,

https://geobases.es.gov.br/), georreferenciado no Sistema de Projeção UTM, Datum

SIRGAS2000, zona 24s. O cálculo da área dos fragmentos foi realizado através do

programa Fragstats 4.2 (McGarigal et al., 2012).

O isolamento funcional foi estimado baseado no “Empty Space Function”

(Baddeley & Turner, 2005; Fortin & Dale, 2005; Ribeiro et al., 2009), que mede o

isolamento médio de um pixel aleatório com relação a áreas florestadas. Foram

aleatorizados 1.000.000 pontos, com ajuda do programa QGis 3.2.2 (QGIS Development

Team, 2018), em um mapa de distância euclidiana, com valores crescentes da borda da

mata até os pontos aleatorizados na matriz da paisagem. Fizemos dez buffers ao redor de

cada sítio amostral, com valores entre 100 m e 1.000 m de raio. Dentro de cada buffer,

havia “n” pontos sorteados, cada um com uma distância em relação ao fragmento. Assim,

calculamos a distância média até o ponto amostral. Os valores encontrados representam

o isolamento médio, partindo do pressuposto de que quanto mais isolado o ponto é, mais

longe do núcleo florestado ele está. Para o cálculo, utilizamos os programas GrassGis

7.4.1 (Neteler & Mitasova 2018, http://grass.osgeo.org).

De acordo com Miguet et al., 2016, normalmente assume-se que a escala de efeito

se relaciona com a escala que as espécies percebem e interagem com a paisagem. Assim,

para a correta escolha da escala (nesse caso, dos buffers), foi feito um teste GLM,

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utilizando-se valores de presença de primatas, antes e após o surto e a variável medida

nos diferentes buffers. Os melhores modelos foram selecionados por meio do Critério de

Informação de Akaike (Akaike Information Criterion – AIC <2), obtendo, assim, valores

de buffer para o isolamento funcional antes e após o surto, listados na Tabela 2. Os demais

modelos obtidos estão no Apêndice 3.

Tabela 2 - Melhores modelos de buffer para o isolamento funcional, baseados no raio de

influência para cada espécie de primata, antes e após o surto de febre amarela. Δ LogLik=

log de verossimilhança, Δ AICc=correção do viés de AIC para amostras de pequeno

número, Df=número de parâmetros e weight=peso.

Modelos Δ LogLik Δ AICc Df Weight

Alouatta guariba

IF100 (antes do surto) 0 0 2 0.1

IF100 (após o surto) 0.6 0 2 0.15

Callicebus personatus

IF800 (antes do surto) 6.3 0 2 0.19

IF900 (após o surto) 4.2 0 2 0.25

Sapajus nigritus

IF400 (antes do surto) 2.7 0 2 0.23

IF800 (após o surto) 3.8 0 2 0.30

Brachyteles hypoxanthus

IF300 (antes do surto) 2.5 0 2 0.38

IF300 (após o surto) 2.5 0 2 0.38

Callithrix spp.

IF100 (antes do surto) 3.5 0 2 0.63

IF1000 (após do surto) 2.1 0 2 0.28

O índice de febre amarela (IFA) da vizinhança foi criado como uma covariável,

após o surto, para os pontos amostrais de Santa Teresa/Santa Leopoldina, Domingos

Martins e Santa Maria de Jetibá. Para os fragmentos, onde não houve registros de

epizootias dentro do buffer de 2.000 metros, o IFA foi zero (0) (Tabela 3). Para criar esse

índice, utilizou-se um banco de dados com registros de epizootias, que é classificada

como a ocorrência de um determinado evento em um número de animais ao mesmo tempo

e na mesma região, podendo levar ou não à morte

(http://www.visa.goias.gov.br/pagina/ver/8703/epizootias), nos municípios de Santa

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Teresa, Santa Maria de Jetibá, Domingos Martins e Santa Leopoldina (Figura 2). Os

dados são provenientes do projeto “Sentinelas da Mata” – UFES, que mapeou as

ocorrências de mortes de primatas no estado do Espírito Santo, durante o período do surto

de febre amarela, entre 2017 e 2018. Contudo, muitos desses registros não tiveram as

coordenadas geográficas localizadas, o que pode ter comprometido os dados. Foram

criados buffers de 2.000 m de raio, onde verificou-se a influência direta da doença ao

redor dos pontos de busca ativa deste estudo. Dentro de cada buffer, o número de

epizootias foi transformado em porcentagem, de acordo com o número total de registros

de mortes de primatas em cada município (Figura 3). O tamanho do buffer de 2.000 m foi

escolhido de acordo com o deslocamento médio do S. nigritus, primata com maior

deslocamento dentre os que ocorrem na região, podendo percorrer mais de 4.000 m por

dia (Delval, 2014).

Os índices de febre amarela, baseados nos dados do projeto “Sentinelas da Mata”,

foram maiores no município de Santa Maria de Jetibá, já que para todos os pontos de

estudo havia, pelo menos, um registro de epizootia dentro do buffer de 2.000 metros de

raio. Santa Teresa apresentou o menor índice de febre amarela (Tabela 3).

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Figura 2 – Registros de epizootias mapeados pelo projeto Sentinelas da Mata durante os

anos de 2017 e 2018, nos municípios de estudo localizados no Espírito Santo.

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

Domingos Martins Santa Leopoldina Santa Maria de Jetibá Santa Teresa

89

20

87

29

7

13

9

0

7

0 03 4

0 0

30

51

41 0 0 0

Epiz

oo

tias

Título do Eixo

A. guariba C. personatus C. geoffroyi Callithrix sp Sem identificação S. nigritus

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Figura 3 – A) Registros de epizootias na região de estudo (pontos em azul) utilizados para

criar o IFA (pontos em vermelho), dentro de um raio partindo dos pontos amostrados

(triângulos pretos). O tamanho do raio (2.000 m) foi baseado no deslocamento médio de

Sapajus nigritus, a espécie que possui o maior deslocamento médio dentre as espécies de

primatas estudadas na região. B) Ampliação do mapa mostrando a influência direta das

epizootias em relação aos pontos de estudo em Santa Maria de Jetibá.

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Tabela 3 - Índices de febre amarela (IFA), calculados a partir dos registros de epizootias

fornecidos pelo Projeto Sentinelas da Mata (UFES) dentro da área de influência direta

dos pontos amostrados para este estudo, ou seja, dentro de um buffer de 2.000 m. Sendo

13 pontos amostrados em Santa Teresa/Santa Leopoldina, 13 em Domingos Martins e 10

pontos em Santa Maria de Jetibá, representados por cada linha.

Santa Teresa/Santa Leopoldina Domingos Martins Santa Maria De Jetibá

0 0 3.30

0 0 3.30

0 0 6.59

0 0 2.20

0 2.31 6.59

0 0.77 2.20

0 0 4.40

0 0 2.20

9.76 0.77 4.40

2.44 0.77 3.30

0 0.77 -

7.32 2.31 -

0 0 -

2.3.2 Análise de ocupação e extinção de primatas

Utilizando-se as variáveis de isolamento, IFA e área, foram realizadas análises de

ocupação antes do surto da febre amarela, e análises de extinção após o surto, com o

modelo Robust Design Occupancy (MacKenzie et al., 2003), no programa MARK. Tal

modelo estima a probabilidade de ocupação (psi), a probabilidade de extinção (épsilon) e

a probabilidade de colonização (gama). Esse tipo de análise permite trabalhar com dois

tipos de detecções: as falso-negativa, ou seja, quando uma espécie está presente em um

ponto, porém não foi detectada, e as detecções falso-positivas, ou seja, a espécie foi

erroneamente detectada. Dessa forma, o modelo permite incluir dados de entrevistas e

busca ativa em uma mesma análise.

