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Tese apresentada, como requisito parcial para obtenção do título de Doutor, ao Programa de Pós-Graduação em Educação, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

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  • Universidade do Estado do Rio de Janeiro

    Centro de Educao e Humanidades

    Faculdade de Educao

    Marli de Souza Saraiva Cimino

    Iluminar a terra pela inteligncia: Trajetria do Aprendizado Agrcola de

    Barbacena, MG (1910 - 1933)

    Rio de Janeiro

    2013

  • Marli de Souza Saraiva Cimino

    Iluminar a terra pela inteligncia: Trajetria do Aprendizado Agrcola de Barbacena,

    MG (1910 - 1933)

    Tese apresentada, como requisito parcial para

    obteno do ttulo de Doutor, ao Programa de

    Ps-Graduao em Educao, da Universidade do

    Estado do Rio de Janeiro. rea de concentrao:

    Educao.

    Orientador: Prof. Dr. Jos Gonalves Gondra

    Rio de Janeiro

    2013

  • CATALOGAO NA FONTE

    UERJ / REDE SIRIUS / BIBLIOTECA CEH/A

    Autorizo, apenas para fins acadmicos e cientficos, a reproduo total ou parcial desta

    tese.

    ___________________________________ _______________

    Assinatura Data

    C573 Cimino, Marli de Souza Saraiva.

    Iluminar a terra pela inteligncia: trajetria do aprendizado agrcola de

    Barbacena, MG (1910 - 1933) / Marli de Souza Saraiva Cimino. 2013. 369 f.

    Orientador: Jos Gonalves Gondra.

    Tese (Doutorado) Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Faculdade de Educao.

    1. Educao Barbacena, MG Teses. 2. Ensino Profissional Barbacena, MG Teses. 3. Agricultura Barbacena, MG Teses. I. Gondra, Jos Gonalves. II. Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Faculdade de

    Educao. IV. Ttulo.

    es CDU 373.6

  • Marli de Souza Saraiva Cimino

    Iluminar a terra pela inteligncia: Trajetria do Aprendizado Agrcola de Barbacena,

    MG (1910 - 1933)

    Tese apresentada, como requisito parcial para

    obteno do ttulo de Doutor, ao Programa de

    Ps-Graduao em Educao, da Universidade do

    Estado do Rio de Janeiro. rea de concentrao:

    Educao.

    Aprovada em 21 de fevereiro de 2013.

    Banca Examinadora:

    _____________________________________________

    Prof. Dr. Jos Gonalves Gondra (Orientador)

    Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ

    _____________________________________________

    Prof. Dr. Irlen Antnio Gonalves

    Centro Federal de Educao Tecnolgica - CEFET-MG

    _____________________________________________

    Prof. Dr. Gabriel de Arajo Santos

    Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro - UFRRJ

    _____________________________________________

    Prof. Dr. Carlos Fernando da Cunha Junior

    Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF

    _____________________________________________

    Profa. Dra. Lia Macedo de Ciomar Faria

    Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ

    _____________________________________________

    Profa. Dra. Alessandra Frota Martinez de Schueler

    Universidade Federal Fluminense - UFF

    _____________________________________________

    Profa. Dra. Snia de Oliveira Cmara Rangel

    Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ

    Rio de Janeiro

    2013

  • DEDICATRIA

    Dedico

    A meus pais, Aparecida e Carminho, pelo exemplo de vida e grandeza de sentimentos com

    que iluminaram os caminhos da minha existncia.

    Aos meus filhos, Wallace e William, pelo carinho, apoio e entenderem minhas ausncias.

    Ao meu esposo, Cimino, pelo amor, incentivo e por doar-se para a concretizao desse ideal.

  • AGRADECIMENTOS

    Primeiramente, e acima de tudo, a Deus, por sempre se fazer presente ao meu lado,

    dando-me luz e foras para superar as dificuldades.

    A meus familiares, por compartilharmos juntos todos os momentos de nossas vidas.

    De forma especial, a Jos Gonalves Gondra, meu incansvel orientador, por acreditar

    em meus avanos, pela confiana em mim depositada ao dar-me autonomia para descobrir

    meus prprios caminhos, pelas inteligentes e oportunas sugestes que me nortearam na

    elaborao desta pesquisa. Outrossim, pela competncia, doao e comprometimento com que

    conduz sua linha de trabalho, junto a seus alunos e orientandos, sem, contudo, prescindir da

    condio de amigo.

    Aos professores do Programa de Ps-Graduao em Educao, pela contribuio

    intelectual.

    A meus colegas do Ncleo de Estudos NEPHE, pelo companheirismo, solidariedade e

    cumplicidade ao compartilhar saberes nessa difcil, mas gratificante jornada e, de forma

    particular, a todos aqueles que contriburam diretamente com esta pesquisa, o que fao

    representar pela colega do NEPHE e professora da UERJ, Maria de Lourdes Silva.

    Aos Professores Doutores Irlen Antnio Gonalves, Gabriel de Arajo Santos, Carlos

    Fernando da Cunha Jnior, Lia Macedo de Ciomar Faria, Alessandra Frota Martinez de

    Schueler e Snia de Oliveira Cmara Rangel, pela gentileza em terem aceitado participar de

    minha banca.

    Ao Aprendizado Agrcola de Barbacena, hoje, Instituto Federal de Educao, Cincia

    e Tecnologia Sudeste de Minas Gerais (IFET), Campus Barbacena, MG, pela sua histria e

    tradio.

    Universidade do Estado do Rio de Janeiro, RJ, e a toda sua equipe da Faculdade de

    Educao pela competncia, dedicao e seriedade com que conduzem o programa e ao

    Programa de Ps-Graduao em Educao, meu reconhecimento, por proporcionar-me a

    oportunidade de realizao do Estgio de Doutoramento na University of London, England,

    United Kingdom. Outrossim, agradeo ao professor doutor Gary McCulloch por receber-me

    como co-orientanda junto ao programa no Instituto de Educao da Universidade de Londres.

  • Esta a histria.

    Um jogo da vida e da morte

    prossegue no calmo desdobramento de um relato,

    ressurgncia e denegao da origem,

    desvelamento de um passado morto

    e resultado de uma prtica presente.

    Certeau, 1982, p. 57

  • RESUMO

    CIMINO, Marli de Souza Saraiva. Iluminar a terra pela inteligncia: trajetria do

    aprendizado agrcola de Barbacena, MG (1910-1933). 2013. 369 f. Tese (Doutorado em

    Educao) Faculdade de Educao, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

    Esta tese objetiva percorrer a trajetria da criao, implantao e mudanas, ao longo

    do processo histrico do Aprendizado Agrcola de Barbacena, desde seu incio, em 1910, at a

    poca do presidente Getlio Vargas, 1933. Como preliminares e pano de fundo, as iniciativas

    do Brasil, que, premido pela carncia de mo de obra qualificada para atender demanda das

    fazendas, aps a abolio da escravatura, busca conhecimentos e experincias em outros

    pases, na rea da educao agrcola. Com o advento da Repblica, verifica-se uma guinada

    do Estado brasileiro no sentido de assumir o ensino elementar pblico, a fim de ir diminuindo

    o percentual de analfabetos e de ensaiar a implantao do ensino agrcola, tendo em vista a

    crise que surgira no setor agrcola. nesse cenrio que se criam os aprendizados agrcolas. O

    Aprendizado Agrcola de Barbacena surge em 1910. Com foco nessa Instituio, abordam-se:

    o papel de lideranas polticas mineiras para trazer para Barbacena o primeiro Aprendizado

    Agrcola de Minas Gerais; as mudanas por que o Aprendizado passou, indo de seu incio at

    a poca de Getlio, quando foi transformado em Escola Agrcola; o mtodo de ensino,

    prevalentemente terico-prtico; a integrao do Aprendizado com seu meio; o sistema de

    administrao que inclua participao dos alunos nos lucros; a estrutura didtico-pedaggica

    e o regime de internato. O estudo destaca o trabalho do seu primeiro Diretor, Diaulas Abreu,

    por 45 anos frente da Instituio. Como metodologia de pesquisa, analisam-se decretos

    relativos criao do Aprendizado, regulamentos, relatrios, dados do arquivo da Instituio

    e a troca de correspondncia entre a direo e rgos do governo. A pesquisa se encerra na era

    do presidente Getlio Vargas, aps a Revoluo de 1930.

    Palavras-chave: Histria da Educao. Ensino Profissional e Agrcola. Aprendizado Agrcola

    de Barbacena, MG.

  • ABSTRACT

    CIMINO, Marli de Souza Saraiva. Light upon the earth by intelligence: trajectory of learning

    agricultural of Barbacena, MG (1910 to 1933). 2013. 369f. Tese (Doutorado em Educao)

    - Faculdade de Educao, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

    This thesis aims at following the course of the creation, implantation and changes,

    throughout the historical process of the Agricultural Learning of Barbacena, since its

    beginning, in 1910, until the era of President Getulio Vargas, 1933. As a preliminary and

    background, initiatives of Brazil which, pressed by the lack of skilled labour to supply the

    farms after the abolition of slavery, searches for knowledge and experience in other countries

    in the area of agricultural education. With the advent of the Republic, noticed a kind of a

    deflection on the part of the Brazilian State to take care of the public elementary schools in

    order to decrease the percentage of the illiterate population and to introduce the agricultural

    teaching, in view to the crisis that had arisen in the agricultural sector. It is in this context that

    the Agricultural Learning appeared. The Agricultural Learning of Barbacena was created in

    1910. With focus on that Institution, one must take into consideration: the role of politician

    leaderships of Minas Gerais bringing to Barbacena the first Agricultural Learning of the State;

    the changes processed by that School underwent from its beginning until Getulios era when it was transformed into Agricultural School; the method of teaching, mainly theoretical-

    practical learning; the integration between the learning and its environment; the

    administration system that included the participation of the students in the profits; the

    didactic-pedagogical struture and the boarding school regime. This reaserch puts in relief the

    work of its first Director, Diaulas Abreu, in charge for the Institution for 45 years. As research

    methodological, the edicts related to the creation of the Learning are analysed as well as the

    statutes, the reports, the data of the files of the Institution and the exchange of correspondence

    between the board and the Government. The research concludes in President Getulio Vargas era, after the Revolution of 1930.

    Keywords: History of Education. Professional and Agricultural Education. Agricultural

    Learning of Barbacena, MG.

