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1 IMAGEM FILMES e TELECINE apresentam: Uma produção LAGOA CULTURAL E MAGA FILMES Lançamento nacional 14 de Outubro de 2011 Uma distribuição IMAGEM FILMES Site oficial do filme: www.capitaesdaareia.com.br

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IMAGEM FILMES e TELECINE apresentam:

Uma produção LAGOA CULTURAL E MAGA FILMES

Lançamento nacional 14 de Outubro de 2011

Uma distribuição IMAGEM FILMES

Site oficial do filme: www.capitaesdaareia.com.br

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APRESENTAÇÃO As aventuras de Pedro Bala e seu bando povoam o imaginário popular desde 1937 quando Jorge Amado lançou o livro “Capitães da Areia”. Desde então, o romance se tornou um “best-seller”, foram mais de 5 milhões de exemplares vendidos, sendo 600 mil só nos últimos dois anos. Leitura obrigatória nas escolas de ensino médio em todo país, exames de vestibular e cursos universitários, a história dos Capitães da Areia é um divisor de águas na vida dos jovens estudantes brasileiros a cada geração. No momento em que se comemora o centenário de Jorge Amado, CAPITÃES DA AREIA ganha as telas de cinema através das lentes da neta do escritor, a cineasta Cecília Amado. Cecília que começou a fazer cinema em 1995, junto com o período da “retomada” do cinema nacional e fez carreira nos sets de grandes cineastas como Cacá Diegues, Sérgio Resende, Cao Hamburger, entre tantos, trouxe um olhar próprio pautado na formação humanista que herdou do avô. No filme, o motor da história é a liberdade em contraponto ao abandono. O tema da infância carente, um drama tão atual e característico da questão social no Brasil, é abordado na adaptação com uma visão mais universal, trazendo a tona questões como superação, amizade e lealdade. Ao adaptar as histórias do livro para o roteiro, Cecília optou por narrar um ano na vida dos Capitães da Areia, marcado por festejos do dia de Iemanjá, data fixa no calendário baiano. Um ano emblemático, em que esses meninos deixam de ser crianças e se tornam homens com todos os conflitos e descobertas da adolescência. As filmagens duraram nove semanas, distribuídas ao longo de nove meses, para contemplar o amadurecimento físico dos atores-personagens. O cenário não poderia ser mais convidativo: a cidade de Salvador, com os encantos e mistérios narrados por Jorge Amado, é retratada com magia no filme através da direção de arte de Adrian Cooper (Quincas Berro d’Água, Batismo de Sangue) e da fotografia de Guy Gonçalves (Orquestra de meninos, Onde Anda Você). A diversidade de cores, sons e ritmos baianos, também está presente na trilha sonora original composta por Carlinhos Brown, outro parceiro do projeto desde o primeiro momento. O resultado é o clássico conceito de baianidade que Jorge Amado levou para o mundo, revisitado com uma linguagem contemporânea, vigorosa e jovem em todos os aspectos. Para coroar o projeto, a produção investiu intensamente na formação do elenco, onde todos os atores adolescentes foram selecionados em ONGs e preparados por Christian Durvoort (Ensaio Sobre a Cegueira, Cidade dos Homens) durante quatro meses de oficinas na Bahia. O maior desafio do filme se tornou um de seus maiores trunfos, jovens talentos vindos das mesmas escolas de Lázaro Ramos e Wagner Moura, se preparam para estampar as telas dos cinemas a partir deste rito de passagem chamado “Capitães da Areia”.

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SINOPSE Os “Capitães da Areia”- Pedro Bala, Professor, Gato, Sem-Pernas, Boa Vida e Dora são personagens que Jorge Amado um dia criou para habitarem eternamente na memória de seus leitores. Abandonados por suas famílias, eles são obrigados a lutar para sobreviver pelas ruas de Salvador. Mais atual do que nunca, a história destes personagens imortais da literatura mundial nos emociona e inspira de forma profunda. SINOPSE LONGA

Bahia de Todos os Santos, 1950. Uma explosão de alegria, fogos, bandeirinhas e muitas rosas brancas anuncia a festa de Iemanjá. Saveiros enfeitados se preparam para acompanhar em procissão marítima o barco que leva a imagem da Rainha do Mar. Centenas de pessoas trazem oferendas, barquinhos com flores, pentes, pequenos espelhos. No meio da multidão, saltando de barco em barco, encontramos um menino aloirado, um molecote nos seus 15 anos, que vem homenagear a mãe maior e única. O menino louro é Pedro Bala, o temido líder dos Capitães da Areia, que na verdade, não passa de um adolescente livre nas ruas. Ele é o herói de seu bando, quase uma centena de meninos, que juntos vivem incríveis aventuras nas ruas e becos da cidade; planejam desde pequenos furtos a golpes mais sofisticados como assaltos a ricas mansões. Nos bares do cais do porto, trapaceiam os marujos em mesas de jogatina e jogam olho comprido sobre os fartos decotes das mulatas. Vivem nas feiras populares e nas festas de rua, atrás de comida e divertimento. Os jornais trazem com alarde matérias sobre o novo bando de meninos que vivem pelas ruas e incomodam a sociedade. São chamados “Capitães da Areia”, porque o cais é o seu quartel general. Os Capitães se refugiam em um velho trapiche abandonado, em meio a um areal que invadiu o antigo cais, se escondem da polícia e evitam os reformatórios, para muitos um pesadelo, uma passagem pelo inferno. No Trapiche, tomam aulas de capoeira com o amigo Querido-de-Deus, aprendem a usar a luta para se defender, arma na mão só a navalha. Assim, tentam sobreviver ao abandono, à falta de uma mãe, de um pai. Juntos se transformaram numa grande família. Às vezes explodem, gritam de raiva, perdem a cabeça, mas resistem bravamente aos piores obstáculos. Uma epidemia de varíola invade a cidade e alcança o Trapiche. Os Capitães da Areia se deparam com o conflito da morte, têm que tomar decisões de adulto, decisões impossíveis para a cabeça dessas crianças. Enquanto isso, nos bairros populares, a epidemia destrói famílias, fazendo novos órfãos. A menina Dora, de apenas 14 anos, perdeu pai e mãe, e se vê só nas ruas de Salvador. Pela primeira vez experimenta a dor de dormir ao relento, de passar fome o dia inteiro, a semana inteira, de chorar até não ter mais lágrimas. Mas quis o destino que os Capitães da Areia cruzassem o seu caminho: Professor, braço direito de Pedro Bala, se encanta com o jeito ao mesmo tempo doce e forte da menina e toma uma decisão arriscada, leva Dora para o Trapiche. O bando nunca teve uma figura feminina e a chegada de Dora vem mexer com a vida dos Capitães da Areia. Ela é guerreira e resolve se vestir de homem para participar das ações junto com os meninos. Pedro Bala logo se apaixona por ela. Professor, mais tímido e inexperiente, apenas sonha com sua pele macia, com seus seios que despontam, seu jeito de que vai virar mulher a qualquer instante. O triângulo amoroso torna-se inevitável, os três estão mais adolescentes do que nunca, e como adolescentes descobrem o amor. Mas o destino trágico das ruas não será assim tão doce com os Capitães da Areia nessa história de superação e amadurecimento.

