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Poemas para ler e ilustrar

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Page 1: IlustraLeR-7.º D
Page 2: IlustraLeR-7.º D

[Escrever texto]

AAAA paixãopaixãopaixãopaixão dodododo

Ai, o amor quando nos toca

é como se tocasse um sino

um hino, um trino

de um alegre passarinho

Vou voar para o teu ninho

vou tentar fazer o pino

vou ser bailarino

argentino, desatino

Mas que hei-de eu fazer?

O amor é um furacão

desgovernando

a minha embarcação

Sérgio Godinho

dodododo velhovelhovelhovelho Pires,Pires,Pires,Pires, oooo marinheiromarinheiromarinheiromarinheiro

Ai, o amor quando nos toca

é como se tocasse um sino

um hino, um trino

de um alegre passarinho

Vou voar para o teu ninho

vou tentar fazer o pino

vou ser bailarino

argentino, desatino

de eu fazer?

O amor é um furacão

desgovernando

a minha embarcação

Godinho

marinheiromarinheiromarinheiromarinheiro

Page 3: IlustraLeR-7.º D

[Escrever texto]

AAAA rosarosarosarosa dededede

Pensem nas crianças

Mudas telepáticas

Pensem nas meninas

Cegas inexatas

Pensem nas mulheres

Rotas alteradas

Pensem nas feridas

Como rosas cálidas

Mas oh não se esqueçam

Da rosa da rosa

Da rosa de Hiroxima

A rosa hereditária

A rosa radioativa

Estúpida e inválida

A rosa com cirrose

A anti-rosa atômica

Sem cor sem perfume

Sem rosa sem nada

dededede HiroximaHiroximaHiroximaHiroxima

Pensem nas crianças

Mudas telepáticas

Pensem nas meninas

Cegas inexatas

Pensem nas mulheres

Rotas alteradas

Pensem nas feridas

Como rosas cálidas

Mas oh não se esqueçam

Da rosa da rosa

Hiroxima

A rosa hereditária

A rosa radioativa

Estúpida e inválida

A rosa com cirrose

rosa atômica

Sem cor sem perfume

Sem rosa sem nada

Vinicius de Moraes

Antologia Poética

Page 4: IlustraLeR-7.º D

[Escrever texto]

AmigoAmigoAmigoAmigo

Mal nos conhecemos

Inaugurámos a palavra amigo!

"Amigo" é um sorriso

De boca em boca,

Um olhar bem limpo,

Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,

Um coração pronto a pulsar

Na nossa mão!

"Amigo" (recordam

Escrupulosos detritos?)

"Amigo" é o contrário de inimigo!

"Amigo" é o erro corrigido

Não o erro perseguido, explorado,

É a verdade partilhada, praticada!

"Amigo" é a solidão derrotada!

"Amigo" é uma grande tarefa,

É um trabalho sem fim,

Um espaço sem

Um espaço útil, um tempo fértil,

"Amigo" vai ser, é já uma grande festa!

Mal nos conhecemos

Inaugurámos a palavra amigo!

"Amigo" é um sorriso

De boca em boca,

Um olhar bem limpo,

Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,

Um coração pronto a pulsar

Na nossa mão!

"Amigo" (recordam-se, vocês aí,

Escrupulosos detritos?)

"Amigo" é o contrário de inimigo!

"Amigo" é o erro corrigido

Não o erro perseguido, explorado,

É a verdade partilhada, praticada!

"Amigo" é a solidão derrotada!

"Amigo" é uma grande tarefa,

É um trabalho sem fim,

Um espaço sem fim,

Um espaço útil, um tempo fértil,

"Amigo" vai ser, é já uma grande festa!

Alexandre O'Neill, No Reino da Dinamarca

No Reino da Dinamarca

Page 5: IlustraLeR-7.º D

[Escrever texto]

BarcaBarcaBarcaBarca BelaBelaBelaBela

Pescador da barca bela,

Onde vais pescar com ela.

Que é tão bela,

Ó pescador?

Não vês que a última estrela

No céu nublado se vela?

Colhe a vela,

Ó pescador!

Deita o lanço com cautela,

Que a sereia canta bela...

Mas cautela,

Ó pescador!

Não se enrede a rede nela,

Que perdido é remo e vela,

Só de vê-la,

Ó pescador.

Pescador da barca bela,

Inda é tempo, foge dela

Foge dela

Ó pescador!

