imagens dos índios do brasil no século xvi - trabalhando com documentos históricos

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA Rodolfo Alves Pereira Imagens dos índios do Brasil no século XVI Trabalhando com documentos históricos

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Page 1: Imagens dos índios do Brasil no século XVI  - Trabalhando com documentos históricos

UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA

Rodolfo Alves Pereira

Imagens dos índios do Brasil no século XVI

Trabalhando com documentos históricos

Juiz de Fora – MG

2015

Page 2: Imagens dos índios do Brasil no século XVI  - Trabalhando com documentos históricos

Rodolfo Alves Pereira

Imagens dos índios do Brasil no século XVI – trabalhando com documentos históricos

Trabalho de Conclusão de curso

apresentado para obtenção do título

de especialista em Cultura e História

dos Povos Indígenas.

Orientador: Prof. Ms. Natália

Paganini de Faria Castro

Juiz de Fora - MG

2015

Page 3: Imagens dos índios do Brasil no século XVI  - Trabalhando com documentos históricos

Rodolfo Alves Pereira

Imagens dos índios do Brasil no século XVI – trabalhando com documentos históricos

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado ao curso de

especialização em Cultura e História

dos Povos Indígenas da Universidade

Federal de Juiz de Fora como

requisito para obtenção do título de

especialista em Cultura e História

dos Povos Indígenas.

Banca Examinadora

_____________________________

Prof.

_____________________________

Prof.

Apresentado em: _11__/_dezembro___/_2015___

Conceito: _____________

Page 4: Imagens dos índios do Brasil no século XVI  - Trabalhando com documentos históricos

Nós somos a memória viva e um

testemunho sempre muito explícito

da história recente da ocupação

desta região do mundo. Cada um dos

nossos meninos sabe como foi que os

brancos se tornaram senhores desta

terra e quando nós deixamos de ser

os donos.

Ailton Krenak

Page 5: Imagens dos índios do Brasil no século XVI  - Trabalhando com documentos históricos

Resumo

A Lei Nº 11.645/2008 incluiu no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da

temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Sendo assim, todos os estabelecimentos

de Educação Básica, públicos ou privados, precisam abordar o assunto, especialmente nas “áreas

de educação artística, literatura e história brasileiras”. Este trabalho apresenta um roteiro didático

destinado ao 1º ano do Ensino Médio, com uma abordagem da história indígena a partir de

análises de documentos históricos produzidos pelos europeus sobre os índios do Brasil no século

XVI.

Palavras-chave: Povos indígenas; Etnocentrismo; Colonização; Brasil; Século XVI.

Page 6: Imagens dos índios do Brasil no século XVI  - Trabalhando com documentos históricos

Abstract

Law No. 11,645 / 2008 includes the official curriculum of the school system mandating the

theme "History and Afro-Brazilian and indigenous." Thus, all establishments of basic education,

public or private, need to address the issue, especially in the "artistic areas of education,

Brazilian literature and history." This paper presents a didactic script for the 1st year of high

school, with an approach to indigenous history from historical document analysis produced by

Europeans on Brazil's Indians in the sixteenth century.

Key-words: Indian people; ethnocentrism; Colonization; Brazil; XVI century.

Page 7: Imagens dos índios do Brasil no século XVI  - Trabalhando com documentos históricos

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

ILUSTRAÇÃO 1 - Abate do prisioneiro – Theodore de Bry, 1592.............................................24

Page 8: Imagens dos índios do Brasil no século XVI  - Trabalhando com documentos históricos

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 8

2 JUSTIFICATIVA E FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 9

3 OBJETIVO GERAL E ESPECÍFICO 12

4 TEMPO DO DESENVOLVIMENTO DO PROJETO 14

5 SEQUÊNCIA DE ATIVIDADES 15

6 BILIOGRAFIA DE REFERÊNCIA 17

7 BIBLIOGRAFIA E RECURSOS AUDIOVISUAIS UTILIZADOS COM OS ALUNOS

20

8 FORMAS DE AVALIAÇÃO DOS ALUNOS 24

9 FORMAS DE AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS OU IMPACTO DO PROJETO NOS

ALUNOS E NA COMUNIDADE ESCOLAR 25 

Page 9: Imagens dos índios do Brasil no século XVI  - Trabalhando com documentos históricos

Introdução

Optamos por realizar, a título de conclusão do curso de especialização em Cultura e

História Indígena, um projeto pedagógico abordando a visão que os viajantes, cronistas,

aventureiros e missionários europeus do século XVI construíram sobre os povos indígenas

brasileiros.

Nosso projeto pedagógico será realizado na área de conhecimento da disciplina de

História e é voltado para os alunos do 1º ano do Ensino Médio. Ele prevê, dentre outras ações, o

trabalho com fontes primárias, isto é, documentos históricos produzidos no século XVI, os quais

revelam todo o estranhamento dos europeus em relação aos povos indígenas e ao “Novo

Mundo”.