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ELENCO

PEDRO BALA Jean Luis Amorim DORA Ana Graciela Conceição

PROFESSOR Robério Lima SEM-PERNAS Israel Gouveia de Souza

GATO Paulo Abade BOA VIDA Jordan Mateus

JOÃO GRANDE Elielson Santos da Conceição PIRULITO Evaldo Maurício Silva

VOLTA SECA Heder Jesus dos Santos ALMIRO Elcian Gabriel Conceição

BARANDÃO Jamaclei Conceição Pinho EZEQUIEL Edelvan de Jesus Santos

ZÉ FUINHA Felipe Duarte DALVA Ana Cecília Costa

QUERIDO-DE-DEUS Marinho Gonçalves DONA ESTHER Jussilene Santana

PADRE JOSÉ PEDRO Diogo Lopes Filho MÃE ANINHA Arany Santana

FICHA TÉCNICA

Direção CECÍLIA AMADO Co-direção GUY GONÇALVES Produtores BERNARDO STROPPIANA, CECÍLIA AMADO

Produtores Associados SOLANGE LIMA PALOMA JORGE AMADO, JOÃO JORGE AMADO,

Produção Executiva BRUNO STROPPIANA, BILL FOGTMAN, PIMENTA JR. ,CAMILA MEDINA

Roteiro CECÍLIA AMADO, HILTON LACERDA Produção de elenco LAMARTINE FERREIRA

Preparação de elenco CHRISTIAN DURVOORT Direção de fotografia GUY GONÇALVES, ABC

Direção de arte ADRIAN COOPER, ABC Figurino MARJORIE GUELLER

Som direto GEORGE SALDANHA Desenho de som SIMONE PETRILLO

Montagem EDUARDO HARTUNG Trilha Sonora CARLINHOS BROWN

Produção LAGOA CULTURAL e MAGA FILMES

Co-produção Freeway Entertainment KFT., LABOCINE do BRASIL ARAÇA AZUL , MGN FILMES

Distribuição IMAGEM FILMES

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PERFIL DOS PERSONAGENS

PEDRO BALA (Jean Luis Amorim): Pedro Bala é o temido líder dos Capitães da Areia. Desde cedo foi chamado assim, desde os seus cinco anos, quando começou a vagabundear nas ruas da Bahia. Hoje tem 15 anos e conhece todas as ruas e becos da cidade. Bala é considerado um herói por seu bando, traz nos olhos e na voz a autoridade de chefe. Muitas vezes ele tem que tomar decisões difíceis, se arrisca no que for preciso para lutar pelos meninos. Vai descobrir o amor ao lado de Dora. PROFESSOR (Robério Lima): Professor é quem toma conta do Trapiche quando Pedro Bala se ausenta. O braço direito de Bala é também o “intelectual” do bando: coleciona uma pequena biblioteca de livros e revistas roubadas que lê com grande dificuldade. Ele se tornou uma espécie de irmão mais velho para todos, aquele que conta histórias incríveis, aventuras mirabolantes, enriquecidas por sua imaginação.

DORA (Ana Graciela): com apenas 14 anos, Dora perdeu pai e mãe, vítimas da epidemia de varíola que se espalhou pela cidade. Ficou só, nas ruas de Salvador, levando pela mão o irmão Zé Fuinha. Foi nas ruas que conheceu Professor que se encantou com seu jeito e decidiu levá-la para o Trapiche. Os meninos a adotaram, para muitos ela virou uma mãezinha, uma irmã, para Pedro Bala virou sua noiva. Guerreira, vestida de homem, ela decide lutar ao lado do amado como se fosse um do bando. SEM-PERNAS (Israel Gouveia): Sem-Pernas ficou aleijado de tanto apanhar da polícia. Coxo de uma perna e pouco desenvolvido, logo ganhou o apelido. Explora o aleijão para se infiltrar em casas de famílias ricas conquistando a piedade de senhoras caridosas e em seguida “abre as portas” para o bando saquear. Para ele o sonho de ter uma família, sonho de todo menino de rua, às vezes parece tão próximo e, ao mesmo tempo tão inatingível, que sua revolta só cresce. GATO (Paulo Abade): O Gato sempre foi o mais malandro, excelente capoeirista, discreto, ágil, desbanca qualquer um nas mesas de jogo. Elegante e vaidoso investiu todo seu charme em conquistar sua grande paixão, Dalva, mulher de verdade, mulher da vida, mulher da sua vida. Desde que se ajeitou com a rapariga sonha em partir com ela para Ilhéus e enriquecer como gigolô. BOA VIDA (Jordan Mateus): Como o nome diz, Boa Vida é o típico baiano preguiçoso e acomodado. Gaiato, vive provocando a todos com seu humor cortante. Como bom malandro, adora música e mulheres (no fundo queria ser o Gato ) e garante boas risadas à dura vida dos Capitães da Areia. DALVA (Ana Cecília Costa): a prostituta Dalva se encontra em decadência quando Gato entra em sua vida. Ela se apega ao menino que lhe devolve vitalidade e juventude. Mais uma típica mulher de Jorge Amado, sensual e forte. QUERIDO DE DEUS (Marinho Gonçalves): é o mais célebre capoeirista da cidade, 35 anos de muita malandragem, mas também de trabalho pesado no mar, a bordo de seu saveiro. Virou uma referência para os Capitães da Areia, juntos passaram por várias aventuras. Foi ele quem apresentou o candomblé aos meninos e também a capoeira.