BelaBelaBelaBela

Pescador da barca bela,

Onde vais pescar com ela.

Que é tão bela,

pescador?

Não vês que a última estrela

No céu nublado se vela?

Colhe a vela,

Ó pescador!

Deita o lanço com cautela,

canta bela...

Mas cautela,

Ó pescador!

Não se enrede a rede nela,

Que perdido é remo e vela,

la,

pescador.

Pescador da barca bela,

Inda é tempo, foge dela

pescador!

Almeida Garrett, Folhas Caídas

Page 6: IlustraLeR-7.º D

[Escrever texto]

BolhasBolhasBolhasBolhas

Olha a bolha d'água

No galho!

Olha o orvalho!

Olha a bolha de vinho

Na rolha!

Olha a bolha!

Olha a bolha na mão

Que trabalha!

Olha a bolha de sabão

Na ponta da

Brilha, espelha

E se espalha.

Olha a bolha!

Olha a bolha

Que molha

A mão do menino:

A bolha da chuva da calha!

Olha a bolha d'água

No galho!

Olha o orvalho!

Olha a bolha de vinho

Na rolha!

Olha a bolha!

Olha a bolha na mão

Que trabalha!

Olha a bolha de sabão

Na ponta da palha:

Brilha, espelha

E se espalha.

Olha a bolha!

Olha a bolha

Que molha

A mão do menino:

A bolha da chuva da calha!

Cecília Meireles

Page 7: IlustraLeR-7.º D

[Escrever texto]

CantigaCantigaCantigaCantiga aaaa

quequequeque diziamdiziamdiziamdiziam

MOTE

Não sei se me engana Helena,

se Maria, se Joana,

não sei qual delas me engana.

VOLTAS

Ua diz que me quer bem,

outra jura que mo quer;

mas, em jura de mulher

quem crerá, se elas não crêm?

Não posso, não crer a Helena,

a Maria, nem Joana,

mas não sei qual mais me engana.

Ua faz-me juramentos

que só meu amor estima;

a outra diz que se fina;

Joana, que bebe os ventos.

Se cuido que mente Helena,

também mentirá Joana;

mas quem mente, não me engana.

trêstrêstrêstrês damasdamasdamasdamas

diziamdiziamdiziamdiziam quequequeque oooo aaaamavammavammavammavam

Não sei se me engana Helena,

se Maria, se Joana,

não sei qual delas me engana.

Ua diz que me quer bem,

outra jura que mo quer;

mas, em jura de mulher

crerá, se elas não crêm?

Não posso, não crer a Helena,

a Maria, nem Joana,

mas não sei qual mais me engana.

me juramentos

que só meu amor estima;

a outra diz que se fina;

Joana, que bebe os ventos.

Se cuido que mente Helena,

também mentirá Joana;

mas quem mente, não me engana.

Luís de Camões

Page 8: IlustraLeR-7.º D

[Escrever texto]

NeologismoNeologismoNeologismoNeologismo

Beijo pouco,

falo menos ainda.

mas invento palavras

que traduzem a ternura mais funda

E mais cotidiana.

Inventei, por exemplo,

o verbo teadorar.

Intransitivo

Teadoro, Teodora.

Manuel da Bandeira

NeologismoNeologismoNeologismoNeologismo

falo menos ainda.

as invento palavras

que traduzem a ternura mais funda

E mais cotidiana.

Inventei, por exemplo,

o verbo teadorar.

Teadoro, Teodora.

Manuel da Bandeira

Page 9: IlustraLeR-7.º D

[Escrever texto]

OOOO pastorpastorpastorpastor

Pastor, pastorinho,

onde vais sozinho?

Vou àquela serra

buscar uma ovelha.

Porque vais sozinho,

pastor, pastorinho?

Não tenho ninguém

que me queira bem.

Não tens um amigo?

Deixa-me ir contigo.

Eugénio de

Pastor, pastorinho,

onde vais sozinho?

Vou àquela serra

buscar uma ovelha.

Porque vais sozinho,

pastor, pastorinho?

Não tenho ninguém

que me queira bem.

Não tens um amigo?

me ir contigo.

