impacto ambiental da exploraÇÃo de petrÓleo … · criação do conselho nacional do petróleo...

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GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTADUAL DA ZONA OESTE IMPACTO AMBIENTAL DA EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO OFFSHORE NO BRASIL Marcelo Ferreira Xavier Rio de Janeiro 2011.

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GOVERNO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO

SECRETARIA DE ESTADO DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

CENTRO UNIVERSITÁRIO ESTADUAL DA ZONA OESTE

IMPACTO AMBIENTAL DA EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO

OFFSHORE NO BRASIL

Marcelo Ferreira Xavier

Rio de Janeiro

2011.

ii

MARCELO FERREIRA XAVIER

Aluno do Curso de Tecnologia em Construção Naval

Matrícula 0723800037

IMPACTO AMBIENTAL DA EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO

OFFSHORE NO BRASIL

Trabalho de Conclusão de Curso, TCC, apresentado

ao Curso de Graduação em Tecnologia em

Construção Naval, da UEZO, como parte dos

requisitos para a obtenção do grau de Tecnólogo em

Construção Naval.

Orientadora: Ana Rosa da Silva Santos.

Rio de Janeiro

junho de 2011.

i

IMPACTO AMBIENTAL DA EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO

OFFSHORE NO BRASIL

Elaborado por Marcelo Ferreira Xavier

Aluno do Curso de Tecnologia em Construção Naval da UEZO

Este trabalho de Graduação foi analisado e aprovado.

Rio de Janeiro, de de 2011.

_____________________________________

Prof. Júlio César de Carvalho Lourenço

_______________________________________

Carlos Alberto Martins Ferreira- D.Sc.

_____________________________________

Ana Rosa da Silva Santos- M.Sc

Presidente

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

JUNHO DE 2011.

ii

EPÍGRAFE

‘A glória da amizade não é a mão estendida, nem o sorriso carinhoso, nem mesmo a delícia da

companhia. É a inspiração espiritual que vem quando você descobre que alguém acredita e

confia em você. ‘

(Ralph Waldo Emerson)

iii

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus em primeiro lugar por me conservar saudável e me acompanhar em todos os

momentos dessa caminhada;

Ao meu irmão Dr. Julio Cesar que sempre me foi um exemplo de esforço e dedicação;

A minha irmã, Profa. Ana Paula, que me orgulha muito;

Ao meu sobrinho Gabriel que me revitaliza com sua força;

Ao meu filho Matheus que eu não tenho um adjetivo para descrever, quem participou e sofreu

junto nas horas mais difíceis, mas que com seu olhar fazia tudo ficar mais fácil;

A minha esposa Maria Consolação que sempre acredita mais do que eu;

Aos meus professores pela confiança, dedicação e sabedoria;

Aos colegas que sempre estiveram de mãos estendidas;

Ao meu Pai Arlindo e minha Mãe Leolita que com a permissão de Deus me deram o dom da

vida.

iv

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho aos meus pais Arlindo e Leolita, por todo amor e

dedicação com que me educaram e me puseram no caminho da honra e

da verdade, possibilitando com que hoje eu possa estar aqui fazendo

essa homenagem a eles que sempre foram meus alicerces e

incentivadores sempre compreensivos com minhas dificuldades, mas

perseverantes e confiantes na vitória.

v

RESUMO

O presente trabalho tem como principal foco o impacto ambiental causados pelas plataformas

de petróleo sob a ótica do desenvolvimento sustentável. Em linhas gerais destacando a

prospecção de petróleo e a preservação da natureza para que o Brasil prossiga na exploração

de suas riquezas naturais destacando-se entre maiores produtores, procurando paralelamente

proteger e preservar o meio ambiente. Analisando todo o processo de exploração de petróleo

deve-se atentar para vários aspectos de segurança e prevenção que vão desde a instalação de

uma plataforma até o refino com a liberação de poluentes para a atmosfera. Nos aspectos

legais aborda-se a legislação ambiental vigente e os tratados assinados visando a

sustentabilidade do processo.

Palavras-chave: Impacto ambiental. Desenvolvimento sustentável. Sustentabilidade.

Preservação.

vi

LISTA DE FIGURAS

Fig. II.1 Bacia de Campos (Petrobrás 2000) ...........................................................................19

Fig. II.2 Lâminas d´água dos principais campos da Bacia de Campos.....................................19

Fig. II.3 Estágio final do desenvolvimento do campo de Marlim ...........................................22

Fig. II.4 Fase 1 do desenvolvimento do campo de Marlim sul (Petrobrás 2000) ....................24

Fig. III.1 Marpol .......................................................................................................................38

Fig. IV.1 Meio Ambiente .........................................................................................................40

vii

QUADRO

II.1 ............................................................................................................................................15

viii

SUMÁRIO

I- Introdução…………………………………………………………………………9 II- Exploração de Petróleo no Brasil.........…………………………………………...11

II-1 Histórico.........………………………………………………………………..11

II-2 Histórico da Exploração de Produção Offshore...............................................14

II -.2.1 Bacia de Campos..................................................................................17

II - 2.2 Campo de Garoupa e Marimba.............................................................20

II - 2.3 Campo de Marlim.................................................................................21

II - 2.4 Bloco de Marlim Sul e Leste................................................................23

II - 2.5 Campos de Barracuda e Caratinga........................................................25

II - 2.6 Campo de Roncador.............................................................................25

II - 2.7 Campos de Albacora e Albacora Leste................................................26

II - 2.8 Campos de Pargo, Carapeba e Vermelho.............................................27

II - 2.9 Campos de Cherne e Frade..................................................................27

II - 2.10 Campo de Espadarte...........................................................................28

II - 2.11 Bacia de Santos..................................................................................30

II - 2.12 Bacia Amazônica................................................................................31

II - 2.13 Bacia do Espírito Santo......................................................................31

III- Impacto Ambiental..................................................................................................32

III – 1 Aspectos Legais...........................................................................................32

III – 2 Licenciamento Ambiental............................................................................35

III – 3 Processo de Avaliação de Impacto Ambiental.............................................38

III – 4 Tratado de Marpol.......................................................................................38

IV- Desenvolvimento Sustentável..................................................................................40

V- Conclusão...............................................................................................................45

VI - Referências Bibliográficas.......................................................................................46

9

1 INTRODUÇÃO

Os restos dos seres vivos marinhos ficam no fundo dos oceanos e conforme vão se

acumulando, sob a pressão e a temperatura transformam os organismos mortos em

hidrocarbonetos. Se a temperatura for elevada, as moléculas do hidrocarboneto tornam-se

voláteis, formando gases, como o metano (CH4) sendo seu principal constituinte. Depois de

formados, o petróleo e o gás, microscópicos situados em sedimentos acima, até passarem para

uma camada impermeável ou camada rochosa de maior densidade, formando uma jazida.

Após a exploração de áreas onshore (em terra), as operadoras passaram a procurar

petróleo em reservatórios abaixo do solo marinho. As primeiras plataformas offshore foram

instaladas no Golfo do México – EUA há mais de 50 anos.

No final dos anos 60 e começo dos anos 70, depois da crise de petróleo devido aos

conflitos no Oriente Médio, houve um salto muito importante e considerável em novas

técnicas e recursos utilizados na prospecção, perfuração, produção e transporte offshore.

Mais de 9.200 plataformas de produção de petróleo e gás estão pontuando os mares em

várias partes do mundo, como pequenas ilhas de aço. Atualmente, suprem mais de 60% das

necessidades mundiais de energia, utilizadas em transporte, aquecimento de casas, escolas,

hospitais e demais atividades.