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 Manchester Mechanics Institute, in 1825.................................... 37

    Figura 2 Old photo of the Royal Cirencester, United Kingdom ............ 39

    Figura 3 Royal Agriculture College Cirencester, United Kingdom........ 39

    Figura 4 Escola Real de Ofcios, fundada por D. Joo VI, em 1816.......... 57

    Figura 5 Chegada de D. Joo VI, 1808....................................................... 58

    Figura 6 Antes da instalao da Escola Imperial........................................ 58

    Figura 7 A Escola Imperial instalada.......................................................... 59

    Figura 8 Infraestrutura prxima atual....................................................... 59

    Figura 9 Colgio Ablio (1881-1889)......................................................... 101

    Figura 10 Gymnasio Mineiro (1890-1912)................................................... 101

    Figura 11 Ptio interno do Gymnasio Mineiro (1890-1912)........................ 101

    Figura 12 EPCAR (1949 at os dias atuais).................................................. 101

    Figura 13 Vista Area, onde funcionaram todos os estabelecimentos.......... 103

    Figura 14 Escola de Aprendizes Artfices - Campos de Goytacazes, RJ...... 125

    Figura 15 Oficina da Escola de Aprendizes Artfices - Belo Horizonte, MG.... 125

    Figura 16

    Rio das Mortes, Fazenda Borda do Campo, Caminho Novo -

    Barbacena, 1822...........................................................................

    131

    Figura 17 Retrato de ndios Puris, 1822........................................................ 131

    Figura 18 Fazenda da Borda do Campo........................................................ 132

    Figura 19 Matriz Nossa Senhora da Piedade................................................ 132

    Figura 20

    Fazenda do Registro - propriedade do Inconfidente Padre

    Manuel Rodrigues da Costa..........................................................

    133

    Figura 21 Casa onde morou o Padre, irmo de Tiradentes........................ 133

    Figura 22 Fazenda da Caveira - propriedade de Joaquim Silvrio dos Reis 133

    Figura 23

    Construes ao redor da Igreja Matriz Nossa Senhora da

    Piedade, ocasio da Revoluo Liberal, de 1842.........................

    134

  • Figura 24 Estao Frrea de Barbacena, 1880.............................................. 134

    Figura 25 Ponte e Linha Central, 1881......................................................... 134

    Figura 25 Ponte sobre rodovia de acesso ao centro, 1920............................ 135

    Figura 27 Estao Ferroviria de Barbacena................................................ 135

    Figura 28 Solar dos Andradas....................................................................... 138

    Figura 29 Solar dos Bias Fortes.................................................................... 138

    Figura 30 Estao Sericcola......................................................................... 139

    Figura 31 Industrializao do fio da seda, na Colnia Rodrigo Silva, 1920 139

    Figura 32

    Localizao geogrfica da cidade de Barbacena, no Estado de

    Minas Gerais ................................................................................

    140

    Figura 33 Distribuio dos CEFETs............................................................. 141

    Figura 34 Distribuio dos Campus da ETs em Minas Gerais..................... 141

    Figura 35

    Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia Sudeste de

    Minas Gerais, Campus Barbacena................................................

    141

    Figura 36 Aprendizado Agrcola de Barbacena............................................ 150

    Figura 37

    Setor de Produo Agrcola, vista dos vinhedos, no AA de

    Barbacena, 1917...........................................................................

    157

    Figura 38 Alunos praticando enxertia, AA de Barbacena, 1917.................. 157

    Figuras 39 e 40

    Plantas dos edifcios-sede e Internato, a serem construdos para

    o AA de So Simo (SP), AA de Guimares (MA) e AA de

    Tubaro (SC)................................................................................

    167

    Figura 41

    Vista da construo do prdio central do Imperial Instituto de

    Agricultura da Bahia, onde funcionou o AA da Bahia (BA)...........

    168

    Figura 42 Edifcio do AA de So Luiz das Misses (RS)............................ 169

    Figuras 43 e 44

    Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ), Universidade de So Paulo (USP), Campos de Piracicaba (SP)..

    175

    Figura 45 Museu Imperial da Independncia, Ipiranga (SP)........................ 175

    Figura 46 Parque do Ipiranga (SP)................................................................ 175

    Figura 47

    Vista parcial do Setor de Jardinagem, localizado em frente s

    Oficinas de Manufatura, no AA de Barbacena.............................

    177

    Figura 48 e 49 Parque externo no entorno do AA de Barbacena......................... 178

  • Figura 50 Estrada de Ferro Central do Brasil............................................... 179

    Figura 51

    Ptio da Instituio: entrada interna paras as Oficinas de

    Manufaturas, Salas dos Laboratrios, Museu de Histria

    Natural, Alojamento dos alunos do AA de Barbacena ................

    185

    Figura 52 Vista panormica do AA de Barbacena ....................................... 216

    Figura 53 Rua XV de Novembro, em Barbacena, 1906............................... 219

    Figura 54 Praa dos Andradas, em Barbacena,1928..................................... 219

    Figura 55 Geada em frente Praa da Igreja do Rosrio, em Barbacena,1932 219

    Figura 56 Caquizeiro, AA de Barbacena, 1912............................................ 222

    Figura 57 Aplicao de Herbicidas, AA de Barbacena, 1913...................... 222

    Figura 58 Vista do Estbulo do AA de Barbacena....................................... 232

    Figura 59 Ncleo de Agricultura do AA de Barbacena, 1928...................... 235

    Figura 60

    Plantao de Pereiras - Ncleo de Fruticultura/Pomicultura do

    AA de Barbacena..........................................................................

    235

    Figura 61

    Fbrica de Conservas ou Ncleo de Processamento de Vegetais

    do AA de Barbacena.....................................................................

    241

    Figura 62 Oficina de Manufaturas em Couro do AA de Barbacena............. 244

    Figura 63 Setor de Horticultura - AA de Barbacena..................................... 248

    Figura 64 Recolhimento do Feno - AA de Barbacena.................................. 250

    Figura 65 Enfardamento do Feno - AA de Barbacena.................................. 250

    Figura 66 Diaulas Abreu .............................................................................. 266

    Figura 67 Requerimento do pai Processo Admissional ............................ 269

    Figura 68 Via de acesso Instituio, 1915.................................................. 274

    Figura 69 Via de acesso Instituio, 1907.................................................. 274

    Figura 70 Via de acesso, com o AA de Barbacena no alto, 1930................. 275

    Figura 71 Atestado Mdico Processo Admissional................................... 283

    Figura 72 Dormitrio do Aprendizado Agrcola de Barbacena, 1938.......... 284

    Figura 73 Alunos do AA de Barbacena com Uniforme de Servio.............. 286

    Figura 74 Atestado de Bons Antecedentes - Processo Admissional ............ 288

  • Figura 75

    Alojamento, Salas de Aula e Oficinas em seu entorno - AA de

    Barbacena.....................................................................................

    294

    Figura 76 Comemorao Cvica pelos alunos - AA de Barbacena............... 305

    Figura 77

    Setor de Floricultura em Estgio Avanado de Cultivo - AA de

    Barbacena.....................................................................................

    308

  • LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Demanda para a Primeira Turma do AA de Barbacena, em 1913........... 225

    Grfico 2 Demanda para os Cursos do AA de Barbacena, em 1923........................ 226

    Grfico 3

    Resultado da Comercializao dos Produtos Confeccionados no AA de

    Barbacena, 1919.......................................................................................

    245

    Grfico 4

    Resultado da Produo nas Oficinas de Manufaturas do AA de

    Barbacena, em 1919.................................................................................

    246

    Grfico 5 Destino da Renda obtida com a Produo do AA de Barbacena............. 255

    Grfico 6 Setores Beneficiados com a Renda da prpria Instituio, em 1929....... 256

    Grfico 7 Resultado das 122 Matrculas Efetivadas em 1913.................................. 278

    Grfico 8 Resultado das 150 Matrculas efetivas em 1931...................................... 292

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 Sntese das iniciativas da educao agrcola no sculo XIX................. 76

    Tabela 2 Aprendizados Agrcolas criados entre 1910 e 1930............................... 145

    Tabela 3

    Criao e Extino dos Primeiros Aprendizados Agrcolas no Brasil,

    1910-1931..............................................................................................

    166

    Tabela 4 Setor de Fruticultura - Variedades de mudas de frutas.......................... 171

    Tabela 5 Setor de Horticultura - Variedades de hortalias e leguminosas........... 172

    Tabela 6 Setor de Floricultura - Variedades de plantas ornamentais................... 176

    Tabela 7

    Primeiro mobilirio que comps Diretoria, Secretaria, Salas de Aula e

    Sala de aula de Desenho.........................................................................

    182

    Tabela 8

    Mobilirios e utenslios adquiridos em Belo Horizonte e Rio de

    Janeiro....................................................................................................

    182

    Tabela 9

    Mobilirios que compuseram o Museu e os Laboratrios de Fsica,

    Qumica e de Cincias Naturais.............................................................

    185

    Tabela 10 Equipamentos do Museu e Laboratrio de Histria Natural.................. 186

    Tabela 11 Mobilirio que comps a Biblioteca...................................................... 187

    Tabela 12 Obras que compuseram o acervo bibliogrfico da Biblioteca............... 188

    Tabela 13 Valor Mdio das Obras Adquiridas para a Biblioteca Escolar.............. 189

    Tabela 14 Equipamentos para as Oficinas de Mecnica, Carpintaria e Ferraria.... 191

    Tabela 15

    Instrumentos para os Setores de Horticultura, Jardinagem,

    Fruticultura, Laticnio e Pecuria ..........................................................

    192

    Tabela 16

    Equipamentos para as Indstrias de Processamento: Fruticultura,

    Destilaria e Horticultura.........................................................................

    193

    Tabela 17

    Relao de valores salariais dos primeiros servidores do AA de

    Barbacena...............................................................................................

    201

    Tabela 18

    Processos Admissionais - Primeiros Alunos do AA de Barbacena, em

    1913........................................................................................................