A análise foi dividida em duas ocasiões primárias (antes e depois do surto) e, para

cada ocasião primária, temos duas ocasiões secundárias, cada uma com uma entrevista e

uma busca ativa, totalizando 4 ocasiões. Tendo em vista a necessidade de padronização

do esforço amostral para essa análise, apenas uma entrevista foi considerada válida, com

um informante, para cada sítio amostral. A escolha se deu através do nível de

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confiabilidade: apenas aquelas com maior confiabilidade foram escolhidas. Sendo assim,

das 81 entrevistas com informantes, 36 entrevistas foram selecionadas para as análises do

modelo robusto. Quando a confiabilidade era a mesma para mais de uma entrevista

relacionada a um ponto, a entrevista escolhida era aquela onde o informante residia mais

próximo ao sítio. Ao contrário dos modelos de ocupação simples, com os quais se

trabalham apenas com a não detecção (0) e detecção (1) da espécies, no modelo robusto,

para corrigir possíveis erros de detecção, adotamos valores de confiabilidadade para as

entrevistas e busca ativa, sendo que 0 (zero) equivale à não detecção do primata; 1 (um)

equivale à divergência ou ambiguidade de informações e 2 (dois), à confiabilidade total.

Para obter as probabilidades de ocupação antes do surto e a de extinção após o

surto, trabalhamos com nove parâmetros, sendo eles: Psi (ψ) = ocupação; Epsilon (ε) =

extinção; Gama (γ) = colonização; Probabilidade de detecção (p) = dividida em: p1,0

entrevista (probabilidade de detecção através das entrevistas antes do surto), p1,0 busca

ativa (probabilidade de detecção através de busca ativa antes do surto), p1,1 entrevista

(probabilidade de detecção através de entrevistas após o surto), p1,1 busca ativa

(probabilidade de detecção através de busca ativa após o surto), b entrevista

(probabilidade de detecção nas entrevistas que não seja ambígua) e b busca ativa

(probabilidade de detecção na busca ativa que não seja ambígua). Dentre os nove

parâmetros, fixamos gama em 0 (zero), já que não mensuramos a probabilidade de

colonização, p1,0 = busca ativa foi fixado em 0 (zero), pois não houve busca ativa para

estimar ocupação nos pontos antes do surto, e b busca ativa foi fixado em 1 (um), já que

a detecção era realizada por pesquisadores treinados. Logo, o modelo nulo é representado

dessa forma:

{psi(.), eps(.), gama=0, p10(.), p10(0), p11(.), p11(.), b(.), b=1}

Os modelos de ocupação foram gerados considerando-se, primeiramente, modelos

nulos, ou seja, aqueles que não sofrem influência de nenhuma covariável selecionada

sobre as probabilidades de ocupação, extinção e detecção (parâmetros que se mantiveram

constantes). Os demais modelos foram gerados com uma covariável por parâmetros (área,

isolamento funcional ou IFA), combinações de duas covariáveis em um parâmetro ou

combinações de duas variáveis e dois parâmetros, sendo que o IFA não foi utilizado como

variável para a probabilidade de ocupação. Os melhores modelos foram selecionados a

partir do AICc (Critério de Informação de Akaike Corrigido (AICc)), utilizado para

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pequenas amostras, sendo que foram considerados aqueles com ΔAIC < 2 (Mackenzie, et

al. 2006). Foram feitas correlações entre as variáveis utilizadas

3 – Resultados

3.1 Entrevistas

Por meio de entrevistas, utilizando-se valores absolutos, verificamos que os moradores

locais tiveram uma percepção menor em relação à presença das espécies de primatas em vários

fragmentos nos municípios pesquisados após o surto de febre amarela em 2017. No geral, A.

guariba foi a espécie que teve a maior redução de relatos de ocorrência após o surto (Figura 4A,

Tabela 4). Em Santa Teresa e Santa Maria de Jetibá, segundo as entrevistas, havia uma grande

riqueza de primatas e, posteriormente ao surto, ocorreu uma queda de A. guariba. Contudo,

ocorreu uma menor taxa de variação dos demais primatas, exceto para Callithrix spp., em Santa

Maria de Jetibá, onde a redução foi em torno de 62% (figuras 4B e 4C, Tabela 4). Já em

Domingos Martins, ainda utilizando dados absolutos, registrou-se o menor número de espécies

de primatas, mesmo antes do surto. A percepção da ausência de primatas pelos entrevistados,

para o período após o surto, também foi maior em Domingos Martins do que nos outros dois

municípios (Figura 4D). Nesse último município, B. hypoxanthus já não era visto pelos

moradores entrevistados mesmo antes do surto. As características dos entrevistados (profissões,

faixa etária, sexo e tempo na região) não influenciaram as respostas dadas para a presença dos

primatas (X2; p > 0,05).

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Figura 4 - Registros de presença de primatas antes e após o surto de febre amarela, de

acordo com a percepção geral dos moradores dos municípios afetados, fornecidos por

meio de entrevistas em 2018. A - Percentual geral de primatas nos municípios de

Domingos Martins, Santa Maria de Jetibá e Santa Teresa/Santa Leopoldina; B -

Percentual de primatas no município de Santa Teresa/Santa Leopoldina; C - Percentual

de primatas no município de Santa Maria de Jetibá; D - Percentual de primatas no

município de Domingos Martins.

80

38

47

59

2114

2935

30

17

Entr

evis

tas

Antes

Depois

A27

25 26

21

8

4

2321

17

6

Entr

evis

tas

Antes

Depois

B

26

9

14

21

13

7 6

13

8

11

Entr

evis

tas

Antes

Depois

27

4

7

17

0

3

0 1

4

00

5

10

15

20

25

30

Entr

evis

tas

Antes

Depois

DC

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Tabela 4 – Redução de ocorrências de primatas, tanto geral quanto para cada região

visitada, após o surto de febre amarela ocorrida em 2017, de acordo com a percepção dos

moradores (baseada no número total de entrevistas).

Primatas Redução geral Santa Teresa/Santa

Leopoldina

Domingos

Martins Santa Maria de Jetibá

Todas espécies 48,98% 33,63% 85,45% 45,78%

Alouatta guariba 82,5% 85,2% 88.9% 73,1%

Sapajus nigritus 23,7% 8% 100% 33,3%

Callicebus personatus 25,5% 19,2% 85.7% 7,14%

Callitrhix spp. 49.1% 19% 76.4% 62%

Brachyteles

hypoxanthus 19,0% 25% - 15,4%

3.2 Buscas ativas

Durante as buscas ativas o A. guariba não foi registrado em nenhuma ocasião

(Tabela 5). C. personatus foi o primata com maior número de registros, totalizando 11

(61% dos registros totais de primatas), sendo a maior parte (54% dos registros), obtidos

nos municípios de Santa Teresa/Santa Leopoldina. Callithrix spp. teve o maior número

de registros também em Santa Teresa/Santa Leopoldina, com um total de três registros

(17%). Já o S. nigritus, foi registrado em duas ocasiões nos municípios de Santa Maria de

Jetibá e Santa Teresa/Santa Leopoldina (22%) (Tabela 5). B. hypoxanthus não foi

observado dentro do perímetro dos pontos amostrados, mas foi visto um grupo com

aproximadamente cinco indivíduos na mata do Belém, em Santa Maria de Jetibá, em

agosto de 2018.

