iii. implementaÇÃo do psf no municÍpio de vitÓria (es) iii... · o psf surgiu como experiência...
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III. IMPLEMENTAÇÃO DO PSF NO MUNICÍPIO DE VITÓRIA (ES)
1. ANTECEDENTES E PROCESSO DE IMPLANTAÇÃO DO PSF
Antecedentes
Antes da implantação do PSF com recursos federais do PAB, o município de Vitória não
possuía um programa próprio similar que tenha servido de base para o PSF, contudo
encontrava-se em processo de organização de sua rede assistencial e a adesão à estratégia
do PSF teve por objetivo aprimorá-la.
Com a municipalização dos serviços de saúde, ocorrida em 1995, a SMS de Vitória
iniciou um processo de reorganização da atenção básica. A perspectiva era reorientar o
modelo assistencial anterior, implantando um sistema integrado de serviços de saúde, de
base territorial, criando 6 Regiões de Saúde e áreas de abrangência para cada unidade de
saúde.
Em janeiro de 1998 foi criado o PSF no município como um mecanismo para agilizar a
reorientação do modelo assistencial proposto pela SMS e aprimorar o processo iniciado
anteriormente. O PSF surgiu como experiência piloto na região de São Pedro, escolhida em
razão de grandes dificuldades de acesso à assistência médica de população local e esteve
articulada a um projeto urbanístico e intersetorial do governo municipal para a região.
O PACS foi implantado concomitante ao PSF com três equipes em 1998 e ampliado para
até 9 equipes. Em 2001 diversas equipes PACS foram transformadas para PSF,
permanecendo em 2002 apenas quatro equipes de PACS.1
Contexto político e institucional do município no momento de implantação do PSF
O contexto político no momento de implantação do PSF no município de Vitória em 1998
caracterizou-se por continuidade nos mandatos de coalizão encabeçada pelo PSDB, o
mesmo partido do governo estadual. Desde 1993, esta coalizão detinha o poder municipal
em Vitória e em 1998 tinha maioria na Câmara de Vereadores, que não ofereceu
resistências ao processo de implantação do PSF.
Em abril de 2002, o prefeito estava na segunda gestão e a composição partidária na Câmara
de Vereadores permanecia favorável ao executivo municipal. A coalizão do governo
estadual prosseguia sob liderança do PSDB mas na presença de conflitos internos ao
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próprio partido, não constituía apoio ao município. Segundo os gestores da saúde no
município, a SES/ES sofreu durante a década de 90, grande descontinuidade político-
gerencial devido à alta rotatividade no cargo de secretário estadual de saúde, o que teria
gerado fragmentação na condução da política estadual de saúde, com enfraquecimento do
papel da SES.
No município, diferentemente, a manutenção da coalizão no poder municipal por quase dez
anos garantiu maior estabilidade, o que foi considerado pelos gestores do setor saúde como
um grande facilitador para a estratégia de implementação do PSF.
O secretário municipal de saúde na época de realização da pesquisa fora nomeado em abril
de 2002, em virtude da desincompatibilização do secretário anterior para concorrer a cargo
eletivo. O subsecretário de saúde, que ocupara este cargo por três anos assumiu a SMS,
dando prosseguimento à política adotada.
Em Vitória, a municipalização do sistema público de saúde era recente e incipiente. O
município não fora habilitado em nenhuma das condições de gestão da NOB 93, estando
habilitado desde 11 de fevereiro de 1998, na NOB 96 à condição de gestão plena de
atenção básica. Pode-se assim considerar a gestão municipal em saúde de Vitória como de
baixo aprendizado institucional.2
Em meados de 2001 a estrutura da SMS passou por uma ampla reorganização, com o fim
de atender às novas exigências gerenciais e à proposta de habilitação na condição de gestão
plena do sistema de saúde. Segundo os gestores municipais, havia a perspectiva de que até
fins de 2002 Vitória passasse à condição de gestão plena do sistema municipal.
Motivação para implantação do PSF
As motivações para implementação do PSF em Vitória estiveram relacionadas à
perspectiva de reorganização da atenção básica visando a constituição de um sistema
integrado de serviços de saúde de base territorial. O PSF foi considerado como a estratégia
que permitiria acelerar a proposta de reorientação do modelo assistencial em discussão
desde 1995. Ao mesmo tempo, a implantação inicial do PSF procurou contemplar áreas de
exclusão social, representando, assim, também um mecanismo de ampliação do acesso aos
serviços de saúde no município. No momento de sua implantação, o PSF estava vinculado
1 Conforme dados do SIAB, o PACS contava em 1998 com 3 equipes, em 1999 com 9, em 2000 com 8, em
2001 com 5 e em 2002 novamente com 3 equipes PACS. 2 O conceito de aprendizado institucional foi adaptado de Viana et al. (2002).
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a um projeto intersetorial prioritário do governo municipal – o Projeto Terra – voltado para
políticas de urbanização, infra-estrutura e desenvolvimento social para população em áreas
de exclusão do município. Posteriormente, o PSF se desvinculou do Projeto Terra e a
implantação de novas ESF esteve relacionada a outras variáveis tais como a afinidade de
uma determinada equipe da UBS com a estratégia, a identificação de demandas da própria
comunidade e da equipe de profissionais de saúde. Tinha-se como proposta a implantação
do PSF em todo o município até 2004.
As áreas de abrangência de cada unidade de saúde já haviam sido definidas no processo de
territorialização organizado em 1994, o que facilitou a implantação do PSF em 1998.
Todavia o que existia era uma delimitação geográfica, e não uma responsabilização sobre
os problemas dentro do território. Para a coordenação municipal do PSF, com a
implantação do PSF, não apenas foram definidas áreas de abrangência, mas instaurou-se
prática profissional diferenciada, na qual a demanda é reconhecida e organizada.
“Realmente, a equipe passa a se apropriar dos problemas de saúde que existem naquela
unidade de saúde e naquele território”.
A humanização da assistência e a perspectiva de maior equidade dando-se prioridade para
populações em risco, potencialmente propiciadas pela estratégia de saúde da família, foram
também mencionadas como motivos pelos gestores. Os motivos para implantação do PSF
estiveram portanto muito mais relacionados às possibilidades de bem estruturar uma
atenção básica resolutiva e menos à perspectiva de captação de recursos dos incentivos
financeiros federais.
Iniciativa e apoios para a implantação do PSF
A iniciativa de implantação do PSF foi discutida coletivamente por técnicos da SMS, e
contou com grande empenho do então secretário municipal de saúde, que foi o grande
estimulador de sua concretização. Na decisão para o processo de implantação o gestor
contou com o apoio dos técnicos e posteriormente do Conselho Municipal de Saúde
(CMS), da sociedade organizada e do COSEMS.
No momento inicial da implantação, segundo os gestores locais, ocorreu importante apoio
de consultoria externa de Eugênio Villaça Mendes (ex-assessor da OPAS e consultor em
sistemas e serviços de saúde). Este consultor participara da formulação do sistema
integrado de serviços de saúde de base territorial. Posteriormente, por indicação do
consultor outro importante apoio externo passou a ser da Escola de Saúde Pública do Ceará
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que contribuiu principalmente na qualificação de pessoal.
O prefeito apoiou politicamente a implantação desde o seu mandato anterior, dando
respaldo e autonomia ao secretário na construção da política setorial e reconheceu a
necessidade de organização da Atenção Básica. Segundo os gestores da saúde, o prefeito se
apropriou do discurso da saúde, embora engenheiro, discorrendo publicamente com
entusiasmo sobre a importância do PSF. Além do apoio político, o prefeito incentivou
financeiramente o PSF destinando recursos próprios do município para condução do
processo de implantação.
No contexto de implantação do PSF em Vitória, outros atores também foram importantes.
A Pastoral de Saúde da Igreja Católica, apoiou o programa, e se destacou como parceira no
trabalho de campo. Em 2002, a Arquidiocese de Vitória por meio da Cáritas Diocesana
(uma ONG), tinha estreito vínculo com o PSF pois contratava os ACS pelo regime CLT
com base a convênio com a SMS-Vitória. A Igreja Batista também apoiou o PSF, por meio
do trabalho social que desenvolvia na região de São Pedro, local de implantação das
primeiras equipes.
No governo municipal, segundo os gestores locais, a área social trabalhava a partir da
intersetorialidade e o PSF contou com apoio das Secretarias de Educação e de Ação Social.
A Secretaria de Educação, apoiou com atividades realizadas pelas escolas em algumas
áreas e a Secretaria de Ação Social, por meio da organização de grupos de terceira idade,
Projeto Família Cidadã e programa de atividades para a convivência de crianças e
adolescentes em horários alternativos à escola. Os objetivos deste projetos se coadunavam
com o trabalho do PSF, proporcionando momentos de integração.
A coordenação do PSF não encontrou resistências dentro da SMS para implantação do
PSF. Os gerentes da SMS apoiaram muito o PSF e os gerentes das unidades manifestaram
inclusive o desejo de que a implantação ocorresse o quanto antes em suas unidades.
A posição dos profissionais da rede de saúde municipal foi diferenciada entre as categorias
de médicos e enfermeiros. Inicialmente a adesão dos médicos da rede foi pequena, “poucos
profissionais ousaram entrar ‘de cara’ no início do processo”, nas palavras de um dos
gestores. A baixa adesão esteve relacionada principalmente a três ordens de questões: a) às
incertezas provocadas pelo desconhecimento sobre o programa e quanto às suas
perspectivas de continuidade; b) em razão de insegurança dos profissionais e dificuldades
para atuação como generalista após longa experiência de exercício profissional como
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especialista nas clínicas básicas; e c) à carga horária elevada, uma vez que exerciam outras
atividades além do vínculo com a SMS.
O principal motivo referido para a baixa adesão dos profissionais da rede que o município
já possuía uma rede de atenção básica relativamente estruturada e com resolutividade, o
que levou à descrença na possibilidade de o PSF ensejar um novo modelo de atenção
básica à saúde. De acordo com a coordenação do PSF os profissionais de enfermagem
(enfermeiros e auxiliares) foram os que mais se engajaram no programa, motivo pelo qual
são os enfermeiros que ocupam, em sua maior parte, os cargos de coordenadores das ESF.
Entre os enfermeiros, a adesão de profissionais da rede foi importante. Muitos enfermeiros
que gerenciavam unidades de saúde passaram a trabalhar no PSF. Segundo o gestor
municipal, foi estabelecida uma relação de parceria de trabalho com as entidades
representativas da categoria de enfermagem – ABEN, COREN – e com o Departamento de
Enfermagem da Universidade Federal, inclusive para elaboração de protocolos para
determinadas atividades.
Os clubes de serviço também apoiaram a implantação em algumas áreas. A
territorialização possibilitou a criação de vínculos localizados tendo ocorrido articulações
diferenciadas conforme presença e atuação de distintas entidades por área do PSF.
Embora tivessem assinalado como apoio, os gestores consideraram que não havia grande
interlocução com as associações dos portadores de patologias, pois estas não participam do
CMS e têm atuação direcionada para serviços mais complexos.
Não foram identificadas, no momento inicial, pelos gestores locais manifestações
contrárias à implantação do PSF no município. A implantação inicial de um número
reduzido de equipes (apenas cinco) possibilitou que fosse experimentada a forma como o
processo seria conduzido, estratégia que em parte preveniu resistências.
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Quadro 9 – Posicionamentos dos diversos atores no momento de implantação do PSF,
segundo os gestores municipais do programa, Vitória (ES), 1998
Atores Não se
manifestou
Manifestou-se
Contra
Apoiou Apoiou
muito
SES X
Prefeito X
Câmara de Vereadores X
Secretário Municipal de Saúde X
Gerentes da SMS X
Profissionais de saúde da rede básica da SMS X
Sindicato dos médicos X
Enfermeiros / COREN X
Conselho Municipal de Saúde X
Setor privado prestador de serviços de saúde X
Associações de portadores de patologias X
Associações de moradores de bairro X
Grupos religiosos: Pastoral, Igreja Batista X
Clubes de serviço X
Técnicos externos: Consultoria, Escola Saúde
Pública Ceará
X
Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ
No segundo momento, com o avanço do programa permaneceram os importantes apoios
dos gerentes da SMS, incluindo gerentes de UBS que mostravam-se interessados em
implantar o SF em suas unidades, contudo surgiram resistências. A partir do ano 2000 o
PSF teve grande ampliação, passando de cinco para trinta e uma equipes, e em 2001
manifestações contrárias se tornassem visíveis. A principal resistência, foi das entidades
profissionais de médicos.
O Conselho Regional de Medicina questionou as práticas profissionais dos enfermeiros no
PSF em relação à qualificação e papel da enfermagem na realização de procedimentos e
prescrições, apontando exercício ilegal da profissão e denunciando suposta diminuição de
qualidade da atenção prestada. O CRM-ES com apoio de parlamentares médicos exerceu,
segundo o secretário municipal de saúde, forte pressão sobre a SMS, por meio de
denúncias, audiências públicas, abertura de processos, chegando a promulgar portaria
definindo o ato médico.
Outras críticas da categoria médica estavam relacionadas à dedicação exclusiva e à carga
horária elevada e inflexível. A forma de contratação por meio de contrato temporário
também foi criticada pois não garantia a estabilidade do profissional. Outra resistência,
embora velada, era dos profissionais médicos da própria rede que não se integraram ao
processo de implantação.
No que se refere ao setor privado, é importante assinalar que não ocorreu em nenhum dos
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momentos manifestação, indicando que a implantação do PSF não interferiu em seu
mercado.
Na Câmara de Vereadores onde em um primeiro momento não foram criados quaisquer
problemas para o trâmite de legislação para contratação de profissionais para o PSF, com a
ampliação do programa, surgiram em plenário manifestações contrárias ao programa em
período eleitoral.
A população participou da discussão para implantação do PSF inicialmente por meio dos
representantes no Conselho Municipal de Saúde, e após decisão pela SMS dos locais e
unidades para implantação do PSF a comunidade local foi envolvida, em geral com boa
adesão, segundo os gestores. A partir da implantação do programa em algumas áreas
ocorreram várias solicitações de comunidades reivindicando o PSF. Os principais atrativos
do programa para a população seriam a possibilidade de atenção domiciliar por médico
para pacientes acamados e a expectativa de que os agentes de saúde agendariam as
consultas facilitando o acesso às unidades de saúde.
Os gestores consideram a população participativa e exigente. Em Vitória realiza-se
também processo de orçamento participativo, sendo que no setor saúde inicialmente a
principal reivindicação segundo o gestor local era a construção de unidades de saúde,
contudo apenas poucas áreas nas quais foram implantadas as primeiras equipes não
dispunham deste equipamento coletivo, tornando-se necessário esclarecer a proposta de
organização do sistema como um todo.
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Quadro 10 – Posicionamentos dos diversos atores em relação ao PSF no momento da
pesquisa, segundo os gestores municipais do programa, Vitória (ES), abril
de 2002
Atores Não se
manifestou
Manifestou-se
Contra
Apoiou Apoiou
muito
SES X
Prefeito X
Câmara de Vereadores X
Secretário Municipal de Saúde X
Gerentes da SMS X
Profissionais de saúde vinculados a SMS X
Médicos / CRM / Sindicato X
Enfermeiros / COREN X
Conselho Municipal de Saúde X
Setor privado prestador de serviços de saúde X
Associações de portadores de patologias X
Associações de moradores de bairro X
Grupos religiosos X
Clubes de serviço X
Técnicos externos: UFES, Escola Saúde
Pública Ceará
X
Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ
Papel da SES no desenvolvimento do PSF
Os gestores municipais consideraram que em abril de 2002 a SES apoiava o PSF em
Vitória. Na opinião do secretário municipal de saúde, todavia o apoio foi instável em
decorrência de descontinuidade político-administrativa na secretaria estadual de saúde com
mudança do gestor, o que teria fragmentado a condução da política estadual de saúde.