O trabalho demonstra com isso um novo instrumento jurídico-político, no sentido de

reforçar os instrumentos legais existentes para garantir o desenvolvimento sustentável nas

atividades de exploração e produção de petróleo e gás natural, como a avaliação de impactos

ambientais e o licenciamento de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras, buscando-se

identificar os impactos ambientais das atividades de exploração e produção de petróleo e gás

natural a partir de estudos ambientais (Estudo de Impacto Ambiental – EIA e Relatório de

Avaliação Ambiental – RAA), constantes nos procedimentos de licenciamento ambiental

protocolados na Coordenação Geral de Licenciamento de Petróleo e Gás (CGPEG/IBAMA).

O trabalho evidencia dois conceitos fundamentais que contribuem para prevenir o

esgotamento do reservatório em virtude das atividades de exploração de petróleo e gás natural.

10

Entende-se “Impacto Ambiental” como qualquer alteração no ambiente causada por

atividades antrópicas e “recurso não renovável” como sendo finito em escala de tempo

humana, ou seja, que uma vez consumido, não pode ser renovado. Através dessa idéia busca-

se contribuir para uma revisão na avaliação de impactos ambientais dos empreendimentos de

exploração de petróleo e gás natural e também a implantação de políticas públicas de incentivo

ao uso de fontes alternativas e de controle do consumo de energia.

Para esse controle do consumo de energia a sustentabilidade no uso dos recursos

naturais deve ser vista como modelo de desenvolvimento capaz de assegurar condições

normais de sobrevivência das futuras gerações humanas e de todas as formas de vida com o

princípio de direito e dever que rege a idéia de desenvolvimento sustentável.

11

EXPLORAÇÃO DE PETRÓLEO NO BRASIL

1 HISTÓRICO

O histórico da produção de petróleo no Brasil pode ser dividida em quatro períodos:

1- Primeiro Período: 1.858 – 1.938;

2- Segundo Período: 1.938 – 1.953;

3- Terceiro Período: 1.953 – 1.996;

4- Quarto Período: 1.996 – até hoje.

1.1 Primeiro Período (1.858 – 1.938).

Até 1938, as explorações estavam sob o regime da livre iniciativa. Neste período, a

primeira sondagem profunda foi realizada entre 1.892 e 1.896, no município de Bofete –

SP.

A história do petróleo no Brasil começou na Bahia, em 1.858, com o decreto n° 2.266

assinado pelo Marquês de Olinda, concedendo a José Barros Pimentel o direito de extrair

mineral betuminoso para fabricação de querosene de iluminação.

Somente setenta anos depois (1.930), após vários poços perfurados sem sucesso em

alguns Estados brasileiros, tomou-se conhecimento que os moradores da cidade de

Lobato – BA usavam uma lama preta e oleosa para iluminar suas residências. No

entanto, somente em 1.933, a descoberta atraiu o interesse da bolsa de Mercadorias da

Bahia, que passou a empreender campanhas visando extração comercial de petróleo.

Após quatro anos de debates acalorados nos meios de comunicação, o departamento

Nacional de produção Mineral (DNPM), resolveu perfurar poços na região de Lobato.

12

1.2 Segundo Período (1.938 – 1.953).

Época em que houve a nacionalização das riquezas do nosso subsolo pelo Governo e a

criação do Conselho Nacional do Petróleo (CNP), em 1.938.

Em 29 de julho de 1.938, já sob a jurisdição do recém-criado CNP, foi iniciada a

perfuração do poço DNPM-163, em Lobato, que viria a ser o descobridor do petróleo no

Brasil. Apesar de ter sido considerado antieconômico, este poço foi de suma importância

para o desenvolvimento da atividade petrolífera no Estado da Bahia. A partir do

resultado desse poço, houve uma grande concentração de esforços na Bacia do

Recôncavo, resultado na descoberta da primeira acumulação comercial de petróleo do

país, o campo de Caldeias, em 1.941. Este campo ainda estava produzindo em 2.001.

1.3 Terceiro Período (1.953 – 1.996).

Estabelecimento do Monopólio estatal, durante o governo do Presidente da República

Getúlio Vargas, que a 3 de outubro de 1.953, promulgou a lei 2.004, criando a Petrobrás.

A produção de Petróleo no país após o esforço da CNP, rapidamente atingiu a marca de

25.000 bpd. Embora expressivo, este valor era muito baixo quando comparado à

demanda.

Assim em 1.953, o país via-se sem produção de petróleo e capacidade de refino em

escala suficiente para atender ao mercado nacional. É bom lembrar que, os rendimentos

da atividade no país estavam na distribuição de derivados, praticamente todo ele

realizado por multinacionais. Portanto, não havia a geração interna de recursos para se

investir no petróleo. Por outro lado, o lucro na atividade de petróleo no mundo estava na

transformação, em refinarias dos países ricos, do óleo barato do Oriente Médio e seu

manuseio até as distribuidoras de países importadores de derivados, que pagavam preços

considerados elevados por esses produtos.

Com a instalação da Petrobrás, em 10 de maio de 1.954, O Brasil trilhou um caminho

diferente no desenvolvimento de sua indústria petrolífera.

13

1.4 Quarto Período (1996 até hoje).

A maior mudança no setor petrolífero no Brasil, quando após 40 anos o monopólio

exercido pela Petrobrás foi revogado pelo congresso brasileiro (Emenda Constitucional

n°09, de 9/11/96). Desta forma, a Petrobrás não exerce mais o monopólio sobre o setor,

sendo agora responsabilidade do governo federal, e administrado por uma agência

reguladora (ANP – Agência Nacional de Petróleo). Novas concessões de óleo e gás são

diretamente concedidas a companhias nacionais e internacionais.

Após promulgada, a nova legislação está atraindo interesse de empresas petrolíferas

internacionais. A maioria pretendendo participar na proporção upstream, e em parceria

com a Petrobrás.

Embora a Petrobrás não exerça mais o monopólio sobre o mercado, até apresente data,

continua a ser principal operadora produzindo na Bacia Continental Brasileira no setor

Offshore.

14

2. HISTÓRICO DA EXPLORAÇÃO DE PRODUÇÃO OFFSHORE.

A exploração de Petróleo de reservatórios situados na área offshore no Brasil iniciou-se

em 1.968, na Bacia de Sergipe-Alagoas, campo de Guaricema situado em lâmina d’água

(LDA) de aproximadamente 30 metros na costa do Estado de Sergipe, na região

Nordeste.

Para o desenvolvimento na Bacia de Sergipe-Alagoas, aplicaram-se as técnicas

convencionais da época para campos de médio porte: plataformas fixas de aço, cravadas

por estacas. Eram projetadas somente para produção e teste de poços, interligados por

uma rede de oleodutos multifásicos e, a uma estação de separação e tratamento de fluídos

localizada em terra.

As primeiras plataformas, instaladas nos campos de Guaricema, Caioba, Camorim e

Dourado, eram, com pequenas variações, do tipo padrão: quatro pilares, convés duplo,

guias para até seis poços, sistema de teste de poços e de segurança. A perfuração e a

completação dos poços eram executadas por plataformas auto-elevatórias posicionadas

junto à plataforma fixa.

Posteriormente, a perfuração dos poços passou a ser feita, também, por sondas

moduladas instaladas diretamente no convés superior das plataformas e assistidas por

navios.

Nos anos seguintes, com o aumento da atividade, não só na costa de Sergipe, como

também na de Alagoas, do Rio Grande do Norte e do Ceará, a Petrobrás decidiu

desenvolver projetos próprios de plataformas que atendessem às características de

desenvolvimento dos campos. Este esforço resultou em 3 projetos de plataformas fixas

distintos, conhecidas como plataformas de 1ª, 2ª e 3ª Famílias.

15

Quadro II.1 Características das famílias de plataformas (Petrobrás, 2000).

As plataformas de 1ª Família eram similares as plataformas de fixas iniciais e foram

desenhadas para terem até 6 poços de produção, podendo ser instaladas em LDA de até

60 m; se necessário com um pequeno módulo para acomodação de pessoal.

