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III SEMANA DA MEMÓRIA, VERDADE E JUSTIÇA DE PETRÓPOLIS
02 a 07 de abril de 2018
Uma história que vem de mais tempo
A revelação pública da “Casa da Morte”, em 1981, por Inês Etienne Romeu.
Entrega, ao ministro Fernando Lyra, do pedido de abertura da investigação sobre torturas feito na “Casa de Petrópolis” pela Câmara dos Vereadores, em 1985.
Decreto Municipal n.966/2012: desapropriação da “Casa da Morte”.
Descomemorações do golpe militar, em 31 de março de 2014.
Devolução simbólica dos mandatos dos prefeitos cassados, em 18 de junho de 2014.
Criação da Comissão Municipal da Verdade de Petrópolis: Lei Municipal n.7.207, de 23 de julho de 2014.
Organização do Grupo Pró-Comissão Municipal da Verdade, em 18 de abril de 2014.
Realização das Jornadas pela Memória, Verdade e Justiça de 2015 e os primeiros atos de reparação –Câmara dos Vereadores.
Regulamentação da Comissão Municipal da Verdade pelo Decreto Municipal n. 893, de 11 de dezembro de 2015.
Semana da Memória, Verdade e Justiça de Petrópolis –Lei Municipal n. 7.398, de 26.02.2016.
Art. 2º.– A Semana da Memória, Verdade e Justiça tem por objetivos:
I – valorizar a historia de luta dos trabalhadores, assim como o
legado dos movimentos populares e sindicais, já atuantes no inicio do
século XX em Petrópolis;
II – esclarecer a população sobre os fatos e processos ocorridos,
bem como o papel desempenhado pelas instituições na vigência da
ditadura militar no Brasil, entre os anos de 1964 e 1985;
III – resgatar as identidades de luta política na sociedade
petropolitana, através da memória e do reconhecimento de ativistas,
militantes, figuras políticas
e vitimas que defenderam a democracia e os direitos sociais e humanos;
IV – afirmar a importância dos direitos fundamentais previstos nos
artigos 5o e 6o da Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988;
V – tornar publicas as omissões e violações aos direitos humanos
no Município;
VI – abordar, como tema principal, as prisões, abusos, torturas e
assassinatos realizados na “Casa da Morte” e outros aparelhos de
repressão no período de ditadura militar.
(Diário Oficial do Município de Petrópolis, 27.02.2016)
Audiência Pública
“Dan Mitrione em Petrópolis: um agente da CIA no treinamento das forças policiais
brasileiras”(Do golpe à implantação da ditadura militar: 1964-1969)
CEFET- Petrópolis, 2 de abril de 2018
Diego Grossi
Eduardo Stotz
Licia Quinan
Patrícia Souza Lima
Jornal de Petrópolis,
14.08.1970
EUA contra Esquadrão da Morte
O Estado de São Paulo, 14.07.1971
• A matéria de OESP de 14.07.1971 informa a posição do governo americano por meio de Charles Mayer, subsecretário para assuntos internacionais do Departamento de Estado, desvinculando o programa de treinamento de policiais oferecido pelos Estados Unidos com as “espantosas operações” daqueles ligados ao Esquadrão da Morte. Trata-se de 15 agentes da polícia de São Paulo com pedido de prisão decretada. O governo Nixon suprimiu a ajuda que, até aquela data abrangeu o treinamento de 600 oficiais no país e outros 100 mil no Brasil.
As fontes
• Acervo da 67ª D.P./Arquivo Histórico do Museu Imperial
• Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro
• Arquivo Histórico da Prefeitura de Petrópolis
• Arquivo da Câmara Municipal de Petrópolis
• Brasil Nunca Mais
• Arquivo Nacional
• Biblioteca Nacional
A cidade de Petrópolis passou a ser intitulada e
conhecida como “Cidade Imperial”, a partir do Decreto
nº 85.849, de 27 de março de 1981, de João Batista
Figueiredo, o último general-presidente da República
sob a ditadura militar. Mas a Petrópolis da época em
que se impôs o golpe militar, 17 anos antes, era
socialmente dividida em uma cidade de veraneio
serrano e uma cidade operária. Essa dupla face da
formação social petropolitana se dá pela coexistência
de elementos contraditórios, que ajudam a entender os
desdobramentos da História na cidade no processo
que culminou no Golpe de 1964 e na Ditadura Militar,
quando Petrópolis aparece tanto nos anais da
repressão quanto nos da resistência.