No Espírito Santo, um dos últimos estados a implantar o PSF (1997), a SES atuava na
divulgação, na capacitação das ESF e na orientação e assessoria aos municípios para adotar
o Saúde da Família como estratégia, acompanhando todo o processo desde a seleção de
ACS e monitorando os repasses financeiros por meio do SIAB. A SES tomou a iniciativa
no estado tendo sensibilizado gestores municipais para implantar o programa. A SES
participava também junto ao Ministério da Saúde da qualificação das ESF e oferecia apoio
técnico para a instalação e operação do SIAB, e em 2002 continuava a dar a orientação
técnica aos municípios que solicitassem. Após a implantação, o acompanhamento era
realizado por meio de supervisão sob responsabilidade das quatro regionais da
coordenação estadual do PSF, cujos técnicos consolidavam as informações do SIAB e em
2002 haviam iniciado rotina de análise dos dados. A assessoria e supervisão era realizada a
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partir de demandas municipais e em resposta a denúncias de descumprimeto de normas.3
Segundo a coordenação estadual, não havia estrutura administrativa suficiente para
supervisão sistemática nos 78 municípios do estado.
A SES-ES criou um incentivo financeiro específico para os municípios de pequeno porte
(até 20 mil habitantes) para que pudessem ampliar a cobertura. O incentivo era de R$ 2 mil
por ESF implantada desde que o município atingisse cobertura de 70%, com autonomia
para aplicação dos recursos pelo município. Em 2002, segundo a coordenação estadual, o
incentivo financeiro não estava sendo pago. Vitória não se enquadrava nestes critérios para
auxílio financeiro, tendo recebido apoio da SES principalmente na capacitação de recursos
humanos através do Pólo de Capacitação.
Segundo as gestoras estaduais do PSF, para constituição do Pólo de Capacitação houve
dificuldade de articulação com a universidade que não estaria sensibilizada para a mudança
de modelo assistencial proposto. A SES coordenava o Pólo de Capacitação que deveria ter
sido assumido pelas instituições de ensino superior. O Pólo foi criado pela SES em 1997, e
o primeiro convênio com o MS foi firmado em 1998. O MS não reconheceu em um
primeiro momento como Pólo de Capacitação em razão da insuficiente articulação com a
Universidade. Posteriormente, a SES conseguiu estabelecer algum nível de parceria com a
Universidade e com o COSEMS possibilitando a estruturação e reconhecimento do Pólo.
Foram tomadas iniciativas para integração e em 2002, a Universidade apoiava na
realização de alguns cursos específicos, com cessão de espaço físico para os cursos e na
seleção dos profissionais para a pós-graduação. A avaliação dos gestores estaduais era de
que, mesmo assim, a dificuldade de articulação continuava existindo. Não fora a
universidade que tomara a iniciativa de preparar os profissionais “Não foi a Academia que
começou a preparar profissionais para o mercado ... O mercado é que está exigindo
mudanças dentro da Academia”
Segundo os gestores municipais, a SES colaborou na implantação do PSF em Vitória,
tendo tido participação importante no desenvolvimento da estratégia do município,
mobilizando, incentivando a iniciativa e capacitando as primeiras equipes. Contudo com a
ampliação do número de ESF o município adquiriu maior autonomia e passou a formar
seus profissionais através de curso básico e a auxiliar na formação de pessoal para o
estado, com monitores para os cursos promovidos pelo Pólo. Em 2002, para a coordenação
3 Uma denúncia freqüente era o não cumprimento de carga horária pelos médicos.
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estadual, a relação existente com o município de Vitória era de parceria e não mais de
assessoria.
A coordenação estadual do PSF, considerou boa a parceria com os gestores do PSF em
Vitória, cujos técnicos participavam como monitores dos cursos introdutórios, e sinalizou
maior autonomia da capital devido à qualidade dos técnicos e à rede local de serviços
estruturada. Vitória era um aliado e referência para divulgação do programa e
sensibilização de profissionais e gestores de outros municípios, pois segundo a
coordenação estadual conseguira implantar a estratégia e apresentar alguns resultados. A
relação de parceria se concretizava por meio de troca freqüente de informações e
experiências. Consideravam ainda que o município de Vitória tinha forma própria de
organizar o serviço, fazendo com que existissem algumas discordâncias, como por
exemplo devido à realização não rotineira de visitas domiciliares pelos profissionais de
nível superior das ESF e atendimento à demanda espontânea. Todavia, os gestores
estaduais consideravam que pela novidade das experiências em atenção básica seria difícil
concluir sobre a adequação ou não destas especificidades da implantação local.
De todo modo, os gestores municipais do PSF se ressentiam da ausência de supervisão
sistemática por parte da coordenação estadual, o que poderia contribuir e ao mesmo tempo
facilitar a compreensão por parte dos gestores estaduais de particularidades municipais.4
Mecanismos e intensidade da divulgação do PSF, estratégias de ampliação da base de
apoio e de comunicação com atores sociais e institucionais
O debate e mobilização da população e os processo de sensibilização de profissionais de
saúde e gerentes da SMS envolveram diversas atividades.
Os gerentes da SMS apoiaram a implantação do PSF e o processo de sensibilização de
profissionais de saúde da rede foi semi-ampliado. Incluiu reunião prévia com todos os
profissionais para informar da prioridade na contratação de profissionais efetivos do
quadro para o programa, além de diversas reuniões por unidade que se realizavam a cada
pequena crise em razão da mudança de perfil da UBS para USF, no processo de
substituição do modelo assistencial. Contudo o gestor municipal considerou que a
construção de alianças prévias não foi suficiente e maior articulação provavelmente
4 Uma portaria da Bipartite do ES definiu que o desligamento de ACS deveria ser aprovado pelo CMS. Em
grandes centros urbanos, nos quais o contingente de ACS é elevado, como no caso de Vitória esta medida
dificultava e atrasava a substituição dos agentes, não sendo por estes motivos respeitada segundo gestores
municipais.
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poderia ter evitado conflitos previsíveis principalmente com as categorias profissionais.
O lançamento do PSF como parte de um projeto intersetorial da prefeitura contribuiu para
divulgação da estratégia para dentro da prefeitura, facilitando articulação com outros
setores.
O programa foi amplamente divulgado para o município e para os outros municípios. No
momento inicial da implantação foi realizado evento para o lançamento do programa, com
ampla mobilização e contou com a participação de várias entidades. Ao final do primeiro
ano foi realizado seminário envolvendo equipes, técnicos, comunidade e lideranças. Neste
período a mídia (rádio, jornal, televisão) divulgou amplamente o SF.
O Conselho Municipal de Saúde foi envolvido em todo o processo, discutindo-se os
principais desafios e dificuldades e na Conferência Municipal de Saúde de 2001 o Saúde
da Família foi amplamente discutido, consolidando-se como modelo de atenção básica no
município.
Todavia segundo a coordenação municipal do PSF a divulgação ainda era insuficiente pois
não atingia toda a população usuária dos serviços.
A SES teve papel importante na divulgação: promoveu uma grande campanha publicitária
para divulgar o PSF em todo o estado, mais intensa na região metropolitana e capital. Foi
veiculada propaganda na televisão, instalados outdoors e distribuídos cartazes e folders.
Além disso, promoveu em parceria com o Conselho Estadual de Saúde, nas regionais
estaduais, quatro seminários com conselheiros municipais para divulgar o Saúde da
Família.
2. CARACTERIZAÇÃO GERAL DO PSF E ETAPAS DA IMPLEMENTAÇÃO
Concepção do modelo e situação atual – composição das equipes, áreas selecionadas,
áreas priorizadas, mapeamento e cadastramento dos habitantes
O PSF em Vitória foi implantado na perspectiva de agilizar a reorientação do modelo
assistencial pretendida pela SMS com constituição de um sistema integrado de serviços de
saúde de base territorial – Sistema Integrado de Serviços de Saúde (SISS). Não obstante,
foi iniciado como um programa com coordenação específica e implantado em áreas com
grandes dificuldades de acesso aos serviços de saúde com a concepção de estender a
cobertura para grupos vulneráveis.
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
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Inicialmente, o programa foi instituído, articulado a um projeto urbanístico e intersetorial
do governo municipal – Projeto Terra. Este projeto prioritário do governo municipal,
voltado para políticas de urbanização, infra-estrutura urbana e desenvolvimento social e
financiado com recursos do BNDES e Banco Mundial, envolveu diversas secretarias da
Prefeitura integrando ações nas áreas de educação, saneamento, habitação e saúde com
intuito de produzir impacto social positivo. Para sua instalação foram selecionadas áreas de
maior risco social.
O PSF foi um dos subprojetos do Projeto Terra e foi implantado como experiência piloto
com cinco equipes em cinco unidades de saúde distantes umas das outras em uma das 6
regiões do município – São Pedro –, definida de acordo com os objetivos do projeto mais
amplo e considerada uma das áreas com piores indicadores sociais do município, expressos
nas altas taxas de desemprego, baixa renda, e com carência de equipamentos urbanos e
oferta insuficiente de serviços de saúde.
A implantação como parte do Projeto Terra facilitou a articulação intersetorial uma vez
que em cada bairro de atuação constituía-se escritório com profissionais dos diversos
setores para definição de ações prioritárias. Posteriormente à implantação seguiu a
regionalização setorial e na perspectiva de expandir e integrar as unidades, com base em
sucessivas etapas de territorialização, o PSF foi desvinculado do Projeto Terra.
O Saúde da Família foi assumido como estratégia de mudança do modelo da atenção
básica programando-se a conversão de unidades básicas preexistentes em USF. A proposta
de organização do SUS municipal envolvia as concepções de Sistema Local de Saúde com
base em território de saúde e de vigilância à saúde, a estratégia do PSF para a atenção
básica, e, a criação de mecanismos de referência para garantia da integralidade das ações
(PMV/SMS, 1999). Entre as diretrizes operacionais do PSF definidas no Projeto de
Implantação do PSF e PACS destaca-se o caráter substitutivo das práticas tradicionais,
articulando-se atividades preventivas e de educação em saúde com atenção clínica “com
ênfase no promocional mas sem descuidar do curativo-reabilitador (...), otimizando
recursos e aumentando a satisfação do usuário” (PMV/SMS/DAS, s/d).
Segundo o Plano Municipal de Saúde 2002-2005 a USF, com suas equipes e territórios,
deveria constituir-se na porta de entrada do sistema, estar localizada próxima à residência
do usuário e potencialmente teria resolubilidade de 80% dos problemas de saúde da
população residente sob sua responsabilidade (PMV/SMS, 2001a:34).
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A estratégia de saúde da família foi assumida pelos gestores como base de um Sistema
Integrado de Serviços de Saúde (SISS) – a partir da proposta de Mendes (s/d) – concebido
com um sistema voltado para a “gestão de riscos populacionais e da oferta e utilização de
serviços e realizada através de uma rede integrada de unidades de saúde que presta
atenção contínua à determinada população”. Uma reforma na concepção de sistemas
integrados de saúde pressuporia mudanças no sentido: da primazia da promoção/prevenção
e da atenção primária, da cura para o cuidado, do hospital para o ambulatório, da
autonomia do clínico para a liberdade restringida pelos protocolos, “de procedimentos
eficazes para procedimentos eficazes de menor custo”, entre outras (PMV/SMS, 2001:43).
Neste sentido, a estratégia de saúde da família integrou concepção mais ampliada de
reorganização do sistema de atenção. Foi definido processo de transição para a conversão
das unidades básicas e a substituição gradual das equipes. O número inicial de equipes,
cinco, foi definido como experiência piloto.5 Este número de ESF permaneceu inalterado
até 2000, quando ocorreu grande expansão do programa, expressa tanto no número de
equipes quanto em relação à população coberta. Em 2000, diversas equipes de PACS,
foram transformadas em ESF e ao final do ano, 31 ESF estavam implantadas. Em 2002, o
PSF em Vitória contava com 41 equipes, cobrindo 39% da população do município, o que
corresponde à faixa de cobertura 5 estabelecida pela PT 1329/99 e recebia R$ 41.220,00 de
incentivo financeiro anual por ESF.
5 Segundo o Plano de Ação 1997-2001 pretendia-se em 1997 implantar o PSF em quatro unidades de saúde e
em 1998 em outras quatro (PMV/SMS, 1997).
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
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Quadro 11 – Implantação das ESF e cobertura do PSF no município de Vitória (ES),
dezembro de 1998 a abril de 2002
dez. 1998 dez. 1999 dez. 2000 dez. 2001 abr. 2002
Nº de ESF 5 5 31 41 41
Nº de famílias cadastradas 4.435 3.932 13.042 29.431 29.431
Nº médio de famílias por ESF 887 786 420 718 /////////
% população coberta (1) 6,4% 6,4% 36,6% 48,4% /////////
% população coberta pelo PSF(2) 6,5% 5,5% 18,2% 39,0% 39,0%
População coberta 17.556 15.024 49.234 105.413 105.413
Fonte: SMS/Vitória (ES) (1) Estimativa considerando-se média de 3.450 pessoas adscritas por família. (2) Estimativa da SMS local, em geral tendo por base número de famílias cadastradas.
Segundo relato do Secretário Municipal de Saúde, o desenvolvimento do programa
obedeceu a um planejamento da SMS discutido anualmente. Para o desenvolvimento do
programa a SMS recebia, em 2002, apoio técnico da Escola de Saúde Pública do Ceará e
contava, desde o início da implantação, com consultoria dos professores Eugênio Vilaça
Mendes e Carmem Unglert, especialmente no processo de territorialização.
Para o mapeamento de áreas foram utilizados estudos cartográficos a partir de imagens
aéreas e contagens populacionais do IBGE. Para definição de área de abrangência foi
estipulado parâmetro de adscrição populacional de 800 a 1000 famílias por ESF
(PMV/SMS/DAS, s/d). Segundo a coordenação do PSF, o mais freqüente é a adscrição de
800 famílias por ESF, cabendo a cada ACS o acompanhamento de 150 famílias (variando
entre 145 e 250 famílias).
Como se observa no quadro anterior, em 2001 cada equipe era responsável em média por
718 famílias, o que se encontra dentro dos parâmetros sugeridos pelo MS. É de se supor
contudo que parte das ESF tenha sob sua responsabilidade número inferior de famílias pois
ao calcular-se a cobertura tendo por base a estimativa de 3450 pessoas adscritas por ESF, o
valor encontrado (48%) é bem superior ao informado pela SMS com base no número de
famílias cadastradas. Segundo informações dos gestores locais o número máximo de
famílias por ESF em 2002 era de 1.100 e o menor número de 650.
Em 2002 estavam implantadas ESF em cinco das seis regiões de saúde da cidade. A
distribuição do número de ESF por região pode ser vista no quadro abaixo. A maior
concentração de ESF situa-se na região de Maruípe (19) embora o maior número de
unidades do PSF esteja localizada na região de São Pedro (5). A única região de saúde que
não dispunha de PSF em 2002 era Santo Antônio, onde estavam localizadas duas equipes
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
69
PACS. Além destas, o município contava ainda com mais duas outras equipes PACS,
inseridas, cada uma, nas regionais Forte São João e Goiabeiras.
Quadro 12 – Equipes de Saúde da Família e unidades do PSF por região de saúde no
município de Vitória (ES), abril de 2002
Região ESF Unidades do PSF UBS
Centro 2 2 2
Forte São João 2 1 3
Goiabeiras/Continental 5 1 4
Maruípe 19 4 -
São Pedro 13 5 -
Santo Antônio 0 0 3
Total 41 13 12
Fonte: SMS/Vitória (ES); PMV/SMS, 2002 para UBS.