As plataformas de 2ª Família comportavam a produção de até 9 poços, permitiam a

separação primária de fluídos produzidos. Possuíam também sistema de transferência de

óleo, testes de poços, segurança, utilidades e acomodação de pessoal.

As plataformas de 3ª Família possuíam a estrutura mais complexa permitiam a

perfuração e completação de até 15 poços, e as instalações de produção podiam conter

uma plataforma de processo completa (testes, separação, tratamento e transferência de

fluídos), sistema de acomodação de pessoal. As plataformas de 3ª Família tinham as

características necessárias para atuarem como plataformas Centrais.

Em 1.975, para desenvolvimento dos campos de Ubarana e Agulha, no Rio Grande do

Norte, alem das plataformas de aço convencionais, decidiu-se pela utilização de

plataformas de concreto gravitacionais (CGS – Concrete Gravity Structure), segundo

projeto do consórcio franco-brasileiro. As CGS, que tiveram grande utilização no Mar do

Norte, tem uso limitado na área offshore brasileira a pequenas lâminas d’água.

Foram utilizadas 3 destas plataformas: duas no campo de Ubarana, e uma no de agulha.

Com base na concepção original, cada plataforma comportava a perfuração e a

completação de até 13 poços, separação, tratamento, armazenamento e transferência de

16

óleo, compressão de gás alem dos sistemas de utilidades, segurança e alojamento de

pessoal. As plataformas, em formato de caixa, têm um convés único medindo cerca de

2.500 m², além de um espaço interno chamado de ‘’galeria técnica’’, para instalação de

bombas de transferência, sistema de lastro e tratamento/descarte de água produzida. A

planta de processo de cada plataforma comportava uma produção de 5.000m³/d de óleo e

a capacidade de armazenamento do tanque era de 2.0000 m³. A altura total da plataforma

era de 25m, instalada em LDA aproximada de 13 metros.

17

II – 2.1 Bacia de Campos

Em 1974 houve a primeira descoberta de petróleo na Bacia de Campos atualmente

a principal província petrolífera do Brasil, localizada na parte marítima do Estado

do Rio de Janeiro, na região Sudeste do país.

Entretanto a atividade só começou em agosto de 1.977, com a segunda descoberta

do Campo de Enchova, em LDA de 120 metros. Até aquele ano, as atividades de

produção offshore no Brasil limitaram-se as áreas do Nordeste brasileiro em

lâminas d’água inferiores a 50 metros.

O Campo de Garoupa, primeiro a ser descoberto localizado, também localizado

em lâmina d’água de 120 metros, somente entrou em produção em 1.979,

juntamente com o de Namorado, em LDA de 160 metros. Apesar de se tratar de

campos com potencial superior aos campos marítimos do Nordeste, a utilização de

sistema de produção com plataformas fixas de riser rígidos não era

economicamente viável por serem isolados e muito distantes do litoral, cerca de 80

km.

Além disso, soma-se a crise do petróleo, pressão conjuntural corroborou para o

nascimento de um novo conceito de explotação: O Sistema de Produção

Antecipada (EPS – Early Production System). Sistema capaz de antecipar a

produção, e ao mesmo tempo, fornecer dados detalhados sobre o reservatório.

Dados que foram então usados para o projeto do Sistema Definitivo de Exploração

que, uma vez no local, permita o emprego EPS em outra área.

Embora à época este fosse o segundo sistema flutuante de produção no mundo,

pelo seu elevado grau de segurança, aliado ao baixo custo, fez com que o conceito

ganhasse força no Brasil. Uma evolução natural deste sistema foi a completa

conversão das plataformas semi-submersíveis de perfuração em unidades

flutuantes de produção, que tem sido mundialmente seguido após esta experiência

de sucesso.

Paralelamente a utilização do EPS, foi desenvolvida a implantação de um sistema

definitivo de produção, que compreendeu o projeto, a fabricação, o transporte, a

instalação e a montagem de 7 plataformas fixas de aço, de grande porte e o

18

projeto, a fabricação e o lançamento de aproximadamente 500 km de oleodutos

rígidos no mar e 500 km em terra, para escoamento de óleo e gás.

Em 1.983, as plataformas do sistema Definitivo de Explotação (SDE) da Bacia de

Campos forma instaladas em LDA variando entre 110 e 175 metros e concebidas

segundo dois tipos principais:

Plataformas Centrais: Tipo de estrutura fixa de aço, cravadas por estacas, com 8

pilares. Utilizada pra perfuração e produção de poços, sendo equipadas com

plantas completas de processo da produção, sistema de tratamento e compressão

de gás, sistemas de segurança e utilidades e acomodação de pessoal. A capacidade

de produção dessas plataformas varia de 15000 a 362000 m³/d de óleo (95.000 a

200.000 bpd).

Plataformas Satélites: Semelhantes às plataformas centrais, porém com a planta

de processo da produção compreendendo apenas um estágio de separação primária

de fluídos produzidos. A capacidade varia de 8000 a 100000 m³/d de óleo (50.000

a 63.000 bpd).

Em 1.984, o campo de Albacora foi descoberto seguido por: Marimbá (1.985),

Marlin (1.985), Marlin Sul (1.987), Marlin Leste (1.987), Barracuda (1.989),

Caratinga (1.989) e Roncador (1.996). Esses campos estão situados em lâminas

d1água superiores a 300 metros (profundidades limite para o uso de

mergulhadores na instalação, operação e manutenção de equipamentos

submarinos), o que demandou o desenvolvimento de tecnologia pioneira.

19

Fig. II.1 Bacia de Campos (Petrobrás 2000)

Fig. II.2 Lâminas d´água dos principais campos da Bacia de Campos

20

2.2 Campo de Garoupa e Marimba

O campo de Garoupa conta com 23 poços produzindo 10 mil bpd de óleo e 300 mil m³/d

de gás natural. Foi o primeiro campo a ser descoberto na Bacia de Campos, em 1.974,

em LDA de 120 metros, quando ainda não se produzia a esta profundidade em nenhum

país do mundo. No campo de Garoupa, a plataforma PGP-1 tem importância estratégica

na Bacia de Campos por centralizar o escoamento da produção das áreas norte (campos

de Namorado, Cherne e Viola) e nordeste (campos de Pargo, Carapeba e Vermelho).

Já o campo de Marimbá, localizado em lâminas d’água que variam entre 350 e 650

metros, pode ser considerado um verdadeiro laboratório onde a tecnologia de redução

em águas profundas criou o sistema flutuante de produção: plataforma semi-

submersível. Neste campo, ele foi testado e colocado em produção.

Instalado em 1.986, o sistema consiste de uma plataforma semi-submersível (P-15)

situada em LDA de 243 metros, que recebe e processa a produção de 11 poços

produzindo 10 mil bpd de óleo e 300 mil m³/d de gás natural Em 1.985, um dos poços

desse sistema, o 1-RJS-24 estabeleceu o recorde mundial de completação submarina a

385 metros. Em 1.968, o poço 3-RJS_376 entrou em produção em LDA de 492 metros,

estabelecendo novo recorde mundial.

Atualmente, o campo de Marimbá conta com 18 poços produzindo cerca de 54 mil bpd

de óleo e 745 mil m³/d de gás. Além disso, está em desenvolvimento um projeto de

recuperação de óleo, avaliado em US$ 395 milhões, com perfuração de 15 novos poços.

Isto possibilitará um incremento de produção de 106,9 milhões de barris ao longo de

oito anos.

21

2.3 Campo de Marlim

O Campo de Marlim ocupa uma are de 132 km³ localizado a 105 km da costa, com

lâminas d’água variando de 650 a 1.050 metros. Descoberto em 1.985, sua produção foi

iniciada em 1.991 através de um sistema ‘pré-piloto’. Este sistema utilizava uma sonda

de perfuração adaptada (P-13) ancorada em LDA de 625 metros, com 2 poços em

produção, em 721 e 752 metros de LDA respectivamente e, uma monobóia para

armazenamento de óleo.

