impacto da eutrofização em cyathura carinata questão 1

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  • 1. Susana Margarida de Freitas Ferreira Impacto da eutrofizao em Cyathura carinata (Isopoda), no esturio do Mondego Dissertao apresentada Faculdade de Cincias e Tecnologia da Universidade de Coimbra para a prestao de provas de Mestrado em Ecologia Coimbra 2001

2. Toda a vida um sonho. Ningum sabe o que faz, ningum sabe o que quer, ningum sabe o que sabe. Fernando Pessoa 3. AGRADECIMENTOS Durante esta viagem, muitos foram aqueles que me acompanharam ao longo das diversas etapas. A todos eles a minha sincera gratido. Ao apoio tcnico e logstico cedido pelo IMAR- Instituto do Mar, juntamente com o Departamento de Zoologia da Universidade de Coimbra. Fundao para a Cincia e Tecnologia pela atribuio de uma bolsa de Mestrado (SFRH/BM/437/2000). Ao Professor Doutor Miguel Pardal, pela confiana que depositou em mim. Os seus conselhos, orientao, disponibilidade e amizade foram sempre uma mais valia para a minha evoluo ao longo deste trabalho. Ao Professor Doutor Joo Carlos Marques, por ter permitido o meu ingresso numa extraordinria equipa de investigao marinha e estuarina. Doutora Ana Isabel Lilleb, pela sua colaborao, apoio, aconselhamento e disponibilidade constantes. Dr. Patrcia Cardoso, cuja amizade se estende para alm do que as palavras possam expressar. Maria Gabriel Fontes, pela prontido na soluo de problemas diversos, boa disposio e amizade. Dr. Joana Patrcio e Dr. Slvia Gonalves, pela sua companhia e auxlio nos trabalhos de laboratrio. A todos os meus colegas da Hidrobiologia, pelo seu esprito de interajuda e companheirismo. minha famlia por todo o seu apoio, em especial ao meu pai, que nunca objectou ao caminho pelo qual optei seguir a minha vida. 4. Impacto da eutrofizao em Cyathura carinata (Isopoda), no esturio do Mondego RESUMO Ao longo das duas ltimas dcadas, o brao Sul do esturio do Mondego tem sido afectado por um processo de eutrofizao, causado por descarga excessiva de nutrientes, a partir de um dos seus tributrios, o rio Pranto. Ocasionalmente, tem sido observada a ocorrncia de "blooms" macroalgais, nas suas reas mais internas, acompanhada pela diminuio dos bancos de Zostera noltii. A progressiva substituio de produtores primrios, tem sido acompanhada por alteraes na composio de espcies e estrutura trfica das comunidades biolgicas. De Janeiro de 1993 a Setembro de 1995, procedeu-se a uma monitorizao das comunidades bentnicas. Efectuou-se uma amostragem representativa das macrfitas, macroalgas e macrofauna associada, ao longo de um gradiente de eutrofizao, no brao Sul do esturio, compreendendo trs reas distintas: 1) o banco de Zostera noltii, localizado mais a jusante, foi considerado ainda como uma rea no eutrofizada; 2) a zona intermdia; 3) a zona mais eutrofizada, rea mais interna, onde esporadicamente ocorrem "blooms" macroalgais. Estudos anteriores sobre Cyathura carinata (Kryer, 1847), revelaram-na como uma das espcies mais abundantes dos substratos vasosos intertidais, concretamente na zona mais eutrofizada, onde exibiu uma populao espacial e temporalmente estvel, com uma biomassa significativa, ao longo de todo o ano. A conjugao destes critrios caracterizaram-na como das espcies-chave, na estrutura e funcionamento das comunidades bentnicas. Na zona intermdia e no banco de Zostera noltii, as densidades populacionais de Cyathura carinata foram muito inferiores s da zona mais eutrofizada, no entanto, verificou-se um acrscimo contnuo do nmero de indivduos, ao longo do tempo. A disperso espacial poder ter ocorrido em funo de um aumento da similaridade das condies sedimentares, entre as diferentes reas, como resultado da regresso do coberto de Zostera noltii. Porm, uma forte presso exercida por parasitas, nestas reas mais a jusante, tambm uma hiptese vlida para a explicao dessa diferena espacial. 5. Impacto da eutrofizao em Cyathura carinata (Isopoda), no esturio do Mondego O seguimento desta populao, durante 33 meses, permitiu esclarecer algumas das questes levantadas por trabalhos anteriores, cuja durao do perodo de estudo foi mais reduzido: - o tempo de vida foi estimado em 23 meses 1 ms; - a populao produziu uma nica coorte/ano, no incio do Vero; - verificou-se que 80 a 90% dos indivduos, com um ano de idade, morreram durante a poca de recrutamento, indicando assim uma elevada mortalidade ps-reproduo; - a variao anual da densidade populacional demonstrou sempre o mesmo padro; - confirmou-se a existncia de hermafroditismo protognico, semelhana de outras populaes europeias; - os valores de produo somtica anuais foram muito elevados, quando comparados com os de outras populaes europeias, e ainda com os de outras espcies de anfpodes, tambm originrios do esturio do Mondego. No entanto, os seus valores de P/B e E/B foram relativamente baixos; - a conciliao de todas as sua caractersticas coaduna-se com uma estratgia adaptativa do tipo k. Face ocorrncia de "blooms" macroalgais, no esturio do Mondego, Cyathura carinata pareceu beneficiar, a curto prazo, da presena de macroalgas verdes, uma vez que estas lhe conferiram, temporariamente, um maior recurso energtico e proteco contra eventuais predadores. Todavia, a longo prazo, surgiram alguns efeitos negativos, na sua populao, nomeadamente sobre o sucesso reprodutor, que se reflectiu na abundncia desta espcie. 6. Impact of eutrophication on Cyathura carinata (Isopoda), at the Mondego estuary ABSTRACT Through the last two decades, the south arm of the Mondego estuary has been affected by an eutrophication process, related to nutrient discharges from a small tributary, the Pranto river. Occasional macroalgae blooms have been seen in its most inner areas, along with the decrease of the Zostera noltii meadows. As a result of the shift on primary producers, changes in species composition and trophic structure of the biological communities were observed. The benthic communities were monitored from January 1993 to September 1995. Macrophytes, macroalgae and associated macrofauna were sampled, along an eutrophication gradient on the south arm of the Mondego estuary, which complied three distinct areas: 1) the Zostera noltii meadow, located more downstream, was still considered as a non eutrophied area; 2) an intermediate zone; 3) - the most eutrophied zone, a more inner area, where macrophytes disappeared giving place to occasional macroalgae blooms. Previous studies revealed that Cyathura carinata (Kryer, 1847) is one of the most abundant species on the intertidal mud flats, specially at the most eutrophied zone, having a spatial and temporal stable population, that exhibits a significant biomass all over the year. Therefore it was considered as a species that plays a key role in the structure and functioning of the benthic communities. The population densities of Cyathura carinata at the intermediate zone and the Zostera noltii meadow were lower than the ones at the most eutrophied zone. Nevertheless, it was possible to observe a continuous increase of the number of individuals, through time, on those two areas. This spatial dispersion could be due to the increasing similarity of sediment conditions between the opposite areas, as a result of macrophyte disappearance. The strong pressure of parasites on the most downstream areas, is also a reasonable hypothesis to explain that spatial difference. The study of Cyathura carinata population during 33 months allowed to clarify some of the established hypothesis proposed by some of its anterior works, based on short monitoring periods: - the life time was estimated on 23 months 1 month; 7. Impacto da eutrofizao em Cyathura carinata (Isopoda), no esturio do Mondego - the population produced a single cohort per year, at the beginning of summer; - 80 to 90% of the individuals with one year old died during the recruitment period, revealing a strong post-reproduction mortality; - the annual variation of the population density followed always the same pattern; - a protogynous hermaphroditism was verified like in other European populations; - the annual values of growth production were very high, when compared to other european populations, and to other species of amphipods, also from the Mondego estuary. On the other hand, the turnover values were relatively low; - the conciliation of all those characteristics resembles approximately a typical k - selected species Concerning the occurrence of macroalgae blooms, at the Mondego estuary, Cyathura carinata seemed to benefit, on a short term, from the presence of green macroalgae, since that they could temporarily provide higher energetic resources and more efficient protection against eventual predators. However, at a long term, it had some negative consequences, namely on its reproduction effectiveness, which had some reflection on the population densities. 8. Impacto da eutrofizao em Cyathura carinata (Isopoda), no esturio do Mondego NDICE I - INTRODUO 1 11 1 - O esturio do Mondego 11 1 1.1 - Localizao 11 1 1.2 - Presses ambientais no esturio do Mondego 11 2 1.3 - Hidrologia 11 4 1.4 - Bitopos 11 5 2 - Eutrofizao 11 7 2.1 - Definio de eutrofizao e consideraes gerais 11 7 2.2 - Eutrofizao no brao Sul do esturio do Mondego 11 9 3 - Consideraes gerais sobre Cyathura carinata (Kryer, 1847) 1 11 3.1 - Descrio geral 1 11 3.2 - Fisiologia 1 13 4 - Identificao e justificao dos objectivos 1 15 II - MATERIAL E MTODOS 1 18 1 - Descrio e caracterizao das reas de estudo 1 18 2 - Estratgia e mtodo de amostragem 1 19 3 - Fixao, separao e conservao do material biolgico 1 20 4 - Factores fsico-qumicos 1 20 4.1 - gua 1 21 4.2 - Sedimento 1 21 5 - Factores biolgicos 1 22 6 - Estudo laboratorial de Cyathura carinata (Kryer, 1847) 1 22 6.1 - Medidas biomtricas 1 22 6.2 - Determinao de peso 1 24 6.3 - Distino de sexos 1 24 6.4 - Anlise do estado de maturao dos ovos 1 24 6.5 - Anlise de dados 1 25 9. Impacto da eutrofizao em Cyathura carinata (Isopoda), no esturio do Mondego Relao entre as medidas biomtricas 1 25 Relao entre comprimento ceflico e peso 1 26 Microdistribuio espacial 1 26 Anlise modal 1 27 Aplicao da regresso mltipla interpretao dos dados biolgicos 1 28 Expresso do crescimento atravs do modelo de crescimento 1 30 6.6 - Clculo da produo 1 32 III - RESULTADOS 1 34 1 - Factores fsico-qumicos 1 34 2 - Factores biolgicos 1 40 3 - Cyathura carinata (Kryer, 1847) 1 44 3.1 - Microdistribuio espacial 1 44 3.2 - Densidade populacional 1 44 3.3 - Estrutura populacional 1 47 3.4 - Durao do ciclo de vida 1 52 3.5 - Crescimento 1 54 3.6 - Reproduo 1 55 3.7 - Parasitismo 1 61 3.8 - Produo 1 65 IV - DISCUSSO 1 69 1 - Factores fsico-qumicos 1 69 2 - Factores biolgicos 1 72 3 - Cyathura carinata (Kryer, 1847) 1 77 V - CONCLUSES 1 97 VI - REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS 102 ANEXOS 10. Introduo 1 I - INTRODUO 1 - O esturio do Mondego 1.1 - Localizao Reconhecido como o maior rio genuinamente portugus, o Mondego tem a sua origem na Serra da Estrela, mais precisamente na Fonte dos Ferreiros, em Corgo das Ms, a 1547 m de altitude (Gonalves, 1991). Serpenteando por entre montes e vales, ele percorre 227 Km at alcanar o oceano Atlntico, na zona centro da costa ocidental de Portugal, onde se localiza a cidade da Figueira da Foz. Tendo como principais afluentes o rio Do, a ribeira de An e o rio Foja, na margem direita, e os rios Alva e Ceira, a ribeira de Cernache e os rios Ega, Arunca e Pranto, na margem esquerda, o Mondego drena uma bacia hidrogrfica com uma rea de cerca de 6670 Km2 (Loureno, 1986 in Marques, 1989). Comportas Rio Pranto Rio Mondego Canal dos Armazns 1 km Oceano reas Agrcolas (Campos de Arroz) Salinas e Tanques de Aquacultura Esturio do Mondego PORTUGAL N Figueira da Foz Atlntico Brao Sul Brao Norte Figura 1 - Localizao geogrfica do esturio do Mondego. 