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ENTREVISTA com CECILIA AMADO (diretora)

- Como surgiu a idéia de filmar “Capitães da Areia”? “Capitães da Areia” foi um livro que marcou a minha adolescência, acho que a adolescência de várias gerações de brasileiros. Eu li o livro com 14, 15 anos e fiquei apaixonada pela liberdade daqueles meninos, pelo drama deles, mas, principalmente, pelo Pedro Bala, por aquele herói que era o Pedro Bala, um menino dos sonhos. E isso ficou marcado ali dentro de mim. Eu tinha a memória afetiva do “Capitães” dessa primeira leitura ainda adolescente comigo e um dia, já trabalhando há bastante tempo com cinema e com televisão, fui ver um ensaio de uma montagem teatral do “Capitães da Areia” no Rio de Janeiro, dirigido por um diretor carioca com jovens atores adolescentes de classe média, de cursos de teatro do Rio e fiquei tão surpresa, tão emocionada com a dedicação que eles tinham a estes personagens, pela paixão que eles tinham pelos “Capitães da Areia” e a emoção que eles passavam com isso, que acreditei que no cinema, com a possibilidade que o audiovisual tem de ampliar a poesia do livro, e interpretado por atores baianos, por jovens baianos do universo dos “Capitães da Areia”, seria arrebatador. A partir desse momento, me dediquei a conhecer esse universo e a buscá-lo para fazer o filme, para fazer essa adaptação. Como era a sua relação com o seu avô? Eu comecei a fazer cinema com 18 anos e eu me lembro que naquela época o meu avô me chamou num canto, achei que ele ia cobrar que eu fosse para o ramo da literatura e não do cinema e eu estava realmente dedicada a seguir carreira, estava apaixonada pelo cinema. Ele então me surpreendeu em dizer que eu estaria realizando o seu grande sonho, porque ele, apesar da longa jornada como escritor tinha esse sonho íntimo de ter sido cineasta. Não é a toa que era amigo de muitos cineastas. Jorge Amado foi amigo e parceiro de vários diretores e os seus livros também são extremamente cinematográficos. É uma literatura muito imagética que traz esse universo da Bahia para dentro do livro e a gente consegue visualizar esse universo. Isso me inspirou muito no “Capitães da Areia” em buscar esse universo lírico que estava ali narrado nas páginas do Jorge Amado. Vocês optaram por situar o filme na década de 50 mas com uma linguagem/estética mais pop. Como você concebeu essa ideia? Quando eu comecei a frequentar o “Projeto Axé” para pesquisa, logo entendi que a história dos “Capitães da Areia” é muito próxima da história desses meninos que estão nas ruas, que estão nas comunidades nos dias de hoje. Pouquíssima coisa mudou na essência desse problema. Por que eles foram parar na rua? Como é que eles se organizam? Como é a relação deles com a família, com as mulheres? Como que é um grupo essencialmente masculino? Como eles viam o preconceito? Isso não mudou dos anos 30 quando o romance foi escrito para os dias de hoje. O que mudou foi a violência bárbara, o tráfico de drogas, o crack que entrou muito pesado. E eu não poderia fazer um filme totalmente contemporâneo sem passar por esses temas. Ao mesmo tempo, falar desses assuntos seria mascarar o drama e a intimidade dessa questão dos meninos de rua que não mudou. A gente resolveu criar um universo que se afastasse desse tipo de violência "superficial" e que a gente embarcasse no drama, mas também no romantismo, na aventura, na liberdade que conta essa história. Então, fizemos um filme baseado nos anos 50, mas a partir daí, com uma leitura própria, contemporânea, pela fotografia,

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pela direção de arte, seja pela trilha sonora do Carlinhos Brown. Eu brinco que a gente construiu em cima de um leito de época, que é o Jorge Amado, que é o Pierre Verger com as suas fotografias, que foi o Dorival Caymmi. A gente construiu uma nova baianidade que é mais do século 21, mais contemporânea. Daí veio essa Cecília Amado, que sou eu, com esse filme, o Carlinhos Brown fazendo uma releitura do Caymmi, um novo vigor da música baiana atual, uma fotografia inspirada também no Mario Cravo Neto, que era uma releitura, por sua vez, do Verger, mas com contrastes, com cores, com vibração. Essa vibração, essa energia que os meninos trouxeram para mim, eu queria que tivesse no filme e é muito contemporânea. Daí esse conceito, essa linguagem de um filme de época, mas com uma leitura pop, contemporânea, vigorosa. - Dentro da preparação do filme como foi o processo de pesquisa de elenco e quais os critérios de seleção? O maior desafio de transpor a história dos “Capitães da Areia”, que é um bando de meninos adolescentes de Salvador, para o cinema, era justamente a formação do elenco. Acho que foi o nosso maior investimento e talvez um dos maiores valores hoje do filme, aonde a gente conseguiu chegar com essa formação de elenco. A gente queria trabalhar com não atores para ter essa organicidade, a verdade que o ator fresco traz. Por outro lado, nessa idade de adolescente de 14, 15, 16 anos, são raros os atores de fato profissionais, com uma boa formação. Em geral, são meninos de classe media que tiveram acesso a grandes escolas de teatro. Então procuramos o caminho que vários filmes já percorreram, desde “Pixote”, passando por “Cidade de Deus”, com muito sucesso, de trabalhar com jovens de comunidades, mas a gente queria ir além. A gente tinha a grande preocupação do que aconteceria com esses meninos depois que acabasse o filme, depois que eles tivessem a fama, a celebridade instantânea, como é que continuaria a vida deles com esse trator que é um filme, que é o cinema, no meio do percurso. Por isso, a gente foi procurar o elenco em organizações que trabalham com arte-educação. Eu frequentei durante 2 ou 3 anos o “Projeto Axé”, que trabalha com crianças realmente em situação de risco, para entender como é que funcionam essas organizações, para entender o universo hoje dos meninos. E em seguida a gente abriu uma pesquisa para 22 organizações que trabalham com diversas formas de arte diferentes, seja capoeira, dança, teatro eventualmente, muitas que trabalham com música e que já davam um preparo para esses meninos do palco, de pequenos momentos de estar em público, de estar mostrando o seu trabalho e, ao mesmo tempo, do trabalho diário, que tivesse acompanhamento diário, tanto do trabalho artístico, quanto do trabalho social com esses meninos depois do término do filme. E eu acho que o grande ganho foi nessa parceria com as organizações. O projeto “Capitães da Areia” vai além do cinema de entretenimento, ele tem também uma responsabilidade social que é de chamar a atenção para esse trabalho positivo das ONGs, o que para mim é muito importante. Qual foi o critério para a escolha do elenco principal? Para formar esse grupo principal dos “Capitães da Areia”, que são na realidade 12 personagens importantes do livro que a gente transpôs para o filme, cada um com a sua história e suas características, a gente começou fazendo uma pesquisa nessas ONGs com 1200 jovens que foram entrevistados e fizeram improvisações. Esses 1200 passaram por uma triagem e nós chegamos a 90 jovens para os quais a gente ofereceu uma oficina ampla de cinema durante 2 meses completos. Oficina diária