O sistema piloto instalado em 1.992, que visava substituir o sistema pré-piloto,

compreendia 10 poços submarinos interligados através de risers flexíveis à plataforma

semi - submersível (P-20).

Ancorada em LDA de 600 metros. O óleo era escoado para duas monobóias e gás

exportado através de gasoduto entre Albacora e Garoupa.

Devido à complexidade do projeto, o desenvolvimento foi dividido em duas fases (5

módulos).

A fase I (módulos 1 e 2), de Marlim compreende 2 sistemas flutuantes de produção,

baseado em plataformas semi-submersíveis (P-18 e P-19), com autonomia de processo,

injeção de água, escoamento de óleo para a estação de tratamento de óleo em Cabiúnas

e do gás para a plataforma PNA-1. Cada plataforma tem a capacidade de processar

100.000 bpd de óleo e 4,2 milhões m³/d de gás, além de sistema de injeção para 20.000

m³/d.

A fase II (módulos 3,4 e 5), e que se iniciou em 1.995, está desenvolvendo as áreas

sudeste e centrais do campo. Consiste da instalação de quatro unidades adicionais de

produção, sendo uma plataforma semi-submersível (P-26) e três FPSO (p-32 –

Visconde de Cairu; P-33 – Henrique Dias; P-35 José Bonifácio). No total, o campo irá

abranger 94 poços de produção e 51 de injeção para produzir 511.000 bpd de óleo e 5,9

milhões de m³/d de gás.

22

Fig. II.3 Estágio final de desenvolvimento do campo de Marlim, que incluirá 7FPP

(Floating Production Plataforms) e 1 FSU ( Floating Storage Unit ) ( Petrobrás,

2.000).

23

2.4 Bloco de Marlim Sul e Leste

O bloco de Marlim sul foi descoberto em 1.987, localizado a 110 km da costa Nordeste

do Estado do Rio do Janeiro, a LDA varia de 720 metros na área norte até 2.600 metros

na área sul do campo. Cerca de 80% da área do campo está em LDA maiores que 1.200

metros.

Em 1.997, foi instalado um sistema de produção antecipada, composto pela unidade

FPSO-II, em LDA de 1.420 metros, interligada a um poço produtor, a 1.709 metros de

LDA. À época, este poço estabeleceu o recorde mundial de LDA para completação

submarina.

O desenvolvimento do bloco será feito em duas fases:

A Fase I consiste no sistema de produção pré-piloto, com completação submarina. Este

poço produz para a FPSO ancorada a LDA de 1.420 metros e uma distância de 3.600

metros da cabeça do poço (figura II-3).

A fase II consiste de uma plataforma semi-submersível (P-40, antiga DB-100)

atualmente em conversão, que será ancorada em LDA de 1800 metros e atingirá uma

produção de 150.000 bpd de óleo e 2,5 milhões de m³/d de gás. Essa produção será

exportada através de uma unidade de estocagem e transbordo (FSO), também em

estágio de conversão (P-38). Esta fase irá abranger 1 ou 2 unidades de produção,

dependendo de avaliações adicionais do poço, sísmica, interpretação geológica e

desempenho do sistema de produção antecipada.

24

Fig. II.4 Fase I do desenvolvimento do campo de Marlim Sul ( Petrobrás 2000).

Nos próximos anos, a segunda fase do projeto deverá entrar em operação, sendo

constituída de dois novos módulos, operando em reservatórios em LDA de 1.500 a

2.600 metros, respectivamente.

Para o bloco de Marlim Leste, está prevista a conexão de um poço desta área a alguma

das unidades instaladas no complexo de Marlim. Para levantamento de dados e um

futuro desenvolvimento do campo.

25

2.5 Campos de Barracuda e Caratinga

Os campos de Barracuda e Caratinga foram descobertos em 1.989. Estão localizados a

sudoeste do campo de Marlim, em LDA de 600 a 1.300 metros. O projeto de

desenvolvimento desses dois campos consiste de três fases:

1- Sistema de produção antecipada;

2- Sistema definitivo de Barracuda;

3- Sistema definitivo de Caratinga.

O sistema de produção antecipada começou a produzir em 1.997 através da FPSO P-34

(PP Moraes) em LDA, a ser instalado em 2.002. O sistema compreenderá 13 poços

produtores e 11 injetoras, com uma produção de 100.000 bpd e 1,4 milhão m³/d de gás.

A produção desses 2 sistemas será exportada através das plataformas fixas PNA-1 (gás)

e PNA-2 (óleo).

2.6 Campo de Roncador

Descoberto e em 1.996, o campo de Roncador está localizado a 125 km da costa do

Estado do Rio de Janeiro e possui reservas estimadas em 3 bilhões de barris de óleo e

gás natural. Com uma área de 132 km², situa-se em LDA de 1.500 a 2000 metros. Está

a nordeste do campo de Albacora e a leste do campo de Frade. O sistema piloto de

Roncador está em produção desde 1.999. O plano de desenvolvimento compreende duas

fases, com investimentos totais de US$ 2 bilhões. Primeiramente, concentrar-se-á nas

áreas norte e leste do reservatório; posteriormente, desenvolver-se-á a área sudoeste,

com LDA variando de 1.500 a 1.800 metros.

Em 2.000, aconteceu o recorde de produção em profundidade em Roncador a LDA de

1.987 metros. A sua produção atual é de 90 mil bpd.

26

2.7 Campos de Albacora e Albacora Leste

O Campo de Albacora ocupa uma área de 15 km² em LDA de 230 a 1.000 metros, suas

reservas totalizam 550 milhões de barris de óleo e 11,7 bilhões de m³ de gás natural. Já

o campo de Albacora Leste, possui reservas de 700 milhões de óleo e 20 bilhões de m³

de gás natural.

Seu desenvolvimento foi dividido em três fases. Cada fase foi usada para fornecer

informações, testar novos conceitos e permitir fluxo de caixa inicial para financiar as

fases seguintes.

Na fase 1 (sistema piloto/1.987), este sistema compreendeu 6 poços conectados a um

manifold submarino, produzindo para uma unidade flutuante de produção,

Armazenagem e Descarregamento (FPSO-PP Moraes) e monobóia CALM, numa

configuração de Single Buoy Storage (SBS - rigidamentente conectada ao navio

tanque), ancorados a 230 metros de LDA. Os transbordos de óleo forma conduzidos

através da monobóia SBS para um navio tanque, ligado a uma segunda monobóia SBS

usada nesse sistema estabeleceu novo recorde mundial naquela época.

Na fase 1A (1.990), outros 11 poços e um segundo manifold submarino foram

adicionados ao Sistema Piloto, totalizando 17 poços de produção. A LDA máxima que

os poços de produção atingiram foi de 450 metros. Uma segunda monobóia foi

adicionada a fim de evitar interrupção na produção durante as mudanças de navio

tanque.

A fase 2 (1.996) abrange 46 novos poços escoando através de 5 manifolds para dois

sistemas flutuantes de produção (P-25, plataforma semi-submersível, e P-31, FPSO),

cada um com capacidade de processamento de 100.000 bpd. O óleo é exportado por

monobóia e o gás por gasoduto.

O sistema abrange 63 poços (57 de produção e 6 de injeção), 7 manifolds submarinos e

deverá produzir 170.000 bpd de óleo e 4,5 milhões de m³/d de gás.

27

2.8 Campos de Pargo, Carapeba e Vermelho

O desenvolvimento do pólo nordeste da bacia de campos, abrangendo estes três campos

começou a ser realizado em 1.989 com 7 plataformas. O potencial do pólo só foi

conhecido em 1.984, com a descoberta de reservatórios em águas profundas, com LDA

de 300 a 1.000 metros.