1. O golpe militar
31 de março a 1 de abril de 1964: enquanto as tropas do 1º.Batalhão de Caçadores deslocam-se para bloquear a passagemdas tropas golpistas em Três Rios, policiais civis armam-serequisitando munição. Em assembléia no sindicato dos têxteis,prepara-se a greve geral.
01 de abril de 1964: paralisação nas fábricas; reunião no gabinetedo Prefeito; o golpe militar é considerado vitorioso no final datarde. [17:00 horas. Em uma conferência na Aman (AcademiaMilitar das Agulhas Negras), o general Pery Bevilacqua, chefedas tropas cariocas, se une ao Exército de Minas e de São Paulo.]
02 de abril de 1964: à meia noite, o presidente do Congressodeclara vaga a Presidência da República. Entretanto, à 01:00pousa no Aeroporto Salgado Filho o avião que conduz JoãoGoulart. Após reunir com Brizola no Comando do III Exército,toma a decisão de asilar-se no Uruguai. O que acontece apenasem 4 de abril.
Quando o dia seguinte [31] amanheceu, a boataria em Petrópolisera geral, principalmente porque as tropas do 1º. BC saíramàs ruas e desfilaram em direção à Estrada União Indústria.Apesar de o Batalhão desempenhar papel conservador emPetrópolis, a ordem recebida pelo comando, como soubemosdepois, era a de enviar seus homens para juntarem-se aoutros destacamentos do Exército mobilizados pelo generalCunha Melo, fiel ao presidente. Iam barrar, na divisa de MinasGerais, as tropas revoltosas sob as ordens do general OlímpioMourão Filho, que comandava, em Juiz de Fora, a 4ª RegiãoMilitar e a 4ª Divisão de Infantaria. Na Avenida 15 deNovembro, oficiais requisitaram um ônibus da linha Rio -Petrópolis, da empresa Única. “Desçam todos porque o veículoestá sendo requisitado pelo Exército”, um deles ordenou, paraque soldados embarcassem e seguissem rumo à fronteira deMinas... (Rubens de Castro Bomtempo. Estação Petrópolis. Memórias de
um médico que não perdeu o trem da história.)
Convocação à greve geral
Diário de Petrópolis,
01.04.1964
Diário de Petrópolis,
31.03.1964
Paralisação das fábricas
• De acordo com o cronista João Francisco (Jornal de Petrópolis,10/04/64: “O Prefeito nos acontecimentos do dia 1º deabril”), o chefe de polícia da cidade tinha ordens expressas dosecretário de segurança do estado, Herval Basílio, para nãoreprimir os piquetes.
• Termos de declarações prestados à polícia política em abril ajunho de 1964 dão conta da paralisação da E.F. Leopoldina edas fábricas Santa Irene, São Pedro de Alcântara, Fábrica deTecidos Dona Isabel e Companhia Petropolitana de Tecidos.