Tabela 5 - Registros de visualizações e vocalizações observadas durante as buscas ativas

ocorridas nas estações secas do ano de 2017 e de 2018.

Primatas Santa Teresa/ Santa

Leopoldina Domingos Martins

Santa Maria de

Jetibá

Alouatta guariba 0 0 0

Callicebus personatus 6 3 2

Callithrix spp. 2 1 0

Brachyteles hypoxanthus 0 0 0

Sapajus nigritus 2 0 2

TOTAL 10 4 4

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27

3.3 Probabilidade de ocupação, extinção e detecção

Na Tabela 6 estão listados os melhores modelos para todos os primatas, baseados

nas entrevistas e nas buscas ativas em campo. Para A. guariba, o melhor modelo para

explicar as probabilidades de ocupação, extinção e detecção nas paisagens amostradas,

foi o nulo, indicando que a espécie não foi influenciada por nenhuma variável testada. Já

os dois modelos seguintes, considerados explicativos, ainda para A. guariba, indicam que

a probabilidade de extinção foi influenciada negativamente pelo isolamento funcional (β

= -0.02 ± 0.021) e positivamente pelo tamanho da área (β = 0.15 ± 0.16) (Figuras 5A e

5B). Embora os outros dois modelos tivessem o ∆AIC<2, foram desconsiderados na

interpretação dos dados, pois o efeito destas variáves, aparentemente, não é forte, já que

o modelo nulo foi bem ranqueado por serem menos explicativos que o modelo nulo.

A probabilidade de ocupação do S. nigritus, é positivamente afetada pela área do

fragmento (β = 0.80 ± 0.35) e negativamente, pelo isolamento funcional (IF 400) (β = -

0.03 ± 0.02) (Figuras 6A e 6B). Já a probabilidade de extinção diminui com o aumento

do IFA (β = -2.05 ± 5.52) e aumenta com o crescimento do isolamento funcional (β =

0.03 ± 0.02;Figuras 7A e 7B).

Para Callithrix spp., quanto maior for o isolamento funcional, menor será a

probabilidade de ocupação (β = -0.29 ± 0.35; Figura 8). O isolamento funcional também

é importante para a probabilididade de extinção da espécies do grupo, afetando

positivamente o parâmetro (β = 0.02 ± 0.01). A área do fragmento também é importante

para a probabilidade de extinção, porém, afetando negativamente o parâmetro maior será

a probabilidade de extinção (β = -0.21 ± 0.17; Figuras 9A e 9B).

A probabilidade de ocupação do C. personatus, é negativamente influenciada palo

isolamento funcional, (β = -0.04 ± 0.02) e positivamente influenciada pala área do

fragmento (β = 0.35 ± 0.29; Figuras 10A e 10B). Já a probabilidade de extinção diminui

com o aumento da área do fragmento (β = -0.66 ± 0.00; Figura 11).

O isolamento funcional também é importante para o B. hypoxanthus, sendo a única

variável com alguma influência sobre a probabilidade de ocupação da espécie. Nesse

caso, a probabilidade de ocupação diminui com o aumento do isolamento (β = -0.04

±0.02; Figura 12).

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28

Tabela 6 - Seleção dos melhores modelos gerados para Alouatta guariba, Sapajus nigritus, Callithrix spp., Callicebus personatus e Brachyteles

hypoxanthus a partir do valor do delta AIC<2. Parâmetros: psi = probabilidade de ocupação, eps = probabilidade de extinção, gama = probabilidade

de colonização, p10 = probabilidade de detecção nas entrevistas antes do surto, p10 = probabilidade de detecção nas buscas ativas antes do surto,

p11 = probabilidade de detecção nas entrevistas antes do surto; p11 = probabilidade de detecção nas buscas ativas após o surto, b = probabilidade

de detecção com incerteza, b = probabilidade de detecção real. Covariáveis utilizadas: área, índice de febre amarela (IFA) e isolamento funcional

(IF_100; IF_300; IF_400; IF_800; IF_1000). O isolamento funcional foi baseado no raio de influência sob cada primata.

Modelos AICc Δ AICc Peso AICc Número de

Parâmetros Desvio -2log(L)

Alouatta guariba

{psi(.), eps(.), gama=0, p10(.), p10(0), p11(.), p11(.), b(.), b=1}

80.15

0

0.24

6

66.86

66.86

{psi(.), eps(IF_100), gama=0, p10(.), p10(0), p11(.), p11(.), b(.), b=1} 81.38 1.23 0.13 7 65.63 65.63

{psi(.), eps(area), gama=0, p10(.), p10(0), p11(.), p11(.), b(.), b=1} 81.65 1.49 0.11 7 65.89 65.89

Sapajus nigritus

{psi(area), eps(.), gama=0, p10(.), p10(0), p11(.), p11(.), b(.), b=1} 98.52 0 0.26 7 82.77 82.77

{psi(IF_400,area), eps(.), gama=0, p10(.), p10(0), p11(.), p11(.), b(.),b=1} 98.64 0.13 0.24 8 80.36 80.36

{psi(area), eps(IFA), gama=0, p10(.), p10(0), p11(.), p11(.), b(.), b=1}

{psi(area), eps(IF_800), gama=0, p10(.), p10(0), p11(.), p11(.), b(.), b=1}

98.94

98.99

0.42

0.48

0.21

0.20

8

8

80.65

80.71

80.65

80.71

Callithrix spp.

{psi(IF_100), eps(IF_1000) gama=0, p(.), p10(0), p11(.), p11(.), b(.), b=1} 138.33 0 0.26 8 120.05 120.05

{psi(IF_100), eps(area) gama=0, p(.), p10(0), p11(.), p11(.), b(.), b=1} 139.11 0.78 0.18 8 120.82 120.82

Callicebus personatus

{psi(IF_800), eps(.), gama=0, p(.), p10(0), p11(.), p11(.), b(.), b=1} 132.79 0 0.31 7 117.05 117.05

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29

Modelos AICc Δ AICc Peso AICc Número de

Parâmetros Desvio -2log(L)

{psi(IF_800,area), eps(.), gama=0, p(.), p10(0), p11(.), p11(.), b(.), b=1} 132.94 0.14 0.29 8 114.66 114.66

{psi(IF_800), eps(area), gama=0, p(.), p10(0), p11(.), p11(.), b(.), b=1} 133.74 0.94 0.19 8 115.45 115.45

Brachyteles hypoxanthus

{psi(IF_300), eps(.), gama=0, p(.), p10(0), p11(.), p11(.), b(.), b=1} 49.16 0 0.42 7 33.41 33.41

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30

Figura 5 – Modelos explicativos para a probabilidade de extinção (épsilon) de barbado

(Alouatta guariba) e intervalos de confiança de 95% (LCI – inferior e UCI – superior)

em relação às variáveis explicativas, com o segundo e o terceiro melhores modelos dentre

os candidatos: A. 2º modelo: Isolamento funcional de 100 m de buffer; B. 3º modelo:

Tamanho da área.