A expansão do programa para outras áreas do município incorporou, além da ampliação da
cobertura assistencial, uma série de outras variáveis, das quais se destacam a afinidade e a
identificação dos profissionais da rede básica com a proposta e a demanda da própria
população. A partir deste momento, segundo o secretário municipal de saúde, o município
passou a experimentar situações distintas em relação às áreas do PSF, tendo sido inclusive
implantadas equipes em bairros de classe média.
A composição das ESF é a mesma desde o início da implantação do programa, seguindo o
padrão recomendado pelo Ministério da Saúde: um médico, um enfermeiro, dois auxiliares
de enfermagem e quatro a cinco agentes comunitários de saúde (ACS). Não foram
constituídas equipes de saúde bucal, todavia, outros profissionais como odontólogos,
assistentes sociais e psicólogos, integram as unidades de saúde da família. Estes
profissionais integravam a rede assistencial do município anteriormente ao PSF, estando
vinculados à SMS como estatutários. Vale destacar que muitas ESF contam com a
presença de um ou dois médicos de apoio. São profissionais das especialidades básicas que
atendem tanto a demanda programada como a demanda espontânea, dando suporte técnico
aos médicos generalistas.
Como a adesão dos profissionais da rede ao programa foi pequena, novos profissionais
foram contratados, por meio de contratos temporários com a SMS. Embora a adesão de
enfermeiros tenha sido mais intensa, em 2002 ocorriam dificuldades de fixação de
enfermeiros que estariam sendo atraídos por salários superiores oferecidos em outros
municípios da região.
Para a implantação de cada ESF o processo incluiu em um primeiro momento discussões
com os profissionais da unidade de saúde a ser transformada em USF, seguidas por debate
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
70
no Conselho Local de Saúde e divulgação para a comunidade informando-a sobre o
processo de mudança na unidade. A partir daí ocorreu seleção de agentes comunitários e
inserção dos profissionais na USF com substituição gradual da equipe anterior. Segundo
gestores locais, o processo de seleção dos ACS desencadeia ampla discussão envolvendo a
comunidade na implantação.
Capacidade instalada do PSF e atividades realizadas
Em dezembro de 2001, as 41 ESF estavam instaladas em 13 USF. Em geral em cada USF
atuava mais de uma equipe sendo que em quatro unidades trabalhavam cinco ESF. A
principal estratégia utilizada pela SMS de Vitória para implementar o PSF foi a conversão
de unidades básicas tradicionais em unidades PSF. Até 2002, 11 unidades haviam sido
convertidas, abrigando 34 ESF.
A primeira unidade de saúde da família, contudo, foi um prédio alugado na região de São
Pedro, comportando duas equipes. Possui sala de recepção e arquivo, dois consultórios
médicos, almoxarifado, sala de esterilização, farmácia e uma pequena sala para realização
de atividades de grupo. A estrutura é bem precária, necessitando de reparos. Esta unidade
permanecia até 2002 como a única casa alugada para o PSF.
Apenas uma unidade foi construída para o PSF, comportando 5 ESF. A maioria das
unidades de saúde da família passou por reformas recentes, apresentando ótimo espaço
físico. Algumas unidades possuem até três andares e elevadores. Possuem de dois a três
consultórios médicos, consultório de enfermagem, sala para assistente social e/ou
psicólogo e consultório odontológico. Há também sala para recepção e arquivo, sala de
imunização, sala de curativos, farmácia, almoxarifado, sala de esterilização e sala de
reuniões. Em algumas unidades há ainda um pequeno auditório. Todas as unidades,
inclusive a que funciona em prédio alugado, são equipadas com TV e vídeo para a
realização de atividades de educação em saúde.
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
71
Quadro 13 – Capacidade instalada do PSF, Vitória (ES), dezembro de 2001
Tipo unidade de saúde N.º de
unidades
N.º total ESF
neste tipo de
unidade
N.º unidades conforme o
n.º de ESF na unidade
1 2 3 4 5
Unidades PSF construídas novas 1 5 - - - - 1
Unidades básicas tradicionais convertidas 11 34 2 2 3 1 3
Unidades PSF em imóveis alugados 1 2 - 1 - - -
N º Total USF* 13 \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\ 2 3 3 1 4
N º Total ESF \\\\\\\\\\\\\\\\ 41 \\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\\
Fonte: SMS/Vitória (ES) *Em 2002, 3 destas USF encontravam-se em processo de conversão.
As unidades possuem ainda postos de coleta de material para exames complementares
básicos, que são encaminhados para o Laboratório Central da SMS. Muitas unidades
dispõem de telefone, oferecendo a possibilidade de marcação de consultas. O cartão SUS
está implantado em algumas unidades, sendo Vitória uma das cidades selecionadas como
experiência piloto.
Além das ESF, as unidades contam ainda com um ou dois médicos de apoio, um ou dois
odontólogos, técnico de higiene dental e auxiliar de consultório dentário. Em algumas
unidades há ainda a presença de um assistente social e/ou de um psicólogo.
As unidades funcionam de 2ª a 6ª feira, das 7 às 18 horas, sendo que alguns profissionais
trabalham das 7 às 17h e outros das 8 às 18h, com intervalo de almoço. Todas as unidades
possuem um Conselho Local de Saúde, composto por representantes da coordenação da
USF, dos profissionais de saúde e do movimento associativo local. Estes conselhos
encontravam-se em processo de regulamentação a ser concluído na Conferência Municipal
de Saúde, prevista para o segundo semestre de 2002.
O planejamento das atividades desenvolvidas pelas ESF é feito de modo diferenciado nas
USF, havendo reuniões de equipe semanais, quinzenais ou mensais, dependendo da
unidade. As atividades são programadas para a população cadastrada, embora em algumas
unidades abra-se exceção para a população não adscrita no que se refere ao primeiro
atendimento, não dando, todavia continuidade ao tratamento e encaminhando para UBS de
residência. São oferecidas ações voltadas para os grupos prioritários, definidos no Pacto
de Atenção Básica (crianças e adolescentes, mulheres gestantes, idosos, diabéticos e
hipertensos, portadores de tuberculose e hanseníase), incluindo ainda atividades de Saúde
Mental e DST/AIDS. As USF oferecem consulta médica, odontológica e de enfermagem,
busca ativa, visita domiciliar, realização de atividades em grupos e de educação em saúde.
Estas ações são realizadas tanto no interior das USF como fora de seu espaço físico nas
comunidades. Nas unidades com espaço físico menor (como é o caso da casa alugada), as
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
72
atividades em grupo são feitas preferencialmente extra-muros. Os médicos também
realizam visitas domiciliares, em conjunto com enfermeiros, assistentes sociais e
psicólogos nos casos de usuários com dificuldades de locomoção e aos grupos
populacionais definidos como prioritários.
As consultas de demanda programada são agendadas pelos ACS ou diretamente pelo
usuário na própria unidade. As ESF também atendem à demanda espontânea, através da
reserva de consultas em aberto em cada turno.
Cada ESF tem um coordenador, em geral o enfermeiro, e cada USF possui um gerente, que
pode ser qualquer profissional de nível superior indicado pela SMS entre médicos,
enfermeiros, assistentes sociais, dentistas ou psicólogos. O gerente de unidade é cargo
comissionado, e se responsabiliza pela administração da unidade, define metas para o
território e acompanha a execução das mesmas pelas ESF sob sua responsabilidade.
Muitas ESF desenvolvem ações intersetoriais, seja com outras secretarias e órgãos
governamentais seja com entidades da sociedade civil e organizações não governamentais.
Entre as experiências relatadas, além do Projeto Terra, destacam-se as parcerias com a
Secretaria Municipal de Ação Social, escolas, igrejas e associações de moradores.
Em algumas localidades, a grande rotatividade das famílias que não conseguem se fixar em
um único endereço e as precárias condições de vida de grandes parcelas da população são
indicadas pelas ESF como aspectos que dificultam a realização do trabalho, limitando o
nível de resolutividade das ações desenvolvidas.
A SMS instituiu fóruns regionais nas seis regiões de saúde compostos por gerentes de
unidades de saúde da região e de um centro de referência. Contam com um secretário
executivo e um coordenador, em geral um dos gerentes das unidades de saúde. Estes fóruns
têm reuniões semestrais e visam propiciar maior articulação e integração entre os serviços
de cada região e traçar as linhas gerais e diretrizes da organização dos serviços em cada
território.
Etapas de implementação do PSF
Em uma primeira fase o PSF foi implantado como experiência piloto. Após um ano de
desenvolvimento da experiência piloto ligada ao Projeto Terra com cinco equipes, em uma
segunda etapa, nos anos de 2000 e 2001, ocorreu importante expansão de ESF e da
cobertura populacional em diferentes bairros do município. Na fase de expansão surgiram
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
73
dificuldades administrativas e resistências corporativas. Em 2002 observou-se
desaceleração do processo de expansão e os gestores consideravam o momento como de
qualificação dos profissionais e do trabalho das ESF. No ano de 2002, pretendia-se
implantar apenas quatro ESF em uma unidade nova e readequar territórios de outras
unidades. Todavia, a perspectiva da SMS era de que ao final de 2004 toda a população do
município estivesse coberta pelo PSF.
3. COORDENAÇÃO MUNICIPAL DE SAÚDE DA FAMÍLIA
Composição, atribuição, atividades
A implantação do PSF em Vitória foi realizada por meio da constituição de coordenação
específica para o programa que até o inicio de 2002, encontrava-se gerencialmente
subordinada ao Departamento de Ações Integrais de Saúde, responsável pelas vigilâncias
sanitária, epidemiológica e ambiental e pelos diversos programas de saúde pública. A
coordenação municipal do PSF em 2002 era realizada por duas enfermeiras, sendo que
uma delas estava no cargo desde a implantação e a outra, responsável pelo PACS, passou a
integrar a equipe em 1999.6
Em abril de 2002, segundo o secretário municipal de saúde, a perspectiva era recompor a
coordenação do PSF, atraindo médicos e enfermeiros e, sobretudo, reforçando a visão do
programa como estratégia, a qual perpassa toda a estrutura de serviços de saúde do
município. Para apoio da coordenação como mencionado acima foi criado um fórum
virtual de coordenadores de unidades de saúde visando a discussão dos problemas
regionais mesmo assim a avaliação dos gestores foi de que a equipe de coordenação ainda
era muito pequena para acompanhar as ações desenvolvidas nas 41 equipes do PSF. A
reestruturação da SMS buscava, também, adequar a instituição às exigências gerenciais
ligadas à perspectiva de habilitação na condição de gestão plena do sistema municipal.
Supervisão, educação continuada, acompanhamento e monitoramento das ESF
Na avaliação da coordenadora do PSF o acompanhamento das equipes era difícil e, na
maioria das vezes a discussão dos relatórios encaminhados representava a única atividade
de supervisão possível. Através das informações sobre cobertura, atividades desenvolvidas
e dificuldades surgidas no cotidiano das ações e referidas nos relatórios, eram sugeridas
6 Segundo o secretário municipal, pretendia-se que o coordenador fosse um médico, contudo não fora
possível encontrar um profissional de perfil adequado que se dispusesse a se qualificar para o cargo.
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
74
alternativas de organização dos serviços. A principal dificuldade apontada pela
coordenação para realizar a supervisão foi, além do tamanho reduzido da equipe, a falta de
instrumentos objetivos que possibilitassem o feedback para as ESF.
Não existia nenhum instrumento específico de avaliação do trabalho realizado pelas ESF, o
monitoramento era feito a partir da observação do atendimento da população nas unidades
de saúde pretendendo-se verificar a existência ou não de mudanças no que se refere ao
vínculo e à humanização da assistência. A supervisão do trabalho dos ACS e auxiliares de
enfermagem era freqüente e promovida pelos enfermeiros das próprias ESF. Os gerentes
das unidades instituíram mecanismos diversos para acompanhar e monitorar o trabalho das
ESF. Observou-se em algumas unidades, a introdução de cadernos de campo, onde os
profissionais registravam diariamente as atividades desenvolvidas. Eram também
realizadas reuniões de equipe e acompanhamento das ações por meio dos formulários e
relatórios do SIAB.
Entre os mecanismos de supervisão podem também ser arrolados procedimentos de
educação continuada. Segundo o secretário municipal de saúde havia defasagem
importante na formação de profissionais para o PSF tendo-se tomado iniciativas para
qualificação. O processo de qualificação dos profissionais foi ampliado desde a consultoria
de Eugênio Villaça Mendes, em 1999 e a participação da Escola de Saúde Pública do
Ceará. A partir do convênio com esta instituição, foram criados grupos de aperfeiçoamento
profissional (GAP), equivalentes a grupos de educadores permanentes, compostos por
profissionais médicos das especialidades básicas (pediatria, gineco-obstetrícia e clínica
médica), responsáveis pela capacitação técnica dos médicos das ESF. Cada GAP é
responsável por dez a doze médicos. Os profissionais foram contratados com salário
equivalente ao dos médicos do PSF e carga horária estabelecida também idêntica. A
prioridade conferida à capacitação foi justificada devido às dificuldades na formação do
médico generalista. Havia a perspectiva de que esta experiência fosse estendida também às
demais categorias profissionais.
Assim, ainda que na ausência da supervisão rotineira da coordenação, havia supervisão
clínica proporcionada pelos educadores permanentes. Desta forma, quando o médico se
deparava com casos clínicos mais complexos, o paciente era agendado para ser atendido
pelo médico tutor. Esse atendimento era realizado na USF e com a presença do médico do
PSF possibilitando a capacitação em serviço. A atividade tinha o objetivo de estimular o
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
75
profissional da ESF a buscar o conhecimento diariamente, desconstruindo a idéia “de que
já sabe tudo”. Cada grupo de dez médicos do PSF reunia-se quinzenalmente com os
educadores permanentes para discutir os casos clínicos complexos, constituindo-se assim,
um grupo de aperfeiçoamento profissional.
Avaliação – rotinas, instrumentos do SIAB – manuseio, dificuldades e uso das
informações
O SIAB estava implantado em todas as unidades de saúde da família, sendo os formulários
preenchidos manualmente e encaminhados à coordenação do PSF para digitação e análise.
O SIAB foi considerado um importante sistema de informação para o planejamento das
ações na unidade de saúde. A coordenação utiliza as informações do SIAB para organizar
os serviços da unidade, planejar as ações, monitorar as dados sobre óbitos infantis
integrando essas informações com o Sistema de Informação de Mortalidade (SIM). Elabora
também boletins com características da população cadastrada (PMV/SMS/DAC/DIS,
1998).
No entanto, apesar de não terem sido mencionadas dificuldades no processo de
operacionalização, o sistema foi considerado “pobre” no aspecto qualitativo, ou seja, na
avaliação dos gestores não apresenta informações importantes, dificultando algumas
análises e avaliações. A identificação dos motivos de hospitalização, por exemplo, foi
considerada uma tarefa difícil a partir dos dados do SIAB, pois no sistema são
especificadas apenas algumas causas e não era possível acessar dados do SIH por território.
Outro problema referido pela coordenação foi a impossibilidade da ESF, através do SIAB,
consultar dados através do nome da família atendida, não existindo meios de pesquisar e
identificar o histórico das famílias. Também em Vitória, os gestores locais apontaram o
problema da falta de articulação entre os sistemas de informação, gerando necessidade de
duplicidade de alimentação e registro, no SIAB e no SIA.
Dificuldades da Coordenação do PSF
Na perspectiva da coordenação municipal do PSF a principal dificuldade vivida na
consolidação do programa foi garantir a adesão e sensibilização dos profissionais que
atuavam na rede convencional para a mudança do modelo assistencial. Outra dificuldade
referida foi o fluxo de demanda espontânea que “fugiria” ao controle das ESF. Na
avaliação o processo de cadastramento aumentou a demanda das famílias que antes não
possuíam nenhuma vinculação e acesso às unidades, gerando num primeiro momento, uma
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
76
maior procura por atendimento principalmente do profissional médico. Para a coordenação
do PSF em Vitória, em seu primeiro momento ocorreu, reforço da visão da atenção à saúde
centrada no médico.