no dia 31 de março, após largar o trabalho ás 17:30 horas soube que a
Leopoldina estava com os trens paralisados mas por estar “incompatibilizado”
com Saturnino da Silva, dirigiu-se ao sindicato dos têxteis para saber da
situação. Lá se realizava assembléia para discutir a paralisação das fábricas;
narra que, por ter pedido carona ao José Aranha, tomou parte na divulgação
de nota no Diário de Petrópolis, com apoio do gráfico conhecido por Renato,
“rapaz alto e gordo”, separando-se depois do grupo; tomou conhecimento, no
dia seguinte, de que Romão, Fabrício Quadros, Saturnino, Pedro Lopes
Neves e outros, comandavam piquete fechando fábricas. Prontuário n. –
Alcebíades de Araujo Romão/APERJ
2. A repressão em Petrópolis
As prisõesT
ribuna d
e P
etr
ópolis
,
14.0
4.1
964
Tortura, perseguição, suicídio e morte
• Prisões efetuadas na 67ª Delegacia de Policia (testemunho deAlmir Neumann), no 1º.Batalhão de Caçadores (registro deFloreal Garcia), no Estádio Caio Martins (Floreal Garcia, HercilioSoares de Rezende, José de Araujo Aranha, Nelson Corrêa deOliveira e Nilton Ursula). Em Niterói, em parte eramencaminhados para interrogatório e tortura no Batalhão daP.M.R.J. e no DOPS-RJ.
• Tentativa de suicídio de Maria de Lourdes Vieira Braz, esposade José Nicolau Braz, então preso (Diário de Petrópolis,05.05.1964).
Termo de declarações
• [...] que o declarante quer esclarecer que quando foipara Niterói, prestou declarações no Centro deArmamento da Marinha, e no Estádio Caio Martins,aos delegados Urbano Cariello e Edésio Gonçalves,respectivamente, esclarecendo que não sofreuqualquer coação ou constrangimento nêsses lugares,bem como nesta Delegacia. [...]
– Termo de Declarações de Hercilio Soares de Rezende em24 de maio de 1964 na Delegacia de Polícia de Petrópolis.APERJ. Prontuário RJ 21.588.
DEPARTAMENTO DE POLICIA POLÍTICA E SOCIAL/11ª REGIÃO POLICIAL – SERVIÇO SECRETO
Ilmo Sr.
Diretor Chefe de Seção
INFORMAÇÃO
Cumpre-nos informar a V.Excia, e dando sequência à correspondência dasemana próxima passada, que o Sr. Pedro Lopes Neves, chamadoPEDRINHO, comunista fichado, e implicado em IPM, faleceu no dia 17 dejulho de 1966, internado no Hospital Santa Tereza, e depois terminadoseus dias e momentos, em sua casa, à Rua Dr. João Braga, tambémconsiderada Rua Aldo Tamancoldi, no Alto da Serra. Ex-funcionário daEstrada de Ferro Leopoldina, exercia o cargo de foguista ou maquinista, esua morte foi ocasionada por abcesso, já antigo, e agora supurado.
Sua morte constrangeu seus colegas de ofício, tendo o Sr. OSMAR PEREIRA,braço direito do Sr. Saturnino Silva, e do próprio morto, dito que – “Este apolícia não precisa mais maltratar, e também depois da vida que tivemosna delegacia, outro não poderia ser o seu fim.”
Petrópolis, 20 de julho de 1966
Agente RJ 49 [APERJ. Prontuário RJ 23.098. Osmar Pereira.
Alcebíades de Araujo Romão; Alencar Thomaz Gonçalves; Antonio Nicolau Mura;
Antonio do Vale “Tonico”; Apolonio de Carvalho; Alcides José de Souza [Sidoca]; Alayde
Gonçlalves Tosta; Antonio Dessi “Tomé”; Amair Leite; Antonio Luiz de Almeida; Aracy
Freitas de Souza; Américo Nunes; Aluisio Ribeiro de Almeida; Bolivar Miranda;
Domingos Antunes Siqueira; Djalma Cosmo da Costa; Didimo Pereira Macedo; Fabricio
Alves de Quadros; Francisco Guimarães Ximenes; Flauzino Antonio do Valle; Floreal
Garcia; Geraldo Pimentel; Hercilio Soares de Rezende; Ismael Galdino; José de Araujo
Aranha; João Crispim Pimentel; Juarez de Azevedo Almeida; João Alfredo Pereira da
Silva; João Pedro Bernardo Weckmuller; José Pereira Paulino; José Paradela Netto; José
Cardinelli; João Anesio de Oliveira; Luiz Francisco Monteiro; Luiz Cardoso Lemos;
Laurides Barbosa dos Reias; Mario Mateus de Lourdes; Manoel Maria Leal Ferreira;
Maria Zillig ou Marilia Zillig; Manoel Muniz Pereira; Nelson Corrêa de Oliveira; Nilton
Ursula; Nilo Canela; Osmar Pereira; Osmar Alves de Oliveira; Pedro Lopes Neves;
Pascoal Ursula; Paulo José dos Santos; Rubens de Oliveira Xavier; Rubens Guayer
Wanderley; Saul Alves de Quadros; Saturnino da Silva; Sebastião Gomes Soares; Walter
Motta (Francisco Walter de Souza Motta); Wilson Reis; Walter Furtado da Costa.