    271

    Tabela 19 Matrculas Efetivadas entre 1913 e 1917............................................... 279

    Tabela 20 Perfil do Aluno Interno.......................................................................... 281

    Tabela 21 Vagas no Regime de Internato do AA de Barbacena entre 1916 e 1933... 281

    Tabela 22 Total de Alunos Matriculados entre 1919 e 1933.................................. 290

  • Tabela 23 Valor da Remunerao dos Alunos do Curso Profissional.................... 296

    Tabela 24 Valor de Produtos Comercializados pela Instituio............................. 297

    Tabela 25 Formandos do Curso Profissional de 1915 a 1920................................ 300

    Tabela 26 Profisses Ocupadas pelos Egressos do AA de Barbacena em 1930 e 1931.. 301

    Tabela 27 Horrio Escolar Integral......................................................................... 304

  • LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    AA Aprendizado Agrcola

    AAB Aprendizado Agrcola de Barbacena

    CEFETs Centros Federais de Educao Tecnolgicas

    CTUs Centros Tecnolgicos vinculados s Universidades

    D.O.U. Dirio Oficial da Unio

    EAA Escola de Aprendizado Agrcola

    EAAs Escolas de Aprendizes Artfices

    EAFs Escolas Agrotcnicas Federais

    EITs Escolas Industriais e Tcnicas

    EPCAR Escola Preparatria de Cadetes do Ar

    ESALQ

    ETFs

    Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz

    Escolas Tcnicas Federais

    ETs Escolas Tcnicas

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IFETs Institutos Federais de Educao, Cincia e Tecnologia

    MACOP Ministrio da Agricultura, Comrcio e Obras Pblicas

    MEC Ministrio da Educao

    NEPHE Ncleo de Ensino e Pesquisa em Histria da Educao

    RMAIC Relatrio do Ministrio da Agricultura, Indstria e Comrcio

    SNA Sociedade Nacional de Agricultura

    SRE Secretaria de Registros Escolares

    UEM Universidade Estadual de Maring

    UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro

    UFF Universidade Federal Fluminense

    UFOP Universidade Federal de Ouro Preto

    UFRRJ Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

    USP Universidade de So Paulo

  • SUMRIO

    INTRODUO.......................................................................................................... 19

    1 HISTRIA DO ENSINO PROFISSIONAL E AGRCOLA................................ 32

    1.1 Ensino profissional no exterior ................................................................................ 34

    1.2 Ensino profissional no Brasil ................................................................................... 55

    1.3 Ensino agrcola no Brasil .......................................................................................... 61

    1.4 Ensino agrcola em Minas Gerais ............................................................................ 79

    2 CRIAO DO APRENDIZADO AGRCOLA DE BARBACENA .................... 104

    2.1 Surgimento do Aprendizado Agrcola de Barbacena............................................. 104

    2.2 Aprendizes Artfices (1909) e Aprendizes Agrcolas (1910)................................... 123

    2.3 A cidade de Barbacena, MG..................................................................................... 130

    2.4 Aprendizados agrcolas da malha federal .............................................................. 142

    2.5 Aprendizado Agrcola de Barbacena ...................................................................... 149

    3 MEMRIA ARQUITETNICA DO AA DE BARBACENA, MG...................... 165

    3.1 Aprendizado Agrcola de Barbacena no cenrio nacional .................................... 166

    3.2 Razes do Aprendizado Agrcola de Barbacena...................................................... 170

    3.3 Implantao do espao fsico do Aprendizado Agrcola de Barbacena, MG....... 179

    3.3.1 Gabinete do diretor, secretaria escolar, salas de aula, sala de aula de desenho .......... 182

    3.3.2 Museu de histria natural, laboratrio de cincias naturais, laboratrio de fsica e

    Qumica .......................................................................................................................

    185

    3.3.3 Biblioteca .................................................................................................................... 187

    3.3.4 Oficinas de manufaturas: carpintaria, ferraria, serralheria, marcenaria....................... 190

    3.3.5 Galpes de mquinas, salas-ambiente, laticnio, indstrias rurais .............................. 192

    3.4 Diretor e corpo de funcionrios................................................................................ 195

  • 4 APRENDENDO A FAZER, FAZENDO PARA APRENDER ............................ 206

    4.1 Fundao e legitimao do Aprendizado Agrcola de Barbacena......................... 210

    4.2 Um aprendizado integrado ....................................................................................... 219

    4.3 Os cursos .................................................................................................................... 224

    4.3.1 Curso preparatrio ou primrio ................................................................................... 224

    4.3.1.1 Curso preparatrio para adultos .................................................................................. 229

    4.3.2 Curso regular................................................................................................................ 230

    4.3.3 Curso de adaptao ..................................................................................................... 233

    4.3.4 Curso profissional ....................................................................................................... 236

    4.4 Fazendo para aprender............................................................................................. 239

    4.5 Estao meteorolgica .............................................................................................. 257

    4.6 Certificao ................................................................................................................ 258

    4.7 De Aprendizado a Escola Agrcola .......................................................................... 259

    5

    CONTROLAR A CONDUTA, MODELAR OS AFETOS E REGULAR AS

    MANEIRAS................................................................................................................

    263

    5.1 Recrutamento do alunado ........................................................................................ 267

    5.2 Regime de ensino ....................................................................................................... 273

    5.2.1 Regime de semi-internato e externato.......................................................................... 273

    5.2.2 Regime de internato .................................................................................................... 279

    5.3 Remunerao dos alunos .......................................................................................... 394

    5.4 Egressos ...................................................................................................................... 299

    5.5 Participao da comunidade .................................................................................... 306

    CONSIDERAES FINAIS ................................................................................... 310

    REFERNCIAS ...................................................................................................... 314

    ANEXO A - Decreto n 8.319, 1910 ......................................................................... 326

  • ANEXO B- Decreto n 8.736, 1911........................................................................... 338

    ANEXO C- Decreto n 22.934, 1933 ......................................................................... 356

  • 19

    INTRODUO

    A partir da abolio da escravatura, da queda do Imprio e posterior implantao da

    Repblica, verifica-se uma guinada das autoridades governamentais para implementar uma

    poltica educacional que respondesse s novas e graves necessidades da Nao. Era cada vez

    mais premente que o poder pblico assumisse, de fato, sua responsabilidade sobre o processo

    de educao da juventude brasileira. Os novos tempos exigiam um outro modelo de educao,

    que no aquele do bacharelismo das elites que vinha desde o Imprio. O panorama de

    esvaziamento de mo de obra das fazendas que entraram em grave crise forava o governo a

    encontrar caminhos para preparar mo de obra para o meio rural e, mediante motivar os

    jovens a nele permanecer, estancando o fenmeno do xodo rural. Nesse cenrio, pouco a

    pouco, redimensionou-se a importncia da educao agrcola para o Brasil.

    Tendo em vista o setor da educao agrcola e profissional, as autoridades brasileiras

    procuraram conhecer experincias de outros pases. Nesse particular, foi muito importante a

    presena do belga Armand Ledent1, pois algumas linhas gerais da poltica brasileira de

    educao agrcola e profissional no incio do sculo XX, inspiraram-se em suas ideias, como

    se ver.

    O resultado de exaustiva pesquisa, vasculhando arquivos, documentos e bibliografia

    aqui apresentado de modo sistemtico, destacando os recortes, embasamentos tericos e

    documentos utilizados. Para delinear as questes que motivaram a escolha do tema da

    presente tese, nestas pginas introdutrias apresentam-se aspectos da trajetria profissional e

    acadmica da autora, que a levaram a explorar horizontes desta pesquisa, cujo percurso passa

    a ser sucintamente delineado.

    Os documentos a serem analisados, devem ser reportados ao contexto histrico em que

    vieram a lume. Retroceder no tempo, para se entender um texto, atendo-se ao esprito

    sociocultural do seu tempo, encerra alguma dificuldade, porque h a tendncia de l-los sob a

    tica de uma cultura contempornea. Mas o esforo hermenutico, para que seja o mais fiel

    possvel a determinada poca, fundamental.

    1 Ledent foi engenheiro agrnomo, bacharel em Cincias Naturais e membro da Associao dos Engenheiros da Escola de

    Minas, Artes e Manufaturas de Lige, na Blgica. A pedido do Ministro da Agricultura do Brasil, Ledent planejou e

    organizou o projeto de criao da Escola Superior de Agricultura de Piracicaba, SP. Retornando Blgica e residindo em

    Bruxelas, ocupou o cargo de Inspetor do Ministrio de Indstria e Trabalho do Reino da Blgica. Ao trmino de suas

    viagens como pesquisador na rea do ensino agrcola, enviou relatrio, intitulado O ensino profissional e agrcola. Plano Geral de Organisao, ao Ministrio da Agricultura no Brasil, em 1910, apontando as experincias vivenciadas no exterior (LEDENT, 1910). De volta ao Brasil, ocupou o cargo de Diretor-Geral Interino da Agricultura, estando presente na

    inaugurao do Aprendizado Agrcola de Barbacena, em 14-07-1913 (BRASIL. DOU, 1913).

  • 20

    O foco da pesquisa o Aprendizado Agrcola de Barbacena (AAB), fruto de alguns

    questionamentos realizados em um dos captulos da Dissertao de Mestrado, intitulada

    Fatores Possibilitadores para a Autonomia no Exerccio da Profisso, defendida em 2006,

    na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), sob a orientao da Professora

    Doutora Akiko Santos. Naquele trabalho abordava a histria da Escola Agrotcnica Federal

    de Barbacena (EAFB). Ainda que o Aprendizado Agrcola de Barbacena seja o principal

    objeto deste estudo, questes conexas so abordadas, exatamente para que se tenha melhor

    entendimento do fenmeno histrico. Nesse sentido, a comparao com aprendizados de

    outras regies do pas fundamental para se compreender o porqu de o Aprendizado

    Agrcola de Barbacena, em pouco tempo, ter-se tornado uma espcie de menina dos olhos

    das autoridades.

    A anlise de decretos e regulamentos, da prxis educativa, dos contedos das

    disciplinas, das normas disciplinares, do mtodo de ensino, da nfase em se unir teoria

    prtica, a fidelidade aos objetivos preconizados pelo governo, o pblico-alvo do Aprendizado

    Agrcola de Barbacena, apontam que se obedeceu s normas contidas nos documentos

    oficiais. Por outro lado, o aspecto importante que a tese assinala, o fato de o currculo da

    instituio, ao longo do tempo, ter sido desenhado segundo as normas determinadas pelas

    autoridades, o que identificava certa poltica educacional.

    Ao mesmo tempo, analisando as fontes documentais, verificou-se que no havia no

    interior da instituio, no museu ou em sua biblioteca, uma bibliografia e acervo de dados que

    pudessem dar suficiente suporte pesquisa. O que se conseguiu inicialmente, foram retalhos

    formados por fotografias, uma ou outra pgina de relatrios e/ou informaes obtidas pelo

    senso comum e pela histria oral. As informaes obtidas possibilitaram a abertura de novas

    perspectivas para a compreenso de sua histria.