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

0.0

6.3

12

.6

18

.9

25

.2

31

.5

37

.8

44

.0

50

.3

56

.6

62

.9

69

.2

Pro

bab

ilid

ade

de

exti

nçã

o

Isolamento Funcional_100

2:Epsilon

LCI

UCI

A

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1

57

6

11

50

17

25

22

99

28

74

34

48

40

22

45

97

51

71

57

46

63

20

68

95

Pro

bab

ilid

ade

de

exti

nçã

o

Área

2:Epsilon

LCI

UCI

B

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31

Figura 6 – Melhores modelos explicativos para a probabilidade de ocupação (psi) de

macaco-prego (Sapajus nigritus) e intervalos de confiança de 95% (LCI – inferior e UCI

– superior) em relação às variáveis explicativas: A. 1º modelo: Tamanho da área; B. 2º

modelo: Isolamento funcional de buffer de 400 m.

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1

57

6

11

50

17

25

22

99

28

74

34

48

40

22

45

97

51

71

57

46

63

20

68

95

Pro

bab

ilid

ade

de

Ocu

paç

ão

Área

Psi

LCI

UCI

A

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

0.0

13

.8

27

.6

41

.5

55

.3

69

.1

82

.9

96

.8

11

0.6

12

4.4

13

8.2

15

2.1

Pro

bab

ilid

ade

de

Ocu

paç

ão

Isolamento Funcional_400

1:Psi

LCI

UCI

B

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32

Figura 7 – Modelos explicativos para a probabilidades de extinção (épsilon) de macaco-

prego (Sapajus nigritus) e intervalos de confiança de 95% (LCI – inferior e UCI –

superior) em relação às variáveis explicativas A- 3º modelo: Índice de febre amarela

(IFA); B- 4º modelo: Isolamento funcional de buffer de 800 m.

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

0.00.61.21.82.32.93.54.14.75.35.96.47.07.68.28.89.4

Pro

bab

ilid

ade

de

Exti

nçã

o

IFA

2:Epsilon

LCI

UCI

A

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

18

.3

30

.7

43

.2

55

.7

68

.1

80

.6

93

.1

10

5.5

11

8.0

13

0.5

14

2.9

15

5.4

16

7.9

18

0.3

19

2.8

20

5.3

21

7.8

Pro

bab

ilid

ade

de

Exti

nçã

o

Isolamento Funcional_800

2:Epsilon

LCI

UCI

B

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33

Figura 8- Melhor modelo explicativo para a probabilidade de ocupação (psi) de saguis

(Callithrix spp.) e intervalos de confiança de 95% (LCI – inferior e UCI – superior) em

relação à variável explicativa isolamento funcional de buffer de 100 m.

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

0.0

4.2

8.4

12

.6

16

.8

21

.0

25

.2

29

.4

33

.6

37

.8

41

.9

46

.1

50

.3

54

.5

58

.7

62

.9

67

.1

Pro

bab

ilid

ade

de

Ocu

paç

ãp

Isolamento Funcional_100

1:Psi

LCI

UCI

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34

Figura 9 – Modelos explicativos para a probabilidade de extinção (épsilon) de saguis

(Callithrix spp.) e intervalos de confiança de 95% (LCI – inferior e UCI – superior) em

relação às variáveis explicativas A- 1º modelo: Isolamento funcional de buffer de 1000

m; B- 2º modelo: Tamanho da área.

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

29 60 91 121 152 182 213 244

Pro

bab

ilid

ade

de

exti

nçã

o

Isolamento Funcional_1000

Epsilon

LCI

UCI

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1

50

4

10

07

15

09

20

12

25

15

30

17

35

20

40

22

45

25

50

28

55

30

60

33

65

36

70

38

Pro

bab

ilid

ade

de

Exti

nçã

o

Área

2:Epsilon

LCI

UCI

B

A

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35

Figura 10 – Modelos explicativos para a probabilidade de ocupação (psi) de guigós

(Callicebus personatus.) e intervalos de confiança de 95% (LCI – inferior e UCI –

superior) em relação às variáveis explicativas A- 1º modelo: Isolamento funcional de

buffer de 800 m; B- 2º modelo: Tamanho da área.

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

18 49 77 108 138 169 199

Pro

bab

ilid

ade

de

Ocu

paç

ão

Isolamento Funcional_800

Psi

LCI

UCI

A

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.3

43

2.1

86

3.0

12

93.8

17

24.7

21

55.5

25

86.3

30

17.2

34

48.0

38

78.9

43

09.7

47

40.6

51

71.4

56

02.2

60

33.1

64

63.9

68

94.8

Pro

bab

iliad

e d

e O

cup

ação

Área

1:Psi

LCI

UCI

B

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Figura 11 – Terceiro modelo explicativo para a probabilidade de extinção (épsilon) de

guigós (Callicebus personatus) e intervalos de confiança de 95% (LCI – inferior e UCI –

superior) em relação à variável explicativa tamanho da área.

Figura 12 – Melhor modelo explicativo para a probabilidade de ocupação (psi) de

muriquis-do-norte (Brachyteles hypoxanthus) e intervalos de confiança de 95% (LCI –

inferior e UCI – superior) em relação à variável explicativa isolamento funcional de buffer

de 300 m.

4 - Discussão

O presente estudo indica que o surto de febre amarela silvestre acarretou graves

consequências para os primatas da região centro-serrana do Espírito Santo,

principalmente para Alouatta guariba, primata com o maior número de mortes durante

esse período. A redução das populações de primatas após o surto ocorreu tanto em áreas

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

1.3

50

3.9

10

06.6

15

09.2

20

11.9

25

14.5

30

17.2

35

19.8

40

22.5

45

25.1

50

27.8

55

30.4

60

33.1

65

35.7

70

38.4

Pro

bab

ilid

ade

de

Exti

nçã

o

Área

2:Epsilon

LCI

UCI

0

0.2

0.4

0.6

0.8

1

1.2

0 31 60 91

Pro

bab

ilid

ade

de

ocu

paç

ão

Isolamento Funcional_300

Psi

LCI

UCI

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37

pequenas e mais isoladas, quanto em áreas com maiores taxas de cobertura vegetal. No

entanto, as reduções foram maiores em regiões com fragmentos menores e mais isolados.

Em relação à probabilidade de extinção após o surto de febre amarela, o isolamento

funcional mostrou que quanto maior for o isolamento, maior é a probabilidade de extinção

de determinadas espécies.

4.1 Entrevistas

.

Em Domingos Martins, onde a área de estudo possui a menor porcentagem de

cobertura vegetal (<17%), a percepção dos moradores entrevistados evidenciou 85,45%

de redução para todos os primatas que ocorriam nos fragmentos. Por outro lado, Santa

Teresa e Santa Leopoldina, que possuem os fragmentos maiores, mais conectados entre

si e, consequentemente, a maior proporção de cobertura vegetal (>65%), tiveram os

menores índices de epizootias, segundo o projeto “Sentinelas da Mata”, a menor redução

geral de acordo com as entrevistas (33,63%) e o maior número de registros de primatas

por meio de busca ativa. De forma geral, regiões com cerca de 40% de cobertura florestal

não possuem as manchas completamente isoladas, o que permite a dispersão das espécies

(Andrén, 1994; Fahrig, 2003), como visto em Santa Teresa e Santa Leopoldina, onde a

riqueza de primatas antes do surto era maior e a redução após o surto foi menor.