11. Introduo2 Localizado a 4008'N; 850'W, o esturio do Mondego (Figura 1) encontra-se exposto a um clima temperado, de Invernos frios e chuvosos, que contrastam com Veres quentes e secos (Lopes, 1999). O esturio caracteriza-se pela presena de uma ilha de aluvio, a Ilha da Murraceira, que a cerca de 7 Km do mar, corta as guas do rio Mondego, separando-as em dois braos, Norte e Sul, que voltam a unir-se a 1 Km de distncia da foz. Apresentando uma largura de 2 a 3 Km, que dista entre as margens extremas dos dois braos, esta parte terminal do esturio possui dimenses relativamente pequenas, abrangendo uma rea de 1600 ha, ainda que a influncia da mar mecnica possa fazer sentir-se at 27 Km mais para montante (Cunha et al., 1997) 1.2 - Presses ambientais no esturio do Mondego O esturio do Mondego, semelhana de outros sistemas afins, encontra-se sob uma forte presso antropognica. As actividades nele exercidas, reflectem-se na sua qualidade ambiental (Marques, 1989; Marques et al., 1993 a, b; Pardal, 1998; Pardal et al., 1993, 2000; Lilleb et al., 1999; Martins et al., 2001). Desde a dcada de 1960, tem vindo a ser executado um plano de beneficiao da regio, no que respeita produo de energia e ao abastecimento de gua s populaes, indstria e agricultura (Marques et al., 1999). O regime hidrolgico do rio Mondego era extremamente irregular, pelo que inundaes frequentes ocorriam, em especial, na extensa plancie aluvial, de forte potencial agrcola, da regio do Baixo Mondego (Marques et al., 1999). Procedeu-se ento regularizao dos seus caudais, construindo-se diversas barragens e confinando-se o trajecto do rio, entre Coimbra e Figueira da Foz, num leito artificial. Estas aces contriburam, de facto, para o desenvolvimento da regio, no entanto, acarretaram consigo diversas perturbaes a nvel ambiental, mesmo no que respeita aos caudais do rio e s dimenses do prprio esturio (Marques, 1989). A norte deste ltimo situa-se a Figueira da Foz, um importante centro urbano, cuja populao varia sazonalmente entre os 30 a 50 mil habitantes (Pardal & Marques, 1998; Marques et al., 1999). Esta cidade acolhe um porto comercial de 12. Introduo 3 vital importncia regional, de onde parte uma fraco significativa da exportao nacional de pasta de papel. O funcionamento deste porto um dos factores que mais tem gerado alteraes na estrutura do esturio e na faixa litoral adjacente (Cunha et al., 1997). A necessidade de ampliar e restruturar as instalaes porturias, para mais e maiores navios, assim como para manter as condies de navegao do esturio, tm feito com que o brao Norte seja alvo de dragagens frequentes. Para alm de uma perturbao fsica dos fundos, as dragagens causam tambm uma ressuspenso dos sedimentos na coluna de gua, determinando assim um ambiente instvel para o estabelecimento de organismos bentnicos (Marques et al., 1993 b; Pardal et al., 1993). A Ilha da Murraceira foi outrora uma plancie lodosa intertidal, progressivamente ocupada por vegetao halfita (Cunha et al., 1997). Com a ocupao do esturio, esta ilha foi primeiramente, utilizada como um local de pastagem e de cultivo de milho. A partir do sculo XVI, comearam a surgir as primeiras saliniculturas (Arroteia, 1985), uma actividade no poluente, que se tornou tpica da regio e, que ainda permanece. Durante as ltimas dcadas, tem vindo a assistir-se a um franco declnio desta actividade, em detrimento do florescimento de pisciculturas. Um outro problema, que afecta o esturio do Mondego, prende-se com as quantidades de fertilizantes que so lanadas nas suas guas, por um dos seus tributrios, o rio Pranto. O caudal deste controlado por um sistema de comportas, situado a 3 Km da sua confluncia com o brao Sul (Figura 1). Essa construo teve como principais objectivos: impedir a influncia das mars, na regio agrcola do Baixo Mondego, e manter os campos de cultivo com uma certa quantidade de gua doce, para a prtica agrcola. Porm, as irregulares emisses destas guas fluviais tm vindo a ser responsveis pelos processos de eutrofizao, que se tm verificado, durante as ltimas dcadas, no brao Sul (Pardal, 1998; Pardal et al., 1993, 2000; Flindt et al., 1997; Lilleb et al., 1999; Martins et al., 2001). Nas guas do esturio so tambm frequentemente lanados efluentes de algumas indstrias, que tm surgido ao longo suas margens, reclamando para si uma boa poro das suas reas. Como exemplo, podem ser referenciados os estaleiros de 13. Introduo4 construo naval e o canal de Armazns, localizado no brao Sul, onde as mars executam uma diluio de um pequeno fluxo de gua doce de origem industrial (Pardal, 1998). Apesar de tudo, as populaes ribeirinhas continuam a explorar a elevada produtividade natural do esturio do Mondego, beneficiando da sua fcil acessibilidade, para obter os recursos vivos nele existentes (Pardal & Marques, 1998). A pesca de caranguejos (Carcinus maenas), de enguias (Angilla anguilla) e linguados (Solea vulgaris) bastante frequente. Mas a apanha de poliquetas para isco (e.g.: Hediste diversicolor) e dos bivalves Cerastoderma edule (berbigo) e Scrobicularia plana (amijoa), tambm so uma prtica corrente (Marques et al., 1984; Pardal, 1998; Pardal & Marques, 1998). Face s crescentes transformaes, num esturio de dimenses to reduzidas quanto o do Mondego, foram conduzidos diversos estudos, desde 1984, com o objectivo de compreender a estrutura e o funcionamento das suas comunidades biolgicas (Marques, 1989; Marques et al., 1984, 1993 a, b, 1994, 1997, 1999; Marques & Guilhermino, 1988 a, b; Marques & Nogueira, 1991; Pardal, 1995, 1998; Pardal et al., 1993, 2000; Pardal & Marques, 1998; Martins, 1995; Martins et al., 1997, 2001; Cabral et al., 1996, 1999; Lilleb, 1996, 2000; Lilleb et al., 1999; Mrias et al., 1996; Flindt et al., 1997; Lopes, 1999; Lopes et al., 2000; Lopes, 2000). 1.3 - Hidrologia Os dois braos do Mondego, que circundam a Ilha da Murraceira, constituem dois subsistemas hidrologicamente distintos (Marques et al., 1993 b; Pardal et al., 1993; Lilleb, 1996; Martins et al., 2001). O brao Norte do esturio o principal canal de navegao, pelo qual se tem acesso s instalaes porturias. Devido essencialmente s frequentes dragagens dos fundos, a sua profundidade bastante maior, variando entre os 4 a 8 m na preia-mar, ao passo que, no brao Sul, oscila entre os 2 a 4 m, para uma amplitude de mar varivel entre 2 a 3 m (Pardal, 1998). 14. Introduo 5 Na realidade, o fluxo de gua doce do rio Mondego circula quase inteiramente atravs do brao Norte do esturio, devido ao crescente assoreamento das reas mais a montante do brao Sul. Actualmente, a comunicao entre eles apenas estabelecida durante a preia-mar de mars de grande amplitude (Pardal & Marques, 1998), fenmeno que tem vindo a agravar-se, pelo aumento da deposio de sedimentos, quer fluviais, quer marinhos (Pardal, 1995, 1998). Assim sendo, a circulao de gua, no brao Sul do esturio, depende apenas da influncia tidal e do fluxo irregular do rio Pranto. Em funo desse regime, pode dizer-se que o hidrodinamismo, do brao Sul do esturio do Mondego, aproxima-se ao de um sistema lagunar costeiro, durante a maior parte do tempo (Pardal, 1998). Em consequncia da diferente fisiografia, a penetrao das mars ocorre mais rapidamente no brao Norte, onde as correntes so mais rpidas e as flutuaes dirias de salinidade so mais pronunciadas, ao passo que, as flutuaes dirias de temperatura so mais acentuadas no brao Sul (Marques, 1989). Os sedimentos do brao Norte do esturio exibem, de uma forma geral, uma granulometria mais grosseira, reflectindo o seu elevado hidrodinamismo, o qual apresenta fortes variaes sazonais, sendo mais pronunciado durante os perodos chuvosos de Outono e Inverno (Duarte & Reis, 1991, 1993; Pardal, 1998). Contrariamente, o brao Sul fundamentalmente caracterizado pela presena de sedimento vasosos, tpicos de sistemas de baixo hidrodinamismo (McLusky, 1989; Duarte, 1990). 1.4 - Bitopos semelhana de outros esturios, os bitopos rochosos, no esturio do Mondego, resultam essencialmente de uma interveno humana. Sendo frequentes em ambos os braos, eles fazem parte das instalaes porturias, dos pilares das pontes, da regularizao das margens ou ento, so meras pedras ocasionais que ocorrem ao longo do esturio (Marques et al., 1984). Estes bitopos so caracterizados por um povoamento algal intertidal, relativamente denso, e tm sido igualmente objecto de estudo, pois referem-se a cerca de metade do permetro do 15. Introduo6 esturio (Marques et al., 1993 b; Lopes, 2000). Geralmente so compostos por Enteromorpha sp., na cintura mediolitoral superior, Fucus vesiculosus, na inferior, e Ulva sp. no limite superior do sublitoral (Marques et al., 1993 b). Perto da embocadura do esturio, onde a influncia marinha mais forte, encontram-se geralmente associadas a estas algas, espcies animais marinhas como as cracas (Chtamalus stellatus) e mexilhes (Mytillus galloprovincialis) (Marques et al., 1993 a). No Mondego, os bitopos de substrato mvel surgem nas reas intertidais e subtidais do esturio. A maior incidncia ocorre no brao Sul, onde os sedimentos so mais finos, com teores elevados de carbonatos e matria orgnica (Marques et al., 1993 a, b; Lopes, 1999). Verifica-se uma gradao da sua granulometria desde o nvel supralitoral, onde a vasa consolidada, at ao subtidal de vasa arenosa e areia fina vasosa (Marques, 1989, Marques et al., 1984, 1993 a). Ao longo da suas extenses surgem sapais dominados por diferentes macrfitas. A Spartina maritima ocorre ao nvel mediolitoral superior, fazendo uma transio entre os meios terrestre e aqutico, ocupando uma rea considervel da zona intertidal mais a jusante, enquanto a Scirpus maritimus, se encontra nas reas mais interiores do esturio (Lilleb, 2000). Por seu turno, a macrfita Zostera noltii, surge na zona mediolitoral inferior das reas mais a jusante do brao Sul (Marques & Guilhermino, 1988 a, b; Marques et al., 1993 a, 1997; Pardal, 1995, 1998; Pardal et al., 2001; Lilleb et al., 1999). Apesar de todas as presses que se abatem sobre o esturio do Mondego, o seu brao Sul aquele que permanece menos alterado por interveno humana directa, pelo que esta zona tida frequentemente como objecto de estudo, servindo de referncia para garantir a sua conservao (Marques et al., 1984, 1993 a, b, 1997; Pardal, 1995, 1998; Pardal et al., 1993, 2000; Pardal & Marques, 1998; Cabral et al., 1999; Lilleb, 2000; Lilleb et al., 1999; Lopes et al., 2000; Lopes, 2000; Martins et al., 2001) 16. Introduo 7 2- Eutrofizao 2.1 - Definio de eutrofizao e consideraes gerais Tendo a sua origem em duas palavras gregas, "eu" (bem) e "trope" (nutrir) (Jrgensen & Richardson, 1996), a eutrofizao refere-se ao processo pelo qual as guas de um sistema