    A precariedade e escassez de informaes sobre a histria da instituio constituiu

    considervel dificuldade para se aprofundar a investigao sobre as prticas da instituio. A

    conscincia de tal dificuldade se avulta, quando se considera ser necessrio conhecer o seu

    passado para se entender melhor o seu presente. De pronto, percebe-se que garimpar

    documentos, buscar pistas, selecionar arquivos e cruzar fontes, um trabalho que no se faz

    de afogadilho, mas devagar e a longo prazo. Diante dessas dificuldades foi necessrio buscar

    testemunhos e depoimentos de servidores, que tivessem sido agentes participantes da

    caminhada histrica da Escola. Atravs de meios disponveis e, por intermdio de tais

    testemunhos, foi possvel interrogar a realidade prxima ou longnqua, e com ela dialogar

    com o objetivo de refletir sobre os diversos elementos que animaram sua prxis educativa. Na

  • 21

    complexa tarefa de identificar as caractersticas da experincia educacional prprias de

    determinado tempo, que os desafios se evidenciaram.

    Um dos pontos de relevante interesse foi o de procurar compreender os motivos que

    nortearam a criao de um instituto agrcola federal em uma cidade da regio sudeste, situada

    no interior de Minas Gerais, de modo a poder narrar sua histria, nas primeiras dcadas de

    funcionamento. Um aspecto particular de imediato desperta a ateno: Barbacena e seu

    entorno no regio de latifndios, mas de pequenas propriedades que se dedica desde muito

    agricultura de hortalias e frutas e pecuria. Ao longo da pesquisa, percebeu-se que um

    dos fatores do xito do Aprendizado Agrcola de Barbacena se constitui no fato de este ter

    sido criado para atender educao agrcola de pequenos produtores rurais. A pesquisa

    tambm revelou que, a par das condies favorveis de localizao, de clima, de altitude, de

    facilidade de meios de transporte pela presena de ferrovias foi decisiva a atuao

    competente do seu primeiro Diretor, Diaulas Abreu. A tese destaca sua atuao e de toda a

    equipe de professores e funcionrios.

    Os temas de fundo da tese abordam as memrias do Aprendizado Agrcola de

    Barbacena, sua arquitetura, seu paisagismo, suas instalaes para aulas tericas e prticas; o

    equilbrio entre teoria e prtica ao ministrar os contedos de formao tcnica; o internato

    com suas normas disciplinares e as polticas dos governos, para tornar pensvel a educao

    agrcola e a sintonia do currculo e do mtodo, dee acordo com as normas oficiais.

    A maior dificuldade para se desenvolver os temas apontados foi a carncia inicial de

    informaes. Anteriormente no havia uma cultura de se documentar a vida e a rotina das

    instituies. O que h so dados dispersos, tornando difcil a juno, organizao, tratamento

    e a anlise do material. O museu da Escola e sua biblioteca contm alguns documentos, mas

    at o presente, no h um estudo exaustivo de sua histria que explique os motivos de sua

    criao, o impacto na regio e o desenvolvimento inicial do projeto de formao profissional,

    desenvolvido pelo Aprendizado Agrcola de Barbacena.

    O trabalho de que se ocupa a tese abrange pocas diversas, as quais apresentam

    significados plurais, refletindo a cultura e a filosofia poltica subjacente administrao

    pblica, alimentando-a e orientando-a desde seu interior. O propsito que se teve, tambm,

    foi o de investigar os sentidos diversos e contrapostos, bem como questionar os discursos

    polticos de figuras de destaque do pensamento social brasileiro, que participaram do teatro

    dos acontecimentos associado s questes em pauta.

  • 22

    Por outro lado, apoiando-se em fontes documentais, leis, decretos e regulamentos, ao

    longo dos governos, procurou-se analisar os passos da prxis educativa, que ora avanam, ora

    retroagem, entendendo o Ensino Agrcola em sua dimenso histrica.

    Estudos historiogrficos oportunizam deparar-se com considervel multiplicidade de

    fontes, abrindo um leque de informaes, possibilitando problematizar determinados objetos

    no mbito da historiografia. No entanto, no se tem dado o devido valor s tradies

    historiogrficas e arquivistas. Embora se saiba o quanto certas operaes historiogrficas ou

    modos de conceber a escrita da histria sejam questionados, mister que se observem as

    fissuras ou fendas internas existentes, tentando entend-las e ver sua inter-relao interna com

    o conjunto, para que seu vigor enquanto instrumento de explicao dos aspectos sociais e

    culturais no se perca. Da, a possibilidade do surgimento de novas interrogaes. Diante de

    tais fissuras, necessrio optar pelo caminho da renovao, seja mudando o instrumental

    conceitual, seja recortando novos objetos e incorporando novos materiais de pesquisa.

    Desse modo, o objeto da presente tese contribui para a reflexo terica, atravs do

    entrelaamento de estudos sobre a Histria da Educao Brasileira e Histria da Educao

    Profissional Agrcola. Entretanto, nesse entrelaamento, as linhas de procura confluem para o

    Aprendizado Agrcola de Barbacena, hoje, Instituto Federal de Educao, Cincia e

    Tecnologia Sudeste de Minas Gerais, Campus Barbacena, MG (IFET - Barbacena, MG). Ao

    longo do estudo foi aprofundado o cruzamento das mais diversificadas fontes, proporcionando

    um dilogo fecundo sobre as prticas das histrias educacional, cultural, social, poltica,

    ambiental e econmica, durante a existncia da escola estudada. Assim, identificou-se um dos

    aspectos fortes da Escola, sua insero no contexto da comunidade e da regio do seu entorno,

    aspecto da mais alta relevncia, considerando-se que o xito do processo educativo est

    vinculado vida concreta dos alunos, com as demandas e projetos sociais que foram

    implementados no perodo inicial da instituio.

    Em 100 anos de sua histria, o Aprendizado Agrcola de Barbacena (BRASIL, 1910),

    recebeu vrias denominaes. De Aprendizado passou a Escola Agrcola de Barbacena

    (BRASIL, 1933), depois para Escola Agrotcnica de Barbacena (BRASIL, 1947), em seguida

    Escola Agrotcnica Diaulas Abreu (BRASIL, 1955) e Colgio Agrcola Diaulas Abreu

    (BRASIL, 1961), as duas ltimas em homenagem a seu primeiro Diretor. A denominao

    Escola Agrotcnia Federal de Barbacena (BRASIL, 1979) antecedeu seu ltimo nome, hoje,

    Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia da Regio Sudeste de Minas Gerais,

    Campus Barbacena (BRASIL, 2008). No incio, era subordinada ao Ministrio da

    Agricultura, Indstria e Comrcio, depois passando ao Ministrio da Educao (BRASIL,

  • 23

    1967). Hoje, est subordinada Secretaria Nacional de Educao Tecnolgica, do Ministrio

    da Educao e Cultura (MEC) (BRASIL, 1967), tendo adquirido o status de autarquia.

    O dilogo com a histria e literatura/materiais/fotografias e sujeitos, com base nas

    leituras cruzadas, revelou at que ponto as prticas pedaggicas assumiram nuanas

    diferentes, conforme as condies. Uma vez que eram patentes as mudanas na prxis

    educativa que ocorriam em funo de se atender a normas do governo.

    Em relao metodologia da pesquisa, cada documento foi objeto de anlise,

    procurando possveis relaes de modo a se identificar caractersticas adequadas e coerentes.

    Nesse sentido, pretendeu-se questionar cada aspecto do objeto pesquisado e as abordagens

    feitas anteriores a ele. Atravs do cruzamento de informaes, foram analisadas as polticas

    pblicas do campo educacional com referncia ao seu tempo, s suas circunstncias, bem

    como s possibilidades de observar permanncias na transio de um perodo de tempo para

    outro. Por outro lado, foi possvel identificar rupturas com determinado status quo e

    novidades porventura introduzidas. Passaram-se, tambm, em anlise, os contedos, as

    metodologias utilizadas, o contexto da vida urbana e rural do alunado e as vinculaes

    existentes entre educao e trabalho nas prticas educativas.

    Ao mesmo tempo, para o desenvolvimento da investigao utilizou-se de algumas

    escalas de observao, possveis de serem percebidas no processo de constituio do ncleo

    documental do estudo:

    Fonte Documental: com o objetivo de analisar a historiografia da educao

    profissional agrcola do Aprendizado Agrcola de Barbacena, tomou-se, como ponto de

    partida, o incio do sculo XX. Entre as fontes a que foi possvel ter acesso, esto documentos

    como: decretos, legislaes e portarias; dados obtidos nos arquivos da Biblioteca Nacional;

    acesso s correspondncias trocadas entre os presidentes provinciais e os ministros da pasta e

    os relatrios da Provncia de Minas Gerais ligados educao. Paralelamente, foi possvel

    acesso a alguns jornais, tais como, o Jornal Cidade de Barbacena (1898-1997). Embora seja

    um patrimnio tombado o manuseio de suas pginas muito restrito, por estar h muitas

    geraes em poder da famlia que o criou e o mantm sob sua guarda; o Jornal do Commercio

    de 1897, 1898, o de 1901 e o Jornal Correio de Minas de 1906 e de 1907, ambos de circulao

    em Juiz de Fora. Decretos tambm foram acessados, tais como o Decreto de Criao do

    Ensino Agronmico pela Unio, em 1910; o Decreto de Criao do Aprendizado Agrcola de

    Barbacena, em 1910, assim como o Decreto que o regulamenta em 1911. Igualmente

    importante o acesso ao Dirio Official, Estados Unidos do Brazil, da Repblica Federal,

    Ordem e Progresso da Capital Federal, referente a todo o ms de julho de 1913 e Imprensa

  • 24

    Official do Estado de Minas Gerais, Bello Horizonte, Vida Escolar no Estado de Minas Gerais

    (1917-1921) e o Relatrio do Congresso Agrcola Comercial e Industrial em Minas Gerais,

    em 1903.

    Dessa forma, a pesquisa procurou aprofundar as buscas atravs de outros jornais

    regionais, estaduais e federais, da poca; relatrios, artigos de revistas, documentos

    administrativos, livro de atas e regimentos internos. Logo, para se fazer uma anlise do ensino

    agrcola no Brasil no basta apenas recorrer aos livros j editados sobre o tema, pois o simples

    exame de bibliografia oficial pode no refletir a complexidade da experincia de um momento

    histrico. Torna-se importante levantar e sistematizar fontes diversificadas para potencializar

    a pesquisa, analisando os acervos com cuidados especiais para comparar as informaes

    encontradas.