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onde eles tinham formação de atores com o preparador Christian Durvoort e aulas de capoeira-angola para trazer um pouco o movimento, o ritmo, mais dentro da época do universo do filme. Também era um modo de observar diariamente o quão eles eram dirigíveis, quais as características de cada um, o que eles poderiam aportar de íntimo para os personagens. Através dessas observações, a gente chegou a 2 grupos de 12 ou 13 jovens. E é aí quando partimos para o grupo, quer dizer, esse Bala tem que ser legal com essa Dora, tem que ter química com esse Professor, como é que esse triângulo funciona. Como é a relação do menino que faz o Bala com o menino que faz o Gato, eles têm que ter uma intimidade, uma amizade e um olhar para as mulheres que é diferente, que é íntimo dos dois. E assim os atores, por essas características, muito mais do que pelas características físicas, foram ganhando esses personagens, buscando esses personagens para si. Adaptar um romance como esse é muito difícil porque os personagens existem na cabeça de cada leitor e aí era importante que eles tomassem o corpo e o corpo veio dos próprios atores. Os atores vestiram os personagens. Qual foi seu método para dirigir o elenco jovem? A preparação no filme foi um processo importante para chegar na organicidade que a gente queria. Trabalhar com não atores, com jovens, adolescentes, homens na maior parte, 14, 15, 16 anos, quando junta um grupo grande, é complicado como ser professor mesmo de uma ‘turmona’ de meninos da comunidade, da rua, porque eles tem muita energia, eles chegam num grau de excitação, de repente ficam cansados, a energia cai, variação de humor. Então eu tive que aprender a ser um pouco amiga deles. No processo de preparação a gente tinha não só os ensaios das cenas como também roda de samba, roda de capoeira onde a gente dançava junto, cantava, brincava e essa intimidade foi o que nos permitiu ter um pouco mais de controle e conseguir dirigir eles com serenidade na hora do set. Eu precisava que os outros personagens, os personagens adultos do filme que contracenassem com eles, fossem atores muito experientes e, ao mesmo tempo, que tivessem segurança e uma generosidade para com esses meninos. E por outro lado, que não fossem caras muito conhecidas e que fossem brigar, destoar deles. Todos os atores que vieram, se entregaram e se fizeram permear pelo universo dos meninos para que não chamassem mais atenção e sim estivessem integrados e em harmonia com eles. E nos ajudaram muito. A gente trabalhava muito com música no set, colocava música no momento de filmar para recuperar a energia deles e aí a trilha sonora que já vinha fazendo parte do filme entrava para aquecer o universo. A música é uma peça de comunicação muito forte com esses jovens, então a gente recorria a ela para achar o tom certo, para chegar em um clima mais romântico, um clima mais festivo ou mais violento, mais agressivo. Cinema é síntese. Como foi adaptar o livro para o filme? Como foi a escolha do que do livro ia para o filme? Trabalhar com um livro tão conhecido como o “Capitães da Areia” era um grande desafio no momento da adaptação. Tem esse fantasma do ser fiel ao autor, e talvez uma expectativa por eu ser neta de Jorge Amado, como é que eu seria fiel a ele. E são tantas histórias na realidade que são contadas no romance “Capitães da Areia”, conta a história de vários personagens, por vários caminhos, então eu resolvi ser fiel ao espírito do livro, ao seu lirismo e quais os sentimentos que o Jorge Amado queria contar ali com aquela história. Muitas vezes a gente teve que resumir histórias

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e sintetizar dentro do personagem. Às vezes, o próprio personagem, em 10 segundos, traz uma história inteira do livro e está ali contando com uma dramaturgia que o cinema pede. A dramaturgia para o cinema é diferente da literatura, tem que ter um fio condutor muito mais forte. Então, para isso, muitas histórias foram transformadas e embutidas umas nas outras, um exercício muito interessante e curioso. Na realidade, o audiovisual vai aonde a literatura não alcança. Muitas vezes o leitor não dá conta, no seu universo cultural, de imaginar músicas, imaginar locações, imagens, planos de pontos de vista, de ângulos diferentes que o leitor pela própria leitura não consegue contemplar com a sua imaginação. E aí que é o barato do audiovisual, no filme você pode ir além, sempre bebendo nessa poesia, sempre bebendo nesse drama que o Jorge Amado traz no “Capitães da Areia”, no humor também que tem, na alegria dos meninos da Bahia. Isso era o essencial, o antagonismo entre o abandono e a liberdade, que é tão forte no livro, que isso tinha que estar presente no filme e não necessariamente todos os detalhes, todas as histórias. O filme tem vida própria. Como foi a concepção e a escolha da trilha sonora do filme? A partir da intenção de fazer do filme uma leitura contemporânea, vigorosa da Bahia e da obra de Jorge Amado com o “Capitães da Areia”, um dos primeiros parceiros que eu fui buscar foi o Carlinhos Brown na trilha sonora. Ele é um cara que bebe nas raízes, na fonte da música baiana, da música Africana, da música da América Latina, porque a gente acredita que o filme tem uma temática bem universal, ao mesmo tempo particular e universal. O Carlinhos entrou no início do processo do filme porque ele é um cara com uma sensibilidade incrível para os jovens, conhece esse universo dos “Capitães da Areia” e do elenco do filme muito bem. Ele mesmo fundou no Candeal uma organização que trabalha com arte-educação através da música que é a “Pracatum”. Era importante, conhecer esse universo para transformar isso em música, conhecer essa Bahia que a gente queria mostrar para transformar isso em música e ele trouxe um conceito desde o início de que a trilha sonora tinha que ser uma luva para o Capitães, que é um filme de aventura mas é, ao mesmo tempo, um drama romântico e a música dá conta de todas essas nuances que ele atravessa.