Eugénio de Andrade

Page 10: IlustraLeR-7.º D

[Escrever texto]

OOOO relógiorelógiorelógiorelógio

Passa, tempo, tic

Tic-tac, passa, hora

Chega logo, tic

Tic-tac, e vai-

Passa, tempo

Bem depressa

Não atrasa

Não demora

Que já estou

Muito cansado

Já perdi

Toda a alegria

De fazer

Meu tic-tac

Dia e noite

Noite e dia

Tic-tac

Tic-tac

Dia e noite

Noite e dia

relógiorelógiorelógiorelógio

Passa, tempo, tic-tac

tac, passa, hora

Chega logo, tic-tac

-te embora

Passa, tempo

Bem depressa

Muito cansado

Toda a alegria

Vinicius de Moraes

Page 11: IlustraLeR-7.º D

[Escrever texto]

OsOsOsOs gatosgatosgatosgatos

Gosto do gato

do gato gosto

que é animal irracional

de fino gosto.

Tem tanto trato

tanta finura

que mata o rato

com requintes de ternura.

Gosto do gato

do gato gosto

que é animal irracional

de fino gosto.

II

Lembro que um dia na sacada do meu prédio

havia um gato matulão com malapata

amava ele com paixão mas sem remédio

arisca gata porque aristrocata.

III

Fazia versos de sardinha

ramos de espinhas com cheirinho a maresia

e a gata persa com esmeraldas na mirada

nunca ligava ao carapau nem à poesia.

IV

Gato vadio animal da vida

gato com cio confessando

gato telhado esfomeado e sem guarid

e a gata persa que só come caviar.

V

Gatos da rua eriçados de verdade

lambendo os restos que há no fundo do desgosto

gato Cesário dos poemas da cidade

com olhos verdes que é a cor de que eu mais gosto.

que é animal irracional

com requintes de ternura.

é animal irracional

Lembro que um dia na sacada do meu prédio

havia um gato matulão com malapata

amava ele com paixão mas sem remédio

arisca gata porque aristrocata.

Fazia versos de sardinha prateada

ramos de espinhas com cheirinho a maresia

e a gata persa com esmeraldas na mirada

nunca ligava ao carapau nem à poesia.

Gato vadio animal da vida

gato com cio confessando-se ao luar

gato telhado esfomeado e sem guarida

e a gata persa que só come caviar.

Gatos da rua eriçados de verdade

lambendo os restos que há no fundo do desgosto

gato Cesário dos poemas da cidade

com olhos verdes que é a cor de que eu mais gosto.

José Carlos Ary dos SantosJosé Carlos Ary dos Santos

Page 12: IlustraLeR-7.º D

[Escrever texto]

SemanaSemanaSemanaSemana dadadada

Na segunda, me deito.

Na terça, me levanto.

Na quarta, é dia santo.

Na quinta, vou

Na sexta, venho

No sábado, vou

No domingo,

Diga-me, lá, ó comadre,

Quando hei-de

Alice Vieira, Eu bem vi nascer o sol: antologia da

poesia popular portuguesa

dadadada PreguiçosaPreguiçosaPreguiçosaPreguiçosa

Na segunda, me deito.

Na terça, me levanto.

Na quarta, é dia santo.

Na quinta, vou à feira.

venho da feira.

No sábado, vou-me confessar.

No domingo, comungar.

lá, ó comadre,

de trabalhar?

Eu bem vi nascer o sol: antologia da

poesia popular portuguesa

Eu bem vi nascer o sol: antologia da

Page 13: IlustraLeR-7.º D

[Escrever texto]

UmUmUmUm poemapoemapoemapoema

Não tenhas medo, ouve:

É um poema

Um misto de oração e de feitiço...

Sem qualquer compromisso,

Ouve-o atentamente,

De coração lavado.

Poderás decorá

E rezá-lo

Ao deitar

Ao levantar,

Ou nas restantes horas de tristeza.

Na segura certeza

De que mal não te faz.

E pode acontecer que te dê paz...

poemapoemapoemapoema

Não tenhas medo, ouve:

Um misto de oração e de feitiço...

Sem qualquer compromisso,

o atentamente,

De coração lavado.

Poderás decorá-lo

Ou nas restantes horas de tristeza.

certeza

De que mal não te faz.

E pode acontecer que te dê paz...

Miguel Torga, Diário XIII

Page 14: IlustraLeR-7.º D

[Escrever texto]

BaladaBaladaBaladaBalada dadadada

Batem leve, levemente,

como quem chama por mim

Será chuva? Será gente?