sofrem um enriquecimento em nutrientes e s manifestaes a ele associadas (Deprez et al., 1992), embora existam autores que discordem da incluso destas ltimas (Jrgensen & Richardson, 1996). Uma das consequncias mais frequentes da eutrofizao o aumento extraordinrio da produo primria, o qual pode demonstrar-se atravs de exuberncias ("blooms") macroalgais (FitzGerald, 1978; Hull, 1987; Vadas & Beal, 1987; Lavery et al., 1991; Hardy et al., 1993; Marques et al., 1993 a, 1999; Everett, 1994; Lilleb, 1996; Lilleb et al., 1999; Flindt et al., 1997; Pardal, 1998; Pardal & Marques, 1998; Pardal et al., 2000) ou de fitoplncton (Asmus & Asmus, 1985; Deprez et al., 1992; Thomas & Daldorph, 1994). O processo de eutrofizao depende de diferenas temporais da qualidade da gua, consequentes de eventos hidrogrficos, taxas de sedimentao e disponibilidade de nutrientes (FitzGerald, 1978; Lavery et al., 1991; Marques et al., 1993 a; Flindt et al., 1997; Pardal, 1998). Estes ltimos podem ter diversas provenincias como, guas de drenagem terrestre e/ou marinhas, fixao atmosfrica e processos de reciclagem inerentes aos sistemas em si (McMahon & Walker, 1998). De facto, o azoto frequentemente apontado como o elemento limitante da produo primria em sistemas marinhos e estuarinos, assim como o fsforo geralmente indicado relativamente aos sistemas dulaqucolas (Hodgkin & Hamilton, 1993). Porm, as alteraes desencadeadas pela interveno humana tm revertido este panorama, desencadeando aumentos da concentrao de fsforo (Hodgkin & Hamilton, 1993), de azoto (Deprez et al., 1992; Pardal, 1998), ou de ambos os nutrientes nos sistemas (Hull, 1987). Porm, os "blooms" macroalgais podem ser controlados por outros factores, para alm da disponibilidade de nutrientes. Embora, na maioria dos casos, a 17. Introduo8 salinidade, temperatura e luminosidade no sejam factores limitantes (FitzGerald, 1978), juntamente com o tipo de substrato e as taxas de crescimento relativo das espcies envolvidas, eles so bastante importantes para determinar as concentraes crticas de nutrientes para as quais ocorrem os "blooms" (Sfriso, 1995). As condies hidrogrficas e a herbivoria (Hootsmans & Vermaat, 1985; Howard & Short, 1986; Martins et al., 2001) so igualmente factores que podem controlar a extenso de um "bloom" macroalgal. Mas, mesmo quando estes parmetros so favorveis, a taxa de crescimento das algas pode ser inferior de fornecimento de nutrientes, por motivo de "autosombreamento" ou indisponibilidade de carbono inorgnico (Raffaelli et al., 1998). A ocorrncia de um "bloom" macroalgal causa perturbaes qumicas e microbiolgicas nos sedimentos e na interface gua-sedimento (Raffaelli et al., 1998). De facto, para alm de constiturem uma fonte directa de alimento, as algas fixas contribuem para diminuir a velocidade de passagem das guas, aumentando assim as taxas de sedimentao (Hull, 1987) e deposio de matria orgnica. Mais ainda, disponibilizam proteco para diversas espcies bentnicas contra os seus predadores (Hodgkin & Hamilton, 1993; Jrgensen & Richardson, 1996). Um dos efeitos secundrios do aumento da biomassa macroalgal a diminuio da profundidade de penetrao da luz, atravs da coluna de gua, o que se reflecte na distribuio das plantas bentnicas, como as macrfitas. Estas, encontram-se fixas no sedimento, de onde extraem maioritariamente os nutrientes de que necessitam, atravs dos rizomas, pelo que tm poucas hipteses de competir com as algas flutuantes, com maiores taxas de crescimento (Hootsmans & Vermaat, 1985; Twilley et al., 1984 in Thomas & Daldorph, 1994; Jrgensen & Richardson, 1996; Raffaelli et al., 1998). Um reflexo do aumento da produo primria o incremento das concentraes diurnas de oxignio na coluna de gua. Durante os perodos nocturnos, a taxa de consumo de oxignio no compensada pela fotossntese, induzindo situaes de hipxia (ou mesmo anxia) (Deprez et al., 1992), que podem estender-se ao sedimento adjacente (Hull, 1987; Vadas & Beal, 1987). Esta condio pode ser igualmente provocada pelo aumento dos processos microbiais de 18. Introduo 9 decomposio, face ao consequente incremento do contedo de matria orgnica no sedimento, que em extremo caso de anxia, conduz formao de sulfureto de hidrognio (H2S), por aco de bactrias redutoras de enxofre (Hull, 1987; Vadas & Beal, 1987; Jrgensen & Richardson, 1996). Em consequncia da reduo de oxignio e da toxicidade do sulfureto de hidrognio (H2S), na coluna de gua e sedimento, h um aumento da mortalidade de macroinvertebrados que, consoante o grau de tolerncia e mobilidade das espcies, ou morrem ou migram (Norkko & Bonsdorff, 1996 b; Pardal, 1998). Esta mortalidade passvel de estender-se a peixes, ou mesmo aos prprios produtores primrios, de acordo com o agravamento da situao (Hull, 1987; Vadas & Beal, 1987; Deprez et al., 1992; Hodgkin & Hamilton, 1993; Norkko & Bonsdorff, 1996 a, b; Pardal, 1998; Pardal et al., 2000; Lilleb et al., 1999). 2.2 - Eutrofizao no brao Sul do esturio do Mondego Ao longo das duas ltimas dcadas, nas reas mais interiores do brao Sul do esturio do Mondego, tm surgido ocasionalmente "blooms" macroalgais (Martins, 1995; Martins et al., 1997, 2001; Cabral et al., 1996, 1999; Lilleb, 1996; Lilleb et al., 1999; Mrias et al., 1996; Flindt et al., 1997; Marques et al., 1997, 1999; Pardal, 1998; Pardal & Marques, 1998; Pardal et al., 2000; Lopes et al., 2000). A proliferao de espcies oportunistas, como Enteromorpha sp. e Ulva sp., principalmente da primeira, tm vindo a acentuar-se nestas reas do esturio. Considerados como um dos primeiros indcios da ocorrncia de processos de eutrofizao, especialmente em latitudes boreais e temperadas (Vadas & Beal, 1987), estes "blooms", de tendncia anual, surgem no incio da Primavera e prolongam-se at aos meses de Junho/Julho (Pardal, 1998; Pardal et al., 2000; Lilleb et al., 1999; Martins et al., 2001). Paralelamente a esta proliferao das macroalgas, foi sendo observada uma regresso da extenso das reas ocupadas pela fanerogmica marinha Zostera noltii, de maneira tal, que a sua presena ficou reduzida a cerca de 1 hectare nas reas 19. Introduo10 intertidais lodosas mais a jusante do esturio. (Lilleb, 1996; Lilleb et al., 1999; Marques et al., 1997; Pardal, 1998; Pardal & Marques, 1998; Pardal et al., 2000). sobejamente conhecida a importncia das macrfitas como recursos marinhos, podendo referenciar-se os seguintes exemplos (Phillips & Meez, 1988): - a sua presena fsica reduz a velocidade da gua, favorecendo a deposio de partculas em suspenso; - asseguram refgio para muitos organismos jovens e adultos; - fornecem excelentes locais para posturas de ovos de muitas espcies; - muitos organismos alimentam-se das suas epfitas ou dos seus detritos, mas s algumas espcies de anfpodes, ispodes, aves e peixes as utilizam directamente como um recurso alimentar, devido ao elevado contedo de lenhina e outros compostos menos digerveis (Laborda et al., 1997); - apresentam valores de produo e taxa de crescimento relativamente elevados; - para alm de produzirem e reterem detritos, libertam matria orgnica dissolvida, promovendo os ciclos de nutrientes no interior dos prprios esturios. No seu conjunto, as comunidades de Zosterceas suportam um elevado nmero de populaes abundantes (Teles-Ferreira, 1994). Relativamente a outros esturios portugueses, com povoamentos semelhantes, o esturio do Mondego encontra-se bastante empobrecido (Marques et al., 1993 a; Pardal 1998), nomeadamente, quando comparado com o esturio do Mira, um sistema considerado como perestrino, pouco influenciado por interveno humana directa (Teles-Ferreira, 1994). Assim, a progressiva substituio de Zostera noltii por Enteromorpha, no brao Sul do esturio do Mondego, reflecte um gradiente de eutrofizao de jusante para montante, o qual tem vindo a causar modificaes na estrutura e funcionamento das comunidades estuarinas (Marques et al., 1993 a, 1997; Lilleb, 1996; Lilleb et al., 1999; Pardal, 1998; Pardal & Marques, 1998; Pardal et al., 2000). 20. Introduo 11 3 - Consideraes gerais sobre Cyathura carinata (Kryer, 1847) Cyathura carinata um ispode tpico de guas salobras estuarinas, que apresenta uma vasta distribuio geogrfica. De facto, h registos da sua existncia ao longo de toda a costa atlntica da Europa e ilhas Britnicas (Bamber, 1985), desde o Bltico (Jadewski, 1969; lafsson & Persson, 1986) at ao Mediterrneo (Argano, 1979), mas tambm na China (Tattersal, 1922 in Burbanck, 1967), na parte asitica da ex-URSS (Gurjanova, 1936 in Burbanck, 1967), e frica do Sul (Barnard, 1925). 3.1 - Descrio geral Indiferenciados (juvenis ou fmeas no reprodutoras): Os indivduos da espcie Cyathura carinata (Figura 2) possuem o corpo alongado e esguio. A largura quase uniforme, embora a regio posterior seja um pouco mais larga que a anterior, principalmente a partir do quarto segmento torcico, o qual livre e incluso (Clret, 1960). A cabea subrectangular. Apresenta trs prolongamentos frontais, entre os quais se inserem as antenas: um mediano (rostro) e um sob cada bordo lateral. A sua regio posterior est encaixada no interior do primeiro segmento livre do pereon, pelo que h pouca mobilidade entre estas duas estruturas. Este ltimo ligeiramente arqueado, o que confere uma forma cncava face dorsal do corpo. Os olhos so pequenos e sombreados, estando dispostos nos bordos laterais da cabea. Os apndices bucais esto reunidos em um cone ventral, protegido por um lbio anterior e um par de maxilpedes (Clret, 1960). O primeiro par de perepodes (P1 ou gnatpodes) so bastante desenvolvidos. Podendo ser comparveis aos restantes perepodes, em termos de comprimento, os seus artculos so muito mais largos. Os perepodes P2 e P3 s se distinguem dos P4, P5, P6 e P7 pela sua orientao, estando os primeiros dirigidos para a regio anterior do corpo, e os restantes orientados para a posterior (Clret, 1960). 21. Perepodes Cabea Rostro Pereon Pleon Telso [Gnatpodes] Plepodes P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7 Figura 2 - Ilustrao esquemtica de Cyathura carinata (Kryer, 1847) 22. Introduo 13 Os plepodes esto sobrepostos e so todos biramificados; em que cada ramo tem a sua extremidade distal dirigida para trs. O primeiro par bastante mais desenvolvido que os restantes, pois desempenha uma funo de oprculo (Clret, 1960). Como caracterstica da famlia Anthuridae, os cinco primeiros segmentos do pleon encontram-se fundidos num nico (Argano, 1979), o qual menor que o stimo segmento de pereon (Kensley, 1997). Porm, no gnero Cyathura, o sexto segmento do pleon livre, sendo independente do telso (Argano, 1979), que linguiforme e bastante fino (Clret, 1960). Os machos: De uma forma geral, apresentam maiores dimenses que as fmeas e os indiferenciados. Os caracteres sexuais secundrios externos s surgem durante a poca de reproduo. Distinguem-se pela presena de dois estiletes copuladores, no bordo interior do segundo par de plepodes. No entanto, tambm podem diferenciar-se pela exibio de antenas mais grossas, com uma ou duas semi-coroas de sedas, no artculo proximal (Clret, 1960,) ou pela existncia de pequenas sedas na margem exterior dos gnatpodes (Jadewski, 1969) As fmeas (reprodutoras): Podem distinguir-se por dois aspectos: ou adquirem temporariamente trs pares de oostegitos nos terceiro, quarto e quinto segmentos torcicos, durante a muda que precede a postura dos ovos, ou ento, apresentam um marspio ventral dilatado, com ou sem embries (Clret, 1960; Sola, 1994). 