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ENTREVISTA com GUY GONÇALVES (co-diretor e diretor de fotografia)

Fale sobre a conceituação visual do filme. Para mim, pensar em Jorge Amado é pensar em Salvador, me remonta à primeira vez que eu fui a Salvador. Me causou um impacto enorme a luz de Salvador, o mar de Salvador, o Mercado Modelo, a igreja do Bonfim, referências visuais e humanas que marcaram profundamente. A presença africana também me marcou muito, a questão das cores nas vestimentas, a questão da religiosidade, do branco e das cores primárias fortes, os vermelhos, os azuis, os verdes, os amarelos, incorporando a este contraste entre a luz do sol e a sombra, os negros e essas cores, de repente, você começa a trazer essas memórias. No “Capitães” eu achava importante incorporar o lirismo, a poesia e o humor, porque apesar dos meninos que são retratados nos “Capitães da Areia”, eles vivem no limite da miséria e da marginalidade, eles tem felicidade, eles tem amor, eles querem aventura, eles estão descobrindo a vida, estão abertos para descobrir essa vida. Essa energia da juventude foi um norte na escolha cromática desse filme. Como você lidou com a luz típica da Bahia? Um dos maiores conflitos que o diretor de fotografia tem, às vezes, filmar no norte e nordeste do Brasil é o contraste. O sol sobe muito rápido e permanece alto ao longo do dia. Na Bahia, além desta questão da posição do sol, a gente tem a presença maciça do negro com roupas brancas e o sol impiedoso. Eu percebi logo que eu não podia combater isso. Então eu fui na direção de surfar essa onda. É contraste? Então, vamos aumentar este contraste, investindo nas texturas e, principalmente indo em direção a dramaturgia do filme. Como foi a opção de linguagem de câmera para esse filme? Como a câmera se comportou ao filmar com não-atores? Primeiro a gente definiu o nosso formato. A gente resolveu fazer o filme em 35mm, embora a gente quisesse uma textura não clean. Então investimos e fiz vários testes para que a gente conseguisse esse objetivo. A linguagem de câmeras veio junto com as decisões de fotografia no sentido de aproximar o espectador desses personagens e ajudar a contar essa história da forma mais orgânica possível. Eu fotografei muito na preparação eles dançando, eles fazendo capoeira e fui me aproximando e conquisando esse espaço ao ponto que eu achava que a câmera não deveria ser nenhum empecilho para a movimentação desses atores e nem que fosse perceptível, que eles se acostumassem com a minha presença e com a presença da câmera. E logo eu percebi que, na verdade, o caminho talvez mais próprio para isso fosse tratar a câmera como mais um personagem, um outro personagem. Em contrapartida a essa movimentação da câmera que fosse a mais fluida possível, mais próxima deles, tinham planos gerais e planos de suavidade, de um valor estético e documental grande para contextualizar essa história.Tem a festa de Iemanjá, o carrossel, os planos do trapiche, a grandiosidade e a proximidade desses meninos que dormiam entre caixas de sapato e foguinhos e o mar batendo muito próximo. Era muito importante contextualizar isso visualmente e os planos abertos e mais poéticos eram fundamentais para fazer o contraponto.

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Como co-diretor do filme, qual foi o seu papel junto ao elenco jovem? Era um grande desafio e a gente não podia fazer por menos porque os personagens, por si só, eram apaixonantes, eram muito ricos. Os meninos trouxeram elementos da história de vida deles já fantásticos. O meu contato com os meninos desde a preparação foi muito importante para mim como diretor de fotografia e como co-diretor do filme, porque eu precisava entrender eles, a história de vida deles para poder me relacionar com eles de uma forma franca. O conceito de câmera de estar próximo e de ser mais um personagem para mim era importantíssimo de sentir como é que eles se movimentavam, como é que eles sentiam aquilo ali e a relação deles comigo, porque eu tinha, da mesma forma que os outros companheiros, que ser aceito ali naquele grupo. Eu tinha que me movimentar próximo deles sem que eu me fizesse, me causasse estranheza a minha presença. Eu, também na figura de um cara mais velho, de diretor, de co-diretor, de fotógrafo, eu tinha que ter um aspecto lúdico que eu fui criando esse espaço com eles e, ao mesmo tempo, ter autoridade, porque eles pedem. Eles pediam, como todo adolescente pede autoridade. Então, não podia existir mentira e eles são muito verdadeiros, eles impuseram essa questão. Não fui eu quem impôs, foram eles quem impuseram. E isso foi muito legal, porque ao mesmo tempo, eu tinha que ter um papo reto com eles. É papo reto. Com eles funcionava dessa forma. Eles criaram uma intimidade comigo e eu com eles, mas essa relação foi se construindo, se tornando uma relação de profundo carinho e amizade, mas na hora da filmagem, eles sabiam que a coisa era séria, que tinha que ter uma disciplina e que tinha que ter uma ordem, tinha que ter uma hierarquia.

