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Page 1: Imc Percentil Tabela

ESTUDOS ORIGINAIS

Rev Port Clin Geral 2002;18:147-52 147

Aavaliação do estado nutricio-nal e do estado de excesso depeso ou obesidade tem vindoa preocupar a sociedade em

geral e a comunidade médica em par-ticular, sendo a obesidade definidacomo aumento do peso corporal devi-do ao excesso de massa gorda1.

A prevalência da obesidade tem vin-do a aumentar tanto em crianças comoem adolescentes, com especial relevona última década, como alguns estu-dos populacionais prospectivos têmvindo a mostrar2,3,4.

Para o diagnóstico da situação deexcesso de peso/obesidade em crian-ças e adolescentes2,4,5,6 e pese emborahaver uma série de métodos passíveisde utilização, tais como: a) determina-ção da espessura das pregas cutâneastricipital e abdominal; b) meios imagio-lógicos; c) consulta de tabelas antropo-métricas específicas7,8; e) determinaçãodas relações entre peso e altura (P/A),a relação entre o peso em Kg e o qua-drado da altura em metros (Índice deMassa Corporal - IMC) e relação entrepeso e altura ao cubo (Índice de Roh-rer)9, é considerado o estudo do IMC ométodo mais válido em estudos epi-demiológicos9.

A determinação do IMC é facilmenterealizável e aplicável em larga escala,não dependendo da experiência indivi-dual na colheita dos valores a avaliar.

Com base em extensos rastreios

LUIZ MIGUEL SANTIAGO, SUSANA JORGE, EUGÉNIA PAULA MESQUITA

EDITORIAISINTRODUÇÃOLuiz Miguel Santiago

Assistente Graduado de Clínica Geral, Extensão de Marco dos Pereiros,

Núcleo de Farmacovigilância do Centro.

Susana JorgeEnfermeira em Cuidados de Saúde Primários,

Extensão de Marco dos Pereiros, Subregião de Saúde de Coimbra.

Eugénia Paula MesquitaEnfermeira em Cuidados de Saúde Primários,

Licenciada em Enfermagem, Extensão de Marcodos Pereiros, Subregião de Saúde de Coimbra.

RESUMOObjectivo: Desenhar curvas de percentil, em função do Índice de Massa Corporal (IMC), em popu-lação portuguesa.População: Crianças e adolescentes de três Listas de Clínica Geral. Métodos: Estudo observacional, aberto, dos dados em ficheiro – peso (kg) e da altura (m) paracálculo do IMC para todos os indivíduos do nascimento aos 17 anos, inclusivé. Utilização de mate-rial para a colheita das variáveis – balança e craveira adaptados para as idades.Resultados: Estudadas 6.764 unidades de medida, 3.481 (51,5%) no sexo masculino, numaamostra de 540 rapazes e 522 raparigas. Sem diferenças com significado estatístico por sexos eidade. A distribuição das variáveis peso, altura e IMC por sexos, não apresentou igualmente dife-renças com significado estatístico. Conclusões: Não havendo diferenças com significado estatístico nas unidades de medida entresexos, estas tabelas permitem estudo da situação nutricional e de obesidade pelo cálculo do IMC.A comparação com outras tabelas mostra dissemelhanças. Sendo a obesidade um factor de riscopara patologias cardio-vasculares, o seu conhecimento pelas equipas de Clínica Geral é importantís-simo. Estas tabelas são uma forma simples e objectiva de estudo do estado nutricional e de obesi-dade em crianças e adolescentes.

Palavras-chave: Crianças; Adolescentes; Obesidade; Peso; Altura; Percentis.

Tabelas de percentilbaseadas no Índice deMassa Corporal para crianças e adolescentes emPortugal e sua aplicaçãono estudo da obesidade

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com origem nos Estados Unidos8 – re-lação P/A – e Europa9 – IMC –, foramrealizadas tabelas de relacionamentoentre peso e altura para fácil determi-nação desta situação.

Tem sido de grande importância aconsideração do ritmo de crescimentoda criança que, não sendo linear, intro-duz variações importantes para o dia-gnóstico do excesso de peso/obesida-de6,9,10.

Sendo reconhecidas as diferençasrácicas de hábitos e culturais entre vá-rios povos, parece haver diferenças en-tre as curvas de distribuição por sexoe idade de crianças e adolescentes devários países11 deve supôr-se que astabelas elaboradas em outros paísesnão serão forçosamente adaptáveis ànossa realidade, pelo que há assimrazões para a realização de um traba-lho de elaboração de tabelas de per-centis baseados no Índice de MassaCorporal em Portugal. A aplicação des-te tipo de tabelas baseadas no IMC aestudos populacionais, revelou já aexistência de valores importantes deprevalência da situação de excesso depeso/obesidade, utilizando-se como li-mites o Percentil 90 para o excesso depeso e o Percentil 95 como obesida-de12,13. No entanto, o percentil 92 deve-rá ser utilizado por ser aquele que tema maior especificidade (92%) e sensi-bilidade (92%) para o diagnóstico deobesidade nestas idades14. Surge, as-sim, a necessidade de criar curvas depercentis, baseados no Índice de Mas-sa Corporal a partir de observações empopulação portuguesa.