3.2 - Fisiologia Cyathura carinata um organismo infaunal, que integra a macrofauna bentnica de diversos ecossistemas estuarinos europeus. Trata-se de uma espcie euritpica, que suporta um largo espectro de condies ambientais, sendo preponderante em guas salobras pouco profundas, onde predominam os substratos 23. Introduo14 estveis de vasa arenosa ou areia vasosa (Jadewski, 1969; Bamber, 1985; Marques et al., 1994; Pardal, 1998). Estes organismos habitam em tubos que, ou foram previamente utilizados por poliquetas, ou eles prprios os escavaram. O comprimento daqueles no dever exceder os cinco primeiros centmetros de profundidade (lafsson & Persson, 1986). Consoante o tipo de sedimento, podem tambm ocupar os espaos intersticiais, mas no so raras as vezes em que, se pode encontrar os juvenis, tambm na superfcie do substrato, sob um coberto algal (Burbanck, 1962). Tal como outros anfpodes e ispodes, Cyathura carinata praticamente um organismo omnvoro, pelo que se torna complicado definir a sua posio numa estrutura trfica, pois poder ser includa em mais de que um nvel (Burbanck, 1962). So geralmente considerados como organismos detritvoros, mas tambm podem alimentar-se de diatomceas e das pores em decamento de algas e macrfitas (Sola, 1994). Porm, so igualmente organismos predadores de pequenos invertebrados como poliquetas, oligoquetas, nemtodes e turbelrias (lafsson & Persson, 1986), sendo o Hediste diversicolor uma das suas presas preferenciais (Wgele, 1979 a, 1981). lafsson & Persson (1986) mencionam o facto de diversos espcimes de Cyathura carinata serem frequentemente encontrados entre os contedos estomacais das solhas Platychtys flesus, especialmente durante a Primavera. Na realidade, para alm desta referncia pouco se sabe sobre a predao de Cyathura carinata. No Mondego, a Platychtys flesus reconhecidamente uma das espcies componentes da ictiofauna do esturio. Todavia, em 1992, foram observadas cpsulas ceflicas, de Cyathura carinata, nas amostras fecais de pilrito-comum (Calidris alpina) e tarambola-cinzenta (Pluvialis squatarola), duas das mais representativas aves limcolas deste esturio (Mrias, comunicao pessoal). Curiosamente, essa evidncia no voltou a ser revelada em estudos posteriores sobre a dieta dessas aves (Lopes, 1999; Lopes et al., 2000). Actualmente, supe-se que se trate de uma predao oportunstica, dependente das densidades populacionais de Cyathura carinata, no entanto, esta uma hiptese que permanece ainda por esclarecer (Mrias, comunicao pessoal). 24. Introduo 15 Como na generalidade dos ispodes aquticos, a copulao em Cyathura carinata coordenada entre mudas das fmeas. So os machos que, durante a poca de reproduo, saem dos seus tubos para encontrar uma fmea apta a reproduzir-se. nesta altura que eles passam a exibir os seus caracteres sexuais secundrios, modificando o segundo par de plepodes, na base dos quais desenvolvem um apndice longo, em forma de estilete, que recebe o esperma e transfere-o para a fmea, ocorrendo uma fertilizao interna. No entanto, s o podem fazer quando, a poro posterior da muda da fmea sai. Por sua vez, a poro anterior, do exosqueleto da fmea, descai para formar um marspio, onde sero depositados os ovos fecundados. Desta forma, os embries desenvolvem-se, em segurana, no interior da fmea. Quando completamente desenvolvidos podem sair do marspio, estando aptos para nadar ou alimentar-se sozinhos. Um dos aspectos mais curiosos, desta espcie, reside no facto de se tratar de um hermafrodita protognico (Legrand & Juchault, 1963; Juchault, 1966; Jadewski, 1969; Bamber, 1985; Marques et al., 1994; Sola, 1994; Martins, 1995; Martins et al., 1997; Pardal, 1998), isto , todos os indivduos quando nascem, iniciam uma fase sexual como fmeas mas, a dada altura, podero sofrer uma inverso sexual, terminando a sua vida como machos (Juchault, 1966). Este fenmeno foi laboratorialmente observado por Legrand & Juchault (1963) e Juchault (1966) mas, apesar de ser bastante raro nos Malacostraca, o facto foi confirmado, quando Burbanck & Burbanck (1974) reconheceram o mesmo processo em Cyathura polita, obtendo resultados idnticos em experincias semelhantes s daquele. 4 - Identificao e justificao dos objectivos Desde 1984, que tem vindo a ser desenvolvido um esforo para avaliar a situao das comunidades biolgicas do esturio Mondego. Efectivamente, obteve-se um estudo de referncia detalhado das comunidades de zooplncton (Gonalves, 1991; Azeiteiro, 1999) e de ictioplncton (Ribeiro, 1991), bem como das comunidades bentnicas, quer intertidais (Marques, 1989; 25. Introduo16 Marques & Guilhermino, 1988 a, b; Marques et al., 1993 a; 1997; Pardal, 1998; Pardal & Marques, 1998), quer subtidais (Marques et al., 1993 b; Pardal et al., 1993). Posteriormente, caracterizou-se estruturalmente os povoamentos, em relao aos parmetros ambientais, identificando-se as espcies mais susceptveis de desempenhar um papel chave no funcionamento do ecossistema (Marques, 1989; Marques & Nogueira, 1991; Marques et al., 1994; Lilleb, 1996; Lilleb et al., 1999; Pardal, 1995, 1998; Pardal et al., 2000; Azeiteiro & Marques, 1999). Cyathura carinata sempre se revelou uma das espcies mais abundantes das comunidades macrobentnicas, tanto em termos de densidade, como de biomassa, especialmente nas reas mais interiores do brao Sul do esturio do Mondego, onde habitualmente ocorrem "blooms" macroalgais. Esse facto incentivou um estudo sobre a sua dinmica populacional, biologia e produo secundria, durante o prazo de um ano, de Novembro de 1990 a Dezembro de 1991 (Marques et al., 1994). Este veio confirmar que Cyathura carinata realmente uma espcie importante para o ecossistema estuarino, pelo que foi elaborado um modelo, que permitiu avaliar os efeitos dos "blooms" macroalgais de Enteromorpha sp. na sua dinmica populacional (Martins, 1995; Martins et al., 1997). Para avaliar o impacto do gradiente eutrofizao nas comunidades macrobentnicas do brao Sul do esturio do Mondego, nomeadamente sobre Cyathura carinata, Pardal (1998) efectuou uma srie temporal de 18 meses de amostragem, de 11 de Janeiro de 1993 a 29 de Junho de 1994, conseguindo abranger duas Primaveras completamente distintas, na primeira das quais ocorreu um "bloom" macroalgal e na segunda no. Esta coincidncia veio suscitar novas hipteses relativamente a esta espcie, algumas das quais se opem s ideias defendidas por Marques et al. (1994) e Martins et al. (1997). Considerando que estudos de longo prazo, alm de essenciais, so muito raros, resolveu estender-se aquela campanha de amostragem at 27 de Setembro de 1995, perfazendo um total de 33 meses de colheitas. Esta deciso vem contribuir para uma melhor compreenso da espcie e, consequentemente esclarecer algumas das dvidas levantadas pelos trs estudos anteriores (Marques et al., 1994; Martins et al., 1997; Pardal, 1998), nomeadamente: 26. Introduo 17 qual o tempo de vida de Cyathura carinata? quantas coortes so produzidas num ciclo anual? qual a durao da embriognese nesta espcie? qual o impacto da biomassa macroalgal sobre a biologia, dinmica populacional e produo secundria de Cyathura carinata? ser que a eutrofizao do esturio poder ameaar o desempenho desta espcie, na estrutura e funcionamento das comunidades biolgicas do esturio do Mondego? Em virtude de acontecimentos recentes, uma das diferenas fundamentais deste trabalho, em relao aos anteriores, refere-se ao facto de se ter descoberto que parte da populao de Cyathura carinata parasitada por Trematoda, no estdio de metacercria (Jensen, comunicao pessoal). Face a esta questo, este trabalho pretender avaliar certos aspectos relacionados com o parasitismo de Cyathura carinata, tais como: qual a proporo da populao parasitada, no esturio do Mondego? haver diferenas temporais e/ou espaciais entre a populao infectada? O objectivo mais amplo, que se pretende alcanar com este trabalho, consiste em alargar os conhecimentos adquiridos at agora sobre a Cyathura carinata, que contribuam para a melhor compreenso do desempenho desta espcie, na estrutura e funcionamento das comunidades biolgicas do esturio do Mondego. 27. Materiais e Mtodos18 II - MATERIAL E MTODOS 1 - Descrio e caracterizao das reas de estudo Ao longo do brao Sul do esturio do Mondego, foram seleccionadas trs reas de amostragem, representativas do gradiente espacial de eutrofizao, que nele se verifica, o qual reflecte a evoluo temporal deste processo durante as ltimas dcadas (Figura 3): reas Intertidais PORTUGAL 1 Km Ilha da Murraceira Brao Norte Ponte da Gala Rio Pranto Canal de Armazns Porto da Figueira da Foz Brao SulOceano Atlntico Zona mais eutrofizada Banco de Zostera noltii Rio Mondego Zona intermdia Figura 3 - Localizao das zonas de amostragem no brao Sul do esturio do Mondego. Banco de Zostera noltii Localizada mais para jusante, esta rea foi considerada como uma zona ainda no eutrofizada, representativa da situao original de todo o brao Sul h uns anos atrs, constituindo por isso um ponto de referncia. caracterizada por sedimentos vasosos compactos, cobertos pela macrfita Zostera noltii. 28. Materiais e Mtodos 19 Zona intermdia Situada um pouco mais para montante, esta rea caracterizou-se por possuir um coberto macroalgal, de Chlorophyceae e Rhodophyceae, que tem vindo a aumentar ao longo da ltima dcada. Este tem causado uma reduo de Zostera noltii de forma a que, nesta rea, s alguns rizomas daquela macrfita puderam ser encontrados. Zona mais eutrofizada Sendo a rea mais a montante, esta zona caracterizou-se pela presena de sedimentos arenosos-vasosos, onde tm sido observados ocasionalmente "blooms" macroalgais, sobretudo de Enteromorpha sp.. Outrora foi tambm uma rea com um coberto de Zostera noltii (Marques, observao pessoal), mas a substituio de produtores primrios, resultante dos processos de eutrofizao, conduziu ao seu total desaparecimento. 2 - Estratgia e mtodo de amostragem A campanha de amostragem foi realizada durante 33 meses, de 11 de Janeiro de 1993 a 27 de Setembro de 1995, durante a baixa-mar de mars vivas. A recolha de amostras foi efectuada quinzenalmente, nos primeiros 18 meses, passando posteriormente a ser realizada com uma periodicidade mensal. Em cada rea de estudo, uma amostra foi inicialmente representada por um conjunto de dez rplicas, mas com a anlise dos dados obtidos para os primeiros 12 meses, comearam a ser efectuadas apenas seis, as suficientes para estabilizar a variabilidade natural do sistema (Frontier, 1983). O mtodo de amostragem, tambm anteriormente usado por Marques (1989), Marques et al. (1993 b, 1994), Martins et al. (1997), Pardal (1995, 1998), Pardal et al. (2000) e Lilleb, et al. (1999), baseou-se numa adaptao da tcnica utilizada por Dexter (1979, 1983), em praias arenosas. Para retirar o sedimento, contendo a macrofauna e o coberto vegetal, usou-se um Tubo de Amostragem de Sedimentos Mveis (TASM) (Sousa Reis et al., 1982 in Marques, 1989). O seu manejamento revelou-se fcil e eficiente, uma vez que os sedimentos intertidais do esturio so 29. Materiais e Mtodos20 bastante finos, na sua maioria inferiores a 0,063 mm (Marques, 1989; Pardal, 1998). A sua introduo no sedimento, at 20 cm de profundidade, permitiu a obteno de rplicas com 141 cm2 de superfcie e cerca de 3 l de volume. 