A produção é de cerca de 70 mil bpd de óleo e 300 mil m³/d de gás natural.

Seis plataformas fixas estão instaladas na área – captando a produção de 78 poços. Um

programa de ampliação da produção está em andamento, estimado em US$ 55 milhões,

para gerar 62,9 milhões de barris ao longo de 10 anos, o que permitirá a extensão da

vida útil do campo em 10 anos (2.007-2.017).

2.9 Campos de Cherne e Frade

Em operação desde 1.983, o campo de Cherne produz pouco mais de 27 mil bpd de óleo

e uma quantidade inexpressiva de gás natural. Com um projeto de injeção de água nos

30 poços existentes, espera-se agregar 16 milhões de barris ao longo de cinco anos. O

projeto exigirá investimentos na ordem de US$ 33 milhões e permitirá estender o tempo

de vida útil do campo (Petrobrás, 2.000).

O campo de Frade deverá consumir investimentos da ordem de US$ 1,4 bilhões para

produzir 125 mil bpd de óleo através de 33 poços (22 produtores e 11 injetores). Possui

reservas estimadas em 430 milhões de barris de petróleo e 4,3 bilhões de m³ de gás

natural, localizados em LDA entre 1.000 e 1.500 metros (Texaco, 2.000).

28

2.10 Campo de Espadarte

O campo de Espadarte, em LDA que variam de 800-940 metros, está localizado a leste

dos campos de Bonito e Bicudo, ao sul do campo de Marimbá. Está em

desenvolvimento através de uma FPSO equipada por SBM. A vida do campo está

estimada em 13 anos, onde se desenvolveram 21 poços de produção e 9 de injeção.

O estaleiro de Keppel, em Singapura ficou encarregado pela conversão da FPSO VI

para o campo de Espadarte. A FPSO Espadarte mede 344 metros de comprimento e 52

metros de largura. Sua profundidade é de 29 metros e o seu calado é de 22 metros. A

capacidade de armazenamento de óleo é de 1,9 milhões de barris. A capacidade de

produção é de 100.000 bpd de óleo e 50.000 bpd de água. A sua capacidade de

tratamento e compressão de gás é de 2,5 milhões de m³/d, podendo injetar 110.000 bpd

de água.

Os topsides da FPSO possuem 17 módulos separáveis localizados ao longo do sistema

central de tubulações. Depois de instalados, a monobóia foi então localizada e o turret

afixado ao casco da embarcação. O turret, construído em Abu Dhabi, possui 30 metros

de altura, 17 metros de diâmetro e pesa mais que 1.000 ton. Foi projetado para

comportar mais de 45 risers flexíveis, incluindo umbilicais e cabos elétricos.

O swivel inclui uma entrada para injeção de água de 12 polegadas (in); uma entrada

para produção de óleo de 14 in; uma entrada para água contra incêndios de 10 in; uma

entrada para teste de produção de 8 in; duas entradas de 6 in para exportação de gás ou

gás lift; duas conexões elétricas (potência e controle); duas conexões hidráulicas ou

utilidades.

A partir das descobertas iniciadas em 1.974, na Bacia de Campos assumiu a posição de

principal província petrolífera do país. Nessa área existem hoje 37 campos produzindo

cerca de 880.000 bpd de óleo (76% da produção nacional) e 15 milhões de m³/d de gás

(47%) através de 14 unidades fixas e 22 flutuantes.

Conclui-se que em 31 anos de atividades offshore, a produção no mar tornou-se vital

para o Brasil, passando a responder por cerca de 80% do total produzido no país no

início de 1.999, ou seja: cerca de 1 milhão de bpd provenientes de 74 plataformas fixas

e 23 flutuantes.

Nesse período, a Petrobrás instalou, ainda, mais de 300 árvores-de-natal submarinas, 40

manifolds submarinos e 5.000 km de linhas flexíveis, rígidas e umbilicais de controle.

29

Espera-se aumento significativo nas atividades nos próximos dois anos, com a

instalação de 12 novas unidades flutuantes de produção e mais de 180 árvores-de-natal,

6 manifolds e 1.900 km de linhas umbilicais.

30

2.11 Bacia de Santos

Desde 1.971 foram perfurados na Bacia de Santos mais de 100 poços exploratórios,

sendo 29 realizados por seis consórcios que englobavam 12 companhias estrangeiras

atuando sob contratos de risco em 22 blocos, incluindo cinco das principais operadoras

mundiais. Neste processo, foram investidos US$ 851,4 milhões (US$ 267,1 milhões

pelas companhias sob o contrato de risco). O resultado foi a descoberta de reservas

totais de 110,7 milhões boe. Nesta etapa, em 1.984, foi descoberto o campo de gás em

Merluza com volumes recuperáveis de 71 milhões boe (80% de gás), dos quais 28

milhões já foram produzidos.

As descobertas seguiram-se:

• Em 1.988, o campo de Tubarão;

• Em 1.990, os campos de Estrela do Mar e Coral;

• Em 1.992, o campo de Caravela;

• Em 1.994, o campo de Caravela do Sul.

Além destes campos, descobriram-se duas grandes acumulações de óleo em águas

profundas: um gigante de óleo pesado ao norte da bacia, em 1.994; e outra na região

central da bacia, em 1.995, com óleo leve, porém, subcomercial devido á qualidade do

reservatório.

Em julho de 1.999, descobriu-se óleo no nordeste da bacia de Santos, em um poço

pioneiro localizado a cerca de 300 km da cidade de são Sebastião, no litoral paulista. A

avaliação da descoberta revelou óleo de boa qualidade (35° API), mas em águas ultra

profundas. Cálculos preliminares indicaram volumes recuperáveis potenciais de óleo da

ordem de 600 a 700 milhões de barris, a serem comprovados com a continuidade dos

trabalhos exploratórios (Petrobrás, 2.000).

No sul da bacia descobriram-se outros quatro campos, com reservas de 110 milhões

boe.

31

2.12 Bacia Amazônica

Possui apenas um campo produtor de óleo, urucu, de onde são extraídos 35,2 mil bpd de

óleo e 1.88 milhões m³/d de gás natural. Com processamento desse gás são obtidos

aproximadamente 130 ton/d de gás de cozinha (GLP). A produção de Urucu é escoada

através de poliduto e gasoduto até o terminal fluvial de Solimões e, então, por balsas até

as refinarias de Manaus a 600 km.

As reservas totais da região chegam a 156,9 milhões de barris de óleo e 88,1 bilhões de

m³ de gás natural (ANP, 2.001). O projeto de desenvolvimento de Urucu, que incluiu o

poliduto entre o campo e o terminal fluvial, absorveu aproximadamente R$242 milhões,

onde R$100 milhões foram utilizados na construção do terminal e R$142 milhões no

gasoduto (280 km). A conclusão do projeto possibilitou o aumento da produção para 55

mil bpd de óleo e 1,8 milhões de m³/d.

2.13 Bacia do Espírito Santo

Os campos de Peroá e Cangoá, localizados em águas rasas no litoral do Espírito Santo,

juntos correspondem a 85,2% das reservas de gás natural do Estado, têm previsão de

início de produção em 2.002. Inicialmente, a produção seria de 1,5 milhão de m³/d,

produção suficiente para atender a termoelétrica de 150 MW, a ser construída na região

norte do Estado.

O campo de Cangoá foi descoberto em 1.988 e, Peroá em 1.996. No início de 1.999,

foram constatados mais de 2,5 milhões de m³ de gás natural, nas reservas já avaliadas

dos dois campos, atingindo o volume total de 7,5 bilhões. No total, o estado possui

reservas de 8,8 bilhões de m³ O campo de cação possui duas plataformas fixas, em

águas rasas, que serão, provavelmente, as primeiras plataformas brasileiras a serem

descomissionadas (PETROBRÁS, 2.001).