Elaborar tabelas de percentis baseadasno Índice de Massa Corporal – e quepossibilitem o estudo da situação deexcesso de peso/obesidade – por sexose idades, em população ambulatóriaportuguesa, desde o nascimento até

aos 17 anos, inclusivé.

Estudo observacional aberto sistemáti-co dos dados em ficheiro quanto aopeso – em quilogramas até à terceiracasa decimal – e da altura – em metrosaté à segunda casa decimal – com cál-culo do IMC – utilizando-se para efeitosda construção de tabelas os valores atéà segunda casa decimal – de todos osindivíduos, desde o nascimento até aos18 anos, exclusivé, inscritos em listasde três médicos de Clínica Geral daExtensão de Marco dos Pereiros daSubregião de Saúde de Coimbra..

Recorreu-se à utilização de suportemanual de registo de dados e do se-guinte material:• Até aos 36 meses: balança decimal

de mesa e craveira infantil.• A partir dos 36 meses: balança deci-

mal vertical e craveira vertical.Foram estudados todos os registos

com data mais próxima à data em queperfaziam 0, 2, 4, 6, 9, 12, 15, 18, 24meses, 3 anos e, a partir de tal dataanual, a mais aproximada à data deaniversário, até aos 17 anos.

Para elaboração das tabelas foiseguida a seguinte metodologia:• Uma determinação por indivíduo, e

para cada idade, de acordo com os re-gistos existentes nos ficheiros clínicos;

• Para novas avaliações, tomada demedidas, utilizando sempre os mes-mos materiais de medida – balançadecimal e craveira – e também amesma metodologia de ter os objec-tos da amostra com as mesmas pe-ças interiores de roupa.

• Altura medida em supino e na ver-tix do crâneo, com a linha do tragusao rebordo orbital inferior no planohorizontal.

• Desenho das curvas de percentil 5,10, 25, 50, 75, 92 e 95. Foram utilizadas medidas de estudo

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EDITORIAISOBJECTIVOS

EDITORIAISMÉTODOS

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estatístico de dispersão e de inferência(t de Student e U de Mann-Whitney)com recurso ao programa de análiseSPSS. Significado estatístico definidopara um valor de 5%, com intervalo deconfiança de 95%.

Trabalho realizado durante os primei-ros oito meses do ano de 2001.

Foram obtidas 6.764 unidades demedida sendo 3.481 (51,5%) no sexomasculino, numa amostra de 540 ra-pazes e 522 raparigas, de acordo como Quadro I.

A distribuição das unidades de

observação por sexos para a idade nãotem diferença com significado estatís-tico (p=0,90, c2), não tendo sido tam-bém encontrada diferença com signifi-cado estatístico na distribuição dasunidades de observação por sexos eidades (p de duas caudas=0,99, U deMann-Whitney).

A distribuição das variáveis altura,índice de massa corporal (IMC) e peso,por sexos, avaliada pelo teste de Stu-dent, revela não haver diferenças comsignificado estatístico nas variáveis IMCe peso, de acordo com o Quadro II.

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QUADRO I

NÚMERO DE OBSERVAÇÕES POR SEXOS E IDADES

Idade Sexo masculino Sexo Feminino(n) (n)

0 meses 225 2022 meses 270 2494 meses 252 2356 meses 255 1929 meses 214 19212 meses 267 24815 meses 182 17318 meses 165 15124 meses 203 1873 anos 173 1354 anos 157 1295 anos 136 1296 anos 150 1497 anos 94 988 anos 108 1219 anos 89 9610 anos 86 6011 anos 77 7012 anos 75 7813 anos 56 5214 anos 87 8515 anos 40 5916 anos 48 4717 anos 72 95Total 3481 3282

QUADRO II

VARIÁVEIS, PESO, ALTURA E IMC POR SEXO, PARA A AMOSTRA TOTAL: SEU SIGNIFICADO ESTATÍSTICO

Variável Masculino Feminino pPeso (Kg) 20,01 ± 26,50 19,33 ± 18,10 nsAltura (m) 1,17 ± 1,50 0,96 ± 0,86 nsÍndice de Massa 18,38 ± 3,34 18,73 ± 4,64 nsCorporal (Kg/m2)

As tabelas de percentis desenhadasa partir das observações realizadas,são fornecidas nos Gráficos 1 para osexo masculino e 2 para o sexo femi-nino.