É esse estranhamento, resultado do encontro de duas culturas distintas, que deverá ser

investigado e compreendido pelos alunos, sob orientação do professor, para que se perceba que a

imagem dos índios do Brasil, construída pelos europeus, legitimou as ações, subsequentes ao

encontro, que foram empreendidas pelos colonos.

Assim, nosso projeto pedagógico convida alunos e professores a uma viagem pelos

documentos históricos do século XVI, passando pela carta contemplativa do escrivão que esteve

na frota da Cabral - Pero Vaz de Caminha - ao relato atemorizado do viajante alemão Hans

Staden, prisioneiro da tribo Tupinambá.

Revisitar esse passado é também mais uma oportunidade para refletirmos sobre o papel

dos povos originários na sociedade contemporânea e as dificuldades que, historicamente, eles

têm vivido e enfrentado, como por exemplo, as tentativas orquestradas, por setores da elite

econômica, de restringir os direitos indígenas sobre a terra.

Page 10: Imagens dos índios do Brasil no século XVI  - Trabalhando com documentos históricos

Justificativa e Fundamentação teórica

A Lei Nº 11.645/2008 incluiu no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da

temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”. Sendo assim, todos os estabelecimentos

de Educação Básica, públicos ou privados, precisam abordar o assunto, especialmente nas “áreas

de educação artística, literatura e história brasileiras.”1

Acreditamos que, com a implementação da referida Lei federal nos educandários, temos

uma oportunidade de resgatar e reconhecer a importância histórico-cultural de populações e

grupos étnicos que, por muito tempo, ficaram à margem da sociedade brasileira, caso dos povos

indígenas e negros.

O presente projeto pedagógico focalizará a historiografia dos povos indígenas,

especificamente a imagem dos indígenas, construída pelos europeus no século XVI. Para tanto,

recorreremos ao trabalho da antropóloga Manuela Carneiro da Cunha, Índios no Brasil: história,

direitos e cidadania (2013), o qual nos auxilia com reflexões críticas sobre a documentação

produzida acerca dos índios brasileiros no século XVI. Segundo a autora, a imagem desses índios

é “fundamentalmente, a dos grupos de língua Tupi e, ancilarmente, Guarani”, que vivem no

“espaço atribuído a Portugal pelo Papa no Tratado de Tordesilhas...” (CARNEIRO DA CUNHA.

op. cit. p. 28).

No século XVI, foram produzidos inúmeros documentos, tais como cartas, pinturas e

diários de viagens de europeus que estiveram no continente americano. Nesses documentos,

predomina uma descrição dos índios a partir de um olhar eurocêntrico, coberto de preconceitos e

inexatidões que criaram uma imagem distorcida dos povos originários.

Carneiro da Cunha traz à tona o olhar dos primeiros cronistas europeus sobre os povos

indígenas do Brasil, expondo com precisão a incapacidade do colonizador de compreender a

cultura dos índios em seus próprios termos. As descrições dos viajantes sobre o “Novo Mundo” e

seus habitantes oscilavam entre sua associação ao éden ou a um estado de barbárie (CARNEIRO

DA CUNHA, 2013; PETEAN, 2012).

Essa debilidade fica clara no excerto do cronista Pero de Magalhães Gândavo, que esteve

no Brasil, provavelmente, entre 1558 e 1572:

1 Art. 26-A. §2º (Lei Nº 11.645, de Março de 2008. Disponível on-line em: <http://legislacao.planalto.gov.br/legisla/legislacao.nsf/Viw_Identificacao/lei%2011.645-2008?OpenDocument> Acesso em 11 nov. 2015.

Page 11: Imagens dos índios do Brasil no século XVI  - Trabalhando com documentos históricos

A lingua, deste gentio toda pela Costa he,

huma: carece de três letras - scilicet, não se

acha nella F, nem L, nem R, cousa digna de

espanto, porque assi não têm Fé, nem Lei,

nem Rei; e desta maneira vivem sem Justiça

e desordenadamente.2

Tal visão europeia equivocada justificou o processo colonial de conversão dos indígenas

ao cristianismo, legitimando a matança, a escravidão e a expulsão de seus territórios, pois esses

povos, na ótica do colonizador, “eram vadios, vivendo uma vida inútil e sem prestança”.3

De acordo com o antropólogo João Pacheco de Oliveira (2010, p. 21), essas imagens

associadas aos povos indígenas...apesar de estarem dentro de nós e as

sentirmos como familiares, não foram de

modo algum por nós produzidas. São

rigorosamente exteriores e arbitrárias,

convenções cujos pressupostos

freqüentemente desconhecemos.

Depositadas em nossa mente, resultam do

entrechoque de concepções engendradas por

gerações passadas, formuladas em lugares

próximos ou distantes de nós. Mas são elas

que dirigem nossas perguntas e ações, e

muitas vezes governam nossas expectativas

e emoções. (OLIVEIRA FILHO, J. P. p. 21).

Tais construções acerca dos índios e de sua cultura foram baseadas no estranhamento dos

europeus frente aos costumes de outros povos e na avaliação de formas de vida diferentes a partir

dos elementos de sua própria cultura. “A este estranhamento chamamos etnocentrismo”4.