A coordenação ressaltou também dificuldades ligadas às relações com algumas entidades
civis e representativas de categorias profissionais, principalmente, com o Conselho
Regional de Medicina e Sindicato dos Médicos. Estas organizações questionaram a atuação
do enfermeiro no trabalho da equipe, ou seja, as atividades de prescrição, atendimento e
consulta de enfermagem, as quais estariam gerando superposição de atribuições e a
substituição do profissional médico. Segundo a coordenação, esta questão criou um intenso
debate no município.
4. INTEGRAÇÃO À REDE
Estratégias de integração do PSF à rede básica e de conversão do modelo
Em Vitória, a conversão de unidades básicas tradicionais em unidades PSF foi realizada de
modo gradual com processo de transição no qual os profissionais da unidade básica foram
progressivamente substituídos, havendo período de convivência em uma mesma unidade
dos dois modelos assistenciais. Outros profissionais como odontólogos, assistentes sociais
e psicólogos, integram as unidades de saúde da família e algumas USF contam com a
presença de um ou dois médicos de apoio. São profissionais das especialidades básicas que
atendem tanto a demanda programada como a demanda espontânea, dando suporte técnico
aos médicos generalistas.
A conversão das unidades básicas em unidades de saúde da família foi realizada a partir de
programação prévia e, como já mencionado, de modo gradual. Em função das
especificidades do território e das unidades, da adesão e substituição dos profissionais que
não se vincularam ao projeto, da aproximação da comunidade e da entrada do ACS, a
conversão das unidades da rede ocorreu em um período de dois meses a um ano. Em 2002,
o município contava com vinte e cinco unidades de saúde sendo onze convertidas.7
Como estratégia inicial e primeiro passo do processo de conversão, ACS foram vinculados
7 Segundo gestores locais, no cadastro do SIA/SUS, o número de unidades apresentado é maior pois por
sugestão do MS, para cada USF foi criado outro registro no SIA. Caso contrário alguns procedimentos não
poderiam se informados, nem faturados. O sistema aceita como produção para USF apenas determinados
procedimentos correspondentes ao nível de hierarquia 1. Os gestores locais sugeriram reformulação para
evitar perda de informação e duplicidade de registro de unidades.
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
77
às unidades preexistentes e começaram o cadastramento das famílias, promovendo
aproximação com a comunidade. Ao interior da unidade era elaborado cronograma e
construído processo de transição para garantir continuidade da assistência com
responsabilidades para a equipe que estava entrando e os profissionais que estavam saindo,
com transferência de vínculos, e inclusive suporte por parte de especialistas na formação
do generalista da ESF. Após este período de transição a unidade era completamente
convertida. O fato de não existir qualquer ESF inquilina de unidade básica de saúde
tradicional foi decorrente de experiência anterior malsucedida.
Enfatizando o respeito que a coordenação dedicou ao período de transição, a coordenadora
do PSF ressaltou que o processo de expansão tem acontecido a partir da substituição
“radical” das Unidades de Saúde em USF e que o município de Vitória não trabalha com
unidades mistas (atenção básica tradicional e PSF) pois o modelo de atendimento é o
proposto pelo PSF.
Apesar das estratégias adotadas para sensibilização e incorporação dos profissionais
existentes na rede de saúde do município em relação ao PSF, a adesão dos mesmos ao
programa foi baixa.8 Os profissionais que não aderiram foram transferidos para serviços de
pronto-atendimento, outros passaram a ser referência ao interior da rede básica e aderiram
ao Programa de Educação Permanente (iniciado com 16 profissionais). Novos profissionais
foram contratados em regime temporário com contratos anuais renováveis por até três
anos.
Existiam certos conflitos entre os profissionais do PSF e os que integram a rede de atenção
básica tradicional, decorrentes tanto dos salários e carga horária diferenciados quanto da
percepção de que os serviços de atenção básica então existentes encontravam-se bem
estruturados e com alguma resolutividade. Na opinião do secretário municipal de saúde no
início não fora possível ganhar a confiança dos médicos de que o programa daria certo e
que seria um campo adequado de requalificação e exercício da prática profissional.
Para o gestor municipal, o principal entrave para o redesenho do modelo assistencial estava
no aparelho formador. Na sua opinião, em Vitória, a Universidade contribuiu para que os
enfermeiros aderissem ao projeto, uma vez que desde sua fundação na década de 80,
investiu em um currículo voltado para a saúde pública, progressivamente aprimorado, o
8 No início da implantação, entre os 250 médicos da rede apenas 20 aderiram ao projeto. Na maioria das
vezes só os profissionais administrativos mantiveram-se nas USF.
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
78
que todavia não ocorreu em outras áreas de formação como a medicina.
Observaram-se diferentes opiniões entre os gestores quanto ao espaço físico das unidades
preexistentes e necessidade de adaptação para conversão do modelo. Para a coordenação
do programa, o espaço físico constituía um dos nós críticos da transição, já que uma USF
teria competências para além da disponibilidade ou construção de consultórios. “Uma USF
tem toda a complexidade de uma unidade convencional ou mais ainda, porque tem que ter
espaço para o agente comunitário, para receber a comunidade numa reunião de conselho
local...”. Já na perspectiva do secretário de saúde, as unidades básicas preexistentes
estariam superdimensionadas para o trabalho proposto pelo SF, e tiveram que ser
adaptadas somente quanto à disponibilidade de certos equipamentos e internamente para
redefinição de fluxos.
Na avaliação dos gestores, uma dificuldade importante para a mudança do modelo
assistencial era a baixa compreensão por parte dos profissionais de seu novo papel no
atendimento da demanda organizada e por parte da população que demandava atendimento
imediato.
Quanto à adscrição de clientela, uma dificuldade assinalada referia-se à problema de
acesso às USF pela população trabalhadora, uma vez que o cadastramento é realizado por
local de moradia. “As vezes um trabalhador passa o dia inteiro em determinado bairro,
mas a família dele não é assistida lá, está cadastrada no bairro de origem.” Estava em
discussão a possibilidade de oferecer opções de horários alternativos de atendimento.
Em Vitória, o PSF havia sido também implantado em um bairro de classe média (Jardim da
Penha), experiência com particularidades. O projeto foi apresentado à comunidade e nas
palavras do gestor “comprado pela associação de moradores” que discutia as prioridades
e defendia Programa. A percepção da comunidade era de um serviço dirigido para
empregados domésticos, agregados das famílias, ou para ações pontuais como vacinação e
entrega de medicamentos, especialmente para hipertensos. Contudo, a partir do
funcionamento da unidade criaram-se vínculos com a população de terceira idade, “que às
vezes é muito solitária num bairro de classe média”. Esta experiência reforça a
potencialidade do programa para o atendimento contínuo ao paciente crônico, um desafio
contemporâneo da assistência à saúde tanto pública como privada.
A conversão de unidades básicas em USF em 2002 encontrava-se em processo. Cerca da
metade das unidades básicas municipais havia sido convertida, programando-se
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
79
transformar todas as unidades básicas até 2005.
Adscrição de clientela, conformação da rede de serviços e sistematização da oferta:
mecanismos de referência e contra-referência
Tanto as USF quanto as UBS trabalham com população adscrita, dentro do conceito de
territorialização, sendo que as USF têm sua população cadastrada. De acordo com o
secretário municipal de saúde, não há duplicidade de ações no que se relaciona à área de
abrangência das unidades de saúde. O município de Vitória está dividido em seis regiões
cada um com suas unidades e populações adscritas, perfazendo um total de 24 territórios
de saúde.
As UBS possuem área de abrangência delimitada, a população não é cadastrada mas não
há superposição de áreas de abrangência com o PSF, ou seja não há paralelismo de ações.9
As UBS oferecem consulta médica nas especialidades básicas (clínica médica, gineco-
obstetrícia e pediatria), consultas odontológicas, de enfermagem e de psicologia.
Desenvolvem ainda atividades de grupo vinculadas aos programas de hipertensão arterial,
controle do diabetes, tuberculose e hanseníase, planejamento familiar e acompanhamento
pré-natal, idosos e crianças e adolescentes. No espaço físico de algumas destas UBS são
realizadas reuniões de grupos de auto-ajuda como AA e Narcóticos Anônimos. As
consultas são agendadas previamente, reservando-se diariamente vagas para atendimento à
demanda espontânea. Não houve relato de implantação da estratégia de acolhimento como
existente nas USF. Em algumas UBS estava sendo implantado programa com objetivo de
integração dos profissionais destas unidades. A exemplo do que ocorre nas USF, as UBS
contam com Conselhos Locais de Saúde. A estrutura física das 9 unidades básicas
tradicionais é bastante semelhante à encontrada nas USF, até porque estas últimas, em sua
maior parte, são unidades básicas convertidas. As UBS também passaram por reformas
recentes, apresentando excelente espaço físico, comportando em torno de 3 consultórios
médicos, 1 odontológico e 1 de enfermagem, salas de imunização, curativos, nebulização e
esterilização, farmácia, almoxarifado, recepção e arquivo, além de uma sala de reuniões.10
Trabalham apenas com prontuário individual e o sistema de informações utilizados é o
SIA/SUS. A direção destas unidades é exercida por um profissional de nível superior,
podendo ser médico, enfermeiro, assistente social, dentista ou psicólogo.
A perspectiva da SMS era que as ESF e as unidades básicas conformassem a porta de
9 Em algumas UBS é solicitado comprovante de residência para atendimento.
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
80
entrada do sistema de saúde e que o estabelecimento de fluxos ao interior do sistema e a
instauração de mecanismos de referência e contra-referência garantissem o atendimento
integral aos munícipes, segundo o conceito de sistema integrado de serviços de saúde.
Neste sentido, a acesso a especialidades nas unidades municipais somente ocorria por meio
de encaminhamento da USF ou unidade básica. Na prática, no entanto, o fato do município
não dispor de serviços de média e alta complexidade próprios, aliado à sua condição de
gestão apenas da atenção básica, constituíam grandes limites à concretização deste
propósito. No território de Vitória estavam localizados muito serviços estaduais mais
complexos, contudo a articulação da rede era insuficiente.11 Na opinião dos gestores locais,
embora programassem um sistema integrado, a garantia de atenção nos outros níveis fugia
à governabilidade local pois os serviços de média e alta complexidade encontravam-se sob
gestão estadual.
O município vem buscando construir alternativas às lacunas do processo de integração.
Neste sentido, foram implantadas algumas policlínicas de especialidades na perspectiva de
constituir a primeira referência secundária do município (média complexidade). Havia uma
experiência de integração dos serviços implantada na região de São Pedro articulando a
atenção básica com policlínica de especialidades e referências garantidas.
A integração de serviços para a acompanhamento de pré-natal, parto e puerpério e, para a
criança estava em implantação em todo o município. Para a atenção à gestação, a rede de
atenção básica, incluindo o PSF, fazia a captação e acompanhamento do pré-natal,
contando com apoio diagnóstico, e encaminhava as intercorrências para a policlínica. Ao
mesmo tempo, foi estabelecido convênio com a Santa Casa de Misericórdia (hospital
escola da faculdade particular de medicina) para transformá-lo na referência para partos no
município. Essa experiência foi considerada bastante satisfatória pelos gestores pois
implicou o hospital em um processo do qual participava até então apenas como mais um
prestador de serviços, passando a trabalhar em conjunto com as unidades básicas de saúde,
inclusive na elaboração de protocolos integrados e no cadastro do SIS-Pré-natal. Até o
final de 2002 programava-se organizar todo o subsistema referente ao pré-natal, parto e
puerpério, estabelecendo-se protocolo técnico e operacional definindo fluxos e garantindo-
10 O horário de funcionamento destas unidades é de 2ª a 6ª feira, das 7 às 19 horas. 11 A condição de capital do estado faz com que Vitória concentre muitos serviços estaduais. Segundo o
secretário municipal de saúde, cerca de 60% dos recursos SUS do estado do Espírito Santo eram aplicados
em Vitória. Deste modo havia porta aberta para especialidades em alguns hospitais como a Santa Casa e o
HU.
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
81
se referência.
Existiam ainda, como elos de integração da rede assistencial, o Centro de Referência em
Saúde Mental (CAPS), o Centro de Prevenção e Tratamento de Toxicômanos (CPTT), o
Centro de Referência de Atendimento ao Idoso, o Serviço de Orientação ao Exercício
(reabilitação), o Centro de Controle de Zoonoses e uma parceria com o Centro de
Referência de Saúde do Trabalhador. As políticas de saúde do município específicas destas
áreas eram traçadas a partir destes centros de referência, segundo a lógica do PSF, com o
objetivo de alcançar maior resolutividade.
Para melhor organização do sistema havia discussão quanto às necessidades de oferta de
serviços de média e alta complexidade e quanto a sua localização, se deveriam ser
territorialmente regionalizados ou ofertados de modo centralizado.
Em 2002, o município dispunha de uma pequena estrutura que seria uma incipiente central
de marcação de consultas operacionalizada manualmente e que disponibilizava serviços de
cardiologia, otorrino, dermatologia, entomologia, pneumologia, mamografia e
papiloscopia. Os encaminhamentos de média complexidade no município seguiam o fluxo
que se iniciava com a solicitação do médico da USF, por meio de guia de encaminhamento
e com agendamento sob a responsabilidade da unidade básica. Um auxiliar administrativo
da gerência da unidade de saúde (UBS ou USF), fazia a marcação uma vez por semana na
central de agendamentos da SMS. Este fluxo era o mesmo tanto para o PSF como para a
rede básica tradicional.
Estava programada para o primeiro semestre de 2002, a instalação de sistema gerencial
informatizado “Sistema Integrado de Saúde Pública” que incluía um módulo de central de
agendamentos. Seriam definidas cotas por unidade básica por especialidade e a unidade
básica faria a definição de atendimentos prioritários internamente.
A SES/ES dispunha de uma central de marcação de consultas, o Centro de Referência de
Especialidades, no qual os encaminhamentos de média complexidade eram agendados uma
vez ao mês, diretamente pelas unidades de saúde municipais mas sem interferência da
SMS. O Centro de Referência estabelecia cotas de encaminhamentos por unidade de saúde.
De acordo com relatos de profissionais de saúde das unidades visitadas, para algumas
especialidades o agendamento era fácil enquanto para outras, o tempo de espera seria
grande, sobretudo para os serviços de oftalmologia, neurologia, ortopedia, endocrinologia,
urologia. Segundo os gestores locais, existiria ociosidade de vagas para algumas
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
82
especialidades se comparadas com a capacidade instalada no estado, existindo filas de
espera desnecessárias na ausência de melhor organização. A PPI detectará ociosidade para
algumas especialidades, sendo aventada a hipótese de que os profissionais da ponta não
estariam detectando adequadamente os casos para encaminhamento. O sistema de
agendamento também seria deficiente, tempos longos de espera fariam com que o paciente
por vezes não comparecesse, deixando vagas ociosas.
O centro estadual de referência para especialidades era responsável por 34 municípios da
região metropolitana incluindo Vitória. Contudo, a proximidade geográfica e o fato de
pertencer à Regional de Vitória, facilitava o acesso aos moradores de Vitória, e ao mesmo
tempo funcionava como um dificultador do acesso para os municípios mais distantes.
Neste centro além de consultas com especialistas eram também realizados exames mais
complexos como ultra-sonografia, endoscopia, mamografia, eletroencefalografia. Para os
exames de alta complexidade a autorização partia do estado, ficando todavia para o
município a responsabilidade pela elaboração de laudo por especialista, anexando-se os
exames prévios necessários, para emissão da autorização.
