bala perdida
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Contos dos alunos do 9º ano CSL.TRANSCRIPT
BALA PERDIDA
Contos feitos pelos alunos do 9 ano do Colgio So Lus
BALA PERDIDA
Acorda, levanta, vai ganhar a vida...
(Disparos)
... passou to rpida.
(FREIRE, Wilson. Bala Perdida. In: FREIRE, Marcelino (Org.). Os cem menores contos brasileiros
do sculo.Cotia, SP: Ateli Editorial, 2004, p. 99.)
A proposta: ampliar o microconto Bala perdida, de Wilson
Freire.
A exigncia: um tiro deveria aparecer no enredo.
O resultado: excelentes contos criados pelos alunos do 9 ano do
Colgio So Lus, mostrando que o microconto estimula a criatividade
que se manifesta de formas diversas. At eu resolvi escrever um, que o
primeiro deste livro virtual.
Fiquei muito feliz com os textos de vocs, alunos! Esto de
parabns!
Um abrao,
Roberta Ramos
Mais um dia. Tudo escuro e frio, como sempre, entre aquelas
quatro paredes apertadas. Ouo a voz dele. Parece mais spera, mais
aflita do que o normal. Est falando ao celular:
- Hoje, s 11 da noite.
Dia e hora marcados, o local j tinha sido definido. No h como
adiar meu destino: j havia sido traado, eu nada podia fazer.
Confesso que a expectativa do momento causava-me uma mistura
de medo e alegria. Medo do desconhecido, da possvel dor; alegria, por
terminar a to longa espera ali, enclausurada.
Ele entra na sala, passos rpidos. Acende-se uma luz, fazia tempo
que no via a claridade! Ele fede a aguardente e suor. Suas mos
imensas so calejadas, com as unhas sujas. Sinto nojo quando ele me
agarra, bruto.
A luz se apaga novamente. Sou colocada em um lugar menor
ainda, mais apertado, mais escuro. Sinto o movimento, ouo os sons do
motor, da buzina. Ele pra.
Chega o momento do disparo.
Pele, msculo, artria, sangue quente, quente, sensao morna e
macia.
Nunca imaginei que seria to bom perfurar o corao de um
homem.
(Roberta Ramos)
TURMA 91
Luiz Carlos de Almeida, 44 anos, carioca nato, muito trabalhador,
mas gosta de uma praia com os amigos e a esposa nos finais de
semana. Tinha uma vida particularmente feliz, mas apressada. E havia
um porm: seu apartamento era ao lado do Morro do Alemo, onde
tiroteios eram frequentes. Por isso, tinha janelas e carro blindados.
Um belo dia, em um calor de 40 graus, Luiz Carlos foi para o
trabalho, e foi pensando no jantar daquele dia com sua esposa, no qual
falaria que iria querer ter um filho. Ao sair da garagem, sentiu um vento
forte e abafado. Abriu a janela, e continuou andando. Como estava com
muito trnsito, resolveu cortar pela favela, e foi a que aconteceu.
Quando se aproximou do morro, comeou a ouvir tiros. A essa
hora da manh?- pensou O que esses caras tm na cabea?.
Decidiu dar meia-volta, mas foi atingido no pescoo.
No comeo, gritou de dor e sentiu o sangue escorrer pelo corpo.
Sabia que aquele seria seu fim. Em sua cabea. Uma mistura de
pensamentos: No acredito que vou morrer assim, Como eu queria
ter tido ao menos um filho, Tomara que se vinguem por mim. E nessa
mistura de raiva, tristeza e dor, surgiu a pena, por aqueles que ganham
a vida e a perdem com as drogas.
Aos poucos, foi comeando a perder seus sentidos. Suas mos
largaram o volante lentamente. Seus olhos fecharam-se, e aos poucos,
parava de ouvir o barulho que o rodeava. At que seu corao parou.
Sua mulher, que havia escutado o barulho dos pneus queimando
e descido correndo, assistia a tudo, horrorizada. Lgrimas escorriam
por seu rosto. Era impossvel ficar to assustado e triste como ela
naquele momento.
Ao som de sirenes, gritos (principalmente de sua mulher) e tiros, foi
declarada a sua morte, s 12:30 de uma segunda-feira de sol carioca.
(Alexandre Bortolotto)
Um policial de 32 anos, moreno, alto, forte, que apesar dos riscos
do seu trabalho ama o que faz, acorda ao lado de sua esposa, jovem que
nem ele, toma o caf e vai ganhar a vida no posto policial. Salva vidas,
isso o que faz. Todo dia fazendo a mesma coisa, at que sua rotina foi
mudada. Recebeu um chamado:
-Al? Oficial Ricardo? indagou o coronel com uma voz assustada
-Sim, eu mesmo, coronel Rodrigo. O que houve ?
-Est acontecendo um assalto na marcearia, Rua Flexition,
nmero 109.
Ricardo apanhou suas coisas e ia a caminho da mercearia,
quando um amigo seu,tambem policial, perguntou:
-Aonde vai?