Silva (2005. p. 127) define o etnocentrismo “como uma visão de mundo fundamentada

rigidamente nos valores e modelos de uma dada cultura; por ele, o indivíduo julga e atribui valor

2 CARNEIRO DA CUNHA. Manuela. Índios no Brasil: história, direitos e cidadania. São Paulo: Claro Enigma, 2013. p. 35.3 RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1995. p. 45. 4 SILVA, Aracy Lopes. (org). A temática indígena na escola: novos subsídios para professores de 1º e 2º graus. Brasília, MEC/MARI/UNESCO, 1995. p. 430.

Page 12: Imagens dos índios do Brasil no século XVI  - Trabalhando com documentos históricos

à cultura do outro a partir de sua própria cultura.” A autora assinala que “o Outro, só

compreendido de maneira superficial, é então usualmente designado como “selvagem”,

“bárbaro” ou não-humano” (p. 127-8). Assim, especialmente durante a colonização do Brasil, o

etnocentrismo serviu a interesses de ordem política e econômica (SILVA, 2005. p. 130).

Quando pensamos no Outro, evocamos o conceito de alteridade, que é a capacidade de

“reconhecer-se no outro, mesmo que a princípio existam diferenças físicas, psíquicas e

culturais”5.

Acreditamos que muitos equívocos e preconceitos com relação aos povos indígenas,

erigidos historicamente, permaneceram arraigados no imaginário coletivo por muito tempo. Daí

a importância deste projeto, no sentido de tentar desconstruir rótulos e estereótipos que insistem

em ser associados aos índios, tais como “preguiçoso”, “selvagem” e “aculturado”.

O método adotado para este trabalho consistirá na análise de diversos documentos

históricos selecionados, como os produzidos por Pero Vaz de Caminha, Jean de Léry e Theodore

de Bry, os quais serão estudados junto com os alunos. Aqui, as fontes históricas não serão

concebidas como verdades inquestionáveis da época em que foram feitas, mas “como vestígios

e/ou marcas de ações motivadas por interesses e intenções.6”

Uma leitura crítica dessas fontes possibilitará compreender melhor a relação do

etnocentrismo com a ação dos colonizadores e os interesses que eles tinham sobre as terras

“descobertas” e os povos que as habitavam.

Consideramos que a escola é o local adequado para desconstruir preconceitos e contribuir

para a formação de uma sociedade mais justa e tolerante com as diferenças étnicas e culturais, o

que passa por libertar os indivíduos da “tirania dos costumes e hábitos”, possibilitando uma

autorreflexão sobre nossos preconceitos (PETEAN, 2012, p. 11). Nesse sentido, o ensino de

História torna-se um instrumento importante na construção identitária dos alunos e deve

promover a identidade individual e coletiva dos educandos (PAIVA, 2012).

A disciplina História, bem como a historiografia recente, vem demovendo conceitos

outrora empregados para caracterizar a condição dos povos indígenas durante a conquista, como

5MOLAR, J. O. ; Alteridade: uma noção em construção. In: XIII Congresso Nacional de Educação da PUCPR - EDUCERE, 2008, Curitiba. XVIII Congresso Nacional de Educação da PUCPR - EDUCERE, 2008. Disponível on-line em: < http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf/493_215.pdf > Acesso em 24 nov. 2015.6 Diretrizes para o ensino de história. Disponível on-line em: <http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/index.aspx?id_projeto=27&id_objeto=39077&tipo=ob&cp=994d99&cb=&n1=&n2=Proposta%20Curricular%20-%20CBC&n3=Ensino%20M%C3%A9dio&n4=Hist%C3%B3ria&b=s> Acesso em 11 nov. 2015.

Page 13: Imagens dos índios do Brasil no século XVI  - Trabalhando com documentos históricos

a ideia de “aculturação”. Esse termo apresentava os índios como seres imóveis e vítimas do jugo

colonial e da cultura de seu algoz – o europeu. Porém os pesquisadores investiram no estudo do

papel do índio sob o viés da “reconfiguração identitária”, que valoriza o índio enquanto um

sujeito histórico, cuja cultura está em constante transformação. (PAIVA, 2015, p. 147-149).

Fomentar discussões sobre conceitos de alteridade, reconfiguração identitária e

etnocentrismo “é, antes de tudo, uma forma de pensar sobre nossas próprias atitudes diante das

demais pessoas e sobre as situações concretas de vida em que práticas etnocêntricas são ainda

comuns” (SILVA, 2005, p. 130).

Portanto, desenvolver nos estudantes o raciocínio histórico a partir da exploração dos

documentos históricos e de seu contexto de produção é uma valiosa oportunidade de aprimorar

sua formação crítica, para que possam saber conviver com as diferenças, considerando a

diversidade e a complexidade sociocultural da realidade brasileira.

Page 14: Imagens dos índios do Brasil no século XVI  - Trabalhando com documentos históricos

Objetivo geral e objetivos específicos

O presente projeto pedagógico, ao longo de seu desenvolvimento, apresenta os seguintes

objetivos:

Objetivo geral

Identificar os estereótipos e o etnocentrismo presentes nas fontes históricas produzidas

pelos europeus sobre os índios brasileiros no século XVI, relacionando-as ao seu

contexto histórico.