Não existia uma central de regulação de internações na SMS, sendo o contato informal
com colega médico o mecanismo mais usual para viabilizar as internações. No Espírito
Santo havia Centrais de Regulação de Internações distribuídas pelas regionais de saúde,
organizadas pelo gestor estadual, contudo “mesmo que se saia de um serviço com uma guia
de encaminhamento para uma internação, não há garantia de atendimento”, salientou um
gestor local.
A secretaria municipal de saúde disponibilizou 35 médicos para o hospital universitário, na
intenção de estabelecer um fluxo de atendimento, mas, na prática, “a pressão externa do
sistema foi muito maior e atropelou a proposta e não deu conta de responder”. O fluxo
“não é pactuado entre as instituições nem entre os diferentes níveis de governo, é um fluxo
interpessoal”. A relação do hospital universitário com a SMS ainda era muito incipiente,
não havia garantia de atendimento para os encaminhamentos das equipes.
Quanto aos SADT, o município possui um laboratório que funciona como Central de
Exames de Patologia Clínica, com capacidade para 58.000 exames/mês. As USF e UBS
têm posto de coleta de material, sendo estabelecidas quotas diárias de exames para cada
unidade. Os exames de urina, fezes e hemograma podem ser coletados todos os dias nas
unidades e enviados ao laboratório central. Para alguns exames, como por exemplo
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
83
citologia oncótica para controle de câncer cérvico-uterino, não eram estabelecidas cotas
pois poderiam ocasionar perda de cobertura em programa prioritário. Serviços privados
foram contratados para cobrir tal demanda.
A central municipal marcava também alguns exames especializados mas não havia
referência garantida, exames mais complexos eram realizados pelo CREE, conforme
mencionado. Estava prevista a contratação de prestadores privados pelo município para
exames complementares como mamografia e ultra-sonografia obstétrica e ginecológica.
Para encaminhamentos era utilizado formulário próprio em papel, contudo o retorno à
unidade básica com relatório do atendimento prestado era pouco freqüente. A contra-
referência era realizada por alguns hospitais, principalmente nos casos de internação em
pediatria, por iniciativa dos próprios médicos, não podendo ser considerado como
existindo efetivo sistema de referência e contra-referência para todo o município, uma vez
que o sistema não estava informatizado.
Na região de S. Pedro, na qual o sistema estava integrado os mecanismos de contra-
referência estavam bem estabelecidos. Havia interlocução entre o especialista e os
generalistas. Os médicos do pronto-atendimento da policlínica também haviam sido
treinados para fazer a contra-referência, todavia na opinião dos gestores locais esta ainda
era insatisfatória.
Atendimento à demanda espontânea
As unidades de saúde da família também atendem à demanda espontânea, organizando-se
de diferentes modos para responder à pressão por atendimentos individuais de grupos não
prioritários. Segundo o secretário municipal de saúde, havia uma heterogeneidade no
atendimento à demanda espontânea no município de Vitória. Existiam unidades
empenhadas em absorver toda a demanda, convivendo com outras que atuavam no outro
extremo, concentradas no trabalho programático. A SMS, para equacionar este problema,
buscou estabelecer fluxos de atendimento, contudo ainda sem muito sucesso, condicionado
pela gestão incompleta do sistema de saúde definida pela sua condição de habilitação. A
reorganização do serviço por meio da construção de serviços de pronto-atendimento (PA)
nas 24 horas, de maior porte, e a gestão dos serviços de urgência seriam possíveis soluções
para o impasse, porém ainda não fora possível implementá-las.
Para a Coordenadora do PSF, um dos itens mais complexos na organização das USF no
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
84
município referiu-se ao aumento da demanda espontânea nas unidades, que fugiu ao
controle. Segundo relatos de profissionais de algumas ESF, o atendimento da demanda
espontânea, em algumas unidades, chegava a 70% dos atendimentos realizados. O aumento
na demanda deveu-se também, ao cadastro realizado pelas unidades que revelou uma
parcela da demanda até então reprimida. A concepção da população relacionando à idéia
de atenção adequada com pronto atendimento, associada às ansiedades do trabalho do
agente comunitário de saúde também teria contribuído para esse aumento. Se, por um lado
a população acreditava que a implantação de uma USF próxima de casa, com um médico
de família, era sinônimo de atendimento a qualquer hora, por outro lado, o cotidiano do
trabalho do ACS, em confronto com situações que não conseguia resolver induzia a
demanda, gerando encaminhamentos de usuários para a unidade de saúde.
A proposta de sistematização de fluxos de atendimento para diminuir a demanda
espontânea, variou segundo a USF. Cada Unidade possuía uma agenda própria tanto no
que se referia às diretrizes do PSF quanto à organização da USF para receber à demanda
espontânea. Em geral reservava-se um determinado número de vagas de consultas
diariamente para atender a demanda espontânea. Algumas unidades estabeleceram um
rodízio entre as equipes, responsáveis pelo atendimento da demanda espontânea da sua
área de abrangência por duas horas diárias, depois do qual retomavam as atividades
programáticas. O usuário podia ser atendido por membros de outras equipes fora desses
horários. Se não fosse uma urgência, o usuário era agendado para a sua equipe de
referência. Outras unidades determinaram o rodízio programado por turnos, de acordo com
a demanda do território, com atendimentos à criança, gestante, idoso, entre outros.
Algumas USF implantaram a estratégia de acolhimento, realizado, em geral, por psicólogo
e/ou assistente social. No acolhimento é feita a escuta da demanda do usuário, dadas
orientações gerais sobre a dinâmica do programa e realizada triagem. Demandas mais
urgentes são atendidas no mesmo dia pelo médico de apoio ou encaminhadas para as
policlínicas ou hospitais, conforme o caso. Demandas de caráter eletivo são agendadas para
atendimento em novo horário, de acordo com disponibilidade de vagas. Em outras
unidades a recepção é feita pelo pessoal de enfermagem de nível médio que recebe o
usuário e identifica o risco e encaminha para atendimento ou agenda.
Na opinião dos gestores locais, uma das dificuldades das equipes era convencer a
população que um profissional não médico seria capaz de identificar os casos que
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
85
poderiam ser agendados e aqueles que deveriam ser atendidos. Outra dificuldade seria
referida às intercorrências agudas e pequenas urgências que pressionavam o serviço12,
ameaçando de a USF se transformar em serviços de pronto-atendimento PA’s. Este
problema apontava, segundo os gestores, para a necessidade de treinamento dos
profissionais, capacitando-os para identificar os sinais de perigo, o grau de risco e
responder às demandas, mantendo uma rotina sem ferir as diretrizes do PSF.
Normatizações e elaboração de protocolos para dar suporte a quem recebe o usuário nas
USF estavam sendo elaboradas, segundo informação da coordenação do PSF. Pretendia-se
aprimorar o acolhimento nas USF.
Mesmo o estabelecimento dessas reservas de atendimento, não foi suficiente para dissolver
a grande demanda espontânea do município. Além disso, moradores de municípios
vizinhos também buscavam atendimento nas unidades locais em virtude da carência de
atendimento no seu próprio município ou por trabalharem em Vitória. Pesquisa de opinião
encomendada pela Prefeitura de Vitória identificou como pontos de menor satisfação dos
usuários, o tempo de espera para atendimento e o item atendimento e marcação de
consultas. A competência dos médicos teve pontuação elevada e o PSF foi avaliado como
ótimo/bom por 81% dos usuários de serviços de saúde entrevistados. Nesta mesma
pesquisa, a região de S. Pedro, onde 70% dos entrevistados estava cadastrada no PSF,
apresentou o menor índice de satisfação de usuários (Futura, 2001).
Pronto-atendimento e emergência
O município não contava com um pronto-socorro ou hospital municipal, os atendimento ás
emergências estava sob gestão estadual. Os atendimentos à urgência e emergência eram
prestados em policlínicas, no hospital universitário e Hospital da Polícia Militar (HPM). O
município contava com 3 serviços de pronto atendimento, contudo não funcionavam 24
horas. Na região de São Pedro com a reorganização da rede de serviços no processo de
territorialização (Projeto Integrar) uma das unidades de saúde da região foi transformada
em Policlínica com oferta de diversas especialidades13 e estabelecido serviço de pronto
atendimento para responder às demandas do PSF. Embora estivesse bem equipada,
contando com sala de repouso, sala de cirurgia, oxigênio, exame laboratorial urgente, raio
X e ambulância própria, sua atuação estava restrita a uma região distante do município,
12 Em momentos de demanda mais intensa como episódios de surtos de diarréia ou a epidemia de dengue no
estado a situação se agravava. 13 Atendia cinco especialidades médicas, prevendo-se a inclusão de três outras.
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
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além de não funcionar 24 horas.
Na opinião dos gestores locais os serviços de emergência e hospitalares estavam
sobrecarregados uma vez que recebem pacientes oriundos de todo o estado, do sul da
Bahia e de Minas Gerais, acarretando em dificuldades de acesso e desumanização no
atendimento. Segundo os gestores locais, caso não existisse este excesso de demanda, seria
possível atender ao município de Vitória com os três PA’s existentes. Programava-se
reformular o pronto-atendimento municipal com a instalação de um PA 24 horas
centralizado, com leitos de observação, tendo um hospital de retaguarda.
As USF e UBS reservavam um certo número de consultas diárias para pronto atendimento.
Contudo, conforme acima mencionado, somente na região de S. Pedro o sistema estava
organizado de modo a articular o serviço de pronto-atendimento com a USF. As demais
unidades de saúde da família para os casos de emergência acionavam a central de
ambulâncias municipal.
Outras estratégias de integração à rede
Desde 1990, existem boletins que permitem acompanhar o atendimento na unidade, os
diagnósticos, a produtividade dos profissionais e a procedência. Estava em fase de
implantação um sistema de prontuário eletrônico que ligaria todas as unidades em rede.
Ocorrera um movimento de elaboração de prontuários de família e de protocolos de fluxo
que não chegou a se concretizar.
Para contatos com as centrais de marcação, central de ambulância e centros de referência
era possível fazer uso do telefone. Para efeito de efetivação do serviço, a coordenação
oferecia um suporte informal às unidades além da supervisão, do controle e manutenção
do banco de dados e do envio de relatórios.
Existia uma assessoria de infra-estrutura e apoio técnico para a realização de eventos e
utilização de banco de dados. Foi realizada capacitação das unidades para preenchimento
do Boletim Único de Produtividade, registro dos procedimentos executados e
processamento de informações do SIA-SUS.
Conforme foi citado, a estruturação da atenção básica no município está voltada para as
diretrizes do PSF, desde os centros de referência até as iniciativas em saúde bucal,
imunização, saúde da mulher, da criança, etc. Esta relação mantinha-se mais ao nível
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
87
gerencial e operacional, do que em termos de integração do trabalho14. Da mesma forma,
as informações geradas pelo município não era utilizadas rotineiramente para uma
avaliação realizada pelas equipes uma vez que, os dados não são regionalizados. Há uma
proposta, junto ao DATASUS para a desagregação dos dados gerados pelo SIH por setor
censitário, mas ainda não foi implementado.
Outros instrumentos de informação gerados pelo sistema, como os relatórios do SIAB,
SIM, SINASC, SINAN, e boletins que alimentam o SIA-SUS, eram utilizados somente no
momento da supervisão e auditoria das USF, embora houvesse um cronograma de atuação
do departamento de controle, avaliação e auditoria que previa a utilização sistemática
destes dados.
Articulação do PSF aos programas de saúde coletiva
No município de Vitória, a saúde coletiva estava concentrada no Departamento de Ações
Integrais de Saúde (DAI) onde se localizavam as Vigilâncias Sanitária, Epidemiológica e
Ambiental, sendo que esta última ainda estava sendo organizada. Além dessas, pertenciam
ao Departamento: a Direção de Assistência Farmacêutica, o Laboratório de Análises
Clínicas e o Centro de Controle de Zoonozes ligado à Vigilância Ambiental.
O PSF era subordinado ao Departamento de Ações Integrais de Saúde que também tinha
sob sua responsabilidade os programas de saúde pública (Saúde da Criança, Saúde da
Mulher, Saúde do Idoso, Saúde Mental, Hanseníase, DST e outros).
As diretrizes políticas, relacionadas às ações coletivas, emanavam do Departamento de
Ações Integrais de Saúde, estabelecendo-se intercâmbio com as unidades de saúde para
que as ações pudessem ser realizadas no nível local com o suporte do nível central.
Segundo os gestores entrevistados, não havia diferença no relacionamento da saúde
coletiva com o PSF e com os outros setores e serviços da SMS. As políticas e as diretrizes
eram traçadas baseadas na situação epidemiológica do município. A partir daí eram
levadas para discussão e implantação nas unidades de saúde, fossem elas básicas ou saúde
da família. A articulação das ações era feita a partir de uma programação de acordo com a
realidade local, e diferenciada pela necessidade. A ESF fazia uma solicitação,
caracterizando o perfil local existente e o Departamento estudava o que podia ser feito.
14 No Programa de Saúde Bucal, por exemplo, existia um técnico responsável por colher informações sobre
as crianças de 0 a 14 anos que estavam fora da escola, quando estes dados já eram colhidos pelo ACS durante
o cadastro da família.
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
88
A vigilância epidemiológica estava centralizada neste departamento, e atuava em conjunto
com ESF e UBS. Cada unidade de saúde do município, como mencionado tinha uma
clientela adscrita, e no caso de doenças de notificação compulsória, a notificação era
informada à unidade de saúde responsável pelo território do paciente por telefone, que
quando tinha estrutura e pessoal treinado realizava os procedimentos de controle. Caso
contrário, fazia um acordo com a coordenação do DAI que dava o suporte para a realização
das ações.
A articulação da coordenação do Departamento de Ações Integrais de Saúde com a
coordenação do PSF foi favorecida em decorrência do programa, estar localizado no
mesmo Departamento. As discussões quanto à capacitação, treinamento, assistência
farmacêutica eram conjuntas, entretanto não existia envolvimento na rotina de trabalho do
PSF. O Programa de Educadores Permanentes (PEP) implementado também contribuía
para a articulação entre diferentes setores por meio de capacitações e treinamentos.
A coordenação do Departamento de Ações Integrais de Saúde considerou que o PSF
possibilitava a organização da Atenção Básica, em consonância com as diretrizes do
Departamento. Em dezembro de 2001 foi lançada pela SMS uma campanha mobilizadora
da redução de mortalidade infantil. A campanha englobaria, os dez eixos da NOAS, dando
ênfase à questão materno-infantil. A meta seria alcançar uma taxa de mortalidade infantil
de apenas um dígito.
A vigilância epidemiológica continuava centralizada, contudo ações de vigilância à saúde e
controle de riscos e doenças estavam sendo gradativamente incorporadas pelas ESF. Na
opinião da coordenação do Departamento, o PSF estaria diretamente relacionado com a
vigilância, pois por sua própria concepção deveria estar vigilante para o que acontecia na
realidade. “A partir do momento que se apropria de um determinado espaço de um
território, tem que saber como aquelas pessoas estão nascendo, como estão vivendo e do
que estão morrendo, porque estão morrendo e o que pode ser feito”. O curso básico do
PSF abordou estas questões para que se tivesse um olhar mais abrangente para o meio, e da
forma de interferência no modo de vida dos indivíduos.
A coordenadora ressaltou ainda o papel fundamental dos ACS no processo de integração
que pelo fato de serem moradores da região conheciam melhor do que qualquer
profissional a realidade da comunidade
Não houve nenhuma estratégia diferenciada para integração do PSF aos programas
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
89
coordenados pelo Departamento de Ações Integrais de Saúde. Os mesmos materiais usados
para a unidade básica de saúde eram usados para as USF. Os treinamentos também não
eram específicos para o PSF, e eram oferecidos conforme as necessidades das ESF. Alguns
treinamentos eram direcionados a todos os profissionais. Para outros o coordenador
indicava alguns profissionais para participar.