Esses resultados permitem inferir que áreas contínuas de floresta nativa, quando

alteradas e isoladas em fragmentos menores, podem comprometer a estabilidade dos

ecossistemas e os benefícios econômicos e sanitários que dependem desse equilíbrio

(Caley & Hone, 2004; Pignatti, 2004). Em geral, fragmentos pequenos possuem menor

variedade de habitats do que os fragmentos grandes, o que também pode diminuir a

riqueza de espécies (Schwrzkof & Rylands, 1989). O declínio de biodiversidade pode

alterar importantes sistemas de controle biológico que limitariam o surgimento de

doenças e patógenos, influenciando a emergência de doenças infecciosas (Aguirre et al.,

2002). Considerando que grande parte dos primatas do Novo Mundo são altamente

vulneráveis à febre amarela, a circulação da virose torna-se um risco ainda maior para

populações que habitam regiões afetadas pela fragmentação (Holzmann et al., 2010).

Para este estudo, as entrevistas foram extremamente úteis para descrever o

panorama geral de ocupação e extinção dos primatas da região serrana do Espírito Santo,

antes e após o surto de febre amarela do ano de 2017. Através das informações de

moradores locais que possuem maior proximidade com a mata e com os primatas, a

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38

detecção por parte das entrevistas foi fundamental para a constatação da presença dos

primatas antes do surto e da redução de 48,98% de primatas nos 36 pontos de estudo. As

entrevistas foram importantes, principalmente, para A. guariba que era tida como presente

em 80 das 81 entrevistas antes do surto e após, sua redução foi de 82,5%. Essas

informações foram cruciais, principalmente porque não existia dados de detecção

anteriores ao surto, o que permitiu construir nossos modelos de ocupação e extinção, além

do fato da busca ativa ter tido um número de registros limitados em comparação aos das

entrevistas.

4.2 Probabilidade de ocupação, extinção e detecção

Com relação às probabilidades de ocupação e de extinção, nossas previsões

estavam corretas em relação a: (1) probabilidade de ocupação de primatas antes do surto

ser maior em fragmentos maiores e menos isolados, para quatro espécies (S. nigritus, C.

personatus, Callithrix spp. e B. hypoxanthus), exceto para o A. guariba, que não

respondeu a nenhuma variável do estudo; (2) a probabilidade de extinção das populações

de primatas ser maior nos fragmentos menores e mais isolados, que foi confirmada para

S. nigritus, Callithrix spp. e C. personatus; e (3) a probabilidade de extinção ser menor

em áreas com baixos índices de febre amarela do que nas áreas com mais registros de

epizootias, para S. nigritus.

Neste estudo, prevíamos que a probabilidade de ocupação antes do surto seria

maior em fragmentos menos isolados, o que de fato se mostrou verdadeiro para a maioria

das espécies. Em relação ao isolamento funcional para os saguis, guigós, macacos-prego

e o muriqui-do-norte, os resultados indicam que, quando maior for o isolamento

funcional, menor é probabilidade dos primatas ocuparem o fragmento. Isso foi observado,

por exemplo, em Domingos Martins, onde a riqueza, de acordo com as entrevistas, era

reduzida, mesmo antes do surto, e o isolamento é maior do que nos outros municípios.

Em um estudo recente, Muylaert et al. (2016) estudaram a riqueza de morcegos em

resposta à quantidade de habitat dentro do Cerrado-Mata em zonas de transição do

Atlântico no Brasil, onde verificou-se que, acima dos 47% do limiar de quantidade de

habitat, a riqueza de morcegos era maior, quando comparada com os padrões observados

abaixo desse limiar. Martensen et al. (2012) também observaram um padrão semelhante,

onde a riqueza de aves de sub-bosque diminuiu acentuadamente em função da diminuição

da cobertura vegetal de 50% para 30%. Populações pequenas e isoladas em fragmentos,

além de estarem sujeitas aos efeitos demográficos ao acaso, também tem reduções em

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39

suas taxas de crescimento e reprodução (Laurance & Vasconcelos, 2009). A indicação de

que a influência negativa do isolamento dos fragmentos ocorria antes do surto, pode ter

acarretado na dificuldade de dispersão e, consequentemente, afetando a inviabilização de

trocas genéticas, redução de fluxo gênico e aumento das taxas de endogamia entre os

diferentes grupos de primatas, diminuindo a probabilidade de ocupação dessas espécies

na região estudada.

Para S. nigritus e C. personatus, a probabilidade de ocupação é maior quando

tamanho da área do fragmento também é maior. Por isso, proteger fragmentos florestais

maduros nativos e conservados, principalmente os remanescentes maiores, é tão

importante, especialmente devido à sua capacidade de manter populações maiores e por

suas melhores perspectivas de sustentar as espécies em longo prazo (Brooks et al., 1999;

Lindborg & Eriksson, 2004). Somente grandes fragmentos com florestas conservadas são

capazes de preservar espécies sensíveis, especialmente aquelas que exigem grandes áreas

de habitat (Ferraz et al., 2007), como é o caso do macaco-prego que requer uma grande

área de vida e, dentre os primatas não humanos estudados, é o que mais se desloca

diariamente. Essa influência positiva do tamanho da área do fragmento para a presença

de macaco-prego também foi observada por Martinelli (2014) em Santa Maria de Jetibá.

Já C. personatus, que já teve sua área de vida estimada de 10,7 a 12,3 ha (Price & Piedade,

2001); 5 ha (Kinzey & Becker, 1983); e 4,7 ha (Rowe, 1996), apesar de não estar restrito

a habitats primários e grandes, suspeita-se que a espécie esteja sofrendo redução

populacional em decorrência, principalmente, da perda e fragmentação de habitat e da

baixa tolerância a modificações/perturbações no ambiente (ICMbio, 2018). Para

Martinelli (2014), também houve relação positiva entre o tamanho da área e a presença

de C. personatus em fragmentos de Mata Atlântica, já que esses primatas, são

extremamente territoriais e com pouca capacidade de migração, o que também pode ter

influenciado os nossos resultados para ocorrência da espécie. Entretanto, a conservação

de fragmentos menores não deve ser negligenciada, pois como já foi citado, alguns desses

primatas, podem sobreviver em pequenos fragmentos. Além disso, a maior parte da Mata

Atlântica está representada por pequenos remanescentes (83,4% <50 ha), sendo que

juntos representam 20,2% do total de remanescentes florestais e são essenciais para

melhorar a conectividade entre os maiores (Ribeiro et al., 2009). Fragmentos pequenos

também podem aumentar o a diversidade beta do local, além de servir como uma

importante passagem de fauna (Arroyo-Rodríguez et al., 2009)

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A modificação do hábitat também influenciou a probabilidade de extinção

(estimada para após o surto), segundo os nossos modelos, pois eles indicaram que ela é

maior nos fragmentos menores e mais isolados, especialmente para S. nigritus, Callithrix

spp. e C. personatus. A fragmentação de um hábitat antes contínuo, possui dois

componentes, que podem aumentar as probabilidades de extinção: (1) redução da área

total do habitat (que a princípio, afeta o tamanho da população e, consequentemente, a

velocidade de extinção) e (2) a redistribuição das áreas remanescentes em fragmentos

isolados de mata (onde, primariamente, a dispersão é afetada e, em seguida, o fluxo

gênico) (Wilcove et al., 1986; Fahrig, 2003). Assim, como explicados para a

probabilidade de ocupação dos primatas nas regiões estudadas, as chances de

sobrevivência de espécies distribuídas em fragmentos isolados passam a ser afetadas tanto

pelo tamanho dos fragmentos, quanto pela perda potencial de diversidade genética em

cada população devido à endogamia e à falta de fluxo genético adicional entre as

populações locais (Grativol et al., 2008). Uma paisagem com essas características, pode

tornar as espécies mais vulneráveis a eventos estocásticos (Franklin & Frankham, 1998;

Lynch & Lande, 1998), como o recente surto de febre amarela, aumentando, assim, a

probabilidade de extinção.