O caso de Alencar Thomaz Gonçalves
Boletim de prisão datado de 22.04.64 “para averiguaçãoideológica”. Nota na coluna Ronda Policial no Jornal dePetrópolis de 23.04.64.
Oficio. 407, de 16.06.64, da 67ª DP, informa ao juiz auditor queAlencar Thomaz Gonçalves, Hercilio Soares de Rezende, IsmaelGaldino, José de Araujo Aranha, Luiz Cardoso de Lemos, NelsonCorrêa de Oliveira, Nilton Ursula, Pedro Lopes Neves, Rubens deOliveira Xavier e Saturnino da Silva encontram-se recolhidos naCadeia Pública à disposição da Auditoria Militar.
O Diário de Petrópolis de 09.01.65 publica carta de Alencar, umaretratação pública de sua ideologia com o intuito de provocar asolidariedade do interventor no Sindicato dos Têxteis paragarantir a permanência dele e de sua família, de cinco filhosmenores, na casa onde funcionava sediava o citado sindicato,“em consideração as dificuldades que venho atravessandocontra a minha espontanea vontade.”
• O sofrimento de Alencar e de sua família estão resumidos noscomentários extraídos da página do Correio do Brasil intitulada“Documentos da ditadura estarão disponíveis na internet apartir desta segunda-feira”, de 29/3/2013. De acordo com oCarlos Alberto Gonçalves, filho de Alencar Thomaz GonçalvesGonçalves Gonçalves, jornalista na empresa Radio Imperial dePetrópolis,
– “meu pai, Alencar Thomaz Gonçalves foi líder sindicalistanesta época e sofremos muito com tudo isto. Ele faleceuaos 42 anos de idade.”
– http://correiodobrasil.com.br/noticias/politica/documentos-da-ditadura-estarao-disponiveis-na-internet-a-partir-de-segunda/594495/
Prisão de Floreal Garcia
Preso em 1964 numa ação cinematográfica doExército, em pleno dia, na Galeria do Edifício Arcádia,na Praça D. Pedro, com emprego de fuzis emetralhadoras.
(Elmiro Jorge)
Cooperação policial
• Oficio 395, de 12.06.64, do delegado João AlvesPereira para Cecil Borer, diretor do DOPS-GB:
– Atendendo pedido verbal de V.Sa. apresento-vos o presopolítico Dr. FLOREAL GARCIA, brasileiro, natural do Estadoda Guanabara, com 51 anos de idade, casado, advogado,residente nesta cidade de Petrópolis, à rua Mosela, n.1.127.
Cassação dos mandatos pela Câmara Municipal de Petrópolis
• Projeto de Resolução 0220, de 24.04.64, encaminhaa cassação do mandato do vereador José de AraújoAranha eleito em 1962 pelo PSB e dos suplentesFrancisco Guimarães Ximenes, Saturnino da Silva,Saul Alves de Quadros, Alencar Thomaz Gonçalves eRubens de Oliveira Xavier, assim como suspende omandato do suplente Manoel Maria Leal Ferreira.
• A cassação acontece, por unanimidade, no dia 03 demaio de 1964.