3 - Fixao, separao e conservao do material biolgico Cada rplica efectuada era inserida num saco de rede de nylon, com uma malha calibrada em 0,5 mm. O material recolhido era imediatamente lavado no prprio esturio, realizando-se assim uma primeira remoo do sedimento. Em seguida, cada uma era guardada num frasco plstico, devidamente identificado, contendo formaldedo a 4%, neutralizado com borato de sdio, para fixar os organismos e preservar as suas estruturas calcrias. De forma a evitar eventuais choques osmticos, recolhia-se gua estuarina, do local de amostragem, para utilizar como solvente do fixador. Em laboratrio, procedeu-se lavagem da diferentes rplicas, utilizando uma pilha de trs crivos sobrepostos, com 2, 1 e 0,5 mm de malha, respectivamente. Desta maneira, no s se removeu o formaldedo e vestgios de sedimento que pudessem ter restado, como ainda se dividiu o material biolgico, em funo das suas dimenses. Seguidamente, os espcimes de Cyathura carinata foram separados, tendo sido conservados em etanol a 70%. O material vegetal foi imediatamente identificado, at ao gnero para as macroalgas e, at espcie para a macrfita, sendo posteriormente determinadas as suas biomassas. 4 - Factores fsico-qumicos Em cada data de amostragem foram igualmente recolhidos os parmetros fsico-qumicos, relativos gua e sedimento, de cada uma das rea de estudo. 30. Materiais e Mtodos 21 4.1 - gua A salinidade, a temperatura, o pH e o oxignio dissolvido foram medidos in situ, mais precisamente, nas poas de gua formadas durante a baixa-mar. Considerando que os valores, nelas registados, se aproximam razoavelmente daqueles a que os organismos intertidais ficam expostos (Newel, 1979), eles foram determinados da seguinte forma: Temperatura: avaliada atravs do termistor do salinmetro, com 0,5C de preciso; Salinidade: medida por intermdio da conductividade, utilizando um salinmetro Y.S.I. modelo 3 SCT, com 1 de preciso; Oxignio dissolvido: determinado pela utilizao de um oxmetro WTW modelo OXI 92, com 0,1 mg.l-1 de preciso; pH: medido com um condutivmetro WTW modelo pH meter 196T. As concentraes dos nutrientes, amnia (NH4 + ), nitritos (NO3 - ), nitratos (NO2 - ) e fosfatos (PO4 3- ), foram determinadas por anlise laboratorial de amostras de gua (250 ml), recolhidas e conservadas a -30C, em garrafas de plstico. Amnia (NH4 + ): foi determinada pelo mtodo de dosagem por azul de indofenol, de acordo com a "American Public Health Association" (APHA) (1971). Nitritos (NO3 - ), Nitratos (NO2 - ) e Fosfatos (PO4 3- ): os seus valores foram avaliados segundo os mtodos descritos em Strickland & Parsons (1968), utilizados para a anlise de nutrientes e fsforo reactivo. 4.2 - Sedimento Paralelamente medio dos parmetros fsico qumicos da gua, foram recolhidas amostras de sedimento, para posterior anlise do teor em matria orgnica. Matria orgnica: foi determinada em laboratrio, atravs da combusto da amostra, durante oito horas, numa mufla a 450C, sendo posteriormente expressa em percentagem. O seu clculo foi feito segundo a expresso: 31. Materiais e Mtodos22 ( ) 100..% = PS PSLCPS OM em que: PS = Peso Seco da amostra de sedimento PSLC = Peso Seco Livre de Cinzas da amostra de sedimento. 5 - Factores biolgicos Em cada colheita foram ainda determinadas as diferentes biomassas vegetais. Durante o processo de triagem de cada rplica, separaram-se as macroalgas, segundo os taxa Chlorophyceae e Rhodophyceae, e a macrfita Zostera noltii, em parte area e subterrnea, para serem quantificadas separadamente. Em seguida, cada grupo foi seco, durante 48 horas, numa estufa a 60C. Posteriormente, todo o material foi pesado (balana SARTORIUS D 200 R, com uma resoluo de 0,01 mg), determinando-se assim o seu peso seco. Por ltimo, cada grupo foi incinerado, durante 8 horas, numa mufla (Heraeus K R 170 E) a 450C, para a determinao do seu peso seco livre de cinzas. 6 - Estudo laboratorial de Cyathura carinata (Kryer, 1847) 6.1 - Medidas biomtricas Quando morrem, os indivduos de Cyathura carinata arqueiam o corpo, em forma de vrgula, o que dificulta a medio do seu comprimento total. Por este motivo, optou-se por determinar apenas o seu comprimento ceflico (CC - desde a extremidade do rostro extremidade da base da cabea), expresso em mm, aps ter-se comprovado a existncia de uma relao linear entre este comprimento e o total (CT - da extremidade do rostro at ao final do telson) (Figura 4). Essa relao encontra-se enunciada na equao estimada por Marques et al. (1994): CT = 0,745133 + 9,01012 * CC (r2 = 0,97; N = 115). 32. Materiais e Mtodos 23 CT CC Figura 4 - Representao esquemtica das medidas biomtricas efectuadas em Cyathura carinata (CC - comprimento ceflico; CT - comprimento total). 33. Materiais e Mtodos24 Este tipo de procedimento j foi utilizado anteriormente, quer para Cyathura carinata (Bamber, 1985; Martins, 1995; Martins et al., 1997; Pardal, 1998), quer para outras espcies, nomeadamente de anfpodes (Marques & Nogueira, 1991; Pardal, 1998; Pardal et al., 2000). As medies foram efectuadas com o auxlio de um microscpio esteroscpico binocular Wild M3B, com resoluo de 0,02 mm, a uma ampliao de 40x, utilizando uma ocular micromtrica. 6.2 - Determinao de peso No presente trabalho, o peso dos indivduos Cyathura carinata foi avaliado atravs da equao calculada anteriormente por Marques et al. (1994), onde se estabelece uma relao entre comprimento ceflico (CC) e biomassa (W), expressa em g.m-2 de peso seco livre de cinzas (PSLC): W = 0,0190549 * CC2,71815 (r2 = 0,96; N = 800). 6.3 - Distino de sexos A forma como se distinguiram machos e fmeas foi explicada anteriormente, no ponto 3.1 - Descrio geral da Introduo. No entanto, faltou mencionar a maneira pela qual se diferenciou juvenis de fmeas no reprodutoras. semelhana de Bamber (1985), esta foi feita com base no comprimento ceflico da menor fmea reprodutora encontrada, ao longo dos trs anos de estudo, a qual apresentava 0,2825 mm, correspondentes a 3,2905 mm de comprimento total. 6.4 - Anlise do estado de maturao dos ovos Em cada fmea ovgera, procedeu-se remoo dos ovos do interior do marspio, tendo sido efectuadas a sua contagem, medio e anlise do seu estado de maturao. Seguindo a classificao proposta por Jadewski (1969), tambm 34. Materiais e Mtodos 25 utilizada por Bamber (1985), Marques et al. (1994) e Pardal (1998), identificaram-se os ovos de Cyathura carinata em trs estdios de maturao (Figura 5): Ovos A - ovos no primeiro estdio de maturao, ligeiramente oblongos e homogneos, podendo distinguir-se internamente duas membranas; Ovos B - ovos muito mais alongados, por vezes em forma de vrgula, sendo possvel observar, em alguns casos, os perepodes e as antenas; Ovos C - so o ltimo estdio de desenvolvimento, no qual os juvenis se encontram completamente formados, sendo semelhantes aos adultos. A B C Figura 5 - Representao esquemtica dos trs estdios de desenvolvimento embrionrio, considerados para Cyathura carinata (Kryer, 1847). A linha da escala corresponde a 0,2341 mm, 0,143 mm e 0,4275 mm para os estdios A, B e C, respectivamente. 6.5 - Anlise de dados Relao entre as medidas biomtricas No estabelecimento da relao entre as medidas biomtricas, Marques et al. (1994) utilizaram uma funo linear, do tipo y = (x) (Sokal & Rohlf, 1987). A relao entre as variveis foi expressa segundo a equao de regresso: y = a + bx 35. Materiais e Mtodos26 onde o comprimento total a varivel dependente (y), o comprimento ceflico a varivel independente (x) e, a e b as respectivas constantes. Marques et al. (1994) recorreram ao programa STATIGRAPHICS (verso 4.0, STSC - Statistical Graphics Corporation, 1988) para realizar os respectivos clculos. Relao entre comprimento ceflico e peso A relao entre o comprimento ceflico e o peso seco livre de cinzas (PSLC) dos organismos foi estabelecida segundo a funo alomtrica (Simpson et al., 1960): W = a C b onde W o peso seco livre de cinzas, C o comprimento ceflico e a e b as respectivas constantes da equao. Aquela equao permite determinar o peso seco livre de cinzas de um organismo, a partir do seu comprimento ceflico, pelo que os valores estimados sero utilizados posteriormente para o clculo da produo secundria. Para realizar os clculos, Marques et al. (1994) recorreram ao programa STATIGRAPHICS (verso 4.0, STSC - Statistical Graphics Corporation, 1988). Microdistribuio espacial A observao do padro de microdistribuio espacial de uma populao pode contribuir para a identificao de possveis causas de variao das suas densidades, pois o modo como os organismos se distribuem espacialmente, num dado momento, reflecte um processo biolgico prvio (e.g.: reproduo, morte ou migrao). O padro de distribuio espacial de Cyathura carinata foi analisado para cada estao e data de amostragem, tendo sido consideradas as densidades de cada 36. Materiais e Mtodos 27 rplica. Para tal, aplicou-se o ndice de disperso, definido como o quociente da varincia das densidades (S2 X) pelo seu valor mdio ( X ) (Elliot, 1977): = X XS 2 A significncia do valor de obtido pode ser testada em funo da hiptese nula de que tem uma distribuio aleatria (varincia igual mdia).A diferena de em relao unidade, pode estimada pelo produto (n-1), sendo n o nmero de rplicas da amostra. Este produto apresenta uma distribuio semelhante do 2 , para n-1 graus de liberdade. O intervalo de confiana utilizado foi de 95% (p0,05). (Elliot, 1977). Conforme o resultado de , consideram-se trs tipos de distribuio: 1 distribuio contagiosa ou em agregados. Anlise modal amplamente reconhecido que muitas espcies de anfpodes (Goedmakers, 1981; Senus & McLachlan, 1986; Marques & Nogueira, 1991; O'Hanlon & Bolger, 1997; Pardal et al., 2000) e ispodes (Kroer, 1989; Marques et al., 1994; Leifsson, 1998) se reproduzem descontinuamente no tempo, originando uma populao composta por diferentes grupos etrios, geralmente bem definidos, denominados por coortes. Para identificar e determinar a idade de cada uma dessas coortes, frequente recorrer-se anlise estatstica da distribuio de frequncias de medidas biomtricas dos indivduos, pertencentes s amostras da populao em causa, uma vez que s por intermdio de estudos laboratoriais que se poderia fazer uma determinao directa (Nogueira, 1992). 