Em outros estudos, envolvendo diferentes grupos de espécies, há a demonstração

de que muitas outras características do ambiente, como topografia, clima, diversidade de

plantas podem ser determinantes na distribuição das espécies (Rahbek e Graves, 2001;

Fleishman et al., 2002; Hurlbert, 2004; Rompre et al., 2007). Outros fatores como as

mudanças na cobertura e no uso da terra, afetam a incidência das doenças, alterando as

interações, a abundância e os padrões de movimento de hospedeiros, vetores e pessoas

(Lambin et al., 2010).

Embora tivéssemos hipotetizado que a probabilidade de extinção seria menor em

áreas com baixos índices de febre amarela do que nas áreas com mais registros de

epizootias, não observamos essa influência para nenhum primata, de acordo com os

melhores modelos, exceto para S. nigritus. Esperávamos que o alto índice de febre

amarela nos fragmentos aumentaria as probabilidades de extinção das espécies, dado que,

quanto maior o número de registros de epizootias, maior seria a redução dos primatas.

Porém, a elaboração dessa variável pode ter tido um viés amostral.

Um fato que deve ser levado em consideração, é a dificuldade de detecção de

epizootias de primatas pelas pessoas, que depende da configuração espacial de cada

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região estudada. Em Santa Teresa/Santa Leopoldina, onde vários pontos se concentravam

na Reserva Biológica Augusto Ruschi e na Estação Biológica Santa Lúcia, que são áreas

de conservação e os fragmentos são os maiores, a detecção de epizootias no interior das

manchas, por moradores da região, pode ter sido comprometida, podendo ser o número

de mortes menor do que é o fato. Já em Domingos Martins, a região de estudo está em

uma paisagem amplamente fragmentada, com fragmentos em topos de morros, pouca

matriz e muito pasto, o que diminui o contato com o ser humano, dificultando a detecção

de primatas mortos. Em Santa Maria de Jetibá, os fragmentos possuem tamanhos

intermediários, com uma matriz ligada à agricultura, o que atrai os primatas e,

consequentemente, aumenta o contato e as chances de detecção desses animais. Nesse

município, mamíferos, como a preguiça-de-coleira (Bradypus torquatus), B. hypoxanthus

e o próprio A. guariba, têm sido observados movendo-se através de plantações de café e

eucalipto, sistemas que são freqüentemente localizados próximos a florestas

fragmentadas e correspondem a 14,5% do uso da terra em Santa Maria de Jetibá (Santos

et al., 2016). Em Santa Maria de Jetibá, também houve maior sobreposição dos buffers a

para criação do IFA, o que pode ter aumentado os valores para esse índice.

A criação do IFA, pode ser uma maneira de contabilizar os efeitos diretos da

doença atuando em um determinado ponto, desde que a coleta de informação de

epizootias não ocorra de forma arbitrária. Em Santa Teresa, por exemplo, alguns registros

de mortes de primatas não continham coordenadas geográficas, o que certamente

compromete as pesquisas. Além disso, a falta de informação sobre a doença, pode ter

limitado as notificações de moradores perante a vigilância municipal. Logo, para essa

variável, o método amostral pode ter interferido nos resultados de probabilidade de

extinção dos primatas, comprometendo a nossa interpretação dos dados.

De todas as espécies, A. guariba foi a mais afetada pelo surto de febre amarela.

Contudo, ela também foi a única que não conseguimos explicar como a paisagem

influencia as suas probabilidades de ocupação e extinção, antes e após o surto,

respectivamen Nos trabalhos realizados por Silva e Bicca-Marques (2013) e Martinelli

(2014), não foi encontrada relação entre a distância dos fragmentos e o tamanho do

fragmento com a presença de A. guariba, indicando que o gênero Alouatta, é capaz de

sobreviver em fragmentos de diferentes tamanhos, inclusive em fragmentos muito

pequenos (Bernstei et al., 1976, Ribeiro e Bicca-Marques, 2005; Fortes e Bicca-Marques,

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2008), concordando com nossos estudos onde nenhuma variável estuadada influenciou

nas probabilidades de ocupação e extinção

Somente após o surto de febre amarela, devido aos dados do projeto Sentinelas da

Mata (UFES) e da Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo (SESA), é que foi

possível perceber o quanto a sua presença em fragmentos pequenos ainda era alta na

região serrana do Espírito Santo. É notável como essa espécie é capaz de sobreviver em

ambientes alterados, com baixa cobertura florestal, fragmentos pequenos de até 10 ha

(Gómez, 1999) e isolados entre si, possivelmente por conta de sua dieta folívora, tamanho

de área de vida e capacidade de dispersão (Schwarkopf & Rylands, 1989). Esses primatas

possuem uma dieta variada e são bastante oportunistas (Chiarello, 1992). Entretanto,

devido à sua vulnerabilidade alta à doença, A. guariba foi a espécie que mais perdeu

indivíduos e populações durante o surto, presumivelmente porque suas populações já

pequenas deveriam possuir taxas altas de endogamia e baixa variabilidade genética,

características clássicas que podem acarretar no aumento da sensibilidade da espécie às

flutuações estocásticas (Oklander et al., 2017). De acordo com o melhor modelo testado

neste estudo, que foi o modelo nulo, não se pode concluir quais variáveis estudadas

influenciaram nas probabilidades de ocupação e extinção de A. guariba, o que pode

sugerir que a espécie já tenha atingido um limiar alto de vulnerabilidade, que as respostas

a variações da paisagem não sejam as únicas atualmente a explicar a sua ocupação.

5 - Conclusão

Os resultados do nosso estudo ratificam que quanto maior a área do fragmento e

menos isolado ele for, maior é ocupação das espécies de primatas e menor é a extinção

dessas espécies diante um evento estocástico, como a febre amarela. As implicações da

interferência antrópica na paisagem, juntamente com a presença de uma virose, podem,

em conjunto, ter aumentado a sensibilidade das espécies, diminuído a ocupação de

primatas e deixado as populações em desequilíbrio mesmo antes do surto.

Consequentemente, a fragmentação, o isolamento e a presença da febre amarela podem

ter causado extinções locais nos municípios de Domingos Martins, Santa Teresa, Santa

Leopoldina e Santa Maria de Jetibá, principalmente para A. guariba, que habita

fragmentos pequenos, sendo altamente susceptível a endogamia e consequentemente, a

eventos estocásticos como é o surto de febre amarela.

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Esses resultados são pioneiros para o tema, que apesar de se tratar de uma doença

já conhecida, continua sendo pouco estudada no âmbito ecológico. São dados

importantes, principalmente para as espécies consideradas em risco, podendo ser

utilizados como base para medidas de conservação e manejo dessas espécies,

principalmente A.guariba, que é classificada como Vulnerável de acordo com o Livro

Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção, 2018.