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ENTREVISTA com CARLINHOS BROWN (Trilha sonora) Como foi o convite para fazer o filme? Foi surpreendente. Quando Cecilia me chamou para fazer a trilha eu fiquei primeiro emocionado, por gostar de Jorge, por ter uma relação, não só de ser baiano, mas por ter familiares que sempre trabalharam com Jorge Amado e com Dona Zélia, e aquilo para mim era inusitado. Eu tinha uma compreensão oral dessa lenda dos Capitães da Areia, mas nunca tinha lido o livro e o filme terminou me contando essa história de Jorge. Quando eu vi inclusive o primeiro corte, puxa, como eu me identifiquei. Primeiro, logo fui às lágrimas, porque é emocionante da forma que tudo é tratado: a religiosidade, a educação, trabalho infantil, prostituição, abuso policial. Meu Deus, tantos temas que são corriqueiros e que continuam atuais nos dias de hoje. Como você vê a relação do filme a Bahia dos dias de hoje? A relação do filme com esses temas da marginalidade na Bahia, condiz muito com uma ação universal. Muito pouca coisa mudou desde quando o Seu Jorge escreveu esse livro maravilhoso que é “Capitães da Areia”. Eu vejo que não mudou a exploração do trabalho infantil, que não mudou esse tratamento que se tem com a prostituição, com a figura da mulher, que não mudou o cuidado que a gente não tem ou perdeu com a arquitetura e que a beleza também não mudou dentro de tudo isso. O “Capitães da Areia” renova e retrata, por mais que tenha uma ideia que foi filmado nos anos 40, anos 50, ele é novo porque essa Bahia ainda está lá, essa Bahia está adormecida e tem muitos propósitos destes que precisam ser revistos. Como é o seu processo criativo em termos de trilha sonora? Primeira coisa, eu não tenho muita experiência em trilha sonora, embora já tenha feito algumas. Quando eu falo experiência é quando você faz todo dia. Eu não faço todo dia. Já participei de algumas trilhas, como “Speed 2” lá atrás, “Cidade Baixa”, “Rio”, “Capitães da Areia”. Para mim, é sempre surpreendente. A melhor forma para mim hoje e eu aprendi bastante com o “Capitães”, porque Cecília Amado foi mais rígida, foi ela quem deu toda a condução, eu acho que, inclusive, ela fez duas direções: a direção do filme e a direção da trilha e isso não é a direção musical, é um encaixe. A minha conversa com ela, inicialmente, eu dizia que eu não queria fazer uma música, eu queria que a música servisse ao filme, porque eu acho que o músico que tem que acompanhar. Qual foi a sua primeira fonte de inspiração na criação da trilha sonora do filme? Eu acho que Jorge Amado. Ele é tão inspirador que não precisa ter enredo ou tema. Quando você fala em Jorge Amado quase a palavra Bahia vem junto, porque ele é a maior referência da Bahia. Ele é muito competente em tudo o que ele fez e escreveu, mas ele tem um carisma… não sei se essa palavra “amor” que tem no nome… Quando eu vejo falar de Jorge Amado, parece o homem que amou a todos e que todos se revelaram para ele, porque ele revela a Bahia com muita forma. Como é fazer um filme e uma trilha que passam por músicas que tem a energia baiana da percussão e ao mesmo tempo tem uma vertente romântica? O cinema em si dá uma possibilidade de sonho e sonhar, além de não custar nada, não tem limites. Vamos dizer que ele terminou me dando oportunidade como percussionista de trazer esse verdadeiro valor que a percussão no Brasil tem, esse

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barroquismo e essa primitividade que tem na percussão. Isso formata a percussão da rua na Bahia. E eu toquei muito nesse filme. Uma das coisas que eu mais fiz foi botar a mão, não foi passar a inspiração e a responsabilidade para outro. Por outro lado, eu nasci num ambiente muito romântico, o bairro do Candeal, aqui quando os casais brigavam eles subiam no chafariz e para se refazer cantavam, faziam serestas. E pelo fato do bairro ser uma roça de terreiro, então as festas sempre terminavam, mesmo as serestas, muito rítmicas e alegres e o beijo era duradouro. Vamos dizer que eu não tenho essa dificuldade para essa comunicação romântica por isso. Agora, o filme em si é muito romântico, um prato cheio. Como a capoeira aparece no filme? O filme dá uma oportunidade única para instrumentalizar, tocar, fazer coisas positivas. Dentro da sua linguagem, ele cobra o futuro nas coisas, ele cobra um futuro da Bahia, um futuro que preserva, um futuro que respeita, um futuro ambientalmente respeitado. Jorge Amado, por si, me cobrava que eu fizesse uma música de capoeira mais inovadora, diferente. A música “Capoeira Futuro” tem uma base de capoeira de cavalaria, uma adaptação do toque de berimbau, e eu canto como uma embolada que é uma vertente para o hip hop americano. A capoeira surgiu como luta de autodefesa mas ela termina nos ensinando que a luta não se faz valia da vitória ou da violência, mas talvez de chegar junto. Como foi o seu encontro com os meninos e a sua relação com eles? Quando eu entrei ali, eu me vi naquelas crianças, no desejo, na curiosidade. O encontro com eles me trouxe muito a minha infância, e eu tinha certeza de que eu estaria entrando numa história que mais do que parecesse com a minha vida, era a minha história também.

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ENTREVISTA com JEAN LUIS AMORIM (Pedro Bala)

Qual a temática do filme Capitães da Areia? Capitães da Areia fala sobre meninos de rua que roubam pra sobreviver e se ajudam, gostam de ajudar uns aos outros. Entre eles tem algumas leis básicas como não roubar deles mesmo ou que não pode ter mulher dentro do trapiche, mas essas leis são infringidas. Com a chegada de Dora rola muita mudança entre eles: o Professor e o Pedro Bala acabam se distanciando pelo fato do Professor também gostar da Dora e ela gostar do Bala . Esse tema da amizade é muito presente, a amizade no filme ela é tratada de uma forma bem esclarecida, porque eles tem a amizade entre eles e se respeitam, se respeitam bastante e independente do que acontece entre eles, estarão sempre unidos, juntos, pra enfrentar qualquer coisa. Você interpreta o protagonista do filme, Pedro Bala, como é esse personagem? Pedro bala é o chefe dos Capitães da Areia, eu vejo ele como um paizão, ele tá sempre ali ligado no que é que os meninos precisam, ele quer sempre ajudar os membros do grupo. Qualquer coisa que acontece até fora do trapiche, com mãe Aninha ou com o Padre José. Pedro ele quer se arriscar para salvar, ajudar as pessoas do meio deles. Como foi o processo que você passou para ganhar o papel de Pedro Bala? O processo foi um pouco tenso, eu não acreditava que eu fosse ser o Pedro Bala. Porque eu via muitos meninos que eram de teatro e a minha formação era de músico, eu nunca tinha feito teatro nem cinema, então não botava muita fé em mim, mas depois com os tempos de oficina eu fui pegando mais a base e fui me entregando, me jogando. Quando foi anunciado que eu ia ser o Pedro Bala eu não acreditei, eu fiquei meio assim, será que é verdade? Mas depois a ficha foi caindo e eu amei saber, ter a notícia de que eu ia ser o protagonista, principalmente quando fomos pro set de filmagem. Com o tempo de prática eu fui adquirindo e aprendendo muito rápido as coisas. A diretora, Cecília Amado, estava sempre ali, se a gente tinha alguma dificuldade ela parava atentamente com a gente, conversava e procurava entender o que era que tava se passando com a gente pra poder nos ajudar naquele momento de dificuldade nas cenas. Hoje, quando a gente vê o filme já pronto é muito gratificante.