37. Materiais e Mtodos28 Partindo do princpio que Cyathura carinata se reproduz atravs de coortes (Marques et al., 1994; Pardal, 1998), admitiu-se que cada uma apresenta uma distribuio normal de comprimentos ceflicos dos indivduos que as compem, de forma a que o conjunto das coortes existentes na populao, em cada momento, corresponda a uma distribuio polimodal dos mesmos. A identificao das coortes de Cyathura carinata, e o seguimento da sua evoluo, foram feitos mediante a utilizao do programa ANAMOD, para IBM-pc (Nogueira, 1992), tendo sido consideradas 30 classes de comprimento ceflico, com 0,06 mm de intervalo. Este programa baseia-se nos pressupostos do mtodo do papel de probabilidades (Cassie, 1963 in Marques, 1989), permitindo adicionalmente testar estatisticamente a anlise efectuada (Nogueira, 1992), tendo j sido utilizado por outros autores com bastante sucesso (Marques, 1989; Marques & Nogueira, 1991; Marques et al., 1994; Pardal, 1998; Pardal et al.,2000; Lilleb, 1999; Cardoso, 2001). Aplicao da regresso mltipla interpretao dos dados biolgicos Pretendeu-se analisar a influncia dos factores abiticos (temperatura, salinidade e matria orgnica) e biolgicos (biomassa de Chlorophyceae, Rhodophyceae, rizomas e folhas de Zostera noltii), sobre a biomassa e densidade de Cyathura carinata, recorrendo a regresso mltipla ("Best subsets regression", "Stepwise regression" e "Analysis regression"). Este procedimento pareceu ser o mais adequado, pois no seria correcto tentar correlacionar a densidade e biomassa de Cyathura carinata, com cada um dos parmetros fsico-qumicos e biolgicos isoladamente, uma vez que estes poderiam estar correlacionados entre si e actuar em conjunto. A equao de regresso mltipla que exprime a relao entre uma varivel dependente (Y) e um nmero (K) de variveis independentes (X) expressa por: 38. Materiais e Mtodos 29 Y = a + b1X1 + b2X2 + ... + bkXk em que a, b1... bk so as constantes cujo valor se pretende calcular e que determinam a maior correlao possvel entre os valores observados (Y) e os valores esperados pela equao (Y). O coeficiente de correlao entre Y e Y designado por coeficiente de regresso mltipla (RYY) (Edwards, 1984). Os valores das constantes de cada equao foram obtidos segundo o mtodo dos mnimos quadrados (Edwards, 1984, 1985) a partir dos seguintes passos: - clculo da matriz produto (XX); - clculo do valor produto (XY); - clculo da matriz inversa (XX)-1 ; - clculo do vector coluna b (XX)-1 (XY); - clculo da soma total dos quadrados (SStot), da soma residual dos quadrados (SSres) e da soma dos quadrados para regresso linear (SSreg), respectivamente: SStot = (Y-X)2 SSreg = bXY (Y)2/n SSres =SStot - SSreg - clculo do coeficiente de correlao mltipla (RYY) e dos respectivos testes de significncia. Foram aplicados os testes de significncia F e t aos valores de coeficiente de regresso mltipla e aos coeficientes de regresso (b1, b2, bn) calculados em cada caso. O valor de F dado pelo quociente entre o valor mdio dos quadrados explicados pela regresso e o valor mdio dos quadrados residuais (Edwards, 1984, 1985). A hiptese nula a testar a de os coeficientes de regresso serem todos iguais a zero. No entanto, este teste no muito satisfatrio, dado que a rejeio da hiptese nula pode significar apenas que um dos coeficientes de regresso seja diferente de zero. O valor de t aplicado aos coeficientes de regresso dado pelos quocientes do valor de cada coeficiente (bi) pelo erro padro (sbj) correspondente (Edwards, 1984, 1985). Se o teste t do coeficiente de regresso de uma dada varivel for significativo, 39. Materiais e Mtodos30 tal querer dizer que, se os valores das observaes correspondentes a esta varivel forem introduzidos por ltimo no clculo da equao de regresso haver um aumento significativo nas somas dos quadrados da regresso. Os clculos foram realizados com recurso ao programa MINITAB 10.1 software package. Expresso do crescimento atravs do modelo de crescimento A equao generalizada de Von Bertalanffy (VBGF von Bertalanffy growth function), proposta por Gaschtz et al. (1980), continua a ser um dos modelos matemticos mais utilizados para expressar o crescimento de macroinvertebrados. O facto desta equao considerar a influncia de factores sazonais, e permitir prever modificaes do crescimento em funo do metabolismo, constitui uma vantagem em relao original. Por este motivo, e semelhana de outros autores (Bayed & Guillon, 1985 in Marques, 1989; Bachelet, 1981 in Pardal, 1998; Marques et al., 1994; Pardal, 1998 e Lilleb, 1999), optou-se pela sua utilizao para estimar o crescimento de Cyathura carinata. A equao dada por: Lt = L (1-e -[kD(t-to) + C (kD/2) sin 2 (t-ts)] ) 1/D em que: Lt - comprimento do organismo no instante t; L - comprimento mximo que o organismo poder atingir e corresponde assmptota da curva de crescimento; t - instante considerado; t0 - instante para o qual o crescimento seria teoricamente nulo, admitindo-se que os organismos tenham crescido sempre ao ritmo previsto pela equao; 40. Materiais e Mtodos 31 ts - tempo decorrido entre o incio do crescimento (no instante t = 0) e o instante em que se verifica a primeira oscilao no crescimento, o qual expresso por uma curva aproximadamente sinusoidal para o perodo de um ano; k - taxa intrnseca de crescimento; C - constante cujo valor varia entre 0 (e.g.: organismos tropicais onde a variao sazonal mnima ou inexistente) e 1 (e.g.: organismos de climas temperados frios, em que o crescimento no Inverno reduzido ou nulo); D - parmetro que exprime os desvios regra de 2 /3 do metabolismo. Esta regra denominada verso especial de VBGF, (von Bertalanffy, 1934; Beventon & Holt, 1957 al in Gaschutz et al., 1980) em conjunto com outros pressupostos prev que o consumo de oxignio, no caso dos peixes, ser proporcional a 2 /3 do seu peso em gramas. Segundo a respectiva regra D expresso por: D = 3* (m-d) em que m e d expressam uma proporcionalidade respectivamente, de catabolismo e anabolismo relativamente ao peso do organismo. Sendo assumido que d = 2 /3 e m = 1 ou seja D = 1. Na forma generalizada de VBGF o valor de D, quando diferente de 1 pode ser calculado por uma equao estabelecida empiricamente sem atender s taxas de crescimento. A equao dada por: D = 3 [1- (0,6742 + 0,03574 log10 Wmax)] em que Wmax o peso mximo atingido por um determinado conjunto de indivduos, expresso em gramas (g). Neste caso, dado que no se tem conhecimento do tipo de metabolismo relativo a Cyathura carinata, foi atribudo a D o valor de 1, semelhana do procedimento adoptado por Marques et al. (1994) e Pardal (1998) para esta mesma espcie, Marques (1989) para Echinogamarus marinus (Amphipoda) e Lilleb (1999) e Cardoso (2001) para Hydrobia ulvae (Gastropoda). 41. Materiais e Mtodos32 6.6 - Clculo da produo A produo secundria de Cyathura carinata foi avaliada com base em mtodos de separao de coortes, semelhana do procedimento adoptado por outros autores (Marques, 1989; Marques & Nogueira, 1991; Marques et al., 1994; Pardal, 1998; Pardal et al., 2000; Lilleb et al., 1999; Cardoso, 2001). Para tal, efectuou-se o clculo da: produo lquida ou somtica (P) - corresponde biomassa assimilada num intervalo de tempo por um nmero constante de indivduos; produo de transferncia ou de eliminao (E) - corresponde variao da biomassa num determinado intervalo de tempo, provocada por eliminao de indivduos (emigrao ou transferncia para outros nveis da cadeia trfica). As produes somtica e de eliminao de cada coorte foram avaliadas no perodo decorrido entre dois instantes de amostragem (t e t+1) utilizando as seguintes expresses: P = ( )[ ]2/1++ tt NN ( )tt WW +1 para Wt+1> Wt E = ( )[ ]( )W W N Nt t t t+ + +1 12/ para Nt> Nt+1 em que N corresponde densidade (ind.m-2 ) da coorte em cada instante de amostragem e W a biomassa mdia individual (peso seco livre de cinzas, PSLC As produes totais de cada coorte foram dadas por: P = ( )[ ]N N dWt t t t n + + = = 1 0 2/ E = ( )[ ]W W dNt t t t n + + = = 1 0 2/ 42. Materiais e Mtodos 33 em que dW e dN representam as variaes da biomassa mdia individual e da densidade da coorte entre cada dois instantes de amostragem. Os clculos para a determinao da biomassa mdia da populao (B ) e das propores P/B e E/B foram tambm efectuados segundo os procedimentos seguidos por Marques (1989), Marques & Nogueira, (1991), Marques et al. (1994), Pardal (1998), Pardal et al. (2000), Lilleb et al. (1999) e Cardoso (2001), de acordo com o mtodo proposto por Allen (1971). A biomassa mdia (B ) de uma populao constituda por coortes sucessivas dada por: B = ( ) ( )1 1 T B tn n N = em que: T perodo de tempo ao longo do qual a populao foi estudada N nmero de coortes sucessivas constituintes da populao, ao longo do perodo T B biomassa mdia da coorte de ordem n t perodo de durao da coorte de ordem n De modo semelhante, a produo da populao (Pp) (lquida ou de transferncia) ser dada por: = = N n cnp PP 1 em que Pcn a produo da coorte de ordem n durante o perodo t da sua durao. 43. Resultados34 III - RESULTADOS 1 - Factores fsico-qumicos No se tendo verificado diferenas espaciais significativas, ao longo do brao Sul do esturio do Mondego, a temperatura da gua (Figura 6) reflectiu a influncia das estaes do ano, uma vez que, os seus valores foram distintamente mais elevados nos meses de Vero. A temperatura mais baixa que se registou foi de 8,3C, em 25 de Janeiro de 1993, no banco de Zostera noltii, ao passo que a mais alta foi de 32,6C, em 6 de Julho do mesmo ano, na zona mais eutrofizada. TEMPERATURA - GUA 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N C Zona intermdia Zona mais eutrofizada 1993 1994 1995 Banco de Zostera noltii Figura 6 - Variao da temperatura, nas trs zonas de estudo, de 11 de Janeiro de 1993 a 27 de Setembro de 1995. A precipitao (Figura 7) tambm denotou variao sazonal, em que os meses de Vero apresentaram os seus valores mais baixos. Este parmetro assumiu uma influncia considervel sobre o regime de abertura do sistema de comportas do rio Pranto, o qual permitiu o escoamento das suas guas, de acordo com os nveis requeridos pela prtica da orizicultura. Isto foi tanto mais evidente quando se comparou os perodos de Outono/Inverno de 1992/93, 1993/94 e 1994/95. O 44. Resultados 35 primeiro correspondeu a uma poca de fraca precipitao, que determinou o quase permanente encerramento daquelas comportas. Em oposio, o segundo registou precipitaes elevadas, conduzindo abertura das mesmas, segundo uma periodicidade praticamente diria. Por seu turno, o Outono/Inverno de 1994/95 representou a uma situao intermdia, relativamente aos correspondentes perodos dos anos anteriores, mas durante o qual no foram fornecidas quaisquer informaes relativamente s condies das comportas (Pardal, 1998; Martins et al., 2001). PRECIPITAO 0 50 100 150 200 250 300 J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S mm 1993 1994 1995 Figura 7 - Variao da precipitao mensal, na cidade de CoimbraP , de Janeiro de 1993 a Setembro de 1995. semelhana da temperatura, a salinidade (Figura 8) tambm demonstrou valores mais elevados durante os meses quentes de Primavera/Vero. Porm, este parmetro denotou a forte influncia exercida pela abertura do sistema de comportas do rio Pranto, pelo que as diferenas mais relevantes, entre os trs anos de estudo, remontaram aos perodos de Outono/Inverno. O de 1992/93, em que as comportas P Uma vez que no se efectuam recolhas de dados meteorolgicos na cidade da Figueira da Foz, optou-se pela apresentao dos da cidade de Coimbra, localizada a cerca de 40 Km Leste de distncia daquela, assumindo-se que no existem diferenas significativas entre elas (dados fornecidos pelo Instituto Geofsico da Universidade de Coimbra). 