Entender a resposta das espécies a fatores da paisagem e a eventos estocástico

como o surto de febre amarela, é fundamental para prever futuras extinções ou distúrbios

populacionais, e consequentemente, elaborar medidas de conservação coerentes com a

realidade local. Este trabalho reforça a importância da manutenção de fragmentos

florestais grandes e mais conectados entre si para a persistência e viabilidade de espécies

de primatas em poucos fragmentos.

Além disso, é importante abordar a questão do monitoramento de epizootias, que

pode ter sido menor do que o esperado, devido à falta de informação das pessoas e de

treinamento dos profissionais de vigilância ambiental. Torna-se necessária, a

padronização metodológica para obtenção de registros de epizootias, principalmente em

épocas de surtos. Assim, evidencia-se que mais estudos relacionados ao tema precisam

ser abordados, considerando aspectos os ecológicos das regiões atingidas pela virose e a

biologia de cada primata.

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53

7 -Anexos

Anexo 1- Informações sobre os municípios de estudo de acordo com o web site Climate-

Data https://en.climate-data.org/south-america/brazil/espirito-santo-210

Municípios Altitude (metros) Precipitação Média

Anual (mm)

Temperatura Média

Anual (ºC)

Santa Maria de Jetibá

Santa Teresa

Santa Leopoldina

Domingos Martins

738

678

27

567

1290

1282

1120

1238

20.6

21.1

24.9

21.5

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54

8 - Apêndices

Apêndice 1 - Modelo de entrevista

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55

Apêndice 2: Parecer do Comitê de ética

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UFES - UNIVERSIDADE

FEDERAL DO ESPÍRITO

SANTO - CAMPUS GOIABEIRA

PARECER CONSUBSTANCIADO DO CEP

DADOS DO PROJETO DE PESQUISA

Título da Pesquisa: IMPACTO DO SURTO DE FEBRE AMARELA EM POPULAÇÕES DE BARBADOS (Alouatta guariba), EM FRAGMENTOS DE MATA ATLÂNTICA DO ESPÍRITO SANTO

Pesquisador: NILA RASSIA COSTA GONTIJO

Área Temática:

Versão: 2

CAAE: 76972617.3.0000.5542

Instituição Proponente: Centro de Ciências Humanas e Naturais da Universidade Federal do Espírito

Patrocinador Principal: FUNDACAO DE AMPARO A PESQUISA DO ESPIRITO SANTO - FAPES

DADOS DO PARECER

Número do Parecer: 2.410.010

Apresentação do Projeto:

O processo de fragmentação de habitat e seus diversos efeitos – como a perda de habitat e o aumento do

isolamento – tornou-se uma das principais ameaças para a conservação da biodiversidade. Alterações em

ambientes naturais podem aumentar a incidência de viroses emergentes e reemergentes, que mesmo sendo

sistemas complexos, em sua maioria, são desencadeadas por atividades humanas que alteram e modificam

o

meio ambiente. Como consequência, o risco de exposição a doenças em plantas, animais e também nos

seres humanos tem aumentado drasticamente. Um exemplo de doença reemergente, é a febre amarela que

é caracterizada como sendo infecciosa não contagiosa que se mantém endêmica (ou enzoótica) nas

florestas tropicais da América e da África, causando surtos periódicos com casos isolados ou em epidemias

de pequeno ou grande para a saúde pública. Os maiores índices de mortalidades relacionados à primatas

não-humanos, estão entre os animais do gênero Alouatta, mais conhecidos como bugios. Devido à perda e

degradação do habitat, ao alto índice de caça e à captura para o comércio de animais de estimação,

associados às recentes epizootias de febre amarela silvestre podem desencadear um processo irreversível

de redução populacional conduzindo à extinção, especialmente aquelas populações isoladas em

fragmentos. O trabalho tem como objetivo avaliar e monitorar o impacto do surto de FA ocorrido em 2017

em fragmentos de Mata Atlântica em diferentes municípios da região serrana do Espírito Santo, Brasil. Para

isso, serão utilizadas fichas de notificações das mortes dos primatas, entrevistas com moradores e a

Endereço:

Av. Fernando Ferrari,514-Campus Universitário, Prédio Administrativo do CCHN

Bairro: Goiabeiras CEP: 29.075-910

UF: ES Município: VITORIA

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57

UFES - UNIVERSIDADE

FEDERAL DO ESPÍRITO

SANTO - CAMPUS GOIABEIRA

Continuação do Parecer: 2.410.010

busca ativa da espécie em campo. Nossa

maior hipótese é de que o surto da febre amarela está relacionado com o tamanho e isolamento dos

fragmentos, sendo que em manchas de habitat menores e mais isoladas, o impacto do surto foi maior, e vice

-versa. As epizootias serão mapeadas e relacionadas com as variáveis da paisagem e aos dados de busca

ativa no campo. Serão utilizados modelos de ocupação para avaliar se a virose e as mudanças na

proporção da área ocupada de uma espécie podem estar correlacionadas com as mudanças no tamanho da

população. Objetivo da Pesquisa:

Objetivo Primário:

Avaliar o impacto causado pelo surto de febre amarela em 2017, sobre as populações de Alouatta guariba

em fragmentos de Mata Atlântica do Espírito Santo.

Objetivo Secundário:

-Verificar a persistência da espécie nos fragmentos após o surto, através de busca ativa e entrevistas.

Avaliação dos Riscos e Benefícios:

Riscos: Pode ocorrer constrangimento ao entrevistado, o que será amenizado com um diálogo mais informal

e o interrompimento da entrevista, caso seja necessário.

Benefícios: A pesquisa contribuirá para um maior conhecimento dos moradores sobre o impacto do surto de

febre amarela e as consequências da doença nas populações de macacos.

Comentários e Considerações sobre a Pesquisa:

O projeto de pesquisa está bem estruturado, apresentando consistência teórica e metodológica. O objeto de

pesquisa e os objetivos estão suficientemente delimitados, e os pressupostos teóricos são pertinentes ao

objeto da pesquisa. As decisões metodológicas são adequadas ao que a pesquisa pretende realizar. O

cronograma é exequível no tempo disponível. Considerações sobre os Termos de apresentação obrigatória:

O protocolo de pesquisa apresentado contém os termos obrigatórios.Quanto ao TCLE, apresenta os itens

necessários para resguardar a integridade física e moral dos participantes: objetivos da pesquisa,

justificativa, procedimentos, riscos e benefícios, direitos e garantias, contato para sanar eventuais dúvidas e

denuncias.

Endereço:

Av. Fernando Ferrari,514-Campus Universitário, Prédio Administrativo do CCHN

Bairro: Goiabeiras CEP: 29.075-910

UF: ES Município: VITORIA

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UFES - UNIVERSIDADE

FEDERAL DO ESPÍRITO

SANTO - CAMPUS GOIABEIRA

Continuação do Parecer: 2.410.010

Recomendações:

Não há. Conclusões ou Pendências e Lista de Inadequações:

O projeto está apto a iniciar a sua fase de campo, que consiste na realização de entrevistas. Considerações Finais a critério do CEP:

Projeto aprovado por esse comitê, estando autorizado a ser iniciado.