Diário de Petrópolis, 30.07.1964
3. A retomada das lutas
• Greves em 1966: têxteis (junho e dezembro, na CompanhiaPetropolitana), confecções (dezembro) e rodoviários (30 demarço, enquadrados na LSN, com defesa por Fabiano Gomes)
• Greve na Petrópolis Confecções S.A. e atuação da PolíciaFeminina na empresa em 1966, reconhecida pelo chefe doDOPS, Wilson Madeira por sua atuação no Estádio Caio Martinse do DOPS em Niterói “nos primeiros dias da Revolução” (Cartade Wilson Madeira ao diretor do DPPS, em 16 de março de1967).
• Exploração! Editorial com este título no número 148 da RevistaSocial, de O6.02.66, começa por informar que o assunto temrequintes de crueldade; adverte não estar contra os bensmorais ou materiais dos senhores proprietários, tambémdenominados de “abutres humanos”, “marajás da ganância”,“senhores de escravos” por não respeitarem idade, sexo,horário, leis trabalhistas, pagamento de “serões” de suasempregadas em confecções.
• Quais os motivos desse posicionamento?
• Informe no. 245 SNI-ARJ, de 12 de março de 1965, a Agencia RJdo Serviço Nacional de Informação dá crédito à informação,“de fonte idônea”, da rearticulação comunista nos sindicatosdo Estado do Rio de Janeiro. No final do informe secretotranscrito registra-se a observação sobre a responsabilidadepatronal cujas medidas só servem para irritar os trabalhadores,jogando-os contra as Juntas [interventoras nos sindicatos],fazendo com que eles vivam sonhando com a volta ao passado[isto é, em fazer greves].
• “Encontram-se entre esses proprietários, os de Estaleiros, de Usinasde Açúcar, de Empresas de Transportes Rodoviários, de Indústrias deFiação e Tecelagem, como é o caso da Fábrica Petropolitana, emCASCATINHA, Município de PETRÓPOLIS, que vem mantendo saláriosreligiosamente atrasados, desde a Revolução. A indústria AméricaFabril, Fábrica de INHOMIRIM, MAGÉ, que por determinação de suaDiretoria, deixou de fazer descontos das mensalidades do Sindicato,em folha, como sempre fez, apenas visando desacreditar a Junta,alegando, inclusive, que não existe mais Sindicatos no País.”
O suicídio de Fabiano Gomes
• Entretanto, em 1966 a ditadura militar responde ao crescente sentimento oposicionista com a edição do AI-3, em 5 de fevereiro: as eleições para governadores e municípios das capitais torna-se indireta. Uma onda de cassações e impugnações precede o processo eleitoral.
• Em 11 de outubro, agentes do SNI reunem-se com promotor Gil Castelo Branco, da 2ª Vara de Justiça, e o juiz Fernando Monteiro Ribeiro Neto, da 29ª Zona Eleitoral. Decide-se encaminhar várias impugnações, dentre as quais do candidato a prefeito Paulo Gratacós (MDB-2).
• Em 15 de outubro, o promotor encaminha o pedido de impugnação. Junto, anexa documentação da polícia política acusando Fabiano Gomes, candidato a vice-prefeito do MB-1, de informante contra Gratacós.
• Em 17 de outubro, Fabiano Gomes suicida-se.
• Em 18 de outubro, o juiz da 29ª Zona Eleitoral recusa o pedido de impugnação e concede o registro da candidatura de Paulo Gratacós.
– http://cmvpetropolis.org/sobre-o-suicidio-de-fabiano-gomes-um-caso-encerrado/
Jornalistas e policiais
• Diretor- proprietário da Revista Social, Celio Salim Thomaz é atacado pelo Delegado Regional da 11ª Região, João de Oliveira Albuquerque. No ofício 359, de 17.03.65, dirigido ao Secretário de Segurança Pública, informa ter o jornalista denegrido sua imagem pública na seção social do Jornal de Petrópolis. O agravante, é ser o autor funcionário da secretaria no cargo de Fiscal de Censura da Delegacia Regional.