Objetivos específicos

Desconstruir ideias equivocadas sobre a cultura e a história dos povos indígenas no

Brasil;

perceber que a História e a Historiografia, por muito tempo, privilegiaram a narrativa

eurocêntrica sobre os povos indígenas, em detrimento da História contada pelos povos

originários;

consolidar a capacidade de compreender e valorizar as diferenças étnico-culturais dos

distintos grupos, especificamente dos povos indígenas, que compõem a sociedade

brasileira.

desenvolver atitudes positivas entre os estudantes de compreensão e de respeito à

diversidade étnica e cultural.

Page 15: Imagens dos índios do Brasil no século XVI  - Trabalhando com documentos históricos

Tempo do desenvolvimento do projeto

Dez (10) módulos-aula, compreendendo o período de um mês e uma semana. 

- Conteúdos: 

Os temas que serão trabalhados neste projeto estão em consonância com os tópicos do

Conteúdo Básico Comum, da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais, de História

para o 1º ano do Ensino Médio, a saber: “Eixo Temático/Tema 1: Representações Europeias do

Novo Mundo. Mundo Moderno, Colonização e Relações Étnico-Culturais (1500-1808)”7.

Dentro desse Eixo Temático, encontramos o tópico 1: “O Novo Mundo nos relatos de viagem

dos navegantes, descobridores e cronistas: mitos e visões”, o qual prevê o desenvolvimento das

seguintes habilidades:

“1.1. Ler e analisar fontes: relatos dos cronistas dos impérios coloniais (Pero Vaz Caminha),

descobridores (Cristóvão Colombo) e viajantes em geral (Hans Staden, Jean de Lèry, Thevet),

visando à construção de uma narrativa histórica.

1.2. Ler e analisar fontes iconográficas européias que evidenciem suas representações mentais

sobre o Novo Mundo”.

Sequência de atividades 7 Conteúdos complementares de História para o 1º ano do Ensino Médio. Disponível on-line em: <http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/index.aspx?id_projeto=27&id_objeto=39079&tipo=ob&cp=994d99&cb=&n1=&n2=Proposta%20Curricular%20-%20CBC&n3=Ensino%20M%C3%A9dio&n4=Hist%C3%B3ria&b=s> Acesso em 11 nov. 2015

Page 16: Imagens dos índios do Brasil no século XVI  - Trabalhando com documentos históricos

Durante a execução deste projeto, observaremos a seguinte sequência didática:

1. exposição dialogada sobre o contexto histórico do século XV-XVI, especialmente o

período da Expansão Marítima europeia, a chegada dos portugueses ao Brasil e o

encontro dos europeus com os povos indígenas;

2. exposição dialogada sobre os conceitos de etnocentrismo e eurocentrismo e como eles se

manifestaram na relação entre colonos x índios;

3. exibição do episódio 1 do documentário “Brasil no olhar dos viajantes”, disponível no

canal da TV Senado no Youtube8.

4. oficina com documentos históricos9;

5. conclusão da oficina10;

6. avaliação escrita sobre o tema, incluindo questões cobradas nas provas do ENEM.

Questão 43 (Prova amarela de 2015)

A língua de que usam, por toda a costa, carece de três letras; convém a saber, não se acha nela F, nem L,

nem R, coisa digna de espanto, porque assim não têm Fé, nem Lei, nem Rei, e dessa maneira vivem

desordenadamente, sem terem além disto conta, nem peso, nem medida.

GÂNDAVO, P. M. A primeira história do Brasil: história da província de Santa Cruz a que vulgarmente

chamamos Brasil. Rio de Janeiro: Zahar, 2004 (adaptado).

A observação do cronista português Pero de Magalhães de Gândavo, em 1576, sobre a ausência das

letras F, L e R na língua mencionada demonstra a

a) simplicidade da organização social das tribos brasileiras.

b) dominação portuguesa imposta aos índios no início da colonização.

c) superioridade da sociedade europeia em relação à sociedade indígena.

d) incompreensão dos valores socioculturais indígenas pelos portugueses.

e) dificuldade experimentada pelos portugueses no aprendizado da língua nativa.

8 Disponível on-line em: <http://www.youtube.com/watch?v=k-tb3oV8kgg> Acesso em 14 nov. 2015.9 Neste momento, o professor deverá organizar a turma em equipes e distribuir entre elas cópias de fontes históricas produzidas pelos viajantes europeus no século XVI a respeito dos povos indígenas. Na sequência, solicitará às equipes que leiam e anotem suas impressões sobre os documentos históricos para socializá-las com a turma.10Na conclusão da oficina é importante que o professor conduza o debate, no sentido de relacionar os conteúdos dos documentos históricos com os conceitos estudados no início do Projeto. Para isso, solicitará aos alunos que produzam um texto dissertativo e crítico sobre o teor dos documentos analisados.