45. Resultados36 estiveram quase sempre encerradas, apresentou valores de salinidade bastante elevados, praticamente semelhantes aos de Primavera/Vero. Em oposio, o de 1993/94 foi o que registou os valores mais baixos (4,5 na zona mais eutrofizada), em funo da frequente abertura das comportas, consequente da abundante precipitao que se fez sentir nessa altura. Da mesma forma, o Outono/Inverno de 1994/95 representou uma situao intermdia entre os dois anos anteriores. SALINIDADE - GUA 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 40,0 J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N gl -1 Zona intermdia Zona mais eutrofizada 1993 1994 1995 Banco de Zostera noltii Abertura da comporta Figura 8 - Variao da salinidade, nas trs zonas de estudo, de 11 de Janeiro de 1993 a 27 de Setembro de 1995. Quanto s concentraes de nutrientes azotados (Figura 9), quantificados nas poas de gua, a amnia foi o elemento mais preponderante de todos, seguindo-se-lhe os nitratos e, por ltimo, os nitritos. Estes nutrientes revelaram tambm um padro sazonal de variao da sua concentrao, semelhante entre si, o qual se revelou bastante influenciado pelo ritmo de abertura das comportas do rio Pranto. Esta situao foi mais evidente no Outono/Inverno de 1993/94, ao longo do qual a abertura foi efectuada de uma forma quase diria, tendo sido observados incrementos acentuados das suas concentraes, durante esse perodo de tempo. Em 1994/95, registou-se tambm um comportamento semelhante, que conjuntamente com a diminuio da salinidade e os valores de precipitao, pareceu indicar uma abertura frequente das comportas nessa altura. 46. Resultados 37 AMNIA - GUA 0,00 0,20 0,40 0,60 0,80 1,00 1,20 J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N mgNH4 + -N.l -1 Zona intermdia Zona mais eutrofizada 1993 1994 1995 Abertura da comporta Banco de Zostera noltii NITRATOS - GUA 0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70 0,80 J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N mgNO3 - -N.l -1 Zona intermdia Zona mais eutrofizada 1993 1994 1995 Abertura da comporta Banco de Zostera noltii NITRITOS - GUA 0,00 0,01 0,02 0,03 0,04 0,05 0,06 0,07 0,08 0,09 J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N mgNO2 - -N.l-1 Zona intermdia Zona mais eutrofizada 1993 1994 1995 Abertura da comporta Banco de Zostera noltii Figura 9 - Variao das concentraes dos nutrientes azotados, nas trs zonas de estudo, de 11 de Janeiro de 1993 a 27 de Setembro de 1995. 47. Resultados38 Em oposio aos nutrientes azotados, a concentrao de fosfatos (Figura 10) no apresentou qualquer aumento com a abertura do sistema de comportas do rio Pranto. Pelo contrrio, demonstrou um aumento sazonal da sua concentrao durante os meses quentes de Vero, semelhana dos resultados de outros estudos deste mesmo sistema (Pardal, 1998; Lilleb, 2000; Lopes, 2000; Martins, 2000). FOSFATOS - GUA 0,00 0,02 0,04 0,06 0,08 0,10 0,12 0,14 0,16 0,18 0,20 J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N mgPO4 3- -P.l -1 Zona intermdia Zona mais eutrofizada 1993 1994 1995 Abertura da comporta Banco de Zostera noltii Figura 10 - Variao da concentrao de fosfatos, nas trs zonas de estudo, de 11 de Janeiro de 1993 a 27 de Setembro de 1995. A concentrao diurna de oxignio dissolvido (Figura 11) no demostrou qualquer variao sazonal evidente. Os seus valores variaram entre os 5,5 mg.l-1 , no banco de Zostera noltii (30 de Dezembro de 1993) e os 31 mg.l-1 , na zona mais eutrofizada (24 de Fevereiro de 1993), tendo ocorrido bastantes flutuaes ao longo do perodo de estudo. Os valores de pH (Figura 12) apresentaram oscilaes frequentes, variando entre 6,94 (30 de Dezembro de 1993) e 9,56 (20 de Abril de 1994), ambos registados no banco de Zostera noltii. Este parmetro no pareceu demonstrar uma influncia significativa da abertura das comportas do rio Pranto, porm, as suas flutuaes de maior amplitude denotaram uma certa relevncia, uma vez que frequentemente traduzem a ocorrncia de processos biogeoqumicos complexos (Pardal, 1998). 48. Resultados 39 OXIGNIO - GUA 0,0 5,0 10,0 15,0 20,0 25,0 30,0 35,0 J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N mgO2.l -1 Zona intermdia Zona mais eutrofizada 1993 1994 1995 Banco de Zostera noltii Abertura da comporta Figura 11 - Variao da concentrao de oxignio, nas trs zonas de estudo, de 11 de Janeiro de 1993 a 27 de Setembro de 1995. pH - GUA 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0 8,5 9,0 9,5 10,0 10,5 J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N pH Zona intermdia Zona mais eutrofizada 1993 1994 1995 Banco de Zostera noltii Abertura da comporta Figura 12 - Variao de pH, nas trs zonas de estudo, de 11 de Janeiro de 1993 a 27 de Setembro de 1995. Os resultados de teor de matria orgnica do sedimento revelaram a existncia de um ntida diferena entre as trs reas estudadas (Figura 13). O banco de Zostera noltii foi a que demonstrou quase sempre teores mais elevados, sendo os valores da zona intermdia bastante semelhantes aos daquela. Em contraste, a zona 49. Resultados40 mais eutrofizada foi aquela que apresentou sempre teores de matria orgnica inferiores aos das outras duas reas. No entanto, nesta zona pareceu haver uma certa sazonalidade deste parmetro, visto que os seus valores mais elevados se verificaram durante os meses de Primavera/Vero e, os inferiores, nos meses de Outono/Inverno. Ao longo do tempo de estudo, foi tambm possvel verificar um decrscimo do teor de matria orgnica do banco de Zostera noltii, embora esta tendncia no tivesse sido muito acentuada. MATRIA ORGNICA - SEDIMENTO 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N % Zona intermdia Zona mais eutrofizada 1993 1994 1995 Abertura da comporta Banco de Zostera noltii Figura 13 - Variao da percentagem de matria orgnica do sedimento nas trs zonas de estudo, de 11 de Janeiro de 1993 a 27 de Setembro de 1995. 2 - Factores biolgicos Comparando a biomassa de macroalgas ao longo do gradiente de eutrofizao, no brao sul do esturio do Mondego, existiram diferenas bvias entre as trs zonas estudadas (Figura 14). Zona mais eutrofizada Na zona mais interna do brao Sul, j h muitos anos que a macrfita Zostera noltii desapareceu por completo (Marques, comunicao pessoal). Nesta rea, as Rhodophyceae foram praticamente inexistentes. No entanto, no que respeita 50. Resultados 41 biomassa das macroalgas verdes, foi possvel destacar trs situaes distintas, durante o perodo de estudo. Na primeira metade de 1993, observou-se um extraordinrio crescimento da biomassa de Enteromorpha sp. e Ulva sp.. Este ter-se- desenvolvido maioritariamente em duas fases distintas. Inicialmente, ocorreu um aumento acentuado da sua biomassa, at o princpio de Abril, atingido um mximo de 446 g.m-2 PSLC. Nessa altura, verificou-se um primeiro decrscimo dos seus valores. Posteriormente, em finais de Maio, houve uma nova retoma do crescimento, at ao seu sbito desaparecimento, antes do incio de Julho. Este comportamento ter correspondido a um "bloom" macroalgal, de considerveis propores, fenmeno que tem sido ocasionalmente observado, ao longo da ltima dcada, nas reas mais interiores do esturio (Pardal, 1998). Contrariamente, em 1994, cujo Inverno verificou precipitaes abundantes e baixas salinidades, em virtude da regular e frequente abertura das comportas do rio Pranto, foi registada uma total ausncia de macroalgas. O ano de 1995 foi uma combinao dos dois anteriores. Apesar de ter ocorrido o desenvolvimento de alguma biomassa macroalgal, durante a Primavera desse ano, este no foi suficiente para ser considerado como um "bloom" macroalgal, ou para desencadear os processos que o caracterizam. Zona intermdia Esta zona ter sido tambm ocupada pela macrfita Zostera noltii, pois ainda foi possvel encontrar alguns dos seus rizomas, ainda que estes no tivessem sido quantificados. Comparativamente rea anterior, as macroalgas verdes foram menos expressivas e as suas biomassas semelhantes entre os trs anos de estudo. Paralelamente, as macroalgas vermelhas foram muito mais abundantes, tendo a sua biomassa sido mais elevada, exactamente durante o Outono de 1994, quando foram aproximadamente proporcionais s macroalgas verdes. 51. Resultados42 Zona mais eutrofizada 0 100 200 300 400 500 J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N Biomassa(g.m -2 )(PSLC) Chlorophyceae Rhodophyceae 1993 1994 1995 "bloom" macroalgal "crash" macroalgal Zona intermdia 0 100 200 300 400 500 J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N Biomassa(g.m -2 )(PSLC) Chlorophyceae Rhodophyceae 1993 1994 1995 Banco de Zostera noltii 0 100 200 300 400 500 J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N Biomassa(g.m -2 )(PSLC) Chlorophyceae Rhodophyceae 1993 1994 1995 Figura 14 - Variao da biomassa macroalgal, nas trs zonas de estudo, de 11 Janeiro de 1993 a Setembro de 1995. 52. Resultados 43 Banco de Zostera noltii As macroalgas verdes foram praticamente inexistentes nesta rea, durante os trs anos de estudo. Em oposio, as macroalgas vermelhas revelaram biomassas comparativamente proporcionais, tendo sido claramente mais elevadas nesta rea, relativamente s duas anteriores (Figura 14). Biomassa de Zostera noltii 0 50 100 150 200 250 300 350 J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N g.m -2 (PSLC) folhas rizomas total 1993 1994 1995 Figura 15 - Variao da biomassa de Zostera noltii, na zona no eutrofizada, de 11 Janeiro de 1993 a Setembro de 1995. Quanto macrfita Zostera noltii, foi possvel distinguir um padro sazonal de variao da sua biomassa (Figura 15). Durante os perodos primaveris e estivais, observou-se um incremento, correspondente sobretudo ao crescimento de novas folhas, tendo sido alcanado um mximo em Abril de 1993 (328,4 g.m-2 PSLC). Porm, estes valores foram decrescendo ao longo do ano e, nos perodos de Outono/Inverno de 1992/93 e 1993/94, a biomassa dos rizomas registada foi mesmo superior das suas folhas. Comparando os trs anos em questo, distinguiu-se uma tendncia para o decrscimo da abundncia desta macrfita. A Primavera de 1994 registou um incremento de biomassa bastante inferior, ao idntico perodo de 1993. Em 1995, continuou o seu declnio, tendo alcanado o seu valor mnimo no ms de Julho desse ano (95,3 g.m-2 PSLC). 53. Resultados44 3 - Cyathura carinata (Kryer, 1847) 3.1 - Microdistribuio espacial O clculo do ndice de disperso, de cada amostragem quinzenal, demonstrou que a populao de Cyathura carinata exibiu uma distribuio espacial do tipo contagioso ou agregado. Para as trs zonas de amostragem, obtiveram-se valores sempre superiores unidade, resultado que se revelou de acordo com os de Marques et al. (1994), em outras duas reas intertidais, sem qualquer coberto vegetal, deste mesmo esturio, e de Pardal (1998). 3.2 - Densidade populacional Comparando as trs zonas estudadas, Cyathura carinata apresentou diferentes densidades populacionais ao longo do brao Sul do esturio do Mondego (Figura 16): Zona mais eutrofizada A zona mais eutrofizada foi aquela que denotou uma populao mais estvel e abundante (1 850 1 156 ind.m-2 ; x s), onde pde definir-se um padro anual de variao de densidade. O comportamento deste padro provou ser semelhante aos descritos anteriormente por Marques et al. (1994) e Pardal (1998). Os seus valores mais elevados registaram-se sempre durante os perodos de Outono/Inverno, sofrendo um declnio contnuo e acentuado at ao final da Primavera. Nessa altura, a densidade populacional voltava a apresentar um novo acrscimo, devido ocorrncia de recrutamento. Durante os 33 meses de estudo, as densidades desta zona, variaram de acordo com os valores apresentados na Tabela I. As diferenas mais evidentes verificaram- se entre os valores mximos outonais de cada ano. Os de 1993, quando ocorreu o"bloom" macroalgal, e os de 1995, ano em que houve o desenvolvimento de alguma 54. Resultados 45 Zona mais eutrofizada 0 100 200 300 400 500 J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N g.m -2 (PSLC) 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 indivduos.m -2 Chlorophyceae Cyathura carinata 1993 1994 1995 Zona intermdia 0 100 200 300 400 500 J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N g.m -2 (PSLC) 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 indivduos.m -2 Chlorophyceae Cyathura carinata 1993 1994 1995 Banco de Zostera noltii 0 100 200 300 400 500 J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N g.m -2 (PSLC) 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 indivduos.m -2 Cyathura carinata 1993 1994 1995 Folhas de Zostera noltii Figura 16 - Variao da densidade de Cyathura carinata e de biomassas vegetais, de 11 Janeiro de 1993 a Setembro de 1995. 