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ENTREVISTA com ANA GRACIELA CONCEIÇÃO (Dora) Como a Dora entra na história dos Capitães da Areia ? Os “Capitães da Areia” são meninos que têm que roubar para sobreviver, mas que têm amizade, que têm respeito, muito respeito entre eles e que, acima de tudo, são muito unidos. Eles criam uma amizade como uma família.

Agora os meninos tem as suas leis e não aceitam mulher no bando. Com a chegada de Dora eu acho que ela rompeu essa barreira de não ter mulher, de que é proibido porque mulher vai atiçar os meninos e eu acho que, aos poucos, ela conquistou a confiança de todos eles. Com o passar do tempo, eles foram vendo a Dora como uma irmã, como uma amiga, como mãe, tendo uma referência. E como é a sua personagem, a Dora? Dora é uma menina que perdeu os pais muito cedo, tinha um irmão muito pequenininho que ela teve que cuidar. Eu vejo Dora como uma menina-mulher, muito guerreira, com atitude, com fibra, coragem, muito corajosa. Fale um pouco sobre o triângulo amoroso Pedro Bala – Dora – Professor. Quando Dora conheceu o Professor, acho que ela olhou para ele e viu um amigo, um irmão, um companheiro que ela sabia que ela podia contar, porque ela confiava. Já o Pedro Bala, quando ela olhou para ele eu acho que ela viu um herói ali e pensou: “Pronto! É o amor da minha vida. É por ele que eu vou me apaixonar.” Como foi a sua relação com os dois atores deste triângulo amoroso? No início, eu não era muito chegada ao Jean (Jean Luis Amorim, o Pedro Bala) não, a gente não tinha muita intimidade na época dos ensaios. Com o Robério (Robério Lima, o Professor), eu fiz logo amizade, a gente sempre teve um chamego. Com Jean foi com o tempo, com o trabalho, convivendo e a gente teve e tem uma amizade muito forte até hoje. Você era a única menina num grupo de um monte de homens. Como era lidar com tantos meninos adolescentes? Eu era a única menina entre vários meninos, mas é divertido porque os meninos sempre fazem brincadeiras um com o outro e você se diverte, é bem mais descontraído, é divertido e eles me respeitavam. Às vezes, chegava até ser engraçado quando um falava qualquer besteirinha e o outro chegava e “Rapaz, respeite Ana!”, era bem divertido.

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PALAVRA DE ROBÉRIO LIMA (Professor)

“O Professor é um dos garotos mais centrados do grupo, eu acho que ele é o que tem a mente mais aberta para entender as coisas, é o único que sabe ler, gosta muito de desenhar e ajuda o Pedro Bala a tramar os golpes. Além disso, ele é um garoto que vive muito de sonhos, sonha muito. Às vezes, ele pensa no futuro, gosta de prever as coisas, gosta de pensar no que vai ser e tem um grande sonho de ir para o Rio de Janeiro e ser artista e poder trabalhar com a arte. Acho que é um pouco da vida do Professor. “

“Eu acho que a cena mais difícil para mim, foi uma cena que se passa no fundo de um restaurante, comendo resto de comida. Para mim essa cena foi muito tocante porque traz um sentimento muito forte que é a fome. E aí eles estão comendo restos de comida no fundo do restaurante, entre os cães, passando por uma humilhação. Agora, foram tantas cenas que eu gostei de fazer! A do carrossel, por exemplo, eu me diverti muito filmando, eu nunca tinha andado de carrossel e foi uma experiência ótima!” PALAVRA DE ISRAEL GOUVEIA (Sem Pernas)

“Os temas abordados no filme são a lealdade um pelos outros e o respeito que todos tem pelo chefe, mas principalmente a liberdade que eles tem de poder fazer o que quiserem a hora que quiserem porque não tem quem mande neles e é por isso que eles moram na rua. Essa é a vontade dos garotos: ser livre. “ “A minha emoção quando eu soube que eu ia ser o Sem Pernas foi tão grande que eu não consegui conter. Chorei muito. Acho que é uma coisa que eu sempre quis na minha vida foi ser ator e eu estava conseguindo aquela oportunidade e agarrei com toda a força.” “Eu acho que preconceito não existiu no “Capitães da Areia”, não foi uma palavra que postou no dicionário porque todo mundo ali sabe o que passa mesmo tendo nossas preocupações em casa e eu estava passando por um momento feliz com todo mundo, eles me aceitaram como qualquer outro.”

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PALAVRA DE PAULO ABADE (Gato)

“O meu personagem, o Gato, é um cara que pensa em ter algo, quer ter algo grande na vida, quer ganhar dinheiro, ele não quer ficar por baixo. O Gato quer ser alguém na vida, e sair daquela vida de ser menino de rua.” “A paixão da vida do Gato é a Dalva. Ele é o mais vaidoso e gosta muito de mulher...e eu também gosto.” “O clima no set para mim era muito emocionante, porque, logo que a gente chegou ali, praticamente não sabia exatamente o que a gente estava fazendo ali, só sabia que a gente ia fazer o filme, mas a gente ainda não acreditava. Mas lá todo mundo tratou a gente bem, cuidou da gente e mostrou o caminho. Então, para mim, foi uma emoção e tanto!” PALAVRA DE ANA CECÍLIA COSTA (Dalva) “Quando a Cecília me chamou pra fazer o filme, eu achei linda a história do Capitães da Areia, porque nos outros livros que eu havia lido do Jorge Amado as personagens são personagens adultas, são mulheres, são pescadores. E esse não, são os meninos, os meninos e a cidade de Salvador. O olhar dos meninos, a vivência deles com aquela cidade, que é cidade em que eu fui criada, foi muito comovente para mim.” “A Dora é uma menina, mas mulher como símbolo é a Dalva, assim como beleza, como sensualidade, a Dalva é a mulher de Jorge Amado, a brasileira, a mestiça, a picardia, tudo isso ela traduz. É uma honra fazer uma personagem dessa.” “A Dalva e o Gato são bichos da mesma espécie, são animais que se reconhecem, são criaturas que se olham e que tem uma semelhança entre eles da vaidade, são personagens bonitos no termo clássico da beleza, são personagens que querem estar bonitos, que querem estar vaidosos, uma pedra que brilha mais chama a atenção dela, é uma mulher, é o feminino e, ao mesmo tempo, dentro dessa condição mais frágil” “Eu tinha que ser muito sensível para jogar o jogo deles, não impor nada. Claro que eu venho de uma outra formação, eu trabalho nessa profissão há mais tempo, eu tenho mais idade, eu venho de um outro lugar, mas eu tenho que colocar tudo isso a serviço, a dispor, de contar essa história que é a história deles. Então, se o meu parceiro era o Paulo, o meu parceiro era o Gato, no caso desse filme e dessa história em particular, era dele o jogo que eu tinha que jogar.”