A coordenação não trabalhava diretamente com os dados do SIAB fazendo apenas
consultas esporádicas. Embora a SMS ainda não tivesse um sistema de informação
totalmente estruturado, o Departamento apoiava o PSF com informações e dados
epidemiológicos. O Sistema de Informações sobre Agravos de Notificação (SINAN) estava
sob responsabilidade do DAI e desse modo, todas as doenças de notificação compulsória
eram repassadas para os gerentes de território para que pudessem tomar suas decisões.
Além disso, a coordenação apoiava com outras informações, como por exemplo metas de
cobertura vacinal do idoso. Os territórios eram informados do tamanho da população, da
meta a ser cumprida e a partir disso organizavam o seu cronograma. Em troca, informavam
à coordenação do DAI quem estava acamado, que organizava o cronograma de vacinação
para esta população.
A coordenação das Ações Integrais em Saúde avaliou como sendo positiva a experiência
de integração do PSF com os programas de saúde coletiva. A articulação foi feita
principalmente a partir da instrumentalização dos profissionais por meio de treinamento,
capacitação e reciclagens. Considerou como sendo de grande importância que o DAI
estivesse sempre capacitando, subsidiando e melhorando a qualidade do trabalho.
Segundo a coordenadora, não houve dificuldade para integração do PSF aos programas de
saúde coletiva e por isso não seriam necessários ajustes na coordenação para integração
com o PSF. Ressaltou como fundamental para a integração o papel dos educadores
permanentes (PEP). Eles atuavam como multiplicadores, com metodologias específicas
(grupo de estudos, palestras, treinamentos) e repassavam as informações para os outros
profissionais, dentro de um cronograma de trabalho.
A coordenação, todavia, considerou que alguns ajustes eram necessários para mudança no
perfil dos profissionais que estavam ingressando no PSF, a partir da sensibilização
individual. “É necessário despertar os profissionais para um olhar mais amplo da saúde,
para estarem vigilantes para prevenir e promover a saúde e não só curar e fazer
assistencialismo”.
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
90
Avaliação dos gestores quanto ao processo de integração do PSF à rede de serviços
Os gestores locais avaliavam positivamente a experiência de integração proporcionada pelo
modelo de organização de Sistemas Integrados de Serviços de Saúde (SISS).
Implementado a partir do PSF, estava permitindo a criação de uma rede de atenção
integrada, contudo não atingia todo o território municipal estando restrito à região de S.
Pedro. Neste território fora possível articular a atenção básica com um segundo nível
prestado pela policlínica com pronto-atendimento, especialidades e cirurgias ambulatoriais.
Para a atenção à saúde da mulher e da criança o processo de integração também estava em
desenvolvimento.
Na avaliação dos gestores, ocorreu crescimento da rede com a implantação do PSF,
ampliando-se a demanda por especialidades e o atendimento à demanda espontânea que
estava reprimida. O município encontrava-se no terceiro ano de organização do SISS o que
possibilitara uma articulação das unidades de saúde regionalizadas em função da
construção de um modelo de atenção básica no qual o PSF era o objetivo central.
Na opinião de gestores locais, o grande nó crítico estaria na garantia de atenção integral ao
usuário. O princípio de integralidade da atenção estaria ameaçado pelo fato da atenção
secundária e terciária estarem fora dos limites de governabilidade do município. A
insuficiente disponibilidade de atenção de média e alta complexidade e a gestão destes
serviços pelo nível estadual dificultavam a integração da rede. Enquanto esses entraves não
fossem superados, o desenvolvimento do PSF em Vitória não evoluiria para discussões de
maior abrangência na efetivação de uma rede integrada de serviços.
Além disso, segundo os gestores municipais não havia consenso entre os 78 municípios do
estado quanto ao programa. divergências de concepção dos modelos assistenciais entre
município e estado dificultavam maior integração. Enquanto Vitória orientava sua rede de
serviços em função do PSF, um dos gestores entrevistados considerou que “há um
movimento de desmonte do PSF em nível estadual”.
Outro problema assinalado foi quanto ao sistema de informações que ainda era deficitário,
não só em relação ao PSF, mas para toda a rede. Existiam diversos bancos de dados sendo
alimentados sem que o fluxo de informações estivesse articulado e disponibilizado para
toda a SMS.
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
91
Pontos críticos relacionados à implantação do Plano Diretor da Regionalização (PDR)
e da PPI
A elaboração do Plano Diretor de Regionalização no estado estava em curso porém haveria
lentidão no processo segundo gestores locais de Vitória. Uma proposta para o Plano
Diretor de Regionalização fora elaborada contudo ainda não passara pela Comissão
Intergestores Bipartite (CIB). Ocorrera descontinuidade administrativa na gestão estadual
do Espírito Santo com mudanças freqüentes de secretário o que interferira na implantação
das Normas Operacionais, segundo percepção do gestor municipal. Na implementação da
NOAS o processo também estaria moroso. Em uma primeira fase o COSEMS tivera
importante participação na elaboração do Plano Diretor de Regionalização, contudo em seu
formato à época da pesquisa, segundo o gestor local, o COSEMS estivera ausente da
discussão e o PDR fora elaborado principalmente por técnicos da SES. Em abril de 2002
fora reiniciada a discussão e uma nova versão do PDR seria apresentada ao COSEMS.
Na primeira versão do PDR, a Capital deveria habilitar-se à gestão plena do sistema de
saúde e ser sede de um módulo que incorporava toda a Região metropolitana e municípios
do entorno, reunindo quase dois milhões de habitantes, o que foi considerado pelos
gestores municipais de Vitória como inviável. Propunham que a Região Metropolitana, por
concentrar população e serviços de maior complexidade, tivesse três módulos com três
municípios em gestão plena como sede. O cenário desenhado era de Vitória assumir a
gestão plena do sistema em 2003.
5. CONTROLE SOCIAL
O estudo dos aspectos ligados ao controle social no processo de discussão e
implementação do PSF no município de Vitória foi viabilizado, principalmente, através das
entrevistas realizadas com os conselheiros representantes dos usuários no Conselho
Municipal de Saúde e análise de atas do CMS, relatórios e documentos sobre a
reorganização da atenção à saúde. O projeto de implantação do PSF foi aprovado por
unanimidade em sessão ordinária no dia 8 de maio de 1997, como registrado em ata do
CMS e a perspectiva de garantir o controle social das ações foi articulada posteriormente à
atuação dos Conselhos Gestores de Unidade e Conselhos Locais de Saúde. Estas instâncias
criadas através do Plano Municipal de Saúde de 1988, buscavam fortalecer a
representatividade dos territórios e a aproximação com as demandas de saúde da
população. No período de maio a junho de 1999, foi elaborado um “Relatório de Visitas”
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
92
por um conselheiro representante dos usuários. No documento, constava a identificação de
problemas e “pontos de estrangulamento” como o número insuficiente de médicos e
agentes de saúde em bairros populosos e, também, dificuldades de comunicação entre a
comunidade e a coordenação do programa. A Assembléia Geral Ordinária realizada em 8
de julho de 1999, representou um momento de discussão das denúncias do Relatório de
Visitas e busca de alternativas. Este esforço se estendeu, posteriormente, na realização da
3a Conferência Municipal de Saúde “Efetivando o SUS: acesso, qualidade e humanização
na atenção à saúde com controle social”, realizada no período de 10 a 12 de novembro de
2000. Dentre os subtemas da Conferência, o “Modelo assistencial - Atenção primária,
secundária e terciária” incorporou a necessidade de uma avaliação cuidadosa do
desenvolvimento do PSF. A avaliação permanente dos níveis de satisfação dos usuários
foi proposta como elemento chave para o aumento da resolubilidade do PSF no município.
Nas reuniões do CMS em 2001 os participantes mostraram a preocupação com a melhor
capacitação dos conselheiros e com os desdobramentos da IV Plenária Estadual de
Conselhos de Saúde, da II Plenária de Conselhos de Saúde da Região Sudeste, do Fórum
Municipal de Vigilância Sanitária, da X Plenária Nacional de Conselhos de Saúde e do
Encontro de representações de secretários executivos dos Conselhos de Saúde
(SEMUS/PMV, Relatório de Gestão, 2001)
O ponto de vista dos Conselheiros representantes dos usuários sobre a participação
do CMS na implementação do PSF
Segundo os conselheiros entrevistados, o PSF já veio pronto e, portanto, com pouca
margem para discussão no âmbito do Conselho Municipal de Saúde. Na avaliação do
Conselheiro 1, não havia uma reflexão consistente sobre como o PSF iria ser desenvolvido
na comunidade, quais suas semelhanças com o modelo do médico de família vindo do
Canadá e que parâmetros seriam utilizados para a implementação do programa. O
Conselheiro 2 informou que apenas uma apresentação sucinta do PSF foi realizada e
mesmo assim, com as decisões mais importantes praticamente tomadas. Posteriormente, na
medida em que os problemas foram surgindo, o CMS discutiu possibilidades e alternativas
baseadas, sobretudo, na opinião dos usuários. No entanto, na opinião dos conselheiros
entrevistados, prevaleceu uma discussão fragmentada do PSF.
Em relação ao grau de apoio ao PSF no município de Vitória, os conselheiros informaram
que o Prefeito, o Secretário Municipal de Saúde, os gerentes da SMS e os agentes
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
93
comunitários de saúde e suas entidades, apoiaram muito a implementação do programa. O
Ministério da Saúde, os profissionais de saúde da SMS, as associações de moradores, os
Conselhos Locais de Saúde, os Conselhos Comunitários e os usuários, também
manifestaram apoio. No entanto, na opinião dos dois conselheiros entrevistados o
Secretário Estadual de Saúde, a Coordenação Estadual do PSF, os médicos, enfermeiros e
suas respectivas entidades, o setor privado de saúde e os clubes de serviço não se
manifestaram.
Os conselheiros mostraram algumas divergências em relação ao apoio dado pelos demais
atores sociais ao processo de implantação do PSF. O Conselheiro 1, informou que os
auxiliares de saúde e suas entidades representativas e o Conselho Municipal de Saúde
apoiaram muito; o Governador do Estado e a Coordenação Municipal do PSF
manifestaram apoio e a Câmara de Vereadores, as Associações de Portadores de
Patologias, grupos religiosos, ONGs e Universidades não se manifestaram. O Conselheiro
2 informou, porém, que a Coordenação Municipal do PSF e os Agentes Comunitários de
Saúde e suas entidades apoiaram muito; a Câmara de Vereadores, os auxiliares de saúde e
suas entidades, o Conselho Municipal de Saúde, as Associações de Portadores de
Patologias, grupos religiosos e universidades manifestaram apoio e o Governador do
Estado não se manifestou. O Conselheiro 1 não soube informar quais representantes no
CMS manifestaram apoio ao PSF mas relatou que nenhum representante foi contrário ao
programa. Já o Conselheiro 2 informou que os usuários manifestaram apoio e não apontou
quem se manifestou contra o PSF no município.
Na avaliação de ambos conselheiros a implantação do PSF não foi suficientemente
discutida no CMS e não foi possível modificar ou adaptar o desenho das ações. Além
disso, para os conselheiros, o CMS demonstrou não ter poder para controlar as atividades
realizadas no PSF. Quanto ao grau de interferência do CMS nas diretrizes e prioridades do
PSF, o Conselheiro 1 considerou ser sido pequena a interferência e o Conselheiro 2
considerou que o CMS participou das discussões sobre o PSF mas não teve real
interferência. Na opinião do Conselheiro 1 o PSF é o programa mais importante da atual
Secretaria Municipal de Saúde porque é primordial para a reorientação da Atenção Básica.
Já para o Conselheiro 2, o programa não é o mais importante, pois a SMS está envolvida
com outros projetos como os programas de combate à dengue e à raiva, entre outros.
Para ambos conselheiros, o CMS nunca participa da seleção/indicação de profissionais e
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
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tampouco de ACS, da definição do montante de recursos financeiros destinados ao PSF, da
definição da quantidade e tipo de medicamentos necessários nas USF, das discussões nos
Conselhos Locais de Saúde e da capacitação dos Conselheiros Locais de Saúde.
Em relação à participação nas demais atividades os conselheiros tiveram opiniões
divergentes. O Conselheiro 1 informou que o CMS sempre participa na análise dos
resultados das atividades sobre as condições de saúde da população, poucas vezes no
acompanhamento das informações do SIAB e nunca na escolha das comunidades que serão
atendidas pelo PSF, na localização das USF, na criação de USF, na definição das
atividades que são oferecidas pelas ESF/USF, no acompanhamento das atividades
realizadas pela ESF, na definição da quantidade e tipo de equipamentos necessários nas
USF, na supervisão e controle do PSF no município, na capacitação das ESF e na escolha
de Unidades Básicas para transformar em USF. Já o Conselheiro 2 informou que o CMS
sempre participa na escolha das comunidades que serão atendidas pelo PSF, na localização
das USF, na criação de USF, na escolha de Unidades Básicas para transformar em USF e
na capacitação das ESF. Participa poucas vezes, na definição das atividades que são
oferecidas pelas ESF/USF, no acompanhamento das atividades realizadas pela ESF, na
definição da quantidade e tipo de equipamentos necessários nas USF e na supervisão e
controle do PSF no município. Quanto à capacitação das Conselheiros Locais de Saúde, o
Conselheiro 2 informou que não houve ainda, mas a idéia é ela ser feita pelo CMS.
Segundo o Conselheiro 1 o PSF de Vitória é uma atividade de promoção de saúde que
precisa ser complementada por outros programas e atividades. O Conselheiro 2 afirmou
que o PSF é uma boa estratégia mas, ainda, insuficiente para solucionar os problemas de
saúde da comunidade. Na sua opinião, trata-se de uma boa idéia mas que, na prática, não
atende às necessidades de saúde da população. Neste aspecto, o PSF representaria apenas
uma maneira de reduzir as filas nos pronto-atendimentos e emergências. No que se refere
às possibilidades dos usuários do PSF apresentarem sugestões e/ou denúncias sobre o
funcionamento do programa, o Conselheiro 1 informou que os principais canais e fóruns
são os Conselhos Locais de Saúde. Já o Conselheiro 2 informou que a Rádio Gazeta tem
sido o principal canal para encaminhar queixas e denúncias.
Sobre os aspectos positivos do PSF, o Conselheiro 1 apontou a abrangência do PSF, o
impacto na diminuição da demanda espontânea, os vínculos estabelecidos entre as ESF e as
famílias adscritas e o maior conhecimento das ESF sobre os problemas da comunidade. O
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
95
Conselheiro 2 afirmou ser o acompanhamento pré-natal, a garantia de internação no parto,
o acompanhamento do recém nascido até 6 meses, o acompanhamento de hipertensos e os
cuidados domiciliares aos portadores de deficiência, os principais pontos positivos do PSF.
No que se refere aos aspectos negativos do PSF, o Conselheiro 1 apontou os vínculos
trabalhistas precários dos integrantes das ESF como os contratos temporários por 3 anos, a
formação deficiente, a rotatividade dos integrantes das ESF e o pequeno número e
enfermeiros no município - fato que exige elevação dos salários para garantir sua fixação
na capital como os principais problemas a serem enfrentados. Para o Conselheiro 2, as
consultas agendadas em detrimento do atendimento à demanda espontânea, a demora no
agendamento e o número insuficiente de médicos nas comunidades de baixa renda e com
maior proporção de famílias por ESF são os principais aspectos negativos do PSF.