O diagnóstico de obesidade realizadoatravés da utilização do percentil 92terá vantagens sobre o realizado a par-tir do percentil 9514 pois este terá umasensibilidade de 88% e uma especifici-dade de 94%, enquanto o percentil 92terá uma sensibilidade de 92% e umaigual especificidade, de acordo com aanálise ROC14.

Estando garantido não haver dife-renças com significado estatístico nasunidades de medida, quer entre sexos,quer na distribuição por idades, as ta-belas agora apresentadas permitem

EDITORIAISRESULTADOS

EDITORIAISDISCUSSÃO

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uma aproximação razoável ao estudoda situação de obesidade através docálculo do índice de massa corporal,assim se utilizando uma medida queutiliza duas dimensões – o peso e aaltura – para o mesmo fim e que é con-siderada como a mais indicada para

este fim em estudos de base epidemio-lógica. Resta, mesmo assim, a questãode saber se estas tabelas serão asdefinitivas para a população portugue-sa ou se, com a adição de inúmerasoutras medidas se poderão vir a con-firmar. A comparação com tabelas de-

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Raparigas30

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0M 4M 9M 15M 2 4 6 8 10 12 14 16

Idade

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Idade

Valo

rIM

C

P5P10P25P50P75P90P92

Rapazes

Gráfico 2. Curvas de percentil por idades para o sexo feminino, em função do índice de massa corporal.

Gráfico 1. Curvas de percentil por idades para o sexo masculino, em função do índice de massa corporal.

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senhadas em outras populações –francesa9 e suiça16 – mostra curvas dis-semelhantes, particularmente até aosdois anos de vida, o que pode colocara questão de diferença de diagnósticopelas várias curvas disponíveis. Mes-mo entre estas duas curvas há diferen-ças apreciáveis.

A observação destas curvas mostratambém fenómenos semelhantes aosobservados em outros países, nomea-damente o que parece ser um cres-cimento muito moderado após os doisanos de vida, até à idade para a en-trada para a escola primária, pelos 6anos – fenómeno de alteração dealimentação? – e outro pico de cresci-mento aos 14 anos – pico pubertário?

Subsiste, no entanto, a questão desaber se, acima dos 15 anos, não serápreferível utilizar para diagnóstico olimite de IMC de 25 kg/m2, como su-gerido em pelo menos um estudo,obtendo-se uma sensibilidade de 90%com 5% de falsos positivos nosrapazes16. Sendo um importante factorde risco para várias patologias, hoje emdia cada vez mais prevalentes, como adiabetes, a doença cardiovascular,doenças do foro ortopédico e, também,do foro psíquico12,17, o empenho dasequipas de Clínica Geral no enfrentardeste problema e no seu conhecimen-to é importantíssimo. Sendo umaforma fácil e expedita de poder realizaro diagnóstico, porque abarca todas asidades até à maioridade, e porque asociedade está em permanente mu-dança, será importante que este tra-balho seja regularmente actualizado.Há, assim, diferenças nas curvas depercentil agora realizadas em popu-lação portuguesa relativamente àsefectuadas noutras populações. Estastabelas poderão ser uma forma deavaliação simples e objectiva da situa-ção de obesidade em crianças e ado-lescentes, bem como da evolução docrescimento das crianças e adoles-centes.

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Endereço para correspondência: Quinta de Voimarães, Lote 12 – 5º D3000-377 CoimbraTrabalho: 239 438 131E-mail: [email protected]

Recebido para publicação em: 17/10/01Aceite reformulado para publicação em:27/05/02

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PERCENTILE CHARTS BASED IN THE BODY MASS INDEX FOR PORTUGUESE CHILDREN ANDADOLESCENTS AND ITS APPLICATION TO THE STUDY OF OBESITY

ABSTRACT

Objective: To draw percentile charts, based in the Body Mass Index (BMI), for the Portuguesepopulation.Population: Children and adolescents of three general practice patients’ lists.Methods: Observational, open, study of data recorded in the patient’s files – weight (in kg) andheight (m) for calculation of BMI of all individuals from birth to 17 years old. Scales and mea-surement tapes adapted to age were always used.Results: 6764 measurement units were studied, 3481 (51.5%) in males, from a sample of 540boys and 522 girls. No statistically significant differences were found for gender and age, as wellas for weight, height and BMI when compared between genders.Conclusions: Since no differences between genders were found, these charts allow the study ofthe nutritional status and of obesity based in the calculation of BMI. Comparison with other charts,however, showed differences between studies. Since obesity is a risk factor for cardiovasculardisease, its identification by the family doctor is of the utmost importance. These charts may bea simple, objective way of assessment of the nutritional status and of the presence of obesity inchildren and adolescents.

Key-words: Children; Adolescents; Obesity; Weight; Height; Percentile Charts.