32

III – IMPACTO AMBIENTAL

1 Aspectos Legais

A Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA), instituída pela Lei Federal nº.

6.938/81, recepcionada pela Constituição Federal e, portanto, em consonância com o

modelo de desenvolvimento sustentável, elenca entre os princípios.

Para assegurar “a preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia

à vida” (art. 2º, caput), o “planejamento e fiscalização do uso dos recursos ambientais”

(art. 2º, III).

Seguindo o entendimento do texto constitucional, este planejamento deve abarcar o

aspecto temporal na exploração dos recursos ambientais. Esta responsabilidade

intergeracional está prevista, também, na finalidade de preservação e restauração dos

recursos ambientais com vistas à sua utilização racional e disponibilidade permanente

(art. 4º, VI, da PNMA – grifos nossos).

A avaliação de impactos ambientais e o licenciamento estão entre os instrumentos da

PNMA (art. 9º, III e IV). São regulados pela Resolução CONAMA nº 001/86, que exige

a elaboração de Estudo de Impacto Ambiental e respectivo Relatório de Impacto

Ambiental.

(EIA/RIMA) para o “licenciamento de atividades modificadoras do meio ambiente”,

entre as quais a extração de combustível fóssil (art. 4º, VIII).

Urge destacar que, o EIA deve “atender à legislação, em especial aos princípios e

objetivos expressos na Lei de Política Nacional do Meio Ambiente”. E a diretrizes

como a de identificação e avaliação sistemática dos impactos ambientais gerados nas

fases de implantação e operação da atividade e considerar sua compatibilidade com os

planos e programas governamentais propostos e em implantação na área de influência

do projeto (art. 5º, II e IV, Resolução CONAMA nº 001/86).

Item obrigatório do EIA, a “Análise dos impactos ambientais” se dá “através de

identificação, previsão da magnitude e interpretação da importância dos prováveis

impactos relevantes, discriminando: os impactos positivos e negativos (benéficos e

adversos), [...] temporários e permanentes; seu grau de reversibilidade [...]” (art. 6º, II,

Resolução CONAMA nº. 001/86).

33

Importa ressaltar, seguindo a interpretação de Mirra (1998, p. 22-23), que:

“[...] nos termos da Constituição Federal, ‘impacto ambiental’ não é qualquer alteração

do meio ambiente, mas uma degradação significativa do ambiente. Por outras palavras,

considera-se impacto ambiental a alteração drástica e de natureza negativa da qualidade

ambiental.”

O esgotamento de um reservatório de petróleo e gás, dentro do contexto legal vigente,

configura impacto ambiental negativo, permanente e irreversível. Escamotear este fato

constitui flagrante opção pela manutenção de orientação exclusivamente econômica na

exploração destes recursos em patente descompasso com o desenvolvimento sustentável

subjacente ao entendimento constitucional.

Neste sentido, a completa remoção do complexo produtivo (descomissionamento de

plataforma, dutos e demais equipamentos que não são abandonados), tratada no EIA

como Projeto de Desativação, materializa o esgotamento da produção de um

reservatório, pelo menos do ponto de vista de sua viabilidade econômica.

O intervalo entre o início da operação e a desativação do empreendimento é o centro

desta discussão, visto não haver planejamento que previna a desativação de diversos

projetos simultaneamente ou em períodos próximos. Isto implica, também, que

podemos ter diversos projetos com pico de produção ocorrendo ao mesmo tempo,

levando a oferta a superar a demanda e, assim, desestabilizar a economia e a cadeia

produtiva pela queda de preços no petróleo.

O diagnóstico do esgotamento dos reservatórios como impacto ambiental negativo

implica na adoção de medidas mitigadoras, por força do art. 6º, II, da Resolução

CONAMA 001/86. Mitigação que, no nosso estudo, pode apenas ser conseguida através

de um planejamento da exploração das reservas provadas, que controle efetivamente a

produção, diminuindo o ritmo de depleção dos reservatórios.

Obviamente que este planejamento deve estar integrado a uma política nacional que

promova a utilização de fontes alternativas de energia, a conservação e a eficiência

energética, entre outras medidas.

Sob este aspecto, a Lei 9.478/97 – Lei do Petróleo – determina, dentre os objetivos das

“políticas nacionais para o aproveitamento racional das fontes de energia” a proteção ao

meio ambiente e a utilização de fontes alternativas de energia (art. 1º, IV e VIII),

corroborando o entendimento aqui exposto.

34

Impende promover o ideal de sustentabilidade, transversalmente às políticas públicas

setoriais, como de energia e de infra-estrutura, para a criação de uma unidade

harmônica. A existência de múltiplos interesses, diferentes e divergentes (ALVES,

1996), sem uma agenda nacional comum, favorece a manutenção de interesses

econômicos, desapropriando a maioria da população da possibilidade de viver

dignamente em um ambiente ecologicamente equilibrado.

35

2 Licenciamento Ambiental

A inserção de uma variável temporal para definição de critérios a serem adotados para a

emissão de autorização para empreendimentos de E&P trará efetivamente a este

procedimento os contornos de sustentabilidade necessários para o equilíbrio econômico-

social-ambiental-intergeracional. Elaborar plano nacional das reservas de petróleo e

gás natural: para a utilização intertemporal das reservas nacionais o planejamento

intertemporal visa, tomando por base o zoneamento nacional das reservas, definir

marcos temporais para a exploração dos campos de petróleo em cada região do país,

atendendo a níveis de consumo que deverão ser conduzidos pelo poder público federal,

através de suas agências (ANP e ANEEL) e do órgão ambiental (IBAMA), com

participação da comunidade científica e da população.

A proposta, portanto, convoca para a discussão acerca desta revisão sobre os impactos

ambientais das atividades de exploração e produção de petróleo e gás natural, para o

fortalecimento de uma política nacional integradora, sem submissão ou omissão a

interesses exclusivamente econômicos, criando uma unidade transversal entre as

diversas políticas setoriais (energia, meio ambiente, infra-estrutura etc.) e a elaboração

de um instrumento intertemporal de planejamento (plano nacional das reservas de

petróleo e gás natural).

Apenas por meio de um discurso econômico, social, político e ambiental nacional,

voltado para um projeto de sociedade justa e solidária, poderemos assegurar às

presentes e futuras gerações o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e,

consequentemente, o direito à existência digna.

36

No Brasil, o esforço exploratório, incluindo as atividades de sísmica e de perfuração,

vem se intensificando cada vez mais nos últimos anos. Com a abertura do setor

petrolífero para o capital externo e a quebra do monopólio em 1997, o Brasil passou a

integrar a área de atuação de grandes empresas do mundo inteiro em prospecção

marítima, o que fez com que se definissem procedimentos mais efetivos de

licenciamento ambiental específicos para a atividade. Com a Resolução CONAMA

23/94, é estabelecida regulamentação específica sobre o licenciamento ambiental das

atividades de exploração e produção (E&P) de hidrocarbonetos e passa-se a exigir

estudos específicos para essas atividades. A Resolução CONAMA 237/97 revisa o

sistema de licenciamento ambiental com o objetivo de torná-lo efetivo como um

instrumento de gestão ambiental. Além disso, define as atividades de E&P de petróleo e

gás natural como atividades sujeitas ao licenciamento ambiental, o que, de fato, já havia

sido regulamentado através da Resolução CONAMA 23/94. Cabe mencionar que, desde

o início da década de 1980, já era prevista na legislação brasileira a avaliação das

atividades da indústria de petróleo e gás mediante procedimentos de licenciamento

ambiental, no entanto, para melhor controlar este cenário, o IBAMA criou, em 1999, o

Escritório de Licenciamento de Atividades de Petróleo e Nuclear – ELPN/IBAMA, com

sede no Estado do Rio de Janeiro (MARCHIORO E NUNES, 2003). Uma das

atribuições de dito Escritório é o licenciamento ambiental das atividades de E&P de

hidrocarbonetos em âmbito federal, assim, a partir de então, os processos

administrativos de licenciamento para a exploração de hidrocarbonetos (o que inclui as

fases de aquisição de dados sísmicos e de perfuração de poços) competem ao

ELPN/IBAMA. Para obter tal licenciamento, as empresas do setor devem apresentar um

Estudo Ambiental que avalie os impactos ambientais inerentes às atividades e

proponham medidas de monitoramento, mitigação e compensação. Destaque-se que a

exigência desse estudo está de acordo com os termos do art. 10 da Lei 6.938 de 31/08

/81, regulamentado através do Decreto 99.274/90 de 06/06/90, complementado pelas

Resoluções CONAMA 23/94, 237/97 e 350/2004.