O ponto de vista dos Conselheiros representantes dos usuários sobre o impacto do
PSF
Os dois Conselheiros avaliaram positivamente os impactos do PSF, foi considerado alto na
ampliação do acesso da população à atenção de saúde, na redução da pressão da demanda
sobre os serviços de urgência/emergência, na redução da mortalidade infantil, no aumento
da cobertura vacinal, na redução da mortalidade materna, no aumento no número de
consultas de enfermagem, no aumento no número de atendimentos por pessoal de nível
médio e no aumento da cobertura de pré-natal. No entanto, os conselheiros consideraram
que o impacto do PSF foi médio no que se refere à melhoria da qualidade da atenção
prestada, ao aumento no número de paciente referenciados e efetivamente atendidos, à
maior satisfação dos usuários com o sistema público de saúde e maior resolutividade do
sistema público de saúde. Para ambos conselheiros, não houve nenhum impacto do PSF
quanto ao aumento no número de consultas médicas por habitante. A discordância surgiu
em relação à mudança no perfil epidemiológico: Conselheiro 1 afirmou ser alto o impacto
do PSF quanto à mudança no perfil epidemiológico em decorrência da redução de doenças
evitáveis e o Conselheiro 2 afirmou ter sido baixo o impacto no padrão de morbi-
mortalidade da população.
Quadro 14 – Percepção dos Conselheiros representantes dos usuários no CMS sobre o
impacto do PSF em indicadores selecionados, Vitória, ( ES), 2002
Atividades Baixo Médio Alto
Ampliação do acesso da população à atenção de saúde C1 C2
Melhoria da qualidade da atenção prestada C1 C2
Redução da pressão da demanda sobre os serviços de
urgência/emergência
C1 C2
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
96
Mudança no perfil epidemiológico em decorrência da
redução de doenças evitáveis
C2 C1
Redução da mortalidade infantil C1 C2
Aumento da cobertura vacinal C1 C2
Redução da mortalidade materna C1 C2
Aumento no número de consultas médicas por habitante C1 C2
Aumento no número de consultas de enfermagem C1 C2
Aumento no número de atendimentos por pessoal de nível
médio (auxiliar de enfermagem)
C1 C2
Aumento da cobertura de pré-natal C1 C2
Aumento no número de paciente referenciados e
efetivamente atendidos
C1 C2
Maior satisfação dos usuários c/ o sistema público de
saúde
C1 C2
Maior resolutividade do sistema público de saúde C1 C2
Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ
Conhecimento e participação dos profissionais das ESF nas instâncias de controle
social
Profissionais de nível superior
Perguntados quanto ao conhecimento e participação nas instâncias de controle social, cerca
de 87% dos médicos e enfermeiros responderam que existia CLS em sua unidade de
trabalho e 49% participavam das atividades do CLS.
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
97
Tabela 40 – Existência de Conselho Local de Saúde nas unidades segundo os
profissionais de nível superior, Vitória (ES), 2002
Existência Total Médico Enfermeiro
N % N % N %
Sim 55 87,3 26 83,8 29 90,6
Não 6 9,5 3 9,7 3 9,4
Não respondeu 2 3,2 2 6,5 - -
Total 63 100,0 31 100,0 32 100,0
Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ
Dos profissionais de nível superior que informaram a existência de CLS na unidade em que
trabalham, 38% responderam que esta instância de controle social era pouco relevante na
melhoria das condições de saúde da comunidade, e para 32% era muito relevante. Apenas
5% consideraram que o CLS não era relevante. Trinta porcento dos profissionais de nível
superior informaram que havia pouco conflito no desenvolvimento dos trabalhos do CLS e
19% muito conflito.
A maioria (75%) dos profissionais de nível superior não participavam regularmente em
nenhum fórum mais geral de políticas de saúde. Entre aqueles que participavam, 14% o
faziam nas Conferências Municipais de Saúde e 11% em fóruns intersetoriais.
Tabela 41 – Participação dos profissionais de nível superior em fóruns de política de
saúde, Vitória (ES), 2002
Participação Total Médico Enfermeiro
N % N % N %
Conselho Municipal de Saúde 2 3,2 2 6,5 - -
Conferência Municipal de Saúde 9 14,3 4 12,9 5 15,6
Fóruns Intersetoriais 7 11,1 3 9,7 4 12,5
Conferência Estadual de Saúde 5 7,9 2 6,5 3 9,4
Outros fóruns 1 1,6 1 3,2 - -
Não participa 47 74,6 23 74,2 24 75,0
Não respondeu 3 4,8 1 3,2 2 6,3
Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ
Obs.: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de respondentes e os 100%,
respectivamente, porque a questão que deu origem à tabela admite mais de uma resposta.
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
98
Auxiliares de enfermagem
No que se refere à avaliação da participação das lideranças comunitárias no levantamento
das condições de saúde da comunidade, houve uma polarização entre os auxiliares de
enfermagem que responderam a pergunta. Entre os 76 entrevistados, 21% consideraram
forte a presença das lideranças comunitárias e 29% consideram fraca. Vale destacar que
44% destes profissionais não responderam a questão.
Tabela 42 – Percepção dos auxiliares de enfermagem sobre a participação de
lideranças comunitárias no diagnóstico de saúde, Vitória (ES), 2002
Participação lideranças locais N %
Forte 16 21,1
Fraca 22 28,9
Não houve participação das lideranças 4 5,3
Não respondeu 34 44,7
Total 76 100,0
Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ
Sessenta e sete porcento dos auxiliares de enfermagem entrevistados informaram existir
Conselho Local de Saúde em sua unidade de trabalho.
Tabela 43 – Existência de Conselho Local de Saúde nas unidades segundo os
auxiliares de enfermagem, Vitória (ES), 2002
Existência N %
Sim 51 67,1
Não 9 11,8
Não respondeu 16 21,1
Total 76 100,0
Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ
Entre os auxiliares de enfermagem que informaram existir CLS em sua unidade, a
participação assídua foi rara: apenas dois profissionais afirmaram participar sempre das
atividades. A participação ocasional foi mais freqüente, sendo que 6 auxiliares de
enfermagem freqüentavam as reuniões como observadores e 4 eram representantes das
ESF. Sessenta e cinco porcento destes profissionais, nunca participavam.
Tabela 44 – Freqüência de participação dos auxiliares de enfermagem em CLS,
Vitória (ES), 2002
Participação N %
Sempre 2 3,9
Ocasionalmente 13 25,5
Nunca participa 33 64,7
Não respondeu 3 5,9
Total 51 100,0
Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
99
Um terço dos auxiliares de enfermagem que responderam afirmativamente sobre a
existência do CLS, não soube avaliar se a instância de controle era relevante para o
desenvolvimento das condições de saúde da comunidade. Já para 16% dos profissionais a
relevância foi considerada alta.
Tabela 45 – Percepção dos auxiliares de enfermagem da relevância do CLS para o
desenvolvimento das condições de saúde da comunidade, Vitória(ES), 2002
Relevância N %
Nada relevante 5 9,8
Pouco relevante 14 27,5
Muito relevante 8 15,7
Não sabe avaliar 17 33,3
Total 51 100,0
Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ
Em relação à existência de conflitos nas atividades do CLS, entre os entrevistados 9
declararam a existência de muitos conflitos e para 4 auxiliares de enfermagem os trabalhos
no CLS eram realizados sem conflitos.
A maioria (75%) dos auxiliares de enfermagem não participa de outros fóruns da política
de saúde. Os profissionais de nível médio que declararam participar de outros fóruns
atuam, principalmente, no Conselho Municipal de Saúde e nas Conferências Municipais de
Saúde, 5% em ambos os casos.
Tabela 45a – Caracterização dos auxiliares de enfermagem quanto à participação em
outros fóruns da política de saúde, Vitória (ES), 2002
Participação N %
Conselho Municipal de Saúde 4 5,3
Conferência Municipal de Saúde 4 5,3
Conferência Nacional de Saúde 1 1,3
Fóruns intersetoriais 1 1,3
Não participa 57 75,0
Não respondeu 12 15,8
Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ
Obs.: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de respondentes e os 100%,
respectivamente, porque a questão que deu origem à tabela admite mais de uma resposta.
Agentes comunitários de saúde
Dentre os 202 agentes comunitários de saúde entrevistados em Vitória, 39% consideraram
forte e, portanto, expressiva, a participação e a presença das lideranças comunitárias no
levantamento da situação de saúde da população, no entanto na avaliação de 38% dos
entrevistados, este envolvimento era fraco (38%) ou inexistente (15%).
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
100
Tabela 46 – Percepção dos agentes comunitários de saúde sobre a participação de
lideranças comunitárias no diagnóstico de saúde, Vitória(ES), 2002
Participação lideranças locais N %
Forte 79 39,2
Fraca 76 37,6
Não houve participação das lideranças 31 15,3
Não respondeu 16 7,9
Total 202 100,0
Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ
A grande maioria dos agentes comunitários de saúde (78%), informou existir Conselhos
Locais de Saúde em suas unidades. Somente 33 ACS entrevistados (16%) responderam
negativamente sobre a existência de Conselhos Locais de Saúde e 6% dos ACS não
responderam a esta pergunta.
Tabela 47 – Existência de Conselho Local de Saúde nas unidades segundo os agentes
comunitários de saúde, Vitória (ES), 2002
Existência N %
Sim 157 77,8
Não 33 16,3
Não respondeu 12 5,9
Total 202 100,0
Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ
Para os agentes comunitários de saúde que afirmaram existir um Conselho Local de Saúde
em sua unidade foi perguntado se participavam nesta instância de controle social. Apenas
19% ACS participavam sempre, 31% participavam ocasionalmente, enquanto 47% nunca
participavam. Entre os ACS que participavam sempre ou ocasionalmente no Conselho
Local de Saúde, 54% eram observadores e 30% representantes da equipe de Saúde da
Família.
Tabela 48 – Freqüência de participação dos agentes comunitários de saúde em CLS,
Vitória (ES), 2002
Participação N %
Sempre 29 18,5
Ocasionalmente 49 31,2
Nunca participa 73 46,5
Não respondeu 6 3,8
Total 157 100,0
Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ
Os agentes comunitários de saúde, em sua maioria (82%) não participam de outros fóruns
da política de saúde. Os fóruns intersetoriais, o Conselho Municipal de Saúde e as
Conferências Municipais de Saúde foram as instâncias de controle social mais citadas
dentre os ACS que declararam participar de outros fóruns da política de saúde: 7%, 6% e
5% respectivamente.
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
101
Quadro 15 – Caracterização dos ACS quanto à participação em outros fóruns de
política de saúde, Vitória (ES), 2002
Participação N %
Fóruns intersetoriais 15 7,4
Conselho Municipal de Saúde 12 5,9
Conferência M. de Saúde 9 4,5
Conferência Estadual de Saúde 3 1,5
Conferencia Nac. de Saúde 1 1,3
Plenárias de Cons. de Saúde 2 1,0
Outros 3 1,5
Não participa 166 82,2
Não respondeu 7 3,5
Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ
Obs.: A soma dos valores absolutos e relativos ultrapassa o total de respondentes e os 100%,
respectivamente, porque a questão que deu origem à tabela admite mais de uma resposta.
Entre os ACS que informaram a existência de Conselho Local de Saúde em sua unidade,
38% não souberam avaliar sua relevância para o desenvolvimento das condições de saúde
da população e 31% consideraram muito relevante esta instância de controle social.
Somente 9% dos ACS consideraram o CLS pouco relevante para a melhoria das condições
de saúde da população. Neste aspecto, foi importante notar que este fórum foi considerado
um espaço importante para o desenvolvimento das condições de saúde, ainda que a alguns
dos entrevistados apontasse a existência de conflitos. Assim, entre os ACS que disseram
existir um CLS, 20% indicaram a presença de poucos conflitos e 14% de muitos conflitos
no cotidiano das atividades.
Tabela 49 – Percepção dos agentes comunitários de saúde da relevância do CLS para
o desenvolvimento das condições de saúde da comunidade, Vitória(ES),
2002
Relevância N %
Nada relevante 14 8,9
Pouco relevante 31 19,7
Muito relevante 48 30,6
Não sabe avaliar 59 37,6
Não respondeu 5 3,2
Total 157 100,0
Fonte: NUPES/DAPS/ENSP/FIOCRUZ
Conhecimento e participação das famílias usuárias do PSF nas instâncias de controle
social
Em 240 famílias assistidas pelo PSF entrevistadas em Vitória, apenas 30% delas conhecia
o Conselho Municipal de Saúde. Setenta por cento, portanto, desconhecem a existência
desta instância de controle social. O Conselho Local de Saúde foi ainda mais desconhecido
pela população usuária do PSF: apenas 18% referiam conhecer a existência do CLS. O
conhecimento acerca da existência de Conselho Municipal de Saúde foi maior entre as
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
102
famílias adscritas às equipes 01 e 03.
Entre as 72 pessoas que declararam conhecer o Conselho Municipal de Saúde de Vitória,
apenas uma tinha um membro participando quase sempre das reuniões e atividades do
CMS. Nas residências em que se ouviu falar do Conselho Local de Saúde, 83% das
famílias não participavam de suas atividades e encontros. Dezessete por cento das famílias
relataram a participação de algum membro no CLS. Na opinião dos participantes do
Conselho Local de Saúde, as reuniões eram consideradas, em primeiro lugar como um
espaço para trocar idéias sobre saúde e em segundo lugar, para organizar atividades
relacionadas à saúde.
Em relação ao conhecimento sobre órgãos e instituições identificados para realizar
denúncias ou queixas sobre os serviços de saúde, 94% das famílias entrevistadas (226)
responderam que não sabiam a quem ou onde se dirigir. Entre as famílias entrevistadas que
saberiam a quem se dirigir seis procurariam os profissionais de saúde. As famílias que
apresentaram o maior número de pessoas informadas sobre onde se dirigir em casos de
denúncias e reclamações foram as adscritas às equipe 1.
A grande maioria dos entrevistados (83%) não sabia se o levantamento da situação de
saúde da população havia sido realizado e 8% dos entrevistados afirmaram que o
diagnóstico não tinha sido feito.
6. FINANCIAMENTO
O perfil de financiamento do PSF no município de Vitória foi realizado a partir dos dados
coletados nos SIOPS (Sistemas de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde)
referentes aos anos de 1998, 1999 e 2000, disponíveis na homepage do DATASUS. Portanto,
as informações coletadas dizem respeito ao financiamento do setor saúde sob gestão
municipal, excluindo-se os recursos gerenciados pela Secretaria Estadual de Saúde e/ou
diretamente pelo Ministério da Saúde. Algumas destas informações foram cotejadas com
dados obtidos diretamente na Secretaria Municipal de Saúde. Os dados do SIOPS 2001 não
se encontram disponíveis.
Inicialmente procede-se a uma avaliação da composição da receita no município, com
ênfase nas receitas oriundas do setor saúde. Em seguida, são analisados os gastos do
município com a função saúde, destacando-se sua composição. As despesas com o PSF
merecem especial atenção, embora as informações disponíveis no SIOPS não permitam
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
103
maior detalhamento. Por fim, considera-se a relação entre receitas e despesas em saúde no
município, buscando-se conhecer a participação das transferências SUS e dos recursos
próprios municipais no total dos gastos do município com saúde.
Receitas
A análise da composição das receitas do município de Vitória (ES) revela grande
dependência das transferências intergovernamentais, correspondendo ao padrão das
relações federativas no país. A participação das transferências no conjunto das receitas do
município teve um incremento em 1999, sofrendo uma ligeira queda em 2000 mas ainda
mantendo uma proporção superior à verificada no ano de 1998.
Tabela 50 – Receitas municipais segundo fonte de arrecadação, Vitória (ES), 1998 a
2000 (valores correntes em R$1,00)
Tipo de Receita 1998 1999 2000
Valor % Valor % Valor %
Diretamente arrecadadas 95.341.138,00 35,73 87.617.815,00 30,20 100.238.507,20 28,81
Transferências 170.396.896,00 63,85 199.149.015,00 68,64 234.228.913,69 67,32
Receitas de capital 1.128.419,00 0,42 3.355.837,00 1,16 13.453.619,30 3,87
Total 266.866.453,00 100,00 290.122.667,00 100,00 347.921.040,19 100,00
Fonte: Ministério da Saúde / SIOPS, 1998, 1999 e 2000.