Page 17: Imagens dos índios do Brasil no século XVI  - Trabalhando com documentos históricos

Questão 40 (Prova amarela de 2013)

De ponta a ponta, é tudo praia-palma, muito chã e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu, vista do mar,

muito grande, porque, a estender olhos, não podíamos ver senão terra com arvoredos, que nos parecia

muito longa. Nela, até agora, não pudemos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa alguma de metal ou

ferro; nem lho vimos. Porém a terra em si é de muito bons ares [...]. Porém o melhor fruto que dela se

pode tirar me parece que será salvar esta gente. Carta de Pero Vaz de Caminha. In: MARQUES, A.;

BERUTTI, F.; FARIA, R. História moderna através de textos. São Paulo: Contexto, 2001.

A carta de Pero Vaz de Caminha permite entender o projeto colonizador para a nova terra. Nesse trecho, o

relato enfatiza o seguinte objetivo:

a) Valorizar a catequese a ser realizada sobre os povos nativos.

b) Descrever a cultura local para enaltecer a prosperidade portuguesa.

c) Transmitir o conhecimento dos indígenas sobre o potencial econômico existente.

d) Realçar a pobreza dos habitantes nativos para demarcar a superioridade europeia.

e) Criticar o modo de vida dos povos autóctones para evidenciar a ausência de trabalho.

7. exposição dialogada abordando os conceitos de “alteridade” e de “reconfiguração

identitária”, a partir da análise de um documento histórico produzido pelo viajante

francês Jean de Léry, o qual relata um diálogo estabelecido com um velho tupinambá em

1557;

8. produção de texto narrativo ficcional11;

9. produção de uma exposição de arte e cultura dos povos indígenas contemporâneos,

contrastando com uma mostra dos relatos e desenhos produzidos pelos viajantes europeus

que visitaram o Brasil no século XVI12.

10. exposição de arte e cultura indígena, além de relatos e desenhos dos viajantes europeus

do século XVI, aberta para toda a comunidade escolar.

11Solicitar aos alunos que imaginem e escrevam uma história narrando o contato entre europeus e indígenas, a partir do ponto de vista das sociedades indígenas, para romper com a visão eurocêntrica e a ideia de passividade do índio no processo de ocupação do Brasil pelos portugueses.12Os trabalhos a serem expostos (textos e iconografias do século XVI e imagens atuais pesquisadas e capturadas na internet) serão reproduzidos, por meio de impressões coloridas, e exibidos numa sala ambiente, organizada pelos alunos, sob orientação do professor de História, em parceria com o professor de Artes. Seguem algumas sugestões de referências para pesquisa da arte indígena contemporânea: <http://www.museudoindio.org.br/arte-indigena-pinturas-ceramicas-e-plumagem/> ; <http://pib.socioambiental.org/pt/c/no-brasil-atual/modos-de-vida/artes> ; <http://www.multarte.com.br/artes-indigenas-brasileiras-e-suas-caracteristicas/> Acesso em 14 jan. 2016.

Page 18: Imagens dos índios do Brasil no século XVI  - Trabalhando com documentos históricos

Bibliografia de referência

AMARAL, Marília Perazzo Valadares. O conceito de Alteridade atrelado à evolução da

Page 19: Imagens dos índios do Brasil no século XVI  - Trabalhando com documentos históricos

representação social do índio no Brasil (séculos XVI, XVII e XIX). CLIO. Série

Arqueológica (UFPE), v. 2, p. 1-21, 2008.

CASTRO, Raimundo Nonato de. As representações indígenas no processo de colonização do

Brasil. Revista eletrônica história em reflexão. Série Arqueológica (UFPE), v. 6, n. 11 – UFGD

– Dourados. p. 1-12, jan-jun 2012.

CARNEIRO DA CUNHA, Manuela. Índios no Brasil: história, direitos e cidadania. São

Paulo: Claro Enigma, 2013.

RESENDE, Maria Leônia Chaves de. Mundos nativos: culturas e história dos povos

indígenas / organização Maria Leônia Chaves de Resende. - 1. ed. - Belo Horizonte, MG : Fino

Traço, 2015.

MOLAR, J. O. ; Alteridade: uma noção em construção. In: XIII Congresso Nacional de

Educação da PUCPR - EDUCERE, 2008, Curitiba. XVIII Congresso Nacional de Educação da

PUCPR - EDUCERE, 2008. Disponível on-line em: <

http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf/493_215.pdf > Acesso em 24 nov.

2015.

OLIVEIRA FILHO, J. P.  Narrativas e imagens sobre povos indígenas e a Amazônia: Uma

perspectiva processual da fronteira. Indiana. Dossier: Identidades volitivas: antropologia

sudamericana da Amazônia indígena (organização: Mark Münzel), v. 27, p. 19-46, 2010.

PAIVA, Adriano Toledo. História indígena na sala de aula. Belo Horizonte: Fino Traço, 2012.

_________. Os indígenas e o processo de construção dos sertões de Minas Gerais (1767-

1813). Belo Horizonte: Argvmentvm, 2010.