55. Resultados46 alga (sem que se atingisse as propores de um "bloom"), foram bastante inferiores aos de 1994, em que as algas foram praticamente inexistentes. Estas observaes fazem crer que, a ocorrncia de macroalgas e de "crash" algal, durante o perodo estival, tenha tido, de alguma forma, um certo impacto sobre a populao. TABELA I - Densidades populacionais mximas e mnimas de Cyathura carinata, na zona mais eutrofizada do brao Sul do esturio do Mondego, ao longo do presente estudo.P ANO Mnima Mxima 291 3 759 22 de Julho 18 de Outubro 567 5 518 1 de Junho 28 de Setembro 556 3 499 26 de Julho 27 de Setembro 1995 DENSIDADE POPULACIONAL (indivduos.m -2 ) 1993 1994 Mais ainda, a densidade inicial de 1993 (3 404 ind.m-2 , em 25 de Fevereiro) foi bastante prxima do mximo outonal desse ano. Assim, supe-se que as densidades mximas do Outono anterior de 1992, em que no houve a ocorrncia de qualquer "bloom" (Pardal, comunicao pessoal), tenha sido tambm superior ao de 1993, vindo reforar aquela mesma suspeita. Zona intermdia Na zona intermdia existiram algumas oscilaes anuais (Figura 16), porm, esta revelou um padro menos evidente, principalmente porque as densidades populacionais registadas foram muito inferiores s da rea anterior (171 157 ind.m-2 ; x s). Partindo de uma situao inicial de quase total inexistncia de indivduos, o nmero destes foi aumentando ao longo do tempo, sobretudo aps a ocorrncia de recrutamentos. As densidades mximas desta rea verificaram-se aps o Vero de 1994 (780 ind.m-2 , em 29 de Junho), tornando a P 27 de Setembro foi a ltima data de amostragem de 1995, pelo que tem de considerar-se a possibilidade da densidade populacional poder ter aumentado ainda mais, durante esse ano. 56. Resultados 47 diminuir em seguida, para no conseguir voltar a atingir esses mesmos valores, na mesma poca de 1995 (461 ind.m-2 , em 29 de Junho). Banco de Zostera noltii No banco de Zostera noltii, o comportamento de Cyathura carinata foi completamente distinto (Figura 16). O incio do estudo, demonstrou a total ausncia desta espcie, contudo, a sua densidade populacional foi aumentando constantemente, ao longo do tempo (172 220 ind.m-2 ; x s). A densidade mxima, registada nesta rea, foi obtida a 29 de Junho de 1995, contando com 851 ind.m-2 . A influncia dos factores abiticos (temperatura, salinidade e matria orgnica do sedimento) e biolgicos (biomassa de macroalgas verdes e vermelhas, rizomas e folhas de Zostera noltii), sobre a biomassa e densidade de Cyathura carinata, foi analisada por regresso mltipla ("Best subsets regression", "Stepwise regression" e "Analysis regression" - MINITAB 10.1 software package) para cada uma das reas, tendo em considerao a totalidade do tempo de estudo. No entanto, no foi encontrada qualquer correlao plausvel entre as densidades e as biomassas desta espcie, com aqueles parmetros fsico-qumicos e biolgicos. 3.3 - Estrutura populacional A estrutura populacional de Cyathura carinata foi interpretada com base na anlise de histogramas de frequncia relativa de classes de comprimento ceflico, a qual permitiu a identificao de coortes e o seu seguimento (Figura 17). De facto, o mtodo de anlise modal utilizado, s permitiu o cumprimento deste objectivo para a zona mais eutrofizada, visto que somente esta apresentou uma populao suficientemente abundante para o concretizar. Na sua globalidade, os ajustamentos realizados podero ser avaliados como razoveis, face aos resultados dos testes G obtidos. 57. Resultados48 Frequnciarelativa(%) 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 25/02/93 N = 473 C2 C1 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 11/03/93 N = 465 C2 C1 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 24/03/93 N = 346 C2 C1 Frequnciarelativa(%) 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 07/04/93 N = 290 C2 C1 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 23/04/93 N = 337 C2 C1 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 C2 C1 06/05/93 N = 240 Frequnciarelativa(%) 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 24/05/93 N = 177C2 C1 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 07/06/93 N = 145C2 C1C3 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 22/06/93 N = 129 C2 C1 C3 Frequnciarelativa(%) 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 06/07/93 N = 57 C3 C2 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 22/07/93 N = 40 C3 C2 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 05/08/93 N = 172C3 C2 Frequnciarelativa(%) 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 20/08/93 N = 186 C3 C2 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 03/09/93 N = 302 C3 C2 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 20/09/93 N = 257 C3 C2 Comprimento ceflico (mm) Comprimento ceflico (mm) Comprimento ceflico (mm) Figura 17 - Evoluo da estrutura da populao de Cyathura carinata, na zona mais eutrofizada, de 25 de Fevereiro de 1993 a Setembro de 1995. Encontram-se assinaladas as respectivas coortes identificadas (C) e o nmero de indivduos da amostra (N). 58. Resultados 49 Frequnciarelativa(%) 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 01/10/93 N = 114C3 C2 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 18/10/93 N = 518 C3 C2 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 02/11/93 N = 407C3 C2 Frequnciarelativa(%) 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 17/11/93 N = 257C3 C2 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 03/12/93 N = 308 C3 C2 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 17/12/93 N = 383C3 C2 Frequnciarelativa(%) 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 30/12/93 N = 247C3 C2 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 13/01/94 N = 140 C3 C2 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 27/01/94 N = 276 C3 C2 Frequnciarelativa(%) 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 10/02/94 N = 65C3 C2 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 24/02/94 N = 176 C3 C2 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 10/03/94 N = 154 C3 C2 Frequnciarelativa(%) 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 23/03/94 N = 116 C3 C2 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 05/04/94 N = 160 C3 C2 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 20/04/94 N = 100 C3 C2 Comprimento ceflico (mm) Comprimento ceflico (mm) Comprimento ceflico (mm) Figura 17 (continuao) - Evoluo da estrutura da populao de Cyathura carinata, na zona mais eutrofizada, de 25 de Fevereiro de 1993 a Setembro de 1995. Encontram-se assinaladas as respectivas coortes identificadas (C) e o nmero de indivduos da amostra (N). 59. Resultados50 Frequnciarelativa(%) 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 03/05/94 N = 64 C3 C2 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 17/05/94 N = 57 C3 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 01/06/94 N = 44C3 Frequnciarelativa(%) 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 15/06/94 N = 48C3 C4 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 29/06/94 N = 180 C3 C4 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 28/09/94 N = 379 C3 C4 Frequnciarelativa(%) 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 13/10/94 N = 439 C3 C4 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 09/11/94 N = 287 C3 C4 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 07/12/94 N = 243 C3 C4 Frequnciarelativa(%) 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 22/02/95 N = 116 C3 C4 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 29/03/95 N = 120 C3 C4 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 28/04/95 N = 48 C3 C4 Frequnciarelativa(%) 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 30/05/95 N = 61 C4C5 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 29/06/95 N = 96 C4 C5 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 26/07/95 N = 41 Comprimento ceflico (mm) Comprimento ceflico (mm) Comprimento ceflico (mm) Figura 17 (continuao) - Evoluo da estrutura da populao de Cyathura carinata, na zona mais eutrofizada, de 25 de Fevereiro de 1993 a Setembro de 1995. Encontram-se assinaladas as respectivas coortes identificadas (C) e o nmero de indivduos da amostra (N). 60. Resultados 51 Frequnciarelativa(%) 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 28/08/95 N = 103 C4 C5 0 10 20 30 40 50 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2,0 27/09/95 N = 283 C4 C5 Comprimento ceflico (mm) Comprimento ceflico (mm) Comprimento ceflico (mm) Figura 17 (continuao) - Evoluo da estrutura da populao de Cyathura carinata, na zona mais eutrofizada, de 25 de Fevereiro de 1993 a Setembro de 1995. Encontram-se assinaladas as respectivas coortes identificadas (C) e o nmero de indivduos da amostra (N). Foi possvel reconhecer a existncia de cinco coortes, ao longo do perodo de estudo, tendo sido estimados, a cada instante, os seus comprimentos ceflicos mdios e respectivos desvios padro (Figura 18). C-coortes 0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70 0,80 0,90 1,00 1,10 1,20 1,30 1,40 J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N D J F M A M J J A S O N Comprimentoceflico(mm) C1 1993 1994 1995 C5 C5 C4 C4 C3 C3 C2 C2 C1 Figura 18 - Crescimento linear das coortes (C) (comprimento ceflico mdio desvio padro) de Cyathura carinata, na zona mais eutrofizada, de 11 de Janeiro de 1993 a 27 de Setembro de 1995. Um dos primeiros resultados, a ser evidenciado, refere-se ao facto da populao de Cyathura carinata se ter reproduzido uma nica vez, por ano, no esturio do Mondego. Esta observao foi confirmada pelo aparecimento das novas coortes C3, C4 e C5 em 1993, 1994 e 1995, respectivamente. Estas foram detectadas 61. Resultados52 com os comprimentos ceflicos mdios de 0,1825, 0,2229 e 0,2275 mm, correspondentes aos comprimentos totais de 2,3895, 2,7553 e 2,7949 mm. Segundo esta linha de raciocnio, as coortes C1 e C2 devero equivaler, respectivamente, aos recrutamentos ocorridos em 1991 e 1992 (Figura 18). 3.4 - Durao do ciclo de vida A durao de vida de Cyathura carinata, no esturio do Mondego, foi avaliada em funo do seguimento das coortes detectadas atravs da anlise modal (Figura 18). A coorte C3 foi a nica que permitiu um clculo directo, tendo vivido durante 23 meses. A idade das restantes foi estimada com base no aparecim