• Colunas assinadas por jornalistas-policiais: Paulo de Souza Ribeiro (Página Sete, do Jornal de Petrópolis); Wilson Madeira (Da Capital Fluminense, De Niterói, da Revista Social).
Wilson Madeira.
Revista Social n.99, 21.02.65
4. O treinamento das forças policiais brasileiras pela OPS/USAID (Ponto IV)
Ponto IV: denominação adotada por ser o quarto ponto do discurso de posse de Harry Truman na presidência dos EUA em janeiro de 1949, parte do Programa de cooperação técnica internacional entre os EUA e países latino-americanos. Ajuda gerenciada pela International Cooperation Administration (ICA), órgão do Departamento de Estado, com fundos repassados a universidades. (Dicionário CPDOC)
O comandante das forças policiais do Rio de Janeiro, então capital federal, general Amaury Kruel, estabelece acordo com os EUA e cria o Escritório Técnico de Coordenação de Projetos e Ajustes do Ponto IV na Guanabara, em 1959. Provável local é um anexo de delegacia de polícia civil em Benfica conhecida como “Ponto Chic”. Kruel aperfeiçoa o sistema policial com a organização de um Esquadrão Motorizado (E.M.) para agir contra os bandidos cariocas, destacando um grupo especial denominado de “Serviço de Diligência Especial”.
A doutrina antiinssurecional dos EUA e seus instrumentos
• Do fracasso da invasão de Cuba em 1961 à política antiinssurrecional do Governo John Kennedy. Walt Rostow, consultor adjunto de Segurança Nacional: “Segundo Rostow, em Stages of Economic Growth (1960) um país seria mais suscetível à infiltração comunista quando a industrialização começasse a “decolar”, por conta o potencial de desordem social que implicava. (Huggins, 1998)
• Organização da USAID – United States Agency for International Development em 1961 – componente de segurança pública estabelecido por meio da Office of Public Safety (OPS), em 1962. Criação da International Police Academy (IPA), em 1963.
Os cursos e equipamentos oferecidos
Cursos de treinamento em técnicas de vigilância, coleta de informações, procedimentos de interrogatório, métodos de realização de batidas, controle de motins e multidões, investigações técnicas (bombas, explosivos, armamentos)
Jogos de simulação (“Operação San Martim”), realizada em sala de operações de alta tecnologia, na qual um grande mapa de Baltimore e arredores era usado para representar o país fictício (“San Martim”) alvo de um ataque por outro (“Maolândia”).
Rede informatizada de comunicações da polícia com rádio-transmissores-receptores e posto fixo. Posto à prova, com sucesso, durante as passeatas na Universidade de Brasília, em 1965. Objetivo de integração nacional e papel do equipamento da I.B.M.
Huggins (1998)
O treinamento realizado
Ano Total EUA Total Brasil
1964 131 8.380
1965 193 17.140
1966 268 44.030
1967 346 64.443
1968 391 (jan 1969) 86.761
1969 523 105.819
Em maio de 1969 encerrou-se o programa de segurança pública
americano com os Estados brasileiros. De julho de 1969 a abril de 1972
foram treinados policiais principalmente da Polícia Federal. Os totais
alcançados no final do período são de 648 policiais treinados nos EUA e
108.835 no Brasil.
Battibugli (2006)
O caso Mitrione
• Denominação da rua por proposta do vereador Paulo Ribeiro (Deliberação n.2916, de 24/09/1970: inicia antes do no. 565 da Av.Rio Branco e termina no morro. Alterada em 1995 para Rua José Vasco.)
• Daniel Mitrione: 04.08.1920 (Itália) – 10.08.1970 (Uruguai). Oficial da polícia em Richmond, Indiana em 1945, ingressa no FBI em 1959 e em seguida no setor de Cooperação Internacional do Departamento de Estado; atuação na América Latina por meio da OPS, presente no Brasil entre 1960 e 1967. Especializa-se em espionagem e contra-espionagem, em ação anti-guerrilheira, em técnicas de sobrevivência na selva e à tortura.