 PAIVA, Diego Souza de. O índio na crônica de Jean de Léry (século XVI). In: II Encontro

Internacional de História Colonial, 2008, Natal. Anais do II Encontro Internacional de História

Colonial, 2008. Disponível on-line em:

<http://www.cerescaico.ufrn.br/mneme/anais/st_trab_pdf/pdf_10/diego_st10.pdf> Acesso em 23

nov. 2015.

PETEAN, Antonio Carlos Lopes. Preconceito e Etnocentrismo nas Reflexões de Michel de

Montaigne e Claude Levi-Strauss. Revista Vozes dos Vales (UFVJM), v. 2, p. 1, 2012.

Disponível on-line em: <

http://site.ufvjm.edu.br/revistamultidisciplinar/files/2011/09/Preconceito-e-etnocentrismo-nas-

Page 20: Imagens dos índios do Brasil no século XVI  - Trabalhando com documentos históricos

reflex%C3%B5es-de-Michel-de-Montaigne-e-Claude-L%C3%A9vi-Strauss_antonio-carlos.pdf>

Acesso em 24 nov. 2015.

RUIVO, Ana Lúcia Farinha. Corpo e cultura: o indígena brasileiro nos relatos portugueses

da segunda metade do século XVI. 2010. 65f. Dissertação (Mestrado em Ensino Português

como Língua Segunda e Estrangeira) – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Lisboa, 2010.

MARIANO, Nayana Rodrigues Cordeiro. A representação sobre os índios nos livros didáticos

de história do Brasil. 2006. 111f. Dissertação (Mestrado em Educação Popular, Comunicação e

Cultura) – Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2006.

SILVA, Aracy Lopes. (org). A temática indígena na escola: novos subsídios para professores

de 1º e 2º graus. Brasília, MEC/MARI/UNESCO, 1995.

SILVA, Kalina Vanderlei, SILVA, Maciel Henrique. Dicionário de conceitos históricos. São

Paulo: Contexto, 2005. p. 127-130.

STADEN, Hans. Viagem ao Brasil. São Paulo: Martin Claret, 2010.

Bibliografia e recursos audiovisuais utilizados com os alunos

As fontes históricas citadas abaixo apresentam um olhar eurocêntrico sobre os povos

indígenas no século XVI. Elas retratam os índios ora como indivíduos inocentes, ora como

Page 21: Imagens dos índios do Brasil no século XVI  - Trabalhando com documentos históricos

selvagens, devido à incapacidade europeia de compreender o índio em seu contexto

sociocultural, por conta do etnocentrismo.

Para a execução deste projeto, selecionamos alguns autores europeus que viveram no século

XVI e produziram documentos os quais apresentam uma visão sobre os povos indígenas do

Brasil: Pero Vaz de Caminha, Hans Staden e Jean de Léry, e a iconografia de Theodore de Bry13.

Reproduziremos abaixo trechos dos documentos históricos que deverão ser trabalhados em

sala de aula:

Documento 1

“Pardos, nus, sem cousa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Traziam arcos nas mãos, e

suas setas. A feição deles é serem pardos, um tanto avermelhados, de bons rostos e bons narizes,

bem feitos... Os cabelos deles são corredios.(...) Até agora não podemos saber se há ouro ou

prata nela, ou outra coisa de metal (...) Contudo a terra em si é de muitos bons ares, frescos e

temperados (...) Em tal maneira é graciosa que, querendo a aproveitar-se há nela tudo, por

causa das águas que tem! [...] Contudo, o melhor fruto que dela se pode tirar parece-me que

será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar.

(...) Quanto mais, disposição para se nela cumprir e fazer o que Vossa Alteza tanto deseja, a

saber, acrescentamento da nossa fé!”

“(...) Parece-me gente de tanta inocência que se a gente os entendesse e eles a nós, que seriam

logo cristãos, porque eles não têm nem atendem a nenhuma crença (...)

Por isso pareceu a todos que nenhuma idolatria nem adoração têm.

E eu bem creio que se Vossa Alteza aqui mandar quem mais devagar ande entre eles, que todos

serão tornados ao desejo de Vossa Alteza. E, para isso, se alguém vier, não deixe de vir logo

clérigo para os batizar, porque, então, já terão mais conhecimento de nossa fé (...)” 

(Trecho extraído da Carta de Pero Vaz Caminha, 01 de maio de 1500).

Documento 2

13 Os documentos históricos estão acessíveis em um site de internet. Disponíveis on-line em: <http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/index.aspx?ID_OBJETO=102278&tipo=ob&cp=994d99&cb=&n1=&n2=Orienta%C3%A7%C3%B5es%20Pedag%C3%B3gicas&n3=Ensino%20M%C3%A9dio&n4=Hist%C3%B3ria&b=s > Acesso em 14 nov. 2015.

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“No dia anterior tinha eu mandado o meu escravo para o mato a procurar caça, e queria buscá-

la no dia seguinte para ter alguma coisa que comer, pois naquele país não há muita coisa mais,

além do que há no mato.