A participação da esfera estadual no conjunto das transferências é expressiva embora
decrescente no período analisado, correspondendo a mais de 40% do total de recursos do
município. A participação da União nas receitas do município oscilou entre 1998 e 2000,
observando-se uma queda em 2000, quando representou 16% das receitas do município. A
participação relativa da arrecadação própria municipal no conjunto das receitas do
município tem decrescido a cada ano, correspondendo, em 2000, a menos de 30%. Vale
salientar que há uma tendência ao incremento da rubrica outras receitas no total das
receitas de Vitória. Este aumento de dá em virtude da participação das receitas de capital
que passam de R$ 1.128.419,00 em 1998 para R$ 13.453.619,30 em 2000.
Tabela 51 – Receitas do município de Vitória (ES), segundo fonte de arrecadação,
1998 a 2000 (valores correntes em R$1,00)
Fonte 1998 1999 2000
Valor % Valor % Valor %
Município 95.341.138,00 35,73 87.617.815,00 30,20 100.238.507,20 28,81
União 48.929.190,00 18,33 62.166.081,00 21,43 56.405.039,50 16,21
Estado 121.464.706,00 45,52 128.585.342,00 44,32 144.000.827,00 41,39
Outras receitas 1.131.419,00 0,42 11.753.429,00 4,05 47.276.666,49 13,59
Total 266.866.453,00 100,00 290.122.667,00 100,00 347.921.040,19 100,00
Fonte: Ministério da Saúde / SIOPS, 1998, 1999 e 2000.
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
104
Nas transferências da União para o município, a função saúde significou mais de 10% do
total dos recursos repassados, embora tenha ocorrido um decréscimo nesta participação em
1999 aumentando em 2000, sem atingir os patamares de 1998. Verifica-se um significativo
aumento de outras transferências da União, mas as informações do SIOPS não permitem
especificar estas fontes.
Tabela 52 –Transferências da União segundo fontes de arrecadação, Vitória (ES),
1998 a 2000 (valores correntes em R$1,00)
Fonte 1998 1999 2000
Valor % Valor % Valor %
Constitucionais 37.933.860,00 77,53 50.912.056,00 81,90 42.375.638,85 75,13
SUS 7.137.471,00 14,59 6.046.864,00 9,73 7.326.617,52 12,99
Outras 3.857.859,00 7,88 5.207.161,00 8,38 6.702.783,13 11,88
Total 48.929.190,00 100,00 62.166.081,00 100,00 56.405.039,50 100,00
Fonte: Ministério da Saúde / SIOPS, 1998, 1999 e 2000.
As transferências da esfera estadual para o município, embora com peso significativo no
conjunto das receitas municipais, são inexpressivas no setor saúde, não ultrapassando
0,01% do total das transferências.
Em 1998 as transferências da União para o SUS municipal foram assim realizadas: 37% do
total (R$ 2.627.424,00) fundo a fundo, 33% (R$ 2.359.648,00) sob a modalidade de
convênios e 30% (R$ 2.150.399,00) relativos ao pagamento de prestação de serviços.
Nos anos de 1999 e 2000, quando o SIOPS permite detalhar alguns itens dos recursos
transferidos pela União para o SUS municipal, verifica-se que o PAB (parte fixa e
variável) corresponde a mais da metade destas transferências. Nota-se um incremento na
participação do PAB de 1999 para 2000, quando atinge o percentual de 65%. Este
incremento está relacionado com recursos do PAB variável, que passaram de 8% para 2%
de total correspondendo ao período em que ocorreu grande ampliação do número de ESF.
Tabela 53 – Transferências da União para o SUS segundo fonte de arrecadação,
Vitória (ES), 1998 a 2000 (valores correntes em R$1,00)
Fonte 1999 2000
Valor % Valor %
PAB fixo 2.926.278,00 48,39 2.942.244,00 40,16
PAB variável 472.952,00 7,82 1.816.500,58 24,79
PAB fixo + variável 3.399.230,00 56,21 4.758.744,58 64,95
SIA/AIH 1.795.523,00 29,69 2.262.171,79 30,88
FAEC 0,00 0 0,00 0,00
Convênios 852.111,00 14,09 305.701,15 4,17
Total 6.046.864,00 100,00 7.326.617,52 100,00
Fonte: Ministério da Saúde / SIOPS, 1998, 1999 e 2000.
As informações sobre a receita vinculada ao PACS e PSF só estão disponíveis no SIOPS
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
105
2000, ano em que os dois programas totalizaram a receita de R$ 1.370.619,58, dos quais
74% relativos ao PSF. A receita PACS/PSF correspondeu a 76% do PAB variável, 29% do
total do PAB e 18,7% do total das transferências da União para o SUS municipal.
Informações da SMS permitem especificar que os recursos PACS/PSF em 1999
totalizaram R$ 310.686,69, o que corresponde a quase 66% do PAB variável e a 9% do
total do PAB naquele ano. Em 1998, os recursos PAB/PSF somaram R$119.799,99,
representando 68% do PAB variável e somente 5% do total do PAB. Note-se que o
aumento em termos absolutos em 1999 não se fez acompanhar do aumento do percentual
do PAB variável em virtude do incremento da receita de outras ações inseridas no PAB
variável, sobretudo do programa nacional de vigilância epidemiológica e controle de
doenças.
Os recursos SIA/AIH representam em torno de 30% das transferências da União para o
SUS municipal em 1999 e 2000. Verifica-se ainda uma redução do recursos provenientes
de convênios, que passaram de 14% em 1999 para 4% em 2000, o que pode ser explicado
pela extinção de uma série de convênios do setor saúde no município, dentre os quais, o de
combate à dengue.
Gastos em saúde
As despesas com saúde do município apresentaram um incremento a cada ano, tanto em
valores absolutos quanto na participação percentual da receita total do município: 9,6% do
total da receita municipal em 1998, 9,9% em 1999 e 10,6% em 2000.
O exame dos gastos do município com saúde por elemento de despesa indica o peso dos
gastos com pessoal no montante das despesas setoriais, correspondendo a mais de 60%.
Esta proporção vem se alterando a cada ano: em 1999, houve um incremento em relação ao
ano anterior, sofrendo uma queda em 2000, quando atingiu o percentual de 61.
Os gastos com procedimentos SIA/AIH, sob gestão municipal, são pouco expressivos no
total de gastos, ficando em torno de 2% do total de gastos.
As despesas PACS apresentaram crescimento em 2000, comparativamente ao ano anterior,
mas seu peso no total dos gastos em saúde é bastante reduzido, representando 2% do total
de gastos em saúde naquele ano. Vale destacar que o SIOPS não registra gastos PSF, apenas
PACS. Isto se deve a que os gastos com pessoal do PSF, excetuando-se os realizados com
ACS estão registrados no total de gastos com pessoal. Estas informações não estão
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
106
disponíveis para o ano de 1998.
O incremento nos gastos com outras despesas correntes entre os anos de 1999 e 2000 pode
ser atribuído aos gastos com serviços de terceiros – pessoa jurídica. Somente a rubrica
“demais serviços de terceiros - pessoa jurídica” passou de R$ 2.524.849,00 para R$
4.355.718,69,00 entre os dois anos.
Tabela 54 – Gastos em saúde realizados por tipo de despesa, Vitória (ES), 1998 a 2000
(valores correntes em R$1,00)
Tipo de Despesa 1998 1999 2000(*)
Valor % Valor % Valor %
Pessoal e Encargos Sociais 17.372.542,00 67,67 19.700.907,00 68,05 22.501.038,52 61,31
Medicamentos 1.054.880,00 3,64 1.081.236,43 2,95
Material méd., hosp., odont. E
lab.
778.189,00 2,69 1.254.332,44 3,42
PACS 257.114,00 0,89 735.199,81 2,00
PSF 0,00 0,00 0,00 0,00
SIA/AIH** 666.588,00 2,30 727.479,46 1,98
Outras despesas correntes 7.744.145,00 30,16 4.622.684,00 15,97 6.906.388,22 18,82
Despesas de capital 556.263,00 2,17 1.870.967,00 6,46 3.493.562,86 9,52
Total 25.672.950,00 100,00 28.951.329,00 100,00 36.699.237,74 100,00
Fonte: Ministério da Saúde / SIOPS, 1998, 1999 e 2000.
* Refere-se ao valor empenhado
** Refere-se a procedimento ambulatoriais e hospitalares, excluídos PAB
Os gastos com investimentos em saúde aumentaram sua participação no total dos gastos
setoriais, passando de 2,17% em 1998 para quase 10% em 2000.
Tabela 55 – Participação percentual dos investimentos na despesa total com saúde,
Vitória (ES), 1998 a 2000 (valores correntes em R$1,00)
1998 1999 2000(*)
Investimentos 556.263,00 1.870.967,00 3.493.562,86
Total das Despesas com Saúde 25.672.950,00 28.951.329,00 36.699.237,74
Percentual 2,17 6,46 9,52
Fonte: Ministério da Saúde / SIOPS, 1998, 1999 e 2000.
* Refere-se ao valor empenhado
Os gastos com serviços de terceiros – pessoa jurídica variaram nos três anos analisados.
Sua participação no total das despesas com saúde do município diminuiu em 1999,
(14,6%) comparativamente a 1998 (16,89%), voltando a aumentar em 2000 (18%),
quando, inclusive, ultrapassou o percentual de 1999. Este incremento está relacionado com
os gastos do PACS/PSF, sobretudo à contratação dos ACS, embora não se deva subestimar
o peso das despesas com procedimentos SIA/AIH procedentes da contratação de serviços
privados.
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
107
Tabela 56 – Participação percentual das despesas com serviços de terceiros - pessoa
jurídica na despesa total com saúde, Vitória (ES), 1998 a 2000 (valores
correntes em R$1,00)
1998 1999 2000(*)
Serviços de Terceiros – pessoa jurídica 4.335.264,00 4.070.595,00 6.580.318,88
Total das Despesas em Saúde 25.672.950,00 28.951.329,00 36.699.237,74
Percentual 16,89 14,06 17,93
Fonte: Ministério da Saúde / SIOPS, 1998, 1999 e 2000. * Refere-se ao valor empenhado
É possível constatar uma redução progressiva na participação percentual das transferências
para o SUS no total dos gastos com saúde do município de Vitória a cada ano. Em 1999, a
redução foi significativa, passando de 27% em 1998 para 21% e em 2000 as transferências
para o SUS cobriram menos de 20% do total de gastos setoriais.
Tabela 57 – Participação percentual das transferências para o SUS na despesa total
com saúde, Vitória (ES), 1998 a 2000 (valores correntes em R$1,00)
1998 1999 2000(*)
Transferências 7.152.671,00 6.061.864,00 7.326.617,52
Total das Despesas com Saúde 25.672.950,00 28.951.329,00 36.699.237,74
Percentual 27,86 20,94 19,96
Fonte: Ministério da Saúde / SIOPS, 1998, 1999 e 2000.
* Refere-se ao valor empenhado
Uma das idéias difundidas em relação ao PSF é a de que o custeio do programa é realizado
majoritariamente pelo Ministério da Saúde, sendo este, inclusive, o incentivo à adesão dos
municípios ao programa. A análise da relação entre as receitas do PAB variável, receitas
do PSF e as despesas com o PSF em Vitória revela que as transferências da União para o
PAB variável e para o PSF cobrem cerca de 50% dos gastos com o programa.
Em 1999, considerando a receita vinculada ao PAB variável, uma vez que as informações
específicas para o PSF não se encontram discriminadas no SIOPS, observamos que apenas
54% das despesas PSF foram custeadas pelas transferências do PAB variável. Em 2000,
com as informações das receitas PSF disponíveis no SIOPS, observa-se que as
transferências do PAB variável corresponderam a 54% das despesas PSF. Vale destacar
que em função da forma de preenchimento do SIOPS, são superestimados os gastos com
PSF custeados pelo Ministério da Saúde. De acordo com a SMS, os recursos do incentivo
financeiro do PACS/PSF são aplicados prioritariamente na capacitação dos profissionais.
A análise da participação dos recursos próprios municipais no conjunto da receita aplicada
em saúde indica que sua contribuição vem aumentando a cada ano, chegando a 10% em
2000. No entanto, esta participação ainda merece ser ampliada na perspectiva de atingir o
percentual previsto na Emenda Constitucional 29.
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
108
Tabela 58 – Percentual de recursos próprios, provenientes de impostos e
transferências, aplicados em saúde, Vitória (ES), 1998 a 2000
Ano 1998 1999 2000(*) 2001 (**) 2002 (**)
Percentual 8,41 9,05 10,00 11,00 12,12
Fontes: Ministério da Saúde / SIOPS, 1998, 1999 e 2000.
Anos 2001 e 2002 – SMS Vitória
(*) Refere-se ao valor empenhado
(**) Refere-se ao valor empenhado, dados fornecidos pela SMS Vitória.
7. PROPOSTAS DE EXPANSÃO E CONSOLIDAÇÃO
Para o secretário municipal de saúde, apesar de já existir um plano de expansão e um
cronograma de implantação de ESF e unidades até 2004, perfazendo um total de 114 ESF
com intuito de atingir cobertura de 100% da população, ocorrera necessidade de
redimensionamento das metas e do ritmo do processo. O principal motivo deste
redimensionamento foi a necessidade de redesenhar as unidades territoriais do município –
algumas muito grandes com área de abrangência de UBS para até 30 mil habitantes – a fim
de definir um número de famílias adequado às equipes do PSF, além da baixa
disponibilidade objetiva de recursos humanos para atingir cobertura de toda a população.
Neste sentido, a perspectiva seria implantar de 5 a 7 novas equipes em 2003, avaliar a
situação e somente a partir daí programar o processo de expansão posterior.
Condições necessárias para a expansão do PSF em grandes centros urbanos (infra-
estrutura, equipamentos, pessoal, capacitação, apoio técnico e recursos financeiros)
Para garantir a expansão do PSF em grandes centros urbanos, na opinião da coordenação
local, é necessário que MS repense as estratégias e parâmetros de cobertura nas grandes
cidades e, também, a definição do número de famílias por equipe diferenciando, portanto, a
exigência do percentual de cobertura de municípios para a concessão dos incentivos
financeiros integrais a partir do porte populacional do município. A sugestão seria
estabelecer parâmetro de cobertura por região dentro do município. Assim atingida
cobertura de 100% em determinada região do município, as ESF dos territórios
correspondentes receberiam o incentivo financeiro mais elevado.
Outra sugestão seria reduzir o número de moradores/famílias adscritos por equipe. O
padrão recomendado pelo MS de até 1000 famílias/3.500 moradores adscritos por ESF era
considerado excessivo pois os profissionais das equipes não atendem apenas indivíduos,
mas trabalham grupos, as famílias e seus problemas. Na avaliação dos gestores locais se
forem seguidos todos os parâmetros de cobertura das diversas atividades dirigidas aos
grupos prioritários, os profissionais das ESF com a atual composição e quantidade de
VITÓRIA (ES) – IMPLEMENTAÇÃO DO PSF
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população adscrita não conseguem dar conta.
Segundo a coordenadora, é preciso ter um olhar diferenciado para as grandes cidades, pois
as atividades nestes contextos têm importantes especificidades. Os indicadores de violência
e o perfil dos conflitos sociais nas grandes cidades impõem, segundo a gestora, uma
configuração diferente da equipe básica e inclusão de novos profissionais com salários
diferenciados, como por exemplo, psicólogos, assistentes sociais e outros.