Gente não é, certamente

e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:

mas há pouco, há poucochinho,

nem uma agulha bulia

na quieta melancolia

dos pinheiros do caminho...

Quem bate, assim, levemente,

com tão estranha leveza,

que mal se ouve, mal se sente?

Não é chuva, nem é gente,

nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía

do azul cinzento do céu,

branca e leve, branca e fria...

- Há quanto tempo a não via!

E que saudades, Deus meu!

Olho-a através da vidraça.

Pôs tudo da cor do linho.

Passa gente e, quando passa,

os passos imprime e traça

na brancura do caminho...

dadadada neveneveneveneve

Batem leve, levemente,

como quem chama por mim

Será chuva? Será gente?

Gente não é, certamente

e a chuva não bate assim.

É talvez a ventania:

mas há pouco, há poucochinho,

nem uma agulha bulia

na quieta melancolia

dos pinheiros do caminho...

Quem bate, assim, levemente,

estranha leveza,

que mal se ouve, mal se sente?

Não é chuva, nem é gente,

nem é vento com certeza.

Fui ver. A neve caía

do azul cinzento do céu,

branca e leve, branca e fria...

Há quanto tempo a não via!

E que saudades, Deus meu!

a através da vidraça.

Pôs tudo da cor do linho.

ssa gente e, quando passa,

os passos imprime e traça

na brancura do caminho...

Fico olhando esses sinais

da pobre gente que avança,

e noto, por entre os mais,

os traços miniaturais

duns pezitos de criança ...

E descalcinhos, doridos ...

a neve deixa inda vê

primeiro, bem definidos,

depois, em sulcos compridos,

porque não podia erguê

Que quem já é pecador

sofra tormentos, enfim!

Mas as crianças, Senhor,

porque lhes dais tanta dor?! ...

Porque padecem assim?!...

E uma infinita tristeza,

uma funda turbação

entra em mim, fica em mim presa.

Cai neve na Natureza

- e cai no meu coração.

Augusto Gil, Luar de Janeiro

Fico olhando esses sinais

da pobre gente que avança,

e noto, por entre os mais,

os traços miniaturais

duns pezitos de criança ...

E descalcinhos, doridos ...

a neve deixa inda vê-los,

primeiro, bem definidos,

depois, em sulcos compridos,

porque não podia erguê-los! ...

Que quem já é pecador

sofra tormentos, enfim!

Mas as crianças, Senhor,

porque lhes dais tanta dor?! ...

decem assim?!...

E uma infinita tristeza,

uma funda turbação

entra em mim, fica em mim presa.

Cai neve na Natureza

e cai no meu coração.

Luar de Janeiro (1909)

Page 15: IlustraLeR-7.º D

[Escrever texto]

ImpressãoImpressãoImpressãoImpressão

Os meus olhos são uns olhos.

E é com esses olhos uns

que eu vejo no mundo escolhos

onde outros, com outros olhos,

não vêem escolhos nenhuns.

Quem diz escolhos diz flores.

De tudo o mesmo se diz.

Onde uns vêem luto e dores

uns outros descobrem cores

do mais formoso matiz.

Nas ruas ou nas estradas

onde passa tanta gente,

uns vêem pedras pisadas,

mas outros, gnomos e fadas

num halo resplandecente.

Inútil seguir vizinhos,

querer ser depois ou ser antes.

Cada um é seus caminhos.

Onde Sancho vê moinhos

D. Quixote vê gigantes.

Vê moinhos? São moinhos.

Vê gigantes? São gigantes.

digitaldigitaldigitaldigital

Os meus olhos são uns olhos.

E é com esses olhos uns

que eu vejo no mundo escolhos

onde outros, com outros olhos,

não vêem escolhos nenhuns.

Quem diz escolhos diz flores.

De tudo o mesmo se diz.

Onde uns vêem luto e dores

uns outros descobrem cores

do mais formoso matiz.

Nas ruas ou nas estradas

tanta gente,

uns vêem pedras pisadas,

mas outros, gnomos e fadas

num halo resplandecente.

Inútil seguir vizinhos,

querer ser depois ou ser antes.

Cada um é seus caminhos.

Onde Sancho vê moinhos

D. Quixote vê gigantes.

Vê moinhos? São moinhos.

s? São gigantes.

António Gedeão,

Poesias Completas