Quando eu ia indo pelo mato, ouvi dos dois lados do caminho uma grande gritaria, como

costumam fazer os selvagens, e avançando para o meu lado. Reconhecei então que me tinham

cercado e apontavam flechas sobre mim e atiravam. Exclamei: “Valha-me Deus!” Mal tinha

pronunciado estas palavras quando me estenderam por terra, atirando sobre mim e picando-me

com as lanças. Mas não me feriram mais (graças a Deus) do que em uma perna, despindo-me

completamente. Um tirou-me a gravata, outro o chapéu, o terceiro a camisa etc., e começavam a

disputar a minha posse, dizendo um que tinha sido o primeiro a chegar a mim, e o outro, que me

tinha aprisionado. Enquanto isso se dava, bateram-me os outros com os arcos. Finalmente, dois

levantaram-me, nu como estava, pegando-me um em um braço e o outro, no outro, com muitos

atrás de mim e assim correram comigo pelo mato até o mar, onde tinham suas canoas.

Chegando ao mar vi, à distância de um tiro de pedra, uma ou duas canoas suas, que tinham

tirado para terra, por baixo de uma moita e com uma porção deles, em roda. Quando me

avistaram trazido pelos outros, correram ao nosso encontro, enfeitados com plumas, como era

costume, mordendo os braços, fazendo com isso compreender que me queriam devorar. Diante

de mim, ia um rei com o bastão que serve para matar prisioneiros”.

(Hans Staden. Viagem ao Brasil. São Paulo: Martin Claret, 2010. p. 68-9).

Documento 3

“Embora seja aceita universalmente a sentença de Cícero de que não há povo, por mais bruto,

bárbaro ou selvagem que não tenha idéia da existência de Deus [...] [os tupinambá] além de

não terem conhecimento algum do verdadeiro Deus, não adoram qualquer divindade”. (LÉRY,

1961. p. 185 apud PAIVA, 2008 de. p. 12).

“É evidente que descedem de um dos três filhos de Noé [...] Parece-me [...] mais provável que

descendam de Cam” (LÉRY, 1961. p. 199 apud PAIVA, 2008 de. p. 13).

Documento 4

Page 23: Imagens dos índios do Brasil no século XVI  - Trabalhando com documentos históricos

- Por que vindes vós outros, maírs e perôs (franceses e portugueses), buscar lenha de tão longe para vos

aquecer ? Não tendes madeira em vossa terra ?

Respondi que tínhamos muita, mas não daquela qualidade, e que não a queimávamos, como ele

supunha, mas dela extraímos tinta para tingir, tal qual o faziam eles com os seus cordões de

algodão e suas plumas. Retrucou o velho imediatamente:

- E porventura precisais de muito ?

- Sim, respondi-lhe, pois no nosso país existem negociantes que possuem mais panos, facas,

tesouras, espelhos e outras mercadorias do que podeis imaginar e um só deles compra todo o

pau-brasil com que muitos navios voltam carregados.

- Ah! retrucou o selvagem, tu me contas maravilhas; acrescentando depois de bem compreender

o que eu lhe dissera: Mas esse homem tão rico de que me falas não morre?

- Sim, disse eu, morre como os outros.

Mas os selvagens são grandes discursadores e costumam ir em qualquer assunto até o fim, por

isso perguntou-me de novo:

- E quando morrem para quem fica o que deixam ?

- Para seus filhos, se os têm, respondi; na falta destes, para os irmãos ou parentes próximos.

- Na verdade, continuou o velho, que como vereis, não era nenhum tolo, agora vejo que vós

outros maírs sois grandes loucos, pois atravessais o mar e sofreis grandes incômodos, como

dizeis quando aqui chegais, e trabalhais tanto para amontoar riquezas para vossos filhos ou

para aqueles que vos sobrevivem ! Não será a terra que vos nutriu suficiente para alimentá-los

também ? Temos pais, mães e filhos a quem amamos; mas estamos certos de que depois de nossa

morte a terra que nos nutriu também os nutrirá, por isso descansamos sem maiores cuidados.

(Trecho disponível on-line em: <http://www.iande.art.br/textos/velhotupinamba.htm> Acesso em

24 nov. 2015).

Page 24: Imagens dos índios do Brasil no século XVI  - Trabalhando com documentos históricos

Documento 5

Abate do prisioneiro – Theodore de Bry, 1592

Recurso audiovisual: vídeo - documentário Brasil no olhar dos viajantes14. Trata-se de

um documentário produzido pela TV Senado, em 2012. Ele é dividido em vários

episódios, mas o que usaremos é o primeiro, o qual mostra o Brasil visto pelos viajantes

do século XVI. O documentário reúne documentos históricos e depoimentos de

sociólogos e historiadores que identificam o etnocentrismo na visão europeia sobre os

indígenas.

Formas de avaliação dos alunos14 Disponível on-line em: < http://www.youtube.com/watch?v=k-tb3oV8kgg> Acesso em 14 nov. 2015.