    Fonte Material e Imagtica: Ao longo da tese, foram feitas descrio e anlise dos

    materiais que se encontram no museu da Escola, bem como das fotografias. Assim, foram

    feitas interpretaes, procurando ver que relao tm com o conjunto documental. A

    fotografia , sem dvida, uma fala muda que perpetua o tempo em que foi feita, sendo

    significativo suporte de pesquisa.

    Fonte Bibliogrfica: Tendo em vista a peculiaridade do objeto estudado, autores cujas

    ideias foram determinantes para o processo da educao agrcola no Brasil foram objeto de

    particular ateno, como por exemplo, o belga Armand Ledent. Autores que se dedicaram

    causa da Histria da Educao Brasileira estudando o Imprio, a Repblica e aqueles que

    tratam da contemporaneidade do ensino profissional foram objeto de leitura e reflexo.

    Igualmente, deu-se a devida ateno s fontes literrias que tratam do Ensino Agrcola no

    Exterior, tendo em vista que o Brasil importou conhecimentos e experincias de outros pases.

    A referncia ao ensino agrcola, alm de nossas fronteiras, pareceu ter sido importante, porque

    serviu de inspirao para o que se veio a fazer em nosso territrio. Ao mesmo tempo,

    procurou-se traar um perfil das caractersticas de cada poca, bem como dos elementos que

    nortearam a implantao, organizaes curriculares e metodologias de ensino. Paralelamente

    bibliografia, lanou-se mo das demais fontes e recursos disponveis, analisando e fazendo

    um cotejo dentro de cada poca, estabelecendo uma interlocuo com outros pensadores que,

    embora se tenham debruado sobre os mesmos temas, fizeram-no em outras pocas. Por fim,

    fez-se uma anlise da prtica e da influncia da poltica na criao e no desenvolvimento do

    Aprendizado Agrcola de Barbacena.

    A partir desses levantamentos e do dilogo com os estudiosos do tema que

    antecederam este estudo, foi possvel traar o perfil da Histria da Educao articulada com a

  • 25

    Histria do Ensino Tcnico Profissional Agrcola Brasileiro, tendo, como foco, o

    Aprendizado Agrcola de Barbacena, MG.

    A tese encontra-se estruturada em V captulos. No Captulo I, abordado a Histria

    do Ensino Profissional e Agrcola, identificando suas caractersticas e finalidades e traando

    seu percurso histrico. Desse modo, assinala-se o ensino profissional em outros pases,

    sobretudo na Inglaterra, na Frana, na Alemanha, na Blgica, pases que inicialmente

    avanaram na Revoluo Industrial. De passagem, aborda-se a questo na Itlia e na Sua. Os

    Estados Unidos tambm so objeto de consideraes, pelo relevante papel no cenrio

    mundial, assim como a Argentina durante o Congresso Mineiro de Agricultura.

    Atravs da anlise do ensino profissional e agrcola no cenrio internacional

    empreenderam-se algumas iniciativas que ajudaram a compreender o Aprendizado Agrcola

    de Barbacena, tanto em sua implantao, quanto em suas organizaes curriculares e nas

    metodologias por ele aplicadas. Como base, foram consideradas instituies internacionais e

    as do cenrio nacional que antecederam sua criao. H de se perceber, a partir da, quais as

    iniciativas que foram anlogas s realizadas pelo Aprendizado Agrcola de Barbacena, nas

    quais a Unio se inspirou para sua criao. Bem como foram identificadas iniciativas pelas

    quais o Brasil emergiu, despontando como precursor de algumas empreitadas no ensino

    profissional e sendo percebido no Brasil Imprio.

    Num segundo passo, destacou-se a iniciativa de Dom Joo VI2 que em 1816 criou a

    Escola Real de Cincias, Artes e Ofcios. A seguir, fez-se referncia Escola Imperial Quinta

    da Boa Vista, ambas so instituies embrionrias do ensino profissional e inauguraram um

    modelo de ensino que procurava associar a teoria com a prtica.

    Ao se identificar o que houve entre o ensino agrcola de outros pases e o que se

    processou no Brasil, observaram-se pontos em comum das experincias dos Estados Unidos e

    de outros pases com algumas particularidades, de acordo com a realidade brasileira. No

    confronto dessas prticas, socorreu-se principalmente das experincias vividas pelo Sr. Dr.

    Armand Ledent, de suas observaes e estudos.

    No Captulo II, sob o ttulo Criao do Aprendizado Agrcola de Barbacena,

    apresenta-se o Aprendizado Agrcola de Barbacena como uma instituio federal, fundada

    2 Joo Maria Jos Francisco Xavier de Paula Lus Antnio Domingos Rafael de Bragana, filho de D. Maria Izabel e Dom

    Pedro III. Nasceu em 13-05-1767, em Lisboa e faleceu em 10-03-1826. Expulso de Portugal, aportou no Brasil em 1808,

    porm assumiu o trono em 20-03-1816, com o falecimento de D. Maria sua me. Casou-se em 1785 com Carlota Joaquina

    de Bourbon aos 10 anos, s consumando o matrimnio em 1790, 05 anos aps. Dentre seus filhos, teve Dom Pedro I, a

    quem atribuiu a regncia do Brasil, em 1821. Fonte: www.monarquia.org.br. Acesso: fevereiro, 2012.

  • 26

    pelo Decreto n 8.358, de 09 de novembro de 1910, pelo presidente Nilo Procpio Peanha3.

    Tal instituio, subordinada ao Ministrio da Agricultura, Indstria e Comrcio, foi criada

    com o objetivo de instruir filhos de agricultores da regio, ensinando-lhes determinado ofcio,

    em regime de internato, semi-internato e externato. Neste captulo, fez-se uma incurso por

    um conjunto documental especfico que permitiu compreender o processo de sua criao.

    Foram analisadas, tambm, as iniciativas do governo estadual que, a princpio,

    implantou o ensino agrcola no Estado de Minas, bem como em quais instncias e

    circunstncias, delineando como eram as instituies por ele financiadas. Investigou-se, ainda,

    a Lei de criao do Ensino Technico Pratico e Profissional de 1896, aprovada em 1898 e

    modificada em 1906, e sua influncia na malha estadual do Estado de Minas Gerais. A partir

    dessa legislao, seguiu-se a trilha dos dispositivos que se referem s instrues agrcolas nas

    escolas primrias e fazendas-modelo, e como se processava o mecanismo da aprendizagem

    nesses segmentos.

    Foi feito, tambm, um levantamento de quais foram as primeiras cidades a receberem

    subveno para o ensino agrcola do governo de Minas e como eram feitas as distribuies

    das verbas, suas finalidades e o prazo de investimento. Paralelamente, analisou-se quais

    cultivos eram escolhidos, o porqu da escolha, assim como se o objetivo era: a subsistncia da

    prpria instituio, o lucro para o governo, o atendimento das demandas regionais e a questo

    do aprendizado. Acredita-se terem sido importantes esses levantamentos, por terem

    contribudo para se entender o que se processou dentro do Estado. Assim, a partir de 1910,

    iniciou-se a diviso de responsabilidades no que se refere ao ensino agrcola. Alguns

    dispositivos estatuaram o que cabia ao governo do Estado de Minas Gerais e o que seria de

    competncia da Unio, conforme pode ser observado nos Relatrios do Presidente da

    Provncia. Neste recorte, foram analisadas as aproximaes e os distanciamentos entre as

    primeiras instituies profissionais da malha federal, os Aprendizes Artfices e os Aprendizes

    Agrcolas, apontando suas trajetrias e desenhando suas posies e localizaes dentro do

    Estado de Minas Gerais.

    Dessa forma, selecionando trilhas, fazendo os balanos das possibilidades,

    interpretando legislaes e cruzando fontes, foi possvel avaliar as foras que possibilitaram a

    3 Nilo Procpio Peanha nasceu em Campos de Goytacazes, em 02-10-1867 e faleceu no Rio de Janeiro, em 31-03-1924. Seu

    pai foi pedreiro e sua me de famlia poltica influente norte-fluminense. Formou-se em Direito pela Faculdade de Direito

    da Bahia, em 1887. Foi Presidente do Estado do Rio de Janeiro, Senador e Vice-Presidente da Repblica (1909-1910).

    Impulsionou o ensino tcnico-profissional. Foi Vice-Presidente da Repblica na gesto de Afonso Pena em 1906 e, com o

    falecimento de Afonso Pena, assumiu a Presidncia do Brasil em 1909. Fonte: www.historiabrasileira.com/biografias.

    Acesso: maro, 2012.

  • 27

    criao do Aprendizado Agrcola de Barbacena e quais as perspectivas que o futuro lhe

    reservaria.

    Com relao ao Captulo III, foi traado um panorama sobre a Memria

    Arquitetnica do Aprendizado Agrcola de Barbacena, bem como sua estrutura fsica. Neste

    captulo, foram postas em destaque, as iniciativas do governo federal de criar os aprendizados

    agrcolas em vrios estados, tendo como principal objetivo preparar jovens, em sua maioria,

    filhos de agricultores da regio, para resgatar o aprendizado agrcola e as atividades na zona

    rural, mediante adequada educao. As prementes necessidades do pas sobretudo no que se

    refere agricultura, levaram os governantes do incio do sculo XX, a criarem os

    aprendizados agrcolas, entre os quais o de Barbacena, em 1910, por Nilo Peanha. O

    referido aprendizado contou, desde sua fundao e antes mesmo do incio de suas atividades,

    com um Diretor de viso prtica e educacional, que foi o bacharel em Cincias Jurdicas

    Diaulas Abreu, bem como com a colaborao do engenheiro-arquiteto e paisagista belga,

    Arsne Puttemans, que tambm participou dos projetos da edificao da Escola Superior de

    Agricultura, em Piracicaba, alm do projeto paisagstico do Parque do Museu da

    Independncia do Ipiranga, em So Paulo, em 1908.