• Seqüestro de Dan Mitrione pelos Tupamaros, em 31.07.1970 e execução em 10.08.1970 diante da recusa do governo uruguaio libertar 150 presos políticos.
Dan Mitrione (1920-1970) - JFK
Assassination Debate - The Education
Forum
17/09/2017
Treinamento das forças policiais fluminenses
As informações a seguir relatadas baseiam-se na Revista Social
• n.93, 10.01.65 – “Sociais”: comissário Silvio de Carvalho faz curso de aperfeiçoamento sobre assuntos policiais.
• n.102, 14.03.65 – “De Niterói”: os delegados José Silva, Paulo Pacielo e Carrielo são indicados pelo secretário de segurança para fazer curso no FBI. José Silva declina. Ref: Urbano José Cariello, delegado na repressão no Estádio Caio Martins/Centro de Armada da Marinha (depoimento de Hercilio S Rezende, acima citado)
• n.103, 21.03.65 – “De Niterói”: informa viagem dos citados delegados para curso de três meses nos EUA nos termos do acordo do Ponto IV e aproveita para falar de visita a Robert Kent, chefe do US Information Service da Embaixada.
• n. 111, 16.05.65 – “De Niterói”: delegado Péricles Gonçalves fez curso no Ponto IV e está lecionando na Escola de Polícia, “Domingo de Tumulto”, para a Guarda Civil.
• n.114, 06.06.66:
• n.126, 29.08.65 – “De Niterói”: Este cronista esteve circulando na Embaixada dos estados Unidos, tratando de assuntos ligados a Bolsa de estudo do Ponto IV para jornalistas.
• n.140, 05.12.65 – “De Niterói”: Funcionários do Ponto IV visitaram a delegacia de Policia de Caxias. Eles vão fornecer equipamento técnico.
• n. 189, de 20.11.1966 – “Sociais”:
Revista Social n.190, 27.11.66 – “Sociais”: informa quem
eram os funcionários
Revista Social, n.111, de
16.05.65
O caso de Sylvio Carvalho da Silva
• Na matéria “Sylvio de Carvalho: um ícone da imprensa” publicada na Tribuna de Petrópolis, de 05.06.2016, apresenta-se um perfil biográfico deste comissário de polícia e jornalista. Nascido em 07.06.1926, tem uma longa carreira na qual a atuação no jornalismo (Jornal de Petrópolis, Tribuna de Petrópolis, assessor de imprensa da Universidade Católica de Petrópolis) e no rádio-jornalismo (UCP e Tribuna) combina-se com a de comissário da polícia civil e a participação da política municipal (governos Gratacós e João Caldara). Alcebíades Lopes, advogado, em testemunho prestado a esta Comissão, afirmou que, na condição de membro da policia civil, ele era uma pessoa da “área da informação”.
• Dirigiu a Rádio Patrulha, organizada e chefiada por ele em 1957, a frente da qual permaneceu por uma década.
• A atuação como comissário a partir do golpe de 1964 está pautada no armamento policial durante o dia 1 de abril, conforme relatado acima, e na colaboração da Rádio Patrulha nas prisões efetuadas durante os primeiros meses daquele ano e ainda no ano seguinte, conforme documentação de prontuários policiais sob a guarda do APERJ, a exemplo da prisão de João Pedro Bernardo Weckmuller a pedido do DOPS local, em 26.08.1965.
• Em 9 de junho de 1965 a imprensa noticia que o comissário Silvio de Carvalho toma a iniciativa de promover uma conferência de Dan Mitrione, “professor de polícia”, sob os auspícios do Ponto IV, no auditório do Museu Imperial. A iniciativa, conforme oficio enviado pelo comissário Silvio Carvalho da Silva na qualidade de chefe da Rádio Patrulha em 11 de maio de 1965, a Francisco Marques dos Santos, Diretor do Museu Imperial, fazia parte das comemorações relativas ao 8º. aniversário da R.P. de Petrópolis. A conferência, intitulada “Atividades policiais”, seria pronunciada no dia 22 de maio de 1965. No ofício Silvio de Carvalho faz referência a Dan Mitrione como membro da Escola Norte-Americana do Ponto IV.