Este parecer foi elaborado baseado nos documentos abaixo relacionados:

Tipo Documento Arquivo Postagem Autor Situação

Informações Básicas do projeto Informações Básicas Do projeto

Projeto Detalhado/ Brochura Investigador

TCLE/ Termos de Assentamento/ Justificativa de

Ausência Folha de Rosto

PB_INFORMAÇÕES_BÁSICAS_DO_PROJETO 967356.pdf PB_INFORMAÇÕES_BÁSICAS_DO_PROJETO 967356.pdf

Projeto_mestrado.3.pdf

Tcle11.pdf

ilovepdf_merged.pdf

07/11/2017 15:02:51 07/11/2017 14:13:24

07/11/2017 14:12:50

22/10/2017 12:48:50

28/08/2017 17:31:12

Aceito Aceito

Aceito

Aceito

Aceito

Situação do Parecer:

Aprovado

Necessita Apreciação da CONEP:

Não VITORIA, 01 de Dezembro de 2017

Assinado por:

Fabiana Pinheiro Ramos

(Coordenador)

Nila R. C. Gontijo

Nila R. C. Gontijo

Nila R. C. Gontijo

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Apêndice 3 - Modelos de buffer para o isolamento funcional, baseados no raio de

influência para cada espécie de primata, antes e após o surto de febre amarela. Δ LogLik=

log de verossimilhança, Δ AICc=correção do viés de AIC para amostras de pequeno

número, Df=número de parâmetros e weight=peso.

Modelos (Isolamento funcional) Δ LogLik Δ AICc Df weight

Alouatta guariba (antes)

barbado.IF_100 0.0 0.0 2 0.1

barbado.IF_200 0.0 0.0 2 0.1

barbado.IF_300 0.0 0.0 2 0.1

barbado.IF_400 0.0 0.0 3 0.2

barbado.IF_500 0.0 0.0 2 0.1

barbado.IF_600 0.0 0.0 4 0.3

barbado.IF_700 0.0 0.0 2 0.1

barbado.IF800 0.0 0.0 5 0.4

barbado.IF_900 0.0 0.0 2 0.1

barbado.IF_1000 0.0 0.0 6 0.5

Alouatta guariba (depois)

barbado.IF_100 0.6 0.0 2 0.15

barbado.IF_200 0.3 0.6 2 0.11

barbado.IF_800 0.2 0.9 2 0.10

barbado.IF_600 0.2 0.9 2 0.10

barbado.IF_700 0.2 0.9 2 0.10

barbado.IF_900 0.2 0.9 2 0.10

barbado.IF_1000 0.1 1.0 2 0.09

barbado.IF_300 0.1 1.0 2 0.08

barbado.IF_500 0.0 1.2 2 0.08

barbado.IF_400 0.0 1.3 2 0.08

Callicebus persontus (antes)

saua.IF_800 6.3 0.0 2 0.19

saua.IF_900 6.2 0.2 2 0.18

saua.IF_700 6.1 0.3 2 0.17

saua.IF_1000 6.0 0.6 2 0.14

saua.IF_400 5.7 1.1 2 0.11

saua.IF_600 5.7 1.1 2 0.11

saua.IF_500 5.5 1.5 2 0.09

saua.IF_300 2.9 6.7 2 0.01

saua.IF_200 2.2 8.1 2 0.00

saua.IF_100 0.0 12.5 2 <0.001

Callicebus persontus (depois)

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saua.IF_900 4.2 0.0 2 0.25

saua.IF_1000 4.2 0.1 2 0.24

saua.IF_800 3.9 0.6 2 0.18

saua.IF_700 3.4 1.6 2 0.11

saua.IF_600 3.0 2.3 2 0.08

saua.IF_400 3.0 2.5 2 0.07

saua.IF_500 2.6 3.1 2 0.05

saua.IF_200 1.1 6.2 2 0.01

saua.IF_300 0.5 7.5 2 0.01

saua.IF_100 0.0 8.4 2 0.00

Sapajus nigritus (antes)

prego.IF_400 2.7 0.0 2 0.23

prego.IF_1000 2.4 0.6 2 0.17

prego.IF_900 2.3 0.8 2 0.15

prego.IF_800 2.3 0.8 2 0.15

prego.IF_700 1.9 1.4 2 0.11

prego.IF_600 1.4 2.6 2 0.06

prego.IF_500 1.4 2.6 2 0.06

prego.IF_200 0.3 4.8 2 0.02

prego.IF_300 0.2 5.0 2 0.02

prego.IF_100 0.0 5.3 2 0.02

Sapajus nigritus (depois)

prego.IF_800 3.8 0.0 2 0.30

prego.IF_1000 3.6 0.4 2 0.25

prego.IF_900 3.4 0.7 2 0.22

prego.IF_700 2.5 2.6 2 0.08

prego.IF_400 2.0 3.5 2 0.05

prego.IF_600 1.9 3.7 2 0.05

prego.IF_500 1.0 5.6 2 0.02

prego.IF_200 0.8 5.9 2 0.02

prego.IF_300 0.2 7.0 2 0.01

prego.IF_100 0.0 7.5 2 0.01

Brachyteles hypoxanthus (antes)

mono.IF_300 2.5 0.0 2 0.38

mono.IF_200 2.0 1.1 2 0.21

mono.IF_400 1.4 2.4 2 0.12

mono.IF_100 0.8 3.5 2 0.06

mono.IF_800 0.5 4.1 2 0.05

mono.IF_900 0.5 4.1 2 0.05

mono.IF_500 0.2 4.7 2 0.04

mono.IF_1000 0.2 4.7 2 0.04

mono.IF_600 0.1 5.0 2 0.03

mono.IF_700 0.0 5.1 2 0.03

Brachyteles hypoxanthus (depois)

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61

mono.IF_300 2.5 0.0 2 0.38

mono.IF_200 2.0 1.1 2 0.21

mono.IF_400 1.4 2.4 2 0.12

mono.IF_100 0.8 3.5 2 0.06

mono.IF_800 0.5 4.1 2 0.05

mono.IF_900 0.5 4.1 2 0.05

mono.IF_500 0.2 4.7 2 0.04

mono.IF_1000 0.2 4.7 2 0.04

mono.IF_600 0.1 5.0 2 0.03

mono.IF_700 0.0 5.1 2 0.03

Callitrhix spp. (antes)

sagui.IF_100 3.5 0.0 2 0.63

sagui.IF_200 1.9 3.2 2 0.13

sagui.IF_400 0.8 5.4 2 0.04

sagui.IF_500 0.8 5.4 2 0.04

sagui.IF_600 0.8 5.5 2 0.04

sagui.IF_300 0.3 6.3 2 0.03

sagui.IF_700 0.3 6.5 2 0.02

sagui.IF_800 0.1 6.8 2 0.02

sagui.IF_900 0.0 6.9 2 0.02

sagui.IF_1000 0.0 7.0 2 0.02

Callitrhix spp. (antes)

sagui.IF_1000 2.1 0.0 2 0.22

sagui.IF_900 2.1 0.2 2 0.20

sagui.IF_800 1.9 0.4 2 0.17

sagui.IF_700 1.3 1.6 2 0.10

sagui.IF_600 1.2 1.9 2 0.08

sagui.IF_400 0.9 2.4 2 0.07

sagui.IF_100 0.8 2.7 2 0.06

sagui.IF_500 0.7 3.0 2 0.05

sagui.IF_300 0.3 3.8 2 0.03

sagui.IF_200 0.0 4.3 2 0.02