    Posto que o Aprendizado Agrcola de Barbacena foi um dentre outros espalhados por

    vrios Estados So Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Par, Alagoas, Maranho e

    Bahia julgou-se oportuno e pertinente trazer baila, tambm, esses outros. Ainda que de

    modo geral, e sem tecer detalhes sobre cada um, pde-se avaliar o de Barbacena, em relao

    aos seus coirmos e identificar o porqu de sua sobrevida em relao a outros. No que se

    refere ao objeto proposto foram identificados os dados histricos que explicam e justificam

    sua origem e todos os procedimentos realizados pelas autoridades, para aquisio do terreno

    que viria a ser a sede do futuro Aprendizado Agrcola. Torna-se interessante sinalizar que a

    aquisio da primeira chcara foi feita antes mesmo da sua criao oficial, ou seja, em 1909,

    estrategicamente localizada a cerca de 250 metros da estao da Estrada de Ferro Central do

    Brasil, o que pareceu ter demonstrado a inteno do governo em cri-lo. A aquisio em

    tempo hbil do terreno atesta o esprito prtico dos governantes de ento, para que a nova

    instituio j nascesse consolidada.

    A edificao do prdio-sede como tambm das demais instalaes que se estendem em

    uma rea de 435.357 metros quadrados (BRASIL, 1911), no centro da cidade, foi feita em

    local de destaque, em imponente estilo normando. Paralelamente construo, cuidava-se do

    paisagismo e se criava toda uma infraestrutura de produo de frutas, hortalias e flores, de

    modo que, quando o Aprendizado iniciou suas atividades em 1913, j contava com razovel

  • 28

    estrutura produtiva, sintonizada com a vocao agrcola da regio, que no de latifndios,

    mas de pequenos e mdios produtores.

    A partir de 1910, pouco a pouco se foram adquirindo os implementos agrcolas,

    mobilirio para salas, laboratrios de cincias naturais, fsica, qumica, biblioteca, livros, itens

    e mveis para o museu. O museu de histria natural era um dos pontos mais importantes da

    estrutura didtico-pedaggica do Aprendizado, tendo em vista seus objetivos. Como parte

    dessa estrutura, as oficinas de manufaturas, ferramentas e acessrios para as diversas

    instalaes.

    O Aprendizado Agrcola de Barbacena teve, desde o incio, inusitado impulso de seu

    primeiro Diretor e respectivo corpo de funcionrios. O governo da poca teve o cuidado de

    colocar no Aprendizado Agrcola de Barbacena uma equipe dotada de conhecimento na rea

    agrcola dentro dos padres da poca e, de senso prtico. O prdio-sede do Aprendizado

    Agrcola de Barbacena Patrimnio Histrico-Cultural Tombado, por seu valor Histrico e

    Arquitetnico, de acordo com Decreto n 6.047, da Prefeitura Municipal de Barbacena, em

    1991 e, novamente, em 2007.

    Em se tratando do Captulo IV, apropriando-se do lema aplicado estrutura de ensino

    na escola-fazenda, Aprendendo a Fazer, Fazendo para Aprender, apoiou-se nas iniciativas

    das autoridades governamentais do incio do sculo XX, ao se depararem diante do problema

    do mtodo a ser adotado nos aprendizados. De acordo com o lema, percebe-se ser uma

    metodologia de ensino e educao que une a teoria prtica e os aprendizados agrcolas

    teriam que ser dotados de infraestrutura que permitisse seus funcionamentos sobre essas

    bases. Assim, os objetivos que fossem incubadores de novas tcnicas, mediante divulgao,

    alavancariam o desenvolvimento agrcola da regio em que estavam inseridos.

    As ideias de Ledent foram muito importantes para a definio da linha metodolgica

    que deveria nortear o processo ensino aprendizagem dos aprendizados agrcolas. Esse lema,

    que passou a nortear a prxis educativa de tais instituies resume toda uma filosofia

    pedaggica. O governo de ento foi pragmtico e buscou experincias em outros pases,

    destacando-se a participao do belga Ledent.

    O governo republicano frente s novas condies sociais que foram emergindo, pouco

    a pouco, foi-se libertando da ideia de que a educao agrcola deveria apenas suprir a extinta

    mo de obra escrava. Alm da agricultura, tambm, a indstria nascente demandava mo de

    obra. Por outro lado, o prprio desenvolvimento agrcola apresentava necessidade de outras

    qualificaes, como a relativa ao controle de produo, de custos e administrao. No cenrio

    de ento, o agrnomo passou a ser um profissional de grande importncia.

  • 29

    Dessa forma, para traar as linhas que desenhavam o projeto pedaggico do

    Aprendizado Agrcola de Barbacena, foi necessrio que a legislao que o regia se tornasse

    objeto de reflexo. Assim, foi pesquisado o Decreto n 8.736, de 25 de maio de 1911,

    primeiro regimento interno que cria e define seus objetivos, estabelecendo suas atividades,

    sua finalidade de criao, sua organizao pedaggica, as dependncias e instalaes, o

    pessoal de ensino e administrativo, a admisso de alunos, os exames e as certificaes. Desde

    o incio, a Instituio foi sendo dotada de adequada infraestrutura que possibilitava unir teoria

    com a prtica, voltada para a produo de frutas, hortalias, flores, criaram-se oficinas e

    pequenas indstrias rurais, utilizando os produtos da prpria fazenda da instituio como

    matrias-primas.

    Alm do governo definir os cursos com as respectivas disciplinas, cargas horrias e

    certificados, havia dentre as atividades escolares, a particular importncia educao fsica. O

    escotismo foi muito difundido em Minas Gerais e foi adotado no Aprendizado Agrcola de

    Barbacena, em sintonia com a poltica do Estado. Outro aspecto importante a ser posto em

    relevo foi a integrao do Estabelecimento com a comunidade, desde seu incio. Graas a essa

    integrao, pde ele superar as dificuldades que surgiram no perodo da I Guerra Mundial.

    Atravs desse regimento, foi analisada a organizao pedaggica que deu incio s

    atividades do Aprendizado Agrcola, para se entender seus efeitos junto economia agrcola

    da poca. Por outro lado, analisou-se se tais contedos foram escolhidos tendo em vista as

    condies climticas da cidade e regio, por se tratar de local com uma temperatura mdia

    anual de 17 centgrados, ou se to-somente se levaram em conta as atividades relativas ao

    aprendizado no setor da agricultura e pecuria. O universo do aluno foi devidamente

    explorado desde a idade para o ingresso na Escola, at as suas condies socioeconmicas e

    nvel de escolaridade exigida.

    Observou-se, outrossim, se o ensino na rea de agricultura e pecuria tinha como

    objetivo o aprendizado pela prxis-pedaggica ou apenas a subsistncia do alunado. Em

    outras palavras: qual era o objetivo dos alunos trabalharem a terra e qual era o destino dos

    produtos decorrentes de suas atividades no campo? Ou, ainda, se a escola atendia proposta a

    que Fernando de Azevedo (1937) se refere, a saber, uma educao rural voltada para uma

    educao humanista, igualitria e social, que possibilitaria ao aluno meios para mudana e

    transformao.

    As leis internas que regulamentavam o Aprendizado Agrcola de Barbacena se

    mantiveram por esse regimento de 1911 at o ano de 1933. Com o advento da era de Getlio

    Vargas, o Aprendizado Agrcola de Barbacena foi transformado em Escola Agrcola de

  • 30

    Barbacena em 1933, com outros objetivos, outro currculo, outro regulamento, de acordo com

    a filosofia educacional do novo governo. Dessa forma, o segundo regimento foi aprovado pelo

    Decreto, n 22.934, em 13 de julho de 1933, modificando toda a estrutura interna dos

    aprendizados agrcolas.

    Desse modo, pensando nas vrias mudanas estruturais, pedaggicas, polticas e

    administrativas que descaracterizaram, em parte, os objetivos de criao dos aprendizados

    agrcolas, objeto desta pesquisa, que se pensou na data de 1933, como marco deste estudo.

    A legislao, contida no Decreto de 1933, regeu a Instituio at 1949. Com o advento da Lei

    Orgnica do Ensino Agrcola, foi aprovado o Regimento do Ensino Agrcola sob o Decreto-

    Lei n 9.613, em 20 de agosto de 1946, que vigorou por trs dcadas, at o ano de 1977.

    Ainda que vrias modificaes foram acontecendo ao longo dos anos, vale ressaltar que a

    metodologia do aprender a fazer e fazer para aprender tenha sempre estado em voga no

    sistema pedadgico dessas instituies.

    Para se aprofundar na investigao do Captulo V, em Controlar a Conduta, Modelar

    os Afetos e Regular as Maneiras foi analisada a cosmoviso da sociedade escravagista, cuja

    elite supervalorizava a formao acadmica para seus filhos e menosprezava o trabalho

    braal, considerado como de escravos, situao essa que gerou um modelo de sociedade, em

    que se distinguiam dois segmentos nitidamente opostos. De um lado, os senhores

    proprietrios de grandes fazendas e a elite cultural do pas; de outro, a parcela maior da

    populao, cujos filhos no tinham condies de freqentar escolas com alto nvel de

    formao propedutica, que os possibilitassem entrar numa universidade. O horizonte

    sociocultural do Brasil ps-escravatura, era definido por essa radical diviso social. Na

    conscincia coletiva, era evidente a distino entre trabalho manual e trabalho intelectual.

    Aquele, para a periferia social; este, para a elite. Mas, os governantes da recm-proclamada

    repblica, tinham que encontrar soluo para o grave problema, que era a juventude menos

    favorecida, de um lado, e, de outro, a imperiosa necessidade de suprir a mo de obra, pelo

    menos com conhecimento e tcnica, das propriedades agrcolas que no mais contavam com o

    trabalho escravo. Desse modo, a prpria necessidade histrica levou os governantes a

    implementarem iniciativas com vistas a criar no Brasil um modelo de educao agrcola,

    adaptado s suas condies socioeconmicas.

    O que se observa que criados os aprendizados agrcolas, problemas consequentes

    vieram tona, a saber, o recrutamento da clientela, o processo de admisso de alunos, as

    condies para se admitir e matricular um aluno, o disciplinar da conduta dos jovens, o

    despertar do interesse pelas atividades agrcolas, a legalidade em participao nos lucros da

  • 31

    produo como motivao, etc. Nesse processo, foram exaustivas as procuras de dados e

    subsdios que dessem suporte aos indcios para a localizao de informaes a fim de

    identificar quem eram aqueles que fizeram parte do corpo discente, quando de sua criao.