Monitoramento Ambiental, BirdLife Brasil, Sociedade Brasileira de Estudos de Recifes

de Coral e Fundação SOS Mata Atlântica. Caravelas, 119 p., 2003. Conservation

International Brasil, Instituto Baleia Jubarte, Núcleo de Educação e Monitoramento

Ambiental, BirdLife Brasil, Sociedade Brasileira de Estudos de Recifes de Coral e

Fundação SOS Mata Atlântica. Caravelas, 119 p., 2003

37

3 Processo de Avaliação de Impacto Ambiental (AIA).

Instituída no Brasil através da lei política Nacional de meio ambiente ( n° 6.938

de 31 de agosto de 1981) e , através da resolução n° 001do conselho Nacional do meio

ambiente ( CONAMA ), de 21 de janeiro de 1986, os elementos básicos da AIA são

tratados (Moreira 2002).

De acordo com Moreira (2002) , o processo de AIA é um instrumento de política

ambiental formado por um conjunto de procedimentos capaz de assegurar dese o início

do processo , que se faça um exame sistemático dos impactos ambientais de uma ação

proposta ( projeto , programa , plano ou politicas ), e de suas alternativas , e que os

resultados sejam sempre responsáveis pela tomada de decisão e por eles devidamente

considerados.

O processo de AIA permite, as partes interessadas ( dirigentes das organizações,

comunidade, governo, etc), uma visão ampla de todas as influências positivas e

negativas que o empreendimento possa causar ao meio ambiente , ao meio social e a sua

vizinhança. Moreira (2002). Ressalta ainda que o processo de AIA fornece subsídios a

uma tomada de decisão que leva em consideração as vantagens e desvantagens de uma

determinada proposta de intervenção em suas dimensões econômica, social e ecológica.

Manual de avaliação de Impacto Ambiental – MAIA- 2002.

38

4 Tratado de Marpol.

MARPOL

Fig. III.1.

Convenção Internacional para a Prevenção da Poluição por Navios.

A Convenção MARPOL foi assinada no dia 17 de Fevereiro 1973 e modificada pelo

Protocolo de 1978.

Marpol 73/78 é a mais importante convenção ambiental marítima. Foi projetado para

minimizar a poluição dos mares e tem como objetivo: preservar o ambiente marinho

pela eliminação completa de poluição por óleo e outras substâncias prejudiciais, bem

como, minimizar as consequências nefastas de descargas acidentais de tais substâncias.

39

IV – DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Fig. IV.1

Conceituado como alternativa à lógica hegemônica de produção de mercadorias através

da degradação ambiental e exploração do trabalho humano, o desenvolvimento

sustentável encerra um ideal de racionalização na apropriação dos recursos naturais,

inserindo uma variável temporal e uma exigência ética para o desenvolvimento

econômico.

A homogeneidade do conceito é apenas aparente, visto “a existência de apropriações

diferenciadas [...] por grupos sociais de interesse” (MONTIBELLER FILHO, 2004, p.

58).

Fato este que nos conduziu à análise sistêmica da Constituição Federal para a definição

de um conteúdo mínimo, imperativo para a legislação brasileira. Pela interpretação do

texto normativo constitucional em seu todo (GRAU, 2003, p. 145), entendemos ter sido

adotado como modelo para o desenvolvimento nacional aquele definido para o

desenvolvimento sustentável. Senão, vejamos.

O desenvolvimento no Brasil está fundado sobre os seguintes pilares:

1. Desenvolvimento nacional (art. 3º, II);

2. Redução das desigualdades regionais e sociais (art. 3º, III);

40

3. Ordem econômica tem por fim assegurar a todos existência digna em consonância

com a preservação ambiental (art. 170, caput c/c VI);

4. Meio ambiente ecologicamente equilibrado (art. 225, caput); e

5. Responsabilidade intergeracional (art. 225, caput).

Fundamental ao entendimento da sustentabilidade é reconhecer:

“[...] a dimensão temporal de longo prazo, desvendada pelo próprio termo humanidade,

a abranger tanto as gerações presentes quanto às futuras, e a revelar o vínculo com o

âmbito dos direitos humanos.” (TRINDADE, 1993, p. 218).

A sustentabilidade no uso dos recursos naturais deve ser encarada, nesta ótica, como

modelo de desenvolvimento capaz de assegurar condições dignas à sobrevivência das

futuras gerações humanas e de todas as demais formas de vida.

Sob essa perspectiva, segundo Derani (2001, p. 242): “Desenvolvimento econômico no

Estado Brasileiro subentende um aquecimento da atividade econômica dentro de uma

política de uso sustentável dos recursos naturais objetivando um aumento de qualidade

de vida que não se reduz a um aumento do poder de consumo”. Logo, ao se afirmar o

caráter sustentável do desenvolvimento nacional brasileiro, não se busca criar óbices ao

aproveitamento dos recursos naturais, mas, outrossim, construir um modelo de

desenvolvimento com base nos princípios constitucionais, orientado pela exploração

equilibrada dos recursos naturais, nos limites da satisfação das necessidades e do bem-

estar da presente geração, assim como de sua conservação no interesse das gerações

futuras.” Podemos, por exclusão, ainda seguir o entendimento de que se o

“desenvolvimento não elimina a pobreza absoluta, não propicia um nível de vida que

satisfaça as necessidades essenciais da população em geral, ele não pode ser qualificado

de sustentável” (SILVA, 1994, p. 7-8).

Esta também é a linha de pensamento seguida por Mello (2005) ao afirmar que a:

“incolumidade do meio ambiente não pode ser comprometida por interesses

empresariais nem ficar dependente de motivações de índole meramente econômica,

ainda mais se tiver presente que a atividade econômica, considerada a disciplina

constitucional que a rege, está subordinada, dentre outros princípios gerais, àquele que

privilegia a ‘defesa do meio ambiente’” (CF, art. 170, VI).

Apoiamo-nos no ensinamento de Bonavides (2004, p. 569) ao se referir ao “altíssimo

teor de humanismo e universalidade” dos direitos de terceira geração, que englobam o

meio ambiente, principalmente por não se referirem a direitos específicos de indivíduos,

grupos ou Estado. Aduz terem “primeiro por destinatário o gênero humano mesmo, num

41

momento expressivo de sua afirmação como valor supremo em termos de

existencialidade concreta”.

Milaré (2000, p. 106) salienta o caráter de Princípio de direito-dever que rege a idéia de

desenvolvimento sustentável, visto surgir: “[...] tão evidente a reciprocidade entre

direito e dever, porquanto desenvolver-se e usufruir de um planeta plenamente habitável

não é apenas direito, é dever precípuo das pessoas e da sociedade, direito e dever como

contrapartidas inquestionáveis”.

Destaque-se, ainda, a doutrina de Silva (1994, p. 54):

“O objeto de tutela jurídica não é tanto o meio ambiente considerado nos seus

elementos constitutivos. O que o direito visa proteger é a qualidade do meio ambiente

em função da qualidade de vida. Pode-se dizer que há dois objetos de tutela, no caso:

um imediato, que é a qualidade do meio ambiente, e outro mediato, que é a saúde, o

bem-estar e a segurança da população, que se vêm sintetizando na expressão qualidade

de vida”.