Participa no treinamento oferecido pelo “Ponto IV” nos EUA:
na matéria “Completa 10 anos a Rádio Patrulha) publicada
pelo Jornal de Petrópolis em 18.05.67:
• O vínculo de Sylvio de Carvalho com Dan Mitrione é destacado em matérias publicadas pelo Diário de Petrópolis quando do seqüestro e subseqüente execução do agente americano pelos tupamaros em Montevideo (dias 2 e 11 de agosto). Faz-se menção à estada de Mitrione em Petrópolis, ocasião em que teria feito “palestra no auditório do Museu Imperial convidado por Sylvio de Carvalho quando falou às classes produtoras em uma promoção da ACIP.” Mas o envolvimento maior aparece na divulgação da missa por intenção de Mitrione realizada na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, em 18 de agosto do mesmo ano. Ambos eram católicos praticantes.
• Em 1968, Silvio Carvalho da Silva é nomeado Secretário de Serviços Públicos do governo municipal de Paulo Gratacós, colocado à disposição pelo governador Geremias de Mattos Fontes (Tribuna de Petrópolis, 30 de abril de 1968). Após a cassação daquele prefeito, em 1969, ocupa um cargo no governo de João Caldara (1971-73) e no segundo governo de Gratacós (1989-1992).
• Um projeto importante formulado por Sylvio de Carvalho é o da Central de Operações Policiais apresentado em matérias dos jornais Diário de Petrópolis, Jornal de Petrópolis e Revista Social. A informação mais detalhada consta na edição do Diário de 29 de setembro de 1971, sob o título “Secretário de Segurança aprova plano da polícia em Petrópolis” (p.1 e 4). O plano, apresentado pelo delegado da 11ª Região Policial, Mauro Magalhães ao general Paulo Teixeira da Silva, foi projetado pelo comissário Silvio de Carvalho. A experiência piloto da instalação de uma Central de Operações Policiais é descrita na matéria em seus detalhes técnicos, com destaque para a visualização do mapa urbano de Petrópolis. Uma comparação com o sistema funcionando em Montevideo sugerido nas imagens dos primeiros seis minutos do filme Estado de sítio, de Costa Gavras, de 1972, deixa entrever como poderia ser usado para controlar o trânsito numa operação de cerco. Nos seis primeiros minutos, o filme apresenta o gigantesco aparato de segurança militar-policial desencadeado para libertar Dan Mitrione e o cônsul brasileiro Aloysio Gomide, seqüestrados pelo Movimiento de Libertación Nacional – Tupamaros com o intuito de libertar os seus militantes, presos políticos pelo governo de Jorge Pacheco Areco. É o que se pode visualizar na matéria no próximo slide.
Revista Social, n.434,
03.10.71
• Em 22.11.2017, Sylvio de Carvalho comparece ao Ministério Público Federal de Petrópolis para prestar esclarecimentos a respeito dos fatos em apuração no Inquérito Civil n. 1.30.007.000166/2012-13, conforme Termo de declarações abaixo transcrito:
Referências
• Lista de presos, confirmados, no Estádio Caio Martins. Relatório parcial de pesquisa e atividades . Comissão Municipal da Verdade de Niterói, outubro de 2015.
• Thaís Battibugli. Democracia e Segurança Pública em São Paulo (1946-1964). Tese de Doutroado em Ciência Política da FFLC/USP, 2006, 304 p.
• Martha Huggins. Polícia e Política: relações Estados Unidos/América Latina. São Paulo: Cortez, 1998.
Comissão Municipal da Verdade de Petrópolis
• https://www.facebook.com/cmvpetropolis/
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