    Para se identificar qual o tipo de segmento da sociedade fez parte de seu grupo de alunado,

    assim como, analisar a situao socioeconmica de seus pais. Torna-se importante assinalar

    que o mtodo concebido para alcanar os objetivos previstos abrangeu todo o ciclo de

    produo, desde a teoria, passando pelo plantio, colheita, comercializao, participao nos

    lucros e acompanhamento de egressos. Esse acompanhamento foi de suma importncia,

    porque possibilitou avaliar se o processo usado no Aprendizado Agrcola, de fato alcanou o

    seu principal objetivo, que foi o de preparar o jovem para as atividades agrcolas e pecurias.

    Ainda neste captulo, destacou-se o fato de ter tido por quatro dcadas e meia, (1910-

    1955), um mesmo diretor, Diaulas Abreu. Que explicaes poderiam ser dadas para essa

    longa permanncia em um quadro de transformaes da sociedade brasileira e mineira? Em

    busca de reposta, pesquisou-se qual era a mentalidade da poca, que relaes polticas a

    instituio tinha com o governo federal e que objetivos polticos a esfera governamental tinha

    em relao Escola em pauta. Diaulas Abreu nasceu em 1885, no Rio de Janeiro, filho de

    coronel e fazendeiro mineiro e de me carioca. O diretor bacharelou-se em Direito com

    especialidade em Cincias Jurdicas e Sociais. A seguir, foi nomeado por Portaria, datada de

    14-11-1910, para o cargo de Diretor-Geral da instituio federal de ensino Aprendizado

    Agrcola de Barbacena, MG, cargo que ocupou por 45 anos. Oportunamente, seu perfil e

    desempenho como Diretor sero analisados no corpo do presente trabalho.

  • 32

    1 HISTRIA DO ENSINO PROFISSIONAL E AGRCOLA

    O Brazil abunda em riquezas naturaes cuja extraco e utilisao racional bastam para dar o

    bem estar aos habitantes e assegurar a sua prosperidade. Porem, a sua fonte mais certa de

    riqueza reside na explorao agricola do solo e na transformao industrial dos productos que

    delle se pode retirar pelo trabalho. O que importa, pois, antes de tudo, fornecer aos

    habitantes os meios de adquirir os conhecimentos geraes e as aptides profissionaes que ho

    de tornal-os capazes de retirar o maximo proveito do patrimonio que a natureza lhes doou.

    Antes de tudo, convem tratar, sem tardar, de formar homens instruidos theorica e

    praticamente, habilitados para as carreiras agricolas, emancipados dos costumes rotineiros e

    primitivos que prevaleceram at hoje, a par dos processos methodicos modernos, capazes,

    emfim, de dedicar-se com proveito aos trabalhos da agricultura e das industrias que utilisam

    seus productos. O momento chegou de instituir no Brazil o ensino profissional agricola,

    adequado s condies do paiz.

    Ledent, 1910

    No longnquo 1910, com o Brasil ainda novio na arte da vivncia republicana e h

    poucos anos de se ter livrado do regime escravocrata, Ledent identificava a vocao agrcola

    do Brasil, preconizando a necessidade de formao de mo de obra para a adequada

    explorao da terra e transformao industrial dos produtos decorrentes desse investimento.

    Por sua vez, a historiografia aponta que no incio do sculo XX se intensificou o debate acerca

    da necessidade de se implantar em nossa terra um sistema de educao profissional e agrcola

    voltado para as demandas emergentes. O cenrio ps-escravatura com as fazendas carentes de

    mo de obra qualificada para um uso mais produtivo da terra assinalava um horizonte sombrio

    de subexplorao das possibilidades das riquezas naturais em eventual carncia de alimentos,

    despertando nos polticos o interesse pela formao profissional na rea agrcola. Nas fbricas

    de um Brasil que ensaiava os primeiros passos na indstria, tambm havia carncia de mo de

    obra tecnicamente qualificada. Tratava-se, portanto, de um diagnstico que revelava uma

    necessidade de reformar o ensino para a terra e para a indstria.

    J no havia mais espao apenas para o trabalho braal dos jovens, mas o mercado

    exigia profissionais instrudos e preparados, cultural e intelectualmente, que participassem e

    contribussem ativamente para o crescimento do setor em que estivessem inseridos. Para tal,

    era necessrio um comprometimento e maior investimento dos rgos pblicos nas

    instituies de aprendizado profissional e agrcola, tornando-as cada vez mais afinadas com as

    novas tecnologias de acordo com as demandas econmicas e sociais do pas, sintonizadas com

    as mudanas que se pretendiam por em curso.

  • 33

    Accia Kuenzer se refere s mudanas que a cada poca apontam direes e

    necessidades diferentes:

    Os novos projetos pedaggicos no nascem das idias dos intelectuais; ao contrrio, eles so

    determinados pelas mudanas ocorridas no mundo do trabalho, que apresentam diferentes

    demandas a cada etapa de desenvolvimento das foras produtivas, em funo das

    caractersticas que assume a diviso social e tcnica do trabalho. (KUENZER, 1999, p. 1).

    Para a pesquisadora, no so os intelectuais, gestores ou governantes que ditam as

    normas para se atender a esse ou aquele aspecto do ensino, mas as mudanas vm da prpria

    dinmica social de determinado momento histrico, ditadas pelas foras produtivas do

    trabalho.

    Embora pontuadas pelas demandas e exigncias do mercado de trabalho que, de tempo

    em tempo, condicionam os perfis de formao desse contingente de alunado, as instituies de

    ensino profissional e agrcola possuem caractersticas que as distinguem entre si, sugerindo a

    existncia de outras mediaes frente s demandas sociais constitudas. Como se pode

    observar, as formas de ensino profissional e agrcola se processam dentro de suas

    singularidades. Dessa forma, so escolhidas cidades que se localizam nos grandes centros ou

    em cidades de porte mdio para oferecerem os cursos de ensino profissional. As escolas

    podem ser construdas prximas ou, at mesmo, dentro das fbricas e indstrias, podendo ser

    patrocinadas por grandes empresrios, bem como, pblicas ou privadas, com o objetivo de

    preparar seus alunos para as profisses dos setores industriais e fabris.

    As escolas agrcolas, por sua vez, tendem a serem construdas prximas a reas rurais

    ou em cidades de pequeno porte, podendo ser pblicas, privadas ou possuindo parte de seus

    recursos subvencionados pelos rgos pblicos, objetivando preparar seus alunos para o setor

    da agricultura e/ou pecuria. Como ponto comum, ambas foram criadas com o objetivo de

    instruir jovens que no tinham recursos financeiros e/ou instruo bsica adequada,

    destinados ao mundo do trabalho por intermdio de uma qualificao especfica que pemitisse

    atender aos anseios dos diferentes setores da produo.

    O estudo observa aspectos da trajetria do ensino profissional atravs dos

    acontecimentos histricos que denotam necessidades emergentes de qualificao de mo de

    obra industrial e fabril, considerando que este fenmeno se processa em escala transacional.

    Na Europa, onde se iniciou a Revoluo Industrial a partir do fim do sculo XVIII,

    alguns pases principalmente Inglaterra, Frana, Blgica e Alemanha se anteciparam aos

    demais, como precursores nessa empreitada. O Brasil, por sua vez, com suas peculiaridades,

  • 34

    tambm teve seus interesses despertados para incorporao e institucionalizao tanto do

    ensino profissional no setor industrial quanto no setor agrcola.

    Tal realidade enseja acompanhar um conjunto de acontecimentos que marcaram o

    desenvolvimento do setor industrial. Enquanto em 17914 o governo francs ensaiava um

    ensino especial para as classes operrias, no Brasil a preocupao com a instruo por um

    ofcio como base da economia brasileira teve seu incio em 1812, com D. Joo VI. Assim,

    iniciaram-se os estudos investigando os acontecimentos marcantes no setor da indstria no

    ocidente e, em seguida, em nosso pas.

    1.1 Ensino profissional no exterior

    Nesta seo, buscou-se o cruzamento de informaes em alguns autores brasileiros,

    bem como nas fontes documentais a que se teve acesso para respaldar as afirmaes sobre a

    trajetria do ensino profissional para alm das fronteiras do Brasil.

    Pires de Almeida5 (1886) afirma que lderes governantes na Revoluo Francesa, em

    1795, decretaram a criao de Escolas Centrais6, em todas as grandes cidades da Frana.

    Neste mesmo ano foi instituda uma Escola Politcnica destinada ao curso de Engenharia

    Civil e Militar. Quanto ao ensino industrial, em 1817, o governo francs introduziu o estudo

    do desenho no programa das escolas primrias e secundrias, porm com mais nfase no

    ensino terico que no prtico, uma vez que pouco ou nada havia de ensino de desenho nas

    escolas pblicas. Em 1830, inspirado na instruo popular, o governo resolveu investir nas

    Escolas Pblicas Intermedirias, criando, em cidades com mais de 6.000 habitantes, uma

    escola, cujo programa fosse conforme com as exigncias industriais, comerciais ou agrcolas

    de sua respectiva zona.

    4 Em setembro de 1791, foi promulgada a primeira Constituio da Frana que resumia as realizaes da Revoluo

    Francesa, dentre elas o estabelecimento de linhas gerais para o surgimento de uma sociedade burguesa e capitalista em

    lugar da sociedade anterior, que era feudal e aristocrtica.

    5 Jos Ricardo Pires de Almeida nasceu em 1843, no Rio de Janeiro e faleceu em 1913. Estudou Direito e formou-se mdico.

    Foi arquivista da Cmara Municipal do Rio de Janeiro, razo pela qual suas obras so amplamente citadas nessa pesquisa.

    6 Pires de Almeida (1886) explica que as Escolas Centrais eram instituies que ofereciam contedos diversificados em seus

    programas de ensino, que compreendiam desde matrias do ncleo comum, como, fsica e qumica experimental, gramtica

    e literatura, lnguas antigas e modernas, lgica e metafsica dos povos, at contedos especficos, como, desenho,

    agricultura e comrcio, artes e ofcios. Segundo o autor, cada escola possua uma biblioteca, um horto botnico, gabinete de

    histria natural, de fsica experimental e de mquinas industriais.

  • 35

    A partir de 1830 e em funo da disseminao dessas escolas, os melhoramentos da

    indstria francesa tornaram-se notabilssimos, pois conquistava dia-a-dia mais vasto mercado,

    sendo seus produtos mais bem acabados. Para Pires de Almeida (1886), tal fato foi fruto da

    proveitosa sementeira, pois os antigos alunos das Escolas de Artes e Ofcios, convertidos em

    hbeis mestres, impulsionaram brilhantemente as fbricas e as oficinas da Frana, dando sua

    produo um cunho de superioridade. Desse modo, o ensino profissional passa a ocupar um

    dos primeiros lugares no vasto programa da instruo pblica. Criam-se, ento, novas escolas,

    difundindo-se largamente e principalmente, dentre os muitos contedos, o ensino do desenho,

    procurando inspirar o gosto dos operrios para os estudos das artes e manufaturas.