Ele explicou o que ocorrera, e saiu correndo. Quando chegou ao
lugar desejado, Ricardo perguntou ao gerente:
-No houve nenhum assalto aqui ?
O gerente continuou quieto. Ele estava suando, tremendo!
Apagaram-se as luzes
O oficial Ricardo foi sequestrado. Quando acordou, estava sendo
torturado a sangue frio. Naquele momento, s se podia ouvir seus ossos
se quebrando e os gritos desesperadores.
Quando acabou a tortura e finalmente conseguiu enxergar, a
nica coisa que via era o coronel.
- O que estou fazendo aqui? perguntou Ricardo, desesperado.
- Voc um dos nossos melhores oficiais e estvamos com medo
de que descobrisse o nosso esquema de lavagem de dinheiro.
Ricardo grita desesperadamente, com muita dor.
- Tire-me daqui!
-Voc no me deu outra escolha murmurou o coronel,
preparando a arma.
Quando estava preparado para atirar, a porta se abriu e, de
repente, s se viam policiais. As luzes se apagaram. Ricardo se soltou e
tentou fugir, arrastando-se pelo cho. Ele s conseguia ouvir barulho de
tiros. Quando tudo ficou silencioso, Ricardo sentiu o sangue escorrendo
pela sua garganta e ardendo como fogo. Ele ia perdendo seus sentidos,
no via mais nada, apenas sua vida passando pelos seus olhos. Era
uma dor inexplicvel.
Sua vida passou muito rpida.
Tudo passou muito rpido...
(Fernanda Arbage e Gustavo Damascena)
s 6:30 acordei, me arrumei e fui cozinha tomar caf. Como no
havia nada de especial, resolvi comer na padaria da esquina e ir direto
ao trabalho.
Sempre que vou ao trabalho, passo na banca de jornal, em frente
minha casa, para ver as notcias dirias. Enquanto comprava uma
revista Super Interessante, um homem de sobretudo preto, com as
mos no bolso, e um chapu abaixado, deixando sua identidade oculta,
sacou uma arma do bolso, agarrou-me pelo brao e jogou-me contra a
parede. Apontou a arma para mim, dizendo:
- Como que fica, hein, Jorge?
- Mas o qu...
- Voc fica na boa e eu me ferro, n?
- Mas eu no sei...
- Sabe sim! E sabe muito bem!
- Nunca te vi, nem sei quem voc!
- Chega de brincadeira! George, voc vai me pagar...
- Pra! Pra! Meu nome nem George, Guilherme- mostrei
minha identidade.
- No adianta, George, eu sei que voc! E voc sabe o que fez,
alm disso, no tem mais volta!
- Tudo bem! Tudo bem! Eu no minto, eu sou George, s mudei
minha identidade, mas eu sei que tenho uma coisa que pode...-
Disparos.
(Daniel Fouto e Virginie Cortes)
Numa manh de sol, um cidado trabalhador se arruma para
mais um dia de trabalho. Despede-se de sua famlia.
A caminho de seu servio como arquiteto na Barra da Tijuca, h
de passar pela Linha Vermelha, onde sempre h policiais patrulhando o
local.
Depois de muitas horas na obra da grande manso do diretor de
uma empresa, este o convidou para jantar com ele.
Em direo ao restaurante, uma moto os fecha, desacelerando
bruscamente. Olhando para a esquerda, com a breve inteno de xing-
lo, percebeu que ele tinha uma arma.
Houve trs disparos. O desespero comeou. Saiu correndo em
busca de ajuda para socorrer o seu patro. Chegando polcia, com
sangue espirrado em toda sua camisa branca, diz que seu patro havia
sido baleado. Chegando ao carro, notaram o patro ensanguentado,
uma arma na poltrona do carona e trs cpsulas de bala ao lado da
marcha, espalhadas pelo cho. Os policiais, sem dvida em suas
mentes, prenderam o inocente homem violentamente, e o levaram para
a delegacia.
O delegado decide que o homem seja julgado publicamente.
As testemunhas estavam l, prontas para falar sua histria,
quando o homem pensa:
-O que eu fiz de bom na minha vida inteira? Acho que no fiz
nada de til. Vejo os momentos bons e ruins passarem como um flash
de cmera. Ouo gritos dizendo para eu ser morto, condenado.
Foi quando o juiz tomou sua deciso.
Passou to rpido.
(Gabriel Chae e Luiz Gabriel Machado)
Estava no bar, expulso de casa e demitido. Tentava esquecer as
desgraas da minha vida.
Alguns dias depois, andava pelas ruas pensando no que poderia
me ajudar. Pedia esmolas, procurava comida no lixo.
Era noite. Voltei para o bar aonde frequentemente ia e logo vi
minha ex-esposa, Fernanda da Silva, com meu melhor amigo, Joo
Pereira.
Despertou-me um dio jamais sentido, meus olhos se encheram
de lgrimas e fechei minha mo, como se fosse dar um soco em algum.
Uma fraqueza me tomou e, ao mesmo tempo, um sentimento forte me
envolveu.