Page 25: Imagens dos índios do Brasil no século XVI  - Trabalhando com documentos históricos

A avaliação da aprendizagem ocorrerá ao longo de todas as etapas do Projeto. Os

instrumentos de avaliação incluem a observação da capacidade de exposição oral e articulação

das ideias estudadas e debatidas nas atividades previstas, a análise da proficiência escrita na

abordagem crítica dos documentos históricos estudados, a avaliação escrita do conhecimento

construído a partir da aplicação de questões cobradas nos exames do ENEM, além da

participação e envolvimento na montagem da exposição de arte e cultura indígena e mostra de

relatos e desenhos dos viajantes europeus do século XVI.

 

Formas de avaliação dos resultados ou impacto do projeto nos alunos e na comunidade

escolar 

Page 26: Imagens dos índios do Brasil no século XVI  - Trabalhando com documentos históricos

Ao final do projeto, esperamos que os alunos compreendam os conceitos estudados -

etnocentrismo, alteridade e reconfiguração identitária - e sua influência no processo de

colonização e no olhar desenvolvido pelos europeus sobre os povos indígenas.

É importante lembrar que a visão etnocêntrica estabelece uma hierarquia entre culturas

distintas e essa marca fica evidente, ou por vezes camuflada, nos documentos históricos e nas

narrativas que acabaram sendo cristalizadas no imaginário popular.

Desse modo, pretendemos desconstruir preconceitos e equívocos, junto com os alunos,

sobre os povos indígenas, marcados por rótulos e estigmas, como “selvagens” e “sem cultura”, a

partir da crítica dos documentos históricos estudados, os quais não podem ser considerados como

portadores de verdades.

Com a exposição de arte e cultura indígena e a mostra de relatos e desenhos dos viajantes

europeus do século XVI, envolveremos toda a comunidade escolar. As pessoas terão acessos a

documentos históricos, como textos e fontes iconográficas, produzidos pelos viajantes europeus,

mas contarão com a orientação dos estudantes para esclarecer-lhes que o material exposto revela

um olhar etnocêntrico e preconceituoso sobre os povos indígenas.

A exposição também apresentará ao público uma imagem dos povos indígenas

contemporâneos, porém com um enfoque diferente. A ideia é confrontar a visão construída pelos

europeus, no século XVI, sobre os povos indígenas a uma imagem dos índios remanescentes no

século XXI que buscam sua afirmação identitária e lutam pelo reconhecimento de seus direitos

até os dias de hoje.

Segundo Toledo, as escolas devemsuscitar o confronto entre as etnias e

culturas, promovendo nos alunos a

constatação das diferenças. Neste sentido,

estuda-se o outro para melhor compreensão

e construção do eu. Não podemos

desconsiderar as diversidades étnicas,

sociais, econômicas e culturais do cotidiano

educacional (Toledo 2012, p. 36).

Dessa forma, o presente projeto pedagógico visa consolidar, “além dos conteúdos e

conceitos, o desenvolvimento de competências, habilidades e atitudes próprias do

Page 27: Imagens dos índios do Brasil no século XVI  - Trabalhando com documentos históricos

desenvolvimento do pensamento histórico e dos processos educativos em geral”15. Nessa

perspectiva abrangente da avaliação, desenvolver atitudes positivas torna-se primordial. Na

proposta curricular dos Conteúdos Básicos Comuns do Ensino Médio da Secretaria de Estado de

Educação de Minas Gerais, constam, dentre outras, as seguintes atitudes, as quais objetivamos

desenvolver nos estudantes:

• Reconhecer e respeitar a diversidade étnico-cultural das sociedades. 

• Atuar sobre os processos de construção da memória social, com base na diversidade étnico-

cultural. 

• Refletir sobre os seus valores individuais e os partilhados no grupo sócio-cultural de

referência; 

• Descobrir e reconhecer a existência de valores diferentes dos valores de seu grupo sóciocultural

de referência. 

• Reconhecer o direito do outro de manifestar-se e apresentar suas idéias16.

Assim, esperamos que alunos e demais membros da comunidade escolar reflitam sobre as

diferenças étnicas e culturais, enquanto desconstroem alguns estereótipos atribuídos aos

indígenas. Só teremos cidadania e uma sociedade mais justa e equilibrada quando houver, de

fato, o respeito, o reconhecimento e a valorização da cultura dos povos originários.

15 (CBC de História para o Ensino Médio. 2006. Disponível on-line em: <http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/index.aspx?id_projeto=27&id_objeto=39081&tipo=ob&cp=994d99&cb=&n1=&n2=Proposta%20Curricular%20-%20CBC&n3=Ensino%20M%C3%A9dio&n4=Hist%C3%B3ria&b=s> Acesso em 23 nov. 2015).16 (CBC de História para o Ensino Médio. 2006. Disponível on-line em: <http://crv.educacao.mg.gov.br/sistema_crv/index.aspx?id_projeto=27&id_objeto=39081&tipo=ob&cp=994d99&cb=&n1=&n2=Proposta%20Curricular%20-%20CBC&n3=Ensino%20M%C3%A9dio&n4=Hist%C3%B3ria&b=s> Acesso em 23 nov. 2015).