    Com relao Inglaterra, estudos apontam que sua instruo primria era to slida

    que despertava, nos alunos, as mais nobres aspiraes e, com isso, um senso prtico

    caracterstico do povo ingls7. A esse sistema, deve a Inglaterra o avultado nmero de homens

    teis, que tanto concorreram para o progresso da nao. Na realidade, pela prtica, tanto na

    lavoura quanto na indstria, que se adquirem os verdadeiros conhecimentos com os quais se

    manejam os negcios em qualquer esfera social.

    Como se observa no Jornal do Commercio8 cujo redator o Dr. Luiz Pereira Barreto

    9

    a mola mestra de todo o sucesso britnico na Revoluo Inglesa se deu graas valorizao

    da agricultura nacional inglesa. Para o redator:

    Foi unicamente pela agricultura que a Inglaterra se elevou. Foi cultivando forragens que pde

    ter gado; foi tendo gado, que pde ter leite e carne e mais o esterco, que faz o trigo que d o

    po. Foi com po, com leite e com carne que conseguiu fazer crescer a sua populao e obter

    esses abundantes braos valentes que impulsionam a sua industria e pem em movimento os

    seus innumeros navios de commercio e de guerra. (JORNAL DO COMMERCIO, 23-08-

    1901, n 1.540).

    O texto acima sinaliza que na retaguarda da indstria, est a agricultura. Assim, houve

    uma grande e crescente demanda pela produo de l na Inglaterra, valorizando o

    desenvolvimento das manufaturas de tecidos. Em consequncia aumentou a necessidade e a

    7 Pires de Almeida um dos autores que refora essa percepo em sua obra Officina da Escola (1886).

    8 O Jornal do Commercio foi fundado em 20 de dezembro de 1896, em Juiz de Fora, MG, por V. Leon Anbal, tendo como

    redator-chefe Heitor Guimares e como auxiliar Olegrio Pinto. Em 1897, foi adquirido por Antnio Carlos Ribeiro de

    Andrada, sendo este seu redator at 1902, transferindo-o ao Dr. Joo Penido Filho. Posteriormente outros nomes figuraram

    a sua frente, conforme kappel apresenta em sua Dissertao de Mestrado O pensamento educacional de Estevam de

    Oliveira expresso atravs do Jornal Correio de Minas (1897-1908), Universidade Federal de So Joo Del Rei (UFSF),

    2010.

    9 Luiz Pereira Barreto nasceu em Resende, RJ, em 1840 e faleceu em SP, em 1923. Doutorou-se em Cincias Naturais e

    Medicina na Blgica, em 1864. Aps formado, em seu retorno ao Brasil, dedicou-se filosofia, educao, imprensa,

    cafeicultura, pecuria, sociologia, viticultura, poltica, geologia e vida cientfica ligada, principalmente, s experincias

    do caf, guaran, cerveja e vinho. Publicou vrios artigos sobre a produo cafeeira no jornal A Provncia de S. Paulo, nos dias 2, 3, 5, 6, 7, 8 e 10 de dezembro de 1876. Fonte: www.genealogiafreire.com.br. Acesso: maio, 2011.

  • 36

    valorizao da criao de ovelhas. Nesse cenrio, ocorreu uma grande apropriao de terras

    para que se tornassem adequadas para pastagens de ovelhas e, com os lucros obtidos com a

    produo da l houve crescimento do poderio econmico e o prestgio da nobreza rural. Alm

    de exaltar o sucesso britnico na poca da revoluo, Pereira Barreto tece uma sutil crtica ao

    governo brasileiro. Conforme matria do Jornal do Commercio:

    A suprema efficacia de qualquer frma governamental est no gro de intelligencia com que

    cada povo pe em jogo as foras productoras da terra, de que dispe. Parallelamente, um povo

    pobre e sem instruco agrcola, condenado a sofrer o peso das fatalidades naturaes sem poder

    dominal-as, em vo procurar imitar as superiores construces polticas, que um outro povo

    mais instruido e maduro architectou para si. (JORNAL DO COMMERCIO, de 23-08-1901, n

    1.540).

    Naquele contexto, s da terra illuminada pela intelligencia que sae a grande

    politica, a grande fora das naes.10

    Outros feitos marcaram a valorizao da mo de obra na Gr-Bretanha, concorrendo

    para o desenvolvimento da instruo popular de manufaturas a Society of Arts fundou em

    1754, algumas escolas para as classes operrias, com o fim de divulgar o progresso das

    cincias em relao ao comrcio, artes e indstrias. Tal associao mantinha uma academia

    com o objetivo de se ministrarem palestras e conferncias sobre os assuntos cientficos que

    dizem respeito s indstrias.

    A partir de 1799, foram abertos vrios caminhos que possibilitaram novos rumos da

    indstria no pas, como forma de habilitar os artfices ingleses. Assim, em 1824, a Inglaterra

    funda nas cidades mais industrializadas cursos e instituies idnticas, denominadas

    Mechanics Institute11

    . Esses Institutos dos Mecnicos despertaram a ateno pblica sobre as

    vantagens de se ministrar s classes operrias uma instruo cientfica, de acordo com as

    necessidades industriais. Por outro lado, os empresrios viam nesses Institutos espaos em

    que se formariam trabalhadores hbeis e habituados disciplina fabril de que tanto

    necessitavam em seus estabelecimentos. Portanto, os empresrios investiam financeiramente12

    nos Institutos a fim de proporcionar meios para a qualificao da mo de obra para suas

    indstrias, desde que fossem ministrados um ensino puramente tcnico. Da mesma forma que

    10 Fonte: Jornal do Commercio, 23-08-1901, n 1.540.

    11 O perodo de estgio de doutoramento realizado pela pesquisadora no Instituto de Educao do Departamento de

    Humanidades e Cincias Sociais, da Universidade de Londres, Inglaterra, sob a co-orientao do Professor Doutor Gary

    McCulloch, permitiu um maior investimento nos estudos elementares, anteriormente iniciados no Brasil, acerca da

    abordagem sobre o Mechanics Institute. O Instituto dos Mecnicos despertou interesse por apresentar certa semelhana

    com os atuais Centros Federais de Educao Tecnolgica (CEFETs) exitentes no Brasil, objeto deste estudo.

    12 Os empresrios, alm de serem os patronos dos Institutos, fornecendo doaes para a instalao e manuteno de suas

    sedes, investiam, tambm, nas demais dependncias, como, auditrios, bibliotecas e laboratrios (Pires de Almeida, 1886).

  • 37

    a classe burguesa de empresrios alavancou os Institutos dos Mecnicos, foram eles, tambm,

    os responsveis por suas falncias, uma vez que queriam transformar esses institutos em

    agncias para domesticar a classe operria. Dos Institutos dos Mecnicos surgiu o Instituto de

    Londres, mais tarde University of Manchester Institute of Science and Technology.

    Figura 1 - Manchester Mechanics' Institute, in 1825. Cooper Street, Manchester, UK.

    Tomando como exemplo o Mechanics Institute in Manchester, criado em 1824,

    durante a Revoluo Industrial, um grupo de empresrios e industriais da cidade de

    Manchester encontrou uma casa pblica, onde artesos poderiam aprender cincia bsica,

    particularmente mecnica e qumica (KARGON, 1977), sobrevivendo como uma instituio

    independente, atendendo aos originais objetivos educativos ao longo do sculo 20

    (WRIGLEY, 1982).

    Em reunio, convocada por George William Wood em 07 de Abril de 1824

    (KARGON; WRINGLEY e UMIST, 2012), assistida por membros proeminentes da

    comunidade cientfica e de engenharia, o Sir Benjamin Heywood, banqueiro prspero, foi

    eleito primeiro Presidente do Mechanics Institute in Manchester para o perodo 1824-1841.

    O Mechanics Institute se manteve nesse mesmo sistema de ensino at 1882. De 1883 a 1917

    passou a ser denominado Manchester Municipal School of Technology, tendo sido pioneiro na

    tecnologia de Engenharia Qumica na Gr-Bretanha. Em 1918, transformado em universidade,

    a instituio mudou novamente para Manchester Municipal College of Technology. Em 1955

    passou a Manchester College of Science and Technology e em 1966 a University of

    Manchester Institute of Science and Technology (UMIST), conhecida como University of

    Manchester.

    Embora o governo no tenha criado escolas por conta prpria, ele fez o repasse de

    generosas subvenes aplicadas nas escolas de ensino profissional e exercia papel na

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    fiscalizao, aprovando os regulamentos e redigindo os programas que deveriam ser postos

    em prtica nesses estabelecimentos.

    J naquela poca, havia a preocupao do governo britnico, quanto ao trabalho

    infantil. Para isso, apoiado pelos trabalhadores rurais, em 1833, ele promulgou a constituio

    denominada Factory Act, a Lei das Fbricas, proibindo a utilizao da mo de obra de

    crianas menores de nove anos no interior das fbricas.

    Quanto ao ensino agrcola na Inglaterra, em 1842 (Barnard; Brownell, 1871) um grupo

    de agricultores da cidade de Cirencester, no Reino Unido, preocupados com o lento processo

    educacional fornecido pelo governo, reuniu-se com o objetivo de se discutir sobre as

    vantagens de se criar um sistema educacional especfico agricultura (The History...). Desta

    feita, atravs de um comit de fazendeiros, fez-se circular entre eles um prospecto de ensino,

    tendo sido eleito Earl Bathurst para presidir essa instituio. Sem suporte do governo, esse

    grupo de fazendeiros conseguiu fundos atravs de subscries pblicas e puderam erguer uma

    construo de arquitetura e estilo vitoriano, tendo sido inaugurada em setembro de 1845,

    como a primeira Faculdade de Agricultura do mundo Ingls, com a admisso dos primeiros

    25 alunos. No mesmo ano a rainha Vitria, sentindo-se agradecida, assumiu a Instituio

    tornando-a pblica, sob a responsabilidade do Governo Britnico (ROYAL, 2012). A Royal

    Agricultural College, in Cirencester, United Kingdom13

    , sobreviveu a to