Desta forma, o cenário cotidiano de exploração exclusivamente econômica dos recursos

naturais, de pobreza generalizada e de desigualdades sociais, traços destacados do atual

quadro de injustiça ambiental, está em patente dissonância com os objetivos

constitucionais da República Federativa do Brasil.

É preciso, portanto, que se faça uma revisão das limitações feitas às atividades de

exploração econômica, tomando como eixo de análise, consoante a doutrina de Moreira

Neto (1977, p. 18), as necessidades vitais para uma existência digna:

“A vida em sociedade gera necessidades coletivas que, com os processos de civilização,

se tornam mais e mais complexas e exigentes. A satisfação destas necessidades tem

conduzido a humanidade a uma exploração predatória dos recursos naturais

caracterizada pela irracionalidade e pela irresponsabilidade.”

Na busca por uma conduta racional e responsável frente à existência perene da vida no

planeta, importa reconhecer o papel desempenhado pelo ser humano enquanto extrator e

não produtor de recursos naturais, como propõe Porto-Gonçalves (2004, p. 61). O autor

conclui que: “[...] dizer que somos produtores significa que depende de nossa

capacidade criativa a existência do que é produzido. Dizer que somos extratores sinaliza

que extraímos algo que não fazemos, o que significa manter prudência no seu uso.”

A distância existente entre o ideal constitucional e a realidade brasileira e mesmo global

nos dias atuais, nos leva a concordar com a afirmação de Sachs (2002, p. 55): a

“História nos pregou uma peça cruel. O desenvolvimento sustentável é, evidentemente,

42

incompatível com o jogo sem restrições das forças do mercado”. É preciso evocar

novamente a posição de Mello (2005), conciliando: “[...] a questão do desenvolvimento

nacional (CF, art. 3º, II) e a necessidade de preservação da integridade do meio

ambiente (CF, art. 225): [...] O princípio do desenvolvimento sustentável, além de

impregnado de caráter eminentemente constitucional, encontra suporte legitimador em

compromissos internacionais assumidos pelo Estado brasileiro e representa fator de

obtenção do justo equilíbrio entre as exigências da economia e as da ecologia,

subordinada, no entanto, a invocação desse postulado, quando ocorrente situação de

conflito entre valores constitucionais relevantes, a uma condição inafastável, cuja

observância não comprometa nem esvazie o conteúdo essencial de um dos mais

significativos direitos fundamentais:

O direito à preservação do meio ambiente, que traduz bem de uso comum da

generalidade das pessoas, a ser resguardado em favor das presentes e futuras gerações.

E, justamente, no sentido do estabelecimento de regras sustentáveis no vale tudo da

globalização, capazes de combater o paradigma econômico vigente, que se busca a

instauração de diretrizes assecuratórias de existência digna à população excluída dos

benefícios monopolizados pela minoria dominante. Ao analisar a Emenda

Constitucional no 9/1995, que traz novas disposições ao monopólio da União sobre

petróleo e gás, Martins (2006, p. 70) afirma que:

“[...] a atração de investimentos decorrente da abertura do mercado propiciará o

incremento da atividade econômica e o aumento do potencial petrolífero do país, através

do mapeamento de novas reservas, que serão objeto de produção de acordo com as

decisões a serem tomadas sob a égide da soberania nacional.”

O balizamento para decisões sob a égide da soberania nacional carece, ainda, de maior

detalhamento. A retórica da sustentabilidade não constitui, por si só, uma solução capaz

de orientar os tomadores de decisões.

A inclusão de atores, além dos setores político e produtivo, reclama urgência. O mero

mapeamento de novas reservas, conforme aponta Martins (2006, p. 70), não configura

um instrumento sustentável, visto não apresentar aspectos intertemporais que assegurem

o uso destas reservas pelas futuras gerações.

Neste entendimento, frente ao atual fortalecimento de interesses hegemônicos,

sobretudo em tempos de valores recordes do barril de petróleo, cumpre ressaltar o

pressuposto intertemporal de distributividade encerrado no conceito de sustentabilidade

(GOMES, 1999, p. 44):

43

“A idéia de desenvolvimento sustentado também está relacionada à de riqueza

constante, no sentido de que cada geração deve deixar para a próxima pelo menos o

mesmo nível de riqueza, considerada como a disponibilidade de recursos naturais, de

meio ambiente e de ativos produtivos.”

Apesar da clareza inerente à “incidência do fator temporal no domínio da proteção

ambiental”, Trindade (1993, p. 55) ressalta as profundas lacunas políticas e jurídicas no

trato da matéria. Ao defender a preocupação temporal, o autor defende “o estudo da

proteção de vítimas potenciais ou prospectivas” como “uma real necessidade e não uma

especulação teórico-acadêmica”.

Não se pode questionar a ausência da preocupação com as gerações futuras nos

mercados atuais (LEIS, 1999, p. 160), que reforça sua posição de vítimas potenciais de

futuros racionamentos de energia e declínio na produção de bens e serviços derivados

de petróleo e gás natural, além da potencial insanidade ambiental gerada pela queima

excessiva de combustíveis fósseis no presente.

Portanto, para garantir a herança das futuras gerações devem ser inseridos aspectos

intertemporais, distributivos e solidários no jogo econômico do mercado global.

Acompanhamos o entendimento de Leroy (2002, p. 18) de que a: “[...] sustentabilidade

sai do campo estritamente econômico e pode ser entendida como o processo pelo qual

as sociedades administram as condições materiais da sua reprodução, redefinindo os

princípios éticos e sociopolíticos que orientam a distribuição de seus recursos

ambientais.”

Concluir pela caracterização do princípio constitucional do direito ao desenvolvimento

sustentável reforça sua aplicação, visto serem os princípios constitucionais a síntese dos

valores principais da ordem jurídica, ou ainda, as premissas básicas de uma ordem

jurídica, irradiando-se por todo sistema (BARROSO, 1993, p. 285).

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V - CONCLUSÃO

Procurando avançar no caminho de estruturação de uma efetiva gestão destes recursos,

conforme os preceitos da ordem econômica nacional, para assegurar existência digna

para as atuais e futuras gerações.

As considerações das propostas para o alcance de um real desenvolvimento sustentável.

Reconhecer a depleção dos reservatórios de petróleo e gás como impacto irreversível,

com a inserção desta variável nos estudos ambientais obrigará a adoção de critérios

intertemporais no planejamento do desenvolvimento dos campos de petróleo e gás a

serem licenciados.

Um licenciamento Ambiental com a isenção de uma variável temporal para definição de

critérios a serem adotados, para emissão de autorização para empreendimentos de E&P

trará de forma efetiva a este procedimento os contornos de sustentabilidade necessários

para o equilíbrio econômico-social-ambiental-integracional, elaborar um plano nacional

de reservas de petróleo e gás natural para utilização intertemporal das reservas

nacionais, o planejamento intertemporal visa, tomando como base o zoneamento

nacional das reservas, definindo marcos temporais para a exploração dos campos de

petróleo em cada região do país, atendendo a níveis de consumo que deverão ser

conduzidos pelo poder público federal, através de suas agências (ANP e ANEEL) e do

órgão ambiental (IBAMA), com participação da comunidade científica e da população.

A proposta, portanto, convoca para a discussão acerca desta revisão sobre os impactos

ambientais das atividades de exploração e produção de petróleo e gás natural, para o

fortalecimento de uma política nacional integradora, sem submissão ou omissão de

interesses exclusivamente econômicos, criando uma unidade transversal entre as

diversas políticas setoriais (energia, meio ambiente, infraestrutura etc.) e a elaboração

de um instrumento intertemporal de planejamento (plano nacional das reservas de

petróleo e gás natural).

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VI - REFRÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

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