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CECILIA AMADO (diretora) A diretora carioca Cecília Amado iniciou sua carreira no cinema em 1995, ano da “retomada” do cinema nacional, como assistente de continuidade no longa-metragem Tieta do Agreste, de Carlos Diegues, e ainda nessa função fez O que é isso, companheiro? de Bruno Barreto, e Guerra de Canudos, de Sérgio Rezende. Foi com Rezende que ela estreou como assistente de direção no filme Mauá – O Imperador e o Rei (1998). Na seqüência trabalhou como assistente de diretores consagrados como Cao Hamburger, Helvécio Raton e Walter Avancini, tanto no cinema (Onde Anda Você?, Jogo Subterrâneo, Batismo de Sangue,...) como na Televisão em novelas e seriados (A Muralha, Cidade dos Homens, Mulheres Apaixonadas, da Cor do Pecado, entre outros). Em 2008 dirigiu o curta-metragem Minha Rainha e iniciou a produção do filme Capitães da Areia, que marcará sua estréia na direção de filmes de longa-metragem.

Junto com Guy Gonçalves, Cecília é sócia da produtora Maga Filmes.

LAGOA CULTURAL (Produtora) A Lagoa Cultural e Esportiva é uma produtora carioca atuante no mercado há

mais de dez anos, responsável por filmes como “O Veneno da Madrugada” de Ruy Guerra (2005), e “Maúa – O Imperador e o Rei” de Sergio Rezende (1999), entre outros. A filmografia combinada dos produtores executivos contratados pela Lagoa Cultural para executarem o projeto “Capitães da Areia” conta com filmes expressivos como Tieta do Agreste de Carlos Diegues (1996), For All, O Trampolim da Vitória de Luiz Carlos Lacerda e Buza Ferraz (1998), Estorvo de Ruy Guerra (2000), Xangô de Baker Street de Miguel Faria Jr. (2001), Brasileirinho de Mika Kaurismäki (2004).

ARAÇA AZUL (Co-produtora Bahia) A Araçá Azul foi criada em 1996, desde então tem produzem vários filmes na Bahia., dentre eles: Lotação de Paulo Alcântara, Cega Seca, Caçadores de Saci e Vermelho Rubro de Sofia Federico, Preto no Branco, Hansem Bahia e Xisto Bahia – Isto é Bom de Joel de Almeida, Na Terra do Sol de Lula Oliveira, O Anjo Daltônico de Fábio Rocha. Em 2005 a produtora foi contemplada com o longa-metragem “Estranhos”, de Paulo Alcântara. Além de Capitães da Areia, a Araçá Azul lançará em 2011 o longa-metragem Jardim das Folhas Sagradas de Pola Ribeiro.

IMAGEM FILMES (Distribuidora) A Imagem Filmes vem se consolidando cada vez mais no mercado de entretenimento do país como uma distribuidora de filmes independentes que oferece uma variedade de produções com qualidade, vindas dos quatro cantos do mundo. Empresa nacional, atua nos segmentos de cinema, vídeo e televisão. Atuando desde 1998, a Imagem Filmes lançou grandes produções, como Cidade de Deus, Chicago, Chocolate, Kill Bill, Crash - No Limite, Os Normais 2, Sempre ao Seu Lado, A Arvore da Vida, entre outros. Sua carteira de filmes nacionais ampla e diversificada, contemplou em 2011 o lançamento de filmes como Bruna Surfistinha, Estamos Juntos e Não Se Preocupe, Nada Vai Dar Certo.

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DESDOBRAMENTOS SOCIAIS

A temática do filme Capitães da Areia chama a atenção para o comprometimento social do projeto ao retratar com um olhar poético e extremamente humano o drama da infância carente. Através da sua abordagem moderna o filme pretende aproximar o público de um problema que pouco mudou na sua essência, apenas se agravou, e muito, no risco e no comprometimento da vida dessas crianças, em função da propagação do consumo e do tráfico de drogas, além do aumento absurdo da violência, principalmente nas camadas populares de onde são oriundas. Ao olharmos por outro angulo, no entanto, percebemos que algo evoluiu positivamente neste setor: a proliferação de entidades que, usando como instrumento a arte-educação, se dedicam a resgatar crianças das ruas ou mesmo prevenir que outras crianças acabem se envolvendo na marginalidade, representa um respiro, uma ponta de esperança, em uma questão de tamanha gravidade. Por isso decidimos que o projeto Capitães da Areia deve iluminar a ação dessas entidades e dar espaço ao talento, ao frescor e à energia dessas crianças, heróis na vida real, assim como no romance. Nossa responsabilidade social vai além do conteúdo do filme. Todo o processo de realização está voltado para a questão dos menores carentes. Começamos estabelecendo parcerias com inúmeras ONGs que atuam em Salvador neste setor, como o Projeto Axé, o Liceu de Artes e Ofícios da Bahia, o Circo Picolino, o C.R.I.A., entre outras. Todo o elenco infanto-juvenil do filme, aí incluídos seus protagonistas, será escolhido nessas ONGs. Através de oficinas preparatórias traçamos com nossos meninos um paralelo entre a história dos Capitães da Areia e suas próprias histórias. Nos comprometemos ainda em levar um pouco do ofício do cinema a essas organizações. Para isso vamos realizamos palestras ministradas por alguns dos profissionais de nossa equipe e posteriormente selecionamos jovens para trabalhar como estagiários nos diversos departamentos técnicos e artísticos do filme. Uma vez o filme Capitães da Areia concluído e distribuído no Brasil, montaremos um “circuito” de exibição não comercial em parceria com as secretarias de educação de diversos estados do Brasil incluindo um ciclo de debates sempre voltados para essas organizações e comunidades carentes .